Bem-Estar
Saúde
Novo esporte
K ay o C é s a r
Projeto social oferta Medicina investe Atletas de Paintball aulas gratuitas de yoga e na recuperação querem criar uma meditação pág. 9 de atletas pág. 12 federação no Ceará pág. 14
Número 13
Fortaleza–Ceará • sábado, 28 de abril de 2018
Eleições trazem dúvida sobre presença nas urnas
A possibilidade de que abstenções, votos brancos e nulos somem de 30 a 35% nas eleições de 2018 inquieta estudiosos da política. Enquanto isso, o TRE segue recadastrando eleitores. pág. 3, 4 e 5 Vencendo a crise
Sormando eugênio
Desemprego apresenta queda no Ceará no primeiro semestre de 2018 Apesar da crise na economia do país, o Ceará segue gerando emprego. Os primeiros meses de 2018, de acordo com números divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados, do Ministério do Trabalho, apontam para a oferta de mais de 1 653 vagas
no estado. O setor da indústria de transformação foi o responsável por 4 252 novos empregos. De março de 2017 a fevereiro de 2018, o SINE encaminhou uma média de 425 pessoas por dia para as vagas ofertadas no mercado de trabalho. pág. 06
Comércio na internet
Dia dos Namorados
Dicas de cuidados na web para as compras do dia das mães pág. 7 Paradigmas
Criatividade e ousadia dos casais na escolha de presentes pág. 8 Felipe Oliveir a / arquivo pessoal
Tradição O cenário das festas de São João tem transformado quadras de ginásio e ruas dos municípios cearenses em junho. As quadrilhas juninas, ao mesmo tempo em que incorporam aspectos diferenciados da cultura, como o cangaço, se planejam para não perder a sutileza da realidade do sertanejo. Os festivais estimulam esse equilíbrio. pág 15 Expectativa
Religiões começam a admitir que os seus seguidores tenham tatuagens Apesar de ser uma arte milenar, somente nos últimos anos a tatuagem vem perdendo a associação com a criminalidade. O tabu limitava até a oferta de empregos para pessoas tatuadas. Mas os jovens começaram a questionar o conservadorismo e
conseguiram que a prática fosse aceita por religiões, como a Evangélica. Naftali Nascimento, 28, um dos pastores da nova geração, usa tatuagem e inclusive veste blusa e calção nos cultos, ao invés do tradicional terno e gravata. pág. 10
Copa do mundo reacende ânimo do torcedor pela seleção brasileira A Copa do Mundo 2018, na Rússia, reacende a esperança de que a Seleção Brasileira alcance o esperado hexacampeonato. Há quatro anos, a derrota do Brasil por 7 a 1 para a Alemanha, jogando a semifinal do Mundial no próprio país, mexeu na autoestima do torcedor. A gestão do time, sob o comando de Tite, e os jogadores, segundo especialista, fazem a diferença. pág. 13
M att h e w A s h t o n / C o r b i s S p o rt s v i a Gett y I m a g e s
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Editorial
Fortaleza–Ceará • sábado, 28 de abril de 2018
Papiro
Consolidando conhecimento e prática para a produção de um jornal diário Um dos maiores desafios do universitário é terminar a faculdade e conquistar uma vaga no mercado de trabalho, exercendo funções tão sonhadas por todos os semestres em sala de aula. São pelo menos oito semestres se preparando, estudando, pesquisando, fazendo provas, organizando seminários etc. Tudo para desenvolver habilidades exigidas pelo mercado de trabalho. No curso de Jornalismo os alunos têm várias oportunidade de sentir a pressão do mercado ainda na faculdade. E um desses momentos é durante a realização do Papiro, um jornal no formato de impresso, que é publicado na versão online. Uma oportunidade de o futuro jornalista sentir na pele a importância da escolha da pauta, as dificuldades na execução de uma matéria, a pressão do deadline, enfim, os desafios para a publicação de um informativo. Essa é a grande riqueza do Papiro: transportar os estudantes de Jornalismo, do Centro Universitário 7 de Setembro, às pressões e exigências do ambiente de trabalho. Portanto, deleite – se sobre o Papiro, produto desenvolvido pelos alunos das disciplinas de Projeto Integrado de Jornalismo Impresso e de Design Editorial. Nesta edição, 2018.1, você terá acesso a um amplo cardápio de notícias. Como estamos em ano eleitoral, começamos falando de política,
abordando a história do voto no Brasil, desde o grito de “Diretas já” à indecisão nas eleições deste ano. Outro tema em pauta é o jovem de 16 e 17 anos, que há três décadas conquistou o direito de votar. Mas será que para 2018 ele está empolgado para comparecer nas urnas em outubro? Na economia, além de uma matéria sobre redução no índice de desemprego, o jornal dá dicas para quem decide adquirir algum produto na web. Você sabe como garantir uma compra segura na internet? Já para o dia dos namorados o foco são os presentes, que vão do casual ao criativo. E, em Metrópole, é destacado o trabalho de uma ONG em torno do bem estar da população. 2018 é também ano de Copa do Mundo, assunto explorado nesta edição, que traz reflexão de especialista sobre as seguintes inquietações: o brasileiro acredita na seleção de Tite? Estamos ou não a caminho do Hexa? O Paintball, um novo esporte, busca se organizar em federação; enquanto outra matéria aborda a evolução da medicina desportiva. Na cultura, o Papiro dá espaço para a tradição e a modernidade das festas juninas; além de um debate sobre tatuagem e religião, que indica que essa arte milenar tem ganhado adeptos religiosos. Tudo isso e muito mais você confere nesta primeira edição do ano. Portanto, aproveite o que esses futuros jornalistas prepararam pra você.
Galeria
Sala de Notícias Editar a sua própria matéria junto com o diagramador. Ou, diagramar uma matéria tendo o repórter ao lado. Tanto faz. Duas experiências de jornalismo na prática que marcam a vida de alunos das disciplinas Projeto Integrado de Jornalismo Impresso e Design Editorial, e que acontecem em um mesmo momento: a Sala de Notícias. Professores das duas disciplinas, assim como de Fotografia, além de coordenadores do NPJor e NPJor Design, juntamente com seus monitores, dão o suporte para que a Sala de Notícias seja uma experiência real. O produto que agora você vê, vai constituir o portfólio desses alunos e contribuir na preparação deles para o mercado de trabalho. As fotos desta página mostram olhares e mãos ávidos por um produto de qualidade. Vamos a ele.
“Participar do Papiro foi bastante desafiador e gratificante. Desde a escolha da pauta à diagramação da matéria. E vê-la diagramada fez com que o valor de todo o trabalho realizado durante o processo se manifestasse dentro daquelas linhas” Neyliana Frota, 4.o semestre Jornalismo “O Papiro me deu uma percepção da rotina de um jornal, desde a reunião de pauta, as entrevistas, até o fechamento e correção das matérias. O trabalho em conjunto dos repórteres e diagramadores. Um momento para os alunos se prepararem para o mercado” Matheus Castro, 4.o semestre Jornalismo
Reitor Ednilton Soárez | Vice-Reitor Ednilo Soárez | Pró-Reitor Acadêmico Adelmir Jucá | Pró-Reitor Administrativo Henrique Soárez Coordenador do curso de Jornalismo Dilson Alexandre | Coordenadora do curso de Design Nila Bandeira | Editora Chefe Ana Márcia Diógenes Projeto Gráfico Humberto de Araújo | Direção de Arte Diego Henrique e Lima Junior | Editor do Núcleo de Design Editorial Humberto de Araújo | Estagiários do Núcleo de Design Editorial Julia Havt, Gabriel Weyne e Robson Marques | Editorial Karine Serpa | Colaboraram nesta edição: [Texto] Elioenai Naftali, Ermeson Santiago, Fábio Pinheiro, Gerson Barbosa, Joana Kelli, João Paulo Araújo, Karine Serpa, Mailson Modesto, Matheus Castro, Matheus Nunes, Neyliana Frota, Paulo Victor Targino, Vitória Yngrid [Diagramação] Aristóteles Santos, Arthur Gadelha, Athila Nepomuceno, Cleisla Falcão, Gabriel Weyne, João Ricart, Julia Havt, Lanara Pinheiro, Matheus Barbosa, Neyliana Frota, Robson Marques e Talita Vital.
Papiro
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Política
ELEIÇÕES 2018
Democracia: do grito de Diretas Já à possibilidade de evasão dos eleitores
Os números de votos brancos e nulos aumentaram em 2014 e 2016. Segundo as últimas pesquisas do Instituto Datafolha, de 2017 e 2018, esses números tendem a crescer. Nas eleições de 2016 os números de abstenções e votos brancos e nulos chegaram a cerca de 10,7 milhões no pleito eleitoral gabriel we yne
texto Fábio Pinheiro Diagramação Julia Havt
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Brasil elegerá em outubro de 2018 um novo presidente e os candidatos terão até o dia 5 de agosto para oficializar suas candidaturas. Nas últimas eleições do país, o índice de abstenções e votos brancos e nulos foi elevado, o que torna o cenário político imprevisível. Para 2018, segundo analistas políticos, o quadro permanecerá semelhante. Nas eleições de 2014, 19,4% da população não compareceram às urnas, que em números somam 27 milhões de eleitores. Em 2016, os números de abstenções e votos brancos e nulos chegaram a 32,5%, segundo pesquisa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O instituto de pesquisa Datafolha, em pesquisa em 2018, aponta que o cenário para as eleições deste ano é imprevisível, e que a média será de 30 a 35% de abstenções, votos brancos e nulos em todo o pleito eleitoral brasileiro. O médico, antropólogo e professor Antônio Mourão Cavalcante, 70, diz que os motivos que justificam a ausência do eleitorado brasileiro às urnas são fruto primeiramente do desinteresse das pessoas no tema político e da falta de conhecimento sobre os partidos, os políticos e a real essência da democracia. Segundo ele, isso é peça fundamental para contribuir com o futuro do país.
“As escolhas de governantes comprometidos e o acompanhamento do povo são essenciais” Antônio Mourão Cavalcante, 70 “O voto é uma responsabilidade do brasileiro, que tem demonstrado pouca disposição em conhecer os seus candidatos e a história do seu partido, o que é fácil e possível numa sociedade que tem livre e fácil acesso a internet”, afirma, por sua vez, o professor e cientista político Martônio Mont’Alverne, 55. O professor defende ainda que não cabe à sociedade condenar as más ações dos políticos, sendo que foi ela mesma quem o elegeu. É mais cabível que analise as propostas e participe do futuro do município ou do país, por meio do voto.
Democracia Pouco depois da Ditadura Militar, na metade da década de 1990, a censura ainda estava presente e havia uma forte resistência por parte do governo no tocante à liberdade de expressão. As eleições no Brasil sofriam forte influência do poder do Estado, e a sociedade
convivia com a tensão e o medo constantes. Artigos da época indicam que muitos acreditavam que as eleições eram manipuladas e alterados os resultados dos votos. Ainda assim, apontam os cientistas, os brasileiros votavam e lutavam por seus direitos. A democracia, ainda que frágil, começava a ser direito da população. Martônio Mont’Alverne destaca que não há alternativa fora da política. “Somente por meio dela, tanto os governantes como os eleitores cumprirão de fato seu papel, onde uns irão governar e servir ao povo, e outros irão fiscalizar e cobrar pelo serviço prestado”. Na mesma perspectiva, Antonio Mourão diz que “o bom governo resulta de uma boa escolha e de uma contínua fiscalização do desempenho e dos resultados”.
Mourão adianta que, para as eleições de 2018, as hipóteses são que o quadro permanecerá o mesmo, e assim será enquanto houver no brasileiro a cultura do comodismo, mesmo que esse comodismo o influencie e o afete diretamente, como é o caso da política e dos serviços que se tornam disponíveis a partir dela. Ele destaca que o primeiro passo acontece por meio da consciência política e boa vontade política, mas que o povo brasileiro precisa muito caminhar para isso. Um panorama ainda negativo e difícil para a questão política é traçado por Martônio. Segundo o professor, assim como o brasileiro precisou lutar para conquistar a democracia, ele precisa ainda hoje avançar muito para conduzi-la e fazer um bom e devido uso dela.
Aposentado parou de votar por descrença O aposentado Raimundo Gonçalves blica que as redes sociais digitais da Silva, 90, morador de Quixadá, tornaram público, já era motivo de interior do Ceará, está descrente indignação do aposentado que aos da política e dos políticos e já não 70 anos, quando alcançou a idade vota há 20 anos. Para o aposentado, máxima do voto obrigatório, abdique ainda é lúcido e consciente das cou do direito de votar. Ele observa idas e vindas da política brasileira, que as pesquisas sobre abstenções não vale a pena gastar o seu tempo de voto hoje apontam que a polífazendo pesquisas ou descobrindo tica faz parte da descrença do povo o passado dos políticos. “Por mais brasileiro. que se entre na política com boas Gonçalves não se arrepende de intenções, são contaminados com ter deixado de votar a tanto tempo. os esquemas de corrupção já bem “O que pensava sobre política há 20 enraizados na cultura política anos me fez parar de votar, e o que brasileira”. vejo sobre política hoje me mostra O desrespeito contra a coisa pú- que estava certo”.
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Política
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Papiro
Desencanto
Após 30 anos da Constituinte, jovens estão indecisos se querem ou não votar
As eleições presidenciais, que acontecem dia 7 de outubro deste ano, estão próximas e trazem à discussão a importância do voto para a democracia e as incertezas diante do cenário político N a l d o D u a rte
O professor Zezé acredita que os jovens não perderam interesse pela política texto Joana Kelli Diagramação Julia Havt
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direito ao voto facultativo para os jovens a partir de 16 anos, no Brasil, foi uma conquista alcançada em 1988, durante a Assembleia Nacional Constituinte. Movimentos sociais e a juventude pressionaram os parlamentares para a aprovação da emenda. Na ocasião, foi lançada a campanha “Se liga, 16”, para sensibilizar a sociedade. Já no ano seguinte, em 1989, os adolescentes puderam ir às urnas e participaram da eleição direta para Presidente, a primeira desde o início da ditadura de 1964. Desde então, podem votar facultativamente os jovens a partir de 16 anos e os idosos a partir de 70 anos.
Três décadas depois, o voto fa- voto ser facultativo interfere na cultativo dos jovens ainda divide atuação dos adolescentes nas urnas. opiniões. Principalmente diante “Interferiu sim, principalmente no do cenário de incertezas políticas, início, quando estes eram ‘crianças’. após a destituição da então presi- Mas, agora, já podem ‘votar’. Isso dá dente Dilma Rousseff, em 2015, que uma impressão boa nos meninos e culminou com o seu impeachment, meninas, um ar meio adulto, sabe em 2016; e a prisão do ex-presidente como é… Mas, aconteceu logo no iníLula, em 2018. Alguns especialistas cio. Depois de umas poucas eleições temem que diminua o número de esses rapazes e moças perderam a jovens votantes. Em termos numé- vontade de ‘acordar’ num feriado ricos, dados do Tribunal Regional pra votar. Assim o voto foi ficando Eleitoral (TRE), do Ceará, indicam para os mais conscientes”. que houve aumento de 0,60% para Medeiros diz que não é exata0,97% em 2016, em relação a 2014, no mente que os jovens tenham pertotal de jovens com 16 anos no Ceará. dido a vontade de votar. “Na verdade, A expectativa agora é para saber se na minha geração também sempre eles realmente vão votar. existiram os contra e os a favor. AsO especialista em educação brasi- sim sempre vamos ver as críticas leira e professor universitário Zezé e voltar para a ideia democrática. Medeiros, 58, acredita que o fato do O ideal é que todos votassem consJoana Kelli
Morando há 10 anos em Fortaleza, Francinete ainda vota em Canindé
cientes. O nosso voto é obrigatório, o que é um instrumento antidemocrático. Sendo obrigatório ou não, ainda é um bom dia pra se ver todos saindo de casa para a ciranda democrática”. Esses jovens eleitores se mostram, no entanto, desencantados com a política atual. É o caso da vendedora, Naiane Sousa, 20. “Tirei o título com 18 anos, mas nem queria. Minha mãe e meu pai me aconselharam e, com essa idade, votar é obrigatório”. Ela se diz interessada na política, porque está sempre prestando atenção em tudo. “É direito nosso, como tem naquela famosa frase ‘seja você a mudança que quer ver no mundo’. Votar é tentar, vamos conhecer melhor os políticos porque somos nós que os colocamos lá”. Opinião semelhante tem a estudante Jenifer Lopes, 18. “Tirei o título com 16 anos e no mesmo ano votei. Atualmente nosso país não vive em uma boa situação. Eu mesma já pensei em votar nulo por falta de opções. Valeria a pena votar se nossos governantes cumprissem
suas promessas”. Ela também comentou que não participa muito da política. “Tenho quase 100% de certeza de que vou votar nulo este ano”. E aconselhou aos jovens, como ela, que conheçam melhor seus direitos, se informem sobre quem está no governo, sobre a política, sobre quem está fazendo o trabalho sujo. Assim, na hora de votar, serão capazes de votar limpo.
“Tirei o título com 18 anos, mas nem queria” Naiane Sousa, 20 Como professor, Zezé Medeiros fez questão de acrescentar: “Não posso me desfazer do voto e da democracia”. Segundo ele gosta de explicar, a melhor forma é votar, discutir propostas e falcatruas, analisar as aparências e as ideias dos candidatos: “assim formamos brasileiros com espaço para votar e a coragem de viver dia após dia”. Ger l i a n e S a l e s
Naiane já realizou o cadastramento biométrico em seu município
Nunca pensei em parar de votar
A aposentada Francinete Alves, 64, tem opinião diferente da maioria dos jovens. Mesmo não sendo obrigada a sair de sua casa pra votar por ser analfabeta, a aposentada faz questão de ir. “Nunca pensei em parar de votar, não penso nisso. Vou porque quero e acho importante fazer parte de tudo isso”, disse com entusiasmo. De acordo com a legislação brasileira, o voto é facultativo para cidadãos entre 16, 17 anos e maiores de 70. Os analfabetos também não são obrigados a votar, mas Francinete faz questão de comparecer às urnas. Este ano ela já deixou claro: vai comparecer novamente. “É muito importante esse direito que nos é dado. Cabe a nós usarmos de forma correta, e é o que em toda eleição
“Vou porque eu acho importante fazer parte de tudo isso” Francinete Alves, 64 eu faço. Compreendo que vamos às urnas mas pouca coisa muda. Não devemos pensar só assim”. Maria Pereira, aposentada, 73, que viveu a ditadura militar no Brasil, confessou que só deixou de votar uma vez, aos 20 anos, porque no dia da eleição seu filho nasceu. Assegura, no entanto, que só vai deixar de votar quando não puder mais. “Sempre achei importante votar, e é por isso que sempre voto”. Maria ainda sustenta a importância de participar das eleições, princi-
palmente no momento histórico do país em que estamos vivendo, com tanta corrupção. “O meu voto, o seu voto sempre serão importantes”, ressalta a aposentada.
Serviço Tribunal Regional Eleitoral CE Av. Almirante Barroso, 601, Praia de Iracema 8h às 17h tt (85) 3211 2692 Vapt Vupt de Messejana Av. Jornalista Tomaz Coelho, 408 8 às 17h tt (85) 3218 5229
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Política
Voto
Eleitores de outras cidades buscam transferência de título em Fortaleza
Com a proximidade das eleições 2018, novos moradores da cidade correm contra o tempo para alterar o domicílio eleitoral dentro do prazo concedido pelo TRE para adiar ou recadastrar De í s a r o c h a
texto João Paulo Araújo Diagramação Robson Marques
N
ovos moradores de Fortaleza, que se mudaram nos últimos meses e que pretendem votar no seu novo local de moradia, precisam fazer a transferência de domicílio eleitoral. O prazo final para fazer a requisição, e habilitar-se ao voto ainda nestas eleições, é 9 de maio, cinco meses antes do eleitor deixar seu voto nas urnas. Para solicitá-la, é necessário que se tenha no mínimo três meses de residência fixa na nova zona eleitoral. É exigido, além disso, o transcurso de, pelo menos, um ano do alistamento ou da última transferência. A coordenadora de administração do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Lorena de Almeida, 37, explica o que pode acontecer com os eleitores que não realizarem a transferência do título em sua nova zona eleitoral. Ela adianta que não há repercussões negativas para o eleitor que não solicita a transferência de seu domicílio eleitoral. “Desde que o eleitor justifique a sua ausência às urnas em todos os pleitos eleitorais e se mantenha informado sobre eventuais processos de revisão do eleitorado ocorrendo em seu domicílio eleitoral de origem, sua inscrição permanecerá regular”, informa.
É necessário que se tenha no mínimo três meses de residência fixa na nova zona eleitoral Lorena observa também que o TRE não tem estimativa de quantos eleitores precisam fazer a transferência. “Não é possível estimar o número de cidadãos que, inscritos como eleitores em outros municípios, residem atualmente em Fortaleza e seriam, portanto, potenciais requerentes da transferência de seus domicílios eleitorais para a capital”.
De olho nos prazos Os eleitores que não votaram nas últimas três eleições e não regularizarem sua situação cadastral terão seu título cancelado. A estudante Luciana Castro, 33, é uma das que podem sofrer com essa alteração. Natural de São Paulo e há oito anos em Fortaleza, ela nunca se preocupou em realizar a transferência do seu título para o novo domicílio. A falta de tempo fez com que Luciana deixasse de votar em sua cidade de origem. Agora, busca transferir o título eleitoral para a capital. “Estou tentando transferir meu título. Votar aqui se tornará mais fácil, pois me deslocar para a minha cidade de origem é complicado por conta do meu trabalho”, diz.
Eleitores fazem recadastramento do título em Fortaleza, para evitar documentação desatualizada e possam votar em outubro O eleitor que deixar para requerer sua transferência perto do prazo estabelecido pela Justiça Eleitoral pode encontrar dificuldades por conta do fluxo de pessoas que buscam fazer o recadastro de última hora. No entanto, a documentação exigida é simples. No ato da transferência, o eleitor deve estar munido de um documento oficial com foto e comprovante recente de seu novo endereço, não sendo necessário apresentar cópias.
“Estou tentando transferir meu título para cá. Votar aqui se tornará mais fácil” Luciana Castro, 33 Agenda no TRE Atualmente o
Tribunal Regional Eleitoral (TRE) abre espaços para agendamento, para que o eleitor possa escolher local, data e horário em que deseja ser atendido, agilizando o seu atendimento. O TRE conta com 12 postos espalhados em Fortaleza, inclusive em
shoppings da cidade, com o intuito de descentralizar os antigos locais, e promover maior comodidade para os eleitores na realização dos novos cadastros. O agendamento pode ser feito por meio da página do Tribunal na internet ou por ligação telefônica, de segunda à sexta-feira, de 8 às 17 horas. Para quem não quiser agendar e preferir ir diretamente em qualquer posto de atendimento, a assistência é por ordem de chegada, com emissão de senhas. Após o dia 30 de abril o atendimento será só por agendamento. Todo esse planejamento prévio, de acordo com o TRE, tem o objetivo de fazer com que um maior número de eleitores legalize a sua situação e não deixe de votar nas próximas eleições.
SERVIÇO Central de atendimento do TRE UU http://www.tre-ce.jus.br/ tt 148 Posto Biometria Av. Santos Dumont, 3131
Campanhas periódicas devem conscientizar para a boa análise de propostas e candidatos Em ano de eleições é comum que muitas pessoas se perguntem como será o futuro após deixar seu voto nas urnas. Para alguns, a mudança é essencial para uma sociedade mais democrática. Outros, porém, não veem mudança alguma e simplesmente votam só por votar. A democracia possibilita que o cidadão use juízo de valor, para justificar mudanças no meio social. O voto direto e secreto concretiza a escolha dos novos governantes de sua cidade. Para a professora de Políticas Públicas, Sejane Medeiros, 50, deveriam investir em campanhas que conscientizem as pessoas, e que fosse proibido o nepotismo, que é o favorecimento de parentes ou pessoas próximas. “Precisamos eleger
um candidato que acreditamos que irá fazer o melhor para a sociedade e não para mim. Caso contrário ficaria nos representando o candidato que seria indicado por outros, e que dependeria dos mesmos para continuar os absurdos. Acredito que as pessoas ainda votam por obrigação ou por dever favores a um dos candidatos, infelizmente”, diz. O exercício da soberania popular no país é um dos raros momentos em que a sociedade se iguala em pensamento para um único propósito: levar um candidato ao poder. Segundo a professora, o votante tem expectativa de que o candidato possa gerar mudanças que promovam melhorias na sociedade no novo cenário político.
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Economia
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Vencendo a crise
Primeiro semestre de 2018 apresenta redução nos índices de desemprego
Com mais oportunidades desde o início do ano no Ceará, a taxa de empregabilidade aumentou e o total de vínculos com carteira profissional chegou a 1,13 milhões texto Vitória Yngrid Diagramação Matheus Barbosa
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ais de 1 653 vagas de emprego foram ofertadas no Ceará nos primeiros meses de 2018, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), gerando um acréscimo de 5 853 empregos. O maior crescimento de vagas resultou do setor da indústria de transformação, que registrou o aumento de 4 252 novos empregos, sendo a indústria calçadista o subsetor que disponibilizou mais oportunidades, com 4 058 vagas ofertadas. Outros setores também apresentam saldos positivos, como os de serviços (579 vagas) e extrativa mineral (32); com exceção do setor de comércio, que apresentou 2 383 vagas a menos de emprego, ou seja, negativas. Segundo Grijalba Marques, coordenador da Regional Metropolitana I do Sistema Nacional de Empregos (SINE), o melhor período de empregabilidade foi janeiro; os meses seguintes apresentaram quedas de contratações. Ele afirma que a perspectiva é de crescimento para este ano em relação aos números de contratação. “Os índices estão oscilando um pouco, mas, com a chegada dos ciclos de festas, acreditamos que fique melhor”. Entre março de 2017 e fevereiro de 2018, o SINE registrou uma média mensal de 12 473 trabalhadores encaminhados para as vagas ofertadas,
o que corresponde à média aproxi- por oportunidades para ingressar mada de 425 pessoas por dia. no mercado de trabalho. Muitos O público de maior procura por conseguem apenas uma carta de emprego, segundo a base de dados encaminhamento para entrevista do SINE, é formado por 58% de ho- de emprego, mas acabam não preenmens e 42% de mulheres. Este pú- chendo a vaga. Esta realidade vale blico é composto por jovens de 18 para todos, indiferente de idade. até 24 anos, que correspondem a Para as pessoas que aguardam 26,80%; de 25 até 29 anos respon- atendimento na Unidade do SINE/ dem por 20,44%; e por adultos de IDT, no Centro, é disponibilizada a 30 até 39 anos, com 28,75%; e de 40 realização de atividades. Conhecidas até 49 anos com 15,03%. Já os jovens como Estação Conhecimento, comcom menos de 18 anos e adultos com preende biblioteca, sala de compumais de 49, correspondem a 8,98%. tadores com acesso à internet e paJéssica Diógenes, 26, com for- lestras com temas variados: “Como mação técnica em edificações, de- elaborar um currículo”, “Como se sempregada e sem interesse em comportar em uma entrevista” e retomar para a área da construção “Reforma trabalhista”, dentre outros. civil, voltou ao mercado de trabalho Para o auxiliar de cozinha Breno com uma nova perspectiva. Deixou Ribeiro, 20, as palestras ofertadas a função de funcionária e tornou-se no Sine servem para instruir e gestora do seu próprio empreendi- capacitar trabalhadores. “É muito mento. Dona de uma marca de rou- interessante a disponibilidade depas femininas, soube como reverter les em oferecer essas capacitações, a situação do desemprego, buscando tanto para quem quer ingressar no novas oportunidades. mercado, como também para quem busca instruções para se aperfeiçoar por meio das oficinas disponibilizadas”, diz Ribeiro, que já esteve presente na realização de uma delas. O Ceará é, atualmente, o segundo melhor saldo do Nordeste em empregabilidade no período, atrás apenas da Bahia, com 5 547 vagas de emprego. Um dos municípios que se destacou foi Quixeramobim, com Os jovens correspondem ao maior 4 251 vagas de emprego. Foi o melhor público nas redes de atendimento saldo por município para o Estado e do SINE/IDT-CE, devido à busca o terceiro do País, segundo o CAGED.
deísa rocha
“Os índices oscilam, mas, com a chegada dos ciclos de festas, acreditamos que fique melhor” Grijalba Marques
Oportunidades de emprego voltam a crescer no Ceará em 2018
Falta de emprego ainda afeta a vida de muitas pessoas deísa rocha
Os dados do Cadastro Geral de Em- rido, se viu numa situação apertada, pregados e Desempregados (CAGED), tendo que dividir a casa com a famíno entanto, não se apresentam posi- lia de seu filho Thiago Martins, 34, tivos para todos. Ainda são muitos que também vive a mesma situação. os trabalhadores desempregados e sem oportunidades. A realidade é que o trabalhador pode ter que conviver com situações desafiadoras. Uma situação vivida por Rita de Cassia Lima, 62, que há um ano e dois meses está desempregada. Sua última função foi como técnica administrativa. Desde então, busca trabalho na área, seja no SINE ou em sites de emprego. “Por ter mais de 60 anos, acham que estou fora do mercado, mas não são capazes de ver que tenho mais Nem sempre o emprego aparece experiência”, diz Rita de Cassia. Ela exatamente como se espera. O esquestiona as dificuldades enfrenta- tudante de Publicidade, Leonardo das para obter emprego. Dentre elas, Deus, 23, que há um ano e três mefatores como idade, experiência e ses está desempregado, afirma que: formação são quesitos fundamen- “a maioria das oportunidades que tais nas avaliações realizadas pelas aparece é para uma área diferente empresas. da que estou focado”. A situação se torna ainda mais Para ele, esta é a principal dificulcomplicada quando mais de um dade em obter um emprego e é a reamembro da família está desempre- lidade de muitas pessoas. Por mais gado. E esse problema tem se repe- que os dados se apresentem posititido para várias famílias. Rita de vos, devido à natureza do contexto Cassia, que tinha uma vida confor- socioeconômico, a empregabilidade tável e morava apenas com seu ma- ainda não é uma realidade para todos.
“Por ter mais de 60 anos, acham que estou fora do mercado, mas não são capazes de ver que tenho mais experiência” Rita de Cassia, 62
Capacitação para jovens e adultos proporciona mais possibilidades de ingresso no mercado de trabalho
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Economia
Compras na Web
Internet possibilita mais economia e variedade no presente do dia das mães Adquirir produtos em sites pode ser uma boa opção para quem quer gastar menos, mas é preciso ter alguns cuidados para não cair em ciladas e ser vítima de golpes virtuais texto Karine Serpa diagramação Aristóteles Santos
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raticidade, variedade e preço. Esse trio está entre os principais motivos que levam uma pessoa a decidir realizar uma compra pela internet. Poder comprar uma lembrança enquanto está em casa, no escritório ou no cabelereiro, por exemplo, é uma mordomia que a compra online oferece. Mas, para que essa vantagem não se torne uma dor de cabeça, é necessário tomar alguns cuidados antes de clicar no botão “comprar”. A economista Silvia Sampaio, 48, costuma comprar pela internet porque acredita que as vantagens são muitas. Para ela, é possível encontrar uma variedade de produtos que as lojas físicas não dispõem, além, claro, de conseguir fazer uma boa economia. “Encontro nas lojas virtuais produtos mais diversificados e, além do mais, o preço geralmente é bem menor. Costumo pesquisar e o que percebo é que, mesmo com o frete, compensa comprar pela internet. Agora, por exemplo, optei por comprar o presente do dia das mães também na web”, enfatiza.
Experiência A fisioterapeuta
Sandra Damasceno, 43, também costuma adquirir produtos pela internet. Uma desvantagem para ela são os prazos, porque muitas vezes o produto demora a chegar, o que ela considera desagradável. “Uma vez, comprei uma mochila para o meu filho e quando recebi era de outro modelo e ainda estava com defeito. Precisei devolver e esperar uma nova. Todo o trâmite demorou tanto que começaram as aulas e ele não tinha mochila para ir à escola. Para não passar por isso novamente, compro agora com bastante antecedência”, relata.
K a r i n e Ser p a
Para garantir que o presente para o dia das mães chegue a tempo, é bom mesmo se apressar. Considerada a segunda data mais importante para o varejo, o prazo para chegada do produto pode se tornar um problema, se a compra não for feita a tempo. Além do prazo, comprar pela internet tem outros prós e contras. Para não ser uma vítima é preciso tomar alguns cuidados antes de clicar a tecla “comprar”. O técnico em informática, Pedro Cavalcante, 29, orienta que primeiro de tudo é necessário se informar, fazer uma pesquisa sobre o histórico de compra do site que você está pretendendo adquirir o produto. “A pesquisa é o principal aliado para o consumidor saber se está dando seus dados a um site confiável ou não”. Pedro seleciona alguns passos importantes e o primeiro deles é procurar informações no Procon de São Paulo. “No portal do Procon SP existe uma lista de sites que os consumidores devem ficar em alerta e distantes e não devem acessar de jeito nenhum, porque são sites não confiáveis”, ensina.
“Costumo pesquisar e o que eu percebo é que compensa comprar pela internet” Silvia Sampaio, 48 Outro ponto que deve ser observado é o protocolo que o site deve emitir para uma transação segura. Em sites protegidos, por exemplo, existe a tipografia “htpps”, que inibe que os dados dos clientes sejam identificados por hackers. É necessário também observar se o layout está correto, sem nenhum
Para garantir uma transação segura é necessário que o cliente pesquise antes de definir a compra erro de ortografia. Cavalcante pontua que o cliente precisa ter a consciência que por trás da vitrine de produtos da internet existe um CNPJ. “Existe uma pessoa física confirmando a compra. Então, o melhor é se informar e desconfiar. Será se a empresa existe? Entra no site da receita, vê se CNPJ está válido e confirma se a razão social pertence à empresa. Existem muitos caminhos para o consumidor saber se um site é falso ou verdadeiro”. A segurança de uma transação virtual passa também pelo equipamento por onde a pessoa realiza a
compra. A recomendação é colocar os dados pessoais, como número da carteira de identidade, CPF e número do cartão de crédito, em um computador confiável. O técnico reforça que de jeito nenhum se deve usar Lan house ou computador de amigos, porque existe todo tipo de hackers, que copiam dados, senhas e outras ameaças existentes. Orienta que é importante usar a sua própria máquina, com antivírus atualizado.. Dicas que Silvia Helena, 48, sabe bem. Ela admite que antes de confirmar a compra passa meses pesquisando valores e sites. E detalha o
processo: “Antes de decidir, dou uma olhada no preço, ligo para a central de atendimento, faço pesquisa com amigos, enfim, é um processo demorado, mas só defino depois que tenho a garantia de que o site é confiável”. O técnico Pedro Cavalcante alerta ainda sobre a importância de manter antivírus e o navegador de internet atualizados, não salvar o login e nem a senha e imprimir ou salvar todos os documentos que confirmem o pedido. Ele observa que esses são cuidados imprescindíveis para não se tornar vítima ao realizar uma compra pela internet.
Direito do consumidor em compras realizadas em sites K a r i n e Ser p a
Pedro alerta que não é aconselhável salvar senhas nem logins na web para garantir segurança dos dados
O consumidor que decide comprar por meio da internet deve ficar atento aos seus direitos. A diretora do Procon Fortaleza, Cláudia Santos, 44, elege três pontos que devem ser observados na relação de consumo na web: o consumidor deve exigir o cupom fiscal, pois é a garantia de reclamar de um produto com vício ou defeito à assistência técnica; está previsto o “direito de arrependimento”, mesmo sem que se apresente qualquer motivo de defeito ou vício do produto, garantido pelo Código de Defesa do Consumidor, no artigo 49; e o prazo para devolução, que é de sete dias, a contar da data de recebimento do produto. “Se o consumidor quiser devolver o produto, ele pode. Basta preservar as características originais e pedir o dinheiro de volta, inclusive com despesas de frete”, esclarece.
Serviço As denúncias podem ser feitas nos seguintes canais: Portal da Prefeitura de Fortaleza UU www.fortaleza.ce.gov.br Aplicativo Procon Fortaleza ❦❦ Campo “Defesa do Consumidor” do Catálogo de Serviços PROCON Fortaleza Central de Atendimento ao Consumidor R. Major Facundo, 869, Centro Seg. a sex., de 8h as 13h tt 151 Núcleos Vapt Vupt do Antônio Bezerra; R. Demétrio Menezes, 3750 Vapt Vupt da Messejana Av. Jornalista Tomaz Coelho, 408
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Economia
Fortaleza–Ceará • sábado, 28 de abril de 2018
Papiro
Namorados
A diversidade no momento de comprar presentes: entre o casual e o simbólico Uma das datas comemorativas que movimentam o comércio cearense é conhecida pelos diferentes e criativos modelos de lembranças que as pessoas dão aos seus parceiros MATHEUS CASTRO
texto Matheus Castro Diagramação Julia Havt
O
Jessica prefere dar ao namorado presentes que tenham um significado especial para o casal
dia dos namorados é uma das datas comemorativas que mais movimentam as vendas dos mais diferentes produtos, quando há forte demanda por compras em todos os setores. Comemorado no dia 12 de junho, movimenta todo o comércio cearense, porque mexe com variados segmentos para presentes, desde os comuns até os mais criativos, incluindo os inesperados. A estudante Jessica Viana, 17, destaca o simbolismo como sua preferência na hora de comprar para o dia dos namorados. “Prefiro uma coisa simbólica, que tenha alguma significância para o casal”. Para ela, algo assim pode se tornar mais especial do que um presente casual. “Gosto de coisas simples. Um chaveiro, por exemplo, que seja bonito, é legal. Pode ser algo que sirva de lembrança ao casal, que lembre o primeiro encontro ou um dia muito especial”. Nos últimos anos, a possibilidade de encontrar lojas com produtos personalizados cresceu em larga escala, pois é nessas datas comemorativas que elas faturam mais. Existe, por outro lado, uma grande parcela de pessoas que preferem comprar produtos mais comuns. Uma pesquisa realizada pela Câmara de Dirigentes Lojistas, (CDL), em maio de 2017, revelou que os parceiros costumam dar roupas (30%), perfumes, cosméticos e maquiagem (18%), calçados (11%), acessórios como cinto, óculos e bolsas (9%), flores (7%), bombons e chocolates (5%), jantares (4%) e celulares e smartphones (3%). Na hora de receber os presentes, a pesquisa mostrou a mesma ordem de preferência, com roupas
ficando com 23%. Ainda de acordo com esse levantamento da CDL, 8% dos consumidores afirmam deixar de quitar alguma dívida para presentear alguém, enquanto 78% das pessoas não têm o hábito de ultrapassar o orçamento. De acordo com o presidente do CDL Fortaleza, Assis Cavalcante, 60, o comércio quer um consumidor consciente de seus direitos e deveres. “Um cliente que consegue ter o equilíbrio saudável de suas finanças. Isso significa ter seu nome regular e ser um bom pagador de suas compras no mercado”.
“O comércio quer um consumidor consciente de seus direitos e deveres” Daniel Macêdo, 18 Mesmo com possibilidades de locais e itens para presentear, há também aqueles que não conseguem se decidir sobre o que comprar. É o caso de Daniel Macêdo, 18, que afirma ser bastante indeciso, mas muitas vezes opta pelo clichê. Para ele, não existe um preço estipulado de quanto gastar, vai depender do que ela gostar ou ele achar que faz o estilo dela. “Gosto de ir a lojas que vendem pelúcias. É clichê, eu sei, mas acho que elas gostam e nunca sai de moda. Também gosto de comprar em joalheria. Algumas vezes gosto de ser criativo”. Apesar disso, Daniel diz que não gosta de surpresas, e é enfático ao dizer que não interessa muito o modelo do presente recebido. É mais importante a intenção e o sentimento que foram colocados ali, “como eu faço para ela, curto que ela faça também alguma coisa”.
Produtos personalizados são apostas na hora da decisão Segmento de vendas que ganhou destaque nos últimos anos, os produtos personalizados são a preferência daqueles que procuram inovar na hora de presentear alguém. Nilcilene Cavalcante, 24, proprietária da empresa Ceart Brindes, diz que nessas datas comemorativas os principais produtos são canecas, taças e almofadas personalizadas. A demanda da Ceart varia de acordo com a data comemorativa, podendo duplicar a rotina de vendas durante a semana da comemoração. De acordo com Nilcilene, na época do dia dos namorados a loja tem uma demanda diferente. “Produzimos até 50% a mais, fazemos horários que podem ir até às 23 horas, para suprir a demanda. Normalmente é em um único dia que fazemos isso, na véspera da celebração”. Com uma empresa de pequeno porte, ela consegue aproveitar a busca das pessoas por presentes de caráter simbólico. É um setor que está em crescimento,
“Produzimos até 50% a mais, fazemos horários que podem ir até ás 23 horas para suprir a demanda” Nilcilene, 24
por ser um diferencial, especial, com preços que podem ser mais em conta do que em lojas convencionais. É o caso também da Muchacho Loco, empresa de José Carlos, 44, e da esposa. O foco deles é camisaria, mas seus serviços incluem canecas, garrafas, trabalho com pintura, dentre outros. “Temos uma preocupação sobre peças individuais, pois fazemos para todo tipo de evento. Caso o cliente precise, temos um horário especial”, afirma. A procura do presente personalizado faz com que a marca se perpetue no mercado e no gosto dos
clientes. Tanto é o caso da Ceart, que além de vender suas peças em datas comemorativas, também trabalha com o público corporativo, levando seus produtos para grandes empresas locais e regionais, como da Muchacho Loco, que se relaciona diretamente com os diferentes segmentos de clientes, ofertando múltiplos serviços para as camisas.
DIVULGAÇÃO
Serviço Ceart Brindes Rua Amaro Cavalcante, 185, Monte Castelo WW (85) 98851 74370 FF /Ceart Brindes Muchacho Loco Rua Pinto Madeira, 323, Centro tt (85) 98805 5358 FF /Muchacho Loco
Objetos personalizados são as peças mais vendidas na loja de Nilcilene
Papiro
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Metrópole
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Bem-Estar
Projeto social promove aulas gratuitas de yoga e meditação em Fortaleza
Objetivo é levar ao alcance de toda a população, benefícios e filosofia dessas práticas em níveis físico, espiritual e emocional, auxiliando e melhorando a saúde dos praticantes i m a g e m f a ce b o o k p r o jet o a f a g o
texto Ermerson Santiago Diagramação Talita Vital
O
projeto Afago está promovendo, nos finais de semana em Fortaleza, cursos de yoga grátis. As atividades ocorrem em diferentes locais da cidade. Também são oferecidas terapias holísticas, meditação, oficinas sobre alimentação saudável, palestras, atividades com crianças e idosos, dentre outras. Recentemente a equipe do Afago fechou parceria com a Rede Cuca e o Shopping Benfica. Ikaro Medeiros, 25, fundador do projeto, diz que o objetivo dessa parceria “é beneficiar todos os seres com essas atividades que podem fazer a diferença na vida das pessoas”. Ikaro também acredita que, com a parceria, poderá ser ampliado o número de pessoas que passa a conhecer e usufruir dessas terapias. A estudante de Psicologia, Rayane Franca, 23, disse que mudou seus hábitos e pensamentos depois que começou a frequentar as aulas. Ela, que começou apenas participando, hoje é voluntária ajudando nas palestras. “Tenho um prazer enorme em doar meu tempo e o pouco de conhecimento que tenho na área da psicologia para ajudar ao próximo”, observa Rayane. O movimento nasceu em maio de 2015 com o desejo de unir as pessoas, independente de classe, cor, gênero, sexualidade e religião. São oferecidas aos participantes mais de 12 atividades em diferentes áreas. Fazer cafuné em crianças de escolas públicas, trocar um abraço por um cachorro quente vegano, visitar abrigo para idosos são algumas dessas tarefas que o grupo realiza. A estudante de Fisioterapia, Gessi Carvalho, 24, conheceu o projeto por meio de uma publicação de rede so-
Professora dá as orientações aos alunos sobre as posturas corretas e a arte do yoga cial digital, se interessou e começou a frequentar as aulas de yoga e meditação. Ela disse que vivia estressada por conta da faculdade e tinha muita dificuldade de concentração. “Agora sou uma pessoa que não se irrita fácil e melhorei bastante nos meus estudos”. Gessi também destaca que, além da mudança no temperamento e na concentração, sente que está mais conectada com a natureza e entende melhor o que se passa ao seu
“O projeto afago é uma comunidade de cura, amor ao próximo, respeito e união” Íkaro Medeiros, 25 redor. Ajuda como voluntária nas aulas de yoga e meditação não só no ARQUIVO PESSOAL
Josy (de azul) concentrada em uma aula coletiva de meditação do projeto Afago
projeto, mas também na faculdade e nos grupos sociais que participa. Para manter o projeto, Ikaro Medeiros disse que os participantes realizam alguns serviços como, por exemplo, trocam terapias holísticas por quilos de alimentos ou roupas seminovas, realizam bazar em praças públicas ou fazem comida para vender. Mas garante que quem procura o projeto não será cobrado a fazer nada; quem realiza esse ser-
“Agora sou uma pessoa que não se irrita fácil” Gessi Carvalho, 24 viço são os voluntários, veteranos do projeto. Ikaro relata que as inscrições para quem quer participar do grupo são abertas uma vez por semestre, geralmente em fevereiro e em agosto. Depois do prazo, diz que não aceita mais ninguém, porque dá prioridade às pessoas que se matricularam primeiro, para poder cuidar de cada um com calma e tempo. Destaca ainda que não gosta de rotular o projeto. “Quem quiser participar será bem-vindo independente do que a pessoa acredita”. Ele defende que o amor pode curar o mundo e as pessoas podem ser melhores em tudo, por meio de ações que beneficiam umas às outras. Na parceria fechada com o Shopping Benfica, eles oferecem, nas sextas-feiras à tarde, aulas de yoga para as pessoas que se encontram no local. No Parque do Cocó as aulas são aos sábados pela manhã. As outras atividades são oferecidas em reunião com os participantes e de acordo com as demandas que surgem. Em algumas semanas todos os dias acontecem ações, mas em outras só ocorrem nos finais de semana.Todas as atividades são colocadas no grupo do Facebook.
Serviço FF /ComunidadeAfago tt (85) 9988 7 5 432
Terapias alternativas e exercício físico para transformar pessoas Depois que mudou os hábitos alimentares, começou a fazer exercícios e yoga, a dona de casa Josy Portela, 33, perdeu 21 quilos e diz que hoje é outra mulher. Ela reconhece que força de vontade e disposição são alguns dos segredos para mudar de vida. Josy, que participa de um projeto social que promove aula de yoga de forma gratuita para a população que não pode pagar, destaca que, além da mudança física, o mais importante foi a transformação no interior dela: “Hoje sou uma mulher completamente realizada e feliz por essa transformação que aconteceu na minha vida. Tenho certeza de que vou poder ajudar outras pessoas a mudarem também”.
Em relação ao seu processo interior de transformação, adianta que há pouco tempo se tornou vegetariana. “Comer carne animal foi um dos hábitos mais difíceis de deixar, mas aos poucos fui me adequando a esse estilo de alimentação saudável, que só me beneficia. Não sinto mais necessidade e nem vontade de comer carne”, admite. Mãe de uma adolescente de 13 anos, Josy reforça que essa mudança a ajudou a compreender melhor a filha, que está na fase de puberdade, do descobrimento do mundo. A dona de casa diz ainda que, além da alimentação saudável, meditação e yoga, a prática de exercícios físicos é fundamental para manter seu equilíbrio emocional e corporal.
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Metrópole
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Papiro
Paradigmas
Cristãos adeptos da tatuagem quebram tabus junto às instituições religiosas
F r a n c i s c o L u c a s /Ar q u i v o p e s s o a l
Jovens questionam ensinamentos conservadores e adotam essa prática antiga, transformando a cultura das igrejas evangélicas e, ao mesmo tempo, provocando debates texto Mailson Modesto diagramação Gabriel Weyne
A
tatuagem é uma arte milenar e vem se desenvolvendo há mais de 2000 anos antes de Cristo. Chegou a ser proibida por volta do ano de 787 pelo Papa Adriano I, sob a alegação de ser “prática demoníaca”. Em 1961, depois de um surto de Hepatite B, foi proibida em Nova Iorque. Mas, o que antes era sinônimo de criminalidade hoje é visto como arte. Por anos as empresas não aceitavam funcionários tatuados, mas este tabu já não existe. O preconceito tem sido quebrado até mesmo em instituições religiosas. Nas comunidades cristãs evangélicas, por anos os jovens foram instruídos a não fazer tatuagem. Mas uma nova interpretação vem sendo dada aos princípios bíblicos. Naftali Nascimento, 28, é líder da comunidade cristã Somos a Casa. Ele destoa da imagem que a maioria tem de um pastor: não usa terno e gravata nos cultos, mas blusa e calção. Sua abordagem atrai jovens entre 18 e 35 anos, pois quebra o conservadorismo e regras religiosas baseadas, segundo ele, em “argumentações ineficazes”. "Nunca tive uma visão preconceituosa. Fui criado em um ambiente evangélico e, apesar da nossa igreja não proibir a prática em si, a tatuagem não era vista com bons olhos. Meus pais não permitiram que eu tatuasse enquanto morava com eles, e, como filho, obedeci", relata. “Fiz a minha primeira tatuagem já casado, em 2016. Quem me tatuou foi uma missionária. Tenho seis tatuagens, e as duas últimas fiz com o Felipe, que já se tornou um amigo". Naftali se refere a Felipe Oliveira, tatuador, 23, que atende no bairro
Álvaro Weyne, em Fortaleza. Segundo ele, os pedidos de pastores e missionários são diferenciados, mas seguem o mesmo padrão: “Entre os cristãos que tatuam, normalmente há pedidos como leão, águia, cruz, rosas, versos e versículos. São artes que os cristãos conseguem relacionar a algo que leram e ligar a alguma referência bíblica”.
“Fiz a minha primeira tatuagem já casado, em 2016, em uma escola de missões urbanas” Naftali Nascimento, 28 Existem milhares de artigos e vídeos na internet sobre a questão de a tatuagem ser ou não errada para os cristãos. Um dos vídeos mais buscados é o do pastor Lucinho Barreto, de Belo Horizonte. Com 130 mil visualizações o vídeo mostra o pastor dizendo que se Jesus desejasse ver uma marca nas pessoas, todos já nasceriam com ela. Apesar de ser contra a prática, o pastor deixa claro que muitos de seus amigos têm tatuagens e que os respeita. Para Naftali, a base bíblica usada para condenar a prática é interpretada fora do contexto: “as marcas citadas nos textos são referentes à dilaceração do corpo, algo relacionado a flagelo, comum nas culturas orientais”. A questão ainda é controversa, mas os tabus vêm sendo quebrados. Os jovens buscam questionar os posicionamentos de líderes religiosos e as igrejas cristãs vêm adotando uma cultura que há pouco tempo era rejeitada.
Na arte do tatuador Francisco Lucas, o texto em inglês pode ser traduzido como “faça-me valente”
As experiências de um jovem de fé com as tatuagens F r a n c i s c o L u c a s /Ar q u i v o p e s s o a l
Carlos Sandro fez sua primeira tatuagem com Francisco Lucas
Carlos Sandro, 21, é um estudante conservadores, que acham que de Publicidade e Propaganda que quem fizer uma tatuagem Deus diz viver a fé cristã desde a infância. deixa de ser amigo. Depois de alNo fim de 2017 decidiu fazer sua pri- gum tempo, conversando com eles, meira tatuagem. Para ele, a questão não houve concordância, porém não nunca foi um problema. “Sempre houve proibição.” ponderei tatuagem de forma que Quanto ao desenho de sua tanão ultrapassasse os meus limites. tuagem, Carlos relata que sua fé Quando era mais novo não tinha interferiu na escolha. “Foi muito tanto interesse em fazer. Parti- significativo para eu escolher a cularmente era irrelevante, mas arte, pois estava lendo a Bíblia um também não achava errado e nem dia antes, e um verso do livro de condenava ninguém por ter uma”, Cantares, de Salomão, falou muito afirma. comigo no tempo em que estava Apesar de encarar a questão sem mais precisando, e quis eternizar preconceitos, isso não o isentou isso em mim”. Ele escolheu tatuar de posicionamentos contrários de o desenho de um coração humano familiares e amigos acerca da sua com flores e uma frase em inglês, decisão. “Minha família não apoiava make me brave (faça-me valente). muito, pois alguns são evangélicos “Representa uma nova estação, no-
vas etapas, novos caminhos. Em um coração pode haver coisas belas, de dentro para fora.” A tatuagem de Carlos foi feita por Francisco Lucas, 22, tatuador que trabalha em Caucaia. Lucas tatua há dois anos e já atendeu inúmeros clientes de religiões que seguem Cristo. Segundo ele, este público busca simplicidade. “Já tatuei diversos cristãos e acho o máximo isso! Esse público, a maioria, procura sempre uma arte discreta, mas existem alguns que querem algo maior”, comenta. Como tatuador, Lucas se diz feliz pela quebra do preconceito. “Tattoo não é marginalização, simplesmente é arte. E arte é sentimento. Cristo é amor, e nenhum preconceito é lógico”.
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Cultura
Festas juninas
O tradicional e o moderno na busca de garantir que a cultura não se perca
Quadrilhas, mesmo com ideologias de competição diferentes, mostram a importância de conservar a tradição nordestina em época de São João e seguir atraindo novas gerações
1 . S o r m a n d o E u g ê n i o, 2 . K a r o l g o m e s , 3 . Ne y r o b i n s o n r i o s fr o ta
texto Neyliana Frota DIAGrAMAÇÃO Neyliana Frota
❶
A
s competições de quadrilhas juninas têm garantido a melhor manifestação das tradições populares nordestinas. Tanto em seus aspectos religiosos, culinários e artesanais (vestimentas), que foram sendo modificados com o passar do tempo, quanto com a quadrilha mantendo a velha tradição do povo rural de caçoar da elite. O certo é que as quadrilhas deram a oportunidade aos pobres de dançarem a dança dos nobres. Ao longo dos anos, a quadrilha tem se atualizado. As tradições têm servido como meio de transcender a característica nordestina em ensaios e eventos, mas também adquiriu, com a renovação e as competições, o risco de perder suas peculiaridades. Ao mesmo tempo, tem alimentado as rivalidades. Reginaldo Rogério, 55, coordenador geral do tradicional grupo Zé Testinha, afirma que já havia um caráter competitivo quando as quadrilhas passaram a participar de festivais. Ele ressalta, porém, que o Zé Testinha trabalha na empatia, com a essência de animar, de brincar com as pessoas. O coordenador destaca ainda que, ao mesmo tempo em que “você se moderniza, tem que haver um respeito com aquilo que foi criado. O São João tem a sua riqueza, é uma das maiores manifestações culturais do Brasil. Não se pode perder a essência”. O grupo é famoso por incorporar aspectos culturais cearenses no que se diz respeito às vestimentas e à música, agregando-se ao estilo do cangaço e transpassando outros simples aspectos tradicionalistas sertanejos. Ganhadora de vários prêmios, a quadrilha do Zé Testinha busca transparecer o antigo, não seguindo o imediatismo moderno. Não é necessário que se sofistique, como diz Rogério. O interessante é buscar a sua identidade, as raízes. Ele observa também que a modernidade “vem com as facilidades. E as facilidades te encantam. O tradicional não te encanta. Chamo isso de o falso brilho do modernismo”.
“O São João é uma das maiores manifestações culturais do Brasil” Reginaldo Rogério, 55 Modernização A quadrilha Ceará Junino, fundada em 2003 e legalizada em 2006, agrega brincantes e dançarinos do Álvaro Weyne e outros bairros adjacentes, com atividades e interações socioculturais, promovendo a transmissão da cultura. O projeto vem crescendo, tendo em quadra quase 200 pessoas por apresentação.
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➀ Dançarina do Ceará Junino durante apresentação ➁ Estreia da Ceará Junino em 2017 ➂ Reginaldo Rogério: "importante é manter raízes"
O projeto vem crescendo, tendo em quadra quase 200 pessoas por apresentação
ventre as quadrilhas tornou-se raro justamente por conta das competições. Muitos grupos têm se acabado por conta disso. Observa que, como “as coisas têm evoluído, e a quadrilha junina não poderia parar, ela teve que evoluir, o que gera a preocupação de se ter adquirido aspectos do carnaval”. De acordo com o presidente da Rogério faz questão de explicar Ceará Junino, Roberto Severiano, 51, a quadrilha se divide em duas par- que a quadrilha se tornou profistes: antes e depois da Luar do Ser- sional, não carnavalesca. E diz que a única semelhança é que se precisa tão, uma quadrilha que ele também de um tema para ser desenvolvido já presidiu, que existia no bairro Cristo Redentor, e fez o trabalho de estilização do São João brasileiro. Surgindo com uma proposta diferenciada, despertou curiosidade nas quadrilhas. Elas começaram a tendenciar para mudanças. A Ceará Junino herdou essas características da Luar do Sertão. “Isso é credibilidade do trabalho que fazemos, e ficamos muito gratificados com relação a isso”, destaca Roberto. A quadrilha é uma dança bastante Para colocar uma quadrilha como popular no Brasil, com seus aspeca Ceará Junino em quadra, tomando tos nordestinos rústicos e tradiciocomo base de janeiro até a última nalistas. Vinda originalmente da apresentação, em julho, tem-se o corte francesa por volta do século orçamento em torno de um milhão XVIII, derivada no termo “quae meio de reais, diz Roberto. Ele lem- drille”, era uma dança exclusiva bra que é um valor que se torna pe- para os nobres, e garantiu o seu esqueno diante de um projeto amplo, paço em terreno nacional durante que é o de conseguir manter essa o período de Regência. Atrelou-se tradição viva. à zona rural do Nordeste brasileiro, De acordo com Roberto, o respeito adquirindo suas características
e tempo para ser trabalhado. A mudança, segundo ele, pode trazer aspectos benéficos à quadrilha. Zé Testinha e Ceará Junino, duas entre as várias quadrilhas no novo cenário junino, propõem aspectos beneficentes do movimento. A ideia principal é que a atividade adquira propósitos educativos, além de poder levar a cultura aos jovens. Ou seja, apesar das mudanças incorporadas, a tradição segue preservada nas suas roupas, músicas e gestuais; e ainda promove a inserção.
Serviço: Grupo Zé Testinha UU http://www.zetestinha.com.br/ FF /Quadrilha Zé Testinha tt (85) 3257 330 Ceará Junino UU www.cearajunino.com II @cearajunino tt (85) 99662 1212
Da corte francesa às tradições matutas, o São João mantém riquezas e amplia seu público
cristãs, enraizando-se em seus cosO tipo de dança foi incorporado tumes nordestinos e tornando-se ao país inteiro, com ênfase para o parte da cultura nacional. Nordeste, e adquiriu alguns aspecRoberto Severiano diz que a qua- tos da cultura brasileira, o que gadrilha, em momento algum perde rantiu melhor manifestação artísa originalidade. Quando veio para tica. Trazendo pequenas amostras o Brasil, com a chegada da Família culturais nordestinas, além de ter Real, os nordestinos a adaptaram se atrelado a outras tradições de vápara sua realidade. “A Luar do Ser- rios povos brasileiros. E como diz o tão teve o trabalho de resgatar isso, coordenador do grupo Zé Testinha, a originalidade de como era dançada “a quadrilha é tão rica, que sofre innos salões nobres”, diz Severiano. fluências do próprio Brasil.”
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Esportes
Fortaleza–Ceará • sábado, 28 de abril de 2018
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Medicina desportiva
A importância da reabilitação para tratar lesões de atletas e amadores
Nessa modalidade de tratamento, o trabalho dos fisioterapeutas tem o foco na recuperação de esportistas para que possam ficar aptos a praticar suas atividades físicas novamente
texto Paulo Victor Diagramação Arthur Gadelha
A
parcela da população de brasileiros sedentários nos últimos anos vem preocupando os órgãos de saúde federal, mas nem todos se encaixam nessa faixa de atenção. Outra grande parte da sociedade já começa a se conscientizar da importância de praticar exercícios diários. Todos que praticam algum tipo de esporte, porém, estão suscetíveis a uma lesão, principalmente se esse começo de vida desportista for iniciado sem um bom acompanhamento médico e fisioterápico. Foi exatamente nessa busca de vida mais saudável e seguindo a recomendação de médicos de praticar exercícios diariamente que Gabriel Rodrigues, 21, sofreu uma lesão no ligamento cruzado do joelho. “Estava batendo uma pelada com os amigos, quando num lance infeliz acabei pisando em falso no gramado e apoiando o peso do meu corpo todo no joelho”, diz. O laudo médico indicou que ele teria que fazer uma cirurgia, mas primeiro precisava passar pela fisioterapia para fortalecer a musculatura e diminuir os edemas causados pela lesão. Apesar do trauma ter sido recente, o estudante já nota algumas evoluções. “Estou fazendo fisioterapia há três semanas e já notei uma evolução muito grande. Antes não apoiava meu pé no chão, com medo do meu joelho sair do lugar, mas com a fisioterapia, estou notando algumas evoluções, já estou pisando o pé no chão e conseguindo andar normalmente. Para Gabriel, o trabalho da fisioterapia reabilitativa é de fundamental importância no progresso que está fazendo. “Notei que estou ganhando amplitude na movimentação do joelho e isso está me possibilitando fazer coisas além do que eu pensava”. E essa diferença pode ser percebida por atletas profissionais também, quando o trabalho do fisioterapeuta interfere diretamente na sua volta ao esporte.
Preventiva Segundo o fisioterapeuta esportivo Ítalo Viana, 27, hoje, com o esporte de alto rendimento, onde cada vez mais os atletas são exigidos, eles têm a necessidade de ter um acompanhamento fisioterápico, não só no momento de lesões, mas nas ações preventivas para evitar as lesões de cada esporte. “A fisioterapia se torna, então, impor-
“Estou fazendo fisioterapia faz três semanas e já notei uma evolução muito grande” Gabriel Rodrigues,21
We n d e l l Ta r g i n o
tante tanto na pré-temporada, préjogos, como também no tratamento de lesões”. Embora essencial para a recuperação e prevenção de lesões, muitos esportistas acabam por negligenciar e não chegam a completar todo o trabalho fisioterápico. Quando suas dores desaparecem, acabam atestando sua própria alta médica, como explica Ítalo. Para ele, a etapa mais difícil é a do início, e decorre a fase de aceitação da lesão pelo atleta. Ele destaca o acompanhamento do fisioterapeuta e diz que o profissional está a todo momento com o atleta. “Presenciamos o momento da lesão, da aceitação, da superação, do retorno ao esporte; mas, a fase mais complicada é a dele aceitar o momento em que está e como vai desenvolver durante todo esse processo”. Em momentos como esses, o staff dos jogadores, diretoria e patrocinadores, cobram por um retorno o mais rápido possível, devido aos altos investimentos agregados a um atleta. Com a cobrança de resultados e uma agilidade ao retorno ao esporte, a medicina reabilitativa tem aproveitado alguns avanços tecnológicos para incorporar na sua área.
“A fase mais complicada é a dele aceitar o momento em que está.” Ítalo Viana,27
Na opinião de Ítalo, Fortaleza tem se destacado cada vez mais na medicina reabilitativa no Nordeste, com aquisição de equipamentos modernos. “Temos vários tipos de aparelhos que ajudam justamente a retornar esses pacientes para a atividade esportiva. Cada vez mais clubes estão investindo em equipamentos para o retorno do paciente”.
Rendimento Não bastasse todo
esse trabalho, o fisioterapeuta esportivo ainda possui a tarefa de manter a sua equipe na máxima eficiência, para conseguir garantir rendimento na recuperação dos atletas. “Tem que ter uma base. Quando parte do princípio de que uma equipe está perdendo rendimento, que os atletas estão se lesionando, a cobrança é muito grande para cima do fisioterapeuta”, comenta. Embora praticar algum tipo de exercício seja geralmente recomendado por médicos, sempre há riscos de lesões. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em pesquisa de 2015, entre os principais esportes causadores de lesões, destacam-se o futebol e a corrida. Nesse contexto, é importante a busca por médicos esportivos, educadores físicos e fisioterapeutas, que buscam reabilitar da forma mais rápida possível o praticante de atividades físicas.
Na fisioterapia são praticados alguns movimentos e massagens para reativar a musculatura lesionada
Pesquisas apontam para casos de sedentarismo entre os jovens Segundo o estudo realizado em 2015 pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 62,1% dos brasileiros com 15 anos ou mais, não praticavam qualquer esporte ou atividade física. Segundo a pesquisa, caminhada e futebol continuam sendo os esportes mais praticados por brasileiros. Na região Nordeste, o futebol é praticado por 48% da população, enquanto a caminhada é praticada por 25% dos nordestinos. No futebol podemos destacar a participação dos homens, que representam 94,5% dos praticantes, segundo pesquisa do IBGE. Entre as mulheres a pesquisa do IBGE aponta uma maior procura por ginástica e aulas de ritmos fitness na academia. Mas ainda assim o número de praticantes é inferior aos
“O primeiro passo para quem quer sair do sedentarismo é buscar uma rotina mais saudável e procurar um médico” Yuri Sousa,26
dos homens. A região Nordeste é a que possui maior diferença numérica, 30% para homens e 14% entre as mulheres. Para o educador físico Yuri Sousa, 26, o primeiro passo para quem quer sair do sedentarismo é buscar uma rotina mais saudável, procurar um médico e fazer os exames necessários para a verificação da saúde. O segundo passo seria a busca por
um profissional de educação física, para orientar da melhor forma os exercícios esportivos. Essa iniciação orientada é importante também para prevenir futuras lesões. O mais importante para quem quer mudar sua rotina, segundo Yuri, é buscar uma orientação médica, para realizar uma bateria de exames e verificar a saúde. “Temos que pensar: como vou começar a correr se tenho arritmia cardíaca? Não pode. É um grande risco para a saúde, que pode acarretar, na pior hipótese, em morte”. Para o educador físico, as principais dificuldades para quem procura uma rotina de vida mais saudável são o comodismo, a insegurança e a acessibilidade a locais e bons equipamentos públicos para a prática de atividades físicas.
Papiro
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Esportes
Fortaleza–Ceará • sábado, 28 de abril de 2018
Mundial
Com técnico Tite, torcedores voltam a ter esperança na Seleção Brasileira
Após fracasso no último Mundial, torcedores apostam na mudança, numa estrela e na força coletiva para conquistar o hexacampeonato; especialista explica fatores de sucesso para o Brasil texto Gerson Barbosa diagramação Lanara Pinheiro
A
Seleção Brasileira tem o poder de unir até aqueles que não gostam de futebol. Mesmo descrentes e desgostosos com os selecionados para defender o país nos gramados, os torcedores brasileiros parecem ter voltado a acreditar no Hexa, algo que não acontecia desde o 7 a 1 sofrido para a Alemanha, na semifinal da Copa do Mundo no Brasil, em 2014. Dessa vez a disputa será na Rússia, entre junho e julho deste ano. Muito dessa renovação acontece por conta de alguns fatores especiais. Futebolisticamente falando, o treinador Tite levou à Seleção algo que os últimos treinadores não conseguiam colocar em prática: organização e entendimento aprofundado do esporte moderno. Isso, aliado à estrela Neymar e um grupo que se entende no coletivo, acaba sendo protagonista na renovação da tal esperança. Ao menos é o que acredita a torcedora Raissa Sousa, 29, que tem lembranças de Copas desde 1994. “Nunca fui fã de futebol, mas a Seleção Brasileira nos une, né?! Lembro que a expectativa para as Copas de 1994, 1998 e 2002 estavam altíssimas e conseguimos boas campanhas. Mas, desde então, não vejo esse tipo de coisa acontecer. Creio que os fatores externos ao esporte ajudem para tal, porém isso parece estar mudando com o tempo”, comenta a estudante, lembrando a situação de crise política nacional que vive o país nos últimos anos. Essa visão, no entanto, tem seu curso alterado na visão do operador de telemarketing Ludwig Mar-
C a r l d e S o u z a / AFP v i a Gett y I m a g e s
tins, 20. Para ele, toda expectativa depositada no time de Tite acontece porque tem um tom de ‘novo’, na maneira como as coisas acontecem na Granja Comary, local de treinamento da Seleção. “Primeiro, temos um técnico estudioso e adepto da mudança, e acho que isso é a primeira vez que acontece na nossa história. Não temos várias estrelas, apenas uma, mostrando a força que o nosso coletivo tem; o que também é novo. Acho que tudo isso agrega para voltarmos a acreditar”, afirma. Essa nova identidade destacada por um torcedor de 20 anos é algo que ainda está em processo de formação no que diz respeito ao entendimento do torcedor comum. Isso porque é do costume do povo brasileiro ver uma constelação descendo do ônibus e indo a caminho do estádio – coisa que não acontece no atual elenco. Neymar é, pela primeira vez em muito tempo, o rosto comum quando vem à mente os selecionados do Brasil.
“Não temos várias estrelas, apenas uma mostrando a força que o nosso coletivo tem” Ludwig Martins, 20
Isto, contudo, não é motivo para deixar de acreditar, ainda que outras seleções possam estar mais entrosadas ou ainda contem com atletas que sejam mais famosos. Em um plano coletivo, Espanha e Alemanha podem estar à frente da seleção canarinho, mas a ‘falta de nome’ é compensada com a consistência e coordenação em campo. Ao menos é
As manifestações nos muros mostram que a esperança do hexa parece estar voltando aos brasileiros o que entende o jornalista esportivo Lucas Filus, 20. “Ótimos jogadores, solidez tática, sintonia e Neymar Jr: esses são os elementos que fazem as chances de o Brasil estar no topo”, é a conclusão a que chega o blogueiro do ESPN FC.
A falta de nome é compensada com a consistência e coordenação em campo
Com toda essa expectativa, parece que o Brasil não sofreu uma derrota pesada, na última Copa do Mundo. O 7 a 1 parece ter sido perdoado pelos brasileiros, conforme o tempo foi passando, mudanças foram sendo feitas e resultados foram chegando. Ainda que o período pós-copa tenha sido difícil, desde a chegada de Adenor Bachi, o nome do treinador, ao comando técnico da equipe, em junho de 2016, os ânimos parecem ter sido acalmados. Acho que muito daquilo já se esfriou, justamente”, acredita Filus. “Os problemas estruturais da CBF con-
tinuam, mas o departamento de futebol vem conduzindo esse processo pós-fracasso da melhor maneira possível. E se a resposta em campo continuar vindo, com boas exibições, o 7 a 1 será apenas uma lembrança”. Após começar devagar nas Eliminatórias, o Brasil retomou o caminho das vitórias e concluiu a disputa em primeiro. A Seleção estreia no Mundial da Rússia no dia 17 de junho, contra a Suíça. O Brasil disputará o Grupo E, com Sérvia, Suíça e Costa Rica. Um dos favoritos, junto de Alemanha, Argentina e Espanha, além da boa geração da Bélgica.
Fracassos, troca de técnico e prisão: o Brasil entre copas Va n d er l e i A l m e i d a / AFP v i a Gett y I m a g e s
Tite chegou,arrumou a casa e renovou as esperanças do torcedor brasileiro para um time vencedor
Pode-se dizer que o período após a Copa de 2014 e o fim da Copa América Centenário, em 2016, foi um tempo de aprendizado e urgência de mudanças na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Logo depois do término do Mundial, o então treinador Felipão pediu as contas e rumou para longe da Granja Comary. Como seu substituto, a CBF, que rege o futebol nacional, decidiu por colocar Dunga, que já havia tido uma passagem no posto. Sendo técnico da Seleção, o ex-jogador não obteve o mesmo sucesso inicial que havia tido no seu primeiro período à frente da Canarinho. Na Copa América de 2015 foi eliminado pelo Paraguai nas quartas de final, nos pênaltis, após ter conseguido avançar na fase de grupos com dificuldades. Um ano mais tarde, o vexame foi ainda maior, quando sequer conseguiu passar da primeira etapa do certame, encerrando em terceiro lugar na Chave B.
Esse fracasso nos Estados Unidos, aliado aos fracos resultados nas Eliminatórias da América do Sul para o Mundial da Rússia, sacramentou a demissão de Dunga, substituído por Tite, que tratou de mudar as coisas logo de cara. “Ele veio com a intenção de mudar tudo e desde o início deixou claro a importância da autonomia para realizar o trabalho. Tite é diferenciado. Por isso, conseguiu realizar uma ‘mini revolução’ com a nossa Seleção, coisa que nenhum outro conseguiu”, destaca Charley Moreira, 21, setorista do Brasil para o portal esportivo VAVEL Brasil. No extracampo, teve o escândalo de corrupção envolvendo nomes ligados ao futebol em 2015. No Brasil, o mais importante deles foi o de José Maria Marín, que era o presidente da CBF entre 2012 e 2014. Ele foi condenado por corrupção, lavagem de dinheiro e fraude nas competições, dentre outras coisas, e cumpre pena de 20 anos nos Estados Unidos.
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Esportes
Fortaleza–Ceará • sábado, 28 de abril de 2018
Papiro
Desafio
Atletas de Paintball do Ceará lutam pelo reconhecimento da modalidade
Jogadores de times no estado buscam em órgãos responsáveis a criação de uma federação. Conquista é esperada como mais uma possibilidade de motivação para fortalecer a prática KAYO CÉSAR
texto Matheus Nunes Diagramação João Ricart
P
ara qualquer atleta, o reconhecimento do esporte que pratica é uma conquista. E isso não é diferente com jogadores cearenses de Paintball, um esporte onde se mescla diversão e aventura. Os jogadores disputam sozinhos ou em equipe para eliminar os oponentes por meio do uso de armas de ar comprimido carregadas de bolas de tinta. Para os principais times da modalidade no estado, a maior luta dos jogadores é que seja criada uma Federação Cearense de Paintball (Fecep). O atleta Amauri Alves, 23, do time Team7 Real Action, afirma que a luta pelo reconhecimento é diária. "Sim, estamos lutando para que seja reconhecida a Federação Cearense de Paintball". Amauri também ressalta que essa regularização ajudaria os clubes em viagens para jogos fora do Ceará. Enquanto a federação local não é criada, a saída para as equipes cearenses é se federar à Liga de São Paulo para que se tenha um certificado que comprove que são jogadores de Paintball. São os próprios jogadores que organizam as partidas. A cada torneio, uma equipe fica responsável por desenvolver as disputas. Os atletas pagam uma taxa para quem está organizando. As ligas acontecem no terceiro domingo de cada mês, em locais decididos pelo time organizador. O capitão do Team7, Fernando Silva, 35, observa que os jogos seguem as regras do Campeonato Brasileiro de Paintball. A premiação dos campeonatos vai para destaques individuais. "Todos são vencedores em uma partida, existindo apenas destaques individuais, que são escolhidos pelos organizadores como melhor médico, melhor sniper, como é chamado em inglês o atirador, entre outros especialistas". Fernando lembra que as maiores dificuldades que encontram é a legalização do esporte e a falta de equipamentos. Alguns são comprados no Paraguai e chegam ao país
Jogadores do time React Action durante caminhada para a área que abrigou mais uma batalha do campeonato de Paintball
Os jogos seguem as regras do Campeonato Brasileiro de Paintball
cínio local para jogos seria outra vertente dessas dificuldades". A Secretaria de Esporte do estado (Sesporte), por meio de nota enviada ao Papiro, admite que conhece a prática do Paintball, “porém, ainda é considerada uma atividade física voltada mais para o lazer. Ainda não é definido pelo sem nota fiscal. Ele diz que esse Comitê Olímpico Brasileiro (COB) material custa caro, chegando a R$ como modalidade olímpica ou es1.500,00, mesmo sendo de segunda mão. Destaca que “a falta de patro- porte olímpico".
Em relação à criação de uma federação, a nota esclarece que cabe a qualquer pessoa jurídica ou até mesmo física se disponibilizar a
“A falta de patrocínio local para jogos seria outra vertente dessas dificuldades” Fernando Silva, 35
abrir uma organização CNPJ, para dar maior visibilidade à modalidade. A nota adianta que “não cabe à Sesporte a criação de federação, mas sim apoiá-la em suas ações. A Sesporte está de braços abertos a receber projetos referentes à modalidade. É só entrar em nosso site e acompanhar a Lei de Incentivo ao Esporte ou nas portarias de solicitações de material esportivo, passagens para competições e outras."
Prática do esporte para qualquer idade Atleta do Team7 Real Action e tamPara Lima, um atleta de Paintball bém um dos líderes da equipe, Fran- deve ser exemplo de esportividade, cisco Lima, 37, explica que existem honestidade e integridade na prátrês modalidades de jogo de Paint- tica do esporte. Ele diz ainda que ball: Speed – campo com os balões; o fair play (jogo limpo) é uma atiCenário – campo pequeno com os tude fundamental e obrigatória no obstáculos; e Real Action – simu- esporte. lação real de jogo, no qual os joO esporte se originou nos Estados gadores tentam fazer um cenário Unidos, em 1981, quando um grupo mais parecido com uma guerra de de 12 pessoas decidiu brincar de verdade, com patentes dos opera- “capture a bandeira”, utilizando dores, médicos, snipers (atiradores), algumas armas desenvolvidas por engenheiros, técnicos de armas e de engenheiros florestais para marcar comunicações. árvores e trilhas.
KAYO CÉSAR
Jogadores preparam a mira para atirar no atleta adversário em duelo durante o campeonato