INTELIGÊNCIA EMOCIONAL MÓDULO II
AS EMOÇÕES www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
ÍNDICE Módulo II – As Emoções
3
Objetivos Pedagógicos
3
Conteúdos Programáticos
3
1. Emoções (Conceito)
4
1.1. Emoção Vs Razão
10
1.2. A Reação Emocional
12
1.3. As Paixões Que Causam Sofrimento
15
1.4. As Paixões Que Causam Bem-Estar
18
1.5. O Controlo das Emoções
19
2 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
MÓDULO II – AS EMOÇÕES OBJETIVOS PEDAGÓGICOS No final deste módulo deverá ser capaz de: • Definir os principais elementos que constituem uma emoção; • Reconhecer a intensidade e orientação das emoções e saber para que servem as emoções; • Definir as paixões que causam sofrimento e as que causam bem-estar; Controlar as próprias emoções e desenvolvê-las.
CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS • As Emoções; • Emoção Vs Razão; • A Reação Emocional; • As Paixões Que Causam Sofrimento; • As Paixões Que Causam Bem–Estar; • Controlo das Emoções.
3 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
1.
Mód. II: As Emoções
EMOÇÕES (CONCEITO)
A palavra “emoção” é oriunda de “emovere”, cujo significado é “pôr em movimento”. Igualmente, nesta palavra, aparece o termo “moção”, que tem a mesma raiz da palavra “motor”. Quer isto dizer que a emoção tem como base o movimento, por isso é o motor dos nossos comportamentos. A emoção pode ser agradável ou desagradável. Está relacionada com uma situação definida e, normalmente, é de curta duração. Podemos identificar cinco elementos que definem uma emoção: ELEMENTOS
Modificações fisiológicas
Sensações agradáveis ou degradáveis
Expressões faciais
Comportamentos adaptativos
Avaliação cognitiva
MANIFESTAÇÕES Aceleração do ritmo cardíaco Aumento da tensão arterial Sudação Secura da boca Tensão muscular
COMENTÁRIOS
As reações do tipo fisiológico podem seguir um de dois caminhos, a ativação ou a inibição
Todas as emoções têm um caráter agradável ou desagradável e são elas que orientam os comportamentos no sentido da procura ou do evitamento
Alegria Prazer Dor Calma Apatia Sobrolho franzido Olhos semicerrados Maxilares e músculos tensos Ombros projetados para trás
Em todas as emoções existem expressões a nível da face e do corpo. Estas expressões têm a característica de serem universais São comportamentos desencadeados para garantir a sobrevivência. Eles são associados a comportamentos específicos
Alegria Prazer Dor Calma Apatia
Determina se a situação se apresenta como aceitável, se é correta ou incorreta, justa ou injusta, bela ou feia
Valores Ideais Princípios
4 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
Mas, para que servem as emoções?
Reagir com rapidez perante acontecimentos inesperados; Tomar decisões com prontidão e segurança; Comunicarmos de forma não verbal com outras pessoas.
“Sybille dirige-se para casa, no seu carro, após um fatigante dia de trabalho. Está escuro e a estrada é mal iluminada. De súbito, vê à sua frente, na berma, um peão. Assusta-se, trava e guina para o meio da estrada. A situação de perigo está ultrapassada. Mas quando olha para o peão verifica que foi vítima de uma ilusão de óptica: o suposto peão, vestido de escuro, é apenas uma pequena árvore, recentemente plantada.” (In O que é a Inteligência Emocional, Doris Martin e Karin Boeck) O cérebro emocional defende a nossa sobrevivência em situações limite, ocupa-se da transformação fisiológica do cérebro racional. Dá uma linha de orientação intuitiva, que ajuda a decidir entre uma enorme quantidade de possibilidades. O cérebro racional atenua e relativiza as ondas emotivas que invadem a mente. É através das emoções que conseguimos reagir com rapidez perante as situações de emergência em que não há tempo para raciocínios – ficamos prontos para combate, para a fuga, rígidos. O organismo responde de forma fisiológica, por exemplo através da produção de secreções hormonais. É também através das emoções que conseguimos, por vezes, chegar a uma decisão. É que quantas mais variadas são as possibilidades de escolha menos ajuda encontramos na lógica formal. Por vezes “algo nos diz” de que forma devemos decidir. “Essa coisa”, que por vezes sentimos e que se pode traduzir numa sensação física desagradável, tem o nome de indicador somático segundo António Damásio. Os indicadores somáticos, quer sejam positivos, quer sejam negativos, são sinais emitidos pelo cérebro emocional. O cérebro emocional é composto pelo sistema límbico e amígdala. 5 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
O sistema límbico apareceu com a aparição dos primeiros mamíferos. Este sistema envolve o bolbo raquidiano e é formado por um vasto emaranhado de estruturas, núcleos e conexões fibrosas. As suas estruturas mais importantes são o córtex límbico e a sua zona periférica, o conjunto do hipocampo e a amígdala. Enquanto o hipocampo, juntamente com algumas partes do córtex cerebral, armazena os conhecimentos de factos e contextos da nossa vida, a amígdala é a especialista para os assuntos emocionais. As
investigações
desenvolvidas
indicam
qual
a
importância da amígdala para o nosso comportamento social e para a nossa capacidade de recordar. Pessoas com a amígdala lesionada deixam de reconhecer as expressões de um rosto triste ou alegre. O cérebro racional é o neocórtex. Aos instintos, às emoções, juntou-se a capacidade de pensar de forma abstrata e para além do instante presente, a capacidade de compreender as relações globais existentes. O neocórtex permite-nos não apenas entender e resolver problemas de matemática, aprender filosofia e química, mas também proporcionar à nossa vida emocional uma nova dimensão. De cada lado do cérebro localizam-se as amígdalas, sendo as do homem maiores do que as dos outros animais. Elas são as "especialistas" nas questões emocionais, como já referido. Em casos de traumatismos, quando a amígdala tem que ser retirada, tornase impossível para a pessoa avaliar o significado emocional dos factos, sentir medo ou raiva. As lágrimas, exclusivas do ser humano, dependem delas. Nos sinais de perigo, a amígdala põe em funcionamento a rota de emergência, preparando a reação ansiosa, impulsiva, enquanto o cérebro racional prepara uma resposta mais adequada, refletida, apaziguadora. O lobo pré-frontal esquerdo regula emoções desagradáveis e no direito localiza-se o medo, a agressividade. Quando a amígdala dispara, o lobo pré-frontal esquerdo desliga a emoção perturbadora. Crianças com deficiência no funcionamento do córtex frontal demonstram baixo desempenho escolar, mesmo com Q.I. médio.
6 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
Elas tendem a um baixo controlo sobre a sua vida emocional, podendo chegar ao alcoolismo, à criminalidade. São dois cérebros: um emocional e um racional e o nosso desempenho na vida é determinado pelos dois. Daniel
Goleman
descreve
o
funcionamento do cérebro, que tem pouco mais do que um quilo de células e cresceu de baixo para
cima.
Na
parte
mais
primitiva ele pensa, aprende. Desta raiz primitiva surgem os centros emocionais, o pensamento, os sentimentos. Depois, surge o aprendizado e a memória. O sentido do olfato é o mais primitivo, determinando nos animais a caça, a procura do parceiro sexual. No Homo Sapiens, o neocórtex é a sede do pensamento; permite a complexidade emocional, o ter sentimento sobre os sentimentos, a afeição materna, o compromisso a longo prazo com a criação dos filhos. As espécies sem o neocórtex não fazem o acabado de referir. A título de exemplo podemos verificar que mudanças a um só nível podem ser suficientemente elucidativas de qual a emoção que alguém está a sentir, como seja a alteração do padrão ventilatório (fig. 1).
Figura 1 – Gráficos dos padrões ventilatórios
7 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
Veja agora um excerto do filme “Cérebro Esquerdo, Cérebro Direito”.
Podemos visualizar as emoções de acordo com os dois eixos, a orientação e a intensidade, os quais estão implicados nas suas caracterizações e que são da responsabilidade dos componentes atrás analisados (fig. 2).
Medo
Cólera
Receio
Agressividade
Inquietação
Frustração
Apreensão
Contrariedade
Desolação
Satisfação
Deceção
Contentamento
Mágoa
Alegria
Tristeza
Amor
Fig. 2 – Intensidade e orientação das emoções
8 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
As emoções são algo que ocorre como reação a um acontecimento no nosso meio ambiente, mas podem também ser uma reação a algo que se imagine ou fantasie. Podemos viver uma situação e daí ser originária uma determinada reação emotiva, ou podemos apenas imaginar a situação e ter o mesmo tipo de reação. Para além deste aspeto de reatividade emocional vivida ou imaginada, o que nos leva a compreender que uma emoção também pode ser aprendida, existe também o aspeto de que algumas emoções têm um caráter inato ou seja tem um registo genético, serão as chamadas emoções primárias (alegria, tristeza, medo, ira, surpresa e a rejeição), as quais são fundamentais para assegurar a nossa sobrevivência. Para além das emoções ditas primárias, existem as emoções secundárias, estas resultantes duma aprendizagem, que tem origem na associação de diversos acontecimentos e reações emocionais. É exemplo destas emoções secundárias o medo de perder o emprego, gerando uma emoção de medo e de insegurança, o qual é muito diferente do medo sentido quando se está frente a uma cobra numa floresta. O medo de perder o emprego, de não poder trabalhar e de faltar o dinheiro, é algo de caráter cognitivo, que implica uma avaliação da situação. As emoções primárias e secundárias são por assim dizer emoções simples, mas podemos experimentar um composto ou mistura de emoções, à luz do que acontece com as cores primárias que quando misturadas originam cores compostas. Por exemplo, para obter o verde é necessário misturar o azul e o amarelo, de forma paralela poderemos dizer que numa mistura entre o medo e a surpresa encontraremos o receio, o amor será a combinação da alegria e da aceitação, enquanto a submissão terá origem na combinação de medo e aceitação.
9 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
1.1
Mód. II: As Emoções
EMOÇÃO VS RAZÃO É notório nesta situação o funcionamento de duas mentes, uma que racionaliza e verbaliza o que se quer demonstrar – mente racional, a outra que não racionaliza e que apenas com umas lágrimas revela o que se sente – mente emocional. São estas as duas pedras alicerces que na sua interação constroem a nossa vida mental. A mente racional do domínio do cognitivo, é a compreensão de que temos consciência, é o pensamento elaborado, capaz de refletir. A mente emotiva do domínio da emoção é caracterizada pelo conhecimento impulsivo, poderoso e muitas vezes ilógico.
“É vulgar dizermos que o ser humano é um ser racional mas, por outro lado, dizemos que é sensível e emotivo. Para esquematizar, podemos dizer que temos dois cérebros: um cérebro racional e um cérebro emocional.” Daniel Chabot (Cultive a sua Inteligência Emocional), 2000
Na maioria dos momentos vividos, estas duas mentes encontram-se suavemente coordenadas, ou seja, é tão fundamental o sentimento para o pensamento, como este para o sentimento. Mas não esquecer que quando a paixão cresce a balança cai para o lado do emocional e aí é a mente emocional que toma o leme sulcando profundamente sobre a mente racional. Duma forma extremamente satírica e rica já encontramos no séc. XVI com Erasmo de Roterdão, a referência a este duelo imparável entre a emoção e a razão.
10 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
“Para que a vida humana não fosse totalmente triste e enfadonha, Júpiter concedeu-lhe muito mais paixões do que razão, na proporção de um asse para meia onça. Além disso, relegou a razão para um canto estreito da cabeça, deixando todo o resto do corpo entregue ao domínio das paixões. Por fim, opôs à razão isolada a violência de dois tiranos: a Cólera, que domina a cidadela do peito, com a fonte da vida, que é o coração, e Concupiscência, cujo império se estende até ao baixo-ventre. Como conseguirá a razão defender-se destes dois inimigos, para mais reunidos? A vida comum dos homens mostra-o com bastante clareza. A razão apenas consegue gritar, até enrouquecer, as leis da honestidade. É rainha de quem os homens troçam e injuriam até que cansada, se cala e se confessa vencida.” Erasmo de Roterdão, sec. XVI
11 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
1.2
Mód. II: As Emoções
A REAÇÃO EMOCIONAL
“Foi uma tragédia de enganos. Matilda Crabtree queria apenas pregar uma partida ao pai: saltou do armário e gritou “BUUUU!” quando os pais entraram em casa naquela manhã, depois de terem estado fora, de visita a uns amigos. Bob Crabtree e a mulher, no entanto, pensavam que Matilda passara a noite em casa de uma amiga. Ouvindo barulho ao entrar em casa, Bob pegou no seu revólver e foi investigar o quarto da filha. Quando Matilda saltou de dentro do armário, Bob atingiu-a no pescoço com um tiro. Matilda faleceu doze horas depois.” (In Inteligência Emocional, Daniel Golman) A reação emocional segue um percurso com três momentos diferentes e em tempos diferentes. Como já foi referido ela caracteriza-se por ser extremamente precisa no seu início, estar relacionada com uma situação explícita e de duração curta. Vejamos como Chabot descreve este processo e que se ilustra com a situação de perigo, face ao frente a frente com uma serpente (fig. 3). Primeira etapa: uma reação extremamente rápida Paul Ekman explica que a expressão emotiva começa a manifestar-se ao nível da musculatura facial em menos de um milésimo de segundo após o aparecimento do estímulo que a desencadeia. Do mesmo modo, as reações fisiológicas que acompanham a emoção demoram uma fração de segundo a iniciar-se. Duas estruturas cerebrais estão implicadas a este nível, a amígdala e o hipocampo. A amígdala é uma estrutura fulcral para as
emoções.
sentinela
É
que
uma
espécie
examina
de
muito
rapidamente e muito grosseiramente cada indício do que nós percebemos. Durante este processo de “scanning”, a nossa amígdala-sentinela tem permanentemente uma questão em mente: Existe no que acontece neste momento alguma coisa que eu detesto? Que eu amo? Que me choca? Que me faz medo? Que me diverte? Que me irrita? 12 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
Ou que me fascina? Desde que a resposta seja “sim”, a amígdala reage instantaneamente, enviando uma mensagem por todo o corpo e cérebro, de forma que reajamos em função da conclusão da sua análise preliminar. Estes “conhecimentos” que a amígdala possui sobre os acontecimentos e as coisas, e as reações comportamentais despoletadas sob o seu comando, provêm da sua capacidade de memorizar. É a memória emocional. Esta memória regista todos os vínculos condicionados que existem entre os acontecimentos, as pessoas e as coisas. É portanto a amígdala que retém na memória as nossas reações emocionais primárias e secundárias. O hipocampo é uma estrutura essencial para a aprendizagem. As informações que chegam ao hipocampo vão constituir a memória narrativa muito importante para a significação emocional. É o hipocampo que, por exemplo, permite dar um sentido diferente a um urso que vemos no jardim zoológico ou a um urso com que nos deparamos na floresta. O hipocampo memoriza os elementos que caracterizam as situações, os objetos e as pessoas.
Figura 3 – Reação emocional
Tomemos agora um exemplo que foi descrito por Joseph LeDoux. Imagine que caminha pelo campo e vê uma forma sinuosa sobre o solo. Fisiologicamente, os olhos captam esta forma e, através do nervo ótico, enviam-na ao tálamo visual. Este, por sua vez, envia esta informação visual ao córtex visual para este analisar cada detalhe. Mas, de 13 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
passagem, ele transmite à amígdala alguns fragmentos grosseiros destas informações visuais. Esta transmissão rápida, mas rude, permite ao cérebro preparar o organismo para uma reação pronta face a um perigo potencial, ao transmitir impulsos nervosos em direção ao tronco cerebral cujo papel será o de acelerar a frequência cardíaca, aumentar a pressão sanguínea e contrair os músculos. A figura 3 ilustra a primeira etapa do processo emocional com a ajuda deste exemplo. Segunda etapa: uma análise mais alargada da informação Enquanto a amígdala está em estado de alerta, as informações elaboradas, vindas do tálamo visual, são encaminhadas em direção ao córtex visual onde são tratadas em profundidade. Aqui, as informações são interpretadas de forma a identificar corretamente aquilo que se passa na realidade: trata-se realmente de uma serpente ou de um simples ramo de árvore? Se o córtex visual constata que se trata mesmo de uma serpente, envia então uma ordem suplementar à amígdala para confirmar a perceção inicial e maximizar a reação emocional de medo e o comportamento adaptativo de fuga. Pelo contrário, se o córtex visual conclui que o objeto suspeito não é uma serpente, mas um vulgar ramo torcido no solo, envia uma mensagem à amígdala para inibir a reação de medo. Todas estas reações ocorrem num prazo muito curto, mas muito mais lentamente do que as emoções. Terceira etapa: uma análise racional da situação Enquanto todas estas reações decorrem a uma velocidade
astronómica,
o
córtex
frontal
testemunha tudo o que se desenrola e analisa a situação. Ele é posto ao corrente das reações emocionais provocadas pela amígdala e da análise das informações visuais pelo córtex visual;
depois,
ele
deve
coordenar
os
acontecimentos que se seguem. Fará então apelo às suas experiências que poderão ajudá-lo a fazer face à situação, ou poderão prejudicá-lo. Quando o córtex frontal chega à conclusão que se trata de uma serpente, pode reagir de maneiras diferentes. Pode “racionalizar” a situação e concluir que é necessário não entrar em pânico, que tudo o 14 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
que se deve fazer, sem perder a calma, é contornar esse sítio e continuar o seu caminho. Também pode ficar completamente à mercê das emoções e perder o controlo dos acontecimentos. Neste caso, arrisca-se a que as reações sejam completamente irracionais: poderá começar a chorar, a correr em todas as direções ou a bater no réptil com um pau.
1.3
AS PAIXÕES QUE CAUSAM SOFRIMENTO
Raymond W. Novaco estabelece quatro classes de provocação que podem desencadear a indignação:
Frustrações: uma má nota, um castigo; Acontecimentos irritantes: a perda de algo; o ruído em casa do vizinho; Provocações verbais e não verbais: a observação sarcástica do chefe, o carro
que nos ultrapassa pela direita na auto-estrada;
A falta de correção e a injustiça: uma crítica despropositada, um aumento de
impostos desproporcionado do ponto de vista social. As situações que nos provocam indignação são, por norma, de carácter social. Segundo Michael Siebert, a família, o trabalho, os vizinhos,
os
funcionários
de
atendimento e o trânsito são os fatores que, com maior frequência, dão lugar à indignação. Quando ocorre a indignação, o organismo prepara-se tanto para a luta
como
para
a
defesa.
Desencadeiam-se reações, destinadas à mobilização de energia. A concentração de 15 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
adrenalina e de noradrenalina aumenta, assim como a pressão arterial. Os batimentos do coração aumentam, a respiração altera-se, os músculos contraem-se.
O aumento de pressão sanguínea faz com que o cérebro se alheie de outros estímulos exteriores. Cegos de raiva, temos apenas um objetivo:
Libertar a cólera.
A autoconfiança baseada numa ilusão de poder e de invulnerabilidade. Nesta fase, não aceitamos qualquer argumento do nosso opositor. Antes pelo contrário, tudo aquilo que possa dizer só serve para “atiçar a fogueira” da cólera. A cólera é capaz de libertar energias insuspeitas. Uma das formas de sobrevivência na pré-historia era a utilização da cólera. Para o homem primitivo a sua utilização era determinante em condições de alto risco. As energias que eram concentradas para a luta esgotavam-se no combate e na fuga. Por isso, não havia excessos de energia. Nos tempos atuais verificamos que o homem tem alguma dificuldade em dar azo à sua indignação. Esta vai aumentando sem haver um escape, o que acaba por originar uma “explosão” de ira normalmente inoportuna e despropositada. Quando essa ira é interiorizada, sucede, por vezes, os transtornos psicossomáticos, como as úlceras, a hipertensão, as doenças coronárias. Segundo um estudo de Redford Williams, 20% das pessoas tem tendência para a indignação. Outros 20% é capaz de conservar a calma em situações extremas, enquanto os restantes situam-se entre os dois extremos. Existem algumas formas de se tentar ultrapassar a ira, concretamente, a introspeção que é uma forma de conseguir interromper o processo automático da indignação e efetuar uma reavaliação da situação que desencadeou a indignação. Uma outra forma é dar uma interpretação positiva à situação, outra é a atividade física, o relaxamento e a distração, e finalmente a auto-afirmação. 16 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
A auto-afirmação deve ser efetuada após as ânimos acalmarem, explicando sensatamente e calmamente quais os motivos que levaram à indignação. O Medo é uma reação perante situações ameaçadoras em que perdemos o controlo da situação. Os fatores que desencadeiam medo são, por exemplo:
Os perigos de caráter geral, como as catástrofes naturais, a velhice, a intervenção
cirúrgica a que vamos ser submetidos;
Situações desconhecidas, não previsíveis, como ter que mudar de cidade; Problemas morais; Prestações, como um novo desafio profissional.
Há basicamente duas formas de superar o medo, a saber:
Superação instrumental: perigo reconhecido, perigo superado; Superação orientada às emoções mediante reavaliação; Superação orientada das emoções por meio de dessensibilização.
Finalmente, a tristeza e a depressão vulgar, são reações de adaptação a mudanças ou perdas, especialmente em relação às quais não conseguimos arranjar um sentido, como:
As perdas irreparáveis, como a morte de
alguém próximo;
A perda de objetivos, de poder, de posição,
como a perda do emprego;
Os traumas do passado;
17 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
A discriminação e a vivência da própria indefensibilidade, como as alterações do
amor próprio de uma pessoa que foi vítima de um ato de violência. Contudo, a tristeza e a depressão podem ser motivadas por outro tipo de problemas. Os antídotos para estes problemas podem ser, entre outros, a “cura por completo”, isto é, quando a depressão é momentânea e está perfeitamente identificado o que a originou, então vamo-nos curar, tal como sucede com uma constipação, e a “distração”, que continua a ser dos antídotos mais importantes para determinado tipo de tristezas.
1.4
AS PAIXÕES QUE CAUSAM BEM-ESTAR “Amor é fogo que arde sem se ver É ferida que dói e não se sente É um contentamento descontente É dor que desatina sem doer” (Luís de Camões)
O amor exprime-se através de sentimentos afetuosos, de relaxamento, calma e satisfação, facilitando especialmente a cooperação. A felicidade inibe os sentimentos negativos, silencia os pensamentos de preocupação. Neste estado emocional não se observa qualquer mudança particular na fisiologia. A pessoa experimenta a tranquilidade, o repouso, o entusiasmo, e mostra disposição para tarefas imediatas, para marchar rumo às metas. A paixão, o enamoramento
“Os teólogos elaboraram uma expressão para indicar esta dádiva; graça e, quando o amado diz que também ele o ama e faz amor com ele, e sente o total abandono do outro, então é feliz, o tempo deixa de existir, aquele momento torna-se, para ele, eterno. E nunca olvidará, não poderá jamais esquecê-lo.” (In Amor e Enamoramento, Francesco Alberoni) 18 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
A paixão move montanhas, é o “estado nascente”, segundo Alberoni. A paixão é absorvente, arrebatadora. Por vezes, parece que as pessoas levitam, tudo é tão natural, tão cor-de-rosa.
1.5
CONTROLO DAS EMOÇÕES
O reconhecimento das próprias emoções é determinante para a vida emocional. A chave de acesso ao Mundo Emocional é a atenção. Esta atenção tem subjacente o facto de nos apercebermos do nosso mundo interior e não nos deixarmos dominar por ele. Para percebermos as nossas próprias emoções, controlá-las e desenvolvê-las, precisamos de um distanciamento interior em relação a nós próprios. A Meta-Mood, segundo alguns psicólogos. Não é mais do que a sensibilidade de cada um perante as suas próprias emoções. De as analisar de um forma isenta e objetiva. A autoobservação amplia a consciência dos sentimentos e faz-se através da atenção não reativa, não julgadora dos estados emocionais. Cultivar uma vida emocional desta forma, pressupõe três aspetos:
Deixar de submeter as emoções à censura. As emoções não são boas nem são
más. São simplesmente informações sobre nós próprios;
Ter por hábito dar atenção aos sinais emocionais que o corpo transmite. Sintomas
físicos (tensão nos músculos, suores, dores de cabeça, contração do estômago) ou sinais cognitivos como a irritabilidade, a falta de concentração para poder descrever corretamente o que se está a sentir;
Tentar saber o que originou esse sintoma. 19 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
As formas de tentarmos controlar as nossas emoções são o apaziguamento, a repressão e a modificação da situação. A auto-observação amplia a consciência dos sentimentos e faz-se através da atenção não recetiva, não julgadora dos estados emocionais, como já mencionado. Atitudes como “não me devo sentir assim”, “não quero pensar nisto”, não são suficientes para deter os sentimentos. Goleman descreve quatro tipos emocionais:
Os autoconscientes, que têm a clareza quanto à emoção e a capacidade de dar-
lhe o nome exato, ou seja, sabem identificar a emoção;
Os mergulhados, inundados pelas emoções, pouco conscientes dos próprios
sentimentos, tendentes ao descontrolo;
Os resignados, que mesmo tendo clareza, aceitam o seu estado emocional e têm
pouca motivação para mudar;
Os somatizadores, com sérias dificuldades em identificar as emoções,
expressando-se “sinto-me péssimo”. Quanto mais aberta a pessoa está para as próprias emoções, mais hábil se torna na leitura das emoções do outro. A empatia permite entender como o outro se sente, aperceber-se dos sentimentos pelo tom de voz, gestos, expressão facial. Ela decorre da autoconsciência e desenvolve-se mais quando, por exemplo, os pais conseguem chamar atenção dos filhos sobre a forma como as pessoas se sentem em consequência de seu comportamento. A mensagem: "Vê com ele ficou triste quando fizeste isto", é mais efetiva que dizer: "Não podes fazer isto" ou "Não está correto tratar alguém assim". Pessoas sem ouvido emocional são confusas sentimentos
quanto e
aos
próprios
sentem-se
perplexas
quando o outro expressa as suas emoções.
Casos extremos de falta de empatia podem resultar em atos cruéis, uma vez que a 20 www.nova-etapa.pt
Inteligência Emocional eLearning
Mód. II: As Emoções
pessoa pode chegar a não sentir medo do que lhe possa acontecer, nem piedade pela dor do outro. A competência social é definida pela eficácia nas relações com os outros: deixar o outro à vontade, inspirá-lo. Os sinais emocionais são poderosos, ajudam o outro a mudar para melhor ou para pior. A maneira como a pessoa diz algo pode levar ao constrangimento ou à descontração, pois existe uma mímica motora inconsciente: imitamos a emoção do outro. Se alguém está irritado ou sorridente, os nossos músculos mostram sinais de repetição. Especialmente as pessoas mais impressionáveis são mais prontamente movidas pelos sentimentos dos outros. Os rudimentos da inteligência emocional são visíveis, quando a pessoa é capaz de oferecer consolo, organizar grupos, negociar soluções. A capacidade de ser autêntico e a rapidez na leitura das reações e emoções destaca a inteligência social. O incompetente social diz uma coisa e faz outra, ou busca um sinal do outro para então dar a sua opinião, estraga o clima, faz brincadeiras fora de hora, comentários constrangedores. Certamente estes não aprenderam o básico na infância: iniciar o contacto social, falar diretamente.
21 www.nova-etapa.pt