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Preferência pelos alimentos elaborados
from Meu Itinerário Espiritual - Compilação de relatos autobiográficos de Plinio Corrêa de Oliveira vol 1
by Nestor
As pancadas boas são as que se desferem melhor no adversário. Os bocados bons são os que são engolidos de mais boa vontade175 . *
Tenho uma tendência para os sabores fortes. E para apreciar bem os sabores fortes, eu sou tendente a usar as porções grandes. Isto chega ao ponto de eu gostar de beber goles grandes de água. Eu não bebo aos golinhos. A água, pela definição dos físicos, é um líquido insípido, quer dizer, que não tem sabor. Esse líquido pretensamente insípido, eu bebo aos golões. Porque há uma sensação do matar a sede, e é bom que essa sensação se tenha grandona. E isto se prende à minha radicalidade. Aqui entra alguma coisa de radicalidade: é porque sou truculento. Truculento é aquele que, antes de tudo, tem o feitio de espírito pelo qual gosta de pegar as coisas capitais de uma vez, e gosta também da ação que atinge seu fim diretamente. E gosta do raciocínio que agarra a conclusão com a força de um leão. Sei perfeitamente que as boas maneiras se opõem a isto. Mas acho que as boas maneiras, para os homens, em alguns sentidos foram muito adelgaçadas. Que as senhoras comam de um modo mimoso está no modo de ser delas176 . Compreendo que se veja nisto uma truculência contra-revolucionária, porque há disso dentro. E explicando o gesto, eu faço ver o espírito177 .
Preferência pelos alimentos elaborados
As únicas verduras de que eu gosto são a alface e o agrião. Tenho uma fobia militante contra a couve: aquilo para mim é pano velho e vegetal. Choufleur au gratin. A couve-flor é gostosa quando vem au gratin, com um molho de manteiga em cima e não foi trabalhada com os ingredientes modernos que tiram o gosto de todas as plantas178 .
175 CM 21/4/91 176 Chá PS 1/5/91 177 Chá SRM 26/10/90 178 Almoço EANS 8/11/91
Todas as coisas que são dadas para a linha da gordura, e, portanto, a manteiga em primeiro lugar, acompanhada gloriosamente pelo creme chantilly, são coisas de que eu gosto muito179 . *
Na época do Concílio, estava eu em Roma com o príncipe Dom Bertrand e passamos a pé em frente a uma vitrine que expunha vários vidros de compota de cereja. Lembro-me de que íamos comungar na igreja de Nossa Senhora do Miracolo, e numa conversa despreocupada eu disse a Dom Bertrand: “Gosto muito mais do doce de fruta do que da fruta fresca. Por causa disso, gosto muito mais da compota de cereja do que da cereja crua”. Dom Bertrand deu um pulo, estranhando ao máximo essa minha opinião. Para ele a fruta crua era a melhor, porque conservava certas energias e certos sabores da natureza. Respondi-lhe que a culinária se aplicou sobre a tal coisa crua para fazer o melhor, e que, portanto, a coisa trabalhada pela civilização perde sempre algo, mas ganha mais do que perde. Em princípio, eu concordo que o contato com o cru, não só na culinária, mas em tudo, oferece algo de original com o qual precisamos de vez em quando tomar contato. Mas o grosso da vida foi feito para tudo isso ser ajeitado e dominado, e que o homem, isto é, o rei da criação, tenha tudo sujeito a si, com os sabores, com o grau de macio ou de resistente que ele queira, de maneira que ele fique mandando no negócio. Há, por exemplo, um modo de fazer compota de cereja pelo qual ela conserva o vermelho dela, e o caldo também fica avermelhado. E há outro modo em que a compota fica meio bege, meio clara, perde a cor, e o caldo também. Há ainda as cerejas cristalizadas que eu considero altamente aprazíveis180 .
Certa vez uma pessoa me deu de presente uma garrafa de licor, redonda como se fosse uma esfera, e encimada por uma tampa no alto da qual vinha uma coroa dourada, como se fosse a coroa de um rei.
179 MNF 18/5/93 180 Almoço EANS 8/11/91