PRIMEIROS SOCORROS MÓDULO IV
HEMORRAGIAS SESSÃO I www.nova-etapa.pt
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Mód.IV – sessão I: Hemorragias
ÍNDICE
Módulo IV – Hemorragias
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Objetivos Pedagógicos
3
Conteúdos Programáticos
3
1. Conceitos Genéricos
4
2. Classificação de Hemorragias
6
3. Atuação Hemorragia Externa
8
4.
11
Atuação Hemorragia Interna Invisível
5. Atuação Hemorragia Interna Visível
13
6.
17
Amputação
Síntese Conclusiva
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Módulo IV – Hemorragias
OBJETIVOS PEDAGÓGICOS
No final deste módulo deverá ser capaz de: • Reconhecer os diversos tipos de hemorragia quanto à proveniência e forma de apresentação; • Descrever os métodos de controlo de uma hemorragia externa; • Listar e aplicar os cuidados a ter perante uma hemorragia externa; • Identificar a partir da sintomatologia uma situação de hemorragia interna invisível; • Distinguir as hemorragias internas visíveis; • Aplicar técnicas adequadas de controlo para diferentes tipos de hemorragias; • Distinguir os tipos de amputação e executar o primeiro socorro adequado.
CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS
• Conceitos Genéricos; • Classificação de Hemorragias; • Atuação para Hemorragias Externas; • Atuação para Hemorragias Internas Invisíveis; • Atuação para Hemorragias Internas Visíveis; • Amputação.
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1. CONCEITOS GENÉRICOS
O sangue é constituído por uma parte líquida (plasma – água, sais minerais e proteínas) e por uma parte sólida que contém células (glóbulos vermelhos e brancos) e partículas de células (plaquetas). Habitualmente, estima-se o volume de sangue de um adulto através da relação de 70 ml/Kg de peso, ou seja, um adulto com 70 Kg tem em circulação cerca de 5 litros de sangue. Esta relação é maior nas crianças sendo entre 80 a 90 ml/kg peso. Essa quantidade de sangue circula dentro de uma rede muito complexa de canais denominados vasos sanguíneos, no meio da qual existe um órgão – coração - que impulsiona o sangue e o faz circular. Em funcionamento normal, a rede de vasos sanguíneos está completamente cheia de sangue, o qual também preenche o coração. O coração trabalha por contrações e relaxamentos. Em cada contração sai sangue do coração para os vasos e em cada relaxamento volta a esse órgão uma quantidade igual de sangue. Os vasos sanguíneos que, partindo do coração, se vão distribuir por todo o corpo chamam-se artérias. Estas, no seu percurso, ramificam-se repetidamente, originando artérias de calibre cada vez menor, até que no final (junto
à
células)
têm
a
espessura
de
cabelos,
designando-se por capilares. Uma vez livre do oxigénio e dos elementos nutritivos, o sangue absorve o dióxido de carbono e os produtos de excreção que devem ser eliminados. Para isso, o sangue volta ao coração, com passagem pelos pulmões, onde aquele gás é expulso para a atmosfera. Os vasos que conduzem o sangue de volta ao coração chamam-se veias.
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Conceito Designa-se por hemorragia a perda de um terminado volume de sangue por rotura dos vasos onde circula, independentemente da quantidade e tendo ou não repercussão no estado geral da vítima. As situações de hemorragia, pelas implicações que têm no aparecimento do choque e pelas repercussões no transporte de oxigénio e na oxigenação dos tecidos, podem constituir perigo de vida e devem ser urgentemente socorridas.
As hemorragias podem estar associadas a lesões traumáticas centrais ou periféricas, podem provir de doença interna aguda ou crónica, ou ainda estarem relacionadas com alterações da constituição do sangue ou dos fatores de coagulação, situação que neste caso pode ser responsável por uma hemorragia inesperada ou pela sua perpetuação (exemplo dos casos dos doentes de hemofilia). Nestes casos, por vezes, o doente é portador de identificação destas situações onde são indicados os procedimentos urgentes a adotar. O local onde o vaso se lesiona (rompe) e sai o sangue, designa-se por foco hemorrágico.
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2. CLASSIFICAÇÃO DAS HEMORRAGIAS
A – Quanto à forma de apresentação
Externas – são geralmente traumáticas embora os mecanismos causadores possam ser variáveis, como por exemplo contusão, compressão e penetração.
Internas
visíveis
–
proveniência
interna
mas
reconhecida por saída de sangue por um orifício natural do corpo.
Interna
invisível
–
proveniência
interna,
habitualmente associada a traumatismos ou doenças, não se visualizando sangue por este ficar retido no interior do corpo. Em alguns casos podem verificar-se uma mancha escurecida (equimose) por acumulação de sangue debaixo da pele.
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B – Quanto ao vaso lesionado Particularmente em relação às hemorragias externas, é possível que o socorrista possa classificá-las pela forma como o sangue se exterioriza em função do vaso que foi lesado. Assim:
Arterial – o sangue sai em jatos intermitentes com os batimentos cardíacos. Habitualmente abundante, o seu controlo pode tornar-se difícil consoante o tamanho do vaso arterial lesado.
Venosa – o sangue tem a sua saída em jato contínuo cujo fluxo depende do vaso lesado e da pressão. Pode ser difícil de controlar porque a parede da veia lesada habitualmente não se contrai. É o tipo de lesão que acontece face à rotura de uma variz.
Capilar – o sangue espalha-se habitualmente em toalha sobre a superfície da pele, estando o volume de sangue perdido diretamente relacionado com a pressão existente na rede capilar afetada.
Arterial
Venosa
Capilar
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3. ATUAÇÃO HEMORRAGIA EXTERNA Em todas as emergências que envolvam hemorragias devem ser tomadas medidas decisivas e rápidas. Existem quatro métodos para controlar hemorragias: Compressão manual direta (pressão direta no local da hemorragia); Elevação do membro; Aplicação de frio; Garrote (como último recurso).
Compressão manual direta É o método escolhido para controlo da maioria das hemorragias externas – cerca de 90%. A pressão direta não poderá ser utilizada quando: A hemorragia está localizada sobre uma fratura; No local da hemorragia existirem objetos encravados.
Como proceder à compressão manual direta: Usar luvas, se possível; Comprimir com uma compressa ou um pano improvisado, a zona com a mão ou pedindo à vítima
que
faça
a
sua
própria
auto
compressão; Nunca retirar a 1ª compressa, se esta ensopar de sangue, colocar outras por cima; Manter as compressas seguras com uma ligadura; Nunca tapar o local da hemorragia até à chegada da ambulância de modo a permitir observar-se a evolução da mesma; 8 www.nova-etapa.pt
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Se existir corpos estranhos encravados ou fratura exposta na zona do foco hemorrágico, a compressão manual direta deve ser aplicada nos tecidos adjacentes ao foco da lesão. Fazer primeiro uma proteção (por exemplo, uma rodilha) em redor do corpo estranho e/ou topo ósseo exteriorizado antes de fazer o penso compressivo
Elevação do membro
Nas feridas ou lesões de um membro, deve aplicar-se uma compressa sobre pressão e elevar o membro, caso não haja fratura. A força da gravidade contraria a corrente sanguínea, a manutenção do membro elevado auxiliará o controle da hemorragia.
Aplicações frias A aplicação fria (recorrendo a compressas frias em água ou a utilização de um saco com gelo envolvido em pano) favorece a vasoconstrição – diminuição do calibre do vaso que irriga a zona – diminuindo desta forma a saída de sangue do foco hemorrágico.
Garrote A compressão manual direta, quando executada corretamente, é a melhor forma de estancar uma hemorragia externa, não havendo necessidade de utilizar outro processo. O garrote deve aplicar-se apenas em casos muito específicos, pois a sua utilização indevida ou descuidada pode ocasionar determinados riscos: Provocar isquémia (interrupção do fluxo sanguíneo) grave das extremidades; 9 www.nova-etapa.pt
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Traumatizar a zona onde é aplicado; Provocar alteração perigosa do ritmo do trabalho do coração; Provocar insuficiência renal aguda; Provocar aumento da hemorragia quando é retirado.
Assim, o garrote deve ser utilizado como último recurso, sobretudo quando não é possível controlar a saída de sangue pela simples compressão manual direta, (por exemplo, estar o socorrista sozinho, perante duas ou mais vítimas, uma das quais com hemorragia grave no membro e outras em situação de socorro essencial. Neste caso, deve colocar-se um garrote no membro que sangra e resolver de imediato as outras situações), em casos de amputação traumática de extremidades sem esmagamento, quando o volume de sangue aparentemente perdido ou o choque hipovolémico instalado desaconselhem a perda adicional de sangue. Sempre que necessária a sua execução, deve aplicar-se o mais próximo possível da raiz do membro, devendo ser registada a hora da aplicação com as letras HG (hemorragia garrote) seguida de 4 dígitos e com os zeros cortados (ex. HG2253). Saliente-se que sempre que aplicar um garrote, o mesmo deve ser aliviado apenas por profissionais de saúde.
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4. ATUAÇÃO HEMORRAGIA INTERNA INVISÍVEL As hemorragias externas podem ser observadas e são facilmente reconhecidas. As hemorragias internas invisíveis são de difícil reconhecimento e identificação, tornando-se necessário pensar na hipótese e despiste da situação por sinais indiretos tais como: O mecanismo de lesão possa provocar um impacto forte ao nível do abdómen provocando por exemplo lesões no fígado e no baço. Por exemplo trauma da base do tórax esquerdo pode indicar fratura de baço com hemorragia intra abdominal; Lesões torácicas, com suspeita de fratura de costelas; Em queda de altura superior à do corpo da vítima.
A suspeita deste tipo de hemorragia pode ser ainda despistada pela sintomatologia apresentada pela vítima: Dor no local ou irradiante; Sede intensa; Zumbidos; Perda gradual de visão; Pulso progressivamente rápido e fraco; Ventilação progressivamente mais rápida e superficial; Pupilas progressivamente dilatadas; Palidez acentuada; Suores abundantes e viscosos; Diminuição da temperatura corporal.
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Primeiro socorro Desaperto de roupas ao nível do pescoço, tórax e abdómen; Animar e moralizar a vítima; Se consciente, instalar a vítima numa posição de conforto, movimentando-a o menos possível; Se inconsciente, colocar na Posição Lateral de Segurança; Manter a temperatura corporal; Não dar nada a beber; Vigiar funções vitais; Promover o transporte para o hospital.
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5. ATUAÇÃO HEMORRAGIA INTERNA VISÍVEL
As hemorragias internas visíveis podem ocorrer devido a trauma ou doença como é o caso de uma úlcera no estômago. O socorrista deverá perceber a causa da hemorragia e atuar de acordo com a situação. O quadro seguinte descreve as diferentes hemorragias pelos orifícios naturais do corpo.
HEMORRAGIAS INTERNAS VISÍVEIS
Epistáxis – saída de sangue pelo nariz provocada por traumatismo local, fragilidade vascular ou em consequência de traumatismo crânio-encefálico. Hematemese – saída de sangue pela boca, proveniente do sistema digestivo e, geralmente, acompanhado de dor abdominal e vómito. Hemoptise – saída de sangue pela boca, de cor clara acompanhado de tosse e proveniente do sistema ventilatório. Melenas – saída de sangue pelo ânus, com aspeto negro “tipo borra de café” e com cheiro fétido, proveniente do sistema digestivo. Otorragia – saída de sangue pelo ouvido provocada por patologia ou traumatismo local ou em consequência de traumatismo crânio-encefálico. Menometrorragia – saída de sangue pela vagina, em grande quantidade e fora do período normal, proveniente do aparelho genital feminino, provocado por doença, gravidez extrauterina, aborto ou lesão traumática.
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Epistaxis
Averiguar o tipo de acidente;
Colocar a vítima numa posição confortável garantindo o alinhamento da cabeça em relação ao corpo, isto é, deve manter a cabeça numa posição neutra, nem inclinando para trás nem inclinando para a frente;
Controlar a hemorragia fazendo compressão digital das narinas (com os dedos polegar e indicador em pinça, aperte as extremidades das narinas durante 10 minutos;
Associar à compressão o arrefecimento do local através de um cubo de gelo envolvido numa compressa e nunca colocado diretamente na pele;
Se a compressão digital e o arrefecimento se revelarem insuficientes, fazer um tamponamento das duas narinas usando para o efeito, uma tira de gaze com cerca de 30 cm de comprimento e 1 cm de largura, a qual será introduzida com uma pinça em pequenas porções de cada vez, tal como um harmónio;
Promover o transporte ao hospital, se necessário.
Nota: Se suspeita de traumatismo crânio-encefálico, nunca deve estancar esta saída de sangue.
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Hematemese Em caso de hemorragia com proveniência no estômago o socorrista deve imediatamente:
Colocar a vítima em decúbito lateral esquerdo;
Manter a temperatura corporal;
Vigiar as funções vitais e providenciar o transporte para o hospital.
Em caso de hemorragia proveniente do esófago por rotura de varizes, o socorrista deve imediatamente:
Se a vítima tem o reflexo de deglutição mantido e a permeabilidade da via aérea garantida, colocá-la em posição confortável e tentar que beba apenas 2 ou 3 goles de água gelada por forma a provocar a vasoconstrição mas não dê água em excesso porque pode estimular o vómito;
Vigiar funções vitais e providenciar o transporte ao hospital.
Hemoptise
Se consciente, deve sentar ou deitar a vítima com o tronco mais elevado;
Aconselhar a vítima a ventilar pausadamente e com grande amplitude, imprimindo o socorrista a frequência e amplitude e solicitando que a vítima o acompanhe;
Se inconsciente, deve colocar em Posição Lateral de Segurança;
Vigiar as funções vitais e providenciar o transporte para o hospital.
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Melenas
Se consciente, colocar em decúbito dorsal, elevando os membros inferiores;
Se inconsciente, colocar em Posição Lateral de Segurança;
Vigiar as funções vitais e providenciar o transporte para o hospital.
Otorragia
Independentemente da causa da hemorragia, deve apenas colocar uma compressa no pavilhão auricular, para absorção do sangue exteriorizado.
Nota: Se suspeita de traumatismo crânio-encefálico, nunca deve estancar esta saída de sangue.
Menometrorragia
Excluída a causa traumática, a vítima consciente deve ser colocada em decúbito dorsal, lateralizando a cabeça e elevando os membros inferiores com flexão a nível dos joelhos, se inconsciente, colocar em Posição Lateral de Segurança;
Aplicação de gelo de forma indireta na região pélvica;
Manter a temperatura corporal;
Vigiar as funções vitais e providenciar o transporte para o hospital.
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6. AMPUTAÇÃO A amputação é uma lesão provocada pela separação de um membro ou parte de um membro do resto do corpo.
Mecanismos de trauma Secção (corte) – ex. serra elétrica; Arrancamento (avulsão) – ex. máquina dentada; Com esmagamento da extremidade – ex. carril de comboio.
Complicações: Hemorragia – podendo ser mais ou menos abundante. Na amputação com esmagamento da extremidade, a hemorragia, após o acidente, não é muito significativa pois os vasos encontram-se ocluídos pelo esmagamento. No entanto há sempre a possibilidade de ocorrer uma maior saída de sangue com a secção ou avulsão; Choque; Infeção.
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Se existir hemorragia
Estancar a hemorragia utilizando o método de compressão manual direta e com elevação do membro;
Colocar penso;
Vigiar funções vitais e providenciar transporte para o hospital.
Se não existir hemorragia
Colocar penso;
Elevar o membro;
Vigiar funções vitais e providenciar transporte para o hospital.
Cuidados com a parte amputada:
Envolvê-la em compressas embebidas em soro fisiológico e colocá-la dentro de um saco devidamente fechado que, por sua vez deve ser introduzido num 2º saco contendo gelo;
Transportá-la juntamente com a vítima ao hospital.
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SÍNTESE CONCLUSIVA O sangue é um fluído absolutamente necessário à nossa vida, pois tem por função distribuir oxigénio e substâncias nutritivas a todas as células do organismo e receber delas os produtos resultantes do metabolismo. Assim sendo, qualquer rotura nos vasos que constituem a rede vascular sanguínea, representa sempre uma perda de líquidos e de transportadores das substâncias essenciais à vida da célula, pelo que é muito importante que o socorrista reconheça as hemorragias externas pela visualização direta do sangue e as hemorragias internas pelos mecanismos do acidente e presença de sintomatologia associada. Dado que a complicação mais séria da hemorragia é o choque, é fundamental que o socorrista controle rapidamente a situação hemorrágica. A par do socorro geral, o socorrista deve providenciar uma evacuação rápida, de forma a ser possível a reposição atempada da volémia, só conseguida no meio hospitalar.
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