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A vontade de explicitar

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ÍNDICE DE LUGARES

ÍNDICE DE LUGARES

Eu entrava nessa sala numa hora em que não havia ninguém, olhava para o vaso e dizia: “Como seria bom que houvesse, em algum lugar do universo, um espaço todo feito dessa matéria e no qual se pudesse entrar. Teria o deleite que meus olhos têm olhando para este jarro, e em que o meu gosto seria apenas tatear e deixar-se penetrar por isso. Deve haver odores, sabores, sensações tácteis, sons, que coincidem com isto. Se bem que não vale a pena passar uma eternidade inteira dentro disso, pelo menos valeria a pena ficar muito tempo nisso, até o momento adequado de mudar para outro ambiente”. Entrava aí a ideia de que a ordem perfeita das coisas levaria a conjecturar que houvesse algo assim, e a ter certa desconfiança vaga de que algo assim havia. É uma consideração de uma criança de 5, 7, 8 anos. Não tenho memória de quando isto se deu, mas foi longe: até os meus 14 anos eu fazia reflexões dessas. Depois tranquei-me em nome da maturidade, mas continuei a fazer isto de soslaio. No fundo, é uma ideia eminentemente vitorina299do Céu. Era a ideia de que, passando sucessivamente por paraísos imaginários com várias tônicas diferentes, eu acabaria dando uma volta no assunto, e meu ser inteiro se sentiria saciado, porque chegaria a uma síntese eterna, definitiva300 .

A vontade de explicitar

Uma das coisas que sempre tive vontade de ver é uma nascente de rio. Sobretudo gostaria de conhecer a nascente do Danúbio. Disseram-me que a nascente do Danúbio fica no parque do palácio do príncipe de Fürstenberg. A fonte sai do chão e é encaminhada para um reservatório todo ele forrado de mármore, e com torneiras monumentais de onde sai o Danúbio. Isso é muito bonito. E ele fez uma bonita obra de arte. No meu tempo de pequeno e de mocinho, eu ia de trem para Santos. Naquela descida do trem, viam-se aqueles montes de pedras altíssimas, e fontes de água que escorriam em vários lugares. Eram filões e filões, às vezes de uma mesma altura e às vezes de diferentes alturas.

299 O vitorinismo foi uma escola filosófica fundada em 1108 por Guilherme de Champeaux e que floresceu na Abadia de São Vitor, em Paris. Seus maiores expoentes foram Hugo de São Victor e Ricardo de São Victor. Aquilo em que, por assim dizer, se especializa esta escola é o simbolismo e o pulchrum. 300 MNF 17/10/78

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