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Diretor Acadêmico Ednilo Soárez Vice-Diretor Adelmir Jucá Coordenador do Curso de Jornalismo Dilson Alexandre Editores chefes Edma Góis Miguel Macedo Projeto Gráfico e Direção de arte Tarcísio Bezerra Consultoria gráfica Humberto Araújo Coordenador do Núcleo de Fotografia Jari Vieira Bolsistas do NPJor que participarem desta edição Iago Alencar - Fotografia Lua Alencar - Fotografia Gustavo Lima - Diagramação Editorial Flávia Oliveira Colaboraram nesta edição os alunos: Texto Alexandre Fernandes, Angela Barroso, Bárbara Rios, Bárbara Rodrigues, Breno Rebouças, Cinthya Paula, Fábio Albrecht, Flávia Oliveira, Glenna Cherice, Guilherme Paiva, Jackson Oliveira, Jéssica Saunders, Rafael Bastos, Raimundo Machado, Ravena Almeida Samara Melo, Taimara Gomes, Tamara Aquino, Tarcísio Ribeiro , Zaira Umbelina Design Dulcinea Carvalho, Elrica Mara, Jefferson privino, Gil de Sousa, Iury Costa, Jessica Castro, Saulo Lobo.
O que ser quando crescer? Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida, disse o filósofo chinês Confúcio. O que ele quis dizer com isso está claro, claríssimo: fazer o que se gosta de verdade é um prazer, muito mais do que um trabalho. Mesmo que o salário acabe antes do fim do mês, mesmo que ele canse, que doa, que pareça invisível. Um bom trabalho é aquele que a gente faz bem. Mas, como saber o que ser quando crescer? Os testes vocacionais podem ajudar. Tem um problema burocrático pra resolver? Contrate um despachante. Quer mudar de ramo? Ouça o que o “marido de aluguel”, o operador de triagem e o jardineiro têm a dizer. O importante é desafiar-se. Siga o exemplo do calceteiro, da executiva de compra coletiva, do operador de rádio taxi. Conhecimento é tudo, mesmo que não formal: palavra do desenvolvedor de aplicativos e do gravurista. Além da cabeça, seu corpo também é instrumento, seja você dançarino, animador de evento, dog walker ou tosador. Quer só ouvir uma boa estória pé na estrada? Veja a da caminhoneira. Se for para realizar os sonhos das pessoas, caça talento e personal stylist. Mas para cuidar do corpo delas, o cuidado é redobrado, mesmo se elas já estiverem mortas. Agentes de saúde, instrumentadores cirúrgicos e necromaquiadores sabem bem disso. Os textos das páginas a seguir foram produzidos pelos alunos do curso de Jornalismo e contaram com a orientação de professores dedicados. Os alunos de Planejamento Gráfico em Jornalismo, além dos monitores de Fotografia, fizeram a revista Matéria Prima do jeito que ela está aí na sua mão: bonita e gostosa de ler. Talento de profissional. Esperamos que você goste do nosso trabalho. Boa leitura!
Multiplicidade é o conceito pro trás do novo projeto gráfico da revista Matéria Prima. A cada edição uma nova cor é privilegiada. Nesta, explora-se o azul, referência às carteiras de trabalho. Ao mesmo tempo, a revista ficou mais colorida, cada matéria é marcada por uma cor diferente, um mundo diferente que se conecta aos demais por meio de rapports gráfico-editoriais.
EDITORIAL
Diretor Geral Ednilton Soárez
SUMÁRIO 8 Os ícones que levam a outros mundos 10 Seu problema é meu 20 Os meninos do Vila Velha e o Santo Expedito 28 Calceteiro 32 É hora do passeio 42 Diversão é coisa séria.
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TESTE VOCACIONAL
Para quem ainda não escolheu que profissão seguir, os testes vocacionais podem ou não ser uma opção a mais nessa decisão TEXTO/FOTO Bárbara Rodrigues DESIGN Elrica Olinda
Você já decidiu qual profissão deseja seguir? Os jovens são incentivados a escolher muito cedo qual profissão desejam seguir pelo resto de suas vidas. A decisão ocorre em uma idade de insegurança quando poucos possuem maturidade emocional. A maioria sequer descobriu o que quer, por isso procurar uma orientação pode fazer a diferença. Em primeiro lugar, eles devem saber que a escolha deve ser exclusivamente sua. Sem a interferência de parentes e amigos. Buscar uma orientação não significa transferir sua responsabilidade para outra pessoa ou até mesmo para um teste.
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Antes de sair por aí desesperado é preciso parar para conhecer o máximo de todas as profissões, condições de mercado, salários e possibilidades de crescimento e assim decidir qual carreira seguir. É preciso também conhecer a si mesmo e reconhecer que algumas pessoas têm várias aptidões. O teste vocacional é uma das alternativas de ajuda para quem está descobrindo o caminho de sua futura profissão. No entanto, nem todos os estudantes que, mesmo submetendo-se a um teste como este, são influenciados na escolha do curso ou faculdade. Os profissionais Marco
Aurélio, 37, formado em Fisioterapia, e Kayline Gomes, 24, formada em Ciências Econômicas, tiveram experiências completamente diferentes com o teste vocacional. Marco Aurélio conta que nunca soube ao certo o que queria, então fez um teste vocacional antes do vestibular, que indicou aptidão para a área de saúde. Apesar disso, Marco lembra que sempre gostou de matérias de exatas. Ele morava no Rio de Janeiro e lá ele fez vestibular para três universidades públicas, sendo aprovado em todas. No primeiro ano de faculdade, Marco cursou simultaneamente Fisioterapia pela manhã e
Engenharia à noite, mas logo desistiu do segundo curso. Formou-se em fisioterapia e trabalhou na sua área por oito anos. Ele conta que sonhava em ser fisioterapeuta de clube de futebol e como não conseguiu, em 2005, decidiu deixar a profissão. Dois anos depois, ele foi aprovado em três concursos públicos, um deles foi para o cargo de Auditoria Fiscal da Secretaria da Fazendo do Estado do Ceará. “Desisti do sonho de ser fisioterapeuta porque não iria me trazer a estabilidade que eu queria. Eu queria um emprego que eu pudesse fazer o meu próprio horário, que ganhasse bem e me trouxesse mais oportunidade de crescer”, disse. Marco acredita que o teste vocacional não influenciou sua vida. “Acho que cada um, mesmo com dúvidas, sabe o
É válido acreditar em testes vocacionais quando eles são feitos com um acompanhamento Juliana Gadelha
vocacional. “A minha profissão já trouxe e ainda pode me trazer muitas possibilidades e perspectivas na minha carreira”, conta a jovem, hoje analista de projetos na área de comércio internacional em Porto Alegre.
Sob o olhar de quem conhece A psicóloga do Colégio 7 de Setembro Juliana Gadelha explica que, na escola, os testes são aplicados junto com uma orientação profissional. A consulta é dada para os alunos do 2° ano do ensino médio. São no total de seis encontros quando são realizadas várias atividades diferentes, relacionadas às profissões. Conhecer a si mesmo, entender uma série de fatores, como habilidades, influências, o que cada um considera mais importante para o seu futuro, não é fácil. De acordo com a psicóloga, é normal que exista a dúvida na hora de decidir a respeito da carreira. É ai que o autoconhecimento e o aconselhamento de um profissional podem fazer diferença para uma boa escolha. “É válido acreditar em testes vocacionais quando eles são feitos com um acompanhamento”, finaliza. u
Saiba mais Não há uma forma correta de escolher qual carreira se deve seguir. Tudo é válido. É preciso buscar informações, seja na Internet, seja numa conversa com profissionais ou estudantes das áreas de interesse, ou uma conversa com um psicólogo. As habilidades são construídas com o tempo e nem sempre pode ser identificada de primeira.
que quer para sua vida na hora certa. Não é uma questão de aptidão, mas sim de interesses”, acrescenta. Kayline Gomes, formada pela Universidade Federal do Ceará, pensa bem diferente de Marco. Seu teste vocacional indicou a área de exatas. Ela cursou Ciências Econômicas e depois fez mestrado. “No ensino médio as disciplinas que me davam mais prazer na hora de estudar ajudaram a definir a minha escolha. Acabei escolhendo uma área que eu gostava de estudar e que também poderia me proporcionar uma jornada de trabalho digna”, lembra. Kayline trabalha de segunda a sexta, seis horas por dia. Hoje é muito feliz com sua profissão e diz não se arrepender por ter seguido o teste
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OS ÍCONES que levam a outros mundos Os aplicativos tornaram-se populares e atualmente são um grande vício. Mas quem são os profissionais por trás dos ícones? TEXTO Guilherme Paiva FOTOS Lua/SXC DESIGN Gustavo Lima
SkyDiver. Jogo criado pela MobiDevel que ficou 8 semanas em primeiro lugar na lista dos aplicativos mais baixados da Appstore brasileira. Levou 3 meses para ser finalizado. MandicMagic. Uma nova rede social que, através da colaboração de usuários, ajuda a descobrir senhas de wi-fi próximos a você. Viajantes no Exterior. O aplicativo da receita federal apresenta um vídeo informativo sobre os procedimentos alfandegários, além de dicas de como proceder com a bagagem.
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Dairan Temoteo, 35, é desenvolvedor de aplicativos. Seu primeiro passo nesse ramo aconteceu em 2005, quando ouviu rumores de que, em um único dispositivo, iriam estar reunidas todas as atividades da vida de uma pessoa. Alguns diziam que seria um celular. “Ganhei um iPod de presente e achei aquilo fenomenal. Mas foi quando eu conheci o iPhone, em 2009, que caiu a ficha: isso aqui é o futuro. É isso que vai dominar o mundo”, disse. A partir daquele momento, Dairan, que é autodidata, passou a dedicar todo o seu tempo aos estudos. O único curso que fez foi há um mês, em São Paulo. Em 2010 criou a MobiDevel, empresa especialista no desenvolvimento de aplicativos e jogos que tem entre seus clientes o Ceará Sporting Clube e os aplicativos do grupo de comunicação O Povo. Atualmente trabalha com mais três pessoas: dois desenvolvedores e um responsável pelo setor comercial. O atrativo principal nessa profissão é a flexibilidade de horários. Você não precisa ficar refém de uma sala de escritório para desenvolver seu trabalho. No momento da entrevista, às 13h de uma sexta-feira, apenas Dairan estava na MobiDevel. Trouxe essa experiência para sua empresa por também não gostar de horários. “Não tem horário de trabalho, tem compromisso, o que é bem mais complicado de cumprir”, afirma. Outro ponto que desperta interesse é o salário. O estagiário começa com uma ajuda de custo, algo em torno de R$600. Quando contratado, esse valor aumenta para R$1.500, mais acréscimos por projeto desenvolvido. Entretanto, esse valor pode variar muito, tudo depende do tamanho do projeto em que o profissional está envolvido. Não é raro desenvolvedores de aplicativos, sem graduação alguma, ganharem até R$10 mil reais por mês.
O mercado, assim como toda essa profissão, apresenta diversas possibilidades de atuação: o desenvolvedor pode criar um aplicativo qualquer e oferecer para alguma empresa adaptá-la (caso do Simulado do ENEM desenvolvido pela MobiDevel e adotado pelo Colégio 7 de Setembro) ou criar um aplicativo por encomenda, de acordo com as necessidades do cliente. Nesse ponto o desenvolvedor não tem muita abertura criativa, deve seguir todas as exigências. Há ainda um terceiro modelo, quando as empresas fazem aplicativos de graça, para montar portfólio.
Não tem horário de trabalho, tem compromisso, o que é bem mais complicado de cumprir Dairan Timoteo Mas então por que, mesmo com tantas vantagens, ainda faltam profissionais no mercado? Programador na empresa Cartola Comunicação, Tiago Serra, 28, diz que falta público alvo e que, mesmo com tantos avanços, o mercado de aplicativos ainda não está consolidado. “Quanto mais pessoas tornarem-se adeptas aos aplicativos, mais eles vão se popularizar. Como consequência, despertará o interesse de mais profissionais”, afirma ele. Já Dairan Temoteo aponta a falta de foco como resposta.
“Os jovens são muito momentâneos: desenvolvem dois ou três aplicativos, ganham muito dinheiro e, ao invés de continuar estudando, interrompem suas atividades e vão gastar esse dinheiro. “Essa turma nova deve seguir a receita de sucesso de gênios como Steve Jobs ou Mark Zuckerberg que, mesmo após ganharem seus milhões, nunca pararam de estudar”.
Primeiros passos para ser um desenvolvedor Para ingressar na profissão são necessários conhecimentos básicos de linguagens de programação para dispositivos móveis. Entretanto, essa grande falta de mão-de-obra vem criando uma nova realidade: as grandes empresas, com o intuito de evitar a importação desses profissionais, estão capacitando-os internamente. A MobiDevel passou por essa experiência. Dairan conta que certa vez contratou três estagiários, dentre eles um chapeiro, que fazia sanduíches. Em três meses ele estava montando um site. Chegou até esse rapaz por indicação. “Ele não fazia nada disso, mas era muito inteligente e tinha interesse em trabalhar na área, eu apenas dei a oportunidade”, explicou. A grande dica para quem quer tornarse um desenvolvedor é, antes de tudo, gostar de aplicativos e pensar na sua usabilidade. Se o que você está fazendo for difícil, então alguma coisa está errada, tem que repensar. O complicado perdeu lugar na vida das pessoas. Esse é o segredo do sucesso dos aplicativos: a capacidade de facilitar a vida de seus usuários. u
Dica de app Zaira Umbelina, 32, estudante de jornalismo, indica o aplicativo vs500. É gratuito e permite conectar algumas câmeras de sua residência para fazer o monitoramento de sua filha à distância. “Ele é fundamental para que a gente consiga trabalhar com tranquilidade, pois nos sentimos mais seguros ao acompanhar o dia a dia de nossa filha, ao termos a possibilidade de ‘bisbilhotar’ sua rotina mesmo estando longe. Como ela passa o dia com a babá, a gente tem como saber se ela está fazendo as refeições na hora certa, por exemplo. Mas não funciona apenas como recurso de segurança, mas também pra gente matar a saudade dela”.
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S EU P RO B L E M A
É MEU A maioria das pessoas quer distância de situações onde a paciência é mais exigida que qualquer outra virtude. Mas a “dor de cabeça” de uns é o ofício de outros TEXTO/ FOTOS Brenno Rebouças DESIGN Jefferson Privino O corre-corre rotineiro de quase todas as profissões encontra, em quase toda esquina, seu inimigo mais indesejável: a burocracia. Ela que faz milhares de trabalhadores perderem, todos os dias, muito da sua matéria-prima mais preciosa: o tempo. Muita gente, então, prefere eliminá-la do dia a dia. Há, no entanto, quem veja nos impasses burocráticos um serviço. E são exatamente essas pessoas que cuidam dos problemas daqueles que não têm tempo ou mesmo vontade de resolvêlos. E quem são esses profissionais? O maranguapense Crisanto de Abreu, 52, se apresenta como um deles e se autodenomina rábula.
Crisanto começou a trabalhar como despachante em 1992. Antes era balconista de um mercadinho A palavra é estranha, mas Crisanto a defi ne facilmente: “É um advogado prático, que não tem formação”. E a lista de serviços que um rábula oferece, segundo ele, é vasta. “Resolve problemas em banco, cartório, prefeitura, INSS, em tudo”, pontua. Camisa e sapatos sociais e calça jeans escura. É dessa forma que Crisanto
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sai todos os dias de casa, pontualmente às 7h30, junto da inseparável pasta e do celular. Daí começa a caminhada pelas ruas da cidade de Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza. Ele visita os mais variados órgãos, munido de procurações, e cobra dívidas para alguns comerciantes da cidade. A procura pelos serviços dele é boa. Uma média de 15 por mês. Considerando que ele trabalha quatro dos cinco dias úteis da semana (quando trabalha segunda, não trabalha sexta e vice-versa) e os contatos do fim de semana são apenas para acertar negócios verbalmente (porque a maioria dos órgãos que ele frequenta está fechado), em um mês são 16 dias trabalhados, portanto, quase um cliente por dia.
Depois que fiz o primeiro despache, não parei mais Crisanto Pinto Pouco se sabe, mas o número de pessoas que trabalham prestando esses mesmos serviços é grande. O nome usado por elas, entretanto, é outro: despachante. No Ceará existe até um sindicato (Sindicato dos Despachantes Documentalistas do Ceará - Sindece), com 388 cadastrados. O presidente do Sindece, Sérgio Holanda, 46, aponta pelo menos oito especializações dos despachantes: de veículos, agropecuário, imobiliário, de embarcações, de aeronaves, de marcas e patentes e previdenciário. Mas, todo esse campo de atuação não é aproveitado ao máximo, segundo Sérgio. “É uma profissão pouco conhecida e explorada”, diz. Apesar da pouca visibilidade, o despachante documentalista já existe há muito tempo. “Desde 1542, quando D. João
VI criou a figura do aleador, que tratava dos papéis da burguesia junto ao império”, relata o presidente. Mas a profissão só foi reconhecida mesmo em 2002, após anos de luta. Para Sérgio, toda essa demora só reforça a importância desses profissionais se associarem ao sindicato, apesar de não ser obrigatório. “Sindicalizar-se é uma consciência de cada um”, defende. Ele afirma, porém, que o profissional não cadastrado não é de confiança, pois precisa da ajuda de terceiros. O nome de Crisanto não está no cadastro do Sindece. Ele diz que até já recebeu convite, mas optou por não se associar. “Para resolver ‘as coisas’ não preciso me credenciar”, explica. Na prática, a confiança de seus clientes parece não diminuir por isso. O empresário Rogério Ribeiro, 46, por exemplo, é cliente há mais de um ano e garante que “todo mundo no comércio de Maranguape conhece e utiliza os serviços dele (Crisanto)”. Os negócios entre os dois são relativos a imóveis. O empresário tem um estabelecimento correspondente da Caixa Econômica Federal para financiamento de casas e apartamentos. Cabe a Crisanto encontrar pessoas interessadas e imóveis disponíveis. A empresa de Rogério, então, concretiza o financiamento. O empresário chegou a Crisanto por meio da propaganda boca a boca. E afirma que já o indicou para outras pessoas também. Esse, aliás, é o maior marketing do “rábula”. “A gente faz um serviço e deixa um cartão. Aí, aquela pessoa passa pra outra, que passa pra outra e assim vai”, disse.
Mera ocupação
“Rábula não chega a ser uma profissão. É apenas uma atividade”. Assim pensa o advogado Edson Mourão, 60. E completa dizendo que só pode ser exercida “quando na região onde ele
(o rábula) atua não há um advogado formado e inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)”. Mourão limita o serviço do rábula a atuar no requerimento de uma pensão alimentícia, por exemplo, ou no máximo representar um advogado numa audiência. “Atuar em negociação de dívidas e serviços de aposentaria ou semelhantes são vedados ao rábula”, alerta. Já o despachante, para ele, faz apenas “um trabalho que você deveria estar fazendo, mas não tem tempo”. O ponto principal para Mourão é que nem rábula nem despachantes invadam a área da advocacia. Ele consegue traçar um paralelo dividindo o espaço de cada um. “O despachante presta serviços a qualquer pessoa, o rábula atua perante o poder judiciário, mas só o advogado tem ações diretas para exercer o direito”, defende. Crisanto, no entanto, se considera um profissional. E mesmo fazendo serviços de despache se denomina de outra forma. A explicação está na ponta da língua: “O rábula é o mesmo despachante”, resume, confessando preferir o nome mais rebuscado. u
Saiba mais Preços de alguns serviços: INSS: R$ 500 Bancos: R$ 200 Receita Federal: R$ 200 Venda e compra de casas: 5% ou 3% do valor
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No rumo certo
Num ambiente de constante pressão, um operador de rádio táxi precisa estar sempre focado para lidar com as dificuldades diárias TEXTO Rafael Bastos FOTOS Iago Alencar DESIGN Tarcísio Bezerra Quando você pega o telefone para pedir um táxi, não deve imaginar o processo que se inicia do momento em que você disca os números, até a chegada do carro na sua residência. É bem mais complicado do que parece. Além do telefonista e do taxista, há uma terceira pessoa que faz uma função de extrema importância, responsável por organizar as chamadas e direcionar cada táxi para seu destino. Uma dessas pessoas é Basilio Alves de Sousa, 51, que trabalha há 25 anos como operador de rádio táxi em Fortaleza, na mais antiga empresa do ramo, a Rádio Taxi Fortaleza. Ele ficou sabendo, por meio do convite de um amigo, da criação de uma empresa de rádio táxi, serviço até então inexistente em Fortaleza. Como estava desempregado, na época, aceitou o novo desafio, sendo talvez o mais experiente dos operadores em atividade na cidade.
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Antes de começar a trabalhar, Basilio fez um curso de radio operador em 1985, para buscar melhor preparação. Foi aprovado e, desde então, está na profissão, mas lembra que atualmente não existem cursos específicos para se tornar um operador. “Os próprios telefonistas vão aprendendo e acabam fazendo a função”, informa. De acordo com Basilio, dentre os oito operadores da empresa, apenas um, além dele, já entrou como operador, três deles são também taxistas, e os outros eram telefonistas antes de assumirem o posto.
Ele conta que, principalmente em véspera de feriados, o número de reclamações aumenta bastante. Com o acúmulo de corridas, o sistema acaba ficando lento, causando transtornos. Por trabalhar na maior empresa, o trabalho é ainda mais complicado. Apenas em um turno, o número de corridas pode chegar a mil e trezentos. Para Basilio, mesmo sendo a maior frota, com 490 carros, essa quantidade não consegue suprir a demanda. "O número não é suficiente, tem que aumentar. Mas, como é cooperativa, tem um limite”, confessa.
Lidar com a pressão
Novos rumos da profissão
Quem acha que a vida de um operador é fácil, está muito enganado. Ele tem que lidar com um ambiente de constante pressão. “A gente vive sob estresse. Somos cobrados pelos taxistas, pelos clientes e pelos telefonistas. Tem que se virar nos 30.”, revela Basilio.
O sistema de rádio táxi está passando por mudanças e, em breve, as corridas serão feitas de modo automático. O próprio GPS vai rastrear o carro que estiver mais próximo do endereço e irá mandar a corrida para ele. A função do operador por sua vez, segundo
Como um táxi chega à sua casa? A gente vive sob estresse, somos cobrados pelos taxistas, clientes e telefonistas, tem que se virar nos 30 Basilio Alves de Sousa o próprio Basilio, “vai praticamente acabar”. Eles vão ficar responsáveis apenas por monitorar as corridas e corrigir números e endereços, não mais passar as corridas manualmente para os taxistas. Em outras palavras, serão menos exigidos, enquanto que o serviço deverá ter uma significativa melhora no que diz respeito à rapidez. u
Serviço Radio Taxi Fortaleza Rua Solon Pinheiro, 760 José Bonifácio. Fortaleza-CE
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Para facilitar a distribuição das corridas, divide-se a cidade em 33 zonas, onde cada zona representa um conjunto de bairros vizinhos.
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A partir da sua ligação, os telefonistas irão enviar o seu endereço para um dos dois operadores de plantão.
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Utilizando o GPS, os operadores vão identificar em qual zona o seu bairro está localizado, bem como o carro que está naquela zona, ou mais próximo dela, e vai enviar o endereço para ele. Embora exista uma fila de espera, a preferência é dada para os endereços que tem táxis por perto no momento, se não houver nenhum naquela área, o jeito é esperar.
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Com o endereço em mãos, o taxista trata de chegar o mais rápido possível, lembrando que é estabelecido um limite de 15 minutos para a chegada do táxi, e quanto mais esse limite for obedecido, menos sobrecarregados de reclamações vão ficar os telefonistas e operadores.
Telefone: 3254.5744
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Os bastidores da atividade postal
Os caminhos que suas correspondências fazem até chegar a você TEXTO/FOTOS Ravena Almeida DESIGN Iury Costa
Dinâmico, ágil, assíduo, proativo, atento e com preparo físico de atleta para aguentar o pique de separar cartas e carregar encomendas pesadas, estas são algumas características que um Operador de Triagem e Transbordo (OTT) precisa ter. Este profissional é responsável pelo recebimento das cargas postais nos Correios. Os operadores recebem os produtos e os dividem em categorias. Primeiramente separam as cartas comerciais, as cartas convencionais e as encomendas que vão ser enviadas pelo Serviço de encomenda expressa (Sedex) e, em seguida, separam pelos estados, cidades e bairros pra onde irão as cargas. Nem sempre o que planejamos ser quando criança, realizamos quando adultos. Foi o que aconteceu com Cléo Barbosa, 25 anos, formado em Zootecnia pela Universidade Federal do Ceará. Com o passar dos anos Cléo ficou mais e mais atraído pela estabilidade proporcionada pela carreira pública, principalmente por não conseguir uma vaga no mercado de trabalho após se formar. Fez, então, concurso dos Correios e hoje é OTT. A rotina do operador é bem repetitiva, porque eles passam o dia separando encomendas. Cléo por exemplo, trabalha no setor do Sedex, que é o mais “pesado”. A correria para entregar a encomenda no prazo é maior e o cuidado também. Por isso a atenção é fundamental para
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não cometer erros e não atrasar o envio das cargas. Todas as cartas e encomendas que entram e saem do estado passam por esse setor de triagem. Por exemplo: uma carta que você quer mandar pra um amigo do Sul do país, um celular que você comprou pela internet, tudo isso só chegará ao seu destino depois que passar pelos operadores de triagem e transbordo.
O trabalho dos OTT é muito intenso e eles precisam ter muito cuidado para não trocar as encomendas e correspondências O salário base desse profissional é de R$ 1.004,03, que é o mesmo para os carteiros e atendentes comerciais. Mas existe um adicional da atividade que é diferente para cada um. O de OTT é R$ 124,19. Eles também ganham vale alimentação e quando se trabalha à noite, o adicional noturno. Quando questionado se já recebeu alguma encomenda estranha, Cléo contou que é crime violar uma encomenda. Houve, porém, um caso que foi inevitável não saber do que se tratava, pois o odor estava insuportável, era um animal morto. Por motivo de segurança, no setor de triagem há um aparelho de raio-X para detectar objetos estranhos. Já foram
encontradas armas, drogas, animais e quando uma situação como essa acontece, somente a Polícia Federal ou o Ibama podem violar a encomenda. O trabalho dos OTT é muito intenso e eles precisam ter muito cuidado para não trocar as encomendas e correspondências. Quando acontece algum tipo de erro, troca de lugares ou troca de cartas. A carga precisa voltar para a central de triagem para ser encaminhada corretamente. No Sedex, por exemplo, a encomenda passa duas vezes pelos operadores, para, no caso de erro, o segundo OTT poder detectar, isso porque o sedex tem prazo para entrega e erros não devem acontecer. Cléo trabalha das 14 horas até 22h29min e só pode sair mais cedo se terminar o serviço antes. No horário livre da manhã ele aproveita o tempo para estudar e, aos domingos, que é o único dia em que não trabalha, é o seu momento de descontração e folga. Hoje a função de Operador de Triagem e Transbordo ganhou um grande espaço e reconhecimento. E Francisco Carlos que também é OTT e agora tem a função de coordenar os demais operadores contou que isso se deu basicamente pela mudança na grade de trabalho e também pelo volume da carga que cresce a cada ano. “É necessário que sejamos especializados em um serviço para que possamos fazer da melhor e mais rápida forma possível”, disse. u
Serviço Centro de Triagem dos Correios CT Fortaleza: Av. Oliveira Paiva, 2800. Cambeba, Fortaleza-CE. Telefone: (85) 3277-1900
Você sabia? Dia 24/04 é comemorado pelos Correios o dia do Operador de Triagem e Transbordo. Atualmente, são cerca de 14.500 profissionais que têm essa função nos Correios em todo o Brasil..
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VENDER
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D E S C O N T O
O executivo de vendas de compra coletiva é quem leva para o consumidor a oportunidade de usufruir de serviços com preços baixos TEXTO Samara Melo DESIGN Saulo Lobo
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Quem não gosta de uma promoção? Comprar produtos com descontos de até 90%? “Escove seu cabelo por R$10”, “Jantar para dois por R$12,90”, “Hospedese por apenas R$98,90”. Estes são anúncios vistos pelos internautas todos os dias em sites de compra coletiva, uma modalidade que chegou ao Brasil em 2010 e tem ganhado espaço, principalmente, entre os jovens. Também chamada de marketing digital, tem como objetivo vender produtos para um número mínimo pré-estabelecido de consumidores por oferta. Por esse tipo de comércio, os compradores adquirem descontos sobre determinados produtos; um mês de academia, um prato promocional em um restaurante ou um fim de semana em uma pousada. Após um determinado número de pessoas comprarem a oferta, os cupons podem ser utilizados. O limite de tempo para uso é informado pelo próprio site.
O executivo de vendas de compra coletiva tem o objetivo de prospectar novos parceiros para anunciarem no site O executivo de vendas de compra coletiva tem o objetivo de prospectar novos parceiros para anunciarem no site. Divulgando ofertas na página, ele atrai o público para comprar cupons, gerando faturamento para o site e fazendo o intermédio entre o cliente e o parceiro. Enaled Cristine Monteiro, 24, é executiva de vendas do site de compra coletiva Groupon, uma das principais empresas deste segmento no mercado brasileiro. A jovem trabalha com vendas há cinco anos e afirma que é o que realmente gosta de fazer. Ela já participou de diversos treinamentos sobre vendas nas empresas onde trabalhou, o que a deixa mais segura no que faz hoje, sentindo-se muito bem ao atuar na área. Formada em Turismo, Enaled vendia pacotes de férias antes de trabalhar com compras coletivas. Desde seu antigo emprego já se aperfeiçoava em técnicas de
vendas. Após sair do trabalho anterior, surgiu a oportunidade de trabalhar no Groupon. Por gostar de lidar com o público e já ter experiência em vendas, topou sem pensar. Hoje considera um desafio ter de ir atrás de clientes. “Meu trabalho é convencer a empresa que será um investimento com retorno em marketing viral”, explica. A ideia é atrair internautas que dificilmente iriam conhecer os serviços dessa empresa sem a divulgação na internet, sem precisar investir em outdoors ou panfletagem. A executiva conta que já era consumidora de sites como o Groupon antes de trabalhar no meio e hoje acompanha o crescimento do segmento. Enaled trabalha alguns dias da semana no escritório, a partir do qual contata parceiros, gera relatórios e agenda reuniões, e em outros se dedica às reuniões agendadas e às visitas a estabelecimentos.
Apesar do desenvolvimento acelerado, muitos sites não conseguem se manter ativos. Geralmente são regionais e buscam oferecer vantagens às empresas para realizarem parcerias, o que demanda um grande capital de giro. O mercado se concentra nos nomes de marcas já conhecidas pelo público, garantido assim a procura. Os sites de compra coletiva lucram através do número de cupons vendidos por ofertas. A comissão do site é um percentual sobre o valor faturado e o custo inicial para promover a oferta é zero. Do ponto de vista do consumidor, o internauta encontra nestes
Meu trabalho é convencer a empresa que será um investimento com retorno em marketing viral Enaled Monteiro A executiva de vendas pretende continuar no ramo de vendas no futuro, porém em cargos maiores. Para isso, quer investir em uma melhor formação, fazer MBA em administração e marketing, mantendo-se atenta a propostas promissoras no mercado. u
sites oportunidades de viver novas experiências com um custo menor. Muitas vezes, fidelizamse às empresas que dificilmente seriam atraídas sem esse tipo de divulgação. Muito foi falado sobre a bolha do mercado de compra coletiva, porém o que vem mostrando é que o público tem aceitado e aderido. Com a correção dos erros iniciais, se tornou algo que faz parte da vida de muitos consumidores. Hoje já existe compra coletiva para milionários, para casamentos e diversos segmentos. A expectativa é de desenvolvimento nos próximos cinco anos e o executivo de vendas está no dia-a-dia contribuindo para as evoluções deste setor.
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SANGUE NO OLHO
P O R
T R Á S
D A
M Á S C A R A
No centro cirúrgico, com precisão e atenção, eles são o terceiro braço, auxiliando o médico em meio a uma infinidade de instrumentos TEXTO/FOTO Angela Barroso DESIGN Gil de Sousa
A cirurgia foi cancelada. Todo o instrumental cirúrgico recolhido. “Esta seria minha quarta cirurgia do dia”, diz Cláudia Rodrigues, em uma sala ampla, cheia de luz, entre pinças, fios cirúrgicos e tesouras. É seu ambiente de trabalho há mais de três décadas. Dentro da sala de cirurgia, Cláudia, quase invisível em hospitais e clínicas de Fortaleza, se realiza na profissão. Não tem feriado, sábado, domingo, Natal ou marido. Ela, realmente, gosta do que faz. É instrumentadora cirúrgica.
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Aposentada, Cláudia voltou à ativa no mesmo ano. Hoje é instrumentadora particular da equipe de um neuro cirurgião cearense a quem tem quase uma devoção de confiança e segurança. Horário certo e muita responsabilidade fazem parte de sua rotina. Mesmo em casa o pensamento dela é no trabalho. Tem tudo programado na cabeça. O passo a passo de cada cirurgia do dia seguinte. Às seis da manhã já está em sala para a primeira cirurgia. Passa o dia em pé.
De semblante calmo e emocionada, diz: “a gente se apega muito aos pacientes tantos aos idosos como às crianças. É como se fosse uma família”. A menina Clara, de dez anos, que a chamava de “tia”, morreu em plena cirurgia. Os autocontroles emocionais e profissionais são grandes desafios da profissão. Porém, muitas vezes, o cansaço bate. Cirurgias cardíacas e neuro cirurgias, as mais demoradas e complexas, já levaram Cláudia a 17 horas em única
operação.”Tu aguentaria?”, pergunta de supetão. O médico cirurgião Fernando Oliveira é acompanhado por Cláudia em algumas cirurgias durante a semana. Com a quantidade de material nos procedimentos. Fernando diz: “é como um quebra cabeça, cada peça é fundamental e nesse jogo o instrumentador cirúrgico é imprescindível”. São várias as funções de um instrumentador dentro de uma sala cirúrgica. Ele é essencial. Além de auxiliar o médico lado a lado, desde a anestesia, o primeiro passo é este profissional em sua eficiência que muitas vezes se antecipa ao pedido do cirurgião no instrumental solicitado em cada tempo cirúrgico, quase adivinhando os pensamentos do doutor. Com muito material, e material delicado, vistoria, montagem da sala e esterilização também ficam por conta do instrumentador cirúrgico. Uma segurança na sala. Jansen, Allis, Dandy, Karl Storz, Gaiva e uma infinidade de outros nomes científicos de pinças e tesouras ficam em uma mesa ao alcance do instrumentador. Cada cirurgia necessita de uma caixa cirúrgica própria. Essas denominações difíceis de decorar e que levam o nome de seus elaboradores, muitas vezes são substituídos por gestos do médico. Com mímicas ou por apelidos, como é o caso da pinça “mosquito” a menor de todas. “Impossível decorar todos os nomes. Tem que ser uma pessoa esperta, senão leva carão e mais carão”, adverte a experiente Cláudia. Em 1859, na Batalha de Solferino, na Itália, Jean Henri Dunant, pai do instrumentador cirúrgico, viu a necessidade de auxiliar os médicos repassando os instrumentais no ato cirúrgico. Com o crescimento das cirurgias no Século XX, surgiu a primeira escola técnica de instrumental cirúrgico, em 1954, na França. No Brasil, esta profissão foi reconhecida em 2000. Segundo a Associação Nacional dos Instrumentadores Cirurgicos (ANIC),
o curso profissionalizante dura em média um a dois anos. Com teto salarial entre R$ 800,00 a 1.200,00 reais e uma jornada de 6 horas corridas, muitos profissionais recorrem a uma segunda jornada, extras ou plantões, como é o caso da instrumentadora Fátima Farias.
Batendo o Ponto
A primeira jornada de seis horas Fátima passa em um hospital particular. A outra em um hospital público de crianças onde fez concurso há mais de dez anos. Garante que a única diferença entre público e privado é a direção. Consciente da responsabilidade de seu trabalho e priorizando sempre o paciente diz: ”Tem que ter sangue no olho”. Na primeira cirurgia que trabalhou tremeu muito, era início de carreira. Os instrumentadores no começo são acompanhados e orientados por um profissional mais experiente, até ter habilidade de ficar sozinho.
A gente se apega muito aos pacientes tantos aos idosos como as crianças. É como se fosse uma família Cláudia Rodrigues “O sapato que uso aqui eu não levo pra casa”, diz outra instrumentadora no vestuário feminino de um hospital particular, Cleomar Moreira, 39 anos, há 11 na profissão. Olhos vermelhos da primeira jornada, porém caprichados com sombra azul, não deixa a vaidade de lado por trás da máscara. Já ralou em muitos laboratórios e clínicas. Hoje afirma que uma cirurgia não anda sem um instrumentador. O salário não condiz. Quer mais. Cursa Serviço Social. E os ” mosquitos”? Estão com os dias contados. u
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Os meninos do Vila Velha e o Santo Expedito A peleja de uma agente de saúde contra a doença em Fortaleza TEXTO/FOTO Flávia Oliveira DESIGN Gil de Sousa
Dona Antônia Expedito acorda antes das cinco e meia. Faz o café, arruma as crianças, ajeita a comida do marido na marmita. Monta na bicicleta vermelha e sai do conjunto habitacional na Vila Velha para mais um dia de trabalho. Na mochila, carrega um caderno com os nomes e pesos de cerca de 20 crianças, além da balança portátil. O equipamento, composto por uma lona dobrada em forma de saco e acoplada a um dínamo, reage ao peso do pequeno que é depositado dentro dela. “Antes dava era pena ver tanto número baixo. Menino com três meses de idade e peso de recém-nascido”, fala. Após a aprovação no concurso público realizado no início de 2012, dona Antônia, que tem 57 anos e estudou até o fundamental, recebeu treinamento para atender “os meninos”, maneira que ela encontrou para se referir de criança a idoso, macho ou fêmea. Segundo a agente de saúde, as mazelas mais frequentes são a desnutrição e as doenças relacionadas a uma alimentação deficiente. É comum também bicho de pé, verminose, furúnculo e toda sorte de dermatites. Uma moradora se queixa de dor de barriga. As doenças relacionadas à água contaminada são sazonais e acompanham o período de chuvas na cidade, quando invariavelmente as casas se enchem de lama
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e lixo. Para sarar estes e outros males, ela recomenda remédios que, às vezes, leva do posto de saúde. Na ausência deles, o que é muito frequente, vale-se das receitas da própria mãe: “Para tirar chiado no peito, lambedor de pepaconha com cebola branca. Sintoma de sinusite se alivia com vapor de chá de camomila. Mas desidratação se trata com soro caseiro”, explica.
Uma causa urgente
Dona Antônia visita cinco famílias por dia. Seu turno começa às 7h e vai até as 14h. Ganha um salário mínimo e se diz feliz no atual emprego. Antes disso, cuidava em tempo integral da loja de ferragens do cunhado. Quem paga o salário de dona Antônia é a Prefeitura Municipal de Fortaleza. Para a secretária de saúde do município, Socorro Martins, a capital
Antes dava era pena ver tanto número baixo. Menino com três meses de idade e peso de recémnascido Antônia Expedito
cearense é considerada a terceira cidade do Brasil com a maior cobertura do Programa Saúde da Família (PSF) entre os municípios com mais de 1,5 milhão de habitantes, atingindo 35% da população da capital. São, no total, 4.224 agentes de saúde e de endemias, estes últimos responsáveis pelo controle da dengue. Dona Antônia se tornou agente com outros 1.245 aprovados em concurso. Perguntada se o que há de agente é o bastante para atender as pessoas, ela estende as palmas das mãos. “Ainda acho que seja muito pouco pra esse monte de gente”. Ela está certa. O bairro mais populoso da cidade também é o que mais possui favelas. As péssimas condições de moradia deixam a população doente. Saneamento básico não chega a todos os domicílios e não é difícil encontrar o esgoto atravessando as ruas em veias abertas. Na Vila Velha e nas Goiabeiras, bairro vizinho, a situação é parecida. As crianças são as que mais sofrem. A secretária de saúde argumenta que um mapeamento está em curso para identificar os agentes de saúde e melhorar a distribuição na cidade. Segundo a gestora, outro entrave é o grande número de faltas e licenças médicas apresentadas pelos agentes. Apesar do cenário de crise, Fortaleza tem conseguido reduzir a mortalidade
infantil ano após ano. Segundo dados do Comitê de Prevenção do Óbito Infantil e Fetal de Fortaleza, o número de óbitos de bebês com menos de um ano de idade caiu 40% nos últimos oito anos. Em 2004, o coeficiente foi de 21,2 mortes para cada mil nascidos, enquanto que em 2011, o índice passou para 12,7. Essa redução foi resultado do aumento de verbas oriundas do Ministério da Saúde e da implementação de políticas públicas municipais mais eficientes. No entanto, esses valores ainda estão acima da média aceitável pela Organização Mundial de Saúde, que é de dez óbitos para cada mil habitantes.
“Hoje, hoje, hoje!”
Santo Expedito foi um militar romano cristão, martirizado por se recusar a adorar deuses pagãos. Conta-se que no ato de sua conversão ao cristianismo, teria sido tentado por um demônio em forma de corvo. O animal, surgido das trevas para adiar sua conversão, gritava cras!cras!cras, (“amanhã”, em latim). Expedito teria pisado a criatura dizendo hodie! (“hoje”), significando sua disposição heroica de converter-se de imediato. Dona Antônia conhece essa estória. A que ela está ajudando a escrever, ainda não sabemos como terminará. u
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A última maquiagem Necromaquiagem: maquiagem para defuntos TEXTO/FOTOS Jéssica Saunders DESIGN Iury Costa
Batom, blush, corretivo, rimel. Esses são alguns dos itens que não podem faltar na maleta de maquiagem de muitas meninas. Muitas delas gostam tanto da arte de se maquiar que sonham em se tornar profissionais da área. Mas será que passa pela cabeça de alguma delas um dia maquiar uma pessoa morta? Bom, isso também não passava pela cabeça de Francisca Aldenir de Sousa Lima, 44. Foi com a morte de seu pai que ela conheceu a profissão pela qual se apaixonou e decidiu que a partir dali era com aquilo que iria trabalhar para o resto de sua vida. Aldenir foi em busca de se profissionalizar. Conheceu pessoas do ramo, começou a trabalhar em funerária e foi
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fazer o curso de necromaquiagem e tanatopraxia, por conta própria, em São Paulo. Segundo ela, a necromaquiagem e a reconstituição facial, ambas ramificações da tanatopraxia, são técnicas utilizadas para melhorar o aspecto visual do rosto de um defunto. No caso de ser um cadáver masculino é feita uma maquiagem específica para homens, higienização do corpo, colocação de vestimenta, acomodação e ornamentação do mesmo na mortuária. Já no caso de ser um cadáver feminino, além desses procedimentos, o tanatólogo faz também tratamento nos cabelos, passa esmalte nas unhas e hidrata o corpo.
Aldenir explica que a tanatopraxia é uma técnica que surgiu na década de 1960 e chegou ao Brasil em 1994. Consiste na substituição de líquidos de um cadáver por formol, com o intuito de evitar o vazamento desses líquidos durante o velório e proporcionar ao corpo a aparência mais natural possível, diminuindo os efeitos causados por possíveis doenças ou acidentes. Para fazer a reconstituição facial é utilizada uma cera específica que permite reduzir o efeito de lesões deixadas por um tiro, por exemplo. Possibilitando assim que até mesmo os cadáveres desfigurados fiquem com um aspecto melhor para serem apresentados durante o velório, conta Aldenir.
A capacitação desses profissionais é feita a partir do Instituto de Biociência da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no Departamento de Anatomia, Campus de Botucatú em São Paulo. Como apenas profissionais da área funerária estão habilitados a fazer esse curso e por ser um investimento muito alto as empresas muitas vezes contratam funcionários antigos, de outros setores, para enviá-los para São Paulo. Foi o caso de Antônio Sérgio de Lima.
Naquele momento eu me apaixonei por aquele trabalho e disse, é isso que eu quero para minha vida Aldenir Lima Antônio Sérgio já está no ramo funerário há 28 anos. Foi por intermédio de amigos e familiares, que trabalhavam nessa área, que ele começou a se interessar pela profissão. Logo depois de sair do primeiro emprego, Sérgio foi contratado para trabalhar no escritório de uma funerária. Quando surgiu a oportunidade
da empresa montar sua própria clínica de tanatopraxia Sérgio foi indicado a fazer o curso em São Paulo. Desde então ele trabalha nessa empresa. “As pessoas procuram, mas só ficam aquelas que realmente gostam. Porque não é um trabalho fácil, mexe muito com o emocional. Não é pra qualquer pessoa. Tem que ter amor mesmo pela profissão”, afirma a tanatóloga Aldenir, que trabalha na mesma funerária em que Sérgio, há 6 anos e meio. Para ela, a maioria das pessoas acreditam que os tanatólogos ganham muito dinheiro, mas ela afirma que não é bem assim. Aldenir acredita que falta reconhecimento por parte do mercado de trabalho. Pesquisas realizadas pelo site www.d24am.com.br, em 2012, mostram que a faixa salarial varia em torno de R$1500, mais comissão, em Fortaleza e Manaus, por exemplo. Em compensação, reconhecimento por parte das famílias não falta. “Uma certa vez um senhor pediu para que o caixão ficasse fechado para que ninguém visse sua mulher, já que ela havia sofrido muito por conta de um câncer. Então, eu a maquiei e colocamos um vestido de festa muito bonito, que ele mesmo havia trazido e penteie o cabelo dela. Depois que terminei o trabalho eu o chamei, ele viu, me abraçou muito e disse que ia guardar
a imagem da sua princesa e que naquele dia ela estava mais linda do que nunca. A urna ficou aberta e ele fez questão de mostra-la para a família inteira”, conta. Para Aldenir, o único intuito do seu trabalho é tentar passar algum tipo de conforto aos familiares, assim como aconteceu com ela ao ver seu pai. “É sempre um desafio, sinto prazer em fazer aquilo. Você não sabe como é ver um parente seu desfigurado. Não temos culpa por que faleceu, mas temos obrigação de tentar aliviar o sofrimento da família”, explica. É na tentativa de amenizar esse sofrimento que empresas especializadas no ramo funerário oferecem planos com diversos serviços como, por exemplo, atendimento 24 horas, registro de óbito, ornamentação completa, higienização do corpo, vestimenta, urna mortuária (caixão) incluindo sepultamento ou cremação, com direito a lápide, placa de identificação, abertura do jazigo e velório. Os preços variam muito, chegando a uma média de R$45 por mês. Os serviços como a tanatopraxia, a necromaquiagem e a reconstituição facial podem ser inclusos por fora pelos familiares. u
Saiba mais O setor funerário no Brasil é maior do que se imagina. Segundo pesquisas realizadas pelo Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (SINCEP), o setor gera cerca de 50 mil empregos nos cemitérios particulares, movimentando R$ 7 bilhões ao ano..
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ALUGA-SE
UM MARIDO O cano da pia estourou? Você não tem a quem pedir socorro? Seus problemas acabaram. Conheça a profissão mil e uma utilidades TEXTO / FOTO Cintya Paula DESIGN Elrica Olinda - Alô, é o marido de aluguel? - É sim, em que posso lhe ajudar? - Quanto você cobra para passar a noite? - Não é bem assim. Acho que a senhora não leu o anúncio direito. Situação parecida aconteceu na vida real com Eduardo Brito, 53 anos, “marido de aluguel” há cinco anos. Formado em Geografia, ele deixou a profissão de professor e técnico da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), para trocar chuveiros, lâmpadas, dobradiças, pintar, instalar TVs, enfim, fazer o serviço de casa, em outras casas, onde normalmente é dever dos verdadeiros maridos. Com os novos tempos, a independência da mulher e a troca de papeis, houve também uma mudança na estrutura familiar. Homens e mulheres, sem tempo para resolver determinados assuntos da casa e sua manutenção, preferem pagar para outra pessoa fazer o serviço. É aí que entra o “marido de aluguel”. O nome pode até fazer confusão na cabeça de certas pessoas, porém não é nada a mais do que um reparo ali, um retoque no reboco da parede aqui, ou seja, um “faz tudo”. “Há maridos de verdade que nem falam comigo em alguns casos. É importante mostrar que você tá ali pra trabalhar e não ficar de papo com o cliente, ou paquerar a mulher do outro”, diz Eduardo. Para o cliente, a vantagem de contratar o “marido de aluguel” é a garantia de um serviço bem feito, de qualidade.
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Afinal, você está pagando e tem todo direito de exigir, reclamar, queixas que os maridos não suportariam ouvir porque para eles se trata de um favor na própria casa. Esse é um dos motivos do crescimento da profissão. Em Fortaleza existem de cinco a seis franquias do ramo. No mercado este tipo de negócio é mais visado no sul do país. Foi em São Paulo que Eduardo conheceu amigos que já trabalhavam na área e o incentivaram a ser o pioneiro aqui em Fortaleza-CE. A partir daí, juntou o conhecimento em construções que adquiriu na infância com o pai e o avô, fez cursos pela internet, comprou um carro, criou uma marca, colocou anúncio na internet e, hoje, é empreendedor individual. Tem um funcionário com carteira assinada e os outros como “free lancer”. A Fiorino que usa para se locomover ás residências da clientela, é o segundo carro da empresa “S.O.S Residencial” a receber repaginação no visual para atrair mais clientes. Mostra assim, o resultado dos lucros que pequenos serviços domésticos podem proporcionar.
Há maridos de verdade que nem falam comigo em alguns casos. É importante mostrar que você tá ali pra trabalhar e não ficar de papo com o cliente, ou paquerar a mulher do outro Eduardo Brito
Tem pessoas que se espantam, “50 reais pra trocar uma lâmpada?”, mas não é só isso, a pessoa deve fazer uma lista do que precisa fazer e eu cumpro dentro do horário”, conta. Os serviços são agendados de acordo com a demanda. Há dias em que tem duas casas para visitar, ou uma só que ocupe o dia todo. Por isso, apenas a primeira tem hora para começar. Ao terminar suas tarefas, sempre deixa um imã de geladeira personalizado com a logomarca da empresa, ou o cartão com telefone. A professora Lucivania Barbosa, 50 anos, moradora do bairro Vila Pery, elogia o serviço de Eduardo. Cliente há pouco mais de um ano, ela diz que a responsabilidade, pontualidade e organização foram alguns dos motivos que a levaram a contratá-lo. “O dinheiro é o de menos para um serviço de primeira como o dele”, ressalta.
Qualificação
Em Fortaleza, algumas empresas como Léo Madeiras e Suvinil oferecem cursos de capacitação, técnica de pintura, eletricidade e hidráulica. O próprio Eduardo já foi chamado para dar aula de comportamento. Este é, para ele, o diferencial da profissão. “O marido de aluguel não pode ser só um pedreiro, um eletricista que faz teste com a mão, ou o cara que só quer fazer “bico” para comprar cachaça”, conclui o profissional, alertando ainda que a especialização é uma forma de se destacar neste ramo de atividade. u
S.O.S Residencial Eduardo atribui o sucesso na profissão à forma como trata seus clientes, seja uma grande empresa ou uma dona de casa. O tratamento e o valor do serviço são os mesmos. E por falar em valores, sua hora de trabalho custa atualmente R$ 50,00. “Quando chego à casa do cliente, digo logo o valor da minha hora.
Contatos (85) 3257.2061 Email sosresidencialce@gmail.com Valor R$ 50,00 hora
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O jardineiro fiel Ex-operário da construção civil, o jardineiro Antônio Célio trabalha no Passeio Público e ajuda a reavivar uma das praças mais antigas de Fortaleza TEXTO/FOTO Zaira Umbelina DESIGN Jefferson Privino Em meio à agitação da cidade, uma praça bem cuidada se transforma em ambiente agradável para um bate papo no final do dia ou para brincadeira de crianças. Mas para que o local seja realmente aprazível é fundamental a ação do jardineiro, que cuida para que tudo esteja organizado.
O mais gratificante que eu acho é quando olho e vejo praça e jardins lindos. Aí é que eu preservo mais a minha profissão Antônio Célio Exercendo a função há 12 anos, Antônio Célio Matias, 39, casado, pai de dois filhos, trabalha nas praças do Centro de Fortaleza. Seu desejo sempre foi passar o dia cuidando de plantas, principalmente depois de trabalhar na construção civil, atividade que abandonou porque não era capaz de encantá-lo. Antes sua função
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era levantar edifícios de concreto, hoje é colorir as praças da cidade. Sua rotina se resume em plantar, replantar e podar árvores, além de cortar a grama e de produzir mudas de plantas. Para ele, todas as atividades de jardinagem são agradáveis de se realizar, não tendo nenhuma preferência. “O mais gratificante que eu acho é quando olho e vejo praça e jardins lindos. Aí é que eu preservo mais a minha profissão”, conta. Ao sair de casa pela manhã, ele tem consciência de que pode transformar o dia de quem visita uma das praças cuidadas por ele. No Passeio Público, o clima escaldante das ruas é amenizado com a sombra das árvores. Os frequentadores do local aproveitam o ambiente agradável para descansar. Célio diz que percebe que seu trabalho está sendo bem feito quando vê que as pessoas vão à praça para conversar e tirar fotos. Cláudia de Castro, 27, vendedora que trabalha perto da praça, costuma aproveitar o espaço e não poupa elogios à atuação dos jardineiros. Ela acha que se o local não fosse bem cuidado não seria frequentado do jeito que é. “Antes aqui era abandonado, a gente tinha até medo de passar na
calçada, mas agora que a praça está bonita, venho aqui todos os dias com as minhas colegas na hora do almoço”, disse. Os jardineiros são responsáveis por implantar e manter jardins saudáveis, selecionando as espécies mais indicadas ao solo, utilizando as técnicas adequadas de plantio, nutrição e poda. Eles atuam respeitando o meio ambiente e proporcionando um espaço agradável e harmonioso para a qualidade de vida da população.
Atores invisíveis
Apesar do resultado do seu trabalho estar visualmente ao alcance de todos, esses profissionais são, na maioria das vezes, invisíveis para a maior parte da população. O psicólogo social Fernando Braga, em sua dissertação de mestrado pela Universidade de São Paulo (USP), batizou este fenômeno de “invisibilidade pública”. Ela acontece quando a percepção humana é capaz de enxergar a função, mas não a pessoa que a exerce. Dessa forma, profissionais que trabalham em atividades braçais passam despercebidos pelo público em geral e são tratados como objetos. Para chegar a essa conclusão, o pesquisador trabalhou como gari na USP, a mesma universidade onde estudava, sentindo-se diariamente ignorado por seus colegas quando estava de farda. Na pesquisa, Braga esclarece que, durante o trabalho como gari, sentia como se não fizesse parte do mundo, e descobriu que um simples “bom dia”, pode significar um sopro de vida, um sinal de sua existência para profissionais invisíveis como garis e jardineiros. Por mais que suas obras sejam admiradas, raramente seus autores são percebidos. Apesar de diagnósticos como este, o jardineiro Antônio Célio se sente valorizado, porque considera a admiração das pessoas o maior reconhecimento pelo seu trabalho. u
O que é que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro? É o jardineiro. Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais tarde um jardim aparecerá. Mas, havendo um jardim sem jardineiro, mais cedo ou mais tarde ele desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujos sonhos estão cheios de jardins. O que faz um jardim são os sonhos do jardineiro Rubem Alves
Cotidiano entre flores Os jardineiros são representados pelo Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação, Locação e Administração de Imóveis Comerciais, Condomínio e Limpeza Pública do Estado do Ceará (SEEACONCE) Piso salarial R$ 718,98 Jornada de trabalho 40h semanais Especificidades da função Cortar grama. Produzir mudas de plantas. Plantar, replantar e podar árvores em praças, áreas verdes e canteiros de avenidas centrais.
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CALCETEIRO Caminho de vida feito pedra sobre pedra TEXTO/FOTO Jackson Pereira DESIGN Iury Costa
Sob um sol de mais de 30ºC, dezenas de homens agachados fundamentam o progresso da cidade. Onde havia ruas de terra batida com água escorrendo na frente das casas, os trabalhadores vão ruidosamente transformando pedras, areia, marretas, martelos e muita disposição em calçamento. Essa é a realidade de homens como Francisco André Pereira, 53, viúvo e pai de Gabriel, de apenas 11 anos. O senhor de cabelos grisalhos, Garçom, como também é conhecido, por conta da profissão que exerceu na década de 70, já foi agricultor, vendedor ambulante, reciclador e auxiliar em uma madeireira. Mas há 35 anos ele começou na profissão de calceteiro e de lá até hoje permanece com o mesmo serviço. A entrada na profissão aconteceu por acaso. “No ano de 78 eu vendia picolé na 4ª etapa do Conjunto Ceará. Um calceteiro me comprou um e enquanto ele comia
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o picolé, eu peguei no martelo e ‘sentei’ umas pedras. Brinquei com ele dizendo que eu era calceteiro. Ele me chamou e comecei a trabalhar na obra”, lembra.
Eu vendia picolé na 4ª etapa do Conjunto Ceará. Um calceteiro me comprou um e enquanto ele comia o picolé e ‘sentei’ umas pedras. Ele me chamou e comecei a trabalhar na obra André Pereira Segundo Pereira, o serviço de calceteiro é cansativo, mas não é difícil de fazer.
Diferente de um pedreiro, que precisa da orientação de um mestre de obras ou de um engenheiro, o calceteiro apenas recebe a indicação da direção, do alinhamento e do nivelamento. Daí em diante basta seguir estas recomendações e colocar as pedras no chão. O calceteiro é auxiliado por um servente, que traz pedra e areia para o espaço. Nas obras, normalmente, utiliza-se areia grossa e areia vermelha como bases para assentar a pedra tosca¹ ou o paralelepípedo². As empresas dificilmente assinam a carteira de trabalho de profissionais deste setor, o que é até uma preferência de grande parte deles. O salário base de um calceteiro é R$1.017, mas os empresários pagam os trabalhadores por metro quadrado. Para um calçamento colocado em pedra tosca, por exemplo, é pago, em média, R$ 1,50 por cada metro quadrado. Em caso de pedra polida, ou dos bloquetes³ este valor chega a R$ 2,00.
No entanto, de acordo com a tabela do Sindicato da Construção Civil do Estado do Ceará, que representa a categoria, os valores deveriam ser: R$ 6,80 para pedra tosca, R$ 7,99 para o paralelepípedo. Para os bloquetes o valor indicado pelo sindicato é de R$ 10,04. Neste caso, o valor é cinco vezes maior do que o utilizado no mercado. Para Pereira, o que faz esse valor ficar abaixo do justo é a concorrência, às vezes desleal, de alguns trabalhadores. “Você pega o serviço e no outro dia vem um cara e derruba R$ 0,10 no metro. Ai você perde a obra”, explica. Severino Oliveira, 61, conhecido como Nego, conta que a disputa entre os calceteiros e as empresas é muito grande. “Se há 20 anos existiam dez empresas que realizavam esse tipo de serviço, hoje nós temos quase cem empreiteiras que realizam esse trabalho. Por isso o preço baixa demais”, justificou o senhor que há duas décadas se dedica a colocar pedras no chão.
Trabalho x analfabetismo
Mas existem profissionais que conseguem ganhar bastante dinheiro com a função. Durante dez anos Francisco André Pereira foi encarregado de obras de uma grande construtora. Ele conta que nesse período ganhava o mesmo valor de cada calceteiro, mas como encarregado
ele tinha diversas equipes. “Eu colocava os homens para trabalhar, formava equipes com três ou quatro calceteiros e se cada um deles ganhava mil reais, eu ganhava três ou quatro mil”, disse. Mas Pereira não conseguiu manter o cargo de encarregado por conta do analfabetismo. Para conseguir manter-se no emprego, ele precisava assinar documentos e fazer cálculos, mas o homem nascido na cidade de Boa Viagem nunca quis estudar, nem na infância quando morava com a madrinha, nem depois de adulto quando através do programa de alfabetização funcional de jovens e adultos do Governo Federal, o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL). Nem assim ele conseguiu aprender a assinar o próprio nome.
nunca ia precisar”, contou. Pereira espera continuar trabalhando até ter a idade de se aposentar e não quer que seu filho siga seus passos. u
Você Sabia? O dicionário define calceteiro como: operário que faz empedramento de estradas, ruas, praças. As primeiras calçadas construídas pela humanidade tem sua origem nos rituais religiosos dos povos tribais. Mesmo em sociedades primitivas, os templos e espaços públicos tinham esse cuidado
Digo sempre a meu filho que ele tem que estudar pra ter uma profissão melhor do que a minha. pra ser alguém na vida, coisa que nem eu nem a mãe dele pudemos ser André Pereira
especial. Poucas calçadas antigas
Apesar de conhecer a profissão como poucos, a falta da educação formal tirou do calceteiro a oportunidade de crescer profissionalmente. Assim, de chefe ele voltou a ser subordinado. Pereira conta esta mesma história ao filho que cria sozinho, Gabriel. “Digo sempre que ele tem que estudar pra ter uma profissão melhor do que a minha. Pra ser alguém na vida, coisa que nem eu nem a mãe dele pudemos ser”. A perspectiva de um futuro melhor fica apenas para o filho, pois, dos 35 anos de profissão, apenas 12 constam em carteira. “É um problema. A maioria das firmas não assina carteira e o cara às vezes nem quer. Eu era um que não queria, assinava mesmo obrigado, achando que
de calceteiro é cadastrada no
resistiram à ação do tempo e das guerras, mas sociedades, gregas e romanas tinham ambientes religiosos e sociais pavimentados. Em Portugal a profissão é regulamentada e existem cursos técnicos para formar profissionais nessa área. No Brasil a profissão Ministério do Trabalho e Emprego, mas não é regulamentada. 1 Pedra Tosca é um tipo de pedra com formato irregular, quebrada normalmente a marretadas. 2 Paralelepípedo é um tipo de pedra com formato regular, normalmente ela é trabalhada e tem um formato retangular, ou quadrado. 3 Bloquetes é um piso em concreto e intertravado, utilizado normalmente em calçadas.
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Guerreira das estradas A profissão popularmente seguida por homens, vivenciada por uma forte mulher TEXTO Taiamara Gomes
Engana-se quem acha que a direção de um caminhão nas estradas do Brasil só poderia estar nas mãos de um homem. As mulheres, cada vez mais, estão assumindo essa função. Seja por incentivo de irmão, pai ou marido, elas estão aí, mais frequentes e dando conta do recado em pé de igualdade.
A caminhoneira Nilce Miranda, 50, está na estrada desde o final dos anos de 1970. Começou na profissão por conta do marido, que também é caminhoneiro. Pernambucana de Serrita, cidade a 536 km de Recife, hoje, mãe de dois filhos, Nilce fala sem rodeios sobre a vida que escolheu. Com tantos anos de estrada, Nilce acumula histórias, nem todas boas de serem ouvidas. A caminhoneira lembra que não são poucas as vezes que policiais param caminhões velhos como o seu nas cancelas, porque sabem que há maior possibilidade de aplicarem multa. Falou ainda da rotina nas BR's alimentação, privações, pernoites e renda mensal.
Não há coisa mais linda que o pôr do sol assistido de diferentes pontos desse Brasil Nilce Miranda
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O dia a dia de trabalho nas estradas é precário. Nilce já chegou a dirigir 24 horas seguidas. Ela e o marido Suliê revezamse no volante quando um deles é vencido pelo cansaço e , muitas vezes, precisam parar em lugares inseguros para dormir. Apesar das dificuldades e dos contratempos, a caminhoneira ainda consegue ser poética ao falar da estrada. “Não há coisa mais linda que o pôr do sol assistido de diferentes pontos desse Brasil”, diz. Ela adora dirigir à noite sob a luz da lua com o som do carro ligado baixinho enquanto o companheiro dorme. “Ôxe, é bom demais”, diz com o sotaque carregado. Foram idas e vindas nesta profissão. Houve um tempo em que ela deixou a estrada e foi tentar a vida em garimpos no Mato Grosso e Pará, onde nasceram seus dois filhos. Mais tarde, quando a vida de garimpo não dava o dinheiro necessário para sustento da família, Nilce e o marido decidiram morar na cidade de Crato, interior do Ceará, nos anos de 1980. Segundo ela, mesmo com as diferentes ocupações, o caminhão nunca foi deixado de lado e, no ano 2000, após mais uma tentativa sem sucesso de vida
necessidades básicas. Muito guerreira, como ela mesma se julga, afirma que apesar de, para mulheres, a profissão de caminhoneira ser mais difícil que para os homens, traz suas vantagens. Foi por conta da profissão que Nilce conheceu lugares, pessoas boas, fez amigos. Além disso, pelo trabalho, ela chega a ganhar entre R$16 e R$25 mil mensal. Desse valor, no entanto, ela desconta altos gastos com combustível, peças para o caminhão e a alimentação. Nilce acrescenta ainda que os caminhoneiros não são unidos. "Há muita competitividade e desrespeito", diz. O preconceito é outra barreira a ser vencida. Ela conta que, pessoalmente, nunca sofreu discriminação, mas tem amigas que tiveram entregas de carga recusadas por serem mulher.
Cumpri com meu dever de mãe, formei meus filhos e eles terão uma vida melhor que a minha Nilce Miranda no comércio, ela e o esposo voltaram às estradas para realizar o sonho de formar seus filhos já adultos e pagar as dívidas. Daí em diante, passaram "a puxar carga" para Distrito Federal, Bahia, Pará e Ceará. Desta época em diante, novamente teve de enfrentar péssimas condições de trabalho, fome, frio, humilhações. Tomar banho em postos de gasolina de beira de estrada, muitas das vezes em péssimas condições de uso. Nilce gostaria que sua profissão fosse mais respeitada, de não ter de enfrentar condições tão precárias para atender
O sonho realizado
Os filhos de Nilce, hoje com 33 e 31 anos, realizam o sonho idealizado pela mãe. Albuquerque Neto e Julie trocaram o Crato por Fortaleza e Teresina para fazer faculdade. O mais velho é hoje dentista e o caçula termina o graduação em engenharia civil. Mas este é quase o fim da história. Até conseguir isso, Nilce e o marido penaram para cobrir as despesas da formação dos filhos. Porém o esforço valeu, o que é nítido no brilho dos olhos de Nilce. Ela se ajeita na cadeira, respira fundo e conta cheia de orgulho: "Eu suei para formar esses filhos". Emocionada, lembra as privações por que passou. Certa vez, com o coração partido, deixou o filho mais novo acamado em um hospital e seguiu viagem. "Não podia parar. Tinha as contas para cobrir", ressalta. A caminhoneira, que estudou até o 8ª ano (hoje o Ensino Fundamental), diz que não se arrepende e faria tudo novamente de sol a sol, trocando pneus, cozinhando na estrada e sendo mecânica de seu caminhão realizou seu sonho. "Cumpri com meu dever de mãe, formei meus filhos e eles terão uma vida melhor que a minha", finaliza Nilce com lágrimas no rosto. u
Saiba mais Na página da web www.caminhoneiras.com, é possível assistir o documentário “Caminhoneiras”, produzido por alunas da Universidade Positivo de Curitiba, Paraná.
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É hora do passeio Conheça mais sobre o profissional que tem como companheiro de trabalho o animal tido como o melhor amigo do homem TEXTO Bárbara Rios FOTOS Cynthia Nogueira DESIGN Saulo Lobo Imagine que você é um cachorro. Seu dono lhe dá comida, água e uma ótima moradia. Mas, dificilmente tem tempo ou energia para passear com você que passa a maior parte do tempo sozinho e trancado. Com isso, ou você fica triste, ansioso, desobediente, ou começa a ter um comportamento agressivo quando algum estranho se aproxima. Essa é a realidade de muitos cachorros atualmente e como solução muitas pessoas contratam o serviço do dog walker. Especializado em realizar passeios com cães, esse profissional com conhecimento em comportamento animal, supre a necessidade do cachorro de se movimentar. O trabalho consiste em apanhar o animal e fazer um passeio em praças ou locais agradáveis nas proximidades da
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residência dos clientes. Isso leva em média 40 minutos, tempo diminuído ou aumentado de acordo com o porte, idade e aspecto físico do cachorro. Raças de porte pequeno e com o nariz achatado, por exemplo, não podem realizar um exercício mais intenso. Ter gosto pela prática da atividade física é essencial nessa profissão, pois com essa rotina o dog walker torna-se um verdadeiro atleta. Fernando Fernandes, passeador há cerca de um ano e meio, pode caracterizar isso. Ele chega a fazer por dia, intercalando entre caminhadas e corridas, aproximadamente 18 km, sendo três para cada cachorro. Ser cuidadoso e atencioso também é de total importância. Como a principal arma de reconhecimento do cão é o olfato, o dog walker sempre está atento
quando o bicho em vez de apenas cheirar, passa a comer algo na rua. Desse modo, como o profissional tem maior entendimento dos aspectos fisiológicos dos cachorros, qualquer comportamento diferente ou mudança no corpo do animal logo é informada ao seu dono. Pois, a partir do momento que está com o cão, o que acontece com ele é de sua total responsabilidade.
Da mesma forma que o dog walker é responsável pelo cachorro e pelo o que ele faz, qualquer outra pessoa também é Jackson Maciel A questão da limpeza, neste aspecto, é primordial para os profissionais. Todos andam com saquinhos e seguem a lei de recolher os dejetos eliminados em espaços públicos. “Muitas pessoas
não conhecem ou simplesmente não ligam para essa lei. Da mesma forma que o dog walker é responsável pelo cachorro e pelo o que ele faz, qualquer outra pessoa também é. Quando vejo pessoas ignorando a sujeira dos seus bichos, acabo eu mesmo recolhendo”, afirmou o adestrador e passeador Jackson Maciel. Assim como em nossas relações interpessoais, lidar com os animais também requer paciência. O dog walker em diferentes situações pode chegar a ficar
irritado com o cão quando ele não obedece a um comando de imediato. Como no caso dos machos, que não seguem o comando de parar quando avistam uma cadela de rua no cio e por instinto querem ir atrás dela. Essa irritação, contudo, nunca pode resultar em uma agressão. Esse profissional, acima de tudo, sabe que a violência é a pior forma de buscar o respeito do bicho. O sucesso do seu trabalho, afinal, depende exclusivamente da maneira como ele age com o animal. Sua relação é de companheirismo com os animais e de confiança com os donos. Rebeca Cascaes, proprietária de Belinha, da raça golden retriever, por exemplo, contou que a cadela melhorou seu comportamento e hoje tem a tranquilidade de deixá-la sozinha em casa sem que ela destrua objetos ou suje a residência. O dog walker, portanto, é sobretudo alguém que ama cachorros. Os cães fazem festa com a sua chegada, porque o associam com a rua. Já os contratantes recorrem ao profissional para opiniões ou esclarecimento de dúvidas antes mesmo de procurar um veterinário. u
Serviço O serviço de dog walker custa na faixa de R$25,00 e R$35,00 por cada passeio, preço que varia de acordo com o pacote a ser fechado com o cliente. Como exigências do profissional estão a vacinação em dia e aplicação de carrapaticida a cada 21 dias. Vale ressaltar que os passeios só não são realizados quando as fêmeas estão gestantes ou no cio. Dog walker Fernando Fernandes – (85) 88000135 Adestrador e dog walker Jackson Maciel – (85) 85644850
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Agir de forma carinhosa com os bichos é um dos diferenciais dos profissionais que auxiliam os médicos veterinários em pet shops TEXTO / FOTOS Fábio Albrecht DESIGN Dulcinea de Carvalho
Os pet shops possuem especialidades, como venda de produtos de beleza para cães, brinquedos, remédios, e muitos outros artigos para tratamento animal. Embora alguns deles também sejam clínicas veterinárias, as funções mais procuradas nos pet shops são a de banho e tosa. Para isso existe um profissional um pouco conhecido, mas de fundamental importância para higiene e estética dos bichos. Os profissionais que prestam serviços de auxilio veterinário têm as seguintes ocupações: Banhista, tosador e o esteticista de animais domésticos. Todos eles tratam o bichinho de estimação como se fosse gente. O esteticista de bichos usa perfumes, cremes com queratina, shampoo especial, escova dentária e até mesmo esmaltes para as unhas. Gatos e cachorros saem do pet shop como se estivessem saindo de um salão de beleza. Muitos usam laços, gravatinhas ou roupinhas especiais para animais. O esteticista, Thiago Anderson, 21, atua nessa área desde seus 17 anos de idade. Diariamente ele atende vários animais para dar banho, cuidar do pelo e secar. Para cuidar dos animais, não basta gostar de bichos. É preciso dedicar o carinho digno do dono do bichinho. “Eu tenho cachorro em casa e trato os cães como se
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fossem meus. Tem muitos clientes que temem que seus animais sejam maltratados. Há muitos casos em que cachorros são beliscados e espancados. Mas graças a deus eu cuido bem deles”, disse.
Eu vejo que o melhor para saúde do Pitty é trazêlo para um profissional cuidar Ângela Nóbrega A tosadora de animais, Viviane Paiva, 36, trabalha no ramo há 22 anos e declarou ter muito amor aos animais. Sua especialidade é a tosa. Seu papel principal é aparar os pelos para que evite nó. “Eu costumo fazer de tudo, mas hoje sou mais focada da tosa, inclusive eu dou também cursos de tosa”, disse. Ela se sente muito feliz com seu emprego e declarou que não quer largá-lo. “Eu sou muito satisfeita com o que faço. Trabalho nesse ramo por amor. Foi meu primeiro emprego e continua sendo até hoje e não pretendo mudar”, declarou. De segunda a sexta a auxiliar de veterinário especializada em tosa atende em média de 30 a
40 animais, mas dias de sábado o número é maior. Viviane acrescenta que alguns cachorros que necessitam de cuidados especiais, dependendo da sua raça, pois cada uma delas tem um comportamento diferente e também têm aqueles que precisam de mais higiene por conta do estado em que eles se encontram. “Alguns cachorros que não são acostumados com pet shop estranham o barulho do secador e dão muito trabalho. Nesses casos eu deixo o secador ligado por um tempo até eles se acostumarem com o ruído”, disse. Viviane acrescenta que os cachorros que costumam ir sempre lá são maravilhosos porque já são acostumados com seu trabalho. “Há cachorros que são adoráveis. Ficam quietinhos e só faltam pegar a escova para lhe ajudar”, falou. A tosadora Viviane afirmou que o mercado para tosador paga muito bem e que está satisfeita com o salário. Porém, não quis revelar quanto ganha.
Do banho de casa ao banho da clinica
A cliente Ângela Nóbrega leva sempre Pitty, seu cachorro poodle, para os auxiliares de veterinários cuidarem, pois acha essencial. Antes de Ângela levar Pitty ao pet shop, o banho do mesmo era feito em casa, ou seja, ela mesma dava
banho no Pitty. Porém, com poucos dias seu pelo já estava sujo. “Eu vejo que o melhor para saúde do Pitty é trazê-lo para um profissional cuidar. Isso evita carrapatos, irritação na pele e problemas nos dentes. Pois os esteticistas escovam bem seus dentes” A tosadora, Viviane Paiva, declarou que às vezes aparecem animais com parasitas e outros problemas nos pelos para a tosadora tratar com mais cuidados e utilizando produtos para determinados tipos de casos, como por exemplo, shampoo anti-pulga e cremes para desembaraçar. Para só então, em seguida, tosar o pelo de acordo com o caso. “Eu atendo de cachorro muito limpo ao muito sujo. Se você não suportar carrapato, ouvido muito sujo e infeccionado, não é sua área. Você tem que estar preparada para tudo porque senão acaba desistindo. É por isso que estou aqui até hoje”, declarou. A tosadora disse que conheceu muita gente que desistiu desse ramo porque não aguentavam ver animais com problemas. u
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Sua imagem é o seu cartão de visitas Aprender a escolher o look certo para a ocasião apropriada é a nova tendência no mercado da moda em Fortaleza com a consultoria de especialistas TEXTO Raimundo Machado FOTO Arquivo pessoal de Juliana Brito DESIGN Jefferson Privino
A busca por uma boa aparência no âmbito pessoal e profissional é algo que todos almejam nos dias atuais. A imagem que você mostra para seus amigos íntimos, colegas de trabalho e, até mesmo, ao seu chefe é o seu cartão de visita para o mercado de trabalho. No âmbito regional Nordeste/Norte do país, são poucos os profissionais que auxiliam as pessoas na hora de escolher a melhor vestimenta para usar em determinado ambiente. Eles são conhecidos como “personal shopper”. É o caso da consultora de moda e imagem, Juliana Brito, cearense formada em Economia pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Com pós-graduação
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feita em Portugal nesse ramo que, até então, é recente aqui no Ceará. Juliana Brito abriu um instituto, no Portugaleria Shopping, com o intuito de oferecer aos seus clientes algo inovador e atraente no cenário local: um curso destinado a ensinar como se vestir, sem seguir necessariamente as tendências da moda nacional. A consultora que adquiriu muita experiência durante seus estudos no exterior, explicou que o mercado de moda no Ceará é algo que poucos gostam, valorizam e/ou têm interesse de ensinar/compartilhar. “Sempre senti uma demonstração fraca por parte das pessoas que conheço, em querer se
vestir corretamente. Por isso me lancei no mercado a fi m de auxiliar esse público”.
A marca precisa conhecer seu público e interagir com os consumidores Caroline Tavares A carreira de Juliana começou ainda durante a temporada em Portugal, quando foi consultora do Cascais Shopping, em Alcabideche. Rapidamente, as propostas
de trabalho foram aparecendo até que, ao retornar à Fortaleza, as oportunidades não pararam de chegar. Ju Brito, como gosta de ser chamada, fez participações em diferentes programas de moda. Produziu artistas da cena local e nacional, nos principais desfiles para os quais foi convidada para fazer parte da produção de looks. A atuação do Personal shopper surgiu no cenário brasileiro, a partir do momento em que os empresários e estilistas descobriram a fundamentação primordial para deixarem seus clientes mais fidelizados com os produtos oferecidos e mostrados nas vitrines das “marcas de grife”. Isso causou maior interesse da população e foi-se popularizando com o passar dos anos.
A moda na “rede”
Já Caroline Tavares, uma blogueira cearense - dona do Gavetta, um blog de moda - define que o interesse em escrever sobre moda foi despertado por meio das aulas ofertadas por Ju Brito. Caroline, 25 anos, é publicitária, diretora de arte, designer de estampas da Fluorita e estudante do curso de especialização em design gráfico da Unifor. O blog surgiu em 2011 com uma proposta de compartilhar conteúdos diversos. Nele, Carolina e uma colega,Sheryda, falam sobre as experiências delas com a moda, eventos e beleza. Além disso, dão dicas de lugares para ir em
Fortaleza. O público do Gavetta é 90% feminino, e a faixa etária dos visitantes está entre 20-25 anos, a maioria são universitários(as). Caroline percebe a moda desta maneira: “Creio que o mercado da moda precisa de mais originalidade. Cada vez mais os consumidores buscam peças originais e únicas, estão sempre conectados com os portais de moda e blogs. A informação chega ao público rapidamente e logo se torna “so last week (ultrapassada, atrasada)”. Ela acredita que as marcas precisam conhecer a fundo o seu público para criar suas coleções e conceitos e assim gerar mais interação com seus consumidores. Juliana e Caroline hoje são reconhecidas como duas personalidades cearenses do ramo. Graças ao apoio delas e de outros profissionais, finalmente homens e mulheres, conseguiram perceber o quanto é importante uma aparência “exemplar” em público. u
IMCI - INSTITUTO DE MODA CONSULTORIA DE IMAGEM Direção: Juliana Brito Endereço: Rua Professor Otávio Lobo, 755 (esquina com Av. Padre Antônio Tomás) - Cocó Site: www.imcijb.com Telefone: (85) 9683.3312 BLOG GAVETTA: Direção: Caroline Tavares Site: www.gavetta.com.br
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Profissão: scouter Os caça talentos são os profissionais responsáveis por descobrir modelos. Invisíveis na maioria das vezes, levam belezas anônimas ao mundo do estrelato. TEXTO/ ILUSTRAÇÃO/ FOTO Alexandre Fernandes DESIGN Jéssica Castro As belezas de famosas modelos nacionais e internacionais saíram do anonimato e passaram a ocupar passarelas e ensaios de revistas após serem descobertas por “olheiros”. Gisele Bündchen, por exemplo, iniciou sua carreira aos quatorze anos quando foi descoberta por um booker de uma agência de modelos, enquanto desfilava com amigas em uma festa de 15 anos. Caroline Trentini foi também descoberta, aos quatorze anos, pelo scouter Dilson Stein, enquanto, simplesmente andava na rua de sua cidade natal, Panambi, no Rio Grande do Sul. Gianne Albertoni chamou a atenção do fotógrafo Sergio Valle Duarte enquanto andava de skate em um parque da cidade de São Paulo. A modelo tinha apenas treze anos. Olheiros, bookers ou scouters, como são chamados os caça-talentos das agências de modelos, são responsáveis por descobrir jovens modelos, muitas vezes em situações inusitadas, e fazer com que tenham sucesso nas passarelas. Parece um trabalho fácil, mas não é. O booker deve ter um olhar aguçado para perceber as medidas aproximadas de cada aspirante a modelo. Por esta razão, ele sempre carrega consigo uma fita métrica, confirmando assim o que o seu olhar
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detectou. O booker cearense Romualdo Cassiano, 35, começou a trabalhar aos dezesseis anos como assistente de eventos e produção, no entanto largou a profissão ao ingressar nas Forças Armadas. A interrupção do trabalho que o levaria ao mundo da moda foi rápida e, após sair do Exército por honra ao mérito, passou a trabalhar como scouter. Para achar modelos em potencial, valia sair a procura nos lugares mais inusitados como shoppings, baladas, eventos de moda e até mesmo em lanchonetes e fast foods. De início, a remuneração não era satisfatória, variava de R$ 300 R$ 400. Hoje, a remuneração varia de R$800 a 1500. Após cinco meses como scouter, Romualdo procurou outras ramificações no mundo da moda, montou o seu próprio casting de modelos e trabalhou como agente de modelos e promotor de eventos. Atualmente, representa uma das maiores agências de modelos do mundo, a Elite Model Management Brasil, cuja sede mundial está localizada em Paris, e tem entre suas modelos celebridades como a atriz Drew Barrymore. Além disso, o concurso Elite Model Look, promovido pela agência, é uma ponderosa organização de caça-talentos com mais de 350 mil concorrentes anualmente em mais de 55 países. As modelos inscritas pelos scouters concorrem a um contrato com a Elite Models. “Beleza é sempre fundamental. Existe um padrão físico para se tornar um top
de sucesso. Meninas com, no mínimo, 1.70 m de altura, 60 cm de cintura, 90 cm de quadril e manequim 36/38. Meninos com 1.80 m de altura e corpo definido. Mas, tudo isso é relativo, porque hoje posso achar uma modelo de 1.65 m e fazer dela
Mas, tudo isso é relativo, porque hoje posso achar uma modelo de 1.65 m e fazer dela uma modelo comercial de maior faturamento do mundo Romualdo Cassiano uma modelo comercial de maior faturamento do mundo”, explica Romualdo. O scouter destaca ainda a personalidade dos modelos. Em seu cotidiano, o booker vive mais para o modelo que para si mesmo. Apesar de começar a trabalhar às 9h, Romualdo costuma acordar às 5h. Uma das primeiras atividades da manhã é ligar para a modelo que vai fazer a campanha do dia. Além de acordá-la, ele deseja boa sorte e verifica a programação prevista para aquele dia. O envolvimento com as modelos é tanto que, não raro, o scouter dá conselhos e também escuta o que as jovens têm a dizer. “A carreira de modelo não é apenas glamour e riqueza”, diz. É necessário ter muita paciência e cautela ao receber e assinar propostas, pois nem sempre, os contratos ofertados são confiáveis. O booker deve-se colocar como a pessoa que é totalmente responsável pelo futuro da modelo, evitando que esta seja “passada para trás”. É ele quem acompanha todo o processo de filiação das modelos com as agências. O booker passa a ser um segundo pai ou mãe para o modelo, pois se preocupa com a alimentação, com o vestuário, com
o cotidiano em si. Romualdo diz que é necessário cuidar bem dos seus agenciados, pois o modelo precisa estar cem porcento bem para realizar qualquer projeto com o máximo de perfeição. Mas todo esse cuidado não o livra de ter que suportar a pressão psicológica, também, pois, assim como qualquer outro ser humano, os modelos também têm seus dias de mau humor, de baixa autoestima. Romualdo sempre se dispõe para ouvir os problemas e as queixas de seus agenciados, já que o bem estar psicológico dos modelos é de extrema necessidade para efetuar os trabalhos de modelagem. Hoje, ele aposta no nome de Carla Menezes, 20, uma de suas descobertas locais e que está fazendo bastante sucesso no mundo da moda cearense. Carla já fez campanha para lojas como C&A, Anamac, Dona Florinda e do shopping Maraponga Mart Moda. Apesar de ser chamado de olheiro ou scouter, na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), quando contratado por uma agência, esse profissional é reconhecido como booker ou promotor de eventos. Segundo Romualdo, é um trabalho extremamente gratificante, quando é feito por paixão e vontade, assim como qualquer outra profissão.
Saiba mais
Como e por que seus serviços são contratados pelas agências de modelo e publicidade? Muitos dos modelos vistos hoje em outdoors, busdoors, propagandas de televisão, são modelos agenciados. Porém, antes de terem seus contratos com as agências, quase todo modelo tem como “escudeiro”, um scouter. Tudo começa com um desfile ou um evento social privado. O cliente da agência solicita alguns modelos, as agencias de modelos e publicidade contatam o scouter ou promoter, para que ele selecione modelos de seu casting, caso ele já os tenha, ou vá
em busca de novo rostos para preencher aquela solicitação. O gerente da agência New Faces, Olimpio Ramos, 45, explica que a grande vantagem de se contratar os serviços de um booker experiente, é não ter que se preocupar com o deadline, o prazo final do trabalho contratado. Pois com a experiência, fica mais fácil para o profissional encontrar modelos no perfil que o cliente lhe pediu. Não é nada fora do comum agências buscarem modelos principiantes para novos contratos, pois todo modelo trabalha de segunda a domingo, tendo apenas um período livre. Assim, torna-se necessário um profissional capaz de descobrir novos modelos na cidade. Apesar de parecer fácil, conseguir um olheiro, requer muita pesquisa e conhecimento de mercado. Alguns se dizem olheiros, mas não possuem nenhum tipo de tato ou experiência. Já que o mercado da moda está constantemente crescendo nas regiões Sul e Sudeste do país, o mercado de scouters no Ceará ficou escasso. Caso não conheça um, ou não tenha ninguém que conheça, corre o risco de não conseguir cumprir suas solicitações e fracassar como agenciador. u
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Da madeira para o papel O reconhecimento pelo esforço proporciona alegria aqueles que são desconhecidos em meio a tantos ofícios TEXTO Glenna Cherice FOTOS Lua Alencar DESIGN Jéssica Castro
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A forma, o movimento, a delicadeza e a beleza dos resultados das gravuras fazem de João Pedro, 48, natural de Ipaumirim, um grande artista xilógrafo. Casado com Célia Cardoso e pai de cinco filhos, ele divide o espaço da casa com os materiais do trabalho: máquinas, prensa, várias gravuras e tipos de letras para o processo de tipografia. Uma pequena área, completamente ocupada por artigos dos mais simples aos mais complexos, oferece a João a qualidade de vida para sua família. Seu trabalho, pouco conhecido, é relevante para quem necessita de desenhos e originalidade nas gravuras. Influenciado pela família, João Pedro começou, aos 16 anos, a escrever literatura de cordel. Neste período, 1980, em Juazeiro do Norte, onde morava, havia a necessidade de ilustrações nas capas dos cordéis. Logo no início da carreira, ainda jovem, não possuindo muitos recursos, João Pedro juntava os pedaços de madeira que eram jogados fora pela gráfica, tipografia São Francisco, atualmente Lira Nordestina, em Juazeiro do Norte, onde trabalhava, e passava a desenhar. Com a facilidade e o dom de produzir desenhos na madeira, ele começou a ser conhecido por seu trabalho como artista.
Em 1998 assumiu a xilogravura como profissão e, em 1999, recebeu o prêmio Salão Norman Rockewl, do Instituto Brasil – Estados Unidos do Ceará (IBEU) – CE na categoria gravura. Necessitando de uma vida melhor e passando muito tempo longe da família por conta do trabalho, saiu de Juazeiro e veio para Fortaleza, em 2000. Com o apoio da mulher e dos filhos fixou suas máquinas e material de madeira, montando um belo ateliê no centro da cidade, onde trabalha atualmente.
Espaço da xilogravura
Xilogravura (gravura na madeira) é um trabalho que exige concentração e amor ao que faz. “Meu trabalho é maravilhoso. Fico bastante alegre quando sei que as pessoas ficam felizes com meu serviço”, diz João Pedro. O trabalho não tem hora para começar e, principalmente, para terminar. Célia Cardoso, 46, diz que, na maioria das vezes, ele vai dormir as 3 horas da manhã, terminando os pedidos dos clientes. Toda família trabalha neste mesmo ramo. “Quando temos muitas encomendas, cada um pega um trabalho (folha de madeira) e vai escavar”, diz Célia.
o papel. “Foi ótimo e ele é muito profissional”, diz Erick. Com a arte reconhecida, seu trabalho já ultrapassou as fronteiras do país. João Pedro já participou de duas exposições, uma em Portugal e outra na África e apresentou também exposições em Fortaleza e em Juazeiro do Norte. Satisfeito pelo que faz ele afirma: “fico feliz e orgulhoso quando meu trabalho é reconhecido”.
Fato Marcante
Minha profissão é igual às outras. Não faço por hobby, faço por necessidade João Pedro O sorriso no rosto de João ao falar sobre seu trabalho demonstra a satisfação e o prazer que tem por esta profissão pouco conhecida, mas indispensável. Mesmo sabendo que, a xilografia é desconhecida pela maioria das pessoas, este cearense afirma que ela está sendo difundida. “Aos poucos ela vai conquistar seu espaço”, diz João Pedro. Erick Picanço, 31, professor do curso de Publicidade da Faculdade Sete de Setembro, ficou impressionado com o trabalho do artista. Em busca de algo que trouxesse originalidade e valorizasse a cultura nordestina, ele encontrou no trabalho oferecido por João, um serviço de qualidade e um preço acessível. Dentre algumas encomendas feitas para Picanço, seu convite de casamento ganhou originalidade quando passado para
Durante sua trajetória muitas histórias marcaram a vida deste profissional e artista. O xilógrafo conta que certa vez recebeu uma encomenda para cordel. Nesta história estava em evidência a Avenida São João, em São Paulo. O cordel falava de um lobisomem e a tarefa de João Pedro era apenas fazer a gravura da lenda. Ele lembra o quanto foi difícil. Foram duas tentativas e em ambas o lobisomem saiu “meio gay, meio sensível”, Lembra João Pedro aos risos. “O objetivo, no entanto, era assustar as pessoas com a gravura, mas não foi possível. As mãos dele ficaram caídas” diz o artista. João Pedro ressalta que realizar este trabalho é cansativo, mas é gratificante.
Fico feliz e orgulhoso quando meu trabalho é reconhecido João Pedro “Minha profissão é igual às outras. Não faço por hobby, faço por necessidade”, afirma. O trabalho desenvolvido por este cidadão e sua família pode passar despercebido pela maioria das pessoas, mas isso não interfere na alegria que esta família tem em produzir algo original e diferente. Eles são destaque pela originalidade artística que une pais e filhos em busca de um único objetivo, o sustento do lar. u
Saiba mais Um dos serviços mais procurado são os convites para casamento e os de aniversários produzidos pelo artista. Na aplicação da gravura no papel de convite, ela acaba dando um toque especial no acabamento. “Muitas vezes no processo de liberação da fibrose da madeira quando passado para o papel, a marca da madeira dá uma originalidade ao material”, ensina João Pedro. Outros serviços, também, são procurados e realizados pela família, como cordéis, gravuras e trabalhos de tipografia. Para a criação destas artes o xilógrafo compra em madeireiras, o material que é usado para desenhar (folha de madeira). Mas o costume de aproveitar a madeira continua presentes no dia a dia do artista. “Gosto de resgatar as madeiras e com isso vou praticando a biodiversidade”, diz. Contatos: Rua Padre Mororó 1828 - Centro 3223-5423 | 9122-5395 E-mail: joaopedrodojuazeiro@hotmail.com
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Diversão É COISA SÉRIA
Os trenzinhos da alegria e fantasia fazem a festa na Beira-Mar com diversos personagens. Uma opção dos pais se divertirem com os filhos TEXTO Tarcísio Ribeiro FOTO Iago Alencar DESIGN Dulcinea de Carvalho
Logo em sua chegada ainda iluminado pela luz do sol das 16 horas, os trenzinhos por onde passam espalham alegria e contagiam todos que presenciam sua passagem. Ao anoitecer, são suas luzes brilhantes que iluminam e ao som de músicas infantis chamam ainda mais a atenção. O passeio no trenzinho custa R$ 5,00 por pessoa, crianças acima de um ano de
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idade é cobrado o mesmo valor. O percurso leva aproximadamente 30 minutos: sai da Rua Paula Barros, percorrendo o restante da Avenida Beira Mar e contornando a Avenida Abolição até voltar ao ponto de origem. É um passeio agradável e muito divertido. Mas, é preciso levar em consideração que não é somente por conta dos trenzinhos que os adultos, jovens e
principalmente as crianças buscam o passeio. Um verdadeiro espetáculo a parte é o que fazem os personagens saídos originalmente da TV e das histórias em quadrinhos que rodeiam o trem e desfilam pelo calçadão da beira mar. São vários a contracenar no imaginário infantil: Mickey, Minnie, Ben10, Chico Bento, Magali e até a Galinha Pintadinha. Dois personagens, porém,
merecem destaque por tamanha procura por parte do público: a Mônica e o Homem-Aranha.
Me dá uma nostalgia e quero que meu filho se divirta com os mesmos personagens que me divertiam quando eu tinha a idade dele Yuri Coutinho Eles são cobiçados pela maioria que sempre buscam um abraço, um aperto de mão, tirar uma fotografia com seu personagem favorito e, claro, bater um papo. Afinal de contas, não é todo o dia que se pode conversar com quem se admira desde a infância. Animadores de eventos, assim são chamadas as pessoas que vestem e dão vida aos personagens. Ricardo Paulo, 18, mora com os pais no bairro da Messejana e divide o mesmo segredo que o seu personagem, o Homem-Aranha. Não podendo revelar o rosto que está por baixo da máscara, aqui ele não luta contra o mal, mas sim, contra a tristeza. Com este aracnídeo é só alegria. É incontável o número de crianças que querem tirar uma foto com o Homem-Aranha e de preferência jogando sua teia imaginária. Ricardo trabalha no trenzinho da alegria há um ano e começou por meio dos seus irmãos que também lá trabalham. A vontade de levar a alegria está no sangue da família. Exercer tal função é algo que faz com orgulho e por puro prazer. “Trabalho por que adoro crianças, de fazê-los felizes. Ver o sorriso no rosto deles pra mim, é gratificante”, conta. Por ter um porte físico atlético e estar na flor da idade, a fantasia do Homem-Aranha caiu perfeitamente nele. Ao vestir-se incorpora o personagem correndo, pulando, dando cambalhotas e sendo o herói da garotada.
A rotina é cansativa. Nosso herói trabalha durante cinco horas de sexta-feira a domingo, tendo pouco tempo de lanche e com piruetas que chegam a ser arriscadas nos momentos do passeio. Mas, estamos falando do Homem-Aranha e no fim tudo para ele é uma grande diversão. “Sempre quis trabalhar aqui, eu gosto porque é divertido para as pessoas e pra mim também”, disse Ricardo. Jovem e com todo um futuro pela frente, Paulo carrega consigo o sonho de ser jogador de futebol ou senão de trabalhar com uma outra grande paixão na sua vida, a música. Segundo Yuri Coutinho, 23, fortalezense que frequenta a Beira Mar e leva o filho Caio, 6, sempre que pode ao trenzinho. A diversão naquela área da Beira Mar é sempre garantida. “Acho muito divertido. Me dá uma nostalgia e quero que meu filho se divirta com os mesmos personagens que me divertiam quando eu tinha a idade dele”, disse.
Com três anos de serviços prestados, ela começou a trabalhar por meio de um vizinho que já atuou como um dos personagens e a encaminhou. Na época desempregada, Meuri sofreu muito e ainda sofre, pois cada criança que vê lembra-se de Alice, uma garotinha que teve todo amor e a dedicação de Meuri, que foi sua babá há quatro anos. Apegada à Alice a solução para tentar suprir a imensa saudade que sente da pequenina hoje com nove anos, foi trabalhar com as crianças no trenzinho. A ideia deu certo e apesar de existirem duas Mônicas no mesmo local, a grande maioria se derrete e escolhe Meuri sem levar em conta ou saberem a idade da verdadeira pessoa meiga e doce por dentro da quente e abafada fantasia. Meuri não é casada, não tem filhos, mora sozinha e de aluguel, e possui um desejo como os brasileiros na sua condição. “Meu sonho é ter minha casa, mas, tá tão difícil”, conta Meuri. A vida parece não ser fácil para ela, mas para quem está lado a lado com a Mônica tudo é somente alegria. u
Trabalho por que adoro crianças, de fazê-los felizes. Ver o sorriso no rosto deles pra mim, é gratificante Ricardo Paulo Na mesma função que Ricardo, mas com 22 anos a mais, a senhora conhecida por todos como Meuri, é quem dá vida a simpática menina meiga e doce, de apenas seis anos de idade, a Mônica. Cobiçada por meninos e meninas, Meuri trabalha no trenzinho da fantasia há três anos, porém, está cada dia mais longe de expandir seu ciclo como a principal personagem de Maurício de Sousa. Por conta da sua idade a direção do trenzinho da fantasia decidiu por não renovar o contrato dela. “Fazer o quê, né? Quando se tem chefe, tem que obedecê-los”, conta Meuri com tom de lamentação.
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Um passo pra lá, outro pra cá Muito mais que uma arte, a dança é também uma forma de ganhar a vida, de unir casais e de alimentar fantasias de criança TEXTO/FOTOS Tamara Aquino DESIGN Saulo Lobo
O ser humano pode se expressar de diferentes maneiras. Por meio da fala, do olhar, dos gestos. E também por meio da dança. O uso do corpo acompanhando movimentos é uma forma de se comunicar, de manifestar ideias e de revelar emoções. Muitos acreditam que dançar seja um dom. Que a pessoa já nasce predestinada. Mas, como toda regra há uma exceção, a professora de dança Thais Fernandes, 26, é a prova disso. “A paixão pela dança surgiu aos 18 anos. Ficava observando passos de dança até que fui aprendendo”, cita. Depois que o interesse surgiu, ela decidiu que era com isso que queria trabalhar. Hoje, trabalha na Escola de Danças de Salão Carlinhos Araújo, especializada em danças como samba, salsa, forró e bolero. Nesse meio de extremos, surge Bianca Rocha, 19, estudante de Direito. A saga dela na dança começou ainda pequena. A mãe da jovem sempre teve o sonho de dançar, mas, por morar no interior, não conseguiu executar sua vontade. Matriculada desde cedo na escolinha de
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Aperfeiçoamento
dança, Bianca foi vendo nascer um entusiasmo pelo balé clássico. “Minha mãe contribuiu muito pelo sentimento que tenho pela dança. Mas, foi a fantasia de criança que se encanta com qualquer bobagem, como, por exemplo, personagens de desenhos animados e barbies, que definiu o que sinto”, disse. Mas a estudante não tem qualquer pretensão de se tornar professora. A dança funciona mais como uma atividade livre.
O preço do sonho
No meio termo, aparece Robson Silva, 26. Ex-comerciante, professor de dança em tempo integral e corretor de imóveis nas horas livres. Há noves anos como professor, a dança está presente na família desde pequeno. Proprietário de uma loja de celular, Robson resolveu jogar tudo para o alto e trabalhar como auxiliar na escola de dança do seu irmão. Fez cursos e foi se aperfeiçoando. Com excelência técnica e devido a uma parceria do seu irmão com Carlinhos Araújo, Robson começou a trabalhar na Escola de Danças de Salão do Carlinhos. A terceira atividade, corretor de automóveis, é adaptada aos tempos vagos, geralmente nos fins de semana, pois na semana sua jornada de trabalho começa às nove da manhã e termina às sete da
noite. Porém, frequentemente, ele vai a cursos e eventos relacionados à sua profissão e acaba sempre chegando em casa por voltada de meia-noite. Um dos motivos que levam Robson, assim como muitos outros profissionais de dança a se desdobrarem em dois empregos, é a falta de estabilidade financeira.
Outra dificuldade encontrada é o preconceito. Comentários a respeito da sexualidade e da seriedade da profissão são os mais feitos Apontada como uma das principais dificuldades, a carteira de trabalho não assinada exclui muitos direitos. O professor só lucra se garantir suas horas de trabalho, caso fique doente, não ganha. Outra dificuldade encontrada é o preconceito. Comentários a respeito da sexualidade e da seriedade da profissão são os mais feitos. “As pessoas acham que dançar não é uma profissão, mas um passatempo, e que ganhamos dinheiro brincando”, diz Robson.
Mas se enganam os que compartilham do fato de que é simples assim ensinar a dançar. É necessário muito esforço, dedicação e compromisso. Tanto por parte dos professores como dos alunos. “Paciência não pode faltar na hora de ensinar, pois, afinal não são todos que conseguem acompanhar o ritmo”, fala Thais. Ritmo e técnica são o que o casal, Expedito Róseo, 52, e sua esposa, Marta Rodrigues, 55, procuram. “Sempre víamos as pessoas dançando e tínhamos vontade de conhecer e aprender”, contam. O casal João Alberto, 46, e Ana Lúcia, 46, procuraram a dança por motivos relacionados ao relacionamento. “Queríamos uma atividade em casal, e nada mais divertido que a dança”. Além dos motivos pessoais, todos procuram excelência e capacidade, e por isso optaram por aprender com profissionais especializados. Para ser um professor, primeiramente, se torna um instrutor, auxiliar. E, de acordo com o desenvolvimento, chegam à posição de ensinar independentemente. Mas isso acontece de forma gradual, como a evolução dos seus alunos. Todos vão aperfeiçoando seus ritmos e dançando conforme a música, demostrando que a dança está ao alcance de todos. u
Serviço Escola de Dança de Salão Carlinhos Araújo - Av. Santos Dumont, 3130. Loja 201A Shopping Center Um, 2º piso – Aldeota. Contatos: (85) 3244.2999 / 3261-5356
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Fotolembrança Cores, ângulos, luz, formas. Pessoas, paisagens. Luz, dia. Chuva, sol. Não importava o dia ou a hora, nem o lugar. Lá estava ele alegrando e fotografando todos com seu longo sorriso. Uma eterna criança. Seu nome deveria ser André Alegria. Ainda não nos acostumamos com a perda, com a dor, com a partida daqueles que fazem parte do nosso dia a dia. O novo assusta. E como assusta! Nos falta o ar, o chão e, até mesmo, a noção. As lembranças ficam. Os laços se eternizam. Os momentos são únicos, sublimes. Não perdemos André. Sim, não o perdemos. Apenas demos um “até breve!”, pois ele estará aqui, dentro do peito, guardado nos nossos corações para sempre. Texto do estudante de Jornalismo Soriel Leiros.
Uma homenagem dos alunos, professores e amigos do curso de Comunicação da Faculdade 7 de Setembro ao fotógrafo e estudante de Publicidade e Propaganda, André Salgado.