Nutritime Revista Eletrônica n.01 vol.17

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Revista Eletrônica

© 2020 Nutritime Revista Eletrônica

Nutritime Revista Eletrônica www.nutritime.com.br Praça do Rosário, 01 Sala 302 - Centro - Viçosa, MG - Cep: 36.570-000 A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda, com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos e também resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br.

Editora Responsável: Juliana Maria Freitas Teixeira

Editora Técnica: Rosana Coelho de Alvarenga e Melo

Júlio Maria Ribeiro Pupa George Henrique Kling de Moraes Marcelo Diniz dos Santos Marcos Antonio Delmondes Bomfim Maria Izabel Vieira de Almeida Patricia Pinheiro de Campos Fonseca Rodrigues Rony Antonio Ferreira Rosana Coelho de Alvarenga e Melo

Conselho Científico: Evandro de Castro Melo Fernando Queiróz de Almeida José Luiz Domingues

É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo da NRE da em qualquer meio de comunicação, seja eletrônico ou impresso, sem a sua devida citação.

Editor Científico: Júlio Maria Ribeiro Pupa


Sumário ARTIGOS 506 - Potencial antimicrobiano de óleos essenciais: uma revisão de literatura de 2005 a 2018 ................. 8623 Jhenyfer Caroliny De Almeida, Priscilla Prates De Almeida, Sandra Regina Marcolino Gherardi 507 - Efeitos das altas temperaturas no desempenho produtivo e reprodutivo de fêmeas suínas ............ 8634 Jessica Mansur Siqueira Furtado 508 - Quanto custa o estresse por calor na produção de aves e suínos? ............................................................ 8647 Alexandre Vinhas de Souza, Thais Oliveira Silva, Matheus Terra Abreu, Nelson Fijamo Mesquita, Rony Antonio Ferreira 509 - Impacto, prevalência e etiologia da mastite bovina causada por Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae.........................................................................................................................................................................8654 Alan Andrade Mesquita, Fagton de Mattos Negrão, Maria Helena Ferrari, Lucien Bissi da Freiria, Tulio Otávio Jardim Almeida Lins


Potencial antimicrobiano de óleos essenciais: uma revisão de literatura de 2005 a 2018 Óleos essenciais, produtos naturais, atividades

Revista Eletrônica

antimicrobianas.

Jhenyfer Caroliny De Almeida Priscilla Prates De Almeida

1*

2

Sandra Regina Marcolino Gherardi

Vol. 17, Nº 01, jan/fev de 2020 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

3

1

Graduanda do curso superior de Tecnologia em Alimentos do Instituto Federal Goiano, Campus Urutaí.* E-mail: jhenyfer.caroliny@outlook.com. 2 Docente do curso superior de Tecnologia em Alimentos do Instituto Federal Goiano, Campus Urutaí. 3 Docente do curso superior de Tecnologia em Alimentos do Instituto Federal Goiano, Campus Urutaí.

RESUMO Cada

vez

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

ANTIMICROBIAL POTENTIAL OF ESSENTIAL mais,

os

consumidores

têm

dado

OILS: A LITERATURE REVIEW FROM 2005 TO

preferência aos alimentos seguros, prontos para o

2018

consumo

ABSTRACT

(minimamente

processados)

e

que

provoquem pouco ou nenhum impacto à saúde e ao

Increasingly, consumers have given preference to

meio ambiente. Nesta perspectiva, o mercado de

safe, ready-to-eat (minimally processed) foods that

produtos naturais, como os óleos essenciais, com

have little or

potencial de aplicação na conservação de alimentos,

environment. In this perspective, the market for

tem ganhado força frente aos adeptos dos aditivos

natural products, such as essential oils, with potential

químicos sintéticos. As propriedades dos óleos

for application in food preservation, has gained

essenciais, como as antimicrobianas e antioxidantes,

strength against the adepts of synthetic chemical

aumentam as possibilidades de aplicação desses

additives. The properties of essential oils, such as

compostos

antimicrobials

em

embalagens

ativas,

alimentos,

no impact on health and the

and

antioxidants,

increase

the

inseticidas e produtos de higiene. Diante disso, o

possibilities of applying these compounds in active

objetivo deste artigo foi promover uma revisão de

packaging, food, insecticides and hygiene products.

literatura sobre as principais aplicações de óleos

Therefore, the objective of this article was to promote

essenciais como agentes antimicrobianos, através da

a literature review on the main applications of

pesquisa

e

essential oils as antimicrobial agents, through the

internacionais, publicados entre os anos de 2005 e

research of national and international scientific

2018.

articles published between the years 2005 and 2018.

Palavras-chave: óleos essenciais, produtos

Keyword: essencial oils, natural products,

naturais, atividades antimicrobianas.

antimicrobial activities.

.

8623

de

artigos

científicos

nacionais


Artigo 506 - Potencial antimicrobiano de óleos essencias: uma revisão de literatura de 2005 a 2018

INTRODUÇÃO

Com sua vasta biodiversidade, até 2009 o Brasil

O uso de fontes naturais renováveis, como agente

ocupava uma posição de destaque na exportação do

antimicrobiano,

de

d-limoneno, um dos principais constituintes de óleos

indústrias alimentícias, tem se destacado frente aos

a

exemplo

dos

resíduos

essenciais do gênero citrus. Em 2013, juntamente

aditivos químicos, e recebido o suporte de políticas

com a Índia, China e Indonésia, o país se tornou

de preservação ambiental. Além disso, é observado

um dos quatro maiores exportadores de óleos

crescente interesse dos consumidores sobre os

essenciais do mundo, principalmente de citros,

processos de obtenção das matérias-primas dos

como a laranja e o limão, subprodutos das

produtos que consomem; provavelmente motivados

indústrias de sucos (BIZZO; HOVELL; REZENDE,

pelo conhecimento das consequências da ingestão

2009; BIZZO, 2013).

de alimentos que causam danos à saúde. Nesta perspectiva, há uma excelente oportunidade para o

Diante disso, o objetivo do presente trabalho foi

desenvolvimento de processos sustentáveis de

elaborar uma revisão de literatura sobre as principais

exploração de produtos naturais, como os óleos

aplicações dos óleos essenciais como agentes

essenciais (BIZZO; HOVELL; REZENDE, 2009;

antimicrobianos, por meio da reunião de informações

SILVA et al, 2016).

coletadas

em

artigos

científicos

nacionais

e

internacionais, publicados entre os anos de 2005 a Os

óleos

essenciais

são

compostos

líquidos,

2018.

complexos, bioativos, voláteis, com odor e cor característicos, formados a partir de metabólitos

ÓLEOS ESSENCIAIS

secundários de plantas, presentes em todos os

Na natureza, os óleos essenciais têm a função de

órgãos desta, como brotos, flores, folhas, caules,

proteger a planta contra ataques de predadores,

galhos, sementes, frutas e cascas. Eles são

como insetos e microrganismos, além de atrair

formados principalmente por classes de ésteres de

polinizadores para dispersão de pólens e sementes.

ácidos graxos, mono e sesquiterpenos, terpenos,

Seus constituintes lhes conferem características de

fenilpropanonas e álcoois aldeidados. Há mais de

aroma,

seis mil anos suas propriedades medicinais já eram

armazenados em células secretoras, epidérmicas,

conhecidas pelos egípcios, mas somente a partir da

cavidades, canais ou tricomas glandulares presentes

Idade

suas

em todos os órgãos das plantas. Juntamente com os

propriedades antimicrobianas, os óleos essenciais

extratos, os óleos essenciais se enquadram como

passaram a ser extraídos e comercializados pelos

aromatizantes naturais permitidos para aplicação em

Árabes,

alimentos,

Média,

que

com

teriam

a

descoberta

sido

os

de

primeiros

a

cor

e

funções

obtidos

por

antissépticas

e

métodos

são

físicos,

desenvolverem métodos como o arraste a vapor e a

microbiológicos ou enzimáticos (BRASIL, 2007;

hidrodestilação, para obtenção destes compostos

BAKALLI et al., 2008).

(SANTOS et al., 2004; BAKALLI et al., 2008; LAVABRE, 2011).

Até 2009, as pesquisas relacionadas à qualidade dos produtos alimentícios estavam voltadas para buscas

Existem diversos métodos de extração de óleos

alternativas aos produtos e/ou aditivos químicos

essenciais, como a hidrodestilação, destilação a

utilizados,

vapor, extração por solventes orgânicos, extração

ambiental. Devido às propriedades antimicrobianas

com fluido supercrítico e outros. Além de serem

que certos compostos naturais possuem, como os

utilizados na fabricação de perfumes, devido às suas

óleos essenciais, estes estão sendo amplamente

propriedades

essenciais

estudados e explorados pelas indústrias alimentícias,

também podem ser aplicados em embalagens, na

no desenvolvimento de embalagens ativas para

extensão da vida útil de alimentos e na produção de

extensão da vida útil de alimentos (PELISSARI et al.,

fármacos, como sedativos, analgésicos, anestésicos

2009; BODINI, 2011; NEGI, 2012; TAVARES et al.,

locais e anti-inflamatórios (BAKALLI et al., 2008;

2014), na redução de incidência de doenças em

SILVEIRA et al., 2012).

plantas no pós-colheita (CRUZ et al., 2010), na indús-

aromáticas,

os

óleos

bem

como

à

redução

do

impacto

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.01, p.8623-8633, jan/fev, 2020. ISSN: 1983-9006

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Artigo 506 - Potencial antimicrobiano de óleos essencias: uma revisão de literatura de 2005 a 2018

tria farmacêutica, contribuindo nas pesquisas de

de

pseudocaryophyllus

(pimenta

gomes),

tratamento para doenças infecciosas (PRUDENTE &

procedentes de Campos do Jordão e de 1,9% (p/v),

MOURA, 2013), além do setor de higiene, no

quando procedente de Itaquaquecetuba. Em seu

desenvolvimento de desinfetantes e sanitizantes

trabalho, Silva et al. (2015), atingiram rendimento de

(BERALDO et al., 2013; PEREIRA et al., 2014;

extração de 0,54% para folhas frescas de Nectandra

ROCHA et al., 2014).

grandiflora Nees (canela-amarela), enquanto nas folhas secas o rendimento médio correspondente foi

Os óleos essenciais podem ser extraídos via

de 0,51%.

métodos de hidrodestilação, destilação a vapor, extração por solventes orgânicos, extração por fluido

Deschamps et al. (2008), encontraram variabilidade

supercrítico e prensagem a frio. Há diversas

no rendimento do óleo essencial de espécies de

variáveis que interferem no rendimento de extração,

Mentha por meio da avaliação sazonal, sendo o

sendo alguns deles a escolha da planta, sua

maior valor médio obtido no verão (0,348%), quando

composição, o horário da colheita, a temperatura e o

comparado ao inverno (0,177%). O horário também

método de extração, além da interação entre o

afetou significativamente o rendimento de extração

solvente e o óleo essencial (RÍOS & RECIO, 2005;

do óleo essencial de Cymbopogon citratus (capim-

YUSOFF, 2011; BARROS, 2014).

limão), segundo o estudo realizado por Santos et al. (2009), com melhores resultados obtidos no período

Santos et al. (2005), obtiveram rendimentos de

matutino.

extração de 5,45% via hidrodestilação e 7,93% (p/p) na extração supercrítica de amostras de Citrus

Quanto ao tempo de extração para a hidrodestilação,

latifólia tanaka (limão taiti). Estevam et al. (2016),

estudos

obtiveram

via

revelaram que o rendimento do óleo essencial de

hidrodestilação da ordem de 0,8% e 0,5% para

Campomanesia adamantium (guavira) se manteve

amostras de folhas frescas de Citrus latifólia tanaka

constante após 2 horas, enquanto que para Costa,

e

(limão-cravo),

Carvalho Filho & Deschamps (2013) não houve

respectivamente. Millezi et al. (2013), alcançaram

variação no rendimento do óleo essencial de

rendimentos de extração de 1,24%, 1,48% e 1,85%

Pogostemoncablinno (patchouli) após 1 hora de

(v/p) para Cymbopogon nadus (citronela), Satureja

extração, porém em ambas as pesquisas seus

montana

constituintes químicos variaram segundo os tempos

rendimentos

Citrus

limonia

limonia

de

extração

osbeck

(segurelha-das-montanhas) osbeck,

respectivamente,

e

Citrus

utilizando

a

realizados

por

Oliveira

et

al.

(2017)

testados.

hidrodestilação como método de extração. Percebe-se que o rendimento de um óleo essencial Silva

et

al.

(2014),

observaram

melhores

varia de acordo com diversos fatores, sendo que a

rendimentos de extração para Syzygium aromaticum

época

(cravo-da-Índia) através do método de arraste a

significativa no rendimento, para o mesmo vegetal. O

vapor, quando comparados ao Eucalyptus globulus

método de extração e o tipo de amostra vegetal

Labill (eucalipto), Citrus aurantifolia (lima) e Zingiber

podem influenciar diretamente no rendimento de

officinale (gengibre), com valores de 15,93 μL/g,

extração, porém o tempo de extração parece não

0,53 μL/g, 0,27 μL/g e 0,13 μL/g, respectivamente.

expressar como um fator crítico de variação.

Barros,

Assis

rendimentos

e

Mendes

de

extração

(2014) de

0,26%

via

orgânico e de 0,43% utilizando fluido supercrítico, a de folhas secas

pode

ocasionar

variabilidade

obtiveram

hidrodestilação, 2,39% para extração com solvente partir

sazonal

de Ocimum basilicum

ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE ÓLEOS ESSENCIAIS Os alimentos podem veicular doenças por meio de microrganismos prejuízos

(manjericão-de-folha-larga).

patogênicos,

financeiros

para

além as

de

indústrias

causar pelos

microrganismos deteriorantes (BRASIL, 2004; PIRES o

& PICCOLI, 2012). Tais fatores, juntamente com a

rendimento de extração do óleo essencial obtido via

demanda dos consumidores por produtos naturais

hidrodestilação foi de 2,3% (p/v) para amostras secas

(SOARES et al., 2009) e resistência microbiana à

Para

8625

Yokomizoe

&

Nakaoka-Sakita

(2014),

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Artigo 506 - Potencial antimicrobiano de óleos essencias: uma revisão de literatura de 2005 a 2018

à drogas e químicos convencionais (ABAD et al.,

al. (2014), obtiveram atividade antimicrobiana do mix

2007),

de óleos

certamente

contribuíram

para

estudos

essenciais

de

Rosmarinus

officinalis

referentes à atividade antimicrobiana in vitro dos

(alecrim), Origanum vulgare e Capsicum (pimenta)

óleos essenciais.

frente a Staphylococcus spp., Aeromonas spp. e Escherichia coli.

A

sensibilidade

determinado

de

um

agente

microrganismo

pode

ser

a

avaliada

um pela

Castro & Lima (2011) antifúngica

observaram

dos

óleos

expressiva

determinação da concentração inibitória mínima

atividade

(CIM), que representa a menor quantidade do

Cinnamon zeylanicum (canela), Citrus aurantifolia e

essenciais

de

agente capaz de inibir o crescimento microbiano, via

Mentha piperita (pimenta-hortelã) frente às cepas de

técnicas como a diluição em placas ou microdiluição

Candida albicans e Candida tropicalis. Almeida et al.

em tubos (OLIVEIRA et al., 2009; CLSI, 2012).

(2011) também observaram atividade antifúngica dos

Segundo Menezes et al. (2009), os óleos essenciais

óleos essenciais de Ocimum basilicum, Cymbopogon

apresentam boa atividade antimicrobiana quando

martinii (palmarosa), Thymus vulgaris e Cinnamon

sua concentração mínima inibitória (CIM) é inferior a

umcassia frente a cepas de Candida albicans. Lima

100 mg/mL.

et al. (2016), observaram atividade antifúngica satisfatória para o controle de Alternaria alternata e

Ressalta-se a importância de se entender sobre o

Alternaria dauci, através do óleo essencial de Citrus

mecanismo

sinensi (laranja).

de

ação

dos

óleos

essenciais

(OLIVEIRA, 2012), dado que este é exercido pelas mutações morfológicas e funcionais da estrutura

Estevam

celular (BURT, 2004; RASOOLI & ABYANEH, 2004).

expressivos de atividade leishmanicida na aplicação

Sobre as bactérias, ocorre a degradação da parede

dos óleos essenciais de folhas frescas de Citrus

celular, que com o rompimento desta barreira

limonia e Citrus latfolia em Trypanosoma cruzi.

permeável,

Gomes et al. (2016), demonstraram o efeito larvicida

celulares,

são

comprometidas

incluindo

suas

regulação

funções

metabólica

e

manutenção do estado energético (NAZZARO et al.,

et al.

(2016),

alcançaram

resultados

do óleo essencial de Zingiber officinale frente ao mosquito Aedes aegypti.

2013). Para os fungos, os óleos essenciais podem afetar a barreira de proteção dos esporos ou agir

Embora

antes

atividades antivirais dos óleos essenciais, quando

da

sua

formação,

promovendo

o

haja

poucos

desenvolvimento anormal e/ou rompimento dos

comparados

às

tubos germinativos (DANTIGNY & NANGUY, 2009).

antifúngicas,

estudiosos

antiviral

óleos

dos

estudos

atividades

referentes

antibacterianas

observaram

essenciais

de

às e

atividade Rosmarinus

Freire et al. (2014), obtiveram bons resultados de

officinalis (alecrim) e Thymus vulgaris frente ao

ação antibacteriana frente a cepas de Streptococcus

Calicivírus Felino (FCV) em diferentes momentos da

mutans e Staphylococcus aureus, em seus estudos

infecção viral (KUBIÇA et al., 2015).

com os óleos essenciais de Thymus vulgaris (tomilho) e de Cinnamon umcassia (canela-da-

Percebe-se a retratação da eficácia da atividade

China). Nos ensaios realizados por Millezi et al.

antimicrobiana de óleos essenciais frente a diversas

(2013), o óleo essencial de Citrus limolia osbeck

espécies de microrganismos. Os resultados ainda

apresentou

ao

demonstram que as atividades antimicrobianas

a

variam de acordo com o tipo de microrganismo e seu

Escherichia coli, o melhor resultado foi obtido pelo

nível de sensibilidade, o óleo essencial e a

óleo essencial de Satureja montana. Santurio et al.

concentração utilizada.

ação

antibacteriana

Staphylococcus aureus,

(2007),

alcançaram

frente

enquanto que para

expressivos

resultados

de

atividade antimicrobiana do óleo essencial de Origanum vulgare (orégano), seguido do Thymus vulgaris

(tomilho)

e

Cinnamomum

zeylanicum

(canela) frente á Salmonella enterica. Nascimento et

APLICAÇÃO EM EMBALAGENS E EM ALIMENTOS A embalagem tem como funções básicas armazenar e proteger o produto nela disposto, para preservar ao máximo a qualidade do mesmo e minimizar alterações

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Artigo 506 - Potencial antimicrobiano de óleos essencias: uma revisão de literatura de 2005 a 2018

químicas,

bioquímicas

e

microbiológicas

que

caryophyllus (cravo) na conservação de melão

promovem a sua deterioração. No entanto, as novas

minimamente

tecnologias desenvolvidas possibilitam funções além

autores, além de estender a vida de prateleira do

destas

conhecidas,

embalagem

e

o

como

produto,

a

processado.

interação

da

fruto,

denominadas

de

microbiológicas.

não

houve

Ainda

alterações

segundo sensoriais

os ou

embalagens ativas (MONTES, NETA & CRUZ, Estudos atuais demonstram que as nanoemulsões

2013).

encapsuladas de óleo essencial são adequadas para Através da demanda por produtos alimentícios

incorporação em formulações alimentares, para

minimamente processados, seguros e de qualidade,

prevenir e controlar o crescimento microbiano e

surgem as necessidades de mais estudos para

prolongar sua vida útil, como foi observado por

verificação da eficácia dos filmes e revestimentos

Moraes-Lovison et al. (2017), na elaboração de patê

comestíveis na extensão de vida útil de alimentos,

de frango nanoencapsulado com óleo essencial de

sendo uma inovação do conceito de embalagem

Origanum vulgare . Almeida (2017), observou

ativa biodegradável, vista como desenvolvimento

extensão de 7 dias (mínimo) na vida útil de pães de

sustentável (DURANGO, SOARES & ARTEAGA,

forma em

2011). Desta forma, estudiosos como Moraes et al.

adicionados de óleo essencial de Origanum vulgare

(2007),

microencapsulado.

puderam

verificar

boa

resistência

e

contato com

filmes

antimicrobianos

alongamento dos filmes de base celulósica com 7% de ácido ascórbico, além da eficácia na redução de

Apesar

dos

benefícios

relatados

por

diversos

fungos filamentosos e leveduras em manteiga.

estudos, Oliveira (2012), aponta a necessidade de estudos referentes à sua citotoxicidade, dado que,

Tavares et al. (2014), desenvolveram uma cobertura

em conjunto com ás alterações sensoriais, é um fator

comestível acrescida dos óleos essenciais de

limitante na aplicação direta destes compostos em

Rosmarinus officinalis e Origanum vulgare, sendo

alimentos.

que esta foi capaz de promover aumento na vida útil do

alimento,

sem

alterar

suas

características

sensoriais. Soares, Santiago-Silva & Silva (2008), observaram a eficiência do filme ativo incorporado do óleo essencial de Origanum vulgare na inibição do crescimento de Listeria innocua em queijo minas frescal. Embora Botre et al. (2010) não tenham encontrado resultados significativos de atividade antimicrobiana da cobertura comestível incorporada deste óleo essencial em pizzas prontas, discutiram as vantagens de sua utilização em detrimento do uso de embalagens sintéticas.

Lima

et

al.

(2014),

estudaram

e

confirmaram a toxicidade dos óleos essenciais de Illicum verum (estrela-de-anis), Ageratum conyzoides (mentrasto), Piper hispidinervum (pimenta longa) e Ocotea

odorífera

Schizaphis

(canela-sassafrás)

graminum.

Martins

et

al.

sobre (2017),

relataram elevado percentual de mortalidade dos óleos essenciais de Citrus limon (98,68%) e Citrus sinensis (94,11%) sobre Dysmicoccus brevipes. França et al. (2012), observaram que os óleos essenciais de Citrus limon e Cymbopogon nadus sobre Zabrotes subfasciatus, reduziram o número de

Espitia et al. (2012), observaram que o emprego de

insetos

sachês com óleos essenciais de Origanum vulgare,

respectivamente. Cansian et al. (2017), notaram

Cinnamomum

citratus,

elevada toxicidade do óleo essencial de Syzygium

alternata,

aromaticum frente á Artemia salina. Outros autores

Fusarium semitectum, Lasiodiplodia theobromae e

como Fazolin et al. (2005), Costa et al. (2008), Lima

Rhizopus stolonifer, como parte de um sistema de

et al. (2009), Silva et al. (2010), Lima et al. (2011),

embalagem

preservação

Campelo et al. (2013), Rosa et al. (2016), Souza et

mamão papaia, no qual não houve alterações físico-

al. (2016), Alves et al. (2017) e Gomes et al. (2018),

químicas. Chevalier et al. (2016), observaram

também retrataram a toxicidade dos óleos essenciais

elevada eficiência do emprego de revestimento

estudados.

comestível elaborado com óleo essencial de Dianthus

OUTRAS APLICAÇÕES

mostrou-se

8627

verum

eficaz

e

Cymbopogon

contra

Alternaria

antimicrobiana

para

emergidos

em

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.01, p.8623-8633, jan/fev, 2020. ISSN: 1983-9006

23,9%

e

95,9%,


Artigo 506 - Potencial antimicrobiano de óleos essencias: uma revisão de literatura de 2005 a 2018

A utilização dos óleos essenciais engloba várias

al. (2018), observaram que o uso do óleo essencial

áreas, possibilitando sua exploração em diversos

Origanum vulgare com prévio tratamento térmico foi

setores

capaz de reduzir significativamente (40,5%) o

e

tecnológico

favorecendo de

maneira

o

desenvolvimento

ecológica

através

da

Penicillium digitatum em laranjas.

utilização de resíduos. Machado et al. (2017), comentam que no setor agrícola a resistência

Além da redução de incidência de doenças em

microbiana

plantas, os óleos essenciais também podem ser

aos

fungicidas

convencionais

é

responsável por promover a busca por métodos

empregados

alternativos de controle. Segundo relatos científicos

desenvolvimento de desinfetantes (PEREIRA et al.,

no

setor

de

higiene,

para

o emprego de óleos essenciais como alternativa para

2014), na saúde, por apresentarem potencial uso

o manejo de doenças de plantas traz bons

para o auxílio do tratamento de infecções orais

resultados, reduzindo assim o uso abusivo de

(ALMEIDA et al., 2011) e formação de biofilme

defensivos agrícolas.

dentário (ALVES, FREIRES & CASTRO, 2010), no setor agroindustrial, para a formulação de inseticidas

Carnelossi et al. (2009) observaram o controle da

(MELLO et al., 2014) e biodiesel (ABDELMOEZ,

doença antracnose do mamão no pós-colheita,

ASHOUR & NAGUIB, 2015; PARENTE, 2003).

através da utilização dos óleos essenciais de Cymbopogon

citratus,

Eucalyptus

citriodora

CONCLUSÃO

(eucalipto-limão), Mentha arvensis (hotelã-japonesa)

A

eficácia

dos

e Artemisia dracunculu (estragão). Cruz et al. (2010)

microrganismos que causam adversidades à saúde

também controlaram a doença no pós-colheita de

humana

manga através do uso do óleo essencial de Citrus

agroindustriais foram e estão sendo comprovadas

sinensis, mantendo a qualidade dos frutos. Lima et

cientificamente. Por isso, se tornaram de interesse e

al. (2016) constataram a eficácia da utilização do

utilidade

óleo essencial de Citrus sinensis na redução de

cosméticas, sanitárias e agrícolas como alternativas

incidência de fungos em sementes de cenoura, sem

aos produtos químicos que, consequentemente,

afetar sua germinação.

impactam positivamente na preservação do meio

e

óleos

prejuízos

para

as

essenciais financeiros

indústrias

frente aos

aos

setores

farmacêuticas,

ambiente como utilização de fontes renováveis e As exigências nutricionais da fase inicial à puberda-

desenvolvimento sustentável.

de são estabelecidas objetivando proporcionar às fêmeas um adequado desenvolvimento de proteína e

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

deposição de gordura corporal e não o máximo

ABDELMOEZ, W., ASHOUR, E.; NAGUIB, S. M. A

ganho de peso que é alvo nos programas de

review on green trend for oil extraction using

nutrição para animais em crescimento e terminação

subcritical

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Efeitos das altas temperaturas no desempenho produtivo e reprodutivo de fêmeas suínas Revista Eletrônica

Desempenho, reprodução, calor, suínos.

Jessica Mansur Siqueira Furtado Vol. 17, Nº 01, jan/fev de 2020 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

1

1

Doutora em Zootecnia – Universidade Federal de Viçosa – UFV. E-mail: jessicasiq@gmail.com.

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO

EFFECTS OF HIGH TEMPERATURES ON THE

O estresse calórico exerce efeitos diretos e indiretos

PRODUCTIVE AND REPRODUCTIVE

na produção animal em todas as fases, acarretando

PERFORMANCE OF SOWS

em redução na produtividade com consequentes

ABSTRACT

prejuízos econômicos. O estresse por calor também

Heat stress has direct and indirect effects in all

tem influência negativa no desempenho reprodutivo

phases of animal production, with reduction of

destes animais. Dessa forma, torna-se indispensável

productivity with consequent economic losses. Heat

o

e

stress also has a negative influence on the

comportamentais das matrizes suínas submetidas ao

conhecimento

das

respostas

fisiológicas

reproductive performance of these animals. Thus, it

estresse calórico, para a adoção de estratégias

is essential to know the physiological and behavioral

nutricionais, de manejo e ambiência que sejam

responses of sows submitted to heat stress for the

capazes de minimizar os efeitos prejudiciais da

adoption of nutritional, management and ambience

temperatura ambiental elevada sobre o bem-estar e

strategies that are able to minimize the negative

a eficiência produtiva e reprodutiva das fêmeas

effects of high environmental temperature on the

suínas. A presente revisão destaca os efeitos das

animal welfare and the productive and reproductive

altas temperaturas no desempenho produtivo e

efficiency of sows. The present review highlights the

reprodutivo destes animais.

effects of high temperatures on the productive and

Palavras-chave: desempenho, reprodução, calor,

reproductive performance of these animals.

suínos.

Keyword: performance, reproduction, heat, swines.

8634


Artigo 507 - Efeitos das altas temperaturas no desempenho produtivo e reprodutivo de fêmeas suínas

INTRODUÇÃO

rante maior parte do ano. A exposição contínua de

Um dos grandes desafios da suinocultura está

fêmeas suínas a este tipo de ambiente térmico pode

relacionado à exploração do máximo potencial

afetar a produção de leite durante o período de

genético do animal, tanto no aspecto produtivo

lactação na maternidade, e o comportamento estral,

quanto reprodutivo. A busca da máxima eficiência,

que ocasionam redução na taxa de concepção e

durante

aumento da mortalidade embrionária (RENAUDEAU

muitos

anos,

esteve

voltada

para

o

atendimento das necessidades de sanidade, manejo

et al., 2003).

e nutrição. Porém, os avanços obtidos nestas áreas têm

sido

limitados

pelos

fatores

ambientais,

HOMEOTERMIA

E

REGULAÇÃO

DA

principalmente pelo ambiente térmico no qual os

TEMPERATURA CORPORAL

animais são submetidos.

Os animais homeotérmicos mantêm a temperatura corporal dentro de certos limites relativamente

Fatores ambientais externos e o microclima dentro

estreitos, mesmo com a variação da temperatura

das instalações exercem efeitos diretos e indiretos

ambiental.

na produção animal em todas as fases de produção,

manterem a temperatura corporal relativamente

acarretando

constante, eles necessitam, através de variações

redução

na

produtividade

com

Para

os

animais

homeotérmicos

consequentes prejuízos econômicos. As instalações

fisiológicas,

zootécnicas devem ser projetadas para minimizar a

produzir calor (para aumentar a temperatura corporal

influência

externos,

quando a temperatura diminui) ou perder calor para

principalmente da temperatura ambiente, que leva ao

o meio (diminuir a temperatura corporal no estresse

desconforto térmico. As variações ambientais podem

calórico).

ser

dos

fatores

controladas

por

climáticos

diferentes

materiais

comportamentais

e

metabólicas,

de

construção, dimensionamento dos espaços físicos

O estado em que o animal encontra o equilíbrio, ou

disponíveis, densidade e sistemas de ventilação e

seja, em que não há nenhuma sensação de frio ou

refrigeração. É importante também, o conhecimento

de calor, chama-se de zona de conforto térmico ou

das

dos

zona termoneutra. Quando a temperatura ambiente

animais relacionados ao ambiente térmico que nos

ultrapassa o limite superior da zona de conforto, o

permite a tomada de medidas e alterações no

sistema termorregulador é ativado para manter o

manejo e da nutrição, além das instalações e

equilíbrio térmico entre o animal e o ambiente, o que

equipamentos, objetivando a maior eficiência da

representa um esforço extra e, consequentemente,

atividade.

mudanças na produtividade. Além do mais, suínos

respostas

ou

adaptações

fisiológicas

mantidos em ambientes termoneutros tendem a As principais companhias produtoras de genética

expressar seu potencial genético máximo. No

suína

de

entanto, quando expostos ao estresse térmico, o

programas de melhoramento genético desenvolvidos

consumo de ração, ganho de peso e a eficiência

na América do Norte e na Europa, geralmente sob

alimentar são reduzidos.

disponibilizam

animais

provenientes

condições de climas temperado e subtropical, com controle

otimizado

do

ambiente

térmico,

sem

propiciar uma resposta clara da adaptação desses animais ao clima tropical. Diante das dificuldades de aclimatação destes animais nos trópicos, a busca imediata de alternativas que viabilizem a criação permitindo a expressão do potencial genético e o bem-estar dos animais, torna-se imprescindíveis para estas regiões. O Brasil apresenta uma enorme área territorial e clima diversificado entre as regiões. Em grande parte do país, observa-se temperatura do ar elevada associada à umidade relativa do ar também alta du8635

Os animais homeotérmicos, em função da raça, nível de produção, estádio fisiológico e plano nutricional, apresentam uma faixa de temperatura ambiente na qual se encontram em conforto térmico, denominada zona de termoneutralidade. Na zona de termoneutralidade, o sistema termorregulador não é acionado, seja para capturar ou dissipar calor. Assim, o gasto de energia para manutenção é mínimo, resultando em máxima eficiência produtiva. Os limites da zona de termoneutralidade são: a temperatura crítica inferior (TCI) e a temperatura crítica superior (TCS). Abaixo da TCI, o animal entra em estresse pelo frio, e acima da TCS, em estresse pelo calor.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.01, p.8634-8646, jan/fev, 2020. ISSN: 1983-9006


Artigo 507 - Efeitos das altas temperaturas no desempenho produtivo e reprodutivo de fêmeas suínas

O suíno adulto é um animal que tem dificuldade em

Quando

perder calor para o ambiente, sendo então, muito

circulatórios

sensível às temperaturas elevadas (CAVALCANTI,

periférica, elevando a temperatura da pele e dessa

1998). Nessa espécie, as perdas de calor se dão por

forma, favorecendo a perda de calor de forma

meios sensíveis de condução, radiação e convecção

sensível para o meio ambiente (BARROS et al.,

e por meio latente de evaporação da água, que pode

2010). Com essa vasodilatação periférica, ocorre a

ocorrer pelo sistema respiratório (DESHAZER et al.,

diminuição de fluxo de fluidos e nutrientes para as

2009). Os mecanismos regulatórios são acionados

glândulas mamárias, desta forma, os nutrientes

de acordo com a temperatura ambiente.

carreados não são suficientes para promover a

expostos

ao

que

calor,

ocorre

promovem

a

ajustes

vasodilatação

síntese normal do leite (BLACK et al., 1993). A perda de calor pela respiração é determinada pela diferença da pressão de vapor e da temperatura do ar expirado e inspirado (DESHAZER et al., 2009). Quando altas temperaturas estão associadas à umidade elevada, ocorre limitação nos mecanismos termorreguladores

evaporativos

Assim,

latente

a

forma

de

(NÄÄS, perda

2000).

de

calor

(evaporação), é inversamente proporcional ao teor de umidade, ou seja, quanto maior esta variável, mais comprometida estará a perda de calor por evaporação (SANTOS et al., 2006).

os principais elementos climáticos responsáveis pelo incremento calórico à temperatura corporal dos animais (SHORODE et al., 1960). Quando o animal não consegue dissipar o calor excedente por meio de mecanismos sensíveis e latentes, a temperatura retal é elevada acima dos valores fisiológicos normais, demonstrando que o suíno está sob condições de estresse, que é um dos fatores responsáveis pela baixa produtividade animal nos trópicos (SANTOS et al., 2006).

fêmeas

suínas

respondem

imediatamente ao estresse por calor aumentando a temperatura retal, da pele e das glândulas mamárias, além de aumentar a frequência respiratória a fim de tentar aumentar a perda de calor por evaporação (RENAUDEAU

et

al.,

2001).

fluxo

de

sangue

nas

glândulas

mamárias, Renaudeau et al. (2003) observaram uma menor circulação sanguínea para a produção de 1kg de leite nas fêmeas suínas submetidas a altas temperaturas (28 °C) do que naquelas submetidas a temperaturas mais amenas (20 °C). Estes resultados demonstraram que há um aumento do sangue circulante nos capilares da região para dissipar o calor,

e,

como

o

sangue

está

diretamente

relacionado com a secreção láctea, este pode ser leite em matrizes suínas. Segundo Quiniou & Noblet (1999), a perda de calor por evaporação em suínos criados em baias individuais

depende

unicamente

da

frequência

respiratória, devido ao fato desses animais não terem como chafurdarem e, portanto, estarem geralmente com a pele muito seca. Sainbury (1972) cita que em animais criados em grupo em ambientes com

temperatura

dentro

da

zona

de

termoneutralidade, 15% das perdas de calor dos suínos são por meio de condução, 40% por radiação,

Um estudo desenvolvido em câmara climática que

o

um possível mecanismo de redução na produção de

A temperatura do ar e a umidade são consideradas

mostrou

Avaliando

Porém,

segundo

SPENCER et al. (2003), quando os animais são expostos ao calor por um período de tempo prolongado, estes apresentam ajustes fisiológicos

35% por convecção e 10% por evaporação. Quando a temperatura ambiental está acima de 30 °C predominam as perdas por processos evaporativos (SORESEN, 1964). Outro fator a ser considerado diz respeito às alterações comportamentais das matrizes, sendo comum observar uma menor frequência e intervalo entre amamentações diárias em matrizes mantidas sob estresse calórico, o que se reflete sobre a produção de leite (RENAUDEAU & NOBLET, 2001).

sugestivos de um processo de aclimatação.

Uma modificação na postura das matrizes que À medida que a temperatura ambiente aumenta o

permanecem mais tempo deitadas (min/dia), permite

suíno de forma geral, responde fisiologicamente a

um aumento de 6% na circulação sanguínea das

essa

tetas (RENAUDEAU et al., 2002), podendo estar

mudança,

na

tentativa

de

manter

temperatura corporal dentro de uma faixa ótima.

sua

relacionada com a redistribuição de sangue para

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.01, p.8634-8646, jan/fev, 2020. ISSN: 1983-9006

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Artigo 507 - Efeitos das altas temperaturas no desempenho produtivo e reprodutivo de fêmeas suínas

os capilares da pele, no sentido de incrementar a

entre 18 e 21 °C e a umidade relativa, em torno de

transferência de calor para o meio ambiente através

50 a 70% (MOURA, 1999). Temperaturas acima

do processo de condução, dificultando a síntese de

dessa

leite (RENAUDEAU et al., 2003). Além do mais, a

reprodutivas e perdas econômicas na produção.

permanência por mais tempo nesta posição reduz a

Segundo

atividade do animal no comedouro, podendo este

temperatura máxima para porcas está em torno de

mecanismo ser utilizado para redução na produção

24 °C, enquanto a umidade relativa esteja entre 70 e

de leite em matrizes sob estresse calórico.

80%.

CONFORTO TÉRMICO DE MATRIZES SUÍNAS

EFEITOS

Por muito tempo, a máxima eficiência na produção

DESEMPENHO PRODUTIVO

animal

Nas duas últimas décadas, a seleção para alta

foi

buscada

no

atendimento

das

faixa

têm

NÄÄS

DO

sido

associadas

(2000),

ESTRESSE

intensificada

o

limite

POR

nos

a

falhas

crítico

CALOR

programas

de

NO

necessidades de manejo, genética, sanidade e

prolificidade,

de

nutrição. Porém, os avanços nessas áreas têm sido

melhoramento genético das empresas fornecedoras

limitados por fatores ambientais, principalmente pelo

de animais de reposição, induziu, indiretamente, o

ambiente térmico em que os animais são criados

incremento na produção de leite das matrizes suínas

(HANNAS, 1999).

(EISSEN et al., 2000). Todavia, em condições ambientais de termoneutralidade, a produção de leite

Para que se obtenha o conforto térmico dentro de

depende da interação dos fatores relacionados com

uma instalação, é necessário que o balanço térmico

a ordem de parição (EISSEN et al., 2000), estágio de

seja nulo. Neste sentido, o calor produzido pelo

lactação, tamanho de leitegada, nutrição e status

organismo animal somado ao calor ganho do

metabólico da fêmea (KIM et al., 2001) e peso

ambiente deve ser igual ao calor perdido por meio

corporal dos leitões (KING et al., 1997).

de radiação, convecção, condução e evaporação (ESMAY, 1982). Segundo Brown-Brandl et al. (2001), suínos com alta deposição de proteína produzem um calor adicional, que aumenta a dificuldade para a manutenção da homeotermia em ambientes com temperatura do ar elevada. Essa dificuldade faz com que as novas linhagens sejam mais susceptíveis ao estresse por calor.

Nas últimas décadas, a porcentagem de

produção de calor nos suínos se elevou em torno de 15%, devido ao aumento da quantidade de carne magra nas novas linhagens. A zona de conforto térmico dos suínos depende de vários fatores (NUNES, 2012). Alguns estão ligados ao animal, como peso, idade, estado fisiológico, alimentação e genética. Outros estão ligados ao ambiente, como a temperatura, velocidade do ar, umidade relativa, energia radiante, tipo de piso, entre outros. Devido a esses diversos fatores, existem grandes diferenças na literatura em relação às faixas de temperaturas ideais e os limites de temperatura crítica inferior e superior para as diferentes categorias de suínos (HANNAS, 1999). A zona de conforto térmico para porcas se encontra 8637

O consumo de ração pelas porcas durante o período de lactação pode ser insuficiente para satisfazer as exigências para a produção de leite. Além disso, diversos fatores ambientais podem reduzir esse consumo (GOURDINE et al., 2006). Em regiões tropicais, a temperatura pode ser o principal fator ambiental envolvido na redução do consumo (QUINIOU & NOBLET, 1999). Essa redução ocorre frequentemente, quando a temperatura ambiental excede a zona de termoneutralidade, a qual pode variar entre 15 e 20°C (BLACK et al., 1993; DE BRAGANÇA, et al., 1998). Assim, as porcas no verão quase sempre se encontram estressadas pelo calor, havendo, portanto, redução no consumo da dieta. Segundo Renaudeau et al. (2001), esse ajuste no consumo ocorre como tentativa de o organismo reduzir a produção de calor proveniente do seu metabolismo. Renaudeau & Noblet (2001) observaram que quando fêmeas suínas foram mantidas em ambientes com temperatura elevada (29 °C), houve um declínio de até 30% na produção de leite, em relação àquelas criadas sob condições de conforto térmico (20 °C). A queda na produção de leite foi associada ao menor consumo alimentar das matrizes (RENAUDEAU et al., 2003).

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Artigo 507 - Efeitos das altas temperaturas no desempenho produtivo e reprodutivo de fêmeas suínas

Além da seleção genética, altas temperaturas é um

Neste sentido, pelo fato de disponibilizarem menos

dos fatores que influenciam o consumo voluntário de

gordura

ração de porcas em lactação (O’GRADY et al.,

particularmente preocupante para as fêmeas de

1985). No verão, matrizes em período de lactação

genótipos desenvolvidos para o crescimento de

são frequentemente expostas a altas temperaturas e

tecidos magros, que se utiliza de tecidos proteicos

com isso, ocorre uma redução no consumo de ração

corporais para atender a intensa produção de leite,

(BLACK et al., 1993; QUINIOU & NOBLET, 1999).

principalmente após atingir o pico de lactação

corporal,

a

perda

de

tecidos

é

(MARTINS, 2004). Experimentos desenvolvidos em câmaras climáticas revelaram

que

respondem

Em relação à espessura de toucinho, observa-se que

imediatamente ao estresse por calor através da

a perda durante a lactação é mais acentuada em

redução

do

matrizes

consumo

suínas

e

matrizes expostas a altas temperaturas, sendo

consequentemente redução da ingestão de energia,

voluntário

de

ração

detectados valores de 1,9 mm (DE BRAGANÇA et

sendo observada uma queda de até 35% do

al., 1999) a 2,2 mm (SPENCER et al., 2003) a

consumo quando a temperatura ambiente aumentou

menos ao desmame, em relação àquelas fêmeas

de 20 para 32 °C (BARB et al., 1991). Dessa mesma

mantidas sob conforto térmico.

forma, DE BRAGANÇA et al. (1998) observaram em porcas primíparas em lactação uma redução de 43%

Porcas

do consumo voluntário de ração quando submetidas

alimentadas à vontade apresentam um padrão de

em

condições

de

termonutralidade

a 30 °C em relação àquelas mantidas sob 20 °C de

procura de alimento bem característico, com dois

temperatura ambiente.

picos principais ocorrendo um pela manhã e outro no final da tarde (DOURMAD, 1993). Sob calor intenso

Apesar das fêmeas primíparas serem mais sensíveis

e constante, a redução no consumo alimentar foi

ao estresse térmico por já apresentarem um

associada com alterações comportamentais, sendo

reduzido consumo alimentar voluntário (MARTINS et

observada

al., 2006), os efeitos negativos sobre esta variável

refeições diárias (min/dia) e no tempo de ingestão

também são observados em fêmeas multíparas,

(min/dia),

sendo

12,11

realizadas no período noturno, quando as fêmeas

(RENAUDEAU et al., 2001) e 12,69 kcal de energia

ficam menos ativas. Independente do período do dia

digestível por dia (QUINIOU & NOBLET, 1999)

foi observado uma maior relação entre o consumo de

quando a temperatura ambiental excede aos 18 °C.

água:

encontradas

reduções

de

uma

diminuição

principalmente

alimento

(L/dia)

proporcionalmente

tamanho

durante

e

menor

no

as

uma das

das

refeições

permanência matrizes

em

Nas regiões mais quentes, como nos trópicos, é de

atividades em pé (min/dia) em matrizes (QUINIOU et

se esperar que as fêmeas já estejam mais

al., 2000b).

adaptadas às oscilações da temperatura ambiente e concentrem suas atividades de ingestão alimentar

Porém,

nas horas mais frias do dia (MARTINS et al., 2006),

temperatura ambiente, as matrizes ajustam seu

não havendo um declínio tão brusco no consumo

metabolismo, de modo a concentrar suas atividades

alimentar conforme visto nos experimentos citados

ingestivas

acima.

principalmente no início da manhã, minimizando os

quando

nos

uma

horários

oscilação

mais

diária

frios

do

na

dia,

efeitos deletérios da alta temperatura ambiental e do Os efeitos negativos do estresse calórico sobre o

incremento calórico corporal sobre o consumo

consumo

alimentar (RENAUDEAU et al., 2003).

alimentar

voluntário

se

refletem

em

alterações da condição corporal da matriz, sendo comum observar uma maior perda de peso corporal

Considerando que as fêmeas jovens de primeiro e

(DE BRAGANÇA et al., 1998; QUINIOU & NOBLET,

segundo parto ainda estão sujeitas a uma alta taxa

1999; RENAUDEAU et al., 2001) em relação

de

àquelas matrizes mantidas em ambientes com tem-

ambiental

peraturas mais próximas de sua zona de conforto.

consideravelmente, o desempenho reprodutivo destas

crescimento,

a

durante

elevação a

da

lactação,

temperatura limitará,

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.01, p.8634-8646, jan/fev, 2020. ISSN: 1983-9006

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Artigo 507 - Efeitos das altas temperaturas no desempenho produtivo e reprodutivo de fêmeas suínas

fêmeas, e isto resultará em uma baixa produtividade

síntese, absorção e metabolismo dos principais

com uma elevada taxa de descarte (PRUNIER et al.,

substratos (glicose, triglicerídeos, ácidos graxos

1997).

voláteis, aminoácidos e lactato) usados para a

Assim, o consumo adequado de nutrientes durante a lactação é fundamental para a síntese do leite e a manutenção do potencial reprodutivo subsequente das porcas (SPENCER et al., 2003). Já a ingestão insuficiente

de

nutrientes

mobilização

de

diferentes

aumentando

o

intervalo

pode

resultar

tecidos

síntese do leite, em consequência do baixo consumo alimentar e da mobilização de tecidos corporais, e dos quais dependerá necessariamente o grau de variação dos principais constituintes lácteos.

na

Com relação à taxa de mortalidade dos leitões,

corporais,

Martins (2004) observou aumento de cerca de 10%

desmame/cio

e,

na morte de leitões por esmagamento nos horários

consequentemente, os dias não produtivos das

de pico de temperatura elevada. Isso se deve ao fato

porcas.

de

Podem ser observados também efeitos negativos das altas temperaturas na produção de leite e ganho de peso dos leitões. Uma redução do crescimento médio dos leitões em amamentação foi verificada quando as porcas foram mantidas em maternidades com temperatura ambiental acima de 29 °C (DE BRAGANÇA et al., 1998; QUINIOU & NOBLET,

as

fêmeas

ficarem

inquietas

mudando

constantemente de posição e os leitões reduzirem o tempo de uso e frequência de acesso ao abrigo escamoteador, permanecendo em áreas de gaiolas mais próximas das matrizes quando a temperatura ambiente está mais elevada. Portanto, este deve ser um cuidado a ser tomado quando os animais forem submetidos a altas temperaturas na maternidade.

1999; RENAUDEAU et al., 2003). Como o ganho de

EFEITOS

peso dos leitões neste período é indicativo da

DESEMPENHO REPRODUTIVO

produção

altas

A base para o sucesso na criação dos animais de

temperaturas provocam diminuição da produção de

produção se fundamenta nos conhecimentos em

leite de porcas em lactação. Além disso, há um forte

reprodução, nutrição e sanidade. Para obtenção de

efeito indireto causado pela redução drástica do

lucro máximo, o ideal seria que todas as fêmeas e

consumo de ração, coincidindo com alterações

machos tivessem uma taxa reprodutiva de 100%,

fisiológicas na temperatura retal e na frequência

nenhuma mortalidade de leitões e sem nenhuma

respiratória (QUINIOU & NOBLET, 1999).

doença afetando o rebanho. As variações de

de

leite,

pode-se

inferir

que

Além da produção de leite, podem também ser observadas alterações na composição do leite. Ricalde & Lean (2000) encontraram redução no teor de gordura e aumento de cinzas e lactose do leite de porcas mantidas em condições de estresse por calor (27

a

40

°C)

quando

comparadas

DO

ESTRESSE

POR

CALOR

NO

temperatura ambiente é o principal fator externo responsável pela infertilidade em fêmeas suínas, representando

perdas

econômicas

durante

os

períodos mais quentes do ano (PELTONIEMI et al., 2000).

àquelas

Muitas vezes, os animais são alojados em situações

submetidas a temperaturas mais amenas. Em

que não propiciam um conforto térmico adequado e,

contrapartida, Prunier et al. (1997) não observaram

com isso, o potencial reprodutivo ou produtivo

alterações na gordura do leite de porcas que

desses animais não é expresso na totalidade.

permaneceram em temperaturas de 27 a 30 °C. De

Diminuição das taxas de fertilidade e aumento das

acordo com Renaudeau & Noblet (2001), não há

taxas de retornos ao cio e de abortos e, ainda,

efeitos diretos da temperatura ambiental sobre os

aumento da mortalidade embrionária são alguns dos

principais constituintes do leite, mas pode haver uma

efeitos negativos das altas temperaturas em matrizes

tendência de aumento nos teores de matéria seca,

em gestação.

cinzas e energia do leite em fêmeas suínas submetidas ao estresse por calor.

O estresse é uma resposta do animal às situações que

provocam

ansiedade,

medo

e

alterações

Os efeitos do estresse calórico sobre a composição

comportamentais,

do leite resultam das mudanças observadas na

fisiológicas e metabólicas. Em animais reprodutores,

8639

resultantes

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.01, p.8634-8646, jan/fev, 2020. ISSN: 1983-9006

de

perturbações


Artigo 507 - Efeitos das altas temperaturas no desempenho produtivo e reprodutivo de fêmeas suínas

tais alterações são muito evidentes quando a

2001), mas, uma menor proporção de matrizes

temperatura do ambiente se torna acima da

retornou ao estro, imediatamente, no pós-desmame

temperatura de conforto e sua resposta se traduz em

(PRUNIER et al., 1997; DE BRAGANÇA et al., 1998)

problemas patológicos e rendimentos sub-ótimos

aumentando, desta forma, os dias não produtivos do

que muitas vezes passam despercebidos em curto

plantel de reprodutores. O efeito calórico sobre o

prazo.

incremento no número de dias para atingir o estro pós-desmame é mais preocupante nas fêmeas

Os efeitos da temperatura ambiental na vida

primíparas, pelo fato das mesmas terem menos

reprodutiva dos suínos são mais evidentes do que

reservas de tecidos corporais, consequentemente,

seu efeito no ganho de peso, podendo afetar a

disponibilizando

reprodução em várias fases do ciclo reprodutivo

reestabelecimento

(MÜLLER et al., 1982). Estas fases incluem o

(SPENCER et al., 2003).

menos da

substratos atividade

para

o

reprodutiva

período desde o desenvolvimento da puberdade até a primeira concepção, tais como atraso no início do

Os abortamentos contribuem de forma negativa nos

período reprodutivo ou condição corporal deficiente

índices reprodutivos numa granja, pois com a perda

no início da vida reprodutiva. Além disso, estes

da prenhez, há uma diminuição da taxa de parto,

autores observaram também uma redução na taxa

consequentemente, reduzindo o número de leitões

de ovulação, diminuição da implantação de embriões

produzidos ao ano (MELLAGI et al., 2006).

no início da gestação, aumento da mortalidade embrionária, diminuição do comportamento sexual e

A Tabela 1 apresenta os efeitos da temperatura no

produção de leitegadas fracas ou inviáveis. Segundo

desempenho reprodutivo em matrizes.

Clark et al. (1981), alguns desses efeitos ocorrem diretamente

nos

órgãos

reprodutivos

ou

via

concentração de hormônios, agindo no ciclo estral, no comportamento sexual, na gestação, parto,

Tabela 1 – Efeito da temperatura no desempenho reprodutivo em matrizes suínas 26 – 27

30

33

°C

°C

°C

Número de matrizes

74

80

80

Matrizes em estro

74

78

73

Matrizes em anestro

0

2

7

Número de retorno ao

2

8

8

67

67

62

90

85

78

Item

lactação e intervalo desmame-estro. Dentre as falhas reprodutivas mais observadas em uma granja, está o retorno ao estro, a pseudogestação e abortamento (de origem infecciosa ou não infecciosa). Essas falhas reprodutivas, além de contribuírem com o aumento dos dias não produtivos de um plantel, também contribuem negativamente com o aumento da taxa de descarte das mesmas

estro Número

de

matrizes

concebidas Taxa de concepção (%)

(FILHA et al., 2006).

Fonte:

O retorno ao estro é um dos grandes desafios na suinocultura e deve ser diagnosticado o quanto antes para evitar grandes prejuízos econômicos. Em cada cio que não há fertilização, são contabilizados dias não produtivos. Este problema possui diversas causas, o que requer uma análise completa da situação das reprodutoras, para assim, identificar corretamente o problema.

Adaptado Serres (1992).

No período de calor, algumas fêmeas apresentam dificuldades em eliminar calor corporal, gerando quadros de hipertermia (BRANDT et al., 1995), o que pode comprometer o desempenho reprodutivo das matrizes. A condição mais crítica ocorre quando o estresse por calor acontece no dia da cobertura ou nos primeiros dias de gestação, ocasionando maior taxa de retorno ao cio, menos taxa de parto, bem

Em alguns estudos desenvolvidos em ambiente com

como menor tamanho da leitegada (WENTS et al.,

temperatura

foi

2001), devido ao comprometimento da sobrevivência

percebida alteração no intervalo desmame-estro

dos conceptos (OMTVEDT et al., 1971). Porém, o

(SCHOENHERR et al., 1989; RENAUDEAU et al.,

efeito das temperaturas ambientais altas sobre a so-

elevada

artificialmente,

não

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Artigo 507 - Efeitos das altas temperaturas no desempenho produtivo e reprodutivo de fêmeas suínas

brevivência

embrionária

não

depende

da

reprodutivas (RENAUDEAU et al., 2001).

temperatura em si, mas também da duração do período

de

calor

em

que

as

fêmeas

estão

Pesquisas indicam envolvimento da temperatura ambiental no controle endócrino do desenvolvimento

submetidas (EINARSSON et al., 1996).

folicular. PELTONIEMI et al. (2000) observaram que Segundo Bortolozzo et al. (1997), a intensidade e a

em ambientes de altas temperaturas houve uma

duração dos períodos de temperaturas elevadas

redução na secreção do hormônio luteinizante (LH)

estão associadas à dificuldade de fertilização e

em fêmeas suínas. A ativação do eixo hipotálamo-

podem

dos

hipófise adrenais em situações de estresse calórico

da

aumenta a concentração sérica de cortisol, ao

gestação. Ainda segundo estes autores, o estresse

mesmo tempo em que inibe o eixo reprodutivo

por calor pode, também, causar diminuição do fluxo

(hipotálamo-hipófise-gônadas),

sanguíneo uterino, hipertermia maternal, alteração

pulsatilidade do GnRH no hipotálamo. Em todos os

no metabolismo endócrino da fêmea, maior taxa de

casos, como a secreção de LH e FSH pela hipófise é

retorno ao cio, menor taxa de parição e tamanho de

regulada de modo positivo pelo GnRH, e nas fêmeas

leitegada.

submetidas ao calor a formação dos folículos é

afetar

conceptos,

a

fixação

e

principalmente

sobrevivência

na

fase

inicial

reduzindo

a

seriamente prejudicada. O

estresse por

calor

diminui o

desempenho

reprodutivo por ter impactos na viabilidade e na

A elevação da temperatura ambiente altera todo o

mortalidade dos embriões (WILLIAMS, 2009). Em

complexo endócrino responsável pela iniciação e

um trabalho realizado por Wildt et al. (1975), porcas

manutenção

submetidas ao estresse por calor (40,2 °C) na fase

desequilíbrio

inicial da gestação, entre 2 a 13 dias, apresentaram

ativação excessiva do eixo hipotálamo-hipófise-

maior mortalidade embrionária e menores tamanhos

adrenal e/ou pela produção alterada de outros

de

hormônios fora deste eixo regulatório (BLACK et al.,

leitegada

que

as

mantidas

em

ambiente

da

lactação,

hormonal

promovendo

um

consequência

da

como

1993). Assim, sob estresse calórico, as matrizes

termoneutro (24 °C).

reduzem

a

atividade

da

tireoide

e,

Alguns autores relatam que temperaturas superiores

consequentemente, as concentrações séricas de

a 24°C, causam diminuição da fertilidade da fêmea e

triiodotironina (T3) e tiroxina (T4) provocando uma

altas porcentagens de retorno ao cio (WENTZ et al.,

diminuição na taxa metabólica e, de certa forma,

1997; LOVE et al., 1995; PELTONIEMI et al., 1999;

justificando uma menor produção de leite destas

BORTOLOZZO et al., 1997).

fêmeas.

Wentz et al. (2001) constataram que fêmeas suínas

A reprodução na espécie suína é de fundamental

que

da

importância no desempenho econômico da atividade

inseminação artificial (IA) ou nos primeiros quatro

suinícola. Sabe-se que não bastam apenas bons

dias após a IA manifestaram maiores taxas de

padrões nutricionais e boas práticas de manejo no

retorno ao estro, menores taxas de prenhez e de

plantel, mas também que os índices reprodutivos

parto, menor número de embriões aos 30-35 dias de

sejam elevados. Portanto, para a obtenção de bons

gestação e menor número de leitões nascidos.

índices é necessário o monitoramento de todos os

apresentaram

hipertermia

no

dia

fatores que possam influenciar o desempenho Os mecanismos pelos quais a temperatura ambiental

reprodutivo (ALVARENGA et al., 2011).

induz distúrbios reprodutivos estão ligados ao consumo alimentar e mudanças endócrinas principalmente.

ESTRATÉGICAS PARA ATENUAR OS EFEITOS DO ESTRESSE POR CALOR NO DESEMPENHO

A redução do consumo alimentar e/ou as perdas de reservas corporais de matrizes submetidas ao estresse por calor durante a lactação, pode alterar o status metabólico

do

animal,

disponibilizando

menos

substratos para o desenvolvimento normal das funções 8641

DE FÊMEAS SUÍNAS A adequação das instalações e o desempenho dos animais frente às variações climáticas é um desafio permanente

da

suinocultura.

As

variáveis

meteorológicas possuem uma grande influência no

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Artigo 507 - Efeitos das altas temperaturas no desempenho produtivo e reprodutivo de fêmeas suínas

desempenho

dos

animais,

tanto

no

aspecto

verificaram que o sistema de ar livre permitiu melhor

reprodutivo como no ganho de peso (CAMPOS et

condicionamento térmico ambiental e parâmetros

al., 2008). As características das instalações podem

fisiológicos mais adequados em criação de matrizes

minimizar os efeitos do estresse pelo calor em

suínas no período de gestação, quando comparadas

fêmeas. A adaptação das instalações, levando em

às matrizes criadas em confinamento.

conta a localização, orientação solar, pé direito, materiais de cobertura, arborização, sombreamento e

ventilação

natural,

irão

permitir

o

acondicionamento térmico natural antes de serem adotados os mecanismos artificiais (CAMPOS et al.,

Pandorfi et al. (2006) e Pandorfi et al., (2007), PAndorfi et al. (2008) e Silva et al. (2008), estudaram diferentes sistemas de alojamento para matrizes no período de

gestação, caracterizando aspectos do

ambiente e as variáveis que influenciam o sistema

2002).

de produção, determinando as condições favoráveis A permanência das matrizes suínas fora da zona de

ao melhor desempenho animal. Estes autores

conforto compromete o desempenho destes animais

verificaram que as matrizes se mostraram menos

principalmente no período de lactação, devido à

estressadas e com maior conforto ambiental no

diminuição do consumo voluntário de ração e

confinamento em baias coletivas.

produção de leite. Práticas como nebulização, ventilação,

gotejamento,

resfriamento

de

nuca

evaporativos

adiabáticos

resfriamento e

uso

são

de

de

piso,

processos

alternativas

para

amenizar as perdas produtivas (GAVA et al., 2010). A ingestão insuficiente de nutrientes pode resultar na mobilização

de

diferentes

aumentando

o

intervalo

tecidos

corporais,

desmame-estro

e,

consequentemente, os dias não produtivos das porcas (HAESE et al., 2010).

Avaliando o efeito do resfriamento adiabático com utilização de ventilação associada à nebulização controlada no desempenho de porcas gestantes, SOUZA & NÄÄS (2005) observaram que esta prática reduziu o número de leitões mumificados, devido ao maior conforto térmico oferecido às matrizes ao longo da gestação. A temperatura da água de consumo também tem efeitos no desempenho de matrizes. Jeon

et al.

Castro et al. (2011) avaliaram o ambiente térmico e

(2006) estudaram os efeitos da temperatura da água

o comportamento de matrizes e leitões em celas,

no desempenho de matrizes e leitões lactentes em

confeccionadas com ardósia e alvenaria como

condições de estresse por calor e verificaram que o

alternativa nas construções de maternidade e

consumo de ração e de água, produção de leite e

verificaram que as fêmeas alojadas nas celas em

consequente

ardósia deitaram com maior frequência, indicando

superiores quando a temperatura da água fornecida

um maior conforto térmico.

era de 15 °C em comparação com 22°C. A água de bebida

ganho de peso dos leitões, foram

funciona

como

mecanismo

em

até

Ao estimar as respostas termorreguladores de

refrigeração,

matrizes

resistência ao calor (NÄÄS, 2000).

em

lactação,

Martins

et

al.

(2008)

aumentando

um

0,5

de

°C

a

observaram um aumento na temperatura retal e frequência respiratória em períodos de pico de calor,

Desta forma, o fornecimento de água potável e

demonstrando baixa adaptabilidade destes animais

fresca para a matriz minimiza as perdas ocorridas

ao estresse por calor. Estes autores também

através da ofegação, disponibilizando uma maior

afirmam que essas fêmeas podem ser criadas em

quantidade água para a produção de leite e

ambientes com temperatura acima do conforto

manutenção das funções orgânicas. Recomenda-se

térmico, desde que sejam empregadas medidas

que a temperatura da água seja próxima de 15 °C

para minimizar o estresse por calor nas horas mais

quando as matrizes tiverem submetidas a uma

quentes

temperatura ambiente em torno de 25 °C, resultando

do

dia,

principalmente

para

fêmeas

em aumento do consumo de alimentos (3,82 vs 5,36

primíparas.

kg/dia) e de água (31,21 vs 38,06 L/dia); na Em estudos mais recentes, Nazareno et al. (2012)

produção de leite (5,83 vs 7,12 kg/dia) e no ganho

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Artigo 507 - Efeitos das altas temperaturas no desempenho produtivo e reprodutivo de fêmeas suínas

diário dos leitões (187 vs 214 g/dia/leitão) em

pelas porcas, pois uma menor quantidade de calor é

relação aos animais que recebem água a 22 °C

desperdiçada por unidade de energia utilizada,

(JEON et al., 2006).

sendo observado um aumento no teor de gordura do leite

e

consequentemente

um

incremento

no

Outra medida recomendada é umedecer a ração,

potencial

pois, ao ingeri-la o animal gastará energia para

(SCHOERHERR et al., 1989). Como a gordura

aquecer o alimento contribuindo, assim, para reduzir

melhora a palatabilidade e diminui a pulverulência

a temperatura corporal, além do que, o fornecimento

das rações, elas podem induzir um melhor consumo

de ração umedecida, por si só, aumenta em 5% o

alimentar voluntário pelas matrizes, e indiretamente,

consumo

favorecer as condições gerais de produção de leite e

alimentar

no

período

de

lactação,

reduzindo a perda de peso das fêmeas suínas

de

crescimento

dos

leitões

desempenho reprodutivo subsequente.

(GENEST & D´ALLAIRE, 1995). Deve-se fracionar a ração aumentando o número de pequenas refeições

Outra medida importante que deve ser levado em

durante o dia (QUINIOU et al., 2000b), ou ainda,

consideração é a escolha do genótipo a ser

fornecê-la à vontade. Para os períodos quentes do

introduzido na granja. Apesar de não haver uma

ano, o arraçoamento nos horários mais frios

seleção genética voltada para adaptação ao clima

(geralmente à noite) pode ser usado, desde que

tropical, deve-se escolher linhagens selecionadas

atenda as expectativas de consumo fisiológico da

para uma maior capacidade de consumo alimentar

matriz (MARTINS et al., 2006).

durante

a

lactação,

minimizando

os

prejuízos

causados pela incidência de temperaturas elevadas Para atenuar as diferenças no ganho em peso dos

sobre este parâmetro (EISSEN et al., 2000).

leitões e melhorar o desempenho no pré-desmame e pós-desmame, deve-se indicar o fornecimento de

CONSIDERAÇÕES FINAIS

ração pré-inicial para os leitões, quando as matrizes

O estresse calórico afeta o desempenho produtivo

forem

sendo

(peso corporal, espessura de toucinho, escore

incluídos substitutos lácteos nas suas formulações

corporal visual e composição de tecidos corporais) e

(SPENCER et al., 2003).

reprodutivo (intervalo desmame-estro e a duração do

mantidas

sob

estresse

térmico,

estro) das matrizes suínas em lactação. São Outra estratégia que pode ser utilizada para diminuir

observadas

o efeito das altas temperaturas no desempenho de

comportamentais das fêmeas suínas, levando a uma

matrizes suínas é a modificação da ração. Durante

queda na produção de leite e redução no potencial

os períodos quentes, as rações fornecidas aos

de crescimento dos

animais devem ser formuladas de forma a reduzir a

negativamente a produtividade da granja.

alterações

fisiológicas

e

leitões, o que influencia

produção de calor endógeno no processo de digestão e metabolismo do alimento, e ao mesmo

Desta forma, torna-se indispensável em nível dos

tempo, ser palatável e atrativa para assegurar o

sistemas de produção de suínos tecnificados, sob

consumo adequado, principalmente para porcas

condições de clima tropical, a adoção de estratégias

primíparas, para atender às exigências de mantença

no âmbito da nutrição, da ambiência e do manejo

e produção. Uma alternativa usada diz respeito à

que

redução do incremento calórico das dietas através

prejudiciais da temperatura ambiental elevada sobre

da inclusão em níveis adequados de proteínas,

o bem-estar e a eficiência reprodutiva dos animais,

fibras, amido e gorduras. É recomendado reduzir a

em especial das matrizes primíparas e de suas

proteína

leitegadas durante o período de lactação.

bruta

na

dieta

com

a

inclusão

de

sejam

capazes

de

minimizar

os

efeitos

aminoácidos essenciais industriais para manter o balanço adequado destes na dieta de matrizes mantidas em ambientes com altas temperaturas (RENAUDEAU et al., 2001).

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8646


Quanto custa o estresse por calor na produção de aves e suínos? Ambiência, desempenho, produção animal, temperatura.

Alexandre Vinhas de Souza¹ Thais Oliveira Silva¹ Matheus Terra Abreu¹ Nelson Fijamo Mesquita² Rony Antonio Ferreira³

*

Vol. 17, Nº 01, jan/fev de 2020 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

¹ Mestrando em Zootecnia, PPGZ/DZO/UFLA, Universidade Federal de Lavras (UFLA). Lavras-MG, Brasil. *E-mail: alexanndremb@hotmail.com. ² Doutorando em Zootecnia, PPGZ/DZO/UFLA, Universidade Federal de Lavras (UFLA). Lavras-MG, Brasil. ³ Professor D.Sc., Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Lavras (UFLA). Lavras-MG, Brasil.

Revista Eletrônica

RESUMO O objetivo desta revisão é abordar os prejuízos causados pelo estresse por calor na produção de

HOW MUCH DOES HEAT STRESS COST IN POULTRY AND SWINE PRODUCTION?

aves e suínos bem como o impacto no desempenho

ABSTRACT

dos mesmos. O ambiente térmico tem forte influência

The objective of this review is to address the losses

no desempenho zootécnico, constituindo um dos

caused by heat stress in the production of poultry

principais fatores de perdas produtivas em climas

and pigs as well as the impact on their performance.

tropicais. Nesse sentido, variações de fatores

The thermal environment has a strong influence on

ambientais, como luz solar, temperatura, umidade e

zootechnical performance, being one of the main

características do metabolismo e o mecanismo de

factors of productive losses in tropical climates. In

regulação térmica podem causar desequilíbrios no

this sense, variations of environmental factors such

organismo do animal. O estresse por calor é

as sunlight, temperature, humidity and metabolism

considerado como um dos principais fatores que

characteristics and the mechanism of thermal

afeta negativamente a produção animal, visto que

regulation can cause imbalances in the animal's

comprometem o consumo de ração, crescimento,

organism. Heat stress is considered to be one of the

composição dos produtos de origem animal, síntese

main

de

production, since it compromises feed consumption,

leite,

fertilidade,

morbidade

e

mortalidade.

factors

that

adversely

affects

animal

Técnicas e manejos estão sendo adotados com o

growth,

propósito de minimizar o impacto do estresse por

synthesis,

calor, de modo que esses efeitos negativos não

Techniques and managements are being adopted

comprometam a lucratividade da produção.

with the purpose of minimizing the impact of heat

Palavras-chave: ambiência, desempenho, produção animal, temperatura.

composition fertility,

of

products, and

milk

mortality.

stress, so that these negative effects do not compromise the profitability of production. Keyword: ambience, production, temperature.

8647

animal

morbidity

performance,

animal


Artigo 508 - Quanto custa o estresse por calor na produção de aves e suínos?

INTRODUÇÃO

A avicultura de postura é considerada hoje um dos

O ambiente térmico influencia diretamente no

sistemas

desempenho zootécnico, sendo considerado um dos

possibilidade de tecnificação do mundo. Sistema de

principais fatores de perdas produtivas em climas

coleta

tropicais

sistemas

bebedouros, máquinas que definem a quantidade de

produtivos brasileiros estão evoluindo, de forma

alimento fornecido por hora, refrigeração por pressão

incansável, adotando ferramentas que possam

negativa, controladores de gases, dentre outras

aperfeiçoar a produção de produtos de origem

melhorias. Diversas opções de tecnologia estão

animal. Ao passo que a produção aumenta a busca

disponíveis, porém ainda são onerosas para os

por conhecimento e técnicas que proporcionam a

produtores, principalmente do Brasil. O resultado

máxima produtividade com menor custo se torna

disso é que os investimentos em ambiência das

essencial para garantir bons resultados na produção

instalações das aves ainda são escassos, tornando a

(PONCIANO et al., 2011).

atividade vulnerável ao clima e prejudicial ao bem-

(NAVAS

et

al.,

2016).Os

de

produção

automática,

animal

regulação

com

de

maior

pressão

de

estar dos animais. Os sistemas de criação de animal são afetados por vários fatores climáticos, mas o estresse ganhou

Sabe-se que ambiência e bem-estar são aspectos

atenção

à

importantes para a produção avícola, sendo uma das

conscientização do público e uma abundância de

exigências da comercialização em vários mercados

informações

científicas

&

internacionais. Variações climáticas representam um

ROSTAGNO,

2013).

especial

na

produção,

devido

disponíveis

(LARA

fatores

desafio em manter a produção, principalmente no

ambientais, como luz solar, temperatura, umidade e

Brasil, país de vasta extensão territorial com altas

características

variações de temperatura.

do

Variações

metabolismo

de animal

e

o

mecanismo de regulação térmica podem causar desequilíbrios no corpo do animal (LEINONEN et al.,

As aves são animais homeotérmicos, são sensíveis

2014).

a alterações na temperatura, prejudicando o seu bem-estar e desempenho produtivo. Recentemente a

Climas

com

temperaturas

diárias

elevadas

atenção dos pesquisadores tem sido voltada aos

potencializam as perdas produtivas na criação de

efeitos do clima sobre a resposta dos animais

aves e suínos (PEREIRA et al., 2010; SINHA et al.,

selecionados para alta produtividade. Uma vez que

2017). Genéticas de alto desempenho são sensíveis

estudos nessa área ainda são escassos, a maioria

às altas temperaturas, fazendo com que não tenha

dos trabalhos que trata da produção de calor de

apenas perdas produtivas, mas também econômicas

poedeiras tem mais de 20 anos e não são

em função do estresse por calor (SILVA et al., 2015).

condizentes com os dados das poedeiras de

Isso acontece devido ao estresse por calor, situação

genética atual, principalmente quando levamos em

a qual o animal não se encontra em conforto

consideração o curto período de tempo que se tem

térmico, ou seja, situação em que o animal necessita

para os ganhos genéticos na avicultura.

mobilizar recursos de termorregulação para ajustar às condições ambientais. Nestas condições, o

Devido às muitas perdas econômicas por calor

animal não tem seu máximo desempenho produtivo

relacionadas à produção animal é evidente a

de acordo com o potencial genético.

necessidade de preocupação sobre estes eventos no Brasil com a finalidade de mensurar e minimizar o

Objetiva-se com essa revisão abordar os efeitos do

seu impacto já que não se encontra na literatura

estresse por calor na produção de aves e suínos,

dados concretos de pesquisas que relacionam

enfatizando os prejuízos econômicos e o impacto no

impactos

desempenho zootécnico.

produtivas de ovos devido ao calor.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A produtividade de poedeiras pode ser prejudicada

Perdas produtivas e econômicas na avicultura de

por diversos fatores, sendo o estresse térmico o que

postura

mais causa prejuízos, pois leva a queda na

econômicos

causados

pelas

perdas

produtividade e qualidade dos ovos (MASHALY et al. Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.01, p.8647-8653, jan/fev, 2020. ISSN: 1983-9006

8648


Artigo 508 - Quanto custa o estresse por calor na produção de aves e suínos?

2004). Em períodos mais longos de estresse

grande

influência

no

desempenho

zootécnico,

térmico, como 12 dias de temperaturas altas, uma

constituindo um dos principais fatores de perdas

redução na ingestão de ração de 28,58 g/ave,

produtivas no Brasil, que detém climas tropicais. As

resulta em 28,8% de queda na produção de ovos

perdas produtivas na avicultura, provenientes de

(DROGE, 2002).

climas com temperaturas diárias elevadas, são notavelmente grandes, pois abrangem perdas diretas

Ayo et al. (2011) descreveram que as galinhas

e indiretas (PEREIRA et al., 2010), o que deve ser

poedeiras tiveram uma redução de 20% no consumo

urgentemente modificado, dando a devida atenção

de ração durante o clima quente e úmido. Os

as modificações ambientais em granjas afim de

autores acima registraram uma diminuição na

melhorar o ambiente térmico em que as aves são

produção de ovos e uma queda no tempo de

criadas.

produção. Perdas produtivas e econômicas na avicultura de Outros estudos observaram redução de 31,6% na

corte

conversão alimentar, 36,4% na produção de ovos e

A

3,4% no peso de ovo (STAR et al., 2009), 1,2% na

importante no conceito moderno de qualidade dos

espessura da casca e 9,9% no peso da casca

alimentos e, mais recentemente, a indústria avícola

(EBEID et al., 2012) em aves submetidas a estresse

mundial está enfrentando a principal questão de

térmico.

a

segurança alimentar devido ao estresse térmico.

diferentes períodos de estresse por calor (8–14 dias,

Várias evidências sugerem que o estresse pode ter

30–42 dias e 43–56 dias) houve redução na

efeitos nocivos na segurança alimentar por meio de

produção de 13,2%, 26,4% e 57%, respectivamente

vários mecanismos potenciais (PAWAR et al., 2016).

Avaliando

poedeiras

submetidas

segurança

alimentar

tornou-se

uma

parte

(FARNELL et al., 2001). Muitas variações são observadas nos estudos, e a constatação de

Os

fatores

de

estresse

térmicos

afetam

impactos significativos do estresse térmico na

negativamente a saúde e o desenvolvimento em

produção e qualidade dos ovos é notável (LARA &

quase todas as espécies zootécnicas. As respostas

ROSTAGNO, 2013).

típicas dos animais ao estresse térmico incluem crescimento mais lento e inconsistente, metabolismo

Segundo o relatório anual de 2018 da Associação

e composição corporal alterados, síntese de leite

Brasileira

reduzida, baixa fertilidade, morbidade e mortalidade

de

Proteína

Animal

foram

alojadas

1.086.976 matrizes em 2017 no Brasil, tendo uma

(JOHNSON et al., 2015).

produção de 39.923.119.357 de ovos nesse mesmo ano, se levarmos em consideração um valor médio

Como os modelos climáticos preveem um aumento

de 32% de perdas na produção, incluindo as aves

nas condições extremas de verão para a maioria das

que deixaram de produzir, ou as que produziram

áreas de produção animal, os efeitos negativos do

ovos que não estão no padrão para serem

estresse térmico provavelmente se tornarão mais

comercializados como ovos de casca mole, sem

significativos no futuro (LUBER & McGEEHIN, 2008).

casca, casca trincada tem-se uma perda estimada

Além disso, porque o aumento da produção de calor

em 12,775 bilhões de ovos perdidos em 2018

basal é uma consequência não intencional da

relacionados a problemas na produção causados por

maioria dos programas tradicionais de seleção

calor no Brasil. Se levar em consideração um valor

genética,

médio para o valor da caixa de ovo (R$/30 dúzias)

produtivos têm maior sensibilidade ao estresse

do ano de 2018 tem-se R$63,24 por 1 caixa (JOX

térmico ( NIENABER & HAHN, 2007).

Elaborações e análises, Avisite), resultando num montante de 35,487 milhões de caixas, algo em torno de 2,245 bilhões de reais perdidos no ano de 2018 no setor de produção de ovos devido a problemas com temperatura elevada. O ambiente térmico em que as aves são criadas tem 8649

alguns

sugerem

que

animais

mais

Os efeitos do estresse por calor são especialmente evidentes em regiões tropicais e subtropicais, onde muitos países em desenvolvimento estão localizados (BATTISTI & NAYLOR, 2009). Apesar das práticas de

manejo

aprimoradas

e

da

tecnologia

de

resfriamento a produtividade animal permanece com-

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.01, p.8647-8653, jan/fev, 2020. ISSN: 1983-9006


Artigo 508 - Quanto custa o estresse por calor na produção de aves e suínos?

prometida durante os meses de verão (BAUMGARD

com 42 dias de idade expostos a calor crônico

& RHOADS, 2013).

reduziu em 16,4% o consumo de ração, 32,6% do peso corporal e 25,6% relação de consumo

As perdas econômicas continuam a ocorrer porque os animais estão sendo criados em regiões onde as

A morte durante o transporte é geralmente associada

condições ambientais estão fora da zona de conforto

a peso das galinhas (maior peso causa maior

térmico durante o verão (St-PIERRE, 2003). Durante

mortalidade (CAFFREY et al., 2017). condições

o estresse por calor, a eficiência é comprometida

ambientais, o consumo de ração reduziu 28,58

porque os nutrientes são desviados para manter a

g/frango/dia

eutermia, pois a preservação de uma temperatura

poedeiras em um ensaio de 12 dias (ZHANG et al.,

central segura torna-se a mais alta prioridade

2017).

e

28,8%

produção

em

galinhas

biológica e a síntese tecidual não é enfatizada Segundo Macari (1996), a troca de água no

(BAUMGARD & RHOADS, 2013).

organismo das aves, é tanto maior quanto menor é a O estresse por calor reduz o consumo de ração, o

ave. Isto implica no fato de que aves jovens também

ganho de peso corporal, a eficiência reprodutiva e,

podem sofrer pelo calor, pois estão mais expostas à

em casos graves, pode causar mortalidade em

desidratação que as aves maiores. No caso da

espécies pecuárias (BAUMGARD & RHOADS, 2013;

exposição a 35°C por quatro horas, pintos de sete

BOIAGO et al., 2013). O estresse térmico durante o

dias perderam 12% de peso corporal, enquanto que

crescimento

frangos com 42 dias perderam 4 a 5% de seu peso

rápido

características

também

foi

associado

indesejáveis

da

a

carne

corporal.

(SANDERCOCK et al., 2001). Frangos de corte machos são mais afetados pelo estresse térmico do

Bonnet et al. (1997) concluíram que a redução no

que fêmeas. A mortalidade das aves aumenta

ganho de peso em aves submetidas ao estresse por

durante o estresse térmico e é maior perto do tempo

calor foi de 50% em relação às aves mantidas em

de comercialização bem como durante o transporte

condições de termoneutralidade, após duas semanas

para

de exposição crônica ao calor, a ingestão de alimento

centrais

de

processamento

(ST-PIERRE,

diminuiu mais de 3% por cada aumento de um grau

2003).

entre 22 e 32°C. Posteriormente, Plavnik & Yahav A eficiência da síntese de produtos de origem animal

(1998)

é comprometida durante o calor do verão, e estima-

progressiva do peso, de ingestão de alimento e

se que um aumento de 1,0 ° C na temperatura

eficiência alimentar quando foram submetidos a

ambiente durante os meses de verão leve a uma

aumentos de temperatura ambiental.

observaram

em

frangos

uma

redução

redução de 4,5% na produção (JOHNSON et al., 2015).

O setor agrícola contribui com US $ 200 bilhões anuais para a economia dos EUA e é provavelmente

Aves comerciais modernas produzem mais calor

mais sensível e vulnerável às mudanças climáticas

corporal devido ao seu rápido metabolismo. Este

do que qualquer outro setor (JOHNSON et al., 2015).

torna as aves mais sensíveis à temperatura ambiente

2015;

O impacto econômico das doenças relacionadas ao

PAWAR et al., 2016). Temperatura climática elevada

(FISININ

estresse térmico é estimado em bilhões de dólares

causa

comportamental,

em receita perdida devido à redução da produção

fisiológica e imunológica de frangos de corte e

em quase todos os aspectos da agricultura animal.

consequências

como

Nos Estados Unidos, estimaram perdas econômicas

efeitos

imunossupressão,

na

&

KAVTARASHVILI, resposta

desfavoráveis,

e

devido ao estresse térmico variando entre US $ 1,7 a

desequilíbrio de eletrólitos, que reduz a rentabilidade

desordem

endócrina

US $ 2,4 bilhões anualmente. Na indústria avícola

(MAZZI et al., 2003; QUINTEIRO-FILHO et al., 2012;

esse valor estimado em US $ 128 a US $ 165

LARA & ROSTAGNO, 2013).

milhões anualmente (ST-PIERRE, 2003).

Sohail et al. (2012) relataram que frangos de corte

Em estudo Kapetanov et al. (2015) avaliara, ao longo

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.01, p.8647-8653, jan/fev, 2020. ISSN: 1983-9006

8650


Artigo 508 - Quanto custa o estresse por calor na produção de aves e suínos?

do período de vários anos nos distritos de Bačka do

As perdas econômicas devido ao estresse

Sul e Srem o desempenho de um lote de frangos

térmico por calor na indústria suína dos Estados

criados no período de verão, e encontraram uma

Unidos em 2016 foram estimadas em US $ 316

perda econômica em de 15.39% causadas pelo

milhões por ano (LANKVELD, 2016). Porém,

estresse por calor.

estima-se atualmente, que o custo anual do estresse por calor na produção é de US $ 900

No Brasil não existem estudos evidenciando as

milhões,

perdas econômicas causadas pelo estresse por calor

Desse total, cerca de US $ 450 milhões são

na produção de aves. Por outro lado, os dados de

decorrentes da fase de crescimento e cerca de

desempenho esclarecem muito a respeito dos

US $ 450 milhões do restante do plantel

potenciais prejuízos que o estresse por calor pode

(WILSON, 2019).

destacando

aumento

proeminente.

causar a cadeia de produção avícola. Perdas produtivas e econômicas na suinocultura A temperatura do planeta terra está subindo a uma taxa excessiva e a frequência das ondas de calor está

aumentando

(NOAA,

2018).

Além

disso,

decorrente a intensificação e ao aumento na produtividade dos suínos, houve um incremento no calor metabólico o que torna os animais mais suscetíveis. Dessa forma, com o estresse por calor os desafios para garantir a produtividade e a saúde dos suínos estão aumentando cada vez mais (BROWN-BRANDL et al., 2014).

afeta

diretamente

categorias de animais: tem um impacto negativo sobre a produção de leite em porcas, sobre o desempenho, impacta também no crescimento e na

terminação,

traduzindo-se

em

prejuízos

econômicos. Estudos mostram impacto em torno de 20-25% na produção de leite e, posteriormente no desempenho de leitões, refletindo também sobre a qualidade da carcaça (SILVA, 2018). Verifica-se que situações de estresse por calor tem

muita

influência

sobre

o

estado

de

desempenho, saúde e bem-estar dos animais e

O estresse por calor tem um alto impacto econômico porque

O estresse por calor tem um impacto em todas as

a

suinocultura,

principalmente porque causa baixo desempenho das porcas, o que gera perdas de US $ 113 milhões/ano.

devido a impactos futuros do aquecimento global que continuarão aumentando, serão necessárias medidas de adaptação adequadas (MIKOVITS, 2018).

Isso ocorre decorrente do baixo peso ao desmame, e

CONSIDERAÇÕES FINAIS

uma redução de peso na fase de crescimento e

O estresse por calor na produção de aves e

terminação sendo em torno de 2 a 2,7 kg/suíno, além

suínos deve ser analisado criteriosamente, de

de elevada taxa de mortalidade, que varia entre 1,1 a

modo que, tenha total controle sobre ele,

1,6% (PONTE,2018). Existem outros problemas

minimizando as perdas na produção. Do ponto de

gerados pelo estresse por calor, como por exemplo,

vista técnico, o estresse por calor é um dos

a infertilidade, que apesar de ser atribuída a outros

principais impasses na produção animal. Como

fatores, é associada principalmente a temperaturas

demonstrado, os prejuízos econômicos causados

ambientais elevadas, afetando negativamente o

na produção são elevados, prejudicando a

consumo

1981;

lucratividade dos produtores, os quais necessitam

VIROLAINEN, 2006). Isso porque o mecanismo mais

investir em equipamentos e novas tecnologias

eficaz para reduzir a produção de calor é diminuir o

para amenizar esse problema.

durante

a

lactação

(LOVE,

consumo de ração. Contudo, tem sido relatado que a queda na ingestão de ração é mais acentuada à

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Impacto, prevalência e etiologia da mastite bovina causada por Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae Revista Eletrônica Contagem de células somáticas, contagem bacteriana total, qualidade do leite, infecções intramamárias, resistência a antibióticos . Vol. 17, Nº 01, jan/fev de 2020 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

1*

Alan Andrade Mesquita 2 Fagton de Mattos Negrão 3 Maria Helena Ferrari 4 Lucien Bissi da Freiria 5 Tulio Otávio Jardim Almeida Lins 1

Prof. Dr. do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Colorado do Oeste – IFRO: *E-mail: alan.mesquita@ifro.edu.br. 2 Prof. Dr. do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Colorado do Oeste – IFRO. 3 Profa. Ms. do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Colorado do Oeste – IFRO. 4 Prof. Dr. do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Colorado do Oeste – IFRO. 5 Prof. Dr. do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Colorado do Oeste – IFRO.

RESUMO A mastite em bovinos leiteiros é a doença infecciosa mais

prevalente

nos

rebanhos

produtivos

atualmente, considerada uma das doenças com

MPACT, PREVALENCE AND ETIOLOGY OF BOVINE MASTITIS CAUSED BY STAPHYLOCOCCUS AUREUS AND STREPTOCOCCUS AGALACTIAE

maior impacto na produção de leite, e sua origem na

ABSTRACT

sua

sendo

Mastitis in dairy cattle is the most infectious disease

Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae

among productive herd now a days, being considered

considerados patógenos maiores por sua grande

the one that most causes impact in the milk production,

prevalência na ocorrência desta patogenia. Seu

and its origin in majority caused by bacteria, as

impacto é sensível principalmente na piora da

Staphylococcus aureus and Streptococcus agalactiae

qualidade

animais

considered superior pathogens for its huge prevalence

contaminados, e ainda diminuição na produção de

in the occurrence of this pathogenesis. Its impact is

leite dos bovinos infectados. Esta doença infecciosa

sensible mainly in the worsening of milk quality

traz ainda uma das principais causas do surgimento

produced by contaminated animals, and also reducing

de resistência aos antibióticos, pois como sua

milk yield of the infected cattle. This infectious disease

prevalência nos rebanhos é muito elevada, e o

also brings one of the main causes of antibiotics

principal tratamento no controle desta infecção é a

resistance emergence, because as its prevalence in the

antibioticoterapia, consequência disto, é uma das

herd is high, and the main treatment in the control of this

doenças

infection is the antibiotic therapy, as consequence of

maioria

do

que

causadas

leite

mais

por

bactérias,

produzido

se

utiliza

por

antimicrobianos, de

this, is one of the diseases that most uses antimicrobials

microrganismos resistentes. Diante disto é essencial

causing big impact in the selection of resistant

o conhecimento desta doença para que seu controle

microorganisms. Therefore, is essential the knowledge

seja eficaz.

of this disease so that its control would be effective.

Palavras-chave: contagem de células somáticas,

Keyword: Somatic cells count, total bacteria count, milk

contagem

quality, intramammary infection, resistance to

causando

grande

impacto

na

seleção

bacteriana total, qualidade do leite,

infecções intramamárias, resistência a antibióticos.

antibiotics. 8654


Artigo 509 - Impacto, prevalência e etiologia da mastite bovina causada por Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae

INTRODUÇÃO

da por estes patógenos e o impacto da doença na

A importância da atividade leiteira no cenário

produtividade em rebanhos da região.

agropecuário brasileiro é incontestável, visto que segundo o último censo Agropecuário (IBGE, 2006),

Diante

estimou-se

de

bibliográfica foi apresentar e discutir a importância

propriedades rurais estejam envolvidas na atividade

dos problemas causados pela mastite, com enfoque

de produção leiteira, gerando milhões de empregos

nos

diretos e indiretos. O Brasil ocupa atualmente o

Streptococcus agalactiae.

que

cerca

de

1,35

milhões

quarto lugar na produção leiteira mundial, com a captação de 23,14 bilhões de litros de leite em 2016.

do

exposto,

patógenos

o

objetivo

desta

Staphylococcus

revisão

aureus

e

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA IMPORTÂNCIA DA PECUÁRIA LEITEIRA NA

Apesar da posição de destaque no cenário mundial,

ECONOMIA BRASILEIRA

a produtividade brasileira ainda é muito baixa, com

A cadeia produtiva do leite no Brasil tem sido um dos

uma média de apenas 1.381kg de leite/vaca/ano,

mais

enquanto que EUA tem uma produtividade média de

desempenhando uma função vital no processo de

9.790kg/vaca/ano, em 2012 (USDA, 2012). A baixa

desenvolvimento econômico e social do país (IBGE,

produtividade

de

2015). Em 2016, o Brasil se destacou como o quarto

problemas multifatoriais, onde os aspectos sanitários

maior produtor mundial de leite, atrás apenas de

têm grande contribuição, principalmente doenças

Estados Unidos, Índia e China, com uma produção

infecciosas, entre as quais se destaque a mastite,

estimada em 35 bilhões de litros de leite. Minas

doença de maior prevalência e que causa os

Gerais é o maior produtor entre os estados

maiores prejuízos à pecuária leiteira em todos os

brasileiros,

continentes.

6.106.490 mil litros de leite (IBGE, 2016).

A relevância da mastite se deve à sua grande

Apesar da posição de destaque entre os maiores

prevalência no rebanho nacional, que gera grandes

produtores mundiais, a produtividade média de

perdas econômicas devido à queda de produção de

apenas 1.381 kg de leite/vaca/ano, enquanto que os

leite dos animais afetados, seu impacto negativo na

Estados Unidos alcançaram produtividade em torno

qualidade do leite e, também, pelos custos dos

de 9.790 kg/vaca/ano (USDA, 2012). Uma das

tratamentos

causas

nacional

e

serviços

é

consequência

veterinários,

além

de

importantes

da

brasileiros,

descartes de animais cronicamente afetados.

com

segmentos

uma

do

captação

baixa

produtividade

além

de

problemas

agronegócio,

estimada

dos

em

rebanhos

econômicos,

reprodutivos, nutricionais e gerenciais, são as Além dos problemas econômicos e sanitários, a

doenças infecciosas que acometem endemicamente

mastite requer o uso de antimicrobianos para sua

os nossos rebanhos. Neste contexto, a mastite

prevenção e controle, o que pode gerar problemas

bovina se destaca como a principal, gerando

de resíduos no leite e o incremento nos níveis de

grandes perdas na produtividade dos animais e

resistência

uso

rebanhos afetados (KEEFE, 2012). Esta doença

indiscriminado dos mesmos. O uso mais criterioso

diminui a capacidade de produção de leite dos

destes produtos requer, entre outras medidas, o

animais afetados, às vezes, de forma irreversível, o

monitoramento dos perfis de suscetibilidade aos

que

antimicrobianos dos patógenos envolvidos em sua

rebanho, podendo ocasionar o descarte ou o óbito

etiologia.

dos animais afetados (HOGEVEEN et al., 2011).

Entre os agentes causadores da mastite bovina,

A MASTITE E SEU IMPACTO NA CADEIA

destacam-se

PRODUTIVA DO LEITE

dos

microrganismos,

Staphylococcus

face

ao

aureus

e

consequentemente

reduz

a

produção

do

Streptococcus agalactiae, designados ―Patógenos

A mastite bovina tem sido apontada como a principal

Maiores‖, em função da alta prevalência e da

doença que afeta os rebanhos leiteiros no mundo

gravidade dos quadros clínicos associados às

inteiro, causando sérios prejuízos econômicos tanto

infecções causadas pelos mesmos, o que justifica o

ao produtor de leite quanto à indústria de laticínios

conhecimento da epidemiologia da mastite ocasiona-

(TOZZETTI et al., 2008). Apesar de incontáveis

8655

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.01, p.8654-8668, jan/fev, 2020. ISSN: 1983-9006


Artigo 509 - Impacto, prevalência e etiologia da mastite bovina causada por Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae

estudos realizados com o intuito de minimizar essas

Várias metodologias têm sido utilizadas para o

perdas e da existência de medidas preventivas já

estudo dos efeitos da mastite na produtividade e seu

bem estabelecidas para esta doença, ela ainda é

impacto financeiro na propriedade. Uma destas é o

responsável por perdas econômicas expressivas,

estudo da alteração da produção em 305 dias em

(KEEFE, 2012)

lactação, associado ao aumento da média da CCS durante a lactação. Seguindo esta metodologia,

As perdas econômicas decorrentes da mastite se

demonstrou-se uma perda de 135 ± 20 kg de leite na

devem à redução na produção leiteira, perda de

primeira lactação, e uma perda de 270 ± 30 kg para

qualidade do leite e consequente penalidade no

todas as outras lactações (RAUBERTAS & SHOOK,

preço pago, descarte de leite com resíduos de

1982).

antibióticos, o aumento do uso de antibióticos para tratamentos, gastos com mão de obra e serviços

Hortet & Seegers (1998), visando demonstrar as

veterinários (OVIEDO-BOYSO et al., 2007; LOPES

perdas econômicas devido à mastite subclínica,

et al., 2012).

fizeram

uma

revisão

bibliográfica

focando

as

relações entre a CCSt e as variações na produção A mastite causa alteração dos componentes do leite,

leiteira. Verificaram que as perdas médias de

com aumento no número de células somáticas

produção foram de 0,4 kg de leite em vacas

(CCS), o que influencia na menor vida de prateleira

primíparas e de 0,6 kg em multíparas, por cada

dos produtos lácteos (LOSINGER et al., 2005) e está

aumento de 50.000 células somáticas por mL de

diretamente relacionado com o rendimento de

leite.

derivados lácteos (LOPES et al., 2012). Segundo Halasa et al. (2009), as alterações na qualidade do

Lopes et al. (2011) simularam o impacto econômico

leite e redução da produção representam os maiores

anual da mastite, tomando por referência uma vaca

problemas causados pela mastite na indústria

em lactação, em rebanhos com CCSt de 250.000 e

leiteira.

1.000.000 de células por mL de leite, considerando perdas na produção de 0%; 6%; 12% e 18%,

Souza et al. (2010) estimaram em 4,6 bilhões de

respectivamente, para CCSt de 200.000; 500.000;

litros de leite as perdas ocasionadas pela mastite

750.000 e 1.000.000, devido à presença de mastite

subclínica em propriedades brasileiras, o que

subclínica e menor preço pago pela indústria. Os

representaria aproximadamente 2,3 bilhões de reais,

resultados apontaram perdas que variaram de R$

levando-se em conta os dados de produção e os

1.333,90 a R$ 2.145,89 e de R$ 0,2146 a R$

preços pagos aos produtores no ano de 2009, no

0,4311/kg de leite, para CCSt de 250.000 e

Brasil.

1.000.000

de

células

por

mL

de

leite,

respectivamente. Em outro estudo, Lopes et al. Hogeveen et al. (2011) estimaram que a Holanda, a

(2012) relataram alta representatividade das perdas

Suécia e os EUA tem uma perda econômica média

decorrentes por redução na produção de leite,

decorrente da mastite entre US $ 80 a $ 125 por

representando

vaca. Estes mesmos autores ainda citaram que

dependendo do nível de mastite subclínica no

estes custos podem variar muito entre as fazendas,

rebanho.

43,8%

do

impacto

econômico,

como nas fazendas leiteiras neozelandesas, onde as estimativas de custo para a mastite variaram de € 17

Além de todas as perdas causadas pela mastite, não

a € 198 por vaca por ano.

se pode deixar de destacar que ela também pode ter impactos na saúde pública, devido à presença de

Halasa et al. (2009), em estudo realizado ao longo

agentes que podem transmitir graves doenças aos

de um período de um ano em 400 rebanhos leiteiros

seres humanos, bem como causar intoxicações

holandeses, estimaram que o custo anual médio da

alimentares. Além disso, o leite pode conter resíduos

mastite

aureus,

de antibióticos e bactérias resistentes que podem ser

Streptococcus agalactiae, Streptococcus uberis e

propagadas na comunidade (DE VLIEGHER et al.,

causada

por

Escherichia coli foi de

Staphylococcus

4.896 €, por vaca, com

2012).

perdas diárias de leite de 0,54 a 0,62 litros por vaca. Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.01, p.8654-8668, jan/fev, 2020. ISSN: 1983-9006

8656


Artigo 509 - Impacto, prevalência e etiologia da mastite bovina causada por Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae

MASTITE BOVINA: ETIOLOGIA E PREVALÊNCIA

os patógenos ambientais são geralmente menos

NOS REBANHOS LEITEIROS

adaptados,

A mastite é uma reação inflamatória da glândula

geralmente associados a infecções intramamárias

mamária, geralmente associada a presença de

(IIM) clínicas (SCHUKKEN et al., 2009). Os agentes

microrganismos, cuja nomenclatura originou-se do

contagiosos são geralmente transmitidos entre os

grego masto- glândula mamária e itis – inflamação

animais, através de equipamentos contaminados ou

(BLOOD & STUDDERT, 1999; NOTEBAERT &

através das mãos contaminadas do ordenhador,

MEYER, 2006). Tem como causa a interação de

enquanto que os ambientais são caracterizados pela

fatores

transmissão do ambiente contaminado para o úbere

relacionados

ao

animal,

patógenos

e

ambientes, que culmina com o processo inflamatório

considerados

oportunistas,

e

estão

da vaca (BRADLEY & GREEN, 2000).

da glândula mamária em consequência a agressões físicas, químicas, térmicas ou microbianas (BRITO et

Os principais patógenos contagiosos causadores de

al., 2000).

mastite em bovinos são Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae. Os patógenos ambientais

Em função da intensidade dos sinais clínicos, a

são aqueles presentes em fezes, água contaminada,

mastite é classificada em clínica ou subclínica. A

solo e cama dos bovinos, sendo Streptococcus

forma clínica apresenta os sinais característicos de

uberis, Streptococcus dysgalactiae, Eschererichia

inflamação,

coli e Enterococcus spp. os mais comuns (TALBOT

tais

como

o

edema,

hipertermia,

endurecimento e dor da glândula mamária e/ou

& LACASSE, 2005).

aparecimento de grumos, pus ou outras alterações das características do leite. A mastite subclínica se

As

caracteriza por alterações na composição do leite,

dysgalactiae, E. coli e S. uberis normalmente

mas sem manifestações clínicas evidentes. Entre as

causam maiores danos ao úbere que outros

principais

patógenos causadores de mastite, e por isso são

alterações

do

leite,

destacam-se

o

bactérias

S.

aureus,

S.

agalactiae,

S.

aumento da CCS, o aumento dos teores de Cl e de

denominados

Na, aumento das proteínas séricas e diminuição dos

(REYHER et al., 2012). Segundo Cremonesi et al.

teores de caseína, gordura, sólido total e lactose do

(2005), S. aureus e S. agalactiae são os agentes

leite. A enfermidade reduz a produção leiteira,

mais frequentemente isolados de casos de mastite,

chegando em muitos casos a causar perda de um ou

sendo responsáveis por aproximadamente 90% das

mais quartos mamários (TOZZETI et al., 2008).

IIM em bovinos leiteiros.

A

ocorre

Ziech et al. (2013) estudaram a mastite em

majoritariamente por invasão canal do teto por

propriedades leiteiras localizadas em um município

microrganismos, processo que se estende à cisterna

da região central do Rio Grande do Sul. Verificaram

da glândula e ao parênquima secretor. Esta invasão

que 53% dos animais tiveram pelo menos um quarto

ocorre geralmente durante a ordenha, através das

positivo ao CMT, indicando presença da mastite

mãos

materiais

subclínica. A partir da cultura de amostras de leite

contaminados, podendo, no entanto, ocorrer quando

dos quartos afetados, isolaram 199 agentes, dos

os animais estão em ambientes contaminados,

quais

durante o período entre as ordenhas. O canal do teto

Corynebacterium spp., 30,7% como Staphylococcus

se mantém aberto durante um período de uma a

coagulase positiva, seguidos de Staphylococcus

duas horas após a ordenha, o que facilita a

coagulase negativa (23,1%) e S. agalactiae (4,5%).

infecção

do

da

glândula

ordenhador

ou

mamária

outros

patógenos

30,7%

foram

principais

ou

identificados

maiores

como

penetração dos microrganismos ambientais (AIRES, Peter et al. (2013) observaram em 274 propriedades

2010).

leiteiras no sul do RS, médias de contagens de S. 3

Os agentes causadores da mastite são classificados

aureus e de Staphylococcus spp. de 4,8 x10

em contagiosos ou ambientais, de acordo com o

UFC/mL e 5,9 x10 , UFC/mL, respectivamente. De

modo de transmissão. Os patógenos contagiosos

acordo com os pesquisadores, estes resultados

são mais adaptados ao animal e estão geralmente

geram grande preocupação do ponto de vista de

associados com infecções subclínicas, enquanto que

saúde pública, devido à ampla distribuição dos

8657

4

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agentes e à sua grande patogenicidade.

spp.

coagulase

positivos

e

34,18%

como

Staphylococcus spp. coagulase negativos. Oliveira et al. (2011), em estudo realizado em rebanhos da bacia leiteira de Rondon, no Estado do

Em um estudo envolvendo oito fazendas leiteiras

Pará, verificaram que as bactérias isoladas a partir

do Estado de São Paulo, no qual foram

de casos de mastite clínica foram Staphylococcus

analisadas

spp. coagulase negativo (25%), S. aureus (16,7%),

mamários dos animais afetados pela mastite,

Streptococcus spp. (8,3%) e Corynebacterium spp.

18,1% das amostras analisadas apresentaram

(8,3%). Na etiologia da mastite subclínica, foram

crescimento de microrganismos, sendo que os

identificados

mais

negativo

Staphylococcus (32,3%),

S.

spp.

coagulase

aureus

(17,7%),

Staphylococcus intermedius (1,6%), Streptococcus spp.

(4,8%),

Corynebacterium

spp.

(4,8%)

amostras

frequentes

(10,4%)

e

de

foram

leite

de

quartos

Staphylococcus

Streptococcus

spp.

spp.

(4,6%)

(CASTELANI et al., 2013).

e

Staphylococcus spp. coagulase negativo associado

No Estado de Pernambuco, um levantamento

com S. aureus (1,6%). Não houve crescimento de

apontou prevalência de 53,49% de mastite nos

microrganismos

amostras

rebanhos estudados, observando a frequência de

provenientes de animais com mastite clínica e em

27,91% para Corynebacterium spp., 20,16% para

37,1% das provenientes de casos subclínicos.

Staphylococcus aureus, 18,60% Staphylococcus

em

41,7%

das

spp. e 4,65% Streptococcus spp. (TEST & Langoni

et

al.

(2011)

observaram

em

dez

CHAVE, 2001).

propriedades rurais localizadas no Estado de São Paulo, frequências de 29,52% para Corynebacterium

Peixoto et al. (2013), também no Estado de

bovis, 11,9% para Streptococcus dysgalactiae e de

Pernambuco,

verificaram,

10,48% para S. aureus. Em outro estudo realizado

microbiológicos

de

neste mesmo Estado, em cinco rebanhos leiteiros da

coletadas de quartos mamários acometidos por

região de Pirassununga, entre setembro a novembro

mastite, que 48,4% (156/322) não apresentaram

de 2000, as frequências médias de mastite clínica e

crescimento

de subclínica em animais foram 7,46% e 63,68%,

(93/322) houve crescimento de Corynebacterium

respectivamente (BUENO et al., 2002).

spp., em 17,7% (57/322) e de Staphylococcus

de

322

em

exames

amostras

microrganismos,

de

em

leite

28,9%

spp., em 2,2% (7/322). Costa (2008), em estudo sobre a epidemiologia da mastite em 35 rebanhos bovinos da região sul de

Brito et al. (1999) descreveram que, em Minas

Minas Gerais, verificou que a Staphylococcus aureus

Gerais, S. agalactiae encontra-se em 60% das

e S. agalactiae foram os dois principais patógenos

propriedades das regiões da Zona da Mata e de

associados aos casos de mastite clínica e subclínica,

Campos das Vertentes. Noutro estudo, Elias et al.

com

(2012) observaram uma prevalência de 39,7% do

prevalências

de

34,29%

e

21,82%,

respectivamente, nos animais amostrados.

S. agalactiae em propriedades localizadas em Minas Gerais.

Oliveira et al. (2013) isolaram S. aureus em diferentes pontos de amostragem no ambiente de

Na cidade de Sacramento-MG, foi observada

ordenha de propriedades leiteiras de São Paulo,

prevalência de 40% para a mastite entre os

verificando percentuais de positividade em amostras

rebanhos, sendo que 70,3% dos agentes isolados

de leite individual de vacas entre 0 a 15,5%.

de animais acometidos foram caracterizados

Motta et al. (2013) analisaram amostras de leite

bioquimicamente como pertencentes à espécie de

obtidas de vacas acometidas pela mastite, na bacia

S. aureus (SOUZA et al., 2013).

leiteira da região sudeste do Estado de São Paulo. com

Oliveira et al. (2013) estudaram a etiologia da

predomínio de enterobactérias e dos gêneros quais

mastite em uma população composta por 112

65,82% foram classificados como Staphylococcus

rebanhos com aproximadamente 6.000 vacas em

Foram

isolados

605

microrganismos,

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Artigo 509 - Impacto, prevalência e etiologia da mastite bovina causada por Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae

lactação localizadas nos estados de Minas Gerais e

et al., 2007).

Rio de Janeiro, tendo verificado que a prevalência para S. aureus e S. agalactiae foi de 93,0% e 41,0%.

A MASTITE E SEU IMPACTO NA QUALIDADE DO LEITE

Wilson et al. (1997) relataram que a maioria das IIM

Segundo Guerreiro et al. (2005), o leite, por

(>75%)

spp.,

natureza, é um alimento rico em nutrientes, contendo

Streptococcus agalactiae, Staphylococcus aureus e

proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e sais

Staphylococcus coagulase negativa. Neste estudo,

minerais e sua qualidade é um dos temas mais

os

discutidos atualmente dentro do cenário nacional de

é

causada

pesquisadores

prevalência para

por

Streptococcus

observaram

uma

Staphylococcus

spp.

maior (11,3%),

produção leiteira.

Streptococcus agalactiae (10,1%), Staphylococcus A melhoraria da qualidade do leite obtido no Brasil

aureus

começou a tomar forma em 2002, através da Makovec & Ruegg (2003) relataram prevalências de

Instrução

9,7% para Staphylococcus aureus, de 3,0% para

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Streptococcus

para

– MAPA (BRASIL, 2002), que estabeleceu regras

Staphylococcus coagulase-negativo, 20,1% para

para sua estocagem, transporte e requisitos de

Streptococcus spp., e de 6,7% para Escherichia coli

qualidade. A IN51 foi revista em 29 de dezembro de

entre 77.172 amostras de leite submetidas para

2011, através da publicação da Instrução Normativa

exame microbiológico no Laboratório de Diagnóstico

nº 62 (IN62) (BRASIL, 2011) e posteriormente em 03

Veterinário de Wisconsin, entre os anos de 1994 e

de maio de 2016 (IN 7) (BRASIL, 2016), visando

2001.

basicamente adequar os prazos para os produtores

agalactiae,

17,5%

Normativa

nº51/2002,

publicada

pelo

se enquadrarem aos critérios estabelecidos pela Segundo

Oliver

Streptococcus

Legislação. A legislação vigente estabelece os

agalactiae foi a maior causa de casos de mastite na

parâmetros que indicam a saúde da glândula

época

tratamento

mamária e a qualidade higiênico-sanitária do leite

antimicrobiano, o que levou ao desenvolvimento de

através da Contagem de Células Somáticas (CCS),

mastites crônicas em muitos rebanhos. De acordo

com no máximo 500.000 cels/ml de leite e a

com Zadoks et al. (2011) este patógeno é uma das

Contagem

espécies de estreptococos identificadas em IIM e

máximo de 300.000 UFC/ml de leite.

em

et

que

al.

não

(2004), se

utilizava

Bacteriana Total (CBT), com

limite

tem sido detectado em 31 a 48% de amostras de leite de tanque.

O leite tem sua composição e qualidade alteradas quando oriundo de vacas com mastite. A intensidade

Em uma pesquisa realizada com o intuito de estudar

das alterações depende da resposta inflamatória do

a prevalência do S. agalactiae na América do Sul,

animal, dos fatores de virulência do agente etiológico

observou-se que esta bactéria está presente em 60%

da doença e da extensão do tecido afetado

dos rebanhos brasileiros, em 42% dos rebanhos

(ZAFALON et al., 2005). A resposta imune pode

Colômbia e em 11% nos uruguaios (KEEFE, 2012).

variar entre diferentes agentes patogênicos e cada

Nos

sendo

agente pode determinar alterações específicas no

nos

leite (BANNERMAN et al., 2004; LEITNER et al.,

últimos

considerada

anos um

essa

bactéria

patógeno

está

re-emergente

rebanhos leiteiros da Europa (RADTKE et al., 2012;

2006).

ALMEIDA et al., 2013). Segundo Philpot & Nickerson (1991), os leucócitos Embora o percentual de mastite causada por S.

correspondem a 98 a 99% das células somáticas

agalactiae

encontradas

em

algumas

pesquisas

seja

baixo,

no

leite.

O

processo inflamatório

estudos realizados no Brasil demonstraram que esta

provoca a liberação de substâncias químicas devido

bactéria continua a ser um dos patógenos mais

à ação dos agentes patogênicos e da destruição de

importantes na etiologia da mastite bovina, o qual

tecido secretor, o que induz a passagem de

tem sido isolado em diferentes regiões do país com

leucócitos do sangue para o interior da glândula.

prevalências que variaram de 3,2% a 33% (SANTOS

Estas células têm a função de combater os agentes

8659

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.01, p.8654-8668, jan/fev, 2020. ISSN: 1983-9006


Artigo 509 - Impacto, prevalência e etiologia da mastite bovina causada por Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae

valiosa para a avaliação do nível de mastite

patogênicos.

subclínica no rebanho, para a estimativa das perdas A CCS individual normal é de aproximadamente -1

quantitativas e qualitativas de produção do leite e

68.000 células/mL no leite de uma vaca com todos

derivados, como indicativo da qualidade do leite

os quartos mámarios sem nenhum tipo de infecção.

produzido na propriedade, sendo essencial para se

Escores de CCS individual acima de 200.000 cel./mL

estabelecer as medidas de prevenção e controle da

de leite são indicativos de processo infeccioso na

mastite (MÜLLER, 2002).

glândula

mamária

(LAEVENS

et

al.,

1997;

SCHEPERS et al., 1997; DJABRI et al., 2002).

Djabri et al. (2002) verificaram que a CCS em animais

acometidos

pela

mastite

apresenta

A mastite é a principal causa do aumento da

variações que dependem do patógeno envolvido,

contagem de células do leite que, na maioria dos

podendo variar entre 105.000 células/mL

casos, é resultado de uma infecção bacteriana.

infecções acometidas por Corynebacterium bovis,

Como resultado da inflamação, as paredes dos

até 1.151.000 células/mL

vasos sanguíneos se tornam dilatadas e diversas

por E. coli. Neste mesmo estudo, verificaram que S.

substâncias do sangue passam junto com os

aureus e S. uberis induziram um contagens de

leucócitos para a luz da glândula, misturando-se ao

357.000 e 1.024.000 células/mL , respectivamente.

-1

-1

em

em infecções causadas

-1

leite. Entre estas substâncias podem ser citados os íons Cl e Na e bicarbonatos que alteram as

RIBAS et al. (2014) avaliaram os ECS (escores de

características físico-químicas e sensoriais do leite.

células somáticas) e suas relações com os teores de

Devido às lesões no tecido mamário, as células

gordura, proteína, lactose e sólidos totais em

secretoras se tornam menos eficientes, isto é, com

1.950.034 amostras de leite do leite cru de tanques

menor capacidade de produzir e secretar o leite. Isso

de

explica a perda de qualidade e a redução da

influenciaram a composição do leite, afetando sua

produção do animal (BRITO & BRITO, 2001).

qualidade, alterando a permeabilidade dos vasos

expansão.

Verificaram

que

altas

CCSt

sanguíneos da glândula mamária e reduzindo a A CCS é o instrumento mais preciso de avaliação da

secreção dos componentes do leite sintetizados

saúde da glândula mamária. É considerada normal,

(proteína, gordura e lactose) pela ação direta dos

para tanque de mistura, a CCS menor ou igual a 200

patógenos ou de enzimas.

-1

mil células mL ; sendo que valores superiores a este no rebanho

Schukken et at. (2009) relataram que as IIM

(SANTOS & FONSECA, 2007). Segundo Viguier et

causadas por Staphylococcus coagulase negativa

al. (2009), o aumento da CCS é o principal indicador

(SCN),

de mastite no rebanho.

comparado às vacas multíparas, resultaram em um

limite são indicativos de mastite

mais

frequentes

em

novilhas

quando

aumento moderado da CCS. IIM ocasionadas por De acordo com Machado et al. (2000), as células

Corynebacterium causaram aumento moderado da

somáticas são normalmente, células de defesa do

CCS,

organismo que migram do sangue para o interior da

agalactiae,

glândula mamária com o objetivo de combater

apresentaram impacto relevante na CCS.

enquanto

àquelas

Streptococcus

ocasionadas spp.

e

por

S.

S.

aureus

agentes agressores, mas podem ser também, células de descamação do epitélio glandular. Deste

De acordo com Haas et al. (2002), variações da CCS

modo, a CCS de uma vaca permite a quantificação

podem ser observadas durante o curso da infecção e

do grau de infecção da glândula mamária, e a

em função do agente etiológico da mastite. Um

avaliação periódica da CCSt do rebanho permite a

exemplo é a mastite causada por coliformes, na qual

determinação da incidência média de mastite no

CCS é baixa antes e depois da ocorrencia da mastite

rebanho.

clínica, enquanto que, no caso clínico de mastite por S. aureus e Streptococcus, a CCS aumenta no início

O monitoramento da CCS no leite de animais

da infecção e permanece elevada até a cura, e pode

individuais ou no leite de tanque é uma ferramenta

ocorrer de manter-se num nível elevado mesmo após

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8660


Artigo 509 - Impacto, prevalência e etiologia da mastite bovina causada por Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae

Zanette et al. (2010) pesquisaram o perfil de

a eliminação da mastite.

suscetibilidade aos antimicrobianos em isolados de A análise de leite de tanque é amplamente aceita

S. aureus, por meio da técnica de difusão em disco.

como ferramenta para a avaliação da qualidade do

Verificaram que os antibióticos com maior eficácia in

leite e monitoramento da saúde do úbere do rebanho

vitro foram ciprofloxacino e sulfazotrim, com 97,44%

(RYSANEK et al., 2007). Segundo Jayarao e

e a vancomicina, com 94,87%. As drogas menos

Wolfgang (2003), a contagem bacteriana do leite do

efetivas

tanque pode fornecer uma base de informações

resistência e tetraciclina, com 30,77%.

foram

a

penicilina,

com

46,15%

de

significativas em relação às práticas de higiene de manejo de ordenha e de limpeza de equipamentos

Saeki et al. ( 2011), também pesquisando sobre o

de ordenha. Além disso, a análise de leite de tanque

perfil de sensibilidade aos antibióticos comerciais em

é menos onerosa, menos trabalhosa e mais rápida

isolados de Staphylococcus aureus, verificaram que

do que a análise de leite de animais individuais. Por

os antibióticos mais eficientes foram a gentamicina

outro lado, segundo Jayarao et al.. (2004), os

(10 µg), cefalexina (30 µg) e ciprofloxacina (10 µg)

resultados de cultura de leite de tanque têm sido

com 100% de eficácia, seguidos de norfloxacino

criticados pela sua baixa sensibilidade em detectar

(94,6%).

patógenos

contagiosos

da

mastite,

como

S.

agalactiae e/ou S. aureus dentro do rebanho. O

Moroni et al. (2006), avaliaram a suscetibilidade aos

aumento da sensibilidade de detecção de S.

antimicrobianos em Staphylococcus aureus isolados

agalactiae e/ou S. aureus pode ser alcançado com a

do leite de vacas acometidas pela subclínica ß-

realização de análises microbiológicas seriadas,

lactâmicos,

repetindo-se a cultura durante um período de tempo,

concentrações inibitórias mínimas (CIM) somente

cultivando-se maiores volumes de leite ou utilizando-

para

se de meios de cultura seletivos e enriquecidos.

(especificamente cloxacilina) ou combinações com

na

certas

penicilina

Itália.

Demonstraram

penicilinas

(amoxacilina

que

as

ß-lactamase–resistentes +

clavulanato)

foram

Apesar da baixa sensibilidade de detecção, a cultura

consistentemente eficazes contra Staphylococcus

de leite de tanque possui alta especificidade para

aureus, enquanto que os outros derivados de ß-

patógenos contagiosos, sendo uma ferramenta útil

lactâmicos e drogas de outros grupos farmacêuticos

no monitoramento destes microrganismos, uma vez

foram

que a presença de S. agalactiae ou S. aureus por

ineficazes.

ambos

moderadamente

eficazes

ou

meio de cultura microbiológica pode ser considerado um

indicador

confiável

da

presença

destes

Hartwing et al. (2014) determinaram a Concentração Mínima Inibitória (CMI) do sulfato de cefquinoma,

patógenos no rebanho (GODDEN et al., 2002).

avaliando

sua

eficácia

frente

aos

agentes

RESISTÊNCIAS AOS ANTIMICROBIANOS EM

bacterianos:

PATÓGENOS CAUSADORES DE MASTITE

negativo), Staphylococcus aureus, Streptococcus

Uma das principais preocupações atualmente no

spp.,

controle da mastite é a resistência dos patógenos

dysgalactiae, Streptococcus pyogenes, Trueperella

aos antimicrobianos, fenômeno que vem crescendo

pyogenes, Nocardia spp., Corynebacterium spp. e

em importância ( BRITO & BRITO, 2001).

Bacillus cereus, isolados de amostras de leite de

Staphylococcus

Streptococcus

vacas

que

spp.

uberis,

apresentavam

(coagulase Streptococcus

mastite

clínica

ou

Brito et al.( 2001) determinaram a concentração

subclínica. As CMIs para cada uma das bactérias

mínima inibitória (CMI) de alguns antimicrobianos

testadas variaram em um intervalo de 0,014 a

para o Staphylococcus aureus isolados da mastite e

115,781 µg.ml , mas as CMIs obtidas para a maioria

verificaram

foram

dos agentes bacterianos foram inferiores a 2 µg.ml ,

susceptíveis à cefalotina, eritromicina, gentamicina,

com exceção da Nocardia spp. que somente foi

norfloxacina e oxacilina, 91% à tetraciclina e à

inibida em concentrações maiores de antibióticos, e

tilosina, 65% à ampicilina e à penicilina G. Todas os

do

isolados testados foram susceptíveis à neomicina,

resistência a todas as concentrações de sulfato de

exceto um que apresentou um padrão intermediário.

cefquinoma avaliadas.

8661

que

100%

das

amostras

-1

-1

Staphylococcus

aureus

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.01, p.8654-8668, jan/fev, 2020. ISSN: 1983-9006

que

apresentou


Artigo 509 - Impacto, prevalência e etiologia da mastite bovina causada por Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae

Diniz et al. (2010) avaliaram a resistência à oxacilina

indicadoras que podem se tornar disseminadoras de

em Staphylococcus aureus provenientes de animais

genes de resistência.

com histórico de mastite recorrente, através da concentração inibitória mínima (CIM). Verificaram

Bengtsson et al. (2009) relataram a resistência aos

51,35%

antimicrobianos em diversos patógenos causadores

de

isolados

resistentes

à

oxacilina, do

de mastite. Entre os isolados de S. agalactiae, dois

tratamento e da recorrência da infecção associado a

eram resistentes à tetraciclina, um CIM elevadas (>8

estes isolados.

mg/L) para a clindamicina, eritromicina (1 mg/L) e

salientando

os

problemas

de

insucesso

espiramicina (> 64 mg / L), indicando também a Santos et al. (2006) avaliaram a susceptibilidade aos

resistência

antimicrobianos em Staphylococcus spp. isolados de

antimicrobianos.

adquirida

a

estes

agentes

vacas com mastites clínica ou subclínica, na região de Uberlândia-MG. Demonstraram que dois isolados

Guérin-Faublée

de

et

al.

(2002)

analisaram

a

foram

susceptibilidade a antimicrobianos em diferentes

resistentes à oxacilina com CIM de 512 mg/mL e

espécies de Streptococcus isolados de IIM, incluindo

1028 mg/mL, respectivamente, evidenciando uma

50 cepas de Streptococcus uberis, 42 de S.

elevada

resistentes,

dysgalactiae e oito de S. agalactiae. A resistência à

reforçando a importância do uso adequado e

tetraciclina foi a mais frequente (em particular para

monitorado de antibióticos.

as estirpes de S. dysgalactiae). Todas as cepas de

Staphylococcus

coagulase

porcentagem

de

positiva

cepas

S. dysgalactiae e S. agalactiae foram suscetíveis βSchlegelová et al. (2002) determinaram a CIM de

lactamicos, mas 44% das cepas de S. uberis

estirpes de Staphylococcus aureus, Staphylococcus

mostraram uma elevada resistência a penicilina.

coagulase negativo (SCN), Listeria monocytogenes,

Também

Escherichia coli, Enterococcus faecalis, E. faecium e

estreptomicina (CIM >1024 mg/L) em 18%, 25% e

Bacillus cereus, isolados de 111 amostras de leite de

4,8% de S. uberis, S. dysgalactiae e S. agalactiae,

tanque de expansão, frente aos antimicrobianos

respectivamente, enquanto que 10%, 0% e 4,8 foram

amicacina, ampicilina, ampicilina + sulfabactan,

resistentes à kanamicina. Todos as cepas de S.

cefalotina

clindamicina,

dysgalactiae e de S. agalactiae foram sensíveis à

cloranfenicol (CMP), o co-trimoxazole, eritromicina

penicilina G. Oito cepas de S. agalactiae foram

(ERY),

resistentes

ao trimetoprim. Todos

os

avaliados

foram

cloranfenicol,

oxacilina,

(CLT), gentamicina, penicilina,

cefotaxima, neomicina,

norfloxacina,

estreptomicina

(STR),

se

observou

resistência

suscetíveis

a

elevada

à

isolados

tetraciclina (TTC) e vancomicina. A resistência contra

rifampicina e rifaximina. Em geral, 48%, 7,1% e 0%

um ou mais antimicrobianos foi encontrada em 93%

de S. uberis, S. dysgalactiae e S. agalactiae,

de S. aureus, 40% dos SCN, 73% de E. coli, 88% de

respectivamente

E. faecalis, 55% de E. faecium, e uma cepa L.

antimicrobianos

monocytogenes. A maior parte dos microrganismos,

prevalências de resistência foram observadas para

particularmente os enterococos, foi resistente a STR,

tetraciclina e trimetoprim entre os isolados de S.

TTC, e ERY (MIC50 4 µg/mL). Alta resistência a CLT

dysgalactiae e S. agalactiae.

foram

sensíveis

compostos

a

todos

testados.

os

Altas

foi verificada para 11 estirpes de E. coli (MIC 256 µg/ml) que também foram resistentes a CMP (MIC90

CONSIDERAÇÕES FINAIS

16 µg/ml). O maior número de fenótipos de

A mastite é a enfermidade mais relevante na

resistência foi encontrado para E. coli (16), seguido

pecuária

de SCN (12). Dezoito fenótipos de resistência

produtores, devido às perdas produtivas e despesas

idênticos foram demonstrados em E. coli, E. faecalis

com tratamentos, e para as indústrias de laticínios,

e E. faecium, S. aureus e SCN isolados a partir da

devido à perda de qualidade da matéria-prima. Pode

mesma amostra de leite de tanque de expansão.

ainda causar problemas à saúde do consumidor,

Segundo os autores, os resultados demonstram o

seja pela presença de patógenos transmissíveis no

problema da resistência não apenas entre os

leite e derivados, seja por resíduos de drogas

agentes patogênicos, mas também entre bactérias

administradas com intuito de tratar os animais afeta-

leiteira,

acarretando

prejuízos

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.01, p.8654-8668, jan/fev, 2020. ISSN: 1983-9006

aos

8662


Artigo 509 - Impacto, prevalência e etiologia da mastite bovina causada por Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae

os pela doença. Diante disto, ressalta-se que a

BRASIL.

MINISTÉRIO

DA

AGRICULTURA,

mastite deve ser motivo de atenção e preocupação

PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Instrução

entre todos os segmentos envolvidos na cadeia

Normativa 07 de 03 de maio de 2016. Dispõe

leiteira, e que os estudos sobre a mesma devem ser

sobre alterações no regulamento técnicos de

permantentes, tendo em vista que sua epidemiologia

produção, identidade, qualidade, coleta e

é processo bastante dinâmico.

transporte do leite. Diário Oficial da União, Brasília, Seção 1, 84 maio. 2016.

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leite

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Dissertação

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