Relações Interpessoais_MódII-A Relação com os Outros

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Mód.I. Sessão 2: A Relação com os Outros

ÍNDICE Módulo II – A RELAÇÃO COM OS OUTROS

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Objetivos Pedagógicos

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Conteúdos Programáticos

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1. A Importância da Autoestima e a Relação com os Outros

3

2. Características da Perceção Social

8

3. Distorções Recorrentes da Perceção Social

11

4. Efeito da expectativa

13

5. Comportamentos Defensivos

15

6. Imagens mentais e “Nevoeiro Psicológico”

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7. Sugestões para melhorar a Autoestima

24

8. Anexo: Teste de autoestima

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MÓDULO I. SESSÃO 2 - A RELAÇÃO COM OS OUTROS OBJETIVOS PEDAGÓGICOS No final deste módulo o formando deverá ser capaz de:  Reconhecer os fatores externos e internos associados à perceção social;  Reconhecer as principais distorções decorrentes da perceção social;  Distinguir e caracterizar os principais comportamentos defensivos;  Avaliar o impacto da expectativa no comportamento individual e na relação com os outros;  Identificar as etapas do processo de formação das imagens mentais;  Reconhecer estados mentais de “pré-ocupação” e “nevoeiro psicológico” como fatores condicionadores do relacionamento;  Identificar

as

principais

estratégias

para

melhorar

o

processo

comunicacional: técnicas de feedback e escuta.

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS  Conceito de perceção social;  Fatores externos e internos associados à perceção social;  Distorções decorrentes da perceção social: categorização e estereotipia;  Noção de comportamentos defensivos;  Características dos comportamentos defensivos;  Impacto da expectativa no comportamento individual e na relação com os outros;  Noção de imagem mental;  Etapas do processo de formação das imagens mentais;  Características dos estados psicológicos “pré-ocupado” e de nevoeiro psicológico;  Efeito condicionante dos estados psicológicos “pré-ocupado” e de nevoeiro psicológico;  Técnicas de feedback e escuta ativa.

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1. A IMPORTÂNCIA DA AUTOESTIMA NA RELAÇÃO COM OS OUTROS

“A maior descoberta desta geração é que as pessoas podem alterar as suas vidas, alterando as suas mentes.” William James

Aquilo que cada um julga ser, determina as suas ações e o seu comportamento e é o resultado das diferentes respostas que os outros com quem interagimos dão ao nosso comportamento. Assim, cada indivíduo elabora uma imagem de si mesmo, em função do tipo de relação que estabelece com os outros. Propomos-lhe agora analisar uma história e pôr em prática os conceitos até agora abordados. Conhece a história do jovem leão, recentemente nomeado rei da selva? Não? Então vamos lá. Era uma vez um jovem leão que, ao atravessar a estepe, encontrou um coelho bravo. O leão assumiu toda a sua postura

de

altivez

e

ferocidade,

endireitou-se

sobre

o

coelho

e

perguntou-lhe: “- Ouve lá, ó coelhinho, quem é aqui o rei dos animais?” O coelho,

petrificado

pelo

medo,

apressou-se a dizer: “- Certamente que sóis vós, Vossa Majestade!”. Então o leão sorriu bem disposto para o coelho assustado e em tom benevolente disse: “- Muito bem, podes seguir!”.

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A seguir o leão encontrou uma gazela e a cena repetiu-se. Rugiu de novo a sua pergunta ao animal assustado e obteve a mesma resposta de confirmação do seu poder. “- Certamente que sois vós, Vossa Majestade!”. E o leão disse novamente bem disposto: “- Podes seguir!”. A mesma cena repetiu-se ainda mais algumas vezes com um veado, uma zebra e uma girafa.

Todos estes animais eram mais pequenos ou mais fracos do que o leão e, deste modo, reconheceram-no e comportaram-se como tal. O leão foi-se tornando assim mais arrogante e convencido da sua superioridade. Por fim, encontrou um rinoceronte. Em condições normais tê-lo-ia evitado, mas naquele dia sentia-se particularmente confiante. Endireitou-se ferozmente com todo o seu corpo e rugiu: “- Ó rinoceronte, quem é aqui o rei dos animais?”. Normalmente, o rinoceronte não lhe teria prestado muita atenção, mas naquele dia sentiu-se algo intimidado pela postura ruidosa e segura do leão e, por isso, disse: “- Naturalmente sois vós, Senhor Leão!” Seguindo o seu caminho, o leão encontrou um elefante mais adiante. Do seu ponto de vista, pareceu-lhe estar numa posição superior, por isso fez a mesma pergunta ao elefante, com um rugido. O elefante não se fez esperar. Reagiu de imediato e, sem cerimónias, levantou uma pata e pousou-a devagar em cima do

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leão, enterrando-o na lama até ao pescoço, e prosseguiu o seu caminho sem sequer se voltar. Então o leão, enquanto tentava desesperadamente libertar-se, gritou para o elefante, que se afastava calmamente: “Ainda é preciso perguntar?”1 Que conclusões podemos tirar desta história?  Que construímos uma imagem de nós próprios;  Que nos comportamos de acordo com essa imagem;  Que a nossa imagem pode não coincidir exatamente com a realidade;  Se existe uma grande discrepância entre a imagem de que temos de nós e a realidade, a relação é afetada;  Se a relação é afetada, também a nossa autoestima é afetada.

Isto significa que, de cada vez que estabelecemos uma relação face a face, procuramos “medir as nossas forças” com o outro. Tal como aconteceu nos diferentes confrontos entre o nosso leão e os outros animais, de certa forma, em cada relação, procuramos avaliar em que medida o outro é maior, menor

ou

igual

à

nossa

imagem.

Os

comportamentos que assumimos decorrem desta nossa análise prévia, inconsciente e imediata. Assim, se consideramos que o outro é inferior a nós, assumimos uma postura diferente da que assumiríamos se o considerássemos mais forte. De igual modo, se nos sentimos numa posição de fragilidade, por a nossa imagem ser “inferior” à do outro, então certamente assumiremos um outro tipo de comportamento.

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Retirado e adaptado de A Arte da Comunicação, de Vera Birkenbihl, Ed. Pergaminho, Lisboa, 2000 5|P ági na www.nova-etapa.pt


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O problema é que a nossa autoimagem nem sempre coincide com a realidade. Ou seja, o nosso comportamento é baseado na nossa apreciação e não na realidade. E, se a discrepância entre a autoimagem e a realidade é muito grande, o relacionamento entre os indivíduos ressente-se. Se o relacionamento se ressente, necessariamente que a autoestima pode ser afetada.

Recorda-se da história daquele casal que ia ao cinema, cujo marido perguntou as horas à mulher? Havia várias hipóteses de resposta. Analisemos apenas duas delas: 1ª. Hipótese Marido: “- Sabes que horas são?” Mulher: “- É pá, estamos atrasados, já são dez para as nove! Já tens a chave do carro?” Vamos tentar perceber a relação de forças que se estabeleceu neste diálogo. Qual lhe parece assumir uma posição dominante? O marido? A mulher? Parecenos que se encontram numa posição de igualdade. A comunicação processa-se de forma aberta e verdadeira, sem nenhum procurar uma segunda intenção no que foi dito. Nenhum reage de forma defensiva, por não se sentir ameaçado na sua autoestima.

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2ª. Hipótese Marido: “- Sabes que horas são?” Mulher: “- Mas porque é que me culpas sempre? Se me atraso é porque tu nunca me ajudas em nada. Tenho de fazer tudo sozinha!” Nesta situação, a mulher reage de forma defensiva porque se sente agredida no seu sentimento de autoestima. Por alguma razão, ela sente que está a ser criticada ou acusada pelo marido e, por isso, decide responder de forma defensiva, atacando.

O que interessa na relação, mais do que as reações negativas que os interlocutores possam manifestar, é o modo como cada indivíduo interpreta essas reações. É o modo como cada pessoa se olha, se vê, se sente e se percebe que determina o modo como vai abordar as várias situações sociais. Em resumo: Aquilo que cada um julga ser, determina as suas ações e o seu comportamento.

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2. CARACTERÍSTICAS DA PERCEÇÃO SOCIAL

O que vê na primeira imagem. Uma jarra? Duas caras de perfil? Ambas as coisas? E na segunda? Uma jovem mulher sedutora, ou uma velhinha de lenço branco? Ou as duas? Mas afinal de contas que interesse é que isto tem para as relações interpessoais? De que forma estas imagens se relacionam com o nosso tema? É através dos sentidos que captamos a realidade envolvente. Nós estamos constantemente a ser “bombardeados” com informação proveniente das mais variadas situações. Perante esta multiplicidade de estímulos aos nossos sentidos, e pela impossibilidade de abarcar e processar todos, existe uma necessidade de selecionar e discriminar os estímulos de tal modo que possam ser interpretados e fazer sentido nos nossos pensamentos. Na nossa cabeça tudo tem de fazer sentido: não existem puzzles com peças em falta.

Todas

têm

de

encaixar

para

as

entendermos e percebermos. É por essa razão que as duas imagens apresentadas atrás, podem ser vistas de formas diferentes por pessoas diferentes. Uma só imagem pode ser vista de forma diferente dependendo da forma como os estímulos visuais são rececionados. 8|P ági na www.nova-etapa.pt


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Uns organizam os contrastes e as manchas brancas e verão a imagem que se encontra em primeiro plano (a jarra), outros, pelo contrário, prestarão mais atenção às manchas escuras e verão a imagem em segundo plano (as caras). Em resumo, cada indivíduo organiza os diferentes estímulos sensoriais e integraos num quadro coerente e significativo que constitui a sua própria realidade. Por sua vez, a perceção da realidade que cada um constrói é profundamente marcada pelas suas experiências de vida, pelos seus conhecimentos, pela sua idade, pelos seus valores, enfim, por todo o seu quadro de representação. O hábito pode afetar a nossa maneira de perceber as coisas, enquanto a nossa aprendizagem

pode

influenciar

o

nosso

aparelho

percetivo,

gerando

expectativas relativamente àquilo que percebemos. Vemos aquilo que esperamos ver (…). Com efeito, a formação particular de cada um afeta a sua perceção. Um médico, um mecânico e um agente da autoridade comentarão o mesmo acidente de viação a que assistiram, focando aspetos completamente diferentes. O médico referirá as pessoas e o tipo de ferimentos, o mecânico comentará os estragos nos automóveis, o agente da autoridade tentará perceber quem foi o responsável pelo acidente. Cada um relacionou os aspetos que lhe pareceram mais importantes. De certo modo, nós temos “redes” na nossa cabeça. Estas “redes” não são feitas de fio, mas de tudo aquilo que faz com que um indivíduo seja único: os nossos comportamentos fisiológicos, as nossas motivações, aspirações, necessidades, interesses, medos, desejos, aprendizagens e experiências passadas, formação, etc. Estas “redes” agem como filtros e todos os estímulos provenientes do meio passam através desses filtros antes de serem percebidos. Cada um de nós possui o seu próprio sistema de filtros. Apesar de partilharmos o mesmo meio e estímulos com as outras pessoas, filtramos deles aspetos diferentes.”2

2

Myers, M., Les Bases de la comunication interpersonnelle, MacGraw-Hill, Quebec, 1984 9|P ági na www.nova-etapa.pt


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E, por falar nisso, por acaso comprou um automóvel novo recentemente? Sim? E reparou quantos carros iguais ao seu havia a circular? Exatamente do mesmo modelo e da mesma cor? Logo você que pensava que era um automóvel invulgar… E alguma das senhoras é mãe? Sim? E o que dizer da quantidade de grávidas que havia no tempo em que estava à espera do seu bebé? Incrível como foi um ano fértil, não é verdade? E o mais curioso é que depois de a criança nascer, todas as grávidas desapareceram, dando lugar a crianças com nome igual ao do seu filho… Quem diria? Se soubesse que havia tantas crianças com esse nome se calhar até tinha optado por outro. Não acredite em nada disto! Tudo isto são consequências da sua filtragem da realidade que, momentaneamente, estava mais desperta para estes pormenores por serem naquele momento centrais no seu pensamento. Já agora, gostava de saber qual o seu sentido mais desperto, aquele que usa preferencialmente no seu sistema de filtragem da realidade? Responda ao questionário sobre as Perceções Sensoriais que se encontra nos anexos deste curso e ficará a saber se é predominantemente visual, auditivo ou cinestésico.

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3. DISTORÇÕES DECORRENTES DA PERCEÇÃO SOCIAL: CATEGORIZAÇÃO E ESTERIOTIPIA Imagine a seguinte situação. Ao chegar a casa, apercebe-se que tem vizinhos novos. Trata-se de um casal novo, ambos com cabelo espetado e pintado de verde, ele vestido com uma t-shirt de alças que deixa ver a tatuagem do dragão no ombro; ela apresenta vários piercings nos lábios, pintados com baton preto. Ao cruzar-se com eles no elevador, não respondem ao seu cumprimento. Quais serão os seus primeiros pensamentos? Qual foi a imagem que formou acerca dos jovens descritos? Parecem-lhe simpáticos ou antipáticos? Confiáveis ou suspeitos? Pessoas perfeitamente normais, tal como eu ou você? Na verdade, é perfeitamente natural que tenha formado uma ideia acerca do casal desconhecido. Essa ideia pode ser positiva (por identificação com algumas das características expostas) ou negativa (por representarem padrões e valores distintos dos seus). Quando estamos perante uma pessoa pela primeira vez, selecionamos alguns aspetos que nela percecionamos para, a partir daí, formar uma opinião. Na verdade, perante o casal que acabámos de descrever, talvez tivesse retido outros pormenores completamente diferentes dos por nós percecionados. Talvez referisse que ambos eram bastante originais, com ar bem disposto e divertido, e que ela tinha umas calças de cabedal que lhe ficavam muito bem. Com esta descrição, será que formaria a mesma imagem de há pouco? E, já agora, já pensou em que pormenores costuma reparar quando encontra uma pessoa pela primeira vez? Será que repara nos sapatos? No cabelo? Nos olhos? Ou é o tom de voz que o atrai? Podemos referir quatro grupos de fatores que contribuem para formar as primeiras impressões acerca de uma pessoa:

 Fatores físicos, que estão relacionados com as características físicas das pessoas (ser alta, baixa, gorda ou magra, loura ou morena, etc.). Por exemplo, é costume dizer-se que as pessoas gordas são bem

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dispostas, que as de testa alta são inteligentes, que as de pés pequenos são dançarinas, etc.;

 Fatores verbais, que dizem respeitam à linguagem utilizada por uma pessoa. Por exemplo, é costume dizer-se que um indivíduo que fala de forma eloquente é inteligente e culto, que aquele que fala de forma lenta é indolente e preguiçoso, etc.; ;

 Fatores não verbais, que estão associados com os sinais exteriores, como sejam, a maneira de vestir, a maneira de sentar, a postura e gestos, etc. Os exemplos relacionados com estes fatores são inúmeros: usar minissaia pode ser entendido como descaramento, sentarse com as pernas cruzadas pode ser entendido como uma forma de defesa, pôr as mãos na cintura enquanto se fala pode ser encarado como um desafio ou agressividade, o dedo apontado pode ser visto como uma ordem, etc., etc. É a partir da observação destes fatores em cada indivíduo e da interpretação que fazemos deles, que surge o fenómeno de categorização social e estereotipia. Ou seja, a partir da observação de determinadas características físicas, verbais ou não verbais, atribuímos ao indivíduo em causa uma certa categoria social, económica ou cultural e ainda uma forma tipificada de comportamento. E, tal como vimos atrás, a perceção que o indivíduo faz do outro, influencia o seu comportamento em relação a ele e, consequentemente, o seu comportamento em relação a si próprio.

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Concluindo, nós relacionamo-nos com o outro em função da imagem que formamos dele e não da sua verdadeira personalidade. Se damos a entender ao outro que a nossa impressão acerca dele é negativa, isso irá condicionar o seu comportamento e, portanto, pode criar dificuldades ou até mesmo ruturas no relacionamento.

Em resumo: Relacionamo-nos com os outros em função da imagem que formamos dele e não da sua verdadeira identidade.

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4. EFEITO DA EXPECTATIVA Conforme vimos no ponto anterior, o autoconceito é a imagem que cada um tem de si. Vimos também que aquilo que cada um pensa de si mesmo, é consequência das várias experiências de relacionamento interpessoal ao longo da sua vida. Da mesma forma, a perceção que cada um tem acerca do modo como é visto pelos outros, é uma consequência do conceito que tem de si próprio. Voltando de novo à história do leão. Este tinha uma imagem de si em que, quando confrontado com outros animais, era maior e mais forte; por essa razão, assumia um comportamento de ostensiva superioridade. Por outro lado, pelo facto de ter essa imagem de si, desenvolveu uma expectativa relativamente ao comportamento dos outros animais: esperava a sua submissão. Daí a sua surpresa face ao comportamento assumido pelo elefante que o obrigou a repensar o seu autoconceito. Trata-se de uma espécie de círculo vicioso, na medida em que as nossas expectativas relativamente àquilo que achamos que os outros esperam de nós, nos levam a agir de maneira a que eles se comportem da forma que esperamos. Uma pessoa que se considera inadaptada e incapaz, assume um comportamento de tal maneira perante os outros, que estes, pelo modo como se relacionam com ela, tendem a reforçar a sua autoimagem negativa e a insistir no seu comportamento. Quando se adquire a ideia de que se é rejeitado, reage-se de maneira a confirmar essa tese. Da mesma forma, nas nossas relações interpessoais, seja com pessoas conhecidas ou desconhecidas, porque temos ou formamos uma opinião a seu respeito, positiva ou negativa, esperamos que elas se comportem de determinada maneira. Ainda se lembra dos novos vizinhos? Se a imagem 14 | P á g i n a www.nova-etapa.pt


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formada a seu respeito foi positiva, a sua expectativa em relação ao seu comportamento seria igualmente positiva, deveriam ser simpáticos, agradáveis, bem-educados. Se a imagem formada fosse negativa, o que se poderia esperar do seu comportamento? Nada de bom certamente. A expectativa é de tal forma marcante que, por vezes, chegamos a saber antecipadamente aquilo que os outros vão dizer, fazer ou mesmo pensar... Se não, como se justificariam as frases tantas vezes ouvidas entre casais, entre colegas, entre amigos, “- Já sabia que ias dizer isso! “, “- Tinha de ser! Eu já sabia o que ia acontecer. Só não adivinho o número do totoloto...”, ou ainda “- És sempre o mesmo! Eu sei muito bem o que estás a pensar!” Será que sabemos? Pensamos que sabemos, agimos como se soubéssemos e, dessa forma, induzimos o outro a reagir exatamente da forma como esperaríamos que reagisse. Depois ficamos todos contentes porque conseguimos, mais uma vez, confirmar a nossa profecia. Para alterar o efeito da expectativa negativa, é fundamental desenvolver o sentimento de confiança e abertura verdadeira relativamente aos outros, procurar eliminar ideias preconcebidas, demonstrando assim vontade e disponibilidade de se relacionar.

Em resumo: As nossas expectativas relativamente àquilo que achamos que os outros esperam de nós, levam-nos a agir de maneira que eles se comportem da forma que esperamos. Podemos falar mesmo de autorrealização da profecia no que se refere ao impacto da expectativa no relacionamento com os outros.

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5. COMPORTAMENTOS DEFENSIVOS Estabelecer relações interpessoais harmoniosas e eficazes significa não reagirmos aos comportamentos defensivos dos outros com atitudes defensivas da nossa parte. E quando é que assumimos comportamentos defensivos? Sempre que sentimos necessidade de nos defendermos de alguma coisa que, para nós, representa um perigo para a nossa autoestima, seja um perigo real ou apenas um perigo presumível. No caso do marido que diz à mulher “Sabes que horas são?” e ela reage respondendo “- Mas porque é que me culpas sempre? Se me atraso é porque tu nunca me ajudas em nada. Tenho de fazer tudo sozinha!”, é óbvio que pensou estar a ser atacada, culpada de algo que não cometeu, sentindo a questão do marido como um ataque à sua autoestima. Daí a sua reação defensiva. Na prática, o essencial não é que estejamos efetivamente a ser atacados, mas simplesmente nos sintamos atacados. E o que acontece, na maior parte das vezes, que uma pessoa reage como se estivesse a ser atacado? Certamente reage com um comportamento defensivo. É como diz o adágio popular “comportamento gera comportamento”. Assim, o nosso interlocutor terá tendência para assumir uma atitude igualmente defensiva, gerando uma espiral de comportamento defesa-ataque-defesa-ataque, em que, efetivamente, ninguém sai vencedor.

5.1 - Características dos comportamentos defensivos Vejamos então uma breve caracterização dos Comportamentos Defensivos:

a) Comportamento de inferiorização/vitimização ou fuga A adoção inconsciente de um comportamento de inferiorização, ou vitimização, ou mesmo de fuga, procura criar no interlocutor um sentimento de culpa. Demonstra, claramente, que o nosso sentimento de autoestima se encontra 16 | P á g i n a www.nova-etapa.pt


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fragilizado e, como reação a um ataque (presumível ou verdadeiro), assume-se um comportamento de defesa, induzindo o outro a sentir-se responsável pelo ataque realizado. É o estado do eu “criança submissa” que atua (ver módulo III). São vários os exemplos comunicacionais que podemos apresentar. “- Não faço nada de jeito”; “- Sou um desastrado”; “- Peço-lhe que acredite em mim. A minha intenção era a melhor...”; “- Ó meu Deus, eu não sabia... “.

b) Comportamento de superiorização

Este comportamento de superiorização, revela-se quando alguém se mostra importante, se gaba das suas capacidades ou pretende demonstrar saber tudo. Na verdade, este comportamento é também uma reação de defesa em relação ao sentimento de autoestima. Face a uma situação de possível ataque, o indivíduo sente necessidade de se afirmar perante os outros, devido a uma qualquer fragilidade ou falta de confiança nas suas capacidades. Este comportamento tem por objetivo melhorar o sentimento de autoestima enfraquecido, por necessidade de reconhecimento positivo por parte dos outros. Pode ser encarado pelo outro como um ataque e levá-lo igualmente a assumir um comportamento defensivo, podendo criar-se uma espiral de agressividade e violência verbal. Quando se sente necessidade de se demonstrar que se é forte, é porque não se é. Exemplos de verbalização do comportamento de superiorização: “- A mim ninguém me engana.”;

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“- Isso é que era bom! Comigo ninguém brinca!”; “- Se pensa que me fico, está muito enganado!”; “- Sou o maior!”.

c) Comportamento de ataque (inferiorização do outro) Este comportamento tem por princípio de atuação o da “Guerra Preventiva”, muito em voga nos dias que correm. Como se costuma dizer, a melhor forma de defesa é o ataque. “- Antes que o outro me agrida, começo já por atacá-lo e colocá-lo numa posição de inferioridade”. De facto, ao atacar em primeiro lugar, constringe-se o interlocutor a assumir uma posição de defesa. E todos sabemos quanto é difícil sair da posição de defesa, pois parece que estamos sempre em desvantagem nesta relação. Ainda por cima, o ataque faz o atacante sentir-se numa posição de superioridade, porque se sente mais forte do que na realidade é.

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Voltando ao exemplo do nosso casal, quando o marido pergunta “Sabes que horas são?” e a mulher responde “Mas porque é que me culpas sempre? Se me atraso é porque tu nunca me ajudas em nada. Tenho de fazer tudo sozinha!” Nesta situação, a mulher está a defender-se do ataque presumível com um ataque à autoestima do marido, acusando-o de ser um preguiçoso, de nada fazer e, portanto, ser o verdadeiro responsável pela situação. Eis algumas das verbalizações típicas do comportamento de ataque: “- Porque é que em vez de me criticares, não começas mas é a dar o exemplo”; “- Tu é que és um desastrado!”; “- Tu é que nunca fazes nada de jeito”; “- És sempre o mesmo, não se pode confiar em ti”. “- Já viste o lindo serviço que fizeste?”

Em resumo: Assumimos comportamentos defensivos sempre que sentimos estar a ser atacados no nosso sentimento de autoestima. Esse ataque pode ser real ou apenas presumível.

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6. IMAGEM MENTAIS E NEVOEIRO PASICOLÓGICO Diz Vera Birkenbihl que “Comunicar com eficácia significa dar atenção às imagens mentais dos outros”3.

Mas então, qual o processo de formação das imagens mentais e como podemos adequar a nossa comunicação a essas imagens que estão na cabeça dos outros?

6.1- Processo de formação das imagens mentais  Uma imagem mental forma-se do seguinte modo: imagine um animal que exteriormente não tem orelhas, nem tem asas, nem pernas e tem dois olhos, uma boca e uma língua. O que é que imaginariam?  A informação que vos forneceremos dá-vos a possibilidade de construírem uma imagem mental, se adivinharem, a partir da descrição, que se trata de uma serpente.  As imagens mentais formam-se quando se recebem estímulos do ambiente e se passa a analisá-los, selecioná-los e armazená-los no cérebro. Ou seja, forma-se a imagem através do processo do pensamento. Este processo implica um certo dispêndio de energia, por isso afirmamos que “se emprega energia em cada imagem mental”4. Visto que cada imagem mental representa um investimento para o nosso organismo, ele procurará preservá-lo. Por outro lado, todas as imagens estão associadas a emoções. Quer dizer, tudo o que percecionamos, causa em nós uma determinada impressão, uma sensação, positiva, negativa ou neutra. É por isso que duas pessoas podem ver a mesma garrafa de duas formas distintas: meio cheia ou meio vazia.

3 4

op. Cit. Birkenbhil, Vera, Op. Cit. 20 | P á g i n a www.nova-etapa.pt


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Propomos-lhe fazer uma experiência: pense na sua mãe, que emoção emerge em si? E agora reporte-se à noite de Natal quando tinha 10 anos. E ainda se recorda do dia do seu casamento? Que emoções emergem ao pensar nestes acontecimentos? E já agora, já alguma vez lhe aconteceu cruzar-se com uma pessoa cuja nome não se recorda, nem mesmo de onde a conhece? Já? No entanto, mesmo sem saber de quem se trata, existe uma emoção que lhe está associada. A imagem dessa pessoa que tem gravada na sua memória tem uma emoção associada, de acordo com o momento ou a situação em que se cruzou com ela. Em conclusão, armazenamos informação no nosso cérebro, sob a forma de imagens mentais. De cada vez que recebemos novos estímulos, vamos compará-los com as imagens armazenadas/conhecidas. A perceção dos estímulos passa a ser “colorida” por experiências e imagens que já existem. Por essa razão, uma pessoa que tenha medo de ladrões, ao ouvir o barulho de uma persiana durante a noite, interpretará imediatamente como sendo um risco potencial, reagindo com medo, quando na verdade, uma outra pessoa, que não tenha medo de assaltos, pensará apenas que se trata do vento a bater nas persianas, não lhe dando qualquer importância. De igual forma, vimos a pessoa amada como um ser único, cheio de características positivas, enquanto um desconhecido vê apenas uma pessoa neutra que não lhe desperta qualquer emoção. O adágio popular, “Quem feio ama bonito lhe parece”, tem toda a razão de ser.

6.2- Nevoeiro psicológico

Chama-se “nevoeiro psicológico” quando existe uma espécie de bloqueio ao nível da receção dos estímulos exteriores.

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Por exemplo, imagine uma mulher que vai a conduzir e ao mesmo tempo a falar com o seu filho que está no banco de trás. A criança vai dizendo: “- Não te esqueças, mamã, que amanhã temos de começar os preparativos para minha festa de aniversário e tu prometeste que vais sair mais cedo...” Só que a mãe já não está a ouvir. Enquanto se prepara para ultrapassar um camião, aparece imprevisivelmente um outro carro na faixa da esquerda, vindo de uma estrada lateral. Ela reage com prontidão e grande habilidade: faz sinais de luzes, apita para chamar a atenção do condutor do camião para se afastar para a berma. O condutor do carro que vinha a entrar na estrada também se dá conta do que está a acontecer e mantém-se parado, de modo que o carro da nossa protagonista consegue passar ileso. Depois da manobra de ultrapassagem, a mãe vira-se para o filho e diz: “- Desculpa filho estavas a falar da tua festa de anos, mas já não consegui ouvir o resto. Importas-te de repetir?” O que é que se passou aqui? Podemos dizer que a mãe deixou de ouvir porque tinha o seu pensamento “pré-ocupado”. Tratava-se de uma situação de perigo eminente, por isso, de imediato, o cérebro fez uma escolha: ficar pré-ocupado até o perigo desaparecer. Esta fase de pré-ocupação faz-se acompanhar daquilo a que os especialistas

chamam

“nevoeiro

psicológico”

e

que

apresenta

duas

características principais: impede que uma pessoa veja com clareza e ao mesmo tempo oiça bem. Várias são as situações em que podemos ficar num estado de “nevoeiro psicológico”: quando sentimos medo, quando sentimos raiva, quando nos sentimos perdidos, quando estamos fragilizados física ou psicologicamente. Repare na seguinte situação: uma pessoa dirige-se a uma instituição hospitalar para fazer um exame complementar de diagnóstico dado que o seu médico suspeita que algo de grave se passa com a sua saúde. Evidentemente que o indivíduo está preocupado com a sua saúde, por isso está “pré-ocupado”, não estando recetivo a novos estímulos exteriores. Ao entrar no edifício depara-se com uma série de setas com indicações de serviços, alguns deles apenas com as siglas. Sentindo-se desorientado, pergunta a uma funcionária onde se deve dirigir para realizar o exame. A funcionária dá-lhe a seguinte resposta: 22 | P á g i n a www.nova-etapa.pt


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Mód.I. Sessão 2: A Relação com os Outros

“- Isso não tem nada que saber. O senhor está a ver este corredor? Vai sempre em frente, vira na terceira porta à direita. Em frente tem um elevador. Sai no 4.º andar e é a porta em frente. Está a ver, é fácil, não é?” O indivíduo acena que sim e vai-se embora. Poucos metros mais à frente volta a fazer a mesma pergunta a outra pessoa. Porque razão isto aconteceu? Porque o indivíduo era muito distraído e não prestou a atenção devida à explicação da funcionária? Não. Porque a explicação dada pela funcionária era apenas clara e óbvia para si própria que tinha a imagem mental na sua cabeça. Ela conhecia perfeitamente o caminho a percorrer, se calhar até era capaz de o fazer de olhos fechados. Contudo, o nosso indivíduo, além de estar num estado de nevoeiro psicológico, ou seja, com as capacidades de visão e escuta afetadas, não possuía a imagem mental na sua cabeça. Tinha talvez uma outra imagem, gravada noutra ocasião em que tivesse estado numa instituição hospitalar, mas que não correspondia com aquela realidade. Por isso, e como a descrição feita não lhe permitiu construir uma nova imagem mental, sentiu-se perdido e viu-se obrigado a pedir nova informação. Em resumo: Se queremos manter relações interpessoais harmoniosas e eficazes devemos ter em consideração o processo de formação das imagens que é idêntico em todos os seres humanos, mas o material armazenados é distinto em cada um, de acordo com as experiências vividas. Querer mudar o quadro de referência dos outros poderá transformar as nossas relações numa luta de titãs, onde não existem vencedores, mas apenas vencidos. Adequar a nossa comunicação aos outros implica um grande esforço de empatia, de compreensão do que ele pode estar a sentir e um esforço intencional de querer comunicar com clareza e objetividade. No próximo módulo, daremos algumas sugestões para melhorar o nosso relacionamento interpessoal.

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7. SUGESTÕES PARA CONSOLIDAR A AUTOESTIMA Vimos atrás como é impossível estabelecer uma relação interpessoal bem sucedida, sem que tenhamos um correto conhecimento e consciência da nossa forma de agir e reagir. Por isso mesmo apontámos a autoestima como um dos pilares do relacionamento eficaz. Seja em que domínio for, o comportamento que assumimos é determinado pela forma como nos vimos e sentimos e também pela forma como vimos os outros. Vimos também que um relacionamento bem sucedido e harmonioso é aquele onde não há perdedores, nem vencidos, mas apenas vencedores e que, para que isso possa acontecer, temos também de procurar ir ao encontro do outro, assumindo a nossa parte de responsabilidade nessa transação afetiva. Eis então algumas sugestões para consolidar o nosso sentimento de autoestima e promover um melhor relacionamento com o outro: Em primeiro lugar, evitar aquilo a que designaremos como os “Sete Pecados Mortais contra a Autoestima” 5:

Perfecionismo

Em vez de se tornar uma qualidade, a perfeição em excesso pode tornarse um verdadeiro obstáculo para a realização pessoal e profissional. Conhece a expressão “o ótimo é inimigo do bom” ? Como a interpreta? Na verdade, se analisarmos com um pouco mais de profundidade as características do perfecionista, podemos encontrar-lhe um medo genérico da vida, em particular dos desafios, da aventura, o que o obriga a refugiar-se nas certezas. Uma rigidez excessiva na arrumação, limpeza ou organização, pode significar um esforço derradeiro por parte do perfecionista em controlar tudo e todos, obrigando todos os que o rodeiam a ter e manter o mesmo padrão de perfeição.

Adaptado de “Educar para o Otimismo”, de Marujo, Neto e Perloiro, Lisboa, Ed. Presença, 1999 5

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Criticismo permanente

Esta é a uma das consequências da atitude “perfecionista”. Para alguém que busca a perfeição como obsessão, não há nada, nem ninguém, que esteja isento de crítica. Nunca nenhuma tarefa está suficientemente bem feita, existe sempre alguma crítica que lhe pode ser apontada. De igual forma, o elogio não é utilizado, porque “aquilo que está bem feito” faz parte das obrigações de cada indivíduo.

Infalibilidade

Sentir que se deve ser infalível, não se permitir errar, leva-nos muitas vezes a ter medo de correr riscos e/ou adiar sistematicamente as nossas realizações (“- e se não consigo?”; “- não percebo nada daquilo, o melhor é não arriscar...”). Por detrás deste sentimento de infalibilidade, poderá também haver uma insegurança em relação às nossas competências e capacidades e, por inerência, o medo da crítica dos outros.

Dependências e outras ingerências

O trabalho em excesso, o consumismo desenfreado, os hábitos alimentares incorretos, são apenas algumas das dependências típicas da nossa sociedade atual. Já para não falar das outras dependências, classificadas patologicamente. Sejam de que natureza forem, todas as dependências podem comprometer o nosso sentimento de autoestima ou serem elas mesmas uma manifestação de insatisfação ou insegurança.

Inação

Uma autoestima firme e bem estruturada não se consegue sem que cada um de nós defina claramente quais são os nossos objetivos e as nossas prioridades de vida. “Se não sabemos para onde vamos, nunca saberemos se lá chegámos”. Hoje em dia estamos cada vez mais presos numa ratoeira perigosa: a zona de conforto. Quando nos damos conta de 25 | P á g i n a www.nova-etapa.pt


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que já só fazemos aquilo que é mais cómodo, mais rotineiro, então é porque já entrámos perigosamente na zona do conforto. Verifique o seu estado em relação à inação: Tem dado conta de que vai cada vez menos ao cinema, mas vê mais televisão? Quantos livros leu por prazer no último mês? E como estamos de namoro? E já agora, quais são as razões que invoca para não se inscrever naquele curso ou frequentar aquele ginásio? É tudo por falta de tempo, não é verdade?

Desculpabilização

“Sempre se fez assim e sempre se fará”; “Não há nada a fazer”; “Eu sou mesmo assim”; “Para que é que me hei de estar a aborrecer com isso, se os outros não ligam nenhuma?”; “Quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita!”. De certeza que conseguia acrescentar mais a esta lista de frases típicas de “desculpite aguda”. Esta tendência para a fuga à responsabilização, por considerarmos que a culpa é sempre dos outros, onde não há lugar para a mudança, pode limitar o processo de crescimento pessoal e desenvolvimento da autoestima, dado que nos impede de correr riscos e aceitar desafios e pode mesmo levar-nos a assumir um comportamento de vitimização.

Pessimismo

Um dos maiores pecados contra a autoestima é aquilo a que designámos por “ruminação pessimista”. Sendo que esta frase nada tem de comum com o ruminar bovino, mas com a nossa tendência para a persistência em ter pensamentos, afirmações e sentimentos negativos. Em segundo lugar, atuar de forma consciente para promover, fortalecer e expandir o sentimento de autoestima:

 Aumentar a frequência e qualidade das experiências bem sucedidas. Se fizermos mais vezes aquilo que fazemos bem,

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sentir-nos-emos mais confiantes nas nossas capacidades. Se estivermos mais atentos e repararmos mais nos nossos sucessos, sentiremos mais que somos capazes.

 Desenvolver

a autoaceitação. Aceitarmo-nos como somos,

reconhecendo as nossas competências, mas também aquelas em que podemos melhorar. Aceitarmo-nos como somos é um bom treino para aceitarmos os outros como eles são.

 Desenvolver o autorrespeito. Desenvolver o respeito por nós próprios passa, entre outras coisas, por tratar do nosso corpo, da nossa mente, dar voz às nossas emoções, enfim, manter hábitos saudáveis de vida.

 Desenvolver a autoconfiança. Significa acreditar em nós próprios, arriscando um pouco mais, de vez em quando, para confirmar as nossas capacidades e sermos capazes de chegar mais longe. Desenvolver um diálogo interno de crença no sucesso do que faremos “Vou conseguir”, em vez de “vou tentar”. É preciso “desenferrujar a coragem”. Não podemos esquecer que, para crescer pessoal e profissionalmente, é preciso correr riscos.

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ANEXO: TESTE AUTOESTIMA Olhe para si e verifique o seu nível de autoestima, respondendo ao simples teste que lhe propomos. Assinale com X o que melhor corresponde à sua forma habitual de se relacionar

S VEZES COM FREQUÊN CIA

NTE

ALGUMA

RARAME

consigo mesmo. Quanto melhor for a relação consigo, melhor será a relação com os outros.

1. Encara a vida com otimismo e com sentido de humor? 2. Encoraja-se a si próprio, quando tem de enfrentar situações novas e difíceis? 3. Defende as suas ideias, com firmeza e convicção, mesmo que os outros manifestem desacordo? 4. Toma iniciativas próprias, independentemente da aprovação alheia? 5. Mostra compreensão e tolerância em relação a si mesmo e às suas limitações? 6. Felicita-se pelos seus êxitos e pelos seus esforços sérios e honestos? 7. Suporta a ingratidão e as críticas sem reagir agressivamente? 8. Aceita-se como é e consegue sentir gosto em ser diferente dos outros? 9. Cuida de si e da sua aparência? 10. Pensa em si como alguém de quem gostaria de ser amigo? Considera-se uma boa companhia? Para saber o resultado do seu teste, dê um ponto a cada resposta A (raramente), dois pontos a cada resposta B (algumas vezes) e três pontos a cada resposta C (com frequência). Some, em seguida, o conjunto desses pontos e reflita sobre o seguinte:  Se obteve menos de 15 pontos, você precisa de pensar mais em si e de cultivar a sua autoestima.  Se obteve entre 15 e 20 pontos, você já tem suficiente autoestima, embora possa melhorar.  Se obteve mais de 20 pontos, você manifesta elevada autoestima. Precisa apenas de cuidado para não cair nos exageros do egocentrismo ou da arrogância

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