Amv(m6)

Page 1

AUXILIAR DE MÉDICO VETERINÁRIO Módulo VI

Introdução à Técnica Cirúrgica

www.nova-etapa.pt


____________________________________________________________________

ÍNDICE DO MÓDULO 6 OBJETIVOS

3

1. A sala de cirurgia

4

2. Desinfeção e esterilização de material Cirúrgico

6

2.1. Desinfetantes e Antissépticos comuns usados na prática veterinária

8

2.2. Procedimento a seguir para esterilizar o material cirúrgico

9

3. Material Cirúrgico

11

3.1. Material de diérese (corte)

12

3.2. Material de hemóstase

14

3.3. Material de preensão

15

3.4. Material de separação

16

3.5. Material de síntese

17

4. Disposição do material cirúrgico

18

5. Cirurgia em de animais de companhia

19

5.1. Preparação cirúrgica

19

5.2. Esterilização da cadela e da gata

19

5.3. Castração do cão

24

5.4. Castração do gato

27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

31

AUTO-AVALIAÇÃO

32

_____________________________________________________________________

2


____________________________________________________________________

No final deste módulo o aluno deve ser capaz de: Identificar algum material cirúrgico Realizar a desinfeção e esterilização do material cirúrgico Preparar a mesa de cirurgia Auxiliar o médico veterinário na realização de algumas intervenções cirúrgicas

_____________________________________________________________________

3


____________________________________________________________________

1. A sala de cirurgia Vamos agora passar a descrever as condições que uma sala de cirurgia deve oferecer. Para além das condições técnicas que são essenciais numa sala de cirurgia, sempre que possível este deve tornar-se num local tranquilo que transmita uma sensação de calma e paz. Por vezes pode ser útil a colocação de um aparelho de som, de forma a possibilitar a audição de música aos executantes enquanto se realiza a cirurgia. Dimensão A superfície mínima para uma sala de cirurgia de pequenos animais (animais de companhia) é de 16 metros quadrados e uma sala para os grandes animais é de 49 metros quadrados. A altura para ambas as salas de cirurgia deve ser de 3 metros, no mínimo, para permitir um bom arejamento e evitar que a atmosfera fique contaminada durante as cirurgias. Material O chão e as paredes devem ser revestidos por material facilmente lavável, por exemplo azulejo ou linóleo, ou qualquer outro material liso, de forma a impedir a acumulação de bactérias. Os cantos das paredes deverão ser arredondados e sem ranhuras. Ventilação Deve ter um sistema de ar condicionado, com ou sem filtros para poder renovar a atmosfera da sala cirúrgica. Uma alternativa mais sofisticada consiste em sistemas de sobrepressão, o ar é injetado a partir do teto com pressão e é direcionado para uns buracos no chão, arrastando as bactérias, pó entre outros agentes contaminantes. A ventilação não se deve realizar nunca pelas janelas, pois estas permitem a entrada de fontes de contágio. Iluminação A iluminação é feita através de lâmpadas cirúrgicas, que dão muita luz, mas sem criar sombras e sem produzir calor (luz fria) de forma a evitar queimaduras nos tecidos alvo de cirurgia.

_____________________________________________________________________

4


____________________________________________________________________

As lâmpadas podem ser centrais ou acessórias. As lâmpadas centrais estão penduradas no teto, permitindo uma grande mobilidade, concedida através de um braço giratório.

Fig. 1: Sala de cirurgia

Mobiliário cirúrgico Existe uma diversidade de elementos imprescindíveis na sala de cirurgia, vamos neste módulo enumerar alguns deles. - Mesa cirúrgica: as mesas de cirurgia para pequenos animais podem ser rígidas ou hidráulicas. Estas últimas permitem variar a altura e se forem articuladas permitem ainda uma ampla movimentação do tampo, o que pode ser útil no posicionamento do animal alvo de intervenção cirúrgica. As medidas mais comuns são de 56 cm de largura por 152 cm de comprimento.

_____________________________________________________________________

5


____________________________________________________________________

A altura é variável nas mesas hidráulicas, 86 a 88 cm é a altura mais adequada para uma mesa fixa. - Mesa de Mayo : a função desta mesa é colocar o material cirúrgico. É constituída por uma bandeja de aço que normalmente tem 48 x 32 cm. Tem um suporte em forma de L invertido, que se introduz dentro de uma barra mais grossa para que seja possível regular a altura através de um parafuso. - Recipiente para recolha de material orgânico e balde do lixo; - Aparelho de anestesia volátil; - Garrafa de oxigénio; - Monitor cardíaco; - Termocautério ou bisturi elétrico; - Aspirador de fluidos corporais. A disposição do mobiliário deve ser cómoda e prática, para facilitar a movimentação rápida por parte dos auxiliares e do cirurgião

2. Desinfeção e esterilização de material Cirúrgico A esterilização ou assepsia consiste na destruição todos os microrganismos (bactérias, vírus e fungos) que possam existir em objetos ou materiais. Existem desinfetantes para utilizar nos objetos que vão entrar em contacto com ambientes estéreis, como são exemplos tecidos, órgãos ou vasos sanguíneos. Exemplos deste tipo de objetos são instrumentos cirúrgicos, cateteres e agulhas entre outros. E também existem desinfetantes apropriados para o mobiliário cirúrgico. Por outro lado e para promover a desinfeção da pele na preparação do doente para cirurgia, existem antissépticos, mas a pele não é esterilizada pois existem microrganismos não patológicos que estão á sua superfície, dai que se dê o nome de antissépticos e não de desinfetantes.

_____________________________________________________________________

6


____________________________________________________________________

A seleção do líquido apropriado depende do resultado desejado. Alguns desinfetantes são eficazes a destruir um número limitado de microrganismos, outros são eficazes a destruir todos os organismos incluindo vírus e fungos.

Fig. 2: Zona de desinfeção e de preparação cirúrgica

_____________________________________________________________________

7


____________________________________________________________________

2.1. Desinfetantes e Antissépticos comuns usados na prática veterinária

Agente Álcool: *Álcool isopropílico (50%-70%) *Álcool etílico (70%) Compostos com cloro: *Hipoclorito (lixivia) Compostos de iodo:

Pratica Usual Limpeza do local; a preparação do local de injeção

Propriedades Mecanismos Antissépticas de Ação Muito bom Desnaturação de proteínas, interrupção metabólica e lise celular

Precauções

Pisos e bancadas

Eficaz

Libertação de cloro e oxigênio

Desinfeção da pele

Bom

Iodação e oxidação de moléculas essenciais

Desinfeção de lentes e instrumentos delicados

Adequado para esterilização de materiais, mas Inadequado para uso em tecidos orgânicos

Desnaturação de proteínas

Inativado por detritos orgânicos; corrosivo para metais Mancha os tecidos (têxteis) e tecidos orgânicos (corporais) Reação tecidular e dor. Lavar bem os instrumentos antes de utilizar este composto

*Iodóforos (7,5%) Solução para friccionar (Betadine) Glutaraldeído: *Solução alcalina (2%)

Corrosivo para aço inoxidável; volátil

Tab. 1: Exemplos de Desinfetantes e Antissépticos

_____________________________________________________________________

8


____________________________________________________________________

2.2. Procedimento a seguir para esterilizar o material cirúrgico Porque os tecidos dentro do corpo são estéreis, todo o material que vai entrar em contacto com estes tecidos têm de ser esterilizados, vamos passar a descrever a metodologia que deve ser utilizada para o fazer. Em primeiro lugar devemos proceder á lavagem do material com um desinfetante que tenha propriedades bactericidas, fungicidas e viricidas. É muito importante escovar o material com uma escova apropriada para este efeito, de forma não só a matar os microrganismos que possam existir no material como a remover todos os resíduos orgânicos que estes possam conter. O material deve permanecer dentro da preparação com desinfetante o tempo que estiver indicado na rotulagem.

Fig. 3: Desinfetante “Virkon”

Em segundo lugar devemos submeter o material a algum equipamento de esterilização. Existem vários métodos para esterilizar o material cirúrgico, são exemplos a esterilização por vapor (autoclave), esterilização por incidência de radiação ionizante ou esterilização por calor (estufa). A fiabilidade de qualquer destes métodos de esterilização depende do número e do tipo de resistência dos microrganismos a serem esterilizados e do facto de poderem existir outro tipo de materiais presentes nos instrumentos que interfiram com o processo de esterilização, como são exemplos a terra ou o óleo.

_____________________________________________________________________

9


____________________________________________________________________

O sistema de esterilização a vapor, o autoclave, é aquele mais utilizado nos centros de atendimento médico veterinário e consiste na aplicação de vapor quente pressurizado sob os instrumentos a esterilizar. O vapor destrói os micróbios através de coagulação e desnaturação das proteínas celulares. Para garantir a destruição dos microrganismos é necessário que exista uma relação correta entre a temperatura, pressão e tempo de exposição utilizados. Se o vapor for mantido num compartimento fechado e a pressão for aumentada, a temperatura aumenta se o volume do compartimento se mantiver. Se os materiais forem expostos tempo suficiente ao vapor a uma determinada temperatura de pressão tornam-se estéreis.

Fig. 4: Autoclave

Podem acontecer erros de esterilização se o material cirúrgico não estiver posicionado de uma forma correta. Os instrumentos devem ser colocados verticalmente e longitudinalmente no autoclave. Deve ser deixada uma pequena quantidade de espaço entre os materiais para que o vapor possa circular. Após o arrefecimento do material este deve ser embalado em embalagens esterilizadas, utilizando também luvas e superfícies esterilizadas. Todo o material deve estar bem selado para manter a esterilização.

_____________________________________________________________________

10


____________________________________________________________________

Fig. 5: Material devidamente acondicionado após esterilização

É imprescindível que exista uma supervisão e seguimento destas normas para a preparação, embalamento e arrumação correta dos instrumentos de forma a que a esterilização seja eficaz. 3. Material Cirúrgico Com a evolução da técnica cirúrgica foram idealizados e utilizados inúmeros instrumentos cirúrgicos pelos diversos cirurgiões durante a história da cirurgia. Com o passar do tempo vários desses instrumentos foram sendo dispensados ou substituídos por outros mais práticos e viáveis a um determinado procedimento. Os instrumentos cirúrgicos podem ser classificado e divididos em especiais e comuns. Especiais são aqueles usados em apenas alguns tempos de determinadas cirurgias. Já os comuns constituem o instrumental básico de qualquer tipo de intervenção cirúrgica em seus tempos fundamentais: diérese, hemostasia, preensão, separação e síntese. É este tipo de material que passaremos a descrever neste módulo. A sua designação corresponde em geral ao nome do autor que o descreveu. Na classificação acima referida são considerados apenas os instrumentos cirúrgicos propriamente ditos (os de metal), no entanto as seringas, agulhas, drenos de borracha ou plástico, gaze, compressas, luvas e panos de campo campos também podem ser relacionados como instrumental cirúrgico.

_____________________________________________________________________

11


____________________________________________________________________

Fig. 6: Luvas cirúrgicas esterilizadas

3.1. Material de diérese (corte) É constituído pelos bisturis (constituido pela lamina e pelo cabo), tesouras e serras entre outros. O Bisturi é um instrumento cirúrgico, utilizado para fazer incisões, caracteriza-se por possuir uma lâmina muito afiada. Existem diversos tamanhos e tipos de lâminas e de cabos, concebidos para funções específicas. Laminas: A lâmina nº 15 é pequena, a nº 10 tem um formato semelhante á anterior, porém é um pouco mais longa e utilizada para incisões maiores na pele; a nº 11 apresenta ponta bem mais afiada e está indicada para pequenas incisões como aquelas que são realizadas para drenar abcessos e por último a nº 12 que apresenta a ponta curva, adequada para procedimentos mucogengivais. Cabos: Os tipos mais utilizados na dierése incisional são os de número 3 e o 7, sendo este último mais longo e fino. Estão preparados para receber uma varie dade de tipos de lâminas que são colocadas na sua fenda recetora.

_____________________________________________________________________

12


____________________________________________________________________

Colocação e remoção da lâmina: Para conectar a lâmina ao cabo é necessária a utilização de um porta-agulha de modo a evitar cortes ao manuseá-la. Segura-se a lâmina na sua extremidade superior com o porta-agulha que possui uma estrutura metálica para fazer a sua apreensão. O cabo é segurado pelo corpo de modo que a face cortante da lâmina fique apontada para cima. A lâmina é deslizada pelo cabo até que haja um estalinho. A remoção obedece aos mesmos procedimentos, entretanto o porta-agulha deverá segurar a lâmina em sua porção mais distal e superior levantando-a para desconectá-la e deslizando-a no sentido oposto ao anterior.

Fig. 7: Cabo de bisturi e lâmina

Tesouras: podem ser retas ou curvas, e servem para realizar o corte de fios de sutura ou para fazer a dissecção dos tecidos, existem dois tipos de tesouras, a de Mayo e uma mais delicada, a de Metzembaum.

Fig. 8: Tesoura de Mayo

_____________________________________________________________________

13


____________________________________________________________________

Fig. 9: Tesoura de Metzembaum

3.2. Material de hemóstase Este grupo é constituído por todos aqueles materiais que se destinam a “pinçar” os vasos sanguíneos, evitando que sangrem. Estão representados por pinças de forma retas e curva, como por exemplo, as pinças Kelly (vulgarmente denominadas mosquito), Halstead, Rochester. Existem pinças atraumáticas que são utilizadas para realizar uma hemostase temporária. A hemostase pode ser temporária ou definitiva, preventiva ou corretiva. A hemostase temporária, pode tranformar-se em definitiva por ligadura ou por cauterização.

Fig. 10: Pinça mosquito

_____________________________________________________________________

14


____________________________________________________________________

3.3. Material de preensão É o que se destina a segurar e suspender as vísceras e órgãos. São exemplo deste tipo de material a pinça de preensão intestinal ou de Allis, a pinça de preensão aponeurótica ou de Kocher, e as pinças de Foerster.

Fig. 11: Pinça de Allis

Neste grupo também estão incluídas as pinças de campo: são pinças que se destinam à fixação dos campos estéreis para delimitação do campo operatório.

Fig. 12: Pinça de campo

_____________________________________________________________________

15


____________________________________________________________________

3.4. Material de separação É composto por afastadores destinados à exposição do campo operatório, permitindo a melhor visualização dos órgãos. Os afastadores são divididos em dois grupos: estáticos e dinâmicos. Os afastadores dinâmicos mais conhecidos são os de Farabeuf, as válvulas manuais de Doyen e a válvula supra-púbica. Os estáticos mais conhecidos são o Gosset e o Balfour Afastadores dinâmicos: este tipo de afastador implica a ajuda do assistente, que agarra no afastador com uma mão.

. Fig. 13: Afastador dinâmico

Afastadores estáticos: são afastadores que são aplicados no corpo do animal alvo de intervenção cirúrgica, exercendo a sua função sem que esteja subjacente o seu manuseamento.

Fig. 14: Afastador de Mayo-Adams (estático)

_____________________________________________________________________

16


____________________________________________________________________

3.5. Material de síntese É representado entre outros materiais pelas agulhas de sutura, porta-agulhas, fios cirúrgicos, grampos e pinças de dissecção. Pinças de dissecção: Pinça Anatômica, não possui dentes nas extremidades e portanto é menos traumática para os tecidos que agarra e a Pinça Dente de Rato que possui dentes na sua extremidade e portanto faz uma apreensão mais eficiente.

Fig. 15: Pinça de dissecção

Agulhas: São utilizadas para transfixar os tecidos como guia aos fios de sutura, podendo ser classificadas como retas ou curvas, podendo ser cilíndricas (atraumáticas) ou triangulares (traumáticas ou cortantes). As agulhas curvas, possuem raio de curvatura variável, adaptando-se a cada tipo de síntese. Também existem diversos tamanhos de agulhas. Porta- agulhas: são utilizados para a condução de agulhas, sendo os mais utilizados o de Mayo, o de hegar e o de Mathieu. Os porta-agulhas mais recentes têm uma superfície cortante, após a zona que serve para agarrar a agulha, desta forma é possível seccionar o fio de sutura após suturar, dispensando a ajuda de uma segunda pessoa.

Fig. 16: Zona onde a agulha deve ser agarrada

_____________________________________________________________________

17


____________________________________________________________________

4. Disposição do material cirúrgico Os instrumentos cirúrgicos devem ser previamente esterilizados e embalados recorrendo às técnicas referidas anteriormente. A montagem da mesa deve ser feita pelo auxiliar ou pelo instrumentista de forma a amenizar o trabalho do cirurgião tornando-o mais agradável e prático, para que este se possa concentrar totalmente no ato da cirurgia. A distribuição dos instrumentais cirúrgicos, obedece a certas regras: o material de diérese permanece no canto inferior esquerdo; o de síntese no canto superior esquerdo; o material de hemostasia e preensão no meio da mesa, inferiormente e os afastadores no canto superior do lado direito, conforme ilustra a figura abaixo. A mesa poderá ser montada tanto da direita para a esquerda quanto vice-versa dependendo da posição do cirurgião. É também importante que a mesa seja montada sempre da mesma forma para assim sistematizar o trabalho do cirurgião que deve ter acesso aos materiais de uma forma rápida e eficiente.

Fig. 17: Disposição do material cirúrgico

_____________________________________________________________________

18


____________________________________________________________________

5. Cirurgia em de animais de companhia Passaremos agora a descrever algumas das técnicas cirúrgicas que executamos com maior frequência na prática clinica. Consideramos importante abordar este assunto, visto que o auxiliar de veterinário desempenha nesta área um papel fundamental, visto que sem a sua ajuda seria impossível realizar uma cirurgia. Recomendamos que o aluno faça uma revisão do último capítulo do módulo 3 para que tenha presente a anatomia do aparelho reprodutor masculino e feminino. Desta forma será mais fácil perceber a técnica cirúrgica descrita. 5.1. Preparação cirúrgica Antes da cirurgia a comida deve ser retirada, nos animais adultos 12 a 18 horas antes e nos pacientes pediátricos 4 a 8 horas antes da cirurgia. O abdomen ventral deve ser tosquiado e preparado assepticamente com clorexidina, álcool ou betadine. A bexiga urinária deve ser esvaziada caso o paciente não tenha urinado antes da cirurgia, imediatamente após a indução cirúrgica. Nos cães a área pré-escrotal deve ser tosquiada e preparada assepticamente, nos gatos o pelo deve ser arrancado do escroto com os dedos. No caso das gatas ou cadelas devemos evitar operá-las em cio, pois os tecidos estão mais irrigados. Há que ter atenção que os tecidos dos animais jovens são mais frágeis do que os dos animais adultos, logo devem ser manuseados com maior cuidado. 5.2. Esterilização da cadela e da gata (ovariohisterectomia- OVH) A razão mais frequente para realizar uma OVH é a prevenção do cio (estro) e evitar nascimentos indesejados. Outras razões incluem prevenção de tumores mamários ou anomalias congénitas, prevenção e tratamento de piometra, metrite, neoplasia (ovárica, uterina ou vaginal) cistite, trauma, torsão uterina, prolapso uterino, subinvolução da placenta, prolapso vaginal, hiperplasia vaginal, controlo de anomalias endócrinas e dermatoses (como por exemplo demodecose). Nas cadelas faça a incisão imediatamente caudal ao umbigo para facilitar a exposição do pedículo ovárico. Faça a incisão mais caudalmente nas gatas para facilitar a exteriorização do corpo uterino. Em cadelas de peito profundo ou que tenham um útero muito longo, extenda a incisão caudalmente para permitir a

_____________________________________________________________________

19


____________________________________________________________________

exteriorização de todo o aparelho reprodutivo sem exercer uma tração excessiva. Faça uma incisão com 4 a 8 cm de comprimento através da pele e do tecido cutâneo, procurando visualizar a linha média (linea alba). Raspe a linha média com o bisturi e faça uma incisão longitudinal no centro desta linha, de forma a penetrar na cavidade abdominal. Extenda a incisão cranialmente e caudalmente com a ajuda de uma tesoura de mayo. Eleve a parede abdominal esquerda agarrando a parede abdominal (musculo reto externo) com pinças de preensão na zona da linha média. Deslize o gancho de ovariectomia contra a parede abdominal (2 a 3 cm caudalmente ao rim).

Fig. 18: Incisão na linha média

Vire o gancho medialmente de forma a expor o corno uterino e os seus ligamentos. Confirme a presença do corno uterino, seguindo-o digitalmente até à sua bifurcação ou até ao ovário. Se não conseguir localizar o ovário com o gancho observe por baixo da bexiga e encontre o corpo do útero ou os cornos uterinos que estão localizados entre o colon e a bexiga. Fazendo uma tração caudal e medial do corno uterino identifique o ligamento suspensor por palpação.

_____________________________________________________________________

20


____________________________________________________________________

Fig. 19: Exposição do ovário

Assim como as ligações fibrosas do bordo proximal do pedículo ovárico. Estique e rompa o ligamento suspensor perto do rim, sem danificar os vasos sanguíneos ováricos, de forma a permitir a exteriorização do ovário. Para o conseguir use o dedo indicador de forma a realizar uma tração caudolateral do ligamento suspensor, enquanto mantem uma tração caudomedial no corno uterino.

Fig. 20: Rotura do ligamento suspensor

Faça um buraco no ligamento largo do pedículo ovárico, coloque duas pinças mosquito ao longo do pedículo ovárico proximal e uma no ligamento do ovário ao corno uterino.

_____________________________________________________________________

21


____________________________________________________________________

Fig. 21: Colocação de pinças hemostáticas na vasculatura ovárica

A pinça mosquito proximal vai realizar uma depressão nos tecidos e a pinça distal inibe o sangramento depois de seccionar os tecidos. Faça uma ligadura em oito no local onde se retirou a pinça mosquito.

Fig. 22: Laqueação da vasculatura ovárica

Remova a pinça mosquito enquanto aperta a ligadura, de forma a permitir que ocorra compressão. Coloque uma segunda ligadura em circunferência por baixo da primeira para controlar melhor alguma hemorragia que possa ocorrer quando se passou a agulha no meio do pedículo ovárico.

_____________________________________________________________________

22


____________________________________________________________________

Fig. 23: Dupla laqueação da vasculatura ovárica

Alguns cirurgiões preferem colocar a ligadura em circunferência antes da ligadura de transfixação (em oito) de forma a prevenir hemorragias que possam ocorrer durante a transfixação. Seccione o pedículo ovárico. Abra a bolsa ovárica para se certificar se o ovário foi removido na totalidade. Remova a pinça mosquito do ovário e averigue se não existe hemorragia. Caso ainda exista volte a colocar a pinça e faça uma nova ligadura. Tracione o corno uterino e percorra o útero até encontrar o ovário contra lateral. Utilize a mesma técnica para a remoção do segundo ovário. Abra uma janela no ligamento largo do corno uterino, coloque uma pinça no ligamento de cada lado e seccione.

Fig. 24: Remoção do ovário

_____________________________________________________________________

23


____________________________________________________________________

Aplique na ligadura no ligamento largo se a paciente estiver em cio, prenha ou se o ligamento estiver infiltrado por vasos e gordura. Faça uma tração cranial no útero e faça uma ligadura no corpo uterino cranialmente ao cérvix. Faça uma ligadura em oito ao longo do corpo do útero usando a ponta da agulha e circundando os vasos uterinos de cada lado. Faça uma ligadura circular próximo do cérvix.

Fig. 25: Laqueação do útero

Coloque duas pinças hemostáticas cranialmente às ligaduras e seccione no meio das duas pinças com o bisturi. Remova a pinça do útero e verifique se não existe hemorragia. Nas gatas as pinças podem seccionar o útero caso este esteja friável ou ingurgitado, devendo nestes casos o cirurgião colocar as ligaduras antes das pinças. Feche a cavidade abdominal em três camadas (fáscia/linha média, tecido subcutâneo e pele). 5.3. Castração do cão A castração é uma forma de contraceção cuja finalidade é a diminuição na população de indivíduos de uma determinada espécie. Para além disso também reduz a agressividade, comportamentos de marcação de território (micção indesejada) e saídas de casa. Tem um efeito preventivo contra doenças relacionadas com a produção de androgénios (hormonais): doenças prostáticas, adenomas perianais e hérnias perianais. Outras indicações para realizar a castração são as anomalias congénitas: anomalias testiculares ou do epidídimo,

_____________________________________________________________________

24


____________________________________________________________________

traumatismos, abcessos, herniorrafias inguinais/escrotais, uretrostomia escrotal, controlo de epilepsia e controlo de anomalias endócrinas. Tanto pode ser realizada uma abordagem pré-escrotal como perineal. A abordagem pré-escrotal é a mais comum e a mais fácil. Técnica pré-escrotal: coloque o paciente em decúbito dorsal, verifique a presença de ambos os testículos no escroto. Tosquie e prepare assepticamente o abdómen caudal. Aplique pressão no escroto para que avance um dos testículos o mais longe possível da área escrotal. Faça uma incisão na pele e tecido subcutâneo ao longo da linha média e por cima do testículo.

Fig. 26: Incisão na linha média

Prolongue a incisão ao longo da fáscia espermática de forma a exteriorizar o testículo. Seccione a túnica vaginal parietal que cobre o testículo.

Fig. 27: Incisão na fáscia espermática

_____________________________________________________________________

25


____________________________________________________________________

Deverá ter o cuidado de não seccionar a túnica albugínea dado que poderá expor o parênquima testicular. Coloque uma pinça hemostática ao longo da túnica vaginal junto da união ao epidídimo, separe utilizando os dedos o ligamento da cauda do epidídimo à túnica, aplicando tração com a pinça hemostática na túnica.

Fig. 28: Separação do ligamento da cauda do epidídimo

Exteriorize o testículo, aplicando uma tração caudal. Identifique as diferentes estruturas que constituem o cordão espermático e de seguida faça uma ligadura individual no cordão vascular e no ducto deferente, ou faça uma ligadura em oito nos dois. Depois faça uma ligadura simples no cordão vascular e no ducto deferente por baixo da primeira.

_____________________________________________________________________

26


____________________________________________________________________

Fig. 29: Ligadura no cordão vascular e no ducto deferente

Coloque por cima das ligaduras duas pinças hemostáticas, seccione os tecidos no meio das duas pinças. Remova a pinça, avalie a ausência de hemorragia. Circunde o músculo cremáster e a túnica com uma ligadura. Avance o segundo testículo na incisão e remova-o utilizado a técnica anteriormente referida. Sobreponha as fáscias seccionadas utilizando pontos simples (sutura interrompida). Feche o tecido subcutâneo com uma sutura continua. Feche a pele com uma sutura intradérmica continua. 5.4. Castração do gato Posicione o gato dorsalmente ou lateralmente em posição cranial, mobilize o testículo para o escroto aplicando pressão com os dedos polegar e indicador na base do escroto.

_____________________________________________________________________

27


____________________________________________________________________

Fig. 30: Depilação manual dos testículos

Faça uma incisão de 1 cm em cada testículo no fim do escroto, desde a porção cranial até à caudal.

Fig. 31: Incisão testicular

_____________________________________________________________________

28


____________________________________________________________________

Seccione a túnica vaginal parietal por cima do testículo. Separe com os dedos a aderência do ligamento da cauda do epidídimo à túnica vaginal, e corte com o bisturi o ducto deferente.

Fig. 32: Secção do ducto deferente

Faça uma dupla ligadura utilizando o ducto deferente, sobre o vaso sanguíneo, laqueando-o.

Fig. 33: Laqueação do cordão vascular

_____________________________________________________________________

29


____________________________________________________________________

Seccione o vaso sanguíneo, inspecionando a ausência de hemorragia. Faça a remoção do segundo testículo utilizando a mesma técnica. Não é necessário realizar suturas dado que a cicatrização dos tecidos ocorre por segunda intenção, ou seja fica uma ferida aberta que vai cicatrizar progressivamente.

_____________________________________________________________________

30


____________________________________________________________________

Referências Bibliográficas:

Aesculap Surgical Insrument Catalog. Acedido em Julho 08, 2014, disponivel em http://www.surgical-instruments.info/en/index.html Fossum, T.W. (2002)Small Animal Surgery. Second edition. St. Louis, Missouri: Mosby, Inc. ISBN: 0-323-01238-8 Williams, J.M. Niles, J. D. (2007) BSAVA Manual of Canine and Feline Abdominal Surgery. England: BSAVA ISBN-10: 0905214811

_____________________________________________________________________

31


____________________________________________________________________

AUTO-AVALIAÇÃO MÓDULO 6 1- Qual deve ser a altura mínima de uma sala de cirurgia, de forma a permitir um bom arejamento e evitar contaminações. a) 3 metros b) 1 metro c) 2 metros d) 6 metros 2- Qual das seguintes formas de ventilação é inapropriada para uma sala de cirurgia? a) Ventoinha b) Ar condicionado c) Janelas d) Sistema de sobrepressão 3- Qual dos seguintes mobiliários cirúrgicos tem um suporte em L invertido e serve para colocar o material cirúrgico? a) Mesa Cirúrgica b) Mesa de Mayo c) Monitor Cardíaco d) Nenhuma das respostas anteriores está correta 283 4- Qual dos seguintes desinfetantes e antissépticos é inadequado para utilizar em tecidos orgânicos? a) Lixivia b) Álcool c) Betadine d) Gluteraldeido 5- Qual é o aparelho de esterilização mais utilizado nos centros de atendimento veterinário? a) Estufa b) Microondas c) Autoclave d) Luz ultravioleta 6- De que forma devemos guardar o material após a esterilização? a) Colocando-o em caixas de papelão b) Colocando-o em embalagens de plástico devidamente seladas c) Enrolando-o em tecido d) Nenhuma das hipóteses anteriores está correta 284

_____________________________________________________________________

32


____________________________________________________________________

7-Qual dos seguintes materiais cirúrgicos faz parte do material de diérese (corte)? a) Pinça de Kelly b) Tesoura de Metzembaum c) Pinça de Allis d) Porta-agulhas 8- Qual dos seguintes materiais cirúrgicos faz parte do material de síntese? a) Pinça de Kelly b) Tesoura de Metzembaum c) Pinça de Allis d) Pinça de dissecção 9- Como é que deve ser preparada a zona cirúrgica a intervencionar no caso da castração do gato? a) O pelo deve ser cortado com máquina de tosquia (tosquiado) b) O pelo deve ser cortado com uma tesoura c) O pelo deve ser arrancado à mão d) O pelo deve ser cortado com uma lâmina de barbear 285 10- Como é que deve ser laqueado o cordão vascular e o ducto deferente na castração do cão? a) Realizando um nó duplo com o ducto deferente sobre o vaso sanguíneo b) Realizando um nó simples com o ducto deferente sobre o vaso sanguíneo c) Realizando uma ligadura simples no cordão vascular e no ducto deferente d)Realizando ma ligadura individual no cordão vascular e outra no ducto deferente, ou uma ligadura em oito nos dois e posteriormente uma ligadura simples no cordão vascular e no ducto deferente

_____________________________________________________________________

33


____________________________________________________________________

SOLUÇÔES DA AUTO-AVALIAÇÃO MÓDULO 6: 1- A 2- C 3- B 4- D 5- C 6- B 7- B 8- D 9- C 10- D

_____________________________________________________________________

34


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.