Programar e Executar a Formação

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ÍNDICE

Objetivos Pedagógicos

3

Conteúdos Programáticos

3

Introdução

4

1. A Engenharia de um Programa de Formação

7

2. Funções do Coordenador

13

3. O Grupo em Formação

16

4. A Relação com o Outro

23

5. Como Despertar o Interesse dos Formandos

37

6. A Ansiedade do Formador

38

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OBJETIVOS PEDAGÓGICOS No final deste módulo deverá ser capaz de:  Organizar

e Programar ações de Formação;

 Identificar

as funções/tarefas do Coordenador Técnico e Pedagógico;

 Reconhecer  Identificar

os diferentes “grupos”;

as atitudes a ter para com eles.

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS 

A Engenharia de um Programa de Formação;

Funções do Coordenador Técnico e Pedagógico;

O Grupo em Formação;

A Relação com o Grupo;

Comportamento e atitudes do Formador.

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INTRODUÇÃO Vários

aspetos

condicionam

a

formação, como a organização, as relações existentes, a comunicação que se estabelece e o trabalho que se desenvolve, etc. Criar um clima que facilite a iniciativa, o diálogo e a reflexão sobre as práticas, faz com que a

formação

não

possa

ser

simplesmente abordada a partir de programas centrados nos conteúdos de determinado posto de trabalho, pois cada vez mais a produção se pauta por critérios de qualidade, produtividade, eficácia, competitividade, entre outros.

Daí a ênfase que é necessário colocar noutras dimensões, transmitindo não apenas informações e saberes-fazer relacionados com o mercado de trabalho, mas contemplando ainda os aspetos culturais, sociais e comportamentais que estimulem a capacidade dos colaboradores, porquanto as necessidades atuais exigem ambientes formativos imbuídos de cultura da organização e de códigos de conduta de funcionamento que operem na realidade em conjunto com as normas de trabalho e da produção e que favoreçam a combinação da educação e da formação com trabalho e tecnologia, em ambientes que permitam que os cursos se transformem em mecanismos de transmissão de valores,

comportamentos

e

hábitos,

adequados

a

munir

de

novas

competências todos aqueles que os frequentam.

Se isso acontecer não assistiremos tão frequentemente ao desemprego tecnológico, porque o trabalhador ao atualizar-se contribui para a manutenção do seu emprego.

Neste caso, cabe então aos organismos criar 4 www.nova-etapa.pt


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as condições para elevar o nível da Formação que, sem perder de vista a produtividade e a competição nacional e internacional, tenha em conta o cidadão, porque não estará muito longe de vir a acontecer que o trabalho físico deixe de predominar sobre o intelectual, e se ainda existe procura para uma série de ocupações tradicionais, a necessidade do domínio de novas tecnologias está a aumentar consideravelmente.

Conseguir conciliar estas situações é a tarefa a que os responsáveis da Educação e da Formação têm de dar resposta e, para isso, necessitam de organizadores da Formação e de formadores competentes, porque, num mundo marcado pela globalização, pela queda das ideologias e pela busca de novos valores, a sobrevivência das organizações passa pela manutenção e conquista de espaços no mercado, e isso requer capacidade de incorporar rapidamente novos conceitos, novas formas de organização, adaptação às novas tecnologias e uma preocupação constante pela busca da qualidade dos produtos e dos serviços.

Tirar partido de todo o potencial de uma organização exige a utilização de metodologias complementares àquilo que vem sendo feito, de modo a dar resposta aos problemas através da utilização de estratégias formativas, não apenas antecipativas, mas também pró-ativas.

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Isso, naturalmente, implica a criação de um referencial de informação estratégica que permita à formação de adultos facilitar a polivalência e a transferibilidade, baseando-se em “perfis de grande alcance” que exigem que ela seja suficientemente flexível para dar resposta a múltiplas utilizações, de modo a preparar os trabalhadores para a instabilidade das profissões. O conceito de estabilidade de emprego começa a ser substituído pela necessidade de trabalhadores flexíveis, mais qualificados e capazes de assegurarem rápidas reconversões para garantirem a sua permanência no trabalho, na medida em que as profissões evoluem, mudam ou, pura e simplesmente, desaparecem.

Isso não implica que se despreze a experiência adquirida, pois, se ela pode não constituir uma aprendizagem em si, a aprendizagem torna-se mais difícil sem a experiência. Assim, a Formação não pode ignorar as dimensões formativas das situações de trabalho e muito menos deixar de ter presente as suas potencialidades e as suas limitações, nem deixar de considerar que os indivíduos, cada vez mais, desempenham uma maior diversidade de papéis e que se dão mudanças frequentes nas suas vidas, o que faz com que as configurações desses papéis mudem automaticamente.

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1. A ENGENHARIA DE UM PROGRAMA DE FORMAÇÃO “As pessoas não raciocinam sem modelos” Paul Valery

Dada a forte cultura psicossociológica existente na formação, o termo Engenharia da Formação chocou em tempos os que a organizam e os que a executam. No entanto, ultimamente, cada vez hesitam menos

em

o

utilizar,

porque,

se

a

criatividade e a imaginação são fatores imprescindíveis para os profissionais da formação, o rigor na gestão é fundamental.

A Engenharia da Formação tem como função organizar os elementos dos vários sistemas a dar-lhes a coerência. Começa a afastar-se o tempo em que era subestimada a importância estratégica da formação e ao “abrir-se” a outras ciências mais facilmente encontrará o lugar que merece e a que tem direito.

Podemos definir Engenharia da Formação como uma atividade específica de conceção, estudo e coordenação de um conjunto de métodos e estruturas de organização que permitem controlar a interdependência dos dados científicos, técnicos, tecnológicos, económicos e financeiros necessários à realização da formação e que procuram otimizar o respetivo investimento.

Os dados que se seguem enquadram-se na linha descrita e são seguramente, um contributo para a organização de programas de formação.

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Introdução A introdução destaca alguns aspetos importantes, tais como: 

Finalidade do programa;

Destinatários;

Condições que os formandos devem possuir;

Tipo de formação a utilizar;

Perfil dos formadores;

Metodologia a seguir.

Deverá, ainda, conter outras informações gerais julgadas necessárias: 

Os objetivos a atingir;

Os títulos principais das matérias a tratar;

A duração da formação;

As datas previstas para o início e o fim da formação;

Os locais de realização.

A introdução destaca alguns aspetos importantes, tais como: 

Finalidade do Programa;

Destinatários;

Condições que os formandos devem possuir;

Tipo de formação a utilizar;

Perfil dos Formadores;

Metodologia a seguir.

Poderá, ainda, conter outras informações gerais julgadas necessárias.

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Cronograma Contém a indicação da forma como se prevê que a formação ocorra em relação ao tempo.

Conteúdos Programáticos Consiste numa simples listagem das matérias a tratar no curso.

Corpo Fundamental do Programa de Formação Contém o programa desenvolvido, incluindo:

Módulos Agregados de matérias afins, a serem tratadas em conjunto, com vista a alcançar objetivos bem determinados. Os módulos de formação deverão refletir o tipo de estrutura previsto para o programa, o processo de formação, as metodologias a usar e as características dos formandos e formadores. Quando o programa se destine a autoformação, os módulos poderão constituir o veículo de formação a ser usado diretamente pelo formando.

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Cada módulo deve conter: Titulo - O título deverá ser sugestivo e identificar de algum modo o conteúdo da matéria tratada.

Objetivo - Descrição dos objetivos que se pretendam alcançar com cada conteúdo de formação considerado.

Matéria a tratar - Descreve as matérias a tratar, tendo em conta a estrutura do programa de formação, o processo de formação e as metodologias que se prevê venham a ser usadas. Para além da descrição detalhada das matérias a tratar, pode conter instruções específicas sobre a metodologia a usar em cada caso particular e sugestões para auxílio do formador. Quando se trate de programas destinados a autoformação, utilizando material escrito, este documento deverá conter toda a informação/orientação necessária para conduzir o formando à obtenção dos conhecimentos e à realização das atividades pretendidas. Este será o documento fundamental utilizado pelo formando e, por isso, deverá ser apresentado numa sequência pedagógica adequada. Tempos Previstos – Indica os tempos previstos para a realização de cada unidade de formação. Equipamentos, ferramentas e utensílios a utilizar – Indica quais os equipamentos, ferramentas e utensílios necessários, referindo o tipo e a quantidade. Poderão ser aqui incluídos os auxiliares pedagógicos eventualmente previstos. Material de consumo – Indica quais os tipos e quantidades de material a utilizar.

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Textos de Apoio – Indica quais os textos de apoio a utilizar, podendo os mesmos ser

incluídos

destinem

a

quando

se

autoformação.

Poderá igualmente indicar-se a bibliografia recomendada.

Avaliação

Indica quais os

instrumentos de avaliação que devem ser utilizados em cada fase do programa, a fim de verificar se a formação está a decorrer dentro dos parâmetros previstos.

Nos

programas

destinados a autoformação, esses instrumentos

poderão

ser

incluídos com os respetivos critérios de avaliação.

Formação anterior - Deverá ser indicada qual a matéria que deveria ser aprendida anteriormente. No caso da estrutura de formação ser do tipo modular, torna-se mesmo indispensável referi-la.

O desenvolvimento económico e social exige a aquisição de novos conhecimentos, o desenvolvimento de capacidades e a mudança de atitudes e comportamentos, com vista à obtenção de benefícios económicos e de forma a responder às necessidades de uma sociedade cada vez mais complexa, assim como ao próprio desenvolvimento pessoal.

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Para dar resposta aos grandes desafios que se colocam, o formador terá, cada vez mais, de estruturar a sua formação na base da flexibilidade, mas sem perder de vista: 

A população a que se destina – caracterizada em função de: 

Nível etário

Habilitações literárias

Experiência profissional

Outros pré-requisitos

Objetivos pedagógicos a serem alcançados no final da formação.

Conteúdos temáticos

Meios de ensino/aprendizagem – dizendo respeito a todos os recursos materiais, técnicos e tecnológicos (instalações, equipamentos, métodos e técnicas) suscetíveis de utilização.

Os critérios de avaliação – previamente definidos porque não interessa formar sem fazer o controlo dos resultados alcançados. 12 www.nova-etapa.pt


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2. FUNÇÕES DO COORDENADOR As funções do Coordenador Técnico e Pedagógico são de tal modo importantes que nem sempre é fácil encontrar pessoas com conhecimentos para o seu desempenho. Que funções, tarefas, operações terão de ser desempenhadas por um Coordenador Técnico e Pedagógico?

É preciso não esquecer que os ambientes de trabalho estão a evoluir continuamente e, como é evidente, novos tipos de organização do trabalho exigem qualificações suplementares àquelas que tradicionalmente eram exigidas, daí que as necessidades de formação se tornem mais dispersas. A evolução tecnológica, organizativa e de gestão, leva à necessidade de acesso rápido, descentralizado e flexível da formação. Por isso, neste momento, já estão a ter uma importância fundamental formas de formação diferentes, praticadas ao nível das empresas e das organizações.

Para além do eLearning, também encontramos no seio de empresas e organizações, formas de formação como a leitura (revistas, jornais, livros, manuais, etc.), suportes audiovisuais (áudio e vídeo), suportes multimédia, ensino assistido, etc., que têm lugar em direto ou em diferido, descentralizadas ou não, de forma individualizada ou em grupo.

Isto vem reforçar ainda mais a importância do papel do Coordenador TécnicoPedagógico. Mas… deverá ele imiscuir-se na gestão e na área que compete ao formador?

Pensamos que ele deverá ser uma espécie de mediador entre Gestor de Formação ou de Recursos Humanos, Formador e Formandos, relacionando-se com todos para criar condições favoráveis, de modo a tirar-se o máximo 13 www.nova-etapa.pt


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rendimento da Formação, sem substituir ninguém, mas criando uma dinâmica que apele à participação de todos os intervenientes na procura da melhor solução para o aumento da competitividade da instituição onde as ações se desenvolvem ou das organizações a quem se destinam os formandos. Para isso, ele terá de ser capaz de lidar com potenciais conflitos, perceber que os grupos de formação são constituídos por pessoas que, por vezes, estabelecem entre si complexas teias de relações, exibem comportamentos e desenvolvem atitudes que muitas vezes podem constituir autênticos labirintos.

Ele terá de perceber que a realidade dos grupos

em

formação

é,

por

vezes,

complexa e que um dos seus objetivos é torná-la

inteligível,

de

modo

a

evitar

atitudes precipitadas e encontrar a lógica segundo a qual as pessoas se relacionam e agem, de modo a ser capaz de perceber e compreender os principais fenómenos que caracterizam os grupos e a organização ou organizações para quem é feita a formação. Ser

capaz

de

coordenar

projetos,

viabilizando, influenciando, preparando com a

implicação

direta

de

todos

os

participantes um futuro desejável para eles e para a organização a que pertencem. OUTRAS ATIVIDADES DO COORDENADOR TÉCNICO – PEDAGÓGICO

Deverá ainda: 

Planificar ações de formação;

Fazer cronogramas e planificar recursos;

Elaborar fichas técnicas;

Contratar formadores;

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Apoiar na conceção e execução de esquemas de divulgação interna e externa ação;

Colaborar eventualmente na preparação de anúncios de candidatura e desdobráveis informativos;

Fornecer modelos de fichas, formulários e outros documentos que mostrem o grau de progressão dos formandos na ação;

Analisar e detetar desvios: objetivos definidos/objetivos atingidos e propor medidas de reajustamento ou correção;

Avaliar: avaliação diagnóstica, formativa e somativa de cada um dos cursos e do conjunto;

Organizar processos de arquivo relativos ao desenvolvimento da ação com o controlo orçamental de acordo com as normas oficiais;

Elaborar relatórios de conteúdo qualitativo, quantitativo e orçamental da ação.

Na preparação de ações a distância,

o

Coordenador

Técnico e Pedagógico tem de reunir com equipas de atores que

intervêm

realizadores, técnicos manuais,

nos

filmes,

guionistas, que

concebem

técnicos

de

informática, designers, técnicos de montagem e pós produção, etc. Enfim, uma atividade aliciante que já é uma realidade e exige uma grande capacidade criativa, gosto e competência para animar e coordenar equipas, conhecimentos e experiência de Formação Profissional, e paciência para elaborar trabalhos burocráticos.

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3. O GRUPO EM FORMAÇÃO O grupo é um conjunto de indivíduos com um objetivo comum e em interdependência que cooperam para atingir o fim que os reuniu. O grupo de formação é mais do que o somatório dos seus membros considerados individualmente. Ele é um todo orgânico com características específicas e um comportamento que lhe é próprio.

Muito se tem escrito acerca da dinâmica de grupos, no entanto após a leitura fica-se sempre com

alguma

insatisfação.

Deseja-se sempre mais. Isso só vem reforçar a ideia de que lidar com grupos, para além de ser fascinante, é extremamente difícil. Nas ações de formação é

costume

encontrar

participantes que querem, a todo o custo, levar receitas para aplicarem em determinados momentos.

Na formação de formadores chegam mesmo a perguntar o que devem fazer quando se verifica uma crise de apatia ou de agitação.

Por vezes é difícil convencê-los de que uma dada situação pode ser muito mais complicada do que parece ou na realidade ter muito menos importância do que aquela que os formadores pensam. Esta explicação nem sempre consegue convencer os participantes. Se houvesse receitas, todas as pessoas seriam exímias a lidar com grupos, bastava ir a um curso, decorar tudo o que o formador dissesse e pronto, aí estava o sucesso! Todos os que frequentassem o mesmo curso e decorassem a matéria seriam exímios na arte de monitorar. Na realidade, as coisas não se passam assim.

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Um formador terá de descobrir as causas de determinados sentimentos: interrogar, observar, escutar, prestar atenção ao que se passa, conhecer uma variedade de métodos e técnicas e, a partir daí, optar por uns ou por outros. Se assim não fosse, qualquer gravador teria êxito na formação.

Quando estão envolvidos valores, o conflito numa sessão de formação pode acontecer porque todo o adulto possui certas ideias bem desenvolvidas e definidas acerca de si próprio, que acompanham o seu sistema de ideias e crenças. Nalguns casos, admitir que necessita de aprender algo de novo é considerar que algo está errado no seu sistema presente.

Muitos formandos, embora compreendam a sua necessidade de novos conhecimentos, podem sentir-se tão ameaçados pelo desafio às suas antigas crenças, que são incapazes de aprender.

Imagine um bom profissional (não interessa de quê), que poderá considerar que necessita saber mais alguma coisa acerca da sua profissão, mas, uma vez no curso, pode rejeitar ou recusar compreender tudo o que o formador e o resto do grupo dizem, pois aceitar equivaleria a admitir que a sua maneira atual de agir está errada.

Esta pode ser uma das razões porque os adultos se refugiam muitas vezes no inconsciente subterfúgio de que o que estão a aprender se destina a outrem.

Tal como um pintor recua muitas vezes para ver mais nitidamente o seu trabalho, também o formador deverá tentar conhecer o impacto da matéria que transmitiu e, para isso, ele deverá comunicar com os seus formandos

para

saber

claramente

o

resultado que o seu trabalho teve junto deles. 17 www.nova-etapa.pt


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Não é possível seguir receitas, porque, muitas vezes, o formador terá de partir não do que lhe parece claro, distinto, mas do obscuro, do incerto, não do conhecimento seguro, mas da crítica, da insegurança. Se fossem dadas receitas para o formador desenvolver a sua ação, muitas estariam fora da realidade.

Por vezes, é mesmo necessário que ele se desprenda de ideias feitas que o impelem para caminhar num determinado sentido, para que possa encontrar outras maneiras de proceder. Nem sempre é possível encontrar o que se desconhece se se seguir por caminhos conhecidos. Uma comunicação aberta e eficaz dará ao formador elementos para que ele se aperceba do que se passa nos grupos e, depois desse conhecimento, decidir a atitude que deve adotar. As receitas conduzem à reprodução e o formador não pode ser, nas circunstâncias atuais, um mero reprodutor. Mas, a falta de receitas pode criar insatisfação nos formandos.

Muitas pessoas formadas na área das Ciências Sociais defendiam essa linha só que, à custa de tanto relativizarem, acabavam por se envolver em discussões, não chegar a nenhuma conclusão, e sentirem-se perdidos, pois acabavam por ficar sem bases para decidir e daí poderem passar a dizer que o importante é ser firme. Relativização e firmeza serão contraditórias? Parece que não. O que os adeptos da ideia de firmeza pretendem é ver um formador capaz de defender o seu ponto de vista e não mudar constantemente de opinião só porque outra teoria pode contradizer aquela em que se baseia. Pode-se ser firme sem deixar de perceber que há outras coisas a que é preciso prestar atenção. Quase podíamos dizer que entre a firmeza e a relativização, como em tudo na vida, o importante é o bom senso, ter uma opinião alicerçada em bases sólidas e ser capaz de a defender sem deixar de compreender o outro, ainda que a sua opinião seja contrária.

O bom senso implica que, para além de outras coisas, se tenha o sentido de confiança. Confiança em si próprio e capacidade para mostrar aos outros a sua competência. Antigamente dizia-se que “mais vale sê-lo do que parecê-lo”. Hoje em dia, para além de se ser, também terá de se ser capaz de o parecer. 18 www.nova-etapa.pt


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O sentido da confiança dificilmente será imposto se não se possuir o sentido da oposição, isto é, a capacidade para aceitar a opinião dos outros, ainda que diferente da sua, caso contrário, será querer que as pessoas sejam como rebanhos de ovelhas. Esses animais é que seguem, normalmente, o que vai na frente.

O importante é que o formador possua ideias próprias e as defenda com convicção, tome decisões e se comprometa com elas, embora saiba que pode haver outras maneiras de encarar o assunto. Admitir que outras pessoas podem decidir de maneira diferente, mas ter em conta que trabalhar em tempo real implica ser capaz de tomar decisões rápidas. O envolvimento em grandes discussões, embora por vezes traga conclusões mais ricas, pode fazer perder a oportunidade de atingir o objetivo perseguido. Pode relativizar-se, mas deve ser-se capaz de afirmar e defender com firmeza uma posição. Isso dá segurança aos formandos.

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Estrutura dos Grupos Quem faz o Quê?

Na formação, os grupos são caracterizados por alguns formandos típicos. Uma vez que cada membro ocupa um lugar determinado dentro do grupo, assumindo

responsabilidades

e

direitos,

estes

condicionam

e

são

condicionados pelo papel que desempenham.

Assim, podem tipificar-se alguns papéis que os formandos assumem dentro do grupo e que por vezes conduzem a vários momentos difíceis para o formador.

Nota: Não se esqueça de que são apenas algumas ideias. As atitudes a ter para com os participantes e grupos nem sempre se compadecem com tipificações.

FORMANDO

COMPORTAMENTO DO FORMADOR Controlá-lo, olhando-o e pedir-lhe para repetir

DISTRAÍDO: Está constantemente ocupado a fazer outras

lhe perguntas diretas.

coisas ou a conversar com outros.

Solicitar a intervenção de todos para evitar a

EMBIRRENTO: Indivíduo que procura a constante discussão e antagonismo oscilando entre as discussões dos

Indivíduo de grande inteligência, que sabe de assuntos

e

tem

sintetizando as várias opiniões e devolvê-las

Ter bastante atenção com este tipo de

TIPO EXTRAORDINÁRIO:

os

monopolização. Confrontá-lo com o grupo,

à discussão do grupo.

assuntos e o ataque pessoal.

todos

a última ideia expressa pelo grupo ou fazer-

opiniões

bem

formando. Deve recorrer-se dele, tornando-o seu aliado e utilizar as suas intervenções.

fundamentadas sobre os mesmos.

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FORMANDO

COMPORTAMENTO DO FORMADOR Quando o silêncio se estabelece no grupo, o

SILÊNCIOS PROLONGADOS

formador deve respeitá-lo e deixar que seja um formando a rompê-lo. Se excessivo, questionar o grupo sobre o seu significado.

PARTICIPANTE COM INTERVENÇÕES

Lembrar-lhe a importância de todos terem a

IMODERADAS:

oportunidade de se exprimirem, solicitar que seja breve, ou interrompê-lo e solicitar a

Formando que interrompe constantemente com comentários que nada ou pouco têm a ver com o

participação de outros que tenham revelado ideias contrastantes.

assunto tratado Deve agradecer-lhe, mas acentuar que todos

LÍDER: Indivíduo que tenta monopolizar e controlar os

têm de expressar a sua opinião pessoal e questionar se alguém tem uma opinião

conteúdos programáticos.

diferente. Convém expor claramente ao grupo os

SABOTADOR SISTEMÁTICO: Põe em causa os temas, o formador, os objetivos e tudo de um modo geral. Quanto mais inteligente

efeitos que esta atitude pode ter sobre o grupo, a sua evolução e os seus objetivos. Pedir a colaboração do grupo para a

mais difícil a sua gestão.

resolução do problema. Tentar compreendê-lo e utilizar as suas

TEIMOSO: Indivíduo que dificilmente aceita novas ideias e que atrasa o grupo com a sua insistência em fazer

ideias importantes. Contudo, o formador deve falar-lhe em particular sobre a sua atuação e mostrar-lhe

valer o seu ponto de vista.

os

pontos

fracos

da

sua

argumentação. Deve convidá-lo a interagir com o grupo,

TÍMIDO: Indivíduo que não participa e raramente interage

fazendo-lhe perguntas fáceis e reforçando as suas intervenções.

com o grupo.

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Convidamo-lo a ver o filme. Deixamo-lo com uma analogia que fizemos.

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4. A RELAÇÃO COM O OUTRO Os nossos conhecimentos só têm valor se os soubermos expressar, isso faz-se pela comunicação.

Qualidades pessoais do formador: 

Voz

Presença

Atitudes

Comunicação efetiva com o grupo

Capacidade para preparar improvisos

Conteúdo da mensagem: 

Conseguir tornar-se aceite antes de fazer passar o que pretende

Exprimir as ideias força do grupo

Conformar-se às características mais arreigadas do grupo

Reconhecer os mitos do grupo

OS MOMENTOS INICIAIS

Os primeiros momentos são mais difíceis, por isso deverá começar por ver-se a si próprio perante um grupo ao qual tem que dirigir-se, observar o silêncio na sala quando principiar e sentir a atenção ao proferir argumento após argumento e insistir consigo próprio no que pretende conseguir, com entusiasmo.

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Em vez de se deixar dominar pelo medo, que derrota mais gente que qualquer outra coisa, deverá considerar que um certo receio de falar ao grupo pode ser útil e constituir o modo natural da pessoa se preparar para encontrar desafios invulgares à sua volta. Assim, se reparar que o pulso bate mais depressa e a respiração se precipita, não deverá ser caso para alarme.

Sempre atenta aos excitantes anteriores, a pessoa está a preparar-se para entrar em ação. Se se aproveitar essa preparação fisiológica, dentro de certos limites, ficar-se-á apto a começar a falar com mais fluência e a expressar-se, geralmente, com maior intensidade do que em circunstâncias normais.

A tensão emocional que sentimos pode favorecer a comunicação das informações.

Essa

tensão,

no

entanto, pode tornar-se angustiante se pensarmos que podemos não estar à altura do que esperam os participantes.

Outras vezes, pode acontecer o contrário. Estimulados pela perspetiva de comunicar as nossas ideias, não pensamos senão no modo de expressá-las e, por vezes, julgamos que aquilo que dizemos tem para quem nos ouve o mesmo interesse que para nós, o que nem sempre acontece.

E se adotássemos a atitude contrária? Isto é, em lugar de nos convencermos de que o que pensamos interessa aos outros, nos persuadíssemos de que só os afeta minimamente e que é preciso partir de algo que retenha a sua atenção.

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É necessário não esquecer que as primeiras palavras do formador vão levar o grupo a criar uma determinada imagem, e o julgamento que dela fazem pode ser definitivo por poder haver a tendência para reforçar esse primeiro juízo.

Não é difícil o grupo agarrar-se ao que pensa que lhe pode trazer vantagens. É, por isso, de todo o interesse começar com frases alusivas direcionadas a ele.

A intervenção torna-se mais atraente, e tem mais capacidade de ser escutada uma mensagem onde são apontados os benefícios pessoais que os grupos poderão adquirir, citando, por exemplo, experiências do dia a dia.

O DESENVOLVIMENTO

Deverá fazer-se todo o possível para desenvolver uma faculdade que permita aos outros ver o que se passa na cabeça e no coração. Para isso, é preciso que as ideias e os pensamentos lhes sejam claramente acessíveis, quer individualmente, quer em grupo. Ao desenvolver esforços para atingir esse objetivo, ir-se-á descobrindo que a intervenção causa uma impressão nos grupos como nunca imaginara.

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Os formadores bem sucedidos são os que sabem transmitir bem as suas ideias, as suas convicções, os seus objetivos, e são capazes de motivar, instituir, encorajar e dar segurança. A satisfação dos grupos depende muito da habilidade com que os formadores forem capazes de desenvolver as suas ideias.

A RELAÇÃO PESSOAL COM OS GRUPOS E AS SUAS ATITUDES PARA COM ELES

Este aspeto é, sem dúvida, um dos mais importantes, porque a relação ou empatia que se estabelece com os grupos é extremamente significativa para a transmissão da mensagem.

O formador deverá ser capaz de exprimir claramente as suas ideias, porque isso é tão importante como tê-las e, para expor o assunto, é fundamental que ele possua um conhecimento perfeito do que vai tratar, porque quanto maior for o conhecimento maior será a possibilidade de êxito.

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Conhecer as ações dos grupos para quem vai falar é extremamente importante e deverá servir de estímulo para que o formador conheça o vocabulário, com definições e explicações que facilmente possam ser adaptáveis às pessoas com presença.

LEVAR OS GRUPOS A AGIR

Quando

se

comunica

é

porque se pretende atingir algo, por isso, nada deve ser descurado, tanto ao nível do fundo (o que se pretende dizer), como ao nível da forma (como vamos dizer). É preciso tudo fazer para que as

ideias

que

queremos

transmitir sejam emitidas de modo positivo e recebidas com o mínimo de distorções.

Antes de descrever aos grupos as razões que tem para crer que lhes vai ser proveitoso escutá-lo, convém estar seguro de que ouvem o que lhes diz. É preciso ter presente que, na maior parte dos casos, nos dirigimos a pessoas distraídas, com preocupações, e que necessitamos de atrair a sua atenção.

Um começo apelativo, e com voz clara e sonora, é um fator importante de êxito na comunicação.

Quais as melhores maneiras prender a atenção e levar os grupos a agir?

Há muitas maneiras, por isso o apelo deve ser adaptado ao grupo a que se dirige e ao tema que está a ser tratado.

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Um começo mal escolhido é tão ineficaz como um começo sem consistência. A preparação da exposição deve ser feita depois de uma reflexão sobre o estilo que se vai adotar e das características do grupo a que vai ser dirigida.

A escolha de estímulos deve fazer-se sempre que se muda de tema, para que até os elementos distraídos do grupo não percam a sequência do assunto. Meios eficazes que obrigam a aumentar a sua atenção são, por exemplo, uma dicção mais lenta e articulada, um acento particular, às vezes, um silêncio mais prolongado seguido de algumas frases ditas em voz baixa em tom de confidência.

A comunicação deve ter uma forma e um objetivo

bem

definidos.

quem

sustente que a forma ideal para uma exposição deve ser de tal maneira simples que se possa resumir nas seguintes fases:

1. Ena! 2. Isto interessa… 3. Por exemplo… 4. De harmonia com o que acabámos de expor…

Exemplo do que acabámos de dizer é a transcrição de uma exposição de Bruce Barton, que se propõe convencer um auditório de gente jovem a empregar o tempo livre de maneira construtiva, e o que foi reproduzida da revista The American Magazine.

Primeira fase: “Ena”

Em Chicago, um indivíduo recusou a oferta de um milhão de dólares para uma intervenção que tinha realizado nas suas horas livres. 28 www.nova-etapa.pt


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Segunda fase: ” Isto interessa…”

O que vou dizer tem interesse porque mostra as possibilidades que o vosso tempo livre vos oferece. Já pensaram que a maior parte dos chamados grandes homens levaram a cabo os seus empreendimentos mais árduos, não no decurso das suas ocupações obrigatórias, mas durante as horas de que dispunham depois do trabalho? Terceira fase: “Por exemplo…”

Um jovem lenhador, extenuado pela fadiga, debruçava-se todas as noites sobre os livros, à luz de uma vela ou aproveitando o resplendor do fogo caseiro. Isto era feito depois da sua jornada de trabalho. Deste modo, preparou-se para as grandes tarefas que o futuro lhe reservava. Podemos hoje afirmar que Lincoln, sozinho e durante as suas horas livres, construía o caminho da sua imortalidade.

Um telegrafista mal pago e cheio de trabalho roubava quantas horas podia ao sono e ao divertimento, para tornar realidade os seus sonhos fantásticos, em que punha uma inacreditável fé. Hoje, o mundo inteiro beneficia das descobertas que Edison levou a cabo no seu tempo livre.

Um pobre professor, ínfimo elemento de um obscuro colégio, conseguia evadirse das suas monótonas e tristes responsabilidades, que odiava, aproveitando o tempo que dispunha para trabalhar no seu projeto, aparentemente sem sentido, por se basear num artefacto sem pés nem cabeça. Apesar dos risos e dichotes dos seus colegas, inventou o telefone no seu tempo livre. Quarta fase: “ De harmonia com o que acabámos de expor…” Também vocês dispõem de tempo livre. Aquele que declara “eu faria muitas coisas, se tivesse possibilidade” não alcançará nunca resultados positivos, nem que dispusesse de milhares de anos para se dedicar a elas. 29 www.nova-etapa.pt


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Temos sempre tempo, tempo disponível, de que nos podemos servir, desde que haja vontade para o fazer.”

A COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL

Os sistemas de ensino têm atribuído um papel preponderante à expressão oral e escrita, em detrimento de outros canais, o que tem contribuído para prejudicar as relações interpessoais e para reprimir a afetividade, por não permitirem as suas formas de expressão, na medida em que as inibem ao impor posturas, gestos e comportamentos estereotipados.

No entanto, nos últimos tempos tem sido dado grande ênfase ao estudo da comunicação não verbal. A postura, o movimento corporal, o tom empregue, os gestos, atitudes, a expressão do rosto, do olhar, o ênfase, a hesitação, o movimento das sobrancelhas, as sensações, tácteis e olfativas, são veículos de transmissão, não só de emoções, mas também de informações, podendo, assim, dizer-se que são enviadas mensagens de uma maneira inconsciente, que podem ser descodificadas por um recetor hábil.

O silêncio é também uma forma de comunicação. O indivíduo, ao estar silencioso, pode ser interpretado pelos outros como não querendo que comuniquem com ele, o que fará com que reajam de acordo com o contexto e as respetivas personalidades. Podem não se lhe dirigir ou interrompê-lo de diversas maneiras, o que constitui formas diferentes de “feedback” ao seu silêncio.

Mas o silêncio pode também exprimir um estado de satisfação ou de tensão, de prazer ou de angústia, de êxtase ou de abandono, e será o contexto que levará os outros a descodificá-lo de um ou de outro modo e a reagirem em conformidade. 30 www.nova-etapa.pt


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Em certos momentos, o silêncio surge como o melhor

meio

de

comunicar com os outros, de

lhes

dizer

se

se

espera ou não qualquer coisa deles, que se está recetivo

e

interessado

nos assuntos que lhes dizem respeito.

No entanto, tal como a palavra, ele pode também dificultar a comunicação.

Quando os aspetos da comunicação não verbal começaram a ser abordados com mais atenção, partiu-se da hipótese de que as emoções básicas do ser humano, como a alegria, o receio, a atração sexual, se expressariam de igual maneira nas diferentes culturas e que deveria haver alguns gestos comuns em toda a humanidade. Todavia, rapidamente se chegou a conclusão de que “não há gestos universais”.

Não existe uma expressão facial, uma atitude ou uma postura corporal que transmita o mesmo significado em todas as regiões.

Por tudo o que foi dito, facilmente se chega a conclusão de que o formador deve dedicar uma grande importância a este tipo de comunicação, na medida em que uma determinada postura pode ter um determinado significado que tira impacto à comunicação verbal.

Nesses casos, de nada valerá que a mensagem verbal diga o contrário, porque quando o comportamento não verbal contradisser o que se está expressando, pode considerar-se que a pessoa não está a dizer o que pensa.

O formador não deve pois descurar: 31 www.nova-etapa.pt


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O TOM DE VOZ

Quase tão importante como a mensagem é o tom com que ela é transmitida. Quando se sabe adaptar a tonalidade da voz, evita-se a monotonia e o risco de adormecer os participantes, porque é possível realçar palavras, expressões e frases.

OS GESTOS

Para além de animarem, servem para apoiar as ideias, para melhor as exprimir, para as sublinhar e lhes dar vida. Os gestos devem ser naturais, espontâneos, vivos, virados para os grupos.

ATITUDES CORPORAIS (a postura)

Um bom comunicador, não pode deixar de cuidar da sua aparência exterior e de utilizar o melhor possível os elementos de que dispõe, tratando em pormenor da sua indumentária e eliminado certos tiques ou gestos parasitas que prejudiquem a sua mensagem. A atitude do corpo também contribui para a comunicação com os participantes.

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A melhor posição frente a um grupo é a de pé, porque permite: 

Olhar para todo o grupo;

Manifestar dinamismo;

Captar e manter atenção;

Fazer gestos significativos.

O ensaio com uma câmara de vídeo é um bom exercício para melhorar a atitude corporal.

A EXPRESSÃO DO ROSTO

Alguém disse: “Se o rosto é o espelho da alma, os olhos são os seus intérpretes.”

O rosto comunica, sobretudo, através do olhar. É um elemento importante de persuasão e de condução de grupos. O olhar é o primeiro elemento de contacto e o elemento permanente da nossa comunicação. Ele serve para sugerir e influenciar. Para isso é preciso dar a cada participante a impressão de que se fala com ele pessoalmente, olhando-o. É um elemento fundamental para captar e conservar a atenção de todos.

É importante falar para o grupo, evitando os olhares em direção ao teto ou ao chão. Um rosto sorridente convida à comunicação, porque, quando sorrimos, quem recebe o sorriso em primeiro lugar são os participantes.

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PERSONALIZE A SUA EXPOSIÇÃO CITANDO NOMES

Repare na expressão das pessoas quando falar no seu nome. Para além do comportamento que lhes provoca, é quase impossível encontrar palavras que contenham tanto realismo como o nome. Já imaginou uma história sem nome?

Se, durante a exposição, utilizar várias vezes nomes e apelidos, terá introduzido um precioso centro de interesse e, desse modo, quase pode ter a certeza de que será escutado com entusiasmo.

AS IMAGENS, OS EXEMPLOS E O SENTIDO DE HUMOR

Tal como a utilização de outros meios audiovisuais, o desenho pode ser de grande eficácia para estimular a atenção. Além disso, é importante introduzir histórias com imagens e exemplos.

Os exemplos são um modo interessante de tornar um ideia clara e persuasiva, daí a importância de os utilizar para ilustrar o essencial, assim como anedotas que possam ajudar a desenvolver essas ideias.

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A

pessoa

que

tenha

sentido

de

humor

é,

normalmente, mais bem sucedida do que aquela que não o tem. Uma exposição não necessita de ser triste, pesada e excessivamente solene, mas há que ter em atenção que não se deve cair na armadilha de contar histórias burlescas, porque, muitas vezes, podem ser mais patéticas do que engraçadas.

Um bom formador deve ter a habilidade de provocar o riso, fazendo referência a uma determinada situação local ou a algum aspeto que tenha sido referido anteriormente por algum dos presentes. Nestes casos até pode exagerar as situações. Esse tipo de piada é normalmente eficaz, porque é relevante e original.

Uma situação que também costuma dar bons resultados é contar uma história sobre si próprio. Pode ser, por exemplo, a descrição de uma situação embaraçosa ou até ridícula.

Os grupos costumam ter uma boa recetividade para com os formadores que se depreciem e que chamam a atenção para alguma deficiência ou falha da sua parte, num sentido humorístico. Como facilmente se compreende, acontece o contrário com os que se apresentem muito formais e com uma linguagem rebuscada e afetada.

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O USO DE ANALOGIAS

Alguém afirmou que uma analogia é uma relação de semelhança entre duas coisas… constituindo a semelhança não nas próprias coisas, mas em dois outros atributos, circunstância ou efeito.

Uma analogia é importante para apoiar uma ideia essencial. Veja como se pode empregar uma analogia para se sustentar um ponto de vista:

Uma economia próspera se não se mantiver em movimento inutiliza-se. Eis uma comparação com o avião, que, quando no ar, converte-se no que deve ser e exerce uma função útil, mas para se conservar na atmosfera tem de avançar continuamente.

Em resumo, o formador não pode descurar: 

O TOM DE VOZ;

OS GESTOS;

AS ATITUDES CORPORAIS

A EXPRESSÃO DO ROSTO;

“Se o rosto é o espelho da alma, os olhos são os seus intérpretes”;

A CITAÇÃO DE NOMES;

AS IMAGENS, OS EXEMPLOS E OS SENTIDO DE HUMOR;

O USO DE ANALOGIAS.

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5. COMO DESPERTAR O INTERESSE DOS FORMANDOS Depois de identificados alguns dos aspetos que devem ser considerados num processo de aprendizagem, o êxito dependerá muito da capacidade que o formador tiver para conseguir captar as necessidades dos participantes e, para isso, ele terá de: 

Procurar uma constante adaptação aos formandos;

Interessá-los pelo tema que vai abordar, ou seja, dito de outra forma, motivar o grupo,; Preparar previamente e com todo o cuidado o seu plano de Sessão;

Salientar todos os pontos-chave;

Desenvolver

todos

os

assuntos

com

clareza,

pacientemente,

completamente, mas sem ultrapassar o limite dos conhecimentos que os interessados possam assimilar, isto é, usar Progressões Limitadas.

A constante adaptação aos participantes e as progressões limitadas rompem com o modo de

proceder

do

formador

tradicional que, para ensinar um assunto, não perde tempo na

procura

de

alternativas,

pois, para ele, a única atividade válida é a exposição oral ou a preleção.

Para o formador moderno, a escolha adequada das atividades de ensino com vista à motivação dos formandos é uma etapa importante da sua profissão que, para se tornar aliciante, necessita de muito tempo de preparação.

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6. A ANSIEDADE DO FORMADOR

Ela

era

de

grande

e

uma

pessoa convicção

personalidade.

Os

problemas das empresas sempre a interessaram, pelo que resolveu dedicarse à consultoria. Numa primeira por

fase

fazer

começou

diagnóstico.

Alardeando grande simpatia e facilidade de expressão, facilmente se relacionava com todos a quem se dirigia e obtinha dos responsáveis de cada setor a sua adesão. Aos poucos, porém, foi-se apercebendo de que as chefias em vez de responderem às perguntas “Porquê e para quê formar?” respondiam como se a pergunta fosse “Que tipo de curso fazer?”.

Apesar desse tipo de respostas, ela conseguia encaminhar a conversa de modo a que eles entendessem o que se pretendia e assim obter elementos mais concretos.

Tendo facilidade de escrita, os seus relatórios descreviam com clareza o que se passava nas empresas e as necessidades de formação que apresentava eram normalmente de três tipos:  Mudança de comportamentos a nível individual;  Alterações na empresa para eliminação de anomalias existentes;  Mudanças na empresa para dar resposta a novos desafios, sem que pusessem em causa o que de bom já estava a ser realizado.

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Da consultoria à formação foi um passo. Sabe da sua profissão, gosta de conviver e de partilhar os seus conhecimentos com outras pessoas, por isso nada melhor do que exercer a atividade de formadora.

Fez um curso de Formação Pedagógica e as suas simulações (autoscopias) foram das mais apreciadas. Para além da fluência que pôs em toda a intervenção, fez ainda um bom plano de sessão, onde definiu com rigor o tempo de que dispunha, os objetivos gerais e específicos, a metodologia a utilizar, enfim, cumpriu rigorosamente os requisitos que são considerados necessários.

O seu primeiro dia de formação

estava

a

aproximar-se e começou a sentir alguma tensão, que foi superando, mas na véspera só pensava nisso, quando foi para a cama

não

adormecer

conseguia punham-se-

lhe algumas questões: e se me atrapalho? E se me

fazem

pergunta

a

alguma que

não

consigo responder? E se tenho

uma

falha

momentânea? Se e se? Com todas estas preocupações, não admira que os pesadelos a tivessem atormentado. Via os formandos ora a adormecerem ora a reclamarem, apáticos ou a sair da sala a dizer que não aguentavam aquilo, e ela atarantada, sem saber o que havia de fazer, dava respostas sem nexo, só lhe apetecia fugir, desaparecer. 39 www.nova-etapa.pt


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O despertador veio aliviá-la daquela tensão. Acordou assustada, cheia de suores frios, a cabeça muito esquisita. Determinada, levantou-se, tomou banho, vestiu-se à maneira, bebeu um copo de leite, comeu uma torrada e dirigiu-se ao automóvel. Ligou o motor e encaminhou-se para o local da formação, ouvindo ainda alguns piropos pelo caminho.

Ei-la na sala. As primeiras palavras custaram um pouco a sair. A pulsação batia mais depressa, a respiração precipitava-se. Em vez de desanimar, pensou que o seu corpo estava atento aos excitantes exteriores e a prepararse para entrar em ação. Aproveitou-se da situação e começou a falar com mais fluência e a expressar-se com maior intensidade do que em outras circunstâncias. Sentiu que a tensão emocional estava a favorecer-lhe a comunicação e teve cuidado em não pensar que podia não estar à altura do que os participantes esperavam, porque isso podia tornar-se angustioso.

De acordo com as suas características, o seu estilo, a experiência e a formação de base, procurou adaptar-se ao nível dos formandos, à natureza dos objetivos, à filosofia da organização, às instalações e ao equipamento disponíveis, ao número de participantes e ao tempo de que dispunha para transmitir o conteúdo da formação. As coisas não podiam ter corrido melhor. O dia “D” tinha passado, estava cansada mas feliz. A sua estratégia, baseada em conhecimentos adquiridos, tinha resultado, porque o sucesso não acontece por acaso.

Se é formador ou tem que falar para grupos e sente alguma insegurança antes de iniciar uma sessão, pense que não é único, e se por acaso não sente receio, esteja descansado que ele virá com o tempo. Se ele não aparecer, será bom que se questione se é realmente uma pessoa responsável.

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Em resumo, para um bom desempenho das suas funções, o formador deverá ainda ter em consideração:

PLANEAMENTO

ANIMAÇÃO

Realidade dos formandos

Características do grupo

Ter o programa previsto

Fazer executar o programa

Selecionar métodos

Construir o plano de sessão

Orientar-se no mundo dos formandos

Estilo de Animação

Postura

Comunicação

Responder aos participantes

Ultrapassar os momentos difíceis

AVALIACÃO 

Avaliar a formação

AUTOAVALIAÇÃO

De forma a sistematizar a atuação do formador face às funções que desempenha,

são

apresentados

nos

comportamentos/atitudes que deve desenvolver.

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quadros

seguintes

os


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COMPORTAMENTOS / ATITUDES

ATUAÇÃO DO FORMADOR Pensar no contexto geral da formação – ele influencia a pedagogia que quer utilizar.

Realidade do Formando

Conhecer:  O sistema escolar vivido pelos formandos  As suas recordações da escola  Os seus desejos de promoção  A sua situação económica  A cultura e condicionalismos da organização onde desenvolve a formação  Os seus valores

Tratar a matéria no tempo previamente definido.

P L A N E A M E N T O

Manter um ritmo equilibrado de trabalho.

Ter o Programa Previsto

Possuir um plano com os assuntos a abordar:  Conteúdo  Sequência  Meios a utilizar Ter em atenção que o plano deve ser cumprido, mas que também deve ser feito com alguma elasticidade, para o caso de ser necessário refazê-lo, de modo a que os formandos assimilem melhor a matéria.

Considerar o ABC de uma exposição. Conhecer os diferentes métodos e instrumentos utilizáveis, do quadro aos audiovisuais. Selecionar Métodos

Saber exercer o seu espírito crítico. Escolher os métodos e instrumentos mais adaptados aos objetivos visados pela formação.

Elaborar o plano de sessão. Fazer a preparação do programa. Pensar na utilização de audiovisuais. Construir a Sessão

Reunir todos os elementos essenciais (informações, dados estatísticos, documentação, outros) e preparar os métodos pedagógicos adaptando-os aos formandos e ao conteúdo dos cursos. Estruturar as sessões de modo a torná-las interessantes.

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COMPORTAMENTOS / ATITUDES

Características Do Grupo

ATUAÇÃO DO FORMADOR

Verificar: - O modo como o grupo se comporta - A linguagem e expressões correntes no meio - As realidades sociais, culturais e económicas locais - As tradições - O estado de espírito - Outras

Facilitar a apropriação e utilização dos conhecimentos pelos formandos. Dar oportunidade aos formandos para que se exprimam sobre o adquirido, com exemplos práticos que contribuam para a aquisição de novos comportamentos.

Fazer Executar

Mostrar aos participantes que não basta só saber, é preciso fazer e serem capazes de evoluir e de se adaptarem.

A N I M A Ç Ã O

Mostrar ainda que é diferente o conhecimento que:  Se sabe  Se sabe utilizar  Se sabe poder utilizar Mostrar entusiasmo e interessar os formandos por aquilo que executam.

Orientar-se no Mundo dos Formandos

Conhecer os mecanismos de compreensão e memorização do formando, tendo em conta as suas necessidades e os seus interesses. Adaptar os programas ao nível de cada um. Ter em conta os seus sentimentos e ser capar de se colocar no seu lugar.

Saber formar um grupo e estabelecer boa comunicação com ele. Ter sentido da oposição. Estilo de Animação

Saber animar e fazer trabalhar um grupo independentemente de ser homogéneo ou heterogéneo. Procurar os pontos suscetíveis de merecerem maior atenção. Ter ideias próprias.

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COMPORTAMENTOS / ATITUDES

ATUAÇÃO DO FORMADOR

Adaptar os gestos ao tema, às circunstâncias e às expectativas dos participantes.

Postura

Ter atenção ao vestir, ao olhar, à expressão do rosto, ao tom de voz. Ter presente que o comportamento físico do animador contribui para a comunicação com os grupos. Evitar tiques e maneirismos.

Ter em conta os sentimentos dos participantes. Facilitar a ajuda e a participação de todos. Não temer o silêncio, mas ser capaz de o quebrar quando vir que o mesmo começa a ser prejudicial. Comunicação

Fragmentar as discussões e saber fazer sobressair as questões.

A N I M A Ç Ã O

Não cair no interrogatório sem sentido, na adivinha, nas piadas inúteis, que não conduzem a nenhum benefício nem a qualquer descoberta. Ter capacidade para colocar questões, suscitar a discussão e estimular a criatividade.

Ser sensível ao ambiente vivido entre os formandos. Não prolongar a discussão ou o diálogo apenas com um dos participantes. Responder aos Participantes

Ouvir as ideias dos formandos e saber lidar com os que fazem demasiadas perguntas. Ter presente que a maneira como se responde é muito importante para o estabelecimento de uma boa relação pedagógica com os participantes.

Saber dominar a situação pedagógica. Dominar o receio antes de começar a sessão. Ultrapassar os Momentos Difíceis

Manter o controlo da situação. Criar um ambiente agradável de trabalho, não receando ocasiões de certa euforia que poderão ser sinal de interesse e participação. Ultrapassar eventuais falhas de memória sem se perturbar.

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COMPORTAMENTOS / ATITUDES

ATUAÇÃO DO FORMADOR

Definir critérios de avaliação e identificar e ultrapassar os fatores de discrepância dos mesmos.

A V A L I A Ç Ã O

Avaliar a Formação

Assegurar-se de que os objetivos previstos foram atingidos, que os conhecimentos transmitidos serão aplicados e que os métodos utilizados foram eficazes. Verificar se não transmitiu apenas conhecimentos e/ou capacidades profissionais, mas também se contribuiu para a valorização dos formandos.

Avaliar as suas capacidades pessoais como formador: - Equilíbrio emocional; - Calma, confiança e à vontade; - Identificação dos estilos que mais facilmente pode utilizar. Autoavaliação

Conhecer os efeitos dos métodos pedagógicos. Certificar-se de que possui um conhecimento real dos assuntos que aborda. Ter sentido da realidade.

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