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Editora Responsável: Juliana Maria Freitas Teixeira
Editora Técnica: Rosana Coelho de Alvarenga e Melo
Júlio Maria Ribeiro Pupa George Henrique Kling de Moraes Marcelo Diniz dos Santos Marcos Antonio Delmondes Bomfim Maria Izabel Vieira de Almeida Patricia Pinheiro de Campos Fonseca Rodrigues Rony Antonio Ferreira Rosana Coelho de Alvarenga e Melo
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Sumário ARTIGOS 482 – Influência da laminite na produtividade, fertilidade e longevidade em rebanhos leiteiros ............... 8358 Mayara Campos Lombardi, Hilton do Carmo Diniz Neto, Aloma Eiterer Leão, Sandra Gesteira Coelho 483 – Caracterização do perfil dos consumidores de carne caprina comercializada no município de Areia-PB ......................................................................................................................................................................................... 8364 Rosa Maria dos Santos Pessoa, Glayciane Costa Gois, Dinah Correia da Cunha Castro Costa, Ana Paula Ribeiro Silva, Regiane Nascimento Santos 484- Atualidades e perspectivas do bem-estar animal na avicultura de corte e de postura ......................... 8370 Iolanda Silveira Freitas, Aldo Pereira Salvador, Michele de Oliveira Mendonça, Clodoaldo Freitas Tavares Tardocchi, Ítalo de Melo Ferreira 485 - Colistina como promotor de crescimento na suinocutua: impactos na saúde pública ........................ 8393 Carolina Schell Franceschina, Graciele Dalise Schirmann, Brenda Santaiana Prato, Bruna Souza de Lima Cony, Willian Lehr
Influência da laminite na produtividade, fertilidade e longevidade em rebanhos leiteiros Revista Eletrônica
Laminite, bovino, produção de leite, índices reprodutivos, perdas econômicas.
Mayara Campos Lombardi¹* Hilton do Carmo Diniz Neto² Aloma Eiterer Leão³ 4 Sandra Gesteira Coelho Mestranda em Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG. *E-mail: mayaralombardi.vet@gmail.com. ² Mestrando em Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG. ³Doutoranda em Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG. 4 Profa. Titular, Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG.
RESUMO As afecções podais afetam grande parte dos bovinos em sistemas leiteiros e resultam em forte impacto econômico para a atividade, a nível mundial. Acompanhada de mastite e falhas reprodutivas, representam as três principais causas de descarte de animais em rebanhos leiteiros no mundo. Por se tratarem de afecções abrangentes nos rebanhos, deve-se lançar olhar não sobre indivíduo, mas sobre o rebanho como um todo, e praticar a medicina veterinária de produção, que visa principalmente à prevenção das afecções, de modo que o tratamento não seja regra, mas exceção. A laminite é uma das afecções podais mais comuns. Seu curso pode ser clínico, subclínico ou crônico. As formas subclínicas ou crônicas resultam em sequelas como doença da linha branca, sola dupla, hemorragia e úlcera de sola. Além dos custos com tratamento, cirurgia, curativo e descarte de animais, as afecções podais influenciam negativamente a produção de leite e índices reprodutivos. Deve-se, portanto, tratar a laminite com sua devida importância e buscar conhecimento sobre sua origem, mecanismo de ocorrência, bem como de seus impactos, a fim de melhor compreendê-la e desenvolver métodos mais eficazes de prevenção e cura. Palavras-chave: laminite, bovino, produção de leite, índices reprodutivos, perdas econômicas.
8358
Vol. 16, Nº 01, Jan/Fev de 2019 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
INFLUENCE OF LAMINITIS ON PRODUCTIVITY, FERTILITY AND LONGEVITY IN DAIRY HERDS The foot diseases affect cattle in dairy systems and result in a strong economic impact for the activity, worldwide.
Accompanied
by
mastitis
and
reproductive failures, they represent the three main causes of animal discard in dairy herds in the world. Because they are all-encompassing conditions in herds, one should look not at individual, but at the herd as a whole, and to practice veterinary medicine of production, which is primarily aimed at preventing disease, so that treatment is not a rule, but exception. Laminitis is one of the most common foot disease. The course may be clinical, subclinical, or chronic. Subclinical or chronic forms result in sequel such as white line disease, double sole and hemorrhage and sole ulcer. In addition to the costs of treatment, surgery, dressing and disposal of animals, foot diseases negatively influence milk production and reproductive indices. It is therefore necessary to treat laminitis with its due importance and to seek knowledge
about
its
origin,
mechanism
of
occurrence, and its impacts in order to better understand it and develop more effective methods of prevention and cure. Keyword:
laminitis,
cattle,
milk
production,
reproductive manifestation, economic losses.
Artigo 482 – Influência da laminite na produtividade, fertilidade e longevidade em rebanhos leiteiros
INTRODUÇÃO
me do dígito, e resultam em tecido córneo de baixa
A laminite é uma afecção podal, asséptica, de
qualidade. O reflexo do quadro subclínico é a
ocorrência comum e origem multifatorial. Engloba
manifestação
fatores
e
hemorragia de sola, úlcera de sola (US), sola dupla
de
(SD) e doença da linha branca (DLB). Após a injúria
nutricionais,
mecânicos.
Afeta
ruminantes
e
metabólicos, componentes
equinos
em
infecciosos do
casco
diferentes
graus.
causada
de
por
doenças
quadro
secundárias
crônico
são
como
comuns
Geralmente, está associada a outras doenças de
irregularidades
casco e pés, das quais pode ser a causa.
convexidade do casco (Ferreira et al., 2005).
Manifesta-se de forma aguda, subclínica ou crônica.
Dentre as causas mais citadas, estão as dietas ricas
A forma aguda asséptica é uma das principais
em grãos ou proteínas, acidose ruminal, infecções
causas de claudicação em rebanhos leiteiros.
concorrentes, fase da lactação, idade, ordem de
Resulta em más condições de bem-estar, causada
parto, predisposições genéticas, densidade animal,
pela dor e desconforto, além de redução no
piso, dimensionamento e higiene das instalações e
consumo de alimento e relutância em caminhar. Está
sazonalidade (Mauchle et al., 2008; Mendes, 2010).
da
superfície,
angulosidade
e
entre as maiores causas de descarte de vacas, primíparas e multíparas, em geral, de alta produção.
Atualmente são estudadas e discutidas três vias para o desencadeamento da laminite (Heymering, 2010).
Embora seja muito estudada, a laminite não possui etiologia plenamente conhecida. São apontados na
Na via oriunda de síndrome da resposta inflamatória
literatura vários fatores que podem desencadeá-la.
sistêmica, a inflamação do córion seria consequência
Porém, nenhum estudo elucidou o mecanismo
da inflamação sistêmica, causada principalmente
completo e a sequência de eventos que determina o
pela migração de células de defesa, portanto a lesão
curso da doença (Ferreira et al., 2005). Portanto,
tecidual e as alterações funcionais e morfológicas
consiste em uma doença extremamente dispendiosa
sofridas pelas suas células teriam início no processo
para o sistema de produção, visto que sua
inflamatório sistêmico, e não seriam a causa primária
prevalência pode variar de 21 a 70% nos rebanhos
do processo de laminite (Belknap et al., 2009).
leiteiros. É responsável por perdas em produção de leite em kg por dia, queda de fertilidade por maior
A via isquêmica constitui alteração circulatória
período de serviço (PS) e menor taxa de concepção,
causada por substâncias vasoativas. A isquemia
descarte e custos com tratamento (Charfeddine &
reduz o aporte nutricional para o casco, e leva à
Pérez-Cabal, 2017).
inflamação. O animal pode manifestar dor e sintomas sistêmicos nos casos agudos. O comprometimento
O
objetivo
consequências
dessa da
revisão laminite
é
abordar
as
da nutrição e oxigenação local altera a proliferação
nos
sistemas
de
tecidual. A formação do tecido de baixa qualidade
produção leiteiro, e ressaltar a necessidade de
aumenta as chances de lesões secundárias.
atenção e máxima compreensão possível aos seus mecanismos de ocorrência com intuito de evitar as
Em contrapartida, na via tóxico enzimática a
perdas econômicas.
presença de enzimas proteolíticas seria responsável pelo dano tecidual. Dessa forma os tecidos se
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
tornariam
danificados
e
as
alterações
Manifestação da laminite em bovinos
morfofisiológicas levariam à produção deficiente das
A laminite manifesta-se de forma aguda, subclínica
estruturas que compõem o casco, e resultariam em
ou crônica. A apresentação aguda provoca quadro
perda da rigidez e aumento do risco de lesões
clínico acompanhado de dor e claudicação. Em
secundárias ao processo inflamatório local (Pollitt &
contrapartida, os cursos subclínicos e crônicos são
Visser, 2010).
imperceptíveis por semanas, enquanto afetam a proliferação e diferenciação celular da derme e epider-
Efeitos da laminite sobre a produção de leite
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Artigo 482 – Influência da laminite na produtividade, fertilidade e longevidade em rebanhos leiteiros
A ocorrência de laminite afeta a produção de leite
Randall
por fatores relacionados à dor, dificuldade de
primíparas, e realizaram exame para diagnóstico de
locomoção, redução do consumo de alimento e
claudicação dois meses antes do parto, e dois e
estresse. A dor interfere no bem-estar animal e
quatro meses após o parto. Lesão de sola e doença
conduz à redução na locomoção. A dificuldade em
da linha branca foram diagnosticadas em algum grau
se alimentar pode se originar nesses aspectos, e
em 97% e 81% dos animais, respectivamente, nas
associada à fase de lactação pode acentuar a perda de peso e o balanço energético negativo (BEN) (Fischer-Tenhagen et al., 2018). Van Hertem et al. (2013) verificaram que os padrões de ruminação no período noturno, sem influência da rotina da propriedade, foram significativamente menores nos animais claudicantes.
corporal e nutricional da vaca, e é afetada prontamente pela redução no consumo, BEN e ausência de saúde devido à mobilização de nutrientes para mantença e atividade imunológica. Esta estará elevada em quadros inflamatórios e demandará energia, que poderia ser usada na produção de leite, para debelá-la, assim como ocorre nos casos de estresse térmico por calor (Smith et al., 2012), especialmente em vacas
Em estudo conduzido no Brasil, com rebanho de 100 vacas e média de 10.000 kg de leite por lactação, Souza et el. (2006) encontraram redução de 9,3 kg de leite por dia em vacas claudicantes devido às sequelas de laminite. Ao levar em consideração o período médio de tratamento de 24,5 dias, estima-se perda em torno de 227 kg de leite por caso tratado. Já Amory et al. (2008) estimaram perdas de 575 kg e 379 kg de leite por
lactação, em
vacas
diagnosticadas com US e DLB, respectivamente. Charfeddine & Pérez-Cabral, (2015) analisaram fornecidos
por
casqueadores,
provenientes de 804 rebanhos na Espanha, quanto à influência da claudicação sobre produção de leite. As perdas mais significativas estavam relacionadas a casos de US e DLB, 0,94 a 1,27 kg/d e 0,88 a 0,94 kg/d, respectivamente. O declínio na produtividade pode ser percebido até quatro semanas antes e após o diagnóstico das enfermidades. Ambas as afecções
são
sequelas
comuns
subclínica (Ferreira, et al., 2005). 8360
(2016)
trabalharam
com
158
avaliações dois e quatro meses pós-parto. A produção média diária por animal foi de 27,6 kg de leite. As primíparas com escore de lesão de sola severo apresentaram redução média de 2,68 kg de leite.
ordenha automática no Canadá para verificar os efeitos da laminite sobre a frequência de ordenhas e produção de leite, e encontraram perdas inferiores às citadas anteriormente. As vacas com escore ≥3 (escala de 1 a 5) foram consideradas com doença clínica. A prevalência de laminite clínica foi de 26,2 ± 13,0 %, enquanto a laminite severa foi de 2,2 ± 3,1%. Nas fazendas em que a prevalência atingiu o dobro do valor médio encontrado, houve redução média na produção de leite de 0,7 kg/vaca e 39 kg/robô, por dia.
especializadas, de alta produção.
dados
al.
King et al. (2016) estudaram 41 fazendas com
A produção de leite é dependente das condições
108.468
et
de
laminite
Entretanto, Charfeddine & Pérez-Cabal (2017), ao avaliar dados de 48.895 lactações, fornecidos por sistema (I-SAP) alimentado por casqueadores na Espanha, encontraram perda de 64,82 e 120,26 kg de leite, em período de 60 dias, para vacas com US leve e severa, respectivamente. Para DLB, as perdas foram de 39,62 kg para quadros leves e 121,24 kg para os severos, para o mesmo período de avaliação. Influência da laminite sobre a fertilidade Semelhante ao que ocorre na glândula mamária, as alterações sofridas pela vaca em quadro de laminite refletem sobre a fertilidade. Segundo a escala de priorização de eventos fisiológicos, em condições adversas a reprodução é dos últimos itens a serem priorizados pelo organismo que sofre algum tipo de deficiência
nutricional
ou
afecção,
atrás
de
mantença, atividade, crescimento, reserva, gestação, lactação e reservas adicionais (Short & Adams, 1988). Silva et al. (2004) analisaram vacas no início da lac-
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Artigo 482 – Influência da laminite na produtividade, fertilidade e longevidade em rebanhos leiteiros
pertencentes a rebanhos submetidos a
e a rapidez no diagnóstico são determinantes sobre
diferentes sistemas para investigar a ocorrência
o risco de descarte. Casos de laminite até os 60 dias
concomitante de doenças de casco, mastite e
em lactação (DEL) tem maior risco de descarte,
metrite. O diagnóstico de laminite foi dado a 16, das
devido aos intensos processos fisiológicos sofridos
440 vacas diagnosticadas com afecção podal, porém
nessa etapa, e resultaria em descartes entre o 121º
ao somar laminite e as doenças associadas a ela,
e o 240º DEL.
tação,
sola dupla, doença da linha branca, úlcera de sola, fissura do casco, abscesso solear e deformação tenham
Ferreira et al. (2004) estudaram o custo de
encontrado baixa relação, dos 317 casos clínicos de
tratamento de 112 casos de sequelas de laminite em
mastite, 19,87% apresentaram doença podal, e das
rebanho com 117 vacas, em 12 meses. Dentre as
440 vacas diagnosticadas com afecções podais,
sequelas,
18,18% apresentavam metrite clínica. Os autores
abscessos de sola e talão, e lesões de linha branca,
acreditam que a produção de substâncias vasoativas
abrangeram 78,3% dos casos. O período de
e células leucocitárias produzidas pelos quadros de
recuperação médio foi de 26,8 dias, com taxa de
mastite e metrite podem ter sido responsáveis por
descarte de 5,1%, referente aos seis animais que já
desencadear quadros de laminite, porém devido ao
haviam desenvolvido artrose e ancilose. Esta taxa
seu caráter multifatorial, não poderiam explicar
indica sucesso nos tratamentos aplicados, visto que
isoladamente a ocorrência da mesma, devendo-se
em outros trabalhos a taxa de descarte foi superior a
levar em consideração fatores como instalações,
20%.
condição de higiene local e tempo de permanência
procedimento cirúrgico, curativo e descarte de
dos animais em pé.
animais, e resultou em US$ 8.732,50, equivalente a
angular,
tem-se
68
casos.
Embora
R$
A
as
lesões
avaliação
26.284,83
mais
de
para
encontradas
custos
o
ano
total
foram
envolveu
do
estudo
Ao estudar o custo de tratamento e perdas
(https://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u9
produtivas por sequelas de laminite, Souza et al.
2117.shtml). O valor representa o custo médio por
(2006) encontraram aumento de 1,3 serviços para as
animal de US$ 74,60.
vacas claudicantes quando comparadas às sadias, 4,6 serviços/concepção e 3,3 serviços/concepção,
Ao considerar
apenas
o tratamento, o custo
respectivamente (p<0,05). Nessas vacas, o PS
encontrado caiu para US$ 5.005,23, equivalente a
adicional médio foi de 65,5 dias, que resultou em PS
R$ 15.065,74, com média de US$ 44,68 por animal,
médio de 266 dias para as vacas claudicantes,
valor ainda alto, responsável por grande prejuízo
contra 200,5 dias para as sadias.
econômico. Vale ressaltar que nesse estudo não foram incluídas perdas de produção em kg de leite
Silva et al. (2011) ao estudar a influência das
ou índices reprodutivos. Espera-se, portanto, que o
afecções de casco sobre o desempenho reprodutivo
prejuízo seja ainda maior.
de vacas de alta produção, com média de 35,2L de leite/vaca/dia, encontraram aumento no intervalo de partos/concepção de 90,3 para 161,8 dias, nas vacas sem e com doença de casco, respectivamente (p<0,05).
Souza et al. (2006) realizaram levantamento de custos em rebanho de 100 vacas confinadas em free-stall, com produção média de 10.000 kg por lactação. A incidência de claudicação causada por sequelas de laminite foi de 55% no período de 12
Descarte de animais e custos provocados pela
meses.
O
tratamento
ocorrência de laminite As sequelas de laminite são severas e levam a prejuízos pelo atraso no diagnóstico, que muitas vezes resulta em tratamentos longos, dispendiosos e sem sucesso, e resultam no descarte. Booth et al.
custo e
avaliado
queda
na
pelo
somatório
produção
de
do leite
correspondeu a US$ 5.269,00, equivalente a R$ 12.592,91 (https://oglobo.globo.com/economia/dolarfecha-r-2390-maior-valor-desde-maio-de-20063816295). O custo adicional por perdas reprodutivas e episódios de mastite foi de US$ 132,14 por vaca.
(2004) afirmam que o período de acometimento Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.01, p.8358-8363, jan/fev, 2019. ISSN: 1983-9006
8361
Artigo 482 – Influência da laminite na produtividade, fertilidade e longevidade em rebanhos leiteiros
O custo total encontrado por Souza et al. (2006)
_production_fertility_somatic_cell_score_and_typ
para rebanho de 100 vacas foi de US$ 17.805,70.
e_traits_in_Holstein_Spanish_dairy_cattle>.
Os resultados são semelhantes aos encontrados nos Estados Unidos e Europa.
claw disorders on milk production, fertility,
CONSIDERAÇÕES FINAIS A laminite é uma afecção grave, presente em proporções variáveis nos rebanhos. Acarreta danos ao
bem-estar
animal,
bem
como
à
sua
produtividade, fertilidade e longevidade, além de custos financeiros. Deve permanecer como alvo de estudos que visem compreender por completo sua manifestação
para
que
sejam
criadas
formas
eficazes de prevenção e tratamento.
demonstrados
pelos
animais,
para
perceberem os fatores de risco e adotar medidas para
contorna-los,
além
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Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.01, p.8358-8363, jan/fev, 2019. ISSN: 1983-9006
8363
Caracterização do perfil dos consumidores de carne caprina comercializada no município de Areia - PB Revista Eletrônica
Alimento de origem animal, mercado consumidor, suculência. 1
Rosa Maria dos Santos Pessoa 2* Glayciane Costa Gois 3 Dinah Correia da Cunha Castro Costa 4 Ana Paula Ribeiro Silva , 4 Regiane Nascimento Santos
Vol. 16, Nº 01, Jan/Fev de 2019 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br
1
Mestre em Zootecnia, Universidade Federal de Campina Grande, UFCG, Pós-doutoranda em Ciências Veterinárias no Semiárido, Universidade Federal do Vale do São Francisco, CPGCVS/UNIVASF, Petrolina, PE.*E-mail: glayciane_gois@yahoo.com.br. 3 Graduanda em Zootecnia, Universidade Federal da Paraíba, CCA/UFPB, Areia, PB. 4 Mestrandas em Ciência Animal, Universidade Federal do Vale do São Francisco, CPGCA/UNIVASF, Petrolina, PE. 2*
RESUMO Objetivou-se conhecer o perfil do consumidor de carne caprina em Areia - PB. Foram aplicados 63 questionários abrangendo itens como: sexo, idade, escolaridade, renda, frequência do consumo, motivos para não consumir, características apreciadas, local de compra, motivo e parâmetros utilizados durante a compra, origem da carne e satisfação. A maioria dos entrevistados é do sexo feminino (57,14%), acima de 40 anos (31,75%), ensino médio completo (41,27%) e renda de R$ 1.000,00 (84,13%). O consumo é de uma
vez
por
semana
(44,44%),
sendo
mais
consumida no almoço (55,56%), e como aperitivo (34,92%). Cerca de 15,87% dos entrevistados não consomem
carne
caprina
porque
não
gostam
(46,03%), por causa do odor (33,33%) e pelo gosto (20,63%). Sabor (58,73%), maciez (26,98%) e suculência (14,29%) são as características mais apreciadas durante o consumo. A compra é realizada em mercados públicos (69,84%), pela praticidade (46,03%)
e
preço
(36,51%).
Os
parâmetros
observados são cor (34,92%) e gordura (26,98%). A origem
da
carne
caprina
é
conhecida
pelos
consumidores (74,60%) e eles estão satisfeitos com a qualidade da carne caprina disponível no mercado da Areia - PB (79,37%). O consumo de carne caprina é significativo na cidade de Areia - PB. Palavras-chave:
alimento
de
mercado consumidor, suculência. 8364
origem
animal,
A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
CHARACTERIZATION OF THE PROFILE OF CONSUMERS OF GOAT MEAT MARKETED IN THE MUNICIPALITY OF AREIA – PB ABSTRACT The objective of this study was to know the profile of the consumer of goat meat in Areia - PB. A total of 63 questionnaires were applied covering items such as sex, age, education, income, frequency of consumption, reasons not to consume, characteristics appreciated, place of purchase, reason and parameters used during purchase, origin of meat and satisfaction. The majority of the interviewees are female (57.14%), over 40 (31.75%), complete secondary education (41.27%) and income of R $ 1,000.00 (84.13%). Consumption is once a week (44.44%), being more consumed at lunch (55.56%) and as an appetizer (34.92%). About 15.87% of the interviewees do not consume goat meat because they do not like it (46,03%), because of the smell (33,33%) and the taste (20,63%). Flavor (58.73%), softness (26.98%) and succulence (14.29%) are the most appreciated characteristics during consumption. The purchase is made in public markets (69.84%), by practicality (46.03%) and price (36.51%). The observed parameters were color (34.92%) and fat (26.98%). The origin of goat meat is known to consumers (74.60%) and they are satisfied with the quality of goat meat available in the market of Areia - PB (79.37%). The consumption of goat meat is significant in the city of Areia - PB. Keyword: consumer market, food of animal origin, juiciness.
Artigo 483 – Caracterização do perfil dos consumidores de carne caprina comercializada no município de Areia- PB
INTRODUÇÃO
to das práticas de manejo e adoção de novas
A diversidade em sistemas produtivos e o amplo
tecnologias na criação, o que possibilitou aumento
território nacional refletem-se na diversificação dos
na produtividade e uma expansão da caprinocultura
produtos
o
no país, contudo o consumo ainda é muito baixo
atendimento a diversos mercados. Assim, é possível
quando comparado com as carnes mais consumidas
o aumento dos volumes e a diversidade de
no
exportação a diferentes países que, por sua vez,
kg/hab/ano), aves (46,8 kg/hab/ano) e suínos (14,5
exigem produtos de alta qualidade. Essa demanda é
kg/hab/ano) (CASTRO Jr, 2017; PESSOA et al.,
reflexo do aumento da exigência dos consumidores,
2018).
brasileiros,
permitindo
ao
país
Brasil,
como
a
carne
de
bovinos
(38,6
que estão cada vez mais atentos às informações referentes ao processo de produção dos alimentos,
O
modo de criação dos animais e características dos
caprinocultura reside na sua capacidade de criar
produtos, como valor nutricional, embalagem e prazo
oferta de produtos cárneos caprinos para diferentes
de
do
mercados, desde nichos altamente especializados,
consumidor pode ser definido como atividades
tais como a alta gastronomia, e mercados de amplo
diretamente envolvidas em obter, consumir e dispor
consumo, como a classe média brasileira. A opinião
de produtos e serviços, incluindo os processos
do consumidor final é fundamental ao sistema
decisórios que antecedem e sucedem estas ações.
produtivo da carne ovina no Brasil, por teoricamente
Desta forma, com o consumidor mais consciente e
determinar as características de maior importância
interessado, torna-se necessária a compreensão dos
da carne através da satisfação que o produto lhe
fatores
comportamento,
proporciona. Outro fator preponderante e que
possibilitando, assim, uma visão mais crítica da
merece atenção está relacionado ao abate dos
dinâmica de compra (NASCIMENTO et al., 2018).
animais.
vida
de
que
prateleira.
O
influenciam
comportamento
seu
principal
No
desafio
do
ambiente
setor
produtivo
institucional
da
da
cadeia
produtiva da ovinocultura de corte, problemas A carne pode ser definida como o resultado das
relacionados
contínuas transformações que ocorrem no músculo
acompanhamento de fiscalização de órgãos de
após a morte do animal, sendo utilizada como
vigilância sanitária (municipal, estadual ou federal)
alimento de elevada qualidade nutricional devido a
podem comprometer a qualidade da carne ovina,
sua função plástica, ou seja, reconstituição de
além de apresentar riscos à saúde e à confiança dos
tecidos, influenciando na formação de novos tecidos
consumidores e, além de exercer forte influência
e
e
sobre a cadeia de negócios como um todo, qualquer
energia
ação sobre ela causa impactos, positivos ou
(MONTE et al., 2012). O consumo médio de carne
negativos, significativos em todo o sistema (FIRETTI
caprina/pessoa/ano no Brasil ainda é considerado
et al., 2017).
na
regulação
orgânicos,
além
de
processos
do
fornecimento
fisiológicos de
ao
abate
sem
o
devido
baixo, principalmente quando comparado com outros produtos cárneos existentes. Estudos realizados
Em muitos estados nordestinos, a carne caprina é
mostram
700
comercializada para consumo direto, sendo vendido
gramas/pessoa/ano, para o Brasil, enquanto que o
"bode" por "carneiro", pois ainda há preconceito para
consumo em países do primeiro mundo varia de 20
o seu consumo. Os cortes não são padronizados,
a 28 kg/pessoa/ano. Esse panorama ocorre pela
sendo vendidos como "metade dianteira" e "metade
pouca disponibilidade e ainda falta de qualidade do
traseira". É preciso explorar o "nicho" de mercado da
produto colocado à venda.
carne caprina, através de marketing que destaque
resultados
de
consumo
de
seu valor nutricional e potencial para elaboração de Somente nos últimos anos a carne caprina está
derivados. Há necessidade também de melhor
sendo encontrada em supermercados, açougues e
capacitação dos produtores e empresários do setor
restaurantes das grandes cidades, quebrando o
para inclusão da carne no mercado, como cortes
paradigma do consumo apenas rural e e m pequenas
padronizados (MADRUGA & BRESSAN, 2011).
cidades do interior. Isso foi devido ao desenvolvimenNutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.01, p.8364-8369, jan/fev, 2019. ISSN: 1983-9006
8365
Artigo 483 – Caracterização do perfil dos consumidores de carne caprina comercializada no município de Areia-PB
Neste contexto, para uma melhor compreensão de
6º58´12´´de latitude Sul e 35º42´15´´de longitude a
uma cadeia produtiva, é importante observamos
Oeste de Greenwich e a altitude de 620m acima do
todas
produtivo,
nível do mar. O clima do município é quente e úmido,
demonstrado na figura 1, partindo do consumidor,
as
etapas
com chuvas de outono-inverno, com variação de
passando
e
temperatura entre 22 e 26ºC, umidade relativa,
de
variando entre 75% de novembro/dezembro e 87%
a
nos meses de junho/julho, a pluviosidade média de
pela
de
um
etapa
armazenamento
ao
transformação/beneficiamento
processo da
distribuição processo
e
deste
para
produção agropecuária para, finalmente, retornar
1400 mm/ano, sendo 75% entre março e agosto.
aos agentes produtores de insumos, à pesquisa, aos organismos institucionais e organizacionais (LIMA,
Foi realizada uma pesquisa estilo “Survey”¸ a qual é
2009).
utilizada para a obtenção de informações por intermédio de uma entrevista com os participantes,
Figura 1. Fluxograma da cadeira produtiva da
onde são feitas perguntas acerca do tema que se
caprinocultura de corte
está estudando por meio da aplicação de um questionário
estruturado
para
obter
uma
padronização do processo de coleta de dados (FRANCISCO et al., 2007). O questionário aplicado foi constituído de 13 perguntas sobre: sexo, idade, escolaridade, renda mensal, frequência e ocasião do consumo, motivos para não consumir, características apreciadas, local de compra, motivo e parâmetros observados durante a compra, procedência da carne e satisfação. Foram aplicados 63 questionários que foram utilizados como material de pesquisa sobre a opinião pública e como indicativo das características do consumidor e suas preferências. Não foram abordadas crianças nem adolescentes. Fonte: (Lima, 2009).
As entrevistas aconteceram em dias alternados da
O incentivo para que haja planejamento adequado
semana. A abordagem deste trabalho foi puramente
começa por um estudo de mercado, a avaliação
quantitativa, com o intuito de mostrar, em números, a
deve incluir ainda como conquistar o consumidor
existência de um fato, a proporção em que ele ocorre
que tradicionalmente não consome carne caprina.
na nossa sociedade.
Devem-se também focar no marketing nas carnes nos
Para tabulação dos dados, foi feito o uso de uma
benefícios que a mesma pode proporcionar, como
planilha do aplicativo Excel (2010), sendo os
sendo reconhecida como uma das carnes vermelhas
resultados expressos em porcentagens.
dessas
espécies,
focando
principalmente
de menor teor de colesterol e preferida pela qualidade e boa digestibilidade (CARNEIRO et al.,
Resultados e discussão:
2012).
De acordo com os resultados apresentados na Tabela 1, a maioria dos entrevistados era do sexo
Objetivou-se conhecer o perfil do consumidor de
feminino (57,14%), acima de 40 anos (31,75%),
carne caprina na cidade de Areia - PB.
ensino médio completo (41,27%) e renda mensal de até R$ 1.000,00 (84,13%). A frequência de consumo
Material e métodos: O levantamento foi realizado durante o mês de março de 2018, no município de Areia, PB, localizado na microrregião do brejo paraibano, a 8366
é uma vez por semana (44,44%), sendo mais consumida no almoço (55,56%) e como aperitivo (34,92%).
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.01, p.8364-8369,jan/fev, 2019. ISSN: 1983-9006
Artigo 483 – Caracterização do perfil dos consumidores de carne caprina comercializada no município de Areia- PB
A tendência de consumo entre todas as faixas de
to cárneo.
idade pode ser um indicativo de que existe demanda e boa aceitação. As perspectivas do aumento de
Tabela 1. Preferência dos consumidores de carne
consumo de carne estão alinhadas quanto ao
caprina no município de Areia - PB
aumento da renda financeira das famílias. Esta afirmação é sustentada pelo fato de que a carne é
Perfil do
Total
consumidor inquiridos
vista como produto caro e almejado pela cultura ocidental. O aumento da classe média, após o Plano Real, acomete o crescimento do consumo de bens e serviços, aliados a busca por qualidade, praticidade e diversificação na produção de alimentos. E assim,
Feminino
n = 63
n = 63 %=100 Características Apreciadas
42,86
Aroma
0
57,14
Maciez
26,98
Suculência
14,29
Sabor
58,73
Idade
com objetivo de atender ao mercado, as indústrias
18-20 anos
12,70
estão promovendo constantes alterações em seus
21-30 anos
26,98
produtos, buscando fidelizar seus consumidores e
31-40 anos
adquirir novos clientes (RAIMUNDO & BATALHA,
Acima
2012).
anos
de
40
Total inquiridos
%=100 Sexo Masculino
Perfil do consumidor
Local de compra
28,57
Supermercado
31,75
Mercado público
69,84
Açougue
11,11
Feira livre
4,76
Escolaridade
0
Cerca de 15,87% dos entrevistados não consomem
Fundamental
28,57
carne caprina porque não gostam (46,03%), por
Médio
41,27
causa do odor (33,33%) e pelo sabor (20,63%).
Superior
26,98
Preço
36,51
Sabor (58,73%), maciez (26,98%) e suculência
incompleto 3,17
Praticidade
46,03
Higiene do local
9,52
Atendimento
7,94
(14,29%) são as características mais apreciadas durante o consumo. O mercado consumidor de carne caprina ainda é bastante
reduzido,
devido
em
parte,
às
Superior
Renda mensal Até R$1000
84,13
R$1001 a
15,87
Parâmetros observados na compra
R$5000 R$5001 a
0,00
Cor
34,92
0,00
Preço
15,87
Frequência de consumo Carne
3,17
características sensoriais desagradáveis como sabor
R$10.000
e odor ativos. Outro fator importante, é que a
Acima
palatabilidade e aceitabilidade da carne ovina varia
R$10.000
muito entre diferentes populações com diferentes
Motivo de escolher o local
de
refrigerada
crenças e tradições (CONSTANTINO et al., 2018). YOUNG et al. (1994), citam que em alguns países o
1x por semana
odor
2x por semana
9,52
Carne magra
19,05
1x por mês
17,46
Gordura
26,98
2x por mês
12,70
Não consome
15,87
Sim
Ocasião do consumo
Não
das
carnes
caprinas/ovinas
é
bastante
apreciado ou então são mascarados com temperos e ervas, entre estes estão o Kuwait, Arábia Saudita, Líbia, entre outros, o consumo per capita destes países
é
de
35,
21
e
18
kg/pessoa/ano,
respectivamente.
44,44
Embalagem
0,00
Conhece a procedência da carne
Café
0
74,60 25,40 Nível de satisfação
Almoço
55,56
Satisfeito
79,37
A compra é realizada principalmente em mercados
Jantar
9,52
Indiferente
15,87
públicos (69,84%), devido à praticidade (46,03%) e o
Aperitivo
34,92
Insatisfeito
4,76
preço (36,51%). Isso pode ser ocasionado por
Motivo para não consumir
fatores culturais, como tradição passada de pai para
Não gosta
46,03
filho, o fator renda e também o contato direto com o
Cheiro
33,33
vendedor e/ou produtor, o que gera certa confiança
Sabor
20,63
entre o consumidor e o fornecedor, podendo nesse
Preço
0,00
Não encontra
0,00
tipo de contato serem retiradas dúvidas quanto a procedência, história e outros fatores sobre o produ-
Fonte: Elaborada pelo autor.
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.01, p.8364-8369, jan/fev, 2019. ISSN: 1983-9006
8367
Artigo 483 – Caracterização do perfil dos consumidores de carne caprina comercializada no município de Areia- PB
Durante a compra, os parâmetros mais observados na carne foram cor (34,92%) e a quantidade de
Caprina e Ovina na Paraíba. Revista Científica de Produção Animal, v. 14, n. 1, p. 98-101.
uma
CASTRO Jr, A. C. de. Perfil do consumidor de
característica que o consumidor pode apreciar no
carne caprina e ovina na região metropolitana
momento da compra, determinando, indiretamente, a
do Recife. 2017. 74f. Dissertação (Mestrado em
vida de prateleira, constituindo o critério básico para
Zootecnia) – Universidade Federal Rural de
gordura
(26,98%).
A
cor
da
carne
é
a sua escolha, a não ser que outros fatores, como o odor,
sejam
Pernambuco, Recife, PE, 2017.
deficientes.
CONSTANTINO, C., KORITIAKI, N. A., JUNIOR, F.
Normalmente, a coloração da carne é determinada
F., DE AZAMBUJA RIBEIRO, E. L., MANGILLI, L.
pela concentração total de mioglobina (proteína
G., GRANDIS, F. A., PENA, A. F. 2018.
envolvida nos processos de oxigenação do músculo)
Comportamento de consumidores de carne de
e pelas proporções relativas desse pigmento no
cordeiro na região norte do Paraná. Publicações
tecido muscular, que pode ser encontrado na forma
em Medicina Veterinária e Zootecnia, v.12, n.1,
de mioglobina reduzida, com coloração púrpura,
p.1-7.
oximioglobina,
marcadamente
de
cor
vermelho
brilhante
e
DUTRA, A. C., LOPES, C. S., GARCIA, M. H. 2011.
metamioglobina, normalmente marrom (MONTE et
Marketing de novos produtos lançamento e
al., 2012).
inovação. In.: Encontro científico e simpósio de educação Unisalesiano Educação e Pesquisa: A
De acordo com
GOIS et al. (2016),
a má
produção do conhecimento e a formação de
apresentação e o excesso de gordura nas carcaças
pesquisadores, III, 2011, Lins – São Paulo.
e cortes cárneos são fatores que afetam a compra e
Anais..., III, Encontro científico e simpósio de
a experiência de consumo. Para os autores, a
educação, Lins, 13p.
deposição de gordura pode ser influenciada por
EXCEL. 2010. Microsoft Excel, Office do Sistema
fatores tais como: peso vivo ao abate, sexo do
Operacional Windows Home Professional®, 2010.
animal, dieta, genótipo e tipo de músculo. Entretanto,
FIRETTI, R., ALBERTI, A. L. L., ZUNDT, M.,
dentre essas variáveis, a dieta teria grande impacto
CARVALHO-FILHO, A. A. de, OLIVEIRA, E. C.
sobre a deposição de gordura intramuscular, bem
de.
como sobre a concentração de ácidos graxos
Preferências no Consumo de Carne Ovina com
saturados e ácidos graxos poli-insaturados.
Apoio de Técnicas de Estatística Multivariada.
2017.
Identificação
de
Demanda
e
Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 55, O atributo „procedência‟ mostra que é necessário saber de onde vem a carne que está sendo
n. 4, p.679-692. FRANCISCO,
D.
C.,
Caracterização do consumidor de carne de frango
causada por sua ingestão. A procedência da carne
da cidade de Porto Alegre. Ciência Rural, v. 37,
caprina
n.1, p.253-258.
pelos
consumidores
CAMARGO,
L.
P.,
mais chances de evitar uma possível contaminação conhecida
P.,
V.
LOGUERCIO,
é
A.
NASCIMENTO,
comprada, ou seja, com essa informação pode-se ter
2007.
entrevistados (74,60%) e eles estão satisfeitos com a
GOIS, G. C., PESSOA, R. M. S., SILVA, E. G.,
qualidade da carne caprina disponível no mercado
MACEDO, A., LAURENTINO, A. B., BATISTA, M.
da Areia - PB (79,37%).
V. S. 2016. Composição de ácidos graxos na carne ovina. Journal of Biology & Pharmacy
CONCLUSÃO: O consumo de carne caprina é significativo na cidade de Areia - PB. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS CARNEIRO, W. P., LIMA JÚNIOR, A. C., PIMENTA FILHO, E. C., de AZEVEDO, P. S., de MOURA, J. F. P., da SILVA, J. V., SOUZA, H. C., OLIVEIRA, F. G. 2012. Abate e Forma de Comercialização da Carne 8368
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XXXII
(palestra),
Anais...,
Bento
PESSOA, R. M. dos S., GOIS, G. C., da SILVA, A. A. F.,
YOUNG, O., REID, D., SMITH, M. BRAGGINS, T.
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Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.01, p.8364-8369, jan/fev, 2019. ISSN: 1983-9006
8369
Atualidades e perspectivas do bem-estar animal na avicultura de corte e de postura Gaiolas convencionais, indicadores de bem-estar animal, sistema de criação alternativo.
¹*
Iolanda Silveira Freitas ¹ Aldo Pereira Salvador ² Michele de Oliveira Mendonça ¹ Clodoaldo Freitas Tavares Tardocchi ¹ Ítalo de Melo Ferreira ¹
Discente do Programa de Mestrado Profissional em Nutrição e Produção Animal, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais – Campus Rio Pomba. *E-mail: iolandafreitas11@gmail.com. ² Docente do Departamento Acadêmico de Zootecnia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais – Campus Rio Pomba.
RESUMO O bem-estar animal é o tema mais discutido atualmente na cadeia avícola. A proibição do uso de gaiolas convencionais para galinhas poedeiras na União Europeia impulsionou um forte movimento para adoção de sistemas de criação que proporcionem o bem-estar das aves. Os sistemas alternativos vêm ganhando espaço em substituição ao sistema convencional por oferecerem uma maior qualidade de vida às aves. Entre os sistemas de criação alternativos destacam-se o sistema de gaiolas enriquecidas, free range e cage free. Além disso, observa-se uma tendência de bem-estar para os frangos de corte, principalmente aos aspectos relacionados ao transporte e abate dessas aves. Porém, poucos são os trabalhos de revisão bibliográfica que abordam os sistemas de criação alternativos, fatores que influenciam o bem-estar como densidade, ambiência e os parâmetros utilizados para avalição do bem-estar para os frangos de corte e poedeiras. Considerando o exposto, o objetivo desta revisão bibliográfica é discorrer sobre as novas tendências do bem-estar animal na criação de poedeiras e frangos de corte, e as perspectivas do setor. Palavras-chave: gaiolas convencionais, indicadores de bem-estar animal, sistema de criação alternativo.
Vol. 16, Nº 01, Jan/Fev de 2019 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores
CURRENT AND PROSPECTS OF ANIMAL WELFARE IN POULTRY CUTTING AND LAYING ABSTRACT Animal welfare is the most discussed issue currently in the poultry chain. The ban on the use of conventional cages for laying hens in the European Union has given rise to a strong movement towards the adoption of breeding systems that provide for the welfare of birds. The alternative systems have been gaining space in place of the conventional system because they offer a higher quality of life to the birds. Among the alternative breeding systems are the cage system, free range and cage free. In addition, there is a tendency of well-being for the broilers, mainly to the aspects related to the transport and slaughter of these birds. However, there are few bibliographic review studies that address alternative breeding systems, factors that influence well-being such as density, ambience, and parameters used to assess well-being for broilers and laying hens. Considering
the
above,
the
objective
of
this
bibliographic review is to discuss the new tendencies of animal welfare in the creation of laying hens and broilers, and the perspectives of the sector. Keyword: dairy cows, milk production, lipids, ruminal metabolism. 8370
Artigo 484 – Atualidades e perspectivas do bem-estar animal na avicultura de corte e de postura
INTRODUÇÃO
animal (World Organisation for Animal Health). As
Pode ser observado nos últimos anos uma tendência
Campanhas movidas pela comunicação social, bem
crescente do bem-estar animal voltado para o setor
como a pressão de um número crescente de ONG‟s
avícola. A União Europeia em 1999 iniciou o
(Organizações
movimento de bem-estar animal na avicultura, com a
sensibilizado a opinião pública, principalmente na
imposição de padrões mínimos para a criação de
União Europeia (UBA, 2008).
Não
Governamentais)
têm
poedeiras No Brasil a preocupação com bem-estar animal não Com isso, o movimento de bem-estar das aves na
é
União Europeia ganhou proporção, sendo que em
Agricultura de Pecuária e Abastecimento (MAPA) em
2003,
gaiolas
1934 foi instituído o Decreto nº 24.645, que
convencionais e as já existentes tiveram que ser
estabeleceu medidas de proteção animal. O Art. 9º
modificadas para melhorar as condições de criação
estabelece que: “No caso do animal ser criado para
das
estas
servir de alimentação, deve ser nutrido, alojado,
modificações promoveram um espaço mínimo de
transportado e morto sem que para ele resulte
foi
vedada
aves.
a
Segundo
instalação
Appleby
de
(2003),
recente,
sendo
que
conforme
o
Ministério
ansiedade ou dor” (Brasil, 1934). Além disso, o
2
550 cm por ave e lixa para as unhas.
MAPA lançou o boletim “Bem-estar animal, o Brasil Contudo, o sistema de gaiolas enriquecidas limitava
se importa” que disciplina o tema por meio de várias
vários comportamentos das aves, impossibilitando
legislações (BRASIL, 2013).
seu completo bem-estar. Diante disso, a União Europeia em 2012, proibiu a criação de galinhas
A União Brasileira de Avicultores (UBA) entidade
poedeiras em gaiolas.
institucional que representa a avicultura nacional, em 2008 lançou o “Protocolo de bem-estar para aves
Em 2015, o Estado da Califórnia, nos Estados
poedeiras” primeiro documento elaborado no país
Unidos,
especificamente
proibiu
a
comercialização
de
ovos
para
poedeiras,
nele
contém
produzidos por galinhas poedeiras criadas em
recomendações para os sistemas de criação visando
gaiolas
os
o bem-estar das aves. Todas estas ações visam
consumidores estão preocupados com a forma como
atender a demanda crescente de um mercado
os animais de produção são criados e seu bem-
consumidor que apoia sistemas de produção menos
estar. De acordo com Janczak & Riber (2015) estas
cruéis (BLOKHUIS et al., 2007; SILVA et al., 2009).
ações
convencionais,
evidenciam
isto
a
demostra
insatisfação
que
de
seus Isso
De acordo com a UBA (2008) países como Austrália
demostra, que o bem-estar animal vem sendo
e Nova Zelândia, possuem suas próprias normas ou
exigido, principalmente para a exportação dos
códigos relativos à proteção das galinhas poedeiras.
produtos avícolas. Para atender esse novo nicho de
Em vários outros países, entidades relacionadas à
mercado que preza por produtos provenientes de
cadeia
aves criadas em bem-estar animal, o setor avícola
preocupações e apresentam suas recomendações e
necessita passar por mudanças, para se adequar
padrões mínimos para criação de poedeiras visando
aos quesitos de bem-estar animal para frangos e
melhores condições de bem-estar.
consumidores
perante
a
cadeia
avícola.
produtiva
de
ovos
reconhecem
estas
poedeiras. Bonamigo et al. (2012) e Queiroz et al. (2014) O bem-estar animal é um dos temas mais discutidos na cadeia produtiva animal atualmente, o que tem impulsionado diversas medidas para atender os aspectos relacionados ao bem-estar animal. Conforme Parrilha (2008) foi criado um capítulo de bemestar animal no Código Sanitário de Animais Terrestres – OIE com recomendações de bem-estar
relatam
que em
brasileiros,
a
pesquisas
maioria
dos
com
entrevistados
consumidores
não
possuem conhecimento suficiente sobre as questões relacionadas ao bem-estar dos animais. Além disso, o bem-estar animal não figura a primeira posição nos quesitos
de
exigência
dos
consumidores
entrevistados.
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Em pesquisa recente, a Worl Animal Protection, fez
cia
uma declaração similar, de que a maioria dos
comportamento e liberdade psicológica, ausência de
entrevistados desconhece a maneira como se cria os
medo e de ansiedade (FAWC, 1992).
animais
de
produção.
A
pesquisa
de
doenças
e
fraturas;
liberdade
também
evidenciou que os jovens de 18 a 29 anos, no geral,
BEM-ESTAR
têm
PRODUÇÃO DE GALINHAS POEDEIRAS
maior
preocupação
com
de
o
assunto
ANIMAL
NA
CRIAÇÃO
E
principalmente nos quesitos relacionados ao abate
Sistema de criação convencional
(WSPA, 2016). Rocha et al. (2008), relatam que as
O sistema de criação convencional é o mais
preocupações com o bem-estar animal no Brasil
difundido mundialmente, exceto pelos países que o
crescem
proibiram. Esse sistema de criação tornou-se uma
paralelamente
ao
desenvolvimento dos
das maiores polêmicas, em virtude das críticas
consumidores. Estes estão mais informados e
voltadas a condição de vida do animal, como o
conscientizados. Os consumidores preocupados com
espaço restrito na gaiola que de acordo com Silva &
o bem-estar animal demostram-se dispostos a pagar
Miranda (2009) varia de 350 cm a 450 cm por ave,
um
a falta de contato com o solo e não interação com
socioeconômico,
valor
mudando
adicional
pelos
o
perfil
produtos
avícolas
2
outras
provenientes de aves criadas em bem-estar animal.
aves,
consideradas
que
2
impossibilitam
naturais
e
saudáveis
atividades à
espécie
Segundo Warriss (2000), as pessoas desejam comer
(ALVES et al., 2007). Neste sistema são utilizados os
carne com “qualidade ética”, isto é, carne oriunda de
comedouros que percorrem toda extensão da gaiola,
animais que foram criados, tratados e abatidos em
e os bebedouros utilizados são automáticos do tipo
sistemas que promovam o seu bem-estar, e que
nipple.
sejam sustentáveis e ambientalmente corretos. Sistema de criação alternativo Assumindo a importância do bem-estar, para a
Nesse
produção de carne e ovos, a tendência no cenário
alternativo vem ganhando espaço, pois, permite o
avícola atual é o uso de sistemas de criação,
livre acesso das aves às áreas de pastejo,
densidades e manejos pré-abate e abate que
resultando em diferenças particulares na expressão
preconizem o bem-estar animal no Brasil e no
de seus comportamentos naturais, no bem-estar e
mundo.
na qualidade do produto final (BLOKHUIS et al.,
cenário,
o
sistema
semi-intensivo
ou
2000; ALVES et al., 2007). Diante
o
exposto,
o
objetivo
desta
revisão
bibliográfica é discorrer sobre as novas tendências
Entretanto,
do bem-estar animal na criação de frangos de corte
sistemas alternativos em relação ao estado sanitário
e poedeiras, e as perspectivas do setor.
das aves, por terem nesse sistema contato direto
são
observadas
desvantagens
nos
com as excretas (sistemas de piso ou cama) e aos DEFINIÇÃO DE BEM-ESTAR ANIMAL
ovos que ficam mais expostos a contaminação
O termo bem-estar designa, de maneira geral, os
microbiológica.
numerosos
elementos
que contribuem
para a
qualidade de vida de um animal (UBA, 2008).
Por oferecerem maior liberdade de movimento para as aves, os sistemas alternativos melhoram a
Dentre as muitas definições do termo “bem-estar
resistência óssea; porém, essa maior oportunidade
animal”, a mais utilizada foi descrita pelo Farm
de exercitarem aumenta a incidência de fraturas,
Animal
o
resultantes de acidentes como batidas durante o voo
reconhecimento das cinco liberdades intrínsecas aos
ou quedas do poleiro ao serem empurradas por
animais sendo: liberdade fisiológica que se resume
outras aves (WHITEHEAD & FLEMING, 2000).
Welfare
Council
(FAWC),
mediante
em ausência de sede e de fome; liberdade ambiental que prevê o alojamento de animais de produção em
Segundo Appleby (2003) ao se melhorar o espaço
edificações apropriadas; liberdade sanitária, ausên-
de 450 cm por ave das gaiolas convencionais para
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2
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750 cm por ave das gaiolas enriquecidas verifica-se
local para banho de areia, além de espaço para
um acréscimo de 15% no custo de produção, e
fugas (VITS; WETZENBÜERGER; HAMAN, 2005).
comparando gaiolas convencionais com diferentes sistemas alternativos, esse custo relativo cresce em
Em estudo feito por Jones et al. (2015), o nível de
30 a 50%. Esse maior custo se deve em relação ao
contaminação microbiana dos ovos, tendeu a ser
maior espaço por ave.
mais alto em plantéis com acesso a piso quando comparados a produção em gaiolas. Todavia, Jones
Alves et al. (2007) avaliaram o desempenho produtivo e a qualidade dos ovos de galinhas poedeiras nos sistemas de criação em cama com ninhos e criação em gaiolas e concluíram que o sistema de criação em cama com ninhos, quando corretamente projetado, pode se equivaler ao sistema de criação em gaiolas, pois, possibilita a obtenção de mesmo desempenho e qualidade de ovos. Sistema de criação em gaiolas modificadas ou enriquecidas A fim de manter os padrões econômicos e higiênicos com melhores condições de bem-estar para as galinhas
poedeiras
enriquecidas
ou
foram
criadas
modificadas
as
gaiolas
(TAUSON,
2005;
CARVALHO, 2017). De acordo com VITS et al. (2005), as gaiolas enriquecidas se caracterizam por 2
permitem maior espaço (mínimo de 750 cm /ave) para se movimentar ou escapar da ave dominante. Tauson (2005) relata três tipos diferentes de gaiolas enriquecidas: gaiolas comuns adaptadas com fitas abrasivas, poleiros e ninhos; gaiolas com os
et al. (2012), não encontraram diferenças nos níveis de contaminação de ovos produzidos por aves em gaiolas convencionais ou criadas soltas, o que sugere que a realização correta de manejo esse problema pode ser controlado. Em condições térmicas desfavoráveis, galinhas mantidas em piso mostraram melhor desempenho zootécnico, melhor qualidade de ovos e parâmetros fisiológicos
dentro
comparado
às
da
aves
normalidade, criadas
em
quando gaiolas
convencionais (ALVES, 2006). Sistema de criação free range (Criação com acesso a piquetes) O sistema free range, é semelhante ao cage free, apenas se diferencia quanto ao acesso a pastagens, o que pode alterar positivamente a textura e a cor dos ovos, pelo fato das aves se alimentarem de forragem e de pequenos insetos. Neste sistema, as galinhas poedeiras ficam em contato direto com o solo, realizando banhos de areia, botando seus ovos em ninhos e empoleirando-se (RODENBURG et al., 2005).
mesmos itens citados anteriormente, porém, com área para banho de areia e capacidade de 60
Do posto de vista do bem-estar animal, o sistema
aves/gaiola e gaiolas iguais ao modelo anterior, mas
free range é o que permite melhor bem-estar as
que abrigam de 5 a10 aves.
aves. Segundo Mahboub et al. (2004) este sistema possui potencial benéfico sobre o bem-estar das
A
alteração
das
gaiolas
convencionais
para
aves, uma vez que não reprimem seus instintos,
enriquecidas melhorou o espaço por ave, permitiu o
como movimentar-se, ciscar, voar, abrir as asas,
comportamento de empoleirar e acesso aos ninhos,
limpar as penas, pastejar, etc.
contudo não proporcionou completo bem-estar as aves, sendo que alguns comportamentos ficaram
Nesse sistema caracteriza-se por pelo menos um
restritos, como por exemplo, pastejar.
ninho para cada sete aves, ao menos 15 cm de poleiro por ave, camas de área mínima de 250 cm
2
Sistema de criação cage free (Criação em piso
por ave e uma densidade populacional máxima de
com ou sem cama)
nove aves por metro quadrado (OFFICIAL JOURNAL
No cage free as aves podem ser criadas com ou
OF EUROPEAN COMMUNITIES, 1999).
sem cama. Este sistema permite que as aves fiquem soltas nos galpões, com acesso a ninhos, poleiros,
Contudo, o sistema free range é desvantajoso do
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Artigo 484 – Atualidades e perspectivas do bem-estar animal na avicultura de corte e de postura
ponto de vista sanitário, em relação ao sistema
Garcia (2002) estudou o efeito da densidade de
convencional. Galvão et al. (2013) detectaram
criação e do sexo sobre o empenamento, incidência
contagens mais elevadas de enterobactérias e,
de lesões na carcaça e a qualidade de carne de
especialmente, Salmonella no sistema free range em
peito de frangos de corte e constatou que o aumento
comparação ao sistema convencional.
na densidade de criação promoveu uma diminuição na
velocidade
de
empenamento
e,
DENSIDADE
consequentemente, uma maior incidência de lesões
A densidade de alojamento é um dos pontos
na carcaça. As aves criadas em maior densidade
importantes na criação das aves e influencia
apresentaram
diretamente seu bem-estar.
espessura do peito e maior perda de peso por
menor
comprimento,
largura
e
cozimento. Diversos
estudos
relacionam
os
problemas
causados pelo aumento da densidade com o bemestar dos frangos. Problemas diretamente causados pela alta densidade vão como queda no ganho de peso e no rendimento de carcaça, diminuição da uniformidade do lote e aumento de mortalidade, onde
estes
demonstram
grandes
prejuízos
à
produção (BONAMIGO et al., 2011). Pesquisas
demonstram
que
o
aumento
na
a produção de ovos, o peso do ovo e o consumo de ração e causam um aumento na mortalidade (ANDERSON et al., 2004; JALAL et al., 2006). et
produtivos
al.
de
(2009)
criação
avaliaram de
galinhas
parâmetros poedeiras
2
de 625, 500, 416,6 e 357,14 cm /ave e concluíram a
única
característica
influenciada
pela
densidade foi o peso dos ovos, sendo maior no 2
grupo alojado em menor densidade (625 cm /ave). Zimmerman
et
al.
(2006)
(2012), as galinhas poedeiras mantidas sob estresse por calor têm, como uma das primeiras respostas, o decréscimo no consumo de ração e o aumento da ingestão de água, diminuindo a disponibilidade de
verificaram
essenciais
para
a
produção,
com
consequentes perdas no potencial produtivo e na qualidade dos ovos. Medeiros et al. (2005) verificaram que as aves quando foram mantidas em ambientes quentes ficaram agitadas, abriram mais as asas e se
comerciais em diferentes densidades de alojamento que,
De acordo com Costa et al. (2012) e Vercese et al.
nutrientes
densidade de criação para galinhas poedeiras reduz
Menezes
CONDIÇÕES AMBIENTAIS
que
a
quantidade de penas arrancadas foi maior em densidades maiores.
dispersaram para aumentar a dissipação de calor corporal para o ambiente. Mashaly et al. (2004) observaram os efeitos da alta temperatura e umidade sobre a qualidade dos ovos, desempenho
e
resposta
imune
de
galinhas
poedeiras. O grupo de aves submetidas ao estresse por calor apresentou valores bem menores de peso corporal e consumo de ração. O estresse térmico influenciou negativamente na produção e no peso dos ovos. No entanto, a proliferação de linfócitos T e
Garcia et al. (2015) ao avaliar os parâmetros
B não foi afetada pelo estresse por calor, embora
fisiológicos
galinhas
sua atividade tenha sido menor. A contagem de
poedeiras da linhagem Dekalb Brown em diferentes
leucócitos totais foi significativamente menor se
densidades de alojamento (oito aves com 562,5
comparada
e
comportamentais
de ®
2
2
cm /ave; dez aves com 450 cm /ave e doze aves 2
com 375 cm /ave), constataram que a criação em
ao
grupo
controle.
Foi
observado
também aumento na mortalidade das aves mantidas sobre estresse por calor.
2
menor densidade (562,5 cm /ave) permite a maior dissipação de calor por meio da crista, e mostrou-se
Martins et al. (2016) afirmaram que a temperatura
mais adequado às condições fisiológicas (frequência
ambiente é um fator que causa maior efeito no
respiratória e temperaturas da pele, retal, crista,
desempenho de frangos de corte, pelo fato de
barbela e canela ) de poedeiras criadas em sistema
interferir no consumo de ração e reduzindo o ganho de
de gaiolas.
peso, provocando uma piora na conversão alimentar.
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Artigo 484 – Atualidades e perspectivas do bem-estar animal n a avicultura de corte e de postura
Oliveira (2006) estudou os efeitos de diferentes
causas de condenações parciais de carcaças em
ambientes sobre o desempenho e as características
frigoríficos foi causado no momento da apanha das
de carcaça de frangos de corte. O ambiente de calor
aves pelo método dorso. Já Rui et al. (2011),
influenciou negativamente o consumo de ração e o
relataram
ganho de peso das aves em todos os períodos
aumentar a mortalidade no transporte, podendo
estudados, esse efeito foi mais acentuado nas aves
provocar asfixia das aves.
que
a
apanha
pelo
pescoço
pode
mantidas em ambiente de calor úmido. O calor também
influenciou
absolutos
de
temperaturas
negativamente
pesos
Para garantir o bem-estar das aves no momento da
coxa, sobrecoxa e peito. Altas
apanha, alguns fatores devem ser respeitados.
prejudicam
o
os
desempenho
e
o
Preferencialmente, realizá-la no período noturno,
rendimento de cortes nobres de frangos de corte de
devido à temperatura mais amena, e, para que as
1 a 49 dias de idade, de modo que esses efeitos são
aves tenham a capacidade visual diminuída e não se
mais acentuados pelo aumento da umidade relativa
agitem
do ar.
(RIBEIRO, 2008).
BEM-ESTAR ANIMAL APLICADO A PRODUÇÃO
movimentação
do
manipulador
É essencial produzir o mínimo de estresse possível de contusões e perda de peso. Devem-se formar
MANEJO PRÉ-ABATE E ABATE
grupos de 200 a 250 aves, podendo cercá-las com
Apanha Quando se fala em bem-estar animal para frangos de corte um dos principais pontos é em relação à apanha. A captura de frangos de corte entre todas as operações pré-abate, é a que mais gera estresse injúrias
a
aos frangos, pois, quanto maior estresse há aumento
DE FRANGOS DE CORTE
e
com
físicas
às
aves,
consequentemente
acarretando maior prejuízo (CASTILLO & RUIZ,
as próprias caixas de transporte, já que o correto é levar as caixas até o frango, e não o contrário (ABREU, 2004). A União Brasileira de Avicultura – UBA (2008) aconselha que se evitem os métodos de apanha pelas pernas e pescoço devido às lesões que
2010).
acarretam e pelo sofrimento que causa nos animais, Há três formas de apanha manual: a apanha pelas
manejo que contrariam as leis de bem-estar animal.
pernas, sendo o método que mais causa lesão na
Outra recomendação é que as caixas sejam
carcaça e também a menos eficiente; o método do
fechadas e deslizadas suavemente até o caminhão
dorso é o mais utilizado, é a forma mais fácil de
e, além disso, a água só deve ser retirada no início
introduzir as aves dentro da caixa; e o terceiro
da apanha.
método é a captura pelo pescoço, na qual as aves são pegas três em
cada mão e a grande
desvantagem são os arranhões no dorso e coxas ao introduzir as aves nas caixas. Este último, também pode aumentar a mortalidade no transporte, pois a apanha pelo pescoço pode provocar asfixia (CONY,
apanha, pescoço e dorso, em relação a lesões de carcaça. Verificaram que aves capturadas pelo dorso tiveram significativamente menos condenação por lesão e fratura no abatedouro, quando comparado a aves submetidas à captura pelo pescoço.
2000). Abreu et al. (2015) avaliaram os métodos de apanha de frango pelo dorso e apanha pelo pescoço, e concluíram
Leandro et al. (2001) compararam dois métodos de
que
os
tempos
de
apanha
e
o
carregamento foram menores na apanha pelo pescoço; além de menor fratura parcial no método de apanha pelo pescoço. Lima et al. (2014) descreveram que uma das principais
Carregamento e transporte A densidade das aves no carregamento por caixa deve ser ajustada de acordo com o peso das aves, condições climáticas e tamanho da caixa. Deve-se considerar que todas as aves devem ter espaço para deitar sem ocorrer amontoamento de uma ave sobre a outra (UBA, 2008). É importante evitar que a carga fique exposta ao sol
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Artigo 484 – Atualidades e perspectivas do bem-estar animal na avicultura de corte e de postura
durante o carregamento, pois as primeiras aves
fatizando a importância de se evitar o sofrimento nos
carregadas podem sofrer estresse térmico (VIEIRA
animais (RODRIGUES et al., 2016).
et al., 2009). O termo “abate humanitário” é definido como o Alguns estímulos podem estressar os frangos,
conjunto de diretrizes técnicas e científicas que
comprometendo o bem-estar e a qualidade da carne.
garantem o bem-estar dos animais desde a recepção
Os fatores estressantes são: estresse térmico devido
até a operação de sangria (BRASIL, 2000).
à elevada temperatura e umidade, estresse pelo frio devido à alta velocidade do veículo de transporte e
A
linha
de
abate
entre
a
pendura
e
a
umidade, estresse social, decorrente da alta lotação
insensibilização, deve ser o mais linear, com a
nas caixas, vibração, aceleração, barulho (JORGE,
iluminação reduzida, pois as salas escuras mantêm
2008).
as aves mais calmas (UBA, 2008).
Segundo Barbosa Filho (2008), a morte na chegada
Barbosa Filho (2008) cita que a duração de menor
do abatedouro, pode ser ocasionada pela saúde dos
tempo de espera aumenta o estresse nas aves, e
animais, estresse térmico e pelos traumas sofridos
consequentemente eleva a mortalidade. No entanto,
no transporte nas etapas anteriores.
Warriss et al. (1999) afirmaram o oposto, que um período de espera mais prolongado reflete em um
Jorge (2008) avaliou a taxa de mortalidade na
maior estresse, indicando que as aves sejam
chegada ao abatedouro e as principais lesões
abatidas logo que chegam ao abatedouro, contudo,
encontradas em três grupos: frangos de corte,
deve ser feita uma análise cuidadosa, observando se
galinhas de postura de descarte, matrizes de
os galpões têm ou não uma boa climatização,
descarte. A taxa de mortalidade foi maior em
evitando deficiência na ventilação (VIEIRA et al.,
animais que viajaram por períodos mais longos. A
2009).
taxa encontrada, de 1,23%, foi muito maior que a recomendada por Branco (2004) que varia 0,30% e
Kannan et al. (1997) e Castillo & Ruiz (2010),
0,20% no verão e inverno, respectivamente. As
observaram que frangos abatidos após o transporte
áreas corpóreas com maiores índices de lesão foram
de
peito e asa.
corticosterona comparado aos que aguardaram
três
horas
apresentaram
maior
nível
de
quatro horas no galpão de espera. O elevado nível Jejum Alimentar
plasmático de corticosterona resultou em uma carne
No pré-abate, o tempo de jejum alimentar é um total
mais pálida, sendo que esta tem baixa aceitabilidade
sugerido de oito a 12 horas, que vai desde a espera
pelos consumidores.
das aves no aviário, a apanha, o carregamento, transporte, descanso das aves no abatedouro,
De acordo com Ludtke (2008), a existência de
pendura, insensibilização até a sangria. Tempo
choques pré-insensibilização é grave e dolorosa,
menor que oito horas pode não ser suficiente para o
levando geralmente a batida violenta das asas e
esvaziamento do trato digestório dos frangos e,
recolhimento
acima
inconsciência. Para minimizar esse risco a cuba
de
12
horas,
pode
proporcionar
contaminações da carcaça (ROSA et al., 2012). Abate Com o intuito de padronizar as operações no manejo pré-abate e abate dos animais de produção, foi criado o Programa Nacional de Abate Humanitário (World Society for the Protection of Animals -WSPA, 2009). Esse programa foi desenvolvido com o objetivo de resgatar a sensibilidade das pessoas, en-
8376
do
pescoço
o
que
dificulta
a
deve conter detalhes que reduzam a batida das asas e encolhimento do pescoço (PICCOLI, 2008). O tempo de pendura não pode ser superior a oito minutos, para reduzir o desconforto e a dor (HSUS, 2008; GENTLE, 2011). PARÂMETROS PRODUTIVOS E INDICADORES DE BEM-ESTAR
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Artigo 484 – Atualidades e perspectivas do bem-estar animal na avicultura de corte e de postura
De acordo com Horgan & Gavinelli (2006), o animal
que
as
aves
quando em situações de bem-estar apresenta-se
comportamentos
mais saudável, e consequentemente há melhora em
condições
seu desempenho.
expressão
tentavam naturais,
expressar
mesmo
seus
não
tendo
para isso. Essa impossibilidade de dos
comportamentos
agravou
as
condições de estresse provocadas por esse sistema As condições de estresse podem ser medidas e
de criação.
utilizadas como indicadores de bem-estar. Nas aves, o nível do hormônio corticosterona aumenta em
As pesquisas têm demonstrado que somente a
resposta a situações estressantes e pode ser isolado
limitação do espaço por ave não promove melhoria
e medido no sangue ou nas excretas. Outros
no desempenho e no bem-estar dos frangos (JONES
métodos
para
et al., 2005). A qualidade do ambiente tem se
determinação de estresse são frequência cardíaca e
tornado cada vez mais relevante, e fatores como
a relação entre heterófilos e linfócitos no sangue
ventilação e umidade, que interferem diretamente na
(KANAN et al.,1997).
qualidade do ar e da cama, devem ser controlados
que
podem
ser
analisados
durante todo o período de criação até a idade de Em condições menos favoráveis ao conforto térmico, galinhas
criadas
no
sistema
abate (ESTEVEZ, 2007).
alternativo
apresentaram índices produtivos mais elevados,
Em frangos de corte, o bem-estar pode ser avaliado
melhores padrões de qualidade dos ovos e reações
através de parâmetros apresentados no Quadro 1,
fisiológicas mais adequadas, quando comparado às
como taxas de mortalidade, a locomoção dos
aves criadas em gaiolas convencionais (ALVES,
animais,
2006).
hematomas e outros ferimentos (ALVES, 2012).
Bracke & Hopster (2006); Silva et al. (2006); Haas et
Os distúrbios locomotores são as principais causas
al.
do
de prejuízo no bem-estar de frangos de corte, porque
comportamento de ciscar agrava significativamente o
dependendo do escore das lesões, leva a dor e
estresse da ave, onde aparentemente há uma
desconforto
substituição natural deste comportamento de ciscar,
deficiências locomotoras são privadas de pelo
para bicagem de penas. No sistema de criação em
menos três das cinco liberdades descritas pela
gaiola,
uma
FAWC (1992), que são a liberdade fisiológica, a
dominância e hierarquia dentro do grupo de
liberdade sanitária e a liberdade ambiental (LIMA,
poedeiras,
2008).
(2010)
verificaram
mesmo as
depois aves
que
de
o
empecilho
estabelecida
continuaram
apresentando
morbidade,
presença
(SCAHAW,
de
2000).
fraturas,
Aves
com
agressividade, indicando maior carga de estresse no A pododermatite é uma erosão na parte inferior dos
sistema de criação em confinamento.
pés das aves, causada por queimadura de amônia Análises de parâmetros produtivos e da qualidade
na cama úmida. Na União Europeia, a pontuação
dos ovos são exemplos de algumas medidas
para pododermatite é usada para indicar condições
adotadas para determinação dos efeitos do ambiente
de bem-estar (HAMILTON, 2006).
de criação sobre o desempenho e o bem-estar das Problemas no sistema locomotor devido ao elevado
aves (ALVES et al., 2007).
peso, que é adquirido em pouco tempo, afetam Barbosa Filho et al. (2007) ao compararem o sistema
diretamente o bem-estar dos frangos, os quais
de criação alternativo com o sistema convencional,
promoveram o desenvolvimento de métodos para
constatou que o sistema de criação em cama
medir a incidência desses problemas (MENDES et
proporcionou
al., 2012).
a
expressão
de
todos
os
Medidas
mais
precisas
utilizam
a
comportamentos naturais relacionados ao conforto
tecnologia de computador, medem de forma não
das aves, evidenciando o estado de bem-estar das
invasiva e precisa, a força com que o animal pisa ao
mesmas. Para o sistema em gaiolas, constatou-se
caminhar, através da força de pressão plantar relacio-
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.01, p.8370-8392, jan/fev, 2019. ISSN: 1983-9006
8377
Artigo 484 – Atualidades e perspectivas do bem-estar animal na avicultura de corte e de postura
nada à claudicação e dor (MENDES et al., 2013).
A avicultura teve um enorme desenvolvimento nas últimas
décadas,
em
razão
do
melhoramento
Outro indicador de bem-estar são as imagens
genético, nutrição e manejos sanitários na criação
termográficas que possibilitam analisar estados
das aves, que proporcionaram ótimo desempenho
comportamentais que não podem ser visualizados
dos animais e baixo custo do produto avícola.
normalmente, como o estresse térmico, que leva a
Porém, nos últimos anos, a opinião pública tem
aumento da temperatura corporal. Também é um
levantado discussões a respeito do bem-estar animal
método não invasivo, mas, que ainda possui custo
na avicultura de corte e postura. Os consumidores
elevado de aquisição, fator limitante na pesquisa e
estão cada vez mais preocupados com a forma de
no uso rotineiro (MENDES et al., 2013).
obtenção dos produtos, e como os animais de produção são criados e seu bem-estar. Além disso,
Quadro 1. Parâmetros de avaliação de bem-estar
eles estão dispostos a pagar mais caro por produtos
animal
avícolas provenientes de aves criadas em sistemas alterativos.
Princípios
Critérios de
Medidas realizadas
bem-estar
na granja
1. Ausência de
No entanto, o setor avícola vem se confrontado com o desafio de conciliar o bem-estar animal com a
fome
(Verificada no
Boa
prolongada
abatedouro) -
alimentação
2. Ausência de
espaçamento de
sede
bebedouros
produtividade das aves e o custo na criação. A tendência mundial é seguir os padrões europeus de criação de poedeiras e frangos de corte, aderindo aos sistemas de criação alternativos que permitem o
prolongada - Condições de
bem-estar animal. Se adequar as exigências do
3. Conforto no
plumagem (limpeza),
consumidor será extremamente fundamental para se
ambiente
qualidade da cama,
manter no mercado competitivo, além de conquistar
Bom
4. Conforto
poeira no ambiente.
novos mercados.
alojamento
térmico
- Ofegação;
5. Facilidade de
- Amontoamento
movimento
- Densidade de alojamento
F.M.
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- Observações dos
de outros
comportamentos;
comportamentos
- Teste de esquiva
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11. Boa relação
- Avaliação qualitativa
poedeiras em diferentes sistemas de criação.
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7. Ausência de
9. Expressão de
apropriado
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injúrias
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Comportamento
ABREU,
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6. Ausência de
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Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.01, p.8370-8392, jan/fev, 2019. ISSN: 1983-9006
A colistina como promotor de crescimento na suinocultura: impactos na saúde pública Revista Eletrônica
E. coli, leitões, plasmídeos, polimixinas.
Vol. 16, Nº 01, Jan/Fev de 2019 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
Carolina Schell Franceschina 1 Graciele Dalise Schirmann 2 Brenda Santaiana Prato 2 Bruna Souza de Lima Cony 2 Willian Lehr
1*
1
Alunas de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). *E-mail: carolschell@gmail.com. 2
Alunos de graduação no curso de Zootecnia da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS).
RESUMO
COLISTIN AS GROWTH PROMOTER IN PIG
A utilização indiscriminada de antimicrobianos é um
PRODUCTION: IMPACTS ON PUBLIC HEALTH
problema de saúde pública. O emprego dessas
ABSTRACT
drogas por animais e humanos é apontado como
The indiscriminated use of antimicrobials is a
uma
bacteriana.
public health problem. The use of these drugs by
Recentemente, foi descoberto o gene mcr-1 em um
animals and humans is pointed out as one of the
plasmídeo de Escherichia coli em suínos, e acredita-
causes of bacterial resistance.
se que esse gene de resistência tenha sido transferido para humanos através de alimentos de
mcr-1 gene has been discovered in an Escherichia coli plasmid in swine, and it is
origem animal. Em 2016, o emprego da colistina
believed that this resistance gene has been
como promotor de crescimento foi proibido no Brasil,
transferred to humans through animal foods. In
com restrição para fins terapêuticos. Dessa forma,
2016, the use of colistin as growth promoter was
pretende-se reduzir o uso da colistina na produção
banned in Brazil, with restriction for therapeutic
animal
a
purposes. Thus, it is intended to reduce the use
transferência de bactérias resistentes, já que esse
of colistin in animal production and, thus, to
antimicrobiano é utilizado para o tratamento da
reduce the incidence and transfer of resistant
diarreia pós-desmame em leitões. O maior problema
bacteria, since this antimicrobial is widely used
na
medicina
for the treatment of post-weaning diarrhea in
veterinária é a falta de padronização no tratamento
piglets. The major problem in the use of
de determinadas enfermidades e o uso de doses
antimicrobials in Veterinary Medicine is the lack
acima ou abaixo das recomendadas. As alternativas
of standardization in the treatment of certain
existentes para a substituição da colistina no
diseases and the use of doses above or below
tratamento das diarreias em leitões e como promotor
the recommended. The existing alternatives for
de
resultados
the replacement of colistin in the treatment of
contraditórios, e o manejo segue como o principal
diarrhea in piglets and as a growth promoter still
fator para evitar a ocorrência dessas doenças e
present contradictory results, and management
reduzir o uso de antimicrobianos.
remains the main factor to avoid the occurrence
das
e,
causas
assim,
aplicação
de
crescimento
Palavras-chave: polimixinas. 8393
da
resistência
diminuir
a
incidência
antimicrobianos
ainda
E.
na
apresentam
coli,
leitões,
e
plasmídeos,
Recently, the
of these diseases and reduce the use of antimicrobials. Keyword: E. coli, piglets, plasmids, polimixins.
Artigo 485 – A colistina como promotor de crescimento na suinocultura: impactos na saúde pública
INTRODUÇÃO
O objetivo com esta revisão é esclarecer como o uso
Existem evidências de que o uso de antimicrobianos
de antimicrobianos, principalmente na produção de
tanto para humanos quanto para animais está
suínos como prevenção de diarreia em leitões, pode
intimamente
provocar o surgimento da resistência bacteriana.
relacionado
ao
surgimento
da
resistência bacteriana, o que já é discutido desde a
Além
década de 1970 (SPINOSA et al., 2006). Além disso,
recentes sobre o método de resistência bacteriana
existe a questão da transferência dessa resistência
contra a colistina pode afetar a saúde pública.
disso,
esclarecer
como
as
descobertas
entre os animais e dos animais para os humanos. O uso indiscriminado de diferentes antimicrobianos em
Antimicrobianos na produção animal
animais sem um procedimento e uma prescrição
Os antimicrobianos são substâncias químicas que
padrão, muitas vezes com a dosagem acima ou
matam ou inibem o crescimento de microrganismos,
abaixo da recomendada, e o uso de novas drogas
sendo empregados na Medicina Veterinária como
de amplo espectro contribuem para o surgimento da
medicamentos
resistência bacteriana (REGULA et al., 2009).
prevenção de doenças, e ainda como aditivo nas
para
o
tratamento
ou
para
a
rações, a fim de melhorar o desempenho zootécnico O sulfato de colistina, também conhecido como
dos animais (SPINOSA et al., 2006). De acordo com
polimixina E, pertence à classe dos antibióticos
a World Health Organization (WHO, 2001), os
polimixinas e é ativo contra muitas bactérias Gram-
promotores de crescimento são substâncias não-
negativas, principalmente as bactérias entéricas, e
nutrientes, administradas aos animais por via oral ou
tem sido usado há muitas décadas na Medicina
parenteral,
Veterinária (SPINOSA et al., 2006). Em suínos, a
produtividade através do maior ganho de peso e da
colistina
melhora da conversão alimentar.
é
utilizada
principalmente
contra
as
com
o
objetivo
de
aumentar
a
diarreias em leitões na época do desmame, tanto de forma terapêutica como de forma preventiva e como
Existem diversos mecanismos de ação pelos quais
promotor de crescimento (SOBESTIANSKY et al.,
os promotores de crescimento podem atuar: através
1999). Mais recentemente, o interesse pela colistina
da
na Medicina Humana aumentou pelo fato de que
microrganismos causadores de doenças subclínicas;
esse antibiótico é o último recurso em casos de
através da redução da competitividade e estimulação
fibrose cística ou de infecções causadas por
do crescimento de microrganismos benéficos no
bactérias multirresistentes (KEMPF et al., 2016). Em
intestino; e pela maior capacidade de absorção de
dezembro de 2016, o MAPA proibiu o uso da
nutrientes devido ao adelgaçamento da parede
colistina como promotor de crescimento no Brasil
intestinal (BERTECHINI, 2013). Neste caso, os
devido aos casos de resistência bacteriana, com
antimicrobianos
indicação restrita para fins terapêuticos (BRASIL,
subterapêuticas, abaixo daquelas recomendadas no
2016).
caso de doenças clínicas (ARIAS & CARRILHO,
eliminação
ou
redução
são
da
utilizados
atividade
em
de
doses
2012). Recentemente, descobriu-se a existência do gene mcr-1 que codifica a enzima fosfoetanolamina
Na produção de animais monogástricos (aves e
transferase,
bactéria
suínos), os principais antimicrobianos utilizados de
Escherichia. coli contra a colistina. O gene, presente
forma terapêutica são: sulfonamidas, penicilinas,
em um plasmídeo e facilmente transferível, foi
polipeptídeos,
isolado de animais, alimentos e seres humanos na
quinolonas (aves), e tetraciclinas, sulfonamidas,
China (LIU et al., 2016). Essa descoberta despertou
cefalosporinas, fluorquinolonas e aminoglicosídeos
uma maior preocupação entre os profissionais da
(suínos) (GUARDABASSI et al., 2010). As classes
Medicina Humana e da Medicina Veterinária, pois
de antimicrobianos utilizadas em animais são,
esse plasmídeo pode ser transferido não só entre os
portanto, as mesmas utilizadas em humanos, com
animais, mas também de animais para pessoas,
exceção das drogas de última geração, que são
provocando o surgimento de bactérias super-
usadas
resistente entre os humanos (LIU et al., 2016).
(ARIAS & CARRILHO, 2012). Já os antimicrobianos
8394
conferindo
resistência
à
lincosamidas,
exclusivamente
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na
cefalosporinas
Medicina
e
Humana
Artigo 484 – A colistina como promotor de crescimento na suinocultura: impactos na saúde púbica
de
ocorrência da resistência está relacionada à pressão
crescimento são somente aqueles registrados na
de seleção do agente às drogas utilizadas. A
Divisão de Fiscalização de Aditivos (DFA) do
presença e o grau de resistência apresentam alta
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
variabilidade devido às variações regionais no tipo
(MAPA), com lista atualizada em dezembro de 2016
de método utilizado como tratamento, ou pelo uso do
(BRASIL,
princípio ativo como aditivo zootécnico nas rações
adicionados
na
ração
2016).
antimicrobianos
como
promotores
Constam
na
grupos
de
dos
lista
os
antibióticos
(SATO et al., 2015).
ciclodepsipeptídeos, macrolídeos, bambermicinas, ionóforos e lincosamidas, todos utilizados em doses
Existem diversos movimentos para o banimento do
subterapêuticas (SPINOSA et al., 2006).
uso
de
antimicrobianos
como
promotores
de
crescimento nos animais de produção, que são Cerca de 50% dos antimicrobianos produzidos
justificados pelo surgimento de microrganismos
mundialmente são voltados para uso humano, sendo
resistentes
a outra metade utilizada para a profilaxia e o
existem evidências de que o uso dessas drogas
tratamento de doenças em animais e na agricultura
tanto para humanos quanto para animais está
ou como promotores de crescimento (ARIAS &
intimamente
CARRILHO, 2012). Em um estudo realizado na
resistência, o que já é discutido desde a década de
Suíça acerca do uso de antimicrobianos em
1970 (SPINOSA et al., 2006). Dessa forma, desde
Medicina Veterinária, os autores demonstraram que
2008, a União Europeia aboliu totalmente o uso de
muitos dados sobre a dosagem e o tipo de princípio
antimicrobianos como promotores de crescimento, e
ativo prescrito são perdidos. Em outros casos, as
os Estados Unidos estão reduzindo drasticamente o
dosagens foram de até 30% acima da recomendada
seu uso. No Brasil, já houve algumas proibições pelo
para o tratamento de doenças, inclusive em animais
MAPA, como a fabricação e o uso do carbadox em
de companhia, ou foram utilizadas subdoses. Neste
suínos (2005, já abolido da União Europeia desde
caso, a subdose no tratamento de patógenos é de
1998 por ser considerado cancerígeno), o uso de
alto risco para a ocorrência de resistência bacteriana
espiramicina, eritromicina, anfenois, tetraciclinas,
(REGULA et al., 2009). Resultados semelhantes
beta-lactâmicos, quinolonas e sulfonamida sistêmica
foram encontrados em trabalhos realizados com
(2009).
(BERTECHINI,
2013).
relacionado
ao
Além
disso,
surgimento
da
frangos de corte (LADELY et al., 2007) e suínos No final do ano de 2016, o MAPA lançou a Instrução
(STINE et al., 2007).
Normativa 45, proibindo o uso do sulfato de colistina A resistência bacteriana
como
A resistência bacteriana é, atualmente, um assunto
permanecendo, ainda, liberado para uso terapêutico
amplamente discutido na Medicina Humana. Nos
(BRASIL, 2016). A colistina foi usada por décadas na
últimos anos, foram noticiados diversos casos de
Medicina Veterinária, mas, nos últimos anos, o
bactérias
interesse
super-resistentes
em
que
nenhum
aditivo
pela
promotor
colistina
na
de
crescimento,
Medicina
Humana
antimicrobiano surtiu efeito. A resistência bacteriana
aumentou consideravelmente, pois ela é o último
é um fenômeno biológico em que os microrganismos
recurso no tratamento de pacientes com fibrose
conseguem se multiplicar ou sobreviver mesmo na
cística ou infecções causadas por bactérias super-
presença de níveis terapêuticos de um determinado
resistentes a outras drogas (KEMPF et al., 2016).
antimicrobiano (SPINOSA et al., 2006). A resistência pode ser natural (como a resistência de bacilos
O uso da colistina na produção de suínos e a
Gram-negativos
resistência bacteriana
à
penicilina)
ou
adquirida.
A
pode
A colistina é um antibiótico pertencente ao grupo das
ocorrer pela aquisição de genes de resistência (nos
polimixinas, produzidas pelo Bacillus polymyza.
plasmídeos, por exemplo), recombinação de DNA no
Existem seis tipos de poliminas (A, B, C, D, E e M), e
cromossomo ou por mutação (SPINOSA et al.,
somente duas (B e E) tem uso terapêutico. A
2006). O uso intensivo de antimicrobianos pode
polimixina E é denominada sulfato de colistina e
resultar na seleção de bactérias resistentes, pois a
apresenta atividade antimicrobiana menor do que a
resistência
adquirida,
mais
preocupante,
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Artigo 485 – A colistina como promotor de crescimento na suinocultura: impactos na saúde pública
polimixina B (SPINOSA et al., 2006). Ela é usada na
Espanha, a colistina foi o medicamento mais
Medicina Veterinária há décadas, em todos os
utilizado em suínos com doença entérica ou de
continentes, sendo ativa contra muitas bactérias
maneira profilática sem qualquer tipo de diagnóstico
Gram-negativas, principalmente para a prevenção e
(CASAL et al., 2007). Assim como nos Estados
o tratamento de infecções por enterobactérias
Unidos e na União Europeia, o uso da colistina como
(KEMPF et al., 2016). Em suínos e outras espécies,
promotor de crescimento é proibido no Canadá, com
é
entéricas,
uso permitido somente para fins terapêuticos e com
principalmente nos casos de diarreia causadas por
intensa vigilância (RHOUMA et al., 2015). A China é
E. coli e Salmonella spp. (BRIYNE et al., 2014).
o país que mais utiliza a colistina na produção animal
utilizada
em
casos
de
doenças
como terapia medicamentosa ou como promotor de A colistina costuma ser empregada como tratamento
crescimento, com 11.942 toneladas em 2015 e
profilático quando os leitões passam da maternidade
previsão de 16.500 toneladas em 2021 (LIU et al.,
para a creche. Nesse período, as mudanças na
2016).
dieta, que passa de líquida para sólida, associadas a fatores ambientais (instalações mal planejadas para
Tendo em vista o seu uso disseminado na Medicina
o número de leitões, temperatura e umidade relativa
Veterinária, estudos mostraram a existência de
fora da zona de conforto, água de má qualidade e
bactérias do gênero Enterobacteriaceae resistentes
problemas de higiene) e aos baixos pesos ao
à colistina em diferentes graus ao redor do mundo
desmame provocam a síndrome da diarreia pós-
(RHOUMA et al., 2016). A produção animal é
desmame, também conhecida como colibacilose
apontada
pós-desmame (SATO et al., 2015). A colistina é um
disseminador de E. coli resistente à colistina ao redor
dos antibióticos mais recomendados e utilizados
do mundo, com o maior grau na produção de suínos,
para a prevenção e o controle da diarreia pós-
principalmente (LIU et al., 2016), e o seu uso
desmame, causada principalmente pelo agente
concomitante em animais e humanos representa um
Escherichia
perigo para a saúde pública.
coli
enterotoxigênica
(ETEC)
como
o
principal
amplificador
e
(SOBESTIANSKY et al., 1999). O mecanismo mais documentado sobre a resistência A patogênese da ETEC na colibacilose pósdesmame é determinada por dois principais fatores de virulência: a presença de adesinas fimbriais e a produção
de
enterotoxinas
termoestáveis. A
termolábeis
e/ou
doença entérica segue com
hipersecreção e redução na absorção intestinal, causando diarreia intensa entre uma e duas semanas após o desmame (QUINN et al., 2005). Em um estudo testando diversos antimicrobianos em suínos com diarreia provocada por ETEC, os
à colistina em E. coli e Salmonella é uma mutação que leva a modificações estruturais no lipídio A, reduzindo a interação eletrostática entre o antibiótico e a bactéria. Essa mutação foi a responsável pela resistência da E. coli ao longo de muitos anos, mas hoje sabe-se que esse não é o único mecanismo existente. Em 2015, um estudo evidenciou, pela primeira vez, a existência do gene mcr-1, que codifica a enzima fosfoetanolamina transferase, conferindo resistência à E. coli.
resultados mostraram que houve resistência em maior ou menor grau a todas as substâncias, inclusive a colistina, com associação significativa entre os fatores de virulência e os princípios-ativos (SATO et al., 2015).
O gene, presente em um plasmídeo e facilmente transferível entre bactérias, foi isolado de animais, alimentos e pessoas na China (LIU et al., 2016). Desde então, o gene mcr-1 foi isolado de outras bactérias (Klebsiella pneumoniae e Salmonella spp.)
Estima-se que na França 90% dos produtores usem colistina nos leitões no período pós-desmame (KEMPF et al., 2013); na Bélgica e na Áustria são mais de 30% (CALLENS et al., 2012; TRAUFFLER et al., 2014); e, na Alemanha, a colistina foi o antibiótico
mais
utilizado
em
leitões
(VAN
em animais e humanos em outros locais da Ásia, além da África, América do Sul e Europa (SKOV & MONNET, 2016). Apesar da descoberta recente, em um estudo realizado na Europa, verificou-se que esse gene estava presente em E. coli provenientes de amostras de alimentos de origem animal desde
RENNINGS et al., 2015). Em um estudo realizado na 8396
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Artigo 485 – A colistina como promotor de crescimento na suinocultura: impactos na saúde pública
2004, e sugere que o mcr-1 é transportado por
produção de suínos. O uso de antibióticos como a
animais via produção de clones, e não pelo
colistina antes ou após o surgimento da doença
cruzamento de cepas bacterianas. O resultado
clínica
reforça que a disseminação da bactéria resistente à
econômicas causadas por essa enfermidade, mas o
colistina ocorre através dos plasmídeos (EL GARCH
aumento da resistência bacteriana tem levado a
et al., 2017).
falhas terapêuticas e à busca por alternativas ao uso
No Brasil, pesquisadores isolaram E. coli positiva para o gene mcr-1 de frangos de corte e de suínos em granjas de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina. Os achados foram semelhantes em outros países da América do Sul (Bolívia, Colômbia, Equador e Peru) (FERNANDES et al., 2016a). No Japão, detectou-se a presença de E. coli mrc-1positivas
em
amostras
de
animais
saudáveis
coletadas ao longo de dez anos (KAWANISHI et al., 2017). Em uma granja no Reino Unido, leitões com diarreia pós-desmame foram tratados com colistina. De todas as amostras de E. coli recuperadas das fezes, cerca de 1,3% era mcr-1-positiva. Vinte meses após o uso da colistina e com práticas de manejo higiênicas, não havia E. coli mcr-1-positiva nas fezes desses suínos, indicando que é possível reduzir a ocorrência da E. coli resistente à colistina cessando o uso desse antimicrobiano (RANDALL et
mitigou
significativamente
as
perdas
desses medicamentos (RHOUMA et al., 2017). Alternativas ao uso da colistina Alguns estudos sugerem o uso de prebióticos e probióticos como alternativa aos antimicrobianos para suínos. Prebióticos como a inulina e os oligossacarídeos e probióticos contendo Bacillus já demonstraram
efetividade
em
melhorar
o
desempenho e reduzir a incidência de diarreias (BADIA et al., 2012; YANG et al., 2016). Os ácidos orgânicos
também
apresentaram
resultados
promissores, com a manutenção da integridade da mucosa intestinal e melhora do desempenho, mas já apresentaram algum grau de resistência bacteriana (SUIRYANRAYNA & RAMANA, 2015). Outro estudo, testando beta-ácidos do lúpulo na dieta de leitões recém-desmamados, mostrou que os efeitos como promotor de crescimento foram semelhantes aos da colistina (SBARDELLA et al., 2016).
al., 2018). Apesar da necessidade da busca por alternativas, as Além do gene mcr-1, já foram encontrados os genes
condições das instalações e a vacinação são as
mcr-2 em suínos na Europa, e mcr-3 em suínos de
estratégias principais para a prevenção da diarreia
pequenas criações em áreas rurais da China,
pós-desmame em suínos e a redução do uso de
mostrando que o gene de resistência à colistina não
antimicrobianos. Por outro lado, a comprovação da
está presente somente nos sistemas intensivos de
efetividade dos métodos alternativos ainda não é
produção (LI et al., 2018). Os genes mcr-4 e mcr-5
clara e, muitas vezes, é contraditória (RHOUMA et
foram
gênero
al., 2017). Além disso, a busca por compostos que
Salmonella em gansos, patos, pombos, frangos e
alteram a flora intestinal, como a colistina, é
suínos na China, mas poucas pesquisas foram
necessária a fim de preservar a efetividade desse
realizadas (CHEN et al., 2018). Em 2016, foi
antibiótico na Medicina Humana (RHOUMA et al.,
documentado
2016).
encontrados
o
em
bactérias
primeiro
caso
do
brasileiro
do
isolamento de E. coli positiva para o gene mcr-1 de um paciente humano diabético com uma úlcera
CONCLUSÕES
infeccionada no pé. Após diferentes tratamentos
O uso do sulfato de colistina como promotor de
com antimicrobianos ao longo de mais de um mês e
crescimento ou o seu uso terapêutico indiscriminado
sem
a
sem diagnóstico deve ser evitado, de modo que a
necrose
transferência da resistência bacteriana seja reduzida.
nenhum
amputação
do
benefício,
o
membro
paciente devido
à
sofreu
(FERNANDES et al., 2016b).
Ainda, é necessário que os dados sobre o uso da colistina e de antimicrobianos em geral sejam
Apesar de todo o progresso na suinocultura
detalhadamente registrados. Isso é importante para
moderna, a diarreia pós-desmame segue como um
que haja uma vigilância mais consistente e mais
dos problemas com maiores perdas econômicas na
estudos possam ser realizados, utilizando informa-
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informações
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sobre
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