Formação Pedagógica Inicial de Formadores
Módulo 1. Formador: Sistema, Contextos e Perfil
Sub-Módulo 1.2 – APRENDIZAGEM, CRIATIVIDADE E EMPREENDEDORISMO www.nova-etapa.pt
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Aprendizagem, Criatividade e Empreendedorismo
FICHA TÉCNICA Título Aprendizagem, Criatividade e Empreendedorismo
Autoria António Mão de Ferro Alda Leonor Rocha Susana Martins
Coordenação Técnica Nova Etapa – Consultores em Gestão e Recursos Humanos
Coordenação Pedagógica António Mão de Ferro
Direção Editorial Nova Etapa – Consultores em Gestão e Recursos Humanos
Nova Etapa Rua da Tóbis Portuguesa n.º 8 – 1º Andar, Escritórios 4 e 5 – 1750-292 Lisboa Telefone: 21 754 11 80 – Fax: 21 754 11 89 Rua Agostinho Neto, n.º 21 A – 1750-002 Lisboa Telefone: 21 752 09 80 – Fax: 21 752 09 89 e-mail: info@nova-etapa.pt www.novaetapaworld.com
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Índice
Competências a Adquirir
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Conteúdos programáticos
4
Público-Alvo
4
Benefícios de Utilização
4
Condições de Utilização
5
Introdução
6
1. Conceito de Aprendizagem
6
2. Características do Processo de Aprendizagem
8
3. O processo de Aprendizagem nos Adultos
9
4. Modelos e Formas de Aprendizagem
12
5. Principais Fatores e Condições Facilitadoras de Aprendizagem
19
6. Pedagogia Diferenciada e Diferenciação Pedagógica
29
7. Princípios da Criatividade Pedagógica
41
Conclusão Final
44
Bibliografia
45
Anexos
46
Filme
46
3
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Competências a Adquirir Pretende-se que no final deste submódulo esteja apto a:
Identificar os conceitos e as principais teorias, modelos explicativos do processo de aprendizagem;
Identificar os principais fatores e as condições facilitadoras da aprendizagem;
Desenvolver um espírito crítico, criativo e empreendedor.
Conteúdos Programáticos
Conceito de “Aprendizagem”;
Características do Processo de Aprendizagem;
O Processo de Aprendizagem nos Adultos;
Modelos e Formas de Aprendizagem;
Fatores e Condições Facilitadoras de Aprendizagem;
Pedagogia Diferenciada e Diferenciação Pedagógica;
Princípios da Criatividade Pedagógica.
Público-Alvo Este manual destina-se a candidatos a formadores, formadores, gestores de formação, e outros profissionais que por inerência das suas funções tenham necessidade de adquirir ou desenvolver competências nesta área da formação.
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Benefícios de Utilização
Numa sociedade em constante devir, onde a aprendizagem expressa pela aquisição e mobilização de conhecimentos e comportamentos se processa de uma forma constante e ao longo da vida, é essencial perceber o modo como cada indivíduo perceciona a realidade e efetua o seu próprio processo de aprendizagem. Esta temática assume um contorno superior, quando para o Formador, é mesmo essencial dominar os modelos de aprendizagem e identificar as motivações inerentes a cada indivíduo, de forma a definir a estratégia de diferenciação adequada a cada participante. Tendo por base esta perspetiva, foi concebido este manual, com uma estrutura baseada em subtemas, que permitirá adquirir ou aprofundar conhecimentos no âmbito dos modelos de aprendizagem, as suas características, fatores facilitadores e intervenientes na aprendizagem, e estratégias para uma pedagogia diferenciada e diferenciação pedagógica.
Condições de Utilização
Este manual destina-se quer a formação presencial quer a formação desenvolvida num modelo de formação mista que concilia módulos presenciais com módulos em bLearning.
Na segunda modalidade este recurso encontra-se disponível em plataforma de eLearning, possibilitando que o participante tenha um fácil acesso aos conteúdos, e que faça uma gestão da sua aprendizagem de acordo com as suas disponibilidades e necessidades. Poderá ser consultado em tempo real ou guardado em formato digital para utilização posterior.
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Introdução A aprendizagem é um processo de mobilização de saberes pré-adquiridos em ligação com novas informações, que assim são projetados no futuro, vindo, desta forma, alterar ou mesmo originar novos comportamentos. Ao longo deste capítulo iremos fazer uma breve abordagem à evolução dos diferentes modelos de aprendizagem e de como se processa essa mobilização de saberes e alteração de comportamentos. Serão também analisadas as características inerentes ao processo de aprendizagem, bem como os fatores intervenientes e facilitadores desse mesmo processo.
Será ainda referenciado o conceito de Pedagogia Diferenciada, e algumas abordagens pelas quais se poderá colocar este conceito em prática. Ao longo de cada abordagem, são indicadas estratégias/atividades que poderão ser colocadas em prática em função de cada público-alvo. Por fim, salienta-se a importância do recurso à criatividade no contexto formativo, e apresentam-se alguns princípios de base que podem ser seguidos para fomentar o espírito criativo nos formandos.
1. Conceito de Aprendizagem Desde sempre se aprendeu e se ensinou e, por isso mesmo, desde sempre o Homem se interrogou sobre a natureza deste processo. Na sociedade atual, em que a mudança se processa de forma aceleradíssima, conhecer a natureza da aprendizagem e a forma como esta se processa, é uma tarefa cada vez mais urgente. A primeira pergunta que se nos coloca é sobre a definição deste conceito. O que queremos dizer exatamente
quando
falamos
de
aprendizagem?
Apesar de ser um termo de uso corrente no nosso vocabulário, certamente que teremos de pensar um pouco para o definirmos.
Quando aprendemos a comer sozinhos, a andar de bicicleta, a jogar às cartas, ou a trabalhar com um computador, estamos a modificar o nosso comportamento em relação ao estado anterior (de desconhecimento).
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O conceito de aprendizagem também evoluiu ao longo dos tempos, e uma definição de aprendizagem aceite consensualmente é-nos dada por Kimble1, em que a ênfase se coloca na experiência como fator essencial:
Definição: A aprendizagem é uma mudança mais ou menos permanente de comportamento que se produz como resultante da prática.
Outra definição cuja tónica está colocada na intencionalidade e funcionalidade do que se aprende:
Aprender
é
adquirir
estruturas
de
comportamento e representações de objetos, que nos permitam agir no e sobre o meio ou sobre as representações que dele temos.
Uma das questões que se coloca em relação à aprendizagem é o facto de ser um processo interno, isto é, que ocorre dentro do indivíduo, pelo que não é diretamente observável. Exemplo disso são os formandos que quando perante um teste não são capazes de expor aquilo que sabem sobre o assunto, mas depois de saírem da sala fazem uma explicação clara e precisa a um colega. Daí a necessidade de analisarmos os fatores intervenientes no processo e as condições facilitadoras do processo de aprendizagem.
DESAFIO: Procure trocar algumas impressões com dois ou três colegas acerca de experiências de aprendizagem. Pensem em duas ou três situações em que tenham aprendido algo que tenham considerado importante. Procurem encontrar os pontos comuns nas várias situações: 1- Contexto de aprendizagem (escola, família, emprego, etc.); 2- Quem ensinou; 3- Como foi o processo de aprendizagem (a estudar, a ver outros a fazer, através da descoberta, etc.). Registe as principais ideias.
1
A. Kimble, cit. em Psicologia Prática, Verbo, Lisboa, 1992 7
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2. Características do Processo de Aprendizagem
Relativamente ao processo de aprendizagem podemos referir seis características que lhe são inerentes:
GLOBAL
Dado que exige a participação total e global do indivíduo, englobando conhecimentos, valores, capacidades, levando a que todos os aspetos constitutivos da sua personalidade entrem em atividade no ato de aprender.
DINÂMICA
Não é um processo de absorção passivo, uma vez que a aprendizagem só se consegue através da atividade, seja ela de natureza física, mental, afetiva, externa ou interna, de quem aprende. Daí a importância da promoção de atividades relevantes e adequadas aos formandos e ao seu envolvimento na aprendizagem.
CONTÍNUA
A aprendizagem é um processo que decorre ao longo de toda a vida.
PESSOAL
É um processo pessoal porque varia de pessoa para pessoa e não é transmissível. Por esta razão, frequentemente se diz que “ensinar não implica aprender”, ou seja, a mesma forma de ensinar pode não ser eficaz com indivíduos diferentes. A aprendizagem depende assim do ser que aprende.
GRADATIVA
É um processo que se realiza através de operações, inicialmente mais simples, passando depois às mais complexas, em que cada nova situação envolve um número de elementos maior.
CUMULATIVA
A aprendizagem resulta da atividade anterior, isto significa que a nossa capacidade de aprender coisas novas aumenta se já possuirmos alguns conhecimentos sobre o assunto.
A RETER A aprendizagem é um processo responsável pela transformação de um estado inicial (situação presente em termos de competências, saberes, etc.), num estado final (aquisição, desenvolvimento de novas competências ou saberes), através da experiência (vários tipos de atividade ou de procedimento).
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3. O Processo de Aprendizagem nos Adultos
DISTINÇÃO ENTRE OS CONCEITOS: PEDAGOGIA, ANDRAGOGIA, DIDÁTICA, PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM
Para que possamos abordar o processo da aprendizagem de adultos, é imprescindível que se faça a distinção entre os principais conceitos e princípios relativos à aprendizagem:
Pedagogia – palavra de origem grega, a partir da justaposição “pedo” – criança, e “gogia” – ciência/arte de educar. Assim, a Pedagogia é designada como sendo a arte ou ciência de educar crianças e jovens.
Didática – o termo didática deriva do grego “didaktiké”, que significa a arte de ensinar. A didática envolve o estudo
do
processo
de
ensino-aprendizagem.
A
pedagogia é reconhecida como sendo a arte e ciência de educar, enquanto a didática é conhecida como a arte e ciência de ensinar.
Andragogia – termo que se atribui a Goguelin a partir da justaposição das palavras gregas “andro” – Homem, e “gogia”, que se define como sendo a arte e a ciência de orientar adultos a aprender.
Psicologia da Aprendizagem – Estuda as teorias/processos que estão na base da aprendizagem, e os fatores que condicionam a aprendizagem.
O estudo do processo de aprendizagem centrou-se durante muito tempo apenas nas crianças e jovens. Para se desenvolver como campo de intervenção, a Andragogia 2 teve que desmistificar o velho ditado popular “burro velho não aprende línguas”. A quase interdição da aprendizagem que pesou sobre os adultos durante bastante tempo teve, naturalmente, repercussões na perceção da sua própria capacidade de desenvolvimento, facto que, nalguns casos, ainda deve ser levado em linha de conta. Nas últimas décadas, essa imagem do adulto imutável começou a ruir, diga-se em abono da verdade, mais como consequência das profundas alterações ocorridas no mundo tecnológico, científico e laboral, do que pelos avanços das investigações andragógicas.
2
Termo que se atribui a Goguelin, a partir da justaposição das palavras gregas andro - homem, e gogia - ciência/arte de ensinar, por
oposição a pedo - criança, gogia - ciência/arte de educar. 9
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Em poucos anos a maioria dos profissionais viu-se impossibilitada de conduzir a sua vida pessoal e profissional utilizando os mesmos modelos usados pelos seus pais e avós. Hoje em dia os indivíduos têm necessidade de agir, pensar, comunicar, aprender e evoluir em função das novas expectativas e necessidades em constante mutação, em contextos socioculturais, económicos e tecnológicos em transformação. Assim, a formação de adultos foi chamada a modificar as suas abordagens e intervenções como forma de dar respostas a estas renovadas necessidades . CARACTERÍSTICAS DO ADULTO ENQUANTO APRENDIZ É então importante procurar identificar as principais características do adulto no processo de aprendizagem. Quais são as suas especificidades? Que dificuldades acrescidas terá em relação às crianças e jovens? E que mais-valias ou vantagens jogarão a seu favor? Vejamos então, no quadro seguinte3 algumas das principais diferenças entre crianças e adultos.
PAPEL DA EXPERIÊNCIA VONTADE DE APRENDER
ORIENTAÇÃO DA APRENDIZAGEM
MOTIVAÇÃO
3
MODELO PEDAGÓGICO
MODELO ANDRAGÓGICO
(Crianças e Jovens)
(Adultos)
“Arte e ciência de ensinar as crianças”
“Arte e ciência de ajudar os adultos a aprender”
A experiência daquele que aprende é considerada de pouca utilidade. O que é importante, pelo contrário, é a experiência de quem ensina.
Os adultos são portadores de uma experiência que os distingue das crianças e dos jovens. Em numerosas situações de formação, são os próprios adultos com a sua experiência que constituem o recurso mais rico para as suas próprias aprendizagens.
A disposição para aprender aquilo que é ensinado tem como fundamento critérios e objectivos internos à lógica do ensino, ou seja, a finalidade de obter êxito e progredir em termos escolares.
Os adultos estão dispostos a iniciar um processo de aprendizagem desde que compreendam a sua utilidade para melhor resolver problemas reais da sua vida pessoal e profissional.
A aprendizagem é encarada como um processo de conhecimento sobre um determinado tema. Isto significa que é dominante a lógica centrada nos conteúdos, e não nos problemas.
Nos adultos a aprendizagem é orientada para a resolução de problemas e tarefas com que se debatem na sua vida quotidiana (o que desaconselha uma lógica centrada nos conteúdos).
A motivação para a aprendizagem é fundamentalmente resultado de estímulos externos ao sujeito, como é o caso das classificações e dos reforços dados.
Os adultos são sensíveis a estímulos de natureza externa (notas, diplomas, etc.), mas são os factores de ordem interna que motivam o adulto para a aprendizagem (satisfação, auto-estima, qualidade de vida, etc.).
Kevim Miller, "Plan instruction for adults", The National Center for Research in Vocational Education. (1987) Ohio State University,
Columbus. 10
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Existem outros elementos a ter em consideração, tais como a inteligência, a memória, a perceção, a motivação, que serão alvo de desenvolvimento no ponto relativo aos Fatores Intervenientes na Aprendizagem.
Em conclusão, podemos referir alguns dos principais pressupostos para a formação de adultos 4:
São motivados a aprender à medida que sentem que as suas necessidades e interesses são satisfeitos. Por isso mesmo, estes deverão ser os dois pontos de apoio para a organização das atividades de aprendizagens dos adultos;
A orientação da aprendizagem do adulto está centrada na sua vida; pelo que os programas de aprendizagem deverão ter situações próximas da sua realidade;
A experiência é a mais rica fonte para o adulto aprender, por isso, o centro da metodologia da sua educação deve privilegiar a análise dessas experiências;
Os adultos têm uma profunda necessidade de se autodirigirem, por isso, o papel do formador é o de incentivar o processo de mútua investigação/interação entre os formandos e não apenas transmitirlhes o seu conhecimento e depois avaliá-los;
As diferenças individuais aumentam com a idade, daí que a formação de adultos deva considerar as características de personalidade, as diferenças de estilo e o ritmo de aprendizagem, para além do tempo e do lugar onde decorre a formação.
TIPOS DE APRENDIZAGEM NOS ADULTOS
Um estudo que procurou relacionar a aprendizagem com o desenvolvimento dos adultos refere que é, antes de mais, “um processo que requer atenção e reflexão por parte do indivíduo em relação a uma determinada experiência, e que conduz a uma transformação em relação aos seus comportamentos, ou às suas próprias convicções”. A reflexão será assim a ação essencial, uma vez que é através dela que se estabelece a ligação entre a experiência vivida pelo indivíduo e o seu sistema de significação. Outro aspeto referido como fundamental é a atividade experimental, em que o próprio formando toma contacto com diversas situações e descobre os resultados pretendidos, podendo desta forma tirar as suas próprias conclusões e ainda estabelecer a ligação com a sua realidade pessoal e/ou profissional. Para ser significante, a aprendizagem tem que ser percebida pelo adulto como sendo pertinente. Nesta ótica, o formando interpreta cada situação vivida em formação a partir do seu próprio sistema de representações, isto é, de acordo com o seu conjunto de valores, ideias, atitudes, conhecimentos, etc., tornando-se a aprendizagem efetiva se estiver de acordo com esse sistema de valores.
4
Lindeman, Eduard, The Meaning of Adult Education, citado por Claude “Aprendizagem e Desenvolvimentos dos Adultos”, Piaget Editora, Lisboa, 2002. 11
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Quando, pelo contrário, a experiência vivida está em desacordo com esse sistema, a aprendizagem será rejeitada ou, pelo menos, questionada. Dando um exemplo concreto: Imagine-se um profissional que toda a sua vida operou uma máquina de tipografia manual. Um dia a sua profissão é extinta e ele é “enviado” para a formação para aprender a trabalhar com um computador que executa a mesma tarefa com maior rapidez e eficiência. Caso o formador não saiba articular a nova temática com a experiência passada desse formando, poderá contar com a sua resistência e não adesão ao processo de aprendizagem.
Desta forma, apenas a aprendizagem significante pode conduzir ao desenvolvimento pessoal e profissional do adulto. Contrariamente, a aprendizagem automática ou por receção (ver maior desenvolvimento no ponto relativo aos Modelos e Formas de Aprendizagem) leva ao aumento de conhecimentos circunstanciais, os quais, não lhes sendo reconhecida qualquer aplicação prática, facilmente serão esquecidos.
Assim, é fácil reconhecer a importância do papel ativo que o formando deve desempenhar, não apenas na aquisição e organização dos conhecimentos, como igualmente na sua aplicação. Em resumo, das principais formas de aprendizagem nos adultos destacam-se a reflexão (relacionando a informação recebida com os sistemas de significação) e a experimentação, sendo igualmente os dois pilares fundamentais para que a aprendizagem seja considerada significante.
4. Modelos e Formas de Aprendizagem Uma análise das várias teorias de aprendizagem permite-nos agrupá-las, grosso modo, em três grandes grupos:
a) As teorias ou modelos que veem a aprendizagem como sendo, em grande parte, consequência da ação das pessoas que ensinam (o centro da ação está no formador), sendo o formando um agente recetor da informação – Modelo Behaviorista / Comportamentalista; b) Teorias que veem a aprendizagem como sendo em grande medida decorrente de atividades da própria pessoa que aprende, atividades essas que englobam a pesquisa, a investigação e a reflexão – Modelo Construtivista / Cognitivista; c) Teorias ou modelos que consideram a aprendizagem como decorrente fundamentalmente da interação entre as pessoas (formador/formandos, formandos/formandos), interação essa que se manifesta através da partilha de experiências, diálogo, discussão, reflexão crítica, etc. – Modelo Humanista. De seguida passaremos a explicitar um pouco melhor estas ideias de fundo.
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MODELO BEHAVIORISTA /COMPORTAMENTALISTA
Segundo o modelo comportamentalista, a aprendizagem centra-se apenas nos comportamentos objetivamente observáveis, negligenciando as atividades mentais. A aprendizagem é simplesmente definida como a aquisição de um novo comportamento.
As primeiras investigações associadas ao modelo comportamentalista (por vezes também designado por empirista) tiveram lugar no início do século XX. Um dos investigadores associados a esta teoria preferiu a frase que ficou célebre: “deem-me um bebé e eu farei dele um ladrão, um pistoleiro ou um morfínómano. As possibilidades de o moldar são infinitas. Os Homens são construídos, não nascem assim”5. Esta frase contém os princípios básicos daquilo que os comportamentalistas consideram ser o processo de aprendizagem, isto é, “uma modificação do comportamento diretamente observável, no sentido de uma adaptação progressiva, no decorrer de atividades repetidas em condições semelhantes”. Como podemos verificar, nesta definição toda a ênfase é colocada
nos
comportamentos
objetivamente
observáveis
adquiridos através da repetição sucessiva. Assim, considera-se que toda a aprendizagem por repetição, até à obtenção de um comportamento-hábito, é desencadeada por um estímulo que responde à situação tipo para a qual foi construído. Este princípio de educação está na base de muitas das nossas aprendizagens. Por exemplo, o manusear do garfo e da faca, depois da caneta e do lápis, a conjugação da tabuada, as declinações de latim e tantas outras fórmulas ou definições, que implicam uma repetição constante do comportamento. Associada aos princípios deste modelo encontra-se ainda a noção de reforço. De acordo com os princípios do condicionamento operante, quando se tenta pela primeira vez ensinar alguém a desempenhar uma determinada tarefa, é importante reforçá-la de forma imediata e generosa, e não negativamente, o que poderia funcionar como fator desmotivador. À medida que o indivíduo adquire prática, o reforço deve ir diminuindo de frequência e passar a intermitente, garantindo uma maior durabilidade das respostas. Resultante das pesquisas realizadas por Thorndike6, foi distinguida outra forma de aprendizagem, designada por ensaio-erro ou tentativa-erro. A principal divergência reside no facto do formando não aprender por meio de uma resposta imposta pelo exterior, mas fazendo ele próprio a experiência por tentativa e erro. Muitas das nossas aprendizagens foram realizadas desta forma. Watson, J.B., The beaviorist look at instincts, Harper’s Magazine, 1927, cit por Sprinthall & Sprinthall, Psicologia Educacional, MaGraw Hill, Lisboa, 1999. 6 Thorndike, Edward, The Fundaments of Learning (1932), cit por Sprinthall & Sprinthall, Psicologia Educacional, McGraw Hill, Lisboa, 5
1999. 13
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Ainda se lembra das construções que fazia com o seu jogo de lego? Na maioria das vezes não seguíamos à risca as sugestões do folheto, mas por tentativa-erro lá íamos colocando peça sobre peça até conseguirmos construir uma figura parecida com um cão, uma casa, um carro, etc. E quem nunca tentou fazer uma pequena reparação de um utensílio doméstico desta forma, experimentando várias possibilidades até conseguir o resultado pretendido? Esta forma de aprendizagem, de ensaio-erro, abriu o caminho para a aprendizagem pela descoberta, mais tarde desenvolvida pelos investigadores do modelo cognitivista (aprofundar no ponto relativo ao Modelo Cognitivista). Ainda dentro do modelo designado por comportamentalista (neocomportamentalismo), surge um novo conceito e forma de aprendizagem, desenvolvida por Albert Bandura: a aprendizagem social. O mais relevante da sua teoria diz respeito à aprendizagem por exposição a um modelo, ou seja, aprendizagem por observação, imitação/modelagem. Segundo este investigador, na aprendizagem social ou por modelagem, as pessoas aprendem observando o desempenho de modelos, podendo esta observação ser direta ou através de instrumentos mediadores (filmes, imagens, etc.). Os modelos podem ser pessoas ou modelos simbólicos apresentados oralmente, por escrito, ou por outras formas audiovisuais. Esta forma de aprendizagem, designada por modelagem, por observação ou imitação, tem particular utilidade na formação de adultos, nomeadamente para aprendizagem de habilidades manuais ou competências do domínio psicomotor.
DESAFIO: Recorde algumas aprendizagens realizadas através da imitação de um modelo. Quem foi o modelo? O seu desempenho diferiu do modelo? Em que situações esse tipo de aprendizagem foi particularmente usado?
Em resumo, segundo o modelo Comportamentalista, a aprendizagem decorre das seguintes formas:
Pela repetição;
Por tentativa-erro;
Pela imitação-modelagem/observação.
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As teorias comportamentalistas deixaram alguns contributos extremamente importantes, que podem e devem ser utilizados na formação de adultos:
A noção de reforço;
O conceito de aprendizagem por observação/imitação com grande aplicação nas áreas psicomotoras e de habilidades manuais;
A definição, com grande exatidão, dos objetivos finais da aprendizagem;
A importância da estruturação e apresentação dos conteúdos em sequências curtas.
MODELO CONSTRUTIVISTA / COGNITIVISTA
Este modelo parte do pressuposto de que todos nós construímos a nossa própria conceção do mundo em que vivemos a partir da reflexão sobre as nossas próprias experiências. Cada um de nós utiliza "regras" e "modelos mentais" próprios, consistindo a aprendizagem no ajustamento desses "modelos" a fim de poderem "acomodar” as novas experiências. Princípios básicos do Construtivismo
A Aprendizagem é uma constante procura do significado das coisas. A Aprendizagem deve pois começar pelos acontecimentos em que os aprendizes estão envolvidos e cujo significado procuram construir.
A
construção
do
significado
requer
não
só
a
compreensão da "globalidade”, como também das "partes" que a constituem.
Para se poder ensinar corretamente é necessário conhecer os modelos mentais que os formandos utilizam na compreensão do mundo que os rodeia, e os pressupostos que suportam esses modelos.
Aprender é construir o seu próprio significado e não encontrá-lo nas "respostas certas" dadas por alguém.
Destaca-se neste modelo, a referência ao processo de Aprendizagem Significante ou Significativa desenvolvida por David Ausubel, que refere que o fundamental no processo de ensino é que a aprendizagem seja significativa, isto é, a informação a ser apreendida precisa de fazer sentido para o formando. Isto sucede quando os novos conteúdos se “ancoram” aos conceitos relevantes já existentes na estrutura cognitiva do aprendiz. Quando a informação a ser aprendida não consegue ligar-se a algo já conhecido, ocorre o que Ausubel designou de aprendizagem mecânica. 15
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Ou seja, as pessoas tendem a decorar fórmulas, leis, números, através da repetição e memorização, embora essa informação seja rapidamente esquecida.
Para ocorrer aprendizagem significativa é preciso haver duas condições:
a) O participante precisa ter motivação para aprender: se o indivíduo quiser memorizar a informação, esta aprendizagem será mecânica;
b) Os conteúdos a serem apreendidos têm de ser potencialmente significativos, sendo filtrados de acordo com as suas experiências, aprendizagens anteriores, quadros de referências, valores, etc. Esta definição em relação ao processo de aprendizagem aplica-se particularmente à formação de adultos, dado que, conforme vimos atrás, para que a aprendizagem resulte em desenvolvimento de competências, deverá ter um carácter pragmático, em que o adulto reconheça utilidade na formação a ser ministrada, com vista ao seu desenvolvimento pessoal ou profissional. Poderíamos ainda referir como uma das teorias que têm particular importância na formação de adultos, o modelo desenvolvido por Jerome Bruner: a Aprendizagem pela Descoberta. Segundo este investigador, a aprendizagem deveria ser feita por meio da indução, ou seja, o formador deveria ter um papel meramente facilitador, levando os formandos a descobrir a informação através de situações-problema (não se confundindo com a aprendizagem por tentativa-erro). As vantagens seriam um incremento da motivação, dado que o participante teria um papel ativo na sua própria aprendizagem, e conseguiria uma melhor retenção e evocação da informação. Em termos de formas de aprendizagem referenciadas por este modelo destacamos:
Reflexão;
Descoberta.
Em resumo, no modelo construtivista/cognitivista é dada particular importância aos fatores internos e externos, na medida em que é a compreensão das situações, por parte do sujeito, que leva à construção de uma resposta, havendo uma autonomia em relação ao ambiente. Assim, podemos dizer que se trata de um modelo centrado no sujeito e em que cada nova etapa integra as anteriores.
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MODELO HUMANISTA
O modelo humanista, também designado como personalista ou dinâmico, para além de considerar os aspetos cognitivos, valoriza também a personalidade global, tendo em conta os aspetos afetivos e emocionais, atribuindo um papel fundamental à atenção, motivação, atitudes, valores, entre outros, no processo de aprendizagem. Os principais representantes deste modelo de aprendizagem são Carl Rogers, A. Maslow e A.Combs. Rogers apresenta um modelo formativo que se pode considerar no mínimo inovador, pois o centro das suas considerações é o formando, em
contraste
com,
por
exemplo,
o
modelo
behaviorista/comportamentalista em que se considera que a peça fundamental é o formador, sendo o formando visto como “uma porção de barro pronta para ser moldada”. À época, podemos mesmo considerar que o autor faz uma autêntica revolução copérnica no campo da educação.
Eis alguns dos pressupostos fundamentais relativos ao modelo proposto por C. Rogers:
Todas as pessoas contêm em si mesmas um potencial natural para a aprendizagem;
Não podemos ensinar, apenas podemos facilitar a aprendizagem;
A aprendizagem significativa acontece quando o assunto é percecionado pelo formando como relevante para os seus propósitos, o que significa que este aprende aquilo que perceciona como importante para si;
A aprendizagem que implique uma mudança na organização interna de cada um, ou seja, na percepção de si mesmo, é ameaçadora e tende a ser rejeitada;
A maioria das aprendizagens significativas é adquirida pela pessoa em ação, ou seja, pela sua experiência;
A aprendizagem qualitativa acontece quando o formando participa responsavelmente neste processo;
A aprendizagem que envolve a autoiniciativa por parte do participante e a pessoa na sua totalidade, ou seja, dimensões afetiva e intelectual, torna-se mais duradoura e sólida;
Quando a autocrítica e a autoavaliação são facilitadas, a independência, a criatividade e a autorrealização do indivíduo tornam-se possíveis;
Para uma aprendizagem adequada torna-se necessário que o formando aprenda a aprender, ou seja, que desenvolva a capacidade que o indivíduo tem de interiorizar o processo constante de aprendizagem.
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Destaca-se ainda a importância atribuída ao clima relacional para o sucesso da aprendizagem, onde o formador tem um papel fundamental de orientador/facilitador.
Em resumo, o modelo humanista enfatiza o papel do formando como agente ativo no processo de aprendizagem, sendo a forma de aprendizagem preferencial a reflexão crítica.
A RETER Dos modelos anteriormente visados, podemos constatar que a aprendizagem pode decorrer das seguintes formas: 1. Repetição; 2. Tentativa-Erro; 3. Imitação/Modelagem/Observação; 4. Reflexão; 5. Descoberta.
A estes processos, o modelo Humanista, para além da componente cognitiva, acresce ainda a importância da dimensão afectiva e emocional, que conciliadas tornam o processo de aprendizagem mais sólido e duradouro.
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5. Principais Fatores e Condições Facilitadoras da Aprendizagem
PRINCIPAIS FATORES QUE INTERFEREM NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Para melhor compreensão da complexidade do processo de aprendizagem, apresentam-se de seguida alguns fatores que intervêm diretamente no processo. São eles:
A perceção A atenção e a concentração A atividade mnésica Memória Inteligência Pensamento
A motivação
As diferenças individuais Idade Nível de conhecimento/habilitações Estado emocional Características de personalidade Estilos de aprendizagem Maturidade
O local de aprendizagem
A PERCEÇÃO
Toda a aprendizagem tem início na perceção.
Somos constantemente bombardeados por estímulos/informações que nos chegam do exterior. Contudo, não conseguimos aperceber-nos e interiorizar toda essa informação, tendo que fazer escolhas e seleções sobre onde incidir a nossa atenção. A esse processo de seleção chamamos “Perceção”.
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É através da perceção que nos apropriamos do exterior e que conseguimos pensar a realidade. A perceção é uma construção que cada indivíduo faz da realidade. Essa construção não é igual para todos os indivíduos, uma vez que nem todos percecionamos a realidade da mesma forma, dependendo das seleções de informação que cada indivíduo faz da realidade.
A perceção assume assim três características: Seletiva (cada um de nós seleciona a informação); Ativa (é através da perceção que nos relacionamos com os objetos e com o meio); Subjetiva (o modo como cada um organiza e interpreta as sensações é particular e individual). Mas, o que faz com que, face a um mesmo estímulo/informação, possam existir diferentes perceções?
São vários os fatores que afetam esta construção individual: Aprendizagem/Experiência passada Necessidades/Interesses Crenças e Valores Natureza do Estímulo Situação Ambiental
Assim, há que ter em conta que pessoas diferentes percecionam o mundo de forma diferente, e o que é significativo para uns não o é para outros, não existindo uma forma universal.
Toda a aprendizagem tem início na perceção. A aprendizagem que efetuamos depende em muito do modo como percecionamos a informação que nos é transmitida. No processo formativo haverá certamente
perceções diferentes, pelo que é importante que o formador vá averiguando a forma como os participantes estão a percecionar a informação, e se o modo como estão a aprender os conteúdos e a aplicar os conhecimentos é a mais correta. DESAFIO: Lançamos-lhe agora um desafio. Olhe atentamente para a figura ao lado. O que consegue ver? Procure outras opiniões de colegas, familiares, amigos. Verifique se eles veem o mesmo. Quais as vantagens desta troca de pontos de vista?
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A ATENÇÃO E A CONCENTRAÇÃO
Tal como a perceção, também a atenção é pessoal e seletiva, dependendo da motivação e do interesse/vontade do formando. Em cada um de nós a atenção não é um processo constante ao longo do tempo, variando entre períodos de elevada atenção/concentração e períodos de dispersão. Esta variação é dependente de inúmeros fatores:
O momento em que nos encontramos (manhã, tarde ou noite);
O contexto (formal/informal, ativo/passivo, afável/hostil. Um contexto formal e hostil, habitualmente bloqueia a atenção e a concentração, ao contrário de um contexto informal e afável);
A natureza da tarefa (ouvir/ver favorece a dispersão devido à atitude passiva, enquanto fazer/agir favorece a atenção e a concentração pela mobilização de esforços. Também é importante o valor que atribuímos à tarefa, pois aprendemos melhor o que tem valor afetivo para nós);
Como nos sentimos (cansados e doentes ou de boa saúde, curiosos e saciados).
Assim, o formador não se poderá esquecer que a predisposição para aprender depende de vários fatores, e que esses devem ser considerados aquando da realização das atividades formativas. Certamente que a capacidade de atenção e de concentração vai depender não só da natureza da tarefa, como também do estado físico dos formandos e do período e ambiente em que ocorrem as atividades.
A ATIVIDADE MNÉSICA
A atividade mnésica é um fenómeno especificamente humano, que está orientado para retenção e reprodução da informação fixada. Deste modo, pode concluir-se que a atividade mnésica está fortemente associada à memória. Por sua vez a memória é inseparável do pensamento e da inteligência.
Ao nível da memória fala-se em três sistemas principais:
Uma memória sensorial, constituída por um conjunto de registos sensoriais, que mantém a informação sensorial durante frações de segundo após o desaparecimento do estímulo;
Uma memória a curto prazo (MCP – também chamada memória de curto termo), que mantém a informação durante cerca de um minuto;
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E uma memória a longo prazo (MLP – também chamada memória de longo termo), em que a informação é armazenada por períodos muito mais longos. As mnemónicas podem funcionar como boas estratégias para facilitar o processo de recordação (ex.: 30 dias tem novembro…etc.).
Em termos da inteligência, várias investigações confirmam que há um forte crescimento da aptidão mental, entre os 10 e os 20 anos, e um declínio daí em diante. Não se pode falar de uma única inteligência, mas sim em duas. A inteligência fluida envolve a aptidão para lidar essencialmente com problemas novos, e a inteligência cristalizada envolve o repertório de informação, de competências cognitivas e de estratégias adquiridas pela aplicação da inteligência fluida a vários domínios.
A inteligência fluida diminui com a idade, mas a inteligência cristalizada não, continuando a aumentar até à velhice, caso a pessoa se encontre num ambiente intelectualmente estimulante. A pessoa mais velha não só constituiu uma grande riqueza de conhecimentos, como também aperfeiçoou os meios de organização desses conhecimentos e de avaliação dos problemas. Pode dizer-se que são pessoas mais competentes e que funcionam com unidades de conhecimento cada vez maiores. E aqui chegamos ao pensamento, que envolve precisamente o processo ou modo como fazemos o agrupamento da informação.
A MOTIVAÇÃO
A motivação é um processo dinâmico e complexo que pode ter uma natureza interna ou externa, mas é sempre um importante fator impulsionador
da
aprendizagem
e
dos
processos
de
atenção,
concentração, memória e de transferência do aprendido. Um fator extremamente desmotivante e frustrante para o formando é não compreender as tarefas ou ter que desenvolver tarefas demasiado complexas para o seu conhecimento atual. Daí que é de extrema importância desenvolver um processo de aprendizagem gradativo (do mais simples para o mais complexo).
AS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS
Aos fatores até agora mencionados, nem todas as pessoas reagirão ou responderão da mesma maneira. Isto prende-se com as diferenças individuais. Há um grande número de diferenças importantes entre formandos jovens e adultos. A formação de adultos é bastante exigente e os formadores envolvidos, para além de bons técnicos, têm que ser sensíveis às especificidades dos adultos e estar bem conscientes da sua tarefa.
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Vejamos algumas das principais diferenças entre ensino de crianças/jovens e adultos:
Idade dos formandos – É um fator importante a ter em conta aquando da definição das estratégias de formação. Em geral, um indivíduo mais velho aprende mais devagar e tem mais dificuldade em lidar com as matérias novas do que um jovem. Além disso, se cometer um erro no início da formação tem tendência a repeti-lo e a sua correção torna-se difícil (automatização do comportamento com consequente rigidez funcional). Mas mais uma vez, nem sempre é assim. Contudo, o formador deve sempre:
Certificar-se que o formando domina uma tarefa, antes de passar à seguinte; Corrigir os erros o mais cedo possível; Variar os métodos de formação para combater a fadiga; Utilizar períodos mais longos de formação, ao contrário do que acontece com os mais jovens; Deixar o formando evoluir ao seu próprio ritmo e competir consigo mesmo, em vez de competir com metas atingidas pelos outros.
Nível de conhecimentos e habilitações dos formandos – Há que ter especial atenção com formandos de menor experiência académica, com quem o formador deverá:
Utilizar pequenas etapas na aprendizagem; Partir de exemplos concretos para princípios gerais; Evitar situações de formação não estruturadas; Dar explicações curtas, evitando a fadiga e a desmotivação; Promover exercícios práticos regularmente.
Estado emocional – Pode influenciar o modo e o conteúdo da aprendizagem. Ansiedade, medo do fracasso e falta de confiança são alguns dos tipos de sentimentos que podem afetar negativamente a motivação e a vontade de aprender dos formandos. Daí que o formador deve:
Dar atenção, apoio emocional e feedback sobre o progresso do formando; Tranquilizar quando houver períodos de pouco ou nenhum progresso; Evitar que os formandos fiquem sozinhos durante longos períodos, dando assistência imediata em caso de dificuldade.
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Características de personalidade – Cada pessoa tem um padrão de comportamento único, que o leva a pensar, comunicar, comportar-se de forma distinta. Essa especificidade de cada indivíduo tem repercussões no processo de aprendizagem. Pessoas mais reflexivas terão tendência para apreciar sessões que apelem à imaginação e intuição, enquanto outras mais enérgicas sentir-se-ão mais motivadas com atividades que impliquem ação e movimento.
Estilos de aprendizagem – O conhecimento dos estilos de aprendizagem dos formandos tem como benefícios:
Ajudar o formador a adaptar a organização das sessões ao estilo predominante dos formandos; Identificar os formandos que necessitam de uma atenção especial, para que o estilo de aprendizagem se adapte ao método exigido; Levar os formandos a reconhecer os pontos fortes e fracos que detêm relativamente a uma aprendizagem eficaz.
Maturidade dos formandos – está relacionada com as capacidades dos participantes em definir objetivos de aprendizagem elevados e tangíveis, e com a vontade de assumir a responsabilidade da sua aprendizagem.
No que se refere a formandos imaturos, o formador deve “procurar que consigam andar antes de os pôr a correr”. À medida que o formando fica mais “maturo”, o formador deve tornar-se menos estruturado na sua abordagem e concentrar-se mais na orientação. Com formandos “maturos”, o formador deve estabelecer uma relação mais participativa, desafiadora e de colaboração.
O LOCAL DE APRENDIZAGEM
O ambiente onde decorre a aprendizagem é de grande importância devendo estimular as sessões de formação. O local de formação deve ter condições físicas adequadas, permitir uma disposição das mesas em «U» (facilitando a comunicação e a interação) e assemelhar-se tanto quanto possível às condições reais de trabalho. Por exemplo, o caso dos simuladores de voo ou das simulações pedagógicas.
CONDIÇÕES FACILITADORAS DA APRENDIZAGEM Apesar de ser um processo individual, subjetivo e de extrema complexidade, a aprendizagem pode ser facilitada. Como formador, pode socorrer-se de alguns aspetos no sentido de facilitar a sua atuação enquanto transmissor de conhecimentos e promotor de competências.
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Eis alguns dos fatores de que se pode valer para auxiliar o processo de aprendizagem dos seus formandos:
A RETER FACILITADORES DA APRENDIZAGEM
Motivação Atividade Conhecimento dos Objetivos Conhecimento dos Resultados Reforço Domínio dos Pré-requisitos Estruturação/Sequência Progressividade Redundância Imagem e Demonstração
Aprender pela Descoberta e Exploração
Sinteticamente, só haverá aprendizagem se o formando sentir desejo de aprender ou estiver motivado. Ir ao encontro das necessidades do formando é uma forma de o motivar.
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Outra forma será a utilização de reforços positivos, podendo assumir diversas formas, desde o simples elogio específico, à recompensa ou atribuição de incentivos. Para além disso, não podemos esquecer que todos os formandos possuem uma experiência de vida (com conhecimentos mais ou menos aprofundados), e diferentes capacidades de aprendizagem, fatores que devem ser levados em linha de conta para motivar os formandos, procurando ir ao encontro das suas necessidades específicas. A atividade, seja ela explorar uma situação, recolher informações, efetuar exercícios práticos ou estruturar conhecimentos aplicando-os a novas situações, são variáveis fundamentais no sucesso da formação. Um velho provérbio chinês serve para destacar a importância da atividade: “Ouço e esqueço, vejo e recordo, faço e compreendo.” O formando tem que praticar e estar envolvido ativamente na formação para que o processo de aprendizagem seja eficaz. A definição clara dos objetivos pedagógicos e a sua partilha com os formandos é outro elemento essencial. Ela dará aos formandos uma visão do que vai ser feito, o modo como tem que ser feito, qual o esforço que implicará e que benefícios lhe trará. Simultaneamente, a definição dos objetivos permite estabelecer uma forma de controlar o processo de aprendizagem, bem como um padrão de desempenho a partir do qual o formando será avaliado. Os formandos necessitam ainda de saber como vão evoluindo em todas as etapas da formação. Assim, o formador deverá informá-los, de forma rigorosa, acerca dos resultados conseguidos, promovendo a compreensão do que aprenderam em termos qualitativos e quantitativos. Este tipo de feedback é por si só um reforço. Os pré-requisitos são as capacidades ou os conhecimentos prévios indispensáveis aos exercícios e atividades planeados para uma dada formação. É lógico, portanto, que para que haja eficácia na formação o formador verifique se os seus formandos dominam os pré-requisitos necessários para a continuidade da formação. Se o conteúdo da formação (estrutura/sequência) seguir uma ordem lógica ou uma ordem com sentido para o formando, a aprendizagem e a subsequente memorização e aplicação do aprendido serão muito mais fáceis. Há três regras que ajudam o formador a estruturar/sequenciar o conteúdo de forma adequada:
Partir do mais simples para o mais complexo.
Partir do que o formando sabe para o que não sabe. O formador deve tentar apoiar-se no que o formando já conhece, estabelecendo uma relação entre o conhecido e o desconhecido.
Partir do que é prático ou concreto para o mais abstrato e teórico. As pessoas acabarão por aprender melhor através de exemplos concretos.
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A aprendizagem deve ser estruturada de forma progressiva. Isto é, a matéria deve ser apresentada numa sequência crescente. Por outras palavras, o formador deverá apresentar o tema partindo das questões de reduzida dificuldade, com estruturas lógicas simples no início, doseando a quantidade de exercícios a realizar. A repetição espaçada de um conceito ou de um comportamento facilita a sua memorização e reprodução diminuindo desta forma o tempo de execução. Assim, a redundância (através do recurso a exercícios e a trabalhos de grupo, com reestruturação do aprendido) para ser eficaz deve ser realizada sob formas diferentes ou em contextos novos. As imagens e as demonstrações proporcionam aos formandos um plano mental que os ajudará a recordar a sequência das ações ou das etapas de procedimentos. Em demonstração, o que se faz fala mais alto do que as palavras. Desde que os formandos estejam conscientes que cometer erros não constitui qualquer problema, poderão aprender muito se forem deixados sós, com pouco ou nenhum envolvimento do formador. Contudo, a aprendizagem pela descoberta deve ser orientada, controlada, estruturada e organizada pelo formador. Nada do que o formando fizer deverá passar despercebido ao formador.
APRENDIZAGEM DISRUPTIVA
Para
além
das
condições
referidas
anteriormente,
surgiu
recentemente o conceito de “Aprendizagem Disruptiva” como abordagem inovadora nos processos de ensino-aprendizagem.
A aprendizagem disruptiva contextualiza a necessidade de revitalização do modo de ensinar, deixando de recorrer unicamente a metodologias tradicionais e adotando as inovações tecnológicas como ferramenta de partilha de conhecimento. O termo disruptivo surge assim associado à aprendizagem suportada por tecnologias.
A pressão constante para a aquisição de novos saberes e de novas competências, aliada às crescentes inovações tecnológicas, levaram a que o processo de partilha e de aquisição de conhecimentos se intensificasse e evoluísse. Isto significa que, o modo de transmissão de conhecimentos expandiu-se, deixando de estar unicamente centrado nas instituições escolares e por meio de metodologias ortodoxas. As próprias empresas alteraram o seu modus operandi em relação ao seu Know How. Se até aqui as empresas salvaguardavam o seu conhecimento a “sete-chaves”, depressa perceberam que, somente partilhando esse conhecimento, poderiam contribuir para o conhecimento coletivo e obter melhores resultados. Para tal, em muito têm contribuído as novas tecnologias e o acesso à internet. São várias as instituições e empresas que têm recorrido às novas tecnologias como forma de partilhar e exponenciar o conhecimento, criando comunidades de aprendizagem, fóruns de partilha, ou mesmo disponibilizado uma 27
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vasta gama de formação em e-learning aos seus colaboradores, que em moldes presenciais não seria possível. O recurso a estas novas tecnologias, para além de intensificar o volume e a rapidez de aquisição de conhecimentos, permite também uma mudança no comportamento de cada um, tornando-se mais autónomo no processo de aprendizagem.
Neste sentido, face à crescente adesão aos dispositivos tecnológicos, o formador terá que ter presente que a aprendizagem passa cada vez mais pelo recurso às novas tecnologias, podendo propor atividades que incentivem a utilização das mesmas, fomentando a pesquisa de novos saberes e a partilha de experiencias. É imprescindível que cada um contribua com os seus saberes e opiniões.
Contudo, é preciso ter noção que ao conhecimento compartilhado podem surgir alguns obstáculos que podem dificultar a aprendizagem do formando:
Fraca motivação;
Comodismo;
Baixa pressão social;
Má organização do processo de ensino-aprendizagem;
Visão imediatista.
Embora o recurso às novas tecnologias esteja hoje massificado e indiscutivelmente seja um processo pelo qual todos fazemos aprendizagens informais ao longo da vida, é fundamental que, aquando da sua utilização em contexto formativo, o formador estruture e organize muito bem a metodologia de ensinoaprendizagem a seguir, para que esta não se torne um processo confuso e sim uma mais-valia de aprendizagem.
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6. Pedagogia Diferenciada e Diferenciação Pedagógica
Já vimos que nem todos percecionamos a realidade do mesmo modo, e que nem todos aprendemos da mesma forma, sendo condicionados por vários fatores internos e externos.
É pois ideia assente que num grupo de formação a diversidade é uma realidade vigente, concorrendo no mesmo espaço pessoas com características muito distintas, com diferentes capacidades/aptidões, com diferentes experiências, e com diferentes estilos e ritmos de aprendizagem.
Mas como atuar perante tamanha diversidade? Esta é sem dúvida a questão que muitos formadores se colocam a si mesmos.
O grande desafio com que se depara enquanto formador, não é o de reconhecer a diversidade, porque essa salta à vista. O seu maior repto é o de gerir essa panóplia de diversidades num tão curto espaço de tempo. Para que os participantes não se sintam desintegrados nas suas capacidades, há que conceber percursos de aprendizagem diferenciados, que possibilitem aos participantes aprender de acordo com as suas capacidades/aptidões sem que se sintam discriminados. O objetivo é o de romper com o paradigma tradicional de ensino, em que os moldes são sempre os mesmos, e desenvolver diferentes trajetos de aprendizagem, para que o recurso à diferenciação possa funcionar como fator de inclusão, reconhecendo e promovendo novos processos e capacidades de aprendizagem.
DIFERENCIAR, UM IMPERATIVO PORQUÊ?
No processo de aprendizagem, é necessário que o formador tenha noção da necessidade de diferenciar percursos, porque cada participante:
Possui características próprias
Revela estilos de aprendizagem variados
Possui tipos de inteligência variados
Revela interesses e necessidades diferentes
Está inserido num determinado contexto/meio social/cultural.
Para que os formadores possam gerir esta diversidade, terão que fazer uso de uma Pedagogia Diferenciada, ou seja, terão que adequar o seu estilo de ensino aos estilos de aprendizagem dos formandos. 29
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O corolário da diferenciação pedagógica é reconhecer que, se os formandos com quem se trabalha são diferentes, então é necessário conceber e colocar em prática estratégias que os estimulem naquilo que lhes é peculiar e individual. “Ensinar e Aprender devem ser vistas como duas coisas separadas, embora fortemente ligadas. Há atitudes e processos ligados ao ensinar, mas há também atitudes e processos ligados ao aprender”. Paulo Freire
A pedagogia diferenciada desencadeia-se num ambiente de aprendizagem aberto e flexível, onde as aprendizagens são identificadas de modo a que os participantes possam aprender (fazer a apropriação dos saberes) seguindo os seis próprios percursos.
Segundo Perrenoud, a diferenciação é “romper com a pedagogia magistral – a mesma lição e os mesmos exercícios para todos ao mesmo tempo – mas é sobretudo uma maneira de pôr em funcionamento uma organização de trabalho que integre dispositivos didáticos, de forma a colocar cada aluno perante a situação mais favorável”.
Desta forma, a pedagogia diferenciada tem como ponto de partida a identificação dos estilos de aprendizagem e a valorização das competências mais evidentes dos participantes. O recurso a esta pedagogia implica a adoção de estratégias diversificadas, e a utilização de recursos de diferente natureza e de formato diverso.
PRINCÍPIOS DA PEDAGOGIA DIFERENCIADA
A Pedagogia Diferenciada baseia-se em determinados princípios, dos quais se destacam:
Atitude flexível e recetiva do formador;
Reconhecimento de que há diferentes estilos de aprendizagem e que todos devem ser valorizados;
Realce para os conteúdos que são considerados essenciais (destaque do que é importante);
Papel ativo dos participantes no seu próprio processo de aprendizagem;
Diversificação de estratégias, atividades, materiais;
Os desafios/atividades propostos têm que ser moderados e exequíveis;
Os conteúdos a transmitir devem obedecer a estrutura sequencial e fazer sentido para os participantes;
Formadores e formandos colaboram conjuntamente no processo de aprendizagem, redefinindo objetivos e analisando o sucesso e os fracassos 30
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Valorização quer do trabalho autónomo, quer do trabalho em equipa
Os formadores mudam o conteúdo, o processo e o produto de cordo com: - a disponibilidade dos formandos - o interesse e motivação dos formandos - o perfil de aprendizagem dos formandos.
Recurso a novas formas de avaliação
TIPOS DE DIFERENCIAÇÃO PEDAGÓGICA
Ao nível dos tipos de diferenciação, poderá diferenciar por:
Conteúdos
Processos
Produtos
Na diferenciação por conteúdos pode:
Colocar à disposição dos participantes diferentes tipos de textos e documentos sobre um determinado tema
Ao nível da diferenciação por processos pode:
Aplicar estratégias e atividades de acordo com o perfil dos participantes: Fazer síntese de sessões anteriores Formular questões orientadoras Elaborar quadro de tarefas e especificar os objetivos a atingir Conceber recursos que auxiliem o estudo dos formandos Formar grupos de trabalho Fomentar a autoavaliação dos participantes face ao seu trabalho e resultados alcançados Fomentar o recurso às novas tecnologias para pesquisa e partilha de saberes, etc
Na avaliação dos produtos, pode diferenciar recorrendo:
À avaliação contínua (avaliando continuamente as aprendizagens feitas)
A diferentes instrumentos de avaliação (trabalhos de grupo, portefólios, grelhas de observação) ao invés dos tradicionais testes de avaliação
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ABORDAGENS À DIFERENCIAÇÃO PEDAGÓGICA
Tal como referenciámos, cada individuo possui diferentes estilos de aprendizagem. Os estilos de aprendizagem são definidos como as formas pessoais que cada um tem de apropriação do saber. Um estilo de aprendizagem é um conjunto de fatores cognitivos, afetivos e fisiológicos que indicam a forma como o aprendente perceciona, interage e reage ao ambiente da aprendizagem.
Dito
de
outra
forma,
“
os
estilos
de
aprendizagem são as preferências de um aprendente por diferentes tipos de atividades de ensino/aprendizagem” (Jonassen e Grabowski, 1993).
Estes determinam os estilos dominantes na forma como cada um de nós recebe e processa a informação, realçando as competências onde somos fortes e onde somos menos fortes. Embora cada indivíduo tenha formas distintas de aprender, há características que são comuns e que nos permitem agrupar os indivíduos por estilos padronizados de aprendizagem. Contudo, nenhum de nós é exatamente de um só estilo, pois, a nossa educação e adaptação ao meio profissional e aos diversos contextos vão fazendo com que desenvolvamos diferentes estilos, embora tenhamos estilos que são mais predominantes do que outros.
Nenhum estilo é melhor ou pior do que os outros, apenas diferem no modo como recebemos e processamos a informação, gerando diferentes formas de pensar e de agir perante situações iguais.
Do ponto de vista prático, enquanto formador, ao conseguir despistar as características predominantes de aprendizagem nos seus participantes, mais facilmente conseguirá conceber um leque diversificado de atividades que se adequem aos diferentes estilos. A identificação dos estilos de aprendizagem permitirá diagnosticar que tipo de estratégias podemos utilizar e de que forma é que essas nos podem ser uteis para diminuir o tempo gasto na aquisição de conhecimentos.
Os instrumentos que se utilizam para apurar os estilos de aprendizagem são inúmeros e levam em conta diferentes variáveis. Não nos vamos debruçar sobre todos esses instrumentos porque são muito abrangentes, mas deixamos-lhe algumas abordagens, pelas quais poderá optar para mais facilmente identificar os estilos de aprendizagem predominantes nos seus formandos e adequar as atividades ao seu modo de aprender. Propomos-lhe as abordagens:
Abordagem pela PNL
Estilos de aprendizagem de Alonso e Honey
Teoria das Inteligências Múltiplas (Howard Gardner)
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ABORDAGEM PELA PNL
A Programação Neuro Linguística (PNL) foi desenvolvida a partir do início dos anos 70 por Richard Bandler e John Grinder.
A PNL é muito vasta. Mas de uma forma sintética, podemos dizer que é uma metodologia de reflexão ação, apoiada por um conjunto de técnicas que nos dão instrumentos de como agir sobre nós mesmos e face aos outros. São técnicas que podemos utilizar para obtermos êxito na comunicação e comportamentos de excelência.
Na base dos conceitos e princípios da PNL está subjacente a um pressuposto central: o de que, cada um de nós constrói a sua própria representação da realidade, variando assim de pessoa para pessoa, de acordo com o seu quadro de referência, valores, experiencias, caraterísticas de personalidade, mas também do sistema sensorial dominante.
Os nossos comportamentos, as nossas ações, a nossa aprendizagem dependem da forma como percecionamos a realidade e da construção que fazemos dela. No nosso cérebro, encontramos apenas as representações do que percecionamos, do que aprendemos, do que encontramos.
Nós não entramos em contacto com toda a realidade, logo construímos um mapa da realidade. Este mapa é um conjunto de representações subjetivo e único, referente apenas a uma parte da realidade. Mas, “o mapa não é a realidade”!
De acordo com a PNL, a seleção de estímulos/informações que recebemos no nosso cérebro acerca da realidade que nos rodeia, é feita através de três sistemas sensoriais: Visual, Auditivo e Cinestésico, variando assim de pessoa para pessoa, consoante o sistema sensorial dominante.
Assim, podemos encontrar um conjunto de caraterísticas comuns aos indivíduos que possuem determinado sistema sensorial dominante.
Os visuais têm a visão mais desenvolvida. Do contexto que as envolve, captam mais facilmente sinais ou estímulos visuais, sendo que a sua perceção das coisas é muito orientada para as formas, tamanhos, cores, etc. O seu discurso tende a ser fluente e rápido porque é suportado por imagens mentais que rapidamente se sucedem umas às outras. Ao nível de expressões de linguagem, frases como: “Ficar em branco” ou “Foi um espetáculo” são exemplos que podem ser associados aos visuais. 33
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Os auditivos são pessoas que têm o ouvido desenvolvido, captam mais facilmente os estímulos auditivos, pelo que a sua perceção é mais orientada para os sons: ruídos, conversas, música, entoação da voz. Por norma, são pessoas que se gostam de ouvir e investem na sua voz, pelo que o seu discurso é habitualmente melodioso, compassado e ritmado. Expressões como: “ficar sem palavras” e “foi de gritos” são exemplos de expressões de linguagem associados ao auditivos.
Nos cinestésicos estão incluídos os que tem o tato, o cheiro e o gosto como sentidos mais desenvolvidos. Apreciam tocar nas coisas, agir e sentir. Para eles, a cor, o som, as formas transformam-se em sensações. O seu discurso carece muitas vezes de fluência, as palavras não saem com fluidez porque também não é fácil traduzir por palavras os sentimentos, as emoções e as sensações tácteis. Expressões como: “Foi sensacional”, “situação embaraçosa”, “está-me a fazer aflição” podem ser associadas aos cinestésicos.
É de salientar que, todos somos visuais, auditivos e cinestésicos, só que cada um destes sistemas está desenvolvido em maior ou menos escala. Quando numa pessoa existe um Sistema de Representação Sensorial (SRS) que se sobrepõe bastante aos outros, esse SRS caracteriza a pessoa em visual, auditiva ou cinestésica, conforme o caso.
O SRS NA FORMAÇÃO
Na formação, o tipo de curso poderá indiciar se estaremos perante um grupo maioritariamente constituído por Visuais, Auditivos ou Cinestésicos, contudo, o mais comum é encontrar grupos diferenciados em SRS.
Compete ao formador ser flexível, criativo e capaz de orientar a formação para os Visuais, os Auditivos e os Cinestésicos, concebendo atividades que se adequem a todos os públicos. Abaixo propomos formas criativas de um formador conseguir atingir cada um, destacando-se no entanto que, o formador deverá diversificar os recursos didáticos e a metodologia, enriquecer e diversificar a linguagem, e variar as formas e instrumentos de avaliação.
Os formandos VISUAIS tiram sobretudo proveito do que vêm, ou seja, apreciam os recursos visuais, vão estar mais atentos e retêm melhor a informação escrita e projetada, leem os manuais, aprendem muito pela imitação/ modelagem do que veem fazer e optam pela avaliação escrita em detrimento da oral. Para motivar os formandos visuais, o formador poderá, conceber Slides ricos em cor e imagens, apresentar filmes, desenhar / escrever no quadro, usar vocabulário rico em palavras e expressões tipicamente visuais. O Método Demonstrativo e as Técnicas do Método Ativo que envolvem a aprendizagem por observação (Simulações e Role-play, por exemplo) deverão ter prioridade.
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Os formandos AUDITIVOS, retiram mais partido do que ouvem, prestando particular atenção ao que o formador diz e às discussões sobre as temáticas em sala. Retêm melhor a informação que ouvem e o que dizem, compreendem melhor se ouvirem e falarem sobre os assuntos e têm em especial apreço a avaliação por questões orais, na qual são mais bem sucedidos. Para motivar formandos auditivos, o formador deverá investir no uso do Método Expositivo e no Método Interrogativo, usar vocabulário rico em palavras e expressões tipicamente auditivas e de certo surpreenderá pela positiva se colocar uma música ambiente durante um trabalho de grupo. Os formandos CINESTÉSICOS, poderão ser confundidos com “os distraídos” que estão sempre a rabiscar ou os “marrões” que estão sempre a escrever tudo o que o formador diz. Para os Cinestésicos, estar em movimento é uma forma de se manterem atentos ao que estão a ouvir e ver. Apreciam as atividades práticas e poder tocar, mexer e usar objetos (recursos físicos). Retêm e compreendem melhor a informação que escreveram e que praticaram, assim como tudo o que lhes provocar sensações, agradáveis ou desagradáveis. Preferem a avaliação escrita à oral, assim como a avaliação por observação (atividades psicomotoras). Para motivar os formandos cinestésicos, o formador deverá, sempre que possível, deverá enriquecer as suas sessões de recursos didáticos físicos, ou seja, que se possam tocar, manusear, provar o gosto ou cheirar. Por exemplo, dar oportunidade de o formando não só ouvir falar de um vinho e ver uma fotografia mas também pegar no copo de vinho, cheirá-lo e prová-lo. O seu discurso deverá ser também rico em palavras e expressões cinestésicas e as temáticas deverão ser apresentadas com impacto, podendo constranger, emocionar e até chocar mas nunca serem sentidas com indiferença.
ESTILOS DE APRENDIZAGEM DE ALONSO E HONEY
Uma outra forma de reconhecer os estilos de aprendizagem é a proposta por Alonso e Honey. No seu trabalho estes autores identificaram quatro estilos de aprendizagem:
Ativo Os indivíduos “ativos” são recetivos a novos desafios, envolvendo-se nelas sem hesitação. Por natureza são pessoas entusiastas e necessitam de experienciar coisas novas. Tem prazer em situações que envolvam risco, havendo tendência para descurar os perigos. São pessoas muito ativas e enérgicas e os seus dias são repletos de atividades. Quando terminam uma atividade, procuram logo iniciar uma outra. Sendo pessoas que gostam do desafio constante, tendem a aborrecer-se com atividades e considerações que se prolonguem a longo prazo. São indivíduos sociáveis, e costumam reunir o centro da atenção.
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Características: Divertido, Improvisador, Espontâneo, Criativo, Inovador, Protagonista, Conversador, Líder, Participativo, Vontade de aprender, gosto por vivenciar experiencias.
Atividades que podem ser propostas:
Realizar visitas de estudo;
Realizar simulações das tarefas a aprender;
Desenvolver atividades práticas que lhe permitam tomar contato com a realidade.
Reflexivo São pessoas previdentes que antes de tomarem uma decisão ou apresentar um ponto de vista, gostam de recolher toda a informação e ponderar todas as hipóteses e implicações. Assumem como lema: “Mais vale prevenir do que remediar”. São indivíduos que gostam de ponderar as experiências e observá-las por diferentes prismas, sendo bastante cautelosos e não descuidando nenhum ponto. Tendem a adiar o mais possível a sua decisão. Gostam de observar e de ouvir a opinião dos outros, para somente depois apresentarem as suas ideias. Assumem normalmente um comportamento passivo e distante. Primeiro observam e escutam, e só depois atuam.
Caraterísticas: Observador, Ponderado, Analítico, Cuidadoso, Pormenorizado, Distante, Inquisidor, Gosto pelo detalhe, Recetor de informação
Atividades que podem ser propostas:
Análise de dados estatísticos relacionados com a temática em estudo;
Análise de artigos de especialistas ou de revistas de carater técnico/científico, para posterior apresentação das principais conclusões;
Pesquisas na internet subordinadas ao assunto ou problema em causa
Outras atividades individuais ou de grupo que lhe permitam realizar a tarefa em partes, começando sempre pela análise da situação, reflexão, pesquisa e conclusão.
Teórico São indivíduos que apreciam modelos teóricos e sistemas de pensamento, integrando as suas observações em teorias complexas. Analisam e pensam nos problemas através de uma sequência vertical, fase por fase, passo a passo. A sua linha de pensamento baseia-se no racional e no lógico, questionando muitas vezes “Isto faz sentido?”, “como é que isto se relaciona com aquilo?”, “qual é a causa e o efeito disto?”.
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Tendem a ser perfeccionistas e não descansam enquanto não encontram a resposta ou a ligação entre as coisas. Por norma são analíticos, lógicos e racionais, sentindo-se desconfortáveis com pensamentos subjetivos e/laterais.
Caraterísticas: Metódico, Lógico, Objetivo, Racional, Ordenado, Sintético, Perfeccionista, Conceptor de conceitos/hipóteses/teorias
Atividades que podem ser propostas:
Elaboração de instrumentos de recolha de informação;
Análise estatística dos dados no Excel e apresentação dos resultados ao grupo;
Outras atividades que impliquem pesquisa, comparação e análise de dados.
Embora estes indivíduos muitas vezes prefiram trabalhar individualmente, deve procurar-se desenvolver as suas competências relacionais e de interação, procurando a constituição de grupos com elementos de caraterísticas compatíveis.
Pragmático Este estilo é referente a pessoas que gostam de agarrar nas teorias e colocá-las em prática para ver se realmente funcionam. São indivíduos que procuram constantemente novas ideias para na primeira oportunidade as colocarem em prática. Encaram os desafios como oportunidades e não como problemas. São muito práticos, terra-a-terra, não gostam de rodeios e apreciam resolver situações concretas. Ficam incomodados e impacientes com reuniões e/ou projetos onde vigora a reflexão e a idealização de muitas soluções, sem que se chegue a uma conclusão objetiva.
Caraterísticas: Prático, Objetivo, Experimentador, Decidido, Rápido, Planificador/Organizador de ações, Confiante, Solucionador de problemas
Atividades que podem ser propostas:
Tarefas que impliquem experimentação;
Estudos de caso que contemplem a parte de planeamento e organização;
Trabalho de projeto com várias fases e etapas também podem ser adequado;
Todas as tarefas que impliquem reflexão e idealização de soluções.
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Na sua função de formador, não se poderá esquecer de que cada um de nós possui todos os estilos, mas o fundamental é reconhecer o ou os que são predominantes nos seus formandos, para que possa agir em conformidade. Agir em conformidade significa pois criar estratégias que valorizem as capacidades dos participantes, levando-os a maximizar o seu potencial e a otimizar o seu tempo de aprendizagem.
TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS
A teoria das Inteligências Múltiplas deve-se a Howard Gardner, psicólogo e professor de Educação na Universidade de Harvard. Esta teoria tem sido colocada em prática por vários organismos educacionais, e tem sido geradora de grande sucesso. Na base desta teoria, encontra-se um conceito de inteligência, distinto do “convencional”, e que Gadner descreve como: a capacidade de solucionar problemas ou elaborar produtos que são importantes em um determinado ambiente ou comunidade cultural. A capacidade de resolver problemas permite às pessoas abordar situações, atingir objetivos e localizar caminhos adequados a esse objetivo.
Gardner considerou que, para além da tradicional inteligência lógica-matemática e linguística, podiam ser desenvolvidos outros tipos de inteligências, de caraterísticas distintas. Inicialmente, Gardner identificou oito inteligências, que passamos a caraterizar. Apresenta ainda um conjunto de atividades propostas adequadas a cada uma das inteligências.
Inteligência Lógico-Matemática – Esta inteligência envolve a capacidade de resolver operações matemáticas, de trabalhar com símbolos abstratos, de fazer uso do raciocínio indutivo e dedutivo, de estabelecer padrões/conexões entre peças separadas ou distintas. Os participantes que se distingam por esta inteligência terão maior facilidade de aprendizagem em atividades onde possam efetuar cálculos e fazer uso do raciocínio lógico, Atividades que podem ser propostas: Elaboração de esquemas, matriz, gráficos; estabelecer analogias; efetuar cálculos; realizar análises; conceber planos; realizar puzzles, etc.
Inteligência Linguística – é manifestada no uso da linguagem, quer escrita ou falada; no significado das palavras; pela capacidade de seguir as regras gramaticais e utilizar a linguagem para convencer, estimular, e transmitir informações. Os participantes que se distingam pela inteligência linguística, alcançam melhores resultados na aprendizagem se a aplicarem à escrita ou se expressarem oralmente. 38
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Atividades que podem ser propostas: Preparar e fazer um discurso; escrever um artigo; contar uma história; realizar debates; criar um slogan; participar em role-play; fazer um trabalho de pesquisa, etc.
Inteligência Musical – Esta capacidade faz-se denotar em pessoas com sensibilidade para os ritmos, canto, melodias e entoações. Inclui também a capacidade para o manuseio de instrumentos musicais. Participantes com esta sensibilidade aprenderão mais facilmente com atividades que envolvam ritmo, som. Atividades que podem ser propostas: Escrever a letra de uma música; atividades que impliquem a audição; produzir sons/ ritmos com instrumentos; expressar-se através da música e de movimentos rítmicos; improvisação musical, participar em role-play onde haja possibilidade de aplicação da componente musical, etc.
Inteligência Corporal-Cinestésica – É a habilidade para utilizar a coordenação motora, controlar os movimentos corporais, e manipular objetos com destreza. Indivíduos com esta inteligência, gesticulam e movem-se enquanto falam, utilizam o corpo para expressar as suas ideias, gostam de praticar desportos e outras atividades motoras. Os participantes que revelem esta habilidade, serão melhor sucedidos em atividades que possibilitem aprender através do desempenho físico. Atividades que podem ser propostas: Atividades de destreza manual, role-play, dança ou atividades que impliquem movimento, simulações, mimica, improvisar uma paródia etc.
Inteligência Visuo-espacial – É a capacidade de formar modelos mentais (imagens) e de trabalhar com essas imagens. Essas imagens não tem que ser necessariamente visuais, podem ser imagens táteis construídas através do manuseio de objetos. Os formandos que evidenciem esta habilidade têm maior propensão de sucesso na aprendizagem em atividades que envolvam a construção de imagens, interpretação de informação gráfica e movimentação de objetos no espaço. Atividades que podem ser propostas: Criação de mapas; desenhar panfletos/folhetos; fazer pinturas e colagens; criar um mural; criar cenários; moldar plasticina/barro; apresentações em PowerPoint; construção de website; atividades com fotografias, etc.
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Inteligência Interpessoal – Esta inteligência opera essencialmente ao nível do relacionamento interpessoal e da comunicação. Envolve a capacidade de perceber os outros. Formandos com estas características aprendem melhor em atividades que impliquem o trabalho em grupo e a cooperação, uma vez que costumam possuir perfil para mobilizar e influenciar os outros. Atualmente, este tipo de inteligência, conjuntamente com a inteligência intrapessoal, é muitas vezes designada por inteligência emocional, havendo mesmo quem tenha desenvolvido testes de Quociente Emocional (QE), à semelhança do que foi feito por Alfred Binet para a inteligência lógico-matemática e linguística, vulgarmente chamado de teste de QI (quociente de inteligência). Atividades que podem ser propostas: Trabalhos em grupo; resolução de problemas/conflitos dentro do grupo; debater ideias; participar em debates de mesa redonda, participar em atividades de voluntariado ou de cariz social; organizar eventos etc.
Inteligência Intrapessoal – Inteligência que está relacionada com o conhecimento dos aspetos internos de cada um (sentimentos, controlo emocional, autorreflexão). Indivíduos com evidenciem esta inteligência possuem um conhecimento de si mesmos e utilizam-no nas atividades quotidianas. Apreciam tarefas associadas à reflexão pessoal. Atividades que podem ser propostas: Criação de blog; escrita de um diário de bordo ou compromisso; apresentar uma perspetival pessoal e defendê-la; fazer a autoavaliação, definir objetivos pessoais e o modo de os alcançar, etc.
Inteligência Naturalista – Esta habilidade está associada à capacidade de observação de padrões da natureza, à identificação e classificação de objetos, e à compreensão tanto dos padrões naturais como aos criados pelo homem. Formandos que revelam esta competência costumam interessar-se por paisagismo, ecologia, agricultura etc.
Atividades que podem ser propostas: Identificar e classificar objetos com base nas suas características; planear atividades pedestres, realizar observações; explorar um tema; criar uma coleção de objetos ou artefactos; investigar o modo de funcionamento de algo, etc.
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7. Princípios da Criatividade Pedagógica Atualmente, para fazer face às necessidades do mercado e à diferenciação existente, o formador terá cada vez mais de ser empreendedor e um profissional criativo. O formador não pode ser apenas um agente mobilizador do grupo, tem também que ser capaz de transpor os paradigmas tradicionais, e tornar-se próativo.
Para
tal,
é
essencial
demarcar
pela
diferença,
tornando-se
empreendedor, autónomo, flexível, inovador e criativo. Certamente que já se apercebeu que criatividade e empreendedorismo andam de “mãos dadas”.
O QUE É A CRIATIVIDADE? Antes de avançarmos, vamos debruçar-nos sobre o conceito de criatividade. Têm surgido inúmeras noções e definições de criatividade, sem que tenha sido possível até ao momento uma formulação consensual e genericamente aceite. Contudo, essas definições não se excluem, mas antes se intersectam e combinam.
Da combinação de várias perspetivas, podemos indicar que a criatividade pode ser consensualmente definida como a capacidade para superar ideias tradicionais, regras, padrões ou relações já existentes e de criar ideias, formas, métodos, interpretações com significado.
Ser criativo é ser capaz de encontrar soluções originais para os problemas de adaptação com que se é confrontado
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CONDIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIATIVIDADE Todas as pessoas têm um potencial criativo que necessita de condições internas e externas para se revelar. Existem contudo um conjunto de condições internas e externas ao indivíduo que podem facilitar o desenvolvimento da criatividade. Seguidamente apresentamos os principais aspetos a considerar:
CONDIÇÕES INTERNAS
CONDIÇÕES EXTERNAS
Estar atento ao mundo interno e externo, procurando integrar a totalidade das experiências sem preconceitos.
Clima de segurança psicológica que significa
Desenvolver uma atitude de abertura, flexibilidade,
aceitar o outro como um valor incondicional;
permeabilidade às perceções, a novos conceitos e opiniões, tolerância à ambiguidade, curiosidade e procura de informações variada. Maleabilidade cognitiva, gosto pelo risco e
Ausência de clima de avaliação ou crítica
identificação de diferentes perspetivas face um
destrutiva
problema ou situação Autoavaliação do processo criativo, com base na autoestima e consciência de si.
Ambiente facilitador da expressão de ideias de forma livre e responsável
Independência de pensamento relativamente ao pensamento grupal e pressão social.
CRIATIVIDADE INERENTE AO PERFIL DO FORMADOR Embora já seja recorrente o uso a metodologias dinâmicas e interventivas no contexto formativo, o que é certo é que ainda se continua a dar ênfase às aprendizagens mecânicas e de apelo à memorização, que apenas implicam dos formandos a repetição de tarefas, atribuindo-lhes um papel passivo na aprendizagem. Não se pretende com isto dizer que os processos de aprendizagem por repetição e por memorização não sejam válidos. Aliás, como vimos, estes estão na base de inúmeras aprendizagens factuais que fazemos ao longo da nossa vida.
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Contudo, face à atual realidade e à constante dialética do mercado, é necessário preparar e profissionalizar cada vez melhor os indivíduos, conferindo-se assim ao formador o papel de agente da mudança. Já pensou que, a velocidade a que se processam as informações e que ocorrem os conhecimentos enfatiza a necessidade que temos de nos adaptarmos a novas situações, e que sejamos capazes de responder com novas perspetivas e soluções a velhos problemas. No fundo, é isso que se espera do formador e que esse incuta nos formandos um espírito criativo de resolução de problemas. No fundo, o formador tem de fazer com que os seus formandos saiam também da sua área de conforto e atuem de forma critico-reflexiva e que se predisponham a encontrar diferentes formas de atuação, tornando-se imprescindível a frase “puxar pela criatividade”.
Assim, de forma a promover a criatividade pedagógica, sugerimos-lhe alguns princípios de base que deve propor aos participantes aquando da resolução das atividades. Nas atividades que propõe aos elementos do grupo, solicite que:
Desenvolvam um pensamento divergente,
Se questionem sobre a possibilidade de existiram outras soluções para resolver o mesmo problema;
Estimulem as suas próprias ideias;
Sejam determinados em produzir algo novo;
Não desanimem quando há discordância;
Sejam ousados na forma como definem a resolução da atividade;
Optem por recursos pedagógicos diferentes;
Estejam recetivos a novas ideias do formador e colegas;
Valorizem as ideias e soluções dos outros;
Utilizem o humor.
Desta forma, está a promover e a estimular atitudes criativas nos seus formandos, possibilitando-lhe que apliquem um pensamento divergente e encontrem novas formas de abordagem para uma mesma realidade. Ao possibilitar que os formandos “desconstruam” a realidade e encontrem novas formas de a “construir” e atuar, permite-lhes serem criativos no processo de resolução de determinados problemas e atuarem de forma autónoma no seu pensar e no seu agir, tornando-os mais capazes de fazer face aos desafios com que se deparam. Assim, ao invés de fazer dos formandos sujeitos passivos e meros absorventes de conteúdos, torna-os ativos e responsáveis pelo seu processo de aprendizagem, entendendo a aquisição de novos conhecimentos como significativas e capazes de gerar mudanças de comportamento e de atitudes.
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Conclusão Final
Neste manual procurámos abordar os principais fatores e modelos da aprendizagem dos adultos. Vimos como a aprendizagem é, fundamentalmente, um processo dinâmico, gradativo e de carácter pessoal, cabendo por isso ao formador o papel de identificar as especificidades relativas a cada formando e a cada grupo, com o intuito de facilitar a aprendizagem. Essa atribuição do formador não poderá ser levada à prática sem um cuidado e adequado planeamento, tendo em conta, entre outras variantes, as diferentes formas de aprendizagem no que concerne à formação dos adultos:
Repetição;
Tentativa- Erro;
Imitação/Modelagem/Observação;
Reflexão;
Descoberta.
Dado que num grupo de formação a diversidade é uma realidade vigente, concorrendo no mesmo espaço pessoas com características muito distintas, torna-se fundamental que o formador consiga reconhecer e gerir essa panóplia de diversidades, conceber percursos de aprendizagem diferenciados, que possibilitem aos participantes aprender de acordo com as suas capacidades/aptidões sem que se sintam discriminados.
Para tal, frisámos que um dos desafios que o formador tem é o de romper com o paradigma tradicional de ensino e desenvolver diferentes trajetos de aprendizagem, para que o recurso à diferenciação possa funcionar como fator de inclusão, reconhecendo e promovendo novos processos e capacidades de aprendizagem.
Face à pedagogia diferenciada, apresentámos-lhe três abordagens distintas que o podem auxiliar na identificação dos estilos de aprendizagens dos formandos, e sugerimos-lhe atividades que poderá propor para cada estilo.
Por fim, reforçámos a importância de cada vez mais o formador ter que assumir um espirito criativo e empreendedor nos moldes como concebe as atividades pedagógicas. Para além de ter que aliar a criatividade ao seu perfil, terá também de fomentar essa competência nos formandos, tornando-os capazes de encontrar formas distintas de resolução de problemas e mais autónomos no seu processo de pensar e agir.
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Bibliografia
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http://www.eprofessor.com.br/index.php?Option=com_content&view=article&id=56%3Amudancassocioeconomicas-disruptivas-e-o-processo-do-ensino-aprendizagem-&catid=9%Ageral&lang=br - consultado a 18/06/2011 45
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