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Solenidade que impõe respeito

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ÍNDICE DE LUGARES

ÍNDICE DE LUGARES

Solenidade que impõe respeito

Caluniam por aí a solenidade como coisa rígida, carrancuda, hostil, diferente da camaradagem. A camaradagem é a “potrice”. E a solenidade é a ordem hierárquica, afável, nobre, mas forte. Toda vida detestei esse trato de potro. E foi muito bom para mim porque, ao mesmo tempo que eu detestava esse trato, gostava do trato da escola de mamãe. Mamãe tinha solenidade? Muita. Dentro do que cabia a ela, toda a dignidade do que ela era estava expressa no menor gesto. E era impossível chegar perto dela sem respeitá-la. Era impossível não perceber que, do alto daquela respeitabilidade, ela dizia a qualquer um que se aproximasse: “Respeite-me e queira-me bem, que você será afagado, protegido e elevado”. Acho que isto é uma maravilha de trato, é o trato católico propriamente dito. Trato é isso. O que não é isso é “dis-trato”. Em contrapartida, também me habituei a enfurecer-me com rudeza com os que não eram assim. E consegui estabelecer em torno de mim um ambiente que não obrigava os outros a entrarem na linha da solenidade, mas fazia com que eles não fossem muito longe comigo na linha da brutalidade. Quer dizer, comigo o trato deles era consideravelmente menos abrutalhado do que com outros, era respeitoso. Essa luta para conter a brutalidade preservou em mim a rudeza. Então eu, ao defender a afabilidade de trato, fui defendido na rudeza. A Providência dispõe assim o caminho para as almas.

Gosto pelas leituras históricas, especialmente das memórias

Para mim, meu descanso consiste em ler narrações históricas269. Meu lazer é de preferência leituras históricas. E entre as leituras históricas, de preferência biografias270 . O gênero que foi mais bem desenvolvido, e que está mais próximo da realidade, é a biografia. Porque a História, a não ser biográfica, é sociológica e econômica. A História sociológica ou econômica, com exceção de alguns historiadores como Lenôtre, Funk Brentano e outros, é em geral meio falseada. E fico com o pé atrás. Mas as biografias são muito mais difíceis de falsificar, porque o tema é muito menor, é a vida de um indivíduo.

269 Jantar EANS 5/10/92 270 Entrevista para rádio Uruguaiana 21/6/90

Nas biografias eu gosto especialmente das memórias. Nelas o indivíduo aparece en su tinta, mesmo quando ele mente. E porque muitas vezes, através disso, vejo o espírito do autor, o que torna particularmente atraente a leitura271 . Nos meus minutos de repouso, escolho muito o que eu tenho que ler272 . Ou será alguma vida de Santo, ou alguma coisa da aristocracia francesa, quando muito, austríaca. Em geral nobreza273 . Em certa época de minha vida, eu tinha o hábito de começar a ler um livro abrindo no meio, na página que desse, e ir tocando para o fim. E depois ir lendo do começo para o meio. Era assim que eu tinha a sensação de me apoderar melhor da matéria e triturá-la bem274 . Na minha biblioteca os livros são muito desiguais. Alguns livros são muito sérios, muito pesados, outros são livrecos que eu encontrei ao alcance da mão, e que fui lendo e marcando. Marcando para o benefício dos senhores, mas lendo sobretudo para me distrair, para, à noite, afastar o que a Liturgia chama de nocturna phantasmata. Em vez de pensar nas coisas do dia e da civilização medonha contemporânea, acabar dormindo pensando em algum personagem do passado. Para mim isto é quase terapêutico: limpar o meu para-brisa antes de dormir, e dormir com figuras bonitas, elegantes, leves que passam diante do meu espírito, em vez dessa infernalia phantasmata que são as coisas da vida de todos os dias275 . Para mim, terminado um jantar, deitar-me na cama e ler as memórias de Monsieur de Metternich, por exemplo, é uma necessidade para eu me afastar de tudo quanto acontece, e emergir num passado grandioso em que se movem pessoas cultíssimas, interessantes, no qual os problemas R-CR276 são focalizados de modo inteligente, e em que está presente a Cristandade e a Igreja Católica277 .

271 Chá SRM 29/11/90 272 RR 29/9/974 273 Despachinho 15/6/84 274 RR 18/11/73 275 CM 6/5/90 276 Por uma simplificação de linguagem, entre os discípulos de Plinio Corrêa de Oliveira criou-se o costume de abreviar o nome do livro “Revolução e Contra-Revolução” por suas iniciais “R-CR”. Por analogia, “R-CR”, quando empregada em expressões como

“problemas R-CR”, “assuntos R-CR”, “visão R-CR das coisas”, significa assuntos que devem ser vistos segundo a doutrina e o espírito explicitados pelo livro “Revolução e

Contra-Revolução”. 277 Jantar 23/3/87

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