10 de dezembro de 2016 | Papiro 1
Suplemento Conheça alguns grupos artístico-culturais e coletivos de artistas nas diferentes regionais, de uma Fortaleza plural, para além do agendamento cultural. páginas 15 a 28
Pícaros lançam olhar de alegria por toda cidade
Cia. de dança agrega valor à vida de pessoas
Coletivo de artistas foge do clichê e espalha arte e diversidade cultural em apresentações e performances, onde todos podem participar da folia teatral e da horizontalidade que Fortaleza tanto carece. pág 16
Quem disse que da periferia não sai arte? Ou até, que arte é para as elites? Então precisa rever conceitos e conhecer a Companhia Vidança e seu desejo de compartilhar a experiência por meio da arte. pág 20
Sarau literário sem limites no Conjunto Ceará pág 16
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Falta d’àgua
Cagece reduz meta de consumo Em busca de alternativas para o quinto ano consecutivo de seca no estado, a Companhia de Água e Esgotos do Ceará – Cagece, alterou a meta de redução de consumo da tarifa de contingência de 10% para 20%. A decisão
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é válida para Fortaleza e Região Metropolitana. Se por um lado a medida serve de prevenção a um possível racionamento, por outro preocupa o cidadão, que tem que tomar cuidado com as possíveis multas. pág 4
Religião
Enem
Maranguape tem dois padroeiros e a fé em dobro
Vídeo aulas atraem quem quer estudar sozinho
Em cidade marcada pela devoção a dois santos, fé e religiosidade misturam-se à história e ao desenvolvimento do lugar. pág 11
Para driblar a concorrência, candidatos do Enem estão aderindo a novas formas de estudo: vídeo aulas e aplicativos para celular. pág 5
Eleitores acreditam que novas regras eleitorais, que estrearam em 2016, vão trazer mais transparência partidária. pág 3
2 Papiro | 10 de dezembro de 2016
Editorial
O prazer e o sacrifício no ofício de contar histórias
C
orrer atrás dos entrevistados, pensar nas perguntas certas, escolher o melhor ângulo para fotografar. Depois redigir o lead e o restante do texto com clareza, precisão, concisão. Eis uma reportagem! Se antes o jornalista já tinha na tensão sua companheira de cotidiano, hoje, com a convergência midiática, essa realidade se potencializou. As atribuições aumentaram e o prazo de fechamento continua o mesmo – o dia segue tendo 24 horas. O “drama do deadline” pôde ser vivenciado e superado por aspirantes a jornalistas do 4º semestre, na produção do Jornal Papiro 2016.2. No Ceará, o drama vivenciado e ainda não superado é o da falta d’agua. Esta edição aborda em sua capa a mais grave seca que o estado enfrenta desde 1910. O quinto ano de estiagem obrigou a Cagece a alterar a meta de redução de consumo da tarifa de contingência de 10% para 20%, ligando o alerta dos fortalezenses para as possíveis multas. Também repercutimos a situação da Serra de Guaramiranga. Agricultores, comerciantes e donas de casa se viram como podem para driblar a escassez de água. Na política, as eleições municipais foram o gancho. No ano passado, por meio da Reforma Eleitoral 2015, foram promovidas alterações nesse processo. Entre elas, o tempo de campanha dos candidatos, que foi reduzido de 90 para 45 dias. Outra mudança visa dar maior participação à mulher na política. Em outubro, 5% do Fundo Partidário tiveram que passar a ser investidos em programas de incentivo a participação feminina na vida pública. Buscamos mostrar o que os eleitores acharam dessas mudanças. Um pulo da política para a saúde. Esta edição mostra uma novidade para as pessoas que buscam perder peso. Você conhece a robótica? Trata-se de um novo método que visa dar mais praticidade à cirurgia bariátrica, tanto para o paciente quanto para o cirurgião. Migrando para a área da educação, estudantes, com a cabeça no Enem, buscam alternativas à pressão das aulas tradicionais. A válvula de escape está nas videoaulas e aplicativos de celular. Também descobrimos um grupo de conversação que se tornou o espaço para aprimorar o inglês de forma não-convencional. É o “English as a Second Language”. Os encontros semanais têm sido uma opção para alguns profissionais. Já na economia, os likes, compartilhamentos e comentários são a tônica do empreendedorismo físico e virtual. Outra estratégia está nas promoções. Ainda mais com a crise atual. Agências oferecem pacotes para viagens nacionais e internacionais. O momento econômico também refletiu na cesta básica. Em Fortaleza, os preços dos principais alimentos ocupa a segunda posição entre os mais caros das capitais do Nordeste. O aperto financeiro, no entanto, não atingiu apenas o âmbito privado. ONG’s sofreram queda de 30% nas doações realizadas por pessoas físicas e jurídicas. Toda essa crise faz as pessoas ficarem menos empáticas, certo? Há controvérsias! O projeto Vestidos para África, de uma estilista cearense, planeja enviar mil vestidos para Pemba, em Moçambique. A iniciativa é toda viabilizada por meio de doações. Ufa! Para esquecer um pouquinho o complicado momento econômico, vale ler uma revista em quadrinho e até rezar para o padroeiro. Ou para dois, se preferir. É o caso da população de Maranguape, que se divide entre Nossa Senhora da Penha e São Sebastião. Sem sair do assunto “devoção”, as torcidas organizadas de Ceará e Fortaleza estão proibidas de frequentar o estádio. O problema passa diretamente pelo torcedor organizado? Para entender melhor essa história, fomos atrás de dois dos principais personagens do espetáculo: o torcedor e o jornalista esportivo. Especialmente nesta edição do Papiro, a revista Matéria Prima, produção dos alunos de Jornalismo Especializado I, será um encarte de peso. São três reportagens sobre manifestações artísticas e culturais da cidade. Até então sem a visibilidade que merecem, esses assuntos agora ganham as páginas mistas do Papiro + Matéria Prima. Boa leitura!
Diretor Geral Edinilton Soárez Diretor Acadêmico Ednilo Soárez Vice-Diretor Adelmir Jucá
Coordenador do curso de Jornalismo Dilson Alexandre Coordenadora do curso de Design Gráfico Nila Bandeira Editora do jornal Papiro Ana Márcia Diógenes Editor da revista Matéria Prima Miguel Macedo Projeto Gráfico e Direção de Arte Tarcísio Bezerra Editor do núcleo de Design Diego Paiva Estágiários de Design Lucas Macêdo e Mauro Braga Editorial Carlos Holanda Tirinha Deleon Stu
COLABORADORES Texto Ana Jessica, Camilla Rodrigues, Carlos Holanda, Danielber Noronha , Davi Andrade, Dyego Viana, Erika Chagas, Gabriel Rodrigues, Igor Thawen, Italo Falcão, Izabel dos Santos, Jessyka Moura, Juliane Cavalcante, Karol Saldanha, Paloma Negreiros, Neto Ribeiro, Pedro Brito, Rodrigo Garcia , Suelem Mendonça, Victor Mendes, Victoria Franco Design Camilla Rodrigues, Carina Barreira, Deusdedit Neto, Erika Chagas, Guilherme Magalhães, Italo Falcão, Lucas Macêdo, Igor Thawen, Jéssica Castro
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Política
Novas regras eleitorais visam garantir transparência partidária Cenário político atual no país pede por mudanças na estrutura eleitoral. Regras passaram a valer em outubro desse ano, para as eleições municipais REPORTAGEM Paloma Negreiros DESIGN Lucas Macêdo
O
ito eleitores entrevistados sobre as mudanças nas regras da campanha eleitoral foram unânimes em apontar que a novidade vai impactar em mais transparência sobre os gastos dos candidatos. Eles também estão de acordo com a redução no tempo de exposição dos concorrentes em canais midiáticos como rádio e TV. As alterações foram determinadas pela chamada Reforma Eleitoral de 2015, que teve como pontos principais a redução dos custos das campanhas eleitorais, a fiscalização acerca de doações para campanhas e o incentivo à participação feminina na política. A nova legislação eleitoral determina que haja redução no tempo de campanha para 45 dias, metade do tempo que vigorava até então. Para rádio e TV, o tempo para que os candidatos tenham oportunidade de expor suas propostas passou de 45 para 35 dias. “Agora, com a redução de tempo e limite de gastos, talvez eles pensem em planejar melhor suas campanhas com conteúdo sensato e propostas importantes para a população”, afirma Rafael Alves, 29, analista de sistemas, que diz se informar sobre as propostas dos seus candidatos por meio de sites e discussões na internet. “O problema é que o tempo ofertado é utilizado, muitas vezes, para implantar músicas ‘chiclete’, mostrar a família do candidato e falar de propostas vazias. Fiquei tentando filtrar
NOVAS REGRAS PARA AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2016, DE ACORDO COM A REFORMA ELEITORAL 2015 Tempo de campanha A ampanha eleitoral ficou reduzida de 90 para 45 dias. Gastos nas campanhas Para presidente, governadores e prefeitos, pode-se gastar 70% do valor declarado pelo candidato que mais gastou no pleito anterior, no caso de um só um turno; e até 50% do gasto da eleição anterior no caso de dois turnos. Período de propaganda Eleitores crêem que mudanças não influenciarão diretamente no voto, mas trarão melhoria na transparência
para escolher um bom candidato”, concluiu. Entre as alterações que valeram a partir das eleições municipais de 2016, também há novidade para a aplicação do Fundo Partidário. A partir de outubro desse ano, pelo menos 5% do fundo tem que ser investido em programas de incentivo à participação da mulher na política. Sobre essa mudança, a estudante de nutrição Carol Souza, 20, comemorou: “já era de se esperar que as mulheres ganhassem maior incentivo e representatividade na política. As lutas
Talvez eles pensem em planejar melhor suas campanhas com conteúdo sensato e propostas importantes para a população Rafael, 29 feministas são necessárias para conquistas como essa”. Outro eleitor entrevistado, Rodrigo Garcia, 22 anos, estudante de jornalismo, afirmou
AS 10 CIDADES COM MAIOR TETO PARA A DISPUTA PARA PREFEITO SÃO PAULO
R$ 45,4 milhões R$ 26,6 milhões
BELO HORIZONTE
R$ 19,8 milhões
RIO DE JANEIRO
R$ 14,6 milhões
SALVADOR
R$ 12,4 milhões
FORTALEZA
R$ 9,5 milhões
CURITIBA CUIABÁ
R$ 9 milhões
MANAUS
R$ 8,9 milhões
CAMPO GRANDE
R$ 6,6 milhões
RECIFE
R$ 6,6 milhões
gostar de política e que sempre procura notícias sobre o tema: “acredito que a redução no tempo de campanha trará benefícios, inclusive pelos carros de som utilizados, que muitas vezes atrapalham o rendimento de algumas pessoas que estão em casa realizando outras atividades”. Apesar do anúncio sobre a nova legislação ter sido intensa no primeiro semestre de 2016, muitos eleitores não sabiam das mudanças. O desconhecimento sobre as novas regras políticas revela, talvez, uma necessidade de maior ação informativa sobre o tema, principalmente em período eleitoral. Diante do contexto político em que se encontra o Brasil atualmente, é essencial que mudanças como essas sejam continuamente divulgadas. As redes sociais têm propiciado aos candidatos maior possibilidades de expor suas propostas (exceto através de postagens patrocinadas, que são proibidas). E, aos eleitores, a chance de imergir em debates e rodas de conversa, que podem esclarecer opiniões e tirar dúvidas sobre questões eleitorais. Além disso, o site do Tribunal Superior Eleitoral disponibiliza, por meio de planilhas separadas por município e cargo, a conferência de gastos de cada candidato para sua campanha.
eleitoral no rádio e na TV Diminuiu de 45 para 35 dias. Propaganda na TV No primeiro turno das eleições municipais foram 2 blocos de 10 min cada, para candidatos a prefeito. Eram 80 min de inserções por dia, sendo 60% para prefeitos e 40% para vereadores, com duração de 30 seg a 1 min. Punição por rejeição de contas de campanha ou não prestação de contas O partido passou a não mais ser punido, somente o candidato poderia ter o registro suspenso. Gasto de campanha de prefeito em município com até 10 mil habitantes Até R$ 100 mil. Propaganda “cinematográfica” Não poderiam ser usados efeitos especiais, montagens, computação gráfica, edições e desenhos animados. Participação de debate eleitoral na TV Somente era obrigado o convite a candidato de partido com mais de nove representantes na Câmara.
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Contigência Meta de redução de consumo alerta fortalezenses Apesar da medida, a possibilidade de racionamento na cidade ainda não é descartada: açude Castanhão está com menos de 8% da sua capacidade total REPORTAGEM Carlos Holanda | Suelen Medonça FOTOS Suelen Mendonça DESIGN Guilherme Magalhães
A
Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) classifica a atual seca como uma das piores já registradas no Ceará – a mais grave desde 1910, segundo o site da instituição. “Os açudes estão com os níveis baixando a cada dia. É uma situação preocupante”, afirma Guto Castro, 34, assessor de comunicação da Funceme. Na busca por alternativas ao quinto ano consecutivo de estiagem, a Cagece alterou, em 18 de setembro para Fortaleza e 19 de setembro para a Região Metropolitana, a meta da redução de consumo de 10% para 20%. A assessora de comunicação da Cagece, Mara Beatriz, 26, explica que a decisão do aumento foi uma das ações do Plano de Segurança Hídrica da Região Metropolitana de Fortaleza, que visa garantir reservas de água até a próxima quadra chuvosa.
Racionamento Apesar da medida, a possibilidade de haver racionamento não é descartada. Mara informa que o açude Castanhão “está com menos de 8% da capacidade total de armazenamento. O governo do Estado tem enviado todos os esforços para que o racionamento seja evitado. Mas a população precisa fazer sua parte”, afirmou a assessora. A alteração na tarifa e a possibilidade do racionamento despertam preocupação nos
De fevereiro a maio de 2016, choveu 329 milímetros, abaixo da média histórica de 600 mm
clientes. Geraldo Alves, 37, se diz receoso com a probabilidade de a medida entrar em vigor. O dono de mercadinho confessa que os cuidados que vem tomando são por causa das possíveis multas. “Por isso deixo sempre minha família atenta aos desperdícios. Mas fica difícil ter um controle do quanto já gastamos ou se já passou do limite permitido”, relatou o microempresário. Alves também externou insatisfação com a Cagece. Ele afirma que em nenhum momento foi avisado da medida
Os açudes estão com níveis baixando a cada dia. É uma situação preocupante Guto Castro, 34 pela empresa e que se informou ao ver uma matéria sobre o assunto. Para além do aumento da meta da tarifa de contingência, o Plano de Segurança Hídrica
da Região Metropolitana de Fortaleza está desenvolvendo outras estratégias. Entre as outras ações que estão sendo tomadas, segundo destacou a assesora, estão: o reforço no combate às perdas de água; a perfuração de poços em equipamentos públicos e áreas críticas de abastecimento; o aproveitamento do sistema hídrico do Cauípe; o reúso das águas de lavagem dos filtros da Estação de Tratamento de Água do Gavião; a perfuração de poços no Pecém e a
redução da oferta de água em 20% para indústrias da Região Metropolitana. A Funceme ainda não tem previsão para 2017. A projeção de condições de neutralidade na temperatura de superfície do Oceano Pacífico Equatorial torna difícil um parecer precoce. “Devemos divulgar somente em janeiro a previsão da quadra chuvosa do ano que vem”, afirma Castro. “Além da projeção de Pacífico com Neutralidade, ainda é cedo para analisarmos o Oceano Atlântico”, acrescentou.
Seca atinge Serra de Guaramiranga e deixa moradores preocupados O ano de 2016 está sendo um dos mais críticos no que diz respeito à falta de chuva. O problema já alcança quase todo o Estado e também atinge regiões serranas, lugares que normalmente costumam ter água em abundância. Em Guaramiranga, conhecida por seu clima frio, os agricultores estão passando por dificuldades porque a seca está prejudicando suas plantações e, consequentemente, afetando financeiramente comerciantes e toda a população. “Não choveu e sem água não vai para frente. Eu não posso fazer muita coisa”.O
desabafo é do agricultor José Lino, 70, morador da serra de Guaramiranga. Ele afirma que a região nordestina já é propícia a essas possíveis secas, mas em sua cidade isso é muito raro, tanto que ainda está surpreso com o quanto tem sido prejudicado. Segundo ele, boa parte de sua plantação de feijão e milho não chegou nem a nascer; e a produção de legumes, vegetais, verduras e frutos foi reduzida pela metade. O agricultor tenta manter os alimentos que conseguiram brotar, regando pelo menos duas vezes ao dia. Ele diz ter esperança que as coisas
melhorem. Seu Lino ressalta que a ultima vez que viu uma seca na serra foi entre 1981 e 1985, quando ele e muitos moradores locais passaram por dificuldades com a ausência de água, como a morte de animais e carência de alimentos em toda a região. Outros agricultores das redondezas enfrentam a mesma dificuldade e lamentam não poder reverter a situação. Um exemplo é Raimundo Chagas, 50, dono de um comércio no centro da cidade. Ele revela que foi preciso aumentar o preço de alguns alimentos para não ter tantos prejuízos.
Nunca tinha passado por uma situação assim devido à falta de chuva. Raimundo Chagas, 50 Agora Chagas tem que buscar fornecedores fora da cidade, pois em Guaramiranga atualmente não há demanda. Ele trabalha como comerciante há 20 anos e nunca havia passado por uma situação assim por falta de chuva. Acostumado a ver as plantações sempre
fartas, e verdes, se diz preocupado com a situação. A dona de casa Aline Barbosa, 34, por sua vez, admitiu estar preocupada com o preço dos produtos. Ela disse q ue se o valor dos legumes e frutos continuar subindo, não comprará mais e substituirá por alimentos mais baratos. Como ultima alternativa, pensa em se deslocar de sua cidade para adquirir os produtos em outro local com preço mais acessível. Para ela, o pior da seca é ter que conviver com o calor durante o dia, pois os moradores da região não estão adaptados a temperaturas elevadas nem mesmo no verão.
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Enem 2016 Candidatos usam formas interativas para estudar Às vésperas do 8° ano do Exame Nacional do Ensino Médio, alunos deixam a pressão das salas de aula para e optam por usar a mobilidade da internet REPORTAGEM Danielber Noronha FOTOS | DESIGN Erika Chagas
O
s dias 5 e 6 de novembro, segundo o MEC, serão decisivos para cerca de 8,6 milhões de inscritos no Enem 2016. Nos dois dias, o início das provas é mesmo: 13h30, horário de Brasília. O primeiro dia de prova dura 4 horas e 30 minutos e o segundo, 5 horas e 30 minutos. Ao todo são 10 horas que os candidatos têm para se dedicar às 180 questões do exame, e à redação, que continua valendo metade da prova. A avaliação é uma das principais formas dos brasileiros ingressarem no ensino superior. Com a aproximação do exame, há quem prefira manter a calma e parar os estudos, como é o caso do estudante Erik Abreu, 17, que já tem um cronograma: “descansar, procurar dormir direito e se alimentar bem para não gerar problemas”. Mas sempre tem aqueles que não conseguem parar de estudar e, para continuar na ativa, preferem buscar outras formas mais lúdicas de estudo como, por exemplo, as videoaulas e os aplicativos para smartphones. As aulas são encontradas facilmente na plataforma digital do YouTube. Elas são postadas em formatos de vídeos com conteúdo sobre disciplinas da
escola, e auxiliam o aluno na aprendizagem. Links que abordam assuntos desde as leis da física até teoremas complexos de matemática são disponibilizados na internet. As aulas podem ser acessadas gratuitamente, basta ter um aparelho eletrônico com acesso à internet e o usuário já pode estudar e relembrar assuntos de forma resumida e direta.
Com videoaulas o aluno pode estudar a qualquer horário de acordo com suas necessidades e sem sair de casa Guilherme Rosa, 23 O professor Guilherme Rosa, 23, que tem o canal “Matemática em Exercício”, desde 2011, posta vídeos ensinando e tirando dúvidas de milhares de internautas. Ele aponta alguns benefícios deste método, “com videoaulas o aluno pode estudar a qualquer horário de acordo com suas necessidades e sem sair
de casa. Elas democratizam o acesso ao conhecimento. Uma aula disponibilizada na internet alcança milhões de pessoas que podem ter acesso a um ensino de qualidade”. A estudante de Engenharia Civil, Bárbara Tomaz, 19, estudou por conta própria por seis meses. Segundo ela, “as videoaulas ajudam a fixar o conteúdo, principalmente de fórmulas necessárias para responder questões das provas”. O professor Guilherme usa um método um pouco inusitado para fazer seus espectadores decorarem tais fórmulas. Ele cria paródias de músicas conhecidas, como por exemplo a da música “Na Batida”, da cantora Anitta. Outra forma ainda mais interativa de estudo são os aplicativos para smartphones. Criados para quem busca conhecimento na palma da mão, basta fazer o download e os programas podem ser acessados em qualquer lugar. Bárbara também usou este artificio para aprender. “Muitas vezes usei o aplicativo do G1 para estudar durante o meu trajeto até chegar em casa, quando estava no ônibus”, disse a estudante. O professor Guilherme faz um alerta, “só devemos tomar
Lia estuda com as amigas, fazendo uso do celular
8,6 mi
de inscritos no Enem 2016 cuidado com a qualidade do conteúdo, pois a oferta é cada vez maior”. Isso se faz necessário porque existe uma grande quantidade de conteúdo disponível na internet. É preciso saber a credibilidade das informações. Isso vale para uma videoaula, aplicativo ou uma pesquisa em um site de busca.
D I CAS PA RA OS D I AS D O E XA M E • Verificar o local de prova com antecedência para evitar transtornos. • Chegar uma hora antes. • Levar caneta esferográfica na cor preta, fabricada em material transparente. • Portar documento orginal com foto. • Levar lanche e água • Desligar o celular antes da prova • Se precisar ir ao banheiro peça orientação ao fiscal.
A garra e o sonho de cursar medicina
Lia usa módulos das edições passadas e do celular pra se atualizar
Lia Alves Coelho, 19, sonha cursar medicina. A estudante estuda há quase quatro anos fazendo cursinho intensivo. O foco dela tem sido o mesmo desde os 16 anos: obter uma boa pontuação no Enem e ingressar no curso desejado. Lia tem o apoio da família, e principalmente dos pais que a motivam para que siga em frente. Hoje, ao avaliar os últimos três anos, Lia afirma que cometeu um grande erro. Estudou somente as matérias que gostava, como Biologia e História, deixando de lado a Matemática. Essa disciplina sempre foi seu ponto fraco, mas ela sabe que tem um grande peso na prova do Enem, podendo ser decisiva para entrar na “briga”, expressão usada pela jovem. No auge de sua adolescência, Lia teve que abrir mão de várias atividades para seguir seu sonho. Feriados, finais de
semanas, namoro, as amizades e até os cultos foram deixados de lado por conta da rotina puxada. Ela sai da aula meio-dia, almoça e depois começa a estudar por volta de 13h30 e vai até às 21h00, totalizando mais de oito horas diárias de estudo. “Não deixo buracos no meu dia, sempre que vou almoçar levo questões de matemática para resolver ou um livro de história para ler enquanto como”, revelou Lia.
O medo é muito constante, fico com os nervos à flor da pele Lia Alves Coelho, 19 “O medo é muito constante, fico com os nervos à flor da pele”, é como a estudante admite se sentir antes mesmo
dos simulados e das provas se que aproximam. Lia sofre uma pressão interna muito grande para não baixar as notas dos testes que faz no cursinho. Para driblar o nervosismo, ela tem a ajuda do psicólogo que auxilia os alunos da escola, Paulo Passos, 44: “Damos o suporte para os alunos acreditarem no potencial deles e darem o melhor de si, sempre olhando para frente”. Lia já pensou em desistir de Medicina e cursar Enfermagem. Porém tem convicção que se fizer isso, vai se arrepender e querer voltar atrás, tendo em vista que as dificuldades no futuro serão bem maiores. Ela tem como exemplo a mãe, Lina Alves, professora do Núcleo Infantil da UFC. “Vejo minha mãe feliz e realizada na profissão que escolheu, e sei que só serei assim se fizer Medicina”, falou emocionada.
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Aprender Inglês Grupo de conversação: espaço de experiência e amigos Encontros gratuitos em locais alternativos são oportunidades baratas e eficientes de compartilhar habilidades e manter vocabulário variado na língua REPORTAGEM Jessyka Moura FOTOS Roberta Linhares DESIGN Camilla Rodrigues | Lucas Macêdo
Q
uando o assunto é aprender ou praticar um segundo idioma, a ideia mais recorrente é que as pessoas busquem cursos nas escolas convencionais. Mas o que talvez muitos ainda não saibam, é que existem algumas formas alternativas para melhorar as habilidades em um novo idioma: uma delas é um grupo de conversação. Esse novo tipo de oportunidade é ideal para quem busca adquirir fluência e compartilhar experiências. Foi dentro desse conceito que Virgílio Ximenes, 24, começou a participar de um grupo de conversação. Recémformado em Administração de Empresas, em novembro Virgílio embarca para Austrália por um ano, em busca de novas experiências, troca de cultura e conhecimento avançado na língua inglesa. “Recebi o convite para participar do grupo pelo meu professor de inglês que, inclusive, é o fundador do grupo. Está sendo muito bom, pois estou praticando e melhorando meu inglês antes de viajar”, explica ele. Cheio de expectativas para a viagem, Virgilio diz que o grupo de inglês foi de fundamental importância para o seu crescimento pessoal e profissional. Proporcionou novos relacionamentos, aprimorou o inglês e compartilhou experiências. “Me senti acolhido pelo pessoal mesmo com meu nível básico de inglês. Eu conseguia conversar e, quando errava, alguém corrigia”, relatou ele.
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pessoas é a média do grupo por reunião Um ano de conversas O grupo de conversação que Virgílio participa foi criado em outubro de 2015 por Sávio Meireles, 34, professor de inglês e tradutor. Durante alguns anos morando no exterior, ele participou de grupos nesse mesmo estilo na Austrália e na Espanha. Quando retornou à Fortaleza, decidiu criar o “Speak up - English as a
English as a Second Language realiza encontros para promover o intercâmbio cultural
Second Language“, com o objetivo de promover a prática do idioma na cidade, construir relacionamentos e fazer amigos.
Me senti acolhido pelo pessoal mesmo com meu nível básico de inglês Virgílio Ximenes, 24 Os encontros acontecem uma vez por semana, às terças-feiras, em lugares diferentes para tornar a experiência mais dinâmica e variada. A média é de 15 pessoas por reunião. A participação é gratuita e o consumo facultativo nos locais escolhidos para o encontro. Pessoas de diferentes níveis de inglês participam do grupo, do básico ao avançado. Há também a presença de estrageiros, abrindo espaço para o compartilhamento de cultura. Isso permite a troca de habilidades. Esse formato de aprendizagem, por sua vez, acaba levando vantagem sobre as escolas convencionais de idiomas, onde os programas de estudos, na sua maioria, são caros e longos.
Diferencial A rede de relacionamentos de Sávio cresceu bastante desde a criação do grupo. “Ás vezes penso que foi uma decisão egoísta criar esse grupo, pois acabo sendo o maior beneficiado”, relata Sávio. Há alguns anos, o inglês era um privilégio de poucos, hoje, é uma necessidade de todos. Falar um segundo idioma torna as pessoas mais abertas e com capacidade de enxergar o mundo através de outras perspectivas. O conhecimento com desenvoltura de uma segunda língua também é um diferencial no currículo que garante ao candidato melhores oportunidades de emprego. “Dominar um segundo idioma é como ter um super poder que pode ser utilizado em situações onde outras pessoas, normalmente, não poderiam”, afirma Sávio.
S E RV I ÇO English as a Second Language Sávio Meireles Lemos Email: saviomeireles@gmail. com www.saviomeireles.com.br Dias e horários das reuniões: Terças-feiras às 19h
Entrei na história Eu conheci o Sávio em dezembro de 2015, através de amigos em comum no Facebook. Nós conversamos, comentei com ele que tinha planos de fazer intercâmbio e precisava melhorar o inglês. Recebi, então, o convite para participar do grupo de conversação. Comecei a frequentar as reuniões em fevereiro. No meu primeiro encontro havia umas 10 pessoas. Fui bem recebida pela turma. São pessoas tranquilas, divertidas, de idades variadas e com experiências diferentes. O que me deixou mais tranquila é que eles não se importam com os erros: o importante é ajudar uns aos outros. O objetivo é exatamente fazer a ponte para a troca de experiências, aprender por meio da visão de outras pessoas e fazer amizades. Para mim, praticar um segundo idioma dessa forma tem mais aspectos positivos do que negativos. O fato de ser aberto ao público e gratuito abre mais possibilidades às pessoas que não têm condições de pagar um curso convencional. Os encontros em ambientes diferentes se tornam mais legais, porque saímos da rotina aprendizado acontecer sempre no mesmo
Jessyka Moura
lugar. A presença de nativos estrangeiros no grupo também é vantagem, pois ajuda a manter a prática na língua de forma mais definida. É gratificante perceber um resultado positivo como consequência de participar do grupo. Adquiri conhecimento com pessoas que tiveram vivências diferentes, perdi o medo de falar – mesmo que pronunciando errado -, conheci pessoas e construí amizades. Participar do grupo é uma experiência incrível.
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Solidariedade Estilista cearense lança ajuda para crianças na África O projeto Dresses for Africa tem a meta inicial de enviar mil vestidos para Pemba, em Moçambique, confeccionados a partir de doações de tecidos REPORTAGEM | FOTOS Pedro Brito | Carina Barreira DESIGN Carina Barreira
C
om um modelo básico de vestido infantil na cabeça e a sua experiência como missionária pelo continente africano, a estilista Talita Pinheiro, 34, tem articulado uma rede de mobilização profissional em torno do Dresses for Africa (Vestidos para a África). “Inicialmente temos o objetivo de levar mil vestidos em maio de 2017, uma vez que no dia 1 de junho é celebrado o dia das crianças em Pemba, Moçambique, local de destino das peças”, explica. O projeto concebido por ela é todo viabilizado por meio de doações. Empresas da área de confecção forneceram alguns tecidos, e os recursos financeiros recebidos estão sendo direcionados para a mão de obra de costureiras que estão desempregadas.
Voluntariado O trabalho, no entanto, está só no começo. O levantamento
Ali (em Pemba) há uma real necessidade de tudo Talita Pinheiro, 34 atual dá conta de 230 vestidos cortados e em processo de distribuição para costura. A ideia surgiu a partir de uma viagem de 20 dias que a estilista fez a Moçambique em 2014. “Trabalhei voluntariamente todos os dias com cerca de 800 crianças que vivem em estado de completa miséria, sem saber se sobreviveriam até o dia seguinte e tive minha vida e valores transformados”, disse. Talita reconhece que aqui mesmo no Ceará, “nosso quintal”, os desafios e desigualdades são urgentes. Ela, que também participa do Projeto Mais Sertão e atende a comunidades
Talita criou marca para divulgar campanha
sertanejas locais, revela que o impacto foi grande ao se deparar com o nível extremo de carência daquela região do continente africano. “Ali há uma real necessidade de tudo”, acrescenta.
Força simbólica Segundo levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, as crianças constituem 52% da população total de Moçambique
e uma em cada quatro, com idade entre 15 e 19, é vítima de violência física. O risco é três vezes maior entre as meninas. O país tem uma das maiores taxas de casamento prematuro do mundo. Metade das garotas menores de 18 anos são casadas, situação que as coloca vulneráveis ao abuso sexual, abandono escolar, gravidez precoce e alto índice de morte para mãe e bebê.
Para Talita, há uma força simbólica no projeto diante de um cenário onde a violência contra as crianças e mulheres é um problema generalizado: “O projeto visa não somente abranger a parte física de vestir essas crianças, mas de dizer que tem alguém que se preocupa e se importa, que seus corpos devem ser protegidos, que não aceitamos essa invasão à inocência delas. E esse alguém é Deus.”
S E RV I ÇO : Interessados em contribuir com doação de tecidos, mão de obra para confeccionar os vestidos ou ajuda financeira para o projeto, podem entrar em contato através dos e-mails: tatazinhapin@hotmail.com ou dresses4africa@hotmail.com
Crise ONGs atingidas pela redução do volume de doações Queda de 30% nas contribuições de pessoas físicas e jurídicas abala as organizações, que buscam maneiras de se reinventar por conta do cenário REPORTAGEM | FOTOS Juliane Cavalcante DESIGN Lucas Macêdo
A
s doações para organizações não governamentais – ONGs caíram em torno de 30% nos últimos meses, em relação ao mesmo período do ano passado. Esta tem sido a percepção de empresas de telemarketing, que fazem captação de doações via telefone. Maria Goreth, 47, proprietária de um telemarketing beneficente, relata que para enfrentar as dificuldades é preciso estar se reinventado a todo o momento. “Estamos sempre buscando maneiras de convencer os doadores sobre a real situação das instituições, mostrando a eles que a causa para a qual dinheiro está sendo arrecadado vale realmente a pena, independente do valor.” Como uma das estratégias para driblar esse momento de crise, ela sugere convidar o doador para conhecer as ONGs. Por meio da percepção visual, no próprio local, das dificuldades enfrentadas e das demandas, fica mais fácil convencer os
A proposta da Casa de Nazaré é realizar atividades que tragam longevidade
possíveis doadores de que, por mais difícil que esteja a situação econômica do país, a contribuição é fundamental para quem recebe. O telemarketing coordenado pela Maria Goreth contribui
para o sustento de diferentes ONGs. Através dele é feito todo o trabalho de busca ativa, por meio de ligações telefônicas para a casa de possíveis doadores, explicando o papel social de cada instituição. Ela destaca que tem
“públicos diferenciados de doadores, já que trabalhamos com instituições de diversos perfis, o que é um fator positivo para esse momento de crise. Mesmo assim é notória a dificuldade das operadoras de telemarketing em conseguir doações atualmente. Já no ano passado, ao ligar para as pessoas, tínhamos uma aceitação bem maior”. Apesar da redução devido ao aperto de contas dos brasileiros, para alívio das ONGs, ainda tem gente que faz questão de doar. É o caso da aposentada Marlene Pinho, 62, doadora há mais de cinco anos para a Casa de Nazaré. “É uma questão humanitária, de espírito de fraternidade e o que mais for. Se nos colocarmos na situação das pessoas que estão lá, com certeza o número de doações seria bem maior.” Dona Marlene faz questão de reservar um tempo para separar roupas que não servem mais para ela, mas que podem ser úteis para
outras pessoas. Ela faz visitas de rotina na instituição. A Casa de Nazaré é uma das ONGs que recebem apoio do telemarketing beneficente. Localizada no bairro Montese, acolhe cerca de 45 idosas carentes. Irmã Vilaneide, 64, coordenadora do abrigo, afirma que a principal necessidade da instituição, atualmente, é ter um convênio que permita contratar profissionais de enfermagem para cuidar dos idosos acamados. “Queremos fazer o melhor para os abrigados. Eles já consideram nosso abrigo como um pedacinho do céu.”
S E RV I ÇO Casa de Nazaré Rua Padre João Piamarta, 465 Montese, Fortaleza-CE Telefone: (85) 3494.6164 casadenazarefc@gmail.com
8 Papiro | 10 de dezembro de 2016
Marketing digital Praticidade e rapidez da divulgação nas redes sociais Lojas virtuais e físicas buscam se atualizar nas formas de se destacar, usando Instagram e Facebook para conquistar a variação de público da Internet REPORTAGEM Camilla Rodrigues | Igor Thawen FOTOS Junior Pinheiro (Acervo Iguatemi) DESIGN Igor Thawen
N
os tempos onde “likes”, comentários e compartilhamentos tomaram grande proporção, não há como negar a força das mídias sociais. Além do aumento das lojas virtuais, empresas já atuantes no mercado há anos também perceberam a importância de se manter presentes em plataformas digitais. Uma publicidade produtiva na Internet, hoje, pode ser mais eficiente e econômica que em outros meios. Tudo depende da linguagem que é usada. A marca AJ T-shirts, de Ana Júlia Pereira Cunha, 20, estudante de publicidade, só existe no virtual e já passa dos 19 mil seguidores no Instagram. Ela explica que conquistou esse número seguindo perfis que encontrou a partir de marcações de clientes usando suas camisas, almofadas, canecas e fazendo sorteios em sua conta. A iniciativa de criar a loja, em 2013, veio do seu talento para estampar e criar as estampas exclusivas. Começando com um site, ela percebeu o crescimento das redes sociais e
migrou para elas. A estudante trabalha atualmente sozinha e, além dos pontos de entrega na cidade, ainda conta com serviço de envio para todo o país.
Temos como aliado a tecnologia, portanto as pessoas estão gostando do que está acontecendo na palma da mão, é automático Francisco Barbosa, 29 A facilidade que a divulgação por essas mídias traz, tem conquistado usuários de empresas ou lojas que vendem produtos e serviços. Uma marca que não se atualiza em rede, não acompanha o mercado. Hoje, o ideal é procurar estar presente no meio online e dar suporte ao cliente, pois a exigência é maior.
O FastFood funciona no Iguatemi e no Shopping Del Paseo
A marca Aj-tshirts tem parceria com o Ilustrador Flávio Wetten
Para Francisco Barbosa, 29, gerente do Restaurante Buongustaio Fast Food Fortaleza, o lado positivo de usar as redes para divulgar a empresa é a rapidez e a acessibilidade dos aplicativos.“Estando com o smartphone na mão, automaticamente lançamos na rede social alguma oferta e todas as pessoas que conseguem ver, já vão compartilhando; isso é global”, acrescentou. Os benefícios que a web traz para o crescimento e reconhecimento de uma marca são essenciais para quem deseja abrir seu negócio online ou físico. Contudo, a Internet é uma via de mão dupla, e pode trazer visão negativa à marca, pois o cliente passa a tornar-se ativo nesses meios, pela facilidade de retorno e critica que as redes sociais trazem aos consumidores.
O diferencial É comum que a maioria dos negócios, hoje, tenham suas contas no Facebook e Instagram. As duas empresas procuram colocar no mercado produtos e serviços exclusivos que possam diferenciar da concorrência. De acordo com o gerente Francisco Barbosa, o ideal é inovar. “Afinal, em todos os segmentos devemos ter algo atrativo, de boa aparência. Quando a empresa já tem certo crédito no mercado, é necessário aprimorar. Já em relação aos que estão buscando essa credibilidade, acredito que o trabalho seja dobrado, no sentido do marketing digital.” A dificuldade está em trazer novidade para essas páginas, o que pode ocasionar diversos casos de plágio. Ana Júlia explica que já passou por esse desconforto e isso pode
ser resultado da falta de conhecimento sobre os programas de criação dessas espaços virtuais e de cuidado com a ilustração dos produtos.
S E RV I ÇO : AJ T-shirtsw WhatsApp: (85) 99686.6265 www.ajtshirts.com.br Envio para todo o Brasil @ajtshirts Buongustaio Fortaleza DELIVERY Shopping Iguatemi – 2° piso (85) 3241.0676 Shopping Del Paseo – 3° piso (85) 3047.3111 www. buongustaiofortaleza.com.br @buongustaiofastfoodce
Número de seguidores chama atenção de empresas para o negócio O alto alcance de seguidores conquistado por Ana Lia Malveira, 24, e Arthur de Moraes, 21, fez com que empresários visem seus perfis como forma de anunciar marcas e evidenciar produtos. Na divulgação, as postagens seguem o estilo adotado por cada um em sua conta, para que não se torne uma forma agressiva de propaganda. Além da instantaneidade para atingir o público, a web é mais acessível financeiramente e cômoda para quem precisa veicular uma publicidade.
Eles possuem em comum dois aspectos: modelam e cursam jornalismo. Buscam usar da sua imagem para mostrar o que há de tendência no mundo da moda, publicando fotos em que usam coleções de roupas e colocando o nome da loja em destaque com marcações feutas na rede. Ana Lia explica que seu trabalho como modelo fez com que as empresas pedissem que ela compartilhasse o resultado da sessão de fotos na Internet. Já o modelo cita a identificação das lojas
com o estilo adotado por ele no perfil, alimentando sempre o Instagram sempre com conteúdo relacionado à moda. A forma adotada por esses jovens influenciadores cearenses de propagar está cada vez mais comum. Quem acompanha as celebridades já presenciou esse estilo de propaganda. De acordo com o portal Pure People, a atriz e modelo Bruna Marquezine , 21, cobra cerca de 30 mil reais para postar uma imagem no Instagram. Lia Malveira passa dos 5 mil seguidores
30 mil
seguidores é o total de pessoas que Ana Lia e Arthur atraem juntos no Instagram na rede, já o futuro jornalista, Arthur de Moraes, chega à marca de 25 mil internautas que acompanham seu trabalho online.
Ambos veem esse trabalho como algo profissional e acreditam que, com o passar do tempo, essa tendência só cresça. As redes sociais se tornaram um grande e eficaz comércio de comunicação. A Internet, desde o início, trabalhou também com o poder de divulgação e o surgimento das mídias sociais seguiu na mesma direção. Os números de seguidores tendem a crescer cada dia mais, valorizando o perfil de quem trabalha na web com o marketing digital.
10 de dezembro de 2016 | Papiro 9
Mercado Cesta básica do fortalezense registra variação histórica Cidade está entre as que tiveram maior aumento de preço nos itens alimentícios. Valor dos produtos apresenta variações entre capital e interior REPORTAGEM | FOTOS Davy Andrade | Rodrigo Garcia DESIGN Lucas Macêdo
F
ortaleza ocupa a segunda posição entre as capitais do Nordeste onde o preço dos principais alimentos está mais elevado. A cidade registrou, ainda, inflação de 1,67%, segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio Econômicos (Dieese). A cesta básica vem sendo utilizada, nos últimos anos, como um termômetro na economia.
Fica mais caro para o cliente comer fora, então ele compra aqui e come em casa, porque nos restaurantes ficou mais caro também Neci Nascimento, 30 A capital do Ceará apresentou uma variação anual de 2,53% em relação às cestas básicas. Em julho deste ano, os números registraram um aumento histórico, o maior valor desde 1986, com alta de 4,29%. A atual situação econômica
Vendas em supermercados continuam altas apesar da inflação
preocupa os consumidores assalariados, como é o caso de João Paulo, 27, que desabafa: “hoje está difícil de fazer as nossas compras, né? Mas o que a gente pode fazer? A necessidade fala mais alto e nos obriga se virar ”. A cesta básica é constituída por 12 alimentos consumidos no nosso cotidiano, dentre esses itens, os responsáveis pela inflação são feijão (16,82%), tomate (11,28%), farinha (7,33%) e leite (5,97%). O aumento de
Preços de produtos da cesta básica apresentam grande variação
preço dos produtos ocorreu em 22 das 27 capitais do Brasil, e uma das justificativas é a questão dos problemas climáticos que os principais produtores enfrentaram, resultando no prejuízo das safras. Enquanto o consumidor se ressente dos preços, as consequências parecem não ter sido prejudiciais para as empresas de supermercados. A gerente de caixas do Pão de Açúcar da avenida Washington Soares, Neci Nascimento, 30, explica:
“ultimamente as vendas não diminuíram. Os caixas estão sempre movimentados, porque fica mais caro para o cliente comer fora. Então ele compra aqui e come em casa, porque nos restaurantes ficou mais caro também”. A alta nos preços dos produtos tem feito com que o consumidor que tem acesso mais fácil a algumas cidades do interior do estado faça uma comparação de preço. Muitos constatam elevada diferença nos preços. O feijão, por exemplo, tem variação considerável. A marca “Kicaldo” pode chegar a custar R$ 2,00 reais a mais, comparando com os preços cobrados nos supermercados de Fortaleza com os do supermercado Compre Certo, de Pacatuba, distante 33,7 km da capital. No supermercado de Pacatuba, o café tradicional custa R$ 4,69, enquanto na capital, no Pão de Açúcar, pode chegar a R$ 6,55. A economia é pauta do cotidiano da maioria, queira ou não. Para economizar, o consumidor deve ficar atento às mudanças frequentes no mercado, bem como para as possibilidades que são oferecidas, como as promoções. Uma crise financeira, quando se instala, acaba atingindo não só os que ganham o salário mínimo ou os que sequer têm carteira assinada, mas também os que têm negócios, porque menos dinheiro passa a circular no mercado.
O VALOR DO FEIJÃO O Brasil é o segundo maior produtor de feijão, ficando atrás apenas da Índia. Mas, em 2016, o brasileiro vem enfrentando dificuldades para comprar feijão. O alimento tipicamente nacional sofreu inflação e o consumidor, acostumado com a sua refeição tradicional à mesa, teve que se esforçar: gastou mais que o habitual para garantir seu consumo rotineiro. Como fatores preponderantes para o aumento do preço do alimento, estão a alta demanda em relação à oferta do produto; questões econômicas, como a situação do preço mínimo do feijão não ter sofrido reajuste no ano anterior; e uma maior expectativa de produção de milho e soja. Outro quesito que contribui para a alta no alimento é o transtorno climático do “El Niño”, que atingiu locais essenciais para o plantio. O Ceará, por exemplo, vem amargando durante esse tempo a seca sofrida pela Bahia, uma das principais produtoras de feijão que atende ao mercado cearense.
10 Papiro | 10 de dezembro de 2016
Turismo Agências de viagem oferecem promoções na crise Alta do dólar aumenta procura por descontos que garantam as férias de fim de ano: empresas oferecem pacotes para destinos nacionais e internacionais REPORTAGEM | FOTOS | DESIGN Jéssica Castro
C
om a chegada do fim de ano, muitos brasileiros que pretendem viajar para passar férias ou até visitar um parente que mora em outra cidade, já começam a ficar preocupados com as despesas. A crise econômica que afetou o país nos últimos meses tem atingido o bolso da população. Para facilitar a vida dos consumidores, as agências de viagens procuram reverter a crise criando promoções para hotéis, viagens nacionais e internacionais, além de parcelar as compras em até dez vezes sem juros, no boleto ou no cartão. Cristiane Ferreira, 41, socióloga, adora viajar, principalmente para o exterior. Ela fez sua primeira viagem para fora do Brasil em 2008, já tendo conhecido Orlando, nos Estados Unidos, e Portugal. Já viajou para fazer turismo também no Brasil, quando conheceu Salvador e Gramado. “Adoro
nos últimos meses.Assim, a procura por viagens para outros países caiu. Com isso, os brasileiros estão à procura de destinos nacionais.
Estratégia
Cristiane e seu esposo em sua última viagem internacional
conhecer lugares novos, quero explorar o Brasil inteiro, mas adoro ir aos Estados Unidos com meu esposo e amigos. Este ano tive que me programar bastante para conseguir o melhor preço, pois o dólar aumentou muito”, diz. No ano passado, a socióloga afirma que conseguiu uma
quantidade de dinheiro maior do que em relação a este ano. “Em 2015, consegui levar oito mil dólares, mas esse ano, só conseguir juntar em torno de seis mil”, relata. O preço da passagem aérea para viajar para o exterior é cotado em dólar, e a moeda americana subiu bastante
Levantamento feito em duas agências de viagens, Fix Turismo e Ventos, e a Yzzer. com, mostra que os períodos mais procurados pelos clientes para viajar são os meses de férias e o carnaval. De acordo com as agências, os destinos nacionais preferidos são: Porto de Galinhas, Morro de São Paulo (Salvador), Rio de Janeiro e São Paulo. Já os internacionais são: Cancun, Orlando, Lisboa, Uruguai e Argentina. A estratégia que as agências estão usando para superar a crise, e colaborar para que o cliente consiga viajar, é negociar com as operadoras e as companhias aéreas, ofertando pacotes aéreos nacionais e internacionais. “Nós,
da equipe Fix, sentimos muito a crise e, com isso, tivemos que trabalhar muito, mesmo ganhando pouco”, explica Flora Cavalcante, 29, sócia da empresa.
Esse ano, só consegui juntar em torno de seis mil Cristiane Ferreira, 41 Já a agência de viagens Yzzer.com optou por montar pacotes aéreos e terrestres e flexibilizar datas para o cliente de acordo com a variação de preços. “Normalmente, quem define as promoções são as companhias aéreas. Negociamos com elas para trechos específicos com tarifas abaixo do mercado e possuímos um atendimento personalizado online e off-line”, diz Victor Simpson, 31, sócio da Yzzer.
10 de dezembro de 2016 | Papiro 11
Duplicidade Maranguape, com seus dois padroeiros, divide fiéis Santidades e festejos em dobro, e uma religiosidade acentuada, geram controvérsias na população, que fica indecisa sobre o patrono da cidade REPORTAGEM | FOTOS Ana Karolina Saldanha | Dyego Viana DESIGN Igor Thawen
D
ois santos protagonizam o azul venceu, somando uma a disputa popular pelo arrecadação de R$ 28 mil, entítulo de padroeiro de quanto o partido vermelho arMaranguape. As comemorações recadou R$ 17 mil. Segundo o e festividades em homenagem a padre Arildo, o dinheiro arreseus dois protetores fazem parcadado será utilizado para as te da cultura do município, loreformas da igreja visando ao calizado na região metropolitaaniversário de 170 anos da pana de Fortaleza, e se dividem em róquia, que acontece em 2019. torno da devoção aos ícones católicos. Em janeiro, tambores e pandeiros rompem com o silêncio da noite. “Senhor dono da casa, São Sebastião vem visitar. Vem pedir uma esmola, para uma missa celebrar”, cantam os participantes do tradicional reisado. Já em setembro, o céu Maria Aracinilda, 58 ganha um colorido novo: são os fogos de artifícios em homenagem à Nossa Senhora da Penha. Para o fiel Vitor Conde, 23, Neste segundo semestre, no do partido azul, Maranguape dia 8 de setembro, a cidade se possui vários padroeiros, enfragmentou mais uma vez para tretanto, a fé católica permicomemorar o dia da santa pa- Paróquia de Nossa Senhora da Penha, onde festejos dos dois padroeiros são realizados te eleger os patronos pessoais. droeira. De um lado, o parti“Considero os dois como padrodo azul dos devotos de Nossa barracas de comida, shows e O pároco Arildo Castro, o partido azul, representan- eiros, porém mais fortemente Senhora da Penha, que percor- bazares são algumas das ativi- 48, representante da paró- do Nossa Senhora da Penha. Nossa Senhora da Penha, pois reram as ruas em procissão. Do dades que movimentam a festa. quia de Maranguape, expli- Eles competem uma disputa é nela que sinto mais fervor”, outro lado, o vermelho, estam- Sobre a curiosidade de ter uma ca como são organizadas as cristã, onde vão tentar não so- relata. Já Ana Paula, 32, devopado em camisas e bandeiras, dupla de padroeiros, a coordena- festividades. “Ao todo par- mente animar todas as noites ta de São Sebastião, diz que só representando os fiéis a São dora do Ministério da Eucaristia, ticipam 22 comunidades e de festejos, como também ar- tomou conhecimento da “rivaSebastião, que também partici- Maria Aracinilda, 58, brinca: aproximadamente 50 pasto- recadar dinheiro para as des- lidade” quando foi convidada a param das festividades. “muita gente fala que a nossa ci- rais. Dividimos em dois gru- pesas da paróquia”. Ao fim participar dos festejos pelo gruAs comemorações são orga- dade é a mais abençoada, por ter pos, o partido vermelho, que das comemorações é divulga- po vermelho. Antes, só reconhenizadas pela paróquia. Leilões, dois santos nos protegendo”. representa São Sebastião, e do o grupo vencedor. Este ano cia a santa como protetora.
A nossa cidade é muito abençoada por ter dois santos protegendo
As duas versões da história Segundo os estudos presentes no artigo “Valei-me, São Sebastião: A Epidemia de Cólera Morbo na Vila Maranguape”, desenvolvido pelo pesquisador Dhenis Maciel, 30, a história dos dois padroeiros da cidade está ligada à epidemia de cólera que atingiu o munícipio e ao seu desenvolvimento econômico no século passado. Não se sabe ao certo a data de construção da primeira igreja do município. A localização foi em “Alto da Vila”, hoje conhecido como “Outra Banda”. Com a elevação a Vila, em 1851, Maranguape deixou de ser um povoado ligado a Fortaleza. Foi então determinada a construção de uma matriz. O fato gerou bastante discussão, pois os fazendeiros e forças influentes à época, na comunidade, não permitiram que a igreja fosse construída na parte
mais antiga e menos abastada da cidade. A matriz foi então erguida na localidade de maior desenvolvimento econômico, o Centro. As discussões e controvérsias sobre questões religiosas não param por aí. De acordo com o pesquisador, anteriormente à construção da igreja matriz, os movimentos ficam concentrados em torno da capela do “Alto da Vila”, que tinha como padroeiro São Sebastião, protetor contra a fome, guerras e doenças. Junto com a construção da nova igreja no Centro, foi determinada também uma nova padroeira, Nossa Senhora da Penha, considerada pelos católicos como a rainha dos céus e da terra. O estudo indica que, em 1862, 11 anos após receber o título de vila, a cólera espalhou-se entre os moradores. O mal da peste atingiu todas
Devotos de São Sebastião e integrantes do partido vermelho
as classes, ricos e pobres, coronéis e escravos. Todos se viram encurralados pela doença. Perante a mazela, o povo clamava por um protetor. Acreditava-se que a peste fosse castigo, culpa de
políticos e fazendeiros que realizavam as mudanças religiosas no lugar. O clamor em torno do antigo padroeiro pareceu surtir efeito: um ano depois a cólera cessou, deixando 2.850 vítimas.
Na cidade há quem considere os dois santos como padroeiros, mas, segundo a Igreja, a história não é bem assim. Oficialmente, o munícipio possui um único padroeiro: Nossa Senhora da Penha. O título dado a São Sebastião é o de co-padroeiro, não menos importante ou menos adorado. É o que explica o padre Arildo Castro: “a padroeira de fato é Nossa Senhora da Penha, tanto que ela traz o nome da paróquia. São Sebastião entrou como uma devoção muito forte e foi considerado até pelo próprio povo como co-padroeiro. Então a gente conserva as duas festas, mas de fato se você for perguntar quem é o padroeiro da paróquia de Maranguape, é Nossa Senhora da Penha”. Ainda assim, o povo maranguapense não abre mão da sua fé pelos dois padroeiros.
12 Papiro | 10 de dezembro de 2016
Quadrinhos Mercado dos Pinhões movimenta venda de fanzines Artistas independentes, que enfrentam dificuldades para publicar seus produtos, aproveitam eventos geeks para mostrar suas criações REPORTAGEM Izabel dos Santos | Victoria Franco FOTOS Victoria Franco DESIGN Lucas Macêdo
Feiras como a do Porto Iracema das Artes são oportunidades para lançar zines
A
cena cultural para os artistas de quadrinhos cearenses vai registrar, no próximo mês de novembro, uma oportunidade de espaço para vendas de trabalhos e troca de experiências, principalmente para quem se dedica a fazer fanzines. É a IV edição da feira Mercado de Quadrinhos, que acontece dia 19, das 17 às 21 horas. O evento é uma realização da Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal da Cultura. A quadrinista novata Ana Clara Gadelha, 20, está ansiosa para que a data chegue logo. Ela pretende aproveitar e vender sua zine “O fundo além da rede”. Ana Clara destaca que o ambiente que se instala nesses eventos é importante para “observar a produção regional, conhecer outros artistas e produtores de quadrinhos. É algo que não tem preço”. Os quadrinistas brasileiros sempre enfrentaram dificuldades na divulgação dos seus trabalhos e na busca por reconhecimento. Eles apontam a falta de interesse das editoras para investir em obras que não garantem retorno financeiro. Para artistas de Fortaleza, onde o mercado geek tem crescido bastante, as feiras de
quadrinhos são a melhor opção para vender os trabalhos. A que acontece no Mercado dos Pinhões é bimensal, e conta com a participação de roteiristas, ilustradores e designers do mercado cearense.
Observar a produção regional, conhecer outros artistas e produtores de quadrinhos. É algo que não tem preço
O processo para criação dos quadrinhos O nascer de uma história em quadrinho, até chegar às mãos dos admiradores e consumidores da arte, requer talento, criatividade, tempo e organização. Conheça como é feito o passo-a-passo até a impressão e divulgação de acordo com o professor do Porto Iracema das Artes, Pedro Arruda Brandão. Começa pelo roteiro que é a narração da história. Da mesma forma que roteiros de teatro e cinema, descreve o que ocorre, como é o cenário, os personagens e suas falas, usando referências externas se necessário, e servindo de
guia para os ilustradores. O desenho é que mais chama atenção no quadrinho. ele segue a descrição do roteiro para dar forma aos personagens e à história. A arte final é, como o próprio nome diz, a finalização do desenho, corrigindo ou melhorando detalhes que o desenhista tenha deixado inacabados. Também se adiciona sombras e efeitos luminosos. A colorização das ilustrações é um dos processos finais. No caso de quadrinhos em preto e branco, essa etapa é pulada ou reduzida a administrar os tons de cinza e preto
Ana Clara, 20 Grandes eventos anuais ou semestrais como Sana e Geek Expo também possuem áreas para venda de zines. “Conversando com gente que quer viver de quadrinhos desde os anos 80, eu sempre ouvi falar que o mercado ‘tá melhorando”, diz o quadrinista e organizador de feiras, Pedro Arruda Brandão, 26. A boa notícia é que ele admite que o mercado está melhorando e espera “que continue assim para sempre”.
O quadrinista João Gabriel assinando uma de suas obras
no lugar de todas as cores. O letramento é adição de balões e falas contidas neles. A posição desses é importante para não cobrir o rosto de nenhum personagem ou parte importante do cenário. E a publicação, a etapa mais difícil é disponibilizar o quadrinho para o público. Graças à Internet, é possível lançar obras on-line, mas para aqueles que gostam do papel, é um pouco mais complicado. Precisa ter dinheiro para imprimir nas gráficas e vender de forma independente, porque editoras raramente aceitam trabalhos de desconhecidos.
10 de dezembro de 2016 | Papiro 13
Futebol Torcidas organizadas cobram maior poder de decisão Para a logística, são feitos estudos realizados pela PM, mas ainda há o encontro entre torcedores rivais, resultando em vários em confrontos pela cidade. REPORTAGEM Deusdedit Neto | Italo Falcão FOTOS Camila de Almeida (O POVO) DESIGN Ítalo Falcão | Deusdedit Neto
H
á 17 anos no comando de uma das maiores torcidas organizadas de futebol no Ceará, Chagas Roques, 34, tem uma opinião firme quando o assunto é a proibição de grupos uniformizados de torcedores nos estádios. O puxador da Torcida Organizada Cearamor afirma que os órgãos responsáveis pelas estratégias de segurança nos jogos de futebol, deveriam era dar mais poder de decisão à direção das organizadas. As uniformizadas estão proibidas de entrar nos estádios desde abril deste ano, e, até o momento, ainda esperam novo posicionamento para que possam voltar a participar dos jogos. Ele explica que nas reuniões que antecedem os clássicos, as entidades apenas comunicam o que será feito, sem sequer perguntar a opinião dos torcedores. “O que acontece é imposição de ordens. Eles marcam uma reunião com os presidentes das torcidas, comparecemos na intenção de propor ideias, mas não perguntam nossa opinião a respeito das decisões a serem tomadas.”, desabafou. A proibição de as uniformizadas frequentarem os estádios é lamentada mesmo pelos torcedores que se sentem seguros como inseguros nos estádios. Duas irmãs, de
times diferentes, têm opiniões parecidas sobre o tema. Thairine da Silva, 25, diz que o papel que esse segmento de torcida exerce é de suma importância para o futebol. Ela fala que, quando vai ao estádio, se sente segura e alega que a proibição não é a responsável por isso: “Acho que a torcida organizada é importante para o time porque aumenta a renda. Além disso, a animação no estádio é feita por ela. Compõe músicas e movimenta os torcedores. Na maioria dos jogos vou sozinha e não me sinto insegura. É bem verdade que tem alguns maus elementos vestidos de torcedores, mas acho que essa parte quem deve fiscalizar é o policiamento”.
Torcida organizada do ceará, Cearamor, em ação em jogo do clube
As laranjas podres continuarão indo aos estádios, com outras camisas
um pouco. Já presenciei algumas brigas entre eles, e sei que ficam irracionais quando estão se confrontando. Assemelha-se muito com o que vemos em filmes. Mas confesso que sem elas, o jogo perde a graça. Fica murcho e sem vida”, disse Thalini.
Fábio Pizzato, 35
Necessidade
A estudante de enfermagem Thalini Araújo, 23, admite que a presença da torcida organizada lhe intimida, mas diz que, sem ela, o jogo fica desanimado. “A presença das organizadas me amedronta
Para o jornalista especializado em esportes, Fabio Pizzato, 35, a decisão de extinguir as organizadas dos estádios é um passo drástico e triste, porém necessário. Ele cobra melhor intervenção do estado para os casos
de violência. “A extinção das torcidas organizadas não é a única solução, pode ser um passo, drástico e triste, mas necessário. Infelizmente, tem uma parte que vai para brigar. Penso que deveria existir uma grande investigação, pois, mesmo sem existir a camisa da torcida da organizada, as mesmas laranjas podres continuarão indo aos estádios, com outras camisas”, comentou o jornalista. Quando perguntada sobre a falta de diálogo com as torcidas organizadas, uma fonte da Polícia Militar do Ceará, que
pediu para não ser identificada, disse que a alegação não tem fundamento. A mesma fonte observou que, nos dias que antecedem os clássicos, é feita uma reunião com as partes, a fim de expor ideias e não para saber o posicionamento da torcida a respeito do que foi debatido. “A alegação do torcedor não tem fundamento. São feitos vários estudos a respeito da segurança no entorno do estádio e é com base neles que determinamos o efetivo que será disponibilizado e o deslocamento de cada torcida”, finalizou o PM.
O novo papel do público feminino nos estádios A quantidade de mulheres que vem frequentando os estádios de futebol cresce cada vez mais todo ano. Cada vez mais é possível ver a paixão das torcedoras por seus clubes de coração. No estado do Ceará, os dois principais clubes têm em seus planos de sócio torcedor, pacotes que abordam especialmente o publico feminino, incentivando cada vez mais a presença das mulheres nos estádios. Para a estudante universitária Jessica Lopes, 19, um dos fatores que mais contribuem para a inserção das mulheres nos estádios é a segurança. “Ir ao estádio é um dos meus programas favoritos. Hoje me sinto mais segura, pois podemos ver uma grande quantidade de
policiais prevenindo algum tipo de sinistro e, além disso, os estádios possuem câmeras de segurança, o que auxilia o trabalho realizado nas arquibancadas”, disse a universitária.
Preconceito
Torcedoras do Fortaleza marcando presença no estádio
Contudo, segundo a estudante, ainda há muito preconceito com as mulheres, algo que, para ela, entristece, mas não desestimula sua ida aos estádios. “Infelizmente, ainda vejo muito preconceito relacionado a nós, mulheres. Os homens acham que não entendemos nada de futebol. Porém, isso não é verdade. Sabemos de tudo e, muitas vezes, até mais do que alguns homens. As pessoas precisam entender que, os estádios podem
acolher todos os públicos, e lugar de mulher é aonde ela quiser”, explicou Jéssica. A professora de natação, Mykaelle Pinheiro, 25, lembra a importância dos clubes nesse processo. De acordo com ela, a presença do público feminino depende também da política de inclusão das agremiações, fazendo promoções, investindo nos programas de sócio torcedor e incentivando as mulheres a irem aos estádios. “Fico feliz em saber que as diretorias dos times valorizam as mulheres. O nosso acesso é muito facilitado. Os clubes sempre fazem promoções de ingressos especiais para que o público feminino vá cada vez mais aos jogos”, afirmou Mykaelle.
14 Papiro | 10 de dezembro de 2016
Saúde Robótica revoluciona método de cirurgia bariátrica Avanço na medicina traz novo procedimento cirúrgico que facilita a vida de profissionais e melhora a recuperação de pacientes REPORTAGEM Victor Mendes |Gabriel Rodrigues DESIGN Victor Mendes | Mariana Amorim sem causar desgastes nas articulações dos braços e da coluna.”, acrescenta o médico.
Psicologia e nutrição
O procedimento traz benefícios antes, durante e após a cirúrgica (Reprodução)
A
obesidade é uma doença que afeta grande parte da população mundial. E a tendência é de crescimento, por conta das comidas processadas e fast foods. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 1980 e 2013, a proporção de adultos obesos no mundo subiu de 28,8% para 36,9% entre os homens, e de 29,8% para 38% entre as mulheres. A solução para esse problema é emagrecer, porém nem todos conseguem alcançar a perda de peso ideal e partem para a cirurgia de redução de peso. Um dos métodos
utilizados é a bariátrica robótica, que revolucionou tanto o método da cirurgia abdominal, como em benefícios ao paciente. “No ambiente das cirurgias bariátricas existem três tipos: a cirurgia convencional (a chamamos de aberta), a vídeo laparoscópica (daí vem o conceito de cirurgia minimamente invasiva, porque só fazemos alguns furos) e a terceira é a laparoscópica robótica. Ela não veio para substituir o metodo tradicional, mas sim complementar”, declara o cirurgião Luiz Moura, 60, coordenador do Núcleo do Obeso do Ceará.
A robótica veio para ficar e ajudar a ciência, não só a medicina Luiz Moura, 76 Com o avanço na tecnologia, os benefícios ao paciente progrediram, uma vez que passou a ser feita por pequenos orifícios, tornando-a mais segura e rápida, devido à diminuição da perda sanguínea durante o procedimento.
Há também redução da dor no pós-operatório e complicações como hérnias e aderências. O diferencial da robótica são os instrumentos avançados que utiliza. Em comparação a vídeo laparoscópica a visão é bidimensional, e com o robô a visão é tridimensional. O instrumento cirúrgico proporciona movimentos amplos e precisos em 360 graus. “Com a participação do novo instrumento as vantagens não foram só para o paciente, houve uma otimização no trabalho para o cirurgião, agora ele opera de forma confortável, sentado,
Para que possa se submeter à cirurgia, o paciente deve passar por consultas psicológicas. Entre as abordagens, estão perguntas sobre como a obesidade foi vivenciada, a história de vida, como os parentes se comportam com relação a isso, se houve dependência química, alimentar ou de álcool. “É necessário as consultas para a gente saber se esse paciente está psicologicamente pronto para o processo cirúrgico, ou se ele só procura por apenas questões de beleza. Por isso, devemos mostrar que o intuito da cirurgia não é a beleza e sim a qualidade de vida”, afirmou a psicóloga Karine Borges, 39. Esse tipo de cirurgia não é indicado para pessoas que têm uma ideia fantasiosa sobre a intervenção. Também não é recomendada para quem nunca passou por um tratamento para redução de peso, não tem uma disposição de mudança e não demonstra um comportamento de adaptabilidade, pois a pessoa vai ter que conviver com hábitos antigos confrontando novos hábitos. Outro ponto de análise prévia é a nutrição. “O paciente só estará apto a fazer a cirurgia se estiver com o Índice de Massa Corporal (IMC), maior ou igual a 40, ou se tiver com o índice corporal entre 35 e 39.9, com alguma doença como diabetes, pressão alta e gordura no fígado”, afirmou o nutricionista Osmar Nascimento, 34. O paciente deve, antes mesmo de fazer a cirurgia, começar a reeducação alimentar e atividades físicas para baixar o peso até alcançar o ideal. É um passo importante no processo de preparação para a cirurgia.
O antes e depois de um paciente operado pela tecnologia de “robôs” O analista de sistemas Cláudio Augusto Justa Barroso, 50, se submeteu à cirurgia robótica com foco na gastroplastia (operação que diminui o tamanho do estômago). Mas, antes, foi submetido a uma série de exames para saber se seria necessário ou não passar pela cirurgia. Nem sempre as pessoas buscam esse tipo de método para redução de peso, a qualidade de vida almejada é
também um fator determinante. Barroso menciona que o principal motivo de sua mudança de vida foi por conta da diabetes e da resistência a insulina. Tomava doses altas de insulina de manhã e à noite, e o organismo não respondia de forma adequada. Entre as possíveis consequências, ele poderia ter problemas renais, perda da visão ou até o óbito. O analista decidiu se consultar com
Claudio pós cirurgia (Facebook)
o médico Rodrigo Babadopulos, e resolveu apostar na cirurgia com o objetivo de tentar controlar a diabetes. E deu certo. “Foi um pós-operatório que até me surpreendeu, porque normalmente a gente tende a sentir um pouco de medo, de dor. Para dizer que eu não senti dor, senti leves pontadas, até pela forma como você se movimenta, de forma errada, no início. Mas dor,
realmente, não senti”, afirma o analista de sistemas. Para quem está procurando reduzir peso, é necessário analisar se a operação robótica é a melhor opção. Existe também a possibilidade de uma reeducação alimentar, consultando médicos e nutricionistas. “Se precisar, faça a cirurgia, porque ela é segura e tem resultados bastante positivos”, diz Claudio Barroso.
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Os PíCaRoS e o caos da alegria
Com uma característica hipócrita, o Pícaro é um personagem-tipo que nasceu dos romances e novelas da Espanha do século XIX e traz consigo a astúcia, um espírito descarado e aventureiro, que rasteja entre uma classe social e outra. TEXTO | FOTOS Gabriel Barbosa DESIGN Mauro Braga
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O primeiro passo do coletivo de artistas Os Pícaros Incorrigíveis é dado em 2011, com o convite do Banco do Nordeste para apresentar O boteco do seu Noel, espetáculo em comemoração ao centenário do compositor Noel Rosa. Compartilhando de mesmas ideias, o coletivo se sustentou e decidiu que a partir dali os trabalhos deveriam continuar. Com o desejo de liberdade e por relações mais verdadeiras, o grupo acredita que uma maneira mais libertária de ver as pessoas e o mundo, reverbera em tudo ao nosso redor. Nos nossos corpos, nas nossas relações e questionamentos e no teatro em si. O olho no olho e o pé de igualdade que as ruas possibilitam nos faz aproximar do outro e nos leva a participar da vida ativa de Fortaleza e de qualquer cidade. E
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são delas que os Pícaros fogem do clichê e espalham a alegria e a diversidade nas apresentações por toda a cidade. O objetivo por trás dessas vivências é ganhar as praças, como um bloco de carnaval, tomando o enfretamento com os ditames do poder para falar de liberdade. Não importa quem seja, todos podem participar da folia teatral e dessa horizontalidade que Fortaleza tanto carece. E são com todas as pessoas que os Pícaros lançam um olhar de que a cidade é feita por gente e para gente. O espetáculo Devorando Heróis estreou nas praças João Gentil e Gentilândia. São tipos de espaços públicos em que a liberdade, o respeito e, sobretudo, a diversidade deveriam ser respeitadas com mais frequência. Aliás, em todas as praças da cidade. Num começo de noite de
uma quinta-feira, pessoas vão chegando à praça para assistir ao espetáculo e, sem cerimônia, começam a dar um jeitinho para se acomodar. É o momento de deixar de lado a correria e o estresse do cotidiano e se deixar levar pela onda carnavalesca dos Pícaros. A história que mescla a tragédia com o carnaval envolve duas importantes figuras da mitologia grega: Ajax e Prometeus. Este último, responsável por roubar o fogo de Héstia (Deusa Virgem do Lar) e o entregar para os humanos. O fogo de Héstia seria para os humanos, uma forma de deixá-los mais poderosos, tanto quanto os seus deuses. Essa ideia despertou a ira de Zeus, deus poderoso e também irmão de Héstia. Ao ser castigado, Prometeus tem o seu fígado dilacerado dias após dia por uma águia,
Vivemos em uma cidade com muitos déficits, seja na educação ou na cultura Junior Barreira
representada pela atriz Paula Yemanjá. Rico de força e habilidade, Ajax tem sua fama graças à sua luta lendária na Guerra de Tróia. Recusava-se a se curvar para Atena, deusa da sabedoria e das artes, e, assim como Prometeus também foi lhe reservado um castigo. O destino dramático reservado para esses dois ídolos gregos levantou o questionamento do coletivo sobre o que é ser herói e como é construída essa ideia no ser humano. Ser herói é ultrapassar os limites do poder. Será que nós estamos ultrapassando esses limites? O ator Murilo Ramos lembra que o Devorando Heróis é, acima de tudo, um exercício de liberdade onde atores, músicos, circenses, saltimbancos experimentam do desbunde como oposição á realidade imposta. A busca dos Pícaros pela horizontalidade e o de despertar em todas as pessoas o pertencimento com a cidade se
mistura a outros movimentos artísticos de rua. Quebrando as barreiras impostas pelo poder público e a própria sociedade, o coletivo já desenvolveu trabalhos no Pirambu, junto com os ‘Dez graças’ (grupo de palhaços), nos bairros Siqueira, Serrinha e Vicente Pinzón. Os movimentos de rua que, aos poucos, espalham a arte por Fortaleza vêm mostrando resistência a uma realidade que enfraquece o potencial artístico da cultura local. A elitização da arte e cultura da cidade, que privilegia somente o que acontece em áreas já conhecidas e algumas até segmentadas. O outro aspecto questionado é o pouco incentivo e valorização do poder público pelos movimentos de rua, teatros e outros aparelhos culturais. “Vivemos em uma cidade com muitos déficits, seja na educação ou na cultura”, finaliza o ator Junior Barreira. u
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Nos passos da
ARTE A fuga da mesmice é possível. Basta apenas observar para mais adiante, exercer uma visão mais profunda e achar beleza onde o dito interesse público não chega. Que o diga a Companhia Vidança REPÓRTER | FOTOS Adailson Silva DESIGN Mauro Braga
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Sobe ao palco, respira, ouve primeiramente o som do pulsar do coração, que acelera e faz a adrenalina subir. É o momento de tomar para si um silêncio momentâneo, que se vai aos poucos. Na medida em que se aproxima e ouve o público, ouve a música, o sangue ferve e jorra algo lindo de cada movimento natural: arte, cultura, plasticidade e, mais do que isso, histórias de vida que dançam ao som de música clássica ou maracatu tocado em tambores. Quem disse que da periferia não sai arte? Ou até, que arte é para as elites? Chamem essa pessoa que falou tal absurdo para conhecer a Companhia Vidança. Uma prova de que todos podem ser artistas, sendo crianças, jovens, adultos
ou idosos. Nascida do desejo de compartilhar a experiência obtida por meio da arte, a Cia. Vidança foi fundada pela bailarina e professora de dança Anália Timbó. Ela aprendeu a dançar na escola clássica do SESI (Serviço Social da Indústria) e assim desenvolveu sua veia artística. O bairro Vila Velha, em Fortaleza, é o maior contemplado com as atividades da associação, onde fica localizada a sede. As crianças a partir de sete anos podem se matricular na escola para aprenderem balé clássico, danças dramáticas, dança criativa, alongamento, consciência corporal, criações viso-manuais, criações literárias, capoeira, hip-hop, percussão e carpintaria. Para Ana Luiza Sobral, uma
das secretárias do projeto, ensinar arte ajuda a combater um estado ocioso que é perigoso para os jovens e crianças do bairro. Hoje, o projeto conta com cerca de 200 matriculados. Todas essas oficinas fazem parte do programa “Escola de artes e ofícios Vidança”, que já agregou valores à vida de algumas pessoas que são colaboradores e professores do projeto. Personagens como dona Miriam, que trabalha integralmente costurando e produzindo artisticamente, os figurinos feitos de retalhos do Vidança, têm em sua história mais que um vínculo empregatício, possuem um laço que se estende à família, especificamente às duas filhas.
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Cultura em família
Carregando a tradicional profissão do bairro Vila Velha, a costureira Miriam de Araújo é a principal responsável pelo “Retalhos da Vida”, projeto que foi pensado como forma de unir a Cia. Vidança às tradições do local onde atua. Por meio do contato profissional, a figurinista resolveu matricular a filha dela, de 7 anos, na escola de artes, atitude que daria um rumo à vida profissional de sua pequena, que vive da dança, como professora, até hoje. Foi a filha mais nova, Suzy Gomes de Araújo, no entanto, que teve o relacionamento mais forte com a Companhia.
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Levada pela irmã mais velha, Suzy tentou se engajar na dança, mas logo percebeu que não tinha “gosto para a coisa” e acabou assumindo a função de auxiliar na secretaria. Sendo depois secretária efetiva do projeto, viajando em todos os espetáculos junto ao grupo, indo do Rio de Janeiro à Paraíba. Tendo passado de 2005 a 2013 ajudando no Vidança, Suzy “esteve de férias por três anos”, como ela mesmo relata. Desde sua volta, em março de 2016, diz estar pagando os pecados, em tom de brincadeira, por agora ter que aguentar tantas crianças. Atualmente, são cerca de 200 pessoas atendidas pelo projeto, de acordo com os dados de matriculados, sendo a maioria o público infanto-juvenil. Com o filho Eduardo, de 8 anos, a Tia Suzy, como também é chamada pelas crianças, entende a importância da arte e da cultura para as pessoas do bairro, com a preocupação também
de mãe. “A criança entra aqui muitas vezes falando muito palavrão e vê que não é assim que tem que ser. Não muda do dia para a noite, mas vai mudando aos poucos”, é o que diz Suzy, ao citar também que tem medo das amizades e más influências ao seu filho e que, por isso, prefere ele ali, tendo contado com arte, cultura e boas amizades.
é o número aproximado de pessoas matriculadas atualmente no Vidança. “Não muda do dia para a noite, mas vai mudando aos poucos” Suzy Araújo
Passos unidos ao som
Em meio aos movimentos duramente ensaiados e coreografados, ouve-se um som forte, um que não se conforma em pairar no ar, ele se expande e toma mais que seus ouvidos. Ouve-se o som de taróis, alfaias, surdos e repique que, simultaneamente, reproduzem o som do talento das mãos, que dão vida à expressão musical do Coco e do Maracatu, levando quem presencia a ser tomado por sensações indescritíveis. É a mostra de mais uma vertente artística que funciona harmoniosamente com a dança, seja clássica ou dramática, é o “Tambatuque do Vidança”. Um projeto que une arte ao ofício, pois além do aprendizado sobre como tocar os instrumentos percussivos, há também o ensinamento de como produzi-los, dando a possibilidade de que se pegue gosto pela marcenaria, e quem sabe abrir espaço para um grande luthier, profissional que fabrica manualmente instrumentos musicais. Professor Alexandre é o colaborador que leva adiante essa parte da Companhia, e se emociona ao falar que se descobriu na percussão quando entrou no Vidança. Levado pelo irmão mais velho, que antes era professor do Tambatuque e hoje toca em bandas, o tímido professor mostra sua habilidade com baquetas em mãos e conduzindo meninos e meninas a entrarem de cabeça naquela que é considerada uma das mais belas artes, a música.
Entre os inúmeros projetos da Companhia de Artes Vidança se observa mais do que arte. Dança, percussão, costura, marcenaria, tudo isso precisa de um meio para se propagar e ganhar forma, precisa de pessoas. Histórias de vida são contadas por intermédio da arte, cada artista tem uma narrativa própria e traz consigo uma verdade que independe da idade que têm, de onde mora ou de suas raízes sociais. Não é apenas uma escola, o Vidança é, para quem o conhece, uma oportunidade de fazer da vida uma bela arte. u
SERVIÇO Avenida L, nº 402, Conjunto Nova Assunção - Vila Velha - Fortaleza, CE E-mail: vidanca@vidanca.org Site: http://www.vidanca.org.br/ Telefone: (85) 3262-7599
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Corpos
POETIZADOS Sem cerimônias e só com a vontade de expressar o que sentem, membros do sarau Corpo Sem Órgãos exercem um papel de mensageiros da arte. A proposta é fazer arte da periferia, pela periferia e para ela própria REPÓRTER | FOTOS Rafael Lima DESIGN Mauro Braga
Sarau para quem for de qualquer lugar ver. Distante do berço da intelectualidade alencarina, no Conjunto Ceará, há um reunião artística que se pauta pelo corpo único e pela transformação da arte da periferia em um movimento. A história do grupo literário Corpo Sem Órgãos passa pelos atos do escritor Renato Pessoa, 30, e do ator e teatrólogo Jams Willame, 33. O primeiro começou a escrever na adolescência, aos treze anos, fazendo revistas em quadrinhos. E foi na poesia do francês Arthur Rimbaud que começou a compor os primeiros versos. “No início, minha preocupação era
com a letra, com o verbo e isso aconteceu no momento em que li Rimbaud”. Já para Jams Willame, o advento do contato com a arte veio sob a influência da mãe “Minha mãe deu o caminho com as trilhas dos Beatles, Cazuza, Legião Urbana e depois falou pra eu seguir minha vida. E foi o que eu fiz”. O grupo nasceu de um encontro que já existia entre amigos, os quais são amantes profundos da arte. Faltava, porém, uma articulação mais organizada. Foi da casa de Jams Willame, junto com Renato e outros amigos, que o sarau surgiu.
O nome do encontro é um conceito embasado pelo filósofo francês Gilles Deleuze, que se estabelece uma arte onde não há limite prospectado, ou seja, não há fronteiras. “Essas fronteiras que se enquadram na poesia, na arte, literatura, é isso que nos alimenta. Existe um agregado total onde há o rompimento de fronteiras”, ressalta Pessoa. Reforçando definição de Corpo Sem Órgãos, o ator e teatrólogo relata que há uma preparação peculiar na véspera do evento. “No dia do sarau, a casa deixa de ser minha, abrindo espaço para quem quiser entrar, estando à vontade para
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interpretar no sentido artístico, formando o corpo, ou seja, a casa é o corpo sem órgãos”. É interessante que, no espaço do sarau, na casa de Jams, encontram-se inúmeras frases escritas na parede, cartazes alusivos a poetas ou da própria autoria de quem escreve. Há livros disponíveis em praticamente todos os cantos da residência. Do lado de fora se pode até prever que seja uma casa comum, mas ao entrar percebem-se os requintes de arte que há no lugar. No encontro, não ocorre somente declamações de poesia. Acontece algo mais abrangente que é o compartilhamento de experiências, no sentido cultural. Ainda mais no Conjunto Ceará onde há o intuito da valorização da periferia, do lugar. No dia dos saraus, a casa muda de ambiente, com luzes e outros recursos para que os membros se sintam cada vez mais parte do momento. Para Jams, a razão deste recurso é fundamental para que haja inspiração na hora das interpretações artísticas. Tem até mesmo um ingrediente que ajuda muito na hora: “pode até faltar poesia, mas o que não falta é vinho para a galera se inspirar”.
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Sempre renovador, o ambiente nunca será o mesmo. “Em cada sarau sempre haverá um tema diferente. Pode ter certeza de que a pessoa que vem pela primeira vez, vai encontrar liberdade de encontro e experimentação poética”, revela o escritor. O sarau não tem roteiro e segue ao critério de quem integra o encontro. A aceitação popular, segundo os organizadores, é boa, embora o interesse seja em pequena escala. Segundo o artista gráfico Daniel Dutra, frequentador do sarau, a convite de Renato Pessoa, falta incentivo por parte do poder público, fato que poderia ajudar numa maior divulgação do sarau. “Além da falta de apoio à cultura, há também certo desinteresse da população pelo assunto. Contam-se nos dedos as pessoas que se interessam, que produzem os e que podemos contar de verdade”. No que se refere ao distanciamento da mídia a grupos de arte da periferia, o teatrólogo ressalta que não há discriminação: “Como estudante de arte há três anos, vejo que a periferia se recolhe muitas vezes, tenta se fazer independente e se esforça em demasia para se chegar à mídia. Fazemos questão de fazer o sarau
na periferia. A arte se fabrica aqui. Não há, portanto, essa preocupação com a explosão midiática”. O discurso de setores da mídia elitista, segundo Renato, é de que não há produção de arte na periferia, e há o compromisso de provar o contrário. Uma das preocupações do grupo é comprovar que o Conjunto Ceará não é isento de cultura autossuficiente.
Nada adianta se apresentar todo arrumadinho, com figurino caro no palco e no fim do espetáculo vai de roupa rasgada pegar o ônibus. Jams Willame Segundo os organizadores, a arte é uma fonte que não se acaba e uma das coisas que fomenta a arte, é inquietude da vida. Há afirmação, todavia, de que não se pode deixar cultivar suas raízes no sentido artístico, até por que, segundo Williame, “quem faz arte para burguês é a galera da periferia, e nada adianta se apresentar todo arrumadinho, com figurino caro no palco e no fim do espetáculo vai de roupa rasgada pegar o ônibus”.
Para o futuro, existe o projeto de escrever um livro de poesias das pessoas integrantes do sarau, dentro da perspectiva da atmosfera do encontro. Além de uma biblioteca fixa, com mais acervo, será uma das grandes realizações do Corpo Sem Órgãos.
Ponto de vista
Existe arte na perifeira. Pode até ser que seja de forma inacessível para público, mas ingredientes como vocação, perseverança e, principalmente, vontade de compartilhar conhecimento realçam a sobrevivência dos saraus como manifestações culturais. Arte se faz com atitude. Afirmo isso com base na conversa que tive com os personagens dessa reportagem. Claramente percebi que não é intuito do sarau colocar-se numa referência do movimento artístico da Periferia de Fortaleza, mas, fornecer conhecimento a população do Conjunto Ceará, no que consiste a acessibilidade. São provocadores por natureza, atraindo curiosos e os membros para inspiração artística ou poética. O Corpo Sem Órgãos tinha um tempo para ser morto. No entanto, ganhou vida, uma dimensão que não lhe pertence mais. Fato que pode diferenciar o sarau dos demais além da qualidade, e a preocupação com a perfeição dos textos, baseado na ideia de a periferia merecer essa qualidade, até porque eles são daquele lugar. u
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