Papiro 2012 2 - A vida num sopro

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INFÂNCIA Eles pulam, jogam e nadam sem tempo para brincadeiras. São os atletas mirins

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade 7 de Setembro - agosto a dezembro de 2012

A vida num sopro As histórias de gente que se deixou comandar pelo vento

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papi ro *EDITORIAL

Personagens em busca de intérpretes E

las se esquivam, fogem, ruborizam. Não vendem barato aquilo que têm de mais valioso: suas subjetividades. Só se deixam desvendar por um olhar um pouco mais treinado, sensível, humano. Elas são aquelas pessoas a quem o jornalismo acostumou-se a chamar de personagens. Gente anônima ou famosa, rica ou pobre, feliz ou atormentada, mas com algo em comum: boas histórias que merecem ser contadas. Mas, em se tratando de pessoas, histórias não são simplesmente contadas. São,

na verdade, ressignificadas, recontadas. São redimensionadas para caber na página do jornal. Nesse exercício semiótico, em que cada palavra é (ou deveria ser) símbolo de algo real, é que se revelam não apenas os bons personagens, mas também os bons intérpretes – aqueles a quem o jornalismo convencionou chamar de repórteres. Esta edição do Papiro evidencia encontros, a um tempo felizes e desafiadores, de personagens e intérpretes-repórteres.

O exercício laboratorial coloca em foco uma delicada costura, que envolve as convicções de repórteres em formação e a natureza sempre imprevisível das interações humanas, expressa nesses encontros. Daí surge o desafio para nossos futuros jornalistas. E eles saem-se com este conjunto de matérias que flagram, de diversos modos, uma porção daquelas coisas aludidas mais acima – essas subjetividades, essa presença do outro. Histórias de homens que dis-

seram não ao ocaso da velhice. Contos de amor e desamor mediados por conexões banda larga. Vidas em alta e baixa velocidade, em estradas de terra e asfalto. Corpos infantis tensionados pela competitividade da vida moderna. Histórias de dinheiro, de fanatismo, de trabalho. No virar de cada página, esse é um jornal feito de gente. Boa leitura. Rafael Rodrigues Editor-chefe Cynthia Nogueira

EXPEDIENTE O jornal Papiro é uma produção laboratorial do curso de Jornalismo da Fa7. Coordenador do curso: Dilson Alexandre. Editor-chefe: Rafael Rodrigues. Editor-executivo de Planejamento Gráfico: Alvaro Beleza. Editor-executivo de Fotografia: Jari Vieira. Agência de Notícias Fato: Eugênio Furtado. Agência Experimental Brado: Leonardo Paiva. Projeto gráfico: Andrea Araujo. Redação: Ana Rodrigues, Bruno Parente, Dayanne Feitosa Dutra, Eduardo Moreira, Elayne Costa, Elrica Mara, Gilvane Sousa, Jaciára Lima, Jackson Pereira, Lylla Lima, Rubens de Andrade, Suiany Rocha, Taíssa Julião. Designers: Amanda Rodrigues, Anderson Paixão, Andrei Tavares, Anna Rita Regadas, Gabriel Mota, Gerusa Pacheco, Levi de Freitas, Rones Maciel, Yara Barreto. Tiragem: 500 exemplares. Impressão: Expressão Gráfica.

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Motoristas x pedestres: uma batalha sem vencedores FALTA DE INFRA-ESTRUTURA, SOMADA AO ACUMULO DE VEÍCULOS, GERAM TRANSTORNOS E DESUMANIZAM O TRÂNSITO DA CAPITAL

Texto: Rubens de Andrade Design: Levi de Freitas

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ritos, xingamentos e o barulho estridente das buzinas tomam conta das ruas e avenidas da capital. De um lado, motoristas reclamam da falta de atenção de pedestres e a estrutura precária da malha viária. De outro, há os que andam a pé, vítimas da constante correria dos motoristas, e de uma fiscalização do trânsito que nem sempre pune os infratores. Fortaleza, como as grandes metrópoles brasileiras, vive esse conflito a cada esquina. No bairro Benfica, no cruzamento da Avenida Carapinima com a Rua Juvenal Galeno, durante o horário de pico, é quase impossível atravessar a via sem correr o risco de ser atropelado por algum motorista. O estudante Antônio Ferreira dos Santos, 15 anos, afirma que raramente utiliza a faixa de pedestre, mesmo sabendo dos riscos.

“Eu não costumo utilizar a faixa. Os motoristas não respeitam nem o sinal, quanto mais à faixa. Quando estou indo para a escola ou voltando para casa, sempre vejo a faixa, só que quando quero atravessar a rua eu só olho se vem carro ou não, e corro para outro lado”, diz ele. Já o flanelinha Francisco Wilame de Sousa, 45 anos, diz fazer uso da faixa de pedestre com freqüência, pois como trabalha nas ruas, no entorno do Shopping Benfica, conhece de perto os perigos para quem utiliza ou não a faixa. “Eu já presenciei muitos acidentes nessa área. E, como já fui quase atropelado uma vez por um motorista que ‘furou’ o sinal, eu presto bastante atenção ao atravessar a rua. Os motoristas não respeitam ninguém, nem eles mesmos. No horário de pico, parece uma guerra. Muito barulho de carro, principalmente de buzinas”, comenta Wilame. A vendedora Maria Albeniza Ferreira Mourão, que possui um carrinho de lan-

Entre os anos de 2001 e 2010, foram 1472 pedestres mortos no trânsito de Fortaleza.

ches na esquina do cruzamento, diz que acidentes em cima da faixa são comuns, mesmo havendo o semáforo para pedestre. “Os acidentes acontecem geralmente entre as 16h e 20h quando o movimento na avenida é muito forte. Estudantes e trabalhadores são os que mais sofrem com a falta de educação dos motoristas, principalmente os de ônibus, que param fora do ponto para passageiros entrar, o que acaba atrapalhando bastante o movimento”, afirma Dona Albena. Na opinião dos agentes de trânsito, o Rubens de Andrade

Faixa de pedestre no bairro Benfica: acidentes são comuns

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principal problema dos condutores está na crença de que a preferência é sempre deles, seja em relação à pedestre ou a outros veículos, por isso é tão comum flagrar esses condutores acelerando na sinalização amarela ou furando a sinalização vermelha, além de pararem constantemente em cima da faixa. Outros fatores, como a travessia de pedestres em locais inapropriados, a falta de sinalização e de fiscalização acabam colaborando diretamente com estatísticas assombrosas, mas compatíveis com o trânsito caótico. Os dados coletados sobre acidentes de trânsito, relativos ao período de Janeiro a Dezembro de 2011, classificam os pedestres como a segunda categoria que mais apresentou vítimas fatais. No geral, 2.091 pessoas morreram vítimas de acidentes no trânsito. Desse total, os pedestres somam 457 mortes, o que representa 21,86%, ficando atrás apenas dos motociclistas, com 761 mortes (36,39%). Faixa respeitada Em alguns pontos da capital, o valor da faixa de pedestre parece variar de acordo com o contexto a qual está inserida. No “sistema de trânsito” privado, como por exemplo, dentro do Shopping Iguatemi, os motoristas respeitam, como manda o código de trânsito, todas as sinalizações, incluindo a faixa. A cena se repete em ruas e avenidas que possuem escolas, universidades, agentes de trânsito ou fiscalização eletrônica. Deixar de dar preferência de passagem ao pedestre quando ele está na faixa, que não tenha concluído a travessia, é infração gravíssima, punida com multa no valor de R$ 180 (cento e oitenta reais) e sete pontos na carteira. Além de pagar a multa, o infrator tem sua carteira suspensa, o veículo é retido e o documento de habilitação é recolhido pela autoridade de trânsito. E, parar o automóvel na faixa de pedestre na mudança de sinal luminoso também incide em multa e quatro pontos na carteira.

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Deixa o vento me levar DIFERENTES HISTÓRIAS DE VIDA UNIDAS PELO SOPRO DE UMA FORÇA DA NATUREZA. CONHEÇA PESSOAS QUE TÊM NO VENTO UM ALIADO NAS SUAS VIDAS E CARREIRAS

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Texto: Elayne Costa Design: Anderson Paixão

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á 16 anos, Silvio Capibaribe virou parapentista e abriu sua própria escola de parapente no Ceará. Silvio era paraquedista, mas influenciado por dois alemães começou a praticar o parapente. “Eu sempre gostei de voar, mas na profissão de paraquedista eu ficava mais no chão do que no ar”. “Os aviões quebravam muito”, diz ele. Silvio se apaixonou pelo esporte e resolveu seguir carreira. “Abrir a escola de parapente não foi fácil, eu tive que treinar muito sozinho e me profissionalizar”. Sílvio contou que no início tinha muito medo de altura, e que voar sempre foi um grande desafio para ele. “Quando eu estou voando, não existe sensação melhor e eu amo fazer isso”, diz Silvio. A escola Vôo Livre fica na serra da Pacatuba, a 30 quilômetros de Fortaleza, e conta atualmente com quatro professores. Com

tantos anos voando e ensinando as pessoas a voarem, Sílvio nunca sofreu nenhum acidente. “Eu procuro sempre seguir as regras de segurança e é isso que eu passo para os meus alunos, por isso nunca sofri nenhum acidente”, diz ele. A filha de Sílvio, que tem dois anos de idade, também já pulou de parapente. “O esporte é tão tranquilo que eu e a minha esposa pulamos com a nossa filha, e ela disse que adorou”, conta o professor. Em todos esses anos de profissão, ele disse que nunca ninguém reclamou de ter pulado, ou não gostou da aventura. Outra personagem que usa o vento como forma de trabalho é Priscila Rodrigues, chefe do Departamento de Saúde e Segurança em uma empresa de energia eólica. Priscila precisa subir semanalmente nas turbinas de 80 metros de altura para checar como os técnicos estão trabalhando e ver se estão todos em segurança. “Traba-

“Quando eu estou voando, não existe sensação melhor e eu amo fazer isso” lhar com energia eólica é muito gratificante, principalmente porque é uma forma limpa de gerar energia, usamos apenas o vento para gerar energia elétrica para centenas de casas”, diz ela. Priscila está na empresa há quatro anos e conta que a primeira vez que precisou subir em uma turbina não foi fácil. “Oitenta metros é muito alto e eu precisei subir de escadas. Achei que não iria conseguir,mas depois que eu cheguei no topo a visão que eu tive pagou todo o esforço, foi maravilhoso”, conta ela. Algumas vezes a técnica em segurança precisou descer os 80 metros por uma corda do lado de fora da turbina.

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Arquivo

As velas do Mucuripe levam o pescador Fernando para longas temporadas no mar. Já Priscila (à direita) enfrenta medos em nome da energia eólica Essa descida faz parte de um treinamento de segurança que a empresa oferece para todos os técnicos. É uma forma de evacuação em casos de emergência. “Na primeira vez que eu desci de corda foi muito difícil, estava com muito medo, mas hoje é tranqüilo e eu adoro fazer”, diz ela. Priscila tem o sonho de um dia pular de paraquedas ou até mesmo de bungee jump. “Tudo relacionado à altura agora é uma coisa que me chama a atenção e eu tenho muita vontade de fazer. Só não pulei ainda por falta de oportunidade”. O vento literalmente “leva” Fernando Pereira da Silva, 62 anos, duas vezes por mês para o meio do mar. Ele é pescador há mais de 50 anos e nunca pensou em fazer outra coisa na vida. “Pescar é uma coisa que eu comecei a fazer quando ainda era criança e nunca pensei em deixar. O vento leva o meu barco a vela todos os meses mar adentro e até hoje me trouxe de volta”.

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“O vento faz o mar se revoltar e nós precisamos lutar contras as tormentas” Fernando sai para pescar duas vezes por mês e passa de 10 a 15 dias em alto mar. O barco volta carregado, em média com mais de 300 quilos de peixe. “Ser pescador não é fácil, as vezes ficamos mais tempo no mar do que em terra e são grandes os riscos que enfrentamos. O vento faz o mar se revoltar e nós precisamos lutar contras as tormentas”, diz ele. O pescador do Mucuripe sai em seu barco a vela todas às vezes com mais quatro amigos e contam com a sorte para voltarem abastecidos. A falta de peixes é cada vez maior, e com isso mais longe eles precisam ir. “Os peixes estão diminuindo e assim a gente precisa se distanciar ainda mais da

terra. Saímos daqui antes do sol nascer e só chegamos no ponto para pescar de novo. É muito longe da terra firme e isso assusta”, conta. Os próprios pescadores cozinham as suas refeições diárias no barco, e no cardápio eles só comem arroz, feijão e, claro, peixe. “Quando dá a gente leva um pouco de carne, mas é difícil e quando levamos só dura três ou quatro dias. Depois comemos apenas peixe, os que pescamos. É peixe frito cozido, de todas as formas”, diz ele. Seu Fernando diz que nunca sofreu nenhum acidente nesses 50 anos de profissão, mas que já perdeu alguns amigos. O mar às vezes se revolta, e alguns barcos se perdem pela imensidão azul. Eles viajam totalmente desprovidos de segurança. No barco não há nenhum aparelho de comunicação ou localizador. Não possui também sinalizadores que poderiam ser usados em casos de emergência. “A gente só viaja com a experiência que possuímos

e com uma bússola”, ele completa. Entre várias histórias curiosas ele conta que já viu peixes maiores que o barco e que algumas vezes aconteceu do peixe ficar batendo embaixo do barco tentando derrubá-lo. “É muito estranho! A sensação que a gente tem é que o peixe está tentando virar o barco para comer todos nos. Dá muito medo, mas felizmente isso nunca aconteceu. Questionado sobre o seu maior medo quando está em alto mar, ele não demora em responder. “Tenho medo de um navio passar por cima da gente. Esse é o meu maior medo. Porque já aconteceu com a embarcação de alguns amigos meus. E quando isso acontece dificilmente alguém consegue escapar vivo”, assegura.

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papi ro Armando Bispo/Acervo pessoal

Poeira nas rodas Na hora da corrida, a família de Armando Bispo acompanha de perto

ENTRE PRAIA, SERRA E SERTÃO. NÃO IMPORTA O TIPO DE ESTRADA, O QUE CONTA PARA ELES É A AVENTURA DE DESCOBRIR UM NOVO CAMINHO PARA CHEGAR AO INESPERADO Texto: Ana Rodrigues Design: Gabriel Mota

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ocê sabe o que é rally? Uma competição automobilística que pode ser realizada em diversos tipos de terrenos, desde terra batida à areia fofa de um deserto. Isso mesmo! Essa competição é vivenciada pelos seus admiradores desde o século XX. Um esporte que vem crescendo e atraindo cada vez mais apaixonados por velocidade e aventuras. “O rally se destaca pela oportunidade de se conhecer lugares que dificilmente você iria”, diz Stanger Eler, administrador de empresas e praticante do esporte. Ele se deparou com o universo das competições por conta da esposa Monique Mota, “Ela se apaixonou pelo rally e para não deixa-la competir sozinha, resolvi unir o útil ao agradável”. Mas essa influência não foi apenas da esposa. Desde criança, já era fascinado por velocidade. Quando morava na cidade de Assis Chateaubriand (PR), gostava de assistir competições de MotoCross. Veio morar no Ceará, e aqui começou a se aproximar do esporte. Casamento, família e logo um carro 4x4. Passeios e trilhas em família. O que era lazer acabou virando um esporte da família toda. Mas não se preocupe, pois conciliar os dois lados é bem mais simples e fácil do que imaginamos. “Para você poder ter a tranquilidade de competir em alto nível, em competições nacionais, a família e a empresa têm que estar auxiliando e incentivando”, pontua.

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Para o piloto Armando Bispo, o encontro com o universo automobilístico aconteceu ainda garotinho. “Já bem pequeno vivia cercado de carrinhos, triciclos, carros de rolimã e ao sair com meus pais ou avô sempre ficava muito próximo ao motorista do ônibus para aprender com os seus movimentos, até que aos 13 anos meu tio que era mecânico deixou que eu dirigisse um carro pela primeira vez”, afirma o piloto, que iniciou sua carreira nas estradas aos 49 anos de idade. Hoje está com 59 anos. Ele já vive outro lado da história. “No meu caso, por não ter filhos em casa, pois todas as duas já se casaram, eu e minha esposa vibramos com o esporte e ela me prestigia pessoalmente sempre que pode”, afirma. Mesmo assim não desconsidera a importância do apoio da família e conta com esse apoio para continuar a seguir nas competições. Mesmo em meio ao clima de competição, os pilotos conseguem encarar o lado divertido, o que ajuda a aliviar as tensões das competições. O esporte Mas mesmo com o incentivo das empresas privadas, o Ceará não reconhece seus grandes atletas do rali. “Vejo alguns patrocinadores resignados que investem no

“O rally se destaca pela oportunidade de se conhecer lugares que dificilmente você iria”, diz Stanger Eler Armando Bispo/Acervo pessoal

esporte e uma Federação que poderia fazer ainda mais em prol do rally, no entanto, acredito que carecemos de maior incentivo por parte das empresas e do próprio Governo em prestigiar este esporte através do patrocínio contínuo durante o ano a eventos e pilotos de rali” diz Armando Bispo. Nesse campo das competições cada piloto e navegador viveram momentos marcantes e inspiradores. Para o piloto Armando Bispo, o momento mais memorável foi quando participou do Rally Internacional dos Sertões em 2008 “com a expectativa de apenas completar os 10 dias de uma competição seletiva e muito dura para o carro e o piloto”. Ao final, sem trocar ao menos um pneu, com a mesma embreagem e sem nenhum problema mecânico, sagrou-se campeão da Categoria Production no ano de estreia no Rally dos Sertões. Uma vitória, segundo Armando, inesquecível entre muitas outras ao longo desses 10 anos de rally. Com reconhecimento ou sem reconhecimento devidamente merecido, eles seguem o caminho da aventura e da paixão por velocidade.

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Belvis não morreu MESMO NÃO TENDO ELE MAIS AO SEU LADO, O AMOR E CARINHO AINDA ENCHEM O CORAÇÃO DE ISADORA DE SAUDADE

Texto: Jaciára Lima Design: Gabriel Mota e Yara Barreto

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ra uma voz contente e alegre que começou a narrar uma história de amor e saudade. Ao longo de nossa conversa, Isadora Gonçalves, 33, professora de Ioga, fala de sua história com o Belvis, um fusca de cor indefinida como ela mesma gosta de ressaltar. “Ele é uma coisa de creme, com marrom. Não sei!”, afirma aos risos. Como muitas pessoas, Isadora levou em consideração na hora da compra o fato do Fusca ser um carro mais barato, desde sua manutenção, com peças mais em conta, até a economia na gasolina. Mas não era a questão financeira que falava mais alto na hora da escolha, era algo maior que nem mesmo ela consegue explicar. “Tem algum encanto no Fusca, mas essa não seria a palavra... Ele é compacto, bonito, é diferente!” Com esse amor inconceituavel, o Fusca de cor indefinida passou de um simples carro para ser algo mais que um veículo. Não é a toa que Isadora resolveu chamá-lo carinhosamente de Belvis. Uma homenagem ao seu cantor favorito Elvis Presley, já que por coincidência a data de fabricação de Belvis, 1977, é a mesma da morte de Elvis, o rockstar que conquistou multidões com sua música eletrizante e seu requebrado enlouquecedor. Mas Belvis não se compara ao precursor do rock que conquistou o coração de várias mulheres, ele é simples e só conseguiu encantar os amigos e família de Isadora. “Todos adoravam o Belvis. Minhas amigas só queriam sair se fosse com ele”, conta com certa vaidade e prossegue declarando seu amor pelo carrinho que ficava no quintal de sua casa. “Ele era mais um ornamento, algo pelo qual eu tinha muito

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carinho e zelo”. Mas esse amor, carinho e zelo foram postos à prova quando Isadora teve que tomar uma decisão que lhe deixou muito triste. Vender o carro para poder fazer um curso de especialização, em Ioga, no México. “Eu tinha que vender, estava precisando de dinheiro”, conta a ex-dona de Belvis, que para não ficar longe do carro vendeu ele estrategicamente para o seu pai, Edvar Costa. “Foi uma forma de não me separar dele” diz aos risos pelo telefone. A viagem duraria um ano, mas seria como se Belvis estivesse sempre com ela, já que no México o carro mais popular de to-

dos é o Fusca. Quem nunca assistiu a uma novela mexicana e viu aquelas baratinhas, em sua grande maioria verdes, servindo de táxi para todos os personagens? Pois bem, de acordo com Isadora lá é assim mesmo, em todas as ruas e bairros você encontra um Fusca, não importa se estão com as peças originais ou customizados, lá eles são valorizados. “Acho que é uma questão cultural. Lá eles não têm preconceito com quem dirige Fusca, diferente do Brasil” afirma a professora de Ioga. E é esse preconceito que faz a voz de Isadora mudar e ficar mais séria, o sorriso por detrás da ligação pareArquivo pessoal

ceu dar espaço para algo que deveria ser visto com mais seriedade. “Aqui as pessoas que compram um Fusca são vistas como pessoas que não tem condições, por ele ser um carro barato”, declara e ainda diz quando não é esse pensamento é o de que Fusca é para colecionador. O amor pelo Belvis é algo de fazer Isadora gaguejar. Quando pergunto se ela compraria outro Fusca ela responde rapidamente. “Eu pretendo reaver o Belvis!” Cheia de alegria e esperança e continua dizendo que o problema é o marido, Max Maranhão, que não gosta nenhum pouco da ideia dela voltar a ter o Belvis, já que quando ainda era dona do Fusca mal o dirigia. “Eu dirigi pouco o Belvis, ele era mais um ornamento. Eram as minhas amigas que dirigiam ele”, conta. Mas parece que ao recontar a sua história com o Belvis aquilo que estava adormecido acabou despertando, pois de acordo com Diana Valentina, 26, estudante de jornalismo e irmã de Isadora, logo depois da entrevista, a irmã passou a pensar na possibilidade de ter o Belvis novamente. “Acho que ela ligou logo em seguida, dizendo que deveríamos pegar o Belvis de volta”, diz aos risos. Diferente da irmã, Diana trocaria sim um Fusca por um Celta, pois considera o carro pesado e duro demais para dirigir.

VEJA MAIS www.fa7.edu.br Isadora (à direita) demorou a superar a venda do Fusca

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Cearamor: uma torcida disposta a tudo pelo Vovô PARA ALGUNS, INCENTIVADORES. PARA OUTROS VÂNDALOS. A DISCUSSÃO SOBRE O PAPEL E A IDENTIDADE DO TORCEDOR DE FUTEBOL OCORRE HÁ DÉCADAS E PARECE LONGE DO FIM Cynthia Nogueira

Texto: Eduardo Moreira Design: Yara Barreto

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uinta-feira, 23 de fevereiro de 2012. Nessa noite enluarada, o time do Ceará entrou em campo às 20h30min, para enfrentar a equipe do Icasa no estádio Presidente Vargas (PV). A torcida do Vovô começa a chegar lentamente, mas sempre com os gritos de incentivos ao time. Já é quase hora do jogo e, naturalmente, a movimentação aumenta. Ao entrar no PV, começo a sentir o tremor das arquibancadas, as bandeiras balançando, e os bandeirões sendo abertos. Entre os torcedores, encontro Gabriel Arruda, de 25 anos, que faz parte da Cearamor desde os 15. Ele deixa transparecer facilmente o fanatismo pelo seu clube de coração. Gabriel trabalha como agente administrativo em uma empresa de licitações, mas admite que o emprego não é sua prioridade na vida. “Acima de tudo, e antes de tudo, sou Ceará e amo o Ceará. Venho ao estádio todos os jogos, e quando estou saindo de casa, sei que estou disposto a tudo, gritar, pular, vibrar, e até brigar se for necessário. Nosso lema já diz tudo: Vibração, União, e Poder. Já perdi até emprego para viajar acompanhando meu Vovô querido, e se for preciso faço isso tudo de novo, pois, tudo pelo Ceará é valido”, afirma Gabriel. A Torcida Organizada Cearamor (TOC) foi fundada em 1982, mas só em 1990 se tornou uma torcida profissional organizada. Hoje, a TOC conta com aproximadamente 8 mil integrantes. Isso a torna uma das maiores organizadas do país. Por conta desse tamanho, a Cearamor naturalmente divide opiniões. “A Cearamor é sem duvida alguma algo essencial para o time do Ceará, pois sempre está nos jogos apoiando os jogadores. Não somos torcedores modistas e sim torcedores de verdade”, afirma Gabriel. Já para algumas pessoas, torcidas organizadas são coisa de

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quem não tem o que fazer. “É um absurdo. Esses vândalos ficam indo para os estádios de futebol para brigar, falar mal, e fazer badernas, e usam o jogo como desculpas,” afirma o torcedor do Ceará e estudante de Direito Hemesson Moreira. “Aqui não adianta falar só da TOC, pois o que acontece aqui no Ceará também acontece nos outros Estados do país. As torcidas organizadas, em geral, acabam se envolvendo em conflitos com as outras torcidas dos times rivais. Muitos julgam as organizadas como uma coisa de quem não tem o que fazer. Penso diferente, pois, dentro do estádio, sem sombra de duvida, as organizadas apóiam muito seus times, o problema acontece fora dos estádios”, afirma Antônio Ferreira, aposentado e torcedor do Ceará desde criança. Em meio a essa discussão, as torcidas acabaram se tornando uma questão de segurança pública. Isso explica as cons-

tantes tentativas de regulamentação da atividade dos torcedores organizados. A lei Nº° 12.229, de 2010, deixa claro que não só as ações das organizadas, mais todas as ações que acontecem em eventos esportivos tornaram-se de responsabilidade do poder público. Tramita no Congresso Nacional um projeto de lei do deputado federal André Moura (PSC) que propõe mudanças no Estatuto de Defesa do Torcedor (Lei Federal n.º 10.671/2003) para, segundo o parlamentar, oferecer mais segurança e comodidade aos torcedores brasileiros, além de garantir o direito da acessibilidade nos mais variados eventos desportivos. Pela proposta de André, inicialmente, todas as Torcidas Organizadas deveram realizar o recadastramento de seus integrantes nos meses de janeiro e agosto, de cada ano. No Brasil, porém, a aplicação das leis tem ocorrido de forma

problemática, com diversos casos sem punição. O que temos certeza é que, de um jeito ou de outro, essas pessoas amam seus times do coração. Alguns mais, outros menos, mas, para elas, a sensação vivida dentro de um estádio é algo sem explicação. “Futebol é algo maravilhoso, o espetáculo proporcionado pelas organizadas dentro dos estádios é lindo. Os integrantes das mesmas por amarem demais seus times acabam exagerando. O que jamais poderemos questionar é o amor desses torcedores aos seus times”, afirma Paulo César de Azevedo, professor de história e torcedor do Ceará.

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Leões da TUF: disposição e amor em três cores ÓDIO, AMOR, PAIXÃO, LOUCURA. TUDO JUNTO E MISTURADO EM NOME DE UMA ÚNICA COISA: O CLUBE DE FUTEBOL. Tamara Aquino

Texto: Jackson Pereira Design: Yara Barreto

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uando a galera se junta na sede, ao meio-dia pra sair, o nego sua a camisa pra levar a bateria, as faixas, os bambus e o bandeirão. Isso é o esforço de cada um, por amor ao time e por amor a torcida.” É assim que Jarbas Silva, conhecido como Banha, inicia o dia de preparação para as partidas do Fortaleza Esporte Clube. O jovem, que é solteiro e mora com a mãe e um irmão no Parque Santa Rosa, periferia de Fortaleza, conta a emoção que é participar da organização de uma ida ao estádio com a torcida. O amor pelo clube vem de criança. O pai era torcedor do Fortaleza. O time e as cores do clube fortaleceram a imagem do pai vestido de vermelho azul e branco. Já Addler Pinheiro, ex-vereador de Fortaleza e presidente de honra da Torcida Uniformizada do Fortaleza – TUF, se apaixonou pelo clube em 1982, quando o tio e o pai, torcedores do Ferroviário, o levaram para a final do Cearense daquele ano. “Fiquei encantado com a festa da Fiel Tricolor e dentro de campo mais ainda, pois o Rei Leão deu um show e aplicou uma goleada de 4 x 0! Foi amor a primeira vista”. Outro que também foi ao estádio pela primeira vez na torcida de outro clube é Eliezio Sousa, 34, casado, atual presidente da TUF, Eliezio conta que foi ao estádio pela primeira vez com um vizinho, torcedor do Ceará. Mas quando chegou em casa, encontrou com o pai, que trabalhava como caminhoneiro e havia acabado de chegar de viagem. Ele foi surpreendido com o presente que seu pai havia trazido. “Meu pai falou, ‘você não vai torcer Ceará, você vai torcer Fortaleza, eu trouxe essa caneca de porcelana com o símbolo do Fortaleza’.” A identificação com as torcidas organizadas também apareceu com o tempo para todos eles. Eliezer conta que via as torcidas mais antigas e achava aquilo

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muito lindo. Quando a TUF surgiu, ele começou a se aproximar, aos poucos, fazendo amizades e conhecendo mais gente. Já Addler Pinheiro pertenceu a outras torcidas, antes de ser convidado para participar da TUF. “Era da Fiel Tricolor. Em 1987 a Fiel meio que deu um tempo. Surgiu a Bafo do Leão, mas eu fiz uma mini torcida, a Força Jovem Tricolor, mas de imediato o Éberson Martins (fundador da TUF) fez um convite irrecusável para minha família. Resultado, eu, Marcionílio e Arley (irmãos de Addler), aceitamos e fizemos história, o que me fez ser hoje presidente de honra com muito orgulho.” Já Jarbas Silva se identificava com o ritmo funk, indo a bailes funk na cidade e na época as torcidas organizadas utilizavam como música de arquibancada este ritmo. As músicas da torcida nos bailes já chamavam sua atenção. Mesmo gostando

da música e indo para o estádio ele não ficava na torcida. Em 2001, começou a se aproximar dela. Saindo do bairro praticamente sozinho, ele se dirigia para o estádio com membros de outros locais da cidade. Todos eles falam das amizades e da emoção de estar na torcida organizada e consideram o espaço como uma família, Addler Pinheiro lembra que muitas vezes existe uma relação familiar que não é encontrada em casa. Muitas pessoas se dirigiam à sede da torcida ou às lojas da torcida para fugir dos problemas domésticos. Inclusive com pessoas morando na sede, porque não tinham onde morar. Foi o caso do lutador Maninho, que morou durante um tempo na sede da TUF. Ele cuidava do espaço e da Academia de Artes Marciais que havia no local. Para Jarbas, a TUF é uma família, todos estão unidos em torno do Fortaleza. “Lá tem

pai de família, tem criança e tem trabalhador.” Já Eliezio comenta que a torcida é uma verdadeira religião, os torcedores são apaixonados pelo time, têm um sentimento maior, seja nos bons ou nos maus momentos. “Ano passado o primeiro jogo nosso foi em Manaus (pela Série C do Campeonato Brasileiro). Até hoje estou pagando a passagem, mas fui”. Segundo ele, as organizadas viraram um meio de vida, inclusive com pessoas dando a vida por ela. Como foi o caso do presidente da TUF, Marcionílio Pinheiro, que foi morto após a ultima partida do Fortaleza, pelo Campeonato Brasileiro de 2005. Na ocasião, também morreu Fred Paiva da Silva, vice-presidente da torcida Fúria Jovem do Botafogo.

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papi ro Brenho Rebouças

Campeões da vida Tárcila já ganhou prêmio no programa Caldeirão do Huck

COM DISCIPLINA E EMPENHO, CRIANÇAS E ADOLESCENTES ENCONTRAM NO ESPORTE A CHANCE DE TER UM FUTURO PROMISSOR Texto: Bruno Parente Design: Rones Mota

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uem optou por ser atleta profissional no Brasil sabe que não encontrará pela frente um caminho oportuno. Não bastasse a rígida disciplina exigida pela prática do esporte, ainda há uma série de deficiências estruturais a que o atleta tem que se submeter, sobretudo, se for procedente da camada social mais baixa. Entretanto, há “teimosos” por aí provando que não há obstáculo intransponível, quando realmente se quer. Quando tinha seis anos, Tárcila Barboza conheceu a Ginástica Rítmica. Hoje, aos dez, a menina da comunidade do Dendê já pode ser considerada uma promessa do esporte

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brasileiro. O vice-campeonato no Torneio Nacional de Ginástica Rítmica, conquistado em 2011, no Ginásio Paulo Sarasate, serviu como recompensa ao empenho da ginasta-mirim, que também acumula diversos títulos e boas participações em competições estaduais e nacionais. A jovem atleta, de corpo flexível e mente focada, revela destreza e espontaneidade. Quando fala, parece até gente grande. Quem a conhece, a princípio, pode custar a perceber que sua vida sempre foi permeada pela dificuldade. A mãe trabalha como faxineira, sem renda mensal fixa, e tem que sustentar toda a família. Precisa se desdobrar, sempre que deseja proporcionar algum tipo de lazer aos filhos. Ciente dos obstáculos, mas, confiante no futuro, Tárcila demonstra esforço

em todas as atividades que realiza. Era aluna da Escola Yolanda Queiroz e, como se destacou, ganhou bolsa para estudar em um tradicional colégio particular da cidade. Ela reconhece a importância do conhecimento para se atingir o sucesso, sem, contudo, tirar o foco da ginástica. “Pretendo ficar no esporte, até quando Deus permitir”, planeja. Tárcila treina duas vezes por semana, no ginásio da Universidade de Fortaleza (Unifor), acompanhada de perto pela professora Ester Vieira, que voluntariamente trabalha pelo desenvolvimento da menina. Mas, a falta de patrocínio, muitas vezes, torna inviável a participação dela em competições realizadas fora do Ceará, pelo custo das viagens. Em janeiro deste ano, Tárcila esteve no programa Caldeirão do Huck, da Rede

Demonstrando esforço e dedicação também nos estudos, Tárcila ganhou bolsa em um tradicional colégio da cidade. Hoje ela está na 5ª série Globo, participando do quadro Agora ou Nunca. Sem hesitar um só momento, ela realizou as cinco provas do desafio e ganhou o prêmio máximo, de R$ 50 mil. A menina entregou todo o dinheiro à mãe, para que comprasse uma casa. Contudo, esta optou por depositá-lo em uma poupança.

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Bruno Mota

Quando o esporte dá novos rumos à vida Nayara Rodrigues tem 16 anos e, há sete, pratica o heptatlo. O esporte tem permitido à jovem ampliar os horizontes e ter esperança num futuro promissor. Sua modalidade reúne sete provas em uma só: arremesso de dardo e de peso, corrida de 200m, 100m com barreira, salto em altura, salto em distância e corrida de 800m. Nayara já participou das Olimpíadas Escolares, classificando-se até a terceira fase. Pretende, um dia, chegar bem mais longe: “Espero estar nas Olimpíadas de 2016”, ambiciona. Paralelamente à carreira no esporte, Nayara tem o desejo de cursar faculdade de Educação Física ou Fisioterapia. Companheira de pistas de Nayara, Marcela Figueiredo, de 16 anos, também encontrou no heptatlo a razão para mudar o rumo de sua vida. “O atletismo me ensinou a ter foco, garra, dedicação”. Praticante há apenas um ano, Marcela já disputou competições importantes: Troféu Norte/Nordeste de Atletismo (por duas ocasiões, sendo uma na categoria juvenil e outra na categoria adulto) e Olimpíadas Escolares, chegando à segunda fase. Pretende se profissionalizar no esporte e, também, fazer faculdade de Psicologia ou Educação Física.

DIREITO DE TODOS? O investimento nos atletas brasileiros, quase sempre, só vem na fase adulta, quando eles já conseguiram provar que o esporte vale a pena. À exceção do futebol, o que se vê é o desperdício de centenas de talentos, que se perdem por não ter tido direito às condições mínimas para a prática do esporte. São poucos os locais com estrutura; faltam patrocínio e equipamentos adequados; a preparação física não é apropriada. Imagine se no Brasil não existisse um Ministério encarregado de “cuidar” exclusivamente do esporte... Em todo caso, quem sonha em seguir no esporte, possivelmente, encontrará muitas portas fechadas, até se deparar com uma oportunidade. Entretanto, não há espaço para lamentação, e desistir deve estar fora de cogitação. Dia a dia, o fôlego amanhece renovado para cada nova batalha e, certamente, quando for o tempo, o sucesso e o reconhecimento chegarão. Joilson começou a correr, aos 9 anos, com um tênis achado no lixo Tarcísio Ribeiro

Tarcísio Ribeiro

A prova de que é possível Medalha de bronze no Pan-Americano de Guadalajara, realizado em 2011 no México, o fortalezense Joilson Bernardo da Silva, de 24 anos, mostra que é possível ser vitorioso no esporte, mesmo quando faltam recursos. Sua trajetória no atletismo começou aos nove anos, quando corria descalço pelas ruas do Mucuripe. O primeiro tênis foi achado no lixo, bem surrado, mas serviu assim mesmo. Aos doze, conheceu o Projeto Atleta, do Governo do Estado, e destacou-se em diversas provas na região Nordeste. Daí em diante, Joilson passou a se dedicar mais ao esporte. Mudou-se para Londrina, no Paraná, onde encontrou melhores condições para treinar e, hoje mora na cidade de Campinas, em São Paulo. Coleciona boas participações em eventos nacionais e internacionais e serve de inspiração a muitos jovens que desejam seguir carreira no esporte. A prova em que Joilson mais se destaca é a corrida de 5000m.

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Nayara quer competir nas Olimpíadas

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papi ro Raoni Souza

Entre as braçadas e os livros SER ATLETA NÃO É NADA FÁCIL. UMA ROTINA INCANSÁVEL DE TREINOS EXIGE MUITO DE QUALQUER ESPORTISTA. SER ATLETA, ADOLESCENTE E ESTUDANTE, É MAIS DIFÍCIL AINDA Texto: Taíssa Julião Design: Anna Rita Regadas Eles são jovens que precisam arrumar tempo para estudar, passear, se divertir – tudo nas 24 horas de um dia. Esse é o roteiro da vida de tantas crianças e adolescentes. Agora imagine se eles, além de tudo isso, acumularem a função de atletas. Um bom exemplo disso é Vittória Lopes, nadadora, de apenas 16 anos. A rotina da jovem é intensa: ela treina de segunda a sábado. Entre natação, corrida, e exercícios extensores, para ajudar a fortalecer dos músculos, são cerca de três horas de treinamento, duas dentro d’água e uma fora. Em algumas épocas, Vittória ainda chega a treinar duas vezes por dia, duas vezes por semana. O horário? 05h45min da manhã, antes de ir para o colégio. A atleta está no segundo ano do ensino médio. “Não sou a melhor aluna da sala, mas sou uma boa aluna sim”, afirma. Mesmo com os treinos e estudos, ainda arranja tempo para se divertir. Ela conta que muitas vezes saía na sexta-feira sabendo que no outro dia de manhã teria treino. Mas, em diversas outras ocasiões, já deixou de sair pelo mesmo motivo. “Eu tenho que me virar em duas, mas, sabendo se organizar, dá pra sair, namorar, passear, estudar e treinar”. Para Vittória, o ditado “filha de peixe, peixinha é” se encaixa perfeitamente. A mãe da jovem é Hedla Lopes, nadadora

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“Tudo que você faz feliz e com dedicação, pode ter certeza que dá certo”. e triatleta, a primeira do Norte/Nordeste a participar dos jogos Pan Americanos e também do Ironman no Havaí. A mãe, que entrou no esporte aos 11 anos de idade, por indicação médica, diz que “tudo é uma questão de disciplina, objetivo e foco”. A “peixinha” deu seu primeiro mergulho aos seis meses de idade e nunca mais parou. Sua primeira competição foi aos nove anos, que é a idade mínima para competir. Ela também conta que sempre teve o incentivo da família, principalmente da mãe. “Eu escuto sobre esporte 24 horas por dia. Às vezes canso, mas ao mesmo tempo não consigo ficar um dia sem falar desse assunto. É estranho, né?”. Vittória pode ser jovem, mas a bagagem no esporte já é bem grande. No ano passado, a atleta foi convidada para treinar em Curitiba, Paraná. Passou um mês e gostou. Voltou para Fortaleza e falou para os pais que queria morar lá. Na época, ela só tinha 14 anos, mas foi 100% apoiada. Só havia um empecilho: a tão sonhada festa de 15 anos. Ficou combinado que ela ficaria até abril (mês da festa) e viajaria depois. E assim foi. No fim de semana seguinte ao baile, ela se mudou para Curitiba. Mesmo com todo apoio, morar fora foi

um desafio. “Eu tinha que arrumar meu quarto, lavar minhas roupas, ir ao mercado, ir a pé para o colégio, andar de ônibus, estudar e treinar”. Isso tudo com apenas 15 anos e sem a família por perto para dar suporte. “Era bem difícil fazer tudo isso, mas não me arrependo de nada. Pelo contrário, fiz amizades que pretendo guardar para sempre e fiquei um pouco mais madura”. E para quem está com vontade de enfrentar essa jornada, Vittória ainda dá uma dica: “tudo que você for fazer, tem que fazer com felicidade. Tudo que você faz feliz e com dedicação, pode ter certeza que dá certo. E, claro, tem que se organizar também”. Seguindo os passos Como já treina há bastante tempo, Vittória já tem artimanhas para administrar o seu tempo. Mas, sua prima Emily Lopes, de 13 anos, ainda está aprendendo a conciliar os horários. A menina, que faz o 8º ano do ensino fundamental, nada desde quando era um bebê, mas só começou a competir há pouco tempo Mas não é por isso que sua rotina é mais leve. Assim como a prima, Emily também treina de segunda a sábado. “É meio difícil, porque tenho pouco tempo para es-

Raoni Souza

Vittória e Emily Lopes tudar e fazer as tarefas do colégio entre as aulas e a natação”. Ela ainda conta que, às vezes, não faz as atividades da escola por ter que dormir cedo para treinar no outro dia pela manhã. Emily começou no esporte por incentivo da tia, gostou e continuou por vontade própria. Ir ao cinema, encontrar as amigas? Só nos fins de semana. Mas, mesmo assim, se diz apaixonada pelo que faz. Ela ainda fala que o pai, Braz Junior, é o maior seu maior estimulador. “Como eu nado, ele não exige tanto assim das notas, mas estudar é importante”. A mãe, Tatiana Lopes, é outra super fã, mas cobra um pouco mais da filha nos estudos. VEJA MAIS www.fa7.edu.br

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O perigo na vitrine dos doces

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Humberto Mota

AS ACADEMIAS E CENTROS ESPORTIVOS ESTÃO CHEIOS DE PEQUENOS ATLETAS. MAS APENAS O EXERCÍCIO PODE NÃO SER SUFICIENTE PARA GARANTIR UMA INFÂNCIA SAUDÁVEL

Texto: Suiany Rocha Design: Gerusa Pacheco

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orrer, pular, suar e principalmente se divertir. É o que toda criança gosta de fazer. Que tal aliar tudo isso à prática de esportes? Pode ser prazeroso e ao mesmo tempo traz benefícios à saúde. Normalmente esse seria um conselho, porém, nos dias atuais, se torna um alerta, já que o número de crianças consideradas acima do peso tem crescido. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria, nos últimos 30 anos o índice de crianças obesas passou de 3% para 15% no país. Além das atividades escolares, dos cursos de línguas, do acesso à internet e aos jogos eletrônicos, muitas crianças ainda encontram tempo para o esporte. Para muitas delas, essa prática faz parte da rotina. A atividade esportiva pode “despertar” crianças mais indispostas. É o que relata Daniel Moreira, profissional de educação física há cinco anos. “Esportes coletivos são os mais indicados. As crianças ficam mais motivadas, já que exigem uma interação entre elas”. Os pequenos podem até ter uma vida de atleta cheia de energia e disposição. Mas uma má alimentação pode colocar em risco os ganhos com os exercícios físicos. Lara Oliveira tem 10 anos e uma rotina diária de atividades esportivas. Mesmo com as obrigações escolares e o curso de inglês, a garota pratica hip hop, joga futebol na quadra do condomínio onde mora e ainda frequenta um clube de vôlei. Ela diz que não se cansa e que só não fica mais tempo nas suas diversões porque sua mãe não deixa. “Nem vejo o tempo passar quando estou jogando” explicou Lara ainda bem eufórica por conta do treino. Luciana Oliveira, mãe da pequena esportista, diz que a filha tem muita energia,

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mas, na hora de comer, sempre dá trabalho. Enquanto a filha se alimenta, a mãe está sempre de olho. Alimentos ricos em proteínas e carboidratos estão sempre no cardápio da Lara, mesmo ela tendo outras preferências. “Eu adoro sushi”, revela. Zeneide Ferreira é mãe de Ana Tereza também de 10 anos. Foi dela a ideia de matricular a filha no vôlei. Não só pela queima de calorias, mas pela timidez da filha. Ela acredita que o vôlei, por ser uma atividade em grupo, pode ajudar na socialização de Ana. A menina diz que, no começo dos treinos, há dois anos, tinha pouca disposição para o esporte. Hoje, encara muito bem sua rotina de atividades e sai de lá com muita fome. “Se eu pudesse, saía daqui e iria direto para o McDonalds”, disse ela, num momento em que a mãe não estava por perto. Rafaele Nunes é professora de vôlei num clube de Fortaleza. Seus alunos têm entre 8 e 14 anos. Embora o objetivo não seja formar atletas profissionais, as crianças demonstram muito empenho e dedicação durante os treinos, segundo a professora. Não existe aula teórica; apenas um aquecimento inicial e depois é hora de suar a camisa. Apesar de ser chamada carinhosamente de Tia Rafa pelos alunos, na hora do

“(Sempre digo a eles) bebam bastante água e sucos e evitem alimentos gordurosos e refrigerantes” Rafaela Nunes, professora de vôlei

Nem sempre o local dos treinos oferece alimentação adequada

treino ela impõe um ritmo acelerado. Fica atenta a tudo que os pequenos atletas fazem na quadra durante uma hora, tempo médio de treino. Falando de alimentação, a professora explica que não receita nem um tipo de dieta, mas que sempre dá dicas aos alunos. “(Sempre digo a eles,) bebam bastante água e sucos e evitem alimentos gordurosos e refrigerantes”. Mas reconhece que o próprio local de treino dispõe de uma lanchonete bastante tentadora, cheia de atrativos, principalmente para crianças. Glauber Marques tem 13 anos e joga vôlei duas vezes na semana. Ao sair do treino, ainda bastante suado, foi direto para a lanchonete e comeu um salgadinho frito acompanhado de uma latinha de refrigerante. “Se deixar por conta dele, é sempre assim”, reclama Mair Marques, mãe de Glauber. Normalmente ela não permite este tipo de alimentação e procura incentivá-lo a tomar sucos, comer frutas e cereais. Ela disse ainda que este caso foi exceção já que estava “apressada” naquele dia.

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DICAS Cerca de 30 minutos antes do início da atividade esportiva é importante o consumo de proteínas, carboidratos, vitaminas e minerais. É o que aconselha a nutricionista Maria das Graças Mendonça. Ela explica que uma alimentação balanceada com frutas, hortaliças e alimentos integrais, ricos em fibra, deve ser um hábito principalmente na infância, na qual há uma rápida metabolização. A falta desses nutrientes gera um déficit nutricional. E o consumo de alimentos com calorias vazias, como é o caso dos doces, refrigerantes e gorduras, eleva rapidamente a energia, gerando um pico rápido e em seguida uma baixa energética maior que o pico. Após o exercício é importante que a reposição de calorias seja de forma gradativa através de sucos naturais ou barras de cereais e depois uma alimentação constituída de proteínas e carboidratos. A nutricionista ressalta a importância da consciência que os pais devem ter na educação alimentar dos filhos, seja esportista ou não. E que o hábito de comer bem deve ser adotado por toda a vida.

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papi ro Dj Alemão

Dinheiro na mão é

vendaval GANHAR PRÊMIOS EM SORTEIOS É QUESTÃO DE SORTE OU AZAR? VEJA COMO O DINHEIRO TRANSFORMA A VIDA DAS PESSOAS. E ACREDITE: NEM SEMPRE O RIQUEZA TRAZ FELICIDADE Texto: Lylla Lima Design: Anderson Paixão e Andrei Tavares

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uem não gostaria de ter a sorte grande de ganhar na loteria? Ficar milionário da noite pro dia, realizar seus sonhos, fazer o que a vida até então não tinha lhe proporcionado. mais vezes os sonhos viram verdadeiros pesadelos, que o diga pessoas que ganharam prêmios grandes, viram suas vidas mudarem e o dinheiro em pouco tempo ir embora, deixando o arrependimento, solidão e tristeza. O que mudou na vida delas? Como vivem hoje?

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Não faltam historias de pessoas que enriqueceram de uma hora pra outra. Cerca de um terço dos novos milionários vão a falência dentro de alguns anos, segundo uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, seja pela imaturidade, inocência ou outros motivos. Antônio de Souza ganhou 9 milhões de Cruzeiros, que na década de 70 poderiam ter comprado casas, carros e etc. Hoje não tem mais nenhum centavo e nenhum bem que tenha comprado com esse dinheiro. A família, que mora em Fortaleza, nos atendeu muito bem, mas alertou que ele não fala sobre o assunto há anos, nem mesmo com sua esposa Aglida, que sobrevive com seu salário de professora.

Souza hoje ganha um salário mínimo. Antes de ficar milionário, ele ganhava pelo menos 3 salários com seu emprego na Petrobras. Logo que ganhou na loteria deixou o cargo. Um homem calmo, que cria gatos abandonados da rua, mas realmente o assunto lhe incomoda, o arrependimento é grande. A família o acha forte por nunca ter tentado cometer uma besteira contra si mesmo. Mas também há o outro lado, há pessoas que mudam sua realidade, ajudam o próximo e criam, com o dinheiro ganho, fonte de renda. Ilvan Silva, conhecido onde mora por Gil, tem 47 anos e trabalha de porteiro em um colégio. Começou a traba-

lhar aos 15 anos, casou, teve duas filhas, separou, repartiu a casa com a ex-mulher, casou-se novamente, tem dois enteados e uma cachorra. Desde menino sempre acreditou que um dia a sorte e a perseverança iam ganhar. Em rifas de amigos, de vez em quando vencia. Seu primeiro grande prêmio foi em uma gincana na TV, na qual ganhou um sofá e uma estante, em 1988. No trabalho, emprestava dinheiro aos amigos, pra depois ganhar o seu em cima. Toda semana ia até as casas lotéricas e fazia sua aposta. Mas avisa: é preciso ter controle “Tem gente que usa o jogo como vicio. Se você tem dinheiro pra jogar,

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Carlos Soares/Aline Araujo

Todas as cartelas que Gil comprava tinham que ter obrigatoriamente o número 13

O matemático Munir W. Niss é autor de 4 livros que tratam sobre a Mega Sena. Seu livro de maior sucesso é o Segredo das Loterias, lançado no ano de 2003. Munir trabalhou 30 anos em lotéricas, há 13 dá palestras sobre o assunto e diz já ter ganhando 40 vezes na Mega Sena. Para o pé quente Munir três fatores são relevantes para que se seja um ganhador: sorte, dinheiro para apostar e estratégia, cada um com 33% de chance. Uma dica dele é Jogar pouco os números com final nove ou final zero, pois saem menos. Gil continua jogando, mesmo depois de vencer

jogue. Mas se você não tem deixe pra lá, amanhã é outro dia.” Anos se passaram e o grande dia chegou. Em um domingo, foi almoçar na casa da sogra com toda a família, mas quando chegou lá lembrou que tinha esquecido a cartela pra marcar. O sorteio acontecia ao vivo pela TV. Então voltou pra buscar e sua irmã disse: “hoje você ganha”. Gil respondeu “Deus te ouça”, e saiu. Marcando sua cartela sozinho na sala, estava insatisfeito, pois nas 10 primeiras pedras não saiu nenhuma das suas. Disse a si mesmo: “Que cartela ruim.” Mas o jogo virou e em seqüência seus números começaram a sair, só faltava uma pedra pra ele “bater”, a de numero 13.

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O incrível é que Gil sempre teve superstição com esse numero. De todas as cartelas que comprava todas tinham que ter obrigatoriamente o número 13. E foi essa mesma que lhe garantiu o prêmio de 200 mil reais. Chamou a família e avisou do ocorrido. Todos em festa, conhecidos começaram a ligar. A cartela era no nome dele e sua esposa Solange, que todos chamam de Sol. A data de entrega do prêmio foi marcada para a terça-feira da mesma semana e obrigatoriamente tinha que ser entregue na casa do ganhador e com a presença da equipe de televisão do programa. “Ele é sortudo”, alguns diziam, mas para Gil não é só questão de sorte. “Só

ganhei porque jogo, se você não está no meio não tem como”. Calmo e observador, Gil, juntamente com Sol, abriu uma conta, depositou o dinheiro e só retirou aos poucos. O primeiro grande sonho a realizar foi a compra da casa de cima, a que teve que dividir com sua ex-esposa, que na época alugava o imóvel. Com o dinheiro, ele pôde comprar a casa de cima e continuou alugando, pra ter uma fonte de renda. O segundo passo foi reformar sua casa. Todos os moveis velhos foram trocados, menos o fogão que ele tinha comprado uma semana antes de “ficar rico” contrariando sua esposa, que estava precisando também de um novo armário

de cozinha. Então ele disse a ela: “não se preocupe, semana que vem a gente compra” e assim foi feito. O carro da família, um Chevette foi reformado e rifado. Posteriormente comprou um novo carro. Ajudou a familiares e hoje ainda tem uma boa quantia depositada, pra caso de urgência. Vive somente do dinheiro de seu trabalho e dos seus bicos, faz pequenas entregas, transporte de conhecidos e ainda consertos de eletricidade. Alguns problemas apareceram com a chegada da nova vida. Amigos aos montes, pessoas que tinham idéias mirabolantes e só precisavam de alguém pra entrar com o capital. Gil soube cuidar do dinheiro mas conhece amigos que também ganharam em jogos e em pouco tempo perderam tudo ou quase tudo. “Maré”, amigo de Ilvan é um deles. Ganhou 20 mil reais no proibido jogo do bicho, comprou duas casas para alugar, mas logo trocou uma delas por uma moto, e posteriormente vendeu pra pagar dividas. Assim, o dinheiro que vem fácil também vai fácil. Gil não tem nenhum vicio, mas reconhece que, para pessoas envolvidas com bebidas, drogas e outros estão mais propícias, inclinadas a gastar o dinheiro de maneira descontrolada e superficial. O porteiro continua comprando semanalmente suas cartelas, duas vezes por semana. Guarda uma pequena coleção delas que junta desde o dia que ganhou. Quando lhe pergunto se ele continua jogando ele me responde que sim e diz: “se eu comprava quando não ganhava, avalie agora que ganho”. Ele já tem planos com que fazer do próximo prêmio. Irá tirar sua carteira tipo C (só tem A e B) para comprar e dirigir um caminhão, assim podendo aumentar o tamanho e o número de seus fretes. Diante de tanto otimismo, a vontade que dá é de acreditar na sorte também e correr até uma lotérica.

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papi ro Fabrício Alves

Ele denomina seu trabalho como “sebista” e conta que tem grande apreciação pela leitura de vários gêneros. “Eu gosto dessas histórias assim de interior. De ficção, suspense, superstições... eu me ligo muito nessas histórias, gosto muito de ler.” Diversas gerações já frequentaram seu estabelecimento. “Eu tenho pessoas que já tão na faculdade, já casaram e tão comprando livro para os filhos. Então a gente fica com uma responsabilidade muito grande sobre esse negócio de livro. Por que você tem eu vender o livro certo, não adianta vender o livro errado”. Ele trabalha todos os dias e diz que vai seguir fazendo assim até não poder mais. “Aí a determinação já num é minha, é de Deus mermo, a determinação é de Deus né?!”, ressalta.

Brasil tem 29 milhões de aposentados e pensionistas

Papai Noel nem pensa em parar de trabalhar

Idosos na ativa FOI-SE O TEMPO EM QUE OS AVÔS FICAVAM APENAS EM CASA AOS CUIDADOS DE FILHOS E NETOS. HOJE ELES FAZEM QUESTÃO DE MANTER SEUS TRABALHOS COMO FONTE DE RENDA OU HOBBY Texto: Dayanne Feitosa Dutra Design: Gerusa Pacheco

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róximo a Praça dos Leões, no centro da cidade de Fortaleza, encontramos o sebo – um local onde é possível encontrar livros antigos - onde o dono tem um apelido muito propício para as comemorações de final de ano: Papai Noel, como é popularmente conhecido o comerciante Francisco Antônio Cavalcante. Ele divide o espaço do pequeno comércio com os livros de Lima Barreto, Machado de Assis, William Shakespeare e fica à espera de sua clientela. Seu local de trabalho está nos fundos de uma grande livraria da praça. Ao entrar no local, já podemos ver as letras com os dizeres: Paradidádicos Papai Noel. Segundo Antônio, a origem do apelido foi dada quando ele tinha 30 anos, com os cabelos brancos e então os amigos o

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“Quem vende livro, no meu caso, é assim uma coisa espiritual sabe? Alimenta mesmo a alma da gente, principalmente quando a pessoa pede um livro e a gente tem. Aqui é uma maravilha.”

apelidaram. Desde então, ficou conhecido por Papai Noel. Já recebeu várias cartas e doces de crianças, mas nunca recebeu nenhum presente. “O pessoal acha que o Papai Noel é mais pra dar presente (risos). O meu presente é essa confraternização aqui sabe, essa consideração e o respeito que tem por mim.” Em 1990, ele começou a fazer troca de livros. Atualmente, um filho e um neto lhe ajudam no trabalho. Com 66 anos de idade, Papai Noel ainda segue o mesmo método de venda, trocando um livro seu por dois do cliente. Ele afirma que sua profissão tem uma grande responsabilidade e fica gratificado pela amizade e confiança de seus clientes. “Quem vende livro, no meu caso, é assim uma coisa espiritual sabe? Alimenta mesmo a alma da gente, principalmente quando a pessoa pede um livro e a gente tem. Aqui é uma maravilha”, comemora.

O personagem apresentado mostra que apesar da idade, ainda se sente bem ajudando ou auxiliando de certa forma a sociedade. Não são todos os idosos que têm a possibilidade de se manter na ativa. Mas é cada vez maior o número de pessoas que, após a aposentadoria, ainda mantém seus empregos ou procuram um hobby. Muitas vezes a continuidade no trabalho é para o sustento da família. Segundo o censo do IBGE de 2000, 62,4% dos idosos e 37,6% das idosas são responsáveis pelo sustento da família. Juntos, somam uma população de 8,9 milhões. Ainda segundo o IBGE, quase seis milhões de idosos com 60 anos ou mais ainda trabalham, representando 30,9% do total. Na faixa de 70 anos ou mais, o percentual é de 18,4%. O idoso não é mais considerado alguém sem utilidade. Diversas empresas reservam vagas de emprego para pessoas da terceira idade, por suas experiências e sua dedicação no trabalho. Além disso, o idoso que trabalha ou mantém um hobby, se sente ainda mais vivo.

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* SERVIÇO Paradidáticos Papai Noel Rua: Gen.Bezerril, 396 – Praça dos Leões (Centro)

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O cupido pede login e senha Arquivo Pessoal

HOJE É COMUM CONHECER PESSOAS QUE ENCONTRAM SUA ALMA GÊMEA NAVEGANDO NA INTERNET. VOCÊ ACREDITA QUE UM RELACIONAMENTO VIRTUAL PODE DAR CERTO? ANY E PAULO PROVAM QUE SIM Texto: Gil de Souza Design: Amanda Rodrigues

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través das redes sociais, como Facebook, Orkut e sites de relacionamentos como o Badoo, muitos casais acabam se conhecendo, fugindo da paquera tradicional do olho no olho, para relacionamento virtual. Foi o que aconteceu com dois jovens de mundos diferentes, unidos com a ajuda do Facebook. Paulo Jordão, de 24 anos, técnico em mecatrônica, morava na cidade de Campinas, no estado de São Paulo com sua família, ele era membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conhecida popularmente como a Igreja dos Mórmons. Segundo as crenças dessa religião, os jovens são chamados para servir uma missão de tempo integral, dedicando-se dois anos de sua vida para pregar o evangelho de Jesus Cristo em qualquer parte do mundo. Em julho de 2008 chegou a vez de Paulo, que foi enviado para fazer missão na cidade de Fortaleza. E junto com ele vieram às regras. Uma delas era a proibição de qualquer contato íntimo com uma mulher. “Os missionários não podem namorar na missão”, diz ele. Depois de dois anos, em julho de 2010, Paulo volta para sua cidade com o dever cumprido. Ele nem imaginava que a vinda para capital cearense mudaria sua vida. Any Lima, estudante de Jornalismo de 25 anos e também membro da Igreja de Jesus Cristo do Santos dos Últimos Dias, morava em Fortaleza com sua mãe

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e sua avó. A jovem tinha uma vida normal, dedicando-se aos estudos e a igreja. Mas uma sugestão de amizade no seu Facebook começou a mexer com os seus sentimentos e com a sua rotina. Any, navegando na rede social viu Paulo Jordão como sugestão de amigo, e ao perceber que tinham amigos em comum da igreja, enviou um convite de amizade. E o rapaz logo aceitou. Tiveram a primeira conversa e as primeiras perguntas virtualmente, no bate papo do site. “Ele era meio chatinho, metido... eu não gostava muito dele”, diz Any dando risadas. Com o tempo, Paulo insistiu e pediu seu MSN, foi ai que o papo ficou mais interessante e com mais freqüência. “Falei um pouco da minha vida, e ele da dele, e vimos que tínhamos bastante coisa em comum,” afirma Any. Eles moravam com a mãe e com a avó. Depois do MSN veio a troca de telefone, que aumentou ainda mais a afinidade entre os dois. Mas, Paulo ainda tinha dúvidas sobre Any, e pediu para um amigo, que conheceu na missão quando estava em For-

taleza, para verificar as informações dadas pela moça. Seu amigo confirmou tudo, e o interesse do rapaz só aumentou, pedindo a jovem em namoro. Em outubro de 2010, Any precisou ir para São Paulo tirar seu visto para os Estados Unidos no consulado americano. Ficou hospedada na casa de sua prima. Porém, já tinha combinado com Paulo de encontrá-lo nessa viagem. Tudo ocorreu como ela tinha planejado. o primeiro encontro entre os dois foi inesquecível, e o primeiro beijo aconteceu. Quando a estudante de jornalismo retornou a Fortaleza, já estava completamente apaixonada. “Todos os dias ele me ligava pela manhã e a noite. Ficávamos conversando pelo celular por até três horas”, comenta a garota. No final de 2010, Paulo veio para Fortaleza passar o ano novo com sua amada e conhecer sua família. Uns três dias antes de ele voltar para Campinas fez uma surpresa, comprou as alianças e pediu a namorada em casamento. Mas, por serem da religião dos Mórmons, pre-

servaram a lei da castidade: sexo somente depois do casamento. Aproxima-se o grande dia, Any e sua mãe viajam para Campinas. Organizam duas cerimônias, uma no dia 22 de julho no cartório, e na manhã do dia seguinte no templo sagrado, onde é permitida somente a entrada de membros da Igreja dos Mórmons. Acontece uma festa bem simples para a família e amigos do casal. Depois do casamento, o casal decide morar com a mãe de Paulo em Campinas. Seis meses depois retornam para Fortaleza em busca de oportunidades. Hoje continuam se amando e firmes na igreja, planejando até ter filhos no final do ano. Isso tudo graças a uma simples sugestão de amizade no Facebook.

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Deletando a relação Bárbara Rodrigues

QUANDO A INTERNET VIRA UMA ARMA NOCIVA E PERIGOSA NA MÃO DE QUEM NÃO SABE USÁ-LA PARA SE RELACIONAR

Texto: Elrica Mara Design: Amanda Rodrigues

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ssim como muitos casos amorosos pela Internet dão certo, outros que talvez tivessem tudo para ser eternos, acabam nem saindo das telas do computador. O encantamento pela pessoa que não está perto fisicamente pode decidir o futuro de alguém. Foi o que aconteceu com Leandro Gomes, 25 anos, estudante de biologia, e Sara Oliveira, 21 anos, vendedora. Eles se conheceram em janeiro de 2010 por um site de bate-papo. Ao entrarem na mesma sala virtual, eles começaram uma conversa. Leandro achava que seria só mais uma conversa. Mas como ele conta, o papo ia ficando mais interessante. “Era uma conversa bem descontraída. Passamos horas conversando sobre assuntos do nosso dia-a-dia. Queríamos saber as coisas básicas, como onde mora, o que faz, do que gosta etc.”. Neste mesmo dia, Leandro e Sara trocaram seus emails pessoais e se despediram. No dia seguinte, Leandro entrou na Internet e viu que Sara tinha aceitado seu pedido para ser um dos seus contatos, então eles começaram a conversar novamente. E a partir daí foram todos os dias, no mesmo horário. Dessa forma eles iam se conhecendo melhor, até já podiam se ver pela webcam. Depois de algum tempo se relacionando via internet, a moça conta para a família do caso amoroso, para surpresa tanto de Leandro como dela mesmo, a família não aceitou o namoro. Além de eles morarem em cidades diferentes – ele em Fortaleza,

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ela em São Paulo -, não se conheciam pessoalmente e desde então começaram os conflitos de um namoro pela internet. Por incrível que pareça, as brigas entre eles aumentaram e decidiram terminar. Com pouco mais de duas semanas, eles voltam, mas nada era como antes. Começaram a perceber que realmente não daria certo continuar, pois eles viviam em mundos totalmente diferentes. Também foram influenciados pelas histórias que eles mesmos já conheciam de relações virtuais mal-sucedidas. O estudante afirma que os relacionamentos pela internet nem sempre são seguros e exigem muito do casal. Leandro ainda gostava muito de Sara, mas precisava pensar no seu futuro. Então disse um não definitivo para o namoro com ela. Hoje, ele avalia que foi a melhor saída para todos os problemas que estava enfrentando. Leandro e Sara ainda se falam, mas reconhecem que não dão mais certo juntos e cada um segue sua vida. Isso pode muito bem se adequar à situação que Renata Nayara, 22 anos,

organizadora de eventos, viveu. Ano passado, ela namorou com Evilásio Mendes, 24 anos, empresário. Mas o relacionamento não pôde ir adiante, justamente por causa da internet. A partir do dia em que o relacionamento foi assumido publicamente, a ex-namorada de Evilásio passou a intrometer-se na vida do casal, sobretudo na vida de Renata. Foi através da internet que a ex-namorada conseguiu encontrar o perfil de Renata no Facebook. E desde então, descobriu emails e telefones. De acordo com Renata, a outra sabia de tudo que acontecia na vida do casal, graças às publicações no mural do perfil de Renata. “Virou um inferno. Tive que excluir o perfil na rede social”, conta ela. Um dos pontos negativos é a desconfiança. Para Renata, essa foi um dos motivos que a levou a terminar o namoro que mantinha com Evilásio há pouco mais de três meses. A ex-namorada começou a postar fotos antigas dela e do rapaz, induzindo que fossem atuais, o que desagradou Renata.

Renata conta que com todos os insultos, intrometimentos e abusos que ela sofreu, não teve outra saída a não ser terminar tudo com Evilásio, pois estava sendo caluniada por uma pessoa que nunca tinha visto. E na opinião dela, existem emque não vale a pena passar por causa de outras pessoas. Para ela, a internet teve um lado negro neste ponto, pois trouxe vergonha, medos e receios. Essa ferramenta que hoje é tão importante, mostra que nem sempre é fácil manter um relacionamento. Na maioria das vezes poder ajudar e também atrapalhar diretamente no destino dos casais.

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A vida na newsroom O MODELO INOVADOR DE REDAÇÃO INTEGRADA, ADOTADO PELO CURSO DE JORNALISMO DA FA7 PARA O FECHAMENTO DO PAPIRO, VOLTOU A REUNIR ESTUDANTES E PROFESSORES EM TORNO DO FRISSON DA NOTÍCIA. Fotos: Cynthia Nogueira

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