COMO SER CRIATIVO M贸dulo III
O PROCESSO CRIATIVO
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Mód.III: O Processo Criativo
ÍNDICE Módulo III – O Processo Criativo Objetivos Pedagógicos
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Conteúdos Programáticos
3
Introdução
4
1. Algoritmo e Heurística
6
2. Os 4 Ps da criatividade
7
3. Fases e etapas do processo criativo
12
4. Fatores inibidores da criatividade
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5. A Reter
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Bibliografia
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MÓDULO III – O PROCESSO CRIATIVO OBJETIVOS PEDAGÓGICOS No final deste módulo deverá ser capaz de:
Reconhecer a criatividade como um processo heurístico; Reconhecer e caracterizar os 4 Ps da criatividade; Identificar e caracterizar as diferentes fases e etapas do processo criativo; Identificar os fatores inibidores ao desenvolvimento da criatividade.
CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS Algoritmo e heurística; Os 4 Ps da criatividade; Fases e etapas do processo criativo; Fatores inibidores da criatividade.
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INTRODUÇÃO
Metáfora A bilha rachada Antes de chegarmos ao fim - que já esta bem próximo - e em honra das histórias que esqueci, aqui vai uma de que gosto particularmente:
Um aguadeiro, algures na Índia, transportava a água de uma nascente para uma aldeia. Carregava o seu fardo em duas bilhas presas a uma barra de madeira de cada lado dos seus ombros. A bilha que levava à direita estava intacta e chegava sempre cheia à aldeia, mas a bilha da esquerda, rachada, perdia metade da água pelo caminho. Isto durou vários anos. O homem não tinha meios para comprar outra bilha. Um dia a bilha rachada resolveu dizer ao aguadeiro: - Tenho vergonha da minha imperfeição e peço-te desculpa. Perco a água que devia guardar. A sério, tenho vergonha. O aguadeiro olhou para o recipiente e disse-lhe: Na nossa próxima viagem, vais a olhar para o lado esquerdo do caminho, o teu lado. - E que verei? - Perguntou a bilha. Verás as flores a que a tua água perdida, durante todo este tempo, deu vida.
Jean-Claude Carrière, Nova tertúlia de mentirosos
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A noção de criatividade e o interesse da ciência pelos fenómenos associados aos processos criativos tem animado saudáveis controvérsias versando questões ligadas à delimitação e definição do próprio conceito, aos processos de avaliação e medida, às características dos criadores e génios científicos e ao reconhecimento em geral e diferenciação dos atos criativos.
Neste módulo abordaremos questões relacionadas com o processo criativo. No entanto, convém desde logo referir que, apesar de estarem identificadas sequências de etapas do processo criativo, devemos considerar a criatividade como um processo muito mais heurístico do que algorítmico.
Apesar desta circunstância, é possível pensar que com a prática de exercícios de criatividade, o sujeito torna-se mais atento ao mundo, mais livre nos seus pensamentos e passos; compreende melhor, ou, pelo menos, de forma diferente, as situações que se apresentam e adapta-se-lhes com maior exatidão e, sobretudo, descobre e desenvolve, pouco a pouco, as suas próprias capacidades e recursos interiores.
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1. ALGORÍTMO E HEURÍSTICA Um algoritmo é, nas ciências dedutivas, um processo de cálculo ou uma regra que, sempre que aplicada a premissas conhecidas, produz resultados. Por exemplo: quando se passa um termo numa equação para o outro lado da igualdade, ele troca de sinal. Verdade ou regra matemática, os algoritmos são sempre verificáveis.
A heurística, do grego heuriskein (descobrir), pelo contrário, é uma verdade circunstancial, não é verificável, não é matematicamente comprovável. Quase todos os resultados obtidos a partir do recurso a métodos e técnicas para o desenvolvimento da criatividade são, pela sua natureza, heurísticos: nunca se pode ter a certeza de qualquer conclusão, nem mesmo do processo de a obter, a partir de dados previamente conhecidos.
No entanto, apesar do seu caráter heurístico dos processos, muitos são os autores que defendem que através da aplicação de algumas técnicas e procedimentos,
é
possível
a
qualquer
indivíduo
desenvolver
as
suas
competências criativas, apresentar respostas originais e alcançar soluções mais adequadas para os problemas enfrentados. Ou seja, se os resultados a obter nunca estão garantidos, tal facto não deve, contudo, inviabilizar uma conceção organizada e sistematizada do processo que permite a (eventual) obtenção desses resultados.
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2. OS 4 Ps DA CRIATIVIDADE A expressão os 4 Ps da criatividade é “clássica” no seio dos teóricos e práticos que estudam e intervêm na criatividade. A expressão refere-se às abordagens centradas na pessoa, no processo, no produto e no meio (pressão). Englobam a pessoa criativa e os seus atributos, o processo criativo, nomeadamente as operações mentais e o conhecimento, o produto criativo e as suas propriedades e, ainda, o meio que potencia a criatividade, sendo esse “P” também referido como periferia ou como persuasão. Estas quatro dimensões afirmam-se como uma ferramenta útil para estudar e sistematizar a informação sobre a criatividade.
Os 4 Ps da Criatividade
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PESSOAS
Se bem que a preocupação com a identificação das características pessoais dos criativos já não seja exclusiva do estudo da criatividade, a sua análise pode proporcionar um quadro mais completo do tema, bem como orientar a intervenção. Uma das figuras mais influentes foi Maslow que descreveu a coragem, a liberdade, a espontaneidade e a aceitação de si próprio como traços que permitem que as pessoas atinjam plenamente o seu
potencial. Outros autores
descreveram a
independência, a autoconfiança, a atração pela complexidade, a orientação estética e a assunção de riscos, como traços criativos quer de pessoas eminentes quer de pessoas comuns.
São
várias
as
características
ou
traços
de
personalidade associados aos criadores. Entre elas podemos ainda destacar as seguintes: fluência e flexibilidade
de
pensamento,
originalidade,
sensibilidade aos problemas, imaginação, humor, criticismo, independência, etc. PRODUTOS
Os produtos criativos são definidos em função de dois critérios básicos:
a) Serem
originais,
raros,
novos e estatisticamente pouco frequentes;
b) Serem aceites, valorizados e
considerados
como
apropriados ou bons para os fins a que se destinam.
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PROCESSOS
Os processos criativos dizem respeito à dinâmica entre pessoas e meio envolvente, bem como aos vários momentos e fases de pensamento associados ao ato de gerar algo de novo. Nestas fases podemos distinguir vários
momentos:
preparação,
produção e aplicação.
Este tópico será apresentado de forma mais desenvolvida na abordagem da temática relacionada com o CPS – Cretive Problem Solving. PRESSÃO / MEIO POTENCIADOR
Na medida em que a criatividade é um fenómeno interpessoal e social, a dimensão que se refere ao ambiente que a potencia assume-se relevante.
A necessidade de aceitação e de reconhecimento do trabalho criativo parece ser uma condição necessária ao investimento na criatividade.
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Essa efetiva necessidade de reconhecimento não se traduz forçosamente no tipo de reforços a que tradicionalmente a associamos: elogios, prémios, estatuto. Muitas vezes, e no caso de alguns artistas, é o término de uma produção que motiva o reconhecimento pessoal e que provoca a vontade de voltar ao princípio, como sugerem a analogia da bolsa de valores utilizada por Sternberg e Lubart e o termo “autotélico” referido por Csikszentmihalyi.
A inclusão do meio como fator determinante na potenciação da criatividade tem sido justificada pela sua influência geral na pessoa, processo e produto criativo, acima de tudo pela influência direta que tem na motivação pessoal do criativo. Mais ainda, um aspeto adicional associado às várias teorizações sobre a criatividade é o da comunicação dos resultados do processo criativo, que pode ou não ter eco no seio do domínio em que se insere. Por isso é que muitos autores referem o quarto “P” como o da Persuasão para ilustrar a confluência entre as qualidades pessoais que permitem desafiar multidões e o meio em que o produto tem impacto. Outros têm pretendido salientar ao aspeto externo desta influência e têm apelidado a dimensão de periferia que influencia em simultâneo os outros três Ps – pessoa, processo e produto. Um outro termo que, por vezes, é utilizado para designar este “P” é o de Pressão, procurando chamar a atenção para a importância do clima social cultural e educacional facilitador da criatividade e dos bloqueios presentes em múltiplos contextos e que inibem o seu desenvolvimento.
Se os índices mais fiáveis de criatividade parecem ser o processo e o produto, as características de personalidade revelam ser um bom preditor da criatividade e o contexto sociocultural e de conhecimentos desempenha o duplo papel da base a partir dos quais o produto pode ser elaborado e no seio dos quais este é avaliado e possivelmente aceite. Por isso, os fatores contextuais podem ser facilitadores ou inibidores da criatividade.
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IDEIAS PRINCIPAIS
CRIATIVIDADE
OS 4 Ps DA
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A expressão os 4 Ps da criatividade é “clássica” no seio de teóricos e práticos. A expressão refere-se às abordagens centradas na pessoa, no processo, no produto e no meio (pressão). Meio: este “P” é também referido como periferia ou como persuasão. Estas quatro dimensões afirmam-se como uma ferramenta útil para estudar e sistematizar a informação sobre a criatividade.
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3. FASES E ETAPAS DO PROCESSO CRIATIVO
Muitas das perspetivas teóricas sobre a criatividade têm as suas raízes nas preocupações descritivas sobre as várias fases que atravessa o processo criativo.
Há muitos anos que o processo de criatividade é estudado por investigadores das mais diversas áreas do saber e, seguramente por esse motivo, existem vários modelos para explicar esse processo. No entanto, um ponto em comum entre esses investigadores é acreditar que a criatividade não aparece subitamente, como se fosse um momento de sorte ou mesmo uma inspiração divina, como alguns filósofos pensavam na Antiguidade. Cada fase do processo de criatividade revela uma intencionalidade e uma capacidade de interferir, ou seja, de fazer alguma coisa para sermos mais criativos. Também é importante ressaltar que, genericamente, se considera que o processo de criação não ocorre no vazio, mas num contexto social e, por esse motivo, ele é afetado pelo ambiente social, económico, geográfico e pelas forças políticas, por valores culturais e por tudo o que está a volta do criador.
Vamos aqui apresentar vários modelos para o processo do pensamento criativo, que têm sido sugeridos na literatura própria, desde há muito anos atrás. Mas, antes de começarmos essa revisão é preciso deixar claro que alguns teóricos da criatividade não concebem a ideia de que o processo da criatividade possa ser descrito como uma sequência de passos, dentro de um modelo. Por exemplo, Wertheimer, psicólogo gestaltista, afirma que o processo do pensamento criativo
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é uma linha integrada de pensamento que não se encaixa na segmentação em passos.
O primeiro modelo foi desenvolvido por Graham Wallas em 1926 na obra The Art of Though, que propôs um processo criativo dividido em 4 fases, o qual continua a ser, ainda hoje, uma base para a maioria dos atuais programas de desenvolvimento da criatividade:
1. Preparação: O momento em que estamos à frente de um problema, seja qual for, e partimos para a recolha
do
maior
número
de
informações sobre o assunto em questão, como dados, números, factos, etc. Após a aquisição dessa informação, o indivíduo dispõe de mais elementos para pensar sobre o problema.
2. Incubação: Nesta fase do processo, o problema é internalizado na mente subconsciente e nada parece estar a acontecer externamente. O indivíduo desliga -se do problema, deixa-o de lado por um tempo, mas mantém uma “chama acesa”, uma vez que o problema ainda não foi resolvido. O inconsciente, liberto da consciência, procura fazer as diversas conexões, que estão na essência da criação. Aqui todos os referenciais pessoais, isto é, tudo que aprendemos na vida e que está arquivado em na memória é “vasculhado”.
3. Iluminação: a ideia criativa emerge dos processos pré-consciente e manifesta-se na consciência. Esta fase ocorre nos momentos mais inesperados de nossa vida. É o momento em que a nova ideia emerge repentinamente e visualizamos a solução do problema, representando uma situação próxima da clássica expressão de Arquimedes, “Eureka!”.
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4. Verificação: Neste estágio o intelecto deve terminar a obra que a imaginação iniciou. Neste momento o isolamento não é aconselhável, pois são necessárias opiniões e reações alheias, através de testes, críticas e avaliações.
Com a da inclusão da incubação seguida pela iluminação, a ideia implícita neste modelo é que o pensamento criativo é um processo inconsciente que não pode ser totalmente dirigido. Nota-se também que a primeira e a última fases do modelo, a preparação e a verificação, sugerem que o pensamento criativo e o analítico andam juntos, são complementares e não opostos um ao outro.
Alex Osborn (1953), o criador do brainstorming, desenvolveu também uma teoria sobre o processo
da
criatividade,
equilibrando a imaginação e análise,
na
considerou
qual sete
também
etapas:
1.
Orientação – identificação do problema; recolha
2. de
Preparação informação;
– 3.
Análise – separar o material relevante; 4. Ideação – agrupar /amontoar
alternativas
ou
ideias; 5. Incubação – “deixar de lado”, para permitir a iluminação; 6. Síntese – juntar as peças; 7. Avaliação – apreciar as ideias concebidas.
O modelo de Osborn é também um processo verificável ou, pelo menos, identificável nas suas partes constituintes.
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A combinação sistemática de técnicas para a criatividade dirigida e técnicas para análises continuam como um tema predominante, nos vários modelos recentemente propostos. Sidney Parnes (1992) criou o modelo CPS “Cretive Probelm Solving” – Resolução Criativa de Problemas a partir da estratégia originariamente formulada por Osborn. Esse modelo é apresentado em seis passos: 1. Encontrar o objetivo (identificar o objetivo, o desejo, o desafio); 2. Encontrar o facto (recolher dados); 3. Encontrar o problema (clarificar o problema); 4. Encontrar a ideia (gerar ideias); 5. Encontrar a solução (selecionar as ideias); e 6. Encontrar a aceitação (planear e implementar a ação). (Posteriormente, este modelo será apresentado com mais detalhe).
Stein propôs uma outra teoria segundo a qual o processo criativo era analisado segundo três etapas: (1) formação de hipóteses, (2) teste de hipóteses e (3) comunicação de resultados.
Posteriormente Amabile tentou conceptualizar um modelo integrado de criatividade, no qual considerou cinco fases do processo criativo: (1) apresentação do problema, (2) preparação, (3) geração de ideias, (4) validação das ideias, (5) avaliação das consequências (ver figura seguinte). Na primeira fase ou etapa, o problema nasce a partir de estímulos internos ou externos ao sujeito. A pessoa, no ato criativo, deseja descobrir qualquer coisa, está intrinsecamente motivada para compreender e saber mais sobre o problema e resolver aspetos que estão em aberto. Aceite o desafio do problema, inicia-se a preparação da recolha de informação relevante para enfrentar a tarefa. Uma vez ativado o conhecimento, o sujeito começa a gerar ideias e estratégias para estudar e resolver por tentativa e erro o problema. Depois de geradas, as ideias são testadas para saber até que ponto correspondem às exigências do problema. Na prática, cada ideia é testada face ao problema e à sua potencialidade em termos de solução. O resultado destes testes desencadeia o fim da resolução do problema, ou reenvia o sujeito para o reinício da resolução do problema.
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O modelo de Amabile isola três componentes que contribuem para a realização de processos criativos: motivação, aptidões e competências no domínio da tarefa e do pensamento criativo.
QUADRO - FASES E ETAPAS DO PROCESSO CRIATIVO (AMABILE) Aptidões no domínio da tarefa
Motivação intrínseca para a tarefa
COMPONENTE INDIVIDUAL A
Fonte Externa
Recolha de Informação e recursos
Fonte Interna
Competências no pensamento criativo
COMPONENTE INDIVIDUAL B
Produção de mais de uma ideia ou produtos
COMPONENTE INDIVIDUAL C
Listagem de ideias em função da tarefa
Sucesso
FIM
Insucesso
FIM
Progresso
VOLTA a 1
FASE 1
FASE 2
FASE 3
FASE 4
FASE 5
APRESENTAÇÃO DA TAREFA
PREPARAÇÃO
GERAÇÃO DE IDEIAS
VALIDAÇÃO DE IDEIAS
AVALIAÇÃO DO PRODUTO
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A criatividade não aparece subitamente, como se
PRINCIPAIS IDEIAS
CRIATIVIDADE: FASES E ETAPAS
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fosse um momento de sorte ou mesmo uma inspiração divina. Cada fase do processo de criatividade revela uma intencionalidade e uma capacidade de interferir, de
fazer
alguma
coisa
para
sermos
mais
criativos. Foram propostos vários modelos: Wallas, Osborn, Parnes, Stein, Amabile, entre outros.
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4. FATORES INIBIDORES DA CRIATIVIDADE Se a criatividade é, de acordo
com
vários
autores, suscetível de ser desenvolvida em todos os indivíduos, como explicar o
facto
(altamente)
das
pessoas criativas
constituírem apenas uma minoria?
Sem dúvida que a resposta a esta questão relaciona-se com as formas, mais explicitas ou mais subtis, com que vamos reduzindo e inibindo os possíveis efeitos desta potencialidade. Este facto deve-se, em grande parte, à ação de bloqueios, que nos tornam incapazes de pensar algo diferente, mesmo quando as nossas respostas usuais já não funcionam. Alguns bloqueios são criados por nós mesmos: medos, perceções, preconceitos, emoções, etc. Outros são criados pelo ambiente: tradição, valores, regras, falta de apoio, conformismo, entre outros.
Os bloqueios à criatividade podem ser classificados nas seguintes categorias:
Bloqueios culturais: Barreiras que impomos a nós mesmos, geradas por pressões da sociedade ou da cultura a que pertencemos. Estas barreiras conduzem frequentemente à rejeição de referências culturais diferentes. Alguns destes bloqueios:
Estereótipos e preconceitos;
Resistência à mudança: “Tradição é tradição”;
Sobrevalorização do técnico e do científico como única fonte de certeza.
Bloqueios sociais: Barreiras que impomos a nós mesmos, geradas por pressões do(s) grupos(s) a que pertencemos. Estas barreiras conduzem frequentemente à
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rejeição do modo de pensar de pessoas ou grupos diferentes. Alguns destes bloqueios:
“Aqui nós não pensamos ou agimos dessa forma.”;
“Não se mexe numa equipa vencedora.”;
Idealização das relações: valorização do “fácil” e da ausência de conflitos.
Bloqueios
intelectuais
e
comunicação:
Falta
habilidade
formular
para
de de e
expressar com clareza problemas e ideias. Podem resultar de vários fatores:
Informação
incorreta
ou
incompleta;
Dificuldade em isolar o problema;
Fixação profissional ou funcional, isto é, procurar soluções unicamente dentro dos limites da sua especialização ou campo de atividade;
Crença de que para todo os problemas só há uma única solução válida;
Uso inadequado ou inflexível de métodos para solução de problemas;
Poucas competências comunicacionais: inabilidade para formular e expressar com clareza problemas e ideias.
Bloqueios emocionais: Resultantes do desconforto provocado por estados afetivos. Exemplos:
Apego a rotinas;
Medo de correr riscos;
Receio de parecer ridículo;
Desconforto
com
incertezas
e
ambiguidades;
Intolerância à frustração;
Imediatismo: incapacidade para “adiar a recompensa”;
Motivações externas (por exemplo: prestígio, fama social…); 19 www.nova-etapa.pt
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Negativismo ou pouca capacidade para persistir / resistir ao desânimo.
Bloqueios ambientais e organizacionais dos locais de trabalho:
Ambiente inseguro, desagradável;
Atitudes inibidoras à expressão de sentimentos,
emoções,
humor
e
fantasia;
Autoritarismo,
estilos
de
gestão
inibidores;
Distrações frequentes (interrupções, ruídos, telefone, e-mail);
Falta de apoio, cooperação e confiança;
Ausência de metas significativas;
Rotina cansativa, excesso de trabalho (stress).
Bloqueios de perceção: Obstáculos que nos impedem de perceber claramente o problema ou a informação necessária para resolvê-lo. Pouca habilidade para ver o problema sob diversos pontos de vista. Exemplos:
Estereótipos: ignorar que um objeto pode ter outras aplicações além de sua função usual.
Limites imaginários: projetamos fronteiras no problema ou na solução que não existem na realidade.
Sobrecarga de informação: familiaridade / excesso de informações e de detalhes que restringem a solução que pode ser considerada.
Segundo Van Oech, eis algumas razões pelas quais não”somos diferentes” mais vezes:
1. Só há uma resposta certa. 2. Isso não tem lógica! 3. Siga as regras. 4. Seja prático. 5. Brincar é frívolo.
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6. Não é a minha área. 7. Evite a ambiguidade. 8. Não seja tolo. 9. Errar é errado. 10. Tome a decisão: ”hoje não há sorrisos para ninguém”.
PRINCIAPAIS IDEIAS
BLOQUEIOS À CRIATIVIDADE
in A Whack on the Side of the Head, Roger Van Oech
Na criatividade existem muitos bloqueios!
Categorias de bloqueios à criatividade: Bloqueios culturais Bloqueios sociais Bloqueios intelectuais e de comunicação Bloqueios emocionais Bloqueios ambientais e organizacionais Bloqueios de perceção
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5. A RETER… Algumas pessoas veem a criatividade como uma atividade relativamente pouco, ou nada, estruturada, como um “saltitar” em torno de várias ideias até encontrarem uma ideia certa. Embora possa ser assim que funcione para algumas pessoas, a verdade é que a criatividade foi alvo de inúmeras abordagens que procuraram estruturá-la. De facto, vários autores propuseram e identificadas sequências de etapas do processo criativo, devidamente organizadas e sistematizadas.
No entanto, também se deve aqui reafirmar a ideia de que o desenvolvimento estruturado da criatividade se aproxima mais de processos heurísticos do que de um algoritmo, uma vez que não consegue garantir resultados pela simples aplicação de processos devidamente sequenciados. Até porque a criatividade é um “terreno fértil” a obstáculos e resistências. Efetivamente o ato de criar está sujeito a inúmeros bloqueios de vária ordem, que pesam sobre o indivíduo que cria. No entanto, o desejo de ultrapassar essas mesmas resistências também está presente em muitas pessoas. De facto, a construção criativa constitui uma experiência comum a muitos seres humanos.
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BIBLIOGRAFIA
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