NutriTime Revista Eletrônica n. 06 vol. 14 2017

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Revista Eletrônica

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Editora Responsável: Juliana Maria Freitas Teixeira Brito Editor Científico: Júlio Maria Ribeiro Pupa Editora Técnica: Rosana Coelho de Alvarenga e Melo Cláudio José Borela Espeschit Evandro de Castro Melo Fernando Queiróz de Almeida José Luiz Domingues

Júlio Maria Ribeiro Pupa George Henrique Kling de Moraes Marcelo Diniz dos Santos Marcos Antonio Delmondes Bomfim Maria Izabel Vieira de Almeida Patricia Pinheiro de Campos Fonseca Rodrigues Rony Antonio Ferreira Rosana Coelho de Alvarenga e Melo É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo da NRE da em qualquer meio de comunicação, seja eletrônico ou impresso, sem a sua devida citação.

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Sumário ARTIGOS 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte ........................................ 7077 Maurício de Paula Ferreira Teixeira 447 – Teorias sobre a síndrome da baixa gordura no leite de vacas ..................................................................... 7091 Carla Giselly de Souza, Severino Gonzaga Neto, Aparecida da Costa Oliveira, Marcelo de Andrade Ferreira 448 – Queijos artesanais: revisão de literatura............................................................................................................ 8001 Vinícius Tadeu da Veiga Correia, Isabella Cristina Lopes de Assis 449 – Mudanças digestivas na cinética de trânsito e de passagem em bovinos ............................................... 8009 Taynara Raimundo Martins, Graciele Araújo de Oliveira Caetano, Messias Batista Caetano Júnior, Bruna Cristhina de Oliveira 450 – Importância do programa de qualidade “boas práticas de fabricação” ( BPF) na produção de ração ......................................................................................................................................................................................... 8016 Andressa da Silva Formigoni, Gislaine de Castro Marcelo, Andressa Nathalie Nunes 451 – Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação ..................... 8026 Dejanir Pissinin 452 – Secagem e uso da cabergolina em vacas leiteiras ........................................................................................... 8036 Anna Luiza Belli de Souza Alves, Costa Sandra Gesteira Coelho 453 – Utilização de probióticos para aves tipo Caipira .............................................................................................. 8041 Jean Kaique Valentim, Tatiana Marques Bittencourt, Rúbia Francielle Moreira Rodrigues, Cláudio Henrique Viana Roberto, Guilherme Resende de Almeida


Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte: revisão de literatura

Revista Eletrônica

Composição da ração, energia metabolizável, incremento calórico, produção de calor.

Maurício de Paula Ferreira Teixeira

Vol. 14, Nº 06, nov./dez. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

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Médico veterinário autônomo, Doutor em Zootecnia (Produção de

Monogástricos) pela Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail: teixeirampf@hotmail.com

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO O frango de corte moderno apresenta elevada taxa de crescimento, a qual é alcançada pelo alto consumo de ração. Esta, por sua vez, representa a maior fração dos custos de produção na avicultura comercial. A energia é o componente mais caro da ração e a estimativa precisa do valor energético dos alimentos torna-se fundamental na indústria avícola, especialmente predominam

em altas

regiões

tropicais,

temperaturas

que

onde podem

influenciar diretamente o consumo e o balanço enérgico dos alimentos. Atualmente, o conteúdo energético da ração para aves é calculado com base no conteúdo de EM dos ingredientes. No entanto, a estimativa

mais

próxima

do

valor

energético

"verdadeiro" de um alimento é o seu conteúdo em energia líquida. A eficiência de utilização da EM para EL depende de vários fatores como temperatura ambiente, umidade, atividade física, idade, peso, composição da ração, forma física da ração, entre outros. Esta revisão visa discorrer sobre os principais aspectos relacionados aos sistemas de avaliação de energia dos alimentos, focando principalmente no sistema de energia líquida (EL) e na influência que a composição da ração exerce sobre a eficiência de aproveitamento da energia metabolizável (EM) para a EL. Palavras-chave: composição da ração, energia metabolizável, incremento calórico, produção de calor. 7077

EFFECT OF FEED COMPOSITION ON LIQUID ENERGY IN BROILERS: LITERATURE REVIEW ABSTRAC Modern broiler chicken has a high growth rate, which is achieved by high feed intake. In poultry production, feed represents a larger fraction of production costs. Energy is the most expensive component of the diet and accurate estimation of the energetic value of feeds becomes critical in the poultry industry, especially

in

tropical

regions,

where

high

temperatures can directly influence the consumption and the energetic balance of feed. Currently, the energy content of poultry feed is calculated based on the ME content of the ingredients. However, the closest estimation of the "true" energy value of an ingredient is its net energy content. The efficiency of the use of metabolizable energy to net energy depends on several factors such as environmental temperature, humidity, physical activity, age, weight, feed composition, feed physical form and others. This review aims to discuss the main aspects of food energy assessment systems, focusing on the net energy system and the influence of feed composition on the efficiency of the use of metabolizable energy to net energy. Keyword: feed composition, metabolizable energy, heat increment, heat production.


Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte – Revisão

animal e, embora não seja um nutriente, é um INTRODUÇÃO

componente fundamental da ração (Sakomura &

A avicultura é uma das atividades com menor

Rostagno, 2007). As aves utilizam a energia da

margem de lucro no agronegócio, fazendo com que

ração para o crescimento, atividades físicas e

os envolvidos na atividade avícola busquem sempre

manutenção da temperatura corporal. Parte da

meios de redução de custos. Na produção comercial

energia resultante da oxidação das substâncias

de aves, a ração representa a maior fração dos

orgânicas

custos de produção, sendo a energia o componente

compostos fosfóricos de alta energia (ATP), de onde

mais caro. Desta forma, é fundamental a estimativa precisa do valor energético dos alimentos que

no

organismo

é

transferida

para

o animal retira sua energia para os processos vitais (Kleiber, 1975).

compõe a ração, favorecendo a formulação de dietas a um menor custo, sem prejudicar o

A energia dietética pode ser utilizada de três

desempenho.

diferentes formas: suprir energia para atividades, ser convertida em calor ou estocada como tecido

Atualmente, o conteúdo energético da ração para

corporal. A utilização ótima dos nutrientes pela ave é

aves é calculado com base no conteúdo de energia

atingida quando a dieta contém a proporção de

metabolizável (EM) dos ingredientes. No entanto, a

energia e demais nutrientes necessários para o

estimativa

crescimento

mais

próxima

do

valor

energético

"verdadeiro" de um alimento é o seu conteúdo em

e

composição

corporal

desejada

(Leeson & Summers, 2001).

energia líquida (EL), pois leva em consideração as diferentes formas de utilização dos nutrientes para a

Segundo Sakomura (2004), a energia obtida do

manutenção e produção.

alimento é utilizada primeiramente para atender a manutenção dos processos de sobrevivência e só

A EM é uma medida muito útil para estimar a

então é utilizada para o crescimento e produção.

energia disponível nos alimentos. Entretanto, a EM

Assim, a deposição de tecido para crescimento só

não apresenta 100% de eficiência para crescimento

ocorre após as exigências para manutenção serem

e deposição de carne, uma vez que parte da energia

atendidas. Caso a energia disponível na ração não

é

processos

seja suficiente para atender as exigências de

metabólicos. Esta energia perdida na forma de calor

mantença, o tecido corporal será catabolizado para

é denominada de incremento calórico, que é

fornecer a energia necessária.

perdida

como

calor

durante

os

influenciada pela composição química do alimento. PROCESSOS DE DETERMINAÇÃO DA ENERGIA A eficiência de utilização da EM para EL depende de

A alimentação representa uma grande fração do

vários fatores como temperatura ambiente, umidade

custo na produção avícola e a energia é o

relativa

peso,

componente mais caro. Sendo assim, a precisão da

composição da ração, forma física da ração,

estimativa do valor energético dos alimentos é

luminosidade, linhagem, entre outros (Sakomura,

essencial.

do

ar,

atividade

física,

idade,

2004; Sakomura et al., 2004; Lopez & Leeson, 2005; Longo et al., 2006; Latshaw & Moritz, 2009). Neste

Os carboidratos, os lipídeos, as proteínas e parte da

contexto, esta revisão tem como objetivo discorrer

fibra são os constituintes do alimento com potencial

sobre os principais aspectos relacionados aos

para

sistemas de avaliação de energia dos alimentos,

Contudo, o total de energia difere entre estes

focando principalmente no sistema de energia

nutrientes (Sakomura & Rostagno, 2007). Deste

líquida e na influência que a composição da ração

modo, a avaliação energética e o uso de um sistema

exerce sobre a eficiência de aproveitamento da EM

mais preciso para quantificar essa energia é de

para produção de EL.

extrema importância na formulação de rações para

fornecer

energia

ao

organismo

animal.

aves. Os processos existentes para descrever a ENERGIA

energia dietética são energia bruta (EB), energia

A energia é produzida pela oxidação de carboidratos,

digestível (ED),

gorduras e proteínas da dieta durante o metabolismo

energia líquida (EL).

energia metabolizável (EM)

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e


Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte - Revisão

A forma normalmente utilizada na avaliação do

Em animais em crescimento, o consumo de EL é

conteúdo energético dos alimentos para aves é a

calculado como a soma da energia retida no corpo

EM, definida como a diferença entre a EB do

(ER), a um dado nível de alimentação e produção, e

alimento e a EB perdida nas excretas (fezes e urina)

a produção de calor em jejum (PCj), que representa

e nos gases da digestão (Sibbald, 1982). Contudo, o

a ELm (Noblet et al., 1994). A EL encontrada e o k

intestino grosso das aves é pouco desenvolvido e a

correspondente representam a utilização combinada

digesta passa pouco tempo no trato gastrointestinal,

da energia para satisfazer os requisitos de mantença

sendo assim, a energia perdida na forma de gases é

e crescimento (Noblet et al., 2010). A ER pode ser

muito baixa e tem sido desprezada nos cálculos da

determinada pela técnica de abate comparativo ou,

EM (Sakomura & Rostagno, 2007).

mais frequentemente, calculada pela diferença entre o EM ingerida (EMI) e a PC estimada por

O processo de determinação da EM fornece uma

calorimetria. A PCj pode ser medida diretamente nos

estimativa da energia presente na ração que é

animais em jejum ou obtidos a partir de dados da

potencialmente utilizável pela ave, porém não prevê

literatura. É preferível obtê-la após um período de

a eficiência com que essa energia é utilizada para

alimentação com dieta teste, pois a produção de

mantença e produção (Van Der Klis & Kwakernaak,

calor em jejum depende da composição corporal e

2008). Contudo, a determinação da EL leva também

do estado fisiológico do animal, que podem ser

em consideração o calor produzido durante os

influenciados pela dieta, condições climática e

processos de digestão, absorção e metabolismo dos

genética (Noblet et al., 2010). Assim, a diferença

nutrientes, que é conhecido como incremento

obtida entre a PC das aves alimentadas e em jejum,

calórico (IC) (Noblet et al., 2010). Portanto, a EL é

corresponderá ao IC, e conhecendo-se o teor de EMI

definida como o teor de EM menos IC. A energia que

pode-se determinar o valor de EL da dieta.

sobra

depois

dessas

perdas

é

a

energia

verdadeiramente utilizada pela ave para mantença

Como mencionado anteriormente, a PC pode ser

(ELm - energia líquida para mantença) e produção

estimada através da técnica do abate comparativo

(ELp – energia líquida para produção: retenção de

ou a partir de trocas gasosas através da calorimetria

lipídeos, de proteína e produção de ovos).

indireta, podendo ainda ser mensurada diretamente através da calorimetria direta.

A relação EL/EM (k) corresponde à eficiência de utilização da EM para EL. Entretanto, o k não é

O método do abate comparativo estima a PC pela

constante e depende de vários fatores fisiológicos e

diferença entre a EMI e a ER, que durante o ensaio

nutricionais. Por exemplo, o IC é menor quando a

experimental

EM é utilizada para a deposição de gordura em

composição corporal inicial de um grupo de animais

comparação com a deposição de proteína. Como a

que representam os animais experimentais e a

proporção de deposição de gordura normalmente

composição

aumenta mais rapidamente do que a deposição de

(Sakomura, 2004). A ER é calculada pela diferença

proteína, com o aumento do consumo de energia

entre a composição energética corporal final e inicial.

metabolizável, o IC, teoricamente, tende a ser mais

Este método baseia-se na premissa de que a

baixo nos níveis mais elevados de ingestão (Noblet

composição corporal de um grupo de animais pode

et al., 1999).

representar a composição da população estudada

é

dos

quantificada

animais

no

avaliando-se

final

do

a

ensaio

(Wolynetz & Sibbald, 1987). Assim, para evitar erros Assim, o IC é definido como o calor produzido

experimentais é essencial a obtenção de amostras

durante a ingestão, digestão, e metabolismo dos

representativas e homogêneas.

nutrientes, ou seja, calor resultante do aumento da atividade

gastrointestinal,

sistemas

circulatório

dos

Entretanto, o método mais utilizado é a calorimetria

à

indireta, a qual permite uma avaliação em um curto

necessidade de digerir e metabolizar os nutrientes.

período de tempo, com possibilidade de usar os

O termo produção de calor (PC) refere-se ao

mesmos

somatório do incremento calórico com a energia

incluindo o jejum. Neste método o fluxo de ar é

gasta para mantença (Noblet et al., 2010).

misturado ao ar

7079

e

hepática,

renal,

respiratório,

devido

animais

para

diferentes

expirado pelas

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avaliações, aves, sendo


Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte– Revisão

coletadas amostras a cada cinco minutos para a

O metabolismo basal de um animal homeotérmico

determinação das concentrações de O2 e CO2. O

corresponde à energia mínima necessária para

consumo de O2 e a produção de CO2 podem ser

suportar

calculados com base no volume e na composição do

sobrevivência, tais como o funcionamento dos

ar que entra em comparação ao ar que sai (Kleiber,

órgãos, do sistema nervoso, dos tecidos, da

1975). Deste modo, a PC é estimada pela fórmula

temperatura

de Romijn & Lokhorst (1961) que posteriormente foi

ambiente termoneutro (Blaxter, 1989).

a

manutenção

corporal

e

dos

processos

atividade

de

limitada

em

modificada por Brouwer (1965). Portanto, a PC é calculada a partir das mensurações das trocas

A ELm, apesar de ser fundamental nos sistemas de

gasosas (produção de gás carbônico e consumo de

energia

oxigênio) combinado com a excreção de nitrogênio

diretamente por meios experimentais (De Lange &

urinário (Nu) de acordo com a seguinte fórmula: PC

Birkett, 2005). Tradicionalmente, para estimar a ELm

(kj) = 16,18 x O2 (l) + 5,02 x CO2 (l) – 5,88 Nu (g).

são utilizados os requerimentos de energia do

líquida,

não

pode

ser

determinada

metabolismo basal (EMB), representada pela PCj a

(Lofgreen & Garrett, 1968; Blaxter, 1989; De Lange &

contribuição do nitrogênio urinário no cálculo da PC

Birkett, 2005). A princípio, a determinação da ELm

é normalmente inferior a 0,3% (Romijn & Lokhorst,

através da produção de calor do animal em jejum

1961) e tem sido omitido nas pesquisas com estes

não seria apropriada, uma vez que representa tanto

animais por geralmente induzir a um erro <1%

os requisitos energéticos para as funções básicas de

(Geraert et al., 1988; Gabarrou et al., 1997;

manutenção do corpo, ou seja, os requerimentos de

Gabarrou et al., 1998; Zeman et al., 2001; Swennen

ATP ao nível celular somado à produção de calor

et al., 2004; Tachibana et al., 2007; Tachibana et al.,

proveniente da formação de ATP a partir das

2013).

reservas corporais (De Lange & Birkett, 2005).

EXIGÊNCIAS ENERGÉTICAS PARA MANTENÇA

A forma mais apropriada de se obter a ELm seria

E CRESCIMENTO

através da relação ELm= EMB x kb, na qual kb é a

Entretanto,

As

no

exigências

caso

mantença

das

eficiência de conversão das reservas corporais para

crescimento representam grande parte da EMI (42 a

energia útil na forma de ATP. Entretanto, o kb possui

44%),

uma

de

aves,

em

portanto,

de

específico

avaliação

frangos

é

mínima variação, pois a contribuição das reservas

fundamental para a compreensão do metabolismo

precisa

corporais na geração de ATP varia muito pouco nos

energético em frangos de corte (Lopez & Leeson,

animais

2005).

semelhante fazendo com que a energia necessária

em

jejum

com

histórico

nutricional

para o metabolismo basal e a PCj tenham uma forte As exigências energéticas são divididas em gastos

relação conceitual. Isso justifica a utilização da

de energia para mantença e produção. A energia

produção de calor em jejum como valor adotado para

para

a energia líquida de mantença (Birkett & De Lange,

mantença

envolve

gastos

inevitáveis

e

primários, necessários para a sobrevivência, ou seja,

2001).

metabolismo basal. A exigência para mantença é descrita como a quantidade de energia necessária

Segundo Lofgreen & Garrett (1968), uma maneira de

para equilibrar a composição corporal, ou seja,

se avaliar a PCj é estimando o balanço energético a

equilibrar o anabolismo e catabolismo retendo

partir do consumo de EM e da ER. De acordo com

próximo de zero de energia quando não há

esses autores, a PC é composta pelo metabolismo

produção, trabalho ou atividade (Sakomura, 2004). A

basal,

exigência de mantença é atendida a partir da

produzido pela atividade física. Portanto, quando não

energia dos alimentos ou da oxidação de reservas

há consumo de EM, o incremento calórico é igual a

corporais. Além de atender às exigências para

zero e a PC é proveniente do metabolismo basal e

mantença, a energia ingerida também é destinada à

das

síntese de compostos orgânicos, isto é, para o

correspondendo

crescimento corporal, produção ou deposição de

Avaliando-se vários níveis de consumo é possível

gordura

montar uma equação relacionando a produção de

(Sakomura,

2004).

pelo

incremento

atividades

calórico

voluntárias à

exigência

e

pelo

do de

calor

animal, mantença.

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Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte– Revisão

calor ou a retenção corporal em zero de consumo de

0,75 no cálculo do peso metabólico subestima as

ração.

necessidades energéticas em frangos de corte em crescimento. Esses autores verificaram que a

Normalmente,

a

PCj

é

medida

diretamente

exigência de mantença calculada com base no PV

0,

(calorimetria direta) ou calculada pelo consumo de

75

O2 e produção de CO2 (calorimetria indireta). A PCj é

utilizando PV

mensurada com animais em jejum durante períodos

expoente 0,60 é mais preciso. Contrariando Lopez &

variáveis, conforme a espécie animal (tamanho

Leeson (2005), em uma compilação de dados para

corporal e capacidade de consumo de alimento), e

PCj,

em temperatura ambiental de conforto ou em

atualização do expoente para expressar o peso

temperatura fixa de 24 °C.

metabólico de frangos de corte. Segundo esses

Kg era 8% mais baixa do que os valores estimados

Noblet

0, 60

et

Kg e afirmam que o uso do

al.

(2015)

recomendam

uma

autores, o expoente indicado para frangos de corte é A EMI normalmente é dividida em PC e ER em

0,70, diferente do recomendado para outros animais

tecidos corporais, principalmente como gordura

(0,75).

(ERG) e proteína (ERP). Desta forma a EMI = PC + ER. Em condições de termoneutralidade, a PC em

EFEITO DA COMPOSIÇÃO DA RAÇÃO

frangos de corte em crescimento representa entre 52

A composição da dieta tem influência direta sobre

a 64% da EMI (Van Milgen et al., 2001; Noblet et al.,

seu conteúdo de energia líquida, uma vez que os

2003) e está diretamente relacionada com as

diferentes nutrientes não são usados com a mesma

exigências

e

eficiência. Pirgozliev et al. (2001), demonstraram que

processos produtivos. Van Milgen et al. (2001),

as diferenças em energia líquida nos grãos estão

subdivide a produção de calor total em três

correlacionadas com diferenças no desempenho de

componentes principais: PCj, PC decorrente da

frangos em crescimento e observaram que estas

atividade física e efeito térmico do alimento (ETA).

diferenças

Esses

determinações de energia metabolizável.

energéticas

autores

para

manutenção

demonstraram,

através

da

não

foram

detectadas

pelas

calorimetria indireta, que a PCj e o calor proveniente da atividade física representam de 36 a 37% da EMI

Segundo Noblet (2007), a eficiência energética da

em frangos de corte de 21 a 35 dias de idade, assim

dieta

a

esses

carboidratos e diminui com a adição de fibras e

pesquisadores para frangos nesta fase encontra-se

proteínas. Noblet et al. (2010) afirmam que o

energia

de

mantença

entre 152-157 kcal/kg kcal/kg

obtida

por

0,60

aumenta

com

a

adição

de

gordura

e

. Valores semelhantes (155

conteúdo de energia líquida, como uma percentagem

) foram encontrados por Lopez & Leeson

do conteúdo de EM, corresponde à eficiência de

0, 60

(2005) utilizando a técnica de abate comparativo e o

utilização da EM para EL.

mesmo modificador metabólico. A principal diferença entre os sistemas de ED ou EM A energia para mantença é geralmente expressa

e EL é que os dois primeiros expressam o potencial

numa base de peso metabólico, a qual é definida

energético, enquanto o último expressa a energia útil

como o peso corporal elevado à potência 0,75

e inclui a eficiência com a qual cada nutriente pode

(Macleod, 1990; Boekholt et al., 1994; Buyse et al.,

ser utilizado. Essa eficiência é diferente entre os

1998). Porém, estudos recentes indicam que este

nutrientes. A proteína do corpo está sujeita a um

expoente não é o mais adequado para prever as

processo constante de quebra e síntese e, durante

exigências

corte

esse processo, uma fração de aminoácidos é

(Macleod, 1997; Van Milgen et al., 2001; Noblet et

inevitavelmente perdida. A síntese proteica requer

al., 2003; Lopez & Leeson, 2005). As exigências

energia e a contínua quebra e síntese das proteínas

para mantença são altamente influenciadas pelo

do corpo aumentam o gasto energético. Assim, a

cálculo, consequentemente, isso irá

influenciar

proteína da dieta é utilizada com uma eficiência

diretamente a partição energética entre mantença e

média de apenas 60 % para deposição de proteína

produção

proteína),

corporal, enquanto que os carboidratos e gorduras

afetando a eficiência de uso da energia. Lopez &

são utilizados para deposição de lipídeos em aves

Leeson (2005) verificaram que o uso do expoente

com eficiência média de 90% e 75%, respectivamente

7080

energéticas

(deposição

em

de

frangos

gordura

e

de

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Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte– Revisão

(De Lange & Birkett, 2005). Para MacLeod (2002),

calórico do que os carboidratos e as gorduras.

os valores de energia líquida para gordura e proteína por unidade de EM são, respectivamente, 20% maior

Durante muitos anos tem sido recomendado reduzir

e 20% menor em comparação com carboidratos.

os níveis proteicos das dietas em ambientes quentes devido ao alto incremento calórico das proteínas

Carré et al. (2002) citado por Noblet et al. (2010),

(Cheng et al., 1997; Musharaf & Latshaw, 1999).

trabalhando com frangos de corte dos 21 a 35 dias

Desse modo, pode-se reduzir o estresse através da

de idade, avaliaram 28 dietas através do abate

redução do total de calor produzido pelo animal,

comparativo e utilizando um valor de referência para

diminuindo ainda os prejuízos no desempenho

a

energia

de

mantença

de

120,4

0,6

kcal/kg ,

devido ao calor (Aletor et al., 2000).

encontraram taxas de EL/EMA de 68, 84 e 78% respectivamente

para

proteína,

lipídeos

e

carboidratos.

Os avanços na determinação das exigências de aminoácidos

para

aves

e

o

aumento

da

disponibilidade dos aminoácidos sintéticos permitem PROTEÍNA DA DIETA

que os níveis de proteína bruta das dietas sejam

As dietas com baixos níveis proteicos têm sido

reduzidos,

associadas com redução de perdas energéticas,

aminoácidos essenciais. Entretanto, os estudos

pois o aumento do suprimento de proteína está

avaliando níveis de PB têm apresentado resultados

diretamente relacionado com um maior ―turnover‖

inconsistentes. Kerr & Kidd (1999), usando dietas

proteico (Roth et al., 1999; Van Milgen et al., 2001) e

com proteína variando de 19 a 13%, relataram que a

aumento do peso das vísceras (Noblet et al., 1987)

redução de dois por cento do teor de proteína da

com subsequente aumento da produção de calor.

dieta (19 para 17%) não afeta o ganho de peso (GP)

Além disso, a utilização de dietas com baixos teores

e conversão alimentar (CA) quando se adiciona

de proteína bruta, formuladas para suprir as

metionina

exigências aminoacídicas das aves, reduzem a

observaram diferença no GP das aves entre os

quantidade de aminoácidos circulantes, levando a

níveis de PB avaliados, medindo o desempenho de

uma menor produção e excreção de nitrogênio na

frangos de corte de 22 a 42 dias de idade

forma de ácido úrico, resultando em menor produção

alimentados com rações contendo diferentes níveis

de

disponibilidade

de PB (17,5; 18,0; 18,5; 19,0 ou 19,5%) e

energética para deposição de tecidos (Silva et al.,

suplementadas com aminoácidos industriais. Esses

2006). Isto ocorre porque o processo de excreção do

autores observaram ainda uma relação inversa entre

excesso de N tem um alto custo energético.

os níveis de PB na ração e o consumo de ração

Segundo Vasconcellos et al. (2010), estima-se que

pelas aves, além de uma melhora na CA de frangos

para incorporar um aminoácido na cadeia proteica

de corte com o aumento dos níveis de PB da ração.

calor,

podendo

melhorar

a

mantendo-se

e

lisina.

Costa

o

et

suprimento

al.

(2001)

de

não

gasta-se em torno de quatro moles de ATP e para excretar um aminoácido são gastos de seis a 18

De

moles de ATP, dependendo da quantidade de N do

verificaram diferença no CR em frangos de corte

aminoácido.

alimentados com rações contendo entre 15,0 e

forma

oposta,

Sabino

et

al.

(2004)

não

23,0% de PB e suplementadas com aminoácidos Diversos pesquisadores têm observado aumento no

industriais em quantidades adequadas para o

teor de gordura na carcaça de frangos de corte

atendimento das exigências nutricionais das aves de

alimentados com dietas com níveis baixos de

22 a 42 dias de idade. Contudo, eles observaram

proteína bruta (PB) (Aletor et al., 2000; Silva et al.,

melhora na CA com o aumento dos níveis de PB da

2003;

2005;

ração, e um efeito quadrático sobre o GP que

Vasconcellos et al., 2010). Segundo esses autores,

aumentou à medida que os níveis de proteína

o aumento dos níveis de gordura da carcaça está

aumentaram, atingindo o máximo com 21,12% de

relacionado à economia de energia.

proteína bruta na ração. De maneira semelhante,

Gonzalez-Esquera

&

Leeson,

Dean et al. (2006) também observaram que rações Sabe-se que a proteína tem maior incremento

contendo 16,2% de PB e suplementadas com aminoá-

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7077-7090, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006

7081


Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte– Revisão

cidos

sintéticos

aminocídicas,

atendendo

proporcionaram

às pior

exigências GP

em

comparação à ração contendo 22,2% de PB.

observaram que dietas com alto teor de proteínas (23 e 19%) foram capazes de reduzir a produção de calor em frangos de corte sob estresse térmico (32 °C) entre 3 e 9 semanas de idade. Nieto et al. (1997)

Vasconcellos et al. (2010) observaram que a

citado por Furlan et al. (2004) alimentaram frangos

redução dos níveis de proteína bruta (21; 19 e 17 e

de corte com dietas contendo 6,6 e 20% de PB do

15% de PB) nas dietas levou a perdas de

10º ao 24º dia de idade e relataram um aumento no

desempenho de frangos de corte machos de 21 a 42

requerimento de energia para mantença (966 e 824

dias de idade. Já, Oliveira et al. (2011) não

kJ/kg

encontraram efeito da redução do nível de proteína

semelhante, Buyse et al. (1992) citado por Furlan et

bruta (21,6; 20,6; 19,6; 18,6 e 17,6% de PB) em

al. (2004) verificaram que a redução da quantidade

rações formuladas de acordo com o conceito de

de proteína bruta da dieta (20 para 15 %) aumentou

proteína ideal e suplementada com aminoácidos

a produção de calor (1,059 e 1,254 kJ/kg

industriais sobre o GP e o CR de frangos de corte,

respectivamente) em frangos de 28 dias de idade.

porém estes pesquisadores verificaram uma piora na

Esses resultados foram associados ao aumento do

CA das aves.

nível plasmático do hormônio triiodotironina (T 3) dos

0,75

/dia,

respectivamente).

De

maneira

0,75

/dia,

frangos alimentados com dietas de baixa proteína. Avaliando o desempenho de frangos de corte no

De acordo com Carew et al. (1997), deficiências de

período de 23 a 44 dias de idade mantidos em

aminoácidos essenciais aumentam as concentrações

ambiente de alta temperatura (32°C) e alimentados

plasmáticas de T3 e, consequentemente, aumentam

com rações com 16,0 e 20,0% de proteína bruta

a produção de calor das aves alimentadas com

suplementadas com aminoácidos sintéticos, Alleman

dietas de baixa proteína. Segundo estes autores,

& Leclercq (1997) observaram redução no GP das

embora a deficiência de aminoácidos tenha efeitos

aves que receberam menor teor de proteína bruta

individuais

(16,0%). Temim et al. (2000), testando dietas com

mecanismos

teores de proteína bruta variando de 10 a 33%,

deficiências

encontraram uma melhora no desempenho das aves

tireoidianos são desconhecidos.

nos

hormônios

metabólicos alteram

os

da

pelos níveis

tireóide, quais de

os

essas

hormônios

quando consumiram dietas de 28 e 33% de proteína bruta, mesmo quando as aves foram criadas em

Noblet et al. (2003), avaliando o efeito do nível de

estresse por calor. Faria Filho et al. (2007)

proteína bruta da dieta sobre a eficiência de

observaram redução no GP de frangos de corte

utilização da EM para EL em suínos e frangos de

submetidos a estresse térmico (33°C) de 21 a 42

corte machos através da calorimetria indireta,

dias de idade consumindo rações contendo baixos

observaram que em suínos a produção de calor foi

teores de PB (17,0 e 18,5%), formuladas de acordo

significativamente menor para os animais que

com o conceito de proteína ideal, em comparação a

receberam dieta com menor nível de PB, resultando

frangos alimentados com ração com 20% de PB e

em uma maior relação EL/EM. Contudo, a produção

sob as mesmas condições ambientais. Contudo,

de calor em frangos de corte não foi afetada pelo

Oliveira et al. (2010) concluíram que o nível de

teor de proteína bruta na dieta, consequentemente a

proteína bruta da ração formulada utilizando-se o

eficiência de utilização da EM para EL entre as

conceito de proteína ideal pode ser reduzido de 21,6

dietas foram semelhantes (Tabela 1), contrariando a

para até 17,6% em rações de frangos de corte

hipótese de que a proteína bruta pode ser reduzida

machos na fase de crescimento, pois essa redução

em rações para frangos de corte estressados pelo

não prejudica as características de desempenho, o

calor para redução do incremento calórico.

peso absoluto ou o rendimento de cortes nobres de frangos de corte submetidos a estresse por calor

Além disso, Noblet et al. (2007) não conseguiram

(32,2 °C).

demonstrar um aumento da produção de calor em frangos de corte alimentados com dietas ricas em

Alguns estudos têm demonstrado ainda que dietas

proteínas. Estes autores observaram que a relação

de baixa proteína aumentam a produção de calor.

EL/EM foi de, aproximadamente, 68% para frangos

Geraert et al. (1993) citado por Furlan et al. (2004)

de corte, independentemente do nível de proteína

7082

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7077-7090, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte– Revisão

bruta na dieta, que variou de 22,5% a 27,3%.

intestinal e levando ao comprometimento da digestão e da absorção de nutrientes. Além disso, a

TABELA 1. Efeito da proteína bruta da dieta sobre a

viscosidade

utilização energética em suínos e frangos de corte

intestinal e nas funções fisiológicas do intestino

em crescimento

(Choct et al., 2004). Dessa forma, os grãos de Suínos

Nível de PB na dieta

19,4% 14,5% 22,4

Peso corporal (kg)

57.6

Balanço energético (kJ/kg EM consumida Produção de calor Produção de calor em

Frangos

0,60

57.2

17,8

%

%

1.47

1.46

/dia)

da digesta

interfere

na microflora

cereais que são empregados nas rações das aves são classificados em viscosos (aveia, cevada, centeio, trigo e triticale) e não viscosos (milho, sorgo, arroz e milheto) (Choct, 2006). Dependendo do nível e da origem da fibra na dieta

2,564 2,566 1626 1642 A

B

1,402 1,346 735

731

também têm sido registrados efeitos antinutricionais

862

861

em relação à eficiência de retenção da energia

446

456

metabolizável. Jorgensen et al. (1996), comparando

417

404

jejum

o efeito do nível e fonte de fibra sobre a utilização da

Incremento calórico

667

A

614

B

Valores de energia da dieta (kJ/g) EM

de calor com consequente diminuição na eficiência

14.04 13.98 13.36 13.34 A

EL

B

10.36 10.61 10.00 10.01

EL/EM (x100)

73.9

A

energia em frangos, observou aumento na produção

B

75.9

74.8

75.0

da retenção de energia com o aumento na fibra da dieta. O efeito foi maior com dietas à base de ervilha do que com aquelas à base de cereais, como o trigo

Médias seguidas de letras diferentes maiúsculas

e a aveia. Hadorn & Wenk (1996) verificaram maior

na linha são estatisticamente diferentes pela análise de variância Fonte: Adaptado de Noblet et al., 2003.

redução na retenção de energia e proteína diluindo a

FIBRA NA DIETA

amido e ao farelo de milho.

Os

polissacarídeos

não-amídicos

(PNAs)

ração com casca de soja quando comparado ao

são

polímeros de açúcar que representam os principais

O aumento no trato gastrintestinal e seus segmentos

componentes da parede celular dos vegetais e,

têm sido relacionados com o consumo de dietas

devido à natureza de suas ligações, não podem ser

fibrosas em frangos. Jorgensen et al. (1996)

digeridos pelos animais monogástricos, pois são

observaram aumento no consumo voluntário de

resistentes à hidrólise no trato gastrointestinal (Rosa

alimento e no peso e comprimento relativo do

& Uttpatel, 2007).

intestino delgado e cecos de frangos com dietas de alta fibra preparadas a partir da diluição de uma dieta

As fibras (PNAs), dependendo da solubilidade dos

basal com subprodutos fibrosos de ervilha, de trigo e

seus constituintes, podem ser classificadas em

de

solúveis e insolúveis. As fibras insolúveis são as

gastrintestinal pode ser considerado como uma

celuloses, as ligninas e algumas hemiceluloses. As

estratégia fisiológica relacionada ao aumento de

fibras solúveis são compostas por pectinas, gomas e

consumo de matéria seca de dietas com menor valor

principalmente pela hemicelulose. A hemicelulose,

calórico (Leeson et al., 1991). Além disso, é uma

por sua vez, é constituída por arabinoxilanos, β-

tentativa fisiológica para favorecer a digestão e

glucanos, D-xilanos, D-mananos e xiloglucanos,

absorção com dietas com alta viscosidade, pois a

entre outros.

viscosidade da dieta apresenta correlação negativa

aveia.

O

aumento

no

volume

do

trato

com a digestibilidade de nutrientes (Francesch et al., Os efeitos deletérios das fibras são observados

2002).

principalmente naquelas solúveis, uma vez que apresentam a capacidade de elevar a viscosidade

Pirgozliev

da dieta e se ligar a grandes quantidades de água

experimentos. No primeiro, avaliaram o efeito do

et

al.

(2003)

conduziram

formando um gel viscoso (Santos Jr. et al., 2004).

trigo e da cevada sobre a eficiência de utilização de

Como consequência, ocorre redução na taxa de

energia metabolizável verdadeira, determinada em

difusão dos nutrientes e das enzimas digestivas,

galos, para a retenção de energia corporal em

impedindo suas interações na superfície da mucosa

frangos de corte de 7 a 21 dias de idade. Foram

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dois

7083


Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte– Revisão

preparadas cinco dietas misturando trigo e cevada

duas dietas, isto devido ao maior consumo verificado

com as seguintes proporções, respectivamente, 4:0,

na ração de alta fibra. Os autores não observaram

3:1, 2:2, 1:3 e 0:4. O segundo experimento avaliou

efeito significativo da dieta sobre a ER e a produção

se a alteração da viscosidade da digesta de frangos

de calor total (PCT), possivelmente devido à baixa

de corte (com adição de goma guar na ração a base

viscosidade da dieta fibrosa (< 2 ml/g). Entretanto, a

de milho) afeta a eficiência de retenção de energia

diluição da dieta com fibra insolúvel causou grande

corporal. Os autores observaram uma redução

diferença

(P<0,001) da energia metabolizável verdadeira

resultando em redução de mais de 400 kcal/kg na

(EMv) com o aumento da cevada na mistura,

EM. Já o efeito dos fatores sobre a utilização líquida

havendo uma tendência (P>0,05) na redução da

da EM (EL/EM), embora significativo, foi muito

eficiência da utilização da EMv com o aumento das

pequeno (<1%), com redução no aproveitamento

proporções de cevada, em substituição ao trigo. Os

devido ao alto nível de fibra. Estes pesquisadores,

autores justificam esse resultado pelo elevado teor

embasados nos resultados encontrados, afirmaram

de β-glucanos na cevada que eleva a viscosidade,

que as inclusões dos ingredientes fibrosos nas

em comparação com dietas à base de trigo. Com o

rações causaram um efeito principalmente de

segundo

pesquisadores

diluição da EM, e que a viscosidade pode ter um

demonstraram que o aumento da viscosidade da

papel importante no efeito da fibra sobre a taxa

digesta apresenta um efeito prejudicial sobre a

EL/EM em frangos em crescimento.

experimento,

os

na

metabolizabilidade

da

energia,

utilização da energia em frangos de corte. TABELA 2. Efeito do nível de fibra na dieta de Sarmiento-Franco et al. (2000), trabalhando com galos

sob

alimentação

forçada

e

frangos sobre balanço de energia

1

Variáveis

calorimetria

indireta, observaram maior eficiência de utilização da

Fibra Normal

Alta

1,299

1,284

PV (Kg)

energia do farelo de trigo quando comparado ao

0, 75

farelo de folhas de chaya (uma planta comestível de

Balanço de energia (kcal/kg

origem mexicana), que foi atribuído ao maior nível

EM consumida

356,4

364,5

de FDA e à maior capacidade de hidratação da fibra

ER

139,4

140,9

PCT

217,0

223,6

PCJ

113,7

116,6

PCA

40,5

41,6

ETA

62,8

65,4

das folhas de chaya. Jorgensen et al. (1996) observaram aumento na PC e diminuição na ER (kcal/kg

0,75

) com o aumento no

nível de fibra, utilizando ervilha ou trigo, na dieta de

Valor energético das dietas (kcal/kg MS)

frangos alimentados à vontade. Já o aumento no nível de fibra usando aveia não alterou a ER (kcal/kg

0,

75

). Também Hadorn & Wenk (1996),

trabalhando com frangos alimentados à vontade de oito a 42 dias de idade, observaram redução na retenção de energia com a diluição de uma dieta basal com 20% de casca de soja, e aumento na

/dia)

EM

3534

a

3088

b

EL

2522

a

2179

b

EL/EM

0,714

a

0,706

b

1

– PV – peso vivo; EM cons - energia metabolizável consumida; ER – energia retida; PCT – produção de calor total; PCJprodução de calor em jejum; PCA- produção de calor da atividade física; ETA- efeito térmico do alimento; EM – energia metabolizável aparente; EL – energia líquida; Fonte: Adaptado de WarpechowskI et al., 2006.

retenção de energia com a diluição com 20% de amido ou farelo de milho. Esses trabalhos mostram

DENSIDADE ENERGÉTICA DA RAÇÃO

que o efeito da fibra sobre a produção de calor e a

O frango de corte moderno apresenta elevada taxa

retenção de energia é dependente de sua fonte.

de crescimento, que é alcançada graças ao alto consumo de ração. Entretanto, a ingestão e o

Warpechowski et al. (2006) estudaram o efeito do

metabolismo do alimento têm um efeito termogênico,

consumo de ração com alta fibra (50% mais fibras)

elevando a produção de calor pelas aves. Portanto,

sobre a produção de calor e a utilização da energia

ao sofrerem estresse por calor, as aves reduzem o

metabolizável em frangos de corte (Tabela 2) e

consumo de alimento e a eficiência digestiva, a fim

verificaram que o peso médio das aves e o consumo

de diminuir a produção de calor metabólico e manter

de energia (kcal/kg PM) foram semelhantes para as

a homeotermia (Oliveira Neto et al., 2000).

7084

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7077-7090, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte– Revisão

Para reduzir estes efeitos tem sido recomendada a

esses autores verificaram que a gordura abdominal

modificação dos níveis nutricionais das rações,

aumentou

especialmente no que se refere ao aumento da EM

proporcionalmente à elevação da energia da dieta

para aves criadas em altas temperaturas (Raju et al.,

em ambiente de altas temperaturas.

e

o

rendimento

de

peito

diminuiu

2004). Entretanto, Campos et al. (1995) sugerem a redução da EM na ração de aves criadas em

Sakomura

et al. (2004)

observaram

melhores

ambientes quentes, pois o aumento da energia pode

resultados de desempenho em aves que receberam

contribuir negativamente para a dissipação de calor

nível de energia mais alto. Esses autores estudaram

pelos frangos devido à maior quantidade de calor

o efeito dos níveis de energia metabolizável da dieta

gerado e ao menor gradiente térmico existente entre

(3050, 3200 e 3350 kcal/kg) sobre o desempenho e

a superfície da ave e o ambiente. Todavia, é

o metabolismo energético de frangos de corte

interessante ressaltar que tem sido verificado um

machos na fase de crescimento (22 a 43 dias de

melhor desempenho de frangos de corte com o

idade) em condições de temperatura ambiente e

aumento da energia nas rações (Sakomura et al.,

utilizando o método de

2004; Ghazalah et al., 2008).

observaram que os níveis de energia influenciaram a

abate comparativo e

ingestão de energia metabolizável (371,21; 379,67; 75

368,61

Kcal/Kg) na ração de frangos de corte submetidos a

retenção de energia na carcaça (162,11; 156,58;

três temperaturas (17,1; 22,2 e 27,9°C), Bertechini et

160,58 kcal/kg

al.

223,10; 208,03 kcal/kg

(1991)

observaram

que

o

aumento

da

kcal/kg

0,

Avaliando três níveis de EM (3200, 3000 e 2800

0, 75

/d)

e,

consequentemente,

a

/d) e a produção de calor (209,10; 0, 75

/dia), respectivamente.

temperatura e a redução do nível energético da ração provocaram redução do ganho de peso das

Tem sido sugerido o uso de lipídeos, como fonte de

aves. Estes autores observaram que, para os

energia,

frangos criados na temperatura de 27,9 °C foi

diminuírem o incremento calórico das dietas e

necessário utilizar o nível de 3200 kcal/kg para obter

favorecerem o desempenho das aves durante

o mesmo ganho de peso das aves que receberam

épocas de altas temperaturas ambientais (Sakomura

os níveis de 3000 kcal/kg em 22°C e 2800 kcal/kg

et al., 2004; Rostagno et al., 2006). Segundo Noblet

em 17,1°C.

(2007), a eficiência energética da dieta aumenta com

ao

invés

de

carboidratos,

por

eles

a adição de gordura e carboidratos e diminui com a Oliveira Neto et al. (2000) observaram que o

adição de fibras e proteínas. Oliveira Neto et al.

estresse por calor influenciou negativamente o

(1999) obtiveram melhora linear crescente para

desempenho, reduziu o rendimento de peito e o

ganho de peso e conversão alimentar de frangos

peso do coração, fígado, moela e intestinos, bem

expostos ao calor em razão do aumento do nível de

como aumentou a gordura abdominal de frangos de

energia (3000, 3075, 3150, 3225 e 3300 kcal de

corte, independentemente do nível energético da

EM/kg) por meio de inclusão de óleo de soja às

ração (3075 e 3300 kcal de EM/kg) em frangos de

rações.

corte de 22 a 42 dias de idade. Assim, a melhoria no desempenho associado à Trabalho semelhante foi realizado por Barbosa et al.

inclusão de óleo ou gordura na ração, pode ser

(2008) para avaliar os efeitos dos níveis de EM na

atribuída

ração (2800, 2900, 3000, 3100 e 3200 kcal/kg) sobre

nutrientes dos ingredientes da ração, e ao efeito

o desempenho e as características de carcaça de

extra metabólico dos lipídeos, que resulta em

frangos de corte de 22 a 49 dias de idade criados

melhoria da eficiência energética pelo incremento da

em condições de estresse cíclico por calor (23,5 a

energia líquida da ração (Sakomura et al., 2004).

ao

aumento

da

disponibilidade

dos

36,6 °C). Estes autores não encontraram efeito dos níveis de energia da dieta sobre o ganho de peso e

Em estudo utilizando calorimetria indireta, Noblet et

a conversão alimentar. Além disso, não observaram

al. (2009) analisaram a eficiência de utilização da EM

influência dos tratamentos sobre os rendimentos de

para EL em duas dietas com as inclusões de 2,7 e

carcaça, coxa, sobrecoxa, asa, tulipa, moela,

9,6% de lipídeos (óleo de colza) para frangos de

coração, fígado, proventrículo e intestino. Entretanto,

corte de três a seis semanas de idade. Esses autores

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7077-7090, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006

7085


Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte– Revisão

não observaram efeito dos níveis de lipídeos sobre o

geral, os dados disponíveis indicam que grandes

ganho de peso, consumo de energia metabolizável

mudanças na composição da dieta não afetam a

(1875 kJ/kg kJ/kg

0,70

/dia), produção de calor total (903

0,70

/dia), produção de calor em jejum livre de

atividade física (440,5 kJ/kg calor

relacionado

à

eficiência de utilização da energia metabolizável para energia líquida em frangos de corte.

0,70

/dia), produção de

atividade

física

(146,5

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

kJ/kg

0,70

ALETOR, V.A.; HAMID, I.I.; NIESB, E.; PFEFFER, E.

kJ/kg

0,70

Low-protein amino acid-supplemented diets in

/dia) e efeito térmico da dieta (315,5 /dia), sendo assim as relações EL/EM

broiler chickens: Effect on performance, carcass

(75,3%) foram equivalentes.

characteristics, whole body composition and Em dois experimentos, Teixeira (2015) avaliou o

efficiencies nutrient utilization. Journal of the

efeito de diferentes níveis de energia metabolizável

Science of Food and Agriculture, v.80, p.547-

(2980, 3080, 3180 e 3280 kcal/kg) na dieta sobre o

554, 2000.

desempenho e o balanço energético de frangos de

ALLEMAN, F.; LECLERCQ, B. Effects of dietary

a

protein and environmental temperature on growth

condições ambientais de termoneutralidade (23 ±

performance and water consumption of male

2°C) e estresse cíclico por calor (23-32 ± 2°C). Em

broiler chickens. British Poultry Science,v.38,

condições de termoneutralidade, o aumento do nível

p.607-610, 1997.

corte

na

fase

de

crescimento

submetidos

de EM aumentou o GP e reduziu a CA de forma

BARBOSA, F. J. V.; LOPES, J. B.; FIGUEIRÊDO, A.

linear. Porém, os níveis de EM avaliados nas rações

V.; ABREU, M. L. T; DOURADO, L. R. B.;

não foram capazes de influenciar o consumo de

FARIAS, L. A.; PIRES, J. E. P. Níveis de energia

EMAn (331,19 kcal/kg 0,70/dia), a energia retida

metabolizável em rações para frangos de corte

(126,72 kcal/kg 0,70 /dia), a produção de calor total

mantidos em ambiente de alta temperatura.

(204,46 kcal/kg 0,70/dia), a produção de calor em

Revista Brasileira de Zootecnia, v. 37, p. 849-

jejum (128,6 kcal/kg 0,70/dia), o IC (75,9 kcal/kg

855, 2008.

0,70/dia) e nem a eficiência de utilização da EMAn

BERTECHINI, A.G.; ROSTAGNO, H.S.; SILVA, M.A.

para EL (75,9%). No segundo experimento o autor

Efeitos da temperatura ambiente e nível de

observou que, em frangos estressados por calor, o

energia da ração sobre o desempenho e a

nível de EM da ração não influenciou o GP, mas

carcaça de frangos de corte. Revista Brasileira

melhorou de forma linear a CA. Verificou também

de Zootecnia, v.3, p.219-229, 1991.

que os níveis de EM avaliados nas rações não foram

BIRKETT, S.; LANGE, K. Limitations of conventional

capazes de influenciar o consumo de EMAn (316,93

models and a conceptual framework for a nutrient

kcal/kg 0,70/dia), a energia retida (107,56 kcal/kg

flow representation

0,70/dia), a produção de calor total (209,37 kcal/kg

animals. British Journal of Nutrition, v. 86, p.

0,70/dia), a produção de calor em jejum (129,81

647–659, 2001.

kcal/kg 0,70/dia) e a eficiência de utilização da EMAn para EL (74,5%). Entretanto, verificou que o IC reduziu até o nível estimado de 3151,72 de EM na ração e a partir deste nível o IC aumentou.

of

energy utilization

by

BLAXTER, KL. Energy metabolism in animal and man. Cambridge; 1989. p. 336. BOEKHOLT,

H.A.; VAN

DER

P.; SCHREURS,

GRINTEN, V.V.A.M.; LOS,

M.J.N.; LEFFERING C.P. Effect of dietary energy CONSIDERAÇÕES FINAIS

restrictions on retention of protein, fat and energy

Até o momento, a determinação da energia líquida é,

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Teorias sobre a síndrome da baixa gordura no leite de vacas Ácidos graxos trans, biohidrogenação, insulina glicogênica.

Revista Eletrônica 1

Vol. 14, Nº 06, Nov./Dez de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

Carla Giselly de Souza 2 Severino Gonzaga Neto 3 Aparecida da Costa Oliveira 4 Marcelo de Andrade Ferreira

1

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO Duas categorias propostas resumem a base para a depressão da gordura no leite (DGL) induzida pela dieta: as que consideram a redução na produção de gordura do leite como uma consequência de uma oferta insuficiente de precursores para a síntese de lipídeos da glândula mamária de gordura do leite e as que atribuem a redução na gordura do leite a uma inibição direta de um ou mais passos na síntese de gordura do leite da glândula mamária. Teorias da antiga categoria incluíam: redução na produção de acetato e β-hidroxibutirato no rúmen limitando a síntese de novo de ácidos graxos mamário. A teoria que ganhou apoio ao longo da última década é que a síntese mamária de gordura do leite é inibida pelo único ácido graxo que é produzido como um resultado de alterações na biohidrogenação do rúmen ou por inibição direta dos ácidos graxos trans resultantes da biohidrogenação incompleta dietética dos ácidos graxos insaturados no rúmen. Palavras-chave: ácidos graxos trans,biohidrogenação, insulina glicogênica.

7091

Zootecnista – UFRPE/Mestre em Produção Animal – UNESP/Doutora em Nutrição e Produção Animal - CCA / UFPB. Pós Doutoranda - PNPD/ UFPB. E-mail: carlaxlsouza@yahoo.com.br 2 Zootecnista – UFPB/Mestre em Produção Animal – UFRPE/Doutor em Nutrição e Produção Animal - UNESP/ Professor- UFPB. 3 Zootecnista- UNIOESTE/ Mestre em Zootecnia- UNIOESTE/Doutora em Nutrição e Produção Animal - CCA / UFPB /- Pós-Doutoranda - UNIOESTE. 4 Agrônomo – UFV/Mestre em Zootecnia – UFV/Doutor em Zootecnia - UFV/ Professor -UFRPE.

THEORIES ABOUT THE LOW FAT SYNDROME IN COW’S MILK ABSTRACT Two proposed categories summarize the basis for diet-induced milk fat depression (MFD): those who consider

reduced

milk

fat

production

as

a

consequence of an insufficient supply of precursors for the synthesis of fat mammary gland lipids of milk, and those that attribute the reduction in milk fat to a direct inhibition of one or more steps in the synthesis of milk fat from the mammary gland. Theories of the former category included: reduced production of acetate and β-hydroxybutyrate in the rumen by limiting de novo mammary fatty acids synthesis. The theory that has gained support over the last decade is that milk fat mammalian synthesis is inhibited by the only fatty acid that is produced as a result of changes in the rumen biohydrogenation or by direct trans fatty acids inhibition resulting from incomplete dietary biohydrogenation of rumen unsaturated fatty acids. Keyword: biohydrogenation, Insulin glycogen, trans fatty acids.


Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas

INTRODUÇÃO

É frequentemente o resultado de mudanças na

Atualmente, o aumento dos custos operacionais e de

alimentação ou de manejo de alimentos, ocorre

alimentação têm levado os produtores de leite a

naturalmente

buscarem formas não tradicionais para diminuírem

dietas altamente fermentáveis ou dietas que contêm

os custos de alimentação, mas com a preocupação

óleos vegetais ou de peixe, (HARVATINE et al.,

de manterem a alta produção e qualidade do leite

2014; BAUMAN et al., 2011). Estas alterações

(MARTEL

nos

ruminantes

alimentados

com

et al., 2011). Os componentes do leite

resultam na formação de ácidos graxos bioativos

são: água, glicídeos (basicamente lactose), gordura,

específicos no rúmen que são absorvidos e levam a

proteína

albumina),

uma redução na gordura do leite na glândula

minerais e vitaminas. O volume ou proporção de

mamária (BAUMAN et al., 2011; BAUMAN & LOCK,

cada componente no leite será influenciado, em

2006).

(principalmente

diferentes

caseína

e

graus, pela nutrição e pelo status

metabólico

da

vaca

Os

A DGL ocorre quando suplementos de óleo são

produtores de leite têm interesse na gordura do leite,

adicionados diretamente à dieta, mas também pode

devido ao seu valor econômico, deste modo,

ocorrer quando a dieta é suplementada com a

pesquisas

a

gordura total das sementes ou dietas contendo

compreensão da biossíntese da gordura do leite e os

ácidos graxos poli-insaturados. O óleo de peixe e

fatores que influenciam na sua composição e

óleos de mamíferos marinhos e algas marinhas são

quantidade ácidos graxos (BAUMAN & GRIINARI,

caracterizados pela presença de dois PUFAs:

2003).

eicosapentanóico

têm

(GONZÁLEZ,

sido

2004).

desenvolvidas

para

decosahexaenóico A alta correlação genética entre o rendimento de

(cis (cis

20:5) 22:

6)

e

ácido

(BAUMAN

&

GRIINARI, 2001, 2003).

gordura, o rendimento de leite e outros componentes dificultam o uso da seleção genética para alterar

Estas investigações científicas caracterizaram o

apenas a gordura do leite, independentemente dos

metabolismo

outros componentes, além disso, a gordura do leite é

bioquímicas de síntese de gordura e identificaram a

afetada significativamente por fatores fisiológicos e

regulação destes processos na síntese do leite

ambientais. Os fisiológicos geralmente envolvem

(BAUMAN & GRIINARI, 2003). A gordura é o

mudanças no balanço energético e oferece pouco

componente mais variável do leite de ruminantes. É

potencial como um meio prático de manipulação de

estimado que o leite de ruminantes seja composto de

gordura do leite (BAUMAN & GRIINARI, 2001). E no

mais de 400 diferentes tipos de ácidos graxos os

quesito

a

triacilgliceróis da gordura do leite. Triacilgliceróis

composição de gordura no leite dos mamíferos são

representam aproximadamente 95% do teor de

altamente

nutrição

lipídeos e a maioria dos triacilgliceróis consiste de

(HARVATINE et al., 2014; BAUMAN et al., 2011;

ácidos graxos com comprimentos de cadeia entre C4

PETERSON

e C18. Os restantes dos 5% do teor de gordura do

fator

ambiental

variáveis

e

a

concentração

sensíveis

à

e

et al., 2005; BAUMAN & GRIINARI,

2001).

mamário,

estabeleceram

vias

leite são constituídos por um número de outras classes

de

lipídeos,

tais

como

colesterol,

Uma situação nutricional de interesse prático e

fosfolípidos,

biológico é a síndrome da baixa gordura no leite,

ácidos graxos livres (BAUMAN & GRIINARI, 2001).

comumente referida como depressão da gordura do

Dietas modernas para vacas leiteiras que contém

leite (DGL) (BAUMAN et al., 2011; GONZÁLEZ,

altas concentrações de grãos de cereais altamente

2004). Representam uma situação em que dietas

digestíveis são amplamente utilizadas no mundo

específicas marcadamente reduzem o teor de

todo com a intenção de maximizar a produção de

gordura e o rendimento do leite, assim como alteram

leite, porém tais dietas frequentemente induzem a

a sua composição em ácidos graxos (BAUMAN &

DGL (WEIMER et al., 2010). Estas podem ser

GRIINARI, 2001). A DGL é a redução acentuada de

divididas em dois grupos amplos. O grupo 1 envolve

até 50% na produção de gordura do leite, sem

dietas

alterar o rendimento de leite e outros componentes.

carboidratos facilmente digeríveis e quantidades

7092

que

diacilgliceróis,

fornecem

monoacilgliceróis

grandes

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7091-8000, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006

quantidades

e

de


Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas

reduzidas de componentes fibrosos, como dietas de

grão/baixa fibra (BAUMAN & GRIINARI, 2001).

alto grão/baixa fibra. O grupo 2 envolve dietas com poli-

Uma clara relação entre as mudanças no padrão dos

insaturados (óleos marinhos e de plantas) (DAVIS &

ácidos graxos voláteis (AGV) do rúmen e a redução

BROWN (1970) citado por BAUMAN & GRIINARI,

na produção de gordura do leite foi estabelecida por

2001, 2003). Dietas onde o teor de volumoso é

uma variedade de dietas. O que conduziu a

adequado, mas este é moído ou peletizado também

sugestões de que a diminuição da produção de

suplementos

dietéticos

contendo

óleos

pertencem ao grupo alto grão/baixa fibra, pois estes processos

reduzem

a

eficácia

da

fibra

na

manutenção da função ruminal normal. O tamanho das

partículas

e

"fibras

efetivas"

tornaram-se

importantes considerações na produção leiteira moderna, onde o uso de sistemas de manuseio de alimentação automatizados e as rações mistas totais se tornaram mais comuns BAUMAN & GRIINARI, 2001). Para ambos os grupos de dieta, a extensão da redução na produção de gordura do leite é modificada

por

preparação

da

componentes

diversos dieta,

a

alimentares,

fatores

tais

presença

de

outros

que induzem DGL (BAUMAN & GRIINARI, 2003). Especificamente, propionato

a

diminui

proporção

molar

acentuadamente

acetato:

no

líquido

ruminal e pesquisas demonstravam uma relação clara entre as mudanças no padrão ou proporções de AGV ruminal e a redução na produção de gordura do leite para dietas alto grão/baixa fibra ou dietas com baixa fibra eficaz (volumoso peletizada). Estas mudanças no padrão ruminal de AGV seriam de menor magnitude e menos consistentes para dietas suplementadas com óleos vegetais ou marinhos e

estágio de lactação e grau de gordura e, apesar de

muitas vezes ocorrem reduções na gordura do leite

existirem dois grupos, em muitas situações esses

para estas dietas com alterações mínimas no padrão

efeitos

AGV (BAUMAN & GRIINARI, 2001).

não

poderão

ser

de

a

gordura do leite e contribuir para o efeito de dietas

manejo,

dietéticos

práticas

como

acetato e butirato no rúmen vão limitar a síntese de

separados

(BAUMAN & GRIINARI, 2001). Além disso, a DGL é um problema de desafio biológico, envolvendo a inter-relação entre processos digestivos e metabolismo dos tecidos (BAUMAN & GRIINARI, 2001). Nos últimos 50 anos diversas teorias foram propostas para explicar DGL induzida pela dieta, e alterações dietéticas em processos microbianos ruminais formam a base de todos eles (SHINGFIELD & GRIINARI, 2007, 2003). Mas nem todas foram universalmente aceitas. Deste modo o objetivo desta pesquisa é discorrer sobre as diversas teorias que explicam a DGL. TEORIAS GORDURA

SOBRE NO

de acetato foi realizada infundindo acetato. Davis e Brown em 1970 já falavam que aumentos de leve a modestos,

na

produção

de

gordura

do

leite,

resultavam do fornecimento de acetato suplementar para vacas alimentadas com dietas normais ou dietas que causavam DGL. Ao longo dos estudos os efeitos sobre a produção de gordura do leite foram bastante variáveis e Davis e Brown concluíram que uma simples deficiência em acetato não poderia explicar adequadamente a redução da gordura do leite em dietas indutoras de DGL (BAUMAN &

A SÍNDROME LEITE

Uma abordagem para analisar a teoria da deficiência

DA BAIXA

(DEPRESSÃO

DA

GORDURA NO LEITE – DGL) Teoria da Produção ruminal de acetato e butirato Uma deficiência de acetato foi proposta pela primeira vez, como base para a DGL induzida pela dieta em 1951 por Tyznik e Allen e melhorado em 1955 por Balch e colaboradores. Esta teoria baseia-se na importância do acetato como uma fonte de carbono para a síntese da gordura e uma mudança no padrão de AGV do rúmen observada em uma dieta alto

GRIINARI, 2001, 2003). Bauman & Griinari, (2003) resumem na Tabela 1 o efeito de uma dieta alto grão/baixa fibra sobre algumas variáveis (produção de leite e percentual molar de AGV's). Para o caso de dietas suplementadas com óleos marinhos, onde a mudança na proporção molar de AGV é menos pronunciada, que é ainda menos provável que a produção do rúmen e o fornecimento de acetato e butirato limitem a síntese de gordura do leite. Apesar das evidências de que dietas de baixa

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7093


Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas

fibra não afetam significativamente a produção

de gordura do leite, devido à inibição, a necessidade

ruminal das taxas de acetato e butirato. Uma

de precursores de gordura no leite é reduzida.

escasseze

frequentemente

Portanto, mesmo se uma ligeira descida na formação

consideradas como contribuintes para a redução na

de acetato e butirato ocorrer no rúmen, isto não

gordura do leite induzida pela dieta, mesmo que de

resultará

uma forma menor (BAUMAN & GRIINARI, 2003).

precursores. Além disso, acetato e butirato também

desses

AGV’s

são

em

nenhuma

falta

substancial

de

são importantes fontes de energia e as possíveis Uma vez que se supõe, que mudanças nas

pequenas diminuições na produção de acetato e

proporções molares de AGV no líquido ruminal,

butirato estaria associada com um aumento igual ou

correlacionam-se com as taxas de produção. Esta

maior em abastecimento de energia a partir da

correlação é relativamente boa para dietas ricas em

produção de propionato. Assim, conclui-se que

fibra, particularmente para ovinos. No entanto, essas

possíveis mudanças na produção rúmen de acetato

relações parecem que não se aplicam quando as

e butirato não poderiam ser responsáveis pela

dietas alto grão/baixa fibra são oferecidas. Esta

redução na síntese de gordura do leite durante DGL

divergência pode ser atribuível ao fato de que dietas

induzida pela dieta (BAUMAN & GRIINARI, 2003).

com baixa fibra tipicamente reduzem o pH do rúmen, e este afetará as taxas relativas de absorção de

Teoria da vitamina B12 / metilmalonato

AGV do indivíduo (BAUMAN & GRIINARI, 2003).

Bauman & Griinari, (2001) em revisão relatam que a teoria / metilmalonato vitamina B12 foi proposta em

Davis

e

diferentes

Brown

realizaram

técnicas

estudos

artério-venosas,

utilizando onde,

1977 por Frobish e Davis. A vitamina B12 é um componente

de

metilmalonil

CoA-mutase,

uma

demonstraram que as concentrações sanguíneas de

enzima envolvida no metabolismo hepático de

acetato e a absorção de acetato pela glândula

propionato. Esta teoria propunha que a redução na

mamária são diminuídas em vacas DGL. Também já

produção ruminal de vitamina B12, juntamente com o

está bem estabelecido que exista uma relação linear

aumento da produção de propionato resultaria em

entre a concentração arterial de acetato e diferenças

um gargalo metabólico em que metilmalonato

artério-venosas através da glândula mamária. Essa

acumularia no fígado.

relação linear é muitas vezes interpretada de forma a sugerir que o fornecimento de um nutriente pode ser

Por sua vez, o metilmalonato seria transportado

limitado por uma concentração arterial baixa. No

através do sistema circulatório para a glândula

entanto, uma absorção reduzida de acetato também

mamária, onde ele iria inibir a síntese de novos de

seria a consequência esperada de uma redução na

ácidos graxos. Embora estudos realizados por Elliot

secreção de gordura do leite. Como Davis e Brown

e

em 1970 resumidamente concluíram: "Se, de fato, a

colaboradores

captação de acetato pela glândula mamária é

produção ruminal de vitamina B12 foi reduzida em

reduzida em vacas secretoras de baixo teor de

dietas de alto grão/baixa fibra, várias abordagens

gordura no leite, mais evidências são necessárias

diferentes, incluindo a terapia de vitamina B12, não

para determinar se esta é uma causa ou um efeito

ofereceram nenhum suporte para esta teoria como a

de lipogênese mamária diminuída" (BAUMAN &

base para a DGL induzida pela dieta (BAUMAN &

GRIINARI, 2003).

GRIINARI, 2001).

colaboradores

em

em

1979

1981,

e

por

Croom

mostrassem

que

e a

Bauman & Griinari (2003), em acordo com o dito por Davis e Brown, quase 44 anos atrás relatam que se

Teoria da Insulina glicogênica

aceitarmos que o principal fator que contribui para a

A teoria insulina glicogênica, proposta em 1962 por

DGL pode ser a inibição por biohidrogenação, outra

McClymont e Vallance e para explicar a DGL em

teoria sobre a causa da DGL, podemos concluir que

dietas

uma limitação na produção de acetato e butirato no

elaborada em 1974 por Jenny e colaboradores e

rúmen pode ser descartada.

Annison em 1976, baseia-se em diferenças de tecido

com

baixa

forragem

e

posteriormente

na regulação endócrina da utilização dos nutrientes (BAUMAN & GRIINARI, Como resultado da redução inicial das taxas de síntese 7093 Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7091-8000, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006

2003,

2001).


Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas

A insulina tem efeitos agudos sobre as taxas de

qualquer efeito agudo sobre a captação de glicose, o

tecido adiposo da lipogênese (estimulador) e lipólise

que é consistente com células mamárias epiteliais de

(inibidora), mas a glândula mamária ruminante não

ruminantes com apenas um transportador de glicose.

responde a alterações nos níveis de insulina

No entanto, o uso de insulina não agudamente

circulante. Isto forma a base para a teoria de insulina

regulou o metabolismo de outros

glicogênico como a causa de DGL que ocorre com

ruminante,

dietas ricas em carboidratos facilmente digeríveis e

(estimulador) e a lipólise (inibidora) no tecido adiposo

pobres

e, este pode afetar indiretamente a oferta e padrão

em

secretagogos

fibras.

Propionato

e

glicose

são

(substância que promove ou estimula

incluindo

as

taxas

tecidos

de

do

lipogênese

de nutrientes disponíveis para a glândula mamária.

a secreção) para liberação pancreática de insulina em dietas alto grão/baixa fibra resultando em

A resposta de gordura do leite a um aumento da

aumento da produção de propionato ruminal (Tabela

insulina no sangue é uma consequência dos efeitos

1) e as taxas de gliconeogênese hepática (BAUMAN

anti-lipolíticos da insulina, e a extensão da redução

& GRIINARI, 2003, 2001).

induzida por insulina na produção de gordura do leite é relacionada com a importância das reservas de

A elevada concentração de insulina circulante,

gordura corporal, como uma fonte de ácidos graxos

muitas vezes, de duas a cinco vezes, aumenta a

da gordura do leite. Elevações da insulina circulante

captação de precursores lipogênicos e diminui a

correspondem à ingestão dietética onde os animais

liberação de ácidos graxos pelo tecido adiposo. De

estão em equilíbrio de energia positiva e nestas

acordo com a teoria glucogênico-insulina, isto irá

situações

resultar em um aumento na utilização do tecido

representam apenas uma pequena fonte de ácidos

adiposo de acetato, β-hidroxibutirato e ácidos graxos

graxos para a síntese de gordura do leite em vacas

de cadeia longa derivados de dieta e uma redução

leiteiras (BAUMAN & GRIINARI, 2003).

de

mobilização

de

ácidos

graxos

da mobilização dos ácidos graxos de cadeia longa a partir de reservas corporais. Em geral, estas

Bauman & Griinari, (2003), relatam que o aumento

alterações

canalização

de propionato e fornecimentos de glicose, e a

preferencial de nutrientes para o tecido adiposo,

resposta relacionada com a insulina que ocorre com

resultando em uma falta de precursores para a

dietas alto grão/baixa fibra, não são à base de DGL

síntese lipogênica de gordura no leite (BAUMAN &

induzido pela dieta. Além disso, as mudanças nos

GRIINARI, 2001).

nutrientes

representariam

uma

glicogênicos

e

insulina

contribuiriam

minimamente para a diminuição da produção de A

teoria

glucogênico-insulina

competição

por

nutrientes

baseia-se

entre

as

numa

glândulas

gordura do leite que ocorre com dietas causando DGL.

mamárias e tecidos não mamários, e as diferença de tecidos

em

resposta

a

insulina

(BAUMAN

&

Teoria dos ácidos graxos Trans

GRIINARI, 2003). A insulina está envolvida na coordenação da partição de nutrientes através de

Davis e Brown em 1970 foram os primeiros a sugerir

seu papel central na regulação da glicose e na

uma

homeostase

octadecenóico e DGL, e elaborado cinco anos mais

energética.

No

caso

da

glândula

possível

relação

mamária do ruminante, a insulina é necessária para

tarde

a manutenção da função normal da célula mamária.

GRIINARI, 2003, 2001).

por

Pennington

entre e

Davis

ácido

trans

(BAUMAN

&

No entanto, este requisito é atendido por uma concentração relativamente baixa no sangue e as

Bauman & Griinari (2001) em revisão, explicam que

flutuações diárias de insulina circulante que ocorrem

ácidos

com o padrão alimentar não têm efeito aparente

intermediários na biohidrogenação de ácidos graxos

sobre a utilização da glicose pela glândula mamária.

insaturados por bactérias ruminais (ác. linoleico e

graxos

trans

são

formados

como

linolênico). Onde, o isômero trans octadecenóico Bauman & Griinari (2003), resumiram estudos in vitro

predominante produzido na gordura do leite é o

e in vivo, onde demonstraram que a insulina não tem

trans-11 cis 18:1 (BAUMAN & GRIINARI, 2003).

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7094


Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas

Ao solicitar um possível papel para os ácidos graxos

atenção como um componente de alimentos e

trans, observou-se que o aumento nos ácidos trans-

produtos lácteos é a principal fonte de CLA na dieta

octadecenóicos na gordura do leite durante a DGL

humana. Estudos biomédicos com modelos animais

indicou que a biohidrogenação do rúmen estava

demonstraram uma vasta gama de benefícios

incompleta.

posteriormente

biológicos positivos para o CLA, os cis-9 e o isômero

elaboraram a teoria de ácidos graxos trans e

trans-11 como um componente natural da gordura do

demonstraram que os aumentos de trans 18:1 no

leite que é anti-carcinogênico, em um modelo de

teor de gordura do leite ocorreram para uma ampla

câncer de mama em ratos. O CLA também tem

gama de dietas relacionada com DGL (BAUMAN &

efeito sobre o metabolismo dos lipídeos. E estudos

GRIINARI, 2003).

recentes têm demonstrado que as preparações

Pesquisadores

comerciais de CLA reduziram acentuadamente a No entanto, a literatura revelou, em resumo, que as

produção de gordura do leite (BAUMAN & GRIINARI,

inconsistências foram frequentes, embora o teor de

2001).

trans de 18:1 na gordura do leite tenha sido geralmente correlacionada com a depressão na

Teoria da biohidrogenação

gordura do leite por cento (BAUMAN & GRIINARI,

A teoria trans de Pennington e Davis de 1975

2001). Estudos realizados por Selner & Schultz em

baseia-se nos ácidos graxos totais, trans-cis 18:1

1980 e Kalscheur et al., 1997 forneceram exemplos

como inibidores da síntese de gordura do leite mas,

onde

Bauman e Griinari em 2001 baseados em estudos e

manipulações

da

dieta

resultaram

em

aumentos substanciais no teor de gordura do leite de

discussões,

propuseram

a

"teoria

da

trans 18: 1, mas reduções correspondentes não

biohidrogenação" com a intenção de acomodar

foram observadas na produção de gordura do leite

limitações na teoria trans para a DGL. O nome

(BAUMAN & GRIINARI, 2003).

sugerido "teoria da biohidrogenação" é baseado no conceito de que, sob certas condições alimentares

A

teoria

trans

DGL

baseia-se

nos

ácidos

as vias de biohidrogenação ruminal são alteradas

octadecenóicos trans 18:1 totais como inibidores da

para

síntese de gordura do leite. Recentes investigações

específicos, alguns dos quais são potentes inibidores

para

a

da síntese de gordura do leite (SHINGFIELD et al.,

concentração de CLA (ácido linolênico conjugado)

2010; BAUMAN & LOCK, 2006; BAUMAN &

na gordura do leite, inesperadamente forneceram

GRIINARI, 2003, 2001).

identificar

estratégias

para

aumentar

produzir

ácidos

graxos

intermediários

visão relacionada com a DGL induzida pela dieta. Ao analisar a transferência de CLA para a gordura do

Ocorrendo o contrário do efeito da insulina, a DGL

leite, foi descoberto que uma preparação que

neste caso é resultante, principalmente, de uma

contenha

CLA

ampla redução da secreção de ácidos graxos de

marcadamente inibia a síntese de gordura do leite

cadeias curta e média, provenientes da síntese de

em vacas leiteiras. Dado que o trans-10, cis-12 CLA

novo de ácidos graxos. O estudo de Griinari et al.,

foi um dos isômeros na mistura de infusão e um

(1998) foi fundamental no desenvolvimento do

intermediário nas supostas vias de biohidrogenação

conceito que duas condições eram obrigadas a

que ocorre em condições de DGL, a possível

ocorrer na DGL induzida pela dieta, e formação

conexão era óbvia (BAUMAN & GRIINARI, 2003).

induzida de CLA trans 10-cis 12, a presença dietética

uma

mistura

de

isômeros

de

de ácidos graxos insaturados e uma mudança nos Baumgard et al. (2000) foram os primeiros a

processos microbianos do rúmen. A mudança de

examinarem diretamente isso utilizando infusões pós

processos microbianos envolve uma alteração nas

ruminais

Eles

vias de biohidrogenação que resulta em um aumento

demonstraram que trans-10, cis-12 CLA inibe a

na formação de trans-10 18:1 e intermediários afins.

síntese de gordura do leite, Considerando que o cis-

No caso de dietas alto grão/baixa fibra, mudanças

9, trans-11 CLA não teve nenhum efeito.

nos

de

isômeros

puros

de

CLA.

processos

microbianos

também

são

caracterizados por um declínio no pH do rúmen e Ácido linoleico conjugado tem recebido considerável 7095

uma mudança no padrão de AGV no rúmen.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7091-8000, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas

No caso de dietas contendo óleo marinho, o pH e as

Bauman et al., (2011) em revisão, revelam que

proporções de AGV no rúmen são minimamente

dietas para vacas em lactação são baixo teor de

afetadas, em vez de componentes da dieta contendo

gordura (~ 4% -5%), com o ácido linoleico e

óleo marinho aparentemente alterarem os processos

linolênico sendo os PUFA’s (ácidos graxos

microbianos, afetando diretamente as etapas críticas

poliinsaturatos) predominantes. Quando lipídeos

do processo de biohidrogenação (BAUMAN &

dietéticos entram no rúmen, as ligações éster são

GRIINARI, 2003). A DGL neste caso ocorrerá

hidrolisadas (>85%), seguido da biohidrogenação

mesmo se o teor de fibra da dieta for adequado e

de AG insaturados. A biohidrogenação envolve

mesmo quando não há formação do CLA trans-10

apenas algumas das espécies de bactérias

cis-12. Este é um caso particular de DGL, cujas

ruminais e elas realizam estas reações como um

bases

melhor

mecanismo de defesa contra os efeitos tóxicos

compreendidas em pesquisas recentes. De qualquer

dos PUFA e/ ou para coincidir com o perfil de AG

forma, a inibição neste caso também parece ser

desejado para o crescimento microbiano. Como

causada pela formação de tipos específicos de

consequência

ácidos graxos "trans" no rúmen (Gama, 2004).

biohidrogenação, a saída de AG do rúmen é

fisiológicas

começam

a

ser

dessa

extensa

hidrólise

e

principalmente saturada livre de AG. No entanto, Conforme pode ser visualizado na Figura 1, a queda

alguns

no pH ruminal (dietas baixa fibra) altera as rotas de

especificamente CLA e ácidos graxos trans-18: 1,

intermediários

da

biohidrogenação,

biohidrogenação ruminal, produzindo o ácido graxo

também escapam do rúmen, e estes são

específico, CLA trans-10 cis-12, cuja concentração

absorvidos e utilizados para a síntese de gordura

aumenta significativamente no leite das vacas com

do leite.

DGL (Figura 2) induzida pela dieta. Estudos foi

A presença de trans-10, cis 18: 1 na gordura do

sintetizado industrialmente e infundido no abomaso

leite também indica uma mudança nas principais

de vacas em lactação, comprovaram sua grande

vias de biohidrogenação no rúmen consistentes

capacidade de reduzir a secreção de gordura do leite

com a formação de CLA trans-10, cis-12 a partir

(BAUMAN & GRIINARI, 2001; PIPEROVA et al.,

do ácido linoleico e, possivelmente relacionados

2000).

intermediários de ácido graxos únicos a partir do

posteriores,

onde

este

isômero

de

CLA

ácido linolênico e outros ácidos graxos poliPoderia a teoria biohidrogenação representar uma

insaturados.

Estes

intermediários

da

teoria unificadora que explique a base para DGL

biohidrogenação podem constituir o grupo de

através de todas as dietas? Para avaliar isso,

inibidores reais da síntese de gordura do leite

precisamos examinar todas as diferentes situações

(Bauman & Griinari, 2001).

em que ocorre DGL induzida pela dieta. As duas condições necessárias para o DGL, processos

Há também paradoxos aparentes com a teoria

microbianos

presença

biohidrogenação como uma teoria unificadora, e

dietética de ácidos graxos insaturados, nem sempre

um destes refere-se à acumulação de gordura

podem ser facilmente definidos. As alterações na

corporal. Na DGL induzida pela dieta a redução

função do rúmen são por vezes muito sutis e o teor

no consumo de energia para a síntese de leite

de ácidos graxos insaturados não muito diferentes

muitas vezes resulta em um aumento no acúmulo

de conteúdo típico para ser utilizado como uma regra

de

decisiva (BAUMAN & GRIINARI, 2001).

observação foi um componente importante na

ruminais

alterados

e

a

gordura

teoria

corporal.

Na

glicogênico-insulina. certos

verdade, Na

isômeros

esta

teoria de

da

Gama (2004) verificou que a introdução de CLA

biohidrogenação

trans-10 cis-12 protegido, na dieta de vacas diminuiu

reduzem a síntese de gordura do leite em vacas

a gordura do leite em média apenas 10%, o que não

leiteiras, suplementos comerciais de CLA também

caracteriza a DGL, o que sugere que outros fatores

reduzem acréscimo de gordura em animais em

associados afetam a síntese de gordura.

crescimento. Esse aparente paradoxo pode estar

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CLA

7096


Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas

relacionado com diferenças na sensibilidade dos

O experimento de Glasser et al. (2010) revelam

tecidos (BAUMAN & GRIINARI, 2001).

que a inibição da lipogênese mamária (tanto a síntese de novo e incorporação de AG de cadeia

Um

segundo

paradoxo

diz

respeito

à

9

-

desaturase, uma enzima que introduz uma dupla 9

longa)

foi

menos

acentuada

nas

vacas

alimentadas com alto teor de concentrado nas

ligação cis-9 nos ácidos graxos. ∆ - desaturase está

dietas.

presente na glândula mamária e proporções de

suplementação com óleo e produção de AG no

ácidos graxos do leite como mirístico /miristoleico,

leite antes da infusão.

Esta

resposta

é

independente

da

palmítico /palmitoléico, esteárico /oléico e trans11C18: 1 /cis-9, trans-11 CLA dependem em grande

Almeida et al. (2013) avaliou cabras Saanen

medida dessa enzima (GRIINARI et al., 2000). A

alimentadas com dieta total (silagem de milho,

atividade e expressão gênica da ∆9-dessaturase são

milho moído e soja), onde os tratamentos

ambas inibidas por trans-10, cis-12 CLA. Baseado na

consistiam em: dieta basal sem infusão de óleo

teoria biohidrogenação que seria de se esperar

de soja (controle dieta 1), dieta basal mais infusão

transformações semelhantes nos pares de ácido

oral de 30ml (dieta 2), 60ml (dieta 3) e 90 ml

graxo dessaturase- relacionadas com a gordura do

(dieta 4) de óleo de soja. Para investigar os

leite durante a DGL, mas estes não são tipicamente

efeitos de quantidades crescentes de óleo de soja

observados. A base possível para este paradoxo

sobre o desempenho, composição dos ácidos

aparente não é clara, embora a quantidade de CLA

graxos do leite e alguns parâmetros metabólicos

trans-10, cis-12 usada em estudos de infusão (10-

de caprinos leiteiros. Os autores observaram um

14g /dia) são provavelmente muito maiores do que o

aumento na concentração de Cis 18:2, trans 10, o

nível de CLA trans-10, cis-12 que ocorre durante

que resultou em um decréscimo linear na

DGL induzida pela dieta (BAUMAN & GRIINARI,

concentração de gordura do leite de até 31% para

2001).

a dieta 4, (o que ainda não caracteriza a DGL) devido a inibição da síntese mamária dos AG

Vacas leiteiras criadas intensamente tem a secreção

representado pela redução dos AG de cadeia

da gordura do leite reduzida em resposta às dietas

média e curta.

de alto concentrado, o que é muitas vezes referido como a síndrome ''depressão gordura do leite''

Estratégias Mamárias Durante a DGL

(SHINGFIELD et al., 2010). Alguns isômeros de

De todas as teorias anteriormente citadas a teoria

ácidos graxos trans produzidos no rúmen de vacas,

da biohidrogenação é aceita pela maioria dos

incluindo os trans 10, Cis 12-18: 2 são conhecidos

autores como o principal mecanismo que explica

pelo seu efeito inibidor sobre a lipogênese mamária

verdadeiramente a DGL (GLASSER et al., 2010).

(BAUMGARD et al., 2000). Para estudar se este

A DGL induzida pela dieta é frequentemente

efeito Glasser et al. (2010), realizou infusões

encontrada na produção leiteira moderna e sua

duodenais de trans 10, Cis 12-18: 2 em vacas

ocorrência

alimentadas com quatro dietas diferentes

(AC,

alteração no ambiente ruminal e uma mudança na

relação volumoso: concentrado de 35:65) ou dieta

população das bactérias que é frequentemente

baixo-concentrado (BC, volumoso: concentrado de

caracterizada por uma diminuição do pH no

65:35), sem adição de óleo de linhaça (AC e BC) ou

rúmen e, 2) uma fonte dietética de ácidos graxos

com óleo de linhaça complementada em 3% na MS

poli-insaturados. Como consequência, há uma

(ACO e BCO).

mudança

exige

nas

duas

vias

condições:

e

1)

integralidade

uma

da

biohidrogenação no rúmen que aumenta a saída Glasser et al. (2010) avaliou a resposta global obtida

de intermediários da biohidrogenação no rúmen.

com a infusão de trans 10, Cis 12-18: 2, que foi

Assim, a redução na produção de gordura no leite

consistente com estudos anteriores, onde, 23 grupos

durante a DGL induzida pela dieta é altamente

de vacas de 13 experimentos publicados diminuíram

correlacionada com o aumento no teor de gordura

o teor e o rendimento da gordura do leite, sem

do leite de muitos isômeros de CLA trans-18: 1

variações significativas no rendimento total do leite.

(BAUMAN et al., 2011).

7097

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7091-8000, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas

A síntese da gordura do leite exige a coordenação

lipídeos tanto para o CLA trans-10, cis-12

de enzimas envolvidas no transporte metabólico,

induzida

lipogênese de novo, transporte de AG, dessaturação

Resumidamente, a abundancia de mRNA para

e esterificação e, a formação, transporte e excreção

sintaxe

e

DGL

de

induzida

AG,

acetil-CoA

dieta.

carboxilase,

9

de gotículas lipídica no leite. Nos ruminantes, AG

lipoproteína

surgem a partir de duas fontes que contribuem

ligase graxos, glicerol-fosfato-aciltransferase, e

igualmente (base molar) – síntese de novo no interior

acil-glicerol-fosfato-aciltransferase foram relatado

da célula epitelial mamária e a captação de AG pré-

por ser diminuídos durante a DGL. A reunião e

formados da circulação (BAUMAN et al.,

síntese de triacilgliceróis da gordura de leite são

2011;

BAUMAN & GRIINARI, 2003).

lipase,

pela

∆ -dessaturase,

acil-CoA-

dependentes da atividade coordenada (absorção, transporte,

dessaturação

e

sintese)

dessas

Os AG são esterificados no retículo endoplasmático

enzimas envolvidas na síntese de novo dos

e montados nas gotículas lipídicas que se movem

ácidos graxos (SHINGFIELD & GRIINARI, 2007).

para o ápice da célula. Um número de proteínas está associado com a membrana globular da gordura do

CONSIDERAÇÕES FINAIS

leite que rodeia a gotícula de lipídeo e eles são

A diminuição em mais de 50% da gordura do leite

essenciais para a secreção de gordura do leite

é denominada síndrome da baixa gordura no leite

(BAUMAN et al., 2011).

(low

milk

reconhecida

fat

syndrome).

desde a

Síndrome

década

esta

de 1920.

A

O fato que CLA trans-10, cis-12 induzida e DGL

denominação MDF (Milk Depression Fat) ou DGL

induzida pela dieta envolvem uma diminuição na

(depressão

produção de gordura do leite, tanto de novo como

originariamente relacionada ao efeito do excesso

AG

regulação

de ácido acético, ao final da década de 1980

coordenada de enzimas e síntese de lipídeos

surgiu à teoria dos ácidos graxos conjugados, em

(BAUMAN et al., 2011).

especial a teoria do CLA (ácido linolênico

pré-formados

sugerem

uma

da

gordura

no

leite)

foi

conjugado), porém, de todas as teorias a da Os

mecanismos

moleculares

envolvidos

na

biohidrogenação, do ano de 200, é mais aceita

regulação da síntese de gordura do leite não são

pela maioria autores como o principal mecanismo

bem definidos, mas estudos recentes forneceram

que explica verdadeiramente a DGL.

evidências de que DGL induzida pela dieta está associada com uma redução na abundância de

Todos os ácidos graxos de cadeia longa que

tecido mamário de mRNA para os genes que

fazem parte da gordura do leite provêm da

codificam enzimas lipogênicas-chave envolvidas na

biohidrogenação no rúmen. A identificação da

síntese de

bactéria Butyvibrio fabrisolvens a qual altera a

gordura

do

leite (SHINGFIELD

&

GRIINARI, 2007).

síntese de alguns isômeros do CLA, é na atualidade a teoria mais aceita como responsável

Existem poucas evidências de que o CLA trans-10,

pela depressão gordurosa. O CLA trans-10, cis-

cis-12 induzido ou DGL induzida pela dieta envolvam

12 é formado durante o metabolismo do ácido

uma inibição da exportação de gordura do leite. A

linoléico no rúmen. A enzima ∆ -desaturase

inibição da exportação de gordura do leite seria de

presente na glândula mamária não consegue

esperar que interrompesse a síntese e a secreção de

mudar o isômero CLA trans-10, cis-12, que altera

outros componentes do leite por causa de efeitos

o isômero biologicamente ativo cis-9, trans-11,

citotóxicos de altas concentrações de lipídeos

afetando a síntese de gordura na glândula

celulares (BAUMAN et al., 2011). Bauman &

mamaria e ocasionando um valor diminuído na

Harvatine (2011) foram os primeiros a demonstrar

porcentagem de gordura no leite, ou seja, a

isso no tecido mamário utilizando vacas com DGL

depressão da gordura no leite.

induzida pela dieta, um resultados

recentes

9

posterior resumo de

suportam

o

conceito

de

diminuição da expressão de enzimas de síntese de

Mas é importante não esquecermos que a DGL é uma síndrome, ou seja, diversos fatores podem

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7091-8000, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006

7098


Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas

influenciar seu desencadeamento como: interações dietéticas e de animal, ambiente e manejo. Pois, as

Fundo: Editora UPF. v.1, p. 195-209, 2004. GRIINARI,

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CHOUINARD,

nesses casos podem comprometer a qualidade

BAUMAN,

industrial

synthesized endogenously in lactating cows by

do

produto

e

consequentemente

o

D.E.

Conjugated

linoleic

K.V.V.; acid

is

9

∆ -desaturase. Journal of Nutrition, v. 130, p.

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GRIINARI,

intermediates

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Role milk

TABELA 1- Ácidos graxos voláteis (AGV) no rúmen e depressão da gordura no leite para vacas alimentadas com uma dieta alto grão/baixa fibra

Dieta Variáveis

Controle

Baixa fibra

Rendimento kg/d

19.1

20.9

Conteúdo de gordura, %

3.6

1.7*

Rendimento de gordura, g/d

683

363

Acetato

67

46*

Propionato

21

46*

Butirato

11

9

Relação acetato: propionato

3.2

1.0*

Acetato

29.4

28.1

Propionato

13.3

31.0*

Leite

AGV rumen, percentual molar

Produção ruminal, mols/d

*Diferença significativa Fonte: Adaptado de Bauman e Griinari, 2003; Bauman e Griinari, 2001.

FIGURA 1 - Representação esquemática da biohidrogenação ruminal do ácido linoléico e formação do CLA trans-10 cis-12 no rúmen. As setas brancas indicam as alterações na biohidrogenação no rúmen que ocorrem em dietas que causam DGL

Fonte: Adaptado de Shingfield e Griinari, 2007 ; Bauman e Griinari, (2001); Griinari e Bauman (1999).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7091-8000, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8000


Queijos artesanais: revisão de literatura Revista Eletrônica Produto lácteo, queijo minas, regiões produtoras.

Vinícius Tadeu da Veiga Correia Isabella Cristina Lopes de Assis

1*

Vol. 14, Nº 06, Nov./Dez. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

1

1

Graduando em Engenharia de Alimentos (Universidade Federal de São João del-Rei, Campus Sete Lagoas –UFSJ). *E-mail: viniciustadeu18@hotmail.com

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO

ARTISAN CHEESES: LITERATURE REVIEW

Objetivou-se com essa revisão de literatura conciliar

ABSTRACT

várias informações relevantes sobre os queijos

The objective of this review was to reconcile several

artesanais,

nos

relevant information on artisanal cheeses, mainly

comercializados na região mineira. A elaboração de

focusing on those commercialized in the region of

queijos é uma atividade muito forte em diversas

Minas Gerais. The elaboration of cheeses is a very

regiões do Brasil, de forma significativa atinge

strong activity in several regions of Brazil, in a

diversas

sobrevivem

significant way affects several interior families that

principalmente dessa prática alimentícia. Os queijos

survive mainly from this alimentary practice. Cheeses

são derivados lácteos provenientes da separação

are dairy products derived from the partial separation

parcial do soro, obtido pela ação física do coalho,

of whey obtained by the physical action of rennet,

enzimas, bactérias ou ácidos orgânicos específicos.

enzymes, bacteria or specific organic acids. The

Os

artisanal

principalmente

famílias

queijos

focando

interioranas

artesanais

que

possuem

sabores

cheeses

have

characteristic

flavors,

característicos, apresentando como vantagem de

presenting as market advantage the good production

mercado o bom rendimento na produção e preços

yield and affordable prices for a large part of the

acessíveis a grande parte da população. Dentre as

population. Among the main regions of Minas Gerais

principais regiões produtoras de queijo mineiras se

cheese, the regions of Serro, Canastra, Alto das

destacam a região do Serro, da Canastra, do Alto

Vertentes and Araxá, which produce with quality,

das Vertentes e também de Araxá, regiões estas que

where their recipes have received stamps of

produzem com qualidade, onde suas receitas já

intangible cultural heritage. For this and other

receberam selos de patrimônio cultural imaterial. Por

reasons, it is important to study and research on this

essa e outras razões, tem-se a importância de

dairy derivative and economic highlight of several

estudar e pesquisar sobre esse derivado lácteo e

locations.

destaque econômico de diversas localidades. Palavras-chave: produto lácteo, queijo minas,

Keyword: dairy product, cheese mines, producer regions.

regiões produtoras.

8001


Artigo 448 – Queijos artesanais- Revisão

INTRODUÇÃO

Com o passar dos anos, a realidade foi se

Segundo a Portaria n° 146 do Ministério da

diversificando e os produtores passaram a se

Agricultura, Pecuária e Abastecimento, entende-se

adaptar

por queijo o produto fresco ou maturado proveniente

segurança

da separação parcial do soro, obtido pela ação física

variedade de queijos artesanais são produzidos, em

do coalho, enzimas, bactérias ou ácidos orgânicos

destaque pode-se mencionar os queijos Minas

específicos. Obtendo-se como resultado um alimento

artesanais, produtos estes que desempenham uma

com

conter

cultura econômica e social muito forte em cada

substâncias aromatizantes e aplicação de corantes

município de origem. Queijo Minas do Serro, do

(BRASIL, 2003). Considera-se queijo artesanal o

Campo das Vertentes, da Canastra, Araxá, Salitre,

queijo produzido com leite integral, fresco e cru em

do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba são alguns

propriedade que mantenha atividade de pecuária

exemplos a serem considerados, os quais são

leiteira (BRASIL, 2012).

valorizados e defendidos por leis como patrimônio

qualidade

aceitável,

podendo

as

novas

exigências

alimentar.

No

de

Brasil,

mercado uma

e

grande

imaterial estadual e nacional (EMATER, 2017). O processo de elaboração de queijos é um método

Destacam-se também o queijo Caipira, os artesanais

bastante diversificado, esses produtos podem ser

nordestinos e o Serrano (MENEZES, 2009).

produzidos tanto de maneira industrial, quanto artesanal, basicamente à principal diferença entre

O objetivo desta revisão bibliográfica foi enfatizar

essas duas formas, na maioria das vezes, é que na

processos e parâmetros de elaboração dos queijos

elaboração de queijos frescos artesanais, o leite

artesanais,

utilizado não sofre qualquer tipo de tratamento

produzidos e demonstrar quais aquelas que se

térmico, sendo aproveitado cru (FEITOSA et al.,

destacam no cenário desse derivado lácteo.

identificar

as

regiões

onde

são

2003). Produção de queijo artesanal no Brasil Dentre as vantagens competitivas de mercado dos queijos artesanais, ressalta-se que esses derivados lácteos

possuem

bom

rendimento

durante

a

fabricação, além de apresentar preços acessíveis à grande parte da população. Ainda, em diversas regiões brasileiras esse produto se apresenta como uma das principais fontes de renda de pequenos produtores rurais, os quais comercializam esse alimento em feiras e pequenos estabelecimentos comerciais (ROSA et al., 2005).

teor

de

proteínas

e

intimamente relacionada com a preservação da identidade e a contribuição na reprodução social do agricultor familiar, contudo, há controvérsias a respeito da informalidade e sua legalização. Através de pesquisas é possível reconhecer a interinidade e especialidades da prática de produção de queijo artesanal, são valores construídos historicamente por populações que possuem vínculos de identidade social com o território e com os agricultores,

O leite é um alimento muito rico, destaca-se pelo seu alto

A produção de queijos artesanais no Brasil está

outros

constituintes

benéficos à saúde humana, como por exemplo, o cálcio. Contudo, apresenta-se com um alto teor de água, gerando assim, uma grande preocupação com a qualidade microbiológica desse produto e seus derivados (FEITOSA et al., 2003). Mediante a essa situação, o queijo é considerado como veículo frequente de patógenos, e de maneira especial, os queijos frescos artesanais, por serem elaborados com leite cru e não sofrerem processo de maturação geram questionamentos às utilidades públicas de saúde e controvérsias em sua aceitação.

consumidores e comerciantes (FEITOSA, 2003). Na microrregião dos Campos de Cima da Serra que fica localizada no nordeste do Rio Grande do Sul e em Santa Catarina na Serra do Rio do Rastro, é produzido o queijo Serrano. A produção desta região é fundamentada na criação de gado de corte, que se alimentam de pastagens naturais, e na obtenção do leite em pequenas quantidades para produção de queijos (MENEZES, 2009). Passando por gerações, foi transmitido como produzir este tipo de queijo que se

assemelha

com

outros

tipos

de

queijos

artesanais.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8001-8008, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8002


Artigo 448 – Queijos artesanais- Revisão

No Nordeste, a prática cultural da produção dos

ral e a continuidade da prática artesanal.

derivados do leite foi repassada por antepassados, onde, fazia parte da tradição do sertanejo dar de presente aos visitantes, amigos e parentes que não

Legislação

viviam na região de produção, ou seja, moravam em

No ano de 2000, ocorreu a regulamentação sobre

zonas urbanas. Estes derivados do leite passavam

queijos artesanais, através da Resoluçõ n° 7 do

por um processo de maturação que fazia com que o

MAPA

período de consumo do produto fosse prolongado,

Abastecimento). Esse documento retifica o exposto

uma quantidade alta de sal era utilizada para que o

do

alimento

as

elaborados à partir de queijo cru, os quais poderiam

características

ser vendidos mediante à um período de maturação

conservasse,

dificuldades

de

contudo

manter

as

cogitando

(Ministério

RIISPOA,

da

de

Agricultura,

comercialização

Pecuária de

e

queijos

de 60 dias. Entretanto essa medida levou a

organolépticas dos produtos (MENEZES, 2009).

insatisfação dos produtores, os quais alegaram Segundo dados da Associação Brasileira das

modificação sensorial de seus produtos, dessa

Indústrias de Queijos, Minas Gerais é apontado

maneira, com o intuito de garantir a segurança dos

como o maior produtor de queijo artesanal no Brasil,

consumidores

com cerca de aproximados 215 mil toneladas no

características primordiais do produto, o governo

total. Cerca de 70% da produção de queijo minas

estadual de Minas Gerais, elaborou e publicou a Lei

artesanal congrega-se nas regiões do Serro, de

n°14.185, de 31 de janeiro de 2002, pioneira no

Araxá e da Serra da Canastra. Segundo dados da

assunto, que esclarece o processo de produção do

EMATER, o queijo minas artesanal é produzido por

queijo Minas artesanal (QMA) (Minas Gerais, 2002).

aproximadamente

médios

Essa lei, regulamentada pelo Decreto nº 42.645, de

produtores, o que torna uma fonte geradora de

05 de junho de 2002 (Minas Gerais, 2002) definiu

renda para a agricultura familiar, e está presente em

normas

519 dos 823 municípios do estado (GLOBO RURAL,

transporte do QMA, estabelecendo-se critérios de

2013).

qualidade e obrigatoriedade de certificação dos

27

mil

pequenos

e

de

e

ainda

fabricação,

assim,

de

manter

embalagem

e

as

de

produtores e o cadastramento oficial das queijarias De acordo com Coelho-Menezes (2006), o controle de

qualidade

do

queijo

Minas

Artesanal

pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).

era

dificultado devido à comercialização de forma

Com o objetivo de auxiliar os produtores na

clandestina, devido à ausência de inspeção, apesar

certificação dos seus produtos, foi criado pelo IMA o

de possuir uma demanda estável devido à boa

Programa Queijo Minas, que possui como função

reputação deste. Com isso veio à exigência da

certificar

pasteurização do leite para a produção do queijo, o

necessárias para a produção do queijo Minas

que os resultou um confronto dos produtores que

artesanal, observando a higiene pessoal, o processo

afirmavam que o leite cru possui os chamados

da ordenha, a elaboração do queijo Minas Artesanal,

fermentos naturais e com a pasteurização resulta na

a armazenagem e o transporte para comercialização,

inexistência dos mesmos, e que alterava o sabor do

bem como a sanidade do rebanho.

as

condições

higiênico-sanitárias

produto final, em favor da qualidade do queijo as associações uniram-se numa luta contra a legislação

A Lei n° 14.185 de 2002 que regulamenta a

restritiva.

produção de queijo minas artesanal, estabelece que os queijos devem estar sob refrigeração e dentro de

A Lei Estadual 14.185 em 31 de janeiro de 2002 foi

embalagens plásticas apropriadas, vedadas a vácuo,

aprovada após um acordo entre o governo mineiro e

para

as representações dos queijeiros, onde se adotam

maturados, a comercialização pode ser realizada em

padrões sanitários para a criação do rebanho e para

temperatura ambiente e sem a necessidade de

a

artesanal,

embalagem, mas a identificação do produtor deve

possibilitando a continuidade desta, onde houve o

estar contida em baixo alto relevo no produto.

higiene

da

produção

do

queijo

queijo

não

maturados.

reconhecimento desse queijo como patrimônio cultu8003

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8001-8008, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006

Para

os

queijos


Artigo 448 – Queijos artesanais –Revisão

Segundo a portaria n°523, que dispões sobre as

O queijo minas do Serro é elaborado a partir do leite

condições higiênico-sanitárias e boas práticas na

cru adicionado do coalho e do "pingo". O "pingo" é

manipulação e fabricação do queijo minas artesanal,

uma porção de soro fermentado que se origina do

todos os utensílios utilizados durante o processo,

dessoramento de queijos produzidos no dia anterior

deverão ser confeccionados com material que não

e que é coletado em vasilhames e por fim utilizado

transmita substâncias tóxicas e que sejam de fácil

como

higienização.

características sensoriais tradicionais e peculiares

Além

disso,

dispõe

também

da

preocupação com parte dos ordenhadores, os quais

fermento,

ele

é

responsável

pelas

dos queijos minas artesanais.

deverão seguir todos os procedimentos necessários para a produção de queijos de alta qualidade, livre

Segundo um levantamento realizado pela Emater-

de quaisquer tipos de perigos.

MG, acrescido de um estudo no ano de 2011 também realizado pela Empresa de Assistência

Queijo Minas Artesanal

técnica e Extensão Rural do Estado de Minas

Segundo o regulamento técnico da Lei n° 14.185

Gerais, aponta que a região do Serro tem 1101

aprovado pelo decreto 42 645 do ano de 2002,

produtores, os quais produzem 3250 toneladas por

entende-se por queijo Minas artesanal ―o queijo

ano de queijo artesanal, gerando 2290 empregos,

elaborado na propriedade de origem do leite,

sendo que as propriedades ocupam uma área de

mediante a utilização de leite cru, hígido, integral e

7302 quilômetros quadrados.

recém-ordenhado. Basicamente são produtos que apresentam consistência firme, massa uniforme,

Pinto et al. (2009) buscaram avaliar a segurança

sabor característico, não sendo permitido a adição

alimentar do queijo minas artesanal do Serro, em

de corantes ou conservantes, apresentando alta

função da adoção de boas práticas de fabricação;

umidade.

para

isso

questionários

estruturados

foram

aplicados, assim como amostras de queijos foram O cuidado nas etapas de elaboração dos queijos

coletadas. Através desse estudo foi possível verificar

Minas é primordial para obtenção de um produto de

que as queijarias que adotavam as boas práticas de

qualidade e seguro do ponto de vista alimentar, haja

fabricação

vista que, esse processo apresenta vários pontos

microbiológica favorável, em relação às demais

críticos de controle e perigos de contaminação

queijarias, dessa maneira, uma correlação de

microbiológica. Existem diversos regulamentos que

qualidade e segurança alimentar pôde ser estipulada

certificam a produção e comercialização desse

em estabelecimentos produtores de queijo no Serro-

produto, porém, 46% dos produtores comercializam

MG.

possuíam

produtos

com

qualidade

seu produto sem fiscalização oficial. De acordo com Pinto et al. (2001), o queijo do Serro Queijo do Serro

é submetido por um período de maturação e cura,

Na região do Serro, a fabricação de queijo é uma

em torno de 15 a 20 dias. Esse processo é

atividade muito antiga, difundida pela trilha do ouro

importante para que o produto apresente uma casca

nas bagagens dos exploradores de minério. O

fina e amarelada, que após secagem apresenta um

desenvolvimento

brilho natural. A massa por sua vez, apresenta

cultural

desse

produto

se

estruturou com os habitantes deste município e que

característica

consistente

e

esbranquiçada,

ao longo do tempo se alastrou entre as cidades

possuindo olhaduras pequenas e numerosas.

vizinhas. Na década de 30, a fama do queijo do Serro se consolidou com a abertura da estrada que

O processo de elaborado de queijo Minas do Serro-

ligava Serro à Belo Horizonte e ao longo de vários

MG,

anos, a preservação dos costumes e maneira de

representado pela figura 1.

com

pequenas

variações,

pode

ser

produção forneceu um cenário para que em 2002 esse queijo fosse considerado patrimônio Imaterial

FIGURA 1: Fluxograma de elaboração do queijo

de Minas Gerais e em 2008, considerado com

minas

artesanal

da

região

do

Serro

MG.

patrimônio imaterial do Brasil (IPHAN, 2008). Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8001-8008, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8004


Artigo 448 – Queijos artesanais-Revisão

Junior et al. (2009) realizaram um estudo com diversos queijos produzidos nessa região, buscando avaliar a interferência das estações do ano na composição centesimal desses produtos. A grande variação observada para os constituintes do leite aconteceu entre as estações outono e inverno, mostrando assim, haver interferência da época do ano sobre as características nutricionais do queijo. Silva

et

al.

características

(2007)

também

físico-químicas

avaliando dos

as

produtos

provenientes da Canastra, observou uma grande variação entre a porcentagem de gordura dos queijos. A gordura é o constituinte que mais se altera no leite, essa alteração pode ser advinda de influências externas e/ou da própria genética e raça do animal, favorecendo para a oscilação do teor desse nutriente em seus derivados.

Queijo do Campo das Vertentes Em decorrência dos vales férteis e ao clima ameno da região, a comarca do Rio das Mortes (atual Campo das Vertentes), era a mais vistosa e a mais Fonte: Elaborado pelo autor.

abundante de toda a capitania, dessa forma foi estabelecida nesse local, toda uma estrutura voltada

Queijo da Canastra

para a capitania de gado de corte e leite, produtos agrícolas, doces e queijo. Os primeiros colonos no

O queijo da Canastra é uma tradição alimentar

Campo das Vertentes começaram a fabricar queijos

proveniente da colonização, quando a pecuária foi

com técnicas adaptadas do conhecimento trazido por

introduzida no princípio da colonização brasileira.

artesãos da região da Serra da Estrela em Portugal

Inicialmente, a produção desse derivado lácteo

(LEMOS, 2009; MOURA, 2002).

destinava-se a suprir a alimentação da população vinculada à atividade da cana de açúcar (ORNELAS,

Embora a produção de queijos na região do Campo

2005).

das Vertentes tenha tradição secular, apenas no ano de 2009 a mesma foi reconhecida oficialmente, por

Dentre as suas características principais, os queijos

meio da publicação da Portaria n° 1022 pelo IMA.

provenientes da Serra da Canastra- MG apresentam

Essa região é responsável pela produção de 313,51

como um produto que deve ser submetido ao

mil litros de leite, perfazendo cerca de 4% do total

processo de maturação por pelo menos 8 dias após

produtivo

sua elaboração. A produção do queijo gira em torno

característica, dentre os dez produtos com maior

de 375,5 toneladas por mês, sendo a principal

freqüência de produção e consumo, seis são queijos

atividade econômica de muitas famílias da região

(DUSI E ASSIS, 2011).

do

estado.

Por

apresentar

essa

(BORELLI et al., 2006). Sua produção é certificada pelo IPHA (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como patrimônio imaterial do

Castro (2015) em seu trabalho objetivou avaliar a

Brasil e possui selo de indicação geográfica,

qualidade

cobiçado por chefes de cozinha e consumidores

diferentes épocas do ano dos queijos frescos

brasileiros, sendo considerado um produto gourmet

artesanais dos produtores da região do Campo das

(TIEPPO, 2015).

vertentes.

8005

microbiológica

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.6, p.8001-8008, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006

e

físico-química

em


Artigo 448 – Queijos artesanais-Revisão

Verificou-se

nesse

temperatura

e

composição

dos

trabalho

influência

climática

da

estado de Minas Gerais se tornou possível

a

quando o IEPHA, pelo Decreto nº 42.505 de 15

essas

de abril de 2002 estabeleceu o registro como

dos

instrumento de proteção para bens culturais de

produtos e gera uma preocupação por parte dos

natureza imaterial. Com isso, o processo de

produtores

registro do Modo Artesanal de fazer Queijo de

características

variação

a

queijos

dificultam

cadastrados

sobre

avaliados,

a

padronização

em

cumprir

certas

legislações vigentes para esse tipo de queijo.

Minas – Patrimônio Cultural Mineiro foi efetivado em 7 de agosto de 2002 e teve como principal objetivo impelir o produtor a salvaguardar suas

Queijo de Araxá

tradições e identidade, fortalecendo o produto e

A região de Araxá possui mais de dois séculos de tradição nas práticas de produzir queijo, o consumo desse produto se constitui como um hábito alimentar da população, sendo indispensável na dieta dos

seu modo artesanal de fabricação, estimulando a manutenção da diversidade cultural. Certificação de qualidade

habitantes. Comprovando esse conceito, inúmeras

Pela Portaria nº 1305, de 30 de abril de 2013 do

referências histórico-culturais existem a respeito

IMA

desses

os

produtor que quiser se cadastrar como produtor

queijos provenientes da região de Araxá apresentam

de queijo minas artesanal deve seguir os critérios

identidade própria e processos de elaboração

estabelecidos pela portaria, tais como:

queijos

artesanais.

Particularmente

característicos do município. Na preparação desse

(Instituto

Mineiro

de

Agropecuária),

o

Certificado de conclusão do curso de

queijo observam-se os efeitos da maturação, onde

boas práticas de obtenção do leite e de

para esse produto surge um habitual processo de

produção

partia do estágio de meia-cura, dividindo uma etapa

envolvidos no processo de ordenha e de

até curar-se totalmente, normalmente, o local onde

produção

se realiza esse processo são girais de esteiras

propriedade, incluindo novos funcionários

(EMATER, 2017).

que

a

valorização

do

queijo

de

por

queijo

eventualmente

todos

os

dentro

venham

da

a

ser

contratados;

Patrimônio cultural imaterial Com

de

 queijo,

sucedeu

do

propriedades

o

leite

produzido

rurais

onde

nas estão

localizadas as queijarias;

reconhecimento do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA MG) e

Analise

Controle

sanitário

dos

rebanhos

na

do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

propriedade rural e a não comercialização

Nacional (IPHAN), e a criação do Programa de

do queijo minas artesanal sem a devida

Melhoria do Queijo Minas Artesanal executado pela

aprovação da rotulagem pelo IMA;

EMATER-MG e da concessão do selo de Indicação Geográfica pelo Instituto Nacional de Propriedade

A

maturação

deve

ser

realizada

a

temperatura ambiente.

Intelectual (INPI), em 2002. Juntamente com o processo de valorização do queijo, devido ao surto

Indicação Geográfica

de nefrite ocorrido no município de Nova Serrana,

Conhecidas há muito tempo em países europeus

em 1998, no centro oeste mineiro, as queijarias do

com grande tradição na produção de produtos

Serro tiveram que se adequar às normas da

alimentícios, as indicações geográficas indicam a

legislação sanitária que descaracterizaram o saber

procedência do produto, referindo-se ao nome do

tradicional (ABREU, 2015).

local onde o mesmo se tornou conhecido por produzir, extrair ou fabricar.

Segundo

Abreu

(2015),

o

reconhecimento

do

processo da produção artesanal do queijo minas no

Através da promulgação da Lei de Propriedade Industrial 9.279 de 1996, esse termo foi introduzido

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8001-8008, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8006


Artigo 448 – Queijos artesanais-Revisão

no Brasil, esse registro permite delimitar áreas

interpretativo. v. 1. Belo Horizonte. 2006.

geográficas, restringindo o uso de utilização de

DUSI, G. A.; ASSIS, A. G. de. O Pólo de excelência

nomes, apenas nas regiões certificadas, impedindo

como articulador do desenvolvimento sustentável

que outras pessoas ou instituições utilizem o nome

dos segmentos de produção e transformação do

do produto ou serviço indevidamente (BRASIL,

leite e derivados. In. A cadeia produtiva do leite

1996). Mediante a essa Lei, a Serra da Canastra

na mesorregião Campos das Vertentes de

possui esse registro de Indicação Geográfica, onde

Minas Gerais / Editores, Alziro Vasconcelos

apenas

Carneiro... [et al.], - São João Del Rei: Ed. UFSJ;

os

municípios

daquela

região

são

autorizados a utilizar o nome do queijo artesanal.

Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2011. 160p.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi

possível

observar

EMATER Governo de Minas – Manual Informativo

todos

os

processos

e

parâmetros dos queijos artesanais, principalmente os produzidos no Estado de Minas Gerais, os quais apresentam grande produção e representam fonte de economia de pequenos e médios produtores rurais.

www.emater.com.br/queijosartesanais.

Acesso

em 18/06. FEITOSA T; BORGES M. F, NASSU RT; AZEVEDO, E.H.F; MUNIZ, C.R. Pesquisa de Salmonella sp., Listeria

sp.

e

microorganismos

indicadores

higiênico-sanitários em queijos produzidos no

Mesmo apresentando certos pontos críticos na produção dos queijos, muitos produtores apresentam certificação de qualidade, tendo em vista que esse selo

Queijo do Serro e Araxá. Disponível em:

aumenta

a

visibilidade

do

produto

e

consequentemente enaltece a marca do produtor.

estado do Rio Grande do Norte. Revista Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas. dez. 2003. GLOBO RURAL. Queijos de Minas terão centros de

maturação.

Disponível

em:

<http://revistagloborural.globo.com/>. Acesso em 12/06/17.

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M.

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dos Campos das Vertentes como produtora de

spp.

And

other

microbial

Queijo Minas Artesanal. IMA-MG; EMATER-MG;

canastra

EPAMIG; UFSJ; UFJF; UFLA-MG; Secretaria

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CASTRO, V.S., NASCIMENTO V.L.V, OLIVEIRA, D.S.

V,

SOARES,

M.J.S

SILAVA,

M.J.M.

na

tradição

e

inovação

no/do

2009. 360f. Tese (Doutorado em Geografia) – Núcleo

de

Pós-Graduação

Qualidade microbiológica e físico-química em

Universidade

diferentes épocas do ano dos queijos frescos

Cristóvão, 2009.

Federal

de

em

Geografia.

Sergipe,

São

artesanais dos produtores da região do Campo

MINAS GERAIS. ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO

das Vertentes. Anais... II Congresso de Pesquisa

ESTADO DE MINAS GERAIS. Decreto n° 42.645,

e Inovação da Rede Norte, Nordeste e Sudeste

de 05 de junho de 2002. Aprova o regulamento da

de Educação Tecnológica; 2015.

Lei nº 14.185, de 31/01/2002, que dispõe sobre o

COELHO MENESES, José Newton. Queijo Artesanal

processo de produção de queijo Minas artesanal.

de Minas: Patrimônio Cultural do Brasil. Dossiê 8007

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8001-8008, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 448 – Queijos artesanais-Revisão

MOURA, A. P. de. Campo das Vertentes: sua origem e

ROSA, V.P., PORTO, E., SPOTOo, M.H.F. Avaliação

sua característica. Projeto As Minas Gerais –

Microbiológica e Sensorial de Queijos Minas

Pesquisa história de Minas Gerais, Projeto aprovado

Frescal Embalados sob Atmosfera Modificada.

pelo Ministério da Cultura, lei de incentivo, patrocinado pela ia. Industrial Cataguases e

Rev Higiene Alimentar. 2005; 19(132):58- 64. sensoriais de queijo minas artesanal da Canastra.

Quadrilátero Ferrífero. 2002. ORNELAS,

E.A.

Diagnostico

SILVA, J. G. Características físicas, físico-quimicas e

preliminar

para

200. 198p. Dissertação (Mestrado em Ciência

caracterização do processo e das condições de

dos

fabricação do queijo artesanal da Serra da Canastra. 2005. 88p. Mestrado (Ciência e Tecnologia de

Lavras. Lavras.

Alimentos). Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. PINTO, M. S. Diagnóstico socioeconômico, cultural e avaliação

dos

parâmetros

físico-químicos

e

Alimentos).

Universidade

Federal

de

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triplica.

Disponível

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2004. 133 f. Dissertação (Mestrado em Ciência e

17 de Junho de 2017.

Tecnologia de Alimentos)–Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2004.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8001-8008, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8008


Mudanças digestivas na cinética

Revista Eletrônica

de trânsito e de passagem em bovinos Ruminantes, digestibilidade, degradabilidade.

1

Taynara Raimundo Martins 2 Graciele Araújo de Oliveira Caetano 3 Messias Batista Caetano Júnior 1 Bruna Cristhina de Oliveira

Vol. 14, Nº 06, Nov./Dez. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

1

Zootecnista (UEG); Mestranda em Zootecnia (UFG). E-mail: taynara_enz@hotmail.com; brunacristhina13@hotmail.com 2 Mestre em Zootecnia (UFVJM); Doutoranda em Zootecnia (UFG). Gracielecaetano@outlook.com 3 Zootecnista (IFMG/ Bambuí). caetanozootecnia@hotmail.com

RESUMO

CHANGES IN KINETIC DIGESTIVE TRANSIT AND

A capacidade dos alimentos em fornecer nutrientes

PASSAGE IN CATTLE

aos animais é uma característica inerente e depende

ABSTRACT

da extensão de degradação e da taxa de passagem

Food providing nutrients to animals is an inherent

ao longo do trato gastrintestinal, o que determina por

feature and depends on the extent of degradation

um lado a qualidade do substrato, que pode ser

and rate of passage through the gastrointestinal tract

absorvido como consequência da digestão e, por

of the animal, which determines the quality of the

outro, condiciona a quantidade de alimento que pode

substrate, which can be absorbed as a result of

ser consumida pelo animal. No Brasil, a maior fonte

digestion and, and also determines the amount of

de alimentação dos animais ruminantes são as

food that can be consumed by the animal. In Brazil,

pastagens, caracterizadas pelo alto teor de fibra. Tal

the largest power supply of ruminant animals are

estrutura é de grande importância, pois seus

pasture, characterized by high fiber content. This

componentes estão relacionados à digestibilidade,

structure have a great importance, because its

fermentação ruminal e ao valor energético do

components are related to digestibility, ruminal

alimento, fatores estes diretamente relacionados à

fermentation and the energy value of the food,

produtividade animal. Um dos principais substratos

factors directly related to animal productivity. One of

energéticos para os animais que ingerem dietas

the main energy substrates for animals who eat diets

contendo volumoso é a fibra em detergente neutro

with roughage is the neutral detergent fiber (NDF),

(FDN), subdividida em uma fração indigestível e

divided into one indigestible fraction and other

outra digestível. O objetivo desse trabalho foi realizar

digestible. The aim of this study was to conduct a

uma revisão de literatura sobre a cinética de trânsito

review of the transit and passage kinetics of food in

e de passagem de alimentos em bovinos.

cattle.

Palavras-chave: ruminantes, digestibilidade,

Keyword: ruminants, digestibility, degradability.

degradabilidade.

8009


Artigo 449 – Mudança digestiva na cinética de trânsito e de passagem em bovinos

INTRODUÇÃO

Cinética de degradação ruminal

As mudanças digestivas são estabelecidas por

Utiliza-se ha vários anos a técnica de uso de sacos

fatores essenciais dos alimentos e por suas

de náilon incubados no rúmen, possibilitando estudar

interações com os processos cinéticos. Sendo

a degradabilidade ruminal dos alimentos consumidos

assim, a expressão quantitativa dos processos

pelos animais. São diversas as formas de realizar

cinéticos

este estudo sendo elas divididas em técnicas in situ,

de

digestão

e

passagem

torna-se

indispensável para estimar de maneira mais precisa

in vivo e in vitro.

a quantidade e composição dos nutrientes digeridos e sua eficiência de utilização pelo animal (ELLIS et

Para estimar a cinética de degradação tem se

al., 1994).

utilizado a técnica in situ com sacos de náilon que ficam incubados em bovinos fistulados no rúmen,

É fundamental conhecer a composição química e a

permitindo avaliar vários alimentos ao mesmo tempo,

digestibilidade dos alimentos para a formulação de

além de ter baixo custo e ser um procedimento

dietas balanceadas que propiciem aos animais

rápido, se comparado com o método in vivo.

expressarem o máximo do seu potencial produtivo. A

Contudo, em razão do contato dos microrganismos

capacidade dos alimentos em fornecer nutrientes

do rúmen com o alimento, pode suceder uma

aos animais é uma característica inerente e depende

contaminação por proteína de origem microbiana

da extensão de degradação e da taxa de passagem

dentro dos sacos utilizados podendo ocasionar uma

ao longo do trato gastrintestinal, o que determina por

subestimação da proteína bruta dos alimentos.

um lado, a qualidade do substrato que pode ser

Alimentos com baixos teores de proteína bruta são

absorvido como consequência da digestão e, por

mais susceptíveis a esse erro, uma vez que a

outro, condiciona a quantidade de alimento que pode

proporção de proteína de origem microbiana será

ser consumida pelo animal (OLIVEIRA, 2011).

maior quanto menor for o teor de proteína bruta do alimento (NOCEK, 1988).

São os alimentos que o animal consome que irão influenciar nas condições do ambiente ruminal, bem

É de suma importância compreender como ocorre a

como

fermentação

degradação dos alimentos no rúmen e isso se dá

microbiana. É a dieta fornecida que determinará o

através de estudos de avaliação de alimentos para

tipo de microrganismo que estará propício a se

ruminantes. Tabelas com parâmetros de degradação

desenvolver no rúmen. Dietas a base de forragem

ruminal de vários alimentos são disponibilizadas por

mantém as condições adequadas para o bom

instituições de pesquisa, o que facilita bastante o uso

desenvolvimento da flora microbiana e, propiciam o

na alimentação animal. Alguns trabalhos no Brasil

desenvolvimento

os

produtos

gerados

de

pela

e

estão voltados para o progresso desses parâmetros,

protozoários, por manter condições ideais de pH,

bactérias

celulolíticas

pois devido às condições edafoclimáticas das

aumentando assim

diferentes

o aproveitamento da fibra

(OLIVEIRA, 2013).

regiões,

principalmente

no

uso

de

forrageiras, muitas informações ainda não estão disponíveis (SARMENTO, 2010).

No Brasil, a maior fonte de alimentação dos animais ruminantes são as pastagens, caracterizadas pelo

Os

alto teor de fibra. Tal estrutura é de grande

degradação ruminal dos alimentos que constituem as

importância,

estão

dietas dos ruminantes são de suma importância para

relacionados à digestibilidade, fermentação ruminal

que as respostas econômicas decorrentes de modificações biológicas sejam esclarecidas (SNIFFEN et al., 1992). A cinética de degradação ruminal é retratada pelas curvas de desaparecimento de cada fração dos alimentos. Sendo assim, a descrição da taxa e da extensão da digestão é relevante para explicar as relações existentes entre a ingestão, a digestão e o

pois

seus

componentes

e ao valor energético do alimento, fatores estes diretamente relacionados à produtividade animal. Um dos principais substratos energéticos para os animais que ingerem dietas contendo volumoso é a fibra em detergente neutro (FDN), subdividida em uma fração indigestível e outra digestível (NOCEK, 1988).

conhecimentos

referentes

aos

tipos

desempenho de ruminantes (MERTENS, 1977).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8009-8015, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8010

de


Artigo 449 – Mudanças digestivas na cinética de trânsito e de passangem em bovinos

Os períodos de incubação em medidas de intervalos

e da fração não degradável ou resíduo indigerido (I)

e frequência que são essenciais para o estudo da

da FDN da silagem de milho com diferentes aditivos

degradação, dependerão do tipo de alimento e da

alimentares.

fração a ser analisada. No momento em que o alimento incubado no rúmen é um volumoso, a

Nesse trabalho não foram registradas diferenças

degradação não se inicia imediatamente, sendo

(P>0,05) para a fração (b), a taxa de degradação (c),

esse tempo de colonização o período no qual não

a fração I e a degradação efetiva (DE) de FDN dos

ocorre digestão ou acontece de forma muito

tratamentos experimentais. Os valores de b, c e I

reduzida (BERCHIELLI et al., 2011).

obtidos para FDN no tratamento controle, sem aditivo (SCL), foram de 57,83%; 2,0%/h; e 36,16%,

Segundo Casali (2008), o tempo de incubação é

respectivamente.

uma das variáveis de maior influência sobre a representatividade dos resíduos indigestíveis em

TABELA

procedimentos de incubação in situ. Lusk et al.

potencialmente degradável (b), taxa de degradação

(1962), citados por Huhtanen e Kukkonen (1995),

da fração potencialmente degradável (c (%/h)) e da

avaliaram

e

fração não degradável ou resíduo indigerido (I) e

explicaram que, quando o objetivo for analisar a

degradação efetiva (DE) de FDN da silagem de

degradação da proteína e frações rapidamente

milho incubada em ambiente ruminal sem aditivos

fermentáveis (amido), os tempos de incubação

(SCL)

podem ser de 0, 2, 4, 8, 16, 24 e 48 horas. No caso

liofilizadas (SBL), enzimas celulolíticas (SEC) e

da degradação de forragens os tempos seriam de 0,

monensina (SMS)

a

degradabilidade

de

forragens

1:

ou

Valores

inoculado

da

com

fração

bactérias

insolúvel

ruminais

4, 8, 16, 24, 48, 72 e 96 horas. TRATAMENTO

b (%)

c (%)

I (%)

DE (%)

SCL (Controle)

57,83a

2,0a

36,16ab

53,60ab

SBL (LB)

66,89a

1,5a

29,46b

58,14ab

SEC (CE)

64,34a

2,0a

33,17ab

59,61a

incubação nesse intervalo, além de aumentar o

SMS (SM)

50,22a

2,1a

45,57a

47,54b

trabalho experimental, poderia interferir no processo

CV (%)

11,65

21,62

15,42

8,35

No entanto, essa variável pode ser

alterada

FDN

conforme o objetivo do estudo. Sampaio (1994) sugere para o estudo da degradação de forrageiras o intervalo de 6 a 96 horas e relata que três ou quatro tempos de incubação estimariam a equação de degradabilidade com a mesma eficiência que sete ou mais tempos. Maior número de tempos de

digestivo devido às constantes retiradas dos sacos do rúmen, o que certamente ocasionaria elevação do erro experimental e estresse animal.

Fonte: Adaptado de Katsuki et al., 2006.

Outro critério importante a ser considerado no

Com objetivo de avaliar o efeito da inoculação

desenvolvimento de dietas para ruminantes é a

ruminal com diferentes aditivos sobre a degradação

digestibilidade, pois é a partir dela que os nutrientes

da matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e fibra em

estarão disponíveis para atender as necessidades

detergente neutro (FDN) da silagem de milho no

nutricionais dos animais. Na avaliação de alimentos

rúmen, Katsuki et al. (2006) observaram que as

para

taxas de degradação (c) da MS e PB não diferiram

digestibilidade aparente, o qual é tradicionalmente

entre os tratamentos, indicando que os aditivos

estabelecido como a parte de determinado nutriente

avaliados

que não é excretado nas fezes (CARVALHO, 2012).

não

interferiram

na

velocidade

de

degradação da silagem de milho.

ruminantes,

utiliza-se

o

coeficiente

de

Existem diversas formas de expressar a digestão no animal. A digestibilidade pode ser expressa como

Na Tabela 1 podem ser observados os valores da fração potencialmente degradável (b), da taxa de degradação da fração potencialmente degradável (c) 8011

quantidade total de digestão independentemente do tempo. Em qualquer seguimento do trato digestivo, a digestão pode ser calculada como a porcentagem do

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8009-8015, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 449 – Mudanças digestivas na cinética de trânsito e de passagem em bovinos

resíduo digestível do nutriente por unidade de tempo

entre forrageiras quando baseada em perfis de

ou taxa fracionária de digestão Kd. Isto pode ser

excreção de Yb, mas foi mais longo para silagem de

combinada

para

forrageira do que para silagem de milho, baseado

determinar a quantia real de digestão em um

em dados de evacuação ruminal. A taxa líquida de

determinado ponto no tempo.

passagem não foi diferente, quando calculada a

com

o

tempo

pra

digestão

partir da média ou amostras de líquido ruminal Di Marco et al. (2005) avaliaram a digestibilidade in

ventral, indicando que as estimativas para a

vivo de duas silagens de milho para descrever sua

probabilidade de escape de líquido ruminal eram

cinética ruminal da digestão, em diferentes estágios

independentes do local de amostragem rúmen.

de maturação com a digestibilidade in vitro e a degradabilidade in situ as 24 e 48h de incubação

Matéria fibrosa no rúmen e sua dinâmica

ruminal. Os pesquisadores observaram que a

O fluxo de partículas é dependente de atributos da

digestibilidade in vivo (52,9%) não foi diferente (P>

digesta, e não apenas função da retenção em

0,05) da degradabilidade ruminal às 24h (55,6%); no

segmentos

entanto, foi inferior (P <0,05) aos resultados

(HUNGATE, 1966). A compartimentalização pode

encontrados para degradabilidade ruminal às 48h de

existir em qualquer segmento anatômico do TGI,

incubação (61,9%) se comparado a digestibilidade in

quando ocorre retenção e mistura das partículas

vitro

esses

recém-ingeridas com as já existentes. Baseado

procedimentos superestima a digestibilidade in vivo

nesse conceito, o autor sugeriu o modelo de dois

por cerca de 15%.

compartimentos no rúmen: o primeiro compartimento

(61,6%).

Em

outras

palavras,

anatômicos

do

trato

gastrintestinal

seria de ruminação com partículas grandes que não Por sua vez, Kramer et al. (2013) avaliaram cinética

passam através do orifício retículo-omasal e, o

de passagem de forragem e alimento concentrado

segundo compartimento constituído por pequenas

para determinar os efeitos intrínsecos e extrínsecos

partículas dispersas na fase líquida, possibilitando o

da ração sobre o tempo de retenção da fibra no

escape do rúmen (Figura 1).

rúmen. Dezesseis vacas holandesas (557 ± 37 kg de peso corporal, 120 ± 21 dias em lactação), sendo

FIGURA 1 - Representação esquemática dos

oito animais providos de cânulas ruminais, foram

processos que envolvem o pool heterogêneo no

utilizadas em um experimento delineado em blocos

rúmen-retículo

casualizados.

Nesse

trabalho,

os

tratamentos

diferem no tipo de forragem (silagem de milho vs. silagem de capim) e relação volumoso: concentrado (50:50 vs. 75:25 em base de matéria orgânica). A cinética de fibra de passagem foi estudada com base em evacuações ruminais e em perfis do marcador nas fezes. Cada vaca recebeu itérbio (Yb) na fibra da forragem da ração, samário (Sm) marcado na fibra da forragem que não foi fornecida na ração, e fibra marcado com lantânio (La) no concentrado, tudo como uma dose pulso único. Dezenove amostras de fezes retais foram coletadas

Fonte: Vieira et al.(2008).

por vaca. A passagem do líquido ruminal foi estudada usando o cromo-EDTA administrado como um único pulso no rúmen, seguido por amostragem de líquido ruminal, tanto do rúmen ventral e quanto

De acordo com Vieira et al. (2008), o alimento ingerido formará o raft no rúmen, o qual é considerado um pool de partículas segregadas formado por moléculas recém-ingeridas e partículas

no medial.

de maior tamanho. Os processos digestivos sofridos O tempo médio de retenção no rúmen não diferiu

pelo alimento vão gerar uma entidade digerível nas partículas do raft (PRd) e uma entidade indigerível

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8009-8015, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8012


Artigo 449 – Mudanças digestivas na cinética de trânsito e de passagem em bovinos

do raft (PRi). Os processos de digestão são

da toma. Os nutrientes que se solubilizam mais

cineticamente descritos pela taxa de digestão (Kd),

rapidamente e os conteúdos celulares são liberados

que se supõe ser exponencialmente distribuída pelo

e fermentados primeiro seguidos sequencialmente

tempo.

pelos componentes mais resistentes (OLIVEIRA et al., 2007).

Caetano et al. (2014) afirma, a partir da figura, que as partículas do pool PRi não conseguem escapar

A fermentação pode ser influenciada pela energia

do

transferência

disponível ao modificar as reações da fermentação.

progressiva de matéria do PRi para o pool de

Quando o ruminante ingere cereal, a elevada

partículas diluídas no fluído ruminal (PE). As

disponibilidade e a fermentação rápida determinam a

partículas

produção de mais hidrogênio metabólico, que pode

rúmen,

assim,

ocorre

resultantes

uma

desses

processos

são

agregadas a uma taxa de transferência simples de

ser desviado através de canais normais.

partículas do PR para o PE. As partículas do pool PE potencialmente digerível (PEd) serão digeridas à

Taxa de passagem A taxa de passagem ou de trânsito refere-se ao fluxo

taxa Kd, e a porção indigerível (PEi) será eliminada

de resíduos não digeridos através do trato digestório.

como a taxa de escape (K), a qual se supõe

O fluxo ruminal inclui além da fibra indigestível,

exponencialmente distribuída ao longo do tempo.

bactérias e outras frações não degradadas do alimento, sendo que a composição e o volume da

Fermentação ruminal

dieta são variáveis externas que influenciam a

A fermentação no rúmen é o resultado líquido de

digestão, a taxa de digestão e a reciclagem do

interações

conteúdo ruminal (VAN SOEST, 1994).

entre

diferentes

microrganismos

no

ecossistema. Conhece-se a existência de muitas interações

a

Pereira et al. (2007) com o objetivo de determinar a

sobrevivência dos microrganismos que intervém,

composição bromatológica de silagens de milho e

sendo muito mais sutil o efeito de outras. Também

sorgo com diferentes níveis de espigas e panículas e

tem

também avaliar a degradação ruminal da fibra em

sido

sendo

algumas

descrito

na

essenciais

literatura

para

exemplos

de

mutualismo, comensalismo e parasitismo no rúmen,

detergente

neutro,

verificou

que

o

valor

do

mediante o exame dos substratos, os padrões

coeficiente b para silagens de sorgo foi similar,

bioquímicos que intervém e os produtos finais

apresentando um valor médio da ordem de 80,68%.

obtidos nos cultivos puros.

Acredita-se que essas pequenas variações podem ser atribuídas à própria composição das silagens e

Sendo um resultado decorrente das atividades

as maiores diferenças, às perdas de partículas

microbiológicas,

durante as lavagens dos sacos. Observa-se

a

fermentação

ruminal

é

que

responsável pela transformação dos componentes

maiores taxas de degradação (c) para silagens

dos

em

constituídas de 0% e 30% de panícula, o que pode

subprodutos utilizados no metabolismo animal tais

ser explicado pela baixa inclusão de panícula,

como os ácidos graxos voláteis (AGVs), proteína

promovendo taxa de degradação/hora relativamente

microbiana e as vitaminas do complexo B. Esse

maior para a fração FDN quando comparados aos

procedimento também

demais níveis de inclusão de panícula.

alimentos

aproveitadas

(carboidratos

pelo

e

nitrogênio)

origina substâncias

indivíduo

(metano

e

não gás

carbônico), que são fisiologicamente eliminadas

Caetano et al. (2004) confirmando a importância da

(VAN SOEST, 1994).

avaliação dos alimentos para elaboração de dietas de qualidade, que minimizem custos proporcionando

A taxa de energia liberada pela fermentação varia

tomas por dia, a disponibilidade de alimento

melhores desempenhos produtivos dos animais e considerando diversidades na taxa de degradação de alimentos volumosos, avaliaram a cinética de trânsito de partículas e a degradabilidade da FDN da silagem

digestível e a atividade da maioria dos grupos

do resíduo da cultura do abacaxi (partes aéreas), em

microbianos experimentam o máximo declínio depois

diferentes densidades de armazenamento.

com o tempo transcorrido após uma toma de alimento. Quando os animais recebem uma ou duas

8013

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8009-8015, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 449 – Mudanças digestivas na cinética de trânsito e de passagem em bovinos

Observando os dados, nota-se que as frações

dietas contendo diferentes níveis de fibra. Viçosa:

potencialmente digestíveis da fibra padronizada (Bn)

Universidade Federal de Viçosa. 2002, 118p.

e fração indigestível da fibra padronizada (Un), para

Tese (Doutorado em Zootecnia).

3

CASALI, A.O.; DETMANN, E.; VALADARES FILHO,

demonstrou ser mais eficiente proporcionando uma

S.C.; PEREIRA, J.C.; CUNHA, M.; DETMANN,

fração

e

K.S.C.; PAULINO, M.F. Estimação in situ dos

consequentemente uma fração indigestível menor

teores de fibra em detergente neutro indigestível

em relação aos demais tratamentos.

em alimentos para ruminantes em sacos de

o tratamento com compactação a 900 kg/m potencialmente

digestível

maior

diferentes TABELA 2. Valores obtidos por meio de análise de estrutura de variância-covariância para as variáveis: fração

potencialmente

digestível

da

tecidos.

Revista

Brasileira

de

Zootecnia, 2008. DI

MARCO,

O.N.;

AELLO,

M.S.;

ARIAS,

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fibra

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Compactação

Variáveis

(Kg/m³)

Bn

600

0,5590

700

0,5461

900

0,6276

1000

M.R.;Methodology for estimating digestion and Un

b

passage kinetics of forages. In: FAHEY JR., G.C. a

0,4410

b

0,4539

a

a

0,3724

b

a

a

0,5788

0,4212

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e

SARMENTO,

N.L.A.

Composição

Médias seguidas de pelo menos uma mesma letra na coluna não

Química

diferem (P < 0,05)

Gramíneas do Gênero Cynodon . Montes Claros:

Fonte: Caetano et al. (2014).

Degradabilidade

Ruminal

de

Universidade Estadual de Montes Claros. 49p Dissertação

CONSIDERAÇÕES FINAIS A digestão e

e

a passagem

atuam

de forma

(Mestrado

em

Zootecnia)

-

Universidade Estadual de Montes Claros, 2010.

simultânea e competitiva para a remoção da digesta

HUHTANEN, P.; KUKKONEN, U. Comparison of

no rúmen, sendo necessário, então, estudar os

methods, markers, sampling sites and models for

efeitos combinados da digestão e da taxa de

estimating digesta passage kinetics in cattle fed at

passagem para maximizar o consumo de nutrientes

two levels of intake. Animal Feed Science and

digestíveis. Deste modo, compreender como o

Technology, v.52, n.1/2, p.141-158, 1995.

volume do rúmen, a taxa de digestão e de passagem da digesta respondem a alterações no nível de

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ingestão de alimentos é fundamental para conhecer

KATSUKI, P.A.; MIZUBUTI, I.Y.; PEREIRA, E.S.;

o mecanismo pelo qual ocorre a degradabilidade

RAMOS, B.M.O.; RIBEIRO, E.L.A.; MOREIRA,

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Artigo 449 – Mudanças digestivas na cinética de trânsito e de passagem em bovinos

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e

para

degradabilidade de forragens quando avaliada in

de

de

experimental

de

Animal)-Faculdade

Agrárias,

P.J.;

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Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖ (BPF) na produção de ração

Revista Eletrônica

Alimento, animal, equipe, segurança alimentar.

Andressa da Silva Formigoni Vol. 14, Nº 06, Nov./Dez. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Gislaine de Castro Marcelo

1

2

3

Andressa Nathalie Nunes

1

Professora do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul. 2 Estudante de Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul. 3 Doutora do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Federal de Minas gerais – UFMG. E-mail: natydressa2009@hotmail.com

RESUMO A utilização de sistemas de gestão da qualidade na

ração, pois podem mensurar resultados ligados a um

IMPORTANCE OF THE "GOOD MANUFACTURING PRACTICE" (GMP) PROGRAM IN FEED PRODUCTION ABSTRACT

planejamento estratégico de gastos fazendo com

The use of quality management systems in food

que isso reduza a perda de matérias-primas, além

production is extremely useful and applicable in all

disso, aumentando a qualidade do produto final e

segments of the feed mills, it can measure the

melhorando o ambiente de trabalho da equipe de funcionários. O programa de qualidade que está mais em foco neste setor nos últimos tempos é conhecido como ―Boas Práticas de Fabricação (BPF)‖. A adoção desse programa de qualidade reflete na otimização de todos os processos durante a fabricação de ração, de pessoas e recursos, melhorando a forma de conduzir o sistema como um todo e ampliando a competitividade da empresa. Diante disso, o trabalho se trata de uma revisão bibliográfica que discorre sobre a importância da utilização e aplicação do programa de BPF na produção de rações para animais, com a finalidade de se evitar a ocorrência de doenças transmitidas por alimentos e melhorar as condições higiênicas sanitárias do processamento destes, bem como aperfeiçoar a estrutura de administração dos recursos humanos, aumentando tanto a competitividade como os lucros das indústrias de alimentos utilizando-se dos procedimentos deste programa de qualidade.

concomitant results of a strategic plan that reduces

produção de alimentos é extremamente útil e aplicável em todos os segmentos das fábricas de

Palavras-chave: alimento, animal, equipe, segurança

alimentar.

spending causing the loss of raw materials, in addition, increasing the safety of the final product and improving the working environment of staff. The quality program that is more in focus in this sector in recent times is known as "Good Manufacturing Practices (GMP)." The adoption of this program reflects the quality optimization of all processes during manufacturing of food, people and resources to drive improving the way the system as a whole and increasing the company's competitiveness. Thus, the present work is a literature review that discusses the importance of the use and application of GMP program in the production of animal feed, in order to avoid the occurrence of foodborne illness and

improve

hygienic

conditions

sanitary

processing thereof, as well as improve the structure of human resource management, increasing both the competitiveness and profits of the industries of food using the procedures in this quality program. Keyword:

8016

the

animal,

food,

food

safety,

team.


Artigo 450 – Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖(BPF) na produção de ração

INTRODUÇÃO

consolidação, é necessário o treinamento da mão de

O mundo globalizado exige eficiência na produção

obra por um líder, o qual estimula um bom trabalho

de animais de forma a aumentar a competitividade e

em equipe, mudanças de comportamento de todos

credibilidade da empresa no mercado nacional

os envolvidos e definição das funções de cada

simultaneamente às novas exigências presentes no

membro

mercado consumidor (CALARGE 2007).

PRÁTICAS AGROPECUÁRIAS).

Como a alimentação dos animais pode corresponder

A seguinte revisão tem por objetivo discorrer sobre a

até 70% dos gastos totais em uma criação, as

importância do programa de Boas Práticas de

despesas

Fabricação (BPF) em fábricas de ração.

na

produção

de

alimentos

refletem

(MANUAL

BRASILEIRO

DE

BOAS

diretamente no crescimento de uma empresa nesse cenário global. Dessa forma, uma das ferramentas

REVISÃO DE LITERATURA

de gerenciamento consiste nas Boas Práticas de

A aplicação das BPFs nas fábricas de ração é um

Fabricação, as quais correspondem a procedimentos

dos grandes desafios da atualidade, assim como um

operacionais de higiene e sanidade que envolve todo

tema bastante amplo, devido a sua aplicação em

o fluxo de produção, desde matérias-primas até a

qualquer empresa que trabalha ou utiliza dos

distribuição do produto final, com intuito de garantir

serviços de oferecimento de alimentos (OLIVEIRA,

conformidade, qualidade e segurança dos produtos

2011).

destinados à alimentação animal. Este programa originou-se devido ao mercado Para

o

estabelecimento

desse

programa

de

consumidor ter se tornado mais exigente a respeito

qualidade, são feitas análises da gestão econômica e

das

necessidades

de

produzir

alimentos

com

sanitária, adequações das instalações e ambiente da

qualidade sanitária e nutricional satisfatória (MAPA -

empresa que busca atender as exigências do

Instrução Normativa 4/2007), bem como a crescente

mercado consumidor e, por fim a conscientização

demanda por rações e suplementos para animais de

sobre a participação de todos os funcionários da

produção com intuito de garantir primariamente

fábrica. Independente da capacidade de investimento

segurança aos criadores e, de forma secundaria,

de cada empresa há uma tendência a resultados

potencializar o aproveitamento da ração.

positivos quando se aplica a BPF, pois ocorrem organização e planejamento da produção diária (AMARAL et al., 2006).

O órgão que estabelece os procedimentos e certificação representa-se pelo MAPA (Portaria 368), o qual exige registro dos estabelecimentos que

 

Exemplificado por maior disponibilidade de

comercializam rações para adequação das normas

alimentos;

higiênicas sanitárias, de segurança e rastreabilidade,

Diminuição da quantidade de alimentos deteriorados;

Menor desperdício;

Evitar contaminações cruzadas;

Produção mais econômica;

Menor risco de ocorrência de intoxicações;

Surtos de doenças e parasitoses;

seja suplementos, ingredientes ou aditivos. O manual de BPF é um documento que descreve a situação real das operações e dos procedimentos realizados

pelo

estabelecimento,

incluindo

os

requisitos sanitários, a manutenção e higienização das instalações, dos equipamentos e utensílios, o controle da água de abastecimento, o controle integrado de vetores e pragas urbanas, o controle da

Por ser uma ferramenta de controle financeira

higiene e saúde dos manipuladores, cujo propósito é

também facilita a gestão da fabricação em toda

estabelecer

cadeia de produção, otimiza os custos de correção,

segurança do produto final (BRASIL, 2004; BRASIL,

produz produtos mais uniformes e reduz a maioria

2002).

uma

sistemática

para

garantir

a

dos prejuízos que inviabilizariam o negócio.

A utilização da BPF traz como uso do sistema de Além disso, um dos requisitos básicos, para sua 8017

gestão de qualidade; que consiste em oferecer

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Artigo 450 - Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖(BPF) na produção de ração

padrões de qualidade a todas as atividades de

relação com o ser humano que atua nos processos

fabricação de um produto na execução de um

envolvidos, conservando a saúde animal, segurança

serviço, visando assegurar a qualidade de seu

e bem-estar qualificando os aspectos de higiene,

produto tal como busca constante da excelência nos

sanidade, desinfestação e disciplina operacional

aspectos de segurança, identificação, concentração,

(CANTO, 1998).

pureza e qualidade (ALVES, 2003). A aplicação das BPFs garante aos produtos Consiste de uma forma de conceito abrangente, tais

aspectos

como:

concentração, pureza e qualidade. Além disso, as

como

segurança,

identificação,

Participação da mão de obra;

empresas que adotarem as BPFs obterão seus

Condições do uso de equipamentos;

lucros além de evitar problemas que futuramente

Conservação da matéria-prima;

poderão obter uma imagem de respeito no mercado

Uso de embalagens;

consumidor.

Uso e preservação de rótulos;

Manutenção adequada em armazenamento de insumos;

Assegurar distribuição

o

uso e

de

transportes

qualidade

do

na

produto;

(CANTO, 1998).

Controle de qualidade de matérias-primas De acordo com França (2013), um bom controle de qualidade envolve alguns passos fundamentais como:

A razão da existência das BPFs está em ser uma

Conhecer padrões de qualidade e normas de

ferramenta poderosa para combater os riscos de

manuseio e armazenagem de cada matéria-

contaminações microbiológicas, físicas e químicas.

prima. Portanto, para podermos produzir

Apresentando 3 pontos positivos na atuação da BPF.

boas rações, as matérias-primas devem apresentar boas condições gerais;

O primeiro objetivo diz respeito a uma unificação da

linguagem dos princípios básicos de como ter e obter BPF para produtos destinados à saúde humana e

local fresco e ventilado; 

animal. O segundo objetivo está em comprovar que a empresa que faz uso das BPF já se encontra em

em que vivemos. O terceiro objetivo é proporcionar que a meta seja atingida, em toda a sua amplitude e qualidade assegurada dos produtos gerenciados. (CANTO, 1998).

O lote deve estar rotacionado com a maior frequência possível;

estágio superior na qualidade de seus produtos, o que é importante no mercado competitivo e global

Ser armazenadas em menor tempo possível em

Quando ensacadas, armazenadas em pallets afastadas do piso e das paredes;

Quando granel, armazenadas em silos limpos e em boas condições de manutenção, não sofrer variações no controle de temperatura durante todo o período de armazenagem, acaso isso ocorrer a uma temperatura acima de 5°C em relação à temperatura ambiente, o certo a fazer

As BPF constituem em uma poderosa forma de mecanismos de defesa no controle e combate a

é verificar a circulação de ar no silo e remontar os lotes armazenados em pallets.

prevenção de contaminações, na fabricação de um produto que não prejudique a saúde animal.

Seleção de fornecedores que é sem dúvida um dos itens mais importantes na obtenção

Essa forma deve ser utilizada de maneira clara e transparente no processo de fabricação desses produtos,

através

de

seus

componentes

fundamentais e princípios mínimos básicos, para a obtenção

da

qualidade

assegurada.

Convém

também assegurar que as BPFs mantêm estreita

de matérias-primas de qualidade. Adquirir produtos de fornecedores idôneos, que possuem um bom controle do processo e dos padrões dos produtos de qualidade a serem

comercializados,

reduzindo

a

necessidade de controles por parte de quem Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8016-8025, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8018


Artigo 450 – Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖ (BPF) na produção de ração

os adquire, e garante maior segurança na utilização

do a especificação da compra. Deverá ter suficientes

dos mesmos. Algumas empresas do setor possuem

informações do Sistema de Qualidade e estar

um cadastro dos fornecedores, onde eles são

habilitado a reconhecer a qualidade aparente dos

classificados e premiados pela qualidade de seus

ingredientes e ter suficiente autoridade para recusar

produtos e serviços prestados (pontualidade e

o produto antes

flexibilidade na entrega, etc.). Hoje em dia no

ingredientes que chegam até a fábrica devem ser

mercado atual já se observa preocupação no sentido

retiradas e analisadas fisicamente através de testes

de garantir qualidade. Um exemplo típico é o setor

qualitativos rápidos e, posteriormente, arquivadas

de farinha de carne, onde os fornecedores se unem

para diminuir dúvidas posteriores por problemas que

no sentido de estabelecer normas e controles de

possam ocorrer com o produto final (BUTOLO,

bactérias em seus produtos. Esta medida visa

2002).

da descarga. Amostras

dos

Fatores críticos:

entregar um produto de melhor qualidade e com isso 

garantir o aumento no volume de venda. Inspeção no recebimento de análise física, cujo objetivo é

Amostragem: a amostra deve representar as características do lote;

detectar problemas de qualidade de matéria que pudessem inviabilizar seu uso fazendo com que isso fosse limitado ou direcionado. Através da análise física visuais pode-se detectar 90% dos problemas

Análises: físicas, químicas e microbiológicas;

Limpeza: transportadores, silos e armazéns (SILVA, 1998).

mais comuns ocorridos em ingredientes presentes em controles de recebimento, tais como análise da

Armazenagem: A estocagem de produtos a granel

matéria- prima de forma geral, que deve ser feita por

deve ser muito bem controlada, evitando misturas de

indivíduo que tenha experiência nessa função, ou

ingredientes de qualidade diferenciada ou produtos

seja, que conheça seu padrão de cor, odor,

diferentes.

uniformidade e textura; e análise de umidade.

receber maiores cuidados quanto à identificação dos rótulos

Matérias-primas e

lotes,

ensacadas

em

devem

especial

produtos

Análise laboratorial (análise química) que mostrará

medicamentosos, aditivos e micro minerais, que

dados sobre a qualidade e valor nutricional da

devem ser cuidadosamente catalogados para evitar

matéria-prima.

o uso indevido, principalmente quanto às suas concentrações

(BUTOLO,

2002).

Cuidados

Processo de produção e pontos críticos de

adicionais devem ser tomados quando a matéria-

controle

prima for armazenada por um maior período. Se

O processo de produção de alimentos deve ser cuidadosamente analisado, com o objetivo de reduzir os perigos de contaminação e prever planos de ação, caso ela ocorra (ALVES, 2003), e apontar os fatores críticos de controle de qualidade. Esse processo consiste em:

tratando de armazenagem a granel, o ponto principal de controle é o monitoramento da umidade e da temperatura

no

interior

da

massa

granular.

Observando que alguma alteração de pontos de aquecimento deve ser providenciada a aeração quando o silo for dotado de um sistema que permita uma transilagem quando a primeira alternativa não

Recepção: A área de recepção é a última linha de

for possível (ALVES, 2003).

defesa que previne a chegada de ingredientes de baixa

qualidade

à

produção,

pois

uma

vez

Fatores críticos:

descarregados em uma área com destino a um silo

Controle de umidade/temperatura;

de armazenamento, dificilmente pode-se diferenciar

Controle sobre aves, fungos, insetos e

e separar os ingredientes de baixa qualidade

roedores;

daqueles de boa qualidade. Portanto, o responsável

Qualidade das sacarias;

da recepção deve se antecipar antes de adquirir um

Estabilidade das pilhas de sacarias;

produto de qualidade desconhecida sempre analisan-

Controle

do

tempo

(SILVA, 1998). 8019

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de

armazenamento


Artigo 450 – Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖ (BPF) na produção de ração

Moagem: Os ingredientes que necessitam passar

por um processamento de moagem são os grãos de

(roscas ou válvulas);

cereais como: milho, sorgo, triticale ou ainda,

ingredientes politizados, como farelo de soja e

precisão e aferição periódica;

algodão. Muita atenção precisa ser dada ao

processamento,

comporta (SILVA, 1998).

pois

o

produto

resultante

do

Dimensões corretas dos elementos dosadores Balanças: em número suficiente, faixas de Misturador: não pode haver vazamento na

processo deve ser uniforme para ser bem aceito pelos animais, não devendo permitir segregação

Extrusão: É um processo contínuo, onde os

quando

ingredientes, no geral, após serem misturados são

em

mistura

com

outros

ingredientes da

passados através de uma matriz ou molde. A massa

granulometria é um fator decisivo para a mistura,

misturada no processo de extrusão também é

pois quanto maior a uniformidade das partículas,

colocada em contato com altas temperaturas e

melhor será a mistura (SILVA, 1998). Para que o

pressões,

processamento seja consistente, é importante um

profundas dos ingredientes, ocorrendo uma forma

programa de manutenção dos equipamentos que

gelatinosa

assegure que os mesmos atingem a performance

esterilização. A extrusão provoca uma expansão do

para que foram projetados (BUTOLO, 2002).

produto e, em consequência, o peso específico final

(BUTOLO,

2002).

Assim,

a

adequação

do

passando do

alimento

por

amido,

é

menor

transformações fricção

mais

molecular

(BUTOLO,

2002).

e

A

complexidade do processo de extrusão implica que

Fatores críticos:

variações repentinas na constituição da matéria•

Manutenção do moinho;

prima, combinadas com o percentual de umidade e

Teor de umidade do produto a ser moído;

vazão de farinha, associadas ao desgaste dos

Ajuste das peneiras;

elementos de configuração do parafuso e camisa da

Ajuste da rotação e distância entre peneira e

extrusão provocadas por profundas modificações na

martelete (SILVA, 1998).

qualidade do produto final (MENDES, 2003).

Pesagem e Mistura: A pesagem e a mistura são o coração de uma fábrica de alimentos (BUTOLO,

Fatores críticos: • Amperagem de trabalho;

2002). A dosagem, por se tratar de uma atividade

Temperatura de trabalho;

repetitiva e monótona, induz ao erro humano,

Formato do alimento e tamanho;

necessitando, portanto, ser automatizada sempre

Umidade de saída; expansão e densidade;

que possível. Caso contrário, deve-se investir em

Limpeza (SILVA, 1998).

treinamento dos operadores e em controles (SILVA, os

Secagem: O material deve ser seco por etapas, com

ingredientes que vão constituir o alimento sejam

maior taxa de secagem nas duas primeiras câmaras

corretamente pesados e que, depois de misturados,

do secador de acabamento e resfriamento nas

tornem-se um produto homogêneo. A uniformidade

últimas câmaras. Cuidados devem ser tomados para

da mistura é muito importante porque não é possível

que o material não sofra nem somente uma secagem

obtermos performances zootécnicas máximas se o

superficial, nem tão pouco tostagem, que por certo

alimento foi mal misturado. Misturas pobres resultam

comprometerá a sua adaptabilidade (ALVES, 2003).

1998).

em

É

baixas

absolutamente

produções

essencial

zootécnicas,

que

isto

é,

a

performance do animal é afetada. É essencial que

Fatores críticos:

os misturadores sejam monitorados periodicamente

Controle do teor de umidade

para assegurar que estão produzindo um produto

Calibração do secador;

uniforme (BUTOLO, 2002).

Secagem uniforme;

Material frio na saída;

Fatores críticos:

Limpeza do equipamento;

Velocidade da esteira do secador (SILVA,

Mecanismos adequados nos silos de

dosagem: queda uniforme do produto;

1998).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8016-8025, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8020


Artigo 450 - Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖ (BPF) na produção de ração

Engorduramento:

A

adaptabilidade

e

a

intratabilidade do alimento dependem da prática de

evitar que essas embalagens sejam as últimas dos blocos na estocagem (BUTOLO, 2002).

engorduramento. Portanto, devem ser dispensados certos cuidados para que essas duas características

Recursos Humanos

desejáveis não sejam comprometidas com dosagens menores e que a adição de dosagens maiores de aditivos não transformem o produto em substrato para fungos e bactérias, aumentando o custo de

No atual estágio tecnológico, as máquinas e equipamentos,

quando

operados

por

pessoas

competentes as maquinas são utilizadas com racionalidade e dentro de um plano estratégico, são

produção (ALVES, 2003).

eficientes meios que permitem potencializar a Fatores críticos:

capacidade do negócio para gerar riquezas. Caso

Regulagem dos dosadores;

contrário, se esse equipamento for utilizado por

Quantidade de aditivos;

pessoas inaptas ou adquirido sem um planejamento

Limpeza dos equipamentos (SILVA, 1998).

estratégico, passará a ser um meio de potencializar a geração de prejuízos. O equipamento é o mesmo,

Resfriamento: A etapa de resfriamento ocorre após

a diferença está nas pessoas por trás dele. Os

o engorduramento e tem como objetivo reduzir a

funcionários

temperatura do produto até a temperatura ambiente,

responsáveis pelos resultados de uma empresa, no

evitando que ocorra condensação nas paredes dos

trabalho essas pessoas que se tornam capazes se

silos de produto acabado, quando este é estocado

comprometem em impulsionar o negócio em um

nos silos para o ensaque (ALVES, 2003).

grande desafio para o administrador. Afinal de contas,

o

seu

são,

em

próprio

grande

parte,

desempenho

estará

relacionado à competência de sua equipe na

Fator crítico: 

ainda

Temperatura

e

tempo

de

resfriamento

execução das atividades (SILVA et al., 2008).

(SILVA, 1998). Dessa forma, o programa de BPF ainda consiste no Ensaque: O acondicionamento do produto acabado

treinamento da mão de obra por um líder, o qual

em sacarias facilita as operações de transporte e

estimula um bom trabalho em equipe, mudanças de

comercialização de pequenos volumes, bem como a

comportamento de todos os envolvidos e define

estocagem convencional de pequenas e grandes

funções de cada membro. O líder deve considerar o

quantidades (ALVES, 2003).

tempo necessário para atingir os objetivos, quais as metas

Fatores críticos: 

Rotulagem das balanças de ensaque; Qualidade da sacaria;

Fechamento da sacaria;

Desperdícios de produto;

de

participantes,

transformar

complexa

simples

em

entendimento

instrução

dos

de

todos.

uma

para Os

fácil

metodologia assimilação

colaboradores

do

processo devem ser treinados a fim de reduzir os riscos com acidentes de trabalho, ter agilidade nas ações, organizar procedimentos de forma a manter um

Permeabilidade ao vapor de água (SILVA, 1998).

nível de sanidade

ambiente

(MANUAL

satisfatório no

BRASILEIRO

próprio

DE

BOAS

PRÁTICAS DE AGROPECUÁRIAS).

Transporte: Cuidados especiais devem ser tomados quando o transporte é feito a longa distância, protegidos

por

caminhões

abertos,

lonas,

se

para

transportados evitar

absorção

em de

umidade em casos de intempéries e os sacos dos produtos que ficam na superfície devem ser os primeiros a ser utilizados, descarga monitorada, para 8021

grau

funcionários, desenvolver o comprometimento dos

esperadas,

É

necessário,

portanto,

dar

ênfase

ao

desenvolvimento e treinamento das pessoas para capacitá-las a aplicar as regras das BPFs, com o objetivo de obter processos claros, livres de defeitos, desvios e contaminações de todo e qualquer tipo, que resultem no final sem prejudicar os produtos e os serviços seguros.

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Artigo 450 - Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖ (BPF) na produção de ração

O líder e os funcionários participam ativamente dos

O treinamento dos colaboradores deve ser feito de

processos envolvidos na produção de ração com

duas formas: expositiva e prática, aumentando a

qualidade. Adotam critérios rígidos no recebimento

motivação e a capacidade de resolução e prevenção

das matérias-primas, garantem da potabilidade da

dos problemas diários da empresa por meio de

água que deve ser adequada para o consumo

reflexões sobre situações já vivenciadas.

(ANVISA, 2007), fazer a limpeza e manutenção de equipamentos, silos e cochos, possibilitando, assim,

A questão vital é formar e manter uma boa EQUIPE

a ingestão de uma ração balanceada sem provocar

DE TRABALHO. Além disto, ter manuais orientativos

riscos

maquinário

que definam: que, onde, quando, como, quem

vistoriando quanto á conservação e desgaste das

(manuais de procedimentos, manual de padrões,

peças (OLIVEIRA, 2011).

manual de limpeza, organização e desinfecção e

à

saúde

dos

animais,

em

manual para segurança no trabalho). Usar outras O armazenamento e monitoramento dos resultados

ferramentas

pela equipe requer existência de reuniões e

diagnóstico dos riscos e controle de pontos críticos

auditorias periódicas para avaliar o cumprimento das

de processo (KLEIN, 1999).

funções,

existir

clareza

na

divisão

gerenciais

como,

por

exemplo,

de

responsabilidades, limites de ações e atribuições,

Aspectos Positivos e negativos advindos das

mensurar

BPFs

índices

identificação

de

técnicos

e

falhas

econômicos,

operacionais

ou

administrativas, evitar improvisações no manejo.

exigências das BPFs em um período de médio em

A implantação das BPFs pode apresentar alguns entraves como instrução e treinamento da força de trabalho

insuficiente,

número

reduzido

de

funcionários, frente ao elevado volume de serviços, dificuldade no controle da documentação assim como

elaboração

de

rotinas,

aquisição

A expectativa verificada das empresas atenderem as

de

longo prazo denota dificuldades inerentes a um processo que na maioria das vezes implica em mudanças da cultura organizacional, bem como restrições de ordem financeira ou técnica que a empresa deverá superar. Dessa forma, Calarge et al. (2007) fizeram um

equipamentos laboratoriais ou equipamentos muito

estudo

antigos

empresa

pesquisadas quais as principais dificuldades que as

inadequadas e mão de obra brasileira relativamente

mesmas tinham enfrentado ou estavam enfrentando

barata em relação aos países desenvolvidos.

em relação à implementação das BPFs, e os pontos

ou

instalações

físicas

da

o

qual

verificou

junto

às

empresas

positivos, considerando três abordagens principais: O líder deve considerar o tempo necessário para atingir os objetivos, quais as metas esperadas, grau de instrução

dos

funcionários,

desenvolver

o

comprometimento dos participantes, transformar uma metodologia

complexa

em

simples

para

fácil

assimilação e entendimento de todos. De acordo com Silva

&

Correia

(2009),

o

treinamento

envolve

atividades com o objetivo de instruir, treinar e capacitar os profissionais que trabalham no preparo de alimentos (manipulação

e

processamento),

por

meio

de

organizacional, tecnológica e financeira. Em

relação

abordagem

às

dificuldades,

organizacional,

considerando

verificou-se

que

a os

aspectos relacionados ao desconhecimento da força de trabalho sobre o sistema BPF (83%) e o pequeno número

de

funcionários

dedicados

ao

desenvolvimento dos trabalhos (67%), foram os mais citados pelas empresas pesquisadas. Tais aspectos

mecanismos que possibilitem a transmissão dos

são característicos na implantação de sistemas de

conceitos

técnicas

qualidade que podem estar sujeitos à certificação ou

operacionais e de informações sobre o controle

auditorias, pois a força do trabalho da empresa deve

higiênico-sanitário, para a devida conscientização

ter um conhecimento das normas, procedimentos e

profissional e sua mudança comportamental. É

instruções de trabalho definidas, implicando em

importante ressaltar que esses treinamentos devem

significativos

ser revisados, reforçados e atualizados, sempre que

treinamento.

for necessário.

relacionados ao entendimento da norma, elaboração

importantes

sobre

as

esforços Em

de

conscientização

contrapartida,

e

aspectos

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8016-8025, nov,/ dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8022


Artigo 450 - Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖ (BPF) na produção de ração

da

documentação

insuficientes,

e

requerida,

baixo

treinamentos

envolvimento

da

implantação das BPFs, caracterizou-se pela conver-

alta

gência de opinião das empresas respondentes,

administração foram citados por apenas 24% das

considerando o estágio em que as mesmas se

empresas como fatores negativos na implementação

encontravam na sua implementação. Verificou-se

das BPFs.

que a totalidade das empresas indicou que houve melhoria no ambiente organizacional, envolvendo

No tocante à abordagem tecnológica, o principal

fatores relacionados à organização, ao treinamento,

aspecto negativo citado pelas empresas foi a obso-

à motivação e ao envolvimento da força de trabalho

lescência dos equipamentos (45%). Uma possível

nas empresas. Outros benefícios citados por 92%

causa deste aspecto verificado junto a alguns

das empresas foram: aumento da qualidade dos

respondentes

produtos,

da

pesquisa,

é

que

parte

das

redução

dos

custos

operacionais

e

empresas do ramo veterinário apresenta um parque

melhoria da imagem da empresa. Estes benefícios

fabril antiquado para o pleno atendimento das novas

citados refletem um reconhecimento de aspectos

exigências legais, principalmente no que tange ao

importantes relacionados a produtos, processos e

controle da qualidade e à validação de seus

negócios das empresas, constituindo um aumento na

processos produtivos. Este fator é reforçado pelo

gestão

segundo grupo citado com maiores dificuldades na

organizações. Os demais benefícios citados foram:

implantação das BPFs e que figuram com 33% das

diminuição de perdas e retrabalhos (84%) e redução

respostas:

de reclamações dos produtos (75%), os quais

instalações

inadequadas, processos,

físicas

dificuldades e

da

na

dificuldades

na

empresa

de

qualidade

e

competitividade

nas

validação

de

contemplam uma abordagem das empresas voltada

aquisição

de

ao cliente.

equipamentos laboratoriais. Outro aspecto também verificado, por se tratar de Considerando a abordagem financeira, importante

um mecanismo de melhoria contínua e, também por

fator na tomada de decisões de investimento pelas

ser uma exigência das BPFs diz respeito à prática de

empresas do segmento, verifica-se o aspecto mais

auditorias internas de avaliação do sistema da

citado pelas empresas, ou seja, a priorização de

qualidade, constatando-se que todas as empresas

investimentos em setores não ligados às BPFs

pesquisadas têm esta prática implementada, sendo

(50%). Este fato indica que talvez o problema não

conduzida com frequências distintas, a saber: 3

seja de ordem financeira, mas sim da ausência de

meses (50% das empresas), 6 meses (10% das

um melhor planejamento estratégico das empresas,

empresas), 12 meses (30% das empresas), outro

pois

de

período (10% das empresas). A grande maioria

descontentamento e falta de percepção por parte

destas empresas (92%) adota para a condução

dos respondentes de que os recursos destinados à

destas auditorias internas a constituição de equipes

implantação das BPFs são adequados para a

de

condução das tarefas planejadas. Em segundo lugar,

administração, sendo que apenas 8% das empresas

na escala de aspectos financeiros citados como de

contratam auditores externos para a condução das

maior dificuldade, situam-se os citados com mesmo

auditorias.

este

porcentual

demonstra

um

grau

auditores

internos

designados

pela

alta

percentual de 25%; alto custo de equipamentos, alto custo de consultorias e alto custo de implantação.

Um último tópico abordado pela pesquisa buscou

Tais aspectos são inerentes aos processos de

avaliar se as empresas tinham outras ferramentas e

implantação

qualidade,

de gestão da qualidade ou melhoria de produtividade

principalmente quando tais sistemas são passíveis

implementada, pois este aspecto denotaria um

de

a

background destas empresas em programas de

necessidade de um apoio de consultoria durante as

melhoria da qualidade e produtividade, bem como a

fases de implantação e certificação.

adequação e compatibilização das BPFs com estes

auditorias

de

sistemas

externas,

o

de que

demanda

programas. Foi verificado que 42% das empresas De acordo com os autores, a parte da pesquisa que

possuem outras ferramentas e/ou técnicas de

expõe os principais benefícios ocorridos devido à

melhoria da qualidade e produtividade, o que denota

8023

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8016-8025, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 450- Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖ (BPF) na produção de ração

que a maioria das empresas pesquisadas está

ALVES,

Nelson

Aparecido.

Utilização

da

conduzindo as BPFs como sistema principal de

ferramenta “Boas Práticas de Fabricação

gestão da qualidade e produtividade. Das empresas

(BPF)” na produção de alimentos para cães e

que responderam possuir outras ferramentas e/ou

gatos. 2003. 107f. Dissertação (Mestrado em

técnicas de gestão da qualidade e produtividade,

Engenharia Agrícola). Universidade Estadual de

foram mais citadas: just in time (técnica praticada

Campinas, Campinas, 2003.

por 60% destas empresas); Controle Estatístico de

ANVISA. [2007]. Legislação de Boas Práticas de

Processo – CEP (sistema praticado por 40% destas

Fabricação.

empresas); total productive maintenance - TPM

<http://www.anvisa.gov.br/alimentos/bpf.htm>.

(praticado por 40% destas empresas); Programa 5S

Acessado em: 24 de jul. 2014.

(praticado por 40% destas empresas); Sistema ISO

ANVISA.

Disponível

[2002].

Finalidade

em:

institucional.

9000:2000 (praticado por 20% destas empresas);

Disponível

Ciclo PDCA (praticado por 20% destas empresas);

<http://www.anvisa.gov.br/institucional/anvisa/apr

outras ferramentas e/ou técnicas (praticadas por

esentacao.htm>. Acesso em: 24 jul. 2014.

em:

20% destas empresas). Uma análise preliminar que

BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional de

se pode fazer destes dados, considerando-se o

Vigilância Sanitária. Portaria nº 216, de 15 de

número total de empresas pesquisadas, é que ainda

setembro de 2004. Regulamento técnico de boas

é incipiente a prática de ferramentas consideradas

práticas para serviços de alimentação. Brasília,

como básicas de melhorias da qualidade, tais como

Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 set.

PDCA, 5S e CEP. Outro aspecto verificado é que as

2004.

empresas que adotam outros sistemas assim o

______. Ministério da Saúde. Agência Nacional de

fazem primordialmente para diminuir seus estoques,

Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 275, de

melhorar seu desempenho produtivo e de entregas

21 de outubro de 2002. Regulamento técnico de

ao cliente (sistema JIT), do que em busca de

procedimentos

certificação

estabelecimentos produtores/industrializados de

de

sistemas

da

qualidade

(ISO

9000:2000).

operacionais

aplicados

aos

alimentos e a lista de verificação das boas práticas de fabricação em estabelecimentos

CONSIDERAÇÕES FINAIS

produtores/industrializados de alimentos. Brasília,

A implantação das BPFs e sua aplicação em

Diário Oficial da União, Brasília, DF, 6 nov.

fábricas de ração é de suma importância na

2002.

produção atual de alimentos, pois resulta em impacto

no

plano

de

negócio

que

repercute

diretamente na alimentação, saúde e reprodução do rebanho. Além disso, está ligado à lida dos

BUTOLO,

José

Eduardo.

Qualidade

de

ingredientes na alimentação animal. Campinas: Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, 2002. CALARGE,

Felipe

Araújo;

SATOLO,

Eduardo

funcionários com o produto, melhora o controle de

Guilherme; SATOLO, Luiz Fernando. Aplicação

parâmetros do processo e qualidade do produto final

do sistema de gestão da qualidade BPF (boas

com redução de custos minimizando, cada vez mais,

práticas

os riscos de contaminação. Logo um programa de

produtos farmacêuticos e veterinários. Gestão

capacitação da chefia e funcionários, só será efetivo

& Produção, v.14, n.2, p.379-392, 2007.

de

fabricação)

na

indústria

de

se implantado permanente junto com informação e

CANTO, Alfredo Portela do. Porque e para que foi

conscientização de todos integrantes do processo,

criado o cGMP. Revista Banas Qualidade. São

os quais são responsáveis pela qualidade alimentar

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Revista Eletrônica

Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação: experiência brasileira – revisão de literatura Suínos, sistema, cama sobreposta, desempenho.

Vol. 14, Nº 06, Nov./Dez. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO A suinocultura brasileira vem passando, ao longo das últimas décadas, por inúmeras transformações, buscando atingir padrões de produção que atendam aos novos conceitos da sociedade. Temas como bemestar animal, qualidade nutricional e sanitária da carne e o impacto da atividade sobre o meio ambiente fazem parte das discussões que norteiam o setor. A atividade suinícola é uma das atividades agropecuárias de maior potencial poluente, devido ao grande volume de efluentes gerado, com elevada carga de nutrientes e matéria orgânica. O sistema de produção de suínos em cama sobreposta em substituição ao sistema de criação sobre piso de concreto ou ripado é uma alternativa desenvolvida com o intuito de minimizar o problema da poluição ambiental, podendo também melhorar as condições de vida e bem-estar dos animais, com reflexos positivos no produto final. O desempenho zootécnico e a composição de carcaça, apesar de não apresentar, na maioria dos casos diferenças estatísticas significativas nos dois sistemas, possivelmente possam ser afetados pelo calor incidente sobre os animais alojados em cama, visto que o calor pode alterar a partição da energia ingerida e provocar consequências distintas no desempenho e composição da carcaça, dependendo da época do ano e da fase do animal. Os aspectos sanitários são extremamente importantes no sistema de criação em cama, pois há uma maior dificuldade para realizar a desinfecção e os animais estão em contato direto com fezes e urina, o que pode facilitar a disseminação de doenças, sendo a linfadenite uma das principais. Palavras-chave: suínos, sistema, cama sobreposta, desempenho.

8026

Dejanir Pissinin MBA

em

Agronegócio /Graduação

em

Tecnologia

em

Agronegócio/Técnico em Agroindústria/Técnico em Agropecuária. E-mail: dejanirpissinin@gmail.com

USE OF BED SUPERIMPOSED ON CREATING PIGS GROWTH PHASES AND TERMINATION: BRAZILIAN EXPERIENCE- LITERATURE REVIEW ABSTRACT Brazilian pig farming through, over the last few decades,

numerous

changes,

seeking

to

reach

production standards that meet the new concepts of society. Topics such as animal welfare, nutritional and sanitary quality of the meat and the impact of the activity on the environment are part of the discussions that guide the sector. The pig is an activity of the agricultural activities of greatest potential pollutant due to the large volume of effluents generated with high load of nutrients and organic matter. The pig production system in overlapped bed replacing the creation system on concrete floor or ripped is an alternative developed in order to minimize the problem of environmental pollution, and may also improve the living conditions and welfare, with positive reflections on the final product.

The

growth

performance

and

carcass

composition, although not present, in most cases statistically significant differences in the two systems, possibly can be affected by the heat of the animals housed in bed, since the heat can change the partition of energy ingested and cause distinct consequences on performance and carcass composition, depending on the time of year and the stage of the animal. The health aspects are extremely important in the breeding system in bed because there is a greater difficulty to carry out disinfection and the animals are in direct contact with feces and urine, which can facilitate the spread of diseases, being the one of the main lymphadenitis.

Keyword:

pigs,

performance.

system,

bed

superimposed,


Artigo 451 – Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação: experiência brasileira-Revisão

INTRODUÇÃO

(VELOSO et al., 2012), aspectos sanitários (MORÉS,

Ao longo das últimas décadas, a suinocultura

2000; DALLA COSTA et al., 2008), tipo de material,

mundial

densidade e profundidade de cama (CORRÊA et al.,

vem

passando

transformações,

buscando

produção

atendam

que

incorporados

por

por

inúmeras

atingir os

sociedades

padrões

novos cada

de

2009; SCHWERTNER et al., 2010), conforto térmico

conceitos

(CORDEIRO et al., 2007; CORREIA et al., 2009),

vez

mais

bem-estar

animal

(CAMPIÑO-ESPINOSA;

preocupadas com algumas questões que se refletem

OCAMPO-DURÁN,

mundialmente. Temas como bem-estar animal,

carcaça (GUIMARÃES et al., 2011).

2010)

e

características

de

qualidade nutricional e sanitária da carne e impacto da atividade sobre o meio ambiente fazem parte da

Por outro lado, existem poucos estudos específicos

agenda de discussões que norteia os rumos da

abordando questões da nutrição de suínos criados

atividade.

em

cama

sobreposta

de

uma

forma

mais

aprofundada. É possível que isso ocorra por não se É crescente a preocupação em conceber e/ou alterar

acreditar que haja diferenças entre o SCC e aqueles

sistemas

com piso convencional, em especial nos processos

de

criação

visando

maior

equilíbrio

ambiental e bem-estar dos suínos. O sistema de

de

ingestão,

digestão,

criação em cama sobreposta (SCC) é uma das

metabólica de nutrientes.

absorção

e

partição

soluções da engenharia que se encaixa nesse contexto (OLIVEIRA, 1999). A ideia central do SCC

Os suínos são homeotermos e se esforçam para

consiste em substituir o piso convencional (concreto,

manter

plástico ou ferro) das instalações por um substrato

considerada

rico em carbono que, além de constituir o piso,

termoneutralidade. Animais alojados em ambientes

servirá como digestor dos dejetos suínos (CORRÊA

com

et al., 2000).

termoneutralidade utilizam diversos mecanismos

a

temperatura ótima,

temperaturas

dentro

de

denominada abaixo

uma

de

ou

faixa

zona acima

de da

com o objetivo de aumentar ou reduzir as perdas de Segundo alguns autores, o SCC teve sua origem em

calor corporal.

Hong Kong, na China (LO, 1992), embora o mesmo princípio seja aplicado na criação de frangos há

Há uma fonte adicional de calor que incide sobre

bastante tempo. No Brasil, a introdução desse

suínos alojados em cama sobreposta, que é o calor

sistema ocorreu em 1993 por pesquisadores do

gerado durante os processos fermentativos que

Centro Nacional de Pesquisa em Suínos e Aves, que

ocorrem

é vinculado à Embrapa (OLIVEIRA; HIGARASHI,

(OLIVEIRA, 1999; CORRÊA et al., 2009). A princípio,

2004).

suínos não necessitam de energia na forma de calor,

no

substrato

utilizado

como

cama

exceto para termorregulação. Assim, os suínos De uma maneira geral, percebe-se que o SCC

mantidos em cama sobreposta e em condições de

relação ao

temperaturas frias poderão utilizar esse calor ―extra‖

sistema convencional e pode ser recomendado para

para seu conforto, enquanto que em condições de

pequenos e médios produtores, em especial àqueles

verão o calor produzido pela fermentação poderá ser

que possuem pouca área útil para manejar os

prejudicial, caso não sejam planejados mecanismos

dejetos líquidos (OLIVEIRA et al., 2000). Além disso,

para dissipá-los.

apresenta algumas

vantagens

em

a carne de animais oriundos do SCC pode despertar interesse

comercial

em

nichos

de

mercado

Considerando

a

relevância

das

questões

mencionadas, este estudo objetivou elaborar uma

(CORDEIRO et al., 2007).

revisão de literatura sobre a utilização da cama No Brasil e em outros países do mundo, o SCC tem sido avaliado considerando diferentes aspectos como,

por

exemplo,

desempenho

zootécnico

(CORRÊA et al., 2000; CRUZ et al., 2000; ARANGO et al., 2012), eficiência energética do sistema 8027

sobreposta,

abordando

aspectos

sanitários,

ambientais e zootécnicos. ASPECTOS AMBIENTAIS A suinocultura é uma das atividades agropecuárias de maior potencial poluidor, devido à geração de

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8026-8035, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 451 - Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação:experiência brasileira-Revisão

grande volume de efluentes com elevado nível de

quisa, visto que os elevados custos das tecnologias

matéria orgânica e nutriente. Em decorrência disso,

desenvolvidas são, muitas vezes, difíceis de serem

nas últimas décadas, as questões ambientais têm

repassados para o setor produtivo, devido à limitada

despertado maior interesse e têm sido assunto

capacidade de investimento do produtor (KUNZ et

sempre presente em discussões, quando se trata da

al., 2004a). Baseado nisso, a utilização da cama

suinocultura. Aliado a isso, a maior conscientização

sobreposta é uma alternativa viável capaz de reduzir

da população em relação aos efeitos nocivos da

os problemas ambientais, com baixo custo, além de

poluição ambiental, as maiores exigências dos

que os resíduos desse sistema apresentam uma

órgãos fiscalizadores e o elevado consumo de água

concentração muito maior de nutrientes quando

tem pressionado a cadeia produtiva a buscar

comparados ao sistema de produção sobre piso, e

alternativas para diminuir o impacto ambiental da

uma relação carbono/nitrogênio (C/N) entre 14 e 18,

atividade. Dentre as alternativas existentes para o

viabilizando

manejo e tratamento de dejetos, podem

facilitando sua aplicação na lavoura (OLIVEIRA et

ser

mencionadas esterqueiras, compostagem, sistema

sua

utilização

como

fertilizante

e

al., 2000).

de cama, tratamento parcial e fertirrigação e, tratamento integral (HIGARASHI et al., 2005). A

DESEMPENHO ZOOTÉCNICO E COMPOSIÇÃO

opção por este ou por aquele método depende de

DE CARCAÇA

cada situação.

O desempenho zootécnico de suínos pode, de maneira geral, ser avaliado de diversas formas,

O sistema de cama sobreposta pode ser uma

como, por exemplo, pelo consumo de ração, índice

alternativa

tecnológica

os

riscos

de ganho de peso e conversão alimentar (CORRÊA,

ambiental

pelos

2003). Esse desempenho dos animais, porém, pode

dejetos. Esse sistema, também conhecido como

sofrer interferência de vários fatores, dentre eles o

―deep bedding‖, consiste na criação de animais

manejo, as instalações e, principalmente, o clima.

relacionados

à

para

reduzir

contaminação

sobre um leito profundo (LO, 1992), composto de um substrato (casca de arroz ou palha, maravalha,

Alguns pesquisadores têm se preocupado em avaliar

sabugo de milho triturado, etc.) que absorve os

o SCC em diferentes estações do ano (CORRÊA et

dejetos, eliminando a geração de efluentes líquidos,

al., 1998; CORRÊA et al., 2009). O estudo de Corrêa

diminuindo sensivelmente o escorrimento e a

(2007) é particularmente interessante nesse sentido

lixiviação.

porque o autor comparou o desempenho de lotes criados em cama sobreposta e piso de concreto no

O sistema de cama sobreposta tem como princípio a

inverno, primavera, verão e outono-inverno. Embora

estabilização dos dejetos por meio da compostagem,

não tenha detectado diferenças estatísticas na

ou seja, o substrato absorve os dejetos e inicia-se o

conversão alimentar entre os dois sistemas de

processo de fermentação aeróbica, promovido pela

criação em nenhuma estação do ano estudada, é

própria movimentação dos suínos. A elevação da

interessante verificar que a conversão alimentar

temperatura ocasionada pela fermentação, aliada ao

média dos animais mantidos em cama foi melhor no

manejo adequado das camas, pode minimizar

inverno e pior no verão, quando comparado aos

odores e diminuir a proliferação de moscas e outros

suínos alojados em piso de concreto, como pode ser

vetores (HIGARASHI et al., 2005). Outro aspecto

observado na Tabela 1.

positivo

refere-se

aos

baixos

custos

de

implementação e operacionalização do sistema, o

Uma tendência semelhante pode ser extraída do

que

estruturas

estudo realizado por Cordeiro et al. (2007), no qual

complementares de tratamento, tendo em vista que

foi verificado que, com os aumentos do peso dos

a estabilização se inicia na própria cama (OLIVEIRA

suínos (75 – 105 kg) e da temperatura ambiental

et al., 2002; AMARAL et al., 2002).

(agosto-novembro),

reduz

a

necessidade

de

a

conversão

alimentar

dos

suínos alojados em SCC foi pior em relação aos Os problemas ambientais relacionados a dejetos de

animais mantidos em piso de concreto. Os valores

suínos representam um enorme desafio para a pes-

médios de conversão alimentar mencionados por

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8026-8035, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8028


Artigo 451 - Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação:experiência brasileira-Revisão

Cordeiro et al. (2007) podem ser verificados na

Por outro lado, suínos expostos a temperaturas

Tabela 2.

quentes

aumentam

as

perdas

evaporativas

e

reduzem a produção de calor, visando manter a TABELA 1 – Parâmetros de desempenho de suínos

temperatura dentro dos limites estreitos. Como o

nas fases de crescimento e terminação por período

mecanismo de sudorese é pouco desenvolvido em

do ano

suínos, a principal maneira de reduzir a produção de calor é pela diminuição de consumo.

Período*

Alimento

Ganho de

Conversão

consumido (kg)

peso (kg)

alimentar

b

1

171,0 ± 1,8

2

b

166,4 ± 1,8

3

b

165,0 ± 1,8

4

a

178,6 ± 1,8

69,0 ± 0,9

energia e o ganho de proteína em suínos. Ocorre

b

aumento linear da deposição proteica com o

b

incremento da ingestão de energia até o ponto em

b

que a capacidade máxima de deposição de gordura

2,5 ± 0,1

69,8 ± 0,9

2,4 ± 0,1

68,6 ± 0,9

2,4 ± 0,1

67,2 ± 0,9

Existe uma relação estreita entre o consumo de

b

2,7 ± 0,1

é alcançada. Acredita-se que suínos em crescimento *1: 06-09/2003; 2: 10-12/2003; 3: 02-04/2004; 4: 05-07/2004

( 60 kg PV) não conseguem ingerir energia

Médias escritas com letras minúsculas diferentes sobrescritas diferem significativamente pelo teste de Tukey (P<0,05).

suficiente para atingir seu potencial máximo de deposição

Fonte: Adaptado de Corrêa et al. (2007).

de

WHITTEMORE,

proteína

2005).

Assim

(KYRIAZAKIS; sendo,

qualquer

Tabela 2 - Valores médios de conversão alimentar

restrição energética durante a fase de crescimento

(CA) em kg/kg, de suínos criados no SCC e sistema

irá limitar o ganho proteico e, em decorrência, o

convencional nas diferentes fases

desempenho animal. Além disso, se os demais nutrientes, como aminoácidos e minerais, forem

Cama Sobreposta

Piso de

ajustados com base na expectativa de ganho que

concreto

não se confirme, então ter-se-á maior excreção de

Fases (dias de

Cama de

Cama casca

vida)

maravalha

de arroz

64 a 98 (25-50

2,38a

2,37ª

2,34a

2,71a

2,73ª

2,73a

3,46a

3,41ª

3,00b

nutrientes com prejuízos econômicos e ambientais. Ao contrário, a capacidade de consumo dos animais

kg) 99 a 126 (50-

em

75 kg) 127 a 162 (75-

terminação

normalmente

é

superior

ao

necessário para a máxima retenção proteica e ajustes devem ser feitos na dieta para manter a ingestão mínima de aminoácidos.

105 kg) 163 a 186

3,71b

3,71b

4,28a

3,00

2,97

2,96

É evidente que a partição da energia terá um forte

(105-120 kg) Média

impacto na composição de carcaça. Dalla Costa et

As médias seguidas de pelo menos uma mesma letra na linha

al. (2008) constataram que suínos, nas fases de

não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste Tukey. Fonte: Adaptado de Cordeiro et al. (2007).

crescimento e terminação, criados em cama durante os meses de verão, apresentam carcaças mais leves

A conversão alimentar pode ser utilizada como

e com menor espessura de toucinho se comparados

indicador da partição de energia ingerida (WENK et

aos animais criados em piso de concreto. Esses

al., 1980) pelos suínos, pois a eficiência de utilização

autores citam algumas possíveis causas para

da energia depende do seu destino (manutenção ou

explicar seus resultados e, entre elas, está o calor

produção) e da composição do ganho (proteína,

gerado

gordura,

incidência de calor nos animais da cama pode ter

etc.).

Assim,

os

estudos

acima

pela

fermentação

da

cama.

A

maior

da

provocado redução no consumo de energia com

conversão alimentar possivelmente estão refletindo

consequências no desempenho e retenção de

alterações de energia ingerida pelos animais.

gordura. Em outro estudo avaliando a qualidade de

mencionados

que

demonstraram

alteração

carcaça de suínos criados em cama entre os meses As condições climáticas têm efeito acentuado na partição do calor e, em decorrência, no destino da energia para atender as exigências de manutenção. 8029

de outono e inverno (abril a julho), foi constatada maior espessura de toucinho e menor porcentagem de carne magra na carcaça, em relação aos suínos

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8026-8035, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 451 - Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação: experiência brasileira-Revisão

alojados em baias com piso de concreto (BRIDI et

L/animal/dia e também obtidos por Corrêa (1998)

al., 2003). Nesse caso, é possível que uma maior

em suínos da mesma idade.

parcela de energia ingerida tenha sido direcionada para deposição, uma vez que o calor da cama gera

SANIDADE

economia na energia gasta com regulação térmica.

Na criação de suínos no SCC, a sanidade merece atenção

especial,

devido

principalmente

à

Os resultados discutidos anteriormente oferecem

dificuldade que o sistema apresenta para a

suporte para a hipótese de que o calor incidente

desinfecção das instalações, reduzindo também a

sobre os animais alojados em cama altera a partição

eficiência do vazio sanitário. Essa redução de

da energia ingerida e

provoca consequências

eficiência é ocasionada pela manutenção dos

distintas no desempenho e composição da carcaça,

dejetos dentro da instalação por mais de um lote

dependendo da época do ano e da fase do animal.

(TURNER et al., 2000; FERREIRA et al., 2004).

CONSUMO DE ÁGUA

Em razão das questões sanitárias, muitos países

No que se refere às necessidades de água, Dalla

recomendam a substituição completa das camas

Costa et al. (2006) afirmam que, no SCC, o consumo

após cada lote. Entretanto, essa prática pode

de água em períodos quentes (verão) pode ser

inviabilizar economicamente a utilização do SCC,

aproximadamente 15% superior quando comparado

pois a dificuldade de aquisição do substrato, o

ao sistema convencional. No entanto, Cordeiro et al.

custo e a baixa qualidade agronômica das camas

(2007) constataram que, em temperaturas amenas

resultantes da passagem de um único lote

(primavera), o consumo de água não apresentou

constituem entraves (HIGARASHI et al., 2005).

diferença significativa entre os sistemas de criação nas três primeiras fases, conforme é verificado na

Suínos alojados sobre o SCC apresentam menor

Tabela 3. O mesmo autor constatou também que o

incidência, tanto em lesões nas almofadas

sistema

plantares,

de

criação

em

cama

de

maravalha

como

de

canibalismo,

quando

apresentou os maiores valores médio de consumo

comparados com animais mantidos em sistemas

de água, seguidos pelo sistema de piso de concreto

convencionais, com piso de concreto ou ripado

e do sistema em cama de casca de arroz.

(HUYSMAN et al., 1992; McGLONE, 1999).

TABELA 3 - Consumo de água nos sistemas de

As questões sanitárias são complexas e exigem

criação em cama sobreposta de maravalha ou de

pesquisas mais aprofundadas, pois há um contato

casca de arroz e em piso de concreto

prolongado dos animais com os dejetos do próprio lote e dos precedentes, podendo facilitar a

Fase de crescimento

Sistema de criação

(idade)

disseminação de doenças, destacando-se a linfadenite

Cama sobreposta

Piso de concreto

Maravalha Casca

granulomatosa,

causada

por

micobactérias do complexo Micobacterium avium (HIGARASHI et al., 2005).

de arroz

A

L/animal/dia

linfadenite

é

uma

doença

causada

por

64 a 98 dias

6,0a 5,5a

5,9a

micobactérias atípicas, de evolução crônica, que

99 a 126 dias

8,7a 6,8a

7,2a

não afeta o desenvolvimento dos suínos, mas

127 a 162 dias

9,5a 7,1a

8,1a

provoca

8,0ab

calcificação, envolvendo predominantemente os

7,2

linfonodos da cabeça e intestino. Essas lesões,

163 a 186 dias Média

8,7a 6,1a 8,2

6,4a

lesões

de

necrose

caseosa

com

Médias seguidas de letras diferentes na linha, para cada fase, não

normalmente, são detectadas pelo Serviço de

diferem (P<0,05) pelo teste Tukey. Fonte: Cordeiro et al. (2007).

Inspeção por ocasião do abate e podem ser motivo de condenação ou destino condicionado

Os valores observados são semelhantes aos citados

das carcaças, gerando prejuízos tanto para o

por Bodman (1994), de aproximadamente 7,0

produtor como para a indústria (MORÉS, 1997).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8026-8035, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8030


Artigo 451 - Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação:experiência brasileira-Revisão

Após a contaminação dos suínos, que ocorre por via

infectados, na maternidade ou creche e a

oral, as micobactérias invadem os linfonodos do trato

presença de aves domésticas ou selvagens pode

digestivo, onde se multiplicam e desenvolvem as

dar início a infecção dos suínos. Os suínos

lesões. Uma vez infectados, os suínos eliminam as

infectados podem eliminar as micobactérias nas

micobactérias pelas fezes, com maior intensidade

fezes e o sistema de cama sobreposta facilita o

entre 35 a 42 dias após a infecção, contaminando o

contato dos animais com os dejetos e a

ambiente e servindo de fonte de infecção a outros

disseminação da doença.

animais. As micobactérias são resistentes a diversos desinfetantes, podendo sobreviver por vários meses

Segundo Amaral et al. (2002), o sistema de cama

nas instalações e por anos no solo. Entretanto, são

sobreposta

destruídas pelo calor a 65,6°C por 10 minutos. Os

linfadenite granulomatosa nos suínos. Quanto aos

desinfetantes com maior ação sobre essas bactérias

substratos, nos suínos criados em cama de

são aqueles à base de hipoclorito de sódio, aldeídos

maravalha, a ocorrência de linfadenite é maior

e fenóis (MORÉS, 1997).

quando comparada com os criados em casca de

favorece

o

desenvolvimento

da

arroz. Os suínos criados em cama sobreposta Essa enfermidade tem apresentado uma incidência

apresentam maior porcentagem de fibra bruta nas

maior nos suínos no SCC em relação a suínos

fezes, indicando ingestão do substrato, o que

criados no sistema de piso de concreto (MIRANDA et

pode explicar a maior ocorrência de linfadenite.

al., 1997). O principal fator atribuído para a maior

Em estudo conduzido por Amaral et al. (2002), foi

incidência de lesões nos suínos criados sobre cama

verificado que a manifestação de rinite atrófica,

é a alta exposição dos suínos às fezes e urina

úlcera gástrica e pneumonia não apresenta

(TANG et al., 2004), embora a infecção possa

diferenças significativas quando comparados o

ocorrer antes da entrada dos animais no sistema ou

sistema convencional e o SCC, de forma a não

quando a cama não

comprometer a utilização do sistema.

sofre tratamento prévio

(MORÉS, 1997). Do ponto de vista sanitário, são poucas as De acordo com Corrêa (1998), a ocorrência de

informações disponíveis, principalmente no Brasil,

linfadenite é maior em suínos criados no SCC e com

mas ao que parece o grande limitante para a

maior frequência no primeiro lote. Isso pode ser um

expansão do SCC é a ocorrência da linfadenite.

indicativo de que os leitões, quando alojados, já

Com base nisso, o principal cuidado que o

estavam contaminados, visto que no terceiro lote

produtor deve ter é que o rebanho de origem dos

alojado sobre a mesma cama os animais não foram

leitões seja livre da infecção por Mycobacterium

afetados.

avium-intracellulare e que o substrato a ser usado

As micobactérias são frequentemente encontradas

seja

em amostras de cama sobreposta, onde podem

finalidade e que não tenha ficado exposto ao

sobreviver por longos períodos e se multiplicar sob

tempo (AMARAL et al., 2002).

seco

em

secador

comercial

para

tal

condições adequadas de umidade e temperatura, o que pode explicar a ocorrência sazonal da doença

CAMA: TIPOS, PROFUNDIDADE E TEMPO DE

em alguns rebanhos (SONGER et al., 1980;

PERMANÊNCIA

CHARETTE et al., 1989).

Em produção animal, denomina-se cama, o material distribuído em uma edificação zootécnica

Morés et al. (2000), em estudo epidemiológico,

que exercerá basicamente duas funções: a

constataram que o uso de maravalha como cama

primeira, atuando como pavimento e a segunda,

para os suínos não foi um fator de risco para

armazenando

e

ocorrência de linfadenite em suínos abatidos. Com

provenientes

do

base nisso, a cama pode não ser a fonte primária de

(CORRÊA et al., 2000; FERREIRA et al., 2004).

estabilizando processo

as

excreções

de

produção.

micobactérias, mas ela pode permitir o acúmulo e mesmo a multiplicação de micobactérias de outras

Há uma diversidade de materiais que podem ser

fontes. A exposição dos animais a substratos

utilizados. Porém Gentry et al. (2004) citam alguns substratos que podem ser empregados no

8031

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8026-8035, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 451 - Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação:experiência brasileira-Revisão

SCC, como: maravalha, com partículas de tamanho

sivamente

aproximado de 3 cm; serragem, de diâmetro médio

demasiadamente afetados pelo estresse térmico.

e

os

suínos

não

sejam

aproximado de 2 milímetros; palha, constituída de restos culturais de gramíneas obtidas de culturas

Os tempos de utilização da cama citados na

como arroz, trigo, cevada, aveia, centeio e azevém;

literatura são bastante distintos, variando de 3 até

sabugo de milho triturado, após a retirada dos grãos,

8 meses (SHILTON apud TUMELERO, 1998), 9

o sabugo é triturado, formado por partículas de

meses (CORRÊA, 1998), 1 ano (PERDOMO et

diâmetro aproximado de 1 cm; casca de arroz, obtida

al., 1997) até 1,5 anos (ROPPA, 2003) e

após o beneficiamento do grão na indústria, com

dependem de vários fatores, entre eles, as

partículas de tamanho aproximado de 1 cm. Além

condições climáticas de cada local, o tipo de

destes materiais, outros vêm sendo utilizados, como,

manejo adotado, a alimentação, a profundidade

por exemplo, a palha de soja, casca de café e

do leito (HUYSMAN et al.,1992), o tipo de

bagaço de cana triturado (ROPPA, 2003), entre

substrato, a idade dos animais e a densidade de

outros subprodutos. Apesar de a serragem ser uma

alojamento ( HIGARASHI, 2006). Em estudo

alternativa como substrato para formação da cama,

realizado no Brasil com rigorosas medidas de

Matlova et al. (2004) salientam que estudos indicam

controle sanitário, obtiveram-se bons resultados

que a utilização da mesma deve ser evitada, pois

mesmo com a realização da troca anual das

favorece o desenvolvimento da linfadenite.

camas (OLIVEIRA et al., 2002; HIGARASHI et al., 2005). O tempo de permanência do material nas

O material para ser utilizado como cama deve

instalações está diretamente relacionado com o

apresentar,

características

valor do composto, pois quanto maior o período

básicas, conforme mencionado por Barrington et al.

de permanência maior será a quantidade de

(2002): ser rico em carbono; boa capacidade

dejetos

higroscópica; ter partículas de tamanho médio

consequentemente,

(material picado ou triturado); ser tratado para não

fertilizante (Oliveira, 2001).

portanto,

algumas

depositada

sobre melhor

a é

cama, o

seu

e, valor

servir de veículo de patógenos; baixa condutividade térmica;

facilidade

de

liberação

da

umidade

CONSIDERAÇÕES FINAIS

absorvida; menor custo para aquisição; e boa

O SCC é uma alternativa de substituição do piso

disponibilidade.

convencional,

pois

minimiza

os

problemas

ambientais e propicia melhores condições de vida A profundidade da cama varia, normalmente de 0,2 a

e bem-estar aos animais. No entanto, é uma

1,00m, dependendo do tempo que se deseja utilizar

tecnologia que demanda muitos estudos visando

e de fatores econômicos (TUMELERO, 1998). A

avaliar as especificidades de cada tipo de cama,

altura da cama parece não influenciar o desempenho

o manejo, o clima, as instalações e os aspectos

dos animais, como pode ser verificado no estudo de

sanitários. A adoção de procedimentos padrões e

Corrêa et al. (2009), no qual foi constatado não

análises visando o alojamento de animais sadios

haver diferenças significativas no desempenho dos

no SCC e o uso de práticas que garantam um

suínos criados em diferentes alturas de cama de

substrato livre de contaminações indesejáveis são

casca de arroz (50 e 25 cm) e piso convencional.

pontos que merecem maior atenção e estudos.

Apesar da profundidade da cama não influenciar

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desenvolvimento do processo de compostagem, o

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Secagem e uso de cabergolina em vacas leiteiras Secagem, cabergolina, glândula mamária. Revista Eletrônica

Anna Luiza Belli de Souza Alves Costa Vol. 14, Nº 06, Nov./Dez. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO

Sandra Gesteira Coelho

1

2

1

Doutoranda em Zootecnia, Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) E-mail:annabelliac@gmail.com 2 Professora Titular, Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O melhoramento genético e melhores práticas de

DRYING AND USE OF CABERGOLINE IN DAIRY COWS

manejo dentro de fazendas leiteiras determinaram

ABSTRACT

aumento na produção de leite dos bovinos. Com

The genetic improvement and better management

esse aumento da produção de leite passou-se a dar

practices in dairy farms determined an increase in

mais relevância ao procedimento de secagem e aos

bovine production. Due to that increase in milk

impactos que esse evento pode ter sobre a glândula

production more relevance stared to be given to the

mamária e sobre a saúde do animal. A secagem

dry-off process and to the impacts this event could

consiste na interrupção da rotina de ordenhas com o

have on the mammary gland and on the animal

intuito de cessar a produção de leite. Durante os

health. The dry off consist in the interruption of

primeiros dias e de acordo com a produção do

milking

animal, pode observar comportamentos indicativos

production. During the first days and according to the

de desconforto e dor, como aumento do tempo de

animal production, discomfort and pain behaviors

permanência em pé e mais vocalização nos horários

can be observed, such as increased standing time

em que a ordenha era realizada. O acúmulo de leite

and more vocalization close to previous milking time.

na glândula mamária determina o início do processo

The accumulation of milk in the mammary gland

de involução ativa, que dura cerca de 21 dias.

determines the beginning of an active involution,

Posteriormente ocorre o processo de involução

which lasts for approximately 21 days. After that a

constante,

static

seguido

pela

lactogênese

e

pela

routine

involution

aiming

will

the

take

cessation

place,

of

milk

followed

by

colostrogênese, necessários ao início da próxima

lactogenesis and colostrogenesis, both important for

lactação. A cabergolina tem sido estudada como

the beginning of a new lactation. Cabergoline have

uma ferramenta a ser utilizada dentro das fazendas

been studied as a tool for to be used by dairy farms

para

menos

to make the dry-off less harmful to high yielding

prejudicial aos animais de maior produção. A droga é

animals. The drug is a dopaminergic receptor

um agonista de receptores dopaminérgicos, com

agonist, with direct inhibitory effects on prolactin

efeito inibitório direto sobre a produção de prolactina.

production.

Palavras-chave: secagem, cabergolina, glândula

Keyword: dry-off, cabergoline, mammary gland.

tornar

o

processo

de

secagem

mamária. 8036


Artigo 452 – Secagem e uso de cabergolina em vacas leiteiras

INTRODUÇÃO

A interrupção da rotina de retirada do leite determina

Dentre os métodos usados para secagem de vacas

o início do processo de involução da glândula

leiteiras, o abrupto com interrupção total das

mamária. Este processo está relacionado a apoptose

ordenhas é o mais utilizado no manejo de fazendas.

das células epiteliais secretoras e depende de vários

Porém

secagem

fatores, dentre esses a concentração dos hormônios

aumentou muito, devido ao melhoramento genético

prolactina (PRL), hormônio do crescimento (GH) e do

e boas práticas de manejo, o que faz com que

fator de crescimento semelhante à insulina do tipo 1

algumas vacas encerrem a lactação produzindo

(IGF-1). Sabe-se que o GH é importante no

ainda 25 a 30 litros de leite por dia (Bertulat et al.,

desenvolvimento

2013; Chapinal et al., 2014). A partir de estudos que

produção de leite, mas é a PRL a principal

demonstraram os efeitos dessa maior produção de

responsável pela proliferação e diferenciação das

leite à secagem para a glândula mamária e para o

células

animal, outros métodos e ferramentas passaram a

manutenção destas células em atividade. A PRL

ser pesquisados e utilizados, com o intuito de reduzir

atua

o estresse e garantir o bem-estar destes animais.

reduzindo a taxa de apoptose ao inibir a produção de

a

produção

dos

animais

à

epiteliais

diretamente

da

glândula

mamária

secretoras, sobre

as

bem células

e

como

na

a

epiteliais,

metaloproteinases. Este hormônio também atua de A Cabergolina é uma droga sintética produzida a

forma indireta ao suprimir a expressão das proteínas

partir de derivados de ergot, que tem potente

de ligação do tipo 5 (IGFBP-5), que tem poder

atividade

baixas

inibitório sobre o IFG-1. Isso faz com que mais IGF-1

longa

esteja disponível para atuar no tecido e estimular a

duração de seus efeitos biológicos. Esta droga atua

proliferação e sobrevivência das células (Accorsi et

diretamente sobre a produção de prolactina pela

al., 2002).

dopaminérgica

concentrações

no

plasma,

mesmo e

em

apresenta

glândula hipófise, inibindo-a. Por apresentar esta capacidade, a Cabergolina tem sido muito utilizada

Ao parar de ordenhar o animal, ocorre acúmulo do

no tratamento de pseudociese em cadelas e em

leite que ainda continua sendo produzido pela

condições

humanos.

glândula mamária por alguns dias, o que pode gerar

Recentemente seu uso especificamente no manejo

complicações para a glândula já que até 80% desse

da secagem de vacas de leite foi introduzido no

leite ficará retido nos primeiros três dias (Ponchon et

campo.

al., 2017). O acúmulo de leite determina aumento da

hiperprolactinêmicas

em

pressão interna do úbere com distensão dos tecidos, Este trabalho tem por objetivo abordar a fisiologia da

o que pode levar à abertura do canal do teto,

secagem de vacas leiteiras, bem como revisar os

gerando vazamento de leite. Nesta situação ocorre

mecanismos de ação da Cabergolina e sua forma de

também o comprometimento da atividade protetora

utilização.

das células de defesa fagocíticas presentes no local, que serão demandadas para a degradação de

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

componentes do leite (Boutinaud et al., 2016).

Fisiologia da glândula mamária de vacas leiteiras

A distensão da glândula mamária com o aumento da

durante o período seco

pressão intra-alveolar parece ser o sinal que dá

O período seco é um momento importante para

início à involução ativa dos tecidos secretores.

vacas leiteiras, uma vez que, permite ao animal

medida que a concentração de PRL nos tecidos

priorizar energia para o fim da gestação e garante

diminui pelo efeito de diluição, ocorre o declínio na

um tempo de recuperação e regeneração da

taxa

glândula mamária para o início da próxima lactação.

permeabilidade das ―tight junctions‖ e um efluxo de

O tempo de duração do período seco está

lactose. Concomitante a essas alterações ocorre

diretamente relacionado à produção de leite na

redução do lúmen dos alvéolos e aumento do

lactação seguinte e hoje se trabalha com durações

estroma (Singh et al., 2017). Este processo de

de 45 a 60 dias, na grande maioria das fazendas

involução ativa pode durar por aproximadamente 21

(Schukken, Gurjar and Moroni, 2011).

a 30 dias.

8037

de

secreção

de

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8036-8040, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006

leite,

aumento

À

da


Artigo 451 – Secagem e uso de cabergolina em vacas leiteiras

Findado o processo de involução ativa, a glândula

O período imediato após a secagem deixa o animal

mamária entra em estado de involução constante.

mais susceptível a novas infecções intramamárias e,

Este

eventos

isso pode ser agravado nos casos de vacas de alta

determinantes de seu início e fim. Sua duração

produção. O vazamento do leite pode atrasar a

depende apenas do tempo no qual o animal

formação do tampão de queratina no canal do teto,

permanece seco e não tem influências hormonais ou

necessário ao isolamento da glândula com o meio

de manejo. O último processo característico do

externo. Como consequência o teto permanecerá

período seco é a lactogênese, no qual ocorre a

aberto, permitindo que microrganismos tenham

proliferação e diferenciação das células secretoras

acesso ao interior do úbere e aliado a isso, os

do epitélio. Durante este processo ocorre também a

fatores imunes locais podem estar comprometidos.

colostrogênese, com acúmulo de imunoglobulinas e

Estima-se que até 23 % de todos os tetos secos

outros fatores imunes e nutricionais na glândula

possam permanecer abertos após seis semanas da

mamária. Assim como o processo de involução

secagem. Fatores que conferem imunidade ao

ativo, este é coordenado por vários hormônios e tem

animal irão aumentar rapidamente após o início do

início aproximadamente 15 a 20 dias antes da data

processo de involução ativa, mas o fator de diluição

prevista para o parto (Smith & Hogan, 2003).

dependendo da quantidade de leite represada pode

segundo

momento

não

tem

atrapalhar a atividade desses mecanismos de Saúde da glândula mamária e bem-estar de

defesa.

vacas leiteiras

lactoferrina,

A secagem pode provocar dor, a qual pode variar de

aumentar, garantindo maior proteção à glândula

acordo com a quantidade de leite produzida à

mamária (Schukken, Gurjar & Moroni, 2011).

Aos

poucos

as

imunoglobulinas

concentrações e

leucócitos

de irá

secagem e ao método utilizado para secá-la. De acordo com pesquisadores o aumento no tempo de

Cabergolina

permanência em pé e a redução no número de

Mecanismo de ação

movimentos para se deitar são fortes indicativos de

Os derivados do ergot são esqueletos alcaloides

que o animal está sentindo dor. A reação do animal

produzidos por fungos, principalmente do gênero

ao toque na área do úbere também pode ser um

Claviceps spp. que são encontrados em gramíneas e

indicativo de desconforto. Na situação em questão, a

em alguns grãos durante sua fase de crescimento. A

dor é provocada pela distensão do úbere e por

cabergolina, um destes derivados, é um potente

algum grau de inflamação (Zobel et al., 2013).

agonista de receptores dopaminérgicos do tipo D2, com

efeito

inibitório

direto

sobre

as

células

Ambos os métodos de secagem, abrupto e gradual,

lactotróficas produtoras de prolactina presentes na

geram algum desconforto no animal. Porém foi

hipófise (Hughes et al., 2003).

demonstrado que animais de maior produção (>25 litros) que foram secos pelo processo gradual, no

Receptores D2 podem ser considerados tanto pré

qual se aumenta o intervalo entre ordenhas com

quanto pós-sinápticos, e atuam na liberação de

redução do número de diário destas por alguns dias,

dopamina para as células de diferentes estruturas

apresentaram menos vazamento de leite do que

encefálicas. Porém os receptores pré-sinápticos são

vacas secas abruptamente (Zobel et al., 2013).

no trabalho em questão isso não foi observado de

seis a dez vezes mais sensíveis que os póssinápticos. Os receptores da família D2 são considerados inibitórios por atuarem hiperpolarizando o neurônio através de proteínas G e com isso impossibilitando a propagação do impulso nervoso. Estes receptores também são responsáveis por inibir a atividade da enzima Adenil ciclase (AMP) e consequentemente, na maioria dos tecidos, a produção de AMP cíclico. Há prevalência da expressão de

forma significante para os dois tipos de secagem

receptores D2 no tálamo, hipocampo e trono

(von Keyserlingk et al., 2009).

encefálico, em relação aos receptores D1 (Callier et

Estes mesmos autores observaram que mesmo os animais secos de forma gradual, apresentaram redução no tempo de permanência deitados. O comportamento de vocalizar perto do portão de saída do piquete nos horários em que o animal seria levado para a ordenha também pode ser um indicativo de que este está em desconforto, porém

al., 2003). Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8036-8040, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8038


Artigo 452 – Secagem e uso de cabergolina em vacas leiteiras

A Cabergolina tem capacidade de exercer sua atividade terapêutica em baixas concentrações no plasma e, portanto, demanda doses baixas com aplicações únicas na maioria das vezes. Sua alta eficácia está também relacionada ao seu poder biológico e meia vida, que é de 65 horas. Em humanos, por ser uma droga de fácil protocolo de administração, é utilizada para o tratamento da doença de Parkinson em estágio inicial com doses mais

altas

(4mg/dia)

hiperprolactinêmicas

e

com

para

doses

condições

mais

baixas

(0,25mg/dia), (Rinne et al., 1997; Huges et al., 2003).

Boutinaud et al. (2016) realizaram o tratamento com dose única de 5,6mg de Cabergolina em sete animais

e

com

placebo

em

outros

sete,

imediatamente após a última ordenha em secagem abrupta. Foram realizadas coletas seriadas de sangue e da secreção láctea para avaliar a composição da secreção e a concentração de prolactina na circulação sanguínea. Foi constatada redução da secreção láctea após o encerramento da lactação, com redução das concentrações de αlactoalbumina, lactoferrina e citrato, à medida que houve acúmulo de leite no interior do úbere. O tratamento com Cabergolina foi eficaz em reduzir a

Em animais, seu uso já é bastante difundido em vários países principalmente para o tratamento da síndrome da falsa prenhez em cadelas. Nesta condição normalmente usa-se 5µg/kg por dia, durante 5 a 10 dias (Gobello et al., 2001). Em bovinos leiteiros a Cabergolina passou a ser recentemente empregada na secagem dos animais.

concentração de PRL nos animais tratados, em comparação aos que receberam placebo, assim como a concentração de lactose e da proporção citrato:lactoferrina na secreção láctea. Os autores concluíram que o uso da Cabergolina facilitou a secagem e acelerou o processo de involução da glândula mamária.

Cabergolina em vacas leiteiras

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o intuito de procurar ferramentas que reduzam

O uso da Cabergolina em animais leiteiros à

os efeitos deletérios e estressantes provocados pela

secagem tem apresentado eficácia na redução dos

secagem

pesquisadores

sinais de dor provocados pelo acúmulo de leite na

utilizaram a Cabergolina e alguns similares agonistas

glândula mamária, assim como acelera o processo

de receptores dopaminérgicos. Bertulat el al. (2015)

de involução do tecido secretor pela redução da

avaliaram o uso de uma dose única de Cabergolina

concentração de PRL circulante. Essa é uma

(5,6mg) sobre pressão no úbere, vazamento de leite

ferramenta importante para o manejo de fazendas

e

leiteiras, que auxilia no bem-estar da vaca leiteira.

sinais

em

de

vacas

dor

em

leiteiras,

vacas

leiteiras

secas

abruptamente, produzindo mais de 16 litros de leite à

Mais

estudos

precisam

ser

realizados

para

secagem. O tratamento foi realizado em 115 animais

demonstrar se seu uso também pode reduzir a

logo após a última ordenha e o grupo controle

incidência de novas infecções da glândula mamária

(n=119) recebeu placebo no mesmo momento. O

no período seco imediato.

tratamento com Cabergolina foi eficiente em reduzir a pressão no úbere primíparas, mas não em multíparas. Apenas 11,3% dos animais tratados

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

apresentaram vazamento de leite, enquanto que

ACCORSI, P. A.; PACIONI, B.; PEZZI, C. et al. Role

21% dos que receberam placebo apresentaram

of Prolactin, Growth Hormone and Insulin-Like

vazamento. Os efeitos sobre a demonstração de dor

Growth Factor 1 in Mammary Gland Involution in

no úbere foram significativos para o grupo tratado,

the Dairy Cow. J. Dairy Sci. v.85, p. 507–513,

porém esse efeito perdurou apenas até o fim da

2002.

primeira semana após a secagem. Os autores deste

BERTULAT,

S.;

TENHAGEN-FISCHER,

trabalho concluíram que a Cabergolina foi eficiente

SUTHAR,

em reduzir riscos à saúde da glândula mamária e

glucocorticoid metabolites and evaluation of udder

reduziu problemas com o bem-estar dos animais no

characteristics to estimate stress after sudden

período imediato após a secagem de vacas com

dry-off in dairy cows with different milk yields. J.

produção acima de 16 litros (Bertulat et al., 2015).

Dairy Sci. v.96, p.3774–3787, 2013.

8039

V. et al.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8036-8040, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006

Measurement of

C.; fecal


Artigo 452 – Secagem e uso de cabergolina em vacas leiteiras

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Cabergoline

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Cabergoline

inhibits

prolactin

secretion

and

accelerates involution in dairy cows after dry-off. J. Dairy Sci. v.99, p. 5707–5718, 2016.

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the

treatment

of

early

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gene

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mammary gland involution in dairy cows. J.

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pergolide

using

spectrometer

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and

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Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8036-8040, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8040


Utilização de probióticos para aves tipo caipira Avicultura no Brasil, sistema alternativo, dieta para frangos, probióticos, desempenho nutricional.

Revista Eletrônica

*

Jean Kaique Valentim¹ Tatiana Marques Bittencourt¹ Rúbia Francielle Moreira Rodrigues¹ Cláudio Henrique Viana Roberto¹ Guilherme Resende de Almeida¹

Vol. 14, Nº 06, Nov./Dez. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

¹Mestrando em Produção Animal Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri UFVJM – Campus Diamantina.*E-mail para correspondência – kaique.tim@hotmail.com

RESUMO

USE OF POULTRY PRÓBIOTICOS POULTRY

Um dos fatores responsáveis pela expansão da

REDNECK TYPE STRAINS

indústria avícola nacional é o aumento na criação de

ABSTRACT

sistemas alternativos, onde os custos de produção

One of the factors responsible for the expansion of

são reduzidos, visando um sistema de produção

the national poultry industry is the increase in the

quase natural, buscando a qualidade de alimentos

creation of alternative systems, where production

com alto valor agregado. A criação de frangos em

costs are reduced, aiming at an almost natural

sistemas livres sempre foi inserida na tradição da

production system, seeking the quality of foods with

população rural e também na área urbana. A

high added value. The raising of chickens in free

produção é destinada ao consumo doméstico,

systems has always been inserted in the tradition of

desempenhando

na

the rural population and also in the urban area. The

de

production is destined for domestic consumption,

emergência para o produtor rural. Quando se trata de

playing an important role in subsistence and acting

aves criadas no sistema livre, o uso de antibióticos

as an emergency income for the rural producer.

promotores de crescimento é proibido. Com isso, o

When it comes to birds raised in the free system, the

uso de probióticos aparece como alternativa ao uso

use of antibiotic growth promoters is prohibited. With

de antibióticos, melhorando o desempenho animal.

this, the use of probiotics appears as an alternative

Os probióticos podem ser caracterizados como

to

suplementos

em

performance. Probiotics can be characterized as

melhoram

food supplements based on living microorganisms

subsistência

e

um

papel

agindo

como

importante uma

alimentares

microrganismos

vivos

renda

baseados que

the

use

of

organismo

a

microbiota of the host organism, protecting it against

colonização de bactérias patogênicas e tornando a

the colonization of pathogenic bacteria and making

dieta mais eficiente.

the diet more efficient.

Palavras-chave: alternativo,

dieta

avicultura para

desempenho nutricional.

8041

no

contra

Brasil,

frangos,

sistema

probióticos,

the

animal

that

protegendo-a

improve

improving

significativamente a microbiota gastrointestinal do hospedeiro,

significantly

antibiotics,

gastrointestinal

Keyword: poultry in Brazil, alternative system, chicken diets, probiotics, nutritional performance.


Artigo 453 – Utilização de probióticos para aves tipo caipira

INTRODUÇÃO

homem no campo; a utilização de pequenas áreas

A criação alternativa de frangos de corte ―caipira‖

de terra; e a grande capacidade de conversão de

tem tido um crescimento exponencial, tornando-se

grãos e outros produtos de origem vegetal (frutas,

uma

para

hortaliças, mandioca, sorgo, milho, capins e outras)

pequenos produtores rurais a exploração deste

em carne e ovos, fonte de proteína animal na

mercado de produtos diferenciados (SAVINO et al.,

alimentação da família (SIQUEIRA, 2014).

atividade

economicamente

viável

2007). Para aves criadas no sistema tipo caipira, é proibido Os frangos caipiras devem ser criados com tempo

o uso de promotores de crescimento à base de

mínimo de 85 dias, segundo o Ministério da

antibióticos. O MAPA, conforme normas do DIPOA –

Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)

Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal

1999. As

melhores

(1999) exige que nas dietas de frangos de corte não

características sensoriais em relação à criação de

exista a inserção de antibióticos e promotores de

frangos de corte industrial (FARMER et al., 1997).

crescimento

Silva &

convencional.

aves

caipiras

apresentam

Nakano (1998)

relatam

que existem

que

estão

presentes

na

criação

diferenças no sistema caipira devido principalmente à ingestão de pasto, verduras, insetos, minhocas,

Uma alternativa para esta substituição é o uso de

dentre outros, pela ave, que são abundantes no

probióticos, que são suplementos alimentares à base

sistema

de microrganismos vivos que afetam beneficamente

semi-intensivo

de

criação.

Assim,

consumidores mais tradicionais preferem a carne de

o

animal

aves criadas semi-confinadas por possuírem um

microbiano intestinal e, por consequência, protegem

sabor mais "natural" do que a carne de aves criadas

o

totalmente confinadas.

aproveitamento dos alimentos (MACARI & FURLAN,

trato

hospedeiro, digestório

melhorando

proporcionando

o

balanço

um

melhor

2005). Este tipo de criação é bastante rentável quando se utilizam técnicas adequadas de manejo que estão ao alcance do pequeno produtor, uma vez que sua implantação é de baixo custo e bom retorno, quando seguidos os procedimentos indicados de manejo, sanidade, alimentação, dentre outros. Estes não são difíceis de serem seguidos e nem onerosos, podendo o produtor adequar sua produção e ter uma

Esses probióticos são bactérias naturais do intestino, as quais, após uma ingestão em doses efetivas, são capazes de se estabelecer ou mesmo colonizar o trato digestivo e manter ou aumentar a flora natural, prevenindo

a

colonização

de

organismos

patogênicos e assegurando uma melhor utilização dos alimentos (MACARI & FURLAN, 2005).

rentabilidade maior. A utilização de probióticos, até o momento, é muito a

contraditória em virtude dos resultados obtidos, onde

competição entre as empresas produtoras que

uma parte das pesquisas indica eficiência, e outra

buscam um produto diferenciado e de melhor

não.

qualidade

do

suplementação de ração para as linhagens coloniais

produtos

(tipo caipira) com probióticos que associam o tipo de

O

aumento

na

para

produção

atender

consumidor, que tem

contribuiu

às

procurado

para

exigências por

Existem

avaliando

menor velocidade de crescimento, abate tardio e

utilizados e, principalmente, o custo de produção por

rações

frango criado.

incluam

medicamentos

e/ou

alimentos

a

gramínea

não

piquete,

trabalhos

naturais, como frangos criados ao ar livre, com que

do

poucos

alternativos

promotores de crescimento (NAZARENO et al., A

2011).

suplementação

das

dietas

com

agentes

microbianos baseia-se no princípio da simbiose, em Este sistema de produção tem como características a utilização da mão de obra familiar, proporcionando a participação da mulher e dos filhos, por se tratar de uma atividade de fácil manejo; a fixação do

que há associação de organismos superiores com a microbiota

bacteriana,

envolvidos,

benefícios

proporcionando, recíprocos

aos

(PEDROSO,

2003).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8041-8050, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8042


Artigo 453 – Utilização de probióticos para aves tipo caipira

O

mecanismo

de

ação

está

cutar um bom planejamento, de modo a garantir

relacionado à competição por sítios de ligação ou

instalações adequadas, possibilitando ações que irão

exclusão

propiciar a saúde e o desempenho das aves.

competitiva,

dos

probióticos

verificando-se

também

competição por nutrientes, produção de substâncias antibacterianas e enzimas por parte dos probióticos e

Sistema extensivo

estímulo do sistema imune (MACARI & FURLAN,

O sistema extensivo é aquele conhecido como ―solto

2005).

a pasto‖, termo comum usado na bovinocultura, onde os animais ficam alojados de forma livre dentro de

Baseado neste levantamento, esta revisão de

determinadas extensões na propriedade. Silva &

literatura tem por objetivo elucidar os principais

Nakano (1997) apresentam que, entre os anos de

pontos da utilização de probióticos na alimentação

1900 a 1930, a avicultura passou por um período

de aves tipo caipira, bem como os destaques

chamado ―Colonial‖, em que as aves eram criadas

científicos destas questões.

totalmente soltas e sem nenhum critério específico de produção.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Características das aves caipiras

Neste tipo de sistema, não há controle dos animais,

A criação de aves tipo caipira é um dos segmentos

sendo que todas as aves são criadas juntas e com

mais promissores do setor avícola. As linhagens

idades variadas, não havendo controle sanitário,

atuais

características

produtivo e nem nutricional. Existe alta mortalidade

sensoriais diferenciadas quando comparadas ao

de pintinhos devido ao ataque de predadores e ação

frango de corte comercial de crescimento rápido,

de doenças que podem comprometer a produção

como: sabor, coloração, firmeza da carne etc.

(GESSULLI, 1999).

apresentam

algumas

Mesmo com vários benefícios ao paladar do consumidor, a produção de frangos tipo caipira está

Segundo Takahashi (2006), as aves fazem seu

longe de alcançar o desempenho das criações

próprio

convencionais (TAKAHASHI et al., 2006).

aproveitamento de seus ovos, e a alimentação

Este sistema de produção vem crescendo no

destes animais é feita à vontade, de acordo com a

cenário nacional e ganhando espaço no mercado,

disponibilidade no local de criação, sendo composta

deixando de ser uma atividade apenas de pequenos

por insetos, minhocas, pequenos crustáceos e

produtores, onde o aumento na produção contribuiu

vegetação natural.

ninho

ao

ar

livre,

podendo

não

ter

para a competição entre as empresas produtoras que, a cada dia, buscam um produto diferenciado e

Na

de melhor qualidade para atender às exigências do

acrescenta o milho e outros alimentos alternativos

consumidor,

produtos

que são comprados a baixo custo. Esse sistema de

naturais, como frangos criados ao ar livre, com

criação gera liberdade para o animal expressar os

menor velocidade de crescimento, abate tardio e

comportamentos naturais, porém

ração diferenciada (GONÇALVES, 2012).

indicado devido às doenças e prejuízos que podem

As aves utilizadas neste sistema podem ser raças ou

acontecer

linhagens, com um baixo potencial genético de

lucratividade do produtor (FIGUEIREDO et al., 2001).

que

tem

procurado

por

complementação

com

a

alimentar,

produção,

o

produtor

não é muito interferindo

na

crescimento e alta rusticidade, boas adaptabilidade à criação em semi-confinamento (ZANUSSO et al.,

Sistema semi-intensivo

2003).

A exploração de aves caipira de corte em sistema semi-intensivo constitui-se numa alternativa muito

Sistemas de criação para aves tipo caipira

importante para o pequeno agricultor, uma vez que

Sistema de criação refere-se ao modo com que as

ele pode utilizar grande parte da alimentação das

aves são criadas e pode variar conforme a

aves com os produtos e resíduos produzidos no seu

necessidade ou tipo de produção. A decisão por um

próprio imóvel rural, bem como a mão de obra

ou outro sistema de criação possibilita ao criador exe-

familiar (FIGUEIREDO et al., 2001).

8043

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8041-8050, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 453 – Utilização de probióticos para aves tipo caipira

O frango tipo caipira permite algumas adaptações no

Segundo Zanusso et al. (2003), para que a avicultura

sistema de criação, tendo em vista a grande

alternativa conquiste o mercado consumidor, será

rusticidade e resistência dessas aves em relação ao

necessário evidenciar que as aves obtidas neste

frango de escala industrial.

sistema

Para a produção em sistema semi-intensivo, é

superiores às procedentes do sistema intensivo,

necessário não apenas o oferecimento de condições

quanto às suas características organolépticas, e que

ambientais

satisfaçam

adequadas

para as

aves, mas

a

de

produção

algumas

apresentem

demandas

qualidades

essenciais

do

utilização de aves adaptadas para o sistema

consumidor: produto de qualidade reconhecida,

alternativo,

oriundo de produção tradicional, com rastreabilidade

com

alto

potencial

genético

(HELLMEISTER FILHO, 2002).

em todos os estágios de produção, assegurado por controles de qualidade e um preço atrativo.

A principal característica desse sistema é a criação em galpão associado a piquetes em que os animais

A alimentação de aves tipo caipira

passam grande parte do dia pastejando, sendo

De acordo com a Associação Brasileira da Avicultura

alojados em galpão fechado durante a noite

Alternativa, para que Frango Caipira e Frango

(GONÇALVES, 2012).

Colonial sejam classificados dessa forma, as aves

Neste sistema, é comum os pintinhos serem

necessitam ser oriundas de linhagem exclusiva para

confinados durante o início da criação (fase mais

esse fim, com nutrição baseada no pastejo e ração

crítica) e, posteriormente, é dado a eles acesso a

constituída por ingredientes preferencialmente de

áreas de pastejo. Esse tipo de criação visa atender

origem

um nicho de mercado constituído por uma faixa de

melhoradores de desempenho de base antibiótica

consumidores

(AVAL, 2013).

com

exigências

gastronômicas

vegetal,

sendo

proibido

o

uso

de

distintas, principalmente pelo bem-estar animal A alimentação representa a maior parte do custo de

(ZANUSSO& DIONELLO, 2003).

produção

avícola,

em

animais devido ao controle sanitário e produtivo,

brasileiras, onde se utilizam cereais e oleaginosas

além de manter as características normais da

para apropriada expressão fenotípica dos plantéis

espécie em relação a seu comportamento natural,

(NASCIMENTO et al., 2009). Portanto, existe a

pastejo, alimentação e movimentação, devido à

necessidade

maior oportunidade de espaço e liberdade dos

alimentos alternativos ou programas de alimentação

animais,

com suplementação com aditivos para aves caipiras.

as

normas

de

bem-estar

pesquisas

distintas

planos

nutricionais

de

das

nos

Este tipo de sistema confere um melhor manejo dos

atendendo

tradicionais

particular

em

regiões

avaliação

de

(GONÇALVES, 2012). Do ponto de vista econômico, a alimentação é um Variação da carne tipo caipira e da industrial

fator de grande importância, não somente porque

A intensa procura pela carne tipo caipira advém de

dela depende um bom desempenho produtivo das

diversos fatores. Segundo Souza (2004), a procura

aves, sobretudo, porque representa a maior parte

por frangos caipira se deve ao interesse de uma

dos

parte do mercado em adquirir uma carne com sabor

GRANGEIRO, 2012).

custos

da

atividade

(70%)

(SANTOS

&

característico e menor teor de gordura. A exploração de aves caipira de corte em sistema A alimentação de frangos tipo caipira possui

semi-intensivo representa uma alternativa muito

crescimento lento, e esta característica apresenta

importante para os pequenos agricultores, pois eles

alguns pontos críticos, como: evitar um ganho de

utilizam grande parte da alimentação das aves com

peso rápido e taxa de engorda demasiada e limitar a

os produtos e resíduos produzidos no seu próprio

conversão alimentar. Um crescimento inicial muito

imóvel rural, bem como a mão de obra familiar.

rápido acarreta uma piora na conversão alimentar e um crescimento tardio acelerado, favorecendo maior

Diretrizes e normas com relação ao frango

depósito de tecido adiposo (GESSULLI, 1999).

caipira

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8041-8050, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8044


Artigo 453 – Utilização de probióticos para aves tipo caipira

Segundo o Aval (2013), algumas prerrogativas foram

tinal dos animais, diminuindo a ocorrência dos

seguidas como padrão a partir de 2013: frango

microrganismos

convencional - frangos produzidos em granjas de

Independentemente

exploração comercial, de linhagens

probióticos

comerciais

patogênicos do

trazem

ou

indesejáveis.

conceito

benefícios

à

utilizado,

os

saúde

do

geneticamente selecionadas para alta taxa de

hospedeiro, não deixam resíduos nos produtos de

crescimento e excelente eficiência alimentar, criados

origem animal e não favorecem resistência às

em sistema intensivo segundo as normas sanitárias

drogas, o que os faz candidatos preferenciais para

vigentes, sem restrição ao uso de antibióticos,

substituir

anticoccidianos,

alimentares.

promotores

de

crescimento,

os

antimicrobianos

como

aditivos

quimioterápicos e ingredientes de origem animal na Estes produtos vêm sendo utilizados há anos na

dieta.

alimentação humana, tanto com finalidade profilática Frango

criado

antibióticos

quanto terapêutica; entretanto, a indústria avícola

(antibioticfree/af) - frango de exploração intensiva,

ainda apresenta certa resistência ao seu uso

sem restrição de linhagem, criado sem o uso de

(SANTOS et al., 2005).

antibióticos,

sem

o

uso

anticoccidianos,

de

promotores

de

crescimento, quimioterápicos e ingredientes de

Os

origem animal na dieta.

antibióticos de forma terapêutica, sendo utilizados

probióticos

também

podem

substituir

os

logo no início do aparecimento dos sinais clínicos de Frango caipira, frango colonial, frango tipo ou

uma diarreia alimentar. Se o quadro for muito severo,

estilo caipira - frango de linhagem exclusiva para

somente os antibióticos terão efeito. Mesmo assim, é

esse fim, criado em sistema com acesso a áreas

aconselhável

externas para pastejo, exercícios e manifestação de

consorciada, na medida em que este favoreça a

comportamentos inerentes à espécie, e que se

repovoação da flora intestinal após o saneamento

alimentam com ração constituída por ingredientes

promovido pelos antibióticos (GHADBAN, 2002).

utilizar

probióticos

de

forma

preferencialmente de origem vegetal, sendo proibido o uso de melhoradores de desempenho de base

Os probióticos podem conter gêneros de bactérias

antibiótica. Apenas linhagens ou raças de aves de

totalmente conhecidas e quantificadas ou culturas

crescimento lento (superior a 70 dias) serão aceitas

bacterianas

com esta denominação.

Bacteroides,

não

definidas

como

Enterococcus,

e

especialmente

Eubacterium

Lactobacillus e Bifidobacterium,estando presentes Frango orgânico - frangos produzidos em granja de

em

exploração comercial. Não há restrição de linhagens.

(FLEMMING, 2005).

todas

as

misturas

de

culturas

definidas

Produzido segundo legislação brasileira para os sistemas

orgânicos

cujas

A eficácia do produto é estritamente dependente da

encontram-se

quantidade e das características das cepas do

principalmente descritas na Instrução Normativa

microrganismo utilizado na elaboração do produto a

n°46 de 07/10/2011. Sua principal característica

ser empregado como aditivo alimentar. É importante

produtiva é a ração das aves com ingredientes que

analisar os probióticos como produtos separados,

tenham origem orgânica certificada, cultivados sem

seguindo o exemplo dos antibióticos (LODDI, 2001).

especificações

de

produtivas

produção,

a utilização de defensivos e fertilizantes químicos, respeitando-se o bem-estar animal e o meio

Os probióticos podem ser aplicados de várias

ambiente.

formas, como: adicionados às rações e à água, pulverização

sobre

os

animais,

em

cápsulas

Probióticos

gelatinosas via intraesofagianas, inoculação em ovos

Segundo o Compêndio Brasileiro de Alimentação

de aves embrionados e cama das aves (PETRI,

Animal (2004), os probióticos são cepas específicas

2000).

de várias espécies de microrganismos que agem como auxiliares na recomposição da microbiota intes8045

A via de administração dos probióticos pode determinar

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8041-8050, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 453 – Utilização de probióticos para aves tipo caipira

uma melhor ou pior capacidade de colonização

nutrientes, produção de substâncias antibacterianas,

intestinal pelas bactérias presentes no produto

enzimas por parte dos probióticos e estímulo do

utilizado. A inoculação direta no esôfago/inglúvio

sistema imune (SILVA, 2000).

(intraesofagiana) é a mais eficiente; todavia, quando for aplicada em muitas aves, acaba sendo pouco

Existem vários estudos mostram como agem os

indicada (LODDI, 2001).

probióticos no organismo animal, porém uma das teorias mais difundidas é da "exclusão competitiva".

Uso de probióticos em dietas para aves

Segundo Ribeiro (2008), esta teoria relata a ação

Probióticos são microrganismos vivos que geram

ineficaz de microrganismos patógenos em colonizar

benefícios

o intestino animal, devido à presença de outras

quando

introduzidos

no

trato

gastrintestinal, competindo com a flora patogênica

populações desejáveis.

por nutrientes, locais de adesão no epitélio intestinal e sintetizando metabólitos (ácidos orgânicos) que

Os probióticos, depois de ingeridos, encontrando-se

criam resistência ao crescimento de organismos

em meio favorável para sua multiplicação, colonizam

patogênicos (JUNQUEIRA & DUARTE, 2005).

o trato gastrintestinal, estabelecendo-se sobre os

Podem conter bactérias totalmente conhecidas e

demais microrganismos ali presentes (RIBEIRO,

quantificadas

ou

2008).

conhecidas.

Os

culturas

bacterianas

principais

não

microrganismos

bacterianos considerados como seteprobióticos são

Quando são usados na alimentação de aves, os

aqueles dos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium,

probióticos

além

proporcionam melhor qualidade ao alimento, atuam

de

Escherichia,

Enterococcuse

Bacillus

aumentam

a

eficiência

alimentar,

como promotores naturais de crescimento, diminuem

(MORAIS & JACOB, 2006).

as perdas devido a doenças infecciosas e reduzem Os probióticos podem ser agrupados de acordo com

os sintomas de estresse (KOZASA, 1989).

as características do conjunto de microrganismos A utilização de probióticos como aditivos alimentares

que os compõe.

supostamente

pode

proporcionar

melhor

Assim, a Tabela 1 apresenta os principais grupos de

desempenho (BERTECHINI & HOSSAIN, 1993; JIN

probióticos e seus microrganismos correspondentes.

et al., 1998). Porém, para que este benefício seja alcançado, é necessário avaliar fatores como: idade

TABELA 1: Principais microrganismos ativos dos

do animal, tipo de probiótico, viabilidade dos

probióticos

microrganismos no momento de serem agregados às rações,

Grupos

cereus,

utilizadas,

condições

de

armazenamento, condições de manejo (nível de

Microrganismo ativo Bacillus

Aeróbio

cepas

Bacillus

coagulans,

estresse) e sanidade (MACARI et al., 2004).

Bacillus subtilis.

As ações dos probióticos podem ser explicadas pela Anaeróbio

Clostridium butyricum.

formação de biofilme que se adere à camada de muco sobre a superfície intestinal, constituindo uma

Produtores de ácido lático Leveduras

Bifido

bacterium

thermo

phitum,Bifidobacteriumpseudolengum,

barreira de bactérias benéficas que irão exercer suas funções,

Lactobacillusacidophilos.

como

a

produção

de

substâncias

antimicrobianas e ácidos orgânicos (PELICANO et al., 2005).

Streptococcus sp., Lactobacillus sp. Bacillus sp., Bifidobacterium sp.

Por consequência, há melhora na maturação e na

Fonte: Adaptado de TEIXEIRA (2001).

integridade das estruturas intestinais, aumento da O

mecanismo

de

ação

dos

probióticos

está

proteção das vilosidades e superfícies de absorção

relacionado à competição por sítios de ligação ou

contra toxinas produzidas por agentes patogênicos,

exclusão competitiva, onde existe a competição por

assim como a estimulação da resposta imune

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8041-8050, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006

8046


Artigo 453 – utilização de probióticos para aves tipo caipira

(PELÍCANO et al., 2005), favorecendo a absorção

ção de amônia e, assim melhorar a saúde e o

dos nutrientes pelos enterócitos.

crescimento do animal, visto que a amônia pode causar danos nas células intestinais, diminuindo o

Essas atividades dos probióticos fornecem base

rendimento do animal.

científica relacionada com o aumento da função protetora contra microrganismos patogênicos em

As bactérias probióticas, que também exercem

frangos jovens (LEE et al., 2010). Recentemente,

um efeito biológico na medida em que promovem

estudos vêm sendo desenvolvidos para investigar

um ambiente de baixa tensão de oxigênio,

esses efeitos sobre a morfologia e morfometria da

desfavorecendo

mucosa intestinal, coma finalidade de observar a

enteropatogênicas,

integridade ou possíveis alterações, pois esses

Salmonellas

(PETRI,

parâmetros são considerados como indicadores das

também

efeito

funções intestinais (MATUR et al., 2012).

probióticas produzem ácidos orgânicos, como lático e

um

o

crescimento 2000). químico,

propiônico,que

bactérias

Favorecendo pois

reduzem

o pH do

Um bom probiótico deve sobreviver às condições

inibição de bactérias patogênicas (GHADBAN,

adversas do trato gastrintestinal (ação da bile e dos

2002).

pancreático

e

uma

bactérias

Como agem os probióticos

gástrico,

com

as

ambiente

sucos

intestinal,

de

principalmente

consequente

entérico),

permanecendo no ecossistema intestinal; não ser

Bacillus subtilis

tóxico nem patogênico para o homem e animais; ser

Os Bacillus subtilissão um tipo de bactéria Gram-

estável durante a estocagem e permanecer viável

positivo em forma de bastonete, comumente

por longos períodos de tempo nas condições

encontrada nas camadas superiores do solo,

normais de estocagem; ter capacidade antagônica

sendo considerada um bom modelo de organismo

às bactérias intestinais indesejáveis e promover

para o estudo devido à sua facilidade de cultivo, à

efeitos comprovadamente benéficos ao hospedeiro

sua natureza não patogênica, perfil genético

(GIBSON & ROBERFROID, 1995).

acessível

e

por

apresentar

relevância

agroindustrial (LOPEZ et al., 2013). Esse gênero Ressalta-se, também, que deve ser um habitante

é o único que forma endósporos, tornando-o

normal do trato intestinal do hospedeiro para ser

resistente

capaz de sobreviver, crescer e se fixar no intestino.

ambiente (AVILA et al., 2011). O principal

Embora exista a utilização comercial de probióticos

mecanismo desenvolvido pelo Bacillus subtilis é a

com microrganismos que não têm

esporulação (LOPEZ et al., 2013).

a mesma

às

condições

adversas

do

meio

capacidade de colonizar o trato gastrintestinal, como o Bacillus subtilis, este atinge o interior do intestino

As espécies de Bacillussp, ao contrário das

com um maior número de microrganismos viáveis se

bactérias ácido-lácticas, não são normalmente

comparado ao Lactobacillusacidofilus,pelo fato de

encontradas no trato gastrintestinal (SUN et al.,

estar na forma esporulada e, consequentemente,

2010), pois não são comumente organismos

não ser destruído durante o processamento da ração

colonizadores que se aderem aos sítios de

(GONZALES, 2004).

ligação dos enterócitos (AVILA et al., 2011). No entanto, o Bacillus subtilis transita pelo intestino,

A função do probiótico é reparar as deficiências na

juntamente com o conteúdo intestinal, e sua

microflora e restaurar a resistência dos animais às

prevalência dificulta a fixação dos microrganismos

doenças. Como tratamento, não existe introdução de

patogênicos mediante a exclusão competitiva ou

substância estranha nos intestinos dos animais, sem

antagonismo direto.

risco de contaminar as carcaças ou introduzir substâncias

perigosas

na

cadeia

alimentar

(SANTOS, 2005).

Dessa forma, haverá menor produção de amônia, toxinas e aminas, o que contribui para a integridade do epitélio intestinal (AVILA et al.,

De acordo com GHADBAN (2002), bactérias probióticas

2011), pois o Bacillus subtilis apresenta a

como Bacillus subtilis, também podem suprimir a pro-

capacidade de manter o equilíbrio favorável

8047

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8041-8050, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 453 – Utilização de probióticos para aves tipo caipira

modulando a microbiota no trato gastrintestinal, com

em rações de frangos de corte. In: Conferência de

consequente melhora no desempenho animal quando

ciência e tecnologia avícola, 1993, Santos.

administrado por via oral em quantidades adequadas

Anais... Santos: Apinco, 1993.

(LEE et al., 2010).

BRASIL. Ministério da

Agricultura, Pecuária e

Abastecimento. Instrução Normativa nº 04 de 30 Essas informações são decorrentes de pesquisas

de dezembro de 1998. Dispõe sobre normas para

realizadas mostrando as vantagens da utilização do

registro e fiscalização dos estabelecimentos

Bacillus subtilis, sendo de extrema importância mais

avícolas. Diário Oficial da República Federativa

pesquisas

do Brasil, Brasília, DF, 1998.

com

essa

suplementação,

visando

a

melhorias no desempenho e na saúde animal.

Compêndio

brasileiro

de

Microingredientes: CONSIDERAÇÕES FINAIS

alimentação

A criação de aves para produção de carne tipo caipira

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alimentação

animal.

Microingredientes

animal.

Brasília:

de

CBNA;

FARMER, L. J., PERRY, G. C., LEWIS, P. D., NUTE,

avícola cuja produção com linhagens de crescimento

G. R., PIGGOTT, J. R., & PATTERSON, R. L. S.

lento, identificáveis nos sistemas de produção semi-

Esponses of two genotypes of chicken to the diets

intensivo

sensoriais

and stocking densites of conventional UK and

diferenciadas das criadas em confinamento comercial,

―Label Rouge‖production systems. II. Sensory

com carne mais escura, firme, e sabor acentuado. Esta

attributes. Meat Science, v.47, n.1-2, p.77-93,

produção

apresentam

está

longe

características

de

alcançar

a

produção

1997.

tradicional de frangos de corte, porém este sistema de

FIGUEIREDO, E.A.P. Diferentes denominações e

produção vem crescendo no cenário nacional e

classificação brasileira de produção alternativa de

ganhando espaço no mercado, deixando de ser uma

frangos. In: Conferência de Ciência e Tecnologia

atividade apenas de pequenos produtores.

Avícola-Apinco,

Os

consumidores estão cada dia mais exigentes quando

2001,

Campinas.

Anais...Campinas: Apinco,2001. p.209-222.

se trata de alimentação, e o acesso as informações de

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como os animai são criados faz com que a produção

sistema de criação sobre o desempenho e o

livre torne-se uma realidade no setor avícola. Por isso,

rendimento de carcaça de frangos tipo caipira.

énecessário mais estudos nessa áreaque viabilizem as

Piracicaba, 2002. 77 p.

técnicas de manejo, nutrição e profilaxia, nesse

FLEMMING, J. S.; FREITAS, R. J. S. Avaliação do

contexto existe a necessidade de maiores estudos e

efeito de prebióticos (MOS), probióticos (Bacillus

pesquisas relacionadas à suplementação do probiótico

licheniformis e Bacillus subtilis) e promotor de

nas dietas das avesem razão dos diversos fatores que

crescimento na alimentação de frangos de

podem influenciar no processo de ação do probiótico

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