NutriTime Revista Eletrônica n. 01 vol. 15 2018

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Revista Eletrônica

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Nutritime Revista Eletrônica www.nutritime.com.br Praça do Rosário, 01 Sala 302 - Centro - Viçosa, MG - Cep: 36.570-000 A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda, com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos e também resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br.

Editora Responsável: Juliana Maria Freitas Teixeira Brito Editor Científico: Júlio Maria Ribeiro Pupa Editora Técnica: Rosana Coelho de Alvarenga e Melo Cláudio José Borela Espeschit Evandro de Castro Melo Fernando Queiróz de Almeida José Luiz Domingues

Júlio Maria Ribeiro Pupa George Henrique Kling de Moraes Marcelo Diniz dos Santos Marcos Antonio Delmondes Bomfim Maria Izabel Vieira de Almeida Patricia Pinheiro de Campos Fonseca Rodrigues Rony Antonio Ferreira Rosana Coelho de Alvarenga e Melo É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo da NRE da em qualquer meio de comunicação, seja eletrônico ou impresso, sem a sua devida citação.



Sumário ARTIGOS 454 – Antioxidantes e crioprotetores na criopreservação do sêmen de ovinos ................................................ 8051 Wildelfrancys Lima de Souza, Elenice Andrade Morais, Ricardo Toniolli 455 – Relação treonina: lisina em dietas para frangos de corte na fase inicial .................................................. 8065 Halef Pereira de Oliveira, Paulo Ricardo de Sá da Costa Leite, Leticia Mariano Barbosa, Valéria Bonifácia Marra da Silva, Mônica Maria de Almeida Brainer 456 – A utilização de probióticos e prebióticos em rações caninas e felinas ..................................................... 8073 Maria Eduarda Bueno Safra, José Guilherme Araújo Lemos, Martín Toscano, Natália Botazzari, Kassia Amariz Pires Menolli 457 – Arginina na nutrição de leitões ............................................................................................................................ 8081 Bruna Kuhn Gomes, Laion Antunes Stella 458 – Extratos vegetais: potencial e uso na alimentação de animais ruminantes ............................................ 8089 João Rafael de Assis, Rodrigo Torres, Jurandy Gouveia Junior, João Pedro Alves Maranho, Dener Nunes 459 – Efeitos do estresse térmico materno no final do período seco e lactação .............................................. 8097 Camila Flávia de Assis Lage, Victor Marco Rocha Malacco, Mayara Campos Lombardi, Ronaldo Braga Reis, Sandra Gesteira Coelho 460 – Efeito do estresse térmico por calor em vacas leiteiras ................................................................................ 8107 Jean Kaique Valentim, Tatiana Marques Bittencourt, Rúbia Francielle Moreira Rodrigues, Gabriel Gobira de Alcantâra Araújo, Guilherme Resende de Almeida 461 – Viabilidade da utilização da monoensina sódica na alimentação de ruminantes: revisão de literatura ...................................................................................................................................................................................... 8115 Leticia Fernanda Xavier Costa, Ingrid Lorrainy Da Silva Oliveira, Luis Gustavo Silva Rodrigues, Vanessa Cristina de Souza Resende, Raphael Xavier Costa

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8051-8064, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

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Antioxidantes e crioprotetores na criopreservação do sêmen de ovinos Revista Eletrônica Aminoácidos, colesterol, congelação, sêmen.

Wildelfrancys Lima de Souza Elenice Andrade Morais Ricardo Toniolli

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Vol. 15, Nº 01, Jan/Fev de 2018 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

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Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus do Itaperi, Fortaleza. *Email: wilde@zootecnista.com.br. 2 Professora no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). 3 Professor no Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Estadual do Ceará (UECE), Campus do Itaperi, Fortaleza.

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

ANTIOXIDANTS AND CRYOPROTECTANTS IN

RESUMO

CRYOPRESERVATION OF RAM SPERM

Embora os avanços em aumentar a capacidade fecundante dos espermatozoides pós-descongelação sejam notáveis, a utilização desse tipo de sêmen ainda é limitado, devido aos danos parcialmente irreversíveis aos espermatozoides durante a criopreservação, com consequente redução no potencial fecundante pósdescongelação em comparação com o potencial de espermatozoides a fresco ou resfriados. Esta variação é induzida pela membrana mudando o seu estado de fluida para o estado de gel em baixas temperaturas. O colesterol desempenha um papel importante como regulador da função da membrana celular, mantendo a sua fluidez e a sua permeabilidade, favorecendo a fase de transição da membrana, por meio da mantenção do estado fluido em baixas temperaturas, reduzindo assim, os danos na membrana espermática. Todavia, alguns aminoácidos podem proteger as células de mamíferos contra as crioinjúrias causadas na congelação/descongelação. Os aminoácidos com suas propriedades ajudam a proteger as células dos espermatozoides contra os danos estruturais durante o estresse térmico. No entanto, durante o processo de criopreservação, também ocorre a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs), que em quantidades elevadas, tornam-se prejudiciais para célula dos espermatozoides. Desta forma, a proteção adicional nas células espermáticas, constitui um desafio durante os protocolos de criopreservação, quando as células necessitam manter a função e a fluidez da membrana, além de combater o estresse oxidativo e, ao mesmo tempo, manter a habilidade de produção de EROs para execução de seus processos fisiológicos.

Palavras-chave: aminoácidos, colesterol, congelação, sêmen.

ABSTRACT Although advances in enhancing the post-thawing spermatozoa ability to perform post-thawing are remarkable, the use of semen is still commercially limited due to partially irreversible damage to spermatozoa during cryopreservation, with a consequent reduction in post-thawing fertilization potential compared to the potential of fresh or cooled sperm. This variation is induced by the membrane changing its state of fluid to the gel state at low temperatures. Cholesterol plays an important role as a regulator of membrane function, maintaining fluidity and permeability in the cell membrane, favoring the transition phase of the membrane, by maintaining the fluid state at low temperatures, thus reducing membrane damage Sperm. However some amino acids may protect mammalian cells from cryo-injury caused by freezing/thawing. Amino acids with their properties help protect sperm cells against structural damage during thermal stress. However, during the cryopreservation process, also occurs the production of reactive oxygen species (ROS), which in high amounts, become harmful to sperm cells. Thus, the additional protection in sperm cells, constitutes a challenge during cryopreservation protocols, when cells need to maintain membrane function and fluidity, in addition to combating oxidative stress and, at the same time, maintaining production ability of ROS for the execution of their physiological processes. Keyword: amino acids, cholesterol, freezing, semen.

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Artigo 454 – Antioxidantes e crioprotetores na criopreservação do sêmen de ovinos

INTRODUÇÃO Buscando

monstrado ser importante em manter a fluidez

melhorar

a

qualidade

dos

(HARTEL

et

al.,

1998)

1988)

na

e

a

permeabilidade

espermatozoides durante a criopreservação, vários

(McGRATH,

estudos buscam a otimização da técnica de

favorecendo a fase de transição da membrana, por

congelação de espermatozoides nas diferentes

meio da manutenção do estado fluido em baixas

espécies, como em suínos (TONIOLLI et al., 2009),

temperaturas,

bovinos (TASDEMIR et al., 2013), caninos (MOTA

membrana espermática (AMANN & PICKETT, 1987).

membrana

reduzindo

assim,

da

os

célula,

danos

na

FILHO et al., 2014), peixes (SALMITO-VANDERLEY et al., 2014), equinos (SANTOS et al., 2015), ovinos

Todavia,

(SOUZA et al., 2016a) e caprinos (SOUZA &

colesterol, alguns aminoácidos podem proteger as

MORAES, 2017).

células de mamíferos contra as crioinjúrias causadas

estudos

tem

relatado

que

além

do

na congelação/descongelação (LALONDE et al., Embora os avanços em aumentar a capacidade

1991). Os aminoácidos com suas propriedades

fecundante

pós-

ajudam a proteger as células dos espermatozoides

descongelação sejam notáveis, a solução ideal para

contra os danos estruturais durante o estresse

o uso do sêmen congelado na espécie ovina ainda

térmico (SANGEETA et al., 2015).

dos

espermatozoides

não foi obtida nem se popularizou com resultados reproduzíveis (MORAES, 2003). Os baixos índices

No entanto, durante o processo de criopreservação,

de fertilidade das fêmeas inseminadas com sêmen

também ocorre a produção de espécies reativas de

congelado podem ser melhorados com os avanços

oxigênio

positivos alcançados na técnica de inseminação

quantidades, exercem efeito fisiológico, por exemplo,

artificial e, principalmente, com as melhorias que

medeiam funções como capacitação espermática,

ainda podem ser implementadas nos protocolos e

hiperativação, reação acrossomal e fusão dos

diluidores de preservação de sêmen (CSEH et al.,

pronúcleos do espermatozoide e oócito. Contudo,

2012).

em quantidades elevadas, as EROs tornam-se

(EROs),

prejudiciais

para

e

essas,

célula

dos

em

pequenas

espermatozoides

Os baixos índices de fertilidade são atribuídos aos

(AITKEN, 1997). Os danos provocados pelo estresse

danos

aos

oxidativo, resulta na diminuição da motilidade

espermatozoides durante a criopreservação, com

espermática, alterações na membrana plasmática

consequente redução no potencial fecundante pós-

(GRIVEAU & LELANNOU, 1997), indução de danos

descongelação em comparação com o potencial de

ao

espermatozoides a fresco ou resfriados (MAZUR,

esgotamento da adenosina trifosfato (ATP) nas

1984). Esses danos na estrutura da membrana

mitocôndrias, além da redução da viabilidade e da

plasmática dos espermatozoides ocorrem quando

capacidade fecundante (AITKEN & MARSHALL,

são resfriados (MORAES et al., 2015; SOUZA et al.,

2002).

parcialmente

irreversíveis

DNA

no

núcleo

da

célula

espermática,

2016b), e podem ser parcialmente responsáveis pela dos

Assim, a inibição dos danos que as EROs causam

espermatozoides (WATSON, 2000), uma vez que o

aos espermatozoides, especialmente, pode elevar a

processo de resfriamento induz rearranjos de lipídos

viabilidade dessa célula após o processo de

e de proteínas dentro das membranas das células

criopreservação (SOUZA et al., 2016a). Desse

quando elas são arrefecidas (MOCÉ et al., 2010).

modo,

Esta variação é induzida pela membrana mudando o

diferentes espécies de animais, provaram que a

seu estado de fluido para o estado de gel em baixas

adição

temperaturas (LEE et al., 2015).

congelação/descongelação,

diminuição

da

capacidade

fecundante

estudos de

deletérios

realizados

antioxidantes do

anteriormente

no

sêmen

minimiza

estresse

antes os

oxidativo

efeitos e,

consequentemente,

membrana

papel

espermática após a criopreservação (GADEA et al.,

importante como regulador da função da membrana

2008; MONTEIRO et al., 2009; SOUZA et al., 2016a;

(YEAGLE, 1985). Além disso, o colesterol tem de-

SOUZA et al., 2017).

desempenha

um

a

da

O colesterol, principal constituinte estrutural da plasmática,

melhora

com

qualidade

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Artigo 454 – Antioxidantes e crioprotetores na criopreservação do sêmen de ovinos

Desta forma, a proteção adicional nas células

a temperatura aumenta, ela transita através de uma

espermáticas,

a

fase de gel para uma fase cristalina líquida. Dessa

maturação e o armazenamento, quando as células

forma, a formação da micela invertida é transitória

necessitam manter a função e a fluidez da

nos fosfolipídios, entretanto, para alguns fosfolipídios

membrana, além de combater o estresse oxidativo e,

esta estrutura persiste, tendo como consequência, o

ao mesmo tempo, manter a habilidade de produção

aumento

de EROs para execução de seus processos

plasmática, além da formação de canais que

fisiológicos (REJRAJI et al., 2006).

possibiliam a entrada de íons e pequenas moléculas

constitui

um

desafio

durante

da

permeabilidade

na

membrana

que desestabilizam a membrana, causando assim, Diante disso, existe um grande interesse no

danos

desenvolvimento de pesquisas com antioxidantes

precoce e perda de viabilidade (AMANN & PICKET,

juntamente com os crioprotetores (colesterol e

1987; PARKS & GRAHAM, 1992; WATSON, 1995).

aminoácidos),

buscando

prevenir

irreversíveis

como

reação

acrossômica

os

espermatozoides da oxidação, e aumentar a sua

As modificações na membrana plasmática podem

capacidade

variar desde alterações na permeabilidade, mudança

fecundante

após

o

protocolo

de

na organização, fluidez, e composição lipídica da

criopreservação.

bicamada

à

total

ruptura

de

membrana

REVISÃO DE LITERATURA

(JANUSKAUSKAS et al., 2003). Alterações na

Membrana Plasmática

integridade

da

Sendo uma estrutura determinante na arquitetura do

associadas

com

sistema biológico, a membrana celular é o elemento

fecundante dos espermatozoides após o processo

estrutural básico para manutenção dos fluidos

de criopreservação (THOMAS et al., 2006). Com

intracelulares

isso,

(JEYENDRAN

et

al.,

1984).

A

o

baixo

membrana a

redução

potencial

plasmática da

estão

capacidade

fecundante

dos

membrana plasmática circunda todas as células

espermatozoides descongelados é atribuído, em

(eucariontes ou procariontes) e define assim, sua

grande parte, às alterações sofridas na estrutura das

delimitação, separando o conteúdo do meio que a

membranas plasmática, acrossomal e mitocondrial

circunda. A membrana plasmática também atua

durante as etapas de refrigeração, congelação e

como barreira seletiva, determinando a composição

descongelação (PARKS & GRAHAM, 1992).

do citoplasma celular (COOPER, 1996), e tem papel fundamental em grande parte dos fenômenos

Portanto, a membrana plasmática desempenha um

celulares (SINGER & NICOLSON, 1972).

papel importante para que os espermatozoides mantenham a capacidade fecundante, modificando-

A membrana plasmática é formada por fosfolipídios

se ao longo do processo de espermatogênese, de

e esteróis, além de proteínas periféricas e integrais

trânsito até o armazenamento no epidídimo, na

incrustadas na bicamada ou associadas a ela. As

ejaculação, e no depósito no trato genital feminino e,

regiões apolares das moléculas dos lipídeos são

finalmente, na capacitação e penetração no oócito

orientadas para o centro da bicamada, e os grupos

(HOLT, 1995; WATSON, 1995; LENZI et al., 1996).

polares para a região extracelular ou em contato

Por isso a membrana plasmática deve apresentar-se

com o citoplasma (ANDRADE, 2009).

íntegra, tanto física como funcionalmente, para que assim, a célula espermática tenha viabilidade e

Os fosfolipídios, que possuem, em sua maioria,

capacidade fecundante (PARKS & GRAHAN, 1992;

cadeias de ácidos graxos poliinsaturadas, ao serem

KUMI-DIAKA, 1993). Desta forma, maiores estudos

submetidos à redução de temperatura assumem

são necessários sobre conhecimentos biofísicos

uma

extremidades

desta estrutura celular, visando propor soluções para

hidrofóbicas são internas e as hidrofílicas externas,

aumentar a sobrevivência dos espermatozoides após

formando assim, uma estrutura denominada de

a criopreservação (HOLT, 2000).

forma

cônica,

onde

as

forma “hexagonal II” ou micela invertida. Quando a membrana encontra-se em baixas temperaturas, a

Função do colesterol na membrana espermática

bicamada lipídica entra na fase cristalina, e quando

O colesterol tem grande importância na célula

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Artigo 454 – Antioxidantes e crioprotetores na criopreservação do sêmen de ovinos

espermática, desde a proteção da integridade das

domínios), e não a remoção completamente do

membranas

até

colesterol da membrana, seja mais importante para a

espermática

(CROSS,

o

processo

de

capacitação do

capacitação. Há relatos que a fluidez dos lipídeos da

colesterol começa cedo na formação da célula

cabeça dos espermatozoides e da cauda da

espermática,

a

membrana plasmática altere-se como resultado da

expressão de genes colesterogênicos nas células

capacitação, sendo a movimentação do colesterol

germinativas dos machos (TERUYA et al., 1991;

responsável

STROMSTEDT et al., 1998). Estudos sugerem que

(YANAGIMACHI,

sua síntese se inicia em espermatócitos na fase de

2000).

onde

1998).

A

produção

primariamente,

ocorre

em

parte 1994;

por

tais

mudanças

&

GADELLA,

FLESCH

paquíteno e espermátides redondas (POTTER et al., Espermatozoides

1981).

de

espécies

como

humanos,

leporinos e primatas tem menor sensibilidade ao As mudanças que ocorrem durante o processo de

choque térmico durante o processo de congelação,

capacitação são extremamente dependentes do

acredita-se que essa maior resistência suceda de

rearranjo do colesterol na membrana plasmática

uma

(CROSS, 1998). Uma das hipóteses aceitáveis é

colesterol/fosfolipídios e uma maior quantidade de

que

maior

quantidade

na

proporção

do

ácidos graxos saturados em suas membranas,

dos

quando comparados com espécies mais suscetíveis

espermatozoides em trânsito (SAEZ et al., 2011).

como bovinos, ovinos e suínos (LADBROOK &

Durante o transporte pelo epidídimo, o conteúdo de

CHAPMAN,

colesterol

NORTH, 1991).

o

colesterol

epidídimo

excretado

contribui

na

para

pelas a

membrana

células

maturação

plasmática

diminui

1969;

WATSON,

1981;

HOLT

&

aproximadamente 50%, em ovinos (PARKS & HAMMERSTEDT, 1985), hamsters (AWANO et al.,

Espécies reativas de oxigênio

1993) e murinos (REJRAJI et al., 2006), porém, em

O espermatozoide, como qualquer outra célula em

algumas espécies o teor de colesterol aumenta

condições aeróbias, produzem EROs, sendo a

durante a maturação dos espermatozoides, como

membrana mitocondrial o local de maior formação

nos caprinos (RANA et al., 1991), ou permanece

intracelular, mas a maior parte delas são originadas

inalterado, como nos suínos (NIKOLOPOULOU et

do metabolismo normal da célula (GUTIÉRREZ-

al., 1985).

PÉREZ et al., 2009).

O colesterol é um potente decapacitante que serve

As

para

do

(HALLIWELL & GUTTERIDGE, 1999) altamente

espermatozoide durante o trânsito do epidídimo e

reativas, que possuem um elétron desemparelhado

evitar as interações intermoleculares responsáveis

(STRYER, 1996) e, que ao serem produzidas de

para alcançar um estado capacitado (DAVIS, 1980).

forma excessiva (desequilíbrio entre a produção e

A perda de colesterol aumenta a fluidez da

eliminação) (ALVAREZ et al., 1987), ocorre a

membrana

em

indução a danos nos fosfolipídios da membrana

OPPER,

plasmática e no DNA dos espermatozoides, sendo

1997), o que é necessário para os passos finais da

correlacionados com a infertilidade (OLLERO et al.,

maturação do espermatozoide no trato reprodutivo

2001).

estabilizar

a

membrana

plasmática,

espermatozoides

como

humanos

plasmática

é

(HAIDL

visto &

EROs

são

moléculas

e

radicais

livres

feminino. Contudo, essa remoção do colestesterol Estas EROs resultantes do metabolismo celular

está restrita à fração da membrana.

desencadeiam o processo de peroxidação lipídica, Apesar da importância da remoção do colesterol da

que em cavalos, touros, carneiros e homens, as altas

membrana

concentrações de EROs levam à redução do

plasmática

para

o

processo

de

capacitação ter sido extensamente estudada, pode ser que a fase de separação dos fosfolipídeos de membrana e colesterol (migração lateral destas moléculas dentro da bicamada lipídica para formar os

metabolismo

energético,

da

motilidade

e

da

viabilidade, e a ruptura da membrana plasmáica dos espermatozoides

(ARMSTRONG

et

al.,

1999;

BAUMBER et al., 2002; BILODEAU et al., 2002;

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Artigo 454 – Antioxidantes e crioprotetores na criopreservação do sêmen de ovinos

SOUZA et al., 2016a), além de causar danos ao

diluentes, garantindo maior proteção e qualidade dos

acrossoma e ao potencial de atividade da membrana

espermatozoides pós-descongelação (SOUZA et al.,

mitocondrial

2016a). Além do que, as EROs são necessárias em

exemplo

(BAUMBER

de

danos

et

al.,

oxidativos

2003), às

sendo

membranas

processos

como

hiperativação

da

motilidade,

celulares, lipoproteínas e outras estruturas que

capacitação, reação acrossômica, permitindo que o

contém componentes lipídicos, além de acompanhar

espermatozoide penetre na zona pelúcida para

diversos processos degenerativos (GIROTTI, 1998).

realizar a fecundação (DE LAMIRANDE et al., 1998; O‟FLAHERTY et al., 1999).

Todavia, nos protocolos de criopreservação do sêmen ovino, ocorre uma elevação dos níveis de

Antioxidantes

EROs em virtude da diluição do sêmen, ocasionado

Após

pela

de

espermatozoides, ocorre a redução da motilidade,

a

integridade acrossomal, viabilidade espermática e

congelação (BILODEAU et al., 2001). Esse aumento

potencial fecundante em função da peroxidação

na produção de EROs provavelmente ocorre devido

lipídica desencadeada pelas EROs, tendo em vista

a danos nas mitocôndrias, fonte principal de

que o espermatozoide dos mamíferos possui altos

produção de EROs (PEÑA et al., 2009). Assim, as

níveis de fosfolipídeos e ácidos graxos saturados e

EROs geradas pelas mitocôndrias provocam a

poliinsaturados (BALL, 2008).

redução

antioxidantes

da

qualidade

contido

no

e

quantidade

sêmen

durante

o

processo

de

criopreservação

dos

liberação de proteínas pré-apoptóticas, como a citocromo c, que são indispensáveis na cadeia

Os antioxidantes são moléculas ou substâncias que

respiratória

como

retardam a velocidade da oxidação inibindo a

transportador de elétrons, mas quando níveis de

produção ou os efeitos deletérios dos radicais livres

EROs aumentam, a citocromo c atua como ativador

(DUARTE-ALMEIDA et al., 2006), são capazes de

da morte celular (MISHRA & SHANA, 2005).

converter as EROs em água, com a finalidade de

mitocondrial,

atuando

prevenir a sua superprodução (AGARWAL et al., Além da diluição do sêmen, durante o protocolo de criopreservação

ocorre

estresse

associado

2005).

às

diferenças de temperatura as quais as células

Os agentes antioxidantes podem atuar por meio de

espermáticas são submetidas, além de sofrer com

dois sistemas: enzimático e não enzimático (SIES &

os efeitos adversos dos componentes do meio

STAHL, 1995). Os espermatozoides das espécies

diluente e com os efeitos muitas vezes tóxicos dos

animais

crioprotetores utilizados durante o processamento do

consiste, principalmente, das enzimas SOD, GSH-

sêmen, assim como os efeitos da descongelação

Px, GSH-Red e catalase (CAT), bem como os

(VISHWANATH & SHANNON, 2000). Além disso, os

antioxidantes

espermatozoides danificados pelo processo de

ascórbico e o α–tocoferol ou vitamina E (AITKEN et

congelação-descongelação

al., 1995).

geram

uma

maior

possuem

não

um

sistem

enzimáticos,

intracelular

como

o

que

ácido

quantidade de EROs do que os espermatozoides morfologicamente normais (BALL & VO, 2001).

Os antioxidantes agem de diferentes formas na proteção do organismo: 1) atuam impedindo a

Os espermatozoides são suscetíveis às crioinjúrias o

formação de EROs; 2) interceptam as EROs

que pode ser atribuído, em parte, à alta quantidade

produzidas pelo metabolismo celular ou fontes

de ácidos graxos poliinsaturados presentes na

exógenas, impedindo que ataquem os lipídeos,

membrana plasmática (WHITE, 1993) o que o torna

aminoácidos, as duplas ligações dos ácidos graxos

mais propenso à peroxidação lipídica na presença

poliinsaturados e as bases de DNA; 3) reparam

das EROs. As EROs podem causar danos severos

lesões, processo relacionado à remoção de danos

aos espermatozoides, quando os seus mecanismos

ao DNA e reconstituição das membranas celulares

de defesa encontram-se reduzidos, no entanto, o

danificadas (BIANCHI & ANTUNES, 1999).

impacto do estresse oxidativo durante o processo de criopreservação pode ser minimizado por meio da adição

de

agentes

antioxidantes

nos

Atividade antioxidante na célula espermática

meios

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Artigo 454 – Antioxidantes e crioprotetores na criopreservação do sêmen de ovinos

A defesa antioxidante primária que protege os

criopreserção seja por meio da prevenção ou

espermatozoides

da

redução do processo peroxidativo, através da adição

peroxidação lipídica é de origem citoplasmática. No

de antioxidantes nos diluentes seminais em diversas

entanto, as células espermáticas descartam grande

espécies, como é o caso da ovina (KHERADMAND

parte de seu citoplasma durante o processo de

et al., 2006; SOUZA et al., 2016a; SOUZA et al.,

diferenciação, perdendo junto, grande quantidade de

2017). Com destaque entre os antioxidantes já

antioxidante. Isso faz com que essas células sejam

estudados com este fim a hipotaurina (LOPES et al.,

mais sensíveis ao estresse oxidativo (AITKEN &

1998), o resveratrol (SARLÓS et al., 2002), a

FISHER, 1994).

superóxido dismutase (SOD), glutatione peroxidase

da

ação

das

EROs

e

(GSH-Px) e glutationa reduase (GSH-Red) (MARTÍ As células espermáticas de mamíferos sendo ricas

et al., 2008), a melatonina (SOUZA et al., 2016a), e a

em ácidos graxos poliinsaturados em sua membrana

associação entre ácido ascórbico, trolox e

plasmática

melatonina (SOUZA et al., 2017).

e

deficientes

em

antioxidantes

a

citoplasmáticos são naturalmente mais susceptíveis a

peroxidação

características

Neste contexto, foi observado que a ocorrência da

redução da integridade de suas

peroxidação lipídica em espermatozoides leva a um

diminuição

de

acúmulo progressivo de hidroperóxidos lipídicos na

integridade genômica e de motilidade (BUCAK et al.,

membrana espermática, onde posteriormente se

2007). Em contrapartida, para suprir a escassez de

decompõem para formar o malondialdéido (MDA)

antioxidante celular e proteger contra os efeitos das

(JANERO, 1990), e que os antioxidantes exógenos

EROs,

favorecem a redução das concentrações de MDA no

conferem

a

membranas,

o

lipídica.

plasma

Essas

funcional,

seminal

possui

perda

sistemas

antioxidantes que desenvolvem papel importante na

sêmen

em

decorrência

da

diminuição

da

manutenção espermática (AITKEN & BAKER, 2002).

peroxidação lipídica e, em virtude disto, a célula espermática sofre menos danos, obtendo assim,

Os antioxidantes que estão presentes no plasma

uma melhor conservação dos espermatozoides

seminal protegem os espermatozoides dos danos

(SARLÓS et al., 2002). Contudo, apesar dos

oxidativos, no entanto, a diluição seminal, adotada

antioxidantes minimizarem os níveis de peroxidação

durante o processamento do sêmen de ovinos,

dos fosfolipídeos endógenos na membrana dos

promove a redução desta capacidade protetora dos

espermatozoides, a terapia com os antioxidantes

antioxidantes do plasma, devido o desequilíbrio

pode resultar em efeitos indesejáveis se a dose de

entre a geração de EROs e a atividade antioxidante,

segurança for ultrapassada, devendo o seu uso ser

a partir da marcante redução de suas concentrações

administrado com moderação, até mesmo pelo fato

após diluição, quanto pelo o aumento na produção

que podem inibir a produção das EROs que exercem

de EROs, durante a criopreservação (WATSON,

as funções fisiológicas (CARVALHO et al., 2002).

2000). Tal desequilíbrio, favorecendo os oxidantes, promove efeitos tóxicos e o comprometimento

Assim, a inclusão de antioxidantes no diluente

funcional da célula espermática, o que conduz,

seminal

frequentemente, à morte celular e redução do

concentrações, pode melhorar a qualidade dos

potencial fecundante dos espermatozoides (PURDY,

parâmetros

2006).

congelação-descongelação (SOUZA & MORAES,

Além disso, durante o processamento do sêmen

2016).

para

criopreservação,

espermáticos

após

em as

pequenas etapas

de

também pode haver a contaminação nos meios de dilução seminal com íons de metais de transição, +

++

Ação crioprotetora dos aminoácidos

como o Cu ou Fe , que desencadeiam as reações

Os aminoácidos não são apenas blocos naturais de

químicas

construção das proteínas e peptídeos, são também

que

geram

EROs

(HALLIWELL

&

moléculas

GUTTERIDGE, 1999).

carregadas,

que

interagem

eletrostaticamente com os grupos fosfato dos Uso de antioxidantes no diluente

fosfolipídios

da

membrana

plasmática

Ao longo dos últimos anos, vários pesquisadores

espermatozoide, formando assim uma camada sobre

buscam a melhoria da qualidade do sêmen após a

a superfície da célula, protegendo-a contra choques

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8051-8064, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

do

8056


Artigo 454 – Antioxidantes e crioprotetores na criopreservação do sêmen de ovinos

térmicos (EL-SHESHTAWY et al., 2008).

Com destaque entre os aminoácidos já estudados a glutamina, que demonstrou melhorar a motilidade

A descoberta do papel biológico dos aminoácidos na

dos

prevenção de danos à célula durante o estresse

(RENARD et al., 1996; KHLIFAOUI et al., 2005). A

témico surgiu a partir de observações em plantas

prolina, melhorando a viabilidade e a motilidade

que são capazes de acumular o aminoácido prolina

espermática, além

em resposta à temperatura fria (CHU et al., 1974) e,

estrutural e funcional da membrana plasmática

também tem sido relatado que alguns aminoácidos

durante a congelação-descongelação, inibindo assim

protegem diversos tipos de células animais contra o

a formação de gelo intracelular (HEBER et al., 1971;

estresse

de

CROWE & CROWE, 1986; SCANCHEZ-PARTIDATA

temperatura, incluindo a célula espermática (KRUUV

et al., 1998), além de proteger a célula espermática

& GLOFCHESKI, 1992; ALI AL AHMAD et al., 2008),

do dano induzido pelas EROs, uma vez que a

contribuindo

espermatozoides

prolina, atua como antioxidante, tendo a capacidade

mantenham a integridade da membrana acrossomal,

de reduzir a peroxidação lipídica (SMIRNOFF &

durante

CUMBES, 1989).

oxidativo

para

o

durante

que

processo

os de

a

redução

criopreservação

espermatozoides

de

humanos

de preservar

e

equinos

a integridade

(FAGUNDES, 2008). Os antioxidantes juntamente com a ação da Alguns aminoácidos, como a glutamina e a glicina,

molécula do colesterol somados as propriedades

são formados em quantidade substancial de glicose

antioxidantes dos aminoácidos podem ajudar a

dentro dos túbulos seminíferos (BUSTAMANTE &

proteger os espermatozoides de ovinos contra o

SETCHELL, 2000). O fluido da rete testis tem 17

choque

vezes mais aminoácidos do que o fluido dos túbulos

criopreservação (Tabela 1), no entanto, apesar de ter

seminíferos, sendo que o glutamato contribui com

sido

90% dos aminoácidos totais no fluido epididimal

espermatozoides

(HINTON, 1990).

mecanismos de crioproteção espermática conferidos

térmico

verificado

durante o

efeito

em

o

processo

crioprotetor

diversas

de sobre

espécies,

os

pelos aminoácidos, assim como a função de Vários aminoácidos (glutamina, glicina, prolina e

aminoácidos livres na fisiologia do espermatozoide,

histidina) foram detectados no plasma seminal e

ainda

utilizado com sucesso como agentes crioprotetores

(FAGUNDES et al., 2010).

não

pernetrantes

na

criopreservação

não

foram

totalmente

esclarecidos

de

espermatozoides de muitas espécies de mamíferos,

CONSIDERAÇÕES FINAIS

incluindo a de caprino, ovino e equino (KUNDU et

Nesse âmbito, mesmo diante das vantagens da

al., 2001; KHLIFAOUI et al., 2005; ALI AL AHMAD et

criopreservação e das décadas de pesquisa, a

al., 2008), e como exemplo dos aminoácidos

continuidade dos estudos voltados à criopreservação

estudados têm a prolina (PEÑA et al., 1998), betaína

espermática

(LINDEBERG

entendimento das características básicas dessas

et

al.,

1999),

cisteína

(EL-

é

As

de

grande

relevância

modificações

para

ocorridas

o

SHESHTAWY et al., 2008), glutamina (MERCADO

células.

no

et al., 2009), metionina (ÇOYAN et al., 2010),

espermatozoide e em suas membranas durante a

alanina e glicina (FAGUNDES et al., 2010).

redução da temperatura elucidam possíveis lesões e diminuição da capacidade fecundante deste gameta

A capacidade dos aminoácidos em melhorar a

e possibilita a elaboração de estratégias para reduzir

criosobrevivência dos espermatozoides tem sido

tais injúrias, como a inclusão de moléculas que

relacionada com suas propriedades metabólicas,

elevem as taxas de fecundidade do sêmen, sem a

crioprotetoras,

necessidade

oxidantes

ou

osmorregulativas

de

modificação

dos

protocolos

(MARTINS-BESSA et al., 2007). Uma vez que os

convencionais de criopreservação, sendo um atrativo

aminoácidos não podem penetrar a membrana do

a mais para a difusão desta tecnologia nas centrais

espermatozoide,

de inseminação.

então,

mecanismos

osmóticos

podem explicar, em parte, a sua ação (TRIMECHE et al., 1999).

Dessa forma, esses danos na membrana plasmática podem ser minimizados pela combinação da adição Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8051-8064, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

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maior efetividade. Pesquisas devem ser realizadas

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no intuído de verificar a ação da molécula do colesterol

juntamente

com

antioxidantes

AITKEN, R.J.; PATTERSON, M.; FISHER, H.;

e

BUCKINGHAM, D.W.; VAN DUIN, M. Redox

aminoácidos, determinando as concentrações a

regulation of tyrosine phosphorilation in human

serem adicionadas ao diluente a fim de beneficiar

spermatozoa and its role in the control of human

ainda mais os resultados observados tanto in vitro

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quanto in vivo, visando à obtenção da combinação

1995.

ideal para proteção da membrana espermática contra os

efeitos

deletérios

ocasionados

ALI AL AHMAD, M., CHATAGNON, G., AMIRAT-

pela

BRIAND, L., MOUSSA, M., TAINTURIER, D.,

criopreservação, sem, entretanto, prejudicar os

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TABELA

1.

Efeitos

benéficos

sobre

os

ALVAREZ, J. G.; TOUCHSTONE, J. C.; BLASCO, L.;

espermatozoides descongelados de ovinos após

STOREY, B. T. Spontaneus lipid peroxidation and

adição de diferentes antioxidantes e crioprotetores

production of hydrogen peroxide and superoxide

ao diluente de congelação

in human spermatozoa Superoxide dismutase as

Antioxidantes/Crioprotetores Trealose/Taurina/ Cisteamina/

Efeitos Melhora a motilidade progressiva, a membrana plasmática e a

Referência Bucak et al., 2007

integridade do acrossoma.

Hialuronano Metionina

Melhora a motilidade dos espermatozoides.

Glutationa redutase/Trolox

Protege os espermatozoides durante a criopreservação.

Çoyan et al., 2010 Mata-Campuzano et al., 2015

Solução de aminoácidos não

Melhora a qualidade do sêmen e reduz as crioinjúrias. Badr et al., 2015

essenciais

Sangeeta et al.,

L-alanina/

Reduz as crioinjúrias e melhorou as características do sêmen pós-

L-glutamina/L-prolina

descongelação.

Melatonina

Reduz as crioinjúrias e o estresse oxidativo.

Souza et al., 2016

Ácido Ascórbico/

Protege das crioinjúrias, melhora o potencial fecundante in vitro

Souza et al., 2017

Trolox/Melatonina

após a criopreservação.

Colesterol carreado com

Aumenta a tolerância ao choque térmico e ao estresse osmótico,

ciclodextrina

melhorando a crioressistência.

Trealose/Cisteina

Mantêm os parâmetros espermáticos durante a criopreservação.

2015

Salmon et al., 2017 Gungor et al., 2017

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8051-8064, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

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Relação treonina: lisina em dietas para frangos de corte na fase inicial Revista Eletrônica Desempenho, ganho de peso, proteína.

1

Halef Pereira de Oliveira , Vol. 15, Nº 01, Jan./Fev. de 2018 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Paulo Ricardo de Sá da Costa Leite Leticia Mariano Barbosa

2

3

Valéria Bonifácia Marra da Silva

1

Mônica Maria de Almeida Brainer

2

1

Discente do curso Bacharelado em Zootecnia, Instituto Federal Goiano – Campus Ceres, IF Goiano. E-mail: halefpgtu15@hotmail.com. 2 Professor Dr. e Drª do Instituto Federal Goiano – Campus Ceres, IF Goiano. E-mail: 3 Zootecnista.

RESUMO

RATIO THREONINE: LYSINE IN BROILER DIETS

Dois experimentos foram realizados com o objetivo

FOR THE INITIAL PHASE

de determinar a relação treonina: lisina (Tre:Lis)

ABSTRACT

digestível para frangos de corte machos. No primeiro

Two experiments were conducted in order to

e segundo experimento foram utilizadas 280 aves

determine the threonine: lysine (Thr: Lys) digestible

recebendo diferentes níveis de treonina na fase pré-

for male broilers. In the first and second experiment

inicial (1 a 7 dias), e na fase inicial (8 a 21 dias)

were used 280 birds receiving different levels of

receberam

do

threonine in the pre-initial phase (1-7 days), and in

foram

the early phase (8-21 days) received a single feed to

fornecidos na fase pré-inicial ração única com o

the end of the experiment. In the second experiment,

mesmo nível de treonina, e na fase inicial (8 a 21

they were provided in the pre-initial phase only feed

dias) recebendo rações com diferentes níveis de

with the same level of threonine, and in the early

treonina. Os experimentos foram em delineamento

phase (8-21 days) fed diets with different levels of

inteiramente casualizado, com quatro níveis de

threonine.

treonina na fase pré-inicial e inicial, com os níveis de

randomized design, with four levels of threonine in

(0,852%, 0,952%, 1,052% e 1,152%) e (0,763%, 0,

the pre-initial and early stages, with levels (0.852%,

863%, 0,963% e 1,063%), cinco repetições e 14

0.952%, 1.052% and 1.152%) and (0.763% 0, 863%,

aves

segundo

0.963% and 1.063%), five replicates and 14 birds per

experimento, não foi observado efeito (p>0,05) dos

plot. In the first and second experiment, there was no

diferentes níveis de treonina digestível sobre os

effect (p> 0.05) different levels of threonine on

resultados de desempenho para frangos alimentados

performance results for broilers fed in phase 1 to 7

na fase de 1 a 7 e 8 a 21 dias de idade com

and 8 to 21 days of age with different levels of

diferentes níveis de treonina. Recomenda – se para

threonine. Recommends - to the pre - start and start

a fase pré – inicial e inicial o requerimento em

the application in threonine and lysine (0.852% and

treonina e lisina digestível de (0,852% e 1,310%) e

1.310%) and (0.763% and 1.174%) with threonine:

(0,763% e 1,174%) com relações treonina: lisina de

lysine 65%.

65%.

Keyword: performance, weight gain, protein.

experimento.

por

ração

única

No

segundo

parcelas.

No

até

o

término

experimento,

primeiro

e

The

experiments

were

completely

Palavras-chave: desempenho, ganho de peso, proteína.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8065-8072, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8065


Artigo 455 – Relação treonina:lisina em dietas para frangos de corte na fase inicial

NTRODUÇÃO

pois o revestimento mucoso do intestino, que possui

A proteína é um nutriente fundamental para as

elevado conteúdo deste aminoácido, o protege da

aves, representando uma grande fração do custo

ação de toxinas, bactérias, autodigestão e abrasão

das formulações de rações e influindo diretamente

física, além de influenciar a absorção de nutrientes

sobre as características de desempenho zootécnico

no lúmen (SPECIAN & OLIVER, 1991; LAW et al.,

(BERRES et al., 2007). Por outro lado, dietas de

2007).

frangos de corte com base em

aminoácidos

digestíveis são viáveis, resultando em rações com

ATENCIO et al. (2004) recomendaram o nível de

nível reduzido de proteína bruta (CORZO et al.,

0,777% de treonina digestível em rações de frangos

2005).

de corte na fase inicial de criação (1 a 21 dias), enquanto que, nas tabelas brasileiras de aves e

A formulação de ração com base em um nível

suínos, ROSTAGNO et al. (2011) preconizaram,

mínimo de proteína bruta normalmente resulta em

respectivamente, nos períodos de 1 a 7 e 8 a 21

valores de proteína bastante altos, em função da

dias, 0,861 e 0,791% de treonina digestível para o

adoção de margens de segurança para garantir o

melhor desempenho das aves.

fornecimento

dos

aminoácidos

essenciais.

No

entanto, há que se salientar que as aves não têm

Diversos autores (KIDD 2000; KIDD et al., 2001;

requerimentos nutricionais para proteína bruta em si,

ROSTAGNO et al., 2005; CORZO et al., 2009;

e sim para cada um dos aminoácidos essenciais

RAMA RAO et al., 2011) encontraram divergências

constituintes das proteínas e para uma quantidade

nas exigências, em função dos mais variados fatores

de nitrogênio amino suficiente para a biossíntese de

que

aminoácidos não essenciais (COSTA & GOULART,

aminoácidos e a sua relação na dieta para frangos

2010).

de corte. Dentre essas variáveis relacionadas ao

podem

animal,

alterar

destacam-se:

os

requerimentos

idade,

genética,

por

sexo

e

Dentre os aminoácidos essenciais, a treonina é o

estresse imunológico e as variáveis externas (dietas

terceiro aminoácido limitante na síntese de proteína

com seus respectivos níveis protéicos e energéticos,

muscular (SAMADI & LIEBERT, 2007), além de ter

temperatura ambiente, doenças) que atuam de forma

participação

individual

importante

na

formação

da

ou

em

conjunto

influenciando

o

imunoglobulina auxiliando no sistema imunológico e

desempenho das aves ou afetando a eficiência da

participando na síntese de glicoproteínas como as

utilização dos aminoácidos.

mucinas (CARVALHO, 2009; LOURENÇO, 2011). Porém, Corzo et al. (2007) afirmaram que a treonina

Dentro deste contexto, objetivou-se avaliar as

será o aminoácido que se tornará primeiro limitante

exigências de diferentes níveis de treonina para

em dietas práticas de frangos de corte, uma vez que

frangos de corte no período de um a 21 dias de

as necessidades de lisina e metionina são atendidas.

idade.

Como para a maioria dos aminoácidos, existe

MATERIAIS E MÉTODOS

variação na exigência estimada de treonina que

Foram realizados dois experimentos, no setor de

depende da idade da ave e o nível de proteína bruta

Avicultura do Instituto Federal Goiano – Campus

da dieta (KIDD, 2004). Com relação à idade, a fase

Ceres. No primeiro experimento as aves receberam

inicial

o

diferentes níveis de treonina digestíve na fase pré-

desenvolvimento do intestino varia de acordo com o

inicial (1 a 7 dias), e na fase inicial (8 a 21 dias)

tipo de dieta, a presença de aditivo alimentar ou

receberam ração única com o nível de treonina de

promotor

0,763% com relação de 65%, até o término do

é

considerada

importante,

de crescimento adicionado

pois

à ração,

presença de microbiota intestinal, incidência de

experimento.

doenças

de

fornecidos na fase pré-inicial ração única com o

2004).

mesmo nível de treonina digestível de 0,852% e

Portanto, a treonina é essencial na função intestinal,

relação de 65%, e no sétimo dia de idade as aves

entéricas

desenvolvimento

e

com

corporal

a

(ITO

intensidade et

al.,

No

segundo

experimento,

foram

passaram por processo de pesagem para início do Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8065-8072, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8066


Artigo 455 – Relação treonina:lisina em dietas para frangos de corte na fase inicial

período experimental na fase inicial (8 a 21 dias)

Períodos Ingredientes (g/kg)

recebendo rações com diferentes níveis de treonina. Em

cada

experimento,

foram

utilizados

280

pintainhos de um dia de idade, da linhagem comercial

Cobb

machos,

distribuídos

em

1a7

8 a 21

dias

dias

Milho

537,17

578,66

Farelo de Soja 45%

385,59

350,43

Fosfato bicálcico

19,08

15,31

Amido

10,00

10,00

delineamento inteiramente casualizado com quatro

Calcário

9,12

9,08

tratamentos, cinco repetições, contendo 14 aves por

Óleo de Soja

22,58

22,17

parcelas experimentais em cada fase experimental.

Sal

5,08

4,82

Os níveis de suplementação de L-treonina digestível

Premix vitamínico e mineral

4,00

4,00

foram na fase pré-inicial de 0,852%, 0,952%, 1,052%

DL-Metionina

3,57

2,86

e 1,152% o que corresponde à relação treonina:

L-Lisina HCL

2,75

2,07

L-Treonina

1,05

0,59

Total

1,000

1,000

2,950

3,000

Proteína bruta

222,0

208,0

Lisina digestível

13,10

11,74

A ração basal (Tabela 1) foi formulada para atender

Metionina digestível

5,11

4,58

às exigências preconizadas por ROSTAGNO et al.

Met + Cis digestível

9,44

8,46

(2011), com 22% de proteína bruta na fase pré-inicial

Treonina digestível

8,52

7,63

e 20% na fase inicial, com respectivamente, 0,852%

Triptofano digestível

2,51

2,32

e 0,763% de treonina digestível e 1,310% e 1,174%

Cálcio

9,20

8,19

de lisina digestível. Os níveis de lisina digestível

Fósforo disponível

4,70

3,95

Sódio

2,20

2,10

lisina de 65%, 72,6%, 80,3% e 88%. Para a fase inicial os níveis de L-treonina digestível foram de

Composição Nutricional (g/kg)

0,763%, 0, 863%, 0,963% e 1,063% o que

Energia

corresponde à relação treonina: lisina de 65%,

Metabolizável

(Mcal/kg)

73,5%, 82% e 90,5%.

estão de acordo com as exigências de cada fase. As

1

1

Níveis de suplementação de vitaminas, minerais e aditivos,

demais rações experimentais foram obtidas por meio

quantidade por kg do produto: Vitamina A 20.000 UI, Vit D3

da suplementação de L-treonina digestível na ração

6000.00 UI, Vit E 5000 UI, Vit K3 450 mg, Vit B1 500 mg, Vit B2

basal em substituição ao amido.

1500 mg, Vit B6 700 mg, Vit B12 2500 cg, Ácido Pantotenico: 3500 mg, Niacina 9000 mg, Colina 80 g, Ácido Fólico: 250 mg,

As aves foram pesadas e uniformizadas de acordo com seu peso corporal no início do experimento (peso médio no 1º dia e no 7º dia) e foram alojadas

Biotina 15 mg, Cobre 2500 mg, Ferro 10 g, Manganês 20g, Iodo 250 mg, Zinco 18 g, Selênio 5 mg, Bacitracina de Zinco 13,75 g, Nicarbazina 31,25g.

Fonte: Elaborado pelo autor.

14 aves em baterias aquecidas de aço galvanizado equipadas com comedouros e bebedouros tipo calha

Na condução do experimento, no 7°, 14° e 21° dias

e receberam água e ração à vontade durante todo

foram realizadas as pesagens dos animais e do

período experimental. A iluminação utilizada em

oferecimento e sobra de ração para avaliar os

cada gaiola foi com lâmpadas incandescentes de 60

parâmetros de desempenho zootécnico.

W. A temperatura foi controlada através da utilização de campânulas no local, efetuando-se o manejo de

Os dados foram submetidos à análise de variância e

cortinas e mantendo-se a temperatura ideal de

as médias comparadas pelo teste Tukey a 5% e

acordo com a idade das aves. As temperaturas

regressão polinomial, no caso de significância, com

máximas e mínimas no período experimental foram

auxílio do software estatístico R (R CORE TEAM,

obtidas diariamente utilizando-se dois termômetros

2011).

localizados em pontos médios do galpão, na altura RESULTADOS E DISCUSSÃO

das aves.

Experimento I TABELA 1 - Composição dos ingredientes da ração

As médias de temperatura para os experimentos

basal

variaram, respectivamente de: mínima e máxima de 21,4º C a 35,0º C. Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8065-8072, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8067


Artigo 455 – Relação treonina:lisina em dietas para frangos de corte na fase inicial

Não foi observado efeito (p>0,05) dos diferentes

Com esse resultado, o menor nível de treonina

níveis de treonina digestível sobre os resultados de

utilizado 0,852%, relação de Tre:lis de 65%, está de

peso final, consumo de ração, ganho de peso e

acordo com o recomendado por ROSTAGNO et al.

conversão alimentar para frangos na fase de 1 a 7

(2011), o que foi suficiente para atender as

dias de idade com diferentes níveis de treonina

exigências. Anteriormente, ATENCIO et al. (2004)

(Tabela 2). As médias de peso final e ganho de peso

recomendaram o nível de 0,777% de treonina

para esta fase foram próximas ao recomendado pelo

digestível em rações de frangos de corte na fase

manual da linhagem (COBB-VANTRESS, 2012).

inicial de criação (1 a 21 dias). Já SOARES et al. (1999) observaram efeito da treonina total sobre os

TABELA 2 - Desempenho de frangos de corte

resultados de consumo de ração e conversão

alimentados com diferentes níveis de treonina

alimentar na fase inicial de criação, recomendando o

digestível na fase pré-inicial (1 a 7 dias), sob efeito

nível de 0,73%.

residual na fase inicial (8 a 21 dias) Os níveis diferentes de treonina digestível na fase

1 a 7 dias Relação

65

72,6

80,3

pré – inicial não proporcionaram efeito sobre o 88

Tre:Lis

Valor

dms

de P

de que essas aves ficaram ausentes de desafio

digestível

sanitário diante do sistema de criação adotado

(%) Peso Final

desempenho na fase total. Considerando a hipótese

0,166

0,160

0,172

0,166

0,082

0,011

0,120

0,113

0,125

0,119

0,083

0,011

0,194

0,203

0,191

0,194

0,695

0,028

(sistema de gaiolas), supõe-se que o efeito da treonina seja mais evidenciado em situações com

(g) Ganho de

desafio sanitário.

Peso (g) Consumo de Ração

relação ao desenvolvimento intestinal, pois segundo

(g) Conversão

Outra importante participação da treonina é com

1,167

1,268

1,111

1,167

0,092

0,164

KIM et al. (2007) a treonina é o maior componente da mucina intestinal em animais. De acordo com

Alimentar 8 a 21 dias Relação

MYRIE (2001), o intestino necessita cerca de 60%

65

Valor

Tre:Lis

dms

da treonina dietética consumida primariamente para síntese de mucina intestinal. Desse modo, STAR et

de P

digestível

al. (2012) comentaram que aves com desafios

(%)

intestinais têm maiores exigências na relação

Peso Final

0,948

0,872

0,903

0,865

0,191

0,114

0,781

0,711

0,731

0,699

0,209

0,112

(g) Ganho de

quando expostos em períodos de risco, ocasionado por algum tipo de lesão na parede intestinal.

Peso (g) Consumo

treonina: lisina para maximizar o desempenho

1094

1037

1031

1038

0,532

0,136

de Ração

EVERETT et al. (2010) não observaram efeito dos

(g)

níveis de 0,69% a 0,81% de treonina digestivel em

Conversão

1,152

1,192

1,142

1,201

0,135

0,080

Alimentar

ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar, admitindo uma relação Tre:Lis digestível

1 a 21 dias

adequada Peso Final

0,948

0,872

0,903

0,865

0,191

0,114

0,901

0,825

0,857

0,818

0,193

0,114

(g) Ganho de

de

68%

para

obter

desempenho

satisfatório com o nível de 1,00% com lisina digestível para o período de 14 a 28 dias. Portanto, os dados apresentados pelo o autor estão próximos

Peso (g) Consumo

de

1309

1244

1232

1235

0,534

0,169

1,378

1,430

1,363

1,429

0,221

0,108

aos que foram determinados no estudo.

ração

(g) Conversão

Para o desempenho da fase total de criação, de um

Alimentar Fonte: Elaborado pelo autor.

a 21 dias (Tabela 2), não foi observado efeito (p>0,05) sobre as variáveis estudadas, o que sugere que o menor nível, é semelhante ao proposto por

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8065-8072, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8068


Artigo 455 – Relação treonina:lisina em dietas para frangos de corte na fase inicial

ROSTAGNO et al. (2011), para aves na fase pré-

quando comparadas com rações formuladas com a

inicial de criação com o nível de 0,852%, o que

inclusão de L-treonina sintética.

corresponde uma relação de 65% treonina: lisina digestível, suficiente para atender à exigência para o

TABELA 3 - Desempenho zootécnico dos frangos de

máximo desempenho dos machos.

corte alimentados com diferentes níveis de treonina digestível na fase inicial (8 a 21 dias de idade)

KIDD et al. (2001) observaram interação do nível de proteína da ração com o nível de treonina digestivel estudado no período 5 a 15 dias, sobre a conversão alimentar, sendo que aves alimentadas com o menor

1 a 7 dias Relação

65

Valor

Tre:Lis

dms

de P

digestível

nível de proteína (19%) e maior nível de treonina (8,0

(%)

g/kg) apresentaram pior conversão alimentar quando

Peso Final

comparadas com aves que receberam ração com

(g)

22% de proteína com o nível de treonina de (8,0

Ganho de

g/kg), percentual semelhante ao do presente estudo,

Peso (g)

que durante a fase pré-inicial, manteve o nível de

Consumo

proteína na ração de 22%.

de Ração

0,129

0,130

0,131

0,130

0,823

0,004

0,087

0,088

0,088

0,087

0,721

0,004

0,134

0,149

0,148

0,156

0,746

0,057

1,040

1,147

1,130

1,209

0,780

0,468

90,5

Valor

dms

(g)

ABBASI et al. (2014) avaliaram os desempenhos de frangos Ross 308, ao serem submetidos a diferentes

Conversão Alimentar

8 a 21 dias

níveis de proteína bruta e treonina digestível, definiram que a relação Tre:Lis de 72%, equivalente

Relação

a suplementação treonina digestível de 0,98% e

Tre:Lis

lisina digistível de 1,36%, melhorou a conversão

digestível

alimentar na fase de crescimento o que pode ser justificado, em grande parte, devido ao aumento significativo no ganho de peso. Desta forma, aves

65

(%) Peso Final Ganho de

10% do nível recomendado de proteína bruta

Consumo

(19,7%) e suplementado com um acréscimo de 10%

de Ração

de

(g)

(0,98%)

não

afeta

o

Conversão

desempenho das aves.

0,655

0,638

0,661

0,665

0,681

0,067

0,525

0,507

0,530

0,535

0,653

0,065

1006

0,959

0,987

0,961

0,844

0,171

1,530

1,507

1,491

1,444

0,553

0,173

(g) Peso (g)

digestível

82

de P

alimentadas com dietas contendo uma redução de

treonina

73,5

Alimentar 1 a 21 dias

Experimento II Não foi observado efeito (p>0,05) dos diferentes

Peso Final

níveis de treonina digestível, na fase de 8 a 21 dias

(g)

de idade, sobre os resultados de peso final, consumo

Ganho de

de ração, ganho de peso e conversão alimentar para

Peso (g)

frangos com diferentes níveis de treonina (Tabela 3).

Consumo de

Em experimento realizado por BERRES et al. (2007) foram verificados que rações de frangos sem a

Conversão

melhores

resultados

de

desempenho

quando

suplementadas com diferentes fontes de treonina, sendo que a treonina advinda somente do farelo de soja

(FS)

com

a

relação

Tre:Lis

de

68,5%

proporcionou melhor conversão alimentar de frangos

0,639

0,662

0,665

0,681

0,067

0,613

0,596

0,619

0,623

0,694

0,067

1141

1109

1136

1120

0,969

0,208

1,735

1,743

1,715

1,681

0,889

0,246

ração

(g)

inclusão de treonina sintética não proporcionaram

655

alimentar Fonte: Elaborado pelo autor.

Segundo CORZO et al. (2006 e 2007), os níveis ótimos de treonina total e de treonina digestível em relação

à

lisina

digestível

encontrados

foram,

respectivamente, 0,74 e 66% para ganho de peso e 0,72 e 64% para conversão alimentar das aves cria-

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8065-8072, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8069


Artigo 455 – Relação treonina:lisina em dietas para frangos de corte na fase inicial

adas em cama nova e 0,77 e 69% para ganho de

Zootecnia

v.

33,

n.

4,

p.

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peso e 0,73 e 65% para conversão alimentar de

http://dx.doi.org/10.1590/S1516-35982004000400008.

frangos de corte criados em cama reutilizada na

BERRES, J.; VEIRA, S.L.; CONEGLIAN, J.L.B.;

fase de 21 a 42 dias de idade.

OLMOS, A.R.; FREIRAS, D.M.; BORTOLINI, T.C.K. & SILVA, G.X. (2007) - Respostas de

Para o desempenho da fase total de criação nos

frangos de corte a aumentos graduais na relação

períodos de 1 a 21 dias (Tabela 3), não

entre treonina e lisina. Ciência Rural, v. 37, n. 2,

observaram

p.

efeito

(p>0,05)

nos

parâmetros

analisados, o que sugere que neste segundo experimento o menor nível estudado, foi também semelhante ao proposto por ROSTAGNO et al. (2011) que foi recomendado para aves na fase inicial de criação. Com os resultados obtidos nos dois experimentos, diferentes níveis de treonina digestível na fase pré-inicial e diferentes níveis no período de 8 a 21 dias, pode observar que os níveis

utilizados

estão

dentro

dos

padrões

510-517.

http://dx.doi.org/10.1590/S0103-

84782007000200033. CARVALHO, T.A. (2009) – Avaliação de dietas com glutamina e glicina para pintos de corte contendo

diferentes

relações

treonina:lisina.

Dissertação (Magister Scientiae em Zootecnia) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. COBB-VANTRESS.

(2012)

Suplemento:

desempenho e nutrição para frangos de corte

recomendados pela literatura e pelas Tabelas

cobb

Brasileiras de exigência nutricional. Vale ressaltar

vantress.com/languages/guidefiles/793a16cc-

que, seria interessante estudar as ações do

5812-4030-9436-1e5da177064f_pt.pdf.

aminoácido treonina em situações de desafio sanitário das aves e com outras linhagens de frango.

URL.

http://www.cobb-

CORZO, A.; DOZIER III, W.A.; LOAR, R.E.; KIDD, M.T. & TILLMAN, P.B. (2009) - Assessing the threonine-to-lysine ratio of female broilers from 14 to 28 days of age. Journal of Applied Poultry

CONCLUSÕES Recomenda-se

500.

Research, para

a

fase

pré-inicial

o

v.

18,

p.

237-243.

https://doi.org/10.3382/japr.2008-00107.

requerimento em treonina e lisina digestível de

CORZO, A.; KIDD, M.T.; DOZIER III, W.A.;

0,852% e 1,310% com relação treonina: lisina de

PHARR, G.T. & KOUTSOS, E.A. (2007) - Dietary

65%.

threonine needs for growth and immunity of broilers raised under different litter conditions.

E para a fase inicial recomenda-se o requerimento

Journal of Applied Poultry Research, v. 16, n.

em treonina e lisina digestível de 0,763% e 1,174%

4, p. 574-582. https://doi.org/10.3382/japr.2007-

com relação treonina: lisina de 65%.

00046. CORZO, A.; KIDD, M. T.; PHARR, G. T.; DOZIER

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8070


Artigo 455 – Relação treonina:lisina em dietas para frangos de corte na fase inicial

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mananoligossacarídeos sobre a resposta

de

alimentos

e

exigência

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8071


Artigo 455 – Relação treonina:lisina em dietas para frangos de corte na fase inicial

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8072


A utilização de probióticos e prebióticos em rações caninas e felinas Revista Eletrônica

Dieta, cachorro, felinos, probiótico, prebiótico.

1*

Vol. 15, Nº 01, Jan/Fev de 2018 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

1

Graduando em Medicina Veterinária do Instituto Filadélfia – UNIFIL. *E-mail:

mariaeduardascrap@hotmail.com. 2

Prof. Mestre do curso de Medicina Veterinária da UNIFIL.

THE USE OF PROBIOTICS AND PREBIOTICS IN

RESUMO Surgindo

Maria Eduarda Bueno Safra 1 José Guilherme Araújo Lemos 1 Martín Toscano 1 Natália Botazzari 2 Kassia Amariz Pires Menolli

como

uma

maneira

alternativa

aos

CANINE AND FELINE DIETS

antibióticos de crescimento, os probióticos são usados, principalmente, como forma de suplemento na dieta de cães e gatos, sendo formado por microrganismos não patogênicos da microbiota e beneficiando de algumas maneiras em suas dietas específicas; seu modo de ação é realizado por exclusão competitiva, antagonismo direto, estímulo do sistema imune, entre outros, porém ele é suscetível ao uso de antibióticos. Já os prebióticos são

utilizados

para

mudanças

na

microbiota

intestinal e são feitos por ingredientes nutricionais não

digeríveis,

ajudando

no

crescimento

e

estimulação de bactérias benéficas e eliminação das patogênicas, o que induz uma melhora no sistema imune. Porém, o uso destes ainda é muito controlado e requer estudos que comprovem, de fato, sua ação benéfica na dieta de cães e gatos. Palavras-chave: dieta, cachorro, felinos, probiótico, prebiótico.

ABSTRACT Arising as an alternative way to antibiotics, probiotics are mainly used as a supplement form in the diet of dogs and cats, being formed by nonpathogenic microorganisms of the microbiota and benefiting in some ways in their specific diets; Its action is performed

by

competitive

exclusion,

direct

antagonism, immune system stimulation, among others, but it is susceptible to the use of antibiotics. Prebiotics are used for changes in the intestinal microbiota and are made by nondigestible nutritional ingredients, helping in the growth and stimulation of beneficial bacteria and elimination of pathogens, which induces an improvement in the immune system. Their use is still very controlled and studies are required to prove their beneficial effect on the diet of dogs and cats. Keyword: diet, dog, feline,probiotc, prebiotic.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8073-8080, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8073


Artigo 456 – A utilização de probióticos e prebióticos em rações caninas e felinas

INTRODUÇÃO

competitiva e outras atividades benéficas. No caso

A alimentação dos animais de companhia, assim

das

como a relação entre o homem e os animais de

Saccharomycescerevisiae,

leveduras

vivas,

basicamente,

estimação passou por uma evolução visível nas

probiótico oferece algumas vantagens sobre os

últimas décadas. Na década de oitenta a maioria

bacterianos: parede celular altamente resistente à

deles ainda era alimentado com os restos de comida

digestão ácida, resultando em grande viabilidade

de seus proprietários e poucas indústrias de rações

pós-gástrica (maior número de células vivas no

existiam e investiam no Brasil. Neste ponto, dois

intestino) e resistência aos antibióticos, permitindo o

fatores contribuíram para a expansão do segmento;

uso durante a antibioticoterapia.

o

cepas

seu

uso

de

como

o poder aquisitivo das populações dos grandes centros aumentou e os padrões de consumo se

Outra ferramenta que se coloca à disposição dos

sofisticaram. Por outro lado, a evolução dos hábitos

criadores são os PREBIÓTICOS. O termo prebiótico

em favor dos alimentos industriais está associada a

foi

um conjunto de fatores cada vez mais difundidos:

Roberfroid em 1995 para designar “Ingredientes

alimentação

nutricionais não digeríveis que afetam beneficamente

sadia,

equilibrada

e

com

grande

empregado

hospedeiro

originalmente

por

estimulando

Gibson

seletivamente

&

variedade de produtos disponíveis no mercado, a

o

o

preocupação com o animal pelo fato do animal ser

crescimento e atividade de uma ou mais bactérias

como parte efetiva da família e, principalmente, a

benéficas do trato gastrointestinal, melhorando a

praticidade (PetBR, 2003).

saúde do seu hospedeiro”. A principal ação dos prebióticos é estimular o crescimento e/ou ativar o

A proibição do uso de antibióticos promotores de

metabolismo de algum grupo de bactérias benéficas

crescimento levou a busca de uma alternativa e,

do trato intestinal. Desta maneira, os prebióticos

então, iniciou-se a era dos PROBIÓTICOS. Os

agem intimamente relacionados aos probióticos;

antibióticos significavam, em grego: contra a vida, os

constituindo o “alimento” de bactérias probióticas. O

probióticos significam: em favor da vida. Segundo

objetivo

Dr. Michael L. McCann médico da Clínica Cleveland,

bibliográficos referentes à probióticos e prebióticos

em Ohio, EUA: “Os probióticos serão para a

na dieta de cães e gatos.

do

trabalho

é

apresentar

dados

medicina no século 21, o que os antibióticos foram para o século 20”. Através dos anos a palavra

PROBIÓTICOS NA RAÇÃO DE CÃES E GATOS

probiótico vem sendo usada de diversas maneiras.

Os probióticos são microrganismos vivos que podem

Ela

ser agregados como suplementos na dieta, afetando

foi

usada

substâncias

originalmente

produzidas

por

para

descrever

protozoários

que

de forma benéfica o desenvolvimento da flora

estimulavam outras substâncias (Lilly & Stillwell,

microbiana no intestino. São também conhecidos

1965), mais tarde foi usada para denominar

como bioterapêuticos, bioprotetores e bioprofiláticos

suplementos microbianos que exerciam um efeito

e são utilizados para prevenir as infecções entéricas

benéfico sobre o hospedeiro afetando a sua flora

e

intestinal (Parker, 1974 apud Brito et al., 2013).

microrganismos utilizados como probióticos são

gastrintestinais

usualmente Atualmente,

existem

dois

tipos

principais

de

(ANFALPET,

componentes

não

2010).

Os

patogênicos

da

microbiota normal, tais como bactérias ácido-lácticas

probióticos: os de origem bacteriana e as leveduras.

(principais

Embora ambos os grupos possam, em parte

Streptococcus e Enterococcus) e as leveduras como

substituir promotores de crescimento, eles têm

Saccharomyces.

algumas

e

frequentemente envolvido nas discussões sobre

desvantagens em relação ao animal alvo. Os

bactérias ácido-lácticas usadas com fins probióticos

probióticos bacterianos, normalmente, compreendem

(ANFALPET, 2010). Devem ser incorporados pós-

bactérias

extrusão, devido à alta temperatura utilizada no

diferenças

benéficas:

no

modo

de

ação

Lactobacillusacidophillus,

Bifidobacteriumbifidum, Bacillussubtilis e etc. Estas

gêneros O

Lactococcus, gênero

Lactobacillus,

Bifidobacteriumé

processo.

bactérias agem de forma a permitir um equilíbrio na flora/fauna intestinal, através de ações de exclusão

São subdividos em dois grandes grupos:

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8073-8080, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8074


Artigo 456 – A utilização de probióticos e prebióticos em rações caninas e felinas

• Antagonismo direto - é a capacidade de

Frutoligossacarídeos (FOS) ocorrem

determinados microrganismos probióticos de inibir o

naturalmente em grande variedade de grãos, frutas

crescimento de bactérias patogênicas devido à

e vegetais. Os FOS são constituídos por uma cadeia

produção

de frutose com ligações β (2-1) e uma unidade de

bacteriocinas,

glicose terminal, com grau de polimerização (GP)

hidrogênio;

Os

FOS

são

oligossacarídeos

que

(1-kestotriose;

GF2),

nistose

(1,1-

kestotetraose; GF3) e 1-frutofuranosil-nistose (1,1,1-

substâncias ácido

bactericidas,

orgânico

e

como

peróxido

de

• Estímulo do sistema imune - Os probióticos

menor que 10. Os FOS são uma mistura de 1kestose

de

aumentam a produção de anticorpos, ativação de macrófagos, proliferação de células T e interferom.

kestopentaose, GF4) (HUSSEIN et al., 1998). São

• Alteração do metabolismo - aumento ou

altamente fermentáveis por bactérias lácticas no

diminuição da atividade enzimática, aumento da

intestino, enquanto microrganismos Gram-negativos,

tolerância à lactose em indivíduos lactase-deficientes

como Salmonella spp. e E. coli são incapazes de

ou pela diminuição da atividade de enzimas como a

fermentá-los. Sendo assim, os FOS favorecem o

β-glucoronidase,

desenvolvimento de 22 microbiota não-patogênica

responsáveis pela produção de substâncias tóxicas.

em detrimento de microrganismos patogênicos,

Atividade antimicrobiana - certos microrganismos

como demonstrado por alguns estudos (HIDAKA et

produzem

al., 1990; RUSSELL, 1998; SWANSON et al., 2002a;

neutralizar enteroxinas ou diminuir a absorção de

MIDDELBOS et al., 2007a).

substâncias tóxicas. •

Mananoligossacarídeos (MOS) Os

nitrorredutase

metabólitos

Adsorção

que

de

e

são

azorredutase,

capazes

bactérias

-

de

o

Saccharomycescerevisiae tem capacidade de se

MOS são oligossacarídeos

derivados

das

aderir a bactérias que possuem fímbrias do tipo I,

paredes de leveduras (extrato seco da fermentação

diminuindo a população de bactérias indesejáveis no

de Saccharomyces cerevisiae) (FLICKINGER et al.,

trato gastrintestinal. De acordo com Swanson et al.

2000). A parede de levedura é constituída em média

(2010), não houve diferenças de escore e pH fecal,

por 48,2% fibra dietética total (43,7% fibra insolúvel

mas

e 4,5% solúvel); 17,9% proteína bruta e 19,8%

diminuição do Clostridium para os animais em que o

extrato etéreo hidrólise ácida. A fração de manose

Lactobacillusacidophilus DSM 13241 foi incluído na

corresponde a aproximadamente 31% da parede

dieta, mostrando que com o uso do probiótico tem-se

celular (MIDDELBOS et al., 2007b). São capazes de

um aumento na saúde intestinal dos animais de

induzir a ativação de macrófagos saturando os

companhia.

houve

um

aumento

em

Lactobacillus

e

da

• Competição pelos sítios de adesão: sugere-

superfície celular, que se projetam da superfície da

se que certas espécies de bactérias produtoras de

membrana celular dos macrófagos. Uma vez que

ácido láctico competem com coliformes por sítios de

três ou mais lugares tenham sido saturados, inicia-

aderência intestinais (Sissons, 1989), entretanto,

se uma reação em cadeia que dá origem a ativação

Vanbelle (1990), relata em um estudo conduzido na

dos macrófagos e a liberação de citoquinas, com a

França com espécies de Bifidobacterium, que a

instalação de uma resposta imunológica adquirida

propriedade de competir pelos sítios de adesão é

(MACARI & MAIORKA, 2000).

dependente do número de bactérias viáveis que

receptores

de

manose

das

glicoproteínas

chegam ao local a ser colonizado e do tipo de Modo de Ação

receptor específico para a bactéria. Além disto,

Os possíveis mecanismos de ação dos

acredita-se na existência de inter-relações entre

probióticos, de acordo com Monteiro (2004), são os

alguns dos metabólitos produzidos pelas espécies

seguintes:

probióticas. Algumas espécies de Bifidobacterium

•Exclusão competitiva - algumas bactérias

têm afinidade de ligação pelos receptores β -

benéficas competem pela adesão aos receptores

glucosamine que são os mesmos sítios de ligação de

beta-glucosamina, impedindo que algumas espécies

algumas espécies de E. colienteropatogênicas. Deste

se fixem;

modo, a hipótese da competição por sítios de adesão pode ser comprovada em alguns casos específicos. Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8073-8080, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8075


Artigo 456 – A utilização de probióticos e prebióticos em rações caninas e felinas

• Atividade antimicrobiana: a produção de ácido

probiótico oferece algumas vantagens sobre os

láctico e acético pelas bactérias utilizadas como

bacterianos que são: parede celular altamente

probióticos reduzem o pH do ambiente do trato

resistente à digestão ácida, resultando em grande

gastrointestinal, prevenindo o crescimento de vários

viabilidade pós-gástrica (maior número de células

patógenos inclusive de coliformes, e permitindo o

vivas no intestino) e resistência aos antibióticos,

desenvolvimento de certas espécies de Lactobacillus

permitindo o uso durante a antibioticoterapia. O uso

(Klaenhammer, 1982; Atherton & Robbins, 1987).

de leveduras vivas, como probiótico não é recente,

Outras

como

mas o advento do uso de antibióticos, após a

bacteriocinas, nisina, acidofilina, lactalina e toxinas

descoberta, em 1943, da penicilina por Fleming,

letais para certos patógenos também são produzidas

colocou-o no esquecimento. Com a preocupação do

por

probiótica.

uso indiscriminado dos antibióticos como promotores

Possivelmente elas também colaboram para o

de crescimento, sua utilidade voltou à tona. As

equilíbrio microbiano da mucosa intestinal (Geder,

leveduras vivas, como o Saccharomycescerevisiae,

1974,1975; Brugier & Patte, 1975; Tagget al., 1976;

por serem seres eucariotas anaeróbios facultativos,

Lipinska,1977; Harasowaet al., 1980; Gedek, 1980,

ou seja, podem viver tanto na presença como na

1981, 1984, 1986; Polonelli & Morace, 1986 ; apud

ausência de oxigênio (O2), têm uma gama de

Vanbelle et al., 1990),

utilização mais ampla que os probióticos bacterianos,

substâncias

antimicrobianas

microrganismos

comprovada

por

de

ação

e esta afirmativa foi

Shahanietal

(1976)

que

tendo seus modos de ação de forma diferente entre

demonstraram, in vitro, a atividade antimicrobiana do

monogástricos,

L. acidophilus e do L. bulgaricus.

monogástricos (animais de estômagos simples), as

ruminantes

e

herbívoros.

Nos

leveduras vivas têm como principais ações: • Neutralização de enterotoxinas: Alguns estudos

mostram

produzem

que

metabólitos

certos que

microrganismos

são

capazes

de

alta concentração de nucleotídeos e ácido

neutralizar os efeitos de enterotoxinas produzidas por coliformes (Sissons, 1990) e ainda reduzem a

Melhora da palatabilidade da ração – pela glutâmico.

Adsorção de elementos / compostos. Por ex.

absorção de substâncias tóxicas, como por exemplo,

nas cervejarias – responsável pela remoção

da amônia (Vanbelle et al., 1990). Segundo Stewart

do amargo do lúpulo.

&Chesson.

(1993),

probióticos

contendo

Adsorção de bactérias patogênicas em sua

Bifidobacterium previnem a formação de aminas

superfície. Principalmente bactérias Gram-

tóxicas pelas bactérias intestinais.

negativas com fimbriae do tipo 1.

Todas estas funções resultam, principalmente, numa

Estimulação da resposta imunológica (Ig A).

Produção de substâncias antibióticas – ex:

melhor absorção de nutrientes e consequentemente melhor também

desempenho pela

ação

zootécnico, mediadora

Toxina K1 efetiva contra Candidaalbicans. S.

influenciado no

cerevisiae pode impedir a ligação de toxinas

sistema

a

imunológico.

receptores

nas

células

epiteliais

do

intestino, através da produção de uma protease, que corta esta ligação.

Principal Problema O

principal

problema

 do

uso

de

probióticos

bacterianos é que de uma maneira geral estes microrganismos são suscetíveis a antibióticos e a

Estimula a produção de dissacaridases (sucrase, maltase e lactase).

Tem importante produção de vitaminas do complexo B, no TGI.

ação do baixo pH predominante no estômago de animais pós desmame. Esta susceptibilidade a

Benefícios

antibióticos

Dentre os benefícios do uso de leveduras vivas

normalmente

impede

o

uso

concomitante com a antibioticoterapia.

como aditivos nutricionais, podemos mencionar os seguintes nos monogástricos:

No caso das leveduras vivas, basicamente, cepas de Saccharomycescerevisiae, o seu uso como

Melhora o ganho de peso e a conversão alimentar;

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8073-8080, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8076


Artigo 456 – A utilização de probióticos e prebióticos em rações caninas e felinas

 

Reduz

a

mortalidade

causada

por

microbiota intestinal, as quais terão crescimento e/ou

microrganismos oportunistas;

metabolismo estimulados, sendo capaz de alterar a

Aumenta a resposta imunológica, diminuindo

microflora intestinal favorável e induzir a efeitos

os

benéficos intestinais ou sistêmicos, ao hospedeiro.

efeitos

estressores

das

infecções

intestinais, além de possuir uma ação sinérgica

com

os

(Dionizio et al., 2002)

tratamentos São em sua totalidade, fibras vegetais, entretanto,

medicamentosos.

agrupadas separadamente por apresentarem efeitos Por último, mas não de menor importância, faz-se

fisiológicos

necessário

microrganismo,

nutricionais não digeríveis, que atuam seletivamente

Saccharomycescerevisiae, não coloniza os animais

sobre a microflora, estimulando o crescimento e

domésticos,

seu

atividade de uma ou mais bactérias benéficas

fornecimento seja contínuo para se obter beneficio

intestinais (Carabin & Flamm, 1999; Gibson &

total. Outro ponto importante é que seus benefícios

Roberfroid, 1995; ANFALPET, 2010;).

nos

enfatizar, portanto

animais

são,

que

o

necessitando

principalmente,

que

através

característicos.

São

ingredientes

de

equilíbrio da flora e fauna intestinal, sendo que

Podem ser obtidos na forma natural em sementes e

esses benefícios não são observados imediatamente

raízes de alguns vegetais como a chicória, cebola,

após a aplicação, mas sim depois de alguns dias (14

alho, alcachofra, aspargo, cevada, centeio, grãos de

a 21) quando as alterações em número e qualidade

soja, grão-de-bico e tremoço. Todavia, atualmente a

da flora/fauna já ocorreram. Outro fator muito

forma mais comum disponível no mercado, são as

importante é lembrar que os probióticos são células

paredes celulares de Saccharomycescerevisiae. A

vivas e, portanto é fundamental saber distinguir entre

parede celular de levedura (PCL) é obtida pela

levedo ou levedura de cana ou cervejaria que são

autólise da célula completa da levedura e posterior

constituídos por células mortas, não sendo, portanto,

separação do conteúdo intracelular ou extrato de

probióticos, mas muitas vezes, dependendo da

levedura. A PCL é constituída por polissacarídeos e

qualidade,

Os

glicoproteínas que formam uma rede tridimensional

probióticos são normalmente vendidos em termos de

de alto poder protetivo à levedura. De acordo com a

UFC/g (Unidades Formadoras de Colônias/g de

cepa da levedura e/ou seu processo de produção, a

produto).

encontrados

PCL pode representar cerca de 10-25% da matéria

concentrados de leveduras vivas com UFC/g na

seca da célula. Quanto a sua composição a PCL

faixa de 10 a 15 bilhões por grama. As doses variam

pode ter de 85-90% de polissacarídeos e de 10 – 15

dependendo da espécie animal, no entanto podendo

% de proteínas. Quanto à estrutura da PCL ela tem

ser usada a regra geral de 1 a 2 g/100 kg de peso

150nm de espessura e é constituída de 3 camadas

vivo.

rigidamente interligadas: Polímeros de manose ou

excelente

fonte

Comumente

de

nutrientes.

são

mananoproteínas; Polímeros de β-glucanos (com PREBIÓTICOS NA RAÇÃO DE CÃES E GATOS

ligações 1-3 e 1-6); Pequenas proporções de N-

O termo “prebiótico” foi introduzido por Gibson e

acetil-glucosamina ou quitina. Os prebióticos mais

Roberfroid

utilizados são os frutoligossacarídeos (FOS), que

(1995),

sendo

definidos

como

ingredientes nutricionais não digeríveis que afetam

incluem

beneficamente

oligossacarídeos que diferem somente em seu grau

o

hospedeiro,

estimulando

seletivamente o crescimento e atividade de uma ou

inulina

e

oligofrutose.

Ambos

são

de polimerização.

mais bactérias benéficas intestinais, melhorando a saúde do seu hospedeiro. Para uma substância ser

Efeitos

classificada como prebiótico, ela não pode ser

Dentre os efeitos benéficos dos prebióticos estão:

hidrolizada ou absorvida na parte superior do trato gastrointestinal, e deve ser um substrato seletivo

Estimulação do crescimento de bactérias

para um limitado número de bactérias comensais

benéficas (Bifidobacterium e Lactobacillus) e

benéficas do cólon, mais precisamente bactérias

a exclusão de bactérias patogênicas.

bífidas, responsáveis por modular a composição da

Função

e

estrutura

da

colônia

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8073-8080, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

mais 8077


Artigo 456 – A utilização de probióticos e prebióticos em rações caninas e felinas

diferenciação

Alguns açúcares absorvíveis ou não, fibras, álcoois

celular da colônia, ajudando na manutenção

de açúcares e oligossacarídeos estão dentro deste

do desenvolvimento normal da mucosa.

conceito de prebióticos. Destes, os oligossacarídeos

Aumento da área e capacidade de absorção

- cadeias curtas de polissacarídeos compostos de

do

da

três a 10 açúcares simples ligados entre sim, têm

concentração de catabólitos proteicos nas

recebido mais atenção pelas inúmeras propriedades

fezes.

prebióticas atribuídas a eles.

saudável,

aumentando

intestino

Melhora

na

delgado.

homeostase

a

Redução

da

glicose

e

modulação da concentração de lipídeos do

Mecanismo de ação

sangue (Swanson et al., 2002; Dzanis,

Exclusão de bactérias Gram (-) com fimbriae do tipo

2003).

1: O processo de colonização do trato digestivo por microrganismos é intermediado por um grupo de

Funções

proteínas e glicoproteínas bacterianas denominadas

A microflora intestinal desempenha inúmeras funções

no

organismo

animal.

Dentre

estas,

destacam-se características como: 

“lectinas”.

As

lectinas

se

caracterizam

pela

capacidade de se ligarem de forma específica e irreversível a radicais carboidratos livres. Por isso,

Proteção do organismo contra infecções e

microrganismos

outras doenças.

Vibriocholerae, Salmonellatyphimuriume, etc, que

Estimular a resposta imunológica.

têm fimbriae do tipo 1, se utilizam das lectinas para

Efetuar diversas atividades enzimáticas.

se fixarem a sítios específicos da mucosa digestiva.

Contribuir para o fornecimento de vitaminas

A PCL ocupa estes sítios na mucosa impedindo a

e minerais (Oliveira & Batista, 2003).

colonização

Estimular

o crescimento

e/ou ativar

o

metabolismo de algum grupo de bactérias benéficas do trato intestinal. Desta maneira, os prebióticos agem intimamente relacionados aos probióticos, constituindo o “alimento” de bactérias probióticas. O uso de produtos denominados prebióticos em associação com os probióticos apresenta ações benéficas superiores aos antibióticos promotores de crescimento como:

resistência às drogas, por serem produtos essencialmente naturais;

Não

devem

de

Salmonellaspp,

E.

coli,

bactérias

patogênicas;

micotoxinas:

A

estrutura

tridimensional da PCL pode adsorver, de forma irreversível,

quantidades

significantes

de

micotoxinas, tais como: aflatoxinas, zearelenona, fumonisinas, ocratoxinas e etc. Efeito Trófico sobre a Mucosa Intestinal: Estudos recentes demonstram que o fornecimento de PCL para animais resultou em maior comprimento das vilosidades e profundidade das criptas. Este aumento na área das vilosidades resulta em maior atividade enzimática e consequente aumento na absorção de nutrientes. Estimulação do

Não deixar resíduos nos produtos de origem animal e não induzir o desenvolvimento de

por

exclusão/adsorção

Modo de Ação

como

ser

metabolizados

Sistema

Imune:

A

administração

de

PCL,

principalmente da fração de β-glucanos (1-3 / 1-6), em animais, resulta em efeitos notáveis no sistema imunológico, que incluem estimulação das células do

ou

sistema

reticuloendotelial

e

incremento

da

absorvidos durante a sua passagem pelo

resistência a infecções. O mecanismo de ação

trato digestivo superior;

proposto é a estimulação da imunidade inata,

Devem servir como substrato a uma ou mais

especificamente

bactérias intestinais benéficas (estas serão

macrófagos, células que possuem receptores para β-

estimuladas a crescer e/ou tornarem-se

glucanos e que quando estimulados induzem a

metabolicamente ativas);

produção TNF-α (Fator de necrose tumoral), IL–1

Possuir a capacidade de alterar a microflora

(Interleucina),

intestinal de maneira favorável à saúde do

metabolismo dos eicosanoides, conduzindo a um

hospedeiro;

estado de alerta imunológico.

em

fator

nível

ativador

de

das

monócitos

plaquetas

e

e

Devem induzir efeitos benéficos sistêmicos ou na luz intestinal do hospedeiro. Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8073-8080, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8078


Artigo 456 – A utilização de probióticos e prebióticos em rações caninas e felinas

Subprodutos

CARABIN, I.G.; FLAMM, W.G. Evaluation of safety

Ainda que a utilização de leveduras vivas e/ou

of inulin and oligofructose as dietary fiber.

frações da levedura (paredes celulares de levedura)

Regul. Toxicol. Pharmacol., New York, v.30,

possam representar uma alternativa importante e

p.268-282, 1999.

viável para melhorar a saúde e produtividade dos animais, na atualidade a indústria de fermentação gera um grande volume de subprodutos, que trazem pouca informação quanto às cepas e/ou processo de produção, o que pode, significativamente, influir na sua eficácia como aditivo tecnológico nutricional. Por isto faz-se de importância capital que os criadores

DEMINICIUS,

B.B.

MARTINS,

C.B.

Tópicos

especiais em Ciência Animal II. Coletânia da II Jornada

Científica

da

Pós-Graduação

em

Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Epirito Santo, Espirito Santo:CAUFES, 2014. DIONIZIO, M.A, BERTECHINI, G.A., KANJI KATO,

procurem produtores de probióticos e prebióticos

R.

que forneçam o máximo de informações quanto à

promotores de crescimento para frangos de

origem das cepas utilizadas, a quantidade de

corte – desempenho e rendimento de carcaça,

Unidades Formadoras de Colônias por grama de

Ciênc. agrotec., Lavras. Edição Especial, p.1580-

produto (UFC/g), sua aprovação pelos principais

1587, 2002.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chicago - Illinois p 11 a 20. 2003.

É de extrema importância que haja adição de prebióticos e probióticos nas rações para animais de companhia. Porém, as respostas claras a respeito do assunto só serão encontradas após um longo período

experimental,

envolvendo

muitos

pesquisadores e instituições diferentes, ou seja, necessitam de mais estudos, com diferentes fontes e quantidades

de

substâncias

probióticas

e

prebióticas, conseguindo assim comprovar todos os benefícios no organismo de cães e gatos.

FELICIANO et al. Efeitos de probióticos sobre a digestibilidade, escore fecal e características hematológicas em cães. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e

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prebióticos

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Centro

Tecnológico de Minas Gerais / CETEC, 2014.


Arginina na nutrição de leitões Aminoácidos, imunidade, suínos. Revista Eletrônica

Bruna Kuhn Gomes

1*

Laion Antunes Stella 1

1

Vol. 15, Nº 01, Jan/Fev de 2018 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

Doutoranda, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – Universidade

Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS- *E-mail: brunacrisgomes@gmail.com. 1

Doutor em Zootecnia – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO

ARGININE NUTRITION IN NEONATAL PIGS

Uma vez que o aminoácido arginina é geralmente

ABSTRACT

abundante nas proteínas dos tecidos vegetais e

Since the amino acid arginine is generally abundant

animais, os produtores de suínos prestam pouca

in the proteins of plant and animal tissues, pig

atenção

destes

producers paid little attention to the complement of

aminoácidos em dietas de suínos. No entanto, os

the family of these amino acids in pig diets. However,

resultados

esses

the results of studies indicate that these amino acids

ao

complemento de

aminoácidos

estudos

família

indicam

reguladoras

assist in important regulatory functions in nutrient metabolism and immune response, thus affecting the

resposta imune, afetando assim a eficiência da

efficiency of food use by pigs. Arginine and glutamine

utilização de alimentos pelos suínos. Arginina e

are prototypes with well-defined functions and

glutamina são os protótipos com funções bem

expanded

definidas e aplicações ampliadas para a produção de

addition, there is evidence that arginine is deficient in

carne suína. Além disso, há evidências de que a

mammalian milk, including piglets, and that the

arginina é deficiente no leite dos mamíferos,

transport of arginine from maternal blood to fetal

incluindo leitões e que o transporte de arginina do

blood in females is insufficient for maximal fetal

sangue materno para o sangue fetal nas fêmeas é

growth. Thus, there is a paradigm shift in our

insuficiente para o crescimento fetal máximo. Assim,

understanding of the roles for arginine in nutrition and

nossa

pig production. This new knowledge is highlighted in

compreensão dos papéis para arginina na nutrição e

the present review, with a particular emphasis on

produção de suínos. Este novo conhecimento é

physiological response and functions in the intestinal

destacado na presente revisão, com uma ênfase

barrier.

especial na resposta fisiológica e funções na barreira

Keyword: amino acids, immunity, pigs.

mudança

nas

de

funções

que

importantes no metabolismo de nutrientes e na

uma

auxiliam

da

paradigma

na

applications

for

pork

production.

In

intestinal. Palavras-chave: aminoácidos, imunidade, suínos.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8081-8088, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8081


Artigo 457 – Arginina na nutrição de leitões

INTRODUÇÃO

tanciais de arginina dietética na circulação sistêmica,

A arginina é um aminoácido básico, estável em

pois 40% da arginina ingerida é degradada pelo

soluções aquosas e à esterilização (ZALOGA et al.,

intestino delgado na primeira etapa do metabolismo.

2004). Possui quatro átomos de nitrogênio por

A bioquímica da arginina é complexa e envolve

molécula e devido a essa característica estrutural é

diversas vias metabólicas e sistemas orgânicos (WU

o principal carreador de nitrogênio em humanos e

et al., 2009). Embora a arginina seja formada no

animais, apresentando importante função na síntese

fígado através do ciclo da ureia, não existe síntese

proteica nitrogênio

e

no por

metabolismo participar

(WILMORE, 2004). É

intermediário

do

ciclo

da

de ureia

precursora da síntese de

moléculas com grande importância biológica como ornitina, poliaminas, óxido nítrico, creatina, glutamina e prolina (CHIARLA et al., 2006; WILMORE, 2004).

líquida de arginina por este órgão devido a uma atividade extremamente alta da arginase citosólica que hidroliza rapidamente a arginina (URSCHEL et al., 2005). Com base em concentrações de arginina no leite, ingestão diária de leite e ganho de peso, bem como a síntese de ornitina e creatina da

Tradicionalmente é considerada um aminoácido não essencial para suínos, ou seja, o organismo é capaz de sintetizá-lo em quantidade suficiente para manter

arginina, estimam-se que o leite de porca fornece no máximo

40%

dos

requisitos

de

arginina

nos

primeiros 7 dias de vida do leitão.

o balanço de nitrogênio necessário para uma ótima

A quebra de proteínas corporais e dietéticas gera

taxa de crescimento, e esse aminoácido não é

arginina, que pode seguir duas vias: ciclo da ureia ou

necessário que deve ser fornecido na ração. No

degradação intestinal (CREEN & CYNOBER, 2010).

entanto, em certas condições clínicas como trauma

A arginina pode ser diretamente sintetizada no tecido

e

do

hepático a partir do ciclo da ureia, porém devido à

consumo. Esse excede a capacidade de produção

sepse,

principalmente,

alta atividade da enzima arginase, a arginina

corporal levando à depleção da arginina, que nestes

produzida será rapidamente hidrolisada em ureia e

casos é ainda agravada pela reduzida ingestão do

ornitina, não havendo, portanto, síntese líquida do

nutriente em doentes graves.

aminoácido

denominação

mais

ocorre

adequada

aumento

Desta forma, a é

aminoácido

(WU

et

al.,

2000;

FILHO

&

ZILBERSTEIN, 2000). A outra via de utilização da

condicionalmente essencial (PAN et al., 2004;

arginina

SUCHNER et al., 2002).

a

dependente do metabolismo intestinal. A arginina

arginina é considerada um aminoácido essencial

produzida da degradação de proteínas corporais é

para quase todos os neonatos mamíferos, incluindo

transformada no epitélio intestinal em citrulina,

os suínos.

sintetizada a partir do glutamato, glutamina e ornitina

Além

disso,

consiste

na

transformação

que

é

em processo que ocorre nas mitocôndrias dos Diante deste contexto, faz-se necessária uma

enterócitos e é dependente das enzimas ornitina

análise mais aprofundada da bibliografia disponível e

aminotranferase

pesquisas realizadas, explanando os resultados

(HALLEMEESCH et al., 2002; TAPIERO et al.,

obtidos por diversos autores sobre os efeitos da

2002).

e

ornitina

transcarbamilase

arginina em nutrição de leitões. A citrulina circulante, proveniente dos enterócitos é METABOLISMO E SÍNTESE ENDÓGENA

então captada pelos rins e convertida em arginina

Os níveis plasmáticos de arginina são mantidos a

em

partir de fontes exógena (dieta) e endógena

argininosuccinato sintase (ASS) e argininosuccinato

(degradação proteica corporal e síntese endógena

liase (ASL), que contribui para o fluxo plasmático de

pela citrulina). A síntese endógena de arginina varia

arginina. Desta forma, a síntese endógena de

de acordo com a espécie, estado nutricional e

arginina em adultos envolve principalmente o eixo

estágio de desenvolvimento (WU & MORRIS, 1998).

intestino-rins (Figura 2) (CREEN & CYNOBER, 2010;

processo

mediado

pelas

enzimas

EVANS et al., 2004). Além da síntese renal, a Em leitões, não ocorre entrada de quantidades subs-

citrulina é rapidamente convertida em arginina em quase todas as células, incluindo adipócitos, células

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8081-8088, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8082


Artigo 457 – Arginina na nutrição de leitões

endoteliais, enterócitos, macrófagos, neurônios e miócitos.

Estudos

com

macrófagos

e

células

esse período. A síntese endógena de arginina através

de

prolina,

bem

como

glutamina,

é

desempenha um papel importante na manutenção

transportada para o interior celular pelo sistema “N”,

da homeostase da arginina no recém-nascido,

seletivo

lateral

porque arginina é extremamente deficiente no leite

contendo um grupo amino. Dentro das células, a

da maioria dos mamíferos, incluindo seres humanos,

conversão

suínos, ratos e ambos prolina e glutamina são

endoteliais

demonstraram

para

que

aminoácidos

de

citrulina

com em

a

citrulina

cadeia arginina

via

argininossuccinato sintase é a única via para a

aminoácidos abundantes no leite.

utilização de citrulina (CREEN & CYNOBER, 2010). Assim, a regulação da síntese intestinal de citrulina e Via do óxido nítrico do metabolismo arginina

arginina a partir de prolina é de grande importância

O óxido nítrico (NO) é uma pequena molécula que

nutricional e fisiológico. A atividade de prolina

desempenha um papel central numa variedade de

oxidase é muito maior em enterócitos de suínos no

funções,

fígado e é maior no intestino delgado do que em

como

na

vasodilatação,

memória,

peristaltismo, citotoxicidade e o controle de várias

todos

secreções endócrinas e exócrinas nos sistemas

resultados sugerem que o intestino delgado é o

cardiovascular,

e

principal órgão para iniciar o catabolismo de prolina

imunológico. NO é sintetizado a partir da arginina

no corpo. Relatórios indicam que uma deficiência

por síntese de óxido nítrico (NOS), com a formação

grave de citrulina e arginina ocorre na criança com

de citrulina (NATHAN & XIE, 1994).

hiperlactacidemia o qual levou a investigar se o

reprodutivo,

nervoso

central

os

outros

tecidos

examinados.

Estes

lactato seria a causa da inibição da síntese intestinal Vias arginase / ornitina do metabolismo arginina

de citrulina e arginina em leitões.

Existem duas formas da enzima arginase, embora ambas as formas façam a conversão de arginina

Entre todas as enzimas que sintetizam a arginina a

para ornitina, que são codificadas por sequências de

partir de prolina, prolina oxidase foi a única enzima

genes distintas. As duas formas estão localizadas

cuja atividade foi inibida por lactato. Nem piruvato (o

em diferentes compartimentos celulares e são

produto

expressas em graus variáveis em tecidos diferentes.

(ornitina, citrulina e arginina) tiveram a atividade

Tipo I é uma enzima citosólica expressa em

intestinal de prolina oxidase afetado. Porque lactato

hepatócitos e componente central do ciclo da ureia.

praticamente não é metabolizado pela mitocôndria,

Embora não constitutivamente presente, a sua

uma inibição da atividade de oxidase de prolina em

expressão pode ser induzida em macrófagos por

mitocôndrias lesadas sugere que o lactato inativa

estimulação

T-helper-2

diretamente a enzima. A análise cinética indicou

(especialmente por interleucinas (IL) -4, -10 e -13)

inibição não competitiva de lactato oxidase intestinal

(CHANG et al., 2000). Arginase tipo II, por outro

por prolina. Nesta classe de inibição de enzima, um

lado,

está

com

nas

nem

metabólitos

inibidor (por exemplo, lactato) não tem qualquer semelhança estrutural com o substrato (por exemplo,

cérebro e intestino delgado. Pode também ser

prolina), mas liga-se a qualquer enzima livre (por

induzida

diferentes

exemplo, oxidase de prolina), ou para o complexo

estímulos. A expressão de ambas as formas de

enzima-substrato, reduzindo assim a atividade da

arginase, nos macrófagos é reduzido por T-helper-1

enzima. O lactato foi também um inibidor não

citocinas (MUNDER et al., 1999).

competitivo de prolina oxidase no fígado de suíno.

mas

por

e

lactato)

é

macrófagos,

mitocôndrias

de

encontrada em concentrações elevadas no rim, em

localizada

citocinas

imediato

Foram

conduzidos

estudos

metabólicos

com

Síntese de arginina e citrulina a partir de prolina

enterócitos, onde as concentrações plasmáticas

A síntese intestinal de citrulina e arginina a partir de

fisiológicas de lactato (1 mM) não tiveram efeito

glutamina diminui progressivamente em leitões

sobre a síntese de arginina a partir de citrulina e

recém-nascidos durante o período de aleitamento,

prolina em enterócitos de suíno. Os resultados deste

onde a prolina se torna o principal substrato para a

estudo também podem ter implicações para a

síntese de arginina e citrulina no enterócito, durante

compreensão da função intestinal prejudicada e

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8081-8088, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8083


Artigo 457 – Arginina na nutrição de leitões

fisiopatologia da isquemia e sepse, que estão

Assim, a síntese de arginina através do eixo

associados com elevadas concentrações de lactato

intestinal-renal desempenha um papel crucial na

no plasma. Quando o intestino delgado está sujeito a

manutenção da homeostase da arginina em leitões.

endotoxina ou a isquemia, a produção local de

A inibição da conversão intestinal de ornitina em P5C

lactato por enterócitos ou infiltrantes imunócitos e as

durante 12 h reduziu as concentrações de ornitina,

concentrações plasmáticas de lactato (até 10 mM) é

citrulina e arginina no plasma em 59%, 52% e 76%,

marcadamente aumentada.

respectivamente, em 4 dias de idade leitões criados por fêmeas suínas. Nos enterócitos dos leitões de 0

Diante disso, pode-se ver que um aumento nas

e 7 dias, a maior parte da citrulina derivada de

concentrações de lactato resultaria em uma inibição

glutamina é convertida localmente em arginina,

de prolina oxidase e uma diminuição na síntese de

enquanto que em suínos mais velhos, a citrulina é

arginina a partir de citrulina e prolina por enterócitos.

liberada para o espaço extracelular. A ausência

Isto conduziria a uma deficiência de arginina na

virtual de arginase em enterócitos de suínos após

mucosa intestinal e, consequentemente, a uma

desmame resulta na produção máxima de arginina

diminuição da síntese de NO. Na medida em que

do intestino delgado na circulação portal (WU et al.,

NO desempenha um papel importante na regulação

2007).

da função da barreira

do

arginina a partir de glutamato e prolina administradas

metabolismo de prolina intestinal pode contribuir

por via intragástrica é regulada pela ingestão

para a integridade intestinal comprometida e danos.

dietética de arginina em leitões alimentados por via

intestinal, redução

Curiosamente,

a

síntese

endógena

de

entérica (WILKINSON et al., 2004). A este respeito, é de salientar que o fornecimento exógeno de arginina previne os danos intestinais

Apesar do potencial biológico de crescimento de

associados com isquemia intestinal ou sépses. Além

leitões em aleitamento ser de até 400 g/dia, a partir

disso, uma inibição do catabolismo da prolina

do sétimo dia de idade, os leitões começam a reduzir

intestinal pode ajudar a explicar hipoargininemia e

seu desempenho, alcançando no máximo 230 g/dia,

hiperprolinemia

concentrações

o que pode estar relacionado à queda na síntese

plasmáticas elevadas de lactato em humanos com

intestinal de citrulina e arginina (FLYNN et al., 2000).

sepse.

Estudo realizado por Mateo et al. (2008) concluíram

associados

a

Arginina sobre a manutenção da homeostase em leitões alimentados com leite A arginina é um aminoácido essencial para os leitões recém-nascidos. Embora a arginina seja formada no fígado através do ciclo da ureia, não há síntese líquida de arginina por este órgão devido a uma atividade extremamente alta da arginase citosólica que hidroliza rapidamente a arginina (URSCHEL

et

al.,

2006).

Com

base

em

concentrações de arginina no leite, ingestão diária de leite e ganho de peso, bem como a síntese de ornitina, NO e creatina da arginina, estima-se que o leite de porca fornece no máximo 40% dos requisitos de arginina nos primeiros 7 dias de vida do leitão (WU

&

KNABE,

1995).

Este

pressuposto

é

consistente com o achado prévio de que a síntese endógena de arginina forneceu em torno de 45% da arginina depositada na proteína corporal do leitão alimentado com uma dieta à base de leite.

que a suplementação dietética de arginina na dieta de leitoas primíparas, na fase de lactação, pode influenciar positivamente o desempenho da leitegada na primeira semana de vida. Os resultados do trabalho indicaram que o consumo voluntário de ração e o peso vivo das primíparas não foram influenciados arginina,

pela

suplementação

denotando

que

o

dietética aumento

de das

concentrações de aminoácidos totais no leite não ocorreu devido às alterações na ingestão de proteína ou por conta da mobilização da proteína corporal. Além disso, o aumento das concentrações de aminoácidos totais no leite foi associado com o ganho de peso vivo dos leitões durante a primeira semana de lactação, que influenciou positivamente o desempenho dos animais durante todo o período de lactação.

Em

média,

os

leitões,

cujas

mães

receberam arginina suplementar, ganharam 20 g/dia a mais do que o grupo controle, ou seja, 420 g a mais durante o período de lactação (21 dias). Em resumo, a suplementação dietética de arginina para

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8081-8088, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8084


Artigo 457 – Arginina na nutrição de leitões

leitoas primíparas lactantes melhorou o desempenho

posterior que a suplementação de arginina aumenta

dos leitões lactentes.

a expressão de RNA mensageiro tanto para a produção de citocinas Th1 (INF-

-2) e citocinas

Efeitos da arginina na resposta imunológica

Th2 (IL-4 e IL-10), sugerindo que a arginina atua

A suplementação com arginina aumenta a função

tanto na resposta imunológica celular quanto na

imunológica em modelos humanos e animais, agindo

humoral (SHANG et al., 2005).

na defesa do hospedeiro, no processo inflamatório, cicatrização e

adaptações

Nos macrófagos, a L-arginina pode ser metabolizada

fisiopatológicas. Porém, os mecanismos pelos quais

pela enzima óxido nítrico sintase induzida (iNOS)

a arginina atua ainda não estão completamente

para

esclarecidos (CHIARLA et al., 2006; SUKHOTNIK et

mecanismos citotóxicos destas células, ou pela

al., 2005; WU et al., 2000). O aporte exógeno de

arginase I ou arginase II, para produzir ureia e L-

arginina

ornitina, sendo o último substrato para as poliaminas

está

em

uma série de

acompanhado

de

aumento

na

proliferação de linfócitos, principalmente das células

produzir

o

óxido

nítrico,

importante

em

(ZEA et al., 2004).

T-helper, o que induz à apropriada produção de citocinas, aumento da fagocitose por potencializar a

A arginase I, por outro lado, prejudica a resposta das

atividade de macrófagos e reforço na atividade de

células T por modular a disponibilidade de arginina.

células Natural Killer. Na ausência de L-arginina,

A alta atividade de arginase, reportada no trauma,

células humanas e de camundongos possuem

doenças infecciosas e inflamações crônicas, coincide

prejudicada capacidade de proliferação e expressão

com o transporte de arginina extracelular para o

da cadeia CD3-ζ (principal elemento de transdução

interior das células, gerando redução da arginina no

de sinal do receptor de células T); efeito este

microambiente (CHOI et al., 2009; BANSAL &

revertido pela adição de arginina exógena (CHOI et

OCHOA, 2003; HESSE et al., 2001). Assim, tem sido

al., 2009; ZEA et al., 2004).

demonstrado que doentes críticos possuem baixos níveis

de

arginina

circulante,

que

são

Arginina dietética pode aumentar o peso do timo em

correlacionados com altas taxas de mortalidade

animais saudáveis, efeito diretamente relacionado

(HARDY et al., 2006).

com o aumento no número de linfócitos T tímicos, além de possuir efeito direto sobre a atividade de

Função de barreira intestinal

células T in vivo e in vitro (STECHMILLER et al.,

O trato gastrointestinal é habitado por grande

2004). YEH et al. (2002), estudando modelo de ratos

variedade de microrganismos que estão contidos no

sépticos, com o objetivo de verificar os efeitos da

lúmen intestinal e separados do interstício corporal

infusão parenteral de arginina na população de

pelo epitélio. Esta barreira protege o hospedeiro da

células T, verificaram que a razão CD4:CD8 foi

invasão da própria microbiota ou toxinas. A função

significativamente maior no grupo infundido com

de barreira é mantida por mecanismos de defesa

arginina do que no grupo controle, que recebeu

imunológicos, como a produção de imunoglobulina A

glicina. Este resultado sugere que a imunidade foi

secretória e linfócitos intra mucosos, placas de Peyer

aumentada no grupo que recebeu arginina.

e linfonodos mesentéricos; e não imunológicos, como a integridade das membranas plasmáticas

É notório o efeito da arginina sobre a imunidade da

celulares e junções do tipo tight, além da elaboração

mucosa intestinal. SHANG et al., 2004, em estudo

de produtos secretórios (CLAYBURGH et al., 2004;

realizado

THOMAS et al., 2001). A eficácia desta barreira pode

em

ratos

com

indução

da

sepse,

verificaram que a administração de arginina enteral

ser

verificada

considerando-se

na proporção de 2% do valor calórico total (VCT)

concentração

diário, aumentou o número de linfócitos nas placas

enquanto linfonodos mesentéricos, sangue portal e

de Peyer, bem como os níveis de IgA secretória

outros tecidos, são geralmente mantidos estéreis

tenderam a ser aumentados nos grupos tratados

(GATT et al., 2007).

bacteriana

no

lúmen

a

grande intestinal,

com arginina antes da ligação e perfuração cecal. O mesmo grupo de pesquisa verificou em estudo

A defesa do hospedeiro requer interpretação acurada

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8081-8088, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8085


Artigo 457 – Arginina na nutrição de leitões

do

microambiente,

a

fim

de

distinguir

os

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A

(IgA)

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intestinal, a arginina melhorou o peso da mucosa do

xilase sobre a energia metabolizável do farelo de

duodeno, jejuno e íleo e o índice de proliferação

arroz

celular jejunal em ratos. Reduziu ou preveniu,

CiênciaAgrotecnica., Lavras. V.26, n.6, p.1289-

também, o dano morfológico e funcional do intestino,

integral

em

frangos

de

corte.

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key essential nutrient, yet a possible major

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pollutant - its central role in animal nutrition. in:

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Alltech's

feed

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seventh

annual

(CINTRA et al., 2008). No entanto, os mecanismos

D. C. N. LOPES; G. J. M. M. DE LIMA; E. G.

protetores do NO na mucosa intestinal ainda não

XAVIER; R. BARANCELLI; J. A. LAUXEN; B. S.

estão totalmente elucidados (NADLER & FORD,

BRUM

2000).

carboidrases na dieta de porcas lactantes e suas

Os resultados mostrados na presente revisão indicam que a deficiência de arginina, é necessária em determinados períodos de vida dos animais, em que a síntese endógena não atende às exigências para as inúmeras funções no organismo, como é o caso de leitões. A arginina é fornecida, pois é uma metabólica

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8088


Extratos vegetais: potencial de uso na alimentação de animais ruminantes Revista Eletrônica Ruminantes, extrato vegetal, fermentação ruminal. 1*

Vol. 15, Nº 01, Jan/Fev de 2018 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

João Rafael de Assis 2 Rodrigo Torres 2 Jurandy Gouveia Junior 2 João Pedro Alves Maranho 4 Dener Nunes 1

Doutorando em Ciência Animal, Instituto de Ciências Agrarias e

Ambientais, Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá – Brasil. *Email: joaorafael_zootecnista@hotmail.com 2

Mestrando em Zootecnia, Instituto de Ciências Agrarias e Ambientais,

Universidade Federal do Mato Grosso, Sinop – Brasil. 3

Acadêmico do Curso de Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso,

Sinop – Brasil. 4

Bacharel em Zootecnia, Universidade Federal do Mato Grosso, Sinop –

Brasil.

RESUMO

PLANT EXTRACTS: POTENTIAL USE IN THE

Este trabalho teve como objetivo realizar uma

FEEDING OF RUMINANT ANIMALS

revisão de literatura sobre os efeitos positivos da

ABSTRACT

utilização dos extratos vegetais na alimentação de

This work had as objective to conduct a literature

ruminantes. Tendo em mente que novos aditivos

review on the positive effects of the use of plant

estão

as

extracts in ruminant feed. Bearing in mind that new

exigências do mercado externo, onde entra em

additives are being required to address the demands

destaque os extratos bioativos de plantas. Pois, por

of the international market, where enters highlights

virtude são originados de fontes naturais renováveis

the bioactive plant extract. Because by virtue of

e ainda podem agregar potencialidades para saúde

natural renewable sources are sourced and can still

animal e humana.

add potential for animal and human health.

sendo

requisitados

Palavras-chave:

para

ruminantes,

fermentação ruminal.

contemplar

extrato

vegetal,

Keyword:

ruminants,

plant

extract,

ruminal

fermentation.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8089-8096, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8089


Artigo 458 – Extratos vegetais: potencial de uso na alimentação de animais ruminantes

INTRODUÇÃO Na última década de forma crescente, uma onda

produção animal. E dependendo deste, pode até

de repercussão influenciada pelo Movimento Cultural

levar o animal a óbito, fato constatado em animais

Naturalista que teve início em meados de século XIX,

ruminantes criados com dietas ricas em carboidratos

colocou diante aos olhos a nível global, o emprego

solúveis (principalmente amido; confinamento).

dos sistemas de produção orgânica de alimentos. Onde se almeja uma melhor qualidade de vida, já

Porém, graças aos repercutidos de algumas crises,

que

opôs

doenças e acidentes que ocorreram na cadeia

negativamente contra saúde humana. Uma vez que

produtiva de alimentos nos últimos anos, como por

o emprego de herbicidas, pesticidas, hormônios,

exemplo, a encefalopatia espongiforme bovina,

antibióticos,

nos

encefalomalácia, dioxina, febre aftosa, gripe aviária,

sistemas produtivos oferecem risco a saúde humana

intoxicação por salmonela, peste suína clássica entre

tanto quanto podem auxiliar para a degradação

outros, questionamentos à segurança alimentar

ambiental. Sobre este motivo, os produtos orgânicos

ganharam

têm ganhado destaque no mercado internacional,

exigências

principalmente nos Estados Unidos e na Europa e,

consumidor.

o

advém

do

aporte

promotores

de

tecnológico

crescimento

força, foram

consequentemente desenvolvidas

pelo

muitas mercado

no Brasil com menor velocidade (TORRES et al., Apoiando esses questionamentos, a União Europeia

2011).

em

2006 baniu o uso de antibióticos como

No tocante da produção de ruminantes, sabe-se que

promotores de crescimento na produção animal, já

nos últimos anos tem sido apontada como vilã para o

que seu uso é arriscado uma vez que o excedente

meio ambiente, pois por decorrência aos processos

do aditivo pode ser depositado em produtos de

fermentativos ocasionados no rúmen dos animais,

origem animal (carne e leite) e contribuir para

libera gases do efeito estufa, sendo metano o

geração de cepas bacterianas resistentes aos

principal. Segundo Cotton & Pielke, (1995), o metano

medicamentos

contribui com cerca de 15% para o aquecimento

Segundo Reis et al. (2006), a proibição do uso de

global. Em termo geral, a exploração de ruminantes

antibióticos

responde

emissão

recomendada por uma questão de precaução. Sendo

antropogênica de gases do efeito estufa no mundo,

que há uma carência científica justificando que os

algo intrigante para as exigências agroecológicas

ionóforos aumentem os riscos de transferência

voltada para nível mundial.

cruzada de resistência microbiana (CALLAWAY et

por

cerca

de

18%

da

na

utilizados

na

alimentação

medicina animal

humana. tem

sido

al., 2003; RUSSELL & HOULIHAN, 2003). Junto a isto, a exigência do mercado consumidor por produtos orgânicos restringiu o uso de diversos

Neste senário, nasce uma forte demanda em gerar

aditivos alimentares, onde se destaca os antibióticos

uma

ionóforos. Que segundo o NRC (1996), são aditivos

ecologicamente correta. Onde se tem destacado os

alimentares utilizados com intuito de melhorar a

Sistemas Agroecológicos, que tem como essência a

eficiência alimentar dos animais. Sendo a monensina

consolidação de sistemas produtivos contribuintes

sódica

utilizados,

para a preservação ambiental. O que faz o advém

contendo relativamente bons sucessos em melhorar

científico evoluir em busca de novos aditivos

a eficiência alimentar, diminui a produção de metano

alimentares na nutrição animal com que venham

e minimiza os riscos de distúrbios metabólicos

contemplar estes requisitos. Assim os extrativos

(RUSSELL; STROBEL, 1989) como é o caso pelo

vegetais bioativos têm ganhado espaço como novas

acúmulo de lactato no rúmen. Podendo esse, ser

alternativas de aditivos, pois são originados de

utilizado como nutriente após absorvido via intestinal

fontes naturais renováveis e ainda apresentam

e convertido em glicose pela gliconeogênese nas

grande potencial para saúde animal e humana.

um

dos

principais

ionóforos

produção

mais

saudável,

eficiente

e

células dos hepatócitos no fígado. No entanto, seu acumulado no rúmen pode acarretar em acidose

EXTRATOS VEGETAIS

ruminal e vir a comprometer o desempenho como a

Atualmente grande valor se tem dado aos extratos

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Artigo 458 – Extratos vegetais: potencial de uso na alimentação de animais ruminantes

bioativos de plantas, devido sua magnitude medicinal explorada desde os tempos mais remotos da humanidade. Tem ganhado atenção principalmente por apresentarem

propriedades antimicrobianas,

antioxidantes (Sivropoulou et al., 1996; Cardozo et al., 2005; Busquet et al., 2006) e digestivas, onde se destaca

como

substituto

aos

antibióticos

melhoradores de desempenho animal (Rizo et al., 2010).

de metabólitos secundários são os denominados compostos fenólicos, terpenos, fenilpronóides e alcaloides que dentre eles há uma vasta derivação dependente da origem vegetal. INFLUÊNCIA NA FERMENTAÇÃO RUMINAL O uso de aditivos alimentares para ruminantes tem como

função

primordial

melhorar

o

processo

fermentativo no rúmen, por meio da alteração da microbiota ruminal responsável pela degradação dos

Grande parte das funções biologicamente ativas dos

componentes

extratos

população

vegetais

secundários,

os

confere quais

são

aos

metabólitos

responsáveis

por

dietéticos.

microbiana

Neste

responde

contexto, por

a

extrema

importância sobre o perfil da fermentação ruminal

empregarem características de cor, sabor, odor e

como nas características de desempenho animal.

fonte de defesa para ataques de predadores

Um grande número de estudos tem demostrado que

(microrganismos,

Segundo

a utilização de extratos vegetais pode modular a

Simões & Spitzeer (2004), a origem de todos os

composição microbiana como alterar os processos

metabólitos secundários pode ser resumida a partir

fermentativos no rúmen, o que nos leva a inferir

do metabolismo da glicose, via dois intermediários

sobre seu potencial de uso como aditivo na

principais: o ácido chiquímico e o acetil-coa (Figura

alimentação de ruminantes.

insetos,

herbívoros).

1). FIGURA

1:

Rota

biosintética

dos

metabolitos

secundários

Provavelmente os primeiros a demonstrarem efeito de extrativos vegetais sobre a fermentação ruminal foram Crane et al. (1957), observaram que os óleos essenciais limoneno e pineno eram capazes de inibir a síntese de metano in vivo. Posteriormente Borchers (1965), constatou que o timol inibia a deaminação ruminal in vivo, fato observado pelo acúmulo de aminoácidos juntamente com redução na concentração de amônia ruminal. Klita et al. (1996), trabalhando com saponinas de alfafa (2% IMS, 2-3% saponina MS), verificaram que houve depressão no número de protozoários em cordeiros

alimentados

com

saponinas.

No

experimento de McSweeney et al. (2001) estudando os efeitos da leguminosa Calliandra calothyrsus em relação a síntese e a diversidade microbiana ruminal, concluíram que a utilização desta fonte de alimento causou

alterações

significativas

na

população

microbiana, sem afetar a eficiência de síntese de proteína ruminal. O‟Donovan & Brooker (2001) avaliando taninos hidrolisáveis e condensados sobre o crescimento, morfologia Fonte: Simões & Spitzeer, 2004.

e

metabolismo

de

Streptococcus

gallolyticus e Streptococcus bovis, mostrou que

Porém, podemos resumir que os principais grupos

ambos os tipos de taninos tiveram atividade microbiana.

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Artigo 458 – Extratos vegetais: potencial de uso na alimentação de animais ruminantes

Visto que, Streptococcus gallolyticus foi resistente

que houve aumento na concentração total de ácidos

in vitro a pelo menos 7% (p/v) de ácido tânico e de

graxos de cadeia curta sem afetar outros parâmetros

4% (p/v) de tanino condensado de acácia, níveis 10

fermentativos. Em outro experimento Castillejos et al.

vezes maiores do que as toleradas pelo S. bovis,

(2006), avaliaram diferentes óleos essências e

demonstrando que estes são mais sensíveis aos

diferentes doses (5, 50, 500 e 5000 mg/L),

taninos.

observaram que o óleo do cravo-da-índia (fenólico de

guaiacol)

e

da

canela

(fenólico

eugenol)

No experimento de Lia et al. (2003), observaram que

reduziram a concentração de amônia em todas as

as produções de ácidos graxos de cadeia curta

doses. O óleo de frutas cítricas (monoterpeno

aumentaram proporcionalmente ao aumento da

limoneno), reduziu a concentração de amônia na

adição de saponina (0g/L de saponina = 40,8mM de

dose de 500 mg/L.

AGCC; 1,2g/L=42,4mM; 1,8g/L= 42,8mM; 2,4g/L= PEN (2006), utilizando extratos de saponinas de

43,7mM; 3,2g/L= 45,2mM).

Yucca schidigera e Quillaja saponaria em dieta de Krause et al. (2004), avaliaram os efeitos da

vacas da raça Holandesa, observou redução na

leguminosa

produção de metano, dióxido de carbono e aumento

diversidade relataram

Acacia

angustissima,

microbiana que

as

no

rúmen

populações

sobre de

a

ovinos,

fibrolíticas

na concentração de propionato.

de

Fibrobacter e Ruminococcus aumentaram com a

Em um estudo com extratos metanólicos e etanólicos

utilização de acácia na dieta. Sendo que as cepas

de funcho (Foeniculum vulgare), cravo-da-índia

de Selenomonas tenderam a ser resistentes aos

(Syzygium aromaticum) e alho (Allium sativum), foi

taninos presente nesta leguminosa e a Butyrivibrio

observado inibição na produção de metano in vitro,

fibrisolvens foi sensível. Porém as cepas de

tendo

Streptococcus bovis foram sensíveis, enquanto que

(KAMRA et al., 2006).

efeitos

variados

sobre

a

digestibilidade

as Streptococcus gallolyticus foram resistentes. Avaliando os

efeitos

de diferentes

fontes

de

Em um estudo in vivo utilizando óleo encapsulado de

saponinas sobre cultura de fluido ruminal, Goel et al.

raiz-forte (20 g/kg de MS), apresentou 19% na

(2008) contataram que a adição de saponina afetou

redução de metano, sem efeitos sobre a população

a composição microbiana ruminal, aumentando a

de protozoários ou a digestibilidade ruminal em

quantidade de bactérias das espécies Fibrobacter

novilhos (MOHAMMED et al., 2004).

succinogenes

e

Ruminococcus

flavefaciens.

Reduzindo a concentração de 10% a 39% de Abreu et al. (2004) testaram adição de saponina em

protozoários e a população de fungos diminuiu entre

dieta

20% e 60%.

de

ovinos,

observaram

aumento

da

disponibilidade de nitrogênio de origem bacteriana no duodeno (3,8g/dl, tratamento sem saponina e

Fandiño et al. (2008) evidenciaram que o óleo de

5,1g/dl tratamento com saponina), porém houve

anis apresentou efeitos sobre as concentrações de

aumento no número de protozoários.

ácidos graxos de cadeia curta semelhantes à

No experimento in vitro de Busquet et al. (2005b), foi

monensina in vivo. No entanto Chaves et al. (2008b),

observado que a inclusão de óleo de alho e o di-alil-

demostraram que o óleo de zimbro e o cinamaldeído

di-sulfeto (300 mg/L) reduziram a produção de

in

metano em 74% e 69% respectivamente, o que foi

concentração de propionato e queda numérica na

mais

relação acetato: propionato.

pronunciado do

que observado para

a

vivo

promoveram

aumento

numérico

na

monensina. Sendo que também foi evidenciada redução da produção de acetato e aumento na de

No estudo de Holtshausen et al. (2009) avaliando

proprionato.

extratos de Yucca schidigera e Quillaja saponaria (15, 30 e 45g/kg de MS, 3 e 6% de saponinas, para

Trabalhando com dose de 1,5 mg/L de uma mistura

Yucca

schidigera

e

Quillaja

saponaria

de óleos essenciais Castillejos et al. (2005),constaram

respectivamente), observaram que as saponinas pro-

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Artigo 458 – Extratos vegetais: potencial de uso na alimentação de animais ruminantes

moveram redução da relação acetato: proprionato,

Rodríguez-Prado et al. (2012) testado óleo resina de

da concentração de metano, de amônia e a digestão

pimenta vermelha em dietas com alto teor de

da fibra em sistema in vitro.

concentrado para bovinos. Observaram que a adição do extrato alterou o pH ruminal de 5,84 a 6,03 e

Sallam et al. (2009) demonstraram que ao utilizar 10

tendeu

mL de óleo de eucalipto, reduziu em 31% a emissão

concentração de ácidos graxos de cadeia curta. No

de metano em ovinos, sem afetar negativamente a

entanto a relação acetato: proprionato não foi

digestibilidade.

vivo

alterada, porém a concentração de acetato tendeu a

utilizando 250 mg/d de mistura de óleos de orégano,

reduzir (p<0,06), sendo o mesmo averiguado para a

foi observado redução em 12% da produção de

concentração de amônia ruminal (p<0,08).

Em

outro

experimento

in

a

aumentar

linearmente

(p<0,08)

a

metano em ovinos no decorrer de 15 dias (WANG et al., 2009). Ainda utilizando extrato de orégano,

Kim

Hristov et al. (2010) fornecendo 500 g/de folhas de

metanólicos de Artemisia princeps, Allium sativum,

orégano moídas, diminuiu em 40% a produção de

Allium cepa, Zingiber officinale, Citrus unshiu,

metano em vacas leiteiras, tendo aumento na

Lonicera japônica (1% total do volume), observaram

eficiência alimentar e na produção de leite.

que houve redução de bactérias metanogênicas

et

al.

(2012)

utilizando

vários

extratos

associadas a protozoários em todos os extratos Em outro estudo utilizando 2 g/kg de MS consumida

enquanto que bactérias fibrolíticas aumentaram. Em

de di-alil-di-sulfeto, constatou uma redução de 11%

particular a população de F. succinogens nos

na produção de metano em ovinos (KLEVENHUSEN

extratos de absinto, alho, tangerina e madressilva

et al., 2010).

forma maior que a dos demais. A adição de extrato de cebola aumentou a diversidade de R. albus, e a

Patra et al. (2010) avaliado o efeito de extratos de plantas (cravo-da-índia, erva-doce, cebola, alho e gengibre) sobre a metanogênese. Verificaram que

população de R. flavefaciens nos extratos de absinto e de alho diminuiu, enquanto nos outros extratos aumentaram em relação ao controle.

os extratos de alho, cravo-da-índia e erva-doce, na dose de 0,5 mL, inibiram a produção de metano in

Em outro experimento Kim et al. (2013), trabalhando

vitro. Sendo que o extrato de alho na dose de 0,5

com extrato etanólicos de Glycyrrhiza uralensis e

mL, reduziu a relação acetato:propionato. Ainda

Artemisia capillaris (0,5 e 1% total MS), demostrou

também foi constatado, redução no número total de

que os tratamentos com extrato reduziram cerca de

protozoários com a utilização do extrato de cravo-da-

18% das bactérias metanogênicas associadas a

índia.

protozoários no rúmen. Sendo que a diversidade de Methanobacteriales diminuiu em 35% no tratamento

Liu et al. (2011), Dschaak et al. (2011), Cieslak et al.

com extrato de Glycyrrhiza uralensis e 30% no

(2012), demonstraram ação inibitória dos taninos

tratamento com extrato de Artemisia capillaris. A

sobre os protozoários e bactérias metanogênicas,

população da ordem Methanomicrobiales reduziu de

refletindo na redução da produção de amônia,

50% para 0,5% no tratamento com extrato de

metano e na relação acetato:propionato.

Glycyrrhiza uralensis. No mesmo ano Kim et al. (2013), estudando extratos aquoso e etanólico de

No experimento in vitro de Argôlo (2012) testando extratos

etanólicos

de

farelos

de

vagens

de

leguminosas tropicais, indicou que os extratos brutos etanólicos

das

vagens

de

Prosopis

juliflora

(alcaloides), Samanea saman e Samanea tubulosa (terpenos, sapinhas e taninos), diminuíram a relação acetato: propionato e alteraram a diversidade genética bacteriana por meio da DGGE dos produtos de PCR da região V3 do 16S rDNA.

Agulhas de pinheiro e folhas de Ginkgo biloba (5% do fluido ruminal tamponado), mostrou que a população

de

metanogênicas

associado

a

protozoários ciliados diminuiu de 25% para 49% nos extratos de plantas. Junto a isto, a ordem de bactérias Methanobacteriales foi afetada pela adição de todos os extratos vegetais, ocorrendo diminuição em comparação ao controle. Entretanto, a população de F. succinogenes foi maior nos extratos vegetais.

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8093


Artigo 458 – Extratos vegetais: potencial de uso na alimentação de animais ruminantes

No trabalho de Souza (2013) testando a adição

ABREU, A.; Carulla, J. E. Lascano, C. E. Díaz, T. E.

extratos de plantas do cerrado sobre a fermentação

Kreuzer, M. HESS, H.D. Effects of Sapindus

ruminal in vitro, observou que o extrato seco de

saponaria fruits on ruminal fermentation and

Pacarí não deprimiu a concentração de ácido graxo

duodenal nitrogen flow of sheep fed a tropical

de cadeia curta (AGCC), mas na dose de 3.000 ppm

grass diet with and without legume. Journal of

reduziu (p<0,05) a fração potencialmente degradável

Animal Science, v. 82, p. 1392-1400, 2004

da MS incubada e a concentração de N-NH3, porém

ARGÔLO, L.S. Efeito do Extrato Etanólico de

as doses de 30 e 300 ppm diminuiu (p <0,05) a

Vagens de Leguminosas Tropicais sobre os

relação acetato:propionato (4,32 vs 3,64 e 4,32 vs

Parâmetros Ruminais e Diversidade Bacteriana

3.53) respectivamente. A adição de 300 ppm da

Ruminal. (Tese - Doutorado em Zootecnia -

óleoresina

Produção de Ruminantes), Itapetinga-BA: UESB,

de

Copaíba

reduziu

(p<0,05)

as

proporções de acetato e propionato (4,55 vs 2,81), e

2012.

a dose 3.000 ppm promoveu redução de 24,65% da

BORCHERS, R. Proteolytic activity of rumen fluid in

degradabilidade potencial da MS incubada, ainda

vitro. Journal of Animal Science, Champaign,

tendeu a diminuir (p<0,10) as concentrações de N-

v. 24, n. 4, p. 1033-1038, 1965.

NH3 e AGCC totais. Sendo que o óleo de Sucupira

BUSQUET, M.; CALSAMIGLIA, S.; FERRET, A.;

não influenciou os parâmetros de degradação da

CARDOZO, P.W.; KAMEL, C. Effect of garlic oil

MS, mas a inclusão de 3.000 ppm reduziu (p<0,05)

and four of its compounds on rumen microbial

as concentrações de N-NH3, AGCC totais e a

fermentation.

Journal

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et

al.

(2015)

trabalhando

com

extratos

J.L.; GENOVESE, K.J.; POOLE, T.L.; JUNG,

metanólicos de Unica granatum, Betula schmidtii,

Y.S.;

Ginkgo

Cudrania

NISBET, D.J. Ionophores: their use as ruminant

tricuspidata (5% total MS), indicou redução de 60%

growth promotants and impact on food safety.

da

Current Issues in Intestinal Microbiology,

biloba,

Camellia

população

tratamentos população

de

com de

japonica

protozoários

extrato. Fibrobacter

tratamentos

com

populações

de

extrato,

Houve

e

ciliados aumento

succinogenes enquanto

Ruminoccocus

albus

nos na

BISCHOFF,

K.M.;

ANDERSON,

R.C.;

Wymondham, v. 4, n. 1, p. 43-51, 2003.

nos

CARDOZO, P.W.; CALSAMIGLIA, S.; FERRET, A.;

que

as

KAMEL, C. Screening for the effects of natural

e

R.

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flavefaciens diminuíram em comparação com o

microbial fermentation of a high-concentrate diet

controle.

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CONSIDERAÇÔES FINAIS

CASTILLEJOS, L.; CALSAMIGLIA, S.; FERREIT, A.;

O que se pode observar em meio à literatura, é o potencial dos extratos vegetais em modular o perfil da fermentação, como em manipular o microbioma ruminal. Salientamos que melhorias para a saúde animal pode ser adicionada junto aos extratos vegetais, como é o caso da redução de lactato ruminal em dietas de alto teor de carboidratos solúveis contendo principalmente amido e também contribuições

secundárias

ainda

podem

ser

adquiridas, já que vários metabólicos secundários apresentam

propriedades

antioxidantes

e

anticarcinogênicas. Todavia cabe a experimentação in vivo para assegurar acurácia dos extratos vegetais utilizados em experimentos in vitro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Efeitos do estresse térmico materno no final do período seco e lactação Revista Eletrônica

Estresse calórico, saúde, desenvolvimento, produção de leite, composição do leite.

Camila Flávia de Assis Lage¹ Vol. 15, Nº 01, Jan/Fev de 2018 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Victor Marco Rocha Malacco² Mayara Campos Lombardi³ Ronaldo Braga Reis

4

Sandra Gesteira Coelho

4

¹Doutoranda em Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG E-mail: camilassislage@yahoo.com.br. ²

Doutorando em Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG.

³Mestranda em Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG. 4

Prof. Titular, Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG.

RESUMO a

EFFECTS OF MATERNAL THERMAL STRESS AT

necessidade de produzir alimentos de forma cada

THE END OF THE DRY PERIOD AND LACTATION

O

crescimento

vez

mais

populacional

eficaz,

trouxe

impulsionando

a

consigo seleção

e

melhoramento genético. As alterações climáticas resultaram na elevação da temperatura ambiente e trouxeram consequências para os animais. Aliado a isso, a preocupação com o bem-estar animal conduziu à observação dos efeitos do estresse calórico sobre os mesmos, e levou os pesquisadores a elucidarem mecanismos fisiológicos e metabólicos relacionados a este fenômeno. O estresse calórico leva à redução no fluxo sanguíneo à placenta, no consumo de alimentos, na produção de leite, mudanças na composição do leite, e consequências a curto, médio e longo prazo no desenvolvimento e saúde de bezerras nascidas de fêmeas que sofreram estresse térmico no final da gestação. A presente revisão

objetiva

reunir

achados

científicos

relacionados ao estresse térmico sofrido no final da gestação e suas consequências para a vaca e bezerro. Palavras-chave:

estresse

calórico,

saúde,

ABSTRACT In recent years, climate change has resulted in higher

ambient

temperatures

and

brought

consequences for animals. Allied to this the concern with animal welfare led to the observation of the effects of caloric stress on them, and led the researchers to elucidate the physiological and metabolic mechanisms related to this phenomenon. Caloric stress leads to reduced blood flow to the placenta,

food

consumption,

milk

production,

changes in milk composition, and short, medium and long term consequences on the development and health of heifers born to females suffering from thermal stress At the end of gestation. The present review aims to gather scientific findings related to the thermal stress experienced at the end of gestation and its consequences for the cow and calf. Keyword: heat stress, health, development, milk production, milk composition.

desenvolvimento, produção de leite, composição do leite.

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Artigo 459 – Efeitos do estresse térmico materno no final do período seco e lactação

I INTRODUÇÃO

Quando as temperaturas ambientais são moderadas

O estresse térmico afeta o bem-estar e a produção

(5º

animal, e seus efeitos provavelmente vão se agravar

resfriamento ou aquecimento do corpo é mínima e o

se o aquecimento da terra continuar a ocorrer como

desempenho ideal pode ocorrer (Shearer et al.,

indicam as previsões (Intergovernamental..., 2007).

1999). No entanto, em face de extremos de

O esgotamento das áreas agricultáveis nas regiões

temperatura

temperadas

termorregulação aumentam e o desempenho é

e

o

crescimento

da

população

ocasionarão grande expansão de produção de

a

25ºC),

a

demanda

ambiente,

fisiológica

as

para

atividades

o

de

proporcionalmente reduzido.

alimentos, inclusive leite, em áreas tropicais. O estresse térmico pode ser definido como sendo a Essas áreas caracterizam-se por altas temperaturas

condição que ocorre quando o animal não consegue

e umidade distribuídas ao longo do ano. Elevadas

dissipar a quantidade adequada de calor à medida

temperaturas ambientais afetam o desempenho das

que é produzida ou absorvida, para manter a

vacas em lactação, alteram o metabolismo, reduzem

temperatura corporal (Bernabucci et al., 2014).

o consumo e produção de leite, além de aumentar a incidência de doenças e piorar os índices de

A regulação da temperatura corporal é feita a partir

desempenho reprodutivo (Tao & Dahl, 2013).

da interação entre receptores de temperatura na pele e o hipotálamo, que mantêm a temperatura corporal

Observações sobre a produção de leite ao longo do ano no Estado da Flórida, EUA (USDA-NASS, 2011), mostraram que o status térmico do animal

normal através de mudanças fisiológicas e de comportamento, de forma a aumentar ou reduzir a perda ou a produção de calor (Silanikove, 2000).

durante o período seco pode ter efeitos residuais deletérios no metabolismo e produtividade da vaca.

As principais formas de dissipação do calor se dão

O menor peso ao nascimento dos bezerros filhos de

através de mecanismos sensíveis, dependente de

vacas em estresse térmico durante o período seco

variações

sugere

(condução, convecção e radiação), ou latente, que

que

esses

efeitos

se

estendem

ao

depende

desenvolvimento fetal (Tao et al., 2012).

na do

temperatura

gradiente

de

animal-ambiente

pressão

de

vapor

(evaporação). Zona termoneutra e caracterização de estresse térmico

Qualquer fator que dificulte a troca de calor do

Os processos fisiológicos normais exigem que a

animal com o ambiente irá alterar a ZTN, um

temperatura do corpo seja mantida dentro de limites

exemplo é a umidade relativa do ar. Em condições

estreitos, para os bovinos estão entre 38,0º e 39,4ºC

de elevada umidade o animal é menos eficiente em

(Stober, 1993).

dissipar o calor pela evaporação. A menor eficiência se torna um problema ao considerarmos que em

A zona termoneutra (ZTN) compreende a variação

bovino esse é o principal mecanismo de perda de

dentro da temperatura ambiente em que o mínimo

calor.

esforço é requerido pelo animal para regular sua conforto

A evaporação passiva pode ser responsável por

máximo ao mesmo (Silanikove, 2000). Vacas em

aproximadamente 15% da perda de calor nos

lactação encontram conforto térmico dentro de

animais (McDowell et al., 1976). A eficiência da evaporação é maior em elevadas temperaturas, mas o aumento da umidade limita sua eficácia (Silanikov, 2000). O aumento na taxa de respiração é uma alteração evidente em vacas estressadas pelo calor. Aproximadamente 15% da carga interna de calor é perdida com o aumento na frequência respiratória (McDowell et al., 1976).

temperatura

corporal

e

proporcionar

variações de temperatura de 5º a 25ºC (Roenfeldt, 1998). Por esse motivo, em temperaturas superiores a 25ºC a vaca perde a capacidade de manter a temperatura corporal estável e entra em estresse pelo calor.

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Artigo 459 – Efeitos do estresse térmico materno no final do período seco e lactação

Devido à importância da umidade do ar na

Foi evidenciado em rebanhos americanos aumento

capacidade

animais,

de 330% na produção diária de leite por vaca dos

McDowell et al. (1976) sugeriram a utilização de um

de

termoregulação

dos

anos de 1940 até 1995, seguido pelo aumento no

índice de temperatura e umidade (ITU) como

incremento calórico de 320 % sem, no entanto,

indicador das condições climáticas. O ITU é

ocorrerem

calculado com base na temperatura medida em

nesses animais que aumentassem sua capacidade

termômetros de bulbo seco e úmido durante o dia e

de dissipar esse calor (Kadzere et al., 2002).

mudanças

genéticas

ou

fisiológicas

gera um índice que combina temperatura e umidade relativa do ar. Em ambientes de elevada umidade as

Efeitos do estresse térmico materno no final da

vacas entram em estresse térmico em menores

gestação sobre desenvolvimento fetal

temperaturas.

O terço final da gestação compreende a maior taxa

Vacas de leite iniciam condição de estresse térmico pelo calor com ITU superior a 68 (Zinbelman et al., 2009). Azevedo et al. (2005) trabalharam com diferentes

cruzamentos

Holandês

x

Gir

e

encontraram valores críticos superiores de ITU de 79, 77 e 76 para animais ½, ¾ e 7/8 Holandês x Zebu (HZ) respectivamente.

de sombra ou bebedouros, letargia, pouco apetite, na

taxa

respiratória,

elevação

na

temperatura retal, respirar com a boca aberta e salivar excessivamente (Silanikove, 2000). As

vacas

em

lactação

últimos 60 dias, em que aproximadamente 60% do peso ao nascimento é acumulado (Tao & Dahl, 2013). Vacas

estressadas

termicamente durante esse

período apresentam redução na função placentária, demonstrada por menor peso da placenta, associado

Os sinais de estresse térmico incluem: ficar em volta aumento

de crescimento fetal, especialmente atribuído aos

são

a menor número de células (Early et al.,1991) e a menor

produção

(Thompson placentárias

et

de al.,

hormônios 2013).

placentários

Vascularizações

comprometidas

também

são

observadas nos animais em estresse térmico, o que associado ao menor crescimento da placenta parece

particularmente

susceptíveis ao estresse térmico devido a elevada carga metabólica da síntese do leite e metabolismo visceral associada a um elevado consumo (Kadzere

comprometer a transferência de nutrientes para o feto, submetendo-o a uma condição de hipóxia, má nutrição

e

consequentemente

retardo

do

seu

desenvolvimento (Tao & Dahl, 2013).

et al., 2002). Tao et al. (2012) relataram que vacas em estresse A seleção genética resultou em animais mais produtivos e com altas taxas metabólicas, tornandoos

susceptíveis

ao

estresse

térmico

em

temperaturas mais baixas do que as gerações anteriores de vacas de leite (Smith et al., 2012).

térmico comparadas a vacas resfriadas durante o período seco apresentaram período de gestação reduzido em quatro dias. Essa mesma ocorrência foi observada por Laporta et al. (2017). Em revisão de Dahl et al. (2016) a redução do peso ao nascer foi relacionada à maior síntese de prostaglandina F2α (PG2α) pelo útero das vacas estressadas. Além

Uma vaca de alta produção gasta aproximadamente

disso, bezerros filhos de vacas em estresse térmico

31,1% da energia ingerida diariamente na produção

foram até 6 kg mais leves ao nascimento que

de calor. Mais da metade desse calor (53%) provém

bezerros filhos de vacas resfriadas.

da síntese de leite e quase um quarto (23,5%) tem origem

na fermentação, digestão e excreção.

Somados, esses percentuais perfazem

Esses achados são parcialmente atribuídos ao

o que

menor período de gestação. Ao desaleitamento,

conhecemos por incremento calórico. O restante

filhos de vacas estressadas termicamente obtiveram

(23,5%) corresponde ao calor produzido pelos

em média 0,2 kg a menos de ganho diário (Laporta

processos metabólicos necessários à manutenção

et al., 2017). Entretanto não foi observada diferença

de suas funções vitais (Coppock, 1985).

após esse período.

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Artigo 459 – Efeito do estresse térmico materno no final do período seco e lactação

Outra causa para o menor peso ao nascimento

nos filhos de vacas ET e RA aos 55 dias de idade e

seria a má nutrição devido à insuficiência placentária

constataram que apesar de não haver diferenças nas

(Tao et al., 2012). Especula-se que essas condições

concentrações de insulina, bezerros ET têm menor

de hipóxia e má nutrição façam com que o feto tenha

glicose circulante (p = 0,02) 30 minutos após infusão,

que

e tendem (p = 0,11) a ter menor glicose 60 minutos

desenvolver

adaptações

endócrinas

e

metabólicas para sobreviver sem comprometer o seu

após

desenvolvimento,

responsividade do corpo de bezerros de vacas ET à

podendo

essas

adaptações

permanecer por toda a vida produtiva do animal.

infusão.

Os

achados

indicam

maior

insulina antes do desaleitamento. Paralelamente, menores

concentrações

de

cortisol

foram

Desenvolvimento e metabolismo pós-natal dos

encontradas em bezerros filhos de vacas ET

bezerros

(ET:1,25 ± 0,12 vs. RA:1,62 ± 0,11μg/dL) até quatro

filhos

de

mães

estressadas

termicamente

dias de idade (p<0,05), e tenderam a ser menores

Diversas avaliações foram realizadas com o intuito

até 14 dias de idade (p<0,10) (Monteiro et al., 2014).

de compreender se as alterações sofridas no útero

Baixo cortisol associado à maior resposta à insulina

de vacas estressadas termicamente (ET) teriam

poderia causar maior deposição de gordura, menor

impacto no desenvolvimento pós-natal dos bezerros.

resposta

à

mobilização

nesses

animais,

que

favoreceria a obesidade e possivelmente menor Tao et al. (2012) avaliaram o crescimento das

tamanho à idade adulta (Dahl et al., 2016).

bezerras filhas de vacas ET em comparação a vacas resfriadas artificialmente (RA) e encontraram menor

Outro importante achado sobre o metabolismo das

peso ao nascimento (PN) para as bezerras ET (6 kg

bezerras de mães ET foi tendência à menor

a menos). Não houve diferenças em ganho de peso

concentração plasmática de prolactina (ET: 5,6

entre esses animais, o que mostrou que o déficit no

ng/mL vs RA: 9,49 ng/mL p=0,08) e fator de

PN não prejudicou a taxa de crescimento.

crescimento semelhante à insulina 1 (IGF1) (ET: 55 ng/mL vs RA: 75,6 ng/mL p=0,09) ao nascimento

Contudo, Monteiro et al. (2013) indicaram que o

(Guo et al., 2016). Laporta et al. (2017), relataram

déficit de PN observado em bezerros cujas mães

bezerros filhos de mães RA com tendência a ter

estavam ET não foi recuperado até os 12 meses de

maior concentração de IGF1, particularmente no 28º

idade (RA: 200,2 ± 3,4 kg vs. ET:190,9 ± 3,7 kg, P <

dia de vida (130,0 vs 82,3 ng/mL). As avaliações

0,05), apesar de terem sido iguais ao parto (ET:

foram realizadas ao nascimento, 24h após a

565,4 ± 12,0 kg; RA:554,1 ± 11,0 kg).

colostragem, e posteriormente ao 10º e 28º dias de idade.

As filhas de vacas ET durante o período seco são menores à idade adulta (Dahl et al., 2016), o que

Em fetos, a regulação de IGF1 parece estar mais

sugere que possam existir diferenças em sua

ligada à disponibilidade de glicose e insulina do que

composição corporal. Esse efeito poderia estar

ao hormônio do crescimento (GH) (Oliver et al.,

relacionado ao metabolismo e balanço hormonal

1996). Portanto, esse efeito pode ser por menor

desses animais.

concentração de glicose no sangue de bezerros de vacas ET. No entanto, o estudo de Fu et al. (2015)

Laporta et al. (2017) reportaram maior temperatura

demonstrou que em ratos, o estresse pré-natal

retal nos bezerros filhos de mães ET no pré-parto

reduziu a resposta ao GH dos genes relacionados a

em 0,4º ± 0,08 °C, quando comparados aos filhos de

expressão

vacas resfriadas ativamente no mesmo período. A

nascimento. Reduções pós-natal de IGF1 seriam

diferença de temperatura se manteve durante a fase

prejudiciais pelo importante papel desse hormônio no

de aleitamento. Os resultados sugerem efeitos

crescimento e lactação nos bovinos.

de

receptores

de

IGF1

após

o

negativos do estresse in útero na capacidade de termorregulação até o desaleitamento.

A prolactina, assim como o cortisol, é um importante hormônio do estresse em bovinos (Tucker, 1971). A

Tao et al. (2014) fizeram teste de tolerância a glicose

menor concentração desses dois hormônios sugere

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Artigo 459 – Efeitos do estresse térmico materno no final do período seco e lactação

menor resposta pós-natal ao estresse em bezerros

vacas RA receberam colostro de um pool de

filhos de mães ET (Guo et al., 2016). Para avaliar

vacas RA ou ET. Não houve diferença de EAA

essa hipótese Ahmed et al. (2015) realizaram um

entre os grupos sugerindo que a pior EAA está

desafio de estresse térmico nas filhas ou não de

relacionada com a fisiologia de filhas de vacas ET

vacas ET, quando estas já estavam em lactação.

e não ao colostro das mães ET.

Comparado com RA, filhas de vacas ET tiveram menor temperatura retal (RA: 39,18 ± 0,06; ET:38,99

Tao et al. (2012) e Monteiro et al. (2014)

± 0,06°C; P = 0,02) e taxa respiratória (RA:68,1 ±

encontraram

1,6; ET: 62,2 ± 1,6; P = 0,01). A taxa de sudorese

celular das bezerras filhas de vacas ET antes do

elevada em vacas RA do que ET (RA: 30,7 ± 1,6;

desaleitamento. O fato pode estar atribuído ao

HT: 27,1 ± 1,6 g/m2h; P = 0,12), mas a temperatura

menor desenvolvimento do timo, visto que o

da pele não diferiu entre os grupos. Esse estudo

período de gestação foi mais curto nas vacas ET

apoia a hipótese de que as diferenças metabólicas e

(Monteiro et al., 2014).

comprometimento na imunidade

em crescimento são adaptações para lidar com o estresse térmico no útero, e que essa habilidade

Produção e reprodução futura das bezerras de

pode se estender após o nascimento, e melhorar a

mães ET

capacidade de resposta a essa condição.

Estudos conduzidos na Universidade da Flórida avaliaram o efeito do estresse térmico sofrido no

Estresse térmico materno no final da gestação

útero sobre saúde, reprodução e produção de

sobre a imunidade pós-natal dos bezerros

leite em 72 fêmeas nascidas de vacas ET ou RA

Tao et al. (2012), avaliaram o crescimento e

(Monteiro et al., 2016). Os animais foram

imunidade de bezerras filhas de mães ET ou

manejados igualmente após o nascimento e

resfriadas. As filhas dos animais dos dois grupos (ET

acompanhados durante cinco anos sob o mesmo

x RA) receberam o colostro da própria mãe e foram

sistema.

avaliadas sob o mesmo manejo até sete meses de idade. As filhas de vacas ET tiveram redução na

Monteiro et al. (2016) relataram que as novilhas

concentração de proteínas plasmáticas nos primeiros

de mães ET tiveram maior descarte involuntário,

28 dias de idade e menores concentrações séricas

geralmente

de IgG (ET:1,058 ± 173 vs. RA:1,577 ± 149 mg/dL, P

crescimento retardado (p=0,03). Além disso,

= 0,03). O estresse térmico em útero afetou a

menor número de filhas de mães ET completou a

transferência de imunidade passiva e reduziu a

primeira lactação, comparada com filhas de mães

eficiência aparente de absorção (EAA) de IgG. Não

RA (p=0,05).

foram encontradas diferenças nas concentrações de IgG em colostros de mães ET ou RA (Tao et al., 2012; Monteiro et al., 2014). Modificações em hormônios e fatores de crescimento responsáveis pela modulação do fechamento das vilosidades intestinais dos animais recém-nascidos poderiam ser responsáveis por essas diferenças.

ou ao colostro, dois experimentos foram conduzidos por Monteiro et al. (2014). No primeiro experimento filhos

de

vacas

ET

doença,

formação

ou

Filhas de mães ET precisaram de mais serviços por concepção (ET: 2,6 + 0,3, RA: 1,8 + 0,3p=0,03) e produziram 5,1 kg de leite a menos por dia na primeira lactação (p<0,05) (Monteiro et al., 2016). Os autores levantam a hipótese de que isso ocorreu devido aos efeitos epigenéticos. Esses efeitos podem provocar mudanças nas

Para avaliar se a EAA estava relacionada ao animal

bezerros,

por

ou

RA

foram

colostrados a partir de um pool de colostro de vacas RA. Assim como encontrado por Tao et al. (2012) bezerros de mães RA tiveram maior eficiência de absorção de IgG comparados com bezerros de mães ET. No segundo experimento, bezerras nascidas de

funções dos genes sem alterar a sequência do DNA. As alterações aparentemente modificam pontos do metabolismo animal e reduzem a eficiência produtiva (Singh et al., 2012; Monteiro et al., 2016). Efeitos deletérios sobre a produção de leite e seus componentes nas vacas ET A queda na produção de leite em animais com es-

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Artigo 459 – Efeitos do estresse térmico materno no final do período seco e lactação

tresse térmico severo pode chegar a 40% (West,

que

2003). Os efeitos sobre a produção de leite são mais

aproximadamente 50% na redução da produção

evidentes que os observados sobre o crescimento

em vacas de leite.

a

diminuição

no

consumo

explica

(Baumgard & Rhoads, 2012). Dessa forma, levantou-se a hipótese de uma Com o objetivo de avaliar o efeito do estresse térmico sobre a produção de leite, vacas da raça Holandesa foram mantidas em diferentes sistemas de alojamento (Loose housing quente ou frio e, com e sem acesso a área de pastagem). Lambertz et al. (2014) mostraram que independente do sistema, a produção de leite diminuía quando o ITU era superior a 65. Bernabucci et al. (2010) estudaram o efeito do estresse térmico ao longo de 2 anos em condições de campo e observaram diminuição de 0,27 kg de leite por dia para cada unidade de aumento de ITU acima de 68. Esses estudos evidenciam a magnitude da perda de produção em decorrência do estresse térmico e a possibilidade de utilização do ITU nesse monitoramento.

foi atribuída à redução do consumo (Silanikov, 2000; West, 2003). Isso ocorreu principalmente por essa anteceder

a

queda

na

produção.

Recentemente estudos confirmaram que outros fatores

além

de leite. Esperava-se que vacas em estresse térmico com menor consumo passassem por momentos de balanço energético negativo e usassem mecanismos de compensação, como a mobilização de reservas corporais. No entanto vacas em estresse térmico são inflexíveis do ponto de vista metabólico (Boumgard & Rhoads, 2013). Embora apresentem redução no consumo, esses

animais

concentrações

não séricas

têm de

diminuição insulina,

o

nas que

impossibilita a mobilização do tecido adiposo. Dessa forma, não se observa elevação das concentrações séricas de ácidos graxos não esterificados (AGNE) (Wheelock et al., 2010;

Durante muito tempo a queda na produção de leite

queda

ação direta do estresse térmico sobre a produção

da

redução

do

consumo

são

responsáveis pela redução na produção de leite. Para isso foram realizados trabalhos em que a mesma quantidade de dieta foi fornecida para vacas em situação termoneutra e vacas em estresse térmico.

Baumgard et al., 2011), e os tecidos tornam-se dependentes de glicose como fonte de energia. Os mecanismos pelos quais ocorre elevação da concentração plasmática da insulina não são claros. Em animais que passam por estresse térmico ocorre vasodilatação periférica com o objetivo de facilitar a dissipação do calor. Com isso o fluxo sanguíneo no trato gastrointestinal é diminuído. Ocorrem mudanças na conformação das células, que aumentam sua permeabilidade (Lambert, 2009). O aumento da permeabilidade

Trinta e duas vacas da raça Holandesa foram submetidas a um período de adaptação de sete dias em condição termoneutra com 20ºC de temperatura e 20 % de umidade do ar (ITU=64), e alimentação ad libitum. Posteriormente, a metade desses animais passou a ser submetida à situação de estresse térmico com ITU que variou de 73 a 82 ao longo do dia. O consumo médio do período de adaptação do

intestinal

permite

lipopolissacarídeos

a (LPS)

passagem das

de

membranas

celulares de bactérias Gram-negativas da luz do trato gastrointestinal para a circulação. Essa passagem induz o aumento nas concentrações séricas de insulina. O efeito do aumento da permeabilidade celular foi

passou a ser alimentado com a mesma quantidade

estudado em 12 vacas da raça Holandês no terço médio da lactação. A pesquisadora observou que existe aumento significativo nas concentrações séricas de LPS e tendência na elevação das concentrações séricas de insulina, bem como de

de dieta. Os pesquisadores relataram que a redução

redução na concentração sérica de AGNE

no consumo explica apenas 36% da perda na

(Stoakes, 2014). Esses achados explicam o

produção de leite (Rhoads et al., 2009). Wheelock et

aumento da insulina em animais em estresse

grupo em estresse térmico foi considerado como consumo padrão do experimento. A partir disso o grupo que permaneceu em condição termoneutra

al. (2010) em delineamento semelhante relataram

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Artigo 459 – Efeitos do estresse térmico materno no final do período seco e lactação

térmico e justificam a inflexibilidade metabólica Lambertz et al. (2014) com o objetivo de avaliar o

nesses animais. Outro fator que pode influenciar diretamente a redução na produção de leite nas vacas em estresse térmico é a diminuição dos receptores hepáticos de GH. Baumgard & Rhoads Jr (2013) mostraram que essa redução leva a menor secreção de IGF-1, potente hormônio lactogênico, que também está relacionado ao consumo de matéria seca nesses animais.

leite em vacas Holandês, encontraram efeito negativo do ITU > 60 sobre a composição de gordura e proteína do leite. Esses autores atribuíram a queda nos componentes do leite à diminuição do consumo de matéria seca e à maior seleção no cocho por concentrado. Essas observações poderiam resultar na diminuição da produção

A produção de leite pode também ser diminuída quando vacas secas são submetidas ao estresse térmico no período final da gestação. Para evidenciar essa perda, vacas no terço final de gestação foram alojadas em ambientes com presença ou ausência de resfriamento. Nesses estudos foram observados que animais resfriados no terço final de gestação tinham maior produção de leite até os 60 dias de lactação. A diferença era mais evidente quanto mais eficiente

efeito do estresse térmico sobre a composição do

e

duradouro

fosse

o

método

de

resfriamento desses animais (Avendaño-Reyes et al., 2006; do Amaral, 2011).

de

acetato

no

rúmen

e

consequentemente de gordura no leite. A seleção por concentrado associado ao aumento da taxa de respiração e perda de saliva para o ambiente pode gerar quadros de acidose ruminal que levariam

a

biohidrogenação

incompleta

dos

ácidos graxos insaturados causando redução na síntese de gordura do leite por mecanismos indiretos. Com o objetivo de separar os efeitos diretos do estresse pelo calor do efeito secundário da redução da ingestão de alimentos sob a produção de proteína no leite, Cowley et al. (2015)

Os mecanismos pelos quais o estresse térmico no final da gestação interfere na produção de leite subsequente não são claros. No entanto como a produção de leite é dependente da quantidade de células e de sua capacidade secretória, sugere-se que o estresse térmico nessa fase interfira no

avaliaram 24 vacas Holandês submetidas ou não ao

estresse

térmico.

Esses

pesquisadores

observaram menor produção de proteína do leite para animais submetidos ao estresse térmico que para os que tiveram consumo restrito. Para eles, vacas

em

estresse

térmico

utilizam

principalmente aminoácidos como precursores de

crescimento celular (Tao & Dahl, 2013).

glicose, havendo limitação de precursores da

Além da produção, a composição do leite pode ser alterada em condições de estresse térmico devido às mudanças observadas no metabolismo animal e menor disponibilidade dos precursores da síntese dos componentes do leite (Baumgard et al., 2011). A concentração sanguínea de ácidos graxos voláteis (AGV) e ácidos graxos não esterificados (AGNE), percursores da síntese da gordura do leite, é baixa

proteína do leite. Wheelock et al. (2010) relataram que vacas sob estresse térmico secretam 200 a 400g a menos de lactose do que vacas em condição de termoneutralidade, e que isso pode ser explicado pela maior utilização de glicose pelos tecidos extra mamários. A menor produção de lactose, principal responsável pela osmolaridade do leite,

nesses animais.

pode explicar em parte a menor produção nos

Por outro lado, a reação do organismo ao estresse

animais em estresse térmico.

térmico leva à produção intensa de proteínas nos tecidos extra mamários. Os aminoácidos presentes na

circulação

sanguínea

são,

por

CONSIDERAÇÕES FINAIS

isso,

preferencialmente utilizados para produzir proteínas

O estresse térmico materno no final da gestação

de choque térmico, e em menor proporção, como

causa menor desenvolvimento fetal, menor peso

apoio para obtenção de energia (Baumgard &

ao nascimento, menor absorção de IgG colostral,

Rhoads Jr, 2013).

e alterações no metabolismo e imunidade dos bezerros pós-nascimento. Os efeitos ao longo da Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8097-8106, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8103


Artigo 459 – Efeitos do estresse térmico materno no final do período seco e lactação

energetics. Annu. Rev. Anim. Biosci., v. 1, p.

vida produtiva da fêmea, até o momento, foram

311-337, 2013. BAUMGARD, L.H.; RHOADS,

menos relatados.

R.P.

Ruminant

As mudanças metabólicas nos bezerros parecem

Nutrition Symposium: ruminant production

aumentar a capacidade de lidar com o estresse

and metabolic responses to heat stress. J.

térmico na vida adulta. Contudo, devido ao possível

Anim. Sci., v. 90, p. 1855-1865, 2012.

desvio

metabólico

e

aparente

diferença

na

BAUMGARD, L.H.; WHEELOCK, J.B.; SANDERS,

composição dos tecidos, os desempenhos produtivo

S.R.

e reprodutivo apresentam-se inferiores nos trabalhos

adaptations to heat stress and monensin

realizados. Os achados demonstram maior chance

supplementation in lactating Holstein cows. J.

de descarte até o final da primeira lactação, e

Dairy Sci, v. 94, p. 5620-5633, 2011.

sugerem que o comprometimento da imunidade e da produtividade

em

longo

prazo

podem

ser

consequências dessas adaptações.

et

al.

Postabsorptive

carbohydrate

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gestação, provoca diminuição no consumo e grandes

2010.

heat

stress

in

domesticated

adaptações metabólicas. Essas mudanças resultam

COPPOCK, C.E. Energy nutrition and metabolism

em menor aporte de energia para a glândula

of the lactating dairy cow. J. Dairy Sci., v. 68, p.

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8106


Efeito do estresse térmico por calor em vacas leiteiras Bovinocultura de leite, estresse calórico, alterações fisiológicas, conforto térmico, bem-estar.

Revista Eletrônica

*

Vol. 15, Nº 01, Jan/Fev de 2018 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO A

produção

leiteira

consideravelmente

nas

se

desenvolveu

últimas

décadas,

com

Jean Kaique Valentim¹ Tatiana Marques Bittencourt¹ Rúbia Francielle Moreira Rodrigues¹ Gabriel Gobira de Alcantâra Araújo¹ Guilherme Resende de Almeida¹ 1

Mestrando em Produção Animal Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri UFVJM – Campus Diamantina. *E-mail: Kaique.tim@hotmail.com.

EFFECT OF HEAT STRESS BY HEAT IN DAIRY COWS

constante ganho genético dos rebanhos, aumento da

ABSTRACT

taxa metabólica e produção de calor pelos animais.

Dairy production has evolved considerably in recent

Assim

origem

decades, with constant genetic gain of the flocks,

metabólica e de manejo, destacando-se o estresse

increase metabolic rate and heat production by

calórico,

de

animals. Thus arose several metabolic origin and

mecanismos de defesa do animal a um agente

problems of management, especially if the caloric

estressor, neste caso o calor. Este fator pode ser

stress, which is characterized by the sum of defense

responsável por varias perdas na produção de vacas

mechanisms of the animal to a stressor, in this case

leiteiras e quando severo pode causar a morte dos

the heat. This factor may be responsible for various

animais. A susceptibilidade dos bovinos ao estresse

losses in the production of dairy cows and when

calórico aumenta à medida que a umidade relativa e

severe

a temperatura ambiente ultrapassam a zona de

susceptibility of cattle to the caloric stress increases

conforto térmico, o que dificulta na dissipação de

as the relative humidity and ambient temperature

calor que, por sua vez, aumenta a temperatura

exceed the thermal comfort zone, making it difficult in

corporal com efeito negativo sobre o desempenho.

the heat dissipation, for your time, increases body

Mesmo animais mestiços sendo mais tolerantes as

temperature with negative effect on performance.

variáveis climáticas, alguns pontos devem ser

Even animals mestizos being more tolerant of

sempre analisados buscando medidas que possam

climatic variables, some points should always be

minimizar

used seeking measures that can minimize the

surgiram que

o

é

vários

problemas

caracterizado

efeito

negativo

de

pela

do

soma

ambiente

na

can

cause

death

of

animals.

The

produtividade dos animais.

negative impact of the environment on productivity of

Palavras-chave: bovinocultura de leite, estresse

animals.

calórico, alterações fisiológicas, conforto térmico, bem-estar.

Keyword: milk cattle, caloric stress, physiological changes, thermal comfort, well-being.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8107-8114, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8107


Artigo 460 – Efeito do estresse térmico por calor em vacas leiteiras

INTRODUÇÃO

redução na ingestão de alimentos e aumento na

Parte do rebanho bovino leiteiro no Brasil tem

ingestão de água (BAÊTA et al., 1987).

origem das raças de clima temperado como a Holandesa, devido sua maior produção de leite,

Como modificação comportamental, as vacas em

entretanto, não é adaptada ao calor. Devido a isso,

lactação diminuem o pastejo e ambulação, pastando

esses

modificações

à noite e buscando sombra e imersão em água

fisiológicas em condições de estresse térmico, por

durante o dia. Um dos grandes problemas da

exemplo,

ambiência na produção de leite é que existem vários

elevam

animais

sofrem

aumentam a

taxa

a

de

algumas frequência

sudação

e

respiratória, aumentam

a

modelos relacionados aos sistemas de climatização,

temperatura retal, dentre outros (FERREIRA et al.,

entretanto,

sua

maioria,

foi

desenvolvida

em

2006).

condições ambientais distintas dos países tropicais (MATARAZZO, 2003).

A dissipação de calor por meios evaporativos pode ser facilitada com a aplicação de água na superfície

De

corporal do animal. A água evapora e reduz o calor,

termoneutralidade para vacas da raça Holandesa

acordo

com

Huber

(1990),

a

zona

de

favorecendo as trocas entre a pele e o ambiente

varia de 4° a 26° C; relata que um ambiente

(NÄÄS & ARCARO, 2001).

estressante provoca várias respostas, dependendo da capacidade do animal para adaptar-se e em

Segundo Titto (1998) a adoção de modernas

determinadas situações ambientais, o animal pode

tecnologias nos sistemas de produção de leite levou

manter todas as suas funções vitais (mantença,

ao aparecimento de animais mais produtivos os

reprodução e produção) e, em outras, estabelece

quais apresentam metabolismo acelerado, com

prioridades.

maior produção de calor endógeno, tornando-se O calor gerado para a produção de leite é função da

mais susceptíveis aos efeitos do meio ambiente.

ingestão e digestão dos alimentos, assim como da No Brasil, existe uma diversidade climática muito

absorção e metabolização dos nutrientes (PIRES,

grande entre suas regiões por isso, quando se trata

1997).

da produção de bovinos, estratégias de manejo ambiental devem ser realizadas com adaptações as

Por isso diversas modificações ambientais podem

condições locais visando o bem-estar dos animais.

ser introduzidas, visando diminuir a temperatura sobre os animais e, consequentemente, atenuar o

Nos países com boa média de lactação, cada vez

estresse por calor, auxiliando, assim, no conforto de

mais vem adotando os sistemas intensivos de

vacas leiteiras confinadas.

produção animal, buscando maximizar a eficiência da produção aumentando fatores como o ganho de

Vários métodos têm sido empregados para amenizar

peso, eficiência alimentar e quantidade de leite.

o estresse por calor, tais como: sombreamento natural ou artificial, ventilação, resfriamento do ar a

Nããs (1989), em suas pesquisas demonstrou que a

partir

da

aplicação

eficiência do desempenho animal é resultado do

pulverização

funcionamento do seu sistema homeotérmico e

acompanhada de ventilação e condicionamento do

disfunções desse sistema provocam alterações

ar (FRAZZI et al., 1996).

de

de

água

gotículas sobre

de os

água, animais

significativas na eficácia da produção. Nesses sistemas, a água deve penetrar e umedecer Cada animal tem sua necessidade nutricional e

completamente a pele e o pelo dos animais, de

fisiológica e reagem de forma diferente ao estresse

forma que as vacas sejam resfriadas e troquem calor

térmico

por condução e por evaporação da água, a partir dos

e

as

comportamentais.

mudanças As

fisiológicas

respostas

e

fisiológicas

pelos e da pele (BACCARI JR, 2001).

compreendem o aumento da frequência respiratória, Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8107-8114, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8108


Artigo 460 – Efeito do estresse térmico por calor em vacas leiteiras

Entretanto, Chastain & Turner (1994) relatam que

Ainda segundo esse autor o ambiente de criação é

vacas

à

tudo que envolve o animal, seu espaço (físico e

aspersão em local sombreado conseguem reduzir o

social) além de tudo que está inserido neste espaço,

efeito do estresse calórico na produção diária e

inclusive seres humanos, presentes no ambiente de

apresentam um aumento de 7,8% no consumo de

criação dos bovinos. Esta situação é bem definida

alimento, um aumento de 12% na produção de leite,

pelo o conceito de ambiência que, de forma bem

uma diminuição de 0,2º a 0,5º C de temperatura retal

ampla, seria “o espaço constituído por um meio

e uma redução de 29% na taxa respiratória;

físico, e ao mesmo tempo, por um meio psicológico,

mostrando

preparado para o exercício das atividades do animal

submetidas

assim

à

ventilação

a

eficácia

associada

destes

métodos

artificiais em manter a homeotermia desses animais.

que nele vive” (PARANHOS DA COSTA, 2000).

REVISÃO DE LITERATURA

Com isso praticas de manejo que aumentam

Bem-estar na pecuária leiteira

ambiência e o bem-estar dos bovinos de leite se

Para Broom & Molento (2004), o bem-estar animal é

tornam fundamentais nesse processo de criação,

uma nova ciência, indispensável aos profissionais

visando atender as exigências do mercado e

que trabalham em torno da interação entre humanos

proporcionando um melhor ambiente e condições

e animais e deve estar relacionado com conceitos

favoráveis para os animais atingirem seu maior

como:

felicidade,

potencial, proporcionando melhor qualidade de vida

previsão,

aos animais e consequentemente maior lucro ao

necessidades,

adaptação,

controle,

liberdades, capacidade

de

sentimentos, sofrimento, dor, ansiedade, medo,

produtor.

tédio, estresse e saúde. Zona de conforto térmico Tendo por base este consenso do significado de

Os ruminantes são animais classificados como

bem-estar

homeotermos,

surgiram as

cinco

liberdades

dos

ou

seja,

apresentam

funções

animais, teoria divulgada pelo Farm Animal Welfare

fisiológicas que se destinam a manter a temperatura

Council (FAWC) argumentando que os animais para

corporal constante. Dentro de determinada faixa de

estarem em seu completo bem-estar devem estar

temperatura ambiente, denominada zona de conforto

livre de fome e de sede; livre de desconforto; livre de

ou termoneutralidade, isso ocorre com mínima

dor, lesões ou doença; livre para expressar os seus

mobilização dos mecanismos termorreguladores,

comportamentos normais; livre de medo e aflição

quando o animal não sofre estresse por calor ou frio

(FAWC, 2012).

e ocorre mínimo desgaste, além de melhores condições de saúde e produção (NÄÄS, 1989;

Sendo assim, as grandes incorporações alimentícias

TITTO, 1998).

no mundo vêm exigindo modificações em práticas e no tipo de alojamento de animais comerciais que

Dhiman (2001) define a zona de conforto térmico

forneçam matéria-prima para seus produtos.

como a faixa de temperatura onde o calor produzido pelas

Essa ideia se valida com o fato de segurança

funções

normais

do

organismo

é

aproximadamente igual à perda de calor do animal.

alimentar estar diretamente relacionada com altos padrões de bem-estar animal, isso demonstra que

Há dois limites estabelecidos para a zona de

os animais quando em situações de desconforto e

termoneutralidade, são elas: a temperatura crítica

estresse

superior (TCS) e a temperatura crítica inferior (TCI).

são

mais

susceptíveis

a

doenças,

Quando a temperatura está acima da temperatura

comprometendo a qualidade do produto final.

crítica superior o animal está em estresse pelo calor, Paranhos da Costa (2000) relatou que, nos últimos

com isso irá ocorrer a vasodilatação, aumento da

anos, o conceito bem-estar animal começou a ser

frequência respiratória, diminuição da ingestão de

implantado

principalmente com a definição de protocolos de

alimentos, aumento da ingestão de água e sudorese. de água quando comparada as aves que consumiram

boas práticas de manejo.

ração controle.

no

cenário

da

produção

animal,

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8107-8114, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8109


Artigo 460 – Efeito do estresse térmico por calor em vacas leiteiras

Quando a temperatura está abaixo da temperatura

composição do leite, redução na ingestão de

crítica inferior o animal está em estresse pelo frio,

alimentos e aumento na ingestão de água.

ocorrem a vasoconstrição, diminuição da frequência respiratória, aumento da ingestão de alimentos e

A perda de produção de leite devido ao aumento

piloereção (AZEVEDO & ALVES, 2009).

de temperatura depende de fatores como a umidade relativa do ar, velocidade do vento,

Índice de temperatura e umidade

nutrição e outros fatores relacionados ao manejo;

Os índices de conforto térmico, determinados por

são

meio dos fatores climáticos, servem como indicativos

produtivas de 10% ou mais (HEAD, 1995).

frequentemente

observadas

perdas

para caracterizar o conforto e o bem-estar animal. A forma mais utilizada para se mensurar o estresse é

Segundo Ferreira et al. (2006), o estresse calórico

por meio do Índice de Temperatura e Umidade (ITU).

promove alterações na homeostase e tem sido

O ITU é calculado através da temperatura ambiente

quantificado

e da umidade relativa (UR). Vacas leiteiras começam

fisiológicas como, temperatura retal, frequência

a sofrer os efeitos do estresse calórico sempre que o

respiratória e concentrações hormonais.

com

mensuração

de

variáveis

ITU ultrapassar 72 (DHIMAN, 2001). De acordo com Pires et al. (1998), quando vacas Ferreira et al. (2006) relatam que valores de ITU

em lactação são expostas a um ambiente térmico

inferiores a 70 indicam condições não estressantes,

no qual a produção de calor excede a sua

enquanto valores superiores a 83 indicam estresse

eliminação, todas as fontes que geram calor

severo.

endógeno são inibidas, principalmente o consumo de alimentos e o metabolismo basal e energético,

Segundo Falco (1997), o aumento de 1ºC na

enquanto a temperatura corporal, a frequência

temperatura retal é suficiente para produzir efeitos

respiratória e a taxa de sudação aumentam.

detectáveis nos vários processos fisiológicos. Estas influências podem ser verificadas em animais de

Essas funções indicam tentativas do animal em

origem

a

minimizar o desequilíbrio térmico para manter a

temperatura de 40,5ºC apresentam temperaturas

homeotermia, indicando também que o animal

retais mais elevadas que animais submetidos a

está sob a ação de estresse térmico por calor

25,0ºC.

(AZEVEDO, 2009).

europeia

Este

que

efeito

quando

é

mais

submetidos

intenso

quando

associados à umidade do ar acima de 70% e a radiação solar intensa.

A

intensidade

e

a

duração

do

estressor

determinam a resposta do animal ao estresse. Estresse calórico

Essas

O estresse calórico é definido por Silva (2000) como

comportamentais, fisiológicas e imunológicas e o

a força exercida pelos componentes do ambiente

seu êxito permite que a função normal continue

térmico sobre um organismo, causando nela uma

(AZEVEDO, 2009).

respostas

adaptativas

podem

ser

reação fisiológica proporcional à intensidade da força aplicada

e

a

capacidade

do

organismo

em

compensar os desvios causados pela força.

Entretanto,

quando

certos

limites

são

ultrapassados, a função é prejudicada, afetando o desempenho e a saúde do animal (HAHN, 1993).

O estresse calórico, especialmente nas regiões tropicais, consiste em uma importante fonte de perda

A susceptibilidade dos bovinos ao estresse

econômica na pecuária, tendo efeito adverso sobre a

calórico aumenta à medida que o binômio

produção de leite, produção de carne, fisiologia da

umidade

produção, reprodução, mortalidade de bezerros e

ultrapassam a zona de conforto térmico, o que

saúde do úbere. É um típico problema encontrado no

dificulta a dissipação do calor que, por sua vez,

manejo de vacas leiteiras nos trópicos e subtrópicos,

aumenta a temperatura corporal com efeito

causando reduções na produção e mudanças na

negativo sobre o desempenho (AZEVEDO, 2009).

relativa

e

temperatura

ambiente

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8107-8114, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8110


Artigo 460 – Efeito do estresse térmico por calor em vacas leiteiras

Efeitos do estresse sobre a produção de leite

condução através da cobertura (pelos) e tecido

A capacidade de produção de leite do animal de

epitelial (pele), por convecção entre o ar e

acordo com o seu potencial é determinada pelo

superfície corporal e por radiação do céu ou

ambiente

evaporação d‟água que ocorre na superfície da

físico

e

biológico

em

que

vivem

(FERREIRA, 2006).

pele (sudorese) e nas vias respiratórias no processo de respiração.

Em temperaturas extremas, vacas de alta produção respondem

fisiologicamente

da

De acordo com Rodrigues (1994), os mecanismos

produção de calor metabólico em torno de 18 a 20%

bioquímicos e fisiológicos são dependentes da

(PIRES et al., 1999). Para que isso aconteça, esses

temperatura corporal, podendo ser citado como

animais diminuem o consumo de matéria seca e, em

exemplo o metabolismo celular, a frequência

consequência, a produção de leite em 25 a 30%

cardíaca, a frequência respiratória e os processos

(SIMAS, 1998).

digestivos.

Coelho (1997) cita que o aumento da produtividade

Alternativas para amenizar os efeitos do

está associado diretamente com o aumento da

estresse calórico

produção de calor metabólico, exigindo que o

As alternativas para amenizar os efeitos do

organismo

estresse calórico sobre o desempenho de vacas

se

direcione

com

para

redução

compensar

o

lactantes

desequilíbrio provocado pelo ambiente.

se

baseiam

em

dois

princípios:

modificação no ambiente e no manejo nutricional. Quando o animal está sob estresse calórico, ocorre aumento no fluxo sanguíneo periférico preparando o

Manejo Ambiental

organismo para perdas evaporativas e redução no

As

fluxo sanguíneo interno (COELHO, 1997).

manejo do ambiente em função dos vários

modificações

ambientais

constituem

no

parâmetros ambientais que podem favorecer ou Homeotermia e mecanismos de dissipação de

prejudicar o desempenho do animal, facilitando

calor de bovinos

ou

Homeotermia é a manutenção, aproximadamente

reprodutivos (LEVA, 1998).

inibindo Pires

constante, da temperatura interna do corpo, embora a temperatura ambiental varie dentro de limites

os et

processos al.

(2007)

produtivos citam,

que

e as

modificações ambientais podem ser classificadas: 

adequados. A temperatura da maioria dos mamíferos

Primárias: São modificações de simples

é de cerca de 39ºC, enquanto que a das aves em

execução e permitem proteger o animal

explorações zootécnicas é de cerca de 41ºC

durante

(RODRIGUES, 1994). A temperatura corporal de

extremamente

cada animal depende de inúmeros fatores, como:

Sombreamento. 

raça, idade, nível energético da dieta, atividade, nível

períodos

Secundárias:

São

correspondem

de produção, ciclo estral, hora e estação do ano.

de

climas

quentes.

Ex:

modificações

que

ao

manejo

do

microambiente interno das instalações do A dissipação de calor segundo Falco (2001) é em

sistema de confinamento parcial ou total.

função

Geralmente

das

condições

ambientais

externas,

envolvem

alto

nível

de

sofisticação.

ocorrendo por condução, convecção, radiação e evaporação, manifestando-se fisiologicamente pela

O

sombreamento,

natural

ou

artificial,

é

vasodilatação, variação da taxa respiratória, variação

considerado essencial para manter a eficiência da

da taxa de sudorese, piloereção, variação da taxa de

produção de leite em climas quentes (PINHEIRO

ingestão de alimentos e alterações comportamentais.

et al., 2005). Segundo Buffington et al. (1983), seu principal objetivo é reduzir a carga térmica

Ferreira (2005) relata que o calor perdido ou

radiante e proteger o animal contra os efeitos da

ganhado ocorre pela forma sensível e latente. O

radiação solar direta. As árvores devem, portanto,

calor sensível, ganho ou perdido, transmite-se por

ser parte obrigatória dos pastos e piquetes para vacas leiteiras, a fim de que estas possam aliviar

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8107-8114, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8111


Artigo 460 – Efeito do estresse térmico por calor em vacas leiteiras

sua carga térmica radiante. Entretanto, poucos

de aspersão direta sobre o corpo do animal deve

produtores utilizam-se desse artifício, afirmando que

penetrar bem e umedecer completamente a

a presença de árvores no pasto dificulta o seu

pelagem e a pele e, assim, as vacas são

estabelecimento e manutenção.

resfriadas por condução, mas principalmente pela evaporação da água a partir dos pelos e da pele.

Estruturas para sombreamento visam atenuar o efeito da radiação solar sobre os animais, sendo que

Segundo Dhiman (2001), em climas quentes e

seu grau de importância varia com o microclima e a

úmidos, somente o sombreamento não alivia

sua

satisfatoriamente

eficiência,

em

função

do

projeto.

O

o

estresse

pelo

calor.

A

sombreamento pode reduzir cerca de 30% ou mais

instalação de ventiladores e aspersores nos

da carga térmica da radiação solar (CTR), quando

galpões podem fornecer um efeito mais adequado

comparada à carga recebida pelo animal ao ar livre

de resfriamento.

(BAÊTA, 1997).

A utilização de lagoas, resfriamento ou pintura do

É a forma mais simples e economicamente viável de se fornecer conforto térmico para bovinos. O sombreamento, para criações em pastagens, pode ser natural como a formação de pequenos bosques nos piquetes ou próximos às áreas de bebedouro e saleiro e, no caso de animais confinados, pode-se utilizar coberturas artificiais (BACCARI JÚNIOR et al., 1997).

teto das instalações podem contribuir como medidas de manejo ambiental para minimizar os efeitos do estresse calórico (PIRES, 2006). Manejo Nutricional Uma das reações do animal ao desconforto térmico é reduzir o consumo, segundo Pires (2006), os efeitos do calor na produtividade de vacas leiteiras podem ser reduzidos mediante a implementação de práticas nutricionais, mas a

Sistema de Resfriamento A água é um excelente agente resfriador em virtude da sua alta capacidade calórica e do elevado calor

relação custo/benefício dessas medidas deve ser analisada antes de sua utilização.

latente de vaporização. Dessa forma, durante as épocas quentes do ano, além da sombra, as vacas holandesas procuram água para se refrescarem e, assim, entram na água de lagos, naturais ou artificiais, ou em outros locais onde há água, até mesmo em bebedouros (BACCARI JÚNIOR et al.,

De acordo com Coelho (1997), a formulação de dietas com baixo incremento calórico pode ser uma alternativa para reduzir o calor gerado no trato digestivo, isso pode ser conseguido com a utilização de menor quantidade de forragem ou com a utilização de gordura, o que não deve

1997).

ultrapassar 7% da matéria seca. A manutenção ou mesmo o aumento da produção

O aumento no uso de concentrado e decréscimo

pode

manejo,

na forragem fornecida na dieta pode aumentar o

relacionadas com o condicionamento do ambiente

seu conteúdo energético, porém valores acima de

animal, forem adotadas. Com o objetivo de interferir

60% da matéria seca total da dieta pode resultar

no ambiente natural e impedir o estresse calórico

em problemas como depressão da gordura do

dos animais, vários artifícios podem ser utilizados,

leite, acidose, laminite e redução na eficiência de

como o de resfriamento do próprio ar ambiental e

utilização dos nutrientes (DHIMAN, 2001).

ser

evidente

se

técnicas

de

diretamente do animal, por meio de ventiladores, e indiretamente pelo resfriamento dos

elementos

construtivos, como as coberturas (BAÊTA, 1997).

O manejo nutricional para as épocas mais quentes do ano deve incluir o fornecimento de dieta fria, ou seja, dieta que gera uma alta

A aspersão de água é indicada com base no

proporção de nutrientes para a síntese e diminui o

comportamento natural e na capacidade de suar das

incremento calórico oriundo da fermentação e

vacas, quando não há disponibilidade de água para

metabolismo dos alimentos (PINHEIRO et al.,

imergir em condições adequadas. A água no sistema

2005).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8107-8114, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8112


Artigo 460 – Efeito do estresse térmico por calor em vacas leiteiras

Barbosa et al. (1983), cita que a menor ingestão de

BARBOSA, O., CARDOSO, R., & COELHO, D.

água vai afetar mais rapidamente a produção de leite

(1983). Influência da temperatura da água de

que qualquer outro nutriente. Dessa forma deve-se

beber

garantir um fornecimento de água limpa para todas

Holandês-Zebu,

as categorias do sistema de produção.

Temperatura

no

desempenho na

retal,

de

animais

7/8

época

do

verão.

I.

ritmo

respiratório

e

ingestão de água. Revista da Sociedade Aumentar o número de fornecimentos de alimentos

Brasileira de Zootecnia, 12(1), 86-96.

por dia, reduzindo a quantidade de alimento por

BEARDEN, H.J.; FUQUAY, J. Applied animal

refeição, também é uma alternativa de manejo para

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do rebanho, tendo efeitos negativos tanto na

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produção quanto na reprodução das vacas. Quando

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consegue identificar com maior precisão e rapidez, o

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vacas leiteiras sob condições de estresse Todo manejo, instalação e alimentação deve ser adequada para melhorar o bem-estar das vacas,

calórico.

Caderno

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Veterinária. UFMG. N.21. p.61-70, 1997.

reduzindo e evitando qualquer tipo de estresse, mas

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Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8107-8114, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8114


Viabilidade da utilização da monensina sódica na alimentação de ruminantes: revisão de literatura

Revista Eletrônica

Ionóforos, nutrição, viabilidade econômica.

Leticia Fernanda Xavier Costa

Ingrid Lorrainy Da Silva Oliveira Luis Gustavo Silva Rodrigues

Vol. 15, Nº 01, Jan/Fev de 2018 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

1* 1

1

Vanessa Cristina de Souza Resende Raphael Xavier Costa

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

1

2

1

Acadêmicos do curso de Bacharelado em Zootecnia do IF-Goiano – Câmpus Ceres. * E-mail: leticiafernanda11@hotmail.com. 2 Acadêmico do curso de Bacharelado em Agronomia do IF-Goiano – Câmpus Ceres.

RESUMO

FEASIBILITY OF SODIUM MONENSIN USE IN

Os aditivos usados na alimentação de bovinos têm

RUMINANTS FEEDING: LITERATURE REVIEW

sido estudados em grande escala, entre eles a

ABSTRACT

monensina sódica. Este trabalho relata as vantagens da adição do aditivo monensina sódica e a viabilidade do seu uso na produção animal. O presente trabalho tem o objetivo de analisar os estudos sobre a viabilidade do uso da monensina sódica como ionóforo, colaborando para a digestão e fermentação ruminal. Foi enfatizado a sua influência no processo de metanogênese ruminal, possíveis erros do uso deste ionóforo podendo causar toxidez ao animal, os custos de produção e a eficiência econômica com a inclusão da monensina sódica. Palavras-chave: econômica

ionóforos,

nutrição,

viabilidade

The additives used in cattle feed have been studied on a large scale, including the monensin. This paper describes the advantages of adding monensin additive and the feasibility of its use in animal production. This study aims to analyze the studies on the feasibility of the use of monensin as ionophore, contributing to digestion and ruminal fermentation. It was

emphasized

their

influence

on

ruminal

methanogenesis process, possible errors of using this ionophore may cause toxicity to the animal, production costs and economic efficiency with the addition of monensin. Keyword: ionophores, nutrition,economic viability.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8115-8121, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8115


Artigo 461 – Viabilidade da utilização da monensina sódica na alimentação de ruminantes: revisão de literatura

INTRODUÇÃO

somente

a

monensina

sódica,

lasalocida,

O Brasil é detentor do maior rebanho bovino

salinomicina e laidlomicina propionato são aprovados

comercial do mundo e o segundo maior produtor e

para o uso em dietas de ruminantes (BERCHIELLI et

exportador mundial de carne bovina. Cerca de 90%

al., 2011).

destes bovinos são manejados a pasto, onde verifica-se a produção de quantidades insuficientes

Os efeitos benéficos do uso da monensina sódica

de forragem e ainda de baixa qualidade. Este fato

estão relacionados a modificação da população

prejudica tanto a produção leiteira quanto o ganho

microbiana ruminal, o que resulta em alterações na

de peso (VAL NETO, 2009).

fermentação e nos produtos da digestão microbiana, reduzindo a produção de metano e dos ácidos

A melhoria genética dos animais destinados tanto

acético e butírico e aumentando as de ácido

para a produção de carne quanto para a de leite foi

propiônico além do controle de pH ruminal (RANGEL

acompanhada

et al., 2008).

pelo

aumento

das

exigências

nutricionais dos bovinos, que são equivalentes ao seu nível de produção. Para tanto sua alimentação

A presente revisão tem como objetivo relatar os

tornou-se dependente do uso de suplementos para

mecanismos de ação e os benefícios do uso da

suprir as carências deixadas pelas dietas (VAL

monensina sódica na dieta de bovinos.

NETO, 2009). Os profissionais responsáveis pela produção de

USO DE IONÓFOROS EM RAÇÕES PARA

bovinos têm buscado controlar e melhorar a eficácia

RUMINANTES

da fermentação ruminal, o que implica em, aumentar a produção de propionato, deprimir a metanogênese,

MECANISMO DE AÇÃO DOS IONÓFOROS

reduzir a proteólise e a desaminação das proteínas

A ação dos ionóforos sobre as bactérias ruminais

do alimento no rúmen. Para alcançar estes objetivos

está associado as características de resistência

nas últimas décadas alguns aditivos alimentares

presentes na estrutura da parede celular, sendo esta

foram descobertos, e quando utilizados nas dietas

capaz de regular o balanço químico entre os meios

dos ruminantes são capazes de torna-los mais

interno e externo. As bactérias Gram-negativas são

eficientes no uso dos produtos da fermentação

impermeáveis aos ionóforos, seu envoltório celular é

(RANGEL et al., 2008).

composto de uma parede celular e uma membrana externa, sendo esta membrana constituída de

Os ionóforos são aditivos que agem como um tipo

proteínas,

de antibiótico, atuando de forma seletiva deprimindo

contendo canais de proteínas denominados de

lipoproteínas

ou inibindo a ação de determinados microrganismos

porinas. As porinas possuem um tamanho limite de

no rúmen. A princípio eles foram utilizados como

600 Dalton, fator este que as tornam impermeáveis

coccidiostáticos para as aves e só a partir da década

aos ionóforos, pois a maioria destes aditivos são

de 1970 começaram a serem adicionados a dietas

maiores que 600 Dalton, não passando pelas

de ruminantes como promotores de crescimento

porinas.

(NICODEMO, 2001).

constituídas

e

as

bactérias

de

uma

lipopolissacarídeos,

Gram-positivas

espessa

são

camada

de

peptidioglicano, sendo esta porosa, susceptível a A monensina sódica é um dos ionóforos, mais

ação da monensina sódica (BERCHIELLI et al.,

estudados como aditivos em dietas para ruminantes.

2011).

Nos EUA a monensina sódica tem sido utilizada em dietas para gado de corte confinado desde 1976, e

Os ionóforos agem no rúmen de forma que alteram a

em animais sob pastejo desde 1978. Na atualidade

população de microrganismos, selecionando as

são conhecidos mais de 120 tipos de ionóforos

bactérias

resultantes da fermentação de vários tipos de

succínico ou que fermentam ácido lático, e inibindo

actinomicetos, que são produzidos principalmente

as Gram-positivas, produtoras de ácidos acético,

por bactérias do gênero Streptomyces, porém

butírico, lático e H (BERCHIELLI et al., 2011).

Gram-negativas, produtoras

de ácido

+

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8115-8121, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

8116


Artigo 461 – Viabilidade da utilização da monensina sódica na alimentação de ruminantes: revisão de literatura

De acordo com Nicodemo (2001), as ações dos

prótons e também o pH dentro da célula. Assim, o

ionóforos sobre a população microbiana ruminal,

gasto energético da célula bacteriana para tentar

geram uma série de efeitos positivos. Aumentam a

reestabelecer

eficiência do metabolismo de energia das bactérias

desenvolvimento, reprodução e na maioria dos casos

do rúmen ou do animal, modificando as proporções

leva a morte de determinadas bactérias (GRANDA,

dos ácidos graxos voláteis produzidos no rúmen

2009).

o equilíbrio leva a redução do

(aumento de propionato, redução de acetato e metano.

Conforme descrito por Berchielle et al. (2011), a

Influenciando no desempenho animal através de

monensina sódica é solúvel em lipídeos sendo assim

maior retenção de energia durante a fermentação

capaz de alterar a movimentação dos íons através

ruminal. Reduzem a degradação de proteína do

das membranas celulares. Este ionóforo tem alta

alimento e podem diminuir a síntese de proteína

seletividade pôr Na , mas também poder translocar

microbiana, ocasionando o aumento da quantidade

K

de proteína de origem alimentar que chega ao

membrana celular a monensina sódica em uma

intestino delgado. Podem diminuir a incidência de

primeira ação causa a movimentação de K para fora

acidose (através do aumento do pH ruminal e

e de Na

inibição de bactérias produtoras de ácido láctico),

diferença de gradiente de concentração de K . Na

timpanismo e coccidiose. Melhorando desta forma o

segunda ação causada pela monensina sódica ela

desempenho.

transloca para dentro da célula Na e H para fora.

butirato)

e

reduzem

a

produção

de

+

+

+

e íons de hidrogênio (H ).

Ao se ligar a +

+

para dentro da célula, por causa da +

+

+

+

Desta forma o H acumula-se no interior da célula e FERMENTAÇÃO RUMINAL E OS IONÓFOROS

provoca redução do pH intracelular. Em resposta ao

O uso de ionóforos para gado de corte em dietas

decréscimo no pH a célula exporta H para fora e

contendo altos níveis de carboidratos de fácil

Na para dentro. Ao tentar regular o pH interno, as

fermentação, levam a uma diminuição da ingestão de

bactérias ruminais exportam o H acumulado no seu

alimentos

interior via bombas de Na / K ATPase e/ou ATPase

+

sem

interferir

no

ganho

de

peso,

beneficiando a conversão alimentar. Quando a dieta possui altas quantidades de volumosos com ligações do tipo β, ricos em carboidratos, os ionóforos não diminuem a ingestão de alimentos, mas beneficiam o ganho de peso, influenciando na conversão alimentar (RANGEL et al.,2008).

leiteiro o uso de ionóforos implica na diminuição da ingestão de matéria seca, no aumento da produção de propionato e consequentemente no decréscimo de gordura do leite. Em contrapartida, melhora os índices reprodutivos, aumenta a produção de leite, como também a eficiência alimentar e diminui os de

doenças

como

Cetose,

acidose

e

timpanismo.

Streptomyces cinnamonensis que tem capacidade de alterar o fluxo de íons monovalentes pela membrana movimentação

+

com gasto energético neste processo. A monensina sódica pouco interfere no ganho de peso diário de animais que estão em sistema de confinamento, sua ação está relacionada a melhorias no

desempenho

dos

animais,

proporcionando

produção dos ácidos graxos voláteis (OLIVEIRA et al., 2009). Quando em pastejo a utilizando deste aditivo digestivo

relaciona-se ou

em

minimizar

melhorar perdas

o de

processo nutrientes

(BERTIPAGLIA, 2008). O metabolismo de nitrogênio no rúmen e a síntese de proteína microbiana, são modificados pela suplementação da monensina sódica, pois este resultando em um aumento na quantidade de

A monensina sódica é produzida a partir do fungo

bactérias

+

ionóforo realiza a deaminação da proteína no rúmen,

MONENSINA SÓDICA

das

+

mudanças na microbiota ruminal, manipulando a

Ainda de acordo com Rangel et al., (2008) em gado

riscos

+

gram-negativas. dos

íons

que

A

mudança

de

atravessam

as

membranas celulares, modifica o gradiente de

aminoácidos absorvidos no intestino delgado e reduzindo a concentração de nitrogênio amoniacal no neste ambiente (GANDRA, 2009). DESEMPENHOS DE BOVINOS SUPLEMENTADOS COM MONENSINA SÓDICA

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Artigo 461 – Viabilidade da utilização da monensina sódica na alimentação de ruminantes: revisão de literatura

O fornecimento de monensina sódica para animais

miram uma menor quantidade de forragem quando

deve visar a melhoria no processo digestivo, reduzir

comparados aos que não foram suplementados (7,1

a perda de nutrientes ou ainda reduzir o consumo.

e 7,6 kg de MS no início do período das chuvas e 7,0

Ao iniciar a utilização da monensina sódica os

e 7,2 kg de MS no final do período das chuvas). Já

animais devem passar por adaptação, que deve

as dosagens de 60 e 90 mg causam maior consumo,

seguir as recomendações do fabricante. Para

sendo que a dose de 60 mg/animal/dia aumentou o

animais em pastejo, a monensina sódica pode ser

consumo em 12,1% e a dose de 90mg/animal/dia

ofertada através do suplemento proteico-energético

aumentou em 8,1% em comparação ao grupo que

minimizando

não recebeu monensina sódica.

assim

os

riscos

de

intoxicação

(NICODEMO, 2001). Em outro trabalho que foi conduzido por Potter et al. Ainda de acordo com Nicodemo (2001), os níveis

(1976), foram realizados três experimentos a pasto e

recomendados durante a adaptação, nos primeiros

um com capim picado permitindo verificar o efeito de

cinco ou sete dias, devem ser entre 50 e 100 mg de

0, 50, 100, 200, 300 e 400 mg de monensina

monensina sódica/cabeça/dia, depois de estarem

sódica/animal/dia sob os parâmetros ganho de peso

adaptados, pode-se fornecer 200mg/cabeça/dia em

e conversão alimentar de bovinos. As dosagens

450g de suplemento. Animais em sistemas de

entre 100 e 300mg/animal/dia melhoraram o ganho

confinamento devem receber durante o período

em peso e a conversão alimentar ocorrendo

inicial

monensina

incrementos de 17% no ganho e 20% na conversão

sódica/tonelada de alimento, após adaptados a

alimentar no tratamento com 200mg. Já as dosagens

concentração deve estar por volta de 25 a

de 300 e 400mg/animal/dia de monensina sódica

30g/tonelada. Caso os animais fiquem sem consumir

reduziu a ingestão de 5% em relação ao grupo

a monensina sódica por um período superior a 72

controle. Foi confirmado também que a dose de

horas, deve-se realizar novamente a adaptação ao

400mg de monensina sódica aumentou a proporção

aditivo.

de 19,2% para 26,9% de ácido propiônico, além da

cerca

de

5

a

10g

de

elevação da glicose no plasma dos animais tratados Os benefícios da inclusão de monensina sódica na

com monensina sódica, provavelmente associado a

dieta de bovinos à base de forragem ou sob pastejo

maior disponibilidade deste ácido.

relaciona-se

a

maior

conversão

alimentar

e

consequente aumento de ganho de peso, e não reduzindo o consumo destes alimentos. As melhores respostas a suplementação com a monensina sódica serão verificas de acordo com

a localização

geográfica, sistema de manejo, raça dos bovinos e duração da alimentação (OLIVEIRA et al., 2005). Os autores Sanchéz Orozco et al. (2007) verificaram a influência da dose de monensina sódica sobre o consumo do capim estrela africana. Foram utilizados 40 novilhos zebuínos experimentais inicialmente pesando 180 kg de PV. Os tratamentos foram T1: 0

Já em estudos elaborados por Oliveira et al. (2009) e seus colaboradores avaliaram o desempenho de novilhas

holandesas

submetidas

a

quatro

tratamentos com diferentes níveis de monensina sódica sendo 0, 14, 28, 42 mg/kg de MS com dietas a base de silagem de milho, cana e concentrado. Como resultado foi verificado que o uso de monensina sódica elevou os custos da alimentação e não ouve influência significativa no consumo de MS, PB e FDN nem do ganho de peso médio diário, conversão alimentar e as alturas de cernelha e garupa.

mg de monensina sódica; T2: 30 mg de monensina

Todavia, em estudos desenvolvidos por Rangel et al.

sódica; T3: 60 mg de monensina sódica e T4: 90 mg

(2008) as dietas que são compostas por altos níveis

de monensina sódica animal/dia. Cada animal foi

de

submetido a um dos quatro tratamentos com

monensina

delineamento experimental inteiramente casualizado.

diminuição do consumo de alimentos, porém sem

Estes autores concluíram que o efeito da monensina sódica está relacionada com a dose, os animais que

carboidratos sódica

facilmente

fermentáveis,

normalmente

provoca

a a

prejudicar o ganho de peso e consequentemente

melhora a conversão alimentar. Entretanto, quando

receberam uma dosagem de 30mg/animal/dia consuNutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8115-8121, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

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Artigo 461 – Viabilidade da utilização da monensina sódica na alimentação de ruminantes: revisão de literatura

os

animais

receberam

dietas

com

grandes

bactérias

que

produzem

e

fornecem

H2

quantidades de volumoso, a monensina sódica não

(principalmente aquelas que produzem acetato e

reduziu o consumo, mas melhorou o ganho de peso

butirato), do que com efeitos diretos sobre a

e a conversão alimentar, o que contribuiu para o

população de bactérias metanogênicas. A redução

melhor desempenho dos animais devido ao aumento

de 55% da emissão de metano pela adição da

do metabolismo energético no rúmen, a melhora do

monensina sódica relaciona-se com a redução no

aproveitamento do nitrogênio no rúmen e evitando a

consumo de alimento, e o restante, 45% são devidos

ocorrência de desordens metabólicas como: acidose

a efeitos na fermentação ruminal.

láctica crônica, cetose e timpanismo. Em contrapartida, existem relatos contrários à A monensina sódica quando adicionada em dietas

redução da produção de metano pela utilização de

que são a base de amido, provoca uma redução na

monensina sódica. Benetel (2014) trabalhando com

quantidade digerida deste no rúmen e aumenta a

experimentação in vitro observou que a inclusão de

quantidade que é degradada no intestino. Essa

monensina sódica proporcionou valores de eficiência

mudança no local da digestão implica em uma maior

da fermentação mais positivas, mas não influencia

quantidade de energia absorvida como glicose no

na produção de metano, tal resultado pode estar

intestino do que na forma de ácido graxo volátil no

relacionado com a suplementação utilizada.

rúmen (SALMAN et al., 2006). Animais que são alimentados com fenos ou rações a

TOXIDEZ CAUSADA PELA MONENSINA SÓDICA

base de volumoso verifica-se que sua microbiota

A toxidade dos ionóforos, inclusive da monensina

ruminal é composta principalmente de organismos

sódica, está relacionada com o fornecimento errado

Gram-negativos, enquanto em animais alimentados

aos animais, ou seja, com a má homogeneização

com dietas a base de grãos há maior número de

com o alimento e com o fornecimento sem um

organismos Gram-positivos. Logo se espera um

período de adaptação (SALMAN et al., 2006).

maior efeito dos ionóforos de modo geral em dietas

Conforme descrito por Zanine et al. (2006), não se

ricas em concentrados, uma vez que estes aditivos

pode especificar os sinais clínicos e nem as lesões,

atuam principalmente sobre os microrganismos

sendo o diagnóstico presuntivo de intoxicação

Gram-positivos (BERCHIELLI et al., 2011).

baseado na ocorrência de problemas alimentares, apresentando

USO DA MONENSINA SÓDICA COMO INIBIDOR DA METANOGÊNESE

anorexia,

sinais

diarreia,

clínicos

dispneia,

principalmente

ataxia,

depressão,

recumbência e morte. Patologicamente apresentam alguns

sintomas

principalmente

O metano produzido durante a fermentação ruminal

degenerativa

é considerado uma perda potencial energética dos

esquelética e falha cardíaca.

focal,

necrose

cardiomiopatia

da

musculatura

alimentos consumidos. É por meio da adequada formação de ácidos graxos voláteis (AGV) que os

A

ruminantes adquirem sua maior fonte energética. O

consideravelmente dependendo da categoria animal.

fornecimento

exerce

A DL50 (dose letal capaz de matar 50% dos

mudanças na energia digestível, alterando as

indivíduos de um lote) de monensina sódica é de 12

quantidades de AGV disponíveis para a absorção.

mg/kg, enquanto a DL0 dessa mesma droga é de 4

Esse ionóforo eleva a produção de propionato,

mg/kg.

aumentando assim sua absorção (BERCHIELLI et

balanceados com os ingredientes da dieta ajudam a

al., 2011).

reduzir

de

monensina

sódica

dose

tóxica

de

qualquer

produto

varia

A adição de selênio e a vitamina E os

efeitos.

Caso

seja

suspeita

ou

diagnosticada a intoxicação por monensina sódica, a Conforme descrito por Berchielli et al. (2011)

alimentação deve ser suspensa e os animais que

experimentos in vitro e in vivo mostraram que o uso

apresentarem sinais clínicos devem passar por um

da monensina sódica reduziu a produção de metano.

tratamento com fluidoterapia para uma possível

Este efeito está mais relacionado à inibição das

recuperação (RODELLO, 2012).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.01, p.8115-8121, jan./fev, 2018. ISSN: 1983-9006

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Artigo 461 – Viabilidade da utilização da monensina sódica na alimentação de ruminantes: revisão de literatura

VIABILIDADE

ECONOMICA

DO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

USO

DE

ionóforos

são

de aditivos como a monensina sódica é uma das

adicionados à alimentação de ruminantes com intuito

ferramentas que vem possibilitando a produção de

de diminuir o consumo e melhorar a conversão

bovinos de forma mais eficiente, tendo influências

alimentar, reduzindo assim o custo da dieta. Para

positivas no ganho de peso, prevenindo desordens

dietas com alta concentração de grãos ocorre

metabólicas e contribuindo para a redução da

diminuição do consumo, porém sem alterações de

metanogênese.

MONENSINA SÓDICA Apesar

peso,

do

para

preço

as

A partir desta revisão pode ser observado que o uso

elevado,

com

os

grandes

quantidades

de

volumoso, não ocorrem mudanças no consumo, mas há um aumento no ganho de peso (OLIVEIRA et al., 2009; SOUZA, 2004). Para

animais

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENETEL, G. Efeitos da inclusão de monensina sódica em suplementos proteicos sobre o

submetidos

a

uma

alimentação

exclusiva de concentrado, os ionóforos aumentam a disponibilidade de energia, fazendo com que o consumo de uma menor quantidade seja suficiente para suprir a mesma quantidade de energia. Já para

desempenho,

fermentação

degradabilidade

do

decumbens e bovinos.

feno

produção

2014.

ruminal, de Brachiaria

de

Dissertação

metano

em

(Mestrado

em

Qualidade e Produtividade Animal) - Faculdade

aqueles que recebem uma dieta com mais forragem

de

o aumento energético não afetará o consumo,

Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2014.

restando assim mais energia para ser aproveitada, o

Zootecnia

e

Engenharia

de

Alimentos,

BERCHIELLI, T. T.; PIRES, A. V.; OLIVEIRA, S. G.

que resulta em ganho de peso superior e conversão

2ª ed.

Nutrição de ruminantes. Jaboticabal:

melhorada (SOUZA, 2004).

FUNEP, 583 p., 2011. BERTONSELLO,

L.G.R.;

SERAFIM,

R.S.

De acordo com Moura (2013), a cada R$ 1,00

Estratégias para utilização de dietas com alto teor

investido no uso de aditivos corresponde a R$ 5,00

de energia. Cadernos de pós-graduação da

adicionados a receita de venda do gado, o que deixa

FAZU, v. 3, 2012.

claro que é uma ferramenta essencial para uma boa lucratividade na pecuária.

GANDRA, J. R.. Avaliação do uso de monensina sódica

em

rações

de

vacas

leiteiras:

desempenho produtivo e resíduos no leite. 2009. A utilização da monensina sódica tem sido bastante

Dissertação (Mestrado em Nutrição e Produção

estudada atualmente devido aos diversos benefícios

Animal) - Faculdade de Medicina Veterinária e

propostos. No entanto, existem pesquisas que não

Zootecnia, Universidade de São Paulo, São

apresentam resultados significativos do seu uso.

Paulo, 2009. MOURA, L.M. Monensina Sódica e Virginiamicina

Para Bertonsello & Serafim (2012) a monensina sódica é um aditivo eficaz em aumentar a densidade energética das dietas e a eficiência alimentar dos animais. Oliveira et al., (2009) concluem em sua pesquisa que a adição de monensina sódica na dieta de novilhas holandesas em confinamento eleva o custo da alimentação e não influencia no consumo animal, ganho de peso e conversão alimentar.

para

bovinos

de

corte:

Desempenho

e

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Salles & Lucci (2000) obtiveram lucros de R$ 6,64;

OLIVEIRA, J. S. DE.; ZANINE, A. DE M.; SANTOS,

R$1,84; e R$ 8,77, pela adição, respectivamente, de

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8121




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