PRIMEIROS SOCORROS PEDIÁTRICOS MÓDULO V
Alterações Gastrointestinais SESSÃO III www.nova-etapa.pt
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Mód. V: Alterações Gastrointestinais
ÍNDICE
Módulo V Alterações Gastrointestinais
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Objetivos Pedagógicos
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Conteúdos Programáticos
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Introdução
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1. Tipos e Causas da Gastroenterite
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2. Sintomatologia da Gastroenterite
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3. Desidratação
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4. Como tratar a Desidratação
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5. Cuidados a ter face à Gastroenterite
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Síntese Conclusiva
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Bibliografia
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Módulo V Alterações Gastrointestinais
OBJETIVOS PEDAGÓGICOS
No final deste módulo deverá ser capaz de:
Distinguir os tipos e causas da Gastroenterite; Descrever os sintomas e sinais da Gastroenterite; Reconhecer a Desidratação; Saber atuar face à Desidratação; Saber adotar outros cuidados em relação à Gastroenterite.
CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS
Tipos e Causas da Gastroenterite; Sintomatologia da Gastroenterite; Desidratação; Como tratar a Desidratação; Cuidados a ter face à Gastroenterite
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INTRODUÇÃO
Os problemas do sistema digestivo são frequentes em pediatria e todas as crianças estão em risco de desenvolver um caso de gastroenterite. Aos 5 anos de idade, praticamente todas as crianças já tiveram uma infeção e dois terços das crianças já tiveram um episódio mais do que uma vez. O maior pico de incidência situa-se entre os 2 a 5 anos. A gastroenterite é uma infeção gastrointestinal com irritação e inflamação do revestimento interno do estômago
(“gastro”)
e
do
intestino
delgado
(“entero”). É uma doença frequente na infância, que se propaga facilmente e na maioria das vezes não tem um tratamento específico. É uma doença benigna e autolimitada com uma duração de 3/8 dias, sendo o maior risco a desidratação. A transmissão pode dar-se através do consumo de água contaminada, alimentos crus, mal cozinhados ou da partilha de objetos pessoais. Em regiões com estações secas e chuvosas, a qualidade da água deteriora-se frequentemente durante a estação húmida, por outro lado, em regiões de estações temperadas, as infeções são mais frequentes durante o Inverno. O uso de biberões com recipientes mal esterilizados é uma das mais significativas causas de transmissão a nível global. As taxas de transmissão estão igualmente relacionadas com maus hábitos de higiene, e em indivíduos que apresentem já sintomas de má nutrição, mas a principal via de transmissão da gastroenterite é a via fecal-oral em que os microorganismos são frequentemente transmitidas por mãos sujas. A infeção pode ocorrer através do contato próximo com uma pessoa contaminada, compartilhando comida, bebida ou utensílios, através de gotículas de saliva ou através da tosse e espirros. 4 www.nova-etapa.pt
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Em termos de prevenção, a gastroenterite pode ser evitada seguindo as regras mais básicas de higiene: lavar as mãos após usar a casa de banho ou após trocar fraldas. não comer ou beber alimentos que podem ter sido contaminados. desinfetar superfícies (incluindo torneiras e puxadores de porta, lavar roupas contaminadas 60 ° C. ensinar as crianças a não colocar objetos na boca, não partilhar toalhas, talheres e outros objetos.
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1. TIPOS E CAUSAS DA GASTROENTERITE
Existem vários agentes infeciosos causadores da doença que se agrupam por categorias.
Gastroenterite viral - É a principal causa de gastroenterite aguda em crianças pequenas e em pediatria é provocada pelo rotavírus, contrariamente ao adulto em que a gastroenterite é provocada pelo noravírus. A epidemia, embora presente ao longo de todo ano, tem o seu pico nos meses de Inverno. A gastroenterite a rotavírus pode ser adquirida na comunidade e transmite-se muito facilmente entre crianças, especialmente quando existe contacto próximo entre elas, como acontece nas creches e escolas. É um vírus muito contagioso. A forma predominante de transmissão é a via fecal-oral. A relativa resistência do rotavírus à maioria dos desinfetantes e produtos de limpeza e a sua capacidade para sobreviver durante horas em superfícies, brinquedos e mãos, leva a que a transmissão seja ainda mais difícil de controlar e que possa ocorrer em locais com boas condições higiene sanitárias.
Gastroenterite Bacteriana - a principal causa de gastroenterite bacteriana nas crianças é a Salmonella, contudo pode ser causada por outras bactérias. Estão presentes na água contaminada, alimentos crus ou mesmo por alimentos cozinhados e que se mantêm à temperatura ambiente por várias horas, as bactérias multiplicam-se e potenciam o risco de infeção.
Gastroenterite Parasitária – Este ipo de gastroenterite pode ser provocada por uma série de protozoários, sobretudo pela Giardia e são responsáveis por cerca de 10% dos casos em crianças. É, no entanto, mais comum em pessoas que tenham viajado para regiões com grande prevalência do parasita e em crianças que frequentam jardins de infância.
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Gastroenterite não infeciosa - Existem uma série de causas não-infeciosas capazes de provocar inflamações do trato gastrointestinal. Entre as mais comuns estão: medicamentos como os anti-inflamatórios não esteroides, antibióticos, determinados alimentos como a lactose (nas crianças que são intolerantes) ou o glúten (naquelas com doença celíaca.
2. SINTOMATOLOGIA DA GASTROENTERITE A sintomatologia da gastroenterite numa criança/bebé infetada pode manifestar-se em 24 a 48 horas, sendo que os sinais e sintomas típicos são diarreia (especialmente macia ou fezes líquidas) e vômitos acompanhados de dor abdominal/cólicas, febre, perda de apetite, dor de cabeça e fraqueza extrema.
A) VÓMITOS EM CRIANÇAS E BEBÉS Na criança, as causas mais comuns e inofensivas de casos esporádicos de vómitos são excesso de comida, sobre-excitação, enjoo causado por viagens, mas noutros casos podem ser os primeiros sintomas de infeção no intestino (gastroenterite aguda), sobretudo quando associados aos vómitos existe diarreia. No caso dos bebés, no primeiro ano de vida, pode estar relacionado com a reduzida capacidade gástrica, expulsando, o bebé, o excedente ingerido, não devendo confundir com a regurgitação (bolsar) Este regurgitar corresponde a uma expulsão sem esforço após a alimentação, por vezes acompanhada de arrotos. Contudo, os vómitos em lactentes não devem ser desprezados, dada a possibilidade de uma infeção no trato gastrointestinal.
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B) DIARREIA EM CRIANÇAS E BEBÉS A diarreia é uma atividade, excecionalmente, frequente e aquosa dos intestinos acompanhado de dor abdominal forte. As causas mais frequentes são as virais e as menos frequentes as bacterianas e parasitárias, mas podendo ser também o resultado de intolerâncias alimentares, como por exemplo à proteína do leite de vaca, à medicação com antibióticos e às alergias.
3. DESIDRATAÇÃO A principal complicação de uma alteração gastrointestinal é a desidratação. Ela ocorre quando a pessoa não bebe a quantidade suficiente de líquidos para repor o que foi perdido através do vômito e diarreia. Quando desidratada, falta ao corpo a quantidade suficiente de líquidos e eletrólitos (sódio, potássio, cloreto) para funcionar adequadamente. Bebês, crianças, mas também os idosos e pessoas com sistema imune deficiente estão no grupo de maior risco de ficarem desidratados. A desidratação será mais grave e com um risco acrescido em pediatria, quando: Idade inferior a 12 meses. Não estão a ser amamentadas. 8 www.nova-etapa.pt
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Mais do que 8 dejeções por dia. Presença de sinais associados (ex: febre). Apresentam sinais de desnutrição.
SINAIS EVIDENTES DE DESIDRATAÇÃO Boca e mucosas secas; Pouca salivação; Comportamento anormal (irritabilidade ou prostração); Sede intensa; Olhos fundos e encovados; Diminuição do número de micções (menos necessidade de mudar fraldas, nos bebés); Fontanela deprimida (nos bebés); Ausência de lágrimas no choro.
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TESTE DA PREGA CUTÂNEA O teste mais simples para verificar se a criança/bebé apresenta sinais de desidratação é o teste do beliscão. Belisque ligeiramente e de forma suave a pele na parte lateral do abdómen e, em seguida, largue. Se a criança estiver hidratada, a pele fica achatada e de imediato retorna à sua posição normal. Em caso de desidratação, a dobra da pele demora alguns segundos (superior a 2 segundos) a desaparecer.
4. COMO TRATAR A DESIDRATAÇÃO O melhor tratamento para a desidratação é o repouso da criança/bebé em casa e promover/manter a hidratação adequada. A maioria dos pais/cuidadores consideram que se derem a ingerir à criança grandes quantidades de líquidos, mais rapidamente combatem a desidratação, esta ideia não poderia estar mais errada.
HIDRATAR Oferecer à criança/bebé líquidos (água, sumos naturais, chás que não tenham ação diurética) em pequenas quantidades e a intervalos regulares, incluindo alguns produtos de reidratação oral disponíveis no mercado (ex. Rehidrat, Hidrafix ou Pedialyte). 10 www.nova-etapa.pt
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Para crianças ˂ 1 ano, com alimentação por leite materno, manter a amamentação com redução da quantidade e menor frequência.
Quando uma criança tem diarreia e/ou vômitos, ela desidrata porque perde um grande quantidade de água. Mas essa perda não é de água pura, junto com a água há perda de diversos eletrólitos sais minerais - tais como potássio, sódio e bicarbonato. Assim, a reposição ideal deve ser feita com água e eletrólitos para evitar que a criança/bebé desenvolva alterações hidro eletrolíticas graves. Como opção de hidratação, pode preparar um soro caseiro e que terá os mesmos efeitos de uma solução de reidratação comprado. A preparação deste soro deverá conter cloreto de sódio (sal) e glicose (açúcar), sendo uma fórmula mais adequada que a água pura para repor as perdas causadas por quadros de diarreia/vómitos. Por vezes, a solução é preparada com quantidades erradas, seja de sal ou de açúcar, por forma a resolver esse problema utilize colheres padrão recomendadas pela UNICEF e que podem se adquiridas na farmácia.
Preparação do soro caseiro:
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Misturar 1 medida rasa de sal e duas medidas rasas de açúcar em 200 ml de água previamente fervida, para que o soro fique com as concentrações mais próximas do recomendado pelo Ministério da Saúde e a OMS (Organização Mundial de Saúde).
A validade do soro é de 24 horas e deve ser tomado ao longo do dia em doses pequenas, mas frequentes, para evitar que um rápido aumento do estômago estimule o reflexo do vômito.
As crianças com menos de dois anos devem tomar entre 50 ml e 100 ml de líquidos sempre a seguir a um episódio de diarreia. As crianças mais velhas devem beber entre 100 ml e 200 ml, após cada ocorrência de fezes aquosas. Se a criança vomitar, aguarde 10 minutos e depois administre a solução mais espaçadamente (por exemplo, uma colher de chá a cada 2 ou 3 minutos)
Outra forma de controlar indiretamente o estado de hidratação é através da urina. Crianças desidratadas poderão apresentar uma urina de cor mais concentrada, com odor mais forte e com pouco volume. Em caso, de múltiplos episódios de diarreia e se notar que a criança esteja a urinar pouco, a reposição de líquidos deve ser aumentada.
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QUANDO PROMOVER A IDA AO HOSPITAL Têm indicação de referência a uma unidade hospitalar, para avaliação e eventual terapêutica endovenosa, as seguintes situações: Idade inferior a 3 meses; Insucesso na hidratação oral (por incapacidade de administração por parte dos pais/cuidadores ou por intolerância da criança/bebé – ingestão insuficiente ou recusa de ingestão); Por agravamento do quadro clínico, com mais episódios de diarreia/vómito e maior desidratação, apesar da reidratação correta; Febre superior a 38,5ºC.
Como medida adicional, numa criança mais velha e com queixas de dor abdominal/cólicas, poderá utilizar um saco de água quente, sempre envolvido num pano ou toalha; sobre a barriga, conferindo algum alívio da dor.
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5. CUIDADOS A TER FACE À GASTROENTERITE
MEDICAÇÃO Não existe medicação específica para curar viroses gastrointestinais. E nem é preciso, pois na maioria dos casos a doença é autolimitada e de curta duração. A utilização de antieméticos (medicação que previne o vómito) deverá ser criteriosa, o uso de antidiarreicos não são também recomendados porque não são eficazes e podem ter efeitos nocivos, contudo, poderá ser considerada pelo médico, em casos particulares (lactentes com menos de 6 meses, malnutridos, imunodeprimidos ou portadores de doença sistémica grave. Relativamente aos antipiréticos para a febre, deve ser preferido o paracetamol, por via oral, nas doses recomendadas ao peso da criança.
ALIMENTAÇÃO A alimentação da criança com gastroenterite deve ser cuidadosa, é certo que ela não terá muito apetite, mas deverá ser alimentada, devendo fracionar as refeições. É importante que ela coma pouco de cada vez, várias vezes ao dia. Se a criança recusar, em determinado momento, ingerir algo, não insista, aguarde que ela sinta alguma fome. Dê preferência a alimentos cozidos, que são de fácil digestão e evite os alimentos crus, ricos em gordura ou fibras.
O que a criança deve comer: Arroz cozido com cenoura; Carnes brancas, como peru, frango ou peixe cozido; Frutas sem casca ou cozida, como maçã, pera ou banana; Sopas, canja, ou cremes de legumes. 14 www.nova-etapa.pt
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Alimentos a evitar: Leite de vaca, iogurte e queijos; Carnes vermelhas; Feijão, grão, favas, ervilhas; Frutas com casca; Verduras folhosas; Salgadinhos e frituras.
Esta restrição alimentar deve manter-se até a criança ficar mais de 24 horas sem episódios de diarreia e vômito. No caso de bebês que ainda mamam, deve-se manter a amamentação mesmo quando o bebê tem diarreia e vômito, porque o aleitamento materno confere fatores de resistência à infeção. No entanto, é importante que a mãe não deixe o bebê mamar muito de uma só vez, mesmo que ele queira, porque quando o estômago fica muito cheio há um maior risco do bebê vomitar logo após a mamada.
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SÍNTESE CONCLUSIVA A gastroenterite aguda é um dos principais motivos de doença e hospitalização nas crianças, em todos os países do mundo, sendo de fácil contágio. As infeções do trato intestinal, principalmente a viral e a bacteriana são, de longe, a causa mais frequente de diarreia e vómito na idade pediátrica, com a associação de outros sinais como a febre, as cólicas abdominais, a perda de apetite e fraqueza generalizada contribuem para um quadro de gastroenterite aguda. O principal risco da gastroenterite é a desidratação, sendo importante ter uma ideia do grau de desidratação da criança…sabendo isso, podemos ter diferentes atitudes perante esta doença, os pais/cuidadores ficarem mais descansados ou então, optar por consultar o médico assistente. A melhor forma de avaliar o estado da criança é o teste da prega cutânea, Por outro lado, torna-se necessário corrigir a desidratação utilizando soluções de reidratação oral. A utilização da via oral é o ideal, visto que o transporte intestinal de água, glucose e eletrólitos está mantido. Reiniciar a alimentação precocemente, evitando alimentos ricos em fibras e gordurosos e crus, optando por alimentos cozidos, que são de fácil digestão. Não deve administrar medicação desnecessária, exceto, a prescrita pelo médico.
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BIBLIOGRAFIA Pediatric Emergency Medicine Practice Acute Gastroenteritis Emergency Medicine Practice [S.l.: s.n.] 7 (7)
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Dennehy PH (2011). «Viral gastroenteritis in children». The Pediatric Infectious Disease Journal [S.l.: s.n.] 30 (1): 63–4.
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