Formação Pedagógica Inicial de Formadores
Módulo 1. Formador: Sistema, Contextos e Perfil
eBook Sub-Módulo 1.1 - FORMADOR: CONTEXTOS DE INTERVENÇÃO
Formação Pedagógica de Formadores Formador: Contextos de Intervenção
Índice
Competências a Adquirir
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Introdução
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1. Políticas de Educação e Formação
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1.1. O novo paradigma da Aprendizagem ao longo da vida
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1.2. O Sistema Nacional de Qualificações (SNQ)
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1.3. Os Instrumentos do SNQ
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2. Conceitos e Princípios acerca da Formação Profissional
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2.1. Tipos de Formação Profissional
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2.2. Modalidades de Formação Profissional
16
2.3. Sistema de RVCC
16
2.4. Caracterização das Intervenções Formativas
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3. A Atividade do Formador e o seu Enquadramento Legal
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4. Ética e Deontologia do Formador
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4.1. Princípios Éticos e Deontológicos da Função do
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Formador 5. Perfil do Formador
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5.1. Competências Nucleares do formador
23
5.2. Competências Profissionais do Formador: Novos
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Focos de Intervenção 5.3. O Empreendedorismo como uma das competências
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emergentes 6. Conclusão final
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Competências a adquirir No final deste sub-módulo de formação, deverá ficar apto a: Caracterizar os sistemas de qualificação com base nas finalidades, no público-alvo, nas tecnologias utilizadas e no tipo e modalidade de formação pretendida; Identificar a legislação, nacional e comunitária, que regulamenta a Formação Profissional e a atividade do formador; Enunciar as competências e capacidades necessárias à atividade de formador; Discriminar as competências exigíveis ao formador no sistema de formação.
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Introdução
Vivemos tempos de profundas mudanças que alteram de dia para dia o cenário social, económico, político e cultural em que vivemos. Diante das convulsões que o mundo moderno vem demonstrando, em todos os âmbitos do saber e do fazer humanos, assiste-se no campo da Formação a mais abordagens a temas relacionados com a autonomia, iniciativa, emancipação e liberdade, o que implica que o Formador repense e reflita sobre as novas competências para ensinar. Diz-nos Pierre Casper, na sua reflexão sobre “ser formador nos tempos que correm” que, durante séculos, aprender dependia, antes de mais, da capacidade e do direito a aceder aos lugares do saber. O
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saber estava encerrado em mosteiros, bibliotecas ou na cabeça dos “iluminados”. Atualmente vivemos na Sociedade da Informação. Pela primeira vez fala-se numa democratização do acesso à informação e ao saber, adquirido pela difusão das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC), que permitem aceder em qualquer lugar e a qualquer hora à informação.
Face às atuais transformações, o formador não pode ser apenas um agente inspirador, motivador e capaz de mobilizar o grupo, tem também que ser capaz de transpor os paradigmas tradicionais e assumir-se como um agente de mudança, criativo e empreendedor.
Ao longo deste ebook iremos abordar questões como o atual sistema de Educação e Formação e o enquadramento da intervenção do Formador nos vários contextos da formação. Abordaremos ainda a multiplicidade de competências e atividades que lhe são hoje em dia acometidas.
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1. Políticas de Educação e Formação
Decorrente das mudanças do mundo atual, o próprio conceito de aprendizagem encontra-se em fase de construção. Impõe-se assim um novo paradigma: o da aprendizagem ao longo da vida, com o objetivo de aquisição e atualização de competências pessoais e profissionais, nas várias fases da vida. 1.1. O novo paradigma da aprendizagem ao longo da vida Embora o conceito de aprendizagem ao longo da vida tenha sido largamente divulgado nos anos 70, este afirma-se agora como um novo paradigma na mudança de século, e em associação estreita com as alterações produzidas pela Sociedade de Informação.
O reconhecimento da importância da Aprendizagem ao Longo da Vida foi afirmado no Conselho Europeu de Lisboa de 2000, concretizado através da publicação de um memorando. Este memorando considera a aprendizagem ao longo da vida como: “Toda a atividade de aprendizagem em qualquer momento da vida, com o objetivo de melhorar os conhecimentos, as aptidões e competências, no quadro de uma perspetival pessoal, cívica, social e/ou relacionada com o emprego.” Esta mudança de paradigma resulta da nova perspetiva com que se olha para a aprendizagem. Até há alguns anos atrás, considerava-se
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que era nos bancos da escola, em contexto formal, que se aprendia tudo aquilo de que se necessitava para a vida. Atualmente considerase que os conhecimentos e as competências que apreendemos quando crianças e jovens, na família, na escola, na formação e na universidade são limitados no tempo.
1.2. O Sistema Nacional de Qualificações
Um dos desafios colocados aos sistemas de ensino e formação tem sido precisamente o de acompanhar, ou até antecipar, as múltiplas transformações ocorridas na sociedade e na organização do trabalho.
Procurando dar resposta ao mercado de trabalho, o nosso país iniciou uma reforma do seu sistema de educação e formação, como forma de regular e orientar as práticas educativas e formativas dos cidadãos. O processo de reforma conduziu à criação do Sistema Nacional de Qualificações (SNQ).
O SNQ procurou reorganizar a formação profissional inserida no sistema educativo, integrando-a com objetivos e instrumentos comuns e sob um novo enquadramento institucional.
O SNQ assumiu como principal desígnio aumentar o nível de qualificação da população, estabelecendo o nível secundário (12º ano) como escolaridade mínima obrigatória, bem como a aposta na qualificação de dupla certificação, quer através do aumento da oferta de cursos de educação e formação profissional (jovens e
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adultos), quer através do reconhecimento, certificação e validação de competências de aprendizagens formais, informais e não formais.
Destaca-se como aspeto central da reforma, o facto de estabelecer uma ligação entre a qualificação profissional e a qualificação escolar, através da criação dos cursos de dupla certificação. Sistema
Educação
Formação
Dupla Certificação
1.3. Os instrumentos do SNQ Para atingir estes objetivos, o SNQ consagrou como principais instrumentos: O Catálogo Nacional de Qualificações; O Quadro Nacional de Qualificações; A Caderneta Individual de Competências.
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Catálogo Nacional de Qualificações O Catálogo Nacional de Qualificações (CNQ) é um instrumento de gestão das qualificações nacionais de nível não superior que, ao mesmo tempo, funciona como instrumento de regulação da oferta formativa dos cursos profissionais. O Catálogo reúne os percursos de qualificação considerados relevantes para a atividade económica, está todo organizado em módulos de formação (Unidades de Formação de Curta Duração – UFCD) e abrange todos os setores de atividade. Quadro Nacional de Qualificações
Desde 1 de outubro de 2010 que está em vigor o atual Quadro Nacional de Qualificações. Este constitui-se como referência para classificar todas as qualificações produzidas no âmbito do sistema educativo e formativo nacional, independentemente do nível e das vias de acesso. O Quadro Nacional de Qualificações está estruturado, à semelhança da maioria dos países europeus, em oito níveis de qualificação.
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A estrutura do Quadro Nacional de Qualificações Níveis de qualificação Nível 1 Nível 2 Nível 3
Nível 4
Nível 5 Nível 6 Nível 7 Nível 8
Qualificações 2.º Ciclo do ensino básico 3.º Ciclo do ensino básico obtido no ensino básico ou por percursos de dupla certificação Ensino secundário vocacionado para prosseguimento de estudos de nível superior Ensino secundário obtido por percursos de dupla certificação ou ensino secundário vocacionado para prosseguimento de estudos de nível superior acrescido de estágio profissional Qualificação de nível pós-secundária não superior com créditos para prosseguimento de estudos de nível superior Licenciatura Mestrado Doutoramento
Estes oito níveis de qualificação abrangem todas as qualificações produzidas no sistema educativo e formativo português, sejam obtidas no ensino básico, secundário, superior, ou na formação profissional, adquiridas em contextos formais, não formais e informais. Considera-se formal, a educação e a formação realizada numa instituição pública ou privada, reconhecida oficialmente para o efeito. São exemplos, as aprendizagens realizadas em escolas, nos centros de formação profissional, etc. A formação Não formal diz respeito às aprendizagens fora do quadro formal, embora exista uma intencionalidade e organização do processo. A formação contínua realizada internamente nas organizações é um exemplo de via não formal. A via informal é aquela que decorre fora dos contextos organizados. São exemplo, as aprendizagens realizadas em congressos, encontros, exposições, visitas, viagens, etc. 10
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Outro aspeto a destacar no Quadro Nacional de Qualificações é o facto de ele assentar em resultados de aprendizagem (Learning Outcomes) para caracterizar cada nível de qualificação. Resultado de Aprendizagem: “o enunciado do que um aprendente conhece, compreende e é capaz de fazer aquando da conclusão de um processo de aprendizagem, descrito em termos de conhecimentos, aptidões e atitudes” (Quadro Europeu de Qualificações, 2008).
Caderneta individual de competências A Caderneta Individual de Competências é um documento eletrónico pessoal,
intransmissível
e
facultativo
no
qual
constam
as
competências adquiridas e as formações realizadas pelo cidadão, ao longo da vida. A Caderneta Individual de Competências permite: Manter
atualizada
a
informação
sobre
o
percurso
de
qualificação do seu titular, de modo a que possa comprovar as suas competências; Identificar domínios em que pode adquirir e/ou aprofundar competências que melhorem o seu percurso de qualificação;
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Aos
empregadores,
uma
avaliação
da
adequação
das
competências do seu titular a um determinado posto de trabalho. Apenas as entidades formadoras ou os Centros
de
podem
fazer
Formação a
Profissional
atualização
das
Cadernetas, a partir do registo das competências e formações no Sistema de Informação e Gestão da Oferta Educativa e Formativa (SIGO).
Propomos-lhe agora que veja o filme seguinte sobre o Sistema Nacional de Qualificações.
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2. Conceitos e Princípios Acerca da Formação Profissional A formação profissional, a par com a educação, assume um papel central perante os novos desafios com que se deparam as sociedades atuais. O
conceito
de
Formação
Profissional
pode
ser
assim
sistematizado: “Conjunto de atividades que são organizadas e desenvolvidas com o objetivo de habilitar as pessoas no desempenho de determinadas profissões, ou seja, proporcionar aos indivíduos em situação de formação, oportunidades e meios para que adquiram um conjunto de saberes de vários domínios.”
De acordo com uma nomenclatura vigente, os saberes podem ser agrupados em conhecimentos, capacidades práticas (aptidões) e atitudes. Considera-se
que
o
agir
competente implica a mobilização / combinação / transposição
de
recursos de diversa natureza, de forma
adequada,
que
permita
resolver os problemas decorrentes da atividade profissional.
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Formação Pedagógica de Formadores Formador: Contextos de Intervenção
No Quadro Nacional de Qualificações, competência é definida como: Capacidade
demonstrada
de
mobilizar
os
conhecimentos, aptidões e atitudes com vista à resolução de uma determinada situação-problema, num determinado contexto profissional. Eis uma breve descrição dos vários domínios do saber:
Saber-Saber
• Conjunto de conhecimentos gerais ou especializados, designados por conhecimentos teóricos
Saber - Fazer
• É o conjunto de capacidades práticas (utilização de instrumentos, equipamentos e métodos). Refere-se à operacionalização dos saberes técnicos, tecnológicos e científicos.
Saber-Ser/ Estar/Evoluir
• Conjunto de competências sociais e relacionais (atitudes e comportamentos) necessárias para o exercício da função.
2.1. Tipos de formação profissional Se pesquisarmos, podemos verificar que
se
classificar
multiplicam os
tipos
as de
formas
de
formação
profissional existentes.
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Assim, numa primeira divisão, podemos considerar os seguintes tipos de formação:
Formação inicial
• Jovens • Adultos
Formação contínua • Ativos Considerando os públicos e os objetivos a que se destinam, apresentamos a seguinte classificação da formação inicial:
A formação profissional inicial destinada a jovens - visa a obtenção de uma dupla certificação (escolar e profissional). É muitas vezes feita em alternância, entre a escola e a empresa.
A formação profissional inicial destinada a adultos - visa a obtenção de uma certificação profissional para o ingresso no mercado de trabalho. A formação tem uma componente teórica, simulações práticas e contexto de trabalho.
A Formação profissional contínua - destina-se a ativos que necessitam de atualizar, aperfeiçoar, competências profissionais ou que se encontram em processo de reconversão profissional: Formação de Actualização Formação de aperfeiçoamento
Reciclagem
Reconversão 15
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2.2. Modalidades de formação profissional Vejamos as modalidades existentes na formação profissional: Formação de Jovens Formação de Adultos Formação para Públicos Diferenciados (por exemplo com incapacidade ou deficiência) Formador em contexto de trabalho (empresa e outras organizações)
2.3. Sistema de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) O Reconhecimento, validação e certificação de competências pode desenvolver-se com vista à certificação de competências escolares (RVCC escolar) ou a certificação de competências profissionais (RVCC profissional). O RVCC escolar pode ser feito ao nível do ensino básico e secundário. Ao RVCC profissional poderão aceder adultos com 18 ou mais anos que não possuam qualificação na sua área profissional, e que possuam experiência profissional relevante.
2.4. Caracterização das Intervenções Formativas A atividade da formação nas empresas pode ser caraterizada quanto à sua natureza, objetivo e forma de organização.
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Forma de organização / Modalidades de Intervenção Formativa
A formação pode desenvolver-se através de várias combinações: Presencial Formação em sala Formação em contexto de trabalho “on job” Formação Outdoor (em espaço aberto) eLearning Em bLearning (misto presencial e a distância)
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Tipos de Formação Profissional
Modalidades de Formação Profissional
Modalidade de Intervenção Formativa (Forma de Organização)
- Cursos de educação e formação de jovens
Jovens
- Cursos de aprendizagem - Cursos profissionais - Cursos de especialização
Inicial Jovens e Adultos
Presencial
tecnológica (CET) - Formações modulares - Cursos de Educação e Formação
Adultos
eLearning
de Adultos (EFA) - Formação de atualização
bLearning
- Formação de reconversão
Contínua
Ativos
- Formação de aperfeiçoamento - Formação de reciclagem
Quadro Síntese Em resumo: Nos últimos anos, o Sistema de Educação e Formação sofreu profundas reformas, procurando responder às exigências do mercado de trabalho. Associado ao Sistema, foi desenvolvido um conjunto de instrumentos
donde
se
destacam
o
Catálogo
Nacional
de
Qualificações, o Quadro Nacional de Qualificações e a Caderneta de Competências. No âmbito da mesma Reforma, associado aos mecanismos de garantia da Qualidade, foi criado o Sistema de Certificação de Entidades Formadoras.
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3. A Atividade do Formador e o seu Enquadramento Legal
A atividade de formador está regulamentada através do Decreto Regulamentar n.º 64/94 de 18 de novembro, tendo sofrido alterações com a publicação da Portaria n.º 214/2011 de 30 de maio. De acordo com o art.º 3.º da Portaria n.º 214/2011, de 30 de maio, e regulamentação do IEFP, eis os requisitos que o indivíduo deverá ter para poder exercer: Qualificação de nível superior; Em módulos de formação de natureza mais operativa, a
qualificação detida pode ser de nível igual ao nível de saída dos formandos, desde que possua uma experiência profissional no mínimo de 5 anos; Competências pedagógicas certificadas, através de uma das
vias de acesso à atividade, a saber:
Curso de formação pedagógica inicial de formadores;
Reconhecimento, competências
validação
pedagógicas,
e
certificação
adquiridas
por
experiência;
Equivalência de títulos.
Competências pessoais e sociais adequadas à função.
19
via
de da
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O IEFP define ainda outros requisitos obrigatórios: Conhecimento
consistente
do
Sistema
Nacional
de
Qualificações; Preparação psicossocial e equilíbrio emocional.
No final do manual (disponível em PDF) apresenta-se uma lista da legislação relativa à atividade do formador e à formação profissional. Na pasta “Anexos” da plataforma encontra disponível a legislação.
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4. Ética e Deontologia do Formador
Diz-se que o formador deverá ser um agente de mudança, promovendo mudanças de comportamentos nos indivíduos e, por inerência, nas instituições onde estes atuam. Coloca-se contudo, a questão do limite de atuação do formador. 4.1. Princípios éticos e deontológicos da função do formador Ao problematizar procedimentos e formas de atuação, o formador obrigatoriamente tem de agir sobre as formas de pensamento e até sobre os sistemas de valores pessoais dos indivíduos e das organizações. Nesta perspetiva, importa que o formador atue de forma condigna e respeitadora. Um código deontológico revela-se como uma ferramenta fundamental para a concretização destes objetivos. (Vide Código Deontológico no manual).
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5. Perfil do Formador Conforme constante no novo referencial de formação pedagógica inicial de formadores, o formador é O técnico que atua em diversos contextos, modalidades, níveis e situações
de
aprendizagem,
com
recurso
a
diferentes
estratégias, métodos, técnicas e instrumentos de formação e avaliação, estabelecendo uma relação pedagógica diferenciada, dinâmica e eficaz com múltiplos grupos ou indivíduos, de forma a favorecer a aquisição de conhecimentos e competências, bem como o desenvolvimento de atitudes e comportamentos adequados ao desempenho profissional, tendo em atenção as exigências atuais e prospetivas do mercado de emprego. (IEFP, 2012)
O formador tem em comum com o artista a intuição, a capacidade de comunicação e de criação. Tal como o artista que utiliza determinadas competências, também o formador deverá colocar em práticas várias competências. De seguida, descubra o que têm em comum o formador e o artista.
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Para que o formador seja competente, deverá mobilizar um conjunto de conhecimentos, aptidões, comportamentos e atitudes, das quais se distinguem: Gestão das relações interpessoais (cooperação, trabalho em equipa, motivação, coordenação de trabalhos); Características
individuais
(autonomia,
assertividade,
flexibilidade, iniciativa, inovação, criatividade, empreendedora, comunicação); Conhecimento sobre o Sistema Nacional de Qualificações; Domínio de plataformas e redes de interação online.
5.1 Competências Nucleares do Formador O formador é acima de tudo um profissional que estabelece uma relação pedagógica adequada, e contribui para o desenvolvimento de competências nos seus formandos. 23
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Embora interagindo em contextos de formação diferenciados, o formador tem que possuir um conjunto de competências nucleares, que são consagradas como sendo a base para o desempenho da função. DESAFIO:
Elabore uma listagem sobre as que lhe parecem ser as principais competências que o formador deve ser capaz de aplicar no exercício da sua função. Elaborada a listagem, confira com a matriz seguinte.
Deixamos-lhe uma matriz onde estão identificados os três eixos fundamentais que norteiam o perfil profissional do formador: Área de Intervenção, Macro Competência e Unidade de Competência.
ÁREA DE INTERVENÇÃO
MACRO COMPETÊNCIA
UNIDADE DE COMPETÊNCIA
PREPARAÇÃO E PLANEAMENTO DA FORMAÇÃO
Preparar e planear o processo de aprendizagem
Analisar o contexto de intervenção da formação Planear sessões de ensinoaprendizagem: - Elaborar planos de sessão - Definir objetivos - Selecionar conteúdos, métodos e instrumentos de avaliação
CONCEÇÃO DA FORMAÇÃO
Conceber os produtos de formação
Desenhar programas de formação Conceber/explorar recursos didático e multimédia
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Facilitar o processo de aprendizagem
Aplicar técnicas diferenciadas de interação pedagógica e de dinamização de grupos Relacionar os conteúdos com as vivências e realidade sócioprofissional dos formandos Favorecer a participação/interação dos formandos
Gerir Redes
Utilizar e Gerir Plataformas Colaborativas e de Aprendizagem
Gerir a diversidade
Aplicar metodologias de gestão da diversidade no contexto da formação Gerir os diferentes ritmos de aprendizagem dos formandos
Acompanhar e avaliar as aprendizagens as aprendizagens
Utilizar diferentes tipos de avaliação (inicial, formativa e sumativa) Conceber os instrumentos de avaliação da Formação e das Aprendizagens Atribuir e reportar resultados da Formação e das Aprendizagens
DESENVOLVIMENTO DA FORMAÇÃO
ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO
As principais competências para o exercício da função de Formador encontram-se sistematizadas no quadro seguinte: Competências Nucleares do Formador Preparar e planear o processo de aprendizagem Facilitar o processo de aprendizagem orientando para o formando Acompanhar e avaliar as aprendizagens Gerir a dinâmica de aprendizagem ao longo da vida Explorar recursos multimédia e plataformas colaborativas Gerir a diversidade (pedagogia diferenciada e pedagogia inclusiva) Adotar atitudes de empreendedorismo e criatividade
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5.2 Competências Profissionais do Formador: Novos Focos de Intervenção Tal como se refere no novo referencial de formação, “o Formador, atualmente, responde a múltiplos desafios e tem de estar preparado para enfrentar as necessidades de um mercado da formação profissional cada vez mais competitivo.” (IEFP, 2012). Ao formador é ainda exigido que mobilize conhecimentos, aptidões e atitudes nos seguintes núcleos temáticos:
Novos contextos de formação Tecnologias de informação e comunicação
Criatividade pedagógica
Cidadania e igualdade de género
Trabalho em equipa e parceria
Formador
Diversidade social e ética
Marketing e consultoria
Empreendedorismo
Gestão de projetos
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Formação Pedagógica de Formadores Formador: Contextos de Intervenção
5.3
O empreendedorismo como uma das
competências emergentes Atualmente, associado ao espírito criativo surge o conceito de empreendedorismo. A designação de “Empreendedor” caracteriza aquele que assume riscos e começa algo de novo. O conceito de empreendedorismo está presente em qualquer área de atuação, incluído a área da formação, e enceta em si mesmo ideias de
“Iniciativa”,
“Criatividade”
e
“Inovação”.
O
Espírito
empreendedor pressupõe assim que haja a transformação e a mudança de algo. O empreendedor assume que pode falhar porque, quando detetados cedo, os erros podem vir a tornar-se lucrativos. A inovação e o risco andam de mãos dadas e os erros são muitas vezes geradores de sucesso. O empreendedor bem sucedido considera no entanto que a prudência vale mais do que a ousadia. Uma das máximas de um célebre treinador de basquetebol, John Wooden, era “apressem-se devagar” e Saramago refere num dos seus livros, “não tenhas pressa, mas não percas tempo”. Os empreendedores bem sucedidos têm um comportamento marcado pela pro-atividade. O formador dos nossos dias tem que ser empreendedor, um “Agente da Mudança”, que “faça acontecer”, e, para “fazer acontecer”, é necessário que desenvolva competências transversais.
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DESAFIO:
No seu entender, quais são as competências transversais que estão associadas ao conceito de “Empreendedorismo”? Anote as suas conclusões.
Agora que já teve oportunidade de refletir sobre as competências transversais inerentes ao empreendedorismo, compare as suas conclusões com as competências que de seguida lhe apresentamos.
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Formação Pedagógica de Formadores Formador: Contextos de Intervenção
Assim, o empreendedor deve possuir:
Iniciativa Capacidade de comunicação Pensamento positivo Disposição para correr riscos e assumir responsabilidades Capacidade de Planeamento e de organização do trabalho Capacidade de definição de metas e de objetivos a atingir Aproveitamento de oportunidades - proativo Procura e gestão da informação Exigência de qualidade e eficiência Compromisso Autonomia Persuasão Independência Confiança e autoconfiança Persistência Intuição Liderança Inovação Criatividade Ousadia Resistência ao stress
O formador ao fazer uso destas capacidades e, ao promovê-las junto dos participantes, pode repensar o processo de ensino-aprendizagem, explorando-o do ponto de vista de novas soluções criativas que se adaptem às características, bem como às necessidades do grupo e do mercado.
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Formação Pedagógica de Formadores Formador: Contextos de Intervenção
Philipe Perrenoud. é um dos autores que mais se tem dedicado a esta temática das competências dos profissionais de ensino/formação, em particular das competências a desenvolver no contexto da formação contínua de formadores.
Philipe
Perrenoud
apresenta-nos
uma
proposta
das
10
competências emergentes para um profissional competente do século XXI:
1. Organizar e animar situações de aprendizagem; 2. Gerir a progressão das aprendizagens; 3. Conceber e fazer evoluir dispositivos de diferenciação pedagógica; 4. Comprometer os formandos com a sua aprendizagem e o seu trabalho; 5. Trabalhar em equipa; 6. Participar da gestão da instituição formadora; 7. Informar e inserir os restantes atores do processo formativo (responsáveis, chefias, parceiros, pares, etc.); 8. Usar novas tecnologias; 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; 10. Gerir a sua própria formação contínua.
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Formação Pedagógica de Formadores Formador: Contextos de Intervenção
6 Conclusão Final Como forma de dar resposta às necessidades do mercado e de qualificar os indivíduos, procedeu-se à reforma do Sistema de Educação e Formação, que deu origem à criação do Sistema Nacional de Qualificações (SNQ). Se até aqui o Sistema de Educação e Formação apenas considerava válidas as habilitações escolares, o SNQ passou a abranger as qualificações escolares e profissionais, integrando-as com objetivos e instrumentos comuns e sob um novo enquadramento institucional. Destaca-se como aspeto central da reforma a criação de cursos de dupla certificação, ou seja, a qualificação profissional e a qualificação escolar. Diante da necessidade de atualizar sistematicamente competências nos formandos, importa que o formador repense e reflita sobre as novas competências para ensinar. Neste contexto, o formador não pode ser apenas um agente inspirador, tem também que ser capaz de transpor os paradigmas tradicionais, e assumir-se como um agente de mudança, criativo e empreendedor. Por outro lado, a atuação do formador também não se limita apenas a um único contexto, estendendo-se cada vez mais a vários contextos de intervenção, trabalhando com diferentes públicos-alvo, ministrando formação inicial ou contínua, e conciliando várias modalidades de organização (presencial, elearning, blearning).
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Formação Pedagógica de Formadores Formador: Contextos de Intervenção
O formador, embora interagindo em contextos de formaçãoaprendizagem diferenciados, tem que possuir um conjunto de competências nucleares, que se traduzem na mobilização de conhecimentos, aptidões, comportamentos e atitudes, que são fundamentais para o desempenho da função.
Assim, para que o formador seja competente, deverá mobilizar um conjunto de conhecimentos, aptidões, comportamentos e atitudes, das quais
se
distinguem:
gestão
das
relações
interpessoais;
características individuais; conhecimento sobre o Sistema Nacional de Qualificações; ou domínio de plataformas e redes de interação online. É pois fundamental que o formador seja capaz de sair “do âmbito da sala” e ir para além do que é tradicional e convencional. Em suma, exige-se inovação, criatividade, diversidade e mediação. Deixamos-lhe de seguida uma síntese com as principais ideias subjacentes a este sub-módulo. Esta síntese é apenas um compêndio, uma vez que poderá aprofundar e explorar mais este tema no manual que também lhe é disponibilizado na plataforma.
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