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O modo de fazer a ação de graças após a recepção da Sagrada Comunhão

Mais ainda: na minha oração, eu nem tanto medito sobre um ponto determinado, nem tanto presto atenção nas palavras que estou dizendo, mas ponho-me em presença d’Ela e aí fico, como se Ela estivesse na sala.

Acontece-me às vezes de ter que retomar uma dezena do terço, porque chego ao fim da dezena não sabendo que mistério estou rezando. Não tenho vergonha de contar isto, porque a nota tônica não está no mistério, a nota tônica está no Ela estar presente e no eu estar presente diante d’Ela.

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Naturalmente peço que, pelos méritos do mistério que estou rezando, Ela receba minha oração, mas não peço isto em cada mistério. É uma intenção genérica, porque a intimidade não comporta essas cerimônias.

No fim de cada dezena repetir a intenção, não. É uma coisa contínua, como alguém que corre, não é compartimentado, vai andando. Terminada a oração, está terminado aquele convívio e está terminada aquela parte do dia. E aí deixo de conviver com Ela, para passar a conviver com Ela na causa d’Ela. É Ela, mas de outra maneira.

Mamãe rezava muito mais do que eu, não tem nem comparação, era outra vida. Mas, mesmo quando ela não estava rezando, percebia-se que ela estava nessa presença.

Quando me ponho diante de Nossa Senhora para rezar, não fico chorando meus pecados. Considero, como já disse, o pequeno do meu ser, a carência do meu ser, o fato de não ser senão o que sou, tomo inclusive as qualidades. Entra aí uma apreciação moral também, mas não é só moral, é quase ontológica.

Daí o gosto de ser protegido, de ser amparado, de ser atendido, de me sentir pequeno aos pés d’Ela e protegido só por Ela. O que produz uma espécie de bem-estar de alma muito específico, que é perder-se dentro d’Ela completamente. É o correspondente à posição d’Ela. Não conseguiria tomar essa posição de perder-me n’Ela, se Ela não tomasse a posição de Ela perder-se dentro de mim491 .

O modo de fazer a ação de graças após a recepção da Sagrada Comunhão

Como minha memória é má, nas minhas comunhões sigo sempre um esquema, pelo receio de deixar escapar algum dos atos de culto.

Esse esquema é sempre o seguinte.

Recebendo a Sagrada Comunhão, a primeira oração que faço é pedindo a Deus que me dê, antes de tudo e de mais nada, uma devoção crescente

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a Nossa Senhora. A união com Ela nos une a Ele, e é uma forma super excelente de união com Ele.

Não que Ela me seja um conduto indiferente a mim, que só quero por causa disso. Isto não é verdade. Eu a quero porque Ela é Ela, ou seja, a Mãe d’Ele. E, portanto, pedindo isto a Ele, sei que peço o que há de melhor, porque o melhor modo de homenagear a Ele é dizer que quer mais união com Ela.

Se me virem no momento de receber o Santíssimo Sacramento, podem assegurar: “É certo que neste momento ele está pedindo isto ato contínuo”. Em nenhuma comunhão, há décadas, deixo de pedir isto.

Logo em seguida começo a prestar os atos de culto. Em tese seria: adoração, ação de graças, reparação, petição. Mas, pelo fato de ter muito presente a necessidade de reparação, inverto a ordem, o que é legítimo fazer, porque não se trata de um ato litúrgico, mas de um ato pessoal. Então faço reparação, depois adoração, ação de graças e por fim petição492 . *

Dos vários atos de religião, aquele ao qual sou mais propenso a me associar ou a praticar é a reparação. É o pedido de perdão com algum sacrifício, com algum esforço, com alguma renúncia, ou com sacrifícios, esforços e renúncias inenarráveis, que devem ser apresentados a Nosso Senhor humildemente, numa salva de ouro ou de prata que é o Imaculado Coração de Maria. Oferecemos isto para Ele perdoar os pecados da humanidade, perdoar os nossos pecados individualmente, oferecendo os nossos sacrifícios493 .

A reparação tem sempre em vista o pecado de Revolução, a devastação que a Revolução vai fazendo no mundo, o ultraje que é para Ele e para Ela os nossos defeitos no Grupo e os meus defeitos pessoais. E onde o pedido se mostra mais intenso é na reparação dos meus próprios defeitos494. Na reparação incluo também todas as ações que fiz e que deveriam ser melhores495 .

Vem em seguida a adoração. Como é feita essa adoração?

Essa adoração, sempre por meio de Nossa Senhora, toma em consideração esse ou aquele aspecto da personalidade d’Ele496. Sempre me falou muito a figura de Nosso Senhor com toda a sua sacralidade, toda a

492 Chá SB 1/9/81 493 Chá 7/6/94 494 Chá SB 1/9/81 495 Chá PS 1/10/93 496 Chá SB 1/9/81

sua dignidade, toda a sua majestade presente na minha alma, e com uma união superlativa de que não há noção no convívio entre nós; depois, mexendo dentro de minha alma amorosamente, ao mesmo tempo sagrando-a, elevando-a e remodelando-a497 .

Muitas vezes também O considero enquanto eucarístico, enquanto presente na Sagrada Eucaristia. Mas varia muito, de acordo com a minha inclinação de alma no momento e, em certo sentido da palavra, de forma absolutamente improvisada.

Depois vem a ação de graças.

Eu a faço tão bem quanto posso, mas, dos vários atos, é aquele em que deito menos empenho, como quem diz a Nosso Senhor: “Desde já Vos agradeço, mas terei a eternidade para isso; agora estou na luta, deixai-me ir para a batalha, e vou pedir isso, aquilo, aquilo outro”498 .

Em geral, faço a ação de graças a Nosso Senhor e a Nossa Senhora – a Ele por meio d’Ela – por aquele dom inestimável da comunhão e os dons que daí me virão, rezando o Magnificat499 .

Por fim, vem a petição, que faço sempre condicionada: “Se este for o desígnio de Nossa Senhora”. É uma petição condicionada, mas curiosamente não permite muita dúvida. Quer dizer, estou certo de que, grosso modo, este é o desígnio d’Ela. Mas Ela o efetivará conforme o seu desígnio500 .

Como graças a Deus sou uma pessoa muito plácida, muito tranquila e não sujeita a grandes emoções, na petição não me é necessário fazer uma recomposição de lugar, coisa que louvo muito que uma pessoa faça. Mas meu feitio, meu temperamento não precisa disso.

Há dois pensamentos fixos nessa petição, e que são o eixo em torno do qual giram as minhas preocupações.

Um é o da minha santificação. Sempre rezo a Nosso Senhor, por meio de Nossa Senhora, pedindo a Eles para santificar-me mais e tirarem de mim, mais e mais, os defeitos que devem ser tirados, para assim unir-me completamente a Eles. Isto é no que diz respeito à minha vida interior.

Outro pensamento é, já o disse, a liquidação da Revolução, que faço sempre com a recordação de algum fato que faça sentir de modo mais completo, mais intensamente a infâmia da Revolução, lembrando entretanto que a Revolução não é apenas aquela infâmia em concreto, mas são todas

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as infâmias juntas formando um tutti frutti de infâmias, e que ela não está parada, mas continuamente em marcha, com a intenção de fazer o pior501 .

Por isto, todos os dias na comunhão, peço a graça da indignação502, e o aumento da minha intransigência503 .

Apresentado o último pedido, está terminada a minha comunhão.

Alguém me objetará: “Bom, o senhor deve ter muitos pedidos e sua comunhão deveria demorar vinte ou mais minutos. Mas sempre demora dez minutos em ponto, marcados no relógio. Como se explica isto?”

É bem verdade. Pois está no papel de um guerreiro que vai fazer a comunhão, terminá-la dez minutos depois, porque sabe que tem responsabilidades na muralha504 .

501 Chá PS 1/10/93 502 RR 22/12/73 503 RN 13/2/70 504 Chá SB 1/9/81

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