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Editora Responsável: Juliana Maria Freitas Teixeira Brito Editor Científico: Júlio Maria Ribeiro Pupa Editora Técnica: Rosana Coelho de Alvarenga e Melo Cláudio José Borela Espeschit Evandro de Castro Melo Fernando Queiróz de Almeida José Luiz Domingues
Júlio Maria Ribeiro Pupa George Henrique Kling de Moraes Marcelo Diniz dos Santos Marcos Antonio Delmondes Bomfim Maria Izabel Vieira de Almeida Patricia Pinheiro de Campos Fonseca Rodrigues Rony Antonio Ferreira Rosana Coelho de Alvarenga e Melo É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo da NRE da em qualquer meio de comunicação, seja eletrônico ou impresso, sem a sua devida citação.
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Sumário ARTIGOS 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte ........................................ 7077 Maurício de Paula Ferreira Teixeira 447 – Teorias sobre a síndrome da baixa gordura no leite de vacas ..................................................................... 7091 Carla Giselly de Souza, Severino Gonzaga Neto, Aparecida da Costa Oliveira, Marcelo de Andrade Ferreira 448 – Queijos artesanais: revisão de literatura............................................................................................................ 8001 Vinícius Tadeu da Veiga Correia, Isabella Cristina Lopes de Assis 449 – Mudanças digestivas na cinética de trânsito e de passagem em bovinos ............................................... 8009 Taynara Raimundo Martins, Graciele Araújo de Oliveira Caetano, Messias Batista Caetano Júnior, Bruna Cristhina de Oliveira 450 – Importância do programa de qualidade “boas práticas de fabricação” ( BPF) na produção de ração ......................................................................................................................................................................................... 8016 Andressa da Silva Formigoni, Gislaine de Castro Marcelo, Andressa Nathalie Nunes 451 – Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação ..................... 8026 Dejanir Pissinin 452 – Secagem e uso da cabergolina em vacas leiteiras ........................................................................................... 8036 Anna Luiza Belli de Souza Alves, Costa Sandra Gesteira Coelho 453 – Utilização de probióticos para aves tipo Caipira .............................................................................................. 8041 Jean Kaique Valentim, Tatiana Marques Bittencourt, Rúbia Francielle Moreira Rodrigues, Cláudio Henrique Viana Roberto, Guilherme Resende de Almeida
Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte: revisão de literatura
Revista Eletrônica
Composição da ração, energia metabolizável, incremento calórico, produção de calor.
Maurício de Paula Ferreira Teixeira
Vol. 14, Nº 06, nov./dez. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br
1
1
Médico veterinário autônomo, Doutor em Zootecnia (Produção de
Monogástricos) pela Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail: teixeirampf@hotmail.com
A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
RESUMO O frango de corte moderno apresenta elevada taxa de crescimento, a qual é alcançada pelo alto consumo de ração. Esta, por sua vez, representa a maior fração dos custos de produção na avicultura comercial. A energia é o componente mais caro da ração e a estimativa precisa do valor energético dos alimentos torna-se fundamental na indústria avícola, especialmente predominam
em altas
regiões
tropicais,
temperaturas
que
onde podem
influenciar diretamente o consumo e o balanço enérgico dos alimentos. Atualmente, o conteúdo energético da ração para aves é calculado com base no conteúdo de EM dos ingredientes. No entanto, a estimativa
mais
próxima
do
valor
energético
"verdadeiro" de um alimento é o seu conteúdo em energia líquida. A eficiência de utilização da EM para EL depende de vários fatores como temperatura ambiente, umidade, atividade física, idade, peso, composição da ração, forma física da ração, entre outros. Esta revisão visa discorrer sobre os principais aspectos relacionados aos sistemas de avaliação de energia dos alimentos, focando principalmente no sistema de energia líquida (EL) e na influência que a composição da ração exerce sobre a eficiência de aproveitamento da energia metabolizável (EM) para a EL. Palavras-chave: composição da ração, energia metabolizável, incremento calórico, produção de calor. 7077
EFFECT OF FEED COMPOSITION ON LIQUID ENERGY IN BROILERS: LITERATURE REVIEW ABSTRAC Modern broiler chicken has a high growth rate, which is achieved by high feed intake. In poultry production, feed represents a larger fraction of production costs. Energy is the most expensive component of the diet and accurate estimation of the energetic value of feeds becomes critical in the poultry industry, especially
in
tropical
regions,
where
high
temperatures can directly influence the consumption and the energetic balance of feed. Currently, the energy content of poultry feed is calculated based on the ME content of the ingredients. However, the closest estimation of the "true" energy value of an ingredient is its net energy content. The efficiency of the use of metabolizable energy to net energy depends on several factors such as environmental temperature, humidity, physical activity, age, weight, feed composition, feed physical form and others. This review aims to discuss the main aspects of food energy assessment systems, focusing on the net energy system and the influence of feed composition on the efficiency of the use of metabolizable energy to net energy. Keyword: feed composition, metabolizable energy, heat increment, heat production.
Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte – Revisão
animal e, embora não seja um nutriente, é um INTRODUÇÃO
componente fundamental da ração (Sakomura &
A avicultura é uma das atividades com menor
Rostagno, 2007). As aves utilizam a energia da
margem de lucro no agronegócio, fazendo com que
ração para o crescimento, atividades físicas e
os envolvidos na atividade avícola busquem sempre
manutenção da temperatura corporal. Parte da
meios de redução de custos. Na produção comercial
energia resultante da oxidação das substâncias
de aves, a ração representa a maior fração dos
orgânicas
custos de produção, sendo a energia o componente
compostos fosfóricos de alta energia (ATP), de onde
mais caro. Desta forma, é fundamental a estimativa precisa do valor energético dos alimentos que
no
organismo
é
transferida
para
o animal retira sua energia para os processos vitais (Kleiber, 1975).
compõe a ração, favorecendo a formulação de dietas a um menor custo, sem prejudicar o
A energia dietética pode ser utilizada de três
desempenho.
diferentes formas: suprir energia para atividades, ser convertida em calor ou estocada como tecido
Atualmente, o conteúdo energético da ração para
corporal. A utilização ótima dos nutrientes pela ave é
aves é calculado com base no conteúdo de energia
atingida quando a dieta contém a proporção de
metabolizável (EM) dos ingredientes. No entanto, a
energia e demais nutrientes necessários para o
estimativa
crescimento
mais
próxima
do
valor
energético
"verdadeiro" de um alimento é o seu conteúdo em
e
composição
corporal
desejada
(Leeson & Summers, 2001).
energia líquida (EL), pois leva em consideração as diferentes formas de utilização dos nutrientes para a
Segundo Sakomura (2004), a energia obtida do
manutenção e produção.
alimento é utilizada primeiramente para atender a manutenção dos processos de sobrevivência e só
A EM é uma medida muito útil para estimar a
então é utilizada para o crescimento e produção.
energia disponível nos alimentos. Entretanto, a EM
Assim, a deposição de tecido para crescimento só
não apresenta 100% de eficiência para crescimento
ocorre após as exigências para manutenção serem
e deposição de carne, uma vez que parte da energia
atendidas. Caso a energia disponível na ração não
é
processos
seja suficiente para atender as exigências de
metabólicos. Esta energia perdida na forma de calor
mantença, o tecido corporal será catabolizado para
é denominada de incremento calórico, que é
fornecer a energia necessária.
perdida
como
calor
durante
os
influenciada pela composição química do alimento. PROCESSOS DE DETERMINAÇÃO DA ENERGIA A eficiência de utilização da EM para EL depende de
A alimentação representa uma grande fração do
vários fatores como temperatura ambiente, umidade
custo na produção avícola e a energia é o
relativa
peso,
componente mais caro. Sendo assim, a precisão da
composição da ração, forma física da ração,
estimativa do valor energético dos alimentos é
luminosidade, linhagem, entre outros (Sakomura,
essencial.
do
ar,
atividade
física,
idade,
2004; Sakomura et al., 2004; Lopez & Leeson, 2005; Longo et al., 2006; Latshaw & Moritz, 2009). Neste
Os carboidratos, os lipídeos, as proteínas e parte da
contexto, esta revisão tem como objetivo discorrer
fibra são os constituintes do alimento com potencial
sobre os principais aspectos relacionados aos
para
sistemas de avaliação de energia dos alimentos,
Contudo, o total de energia difere entre estes
focando principalmente no sistema de energia
nutrientes (Sakomura & Rostagno, 2007). Deste
líquida e na influência que a composição da ração
modo, a avaliação energética e o uso de um sistema
exerce sobre a eficiência de aproveitamento da EM
mais preciso para quantificar essa energia é de
para produção de EL.
extrema importância na formulação de rações para
fornecer
energia
ao
organismo
animal.
aves. Os processos existentes para descrever a ENERGIA
energia dietética são energia bruta (EB), energia
A energia é produzida pela oxidação de carboidratos,
digestível (ED),
gorduras e proteínas da dieta durante o metabolismo
energia líquida (EL).
energia metabolizável (EM)
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7078
e
Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte - Revisão
A forma normalmente utilizada na avaliação do
Em animais em crescimento, o consumo de EL é
conteúdo energético dos alimentos para aves é a
calculado como a soma da energia retida no corpo
EM, definida como a diferença entre a EB do
(ER), a um dado nível de alimentação e produção, e
alimento e a EB perdida nas excretas (fezes e urina)
a produção de calor em jejum (PCj), que representa
e nos gases da digestão (Sibbald, 1982). Contudo, o
a ELm (Noblet et al., 1994). A EL encontrada e o k
intestino grosso das aves é pouco desenvolvido e a
correspondente representam a utilização combinada
digesta passa pouco tempo no trato gastrointestinal,
da energia para satisfazer os requisitos de mantença
sendo assim, a energia perdida na forma de gases é
e crescimento (Noblet et al., 2010). A ER pode ser
muito baixa e tem sido desprezada nos cálculos da
determinada pela técnica de abate comparativo ou,
EM (Sakomura & Rostagno, 2007).
mais frequentemente, calculada pela diferença entre o EM ingerida (EMI) e a PC estimada por
O processo de determinação da EM fornece uma
calorimetria. A PCj pode ser medida diretamente nos
estimativa da energia presente na ração que é
animais em jejum ou obtidos a partir de dados da
potencialmente utilizável pela ave, porém não prevê
literatura. É preferível obtê-la após um período de
a eficiência com que essa energia é utilizada para
alimentação com dieta teste, pois a produção de
mantença e produção (Van Der Klis & Kwakernaak,
calor em jejum depende da composição corporal e
2008). Contudo, a determinação da EL leva também
do estado fisiológico do animal, que podem ser
em consideração o calor produzido durante os
influenciados pela dieta, condições climática e
processos de digestão, absorção e metabolismo dos
genética (Noblet et al., 2010). Assim, a diferença
nutrientes, que é conhecido como incremento
obtida entre a PC das aves alimentadas e em jejum,
calórico (IC) (Noblet et al., 2010). Portanto, a EL é
corresponderá ao IC, e conhecendo-se o teor de EMI
definida como o teor de EM menos IC. A energia que
pode-se determinar o valor de EL da dieta.
sobra
depois
dessas
perdas
é
a
energia
verdadeiramente utilizada pela ave para mantença
Como mencionado anteriormente, a PC pode ser
(ELm - energia líquida para mantença) e produção
estimada através da técnica do abate comparativo
(ELp – energia líquida para produção: retenção de
ou a partir de trocas gasosas através da calorimetria
lipídeos, de proteína e produção de ovos).
indireta, podendo ainda ser mensurada diretamente através da calorimetria direta.
A relação EL/EM (k) corresponde à eficiência de utilização da EM para EL. Entretanto, o k não é
O método do abate comparativo estima a PC pela
constante e depende de vários fatores fisiológicos e
diferença entre a EMI e a ER, que durante o ensaio
nutricionais. Por exemplo, o IC é menor quando a
experimental
EM é utilizada para a deposição de gordura em
composição corporal inicial de um grupo de animais
comparação com a deposição de proteína. Como a
que representam os animais experimentais e a
proporção de deposição de gordura normalmente
composição
aumenta mais rapidamente do que a deposição de
(Sakomura, 2004). A ER é calculada pela diferença
proteína, com o aumento do consumo de energia
entre a composição energética corporal final e inicial.
metabolizável, o IC, teoricamente, tende a ser mais
Este método baseia-se na premissa de que a
baixo nos níveis mais elevados de ingestão (Noblet
composição corporal de um grupo de animais pode
et al., 1999).
representar a composição da população estudada
é
dos
quantificada
animais
no
avaliando-se
final
do
a
ensaio
(Wolynetz & Sibbald, 1987). Assim, para evitar erros Assim, o IC é definido como o calor produzido
experimentais é essencial a obtenção de amostras
durante a ingestão, digestão, e metabolismo dos
representativas e homogêneas.
nutrientes, ou seja, calor resultante do aumento da atividade
gastrointestinal,
sistemas
circulatório
dos
Entretanto, o método mais utilizado é a calorimetria
à
indireta, a qual permite uma avaliação em um curto
necessidade de digerir e metabolizar os nutrientes.
período de tempo, com possibilidade de usar os
O termo produção de calor (PC) refere-se ao
mesmos
somatório do incremento calórico com a energia
incluindo o jejum. Neste método o fluxo de ar é
gasta para mantença (Noblet et al., 2010).
misturado ao ar
7079
e
hepática,
renal,
respiratório,
devido
animais
para
diferentes
expirado pelas
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avaliações, aves, sendo
Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte– Revisão
coletadas amostras a cada cinco minutos para a
O metabolismo basal de um animal homeotérmico
determinação das concentrações de O2 e CO2. O
corresponde à energia mínima necessária para
consumo de O2 e a produção de CO2 podem ser
suportar
calculados com base no volume e na composição do
sobrevivência, tais como o funcionamento dos
ar que entra em comparação ao ar que sai (Kleiber,
órgãos, do sistema nervoso, dos tecidos, da
1975). Deste modo, a PC é estimada pela fórmula
temperatura
de Romijn & Lokhorst (1961) que posteriormente foi
ambiente termoneutro (Blaxter, 1989).
a
manutenção
corporal
e
dos
processos
atividade
de
limitada
em
modificada por Brouwer (1965). Portanto, a PC é calculada a partir das mensurações das trocas
A ELm, apesar de ser fundamental nos sistemas de
gasosas (produção de gás carbônico e consumo de
energia
oxigênio) combinado com a excreção de nitrogênio
diretamente por meios experimentais (De Lange &
urinário (Nu) de acordo com a seguinte fórmula: PC
Birkett, 2005). Tradicionalmente, para estimar a ELm
(kj) = 16,18 x O2 (l) + 5,02 x CO2 (l) – 5,88 Nu (g).
são utilizados os requerimentos de energia do
líquida,
não
pode
ser
determinada
metabolismo basal (EMB), representada pela PCj a
(Lofgreen & Garrett, 1968; Blaxter, 1989; De Lange &
contribuição do nitrogênio urinário no cálculo da PC
Birkett, 2005). A princípio, a determinação da ELm
é normalmente inferior a 0,3% (Romijn & Lokhorst,
através da produção de calor do animal em jejum
1961) e tem sido omitido nas pesquisas com estes
não seria apropriada, uma vez que representa tanto
animais por geralmente induzir a um erro <1%
os requisitos energéticos para as funções básicas de
(Geraert et al., 1988; Gabarrou et al., 1997;
manutenção do corpo, ou seja, os requerimentos de
Gabarrou et al., 1998; Zeman et al., 2001; Swennen
ATP ao nível celular somado à produção de calor
et al., 2004; Tachibana et al., 2007; Tachibana et al.,
proveniente da formação de ATP a partir das
2013).
reservas corporais (De Lange & Birkett, 2005).
EXIGÊNCIAS ENERGÉTICAS PARA MANTENÇA
A forma mais apropriada de se obter a ELm seria
E CRESCIMENTO
através da relação ELm= EMB x kb, na qual kb é a
Entretanto,
As
no
exigências
caso
mantença
das
eficiência de conversão das reservas corporais para
crescimento representam grande parte da EMI (42 a
energia útil na forma de ATP. Entretanto, o kb possui
44%),
uma
de
aves,
em
portanto,
de
específico
avaliação
frangos
é
mínima variação, pois a contribuição das reservas
fundamental para a compreensão do metabolismo
precisa
corporais na geração de ATP varia muito pouco nos
energético em frangos de corte (Lopez & Leeson,
animais
2005).
semelhante fazendo com que a energia necessária
em
jejum
com
histórico
nutricional
para o metabolismo basal e a PCj tenham uma forte As exigências energéticas são divididas em gastos
relação conceitual. Isso justifica a utilização da
de energia para mantença e produção. A energia
produção de calor em jejum como valor adotado para
para
a energia líquida de mantença (Birkett & De Lange,
mantença
envolve
gastos
inevitáveis
e
primários, necessários para a sobrevivência, ou seja,
2001).
metabolismo basal. A exigência para mantença é descrita como a quantidade de energia necessária
Segundo Lofgreen & Garrett (1968), uma maneira de
para equilibrar a composição corporal, ou seja,
se avaliar a PCj é estimando o balanço energético a
equilibrar o anabolismo e catabolismo retendo
partir do consumo de EM e da ER. De acordo com
próximo de zero de energia quando não há
esses autores, a PC é composta pelo metabolismo
produção, trabalho ou atividade (Sakomura, 2004). A
basal,
exigência de mantença é atendida a partir da
produzido pela atividade física. Portanto, quando não
energia dos alimentos ou da oxidação de reservas
há consumo de EM, o incremento calórico é igual a
corporais. Além de atender às exigências para
zero e a PC é proveniente do metabolismo basal e
mantença, a energia ingerida também é destinada à
das
síntese de compostos orgânicos, isto é, para o
correspondendo
crescimento corporal, produção ou deposição de
Avaliando-se vários níveis de consumo é possível
gordura
montar uma equação relacionando a produção de
(Sakomura,
2004).
pelo
incremento
atividades
calórico
voluntárias à
exigência
e
pelo
do de
calor
animal, mantença.
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Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte– Revisão
calor ou a retenção corporal em zero de consumo de
0,75 no cálculo do peso metabólico subestima as
ração.
necessidades energéticas em frangos de corte em crescimento. Esses autores verificaram que a
Normalmente,
a
PCj
é
medida
diretamente
exigência de mantença calculada com base no PV
0,
(calorimetria direta) ou calculada pelo consumo de
75
O2 e produção de CO2 (calorimetria indireta). A PCj é
utilizando PV
mensurada com animais em jejum durante períodos
expoente 0,60 é mais preciso. Contrariando Lopez &
variáveis, conforme a espécie animal (tamanho
Leeson (2005), em uma compilação de dados para
corporal e capacidade de consumo de alimento), e
PCj,
em temperatura ambiental de conforto ou em
atualização do expoente para expressar o peso
temperatura fixa de 24 °C.
metabólico de frangos de corte. Segundo esses
Kg era 8% mais baixa do que os valores estimados
Noblet
0, 60
et
Kg e afirmam que o uso do
al.
(2015)
recomendam
uma
autores, o expoente indicado para frangos de corte é A EMI normalmente é dividida em PC e ER em
0,70, diferente do recomendado para outros animais
tecidos corporais, principalmente como gordura
(0,75).
(ERG) e proteína (ERP). Desta forma a EMI = PC + ER. Em condições de termoneutralidade, a PC em
EFEITO DA COMPOSIÇÃO DA RAÇÃO
frangos de corte em crescimento representa entre 52
A composição da dieta tem influência direta sobre
a 64% da EMI (Van Milgen et al., 2001; Noblet et al.,
seu conteúdo de energia líquida, uma vez que os
2003) e está diretamente relacionada com as
diferentes nutrientes não são usados com a mesma
exigências
e
eficiência. Pirgozliev et al. (2001), demonstraram que
processos produtivos. Van Milgen et al. (2001),
as diferenças em energia líquida nos grãos estão
subdivide a produção de calor total em três
correlacionadas com diferenças no desempenho de
componentes principais: PCj, PC decorrente da
frangos em crescimento e observaram que estas
atividade física e efeito térmico do alimento (ETA).
diferenças
Esses
determinações de energia metabolizável.
energéticas
autores
para
manutenção
demonstraram,
através
da
não
foram
detectadas
pelas
calorimetria indireta, que a PCj e o calor proveniente da atividade física representam de 36 a 37% da EMI
Segundo Noblet (2007), a eficiência energética da
em frangos de corte de 21 a 35 dias de idade, assim
dieta
a
esses
carboidratos e diminui com a adição de fibras e
pesquisadores para frangos nesta fase encontra-se
proteínas. Noblet et al. (2010) afirmam que o
energia
de
mantença
entre 152-157 kcal/kg kcal/kg
obtida
por
0,60
aumenta
com
a
adição
de
gordura
e
. Valores semelhantes (155
conteúdo de energia líquida, como uma percentagem
) foram encontrados por Lopez & Leeson
do conteúdo de EM, corresponde à eficiência de
0, 60
(2005) utilizando a técnica de abate comparativo e o
utilização da EM para EL.
mesmo modificador metabólico. A principal diferença entre os sistemas de ED ou EM A energia para mantença é geralmente expressa
e EL é que os dois primeiros expressam o potencial
numa base de peso metabólico, a qual é definida
energético, enquanto o último expressa a energia útil
como o peso corporal elevado à potência 0,75
e inclui a eficiência com a qual cada nutriente pode
(Macleod, 1990; Boekholt et al., 1994; Buyse et al.,
ser utilizado. Essa eficiência é diferente entre os
1998). Porém, estudos recentes indicam que este
nutrientes. A proteína do corpo está sujeita a um
expoente não é o mais adequado para prever as
processo constante de quebra e síntese e, durante
exigências
corte
esse processo, uma fração de aminoácidos é
(Macleod, 1997; Van Milgen et al., 2001; Noblet et
inevitavelmente perdida. A síntese proteica requer
al., 2003; Lopez & Leeson, 2005). As exigências
energia e a contínua quebra e síntese das proteínas
para mantença são altamente influenciadas pelo
do corpo aumentam o gasto energético. Assim, a
cálculo, consequentemente, isso irá
influenciar
proteína da dieta é utilizada com uma eficiência
diretamente a partição energética entre mantença e
média de apenas 60 % para deposição de proteína
produção
proteína),
corporal, enquanto que os carboidratos e gorduras
afetando a eficiência de uso da energia. Lopez &
são utilizados para deposição de lipídeos em aves
Leeson (2005) verificaram que o uso do expoente
com eficiência média de 90% e 75%, respectivamente
7080
energéticas
(deposição
em
de
frangos
gordura
e
de
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Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte– Revisão
(De Lange & Birkett, 2005). Para MacLeod (2002),
calórico do que os carboidratos e as gorduras.
os valores de energia líquida para gordura e proteína por unidade de EM são, respectivamente, 20% maior
Durante muitos anos tem sido recomendado reduzir
e 20% menor em comparação com carboidratos.
os níveis proteicos das dietas em ambientes quentes devido ao alto incremento calórico das proteínas
Carré et al. (2002) citado por Noblet et al. (2010),
(Cheng et al., 1997; Musharaf & Latshaw, 1999).
trabalhando com frangos de corte dos 21 a 35 dias
Desse modo, pode-se reduzir o estresse através da
de idade, avaliaram 28 dietas através do abate
redução do total de calor produzido pelo animal,
comparativo e utilizando um valor de referência para
diminuindo ainda os prejuízos no desempenho
a
energia
de
mantença
de
120,4
0,6
kcal/kg ,
devido ao calor (Aletor et al., 2000).
encontraram taxas de EL/EMA de 68, 84 e 78% respectivamente
para
proteína,
lipídeos
e
carboidratos.
Os avanços na determinação das exigências de aminoácidos
para
aves
e
o
aumento
da
disponibilidade dos aminoácidos sintéticos permitem PROTEÍNA DA DIETA
que os níveis de proteína bruta das dietas sejam
As dietas com baixos níveis proteicos têm sido
reduzidos,
associadas com redução de perdas energéticas,
aminoácidos essenciais. Entretanto, os estudos
pois o aumento do suprimento de proteína está
avaliando níveis de PB têm apresentado resultados
diretamente relacionado com um maior ―turnover‖
inconsistentes. Kerr & Kidd (1999), usando dietas
proteico (Roth et al., 1999; Van Milgen et al., 2001) e
com proteína variando de 19 a 13%, relataram que a
aumento do peso das vísceras (Noblet et al., 1987)
redução de dois por cento do teor de proteína da
com subsequente aumento da produção de calor.
dieta (19 para 17%) não afeta o ganho de peso (GP)
Além disso, a utilização de dietas com baixos teores
e conversão alimentar (CA) quando se adiciona
de proteína bruta, formuladas para suprir as
metionina
exigências aminoacídicas das aves, reduzem a
observaram diferença no GP das aves entre os
quantidade de aminoácidos circulantes, levando a
níveis de PB avaliados, medindo o desempenho de
uma menor produção e excreção de nitrogênio na
frangos de corte de 22 a 42 dias de idade
forma de ácido úrico, resultando em menor produção
alimentados com rações contendo diferentes níveis
de
disponibilidade
de PB (17,5; 18,0; 18,5; 19,0 ou 19,5%) e
energética para deposição de tecidos (Silva et al.,
suplementadas com aminoácidos industriais. Esses
2006). Isto ocorre porque o processo de excreção do
autores observaram ainda uma relação inversa entre
excesso de N tem um alto custo energético.
os níveis de PB na ração e o consumo de ração
Segundo Vasconcellos et al. (2010), estima-se que
pelas aves, além de uma melhora na CA de frangos
para incorporar um aminoácido na cadeia proteica
de corte com o aumento dos níveis de PB da ração.
calor,
podendo
melhorar
a
mantendo-se
e
lisina.
Costa
o
et
suprimento
al.
(2001)
de
não
gasta-se em torno de quatro moles de ATP e para excretar um aminoácido são gastos de seis a 18
De
moles de ATP, dependendo da quantidade de N do
verificaram diferença no CR em frangos de corte
aminoácido.
alimentados com rações contendo entre 15,0 e
forma
oposta,
Sabino
et
al.
(2004)
não
23,0% de PB e suplementadas com aminoácidos Diversos pesquisadores têm observado aumento no
industriais em quantidades adequadas para o
teor de gordura na carcaça de frangos de corte
atendimento das exigências nutricionais das aves de
alimentados com dietas com níveis baixos de
22 a 42 dias de idade. Contudo, eles observaram
proteína bruta (PB) (Aletor et al., 2000; Silva et al.,
melhora na CA com o aumento dos níveis de PB da
2003;
2005;
ração, e um efeito quadrático sobre o GP que
Vasconcellos et al., 2010). Segundo esses autores,
aumentou à medida que os níveis de proteína
o aumento dos níveis de gordura da carcaça está
aumentaram, atingindo o máximo com 21,12% de
relacionado à economia de energia.
proteína bruta na ração. De maneira semelhante,
Gonzalez-Esquera
&
Leeson,
Dean et al. (2006) também observaram que rações Sabe-se que a proteína tem maior incremento
contendo 16,2% de PB e suplementadas com aminoá-
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7081
Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte– Revisão
cidos
sintéticos
aminocídicas,
atendendo
proporcionaram
às pior
exigências GP
em
comparação à ração contendo 22,2% de PB.
observaram que dietas com alto teor de proteínas (23 e 19%) foram capazes de reduzir a produção de calor em frangos de corte sob estresse térmico (32 °C) entre 3 e 9 semanas de idade. Nieto et al. (1997)
Vasconcellos et al. (2010) observaram que a
citado por Furlan et al. (2004) alimentaram frangos
redução dos níveis de proteína bruta (21; 19 e 17 e
de corte com dietas contendo 6,6 e 20% de PB do
15% de PB) nas dietas levou a perdas de
10º ao 24º dia de idade e relataram um aumento no
desempenho de frangos de corte machos de 21 a 42
requerimento de energia para mantença (966 e 824
dias de idade. Já, Oliveira et al. (2011) não
kJ/kg
encontraram efeito da redução do nível de proteína
semelhante, Buyse et al. (1992) citado por Furlan et
bruta (21,6; 20,6; 19,6; 18,6 e 17,6% de PB) em
al. (2004) verificaram que a redução da quantidade
rações formuladas de acordo com o conceito de
de proteína bruta da dieta (20 para 15 %) aumentou
proteína ideal e suplementada com aminoácidos
a produção de calor (1,059 e 1,254 kJ/kg
industriais sobre o GP e o CR de frangos de corte,
respectivamente) em frangos de 28 dias de idade.
porém estes pesquisadores verificaram uma piora na
Esses resultados foram associados ao aumento do
CA das aves.
nível plasmático do hormônio triiodotironina (T 3) dos
0,75
/dia,
respectivamente).
De
maneira
0,75
/dia,
frangos alimentados com dietas de baixa proteína. Avaliando o desempenho de frangos de corte no
De acordo com Carew et al. (1997), deficiências de
período de 23 a 44 dias de idade mantidos em
aminoácidos essenciais aumentam as concentrações
ambiente de alta temperatura (32°C) e alimentados
plasmáticas de T3 e, consequentemente, aumentam
com rações com 16,0 e 20,0% de proteína bruta
a produção de calor das aves alimentadas com
suplementadas com aminoácidos sintéticos, Alleman
dietas de baixa proteína. Segundo estes autores,
& Leclercq (1997) observaram redução no GP das
embora a deficiência de aminoácidos tenha efeitos
aves que receberam menor teor de proteína bruta
individuais
(16,0%). Temim et al. (2000), testando dietas com
mecanismos
teores de proteína bruta variando de 10 a 33%,
deficiências
encontraram uma melhora no desempenho das aves
tireoidianos são desconhecidos.
nos
hormônios
metabólicos alteram
os
da
pelos níveis
tireóide, quais de
os
essas
hormônios
quando consumiram dietas de 28 e 33% de proteína bruta, mesmo quando as aves foram criadas em
Noblet et al. (2003), avaliando o efeito do nível de
estresse por calor. Faria Filho et al. (2007)
proteína bruta da dieta sobre a eficiência de
observaram redução no GP de frangos de corte
utilização da EM para EL em suínos e frangos de
submetidos a estresse térmico (33°C) de 21 a 42
corte machos através da calorimetria indireta,
dias de idade consumindo rações contendo baixos
observaram que em suínos a produção de calor foi
teores de PB (17,0 e 18,5%), formuladas de acordo
significativamente menor para os animais que
com o conceito de proteína ideal, em comparação a
receberam dieta com menor nível de PB, resultando
frangos alimentados com ração com 20% de PB e
em uma maior relação EL/EM. Contudo, a produção
sob as mesmas condições ambientais. Contudo,
de calor em frangos de corte não foi afetada pelo
Oliveira et al. (2010) concluíram que o nível de
teor de proteína bruta na dieta, consequentemente a
proteína bruta da ração formulada utilizando-se o
eficiência de utilização da EM para EL entre as
conceito de proteína ideal pode ser reduzido de 21,6
dietas foram semelhantes (Tabela 1), contrariando a
para até 17,6% em rações de frangos de corte
hipótese de que a proteína bruta pode ser reduzida
machos na fase de crescimento, pois essa redução
em rações para frangos de corte estressados pelo
não prejudica as características de desempenho, o
calor para redução do incremento calórico.
peso absoluto ou o rendimento de cortes nobres de frangos de corte submetidos a estresse por calor
Além disso, Noblet et al. (2007) não conseguiram
(32,2 °C).
demonstrar um aumento da produção de calor em frangos de corte alimentados com dietas ricas em
Alguns estudos têm demonstrado ainda que dietas
proteínas. Estes autores observaram que a relação
de baixa proteína aumentam a produção de calor.
EL/EM foi de, aproximadamente, 68% para frangos
Geraert et al. (1993) citado por Furlan et al. (2004)
de corte, independentemente do nível de proteína
7082
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Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte– Revisão
bruta na dieta, que variou de 22,5% a 27,3%.
intestinal e levando ao comprometimento da digestão e da absorção de nutrientes. Além disso, a
TABELA 1. Efeito da proteína bruta da dieta sobre a
viscosidade
utilização energética em suínos e frangos de corte
intestinal e nas funções fisiológicas do intestino
em crescimento
(Choct et al., 2004). Dessa forma, os grãos de Suínos
Nível de PB na dieta
19,4% 14,5% 22,4
Peso corporal (kg)
57.6
Balanço energético (kJ/kg EM consumida Produção de calor Produção de calor em
Frangos
0,60
57.2
17,8
%
%
1.47
1.46
/dia)
da digesta
interfere
na microflora
cereais que são empregados nas rações das aves são classificados em viscosos (aveia, cevada, centeio, trigo e triticale) e não viscosos (milho, sorgo, arroz e milheto) (Choct, 2006). Dependendo do nível e da origem da fibra na dieta
2,564 2,566 1626 1642 A
B
1,402 1,346 735
731
também têm sido registrados efeitos antinutricionais
862
861
em relação à eficiência de retenção da energia
446
456
metabolizável. Jorgensen et al. (1996), comparando
417
404
jejum
o efeito do nível e fonte de fibra sobre a utilização da
Incremento calórico
667
A
614
B
Valores de energia da dieta (kJ/g) EM
de calor com consequente diminuição na eficiência
14.04 13.98 13.36 13.34 A
EL
B
10.36 10.61 10.00 10.01
EL/EM (x100)
73.9
A
energia em frangos, observou aumento na produção
B
75.9
74.8
75.0
da retenção de energia com o aumento na fibra da dieta. O efeito foi maior com dietas à base de ervilha do que com aquelas à base de cereais, como o trigo
Médias seguidas de letras diferentes maiúsculas
e a aveia. Hadorn & Wenk (1996) verificaram maior
na linha são estatisticamente diferentes pela análise de variância Fonte: Adaptado de Noblet et al., 2003.
redução na retenção de energia e proteína diluindo a
FIBRA NA DIETA
amido e ao farelo de milho.
Os
polissacarídeos
não-amídicos
(PNAs)
ração com casca de soja quando comparado ao
são
polímeros de açúcar que representam os principais
O aumento no trato gastrintestinal e seus segmentos
componentes da parede celular dos vegetais e,
têm sido relacionados com o consumo de dietas
devido à natureza de suas ligações, não podem ser
fibrosas em frangos. Jorgensen et al. (1996)
digeridos pelos animais monogástricos, pois são
observaram aumento no consumo voluntário de
resistentes à hidrólise no trato gastrointestinal (Rosa
alimento e no peso e comprimento relativo do
& Uttpatel, 2007).
intestino delgado e cecos de frangos com dietas de alta fibra preparadas a partir da diluição de uma dieta
As fibras (PNAs), dependendo da solubilidade dos
basal com subprodutos fibrosos de ervilha, de trigo e
seus constituintes, podem ser classificadas em
de
solúveis e insolúveis. As fibras insolúveis são as
gastrintestinal pode ser considerado como uma
celuloses, as ligninas e algumas hemiceluloses. As
estratégia fisiológica relacionada ao aumento de
fibras solúveis são compostas por pectinas, gomas e
consumo de matéria seca de dietas com menor valor
principalmente pela hemicelulose. A hemicelulose,
calórico (Leeson et al., 1991). Além disso, é uma
por sua vez, é constituída por arabinoxilanos, β-
tentativa fisiológica para favorecer a digestão e
glucanos, D-xilanos, D-mananos e xiloglucanos,
absorção com dietas com alta viscosidade, pois a
entre outros.
viscosidade da dieta apresenta correlação negativa
aveia.
O
aumento
no
volume
do
trato
com a digestibilidade de nutrientes (Francesch et al., Os efeitos deletérios das fibras são observados
2002).
principalmente naquelas solúveis, uma vez que apresentam a capacidade de elevar a viscosidade
Pirgozliev
da dieta e se ligar a grandes quantidades de água
experimentos. No primeiro, avaliaram o efeito do
et
al.
(2003)
conduziram
formando um gel viscoso (Santos Jr. et al., 2004).
trigo e da cevada sobre a eficiência de utilização de
Como consequência, ocorre redução na taxa de
energia metabolizável verdadeira, determinada em
difusão dos nutrientes e das enzimas digestivas,
galos, para a retenção de energia corporal em
impedindo suas interações na superfície da mucosa
frangos de corte de 7 a 21 dias de idade. Foram
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dois
7083
Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte– Revisão
preparadas cinco dietas misturando trigo e cevada
duas dietas, isto devido ao maior consumo verificado
com as seguintes proporções, respectivamente, 4:0,
na ração de alta fibra. Os autores não observaram
3:1, 2:2, 1:3 e 0:4. O segundo experimento avaliou
efeito significativo da dieta sobre a ER e a produção
se a alteração da viscosidade da digesta de frangos
de calor total (PCT), possivelmente devido à baixa
de corte (com adição de goma guar na ração a base
viscosidade da dieta fibrosa (< 2 ml/g). Entretanto, a
de milho) afeta a eficiência de retenção de energia
diluição da dieta com fibra insolúvel causou grande
corporal. Os autores observaram uma redução
diferença
(P<0,001) da energia metabolizável verdadeira
resultando em redução de mais de 400 kcal/kg na
(EMv) com o aumento da cevada na mistura,
EM. Já o efeito dos fatores sobre a utilização líquida
havendo uma tendência (P>0,05) na redução da
da EM (EL/EM), embora significativo, foi muito
eficiência da utilização da EMv com o aumento das
pequeno (<1%), com redução no aproveitamento
proporções de cevada, em substituição ao trigo. Os
devido ao alto nível de fibra. Estes pesquisadores,
autores justificam esse resultado pelo elevado teor
embasados nos resultados encontrados, afirmaram
de β-glucanos na cevada que eleva a viscosidade,
que as inclusões dos ingredientes fibrosos nas
em comparação com dietas à base de trigo. Com o
rações causaram um efeito principalmente de
segundo
pesquisadores
diluição da EM, e que a viscosidade pode ter um
demonstraram que o aumento da viscosidade da
papel importante no efeito da fibra sobre a taxa
digesta apresenta um efeito prejudicial sobre a
EL/EM em frangos em crescimento.
experimento,
os
na
metabolizabilidade
da
energia,
utilização da energia em frangos de corte. TABELA 2. Efeito do nível de fibra na dieta de Sarmiento-Franco et al. (2000), trabalhando com galos
sob
alimentação
forçada
e
frangos sobre balanço de energia
1
Variáveis
calorimetria
indireta, observaram maior eficiência de utilização da
Fibra Normal
Alta
1,299
1,284
PV (Kg)
energia do farelo de trigo quando comparado ao
0, 75
farelo de folhas de chaya (uma planta comestível de
Balanço de energia (kcal/kg
origem mexicana), que foi atribuído ao maior nível
EM consumida
356,4
364,5
de FDA e à maior capacidade de hidratação da fibra
ER
139,4
140,9
PCT
217,0
223,6
PCJ
113,7
116,6
PCA
40,5
41,6
ETA
62,8
65,4
das folhas de chaya. Jorgensen et al. (1996) observaram aumento na PC e diminuição na ER (kcal/kg
0,75
) com o aumento no
nível de fibra, utilizando ervilha ou trigo, na dieta de
Valor energético das dietas (kcal/kg MS)
frangos alimentados à vontade. Já o aumento no nível de fibra usando aveia não alterou a ER (kcal/kg
0,
75
). Também Hadorn & Wenk (1996),
trabalhando com frangos alimentados à vontade de oito a 42 dias de idade, observaram redução na retenção de energia com a diluição de uma dieta basal com 20% de casca de soja, e aumento na
/dia)
EM
3534
a
3088
b
EL
2522
a
2179
b
EL/EM
0,714
a
0,706
b
1
– PV – peso vivo; EM cons - energia metabolizável consumida; ER – energia retida; PCT – produção de calor total; PCJprodução de calor em jejum; PCA- produção de calor da atividade física; ETA- efeito térmico do alimento; EM – energia metabolizável aparente; EL – energia líquida; Fonte: Adaptado de WarpechowskI et al., 2006.
retenção de energia com a diluição com 20% de amido ou farelo de milho. Esses trabalhos mostram
DENSIDADE ENERGÉTICA DA RAÇÃO
que o efeito da fibra sobre a produção de calor e a
O frango de corte moderno apresenta elevada taxa
retenção de energia é dependente de sua fonte.
de crescimento, que é alcançada graças ao alto consumo de ração. Entretanto, a ingestão e o
Warpechowski et al. (2006) estudaram o efeito do
metabolismo do alimento têm um efeito termogênico,
consumo de ração com alta fibra (50% mais fibras)
elevando a produção de calor pelas aves. Portanto,
sobre a produção de calor e a utilização da energia
ao sofrerem estresse por calor, as aves reduzem o
metabolizável em frangos de corte (Tabela 2) e
consumo de alimento e a eficiência digestiva, a fim
verificaram que o peso médio das aves e o consumo
de diminuir a produção de calor metabólico e manter
de energia (kcal/kg PM) foram semelhantes para as
a homeotermia (Oliveira Neto et al., 2000).
7084
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7077-7090, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte– Revisão
Para reduzir estes efeitos tem sido recomendada a
esses autores verificaram que a gordura abdominal
modificação dos níveis nutricionais das rações,
aumentou
especialmente no que se refere ao aumento da EM
proporcionalmente à elevação da energia da dieta
para aves criadas em altas temperaturas (Raju et al.,
em ambiente de altas temperaturas.
e
o
rendimento
de
peito
diminuiu
2004). Entretanto, Campos et al. (1995) sugerem a redução da EM na ração de aves criadas em
Sakomura
et al. (2004)
observaram
melhores
ambientes quentes, pois o aumento da energia pode
resultados de desempenho em aves que receberam
contribuir negativamente para a dissipação de calor
nível de energia mais alto. Esses autores estudaram
pelos frangos devido à maior quantidade de calor
o efeito dos níveis de energia metabolizável da dieta
gerado e ao menor gradiente térmico existente entre
(3050, 3200 e 3350 kcal/kg) sobre o desempenho e
a superfície da ave e o ambiente. Todavia, é
o metabolismo energético de frangos de corte
interessante ressaltar que tem sido verificado um
machos na fase de crescimento (22 a 43 dias de
melhor desempenho de frangos de corte com o
idade) em condições de temperatura ambiente e
aumento da energia nas rações (Sakomura et al.,
utilizando o método de
2004; Ghazalah et al., 2008).
observaram que os níveis de energia influenciaram a
abate comparativo e
ingestão de energia metabolizável (371,21; 379,67; 75
368,61
Kcal/Kg) na ração de frangos de corte submetidos a
retenção de energia na carcaça (162,11; 156,58;
três temperaturas (17,1; 22,2 e 27,9°C), Bertechini et
160,58 kcal/kg
al.
223,10; 208,03 kcal/kg
(1991)
observaram
que
o
aumento
da
kcal/kg
0,
Avaliando três níveis de EM (3200, 3000 e 2800
0, 75
/d)
e,
consequentemente,
a
/d) e a produção de calor (209,10; 0, 75
/dia), respectivamente.
temperatura e a redução do nível energético da ração provocaram redução do ganho de peso das
Tem sido sugerido o uso de lipídeos, como fonte de
aves. Estes autores observaram que, para os
energia,
frangos criados na temperatura de 27,9 °C foi
diminuírem o incremento calórico das dietas e
necessário utilizar o nível de 3200 kcal/kg para obter
favorecerem o desempenho das aves durante
o mesmo ganho de peso das aves que receberam
épocas de altas temperaturas ambientais (Sakomura
os níveis de 3000 kcal/kg em 22°C e 2800 kcal/kg
et al., 2004; Rostagno et al., 2006). Segundo Noblet
em 17,1°C.
(2007), a eficiência energética da dieta aumenta com
ao
invés
de
carboidratos,
por
eles
a adição de gordura e carboidratos e diminui com a Oliveira Neto et al. (2000) observaram que o
adição de fibras e proteínas. Oliveira Neto et al.
estresse por calor influenciou negativamente o
(1999) obtiveram melhora linear crescente para
desempenho, reduziu o rendimento de peito e o
ganho de peso e conversão alimentar de frangos
peso do coração, fígado, moela e intestinos, bem
expostos ao calor em razão do aumento do nível de
como aumentou a gordura abdominal de frangos de
energia (3000, 3075, 3150, 3225 e 3300 kcal de
corte, independentemente do nível energético da
EM/kg) por meio de inclusão de óleo de soja às
ração (3075 e 3300 kcal de EM/kg) em frangos de
rações.
corte de 22 a 42 dias de idade. Assim, a melhoria no desempenho associado à Trabalho semelhante foi realizado por Barbosa et al.
inclusão de óleo ou gordura na ração, pode ser
(2008) para avaliar os efeitos dos níveis de EM na
atribuída
ração (2800, 2900, 3000, 3100 e 3200 kcal/kg) sobre
nutrientes dos ingredientes da ração, e ao efeito
o desempenho e as características de carcaça de
extra metabólico dos lipídeos, que resulta em
frangos de corte de 22 a 49 dias de idade criados
melhoria da eficiência energética pelo incremento da
em condições de estresse cíclico por calor (23,5 a
energia líquida da ração (Sakomura et al., 2004).
ao
aumento
da
disponibilidade
dos
36,6 °C). Estes autores não encontraram efeito dos níveis de energia da dieta sobre o ganho de peso e
Em estudo utilizando calorimetria indireta, Noblet et
a conversão alimentar. Além disso, não observaram
al. (2009) analisaram a eficiência de utilização da EM
influência dos tratamentos sobre os rendimentos de
para EL em duas dietas com as inclusões de 2,7 e
carcaça, coxa, sobrecoxa, asa, tulipa, moela,
9,6% de lipídeos (óleo de colza) para frangos de
coração, fígado, proventrículo e intestino. Entretanto,
corte de três a seis semanas de idade. Esses autores
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7077-7090, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006
7085
Artigo 446 – Efeito da composição da ração sobre a energia líquida em frangos de corte– Revisão
não observaram efeito dos níveis de lipídeos sobre o
geral, os dados disponíveis indicam que grandes
ganho de peso, consumo de energia metabolizável
mudanças na composição da dieta não afetam a
(1875 kJ/kg kJ/kg
0,70
/dia), produção de calor total (903
0,70
/dia), produção de calor em jejum livre de
atividade física (440,5 kJ/kg calor
relacionado
à
eficiência de utilização da energia metabolizável para energia líquida em frangos de corte.
0,70
/dia), produção de
atividade
física
(146,5
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
kJ/kg
0,70
ALETOR, V.A.; HAMID, I.I.; NIESB, E.; PFEFFER, E.
kJ/kg
0,70
Low-protein amino acid-supplemented diets in
/dia) e efeito térmico da dieta (315,5 /dia), sendo assim as relações EL/EM
broiler chickens: Effect on performance, carcass
(75,3%) foram equivalentes.
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corte
na
fase
de
crescimento
submetidos
de EM aumentou o GP e reduziu a CA de forma
BARBOSA, F. J. V.; LOPES, J. B.; FIGUEIRÊDO, A.
linear. Porém, os níveis de EM avaliados nas rações
V.; ABREU, M. L. T; DOURADO, L. R. B.;
não foram capazes de influenciar o consumo de
FARIAS, L. A.; PIRES, J. E. P. Níveis de energia
EMAn (331,19 kcal/kg 0,70/dia), a energia retida
metabolizável em rações para frangos de corte
(126,72 kcal/kg 0,70 /dia), a produção de calor total
mantidos em ambiente de alta temperatura.
(204,46 kcal/kg 0,70/dia), a produção de calor em
Revista Brasileira de Zootecnia, v. 37, p. 849-
jejum (128,6 kcal/kg 0,70/dia), o IC (75,9 kcal/kg
855, 2008.
0,70/dia) e nem a eficiência de utilização da EMAn
BERTECHINI, A.G.; ROSTAGNO, H.S.; SILVA, M.A.
para EL (75,9%). No segundo experimento o autor
Efeitos da temperatura ambiente e nível de
observou que, em frangos estressados por calor, o
energia da ração sobre o desempenho e a
nível de EM da ração não influenciou o GP, mas
carcaça de frangos de corte. Revista Brasileira
melhorou de forma linear a CA. Verificou também
de Zootecnia, v.3, p.219-229, 1991.
que os níveis de EM avaliados nas rações não foram
BIRKETT, S.; LANGE, K. Limitations of conventional
capazes de influenciar o consumo de EMAn (316,93
models and a conceptual framework for a nutrient
kcal/kg 0,70/dia), a energia retida (107,56 kcal/kg
flow representation
0,70/dia), a produção de calor total (209,37 kcal/kg
animals. British Journal of Nutrition, v. 86, p.
0,70/dia), a produção de calor em jejum (129,81
647–659, 2001.
kcal/kg 0,70/dia) e a eficiência de utilização da EMAn para EL (74,5%). Entretanto, verificou que o IC reduziu até o nível estimado de 3151,72 de EM na ração e a partir deste nível o IC aumentou.
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heat
Teorias sobre a síndrome da baixa gordura no leite de vacas Ácidos graxos trans, biohidrogenação, insulina glicogênica.
Revista Eletrônica 1
Vol. 14, Nº 06, Nov./Dez de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br
Carla Giselly de Souza 2 Severino Gonzaga Neto 3 Aparecida da Costa Oliveira 4 Marcelo de Andrade Ferreira
1
A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
RESUMO Duas categorias propostas resumem a base para a depressão da gordura no leite (DGL) induzida pela dieta: as que consideram a redução na produção de gordura do leite como uma consequência de uma oferta insuficiente de precursores para a síntese de lipídeos da glândula mamária de gordura do leite e as que atribuem a redução na gordura do leite a uma inibição direta de um ou mais passos na síntese de gordura do leite da glândula mamária. Teorias da antiga categoria incluíam: redução na produção de acetato e β-hidroxibutirato no rúmen limitando a síntese de novo de ácidos graxos mamário. A teoria que ganhou apoio ao longo da última década é que a síntese mamária de gordura do leite é inibida pelo único ácido graxo que é produzido como um resultado de alterações na biohidrogenação do rúmen ou por inibição direta dos ácidos graxos trans resultantes da biohidrogenação incompleta dietética dos ácidos graxos insaturados no rúmen. Palavras-chave: ácidos graxos trans,biohidrogenação, insulina glicogênica.
7091
Zootecnista – UFRPE/Mestre em Produção Animal – UNESP/Doutora em Nutrição e Produção Animal - CCA / UFPB. Pós Doutoranda - PNPD/ UFPB. E-mail: carlaxlsouza@yahoo.com.br 2 Zootecnista – UFPB/Mestre em Produção Animal – UFRPE/Doutor em Nutrição e Produção Animal - UNESP/ Professor- UFPB. 3 Zootecnista- UNIOESTE/ Mestre em Zootecnia- UNIOESTE/Doutora em Nutrição e Produção Animal - CCA / UFPB /- Pós-Doutoranda - UNIOESTE. 4 Agrônomo – UFV/Mestre em Zootecnia – UFV/Doutor em Zootecnia - UFV/ Professor -UFRPE.
THEORIES ABOUT THE LOW FAT SYNDROME IN COW’S MILK ABSTRACT Two proposed categories summarize the basis for diet-induced milk fat depression (MFD): those who consider
reduced
milk
fat
production
as
a
consequence of an insufficient supply of precursors for the synthesis of fat mammary gland lipids of milk, and those that attribute the reduction in milk fat to a direct inhibition of one or more steps in the synthesis of milk fat from the mammary gland. Theories of the former category included: reduced production of acetate and β-hydroxybutyrate in the rumen by limiting de novo mammary fatty acids synthesis. The theory that has gained support over the last decade is that milk fat mammalian synthesis is inhibited by the only fatty acid that is produced as a result of changes in the rumen biohydrogenation or by direct trans fatty acids inhibition resulting from incomplete dietary biohydrogenation of rumen unsaturated fatty acids. Keyword: biohydrogenation, Insulin glycogen, trans fatty acids.
Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas
INTRODUÇÃO
É frequentemente o resultado de mudanças na
Atualmente, o aumento dos custos operacionais e de
alimentação ou de manejo de alimentos, ocorre
alimentação têm levado os produtores de leite a
naturalmente
buscarem formas não tradicionais para diminuírem
dietas altamente fermentáveis ou dietas que contêm
os custos de alimentação, mas com a preocupação
óleos vegetais ou de peixe, (HARVATINE et al.,
de manterem a alta produção e qualidade do leite
2014; BAUMAN et al., 2011). Estas alterações
(MARTEL
nos
ruminantes
alimentados
com
et al., 2011). Os componentes do leite
resultam na formação de ácidos graxos bioativos
são: água, glicídeos (basicamente lactose), gordura,
específicos no rúmen que são absorvidos e levam a
proteína
albumina),
uma redução na gordura do leite na glândula
minerais e vitaminas. O volume ou proporção de
mamária (BAUMAN et al., 2011; BAUMAN & LOCK,
cada componente no leite será influenciado, em
2006).
(principalmente
diferentes
caseína
e
graus, pela nutrição e pelo status
metabólico
da
vaca
Os
A DGL ocorre quando suplementos de óleo são
produtores de leite têm interesse na gordura do leite,
adicionados diretamente à dieta, mas também pode
devido ao seu valor econômico, deste modo,
ocorrer quando a dieta é suplementada com a
pesquisas
a
gordura total das sementes ou dietas contendo
compreensão da biossíntese da gordura do leite e os
ácidos graxos poli-insaturados. O óleo de peixe e
fatores que influenciam na sua composição e
óleos de mamíferos marinhos e algas marinhas são
quantidade ácidos graxos (BAUMAN & GRIINARI,
caracterizados pela presença de dois PUFAs:
2003).
eicosapentanóico
têm
(GONZÁLEZ,
sido
2004).
desenvolvidas
para
decosahexaenóico A alta correlação genética entre o rendimento de
(cis (cis
20:5) 22:
6)
e
ácido
(BAUMAN
&
GRIINARI, 2001, 2003).
gordura, o rendimento de leite e outros componentes dificultam o uso da seleção genética para alterar
Estas investigações científicas caracterizaram o
apenas a gordura do leite, independentemente dos
metabolismo
outros componentes, além disso, a gordura do leite é
bioquímicas de síntese de gordura e identificaram a
afetada significativamente por fatores fisiológicos e
regulação destes processos na síntese do leite
ambientais. Os fisiológicos geralmente envolvem
(BAUMAN & GRIINARI, 2003). A gordura é o
mudanças no balanço energético e oferece pouco
componente mais variável do leite de ruminantes. É
potencial como um meio prático de manipulação de
estimado que o leite de ruminantes seja composto de
gordura do leite (BAUMAN & GRIINARI, 2001). E no
mais de 400 diferentes tipos de ácidos graxos os
quesito
a
triacilgliceróis da gordura do leite. Triacilgliceróis
composição de gordura no leite dos mamíferos são
representam aproximadamente 95% do teor de
altamente
nutrição
lipídeos e a maioria dos triacilgliceróis consiste de
(HARVATINE et al., 2014; BAUMAN et al., 2011;
ácidos graxos com comprimentos de cadeia entre C4
PETERSON
e C18. Os restantes dos 5% do teor de gordura do
fator
ambiental
variáveis
e
a
concentração
sensíveis
à
e
et al., 2005; BAUMAN & GRIINARI,
2001).
mamário,
estabeleceram
vias
leite são constituídos por um número de outras classes
de
lipídeos,
tais
como
colesterol,
Uma situação nutricional de interesse prático e
fosfolípidos,
biológico é a síndrome da baixa gordura no leite,
ácidos graxos livres (BAUMAN & GRIINARI, 2001).
comumente referida como depressão da gordura do
Dietas modernas para vacas leiteiras que contém
leite (DGL) (BAUMAN et al., 2011; GONZÁLEZ,
altas concentrações de grãos de cereais altamente
2004). Representam uma situação em que dietas
digestíveis são amplamente utilizadas no mundo
específicas marcadamente reduzem o teor de
todo com a intenção de maximizar a produção de
gordura e o rendimento do leite, assim como alteram
leite, porém tais dietas frequentemente induzem a
a sua composição em ácidos graxos (BAUMAN &
DGL (WEIMER et al., 2010). Estas podem ser
GRIINARI, 2001). A DGL é a redução acentuada de
divididas em dois grupos amplos. O grupo 1 envolve
até 50% na produção de gordura do leite, sem
dietas
alterar o rendimento de leite e outros componentes.
carboidratos facilmente digeríveis e quantidades
7092
que
diacilgliceróis,
fornecem
monoacilgliceróis
grandes
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quantidades
e
de
Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas
reduzidas de componentes fibrosos, como dietas de
grão/baixa fibra (BAUMAN & GRIINARI, 2001).
alto grão/baixa fibra. O grupo 2 envolve dietas com poli-
Uma clara relação entre as mudanças no padrão dos
insaturados (óleos marinhos e de plantas) (DAVIS &
ácidos graxos voláteis (AGV) do rúmen e a redução
BROWN (1970) citado por BAUMAN & GRIINARI,
na produção de gordura do leite foi estabelecida por
2001, 2003). Dietas onde o teor de volumoso é
uma variedade de dietas. O que conduziu a
adequado, mas este é moído ou peletizado também
sugestões de que a diminuição da produção de
suplementos
dietéticos
contendo
óleos
pertencem ao grupo alto grão/baixa fibra, pois estes processos
reduzem
a
eficácia
da
fibra
na
manutenção da função ruminal normal. O tamanho das
partículas
e
"fibras
efetivas"
tornaram-se
importantes considerações na produção leiteira moderna, onde o uso de sistemas de manuseio de alimentação automatizados e as rações mistas totais se tornaram mais comuns BAUMAN & GRIINARI, 2001). Para ambos os grupos de dieta, a extensão da redução na produção de gordura do leite é modificada
por
preparação
da
componentes
diversos dieta,
a
alimentares,
fatores
tais
presença
de
outros
que induzem DGL (BAUMAN & GRIINARI, 2003). Especificamente, propionato
a
diminui
proporção
molar
acentuadamente
acetato:
no
líquido
ruminal e pesquisas demonstravam uma relação clara entre as mudanças no padrão ou proporções de AGV ruminal e a redução na produção de gordura do leite para dietas alto grão/baixa fibra ou dietas com baixa fibra eficaz (volumoso peletizada). Estas mudanças no padrão ruminal de AGV seriam de menor magnitude e menos consistentes para dietas suplementadas com óleos vegetais ou marinhos e
estágio de lactação e grau de gordura e, apesar de
muitas vezes ocorrem reduções na gordura do leite
existirem dois grupos, em muitas situações esses
para estas dietas com alterações mínimas no padrão
efeitos
AGV (BAUMAN & GRIINARI, 2001).
não
poderão
ser
de
a
gordura do leite e contribuir para o efeito de dietas
manejo,
dietéticos
práticas
como
acetato e butirato no rúmen vão limitar a síntese de
separados
(BAUMAN & GRIINARI, 2001). Além disso, a DGL é um problema de desafio biológico, envolvendo a inter-relação entre processos digestivos e metabolismo dos tecidos (BAUMAN & GRIINARI, 2001). Nos últimos 50 anos diversas teorias foram propostas para explicar DGL induzida pela dieta, e alterações dietéticas em processos microbianos ruminais formam a base de todos eles (SHINGFIELD & GRIINARI, 2007, 2003). Mas nem todas foram universalmente aceitas. Deste modo o objetivo desta pesquisa é discorrer sobre as diversas teorias que explicam a DGL. TEORIAS GORDURA
SOBRE NO
de acetato foi realizada infundindo acetato. Davis e Brown em 1970 já falavam que aumentos de leve a modestos,
na
produção
de
gordura
do
leite,
resultavam do fornecimento de acetato suplementar para vacas alimentadas com dietas normais ou dietas que causavam DGL. Ao longo dos estudos os efeitos sobre a produção de gordura do leite foram bastante variáveis e Davis e Brown concluíram que uma simples deficiência em acetato não poderia explicar adequadamente a redução da gordura do leite em dietas indutoras de DGL (BAUMAN &
A SÍNDROME LEITE
Uma abordagem para analisar a teoria da deficiência
DA BAIXA
(DEPRESSÃO
DA
GORDURA NO LEITE – DGL) Teoria da Produção ruminal de acetato e butirato Uma deficiência de acetato foi proposta pela primeira vez, como base para a DGL induzida pela dieta em 1951 por Tyznik e Allen e melhorado em 1955 por Balch e colaboradores. Esta teoria baseia-se na importância do acetato como uma fonte de carbono para a síntese da gordura e uma mudança no padrão de AGV do rúmen observada em uma dieta alto
GRIINARI, 2001, 2003). Bauman & Griinari, (2003) resumem na Tabela 1 o efeito de uma dieta alto grão/baixa fibra sobre algumas variáveis (produção de leite e percentual molar de AGV's). Para o caso de dietas suplementadas com óleos marinhos, onde a mudança na proporção molar de AGV é menos pronunciada, que é ainda menos provável que a produção do rúmen e o fornecimento de acetato e butirato limitem a síntese de gordura do leite. Apesar das evidências de que dietas de baixa
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7093
Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas
fibra não afetam significativamente a produção
de gordura do leite, devido à inibição, a necessidade
ruminal das taxas de acetato e butirato. Uma
de precursores de gordura no leite é reduzida.
escasseze
frequentemente
Portanto, mesmo se uma ligeira descida na formação
consideradas como contribuintes para a redução na
de acetato e butirato ocorrer no rúmen, isto não
gordura do leite induzida pela dieta, mesmo que de
resultará
uma forma menor (BAUMAN & GRIINARI, 2003).
precursores. Além disso, acetato e butirato também
desses
AGV’s
são
em
nenhuma
falta
substancial
de
são importantes fontes de energia e as possíveis Uma vez que se supõe, que mudanças nas
pequenas diminuições na produção de acetato e
proporções molares de AGV no líquido ruminal,
butirato estaria associada com um aumento igual ou
correlacionam-se com as taxas de produção. Esta
maior em abastecimento de energia a partir da
correlação é relativamente boa para dietas ricas em
produção de propionato. Assim, conclui-se que
fibra, particularmente para ovinos. No entanto, essas
possíveis mudanças na produção rúmen de acetato
relações parecem que não se aplicam quando as
e butirato não poderiam ser responsáveis pela
dietas alto grão/baixa fibra são oferecidas. Esta
redução na síntese de gordura do leite durante DGL
divergência pode ser atribuível ao fato de que dietas
induzida pela dieta (BAUMAN & GRIINARI, 2003).
com baixa fibra tipicamente reduzem o pH do rúmen, e este afetará as taxas relativas de absorção de
Teoria da vitamina B12 / metilmalonato
AGV do indivíduo (BAUMAN & GRIINARI, 2003).
Bauman & Griinari, (2001) em revisão relatam que a teoria / metilmalonato vitamina B12 foi proposta em
Davis
e
diferentes
Brown
realizaram
técnicas
estudos
artério-venosas,
utilizando onde,
1977 por Frobish e Davis. A vitamina B12 é um componente
de
metilmalonil
CoA-mutase,
uma
demonstraram que as concentrações sanguíneas de
enzima envolvida no metabolismo hepático de
acetato e a absorção de acetato pela glândula
propionato. Esta teoria propunha que a redução na
mamária são diminuídas em vacas DGL. Também já
produção ruminal de vitamina B12, juntamente com o
está bem estabelecido que exista uma relação linear
aumento da produção de propionato resultaria em
entre a concentração arterial de acetato e diferenças
um gargalo metabólico em que metilmalonato
artério-venosas através da glândula mamária. Essa
acumularia no fígado.
relação linear é muitas vezes interpretada de forma a sugerir que o fornecimento de um nutriente pode ser
Por sua vez, o metilmalonato seria transportado
limitado por uma concentração arterial baixa. No
através do sistema circulatório para a glândula
entanto, uma absorção reduzida de acetato também
mamária, onde ele iria inibir a síntese de novos de
seria a consequência esperada de uma redução na
ácidos graxos. Embora estudos realizados por Elliot
secreção de gordura do leite. Como Davis e Brown
e
em 1970 resumidamente concluíram: "Se, de fato, a
colaboradores
captação de acetato pela glândula mamária é
produção ruminal de vitamina B12 foi reduzida em
reduzida em vacas secretoras de baixo teor de
dietas de alto grão/baixa fibra, várias abordagens
gordura no leite, mais evidências são necessárias
diferentes, incluindo a terapia de vitamina B12, não
para determinar se esta é uma causa ou um efeito
ofereceram nenhum suporte para esta teoria como a
de lipogênese mamária diminuída" (BAUMAN &
base para a DGL induzida pela dieta (BAUMAN &
GRIINARI, 2003).
GRIINARI, 2001).
colaboradores
em
em
1979
1981,
e
por
Croom
mostrassem
que
e a
Bauman & Griinari (2003), em acordo com o dito por Davis e Brown, quase 44 anos atrás relatam que se
Teoria da Insulina glicogênica
aceitarmos que o principal fator que contribui para a
A teoria insulina glicogênica, proposta em 1962 por
DGL pode ser a inibição por biohidrogenação, outra
McClymont e Vallance e para explicar a DGL em
teoria sobre a causa da DGL, podemos concluir que
dietas
uma limitação na produção de acetato e butirato no
elaborada em 1974 por Jenny e colaboradores e
rúmen pode ser descartada.
Annison em 1976, baseia-se em diferenças de tecido
com
baixa
forragem
e
posteriormente
na regulação endócrina da utilização dos nutrientes (BAUMAN & GRIINARI, Como resultado da redução inicial das taxas de síntese 7093 Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7091-8000, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006
2003,
2001).
Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas
A insulina tem efeitos agudos sobre as taxas de
qualquer efeito agudo sobre a captação de glicose, o
tecido adiposo da lipogênese (estimulador) e lipólise
que é consistente com células mamárias epiteliais de
(inibidora), mas a glândula mamária ruminante não
ruminantes com apenas um transportador de glicose.
responde a alterações nos níveis de insulina
No entanto, o uso de insulina não agudamente
circulante. Isto forma a base para a teoria de insulina
regulou o metabolismo de outros
glicogênico como a causa de DGL que ocorre com
ruminante,
dietas ricas em carboidratos facilmente digeríveis e
(estimulador) e a lipólise (inibidora) no tecido adiposo
pobres
e, este pode afetar indiretamente a oferta e padrão
em
secretagogos
fibras.
Propionato
e
glicose
são
(substância que promove ou estimula
incluindo
as
taxas
tecidos
de
do
lipogênese
de nutrientes disponíveis para a glândula mamária.
a secreção) para liberação pancreática de insulina em dietas alto grão/baixa fibra resultando em
A resposta de gordura do leite a um aumento da
aumento da produção de propionato ruminal (Tabela
insulina no sangue é uma consequência dos efeitos
1) e as taxas de gliconeogênese hepática (BAUMAN
anti-lipolíticos da insulina, e a extensão da redução
& GRIINARI, 2003, 2001).
induzida por insulina na produção de gordura do leite é relacionada com a importância das reservas de
A elevada concentração de insulina circulante,
gordura corporal, como uma fonte de ácidos graxos
muitas vezes, de duas a cinco vezes, aumenta a
da gordura do leite. Elevações da insulina circulante
captação de precursores lipogênicos e diminui a
correspondem à ingestão dietética onde os animais
liberação de ácidos graxos pelo tecido adiposo. De
estão em equilíbrio de energia positiva e nestas
acordo com a teoria glucogênico-insulina, isto irá
situações
resultar em um aumento na utilização do tecido
representam apenas uma pequena fonte de ácidos
adiposo de acetato, β-hidroxibutirato e ácidos graxos
graxos para a síntese de gordura do leite em vacas
de cadeia longa derivados de dieta e uma redução
leiteiras (BAUMAN & GRIINARI, 2003).
de
mobilização
de
ácidos
graxos
da mobilização dos ácidos graxos de cadeia longa a partir de reservas corporais. Em geral, estas
Bauman & Griinari, (2003), relatam que o aumento
alterações
canalização
de propionato e fornecimentos de glicose, e a
preferencial de nutrientes para o tecido adiposo,
resposta relacionada com a insulina que ocorre com
resultando em uma falta de precursores para a
dietas alto grão/baixa fibra, não são à base de DGL
síntese lipogênica de gordura no leite (BAUMAN &
induzido pela dieta. Além disso, as mudanças nos
GRIINARI, 2001).
nutrientes
representariam
uma
glicogênicos
e
insulina
contribuiriam
minimamente para a diminuição da produção de A
teoria
glucogênico-insulina
competição
por
nutrientes
baseia-se
entre
as
numa
glândulas
gordura do leite que ocorre com dietas causando DGL.
mamárias e tecidos não mamários, e as diferença de tecidos
em
resposta
a
insulina
(BAUMAN
&
Teoria dos ácidos graxos Trans
GRIINARI, 2003). A insulina está envolvida na coordenação da partição de nutrientes através de
Davis e Brown em 1970 foram os primeiros a sugerir
seu papel central na regulação da glicose e na
uma
homeostase
octadecenóico e DGL, e elaborado cinco anos mais
energética.
No
caso
da
glândula
possível
relação
mamária do ruminante, a insulina é necessária para
tarde
a manutenção da função normal da célula mamária.
GRIINARI, 2003, 2001).
por
Pennington
entre e
Davis
ácido
trans
(BAUMAN
&
No entanto, este requisito é atendido por uma concentração relativamente baixa no sangue e as
Bauman & Griinari (2001) em revisão, explicam que
flutuações diárias de insulina circulante que ocorrem
ácidos
com o padrão alimentar não têm efeito aparente
intermediários na biohidrogenação de ácidos graxos
sobre a utilização da glicose pela glândula mamária.
insaturados por bactérias ruminais (ác. linoleico e
graxos
trans
são
formados
como
linolênico). Onde, o isômero trans octadecenóico Bauman & Griinari (2003), resumiram estudos in vitro
predominante produzido na gordura do leite é o
e in vivo, onde demonstraram que a insulina não tem
trans-11 cis 18:1 (BAUMAN & GRIINARI, 2003).
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7091-8000, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006
7094
Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas
Ao solicitar um possível papel para os ácidos graxos
atenção como um componente de alimentos e
trans, observou-se que o aumento nos ácidos trans-
produtos lácteos é a principal fonte de CLA na dieta
octadecenóicos na gordura do leite durante a DGL
humana. Estudos biomédicos com modelos animais
indicou que a biohidrogenação do rúmen estava
demonstraram uma vasta gama de benefícios
incompleta.
posteriormente
biológicos positivos para o CLA, os cis-9 e o isômero
elaboraram a teoria de ácidos graxos trans e
trans-11 como um componente natural da gordura do
demonstraram que os aumentos de trans 18:1 no
leite que é anti-carcinogênico, em um modelo de
teor de gordura do leite ocorreram para uma ampla
câncer de mama em ratos. O CLA também tem
gama de dietas relacionada com DGL (BAUMAN &
efeito sobre o metabolismo dos lipídeos. E estudos
GRIINARI, 2003).
recentes têm demonstrado que as preparações
Pesquisadores
comerciais de CLA reduziram acentuadamente a No entanto, a literatura revelou, em resumo, que as
produção de gordura do leite (BAUMAN & GRIINARI,
inconsistências foram frequentes, embora o teor de
2001).
trans de 18:1 na gordura do leite tenha sido geralmente correlacionada com a depressão na
Teoria da biohidrogenação
gordura do leite por cento (BAUMAN & GRIINARI,
A teoria trans de Pennington e Davis de 1975
2001). Estudos realizados por Selner & Schultz em
baseia-se nos ácidos graxos totais, trans-cis 18:1
1980 e Kalscheur et al., 1997 forneceram exemplos
como inibidores da síntese de gordura do leite mas,
onde
Bauman e Griinari em 2001 baseados em estudos e
manipulações
da
dieta
resultaram
em
aumentos substanciais no teor de gordura do leite de
discussões,
propuseram
a
"teoria
da
trans 18: 1, mas reduções correspondentes não
biohidrogenação" com a intenção de acomodar
foram observadas na produção de gordura do leite
limitações na teoria trans para a DGL. O nome
(BAUMAN & GRIINARI, 2003).
sugerido "teoria da biohidrogenação" é baseado no conceito de que, sob certas condições alimentares
A
teoria
trans
DGL
baseia-se
nos
ácidos
as vias de biohidrogenação ruminal são alteradas
octadecenóicos trans 18:1 totais como inibidores da
para
síntese de gordura do leite. Recentes investigações
específicos, alguns dos quais são potentes inibidores
para
a
da síntese de gordura do leite (SHINGFIELD et al.,
concentração de CLA (ácido linolênico conjugado)
2010; BAUMAN & LOCK, 2006; BAUMAN &
na gordura do leite, inesperadamente forneceram
GRIINARI, 2003, 2001).
identificar
estratégias
para
aumentar
produzir
ácidos
graxos
intermediários
visão relacionada com a DGL induzida pela dieta. Ao analisar a transferência de CLA para a gordura do
Ocorrendo o contrário do efeito da insulina, a DGL
leite, foi descoberto que uma preparação que
neste caso é resultante, principalmente, de uma
contenha
CLA
ampla redução da secreção de ácidos graxos de
marcadamente inibia a síntese de gordura do leite
cadeias curta e média, provenientes da síntese de
em vacas leiteiras. Dado que o trans-10, cis-12 CLA
novo de ácidos graxos. O estudo de Griinari et al.,
foi um dos isômeros na mistura de infusão e um
(1998) foi fundamental no desenvolvimento do
intermediário nas supostas vias de biohidrogenação
conceito que duas condições eram obrigadas a
que ocorre em condições de DGL, a possível
ocorrer na DGL induzida pela dieta, e formação
conexão era óbvia (BAUMAN & GRIINARI, 2003).
induzida de CLA trans 10-cis 12, a presença dietética
uma
mistura
de
isômeros
de
de ácidos graxos insaturados e uma mudança nos Baumgard et al. (2000) foram os primeiros a
processos microbianos do rúmen. A mudança de
examinarem diretamente isso utilizando infusões pós
processos microbianos envolve uma alteração nas
ruminais
Eles
vias de biohidrogenação que resulta em um aumento
demonstraram que trans-10, cis-12 CLA inibe a
na formação de trans-10 18:1 e intermediários afins.
síntese de gordura do leite, Considerando que o cis-
No caso de dietas alto grão/baixa fibra, mudanças
9, trans-11 CLA não teve nenhum efeito.
nos
de
isômeros
puros
de
CLA.
processos
microbianos
também
são
caracterizados por um declínio no pH do rúmen e Ácido linoleico conjugado tem recebido considerável 7095
uma mudança no padrão de AGV no rúmen.
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Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas
No caso de dietas contendo óleo marinho, o pH e as
Bauman et al., (2011) em revisão, revelam que
proporções de AGV no rúmen são minimamente
dietas para vacas em lactação são baixo teor de
afetadas, em vez de componentes da dieta contendo
gordura (~ 4% -5%), com o ácido linoleico e
óleo marinho aparentemente alterarem os processos
linolênico sendo os PUFA’s (ácidos graxos
microbianos, afetando diretamente as etapas críticas
poliinsaturatos) predominantes. Quando lipídeos
do processo de biohidrogenação (BAUMAN &
dietéticos entram no rúmen, as ligações éster são
GRIINARI, 2003). A DGL neste caso ocorrerá
hidrolisadas (>85%), seguido da biohidrogenação
mesmo se o teor de fibra da dieta for adequado e
de AG insaturados. A biohidrogenação envolve
mesmo quando não há formação do CLA trans-10
apenas algumas das espécies de bactérias
cis-12. Este é um caso particular de DGL, cujas
ruminais e elas realizam estas reações como um
bases
melhor
mecanismo de defesa contra os efeitos tóxicos
compreendidas em pesquisas recentes. De qualquer
dos PUFA e/ ou para coincidir com o perfil de AG
forma, a inibição neste caso também parece ser
desejado para o crescimento microbiano. Como
causada pela formação de tipos específicos de
consequência
ácidos graxos "trans" no rúmen (Gama, 2004).
biohidrogenação, a saída de AG do rúmen é
fisiológicas
começam
a
ser
dessa
extensa
hidrólise
e
principalmente saturada livre de AG. No entanto, Conforme pode ser visualizado na Figura 1, a queda
alguns
no pH ruminal (dietas baixa fibra) altera as rotas de
especificamente CLA e ácidos graxos trans-18: 1,
intermediários
da
biohidrogenação,
biohidrogenação ruminal, produzindo o ácido graxo
também escapam do rúmen, e estes são
específico, CLA trans-10 cis-12, cuja concentração
absorvidos e utilizados para a síntese de gordura
aumenta significativamente no leite das vacas com
do leite.
DGL (Figura 2) induzida pela dieta. Estudos foi
A presença de trans-10, cis 18: 1 na gordura do
sintetizado industrialmente e infundido no abomaso
leite também indica uma mudança nas principais
de vacas em lactação, comprovaram sua grande
vias de biohidrogenação no rúmen consistentes
capacidade de reduzir a secreção de gordura do leite
com a formação de CLA trans-10, cis-12 a partir
(BAUMAN & GRIINARI, 2001; PIPEROVA et al.,
do ácido linoleico e, possivelmente relacionados
2000).
intermediários de ácido graxos únicos a partir do
posteriores,
onde
este
isômero
de
CLA
ácido linolênico e outros ácidos graxos poliPoderia a teoria biohidrogenação representar uma
insaturados.
Estes
intermediários
da
teoria unificadora que explique a base para DGL
biohidrogenação podem constituir o grupo de
através de todas as dietas? Para avaliar isso,
inibidores reais da síntese de gordura do leite
precisamos examinar todas as diferentes situações
(Bauman & Griinari, 2001).
em que ocorre DGL induzida pela dieta. As duas condições necessárias para o DGL, processos
Há também paradoxos aparentes com a teoria
microbianos
presença
biohidrogenação como uma teoria unificadora, e
dietética de ácidos graxos insaturados, nem sempre
um destes refere-se à acumulação de gordura
podem ser facilmente definidos. As alterações na
corporal. Na DGL induzida pela dieta a redução
função do rúmen são por vezes muito sutis e o teor
no consumo de energia para a síntese de leite
de ácidos graxos insaturados não muito diferentes
muitas vezes resulta em um aumento no acúmulo
de conteúdo típico para ser utilizado como uma regra
de
decisiva (BAUMAN & GRIINARI, 2001).
observação foi um componente importante na
ruminais
alterados
e
a
gordura
teoria
corporal.
Na
glicogênico-insulina. certos
verdade, Na
isômeros
esta
teoria de
da
Gama (2004) verificou que a introdução de CLA
biohidrogenação
trans-10 cis-12 protegido, na dieta de vacas diminuiu
reduzem a síntese de gordura do leite em vacas
a gordura do leite em média apenas 10%, o que não
leiteiras, suplementos comerciais de CLA também
caracteriza a DGL, o que sugere que outros fatores
reduzem acréscimo de gordura em animais em
associados afetam a síntese de gordura.
crescimento. Esse aparente paradoxo pode estar
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CLA
7096
Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas
relacionado com diferenças na sensibilidade dos
O experimento de Glasser et al. (2010) revelam
tecidos (BAUMAN & GRIINARI, 2001).
que a inibição da lipogênese mamária (tanto a síntese de novo e incorporação de AG de cadeia
Um
segundo
paradoxo
diz
respeito
à
∆
9
-
desaturase, uma enzima que introduz uma dupla 9
longa)
foi
menos
acentuada
nas
vacas
alimentadas com alto teor de concentrado nas
ligação cis-9 nos ácidos graxos. ∆ - desaturase está
dietas.
presente na glândula mamária e proporções de
suplementação com óleo e produção de AG no
ácidos graxos do leite como mirístico /miristoleico,
leite antes da infusão.
Esta
resposta
é
independente
da
palmítico /palmitoléico, esteárico /oléico e trans11C18: 1 /cis-9, trans-11 CLA dependem em grande
Almeida et al. (2013) avaliou cabras Saanen
medida dessa enzima (GRIINARI et al., 2000). A
alimentadas com dieta total (silagem de milho,
atividade e expressão gênica da ∆9-dessaturase são
milho moído e soja), onde os tratamentos
ambas inibidas por trans-10, cis-12 CLA. Baseado na
consistiam em: dieta basal sem infusão de óleo
teoria biohidrogenação que seria de se esperar
de soja (controle dieta 1), dieta basal mais infusão
transformações semelhantes nos pares de ácido
oral de 30ml (dieta 2), 60ml (dieta 3) e 90 ml
graxo dessaturase- relacionadas com a gordura do
(dieta 4) de óleo de soja. Para investigar os
leite durante a DGL, mas estes não são tipicamente
efeitos de quantidades crescentes de óleo de soja
observados. A base possível para este paradoxo
sobre o desempenho, composição dos ácidos
aparente não é clara, embora a quantidade de CLA
graxos do leite e alguns parâmetros metabólicos
trans-10, cis-12 usada em estudos de infusão (10-
de caprinos leiteiros. Os autores observaram um
14g /dia) são provavelmente muito maiores do que o
aumento na concentração de Cis 18:2, trans 10, o
nível de CLA trans-10, cis-12 que ocorre durante
que resultou em um decréscimo linear na
DGL induzida pela dieta (BAUMAN & GRIINARI,
concentração de gordura do leite de até 31% para
2001).
a dieta 4, (o que ainda não caracteriza a DGL) devido a inibição da síntese mamária dos AG
Vacas leiteiras criadas intensamente tem a secreção
representado pela redução dos AG de cadeia
da gordura do leite reduzida em resposta às dietas
média e curta.
de alto concentrado, o que é muitas vezes referido como a síndrome ''depressão gordura do leite''
Estratégias Mamárias Durante a DGL
(SHINGFIELD et al., 2010). Alguns isômeros de
De todas as teorias anteriormente citadas a teoria
ácidos graxos trans produzidos no rúmen de vacas,
da biohidrogenação é aceita pela maioria dos
incluindo os trans 10, Cis 12-18: 2 são conhecidos
autores como o principal mecanismo que explica
pelo seu efeito inibidor sobre a lipogênese mamária
verdadeiramente a DGL (GLASSER et al., 2010).
(BAUMGARD et al., 2000). Para estudar se este
A DGL induzida pela dieta é frequentemente
efeito Glasser et al. (2010), realizou infusões
encontrada na produção leiteira moderna e sua
duodenais de trans 10, Cis 12-18: 2 em vacas
ocorrência
alimentadas com quatro dietas diferentes
(AC,
alteração no ambiente ruminal e uma mudança na
relação volumoso: concentrado de 35:65) ou dieta
população das bactérias que é frequentemente
baixo-concentrado (BC, volumoso: concentrado de
caracterizada por uma diminuição do pH no
65:35), sem adição de óleo de linhaça (AC e BC) ou
rúmen e, 2) uma fonte dietética de ácidos graxos
com óleo de linhaça complementada em 3% na MS
poli-insaturados. Como consequência, há uma
(ACO e BCO).
mudança
exige
nas
duas
vias
condições:
e
1)
integralidade
uma
da
biohidrogenação no rúmen que aumenta a saída Glasser et al. (2010) avaliou a resposta global obtida
de intermediários da biohidrogenação no rúmen.
com a infusão de trans 10, Cis 12-18: 2, que foi
Assim, a redução na produção de gordura no leite
consistente com estudos anteriores, onde, 23 grupos
durante a DGL induzida pela dieta é altamente
de vacas de 13 experimentos publicados diminuíram
correlacionada com o aumento no teor de gordura
o teor e o rendimento da gordura do leite, sem
do leite de muitos isômeros de CLA trans-18: 1
variações significativas no rendimento total do leite.
(BAUMAN et al., 2011).
7097
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7091-8000, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas
A síntese da gordura do leite exige a coordenação
lipídeos tanto para o CLA trans-10, cis-12
de enzimas envolvidas no transporte metabólico,
induzida
lipogênese de novo, transporte de AG, dessaturação
Resumidamente, a abundancia de mRNA para
e esterificação e, a formação, transporte e excreção
sintaxe
e
DGL
de
induzida
AG,
acetil-CoA
dieta.
carboxilase,
9
de gotículas lipídica no leite. Nos ruminantes, AG
lipoproteína
surgem a partir de duas fontes que contribuem
ligase graxos, glicerol-fosfato-aciltransferase, e
igualmente (base molar) – síntese de novo no interior
acil-glicerol-fosfato-aciltransferase foram relatado
da célula epitelial mamária e a captação de AG pré-
por ser diminuídos durante a DGL. A reunião e
formados da circulação (BAUMAN et al.,
síntese de triacilgliceróis da gordura de leite são
2011;
BAUMAN & GRIINARI, 2003).
lipase,
pela
∆ -dessaturase,
acil-CoA-
dependentes da atividade coordenada (absorção, transporte,
dessaturação
e
sintese)
dessas
Os AG são esterificados no retículo endoplasmático
enzimas envolvidas na síntese de novo dos
e montados nas gotículas lipídicas que se movem
ácidos graxos (SHINGFIELD & GRIINARI, 2007).
para o ápice da célula. Um número de proteínas está associado com a membrana globular da gordura do
CONSIDERAÇÕES FINAIS
leite que rodeia a gotícula de lipídeo e eles são
A diminuição em mais de 50% da gordura do leite
essenciais para a secreção de gordura do leite
é denominada síndrome da baixa gordura no leite
(BAUMAN et al., 2011).
(low
milk
reconhecida
fat
syndrome).
desde a
Síndrome
década
esta
de 1920.
A
O fato que CLA trans-10, cis-12 induzida e DGL
denominação MDF (Milk Depression Fat) ou DGL
induzida pela dieta envolvem uma diminuição na
(depressão
produção de gordura do leite, tanto de novo como
originariamente relacionada ao efeito do excesso
AG
regulação
de ácido acético, ao final da década de 1980
coordenada de enzimas e síntese de lipídeos
surgiu à teoria dos ácidos graxos conjugados, em
(BAUMAN et al., 2011).
especial a teoria do CLA (ácido linolênico
pré-formados
sugerem
uma
da
gordura
no
leite)
foi
conjugado), porém, de todas as teorias a da Os
mecanismos
moleculares
envolvidos
na
biohidrogenação, do ano de 200, é mais aceita
regulação da síntese de gordura do leite não são
pela maioria autores como o principal mecanismo
bem definidos, mas estudos recentes forneceram
que explica verdadeiramente a DGL.
evidências de que DGL induzida pela dieta está associada com uma redução na abundância de
Todos os ácidos graxos de cadeia longa que
tecido mamário de mRNA para os genes que
fazem parte da gordura do leite provêm da
codificam enzimas lipogênicas-chave envolvidas na
biohidrogenação no rúmen. A identificação da
síntese de
bactéria Butyvibrio fabrisolvens a qual altera a
gordura
do
leite (SHINGFIELD
&
GRIINARI, 2007).
síntese de alguns isômeros do CLA, é na atualidade a teoria mais aceita como responsável
Existem poucas evidências de que o CLA trans-10,
pela depressão gordurosa. O CLA trans-10, cis-
cis-12 induzido ou DGL induzida pela dieta envolvam
12 é formado durante o metabolismo do ácido
uma inibição da exportação de gordura do leite. A
linoléico no rúmen. A enzima ∆ -desaturase
inibição da exportação de gordura do leite seria de
presente na glândula mamária não consegue
esperar que interrompesse a síntese e a secreção de
mudar o isômero CLA trans-10, cis-12, que altera
outros componentes do leite por causa de efeitos
o isômero biologicamente ativo cis-9, trans-11,
citotóxicos de altas concentrações de lipídeos
afetando a síntese de gordura na glândula
celulares (BAUMAN et al., 2011). Bauman &
mamaria e ocasionando um valor diminuído na
Harvatine (2011) foram os primeiros a demonstrar
porcentagem de gordura no leite, ou seja, a
isso no tecido mamário utilizando vacas com DGL
depressão da gordura no leite.
induzida pela dieta, um resultados
recentes
9
posterior resumo de
suportam
o
conceito
de
diminuição da expressão de enzimas de síntese de
Mas é importante não esquecermos que a DGL é uma síndrome, ou seja, diversos fatores podem
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7091-8000, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006
7098
Artigo 447 – Teorias sobre a síndrome de baixa gordura no leite de vacas
influenciar seu desencadeamento como: interações dietéticas e de animal, ambiente e manejo. Pois, as
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S.H.;
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CHOUINARD,
nesses casos podem comprometer a qualidade
BAUMAN,
industrial
synthesized endogenously in lactating cows by
do
produto
e
consequentemente
o
D.E.
Conjugated
linoleic
K.V.V.; acid
is
9
∆ -desaturase. Journal of Nutrition, v. 130, p.
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biohydrogenation
&
GRIINARI,
intermediates
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Role milk
TABELA 1- Ácidos graxos voláteis (AGV) no rúmen e depressão da gordura no leite para vacas alimentadas com uma dieta alto grão/baixa fibra
Dieta Variáveis
Controle
Baixa fibra
Rendimento kg/d
19.1
20.9
Conteúdo de gordura, %
3.6
1.7*
Rendimento de gordura, g/d
683
363
Acetato
67
46*
Propionato
21
46*
Butirato
11
9
Relação acetato: propionato
3.2
1.0*
Acetato
29.4
28.1
Propionato
13.3
31.0*
Leite
AGV rumen, percentual molar
Produção ruminal, mols/d
*Diferença significativa Fonte: Adaptado de Bauman e Griinari, 2003; Bauman e Griinari, 2001.
FIGURA 1 - Representação esquemática da biohidrogenação ruminal do ácido linoléico e formação do CLA trans-10 cis-12 no rúmen. As setas brancas indicam as alterações na biohidrogenação no rúmen que ocorrem em dietas que causam DGL
Fonte: Adaptado de Shingfield e Griinari, 2007 ; Bauman e Griinari, (2001); Griinari e Bauman (1999).
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.7091-8000, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006
8000
Queijos artesanais: revisão de literatura Revista Eletrônica Produto lácteo, queijo minas, regiões produtoras.
Vinícius Tadeu da Veiga Correia Isabella Cristina Lopes de Assis
1*
Vol. 14, Nº 06, Nov./Dez. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br
1
1
Graduando em Engenharia de Alimentos (Universidade Federal de São João del-Rei, Campus Sete Lagoas –UFSJ). *E-mail: viniciustadeu18@hotmail.com
A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
RESUMO
ARTISAN CHEESES: LITERATURE REVIEW
Objetivou-se com essa revisão de literatura conciliar
ABSTRACT
várias informações relevantes sobre os queijos
The objective of this review was to reconcile several
artesanais,
nos
relevant information on artisanal cheeses, mainly
comercializados na região mineira. A elaboração de
focusing on those commercialized in the region of
queijos é uma atividade muito forte em diversas
Minas Gerais. The elaboration of cheeses is a very
regiões do Brasil, de forma significativa atinge
strong activity in several regions of Brazil, in a
diversas
sobrevivem
significant way affects several interior families that
principalmente dessa prática alimentícia. Os queijos
survive mainly from this alimentary practice. Cheeses
são derivados lácteos provenientes da separação
are dairy products derived from the partial separation
parcial do soro, obtido pela ação física do coalho,
of whey obtained by the physical action of rennet,
enzimas, bactérias ou ácidos orgânicos específicos.
enzymes, bacteria or specific organic acids. The
Os
artisanal
principalmente
famílias
queijos
focando
interioranas
artesanais
que
possuem
sabores
cheeses
have
characteristic
flavors,
característicos, apresentando como vantagem de
presenting as market advantage the good production
mercado o bom rendimento na produção e preços
yield and affordable prices for a large part of the
acessíveis a grande parte da população. Dentre as
population. Among the main regions of Minas Gerais
principais regiões produtoras de queijo mineiras se
cheese, the regions of Serro, Canastra, Alto das
destacam a região do Serro, da Canastra, do Alto
Vertentes and Araxá, which produce with quality,
das Vertentes e também de Araxá, regiões estas que
where their recipes have received stamps of
produzem com qualidade, onde suas receitas já
intangible cultural heritage. For this and other
receberam selos de patrimônio cultural imaterial. Por
reasons, it is important to study and research on this
essa e outras razões, tem-se a importância de
dairy derivative and economic highlight of several
estudar e pesquisar sobre esse derivado lácteo e
locations.
destaque econômico de diversas localidades. Palavras-chave: produto lácteo, queijo minas,
Keyword: dairy product, cheese mines, producer regions.
regiões produtoras.
8001
Artigo 448 – Queijos artesanais- Revisão
INTRODUÇÃO
Com o passar dos anos, a realidade foi se
Segundo a Portaria n° 146 do Ministério da
diversificando e os produtores passaram a se
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, entende-se
adaptar
por queijo o produto fresco ou maturado proveniente
segurança
da separação parcial do soro, obtido pela ação física
variedade de queijos artesanais são produzidos, em
do coalho, enzimas, bactérias ou ácidos orgânicos
destaque pode-se mencionar os queijos Minas
específicos. Obtendo-se como resultado um alimento
artesanais, produtos estes que desempenham uma
com
conter
cultura econômica e social muito forte em cada
substâncias aromatizantes e aplicação de corantes
município de origem. Queijo Minas do Serro, do
(BRASIL, 2003). Considera-se queijo artesanal o
Campo das Vertentes, da Canastra, Araxá, Salitre,
queijo produzido com leite integral, fresco e cru em
do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba são alguns
propriedade que mantenha atividade de pecuária
exemplos a serem considerados, os quais são
leiteira (BRASIL, 2012).
valorizados e defendidos por leis como patrimônio
qualidade
aceitável,
podendo
as
novas
exigências
alimentar.
No
de
Brasil,
mercado uma
e
grande
imaterial estadual e nacional (EMATER, 2017). O processo de elaboração de queijos é um método
Destacam-se também o queijo Caipira, os artesanais
bastante diversificado, esses produtos podem ser
nordestinos e o Serrano (MENEZES, 2009).
produzidos tanto de maneira industrial, quanto artesanal, basicamente à principal diferença entre
O objetivo desta revisão bibliográfica foi enfatizar
essas duas formas, na maioria das vezes, é que na
processos e parâmetros de elaboração dos queijos
elaboração de queijos frescos artesanais, o leite
artesanais,
utilizado não sofre qualquer tipo de tratamento
produzidos e demonstrar quais aquelas que se
térmico, sendo aproveitado cru (FEITOSA et al.,
destacam no cenário desse derivado lácteo.
identificar
as
regiões
onde
são
2003). Produção de queijo artesanal no Brasil Dentre as vantagens competitivas de mercado dos queijos artesanais, ressalta-se que esses derivados lácteos
possuem
bom
rendimento
durante
a
fabricação, além de apresentar preços acessíveis à grande parte da população. Ainda, em diversas regiões brasileiras esse produto se apresenta como uma das principais fontes de renda de pequenos produtores rurais, os quais comercializam esse alimento em feiras e pequenos estabelecimentos comerciais (ROSA et al., 2005).
teor
de
proteínas
e
intimamente relacionada com a preservação da identidade e a contribuição na reprodução social do agricultor familiar, contudo, há controvérsias a respeito da informalidade e sua legalização. Através de pesquisas é possível reconhecer a interinidade e especialidades da prática de produção de queijo artesanal, são valores construídos historicamente por populações que possuem vínculos de identidade social com o território e com os agricultores,
O leite é um alimento muito rico, destaca-se pelo seu alto
A produção de queijos artesanais no Brasil está
outros
constituintes
benéficos à saúde humana, como por exemplo, o cálcio. Contudo, apresenta-se com um alto teor de água, gerando assim, uma grande preocupação com a qualidade microbiológica desse produto e seus derivados (FEITOSA et al., 2003). Mediante a essa situação, o queijo é considerado como veículo frequente de patógenos, e de maneira especial, os queijos frescos artesanais, por serem elaborados com leite cru e não sofrerem processo de maturação geram questionamentos às utilidades públicas de saúde e controvérsias em sua aceitação.
consumidores e comerciantes (FEITOSA, 2003). Na microrregião dos Campos de Cima da Serra que fica localizada no nordeste do Rio Grande do Sul e em Santa Catarina na Serra do Rio do Rastro, é produzido o queijo Serrano. A produção desta região é fundamentada na criação de gado de corte, que se alimentam de pastagens naturais, e na obtenção do leite em pequenas quantidades para produção de queijos (MENEZES, 2009). Passando por gerações, foi transmitido como produzir este tipo de queijo que se
assemelha
com
outros
tipos
de
queijos
artesanais.
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8001-8008, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006
8002
Artigo 448 – Queijos artesanais- Revisão
No Nordeste, a prática cultural da produção dos
ral e a continuidade da prática artesanal.
derivados do leite foi repassada por antepassados, onde, fazia parte da tradição do sertanejo dar de presente aos visitantes, amigos e parentes que não
Legislação
viviam na região de produção, ou seja, moravam em
No ano de 2000, ocorreu a regulamentação sobre
zonas urbanas. Estes derivados do leite passavam
queijos artesanais, através da Resoluçõ n° 7 do
por um processo de maturação que fazia com que o
MAPA
período de consumo do produto fosse prolongado,
Abastecimento). Esse documento retifica o exposto
uma quantidade alta de sal era utilizada para que o
do
alimento
as
elaborados à partir de queijo cru, os quais poderiam
características
ser vendidos mediante à um período de maturação
conservasse,
dificuldades
de
contudo
manter
as
cogitando
(Ministério
RIISPOA,
da
de
Agricultura,
comercialização
Pecuária de
e
queijos
de 60 dias. Entretanto essa medida levou a
organolépticas dos produtos (MENEZES, 2009).
insatisfação dos produtores, os quais alegaram Segundo dados da Associação Brasileira das
modificação sensorial de seus produtos, dessa
Indústrias de Queijos, Minas Gerais é apontado
maneira, com o intuito de garantir a segurança dos
como o maior produtor de queijo artesanal no Brasil,
consumidores
com cerca de aproximados 215 mil toneladas no
características primordiais do produto, o governo
total. Cerca de 70% da produção de queijo minas
estadual de Minas Gerais, elaborou e publicou a Lei
artesanal congrega-se nas regiões do Serro, de
n°14.185, de 31 de janeiro de 2002, pioneira no
Araxá e da Serra da Canastra. Segundo dados da
assunto, que esclarece o processo de produção do
EMATER, o queijo minas artesanal é produzido por
queijo Minas artesanal (QMA) (Minas Gerais, 2002).
aproximadamente
médios
Essa lei, regulamentada pelo Decreto nº 42.645, de
produtores, o que torna uma fonte geradora de
05 de junho de 2002 (Minas Gerais, 2002) definiu
renda para a agricultura familiar, e está presente em
normas
519 dos 823 municípios do estado (GLOBO RURAL,
transporte do QMA, estabelecendo-se critérios de
2013).
qualidade e obrigatoriedade de certificação dos
27
mil
pequenos
e
de
e
ainda
fabricação,
assim,
de
manter
embalagem
e
as
de
produtores e o cadastramento oficial das queijarias De acordo com Coelho-Menezes (2006), o controle de
qualidade
do
queijo
Minas
Artesanal
pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).
era
dificultado devido à comercialização de forma
Com o objetivo de auxiliar os produtores na
clandestina, devido à ausência de inspeção, apesar
certificação dos seus produtos, foi criado pelo IMA o
de possuir uma demanda estável devido à boa
Programa Queijo Minas, que possui como função
reputação deste. Com isso veio à exigência da
certificar
pasteurização do leite para a produção do queijo, o
necessárias para a produção do queijo Minas
que os resultou um confronto dos produtores que
artesanal, observando a higiene pessoal, o processo
afirmavam que o leite cru possui os chamados
da ordenha, a elaboração do queijo Minas Artesanal,
fermentos naturais e com a pasteurização resulta na
a armazenagem e o transporte para comercialização,
inexistência dos mesmos, e que alterava o sabor do
bem como a sanidade do rebanho.
as
condições
higiênico-sanitárias
produto final, em favor da qualidade do queijo as associações uniram-se numa luta contra a legislação
A Lei n° 14.185 de 2002 que regulamenta a
restritiva.
produção de queijo minas artesanal, estabelece que os queijos devem estar sob refrigeração e dentro de
A Lei Estadual 14.185 em 31 de janeiro de 2002 foi
embalagens plásticas apropriadas, vedadas a vácuo,
aprovada após um acordo entre o governo mineiro e
para
as representações dos queijeiros, onde se adotam
maturados, a comercialização pode ser realizada em
padrões sanitários para a criação do rebanho e para
temperatura ambiente e sem a necessidade de
a
artesanal,
embalagem, mas a identificação do produtor deve
possibilitando a continuidade desta, onde houve o
estar contida em baixo alto relevo no produto.
higiene
da
produção
do
queijo
queijo
não
maturados.
reconhecimento desse queijo como patrimônio cultu8003
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8001-8008, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006
Para
os
queijos
Artigo 448 – Queijos artesanais –Revisão
Segundo a portaria n°523, que dispões sobre as
O queijo minas do Serro é elaborado a partir do leite
condições higiênico-sanitárias e boas práticas na
cru adicionado do coalho e do "pingo". O "pingo" é
manipulação e fabricação do queijo minas artesanal,
uma porção de soro fermentado que se origina do
todos os utensílios utilizados durante o processo,
dessoramento de queijos produzidos no dia anterior
deverão ser confeccionados com material que não
e que é coletado em vasilhames e por fim utilizado
transmita substâncias tóxicas e que sejam de fácil
como
higienização.
características sensoriais tradicionais e peculiares
Além
disso,
dispõe
também
da
preocupação com parte dos ordenhadores, os quais
fermento,
ele
é
responsável
pelas
dos queijos minas artesanais.
deverão seguir todos os procedimentos necessários para a produção de queijos de alta qualidade, livre
Segundo um levantamento realizado pela Emater-
de quaisquer tipos de perigos.
MG, acrescido de um estudo no ano de 2011 também realizado pela Empresa de Assistência
Queijo Minas Artesanal
técnica e Extensão Rural do Estado de Minas
Segundo o regulamento técnico da Lei n° 14.185
Gerais, aponta que a região do Serro tem 1101
aprovado pelo decreto 42 645 do ano de 2002,
produtores, os quais produzem 3250 toneladas por
entende-se por queijo Minas artesanal ―o queijo
ano de queijo artesanal, gerando 2290 empregos,
elaborado na propriedade de origem do leite,
sendo que as propriedades ocupam uma área de
mediante a utilização de leite cru, hígido, integral e
7302 quilômetros quadrados.
recém-ordenhado. Basicamente são produtos que apresentam consistência firme, massa uniforme,
Pinto et al. (2009) buscaram avaliar a segurança
sabor característico, não sendo permitido a adição
alimentar do queijo minas artesanal do Serro, em
de corantes ou conservantes, apresentando alta
função da adoção de boas práticas de fabricação;
umidade.
para
isso
questionários
estruturados
foram
aplicados, assim como amostras de queijos foram O cuidado nas etapas de elaboração dos queijos
coletadas. Através desse estudo foi possível verificar
Minas é primordial para obtenção de um produto de
que as queijarias que adotavam as boas práticas de
qualidade e seguro do ponto de vista alimentar, haja
fabricação
vista que, esse processo apresenta vários pontos
microbiológica favorável, em relação às demais
críticos de controle e perigos de contaminação
queijarias, dessa maneira, uma correlação de
microbiológica. Existem diversos regulamentos que
qualidade e segurança alimentar pôde ser estipulada
certificam a produção e comercialização desse
em estabelecimentos produtores de queijo no Serro-
produto, porém, 46% dos produtores comercializam
MG.
possuíam
produtos
com
qualidade
seu produto sem fiscalização oficial. De acordo com Pinto et al. (2001), o queijo do Serro Queijo do Serro
é submetido por um período de maturação e cura,
Na região do Serro, a fabricação de queijo é uma
em torno de 15 a 20 dias. Esse processo é
atividade muito antiga, difundida pela trilha do ouro
importante para que o produto apresente uma casca
nas bagagens dos exploradores de minério. O
fina e amarelada, que após secagem apresenta um
desenvolvimento
brilho natural. A massa por sua vez, apresenta
cultural
desse
produto
se
estruturou com os habitantes deste município e que
característica
consistente
e
esbranquiçada,
ao longo do tempo se alastrou entre as cidades
possuindo olhaduras pequenas e numerosas.
vizinhas. Na década de 30, a fama do queijo do Serro se consolidou com a abertura da estrada que
O processo de elaborado de queijo Minas do Serro-
ligava Serro à Belo Horizonte e ao longo de vários
MG,
anos, a preservação dos costumes e maneira de
representado pela figura 1.
com
pequenas
variações,
pode
ser
produção forneceu um cenário para que em 2002 esse queijo fosse considerado patrimônio Imaterial
FIGURA 1: Fluxograma de elaboração do queijo
de Minas Gerais e em 2008, considerado com
minas
artesanal
da
região
do
Serro
–
MG.
patrimônio imaterial do Brasil (IPHAN, 2008). Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8001-8008, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006
8004
Artigo 448 – Queijos artesanais-Revisão
Junior et al. (2009) realizaram um estudo com diversos queijos produzidos nessa região, buscando avaliar a interferência das estações do ano na composição centesimal desses produtos. A grande variação observada para os constituintes do leite aconteceu entre as estações outono e inverno, mostrando assim, haver interferência da época do ano sobre as características nutricionais do queijo. Silva
et
al.
características
(2007)
também
físico-químicas
avaliando dos
as
produtos
provenientes da Canastra, observou uma grande variação entre a porcentagem de gordura dos queijos. A gordura é o constituinte que mais se altera no leite, essa alteração pode ser advinda de influências externas e/ou da própria genética e raça do animal, favorecendo para a oscilação do teor desse nutriente em seus derivados.
Queijo do Campo das Vertentes Em decorrência dos vales férteis e ao clima ameno da região, a comarca do Rio das Mortes (atual Campo das Vertentes), era a mais vistosa e a mais Fonte: Elaborado pelo autor.
abundante de toda a capitania, dessa forma foi estabelecida nesse local, toda uma estrutura voltada
Queijo da Canastra
para a capitania de gado de corte e leite, produtos agrícolas, doces e queijo. Os primeiros colonos no
O queijo da Canastra é uma tradição alimentar
Campo das Vertentes começaram a fabricar queijos
proveniente da colonização, quando a pecuária foi
com técnicas adaptadas do conhecimento trazido por
introduzida no princípio da colonização brasileira.
artesãos da região da Serra da Estrela em Portugal
Inicialmente, a produção desse derivado lácteo
(LEMOS, 2009; MOURA, 2002).
destinava-se a suprir a alimentação da população vinculada à atividade da cana de açúcar (ORNELAS,
Embora a produção de queijos na região do Campo
2005).
das Vertentes tenha tradição secular, apenas no ano de 2009 a mesma foi reconhecida oficialmente, por
Dentre as suas características principais, os queijos
meio da publicação da Portaria n° 1022 pelo IMA.
provenientes da Serra da Canastra- MG apresentam
Essa região é responsável pela produção de 313,51
como um produto que deve ser submetido ao
mil litros de leite, perfazendo cerca de 4% do total
processo de maturação por pelo menos 8 dias após
produtivo
sua elaboração. A produção do queijo gira em torno
característica, dentre os dez produtos com maior
de 375,5 toneladas por mês, sendo a principal
freqüência de produção e consumo, seis são queijos
atividade econômica de muitas famílias da região
(DUSI E ASSIS, 2011).
do
estado.
Por
apresentar
essa
(BORELLI et al., 2006). Sua produção é certificada pelo IPHA (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como patrimônio imaterial do
Castro (2015) em seu trabalho objetivou avaliar a
Brasil e possui selo de indicação geográfica,
qualidade
cobiçado por chefes de cozinha e consumidores
diferentes épocas do ano dos queijos frescos
brasileiros, sendo considerado um produto gourmet
artesanais dos produtores da região do Campo das
(TIEPPO, 2015).
vertentes.
8005
microbiológica
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.6, p.8001-8008, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006
e
físico-química
em
Artigo 448 – Queijos artesanais-Revisão
Verificou-se
nesse
temperatura
e
composição
dos
trabalho
influência
climática
da
estado de Minas Gerais se tornou possível
a
quando o IEPHA, pelo Decreto nº 42.505 de 15
essas
de abril de 2002 estabeleceu o registro como
dos
instrumento de proteção para bens culturais de
produtos e gera uma preocupação por parte dos
natureza imaterial. Com isso, o processo de
produtores
registro do Modo Artesanal de fazer Queijo de
características
variação
a
queijos
dificultam
cadastrados
sobre
avaliados,
a
padronização
em
cumprir
certas
legislações vigentes para esse tipo de queijo.
Minas – Patrimônio Cultural Mineiro foi efetivado em 7 de agosto de 2002 e teve como principal objetivo impelir o produtor a salvaguardar suas
Queijo de Araxá
tradições e identidade, fortalecendo o produto e
A região de Araxá possui mais de dois séculos de tradição nas práticas de produzir queijo, o consumo desse produto se constitui como um hábito alimentar da população, sendo indispensável na dieta dos
seu modo artesanal de fabricação, estimulando a manutenção da diversidade cultural. Certificação de qualidade
habitantes. Comprovando esse conceito, inúmeras
Pela Portaria nº 1305, de 30 de abril de 2013 do
referências histórico-culturais existem a respeito
IMA
desses
os
produtor que quiser se cadastrar como produtor
queijos provenientes da região de Araxá apresentam
de queijo minas artesanal deve seguir os critérios
identidade própria e processos de elaboração
estabelecidos pela portaria, tais como:
queijos
artesanais.
Particularmente
característicos do município. Na preparação desse
(Instituto
Mineiro
de
Agropecuária),
o
Certificado de conclusão do curso de
queijo observam-se os efeitos da maturação, onde
boas práticas de obtenção do leite e de
para esse produto surge um habitual processo de
produção
partia do estágio de meia-cura, dividindo uma etapa
envolvidos no processo de ordenha e de
até curar-se totalmente, normalmente, o local onde
produção
se realiza esse processo são girais de esteiras
propriedade, incluindo novos funcionários
(EMATER, 2017).
que
a
valorização
do
queijo
de
por
queijo
eventualmente
todos
os
dentro
venham
da
a
ser
contratados;
Patrimônio cultural imaterial Com
de
queijo,
sucedeu
do
propriedades
o
leite
produzido
rurais
onde
nas estão
localizadas as queijarias;
reconhecimento do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA MG) e
Analise
Controle
sanitário
dos
rebanhos
na
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
propriedade rural e a não comercialização
Nacional (IPHAN), e a criação do Programa de
do queijo minas artesanal sem a devida
Melhoria do Queijo Minas Artesanal executado pela
aprovação da rotulagem pelo IMA;
EMATER-MG e da concessão do selo de Indicação Geográfica pelo Instituto Nacional de Propriedade
A
maturação
deve
ser
realizada
a
temperatura ambiente.
Intelectual (INPI), em 2002. Juntamente com o processo de valorização do queijo, devido ao surto
Indicação Geográfica
de nefrite ocorrido no município de Nova Serrana,
Conhecidas há muito tempo em países europeus
em 1998, no centro oeste mineiro, as queijarias do
com grande tradição na produção de produtos
Serro tiveram que se adequar às normas da
alimentícios, as indicações geográficas indicam a
legislação sanitária que descaracterizaram o saber
procedência do produto, referindo-se ao nome do
tradicional (ABREU, 2015).
local onde o mesmo se tornou conhecido por produzir, extrair ou fabricar.
Segundo
Abreu
(2015),
o
reconhecimento
do
processo da produção artesanal do queijo minas no
Através da promulgação da Lei de Propriedade Industrial 9.279 de 1996, esse termo foi introduzido
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8001-8008, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006
8006
Artigo 448 – Queijos artesanais-Revisão
no Brasil, esse registro permite delimitar áreas
interpretativo. v. 1. Belo Horizonte. 2006.
geográficas, restringindo o uso de utilização de
DUSI, G. A.; ASSIS, A. G. de. O Pólo de excelência
nomes, apenas nas regiões certificadas, impedindo
como articulador do desenvolvimento sustentável
que outras pessoas ou instituições utilizem o nome
dos segmentos de produção e transformação do
do produto ou serviço indevidamente (BRASIL,
leite e derivados. In. A cadeia produtiva do leite
1996). Mediante a essa Lei, a Serra da Canastra
na mesorregião Campos das Vertentes de
possui esse registro de Indicação Geográfica, onde
Minas Gerais / Editores, Alziro Vasconcelos
apenas
Carneiro... [et al.], - São João Del Rei: Ed. UFSJ;
os
municípios
daquela
região
são
autorizados a utilizar o nome do queijo artesanal.
Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2011. 160p.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi
possível
observar
EMATER Governo de Minas – Manual Informativo
todos
os
processos
e
parâmetros dos queijos artesanais, principalmente os produzidos no Estado de Minas Gerais, os quais apresentam grande produção e representam fonte de economia de pequenos e médios produtores rurais.
www.emater.com.br/queijosartesanais.
Acesso
em 18/06. FEITOSA T; BORGES M. F, NASSU RT; AZEVEDO, E.H.F; MUNIZ, C.R. Pesquisa de Salmonella sp., Listeria
sp.
e
microorganismos
indicadores
higiênico-sanitários em queijos produzidos no
Mesmo apresentando certos pontos críticos na produção dos queijos, muitos produtores apresentam certificação de qualidade, tendo em vista que esse selo
Queijo do Serro e Araxá. Disponível em:
aumenta
a
visibilidade
do
produto
e
consequentemente enaltece a marca do produtor.
estado do Rio Grande do Norte. Revista Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas. dez. 2003. GLOBO RURAL. Queijos de Minas terão centros de
maturação.
Disponível
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spp.
And
other
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canastra
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V,
SOARES,
M.J.S
SILAVA,
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na
tradição
e
inovação
no/do
2009. 360f. Tese (Doutorado em Geografia) – Núcleo
de
Pós-Graduação
Qualidade microbiológica e físico-química em
Universidade
diferentes épocas do ano dos queijos frescos
Cristóvão, 2009.
Federal
de
em
Geografia.
Sergipe,
São
artesanais dos produtores da região do Campo
MINAS GERAIS. ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO
das Vertentes. Anais... II Congresso de Pesquisa
ESTADO DE MINAS GERAIS. Decreto n° 42.645,
e Inovação da Rede Norte, Nordeste e Sudeste
de 05 de junho de 2002. Aprova o regulamento da
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Lei nº 14.185, de 31/01/2002, que dispõe sobre o
COELHO MENESES, José Newton. Queijo Artesanal
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de Minas: Patrimônio Cultural do Brasil. Dossiê 8007
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8001-8008, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 448 – Queijos artesanais-Revisão
MOURA, A. P. de. Campo das Vertentes: sua origem e
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sua característica. Projeto As Minas Gerais –
Microbiológica e Sensorial de Queijos Minas
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Frescal Embalados sob Atmosfera Modificada.
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Quadrilátero Ferrífero. 2002. ORNELAS,
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físico-químicos
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Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8001-8008, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006
8008
Mudanças digestivas na cinética
Revista Eletrônica
de trânsito e de passagem em bovinos Ruminantes, digestibilidade, degradabilidade.
1
Taynara Raimundo Martins 2 Graciele Araújo de Oliveira Caetano 3 Messias Batista Caetano Júnior 1 Bruna Cristhina de Oliveira
Vol. 14, Nº 06, Nov./Dez. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
1
Zootecnista (UEG); Mestranda em Zootecnia (UFG). E-mail: taynara_enz@hotmail.com; brunacristhina13@hotmail.com 2 Mestre em Zootecnia (UFVJM); Doutoranda em Zootecnia (UFG). Gracielecaetano@outlook.com 3 Zootecnista (IFMG/ Bambuí). caetanozootecnia@hotmail.com
RESUMO
CHANGES IN KINETIC DIGESTIVE TRANSIT AND
A capacidade dos alimentos em fornecer nutrientes
PASSAGE IN CATTLE
aos animais é uma característica inerente e depende
ABSTRACT
da extensão de degradação e da taxa de passagem
Food providing nutrients to animals is an inherent
ao longo do trato gastrintestinal, o que determina por
feature and depends on the extent of degradation
um lado a qualidade do substrato, que pode ser
and rate of passage through the gastrointestinal tract
absorvido como consequência da digestão e, por
of the animal, which determines the quality of the
outro, condiciona a quantidade de alimento que pode
substrate, which can be absorbed as a result of
ser consumida pelo animal. No Brasil, a maior fonte
digestion and, and also determines the amount of
de alimentação dos animais ruminantes são as
food that can be consumed by the animal. In Brazil,
pastagens, caracterizadas pelo alto teor de fibra. Tal
the largest power supply of ruminant animals are
estrutura é de grande importância, pois seus
pasture, characterized by high fiber content. This
componentes estão relacionados à digestibilidade,
structure have a great importance, because its
fermentação ruminal e ao valor energético do
components are related to digestibility, ruminal
alimento, fatores estes diretamente relacionados à
fermentation and the energy value of the food,
produtividade animal. Um dos principais substratos
factors directly related to animal productivity. One of
energéticos para os animais que ingerem dietas
the main energy substrates for animals who eat diets
contendo volumoso é a fibra em detergente neutro
with roughage is the neutral detergent fiber (NDF),
(FDN), subdividida em uma fração indigestível e
divided into one indigestible fraction and other
outra digestível. O objetivo desse trabalho foi realizar
digestible. The aim of this study was to conduct a
uma revisão de literatura sobre a cinética de trânsito
review of the transit and passage kinetics of food in
e de passagem de alimentos em bovinos.
cattle.
Palavras-chave: ruminantes, digestibilidade,
Keyword: ruminants, digestibility, degradability.
degradabilidade.
8009
Artigo 449 – Mudança digestiva na cinética de trânsito e de passagem em bovinos
INTRODUÇÃO
Cinética de degradação ruminal
As mudanças digestivas são estabelecidas por
Utiliza-se ha vários anos a técnica de uso de sacos
fatores essenciais dos alimentos e por suas
de náilon incubados no rúmen, possibilitando estudar
interações com os processos cinéticos. Sendo
a degradabilidade ruminal dos alimentos consumidos
assim, a expressão quantitativa dos processos
pelos animais. São diversas as formas de realizar
cinéticos
este estudo sendo elas divididas em técnicas in situ,
de
digestão
e
passagem
torna-se
indispensável para estimar de maneira mais precisa
in vivo e in vitro.
a quantidade e composição dos nutrientes digeridos e sua eficiência de utilização pelo animal (ELLIS et
Para estimar a cinética de degradação tem se
al., 1994).
utilizado a técnica in situ com sacos de náilon que ficam incubados em bovinos fistulados no rúmen,
É fundamental conhecer a composição química e a
permitindo avaliar vários alimentos ao mesmo tempo,
digestibilidade dos alimentos para a formulação de
além de ter baixo custo e ser um procedimento
dietas balanceadas que propiciem aos animais
rápido, se comparado com o método in vivo.
expressarem o máximo do seu potencial produtivo. A
Contudo, em razão do contato dos microrganismos
capacidade dos alimentos em fornecer nutrientes
do rúmen com o alimento, pode suceder uma
aos animais é uma característica inerente e depende
contaminação por proteína de origem microbiana
da extensão de degradação e da taxa de passagem
dentro dos sacos utilizados podendo ocasionar uma
ao longo do trato gastrintestinal, o que determina por
subestimação da proteína bruta dos alimentos.
um lado, a qualidade do substrato que pode ser
Alimentos com baixos teores de proteína bruta são
absorvido como consequência da digestão e, por
mais susceptíveis a esse erro, uma vez que a
outro, condiciona a quantidade de alimento que pode
proporção de proteína de origem microbiana será
ser consumida pelo animal (OLIVEIRA, 2011).
maior quanto menor for o teor de proteína bruta do alimento (NOCEK, 1988).
São os alimentos que o animal consome que irão influenciar nas condições do ambiente ruminal, bem
É de suma importância compreender como ocorre a
como
fermentação
degradação dos alimentos no rúmen e isso se dá
microbiana. É a dieta fornecida que determinará o
através de estudos de avaliação de alimentos para
tipo de microrganismo que estará propício a se
ruminantes. Tabelas com parâmetros de degradação
desenvolver no rúmen. Dietas a base de forragem
ruminal de vários alimentos são disponibilizadas por
mantém as condições adequadas para o bom
instituições de pesquisa, o que facilita bastante o uso
desenvolvimento da flora microbiana e, propiciam o
na alimentação animal. Alguns trabalhos no Brasil
desenvolvimento
os
produtos
gerados
de
pela
e
estão voltados para o progresso desses parâmetros,
protozoários, por manter condições ideais de pH,
bactérias
celulolíticas
pois devido às condições edafoclimáticas das
aumentando assim
diferentes
o aproveitamento da fibra
(OLIVEIRA, 2013).
regiões,
principalmente
no
uso
de
forrageiras, muitas informações ainda não estão disponíveis (SARMENTO, 2010).
No Brasil, a maior fonte de alimentação dos animais ruminantes são as pastagens, caracterizadas pelo
Os
alto teor de fibra. Tal estrutura é de grande
degradação ruminal dos alimentos que constituem as
importância,
estão
dietas dos ruminantes são de suma importância para
relacionados à digestibilidade, fermentação ruminal
que as respostas econômicas decorrentes de modificações biológicas sejam esclarecidas (SNIFFEN et al., 1992). A cinética de degradação ruminal é retratada pelas curvas de desaparecimento de cada fração dos alimentos. Sendo assim, a descrição da taxa e da extensão da digestão é relevante para explicar as relações existentes entre a ingestão, a digestão e o
pois
seus
componentes
e ao valor energético do alimento, fatores estes diretamente relacionados à produtividade animal. Um dos principais substratos energéticos para os animais que ingerem dietas contendo volumoso é a fibra em detergente neutro (FDN), subdividida em uma fração indigestível e outra digestível (NOCEK, 1988).
conhecimentos
referentes
aos
tipos
desempenho de ruminantes (MERTENS, 1977).
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8009-8015, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006
8010
de
Artigo 449 – Mudanças digestivas na cinética de trânsito e de passangem em bovinos
Os períodos de incubação em medidas de intervalos
e da fração não degradável ou resíduo indigerido (I)
e frequência que são essenciais para o estudo da
da FDN da silagem de milho com diferentes aditivos
degradação, dependerão do tipo de alimento e da
alimentares.
fração a ser analisada. No momento em que o alimento incubado no rúmen é um volumoso, a
Nesse trabalho não foram registradas diferenças
degradação não se inicia imediatamente, sendo
(P>0,05) para a fração (b), a taxa de degradação (c),
esse tempo de colonização o período no qual não
a fração I e a degradação efetiva (DE) de FDN dos
ocorre digestão ou acontece de forma muito
tratamentos experimentais. Os valores de b, c e I
reduzida (BERCHIELLI et al., 2011).
obtidos para FDN no tratamento controle, sem aditivo (SCL), foram de 57,83%; 2,0%/h; e 36,16%,
Segundo Casali (2008), o tempo de incubação é
respectivamente.
uma das variáveis de maior influência sobre a representatividade dos resíduos indigestíveis em
TABELA
procedimentos de incubação in situ. Lusk et al.
potencialmente degradável (b), taxa de degradação
(1962), citados por Huhtanen e Kukkonen (1995),
da fração potencialmente degradável (c (%/h)) e da
avaliaram
e
fração não degradável ou resíduo indigerido (I) e
explicaram que, quando o objetivo for analisar a
degradação efetiva (DE) de FDN da silagem de
degradação da proteína e frações rapidamente
milho incubada em ambiente ruminal sem aditivos
fermentáveis (amido), os tempos de incubação
(SCL)
podem ser de 0, 2, 4, 8, 16, 24 e 48 horas. No caso
liofilizadas (SBL), enzimas celulolíticas (SEC) e
da degradação de forragens os tempos seriam de 0,
monensina (SMS)
a
degradabilidade
de
forragens
1:
ou
Valores
inoculado
da
com
fração
bactérias
insolúvel
ruminais
4, 8, 16, 24, 48, 72 e 96 horas. TRATAMENTO
b (%)
c (%)
I (%)
DE (%)
SCL (Controle)
57,83a
2,0a
36,16ab
53,60ab
SBL (LB)
66,89a
1,5a
29,46b
58,14ab
SEC (CE)
64,34a
2,0a
33,17ab
59,61a
incubação nesse intervalo, além de aumentar o
SMS (SM)
50,22a
2,1a
45,57a
47,54b
trabalho experimental, poderia interferir no processo
CV (%)
11,65
21,62
15,42
8,35
No entanto, essa variável pode ser
alterada
FDN
conforme o objetivo do estudo. Sampaio (1994) sugere para o estudo da degradação de forrageiras o intervalo de 6 a 96 horas e relata que três ou quatro tempos de incubação estimariam a equação de degradabilidade com a mesma eficiência que sete ou mais tempos. Maior número de tempos de
digestivo devido às constantes retiradas dos sacos do rúmen, o que certamente ocasionaria elevação do erro experimental e estresse animal.
Fonte: Adaptado de Katsuki et al., 2006.
Outro critério importante a ser considerado no
Com objetivo de avaliar o efeito da inoculação
desenvolvimento de dietas para ruminantes é a
ruminal com diferentes aditivos sobre a degradação
digestibilidade, pois é a partir dela que os nutrientes
da matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e fibra em
estarão disponíveis para atender as necessidades
detergente neutro (FDN) da silagem de milho no
nutricionais dos animais. Na avaliação de alimentos
rúmen, Katsuki et al. (2006) observaram que as
para
taxas de degradação (c) da MS e PB não diferiram
digestibilidade aparente, o qual é tradicionalmente
entre os tratamentos, indicando que os aditivos
estabelecido como a parte de determinado nutriente
avaliados
que não é excretado nas fezes (CARVALHO, 2012).
não
interferiram
na
velocidade
de
degradação da silagem de milho.
ruminantes,
utiliza-se
o
coeficiente
de
Existem diversas formas de expressar a digestão no animal. A digestibilidade pode ser expressa como
Na Tabela 1 podem ser observados os valores da fração potencialmente degradável (b), da taxa de degradação da fração potencialmente degradável (c) 8011
quantidade total de digestão independentemente do tempo. Em qualquer seguimento do trato digestivo, a digestão pode ser calculada como a porcentagem do
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8009-8015, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 449 – Mudanças digestivas na cinética de trânsito e de passagem em bovinos
resíduo digestível do nutriente por unidade de tempo
entre forrageiras quando baseada em perfis de
ou taxa fracionária de digestão Kd. Isto pode ser
excreção de Yb, mas foi mais longo para silagem de
combinada
para
forrageira do que para silagem de milho, baseado
determinar a quantia real de digestão em um
em dados de evacuação ruminal. A taxa líquida de
determinado ponto no tempo.
passagem não foi diferente, quando calculada a
com
o
tempo
pra
digestão
partir da média ou amostras de líquido ruminal Di Marco et al. (2005) avaliaram a digestibilidade in
ventral, indicando que as estimativas para a
vivo de duas silagens de milho para descrever sua
probabilidade de escape de líquido ruminal eram
cinética ruminal da digestão, em diferentes estágios
independentes do local de amostragem rúmen.
de maturação com a digestibilidade in vitro e a degradabilidade in situ as 24 e 48h de incubação
Matéria fibrosa no rúmen e sua dinâmica
ruminal. Os pesquisadores observaram que a
O fluxo de partículas é dependente de atributos da
digestibilidade in vivo (52,9%) não foi diferente (P>
digesta, e não apenas função da retenção em
0,05) da degradabilidade ruminal às 24h (55,6%); no
segmentos
entanto, foi inferior (P <0,05) aos resultados
(HUNGATE, 1966). A compartimentalização pode
encontrados para degradabilidade ruminal às 48h de
existir em qualquer segmento anatômico do TGI,
incubação (61,9%) se comparado a digestibilidade in
quando ocorre retenção e mistura das partículas
vitro
esses
recém-ingeridas com as já existentes. Baseado
procedimentos superestima a digestibilidade in vivo
nesse conceito, o autor sugeriu o modelo de dois
por cerca de 15%.
compartimentos no rúmen: o primeiro compartimento
(61,6%).
Em
outras
palavras,
anatômicos
do
trato
gastrintestinal
seria de ruminação com partículas grandes que não Por sua vez, Kramer et al. (2013) avaliaram cinética
passam através do orifício retículo-omasal e, o
de passagem de forragem e alimento concentrado
segundo compartimento constituído por pequenas
para determinar os efeitos intrínsecos e extrínsecos
partículas dispersas na fase líquida, possibilitando o
da ração sobre o tempo de retenção da fibra no
escape do rúmen (Figura 1).
rúmen. Dezesseis vacas holandesas (557 ± 37 kg de peso corporal, 120 ± 21 dias em lactação), sendo
FIGURA 1 - Representação esquemática dos
oito animais providos de cânulas ruminais, foram
processos que envolvem o pool heterogêneo no
utilizadas em um experimento delineado em blocos
rúmen-retículo
casualizados.
Nesse
trabalho,
os
tratamentos
diferem no tipo de forragem (silagem de milho vs. silagem de capim) e relação volumoso: concentrado (50:50 vs. 75:25 em base de matéria orgânica). A cinética de fibra de passagem foi estudada com base em evacuações ruminais e em perfis do marcador nas fezes. Cada vaca recebeu itérbio (Yb) na fibra da forragem da ração, samário (Sm) marcado na fibra da forragem que não foi fornecida na ração, e fibra marcado com lantânio (La) no concentrado, tudo como uma dose pulso único. Dezenove amostras de fezes retais foram coletadas
Fonte: Vieira et al.(2008).
por vaca. A passagem do líquido ruminal foi estudada usando o cromo-EDTA administrado como um único pulso no rúmen, seguido por amostragem de líquido ruminal, tanto do rúmen ventral e quanto
De acordo com Vieira et al. (2008), o alimento ingerido formará o raft no rúmen, o qual é considerado um pool de partículas segregadas formado por moléculas recém-ingeridas e partículas
no medial.
de maior tamanho. Os processos digestivos sofridos O tempo médio de retenção no rúmen não diferiu
pelo alimento vão gerar uma entidade digerível nas partículas do raft (PRd) e uma entidade indigerível
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8009-8015, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006
8012
Artigo 449 – Mudanças digestivas na cinética de trânsito e de passagem em bovinos
do raft (PRi). Os processos de digestão são
da toma. Os nutrientes que se solubilizam mais
cineticamente descritos pela taxa de digestão (Kd),
rapidamente e os conteúdos celulares são liberados
que se supõe ser exponencialmente distribuída pelo
e fermentados primeiro seguidos sequencialmente
tempo.
pelos componentes mais resistentes (OLIVEIRA et al., 2007).
Caetano et al. (2014) afirma, a partir da figura, que as partículas do pool PRi não conseguem escapar
A fermentação pode ser influenciada pela energia
do
transferência
disponível ao modificar as reações da fermentação.
progressiva de matéria do PRi para o pool de
Quando o ruminante ingere cereal, a elevada
partículas diluídas no fluído ruminal (PE). As
disponibilidade e a fermentação rápida determinam a
partículas
produção de mais hidrogênio metabólico, que pode
rúmen,
assim,
ocorre
resultantes
uma
desses
processos
são
agregadas a uma taxa de transferência simples de
ser desviado através de canais normais.
partículas do PR para o PE. As partículas do pool PE potencialmente digerível (PEd) serão digeridas à
Taxa de passagem A taxa de passagem ou de trânsito refere-se ao fluxo
taxa Kd, e a porção indigerível (PEi) será eliminada
de resíduos não digeridos através do trato digestório.
como a taxa de escape (K), a qual se supõe
O fluxo ruminal inclui além da fibra indigestível,
exponencialmente distribuída ao longo do tempo.
bactérias e outras frações não degradadas do alimento, sendo que a composição e o volume da
Fermentação ruminal
dieta são variáveis externas que influenciam a
A fermentação no rúmen é o resultado líquido de
digestão, a taxa de digestão e a reciclagem do
interações
conteúdo ruminal (VAN SOEST, 1994).
entre
diferentes
microrganismos
no
ecossistema. Conhece-se a existência de muitas interações
a
Pereira et al. (2007) com o objetivo de determinar a
sobrevivência dos microrganismos que intervém,
composição bromatológica de silagens de milho e
sendo muito mais sutil o efeito de outras. Também
sorgo com diferentes níveis de espigas e panículas e
tem
também avaliar a degradação ruminal da fibra em
sido
sendo
algumas
descrito
na
essenciais
literatura
para
exemplos
de
mutualismo, comensalismo e parasitismo no rúmen,
detergente
neutro,
verificou
que
o
valor
do
mediante o exame dos substratos, os padrões
coeficiente b para silagens de sorgo foi similar,
bioquímicos que intervém e os produtos finais
apresentando um valor médio da ordem de 80,68%.
obtidos nos cultivos puros.
Acredita-se que essas pequenas variações podem ser atribuídas à própria composição das silagens e
Sendo um resultado decorrente das atividades
as maiores diferenças, às perdas de partículas
microbiológicas,
durante as lavagens dos sacos. Observa-se
a
fermentação
ruminal
é
que
responsável pela transformação dos componentes
maiores taxas de degradação (c) para silagens
dos
em
constituídas de 0% e 30% de panícula, o que pode
subprodutos utilizados no metabolismo animal tais
ser explicado pela baixa inclusão de panícula,
como os ácidos graxos voláteis (AGVs), proteína
promovendo taxa de degradação/hora relativamente
microbiana e as vitaminas do complexo B. Esse
maior para a fração FDN quando comparados aos
procedimento também
demais níveis de inclusão de panícula.
alimentos
aproveitadas
(carboidratos
pelo
e
nitrogênio)
origina substâncias
indivíduo
(metano
e
não gás
carbônico), que são fisiologicamente eliminadas
Caetano et al. (2004) confirmando a importância da
(VAN SOEST, 1994).
avaliação dos alimentos para elaboração de dietas de qualidade, que minimizem custos proporcionando
A taxa de energia liberada pela fermentação varia
tomas por dia, a disponibilidade de alimento
melhores desempenhos produtivos dos animais e considerando diversidades na taxa de degradação de alimentos volumosos, avaliaram a cinética de trânsito de partículas e a degradabilidade da FDN da silagem
digestível e a atividade da maioria dos grupos
do resíduo da cultura do abacaxi (partes aéreas), em
microbianos experimentam o máximo declínio depois
diferentes densidades de armazenamento.
com o tempo transcorrido após uma toma de alimento. Quando os animais recebem uma ou duas
8013
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8009-8015, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 449 – Mudanças digestivas na cinética de trânsito e de passagem em bovinos
Observando os dados, nota-se que as frações
dietas contendo diferentes níveis de fibra. Viçosa:
potencialmente digestíveis da fibra padronizada (Bn)
Universidade Federal de Viçosa. 2002, 118p.
e fração indigestível da fibra padronizada (Un), para
Tese (Doutorado em Zootecnia).
3
CASALI, A.O.; DETMANN, E.; VALADARES FILHO,
demonstrou ser mais eficiente proporcionando uma
S.C.; PEREIRA, J.C.; CUNHA, M.; DETMANN,
fração
e
K.S.C.; PAULINO, M.F. Estimação in situ dos
consequentemente uma fração indigestível menor
teores de fibra em detergente neutro indigestível
em relação aos demais tratamentos.
em alimentos para ruminantes em sacos de
o tratamento com compactação a 900 kg/m potencialmente
digestível
maior
diferentes TABELA 2. Valores obtidos por meio de análise de estrutura de variância-covariância para as variáveis: fração
potencialmente
digestível
da
tecidos.
Revista
Brasileira
de
Zootecnia, 2008. DI
MARCO,
O.N.;
AELLO,
M.S.;
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Compactação
Variáveis
(Kg/m³)
Bn
600
0,5590
700
0,5461
900
0,6276
1000
M.R.;Methodology for estimating digestion and Un
b
passage kinetics of forages. In: FAHEY JR., G.C. a
0,4410
b
0,4539
a
a
0,3724
b
a
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0,5788
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e
SARMENTO,
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Composição
Médias seguidas de pelo menos uma mesma letra na coluna não
Química
diferem (P < 0,05)
Gramíneas do Gênero Cynodon . Montes Claros:
Fonte: Caetano et al. (2014).
Degradabilidade
Ruminal
de
Universidade Estadual de Montes Claros. 49p Dissertação
CONSIDERAÇÕES FINAIS A digestão e
e
a passagem
atuam
de forma
(Mestrado
em
Zootecnia)
-
Universidade Estadual de Montes Claros, 2010.
simultânea e competitiva para a remoção da digesta
HUHTANEN, P.; KUKKONEN, U. Comparison of
no rúmen, sendo necessário, então, estudar os
methods, markers, sampling sites and models for
efeitos combinados da digestão e da taxa de
estimating digesta passage kinetics in cattle fed at
passagem para maximizar o consumo de nutrientes
two levels of intake. Animal Feed Science and
digestíveis. Deste modo, compreender como o
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Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖ (BPF) na produção de ração
Revista Eletrônica
Alimento, animal, equipe, segurança alimentar.
Andressa da Silva Formigoni Vol. 14, Nº 06, Nov./Dez. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
Gislaine de Castro Marcelo
1
2
3
Andressa Nathalie Nunes
1
Professora do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul. 2 Estudante de Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul. 3 Doutora do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Federal de Minas gerais – UFMG. E-mail: natydressa2009@hotmail.com
RESUMO A utilização de sistemas de gestão da qualidade na
ração, pois podem mensurar resultados ligados a um
IMPORTANCE OF THE "GOOD MANUFACTURING PRACTICE" (GMP) PROGRAM IN FEED PRODUCTION ABSTRACT
planejamento estratégico de gastos fazendo com
The use of quality management systems in food
que isso reduza a perda de matérias-primas, além
production is extremely useful and applicable in all
disso, aumentando a qualidade do produto final e
segments of the feed mills, it can measure the
melhorando o ambiente de trabalho da equipe de funcionários. O programa de qualidade que está mais em foco neste setor nos últimos tempos é conhecido como ―Boas Práticas de Fabricação (BPF)‖. A adoção desse programa de qualidade reflete na otimização de todos os processos durante a fabricação de ração, de pessoas e recursos, melhorando a forma de conduzir o sistema como um todo e ampliando a competitividade da empresa. Diante disso, o trabalho se trata de uma revisão bibliográfica que discorre sobre a importância da utilização e aplicação do programa de BPF na produção de rações para animais, com a finalidade de se evitar a ocorrência de doenças transmitidas por alimentos e melhorar as condições higiênicas sanitárias do processamento destes, bem como aperfeiçoar a estrutura de administração dos recursos humanos, aumentando tanto a competitividade como os lucros das indústrias de alimentos utilizando-se dos procedimentos deste programa de qualidade.
concomitant results of a strategic plan that reduces
produção de alimentos é extremamente útil e aplicável em todos os segmentos das fábricas de
Palavras-chave: alimento, animal, equipe, segurança
alimentar.
spending causing the loss of raw materials, in addition, increasing the safety of the final product and improving the working environment of staff. The quality program that is more in focus in this sector in recent times is known as "Good Manufacturing Practices (GMP)." The adoption of this program reflects the quality optimization of all processes during manufacturing of food, people and resources to drive improving the way the system as a whole and increasing the company's competitiveness. Thus, the present work is a literature review that discusses the importance of the use and application of GMP program in the production of animal feed, in order to avoid the occurrence of foodborne illness and
improve
hygienic
conditions
sanitary
processing thereof, as well as improve the structure of human resource management, increasing both the competitiveness and profits of the industries of food using the procedures in this quality program. Keyword:
8016
the
animal,
food,
food
safety,
team.
Artigo 450 – Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖(BPF) na produção de ração
INTRODUÇÃO
consolidação, é necessário o treinamento da mão de
O mundo globalizado exige eficiência na produção
obra por um líder, o qual estimula um bom trabalho
de animais de forma a aumentar a competitividade e
em equipe, mudanças de comportamento de todos
credibilidade da empresa no mercado nacional
os envolvidos e definição das funções de cada
simultaneamente às novas exigências presentes no
membro
mercado consumidor (CALARGE 2007).
PRÁTICAS AGROPECUÁRIAS).
Como a alimentação dos animais pode corresponder
A seguinte revisão tem por objetivo discorrer sobre a
até 70% dos gastos totais em uma criação, as
importância do programa de Boas Práticas de
despesas
Fabricação (BPF) em fábricas de ração.
na
produção
de
alimentos
refletem
(MANUAL
BRASILEIRO
DE
BOAS
diretamente no crescimento de uma empresa nesse cenário global. Dessa forma, uma das ferramentas
REVISÃO DE LITERATURA
de gerenciamento consiste nas Boas Práticas de
A aplicação das BPFs nas fábricas de ração é um
Fabricação, as quais correspondem a procedimentos
dos grandes desafios da atualidade, assim como um
operacionais de higiene e sanidade que envolve todo
tema bastante amplo, devido a sua aplicação em
o fluxo de produção, desde matérias-primas até a
qualquer empresa que trabalha ou utiliza dos
distribuição do produto final, com intuito de garantir
serviços de oferecimento de alimentos (OLIVEIRA,
conformidade, qualidade e segurança dos produtos
2011).
destinados à alimentação animal. Este programa originou-se devido ao mercado Para
o
estabelecimento
desse
programa
de
consumidor ter se tornado mais exigente a respeito
qualidade, são feitas análises da gestão econômica e
das
necessidades
de
produzir
alimentos
com
sanitária, adequações das instalações e ambiente da
qualidade sanitária e nutricional satisfatória (MAPA -
empresa que busca atender as exigências do
Instrução Normativa 4/2007), bem como a crescente
mercado consumidor e, por fim a conscientização
demanda por rações e suplementos para animais de
sobre a participação de todos os funcionários da
produção com intuito de garantir primariamente
fábrica. Independente da capacidade de investimento
segurança aos criadores e, de forma secundaria,
de cada empresa há uma tendência a resultados
potencializar o aproveitamento da ração.
positivos quando se aplica a BPF, pois ocorrem organização e planejamento da produção diária (AMARAL et al., 2006).
O órgão que estabelece os procedimentos e certificação representa-se pelo MAPA (Portaria 368), o qual exige registro dos estabelecimentos que
Exemplificado por maior disponibilidade de
comercializam rações para adequação das normas
alimentos;
higiênicas sanitárias, de segurança e rastreabilidade,
Diminuição da quantidade de alimentos deteriorados;
Menor desperdício;
Evitar contaminações cruzadas;
Produção mais econômica;
Menor risco de ocorrência de intoxicações;
Surtos de doenças e parasitoses;
seja suplementos, ingredientes ou aditivos. O manual de BPF é um documento que descreve a situação real das operações e dos procedimentos realizados
pelo
estabelecimento,
incluindo
os
requisitos sanitários, a manutenção e higienização das instalações, dos equipamentos e utensílios, o controle da água de abastecimento, o controle integrado de vetores e pragas urbanas, o controle da
Por ser uma ferramenta de controle financeira
higiene e saúde dos manipuladores, cujo propósito é
também facilita a gestão da fabricação em toda
estabelecer
cadeia de produção, otimiza os custos de correção,
segurança do produto final (BRASIL, 2004; BRASIL,
produz produtos mais uniformes e reduz a maioria
2002).
uma
sistemática
para
garantir
a
dos prejuízos que inviabilizariam o negócio.
A utilização da BPF traz como uso do sistema de Além disso, um dos requisitos básicos, para sua 8017
gestão de qualidade; que consiste em oferecer
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Artigo 450 - Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖(BPF) na produção de ração
padrões de qualidade a todas as atividades de
relação com o ser humano que atua nos processos
fabricação de um produto na execução de um
envolvidos, conservando a saúde animal, segurança
serviço, visando assegurar a qualidade de seu
e bem-estar qualificando os aspectos de higiene,
produto tal como busca constante da excelência nos
sanidade, desinfestação e disciplina operacional
aspectos de segurança, identificação, concentração,
(CANTO, 1998).
pureza e qualidade (ALVES, 2003). A aplicação das BPFs garante aos produtos Consiste de uma forma de conceito abrangente, tais
aspectos
como:
concentração, pureza e qualidade. Além disso, as
como
segurança,
identificação,
Participação da mão de obra;
empresas que adotarem as BPFs obterão seus
Condições do uso de equipamentos;
lucros além de evitar problemas que futuramente
Conservação da matéria-prima;
poderão obter uma imagem de respeito no mercado
Uso de embalagens;
consumidor.
Uso e preservação de rótulos;
Manutenção adequada em armazenamento de insumos;
Assegurar distribuição
o
uso e
de
transportes
qualidade
do
na
produto;
(CANTO, 1998).
Controle de qualidade de matérias-primas De acordo com França (2013), um bom controle de qualidade envolve alguns passos fundamentais como:
A razão da existência das BPFs está em ser uma
Conhecer padrões de qualidade e normas de
ferramenta poderosa para combater os riscos de
manuseio e armazenagem de cada matéria-
contaminações microbiológicas, físicas e químicas.
prima. Portanto, para podermos produzir
Apresentando 3 pontos positivos na atuação da BPF.
boas rações, as matérias-primas devem apresentar boas condições gerais;
O primeiro objetivo diz respeito a uma unificação da
linguagem dos princípios básicos de como ter e obter BPF para produtos destinados à saúde humana e
local fresco e ventilado;
animal. O segundo objetivo está em comprovar que a empresa que faz uso das BPF já se encontra em
em que vivemos. O terceiro objetivo é proporcionar que a meta seja atingida, em toda a sua amplitude e qualidade assegurada dos produtos gerenciados. (CANTO, 1998).
O lote deve estar rotacionado com a maior frequência possível;
estágio superior na qualidade de seus produtos, o que é importante no mercado competitivo e global
Ser armazenadas em menor tempo possível em
Quando ensacadas, armazenadas em pallets afastadas do piso e das paredes;
Quando granel, armazenadas em silos limpos e em boas condições de manutenção, não sofrer variações no controle de temperatura durante todo o período de armazenagem, acaso isso ocorrer a uma temperatura acima de 5°C em relação à temperatura ambiente, o certo a fazer
As BPF constituem em uma poderosa forma de mecanismos de defesa no controle e combate a
é verificar a circulação de ar no silo e remontar os lotes armazenados em pallets.
prevenção de contaminações, na fabricação de um produto que não prejudique a saúde animal.
Seleção de fornecedores que é sem dúvida um dos itens mais importantes na obtenção
Essa forma deve ser utilizada de maneira clara e transparente no processo de fabricação desses produtos,
através
de
seus
componentes
fundamentais e princípios mínimos básicos, para a obtenção
da
qualidade
assegurada.
Convém
também assegurar que as BPFs mantêm estreita
de matérias-primas de qualidade. Adquirir produtos de fornecedores idôneos, que possuem um bom controle do processo e dos padrões dos produtos de qualidade a serem
comercializados,
reduzindo
a
necessidade de controles por parte de quem Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8016-8025, nov./ dez, 2017. ISSN: 1983-9006
8018
Artigo 450 – Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖ (BPF) na produção de ração
os adquire, e garante maior segurança na utilização
do a especificação da compra. Deverá ter suficientes
dos mesmos. Algumas empresas do setor possuem
informações do Sistema de Qualidade e estar
um cadastro dos fornecedores, onde eles são
habilitado a reconhecer a qualidade aparente dos
classificados e premiados pela qualidade de seus
ingredientes e ter suficiente autoridade para recusar
produtos e serviços prestados (pontualidade e
o produto antes
flexibilidade na entrega, etc.). Hoje em dia no
ingredientes que chegam até a fábrica devem ser
mercado atual já se observa preocupação no sentido
retiradas e analisadas fisicamente através de testes
de garantir qualidade. Um exemplo típico é o setor
qualitativos rápidos e, posteriormente, arquivadas
de farinha de carne, onde os fornecedores se unem
para diminuir dúvidas posteriores por problemas que
no sentido de estabelecer normas e controles de
possam ocorrer com o produto final (BUTOLO,
bactérias em seus produtos. Esta medida visa
2002).
da descarga. Amostras
dos
Fatores críticos:
entregar um produto de melhor qualidade e com isso
garantir o aumento no volume de venda. Inspeção no recebimento de análise física, cujo objetivo é
Amostragem: a amostra deve representar as características do lote;
detectar problemas de qualidade de matéria que pudessem inviabilizar seu uso fazendo com que isso fosse limitado ou direcionado. Através da análise física visuais pode-se detectar 90% dos problemas
Análises: físicas, químicas e microbiológicas;
Limpeza: transportadores, silos e armazéns (SILVA, 1998).
mais comuns ocorridos em ingredientes presentes em controles de recebimento, tais como análise da
Armazenagem: A estocagem de produtos a granel
matéria- prima de forma geral, que deve ser feita por
deve ser muito bem controlada, evitando misturas de
indivíduo que tenha experiência nessa função, ou
ingredientes de qualidade diferenciada ou produtos
seja, que conheça seu padrão de cor, odor,
diferentes.
uniformidade e textura; e análise de umidade.
receber maiores cuidados quanto à identificação dos rótulos
Matérias-primas e
lotes,
ensacadas
em
devem
especial
produtos
Análise laboratorial (análise química) que mostrará
medicamentosos, aditivos e micro minerais, que
dados sobre a qualidade e valor nutricional da
devem ser cuidadosamente catalogados para evitar
matéria-prima.
o uso indevido, principalmente quanto às suas concentrações
(BUTOLO,
2002).
Cuidados
Processo de produção e pontos críticos de
adicionais devem ser tomados quando a matéria-
controle
prima for armazenada por um maior período. Se
O processo de produção de alimentos deve ser cuidadosamente analisado, com o objetivo de reduzir os perigos de contaminação e prever planos de ação, caso ela ocorra (ALVES, 2003), e apontar os fatores críticos de controle de qualidade. Esse processo consiste em:
tratando de armazenagem a granel, o ponto principal de controle é o monitoramento da umidade e da temperatura
no
interior
da
massa
granular.
Observando que alguma alteração de pontos de aquecimento deve ser providenciada a aeração quando o silo for dotado de um sistema que permita uma transilagem quando a primeira alternativa não
Recepção: A área de recepção é a última linha de
for possível (ALVES, 2003).
defesa que previne a chegada de ingredientes de baixa
qualidade
à
produção,
pois
uma
vez
Fatores críticos:
descarregados em uma área com destino a um silo
•
Controle de umidade/temperatura;
de armazenamento, dificilmente pode-se diferenciar
•
Controle sobre aves, fungos, insetos e
e separar os ingredientes de baixa qualidade
roedores;
daqueles de boa qualidade. Portanto, o responsável
•
Qualidade das sacarias;
da recepção deve se antecipar antes de adquirir um
•
Estabilidade das pilhas de sacarias;
produto de qualidade desconhecida sempre analisan-
•
Controle
do
tempo
(SILVA, 1998). 8019
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de
armazenamento
Artigo 450 – Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖ (BPF) na produção de ração
Moagem: Os ingredientes que necessitam passar
•
por um processamento de moagem são os grãos de
(roscas ou válvulas);
cereais como: milho, sorgo, triticale ou ainda,
•
ingredientes politizados, como farelo de soja e
precisão e aferição periódica;
algodão. Muita atenção precisa ser dada ao
•
processamento,
comporta (SILVA, 1998).
pois
o
produto
resultante
do
Dimensões corretas dos elementos dosadores Balanças: em número suficiente, faixas de Misturador: não pode haver vazamento na
processo deve ser uniforme para ser bem aceito pelos animais, não devendo permitir segregação
Extrusão: É um processo contínuo, onde os
quando
ingredientes, no geral, após serem misturados são
em
mistura
com
outros
ingredientes da
passados através de uma matriz ou molde. A massa
granulometria é um fator decisivo para a mistura,
misturada no processo de extrusão também é
pois quanto maior a uniformidade das partículas,
colocada em contato com altas temperaturas e
melhor será a mistura (SILVA, 1998). Para que o
pressões,
processamento seja consistente, é importante um
profundas dos ingredientes, ocorrendo uma forma
programa de manutenção dos equipamentos que
gelatinosa
assegure que os mesmos atingem a performance
esterilização. A extrusão provoca uma expansão do
para que foram projetados (BUTOLO, 2002).
produto e, em consequência, o peso específico final
(BUTOLO,
2002).
Assim,
a
adequação
do
passando do
alimento
por
amido,
é
menor
transformações fricção
mais
molecular
(BUTOLO,
2002).
e
A
complexidade do processo de extrusão implica que
Fatores críticos:
variações repentinas na constituição da matéria•
Manutenção do moinho;
prima, combinadas com o percentual de umidade e
•
Teor de umidade do produto a ser moído;
vazão de farinha, associadas ao desgaste dos
•
Ajuste das peneiras;
elementos de configuração do parafuso e camisa da
•
Ajuste da rotação e distância entre peneira e
extrusão provocadas por profundas modificações na
martelete (SILVA, 1998).
qualidade do produto final (MENDES, 2003).
Pesagem e Mistura: A pesagem e a mistura são o coração de uma fábrica de alimentos (BUTOLO,
Fatores críticos: • Amperagem de trabalho;
2002). A dosagem, por se tratar de uma atividade
•
Temperatura de trabalho;
repetitiva e monótona, induz ao erro humano,
•
Formato do alimento e tamanho;
necessitando, portanto, ser automatizada sempre
•
Umidade de saída; expansão e densidade;
que possível. Caso contrário, deve-se investir em
•
Limpeza (SILVA, 1998).
treinamento dos operadores e em controles (SILVA, os
Secagem: O material deve ser seco por etapas, com
ingredientes que vão constituir o alimento sejam
maior taxa de secagem nas duas primeiras câmaras
corretamente pesados e que, depois de misturados,
do secador de acabamento e resfriamento nas
tornem-se um produto homogêneo. A uniformidade
últimas câmaras. Cuidados devem ser tomados para
da mistura é muito importante porque não é possível
que o material não sofra nem somente uma secagem
obtermos performances zootécnicas máximas se o
superficial, nem tão pouco tostagem, que por certo
alimento foi mal misturado. Misturas pobres resultam
comprometerá a sua adaptabilidade (ALVES, 2003).
1998).
em
É
baixas
absolutamente
produções
essencial
zootécnicas,
que
isto
é,
a
performance do animal é afetada. É essencial que
Fatores críticos:
os misturadores sejam monitorados periodicamente
Controle do teor de umidade
para assegurar que estão produzindo um produto
Calibração do secador;
uniforme (BUTOLO, 2002).
Secagem uniforme;
Material frio na saída;
Fatores críticos:
Limpeza do equipamento;
•
Velocidade da esteira do secador (SILVA,
Mecanismos adequados nos silos de
dosagem: queda uniforme do produto;
1998).
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8020
Artigo 450 - Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖ (BPF) na produção de ração
Engorduramento:
A
adaptabilidade
e
a
intratabilidade do alimento dependem da prática de
evitar que essas embalagens sejam as últimas dos blocos na estocagem (BUTOLO, 2002).
engorduramento. Portanto, devem ser dispensados certos cuidados para que essas duas características
Recursos Humanos
desejáveis não sejam comprometidas com dosagens menores e que a adição de dosagens maiores de aditivos não transformem o produto em substrato para fungos e bactérias, aumentando o custo de
No atual estágio tecnológico, as máquinas e equipamentos,
quando
operados
por
pessoas
competentes as maquinas são utilizadas com racionalidade e dentro de um plano estratégico, são
produção (ALVES, 2003).
eficientes meios que permitem potencializar a Fatores críticos:
capacidade do negócio para gerar riquezas. Caso
•
Regulagem dos dosadores;
contrário, se esse equipamento for utilizado por
•
Quantidade de aditivos;
pessoas inaptas ou adquirido sem um planejamento
•
Limpeza dos equipamentos (SILVA, 1998).
estratégico, passará a ser um meio de potencializar a geração de prejuízos. O equipamento é o mesmo,
Resfriamento: A etapa de resfriamento ocorre após
a diferença está nas pessoas por trás dele. Os
o engorduramento e tem como objetivo reduzir a
funcionários
temperatura do produto até a temperatura ambiente,
responsáveis pelos resultados de uma empresa, no
evitando que ocorra condensação nas paredes dos
trabalho essas pessoas que se tornam capazes se
silos de produto acabado, quando este é estocado
comprometem em impulsionar o negócio em um
nos silos para o ensaque (ALVES, 2003).
grande desafio para o administrador. Afinal de contas,
o
seu
são,
em
próprio
grande
parte,
desempenho
estará
relacionado à competência de sua equipe na
Fator crítico:
ainda
Temperatura
e
tempo
de
resfriamento
execução das atividades (SILVA et al., 2008).
(SILVA, 1998). Dessa forma, o programa de BPF ainda consiste no Ensaque: O acondicionamento do produto acabado
treinamento da mão de obra por um líder, o qual
em sacarias facilita as operações de transporte e
estimula um bom trabalho em equipe, mudanças de
comercialização de pequenos volumes, bem como a
comportamento de todos os envolvidos e define
estocagem convencional de pequenas e grandes
funções de cada membro. O líder deve considerar o
quantidades (ALVES, 2003).
tempo necessário para atingir os objetivos, quais as metas
Fatores críticos:
Rotulagem das balanças de ensaque; Qualidade da sacaria;
Fechamento da sacaria;
Desperdícios de produto;
de
participantes,
transformar
complexa
simples
em
entendimento
instrução
dos
de
todos.
uma
para Os
fácil
metodologia assimilação
colaboradores
do
processo devem ser treinados a fim de reduzir os riscos com acidentes de trabalho, ter agilidade nas ações, organizar procedimentos de forma a manter um
Permeabilidade ao vapor de água (SILVA, 1998).
nível de sanidade
ambiente
(MANUAL
satisfatório no
BRASILEIRO
próprio
DE
BOAS
PRÁTICAS DE AGROPECUÁRIAS).
Transporte: Cuidados especiais devem ser tomados quando o transporte é feito a longa distância, protegidos
por
caminhões
abertos,
lonas,
se
para
transportados evitar
absorção
em de
umidade em casos de intempéries e os sacos dos produtos que ficam na superfície devem ser os primeiros a ser utilizados, descarga monitorada, para 8021
grau
funcionários, desenvolver o comprometimento dos
esperadas,
É
necessário,
portanto,
dar
ênfase
ao
desenvolvimento e treinamento das pessoas para capacitá-las a aplicar as regras das BPFs, com o objetivo de obter processos claros, livres de defeitos, desvios e contaminações de todo e qualquer tipo, que resultem no final sem prejudicar os produtos e os serviços seguros.
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Artigo 450 - Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖ (BPF) na produção de ração
O líder e os funcionários participam ativamente dos
O treinamento dos colaboradores deve ser feito de
processos envolvidos na produção de ração com
duas formas: expositiva e prática, aumentando a
qualidade. Adotam critérios rígidos no recebimento
motivação e a capacidade de resolução e prevenção
das matérias-primas, garantem da potabilidade da
dos problemas diários da empresa por meio de
água que deve ser adequada para o consumo
reflexões sobre situações já vivenciadas.
(ANVISA, 2007), fazer a limpeza e manutenção de equipamentos, silos e cochos, possibilitando, assim,
A questão vital é formar e manter uma boa EQUIPE
a ingestão de uma ração balanceada sem provocar
DE TRABALHO. Além disto, ter manuais orientativos
riscos
maquinário
que definam: que, onde, quando, como, quem
vistoriando quanto á conservação e desgaste das
(manuais de procedimentos, manual de padrões,
peças (OLIVEIRA, 2011).
manual de limpeza, organização e desinfecção e
à
saúde
dos
animais,
em
manual para segurança no trabalho). Usar outras O armazenamento e monitoramento dos resultados
ferramentas
pela equipe requer existência de reuniões e
diagnóstico dos riscos e controle de pontos críticos
auditorias periódicas para avaliar o cumprimento das
de processo (KLEIN, 1999).
funções,
existir
clareza
na
divisão
gerenciais
como,
por
exemplo,
de
responsabilidades, limites de ações e atribuições,
Aspectos Positivos e negativos advindos das
mensurar
BPFs
índices
identificação
de
técnicos
e
falhas
econômicos,
operacionais
ou
administrativas, evitar improvisações no manejo.
exigências das BPFs em um período de médio em
A implantação das BPFs pode apresentar alguns entraves como instrução e treinamento da força de trabalho
insuficiente,
número
reduzido
de
funcionários, frente ao elevado volume de serviços, dificuldade no controle da documentação assim como
elaboração
de
rotinas,
aquisição
A expectativa verificada das empresas atenderem as
de
longo prazo denota dificuldades inerentes a um processo que na maioria das vezes implica em mudanças da cultura organizacional, bem como restrições de ordem financeira ou técnica que a empresa deverá superar. Dessa forma, Calarge et al. (2007) fizeram um
equipamentos laboratoriais ou equipamentos muito
estudo
antigos
empresa
pesquisadas quais as principais dificuldades que as
inadequadas e mão de obra brasileira relativamente
mesmas tinham enfrentado ou estavam enfrentando
barata em relação aos países desenvolvidos.
em relação à implementação das BPFs, e os pontos
ou
instalações
físicas
da
o
qual
verificou
junto
às
empresas
positivos, considerando três abordagens principais: O líder deve considerar o tempo necessário para atingir os objetivos, quais as metas esperadas, grau de instrução
dos
funcionários,
desenvolver
o
comprometimento dos participantes, transformar uma metodologia
complexa
em
simples
para
fácil
assimilação e entendimento de todos. De acordo com Silva
&
Correia
(2009),
o
treinamento
envolve
atividades com o objetivo de instruir, treinar e capacitar os profissionais que trabalham no preparo de alimentos (manipulação
e
processamento),
por
meio
de
organizacional, tecnológica e financeira. Em
relação
abordagem
às
dificuldades,
organizacional,
considerando
verificou-se
que
a os
aspectos relacionados ao desconhecimento da força de trabalho sobre o sistema BPF (83%) e o pequeno número
de
funcionários
dedicados
ao
desenvolvimento dos trabalhos (67%), foram os mais citados pelas empresas pesquisadas. Tais aspectos
mecanismos que possibilitem a transmissão dos
são característicos na implantação de sistemas de
conceitos
técnicas
qualidade que podem estar sujeitos à certificação ou
operacionais e de informações sobre o controle
auditorias, pois a força do trabalho da empresa deve
higiênico-sanitário, para a devida conscientização
ter um conhecimento das normas, procedimentos e
profissional e sua mudança comportamental. É
instruções de trabalho definidas, implicando em
importante ressaltar que esses treinamentos devem
significativos
ser revisados, reforçados e atualizados, sempre que
treinamento.
for necessário.
relacionados ao entendimento da norma, elaboração
importantes
sobre
as
esforços Em
de
conscientização
contrapartida,
e
aspectos
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8022
Artigo 450 - Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖ (BPF) na produção de ração
da
documentação
insuficientes,
e
requerida,
baixo
treinamentos
envolvimento
da
implantação das BPFs, caracterizou-se pela conver-
alta
gência de opinião das empresas respondentes,
administração foram citados por apenas 24% das
considerando o estágio em que as mesmas se
empresas como fatores negativos na implementação
encontravam na sua implementação. Verificou-se
das BPFs.
que a totalidade das empresas indicou que houve melhoria no ambiente organizacional, envolvendo
No tocante à abordagem tecnológica, o principal
fatores relacionados à organização, ao treinamento,
aspecto negativo citado pelas empresas foi a obso-
à motivação e ao envolvimento da força de trabalho
lescência dos equipamentos (45%). Uma possível
nas empresas. Outros benefícios citados por 92%
causa deste aspecto verificado junto a alguns
das empresas foram: aumento da qualidade dos
respondentes
produtos,
da
pesquisa,
é
que
parte
das
redução
dos
custos
operacionais
e
empresas do ramo veterinário apresenta um parque
melhoria da imagem da empresa. Estes benefícios
fabril antiquado para o pleno atendimento das novas
citados refletem um reconhecimento de aspectos
exigências legais, principalmente no que tange ao
importantes relacionados a produtos, processos e
controle da qualidade e à validação de seus
negócios das empresas, constituindo um aumento na
processos produtivos. Este fator é reforçado pelo
gestão
segundo grupo citado com maiores dificuldades na
organizações. Os demais benefícios citados foram:
implantação das BPFs e que figuram com 33% das
diminuição de perdas e retrabalhos (84%) e redução
respostas:
de reclamações dos produtos (75%), os quais
instalações
inadequadas, processos,
físicas
dificuldades e
da
na
dificuldades
na
empresa
de
qualidade
e
competitividade
nas
validação
de
contemplam uma abordagem das empresas voltada
aquisição
de
ao cliente.
equipamentos laboratoriais. Outro aspecto também verificado, por se tratar de Considerando a abordagem financeira, importante
um mecanismo de melhoria contínua e, também por
fator na tomada de decisões de investimento pelas
ser uma exigência das BPFs diz respeito à prática de
empresas do segmento, verifica-se o aspecto mais
auditorias internas de avaliação do sistema da
citado pelas empresas, ou seja, a priorização de
qualidade, constatando-se que todas as empresas
investimentos em setores não ligados às BPFs
pesquisadas têm esta prática implementada, sendo
(50%). Este fato indica que talvez o problema não
conduzida com frequências distintas, a saber: 3
seja de ordem financeira, mas sim da ausência de
meses (50% das empresas), 6 meses (10% das
um melhor planejamento estratégico das empresas,
empresas), 12 meses (30% das empresas), outro
pois
de
período (10% das empresas). A grande maioria
descontentamento e falta de percepção por parte
destas empresas (92%) adota para a condução
dos respondentes de que os recursos destinados à
destas auditorias internas a constituição de equipes
implantação das BPFs são adequados para a
de
condução das tarefas planejadas. Em segundo lugar,
administração, sendo que apenas 8% das empresas
na escala de aspectos financeiros citados como de
contratam auditores externos para a condução das
maior dificuldade, situam-se os citados com mesmo
auditorias.
este
porcentual
demonstra
um
grau
auditores
internos
designados
pela
alta
percentual de 25%; alto custo de equipamentos, alto custo de consultorias e alto custo de implantação.
Um último tópico abordado pela pesquisa buscou
Tais aspectos são inerentes aos processos de
avaliar se as empresas tinham outras ferramentas e
implantação
qualidade,
de gestão da qualidade ou melhoria de produtividade
principalmente quando tais sistemas são passíveis
implementada, pois este aspecto denotaria um
de
a
background destas empresas em programas de
necessidade de um apoio de consultoria durante as
melhoria da qualidade e produtividade, bem como a
fases de implantação e certificação.
adequação e compatibilização das BPFs com estes
auditorias
de
sistemas
externas,
o
de que
demanda
programas. Foi verificado que 42% das empresas De acordo com os autores, a parte da pesquisa que
possuem outras ferramentas e/ou técnicas de
expõe os principais benefícios ocorridos devido à
melhoria da qualidade e produtividade, o que denota
8023
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Artigo 450- Importância do programa de qualidade ―boas práticas de fabricação‖ (BPF) na produção de ração
que a maioria das empresas pesquisadas está
ALVES,
Nelson
Aparecido.
Utilização
da
conduzindo as BPFs como sistema principal de
ferramenta “Boas Práticas de Fabricação
gestão da qualidade e produtividade. Das empresas
(BPF)” na produção de alimentos para cães e
que responderam possuir outras ferramentas e/ou
gatos. 2003. 107f. Dissertação (Mestrado em
técnicas de gestão da qualidade e produtividade,
Engenharia Agrícola). Universidade Estadual de
foram mais citadas: just in time (técnica praticada
Campinas, Campinas, 2003.
por 60% destas empresas); Controle Estatístico de
ANVISA. [2007]. Legislação de Boas Práticas de
Processo – CEP (sistema praticado por 40% destas
Fabricação.
empresas); total productive maintenance - TPM
<http://www.anvisa.gov.br/alimentos/bpf.htm>.
(praticado por 40% destas empresas); Programa 5S
Acessado em: 24 de jul. 2014.
(praticado por 40% destas empresas); Sistema ISO
ANVISA.
Disponível
[2002].
Finalidade
em:
institucional.
9000:2000 (praticado por 20% destas empresas);
Disponível
Ciclo PDCA (praticado por 20% destas empresas);
<http://www.anvisa.gov.br/institucional/anvisa/apr
outras ferramentas e/ou técnicas (praticadas por
esentacao.htm>. Acesso em: 24 jul. 2014.
em:
20% destas empresas). Uma análise preliminar que
BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional de
se pode fazer destes dados, considerando-se o
Vigilância Sanitária. Portaria nº 216, de 15 de
número total de empresas pesquisadas, é que ainda
setembro de 2004. Regulamento técnico de boas
é incipiente a prática de ferramentas consideradas
práticas para serviços de alimentação. Brasília,
como básicas de melhorias da qualidade, tais como
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 set.
PDCA, 5S e CEP. Outro aspecto verificado é que as
2004.
empresas que adotam outros sistemas assim o
______. Ministério da Saúde. Agência Nacional de
fazem primordialmente para diminuir seus estoques,
Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 275, de
melhorar seu desempenho produtivo e de entregas
21 de outubro de 2002. Regulamento técnico de
ao cliente (sistema JIT), do que em busca de
procedimentos
certificação
estabelecimentos produtores/industrializados de
de
sistemas
da
qualidade
(ISO
9000:2000).
operacionais
aplicados
aos
alimentos e a lista de verificação das boas práticas de fabricação em estabelecimentos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
produtores/industrializados de alimentos. Brasília,
A implantação das BPFs e sua aplicação em
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 6 nov.
fábricas de ração é de suma importância na
2002.
produção atual de alimentos, pois resulta em impacto
no
plano
de
negócio
que
repercute
diretamente na alimentação, saúde e reprodução do rebanho. Além disso, está ligado à lida dos
BUTOLO,
José
Eduardo.
Qualidade
de
ingredientes na alimentação animal. Campinas: Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, 2002. CALARGE,
Felipe
Araújo;
SATOLO,
Eduardo
funcionários com o produto, melhora o controle de
Guilherme; SATOLO, Luiz Fernando. Aplicação
parâmetros do processo e qualidade do produto final
do sistema de gestão da qualidade BPF (boas
com redução de custos minimizando, cada vez mais,
práticas
os riscos de contaminação. Logo um programa de
produtos farmacêuticos e veterinários. Gestão
capacitação da chefia e funcionários, só será efetivo
& Produção, v.14, n.2, p.379-392, 2007.
de
fabricação)
na
indústria
de
se implantado permanente junto com informação e
CANTO, Alfredo Portela do. Porque e para que foi
conscientização de todos integrantes do processo,
criado o cGMP. Revista Banas Qualidade. São
os quais são responsáveis pela qualidade alimentar
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Revista Eletrônica
Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação: experiência brasileira – revisão de literatura Suínos, sistema, cama sobreposta, desempenho.
Vol. 14, Nº 06, Nov./Dez. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
RESUMO A suinocultura brasileira vem passando, ao longo das últimas décadas, por inúmeras transformações, buscando atingir padrões de produção que atendam aos novos conceitos da sociedade. Temas como bemestar animal, qualidade nutricional e sanitária da carne e o impacto da atividade sobre o meio ambiente fazem parte das discussões que norteiam o setor. A atividade suinícola é uma das atividades agropecuárias de maior potencial poluente, devido ao grande volume de efluentes gerado, com elevada carga de nutrientes e matéria orgânica. O sistema de produção de suínos em cama sobreposta em substituição ao sistema de criação sobre piso de concreto ou ripado é uma alternativa desenvolvida com o intuito de minimizar o problema da poluição ambiental, podendo também melhorar as condições de vida e bem-estar dos animais, com reflexos positivos no produto final. O desempenho zootécnico e a composição de carcaça, apesar de não apresentar, na maioria dos casos diferenças estatísticas significativas nos dois sistemas, possivelmente possam ser afetados pelo calor incidente sobre os animais alojados em cama, visto que o calor pode alterar a partição da energia ingerida e provocar consequências distintas no desempenho e composição da carcaça, dependendo da época do ano e da fase do animal. Os aspectos sanitários são extremamente importantes no sistema de criação em cama, pois há uma maior dificuldade para realizar a desinfecção e os animais estão em contato direto com fezes e urina, o que pode facilitar a disseminação de doenças, sendo a linfadenite uma das principais. Palavras-chave: suínos, sistema, cama sobreposta, desempenho.
8026
Dejanir Pissinin MBA
em
Agronegócio /Graduação
em
Tecnologia
em
Agronegócio/Técnico em Agroindústria/Técnico em Agropecuária. E-mail: dejanirpissinin@gmail.com
USE OF BED SUPERIMPOSED ON CREATING PIGS GROWTH PHASES AND TERMINATION: BRAZILIAN EXPERIENCE- LITERATURE REVIEW ABSTRACT Brazilian pig farming through, over the last few decades,
numerous
changes,
seeking
to
reach
production standards that meet the new concepts of society. Topics such as animal welfare, nutritional and sanitary quality of the meat and the impact of the activity on the environment are part of the discussions that guide the sector. The pig is an activity of the agricultural activities of greatest potential pollutant due to the large volume of effluents generated with high load of nutrients and organic matter. The pig production system in overlapped bed replacing the creation system on concrete floor or ripped is an alternative developed in order to minimize the problem of environmental pollution, and may also improve the living conditions and welfare, with positive reflections on the final product.
The
growth
performance
and
carcass
composition, although not present, in most cases statistically significant differences in the two systems, possibly can be affected by the heat of the animals housed in bed, since the heat can change the partition of energy ingested and cause distinct consequences on performance and carcass composition, depending on the time of year and the stage of the animal. The health aspects are extremely important in the breeding system in bed because there is a greater difficulty to carry out disinfection and the animals are in direct contact with feces and urine, which can facilitate the spread of diseases, being the one of the main lymphadenitis.
Keyword:
pigs,
performance.
system,
bed
superimposed,
Artigo 451 – Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação: experiência brasileira-Revisão
INTRODUÇÃO
(VELOSO et al., 2012), aspectos sanitários (MORÉS,
Ao longo das últimas décadas, a suinocultura
2000; DALLA COSTA et al., 2008), tipo de material,
mundial
densidade e profundidade de cama (CORRÊA et al.,
vem
passando
transformações,
buscando
produção
atendam
que
incorporados
por
por
inúmeras
atingir os
sociedades
padrões
novos cada
de
2009; SCHWERTNER et al., 2010), conforto térmico
conceitos
(CORDEIRO et al., 2007; CORREIA et al., 2009),
vez
mais
bem-estar
animal
(CAMPIÑO-ESPINOSA;
preocupadas com algumas questões que se refletem
OCAMPO-DURÁN,
mundialmente. Temas como bem-estar animal,
carcaça (GUIMARÃES et al., 2011).
2010)
e
características
de
qualidade nutricional e sanitária da carne e impacto da atividade sobre o meio ambiente fazem parte da
Por outro lado, existem poucos estudos específicos
agenda de discussões que norteia os rumos da
abordando questões da nutrição de suínos criados
atividade.
em
cama
sobreposta
de
uma
forma
mais
aprofundada. É possível que isso ocorra por não se É crescente a preocupação em conceber e/ou alterar
acreditar que haja diferenças entre o SCC e aqueles
sistemas
com piso convencional, em especial nos processos
de
criação
visando
maior
equilíbrio
ambiental e bem-estar dos suínos. O sistema de
de
ingestão,
digestão,
criação em cama sobreposta (SCC) é uma das
metabólica de nutrientes.
absorção
e
partição
soluções da engenharia que se encaixa nesse contexto (OLIVEIRA, 1999). A ideia central do SCC
Os suínos são homeotermos e se esforçam para
consiste em substituir o piso convencional (concreto,
manter
plástico ou ferro) das instalações por um substrato
considerada
rico em carbono que, além de constituir o piso,
termoneutralidade. Animais alojados em ambientes
servirá como digestor dos dejetos suínos (CORRÊA
com
et al., 2000).
termoneutralidade utilizam diversos mecanismos
a
temperatura ótima,
temperaturas
dentro
de
denominada abaixo
uma
de
ou
faixa
zona acima
de da
com o objetivo de aumentar ou reduzir as perdas de Segundo alguns autores, o SCC teve sua origem em
calor corporal.
Hong Kong, na China (LO, 1992), embora o mesmo princípio seja aplicado na criação de frangos há
Há uma fonte adicional de calor que incide sobre
bastante tempo. No Brasil, a introdução desse
suínos alojados em cama sobreposta, que é o calor
sistema ocorreu em 1993 por pesquisadores do
gerado durante os processos fermentativos que
Centro Nacional de Pesquisa em Suínos e Aves, que
ocorrem
é vinculado à Embrapa (OLIVEIRA; HIGARASHI,
(OLIVEIRA, 1999; CORRÊA et al., 2009). A princípio,
2004).
suínos não necessitam de energia na forma de calor,
no
substrato
utilizado
como
cama
exceto para termorregulação. Assim, os suínos De uma maneira geral, percebe-se que o SCC
mantidos em cama sobreposta e em condições de
relação ao
temperaturas frias poderão utilizar esse calor ―extra‖
sistema convencional e pode ser recomendado para
para seu conforto, enquanto que em condições de
pequenos e médios produtores, em especial àqueles
verão o calor produzido pela fermentação poderá ser
que possuem pouca área útil para manejar os
prejudicial, caso não sejam planejados mecanismos
dejetos líquidos (OLIVEIRA et al., 2000). Além disso,
para dissipá-los.
apresenta algumas
vantagens
em
a carne de animais oriundos do SCC pode despertar interesse
comercial
em
nichos
de
mercado
Considerando
a
relevância
das
questões
mencionadas, este estudo objetivou elaborar uma
(CORDEIRO et al., 2007).
revisão de literatura sobre a utilização da cama No Brasil e em outros países do mundo, o SCC tem sido avaliado considerando diferentes aspectos como,
por
exemplo,
desempenho
zootécnico
(CORRÊA et al., 2000; CRUZ et al., 2000; ARANGO et al., 2012), eficiência energética do sistema 8027
sobreposta,
abordando
aspectos
sanitários,
ambientais e zootécnicos. ASPECTOS AMBIENTAIS A suinocultura é uma das atividades agropecuárias de maior potencial poluidor, devido à geração de
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8026-8035, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 451 - Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação:experiência brasileira-Revisão
grande volume de efluentes com elevado nível de
quisa, visto que os elevados custos das tecnologias
matéria orgânica e nutriente. Em decorrência disso,
desenvolvidas são, muitas vezes, difíceis de serem
nas últimas décadas, as questões ambientais têm
repassados para o setor produtivo, devido à limitada
despertado maior interesse e têm sido assunto
capacidade de investimento do produtor (KUNZ et
sempre presente em discussões, quando se trata da
al., 2004a). Baseado nisso, a utilização da cama
suinocultura. Aliado a isso, a maior conscientização
sobreposta é uma alternativa viável capaz de reduzir
da população em relação aos efeitos nocivos da
os problemas ambientais, com baixo custo, além de
poluição ambiental, as maiores exigências dos
que os resíduos desse sistema apresentam uma
órgãos fiscalizadores e o elevado consumo de água
concentração muito maior de nutrientes quando
tem pressionado a cadeia produtiva a buscar
comparados ao sistema de produção sobre piso, e
alternativas para diminuir o impacto ambiental da
uma relação carbono/nitrogênio (C/N) entre 14 e 18,
atividade. Dentre as alternativas existentes para o
viabilizando
manejo e tratamento de dejetos, podem
facilitando sua aplicação na lavoura (OLIVEIRA et
ser
mencionadas esterqueiras, compostagem, sistema
sua
utilização
como
fertilizante
e
al., 2000).
de cama, tratamento parcial e fertirrigação e, tratamento integral (HIGARASHI et al., 2005). A
DESEMPENHO ZOOTÉCNICO E COMPOSIÇÃO
opção por este ou por aquele método depende de
DE CARCAÇA
cada situação.
O desempenho zootécnico de suínos pode, de maneira geral, ser avaliado de diversas formas,
O sistema de cama sobreposta pode ser uma
como, por exemplo, pelo consumo de ração, índice
alternativa
tecnológica
os
riscos
de ganho de peso e conversão alimentar (CORRÊA,
ambiental
pelos
2003). Esse desempenho dos animais, porém, pode
dejetos. Esse sistema, também conhecido como
sofrer interferência de vários fatores, dentre eles o
―deep bedding‖, consiste na criação de animais
manejo, as instalações e, principalmente, o clima.
relacionados
à
para
reduzir
contaminação
sobre um leito profundo (LO, 1992), composto de um substrato (casca de arroz ou palha, maravalha,
Alguns pesquisadores têm se preocupado em avaliar
sabugo de milho triturado, etc.) que absorve os
o SCC em diferentes estações do ano (CORRÊA et
dejetos, eliminando a geração de efluentes líquidos,
al., 1998; CORRÊA et al., 2009). O estudo de Corrêa
diminuindo sensivelmente o escorrimento e a
(2007) é particularmente interessante nesse sentido
lixiviação.
porque o autor comparou o desempenho de lotes criados em cama sobreposta e piso de concreto no
O sistema de cama sobreposta tem como princípio a
inverno, primavera, verão e outono-inverno. Embora
estabilização dos dejetos por meio da compostagem,
não tenha detectado diferenças estatísticas na
ou seja, o substrato absorve os dejetos e inicia-se o
conversão alimentar entre os dois sistemas de
processo de fermentação aeróbica, promovido pela
criação em nenhuma estação do ano estudada, é
própria movimentação dos suínos. A elevação da
interessante verificar que a conversão alimentar
temperatura ocasionada pela fermentação, aliada ao
média dos animais mantidos em cama foi melhor no
manejo adequado das camas, pode minimizar
inverno e pior no verão, quando comparado aos
odores e diminuir a proliferação de moscas e outros
suínos alojados em piso de concreto, como pode ser
vetores (HIGARASHI et al., 2005). Outro aspecto
observado na Tabela 1.
positivo
refere-se
aos
baixos
custos
de
implementação e operacionalização do sistema, o
Uma tendência semelhante pode ser extraída do
que
estruturas
estudo realizado por Cordeiro et al. (2007), no qual
complementares de tratamento, tendo em vista que
foi verificado que, com os aumentos do peso dos
a estabilização se inicia na própria cama (OLIVEIRA
suínos (75 – 105 kg) e da temperatura ambiental
et al., 2002; AMARAL et al., 2002).
(agosto-novembro),
reduz
a
necessidade
de
a
conversão
alimentar
dos
suínos alojados em SCC foi pior em relação aos Os problemas ambientais relacionados a dejetos de
animais mantidos em piso de concreto. Os valores
suínos representam um enorme desafio para a pes-
médios de conversão alimentar mencionados por
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8026-8035, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006
8028
Artigo 451 - Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação:experiência brasileira-Revisão
Cordeiro et al. (2007) podem ser verificados na
Por outro lado, suínos expostos a temperaturas
Tabela 2.
quentes
aumentam
as
perdas
evaporativas
e
reduzem a produção de calor, visando manter a TABELA 1 – Parâmetros de desempenho de suínos
temperatura dentro dos limites estreitos. Como o
nas fases de crescimento e terminação por período
mecanismo de sudorese é pouco desenvolvido em
do ano
suínos, a principal maneira de reduzir a produção de calor é pela diminuição de consumo.
Período*
Alimento
Ganho de
Conversão
consumido (kg)
peso (kg)
alimentar
b
1
171,0 ± 1,8
2
b
166,4 ± 1,8
3
b
165,0 ± 1,8
4
a
178,6 ± 1,8
69,0 ± 0,9
energia e o ganho de proteína em suínos. Ocorre
b
aumento linear da deposição proteica com o
b
incremento da ingestão de energia até o ponto em
b
que a capacidade máxima de deposição de gordura
2,5 ± 0,1
69,8 ± 0,9
2,4 ± 0,1
68,6 ± 0,9
2,4 ± 0,1
67,2 ± 0,9
Existe uma relação estreita entre o consumo de
b
2,7 ± 0,1
é alcançada. Acredita-se que suínos em crescimento *1: 06-09/2003; 2: 10-12/2003; 3: 02-04/2004; 4: 05-07/2004
( 60 kg PV) não conseguem ingerir energia
Médias escritas com letras minúsculas diferentes sobrescritas diferem significativamente pelo teste de Tukey (P<0,05).
suficiente para atingir seu potencial máximo de deposição
Fonte: Adaptado de Corrêa et al. (2007).
de
WHITTEMORE,
proteína
2005).
Assim
(KYRIAZAKIS; sendo,
qualquer
Tabela 2 - Valores médios de conversão alimentar
restrição energética durante a fase de crescimento
(CA) em kg/kg, de suínos criados no SCC e sistema
irá limitar o ganho proteico e, em decorrência, o
convencional nas diferentes fases
desempenho animal. Além disso, se os demais nutrientes, como aminoácidos e minerais, forem
Cama Sobreposta
Piso de
ajustados com base na expectativa de ganho que
concreto
não se confirme, então ter-se-á maior excreção de
Fases (dias de
Cama de
Cama casca
vida)
maravalha
de arroz
64 a 98 (25-50
2,38a
2,37ª
2,34a
2,71a
2,73ª
2,73a
3,46a
3,41ª
3,00b
nutrientes com prejuízos econômicos e ambientais. Ao contrário, a capacidade de consumo dos animais
kg) 99 a 126 (50-
em
75 kg) 127 a 162 (75-
terminação
normalmente
é
superior
ao
necessário para a máxima retenção proteica e ajustes devem ser feitos na dieta para manter a ingestão mínima de aminoácidos.
105 kg) 163 a 186
3,71b
3,71b
4,28a
3,00
2,97
2,96
É evidente que a partição da energia terá um forte
(105-120 kg) Média
impacto na composição de carcaça. Dalla Costa et
As médias seguidas de pelo menos uma mesma letra na linha
al. (2008) constataram que suínos, nas fases de
não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste Tukey. Fonte: Adaptado de Cordeiro et al. (2007).
crescimento e terminação, criados em cama durante os meses de verão, apresentam carcaças mais leves
A conversão alimentar pode ser utilizada como
e com menor espessura de toucinho se comparados
indicador da partição de energia ingerida (WENK et
aos animais criados em piso de concreto. Esses
al., 1980) pelos suínos, pois a eficiência de utilização
autores citam algumas possíveis causas para
da energia depende do seu destino (manutenção ou
explicar seus resultados e, entre elas, está o calor
produção) e da composição do ganho (proteína,
gerado
gordura,
incidência de calor nos animais da cama pode ter
etc.).
Assim,
os
estudos
acima
pela
fermentação
da
cama.
A
maior
da
provocado redução no consumo de energia com
conversão alimentar possivelmente estão refletindo
consequências no desempenho e retenção de
alterações de energia ingerida pelos animais.
gordura. Em outro estudo avaliando a qualidade de
mencionados
que
demonstraram
alteração
carcaça de suínos criados em cama entre os meses As condições climáticas têm efeito acentuado na partição do calor e, em decorrência, no destino da energia para atender as exigências de manutenção. 8029
de outono e inverno (abril a julho), foi constatada maior espessura de toucinho e menor porcentagem de carne magra na carcaça, em relação aos suínos
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8026-8035, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 451 - Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação: experiência brasileira-Revisão
alojados em baias com piso de concreto (BRIDI et
L/animal/dia e também obtidos por Corrêa (1998)
al., 2003). Nesse caso, é possível que uma maior
em suínos da mesma idade.
parcela de energia ingerida tenha sido direcionada para deposição, uma vez que o calor da cama gera
SANIDADE
economia na energia gasta com regulação térmica.
Na criação de suínos no SCC, a sanidade merece atenção
especial,
devido
principalmente
à
Os resultados discutidos anteriormente oferecem
dificuldade que o sistema apresenta para a
suporte para a hipótese de que o calor incidente
desinfecção das instalações, reduzindo também a
sobre os animais alojados em cama altera a partição
eficiência do vazio sanitário. Essa redução de
da energia ingerida e
provoca consequências
eficiência é ocasionada pela manutenção dos
distintas no desempenho e composição da carcaça,
dejetos dentro da instalação por mais de um lote
dependendo da época do ano e da fase do animal.
(TURNER et al., 2000; FERREIRA et al., 2004).
CONSUMO DE ÁGUA
Em razão das questões sanitárias, muitos países
No que se refere às necessidades de água, Dalla
recomendam a substituição completa das camas
Costa et al. (2006) afirmam que, no SCC, o consumo
após cada lote. Entretanto, essa prática pode
de água em períodos quentes (verão) pode ser
inviabilizar economicamente a utilização do SCC,
aproximadamente 15% superior quando comparado
pois a dificuldade de aquisição do substrato, o
ao sistema convencional. No entanto, Cordeiro et al.
custo e a baixa qualidade agronômica das camas
(2007) constataram que, em temperaturas amenas
resultantes da passagem de um único lote
(primavera), o consumo de água não apresentou
constituem entraves (HIGARASHI et al., 2005).
diferença significativa entre os sistemas de criação nas três primeiras fases, conforme é verificado na
Suínos alojados sobre o SCC apresentam menor
Tabela 3. O mesmo autor constatou também que o
incidência, tanto em lesões nas almofadas
sistema
plantares,
de
criação
em
cama
de
maravalha
como
de
canibalismo,
quando
apresentou os maiores valores médio de consumo
comparados com animais mantidos em sistemas
de água, seguidos pelo sistema de piso de concreto
convencionais, com piso de concreto ou ripado
e do sistema em cama de casca de arroz.
(HUYSMAN et al., 1992; McGLONE, 1999).
TABELA 3 - Consumo de água nos sistemas de
As questões sanitárias são complexas e exigem
criação em cama sobreposta de maravalha ou de
pesquisas mais aprofundadas, pois há um contato
casca de arroz e em piso de concreto
prolongado dos animais com os dejetos do próprio lote e dos precedentes, podendo facilitar a
Fase de crescimento
Sistema de criação
(idade)
disseminação de doenças, destacando-se a linfadenite
Cama sobreposta
Piso de concreto
Maravalha Casca
granulomatosa,
causada
por
micobactérias do complexo Micobacterium avium (HIGARASHI et al., 2005).
de arroz
A
L/animal/dia
linfadenite
é
uma
doença
causada
por
64 a 98 dias
6,0a 5,5a
5,9a
micobactérias atípicas, de evolução crônica, que
99 a 126 dias
8,7a 6,8a
7,2a
não afeta o desenvolvimento dos suínos, mas
127 a 162 dias
9,5a 7,1a
8,1a
provoca
8,0ab
calcificação, envolvendo predominantemente os
7,2
linfonodos da cabeça e intestino. Essas lesões,
163 a 186 dias Média
8,7a 6,1a 8,2
6,4a
lesões
de
necrose
caseosa
com
Médias seguidas de letras diferentes na linha, para cada fase, não
normalmente, são detectadas pelo Serviço de
diferem (P<0,05) pelo teste Tukey. Fonte: Cordeiro et al. (2007).
Inspeção por ocasião do abate e podem ser motivo de condenação ou destino condicionado
Os valores observados são semelhantes aos citados
das carcaças, gerando prejuízos tanto para o
por Bodman (1994), de aproximadamente 7,0
produtor como para a indústria (MORÉS, 1997).
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8026-8035, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006
8030
Artigo 451 - Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação:experiência brasileira-Revisão
Após a contaminação dos suínos, que ocorre por via
infectados, na maternidade ou creche e a
oral, as micobactérias invadem os linfonodos do trato
presença de aves domésticas ou selvagens pode
digestivo, onde se multiplicam e desenvolvem as
dar início a infecção dos suínos. Os suínos
lesões. Uma vez infectados, os suínos eliminam as
infectados podem eliminar as micobactérias nas
micobactérias pelas fezes, com maior intensidade
fezes e o sistema de cama sobreposta facilita o
entre 35 a 42 dias após a infecção, contaminando o
contato dos animais com os dejetos e a
ambiente e servindo de fonte de infecção a outros
disseminação da doença.
animais. As micobactérias são resistentes a diversos desinfetantes, podendo sobreviver por vários meses
Segundo Amaral et al. (2002), o sistema de cama
nas instalações e por anos no solo. Entretanto, são
sobreposta
destruídas pelo calor a 65,6°C por 10 minutos. Os
linfadenite granulomatosa nos suínos. Quanto aos
desinfetantes com maior ação sobre essas bactérias
substratos, nos suínos criados em cama de
são aqueles à base de hipoclorito de sódio, aldeídos
maravalha, a ocorrência de linfadenite é maior
e fenóis (MORÉS, 1997).
quando comparada com os criados em casca de
favorece
o
desenvolvimento
da
arroz. Os suínos criados em cama sobreposta Essa enfermidade tem apresentado uma incidência
apresentam maior porcentagem de fibra bruta nas
maior nos suínos no SCC em relação a suínos
fezes, indicando ingestão do substrato, o que
criados no sistema de piso de concreto (MIRANDA et
pode explicar a maior ocorrência de linfadenite.
al., 1997). O principal fator atribuído para a maior
Em estudo conduzido por Amaral et al. (2002), foi
incidência de lesões nos suínos criados sobre cama
verificado que a manifestação de rinite atrófica,
é a alta exposição dos suínos às fezes e urina
úlcera gástrica e pneumonia não apresenta
(TANG et al., 2004), embora a infecção possa
diferenças significativas quando comparados o
ocorrer antes da entrada dos animais no sistema ou
sistema convencional e o SCC, de forma a não
quando a cama não
comprometer a utilização do sistema.
sofre tratamento prévio
(MORÉS, 1997). Do ponto de vista sanitário, são poucas as De acordo com Corrêa (1998), a ocorrência de
informações disponíveis, principalmente no Brasil,
linfadenite é maior em suínos criados no SCC e com
mas ao que parece o grande limitante para a
maior frequência no primeiro lote. Isso pode ser um
expansão do SCC é a ocorrência da linfadenite.
indicativo de que os leitões, quando alojados, já
Com base nisso, o principal cuidado que o
estavam contaminados, visto que no terceiro lote
produtor deve ter é que o rebanho de origem dos
alojado sobre a mesma cama os animais não foram
leitões seja livre da infecção por Mycobacterium
afetados.
avium-intracellulare e que o substrato a ser usado
As micobactérias são frequentemente encontradas
seja
em amostras de cama sobreposta, onde podem
finalidade e que não tenha ficado exposto ao
sobreviver por longos períodos e se multiplicar sob
tempo (AMARAL et al., 2002).
seco
em
secador
comercial
para
tal
condições adequadas de umidade e temperatura, o que pode explicar a ocorrência sazonal da doença
CAMA: TIPOS, PROFUNDIDADE E TEMPO DE
em alguns rebanhos (SONGER et al., 1980;
PERMANÊNCIA
CHARETTE et al., 1989).
Em produção animal, denomina-se cama, o material distribuído em uma edificação zootécnica
Morés et al. (2000), em estudo epidemiológico,
que exercerá basicamente duas funções: a
constataram que o uso de maravalha como cama
primeira, atuando como pavimento e a segunda,
para os suínos não foi um fator de risco para
armazenando
e
ocorrência de linfadenite em suínos abatidos. Com
provenientes
do
base nisso, a cama pode não ser a fonte primária de
(CORRÊA et al., 2000; FERREIRA et al., 2004).
estabilizando processo
as
excreções
de
produção.
micobactérias, mas ela pode permitir o acúmulo e mesmo a multiplicação de micobactérias de outras
Há uma diversidade de materiais que podem ser
fontes. A exposição dos animais a substratos
utilizados. Porém Gentry et al. (2004) citam alguns substratos que podem ser empregados no
8031
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8026-8035, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 451 - Uso da cama sobreposta na criação de suínos nas fases de crescimento e terminação:experiência brasileira-Revisão
SCC, como: maravalha, com partículas de tamanho
sivamente
aproximado de 3 cm; serragem, de diâmetro médio
demasiadamente afetados pelo estresse térmico.
e
os
suínos
não
sejam
aproximado de 2 milímetros; palha, constituída de restos culturais de gramíneas obtidas de culturas
Os tempos de utilização da cama citados na
como arroz, trigo, cevada, aveia, centeio e azevém;
literatura são bastante distintos, variando de 3 até
sabugo de milho triturado, após a retirada dos grãos,
8 meses (SHILTON apud TUMELERO, 1998), 9
o sabugo é triturado, formado por partículas de
meses (CORRÊA, 1998), 1 ano (PERDOMO et
diâmetro aproximado de 1 cm; casca de arroz, obtida
al., 1997) até 1,5 anos (ROPPA, 2003) e
após o beneficiamento do grão na indústria, com
dependem de vários fatores, entre eles, as
partículas de tamanho aproximado de 1 cm. Além
condições climáticas de cada local, o tipo de
destes materiais, outros vêm sendo utilizados, como,
manejo adotado, a alimentação, a profundidade
por exemplo, a palha de soja, casca de café e
do leito (HUYSMAN et al.,1992), o tipo de
bagaço de cana triturado (ROPPA, 2003), entre
substrato, a idade dos animais e a densidade de
outros subprodutos. Apesar de a serragem ser uma
alojamento ( HIGARASHI, 2006). Em estudo
alternativa como substrato para formação da cama,
realizado no Brasil com rigorosas medidas de
Matlova et al. (2004) salientam que estudos indicam
controle sanitário, obtiveram-se bons resultados
que a utilização da mesma deve ser evitada, pois
mesmo com a realização da troca anual das
favorece o desenvolvimento da linfadenite.
camas (OLIVEIRA et al., 2002; HIGARASHI et al., 2005). O tempo de permanência do material nas
O material para ser utilizado como cama deve
instalações está diretamente relacionado com o
apresentar,
características
valor do composto, pois quanto maior o período
básicas, conforme mencionado por Barrington et al.
de permanência maior será a quantidade de
(2002): ser rico em carbono; boa capacidade
dejetos
higroscópica; ter partículas de tamanho médio
consequentemente,
(material picado ou triturado); ser tratado para não
fertilizante (Oliveira, 2001).
portanto,
algumas
depositada
sobre melhor
a é
cama, o
seu
e, valor
servir de veículo de patógenos; baixa condutividade térmica;
facilidade
de
liberação
da
umidade
CONSIDERAÇÕES FINAIS
absorvida; menor custo para aquisição; e boa
O SCC é uma alternativa de substituição do piso
disponibilidade.
convencional,
pois
minimiza
os
problemas
ambientais e propicia melhores condições de vida A profundidade da cama varia, normalmente de 0,2 a
e bem-estar aos animais. No entanto, é uma
1,00m, dependendo do tempo que se deseja utilizar
tecnologia que demanda muitos estudos visando
e de fatores econômicos (TUMELERO, 1998). A
avaliar as especificidades de cada tipo de cama,
altura da cama parece não influenciar o desempenho
o manejo, o clima, as instalações e os aspectos
dos animais, como pode ser verificado no estudo de
sanitários. A adoção de procedimentos padrões e
Corrêa et al. (2009), no qual foi constatado não
análises visando o alojamento de animais sadios
haver diferenças significativas no desempenho dos
no SCC e o uso de práticas que garantam um
suínos criados em diferentes alturas de cama de
substrato livre de contaminações indesejáveis são
casca de arroz (50 e 25 cm) e piso convencional.
pontos que merecem maior atenção e estudos.
Apesar da profundidade da cama não influenciar
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Ocorrência de linfadenite por Mycobacterium
profundidade mínima deva ser de 0,5m, visando o
avium em suínos criados em cama sobre
desenvolvimento do processo de compostagem, o
posta
aumento da temperatura e a eliminação da água
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Secagem e uso de cabergolina em vacas leiteiras Secagem, cabergolina, glândula mamária. Revista Eletrônica
Anna Luiza Belli de Souza Alves Costa Vol. 14, Nº 06, Nov./Dez. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
RESUMO
Sandra Gesteira Coelho
1
2
1
Doutoranda em Zootecnia, Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) E-mail:annabelliac@gmail.com 2 Professora Titular, Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O melhoramento genético e melhores práticas de
DRYING AND USE OF CABERGOLINE IN DAIRY COWS
manejo dentro de fazendas leiteiras determinaram
ABSTRACT
aumento na produção de leite dos bovinos. Com
The genetic improvement and better management
esse aumento da produção de leite passou-se a dar
practices in dairy farms determined an increase in
mais relevância ao procedimento de secagem e aos
bovine production. Due to that increase in milk
impactos que esse evento pode ter sobre a glândula
production more relevance stared to be given to the
mamária e sobre a saúde do animal. A secagem
dry-off process and to the impacts this event could
consiste na interrupção da rotina de ordenhas com o
have on the mammary gland and on the animal
intuito de cessar a produção de leite. Durante os
health. The dry off consist in the interruption of
primeiros dias e de acordo com a produção do
milking
animal, pode observar comportamentos indicativos
production. During the first days and according to the
de desconforto e dor, como aumento do tempo de
animal production, discomfort and pain behaviors
permanência em pé e mais vocalização nos horários
can be observed, such as increased standing time
em que a ordenha era realizada. O acúmulo de leite
and more vocalization close to previous milking time.
na glândula mamária determina o início do processo
The accumulation of milk in the mammary gland
de involução ativa, que dura cerca de 21 dias.
determines the beginning of an active involution,
Posteriormente ocorre o processo de involução
which lasts for approximately 21 days. After that a
constante,
static
seguido
pela
lactogênese
e
pela
routine
involution
aiming
will
the
take
cessation
place,
of
milk
followed
by
colostrogênese, necessários ao início da próxima
lactogenesis and colostrogenesis, both important for
lactação. A cabergolina tem sido estudada como
the beginning of a new lactation. Cabergoline have
uma ferramenta a ser utilizada dentro das fazendas
been studied as a tool for to be used by dairy farms
para
menos
to make the dry-off less harmful to high yielding
prejudicial aos animais de maior produção. A droga é
animals. The drug is a dopaminergic receptor
um agonista de receptores dopaminérgicos, com
agonist, with direct inhibitory effects on prolactin
efeito inibitório direto sobre a produção de prolactina.
production.
Palavras-chave: secagem, cabergolina, glândula
Keyword: dry-off, cabergoline, mammary gland.
tornar
o
processo
de
secagem
mamária. 8036
Artigo 452 – Secagem e uso de cabergolina em vacas leiteiras
INTRODUÇÃO
A interrupção da rotina de retirada do leite determina
Dentre os métodos usados para secagem de vacas
o início do processo de involução da glândula
leiteiras, o abrupto com interrupção total das
mamária. Este processo está relacionado a apoptose
ordenhas é o mais utilizado no manejo de fazendas.
das células epiteliais secretoras e depende de vários
Porém
secagem
fatores, dentre esses a concentração dos hormônios
aumentou muito, devido ao melhoramento genético
prolactina (PRL), hormônio do crescimento (GH) e do
e boas práticas de manejo, o que faz com que
fator de crescimento semelhante à insulina do tipo 1
algumas vacas encerrem a lactação produzindo
(IGF-1). Sabe-se que o GH é importante no
ainda 25 a 30 litros de leite por dia (Bertulat et al.,
desenvolvimento
2013; Chapinal et al., 2014). A partir de estudos que
produção de leite, mas é a PRL a principal
demonstraram os efeitos dessa maior produção de
responsável pela proliferação e diferenciação das
leite à secagem para a glândula mamária e para o
células
animal, outros métodos e ferramentas passaram a
manutenção destas células em atividade. A PRL
ser pesquisados e utilizados, com o intuito de reduzir
atua
o estresse e garantir o bem-estar destes animais.
reduzindo a taxa de apoptose ao inibir a produção de
a
produção
dos
animais
à
epiteliais
diretamente
da
glândula
mamária
secretoras, sobre
as
bem células
e
como
na
a
epiteliais,
metaloproteinases. Este hormônio também atua de A Cabergolina é uma droga sintética produzida a
forma indireta ao suprimir a expressão das proteínas
partir de derivados de ergot, que tem potente
de ligação do tipo 5 (IGFBP-5), que tem poder
atividade
baixas
inibitório sobre o IFG-1. Isso faz com que mais IGF-1
longa
esteja disponível para atuar no tecido e estimular a
duração de seus efeitos biológicos. Esta droga atua
proliferação e sobrevivência das células (Accorsi et
diretamente sobre a produção de prolactina pela
al., 2002).
dopaminérgica
concentrações
no
plasma,
mesmo e
em
apresenta
glândula hipófise, inibindo-a. Por apresentar esta capacidade, a Cabergolina tem sido muito utilizada
Ao parar de ordenhar o animal, ocorre acúmulo do
no tratamento de pseudociese em cadelas e em
leite que ainda continua sendo produzido pela
condições
humanos.
glândula mamária por alguns dias, o que pode gerar
Recentemente seu uso especificamente no manejo
complicações para a glândula já que até 80% desse
da secagem de vacas de leite foi introduzido no
leite ficará retido nos primeiros três dias (Ponchon et
campo.
al., 2017). O acúmulo de leite determina aumento da
hiperprolactinêmicas
em
pressão interna do úbere com distensão dos tecidos, Este trabalho tem por objetivo abordar a fisiologia da
o que pode levar à abertura do canal do teto,
secagem de vacas leiteiras, bem como revisar os
gerando vazamento de leite. Nesta situação ocorre
mecanismos de ação da Cabergolina e sua forma de
também o comprometimento da atividade protetora
utilização.
das células de defesa fagocíticas presentes no local, que serão demandadas para a degradação de
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
componentes do leite (Boutinaud et al., 2016).
Fisiologia da glândula mamária de vacas leiteiras
A distensão da glândula mamária com o aumento da
durante o período seco
pressão intra-alveolar parece ser o sinal que dá
O período seco é um momento importante para
início à involução ativa dos tecidos secretores.
vacas leiteiras, uma vez que, permite ao animal
medida que a concentração de PRL nos tecidos
priorizar energia para o fim da gestação e garante
diminui pelo efeito de diluição, ocorre o declínio na
um tempo de recuperação e regeneração da
taxa
glândula mamária para o início da próxima lactação.
permeabilidade das ―tight junctions‖ e um efluxo de
O tempo de duração do período seco está
lactose. Concomitante a essas alterações ocorre
diretamente relacionado à produção de leite na
redução do lúmen dos alvéolos e aumento do
lactação seguinte e hoje se trabalha com durações
estroma (Singh et al., 2017). Este processo de
de 45 a 60 dias, na grande maioria das fazendas
involução ativa pode durar por aproximadamente 21
(Schukken, Gurjar and Moroni, 2011).
a 30 dias.
8037
de
secreção
de
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8036-8040, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006
leite,
aumento
À
da
Artigo 451 – Secagem e uso de cabergolina em vacas leiteiras
Findado o processo de involução ativa, a glândula
O período imediato após a secagem deixa o animal
mamária entra em estado de involução constante.
mais susceptível a novas infecções intramamárias e,
Este
eventos
isso pode ser agravado nos casos de vacas de alta
determinantes de seu início e fim. Sua duração
produção. O vazamento do leite pode atrasar a
depende apenas do tempo no qual o animal
formação do tampão de queratina no canal do teto,
permanece seco e não tem influências hormonais ou
necessário ao isolamento da glândula com o meio
de manejo. O último processo característico do
externo. Como consequência o teto permanecerá
período seco é a lactogênese, no qual ocorre a
aberto, permitindo que microrganismos tenham
proliferação e diferenciação das células secretoras
acesso ao interior do úbere e aliado a isso, os
do epitélio. Durante este processo ocorre também a
fatores imunes locais podem estar comprometidos.
colostrogênese, com acúmulo de imunoglobulinas e
Estima-se que até 23 % de todos os tetos secos
outros fatores imunes e nutricionais na glândula
possam permanecer abertos após seis semanas da
mamária. Assim como o processo de involução
secagem. Fatores que conferem imunidade ao
ativo, este é coordenado por vários hormônios e tem
animal irão aumentar rapidamente após o início do
início aproximadamente 15 a 20 dias antes da data
processo de involução ativa, mas o fator de diluição
prevista para o parto (Smith & Hogan, 2003).
dependendo da quantidade de leite represada pode
segundo
momento
não
tem
atrapalhar a atividade desses mecanismos de Saúde da glândula mamária e bem-estar de
defesa.
vacas leiteiras
lactoferrina,
A secagem pode provocar dor, a qual pode variar de
aumentar, garantindo maior proteção à glândula
acordo com a quantidade de leite produzida à
mamária (Schukken, Gurjar & Moroni, 2011).
Aos
poucos
as
imunoglobulinas
concentrações e
leucócitos
de irá
secagem e ao método utilizado para secá-la. De acordo com pesquisadores o aumento no tempo de
Cabergolina
permanência em pé e a redução no número de
Mecanismo de ação
movimentos para se deitar são fortes indicativos de
Os derivados do ergot são esqueletos alcaloides
que o animal está sentindo dor. A reação do animal
produzidos por fungos, principalmente do gênero
ao toque na área do úbere também pode ser um
Claviceps spp. que são encontrados em gramíneas e
indicativo de desconforto. Na situação em questão, a
em alguns grãos durante sua fase de crescimento. A
dor é provocada pela distensão do úbere e por
cabergolina, um destes derivados, é um potente
algum grau de inflamação (Zobel et al., 2013).
agonista de receptores dopaminérgicos do tipo D2, com
efeito
inibitório
direto
sobre
as
células
Ambos os métodos de secagem, abrupto e gradual,
lactotróficas produtoras de prolactina presentes na
geram algum desconforto no animal. Porém foi
hipófise (Hughes et al., 2003).
demonstrado que animais de maior produção (>25 litros) que foram secos pelo processo gradual, no
Receptores D2 podem ser considerados tanto pré
qual se aumenta o intervalo entre ordenhas com
quanto pós-sinápticos, e atuam na liberação de
redução do número de diário destas por alguns dias,
dopamina para as células de diferentes estruturas
apresentaram menos vazamento de leite do que
encefálicas. Porém os receptores pré-sinápticos são
vacas secas abruptamente (Zobel et al., 2013).
no trabalho em questão isso não foi observado de
seis a dez vezes mais sensíveis que os póssinápticos. Os receptores da família D2 são considerados inibitórios por atuarem hiperpolarizando o neurônio através de proteínas G e com isso impossibilitando a propagação do impulso nervoso. Estes receptores também são responsáveis por inibir a atividade da enzima Adenil ciclase (AMP) e consequentemente, na maioria dos tecidos, a produção de AMP cíclico. Há prevalência da expressão de
forma significante para os dois tipos de secagem
receptores D2 no tálamo, hipocampo e trono
(von Keyserlingk et al., 2009).
encefálico, em relação aos receptores D1 (Callier et
Estes mesmos autores observaram que mesmo os animais secos de forma gradual, apresentaram redução no tempo de permanência deitados. O comportamento de vocalizar perto do portão de saída do piquete nos horários em que o animal seria levado para a ordenha também pode ser um indicativo de que este está em desconforto, porém
al., 2003). Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8036-8040, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006
8038
Artigo 452 – Secagem e uso de cabergolina em vacas leiteiras
A Cabergolina tem capacidade de exercer sua atividade terapêutica em baixas concentrações no plasma e, portanto, demanda doses baixas com aplicações únicas na maioria das vezes. Sua alta eficácia está também relacionada ao seu poder biológico e meia vida, que é de 65 horas. Em humanos, por ser uma droga de fácil protocolo de administração, é utilizada para o tratamento da doença de Parkinson em estágio inicial com doses mais
altas
(4mg/dia)
hiperprolactinêmicas
e
com
para
doses
condições
mais
baixas
(0,25mg/dia), (Rinne et al., 1997; Huges et al., 2003).
Boutinaud et al. (2016) realizaram o tratamento com dose única de 5,6mg de Cabergolina em sete animais
e
com
placebo
em
outros
sete,
imediatamente após a última ordenha em secagem abrupta. Foram realizadas coletas seriadas de sangue e da secreção láctea para avaliar a composição da secreção e a concentração de prolactina na circulação sanguínea. Foi constatada redução da secreção láctea após o encerramento da lactação, com redução das concentrações de αlactoalbumina, lactoferrina e citrato, à medida que houve acúmulo de leite no interior do úbere. O tratamento com Cabergolina foi eficaz em reduzir a
Em animais, seu uso já é bastante difundido em vários países principalmente para o tratamento da síndrome da falsa prenhez em cadelas. Nesta condição normalmente usa-se 5µg/kg por dia, durante 5 a 10 dias (Gobello et al., 2001). Em bovinos leiteiros a Cabergolina passou a ser recentemente empregada na secagem dos animais.
concentração de PRL nos animais tratados, em comparação aos que receberam placebo, assim como a concentração de lactose e da proporção citrato:lactoferrina na secreção láctea. Os autores concluíram que o uso da Cabergolina facilitou a secagem e acelerou o processo de involução da glândula mamária.
Cabergolina em vacas leiteiras
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o intuito de procurar ferramentas que reduzam
O uso da Cabergolina em animais leiteiros à
os efeitos deletérios e estressantes provocados pela
secagem tem apresentado eficácia na redução dos
secagem
pesquisadores
sinais de dor provocados pelo acúmulo de leite na
utilizaram a Cabergolina e alguns similares agonistas
glândula mamária, assim como acelera o processo
de receptores dopaminérgicos. Bertulat el al. (2015)
de involução do tecido secretor pela redução da
avaliaram o uso de uma dose única de Cabergolina
concentração de PRL circulante. Essa é uma
(5,6mg) sobre pressão no úbere, vazamento de leite
ferramenta importante para o manejo de fazendas
e
leiteiras, que auxilia no bem-estar da vaca leiteira.
sinais
em
de
vacas
dor
em
leiteiras,
vacas
leiteiras
secas
abruptamente, produzindo mais de 16 litros de leite à
Mais
estudos
precisam
ser
realizados
para
secagem. O tratamento foi realizado em 115 animais
demonstrar se seu uso também pode reduzir a
logo após a última ordenha e o grupo controle
incidência de novas infecções da glândula mamária
(n=119) recebeu placebo no mesmo momento. O
no período seco imediato.
tratamento com Cabergolina foi eficiente em reduzir a pressão no úbere primíparas, mas não em multíparas. Apenas 11,3% dos animais tratados
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
apresentaram vazamento de leite, enquanto que
ACCORSI, P. A.; PACIONI, B.; PEZZI, C. et al. Role
21% dos que receberam placebo apresentaram
of Prolactin, Growth Hormone and Insulin-Like
vazamento. Os efeitos sobre a demonstração de dor
Growth Factor 1 in Mammary Gland Involution in
no úbere foram significativos para o grupo tratado,
the Dairy Cow. J. Dairy Sci. v.85, p. 507–513,
porém esse efeito perdurou apenas até o fim da
2002.
primeira semana após a secagem. Os autores deste
BERTULAT,
S.;
TENHAGEN-FISCHER,
trabalho concluíram que a Cabergolina foi eficiente
SUTHAR,
em reduzir riscos à saúde da glândula mamária e
glucocorticoid metabolites and evaluation of udder
reduziu problemas com o bem-estar dos animais no
characteristics to estimate stress after sudden
período imediato após a secagem de vacas com
dry-off in dairy cows with different milk yields. J.
produção acima de 16 litros (Bertulat et al., 2015).
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8039
V. et al.
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8036-8040, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006
Measurement of
C.; fecal
Artigo 452 – Secagem e uso de cabergolina em vacas leiteiras
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prolactin
secretion
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8040
Utilização de probióticos para aves tipo caipira Avicultura no Brasil, sistema alternativo, dieta para frangos, probióticos, desempenho nutricional.
Revista Eletrônica
*
Jean Kaique Valentim¹ Tatiana Marques Bittencourt¹ Rúbia Francielle Moreira Rodrigues¹ Cláudio Henrique Viana Roberto¹ Guilherme Resende de Almeida¹
Vol. 14, Nº 06, Nov./Dez. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
¹Mestrando em Produção Animal Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri UFVJM – Campus Diamantina.*E-mail para correspondência – kaique.tim@hotmail.com
RESUMO
USE OF POULTRY PRÓBIOTICOS POULTRY
Um dos fatores responsáveis pela expansão da
REDNECK TYPE STRAINS
indústria avícola nacional é o aumento na criação de
ABSTRACT
sistemas alternativos, onde os custos de produção
One of the factors responsible for the expansion of
são reduzidos, visando um sistema de produção
the national poultry industry is the increase in the
quase natural, buscando a qualidade de alimentos
creation of alternative systems, where production
com alto valor agregado. A criação de frangos em
costs are reduced, aiming at an almost natural
sistemas livres sempre foi inserida na tradição da
production system, seeking the quality of foods with
população rural e também na área urbana. A
high added value. The raising of chickens in free
produção é destinada ao consumo doméstico,
systems has always been inserted in the tradition of
desempenhando
na
the rural population and also in the urban area. The
de
production is destined for domestic consumption,
emergência para o produtor rural. Quando se trata de
playing an important role in subsistence and acting
aves criadas no sistema livre, o uso de antibióticos
as an emergency income for the rural producer.
promotores de crescimento é proibido. Com isso, o
When it comes to birds raised in the free system, the
uso de probióticos aparece como alternativa ao uso
use of antibiotic growth promoters is prohibited. With
de antibióticos, melhorando o desempenho animal.
this, the use of probiotics appears as an alternative
Os probióticos podem ser caracterizados como
to
suplementos
em
performance. Probiotics can be characterized as
melhoram
food supplements based on living microorganisms
subsistência
e
um
papel
agindo
como
importante uma
alimentares
microrganismos
vivos
renda
baseados que
the
use
of
organismo
a
microbiota of the host organism, protecting it against
colonização de bactérias patogênicas e tornando a
the colonization of pathogenic bacteria and making
dieta mais eficiente.
the diet more efficient.
Palavras-chave: alternativo,
dieta
avicultura para
desempenho nutricional.
8041
no
contra
Brasil,
frangos,
sistema
probióticos,
the
animal
that
protegendo-a
improve
improving
significativamente a microbiota gastrointestinal do hospedeiro,
significantly
antibiotics,
gastrointestinal
Keyword: poultry in Brazil, alternative system, chicken diets, probiotics, nutritional performance.
Artigo 453 – Utilização de probióticos para aves tipo caipira
INTRODUÇÃO
homem no campo; a utilização de pequenas áreas
A criação alternativa de frangos de corte ―caipira‖
de terra; e a grande capacidade de conversão de
tem tido um crescimento exponencial, tornando-se
grãos e outros produtos de origem vegetal (frutas,
uma
para
hortaliças, mandioca, sorgo, milho, capins e outras)
pequenos produtores rurais a exploração deste
em carne e ovos, fonte de proteína animal na
mercado de produtos diferenciados (SAVINO et al.,
alimentação da família (SIQUEIRA, 2014).
atividade
economicamente
viável
2007). Para aves criadas no sistema tipo caipira, é proibido Os frangos caipiras devem ser criados com tempo
o uso de promotores de crescimento à base de
mínimo de 85 dias, segundo o Ministério da
antibióticos. O MAPA, conforme normas do DIPOA –
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal
1999. As
melhores
(1999) exige que nas dietas de frangos de corte não
características sensoriais em relação à criação de
exista a inserção de antibióticos e promotores de
frangos de corte industrial (FARMER et al., 1997).
crescimento
Silva &
convencional.
aves
caipiras
apresentam
Nakano (1998)
relatam
que existem
que
estão
presentes
na
criação
diferenças no sistema caipira devido principalmente à ingestão de pasto, verduras, insetos, minhocas,
Uma alternativa para esta substituição é o uso de
dentre outros, pela ave, que são abundantes no
probióticos, que são suplementos alimentares à base
sistema
de microrganismos vivos que afetam beneficamente
semi-intensivo
de
criação.
Assim,
consumidores mais tradicionais preferem a carne de
o
animal
aves criadas semi-confinadas por possuírem um
microbiano intestinal e, por consequência, protegem
sabor mais "natural" do que a carne de aves criadas
o
totalmente confinadas.
aproveitamento dos alimentos (MACARI & FURLAN,
trato
hospedeiro, digestório
melhorando
proporcionando
o
balanço
um
melhor
2005). Este tipo de criação é bastante rentável quando se utilizam técnicas adequadas de manejo que estão ao alcance do pequeno produtor, uma vez que sua implantação é de baixo custo e bom retorno, quando seguidos os procedimentos indicados de manejo, sanidade, alimentação, dentre outros. Estes não são difíceis de serem seguidos e nem onerosos, podendo o produtor adequar sua produção e ter uma
Esses probióticos são bactérias naturais do intestino, as quais, após uma ingestão em doses efetivas, são capazes de se estabelecer ou mesmo colonizar o trato digestivo e manter ou aumentar a flora natural, prevenindo
a
colonização
de
organismos
patogênicos e assegurando uma melhor utilização dos alimentos (MACARI & FURLAN, 2005).
rentabilidade maior. A utilização de probióticos, até o momento, é muito a
contraditória em virtude dos resultados obtidos, onde
competição entre as empresas produtoras que
uma parte das pesquisas indica eficiência, e outra
buscam um produto diferenciado e de melhor
não.
qualidade
do
suplementação de ração para as linhagens coloniais
produtos
(tipo caipira) com probióticos que associam o tipo de
O
aumento
na
para
produção
atender
consumidor, que tem
contribuiu
às
procurado
para
exigências por
Existem
avaliando
menor velocidade de crescimento, abate tardio e
utilizados e, principalmente, o custo de produção por
rações
frango criado.
incluam
medicamentos
e/ou
alimentos
a
gramínea
não
piquete,
trabalhos
naturais, como frangos criados ao ar livre, com que
do
poucos
alternativos
promotores de crescimento (NAZARENO et al., A
2011).
suplementação
das
dietas
com
agentes
microbianos baseia-se no princípio da simbiose, em Este sistema de produção tem como características a utilização da mão de obra familiar, proporcionando a participação da mulher e dos filhos, por se tratar de uma atividade de fácil manejo; a fixação do
que há associação de organismos superiores com a microbiota
bacteriana,
envolvidos,
benefícios
proporcionando, recíprocos
aos
(PEDROSO,
2003).
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8041-8050, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006
8042
Artigo 453 – Utilização de probióticos para aves tipo caipira
O
mecanismo
de
ação
está
cutar um bom planejamento, de modo a garantir
relacionado à competição por sítios de ligação ou
instalações adequadas, possibilitando ações que irão
exclusão
propiciar a saúde e o desempenho das aves.
competitiva,
dos
probióticos
verificando-se
também
competição por nutrientes, produção de substâncias antibacterianas e enzimas por parte dos probióticos e
Sistema extensivo
estímulo do sistema imune (MACARI & FURLAN,
O sistema extensivo é aquele conhecido como ―solto
2005).
a pasto‖, termo comum usado na bovinocultura, onde os animais ficam alojados de forma livre dentro de
Baseado neste levantamento, esta revisão de
determinadas extensões na propriedade. Silva &
literatura tem por objetivo elucidar os principais
Nakano (1997) apresentam que, entre os anos de
pontos da utilização de probióticos na alimentação
1900 a 1930, a avicultura passou por um período
de aves tipo caipira, bem como os destaques
chamado ―Colonial‖, em que as aves eram criadas
científicos destas questões.
totalmente soltas e sem nenhum critério específico de produção.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Características das aves caipiras
Neste tipo de sistema, não há controle dos animais,
A criação de aves tipo caipira é um dos segmentos
sendo que todas as aves são criadas juntas e com
mais promissores do setor avícola. As linhagens
idades variadas, não havendo controle sanitário,
atuais
características
produtivo e nem nutricional. Existe alta mortalidade
sensoriais diferenciadas quando comparadas ao
de pintinhos devido ao ataque de predadores e ação
frango de corte comercial de crescimento rápido,
de doenças que podem comprometer a produção
como: sabor, coloração, firmeza da carne etc.
(GESSULLI, 1999).
apresentam
algumas
Mesmo com vários benefícios ao paladar do consumidor, a produção de frangos tipo caipira está
Segundo Takahashi (2006), as aves fazem seu
longe de alcançar o desempenho das criações
próprio
convencionais (TAKAHASHI et al., 2006).
aproveitamento de seus ovos, e a alimentação
Este sistema de produção vem crescendo no
destes animais é feita à vontade, de acordo com a
cenário nacional e ganhando espaço no mercado,
disponibilidade no local de criação, sendo composta
deixando de ser uma atividade apenas de pequenos
por insetos, minhocas, pequenos crustáceos e
produtores, onde o aumento na produção contribuiu
vegetação natural.
ninho
ao
ar
livre,
podendo
não
ter
para a competição entre as empresas produtoras que, a cada dia, buscam um produto diferenciado e
Na
de melhor qualidade para atender às exigências do
acrescenta o milho e outros alimentos alternativos
consumidor,
produtos
que são comprados a baixo custo. Esse sistema de
naturais, como frangos criados ao ar livre, com
criação gera liberdade para o animal expressar os
menor velocidade de crescimento, abate tardio e
comportamentos naturais, porém
ração diferenciada (GONÇALVES, 2012).
indicado devido às doenças e prejuízos que podem
As aves utilizadas neste sistema podem ser raças ou
acontecer
linhagens, com um baixo potencial genético de
lucratividade do produtor (FIGUEIREDO et al., 2001).
que
tem
procurado
por
complementação
com
a
alimentar,
produção,
o
produtor
não é muito interferindo
na
crescimento e alta rusticidade, boas adaptabilidade à criação em semi-confinamento (ZANUSSO et al.,
Sistema semi-intensivo
2003).
A exploração de aves caipira de corte em sistema semi-intensivo constitui-se numa alternativa muito
Sistemas de criação para aves tipo caipira
importante para o pequeno agricultor, uma vez que
Sistema de criação refere-se ao modo com que as
ele pode utilizar grande parte da alimentação das
aves são criadas e pode variar conforme a
aves com os produtos e resíduos produzidos no seu
necessidade ou tipo de produção. A decisão por um
próprio imóvel rural, bem como a mão de obra
ou outro sistema de criação possibilita ao criador exe-
familiar (FIGUEIREDO et al., 2001).
8043
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8041-8050, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 453 – Utilização de probióticos para aves tipo caipira
O frango tipo caipira permite algumas adaptações no
Segundo Zanusso et al. (2003), para que a avicultura
sistema de criação, tendo em vista a grande
alternativa conquiste o mercado consumidor, será
rusticidade e resistência dessas aves em relação ao
necessário evidenciar que as aves obtidas neste
frango de escala industrial.
sistema
Para a produção em sistema semi-intensivo, é
superiores às procedentes do sistema intensivo,
necessário não apenas o oferecimento de condições
quanto às suas características organolépticas, e que
ambientais
satisfaçam
adequadas
para as
aves, mas
a
de
produção
algumas
apresentem
demandas
qualidades
essenciais
do
utilização de aves adaptadas para o sistema
consumidor: produto de qualidade reconhecida,
alternativo,
oriundo de produção tradicional, com rastreabilidade
com
alto
potencial
genético
(HELLMEISTER FILHO, 2002).
em todos os estágios de produção, assegurado por controles de qualidade e um preço atrativo.
A principal característica desse sistema é a criação em galpão associado a piquetes em que os animais
A alimentação de aves tipo caipira
passam grande parte do dia pastejando, sendo
De acordo com a Associação Brasileira da Avicultura
alojados em galpão fechado durante a noite
Alternativa, para que Frango Caipira e Frango
(GONÇALVES, 2012).
Colonial sejam classificados dessa forma, as aves
Neste sistema, é comum os pintinhos serem
necessitam ser oriundas de linhagem exclusiva para
confinados durante o início da criação (fase mais
esse fim, com nutrição baseada no pastejo e ração
crítica) e, posteriormente, é dado a eles acesso a
constituída por ingredientes preferencialmente de
áreas de pastejo. Esse tipo de criação visa atender
origem
um nicho de mercado constituído por uma faixa de
melhoradores de desempenho de base antibiótica
consumidores
(AVAL, 2013).
com
exigências
gastronômicas
vegetal,
sendo
proibido
o
uso
de
distintas, principalmente pelo bem-estar animal A alimentação representa a maior parte do custo de
(ZANUSSO& DIONELLO, 2003).
produção
avícola,
em
animais devido ao controle sanitário e produtivo,
brasileiras, onde se utilizam cereais e oleaginosas
além de manter as características normais da
para apropriada expressão fenotípica dos plantéis
espécie em relação a seu comportamento natural,
(NASCIMENTO et al., 2009). Portanto, existe a
pastejo, alimentação e movimentação, devido à
necessidade
maior oportunidade de espaço e liberdade dos
alimentos alternativos ou programas de alimentação
animais,
com suplementação com aditivos para aves caipiras.
as
normas
de
bem-estar
pesquisas
distintas
planos
nutricionais
de
das
nos
Este tipo de sistema confere um melhor manejo dos
atendendo
tradicionais
particular
em
regiões
avaliação
de
(GONÇALVES, 2012). Do ponto de vista econômico, a alimentação é um Variação da carne tipo caipira e da industrial
fator de grande importância, não somente porque
A intensa procura pela carne tipo caipira advém de
dela depende um bom desempenho produtivo das
diversos fatores. Segundo Souza (2004), a procura
aves, sobretudo, porque representa a maior parte
por frangos caipira se deve ao interesse de uma
dos
parte do mercado em adquirir uma carne com sabor
GRANGEIRO, 2012).
custos
da
atividade
(70%)
(SANTOS
&
característico e menor teor de gordura. A exploração de aves caipira de corte em sistema A alimentação de frangos tipo caipira possui
semi-intensivo representa uma alternativa muito
crescimento lento, e esta característica apresenta
importante para os pequenos agricultores, pois eles
alguns pontos críticos, como: evitar um ganho de
utilizam grande parte da alimentação das aves com
peso rápido e taxa de engorda demasiada e limitar a
os produtos e resíduos produzidos no seu próprio
conversão alimentar. Um crescimento inicial muito
imóvel rural, bem como a mão de obra familiar.
rápido acarreta uma piora na conversão alimentar e um crescimento tardio acelerado, favorecendo maior
Diretrizes e normas com relação ao frango
depósito de tecido adiposo (GESSULLI, 1999).
caipira
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8041-8050, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006
8044
Artigo 453 – Utilização de probióticos para aves tipo caipira
Segundo o Aval (2013), algumas prerrogativas foram
tinal dos animais, diminuindo a ocorrência dos
seguidas como padrão a partir de 2013: frango
microrganismos
convencional - frangos produzidos em granjas de
Independentemente
exploração comercial, de linhagens
probióticos
comerciais
patogênicos do
trazem
ou
indesejáveis.
conceito
benefícios
à
utilizado,
os
saúde
do
geneticamente selecionadas para alta taxa de
hospedeiro, não deixam resíduos nos produtos de
crescimento e excelente eficiência alimentar, criados
origem animal e não favorecem resistência às
em sistema intensivo segundo as normas sanitárias
drogas, o que os faz candidatos preferenciais para
vigentes, sem restrição ao uso de antibióticos,
substituir
anticoccidianos,
alimentares.
promotores
de
crescimento,
os
antimicrobianos
como
aditivos
quimioterápicos e ingredientes de origem animal na Estes produtos vêm sendo utilizados há anos na
dieta.
alimentação humana, tanto com finalidade profilática Frango
criado
antibióticos
quanto terapêutica; entretanto, a indústria avícola
(antibioticfree/af) - frango de exploração intensiva,
ainda apresenta certa resistência ao seu uso
sem restrição de linhagem, criado sem o uso de
(SANTOS et al., 2005).
antibióticos,
sem
o
uso
anticoccidianos,
de
promotores
de
crescimento, quimioterápicos e ingredientes de
Os
origem animal na dieta.
antibióticos de forma terapêutica, sendo utilizados
probióticos
também
podem
substituir
os
logo no início do aparecimento dos sinais clínicos de Frango caipira, frango colonial, frango tipo ou
uma diarreia alimentar. Se o quadro for muito severo,
estilo caipira - frango de linhagem exclusiva para
somente os antibióticos terão efeito. Mesmo assim, é
esse fim, criado em sistema com acesso a áreas
aconselhável
externas para pastejo, exercícios e manifestação de
consorciada, na medida em que este favoreça a
comportamentos inerentes à espécie, e que se
repovoação da flora intestinal após o saneamento
alimentam com ração constituída por ingredientes
promovido pelos antibióticos (GHADBAN, 2002).
utilizar
probióticos
de
forma
preferencialmente de origem vegetal, sendo proibido o uso de melhoradores de desempenho de base
Os probióticos podem conter gêneros de bactérias
antibiótica. Apenas linhagens ou raças de aves de
totalmente conhecidas e quantificadas ou culturas
crescimento lento (superior a 70 dias) serão aceitas
bacterianas
com esta denominação.
Bacteroides,
não
definidas
como
Enterococcus,
e
especialmente
Eubacterium
Lactobacillus e Bifidobacterium,estando presentes Frango orgânico - frangos produzidos em granja de
em
exploração comercial. Não há restrição de linhagens.
(FLEMMING, 2005).
todas
as
misturas
de
culturas
definidas
Produzido segundo legislação brasileira para os sistemas
orgânicos
cujas
A eficácia do produto é estritamente dependente da
encontram-se
quantidade e das características das cepas do
principalmente descritas na Instrução Normativa
microrganismo utilizado na elaboração do produto a
n°46 de 07/10/2011. Sua principal característica
ser empregado como aditivo alimentar. É importante
produtiva é a ração das aves com ingredientes que
analisar os probióticos como produtos separados,
tenham origem orgânica certificada, cultivados sem
seguindo o exemplo dos antibióticos (LODDI, 2001).
especificações
de
produtivas
produção,
a utilização de defensivos e fertilizantes químicos, respeitando-se o bem-estar animal e o meio
Os probióticos podem ser aplicados de várias
ambiente.
formas, como: adicionados às rações e à água, pulverização
sobre
os
animais,
em
cápsulas
Probióticos
gelatinosas via intraesofagianas, inoculação em ovos
Segundo o Compêndio Brasileiro de Alimentação
de aves embrionados e cama das aves (PETRI,
Animal (2004), os probióticos são cepas específicas
2000).
de várias espécies de microrganismos que agem como auxiliares na recomposição da microbiota intes8045
A via de administração dos probióticos pode determinar
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Artigo 453 – Utilização de probióticos para aves tipo caipira
uma melhor ou pior capacidade de colonização
nutrientes, produção de substâncias antibacterianas,
intestinal pelas bactérias presentes no produto
enzimas por parte dos probióticos e estímulo do
utilizado. A inoculação direta no esôfago/inglúvio
sistema imune (SILVA, 2000).
(intraesofagiana) é a mais eficiente; todavia, quando for aplicada em muitas aves, acaba sendo pouco
Existem vários estudos mostram como agem os
indicada (LODDI, 2001).
probióticos no organismo animal, porém uma das teorias mais difundidas é da "exclusão competitiva".
Uso de probióticos em dietas para aves
Segundo Ribeiro (2008), esta teoria relata a ação
Probióticos são microrganismos vivos que geram
ineficaz de microrganismos patógenos em colonizar
benefícios
o intestino animal, devido à presença de outras
quando
introduzidos
no
trato
gastrintestinal, competindo com a flora patogênica
populações desejáveis.
por nutrientes, locais de adesão no epitélio intestinal e sintetizando metabólitos (ácidos orgânicos) que
Os probióticos, depois de ingeridos, encontrando-se
criam resistência ao crescimento de organismos
em meio favorável para sua multiplicação, colonizam
patogênicos (JUNQUEIRA & DUARTE, 2005).
o trato gastrintestinal, estabelecendo-se sobre os
Podem conter bactérias totalmente conhecidas e
demais microrganismos ali presentes (RIBEIRO,
quantificadas
ou
2008).
conhecidas.
Os
culturas
bacterianas
principais
não
microrganismos
bacterianos considerados como seteprobióticos são
Quando são usados na alimentação de aves, os
aqueles dos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium,
probióticos
além
proporcionam melhor qualidade ao alimento, atuam
de
Escherichia,
Enterococcuse
Bacillus
aumentam
a
eficiência
alimentar,
como promotores naturais de crescimento, diminuem
(MORAIS & JACOB, 2006).
as perdas devido a doenças infecciosas e reduzem Os probióticos podem ser agrupados de acordo com
os sintomas de estresse (KOZASA, 1989).
as características do conjunto de microrganismos A utilização de probióticos como aditivos alimentares
que os compõe.
supostamente
pode
proporcionar
melhor
Assim, a Tabela 1 apresenta os principais grupos de
desempenho (BERTECHINI & HOSSAIN, 1993; JIN
probióticos e seus microrganismos correspondentes.
et al., 1998). Porém, para que este benefício seja alcançado, é necessário avaliar fatores como: idade
TABELA 1: Principais microrganismos ativos dos
do animal, tipo de probiótico, viabilidade dos
probióticos
microrganismos no momento de serem agregados às rações,
Grupos
cereus,
utilizadas,
condições
de
armazenamento, condições de manejo (nível de
Microrganismo ativo Bacillus
Aeróbio
cepas
Bacillus
coagulans,
estresse) e sanidade (MACARI et al., 2004).
Bacillus subtilis.
As ações dos probióticos podem ser explicadas pela Anaeróbio
Clostridium butyricum.
formação de biofilme que se adere à camada de muco sobre a superfície intestinal, constituindo uma
Produtores de ácido lático Leveduras
Bifido
bacterium
thermo
phitum,Bifidobacteriumpseudolengum,
barreira de bactérias benéficas que irão exercer suas funções,
Lactobacillusacidophilos.
como
a
produção
de
substâncias
antimicrobianas e ácidos orgânicos (PELICANO et al., 2005).
Streptococcus sp., Lactobacillus sp. Bacillus sp., Bifidobacterium sp.
Por consequência, há melhora na maturação e na
Fonte: Adaptado de TEIXEIRA (2001).
integridade das estruturas intestinais, aumento da O
mecanismo
de
ação
dos
probióticos
está
proteção das vilosidades e superfícies de absorção
relacionado à competição por sítios de ligação ou
contra toxinas produzidas por agentes patogênicos,
exclusão competitiva, onde existe a competição por
assim como a estimulação da resposta imune
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8046
Artigo 453 – utilização de probióticos para aves tipo caipira
(PELÍCANO et al., 2005), favorecendo a absorção
ção de amônia e, assim melhorar a saúde e o
dos nutrientes pelos enterócitos.
crescimento do animal, visto que a amônia pode causar danos nas células intestinais, diminuindo o
Essas atividades dos probióticos fornecem base
rendimento do animal.
científica relacionada com o aumento da função protetora contra microrganismos patogênicos em
As bactérias probióticas, que também exercem
frangos jovens (LEE et al., 2010). Recentemente,
um efeito biológico na medida em que promovem
estudos vêm sendo desenvolvidos para investigar
um ambiente de baixa tensão de oxigênio,
esses efeitos sobre a morfologia e morfometria da
desfavorecendo
mucosa intestinal, coma finalidade de observar a
enteropatogênicas,
integridade ou possíveis alterações, pois esses
Salmonellas
(PETRI,
parâmetros são considerados como indicadores das
também
efeito
funções intestinais (MATUR et al., 2012).
probióticas produzem ácidos orgânicos, como lático e
um
o
crescimento 2000). químico,
propiônico,que
bactérias
Favorecendo pois
reduzem
o pH do
Um bom probiótico deve sobreviver às condições
inibição de bactérias patogênicas (GHADBAN,
adversas do trato gastrintestinal (ação da bile e dos
2002).
pancreático
e
uma
bactérias
Como agem os probióticos
gástrico,
com
as
ambiente
sucos
intestinal,
de
principalmente
consequente
entérico),
permanecendo no ecossistema intestinal; não ser
Bacillus subtilis
tóxico nem patogênico para o homem e animais; ser
Os Bacillus subtilissão um tipo de bactéria Gram-
estável durante a estocagem e permanecer viável
positivo em forma de bastonete, comumente
por longos períodos de tempo nas condições
encontrada nas camadas superiores do solo,
normais de estocagem; ter capacidade antagônica
sendo considerada um bom modelo de organismo
às bactérias intestinais indesejáveis e promover
para o estudo devido à sua facilidade de cultivo, à
efeitos comprovadamente benéficos ao hospedeiro
sua natureza não patogênica, perfil genético
(GIBSON & ROBERFROID, 1995).
acessível
e
por
apresentar
relevância
agroindustrial (LOPEZ et al., 2013). Esse gênero Ressalta-se, também, que deve ser um habitante
é o único que forma endósporos, tornando-o
normal do trato intestinal do hospedeiro para ser
resistente
capaz de sobreviver, crescer e se fixar no intestino.
ambiente (AVILA et al., 2011). O principal
Embora exista a utilização comercial de probióticos
mecanismo desenvolvido pelo Bacillus subtilis é a
com microrganismos que não têm
esporulação (LOPEZ et al., 2013).
a mesma
às
condições
adversas
do
meio
capacidade de colonizar o trato gastrintestinal, como o Bacillus subtilis, este atinge o interior do intestino
As espécies de Bacillussp, ao contrário das
com um maior número de microrganismos viáveis se
bactérias ácido-lácticas, não são normalmente
comparado ao Lactobacillusacidofilus,pelo fato de
encontradas no trato gastrintestinal (SUN et al.,
estar na forma esporulada e, consequentemente,
2010), pois não são comumente organismos
não ser destruído durante o processamento da ração
colonizadores que se aderem aos sítios de
(GONZALES, 2004).
ligação dos enterócitos (AVILA et al., 2011). No entanto, o Bacillus subtilis transita pelo intestino,
A função do probiótico é reparar as deficiências na
juntamente com o conteúdo intestinal, e sua
microflora e restaurar a resistência dos animais às
prevalência dificulta a fixação dos microrganismos
doenças. Como tratamento, não existe introdução de
patogênicos mediante a exclusão competitiva ou
substância estranha nos intestinos dos animais, sem
antagonismo direto.
risco de contaminar as carcaças ou introduzir substâncias
perigosas
na
cadeia
alimentar
(SANTOS, 2005).
Dessa forma, haverá menor produção de amônia, toxinas e aminas, o que contribui para a integridade do epitélio intestinal (AVILA et al.,
De acordo com GHADBAN (2002), bactérias probióticas
2011), pois o Bacillus subtilis apresenta a
como Bacillus subtilis, também podem suprimir a pro-
capacidade de manter o equilíbrio favorável
8047
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.6, p.8041-8050, nov./dez, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 453 – Utilização de probióticos para aves tipo caipira
modulando a microbiota no trato gastrintestinal, com
em rações de frangos de corte. In: Conferência de
consequente melhora no desempenho animal quando
ciência e tecnologia avícola, 1993, Santos.
administrado por via oral em quantidades adequadas
Anais... Santos: Apinco, 1993.
(LEE et al., 2010).
BRASIL. Ministério da
Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Instrução Normativa nº 04 de 30 Essas informações são decorrentes de pesquisas
de dezembro de 1998. Dispõe sobre normas para
realizadas mostrando as vantagens da utilização do
registro e fiscalização dos estabelecimentos
Bacillus subtilis, sendo de extrema importância mais
avícolas. Diário Oficial da República Federativa
pesquisas
do Brasil, Brasília, DF, 1998.
com
essa
suplementação,
visando
a
melhorias no desempenho e na saúde animal.
Compêndio
brasileiro
de
Microingredientes: CONSIDERAÇÕES FINAIS
alimentação
A criação de aves para produção de carne tipo caipira
Sindirações. 2004. 45p.
é um dos segmentos mais promissores do setor
alimentação
animal.
Microingredientes
animal.
Brasília:
de
CBNA;
FARMER, L. J., PERRY, G. C., LEWIS, P. D., NUTE,
avícola cuja produção com linhagens de crescimento
G. R., PIGGOTT, J. R., & PATTERSON, R. L. S.
lento, identificáveis nos sistemas de produção semi-
Esponses of two genotypes of chicken to the diets
intensivo
sensoriais
and stocking densites of conventional UK and
diferenciadas das criadas em confinamento comercial,
―Label Rouge‖production systems. II. Sensory
com carne mais escura, firme, e sabor acentuado. Esta
attributes. Meat Science, v.47, n.1-2, p.77-93,
produção
apresentam
está
longe
características
de
alcançar
a
produção
1997.
tradicional de frangos de corte, porém este sistema de
FIGUEIREDO, E.A.P. Diferentes denominações e
produção vem crescendo no cenário nacional e
classificação brasileira de produção alternativa de
ganhando espaço no mercado, deixando de ser uma
frangos. In: Conferência de Ciência e Tecnologia
atividade apenas de pequenos produtores.
Avícola-Apinco,
Os
consumidores estão cada dia mais exigentes quando
2001,
Campinas.
Anais...Campinas: Apinco,2001. p.209-222.
se trata de alimentação, e o acesso as informações de
FILHO, P. H. Efeitos de fatores genéticos e do
como os animai são criados faz com que a produção
sistema de criação sobre o desempenho e o
livre torne-se uma realidade no setor avícola. Por isso,
rendimento de carcaça de frangos tipo caipira.
énecessário mais estudos nessa áreaque viabilizem as
Piracicaba, 2002. 77 p.
técnicas de manejo, nutrição e profilaxia, nesse
FLEMMING, J. S.; FREITAS, R. J. S. Avaliação do
contexto existe a necessidade de maiores estudos e
efeito de prebióticos (MOS), probióticos (Bacillus
pesquisas relacionadas à suplementação do probiótico
licheniformis e Bacillus subtilis) e promotor de
nas dietas das avesem razão dos diversos fatores que
crescimento na alimentação de frangos de
podem influenciar no processo de ação do probiótico
corte. Archives of Veterinary Science, v. 10, n.
na fisiologia do animal, analisando diferentes dosagens e fases de produção.
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