AUXILIAR DE MÉDICO VETERINÁRIO Módulo II
Anatomia e Fisiologia do Cão e do Gato I
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ÍNDICE DO MODULO 2
OBJETIVOS
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1. O Aparelho Locomotor 1.1. Os ossos
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1.2. Classificação óssea
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1.3. Funções gerais dos ossos
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1.4. Composição óssea
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1.5. Processos de ossificação
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1.6. O esqueleto do cão e do gato
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2. As Articulações
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2.1. Tipos de articulações
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2.2. Movimento das articulações
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3. Os músculos
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3.1. A célula ou fibra muscular
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3.2. Tipos de músculos
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3.3. Classificação dos músculos
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4. O Aparelho Cardiovascular
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4.1. O coração
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4.2. O funcionamento cardíaco
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4.3. Regulação cardíaca
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4.4. A circulação maior e a circulação menor
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4.5. O sistema arterial
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4.6. O sistema venoso
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5. O Sistema Linfático
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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AUTO-AVALIAÇÃO
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No final deste módulo o aluno deve ser capaz de : Classificar os diferentes tipos de ossos sob o ponto de vista morfológico; Explicar a constituição do tecido ósseo; Distinguir o nome de algumas peças ósseas que compõem o esqueleto do cão e do gato; Identificar a composição de uma articulação sinovial; Classificar os músculos consoante a sua forma e a sua ação; Explicar a anatomia cardíaca, bem como o funcionamento do coração; Identificar os pares de gânglios linfáticos que podemos encontrar no cão.
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1. O Aparelho Locomotor O aparelho locomotor é composto por uma série de estruturas que participam de forma direta ou indireta na realização do movimento e na manutenção das distintas posturas. Estas estruturas são: - Os ossos, - As articulações, - Os músculos - Os tendões, ligamentos e meniscos.
Fig. 1: Esqueleto canino
1.1. Os ossos Os ossos são um órgão vivo, pois apresentam as seguintes características: - São irrigados por vasos sanguíneos, - Contêm uma rede nervosa, - Podem sofrer doenças. Os mamíferos adultos têm aproximadamente 180 a 210 ossos em todo o seu corpo, o que representa aproximadamente entre 7-8% do peso total do animal.
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1.2. Classificação óssea Desde o ponto de vista morfológico podemos dividir os ossos em: Ossos longos Estão providos de cavidade medular e são maiores numa dimensão do que noutra, ou seja maiores em comprimento do que em largura. Este tipo de ossos é constituído por três partes: diáfises, metáfise e epífises: - Uma varinha cilíndrica (diáfise): Trata-se de um cilindro de tecido ósseo compacto com cavidade medular onde se encontra a medula, responsável pela produção das células sanguíneas. - Duas metáfises: São as regiões do osso compreendidas entre as epífises e a diáfise. Trata-se da zona responsável pelo crescimento do osso em comprimento (cartilagem de crescimento). - Duas extremidades (epífises): São formadas por tecido ósseo esponjoso que contactam com as articulações. Externamente o osso está coberto por uma fina camada chamada periósteo que é responsável pelo crescimento do osso em espessura. Funcionam basicamente como alavancas, servindo de apoio para a locomoção e para exercer pressão.
Fig.2: Fémur- exemplo de um osso longo
Ossos curtos Têm forma mais ou menos cúbica e todas as suas dimensões são iguais. Não contêm cavidade medular mas o seu interior é constituído por um tecido ósseo esponjoso que é preenchido por medula. A sua função é amparar impactos. Encontram-se nas articulações complexas.
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Fig.3: Vertebras- exemplo de um osso curto
Ossos planos Têm pouca grossura nas duas dimensões. São compostos por duas placas de uma substância compacta. Carecem de cavidade medular. Atuam na proteção dos órgãos vitais, tal como o encéfalo, o coração e o pulmão. Também servem para a inserção de músculos poderosos: escápula.
Fig.4: Escápula –exemplo de um osso plano
Ossos sesamoides São ossos de tamanho pequeno que se encontram debaixo dos tendões. Podem mudar o ângulo de tração dos músculos, reduzindo assim a fricção dos tendões maiores. Isto constitui uma vantagem mecânica que facilita o movimento.
Fig. 5: Rótula- exemplo de um osso sesamóide
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Ossos sinusais Contêm espaços aéreos no seu interior e encontram-se predominantemente na cavidade craniana.
Fig. 6: Frontal- exemplo de um osso sinusal
1.3. Funções Gerais dos Ossos Os ossos têm funções muito importantes, entre as quais se destacam: - Proteção dos órgãos mais débeis, - Proporcionar rigidez ao corpo, - Servir de alavanca para os músculos, - Suportar o peso do animal, - Armazenar minerais que funcionam como reserva sanguínea. 1.4. Composição Óssea O osso é composto por matéria orgânica e inorgânica bem como por células ósseas. A constituição da matéria inorgânica e orgânica é a seguinte: - Minerais: cálcio e fósforo. - Proteínas: colagénio. - Polissacáridos. Um terço (30%) do osso é constituído por matéria orgânica que lhe proporciona elasticidade e resistência, e dois terços (70%) por sais inorgânicos, principalmente por cálcio e fósforo, que lhe conferem dureza e rigidez.
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Fig. 7: Tecido ósseo
As células que fazem parte do osso são as seguintes: Osteoblastos Estas células formam o estrato osteogénico (capaz de produzir osso) do periósteo e do endosteo, camadas que cobrem o osso, tanto no exterior como no interior respetivamente. Formam a matriz orgânica do osso até ficarem encerrados nela. São precursoras dos osteócitos e dos osteoclastos (que já não têm capacidade de se dividir). Tratam-se de células de reserva que se dividem (entram em atividade) quando o osso se fratura, ou para aumentar o tamanho do osso (durante o crescimento). Osteócitos Constituem a unidade estrutural do osso. Encontram-se em pequenas cavidades do osso chamadas lagoas, ligadas entre si por canalículos. Osteoclastos Alguns osteoblastos que não se transformaram em osteócitos diferenciam-se em osteoclastos, que são células encarregues de degradar o osso através da sua reabsorção utilizando enzimas proteolíticas, ácido cítrico e ácido láctico. Estas substâncias dissolvem a matéria mineral do osso de forma a mobilizar cálcio para o sangue. Também são responsáveis por absorver o excesso de matriz óssea, ou seja reabsorver tecido ósseo antigo, participando ativamente na ossificação secundária. 1.5. Processos de Ossificação Existem dois tipos de ossificação, a Primária e a Secundária que passaremos a descrever: Ossificação primária Ocorre na formação e crescimento do osso. Inicialmente as células mesenquimatosas transformam-se em osteoblastos (células precursoras do osso).
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Os osteoblastos fabricam a matriz orgânica (constituída por fibras de colagénio e substância fundamental) até ficarem encerrados nela, a nesse momento estas células passam a denominar-se osteócitos. A matriz orgânica começa a cristalizar-se, ocorrendo o depósito de minerais, como cristais de hidroxiapatita, na superfície ou no interior das fibras de colagénio, resultando assim na constituição do osso definitivo. Por último, os osteoclastos formam a cavidade medular e moldam o osso. Ossificação Secundária Produz-se em reparação de fraturas e em determinados tumores ósseos. O processo de ossificação decorre de forma semelhante ao da ossificação primária, no entanto o tipo de tecido ósseo formado vai ter características diferentes das do tecido ósseo primário. O tecido ósseo secundário vai ser mais rico em osteócitos, as fibras de colagénio não vão ter uma orientação definida e a matriz orgânica vai adquirir uma forma irregular.
1.6. O Esqueleto do Cão e do Gato Todos os ossos em conjunto, tanto na espécie canina como na felina, formam uma estrutura óssea chamada esqueleto. O esqueleto é formado pelos seguintes conjuntos de ossos: - Caveira - Coluna vertebral (costelas e externo) - Extremidades
Fig.8: Esqueleto felino
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Os principais ossos que formam a extremidade anterior são: - A escápula, - O úmero, - O rádio e cúbito, - O carpo e o metacarpo, - As falanges. Os principais ossos que formam a extremidade posterior ou pélvica são: - O osso coxal formado pelo ílio, o ísquio e a púbis, - O fémur, - A tíbia e o perónio, - O tarso e o metatarso, - As falanges.
2. As articulações As articulações constituem a união de dois ou mais ossos entre si. 2.1. Tipos de articulações Dependendo do tecido que existe entre os ossos, podemos diferenciar 3 tipos de articulações: - Articulações fibrosas, - Articulações cartilaginosas, - Articulações sinoviais. Articulações Fibrosas Os ossos estão unidos por um tecido fibroso. Existem 2 tipos de articulações fibrosas: as temporais e as permanentes. Temporais Denominam-se temporais porque o tecido fibroso dos sofre ossificação. Carecem de mobilidade. A sua função é a de permitir o crescimento dos ossos que unem.
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Fig. 9: Articulações temporais entre os ossos do crânio
Permanentes Denominam-se permanentes porque o tecido fibroso que as une permanece durante toda a vida.
Fig. 10: Articulações permanentes entre os ossos do carpo e do metacarpo
Articulações Cartilaginosas Os ossos estão unidos por cartilagem hialina ou tecido fibrocartilaginoso Dividem-se em sincondroses e sínfises. Sincondroses São articulações que se encontram unidas por uma capa de cartilagem hialina. Sínfises São articulações formadas por tecido cartilaginoso fibroso.
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Fig. 11: As articulações entre as costelas e o esterno são sincondroses, as articulações entre os corpos vertebrais são sinfises
Articulações Sinoviais Caracterizam-se por possuir uma cavidade articular cheia de um líquido lubrificante (líquido sinovial), permitem movimentos amplos e são o tipo de articulação que existe nos ossos das extremidades. Existem dois tipos de articulações sinoviais: Simples, em que ocorre a união de dois ossos, Compostas, em que ocorre a união de mais de dois ossos. As articulações sinoviais são formadas por: - Cartilagem articular, - Cavidade articular, - Cápsula articular, - Ligamentos. Cartilagem articular É o extremo da peça cartilaginosa que deu origem ao osso e que não sofreu ossificação. Tem uma grossura variável dependendo da pressão a que está sujeita (de 1 a 5 mm). Cavidade articular É composta por um espaço virtual. A sua formação deve-se ao desaparecimento das células que constituíam a zona intermédia das articulações primitivas.
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Fig.12: Articulação sinovial: femuro-tibio-rotuliana
A cavidade articular está cheia de um líquido de consistência viscosa, transparente ou ligeiramente amarelada com uma função lubrificante e amortizadora, a sinóvia. Para alem disso este liquido é também responsável pela nutrição das cartilagens articulares. Cápsula articular Trata-se de um conjunto de formações que fecham a cavidade articular. É constituída por duas capas: uma capa externa formada por tecido fibroso e uma capa interna formada por uma membrana. Esta é responsável pela segregação do líquido sinovial (ou sinóvia). Ligamentos São fios de tecido conjuntivo fibroso que mantêm os ossos unidos entre si. São geralmente imóveis, existem algumas exceções, como é o caso da nuca, cujo ligamento é formado por um tecido elástico. Consoante se encontrem dentro ou fora da cápsula articular podem-se dividir em: extra-capsulares e inter-capsulares, ou intra-capsulares. 2.2. Movimento das Articulações As articulações podem realizar 3 tipos básicos de movimento: - Deslizamento, - Angular, - Rotação ou circulares. Deslizamento Trata-se de um tipo de movimento com escassa amplitude. São típicos das articulações planas.
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Angular São aqueles movimentos que são responsáveis por modificar o ângulo de dois ossos entre si. Existem diferentes tipos de movimento angular: Flexão Diminuem o ângulo da articulação. Extensão Aumentam o ângulo da articulação. Abdução É o afastamento (separação) das extremidades em relação ao corpo. Adução É a aproximação das extremidades ao corpo. Rotação ou circular São movimentos que o osso realiza à volta do seu eixo longitudinal, quer dizer, trata-se do giro da articulação sobre si mesma. Podem ser de vários tipos: Rotação interna A face anterior do osso dirige-se ao plano sagital. Rotação externa A face anterior afasta-se do plano sagital. Pronação A palma da mão fica virada para trás (posição normal de todos os animais domésticos). Supinação A palma da mão fica virada para cima. 3. Os Músculos Nos mamíferos existem aproximadamente 450 músculos esqueléticos que correspondem a 35-40% do seu peso corporal. Os músculos são parte ativa do aparelho locomotor. Estão constituídos por células que têm a capacidade de se contrair.
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As células musculares são a estruturas que se contraem, quando são excitadas química, elétrica e mecanicamente, produzindo um potencial de ação que se transmite à membrana celular.
Fig. 13: Alguns músculos do cão
3.1. A célula ou fibra muscular É a unidade estrutural do músculo. Trata-se uma célula muito especializada e diferenciada que perdeu a capacidade de multiplicação. Têm forma alongada e é constituída por duas proteínas chamadas actina e miosina. Existem dois tipos de fibras musculares: - Fibra muscular estriada: Podem chegar a medir até 15cm de comprimento e 10-80 micra de diâmetro. - Fibra muscular lisa: O seu tamanho é menor que o das fibras musculares estriada e o seu comprimento é aproximadamente de 200 micras e o seu diâmetro de 2 a 5 micra. 3.2. Tipos de Músculos Existem diferentes tipos de músculos que diferem na sua constituição e na função que exercem.
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Músculo estriado ou esquelético Forma parte do aparelho locomotor. É constituído por células estriadas unidas entre si e fixa-se as peças ósseas através de tecido conjuntivo. A musculatura estriada tem uma cor avermelhada, mais ou menos acentuada consoante a proporção de células vermelhas e células claras que entram na sua composição (músculos vermelhos e brancos). A contração deste tipo de músculo é voluntária e rápida.
Fig. 14: Músculo esquelético
Músculo liso ou visceral É formado por células musculares lisas de cor cinzenta amarelada. Forma camadas musculares contínuas e pode ser encontrado em órgãos como o intestino, bexiga e útero. É enervado pelo sistema nervoso autónomo e a sua contração é lenta mas persistente.
Fig. 15: Músculo liso
Músculo cardíaco É formado por células musculares estriadas mas de estrutura diferente daquelas que formam o músculo esquelético, são de cor vermelha e forma capas musculares contínuas, capas estas que vão formar a musculatura cardíaca, ou seja o miocárdio.
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As contrações deste tipo de músculo são involuntárias e rítmicas devido à existência de um sistema próprio de excitabilidade. É também enervado pelo sistema nervoso autónomo.
Fig. 16: Músculo cardíaco
3.3. Classificação dos músculos Os músculos podem ser classificados consoante a sua forma e consoante a função que exerce na realização do movimento. Segundo a sua forma: Compridos: Tipo de músculos em que predomina uma dimensão sobre outras. Podem ser fusiformes ou aplanados. Exemplo Biceps. Largos (planos): Predominam duas dimensões sobre a terceira. Um exemplo deste tipo de músculos é a grande lâmina muscular do músculo dorsal do tronco. Curtos: São de pequenas dimensões e todas têm uma medida aproximadamente igual. É exemplo deste tipo de músculos os profundos que ligam peças esqueléticas. Segundo a sua ação: Músculos Agonistas São os músculos principais que ativam um movimento especifico do corpo, eles contraem-se ativamente de forma a produzir o movimento desejado. Exemplo: flexores dos dedos.
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Músculos Antagonistas Exercem uma ação oposta à do motor principal, pelo que devem relaxar-se e não se contrair para permitir o movimento. Exemplo: extensores dos dedos. Músculos Sinergistas São aqueles que participam estabilizando as articulações para que não ocorram movimentos indesejáveis durante a ação principal. Exemplo: estabilizadores do ombro. Músculos Fixadores Estabilizam a origem do agonista, para que ele possa agir com maior eficiência. Por exemplo estabilizam a porção proximal do membro quando se move a parte distal. 4. O Aparelho Cardiovascular O sistema ou aparelho cardiovascular é formado por um órgão propulsor de sangue, o coração, e uma rede vascular de distribuição. No coração, os músculos cardíacos contraem-se impulsionando o sangue através dos vasos para todas as partes do corpo. Os vasos condutores do sangue para fora do coração são as artérias. Estas ramificam-se tornando-se progressivamente de menor calibre terminando em pequenos vasos denominados arteríolas. A partir destes vasos o sangue é capaz de realizar suas funções de nutrição e absorção atravessando uma rede de vasos denominados capilares de paredes muito finas e permeáveis à troca de substâncias entre o sangue e os tecidos. Dos capilares o sangue é coletado em vênulas que progressivamente coalescem em veias de diâmetros progressivamente maiores alcançando novamente o coração.
Fig. 17: Artéria -arteriola - capilares -vénula -veia
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As artérias são os vasos que conduzem o sangue do coração aos tecidos. Todas elas contêm sangue oxigenado, exceto a artéria pulmonar, que contém altos níveis de dióxido de carbono (CO2). As veias são os vasos que conduzem o sangue dos tecidos ao coração. Todas elas contêm sangue com baixas quantidades de oxigénio (O2) e CO2, exceto as veias pulmonares, que levam sangue oxigenado. 4.1. O coração É um órgão muscular (constituído pelo miocárdio), encarregue de bombear sangue a todo o corpo através dos vasos sanguíneos. Tem uma forma cónica, localiza-se entre a terceira e a sexta costela e está envolvido externamente por um saco chamado pericárdio, que é composto por duas camadas: - Pericárdio visceral (epicárdio). Camada interna e serosa. - Pericárdio parietal. Camada externa e fibrosa. Também é envolvido internamente por uma camada chamada endocárdio, que cobre as câmaras cardíacas (aurículas e ventrículos). De cada lado do coração existe: - Uma aurícula que recebe sangue dos grandes troncos venosos e do pulmão. - Um ventrículo que está encarregue de bombear o sangue a partir do coração para todo o organismo, através dos grandes troncos arteriais e venosos.
Fig. 18: Anatomia cardíaca
Entre a aurícula e o ventrículo de cada lado existe uma válvula chamada válvula auriculo-ventricular, a da esquerda é a válvula mitral e a da direita é a válvula tricúspide. Estas válvulas asseguram o fluxo unidirecional do sangue das aurículas para os ventrículos. O coração é irrigado pelas artérias coroárias.
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4.2. O funcionamento cardíaco A maneira mais fácil de perceber como ocorre o funcionamento interno do coração, é seguir o curso da corrente sanguínea. O sangue que entra no coração vindo da circulação geral, é o que se chama sangue venoso, com uma proporção de oxigénio baixa. Ele penetra no coração pelas veias cavas craneal e caudal. Estes grandes troncos venosos desembocam na aurícula direita. Imediatamente o sangue promove a abertura da válvula tricúspide e desce ao ventrículo direito, para o cone arterioso, que é uma cavidade com a forma de funil que vai terminar na válvula pulmonar. Esta abre-se e, através da artéria pulmonar, o sangue pobre em oxigénio segue até ao pulmão onde o anidrido carbónico do sangue é substituído pelo oxigénio do ar alveolar. As veias pulmonares levam o sangue oxigenado procedente dos pulmões e encaminham-no para a aurícula esquerda, de onde passa ao ventrículo esquerdo pela abertura da válvula mitral. Ao contrair-se, o ventrículo esquerdo bombeia o sangue que tem até à aorta com suficiente pressão para abrir a válvula aórtica. A aorta e as suas ramificações levam sangue oxigenado a todos os tecidos do organismo. Ciclo cardíaco O ciclo cardíaco é o conjunto de acontecimentos que ocorrem no coração desde que se gera uma sístole auricular até ao princípio da sístole auricular seguinte. E é constituído por um período de relaxação do coração denominado diástole, seguido de um período de contração chamado sístole. Durante a diástole produz-se uma dilatação ou distensão de uma cavidade do coração, permitindo que o seu interior se encha de sangue. Durante a sístole produz-se a contração de uma cavidade cardíaca, despejando o seu conteúdo. Quando o sangue entra na aurícula direita, vindo da circulação geral do corpo, e na aurícula esquerda procedente dos pulmões, estas têm de se dilatar para poderem conter todo o sangue. Neste momento as aurículas encontram-se em diástole auricular, durante a qual o volume aumenta e aumenta a pressão auricular, que se torna maior que a pressão ventricular. É esta pressão que promove a abertura das válvulas aurículo-ventriculares, permitindo que o sangue flua das aurículas para os ventrículos relaxados (em diástole ventricular). Ocorre depois a contração auricular ou sístole auricular, forçando o resto do sangue que se encontra nas aurículas a passar para os ventrículos, promovendo o aumento do volume e da pressão intra-ventricular. No momento em que ocorre o relaxamento das aurículas (diástole auricular) os ventrículos contraem-se (sístole ventricular). E as válvulas tricúspide e mitral fecham-se, aumentando a pressão ventricular e permitindo que as válvulas aórticas e pulmonares se abram.
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O sangue é expelido do ventrículo esquerdo, através da aorta, para todo o corpo e do ventrículo direito, através da artéria pulmonar, para os pulmões. 4.3. Regulação cardíaca Todos os impulsos nervosos que regulam a função cardíaca são controlados por uma zona do sistema nervoso central chamada centro de regulação cardíaca, que se situa no bulbo raquidiano ou medula oblonga, entre o cérebro e a espinalmedula. A regulação da função cardíaca ocorre predominantemente pela ação do sistema nervoso autónomo através de nervos do tipo simpático e parassimpático. O sistema parassimpático atua sobre o coração produzindo uma diminuição da frequência cardíaca, enquanto que o sistema nervoso simpático, pelo contrário, atua sobre o coração produzindo taquicardia, ou seja um aumento da frequência cardíaca. Por outro lado, o sistema hormonal também exerce alguma influência na função cardíaca através da hormona adrenalina. Esta hormona é sintetizada pelas glândulas suprarrenais e produz um aumento da frequência cardíaca. 4.4. A circulação maior e a circulação menor Circulação maior (Circulação Sistémica): Ocorre quando o ventrículo esquerdo impulsiona o sangue através da aorta, artérias sistémicas e dos capilares sanguíneos que depois vão-se unir a vénulas sistémicas e veias sistémicas, reunindo-se depois em dois grandes troncos, a veia cava inferior e a veia cava superior que vão levar o sangue venoso ao átrio cardíaco direito. É ao nível dos capilares sanguíneos que ocorre a troca de oxigénio por dióxido de carbono, passando o sangue de arterial a venoso. A circulação através do coração esquerdo é conhecida como circulação sistémica, também chamada grande circulação por suprir com o fluxo sanguíneo todos os tecidos do corpo exceto os pulmões. Circulação menor (Circulação Pulmonar): A circulação através do coração direito e dos pulmões é denominada circulação pulmonar ou pequena circulação. E acontece quando o sangue retorna ao coração através das veias cavas superior e inferior penetrando no átrio direito e sendo de seguida impulsionado para o ventrículo direito. Daqui é bombeado para os capilares dos pulmões através das artérias pulmonares libertando dióxido de carbono e absorvendo oxigénio. Retorna pelas veias pulmonares para o átrio esquerdo que conduz o sangue para o ventrículo esquerdo.
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4.5. O sistema arterial As artérias têm as paredes grossas, resistentes e elásticas. As artérias medianas e as pequenas têm células musculares e são capazes de contrair-se para diminuir a quantidade de sangue que circula através delas. Isto permite regular a quantidade de sangue levam até aos tecidos.
Fig. 19: Sistema arterial Felino
A pressão arterial, também chamada tensão arterial é a força exercida pelo sangue nas paredes das artérias e sofre variações, sendo máxima à saída do coração e mínima ao chegar aos capilares. A pressão máxima corresponde ao momento em que ocorre a sístole ventricular, ou seja quando o sangue sai do coração. A pressão mínima acontece quando se dá a diástole ventricular ou seja quando sangue permanece nos ventrículos. Os valores da pressão arterial variam segundo as raças, o sexo e as condições de cada indivíduo. Quando a pressão arterial está acima do normal, dizemos que existe hipertensão arterial, se diminui existe hipotensão arterial. O pulso arterial é produzido devido à dilatação que sofrem as artérias como consequência da transmissão de uma onda de pressão através do sangue.
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Por palpação o pulso pode sentir-se aplicando o dedo sob uma artéria que se encontre sobre uma superfície dura como por exemplo um osso. O pulso depende do batimento cardíaco, e pode servir para medir a frequência de contração do coração. No cão, o sítio mais adequado para medir o pulso arterial por palpação é a artéria femoral, que se localiza na parte interna da extremidade posterior. Atualmente é possível medir a pressão arterial com maior precisão nos nossos animais domésticos recorrendo a um esfigmomanómetro. Devemos colocar o “cuff” num dos membros anteriores de forma a medir a pressão da artéria radial.
Fig. 20: Medição da pressão arterial
4.6. O sistema venoso As veias têm a parede menos grossa que as artérias. A maioria tem umas válvulas que impedem que o sangue retroceda. Estas válvulas chamam-se semilunares e são formadas por dois ou três segmentos. O sangue circula pela rede de vasos venosos com pouca pressão, na maioria dos casos, por força da gravidade. O retorno do sangue ao coração é favorecido pelos seguintes fatores: Pela contração dos músculos do esqueleto que exercem força sob as veias. Isto explica a recomendação geral de caminhar que é feita aos animais com problemas circulatórios de tipo venoso. Pela ação dos movimentos respiratórios, fundamentalmente a inspiração que faz penetrar ar nos pulmões, provocando a dilatação das veias torácicas que aspiram sangue levando-o ao coração. Quando o músculo do diafragma desce durante a inspiração, comprime as veias do abdómen, ajudando o retorno do sangue venoso ao coração.
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5. O Sistema Linfático O sistema linfático representa uma via de acesso pela qual os líquidos dos espaços intersticiais podem chegar ao sangue.
Fig. 21: Ductos linfáticos no cão
Mas talvez a sua função mais importante seja a de eliminar proteínas dos espaços entre os tecidos (intersticiais), contribuindo assim para manter a pressão dentro dos vasos sanguíneos e para manter o equilíbrio das concentrações de líquidos dentro dos tecidos, evitando a formação de edemas. Todos os tecidos do corpo, com exceção de muito poucos, têm vias linfáticas que drenam o excesso de líquido diretamente dos espaços intersticiais. A linfa é o líquido intersticial que penetra nos vasos linfáticos ou vias linfáticas e transporta anticorpos e linfócitos que são fabricados os gânglios linfáticos. No cão podemos examinar seis pares de gânglios linfáticos: - Sub-mandibulares (amígdalas), - Parótidas; - Pré-escapulares, - Sub-axilares, -Inguinais, - Poplíteos. Quando o tamanho destes aumenta, pode ser um indício de que está a ocorrer algum processo inflamatório infecioso junto à sua zona de influência.
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Fig. 22: Pares de gânglios linfáticos do cão
O baço é um órgão de forma oval, situado na cavidade abdominal, logo abaixo da hemicúpula diafragmática esquerda.É o maior dos órgãos linfáticos e faz parte do sistema retículo- endotelial, participando nos processos de hematopoiese (produção de células sanguíneas) e hemocaterese (destruição de células velhas). Tem uma importante função imunológica na produção de anticorpos e linfócitos, protegendo todo o organismo contra infeções. 173 183
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Referências Bibliográficas: Evans, H. E., Lahunta, A. (2013). Miller´s Anatomy of the Dog. USA: Elsevier Saunders. ISBN: 978-143770812-7 Klein, B.G. (2013). Cunningham’s Textbook of Veterinary Physiology (5th Edition). USA: Elsevier Saunders. ISBN: 978-1-4377-2361-8
Sisson
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AUTO-AVALIAÇÃO MÓDULO 2 1- Indique qual das seguintes alíneas corresponde à constituição de um osso longo: a) Uma metáfise, uma epífise e duas diáfises b) Uma metáfise, duas epífises e duas diáfises c) Duas metáfises, duas epífises e uma diáfise d) Nenhuma das alíneas anteriores está correta 2- Qual das seguintes funções pode ser exercida por um osso curto? a) Proteger órgãos vitais b) Amparar impactos c) Apoiam a locomoção d) Reduzem a fricção exercida pelos tendões 3-Relativamente às células ósseas indique quais são aquelas responsáveis pela degradação do osso e sua posterior reabsorção. a) Osteoclastos b) Osteócitos c) Osteoblastos d) Nenhuma das alíneas anteriores está correta 4- Qual dos seguintes ossos pertence á extremidade posterior ou pélvica: a) Escápula b) Úmero c) Tíbia d) Rádio 5- Em relação às articulações indique qual é aquela em que os ossos se encontram unidos através de cartilagem hialina ou tecido fibrocartilaginoso. a)Fibrosas b) Sinoviais c) Cartilaginosas d) Nenhuma das alíneas anteriores está correta 6- Qual é o tipo de movimento articular em que ocorre a aproximação das extremidades do corpo? a) Adução b) Deslizamento c) Abdução d) Rotação 7- Qual é o comprimento aproximado de uma fibra muscular estriada? a) 5 mm de comprimento e 2-5 micra de diâmetro
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b) 15 cm de comprimento e 10-80 micra de diâmetro c) 1 m de comprimento e 10-80 micra de diâmetro d) 200 micras de comprimento e 2-5 micra de diâmetro 8- Assinale a afirmação correta em relação ao músculo cardíaco: a) É formado por células musculares lisas b) As suas contrações são voluntárias, dependendo do sistema nervoso central c) Faz parte do aparelho locomotor d) As suas contrações são involuntárias e rítmicas através de um sistema próprio de excitabilidade 9- Indique relativamente à anatomia cardíaca, qual é a artéria que “sai” do ventrículo esquerdo: a) Tronco braquiocefálico b) Aorta c) Pulmonar d) Subclávia esquerda 10- Em relação ao sistema linfático do cão e do gato quais são os pares de gânglios que podemos observar: a) As amígdalas b) Os pré-escapulares c) Os poplíteos d) Todas as alíneas anteriores estão corretas
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SOLUÇÔES DA AUTO-AVALIAÇÃO MÓDULO 2: 1- A 2- B 3- C 4- C 5- C 6- A 7- B 8- D 9- B 10- D
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