NutriTime Revista Eletrônica n. 04 vol. 14 2017

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Revista Eletrônica

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Nutritime Revista Eletrônica www.nutritime.com.br Praça do Rosário, 01 Sala 302 - Centro - Viçosa, MG - Cep: 36.570-000 A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda, com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos e também resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br.

Editora Responsável: Juliana Maria Freitas Teixeira Brito Editor Científico: Júlio Maria Ribeiro Pupa Editora Técnica: Rosana Coelho de Alvarenga e Melo Cláudio José Borela Espeschit Evandro de Castro Melo Fernando Queiróz de Almeida José Luiz Domingues

Júlio Maria Ribeiro Pupa George Henrique Kling de Moraes Marcelo Diniz dos Santos Marcos Antonio Delmondes Bomfim Maria Izabel Vieira de Almeida Patricia Pinheiro de Campos Fonseca Rodrigues Rony Antonio Ferreira Rosana Coelho de Alvarenga e Melo É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo da NRE da em qualquer meio de comunicação, seja eletrônico ou impresso, sem a sua devida citação.



Sumário

ARTIGOS 430 – Frequência de suplementação a pasto ............................................................................................................... 6030 Leonardo Guimarães Silva, Frederico correia cairo, Diego Lima Dutra, Bárbara Bianca Porto de Avelar, Fernando correia cairo, Maxwelder Santos Soares, Olivaneide da Silva Frazão 431 - Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal........................................................................ 6041 Maxwelder Santos Soares 432 - Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema – Alagoas ..................................................................................................................................................................... 6056 Amanda Graça Gomes Ferreira, Daniele Gomes de Lyra, José Crisólogo de Sales Silva, Francisca Marcia França Soares, Cleyton de Almeida Araújo 433 – Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte....................................................................... 6066 Bruna Cristhina de Oliveira, Graciele Araújo de Oliveira Caetano, Messias Batista Caetano Júnior, Taynara Raimundo Martins, Cláudia Beatriz de Oliveira 434 – Caracterização dos confinamentos de bovinos de corte na região do meio oeste catarinense ....... 6076 João Paulo Carenagto, Cláudia Batista Sampaio, Edenio Detmann, Fabyano Fonseca, Pedro del Bianco Benedeti 435 – Enriquecimento ambiental e bem-estar na suinocultura.............................................................................. 6083 Francisca Luana de Araújo carvalho, Aline da Silva Gomes, Gabriela Priscila de Sousa Maciel, Firmino José Vieira Barbosa, Wéverton José Lima Fonseca 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes .................................... 6091 Laion Antunes Stella, Angel Sanchez Zubieta, Bruna Kuhn Gomes, Ênio Rosa Prates 437 – Estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro .......................................... 7001 Glayciane Costa Gois, Fleming Sena Campos, Gilmara Gurjão Carneiro, Tiago Santos Silva, Alex Gomes da Silva Matias



Frequência de suplementação a pasto Alimentação, bovinos, pastagem. 1

Revista Eletrônica

Leonardo Guimarães Silva 1 Maxwelder Santos Soares 2 Frederico Correia Cairo 2 Fernando Correia Cairo 2 Diego Lima Dutra

Vol. 14, Nº 04, jul./ago.de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

1

Programa de Pós-Graduação em Zootecnia na Unesp-Jaboticabal, SP. Email- leocrado@hotmail.com 2 Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga-BA

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO

FREQUENCY SUPPLEMENTATION AT PASTURE

A maioria dos sistemas de produção de bovinos de

ABSTRACT

corte em regiões tropicais está baseada na utilização

Most beef cattle production systems in tropical

de gramíneas tropicais como recursos forrageiros

regions is based on the use of tropical grasses such

basais, pois estas são capazes de prover substratos

as basal forage resources, as these are capable of

energéticos de baixo custo, principalmente a partir

providing energy substrates low cost, mainly from the

dos carboidratos fibrosos. Contudo, as gramíneas

fibrous carbohydrates. However, tropical grasses can

tropicais raramente podem ser consideradas dieta

rarely be considered balanced diet for grazing

equilibrada

Os

animals. The supplements are commonly used to

suplementos são comumente usados para adicionar

add extra nutrients, or meet those limiting the

nutrientes extras, ou suprir aqueles limitantes ao

animal's performance. Thus should be the last resort

desempenho do animal. Dessa forma devem ser o

to be used, and the farmers need to evaluate other

último recurso a ser utilizado, e os pecuaristas

pasture management strategies before considering

necessitam avaliar outras estratégias de manejo da

its use. Supplementation should be used as a means

pastagem antes de considerarem o seu uso. A

of maximizing the use of available forage, keeping in

suplementação deve ser usada como meio de

mind that the supplement should not provide

maximizar a utilização da forragem disponível, tendo

nutrients beyond the requirements of the animals. In

em mente que o suplemento não deve fornecer

this approach, a practice that has been addressed in

nutrientes além das exigências dos animais. Nesse

beef production systems is the reduction in the

enfoque, uma prática que vem sendo abordada nos

frequency of providing supplement the animals on

sistemas de produção de carne bovina é a redução

pasture. Search with the implementation of this

na frequência do fornecimento do suplemento a

practice further rationalization of hand labor in the

animais mantidos em pastagens. Busca-se com a

supplement distribution and reducing costs without

implementação dessa prática maior racionalização

affecting the performance of the animals.

da mão-de-obra na distribuição do suplemento e

Keyword: food, cattle, pasture.

para

animais

em

pastejo.

redução dos custos sem afetar o desempenho dos animais. Palavras-chave: alimentação, bovinos, pastagem.

6030


Artigo 430 – Frequência de suplementação a pasto

INTRODUÇÃO

A

Nas principais regiões produtoras de carne bovina

diretamente da economia em escala, pois opera com

do país, há grande variação na produção e na

margens de lucro mais reduzidas. Assim, a utilização

qualidade das forragens durante o ano e essas

de

variações

principais

autocontrole de consumo ou infrequente pode ser

responsáveis pelos baixos índices produtivos obtidos

uma alternativa de manejo de suplementos em

no Brasil.

sistemas de suplementação de bovinos a pasto e

são

apontadas

como

as

viabilidade

da

estratégias

pecuária

de

de

corte

suplementação

depende

do

tipo

possibilita ao produtor redução de gastos com mãoSegundo a Associação Brasileira das Indústrias

de-obra e equipamentos para suplementação.

Exportadoras de Carne (ABIEC, 2013), o Brasil destaca-se por possuir o segundo maior rebanho

Desta forma, objetivou-se com esta revisão avaliar

mundial de bovinos, aproximadamente 208 milhões

os resultados produtivos de estratégia e frequência

de cabeças, ocupando uma área de pastagem 169

da suplementação a pasto.

milhões de hectares. Portanto, a pecuária de corte é uma atividade de grande importância social e econômica no Brasil. Entre as vantagens da pecuária nacional, destacam-se a competitividade econômica, a produção de carne sob condições de ambientes naturais e a tendência de demanda dos mercados mais exigentes. Diante dessas vantagens, a bovinocultura está passando de uma atividade extrativista e extensiva à utilização intensiva de

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA GRAMÍNEAS TROPICAIS As gramíneas pertencem ao reino vegetal, divisão angiospermae, classe monocotiledoneae e ordem gramínelas. As mesmas estão agrupadas em 600 gêneros e 5000 espécies; 75% das forrageiras são desta família.

tecnologia e à melhor capacidade de gerenciamento para maior eficiência ao longo de toda a cadeia

A maioria dos sistemas de produção de bovinos de corte, em regiões tropicais, está baseada na

produtiva (Zervoudakis, 2000).

utilização de gramíneas tropicais como recursos As pastagens constituem a base da alimentação de rebanhos estabelecidos nas regiões tropicais, o desempenho animal é obtido a partir da interação forragem disponível

x consumo x digestão x

exigências nutricionais, que pode ser satisfatório ou não no sistema de produção. Diante de um desempenho

não

satisfatório,

é

necessária

a

suplementação da dieta dos animais, que deve ser conveniente do ponto de vista técnico-econômico

Sob esta ótica, a suplementação, aliada ao manejo correto das pastagens, tem sido uma das principais de

manejo

nutricional

capaz

de

disponibilizar nutrientes para aumentar a taxa de digestão, síntese de proteína microbiana e assim aumentar o consumo, extração de energia da forragem e fluxo de nutrientes para o trato posterior, viabilizando e estabelecendo uma bovinocultura condizente

com

sustentabilidade

os

substratos

energéticos

de

baixo

custo,

principalmente a partir dos carboidratos fibrosos (Paulino et al., 2008). Contudo, as gramíneas tropicais raramente podem ser consideradas dieta equilibrada para animais em pastejo, pois estas irão exibir invariavelmente uma ou mais limitações nutricionais

que

causarão

restrições

sobre

o

consumo de pasto, a digestão da forragem ou a metabolizabilidade dos substratos absorvidos.

(Zervoudakis et al., 2002).

ferramentas

forrageiros basais, pois estas são capazes de prover

novos

socioeconômica

padrões e

de

Desta forma, demanda-se a identificação das principais limitações nutricionais do pasto para se evitar entraves à produção animal. Depois de identificadas, as deficiências nutricionais poderão ser reduzidas ou eliminadas utilizando-se programa adequado de suplementação, o que resultará em incremento no desempenho dos animais e na eficiência do sistema de produção (Detmann et al., 2010; 2013).

ambiental

preconizado (Paulino et al., 2008). Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6030-6040, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

6031


Artigo 430 – Frequência de suplementação a pasto

Os fatores climáticos são reconhecidamente um dos

sazonalidade é a principal causa da baixa produção

principais

das

bovina nos trópicos, promovendo inadequação no

gramíneas tropicais utilizadas em sistemas pastoris

atendimento das exigências nutricionais dos animais.

ao longo do ano. Em termos gerais, a influência

A tabela 1 apresenta a composição bromatológica de

climática

gramíneas forrageiras durante o período das águas

determinantes

é

da

qualidade

caracteristicamente

definida

pelas

alterações causadas na forragem pela presença ou

obtido de pastejo simulado.

ausência de precipitação. Todas

as

forragens

são

compostas

de

uma

população heterogênea de tipos de células, cada uma das quais tem uma parede celular com

TABELA 1 - Composição química de Brachiaria brizantha cv. Marandu obtida de pastejo simulado no período das águas. MS

MM

PB

EE

nutritivo potencial da sua fração parede celular

26,01

-

9,52

-

(fibra), por causa das diferenças tanto na quantidade

24,81

7,89

12,2

2,16

-

35,84

67,52

Dias, 2013

de paredes celulares derivadas de vários tipos de

25,75 10,93

7,73

2,00

-

45,13

52,13

Mendes, 2013

25,37

12,00 4,20

-

40,11

63,00

Barroso, 2014

propriedades únicas. Forragens diferem no valor

células consumidas pelo animal como pela sua degradabilidade individual. Estimativas de relações de folhas, bainhas de folhas e colmos refletem, a um nível morfológico, variações nas quantidades de diferentes tipos de células presentes.

8,36

FDN

FDA

FDNcp Autor

62,54 31,53

-

Canesin, 2007

MS- matéria seca; MM- mistura mineral; PB- proteína bruta; EEExtrato etéreo; FDN- Fibra em detergente neutro; FDA- Fibra em detergente ácido; FDNcp- Fibra em detergente neutro corrigido para cinza e proteína. Fonte: Canesin, 2007; Dias, 2013, Mendes, 2013, Barroso, 2014

No período da seca,

as

forrageiras

tropicais

A utilização por ruminantes, de componentes de

apresentam baixo valor nutritivo, com teores de

parede celular é diferente para várias frações de

proteína inferiores ao mínimo de 7,0% na matéria

plantas e estádios de desenvolvimento, assim como

seca, limitando a atividade de microrganismos.

para diferentes tipos de paredes celulares. As

Consequentemente,

células lignificam de acordo com o tipo e idade da

digestibilidade da fração fibrosa da forragem e da

célula. Paredes de células de mesófilo, floema e

produção de ácidos graxos voláteis, importantes

parênquima jovens são pouco lignificadas, enquanto

fontes de energia para os ruminantes, além de

as de esclerênquima e xilema velhos são altamente

carência

lignificadas. Há diferenças marcadas no processo de

(Minson, 1990). Na tabela 2 é apresentada a

lignificação e estrutura de lignina formada.

composição

proteica

verifica-se

e

química

energética de

diminuição

nesse

amostras

da

período

de

pastejo

simulado de gramíneas durante o período seco. Durante o período das águas a situação de uma maior quantidade e qualidade da forragem permite que animais em pastejo apresentem melhores desempenhos. Embora os pastos tropicais, na época

TABELA 2- Composição química de Brachiaria brizantha cv. Marandu obtida de pastejo simulado no período seco.

das águas, não sejam considerados deficientes em proteína,

elevada

proporção

dos

compostos

MS

MM

PB

EE

FDN

FDA FDNcp NIDIN NIDA LIG

nitrogenados totais do pasto pode ser encontrada na

57,95 7,18 4,39 2,47 83,03 44,96

62,87

forma insolúvel em detergente neutro. Considerada

51,00 6,50 4,00 2,52 78,56 45,27

20,84 24,20 8,86

72,20

-

-

5,00

de lenta e incompleta degradação, podendo implicar

23,70 8,00

1,80

-

-

72,50

-

-

-

em

30,41 9,68 8,11 2,47

-

35,37

63,73

-

-

-

carência

de

compostos

nitrogenados

aos

microrganismos ruminais.

6,7

MS- matéria seca; MM- mistura mineral; PB- proteína bruta; EEExtrato etéreo; FDN- Fibra em detergente neutro; FDA- Fibra em

Nos trópicos existe elevada flutuação qualitativa e

detergente ácido; FDNcp- Fibra em detergente neutro corrigido para cinza e proteína; NIDIN – Nitrogênio insolúvel em detergente

quantitativa das pastagens, o que resulta em ganhos

neutro; NIDA- Nitrogênio insolúvel em detergente ácido.

de peso no período das águas e perda de peso no

Fonte: Mateus, 2009; Souza, 2010; Mateus, 2013; Abreu Filho, 2014.

período seco, com duas estações bem definidas no Brasil central. Segundo Euclides et al. (1998), a 6032 Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6030-6040, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 430 – Frequência de suplementação a pasto

O que se busca em uma forrageira é a capacidade

a ingestão de matéria seca, o desempenho animal e

de

as

a taxa de digestão, além de fornecer os nutrientes

demandas dos animais. No entanto, se por um lado

que complementam o pasto (Bargo et al., 2003). A

as forrageiras variam em qualidade, por outro, os

suplementação concentrada pode, ainda, elevar o

requerimentos nutricionais do animal também não

suprimento de energia metabolizável que, aliado a

são constantes durante sua vida, ou mesmo no

quantidades satisfatórias de proteína degradável no

decorrer do ano. Estes variam em função de

rúmen aumenta a síntese de proteína microbiana. A

diversos fatores, como idade, estado fisiológico,

extensão da resposta ao suplemento varia em

sexo, grupo genético, peso e escore corporal. Assim,

função da qualidade da dieta basal (forragem),

considerando-se sistemas de produção nos quais se

definida pelo ganho de peso observado nos animais

buscam índices elevados de eficiência, somente em

suplementados com sal mineral.

atender,

pelo

maior

período

possível,

situações particulares, e por pouco tempo, mesmo durante o verão, estas forrageiras seriam capazes

No Brasil, a maior parte da produção bovina de corte

de possibilitar que animais de bom potencial

está fundamentada em sistemas de pastagens

genético

formadas por espécies do gênero Brachiaria, que por

tivessem

suas

exigências

atendidas

serem gramíneas tropicais, apresentam produção

(Euclides, 2000).

(quantitativa

e

qualitativa)

distribuída

em

dois

PRINCÍPIO DA SUPLEMENTAÇÃO

períodos distintos: estação chuvosa e quente e

Os suplementos concentrados são aqueles com

estação seca e fria.

menos de 18% de fibra bruta na matéria seca e podem ser classificados como proteicos, quando têm

Segundo Reis et al. (1997), com o crescimento,

mais de 20% de proteína na matéria seca, ou

ocorrem alterações que resultam na elevação dos

energéticos, com menos de 20% de proteína na

teores de compostos estruturais tais como: celulose,

matéria seca (NRC, 1996).

hemicelulose e lignina e paralelamente diminuição no conteúdo celular. Com o desenvolvimento das

Os suplementos são comumente usados para

plantas ocorre diminuição na relação folha/colmo

adicionar

aqueles

resultando em modificações na estrutura das plantas

limitantes ao desempenho do animal. Contudo, os

e dessa forma, é de se esperar, que plantas mais

suplementos são caros e frequentemente usados

velha apresentem menor conteúdo de nutrientes

para corrigir erros de manejo. Dessa forma deve ser

potencialmente digestíveis. Desta forma, no intuito

o último recurso a ser utilizado e os pecuaristas

de

necessitam avaliar outras estratégias de manejo da

satisfatórios,

pastagem antes de considerarem o seu uso.

suplementação alimentar, especialmente durante o

nutrientes

extras,

ou

suprir

O

principal objetivo da nutrição de bovinos em pastejo

manter

o

desempenho

tem

sido

animal

largamente

em

níveis

utilizada,

a

período de escassez de forragem (Brito et al., 2007).

é suprir os requerimentos dos microrganismos do rúmen, principalmente no que se refere ao nitrogênio

De maneira geral, a suplementação da dieta de

(Poppi & Mclennan, 2007).

animais em pastejo é realizada com os seguintes

Os suplementos podem ser usados para corrigir

objetivos: corrigir a deficiência de nutrientes da

deficiências de nutrientes específicos, adicionar

forragem; aumentar a capacidade de suporte das

outras fontes de forragem, incluir aditivos na

pastagens; potencializar o ganho de peso; diminuir a

alimentação. Ao desenvolver um suplemento, ele

idade ao abate; auxiliar no manejo das pastagens;

deve conter todos os nutrientes necessários para

fornecer aditivos ou promotores de crescimento

promover o equilíbrio nutricional na dieta (Kunkle et

(Reis et al., 2005).

al., 1999). A suplementação deve ser usada como meio de As estratégias apropriadas para incrementos na

maximizar a utilização da forragem disponível, tendo

produção

animal,

em mente que o suplemento não deve fornecer

requerem

uma

com

uso

compreensão

de dos

suplementos, efeitos

de

diferentes tipos de suplementos, que podem alterar

nutrientes além das exigências dos animais (Parsons & Allinson, 1991; Paterson et al.,1994).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6030-6040, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

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Artigo 430 – Frequência de suplementação a pasto

FREQUÊNCIA DE SUPLEMENTAÇÃO

Nos mamíferos, a amônia absorvida no trato

A utilização de suplementos para bovinos de corte

gastrintestinal (nos ruminantes, principalmente no

em pastejo tem sido uma das principais estratégias

rúmen-retículo)

para intensificar os sistemas de produção, tornando-

catabolismo de aminoácido e ácidos nucléicos é

se

e

convertida, no fígado, a ureia, sendo posteriormente

sustentabilidade do setor pecuário (Valadares Filho

excretada na urina (Brody, 1994). Quanto ao destino

et al., 2006).

final da ureia produzida no metabolismo da amônia

fundamental

para

a

competitividade

(ciclo

da

ou

ureia),

ainda,

os

liberada

durante

ruminantes

o

assumem

Nesse enfoque, uma prática que vem sendo

característica importante em relação aos outros

abordada nos sistemas de produção de carne bovina

mamíferos, que é a possibilidade do retorno

é a redução na frequência do fornecimento do

(reciclagem) deste nitrogênio, agora na forma de

suplemento a animais mantidos em pastagens.

ureia para o trato digestivo, notadamente no rúmen-

Busca-se com a implementação dessa prática maior

retículo (NRC,1985). A reciclagem de ureia ocorre

racionalização da mão-de-obra na distribuição do

principalmente por meio da saliva ou por difusão

suplemento e redução dos custos sem afetar o

através da parede ruminal (Van Soeste, 1994).

desempenho dos animais (Berchielli et al., 2006). A alteração na frequência de suplementação permite A redução na frequência de suplementação não

ao produtor uma racionalização da mão-de-obra e

prejudica

pode

dos equipamentos (Zervoudakis, 2003). Goes et al.,

representar uma opção para o produtor visando

2005a estudando o efeito das diferentes frequências

principalmente

de suplementação de bovinos com média de peso

o

desempenho a

do

redução

animal dos

e

custos

do

inicial de 228 kg, fornecendo o equivalente de 0,4

fornecimento da alimentação (Canesin et al., 2007).

kg/dia de concentrado por animal, verificaram que a sistemas

suplementação diária, duas ou três vezes por

produtivos no setor pecuário brasileiro e da sensível

semana não promoveu diferenças em ganho de

adesão do produtor à técnica de suplementação,

peso, sendo que os mesmos autores sugerem que a

muitas dúvidas ainda permanecem obscuras quanto

frequência de três vezes por semana é um meio de

a esta prática de manejo nutricional. Há anos, os

redução da mão-de-obra na fazenda.

Diante

da

grande

variabilidade

dos

pesquisadores têm se esforçado na tentativa de de

Moraes et al. (2004) avaliaram o efeito da frequência

suplementação em pastagens, em decorrência da

da suplementação 7, 6, 5 e 3 vezes por semana

complexidade da interação solo x clima x forragem x

sobre o desempenho de bovinos (nelorados e

animal x suplemento utilizado (Brito, 2004).

mestiços leiteiros) em pastagem de Brachiaria

equacionar

integralmente

a

técnica

decumbens no período seco e não observaram Trabalhos de pesquisas ruminantes

podem

têm

ser

demostrado que

alimentados

com

diferença significativa no ganho médio diário (GMD) entre as frequências estudadas, porém, obtiveram

suplementos de proteína em intervalos infrequentes

valores

médios

inferiores

(0,25

kg/dia)

aos

e, ainda manter níveis de desempenho aceitáveis

encontrados neste estudo para todos os tratamentos,

(Bohnert et al., 2002a). O fato de a digestão e o

possivelmente em virtude da baixa disponibilidade

desempenho não serem fortemente deprimidos pela

(1,1 t MS/ha) e qualidade da forragem, afetando

redução na frequência de suplementação proteica

negativamente o desempenho dos animais.

pode refletir a habilidade de animais ruminantes em manterem o suprimento de N no ambiente ruminal

Moraes et al. (2005) avaliaram diferentes frequências

por

a

de suplementação durante o período das águas com

concentração de N-NH3 ruminal pode ser aumentada

concentrado à base de farelo de soja e mistura

nos dias entre os eventos de suplementação por

mineral na proporção de 0,50 kg/animal/dia e

causa da reciclagem de N, o que pode ajudar manter

também não observaram diferenças (P>0,10) entre

a digestão da fibra ruminal semelhante à de animais

as diferentes frequências, observando GMD de

recebendo suplementação diária.

0,895; 0,885 e 0,892 kg/dia, respectivamente, para

6034

meio

da

reciclagem.

Sugere-se

que

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6030-6040, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 430 – Frequência de suplementação a pasto

os

animais

sob

suplementação

3,

5

e

7

Segundo Bohnert et al. (2002a), os ruminantes são eficientes em manter níveis adequados de nitrogênio

vezes/semana.

no

ambiente

ruminal

entre

os

períodos

de

Canesin et al. (2007) avaliaram desempenho de

suplementação, de modo que essa manutenção do

bovinos com peso média de 230 kg mantidos em

nitrogênio pode ser atribuída a possíveis alterações

pastagem

Marandu

na permeabilidade do trato gastrintestinal à ureia

submetidos a três estratégias de suplementação

e/ou na regulação da excreção da ureia. Quando a

proteico-energética (1% do PV) diariamente (SD),

suplementação

em dias alternados (DA) e suplementação oferecida

intervalos irregulares, os ruminantes mantêm o

de segunda à sexta-feira e suspensa aos sábados e

ambiente ruminal produtivo, para adequada digestão

domingo (SF) no período das águas 2003, seca

da fibra e cinética de fluidos de partículas, sem afetar

2003 e águas 2004, os resultados estão exposto na

a síntese de N-microbiano (Bohnert et al., 2002b).

tabela

Brachiaria

3.

A

brizantha

estratégia

de

cv.

suplementação

com

proteína

é

fornecida

em

é

fundamental e, mesmo quando realizada em dias

Isso implica dizer que a suplementação em dias

alternados ou suspensa nos fins de semana, não

alternados é um manejo nutricional opcional à

afetou

suplementação diária, que pode reduzir os custos

o

ganho

de

peso

médio

diário,

em

com a distribuição de suplemento aos animais sem

comparação à suplementação diária.

afetar o desempenho produtivo. A suplementação TABELA 3- Ganhos médios diários (kg/dia) de bovinos mantidos em pastagem Brachiaria brizantha cv. Marandu submetidos a três estratégias de suplementação nos diferentes períodos do ano.

reduz a ingestão de matéria seca da forragem e melhora o desempenho animal; o maior nível de suplementação

avaliado

promove

melhor

desempenho, porém menor eficiência biológica. Independentemente das quantidades de suplemento

Tratamento

Período

fornecidas, as suplementações em dias alternados

SD

SF

DA

CV%

Águas, 2003

0,76a

0,74a

0,71a

34,22

Seca, 2003

0,57a

0,54a

0,51a

47,35

Águas, 2004

0,61a

0,57a

0,62a

44,06

SD = suplementação diária; SF = suplementação oferecida de segunda à sexta-feira e suspensa aos sábados e domingo; DA = suplementação em dias alternados. Fonte: Canesin et al. (2007)

não prejudicam o desempenho animal. Tem-se enfatizado que animais ruminantes sob suplementação infrequente, em dias alternados, mantêm elevados níveis de amônia e digestão da fibra similar à daqueles sob suplementação diária, mesmo nos dias em que não há oferta de

Simione et al. (2009) em pesquisa com novilhos de corte com peso inicial médio de 191 kg na estação seca avaliando dois níveis de suplementação energético-proteica (0,3 e 0,6% em relação ao peso vivo

(PV)

do

animal),

duas

frequências

de

fornecimento – diariamente ou em dias alternados (dia sim, dia não) – mais um tratamento adicional

suplemento.

Esse

fato

tem

sido

atribuído

à

reciclagem de nitrogênio, notadamente entre os eventos de suplementação (Beaty et al., 1994; Farmer et al., 2004). No entanto, os dados referentes aos efeitos da suplementação infrequente de bovinos em pastejo em condições tropicais ainda são escassos.

(apenas suplementação mineral). A suplementação com 0,6% do peso corporal promoveu ganho médio diário de 343 g e ganho total de 28,9 kg, valores superiores aos encontrados para 0,3% do peso corporal, de 238 g e 20,2 kg, respectivamente. Em comparação

à

suplementação

diária,

a

Paula et al. (2010) avaliando o desempenho produtivo de bovinos em pastejo no período seco com frequência de suplementação e duas fontes de proteína. Verificaram que não houve efeito da frequência de suplementação sobre os consumos de

suplementação em dias alternados não promoveu

matéria seca total, matéria seca do pasto e consumo

diferenças no consumo, o que pode explicar a

da fibra em detergente neutro (Tabela 4), o que está

semelhança no ganho médio diário e no ganho de peso total entre os animais recebendo suplemento diariamente e aqueles sob suplementação em dias

relacionado às não diferenças no tempo despendido com

atividade

de

pastejo

entre

animais

sob

suplementação diária ou três vezes por semana.

alternados. Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6030-6040, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

6035


Artigo 430 – Frequência de suplementação a pasto

TABELA 4- Desempenho produtivo de bovinos em pastejo no período seco com frequência de suplementação % CV

Frequência Variável

para bovinos de corte em recria no período seco é viável,

pois,

além

de

reduzir

os

custos

da

suplementação, possibilita desempenho superior ao obtido com a suplementação diária. Paula et al. (2011) em pesquisa com suplementação

7 vezes/semana 3 vezes/semana

infrequente e duas frequências semanais (três vezes CMST (%PC)

1,39

1,27

28,94

por semana, às segundas, quartas e sextas-feiras ou

CMSF (%PC)

1,02

1,04

37,57

diariamente) em comparação à oferta de mistura

CFDN (%PC)

0,68

0,61

34,68

mineral (controle), e fontes proteicas ( farelo se soja,

CDMS

45,57

51,21

25,48

e farelo de algodão com alta energia) para recria de

CDFDN

36,54

40,00

0,500b

0,679a

23,46 -

bovinos

GMD (kg) GMT (kg)

37,76

53,00

22,37

potencialmente digestível de 2.591 kg/ha, que

CMST- consumo de matéria seca total; CMSF- consumo matéria seca da forragem; CFDN- consumo de fibra em detergente neutro; (%PC)- percentagem do peso corporal; CDMS- coeficiente de digestibilidade da matéria seca; CDFDN- coeficiente de digestibilidade da fibra em detergente neutro; GMD- ganho médio diário; GMT- ganho de peso total. Fonte: Paula et al. (2010).

em

pastejo

disponibilidade

no

média

período de

seco

matéria

com seca

representa aproximadamente 65% da disponibilidade de

matéria

seca

total.

Verificaram

que

o

fornecimento infrequente de suplemento aumentou o consumo de matéria seca total e de matéria seca da forragem, porém não foram observados diferenças

Não houve efeito das frequências de suplementação sobre a digestibilidade da matéria seca (CDMS) e fibra em detergente neutro (CDFDN) (Tabela 4), possivelmente em

virtude da capacidade

dos

animais ruminantes em amenizar os efeitos do baixo suprimento

de

digestibilidade,

nutrientes mesmo

e

manter

sua

dias

sem

nos

suplementação. Farmer et al. (2004b) também salientaram a habilidade de ruminantes em manter a digestão

da

fibra

mesmo

em

situações

de

suplementação irregular e reforçaram o fato de ruminantes possuírem mecanismos capazes de inibir os efeitos do fornecimento infrequente de nutrientes.

nos consumos expressos em porcentagem do peso corporal. Segundo o autor, esse fato não era esperado, uma vez que houve diferenças nos consumos expressos em kg/dia, logo, entende-se que uma possível variação na uniformidade dos animais utilizados tenha resultado nesta divergência. O fornecimento do suplemento 3 vezes/semana não afetou as digestibilidade dos nutrientes da dieta. Inúmeros fatores podem interferir na digestibilidade dos nutrientes e, de maneira geral, a suplementação 3 vezes/semana e as fontes proteicas estudadas pouco interferiram na digestibilidade dos nutrientes. No entanto, os baixos coeficientes encontrados neste

estudo,

mesmo

quando

se

forneceu

suplemento, podem ser atribuídos à baixa qualidade O

ganho

médio

diário

dos

animais

sob

da forragem.

suplementação 3 vezes/semana foi superior ao 4),

Paulino et al. (2006b) relataram que a redução na

possivelmente em virtude da capacidade de animais

frequência não promove redução na degradação da

ruminantes em reciclar nitrogênio e manter a

forragem e no desempenho, devido à habilidade dos

digestão da fibra no rúmen entre os intervalos de

bovinos em manter os níveis de nitrogênio ruminal

suplementação

em patamares adequados para a microbiota ruminal.

obtido

com

recebendo grupos

suplementação

de

forma

suplemento

consumiam

diária

similar

diariamente.

semanalmente

(Tabela

aos

animais os

Desta forma, Berchielli et al. (2006) inferiram que o

mesma

principal mecanismo dessa redução no impacto da

Ambos a

quantidade de suplemento, portanto, acredita-se que

menor

a ausência de interações entre fontes proteicas e

desempenho animal é a reciclagem de nitrogênio.

frequência de suplementação também seja reflexo

Assim, o nitrogênio pode ser aumentado nos dias

deste mecanismo de reciclagem endógena. O

entre os eventos de suplementação, sendo a

fornecimento de suplemento três vezes por semana

provável razão para isso as mudanças na

6036

frequência

de

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6030-6040, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

suplementação

sobre

o


Artigo 430 – Frequência de suplementação a pasto

permeabilidade do trato gastrintestinal e/ou na

líquido ruminal em

níveis

regulação renal da excreção de ureia (BOHNERT et

crescimento

atividade

al., 2002).

fornecimento de suplementos autocontrole e a

e

suplementação

a três

adequados

vezes

para o

microbiana.

por

O

semana

são

A suplementação em dias alternados (em intervalo

alternativas viáveis de manejo de suplementos

de até 6 dias) pode ser feita com sucesso sem

proteicos, pois não prejudica as características

prejudicar o desempenho dos animais (BERCHIELLI

ingestivas e digestivas nem eficiência microbiana e o

et al., 2006). Segundo Shauer et al. (2005),

balanço de compostos nitrogenados dos animais.

ruminantes consumindo

sob

suplementação

forragem

de

intermitente,

baixa

qualidade

conseguem manter o desempenho, a eficiência

CONSIDERAÇÕES FINAIS

microbiana, eficiência de utilização da matéria seca

A redução na frequência de suplementação não

e

prejudica

do

nitrogênio

semelhantes

aos

animais

o

desempenho

do

animal

e

pode

suplementados diariamente. Outro ponto favorável à

representar uma opção para o produtor visando

menor frequência de suplementação foi relatado por

principalmente

Huston et al. (1999), que mencionaram menores

fornecimento

da

variações no ganho em peso entre os animais,

ruminantes

sob

devido à redução na competição pelo suplemento

consumindo

quando fornecidos em maiores quantidades.

conseguem manter o desempenho, a eficiência

à

redução alimentação.

dos Isto

custos

do

porque,

os

suplementação

forragem

de

intermitente

baixa

qualidade

microbiana, eficiência de utilização da matéria seca e Moraes et al. (2010) em pesquisa com estratégias

do

nitrogênio

semelhantes

aos

animais

de suplementação para bovinos de corte durante a

suplementados diariamente. Isso implica dizer que a

estação da seca. As estratégias estudadas foram

suplementação em dias alternados é um manejo

autocontrole de consumo e oferta de suplementos

nutricional opcional à suplementação diária. No

(1,0 kg/dia) em três frequências: 3 vezes/semana (às

entanto, os trabalhos referentes aos efeitos da

segundas, quartas e sextas-feiras), 5 vezes/semana

suplementação infrequente de bovinos em pastejo

(de segunda a sexta-feira), 6 vezes/semana (de

em condições tropicais ainda são escassos.

segunda a sábado) e diariamente. Não encontraram efeito

dos

suplementos

sobre

os

consumos

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ou

três

vezes

por

semana

atividade de pastejo. A estratégia de suplementação

Assim,

os

requerimentos

de

NH3

dos

microrganismos ruminais podem ter sido atendidos de

forma

mais

rápida,

em

razão

da

alta

degradabilidade da ureia, que ao chegar no rúmen, é

de concentração em Produção de Ruminantes). BARGO, F.; MULLER, L.D.; KOLVER, E.S. et al. Invited review: production and digestion of supplemented dairy cows on pasture. Journal of Dairy Science, v.86, n.4, p.1-42, 2003.

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quando

recebem

em condições de pastejo aos 22 meses de

suplemento em baixa frequência, bovinos de corte

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são eficientes em manter a concentração de NH3 do

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Artigo 430 – Frequência de suplementação a pasto

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mantidos em pastagem de capim marandu

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submetidos

frequency

on

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Itapetinga-BA: UESB, 2010. 64p (Dissertação –

western Texas. Journal of Animal Science,

Mestrado

em

Zootecnia

Produção

de

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Ruminantes). VALADARES FILHO, S.C.; MORAES, E.H.B.K.; DETMANN, E. et al. Perspectiva do uso de indicadores para estimar o consumo individual de bovinos alimentados em grupo. In:

6040

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6030-6040, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006


Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal

Revista Eletrônica

Alimentação, forragem, nutrição.

Vol. 14, Nº 04, jul./ago. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO Objetivou-se

avaliar

o

plantio,

espaçamento,

Maxwelder Santos Soares

1

1

Zootecnista,Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga.Email:maxwelder10@hotmail.com

CACTUS: ASPECTS OF CULTIVATION AND ANIMAL PERFORMANCE

adubação e uso de palma forrageira na dieta de

ABSTRACT

ruminantes. O semiárido do Nordeste Brasileiro é

The

caracterizado

fertilization and use of forage cactus in the diet of

pela

escassez,

irregularidade

de

objective

evaluate

estratégico para períodos com baixa disponibilidade

characterized by scarcity, irregular rainfall, so the

de forragem. A procura por forrageiras adaptadas a

cactus becomes a strategic food for periods low

essas

para

forage availability. The demand for forages adapted

melhoria da produtividade da pecuária desta região.

to these climatic conditions is essential for improving

A composição química da palma varia conforme a

livestock productivity in this region. The chemical

espécie, a idade e a época do ano, sendo um

composition of palm varies according to species, age

alimento rico em carboidratos, principalmente não

and the time of year, being a food rich in

fibrosos,

de

carbohydrates, especially non-fibrous, has a low

constituintes da parede celular e alto coeficiente de

percentage of cell wall constituents and high

digestibilidade

Portanto,

coefficient of dry matter digestibility. Therefore, it is

recomenda-se a palma forrageira na alimentação de

recommended to cactus to feeds for cattle, sheep

bovinos,

dos

and goats as one of the feed ingredients to meet the

ingredientes da ração visando atender as exigências

requirements of animals, but for efficient use of the

dos animais, porém para uma eficiente utilização da

palm, it is essential the use of bulky good quality.

palma, é essencial o uso de volumoso de boa

Keyword: food, forage, nutrition.

apresentam

ovinos

de e

baixa matéria caprinos

é

essencial

porcentagem seca. como

um

Northeast

spacing,

ruminants.

climáticas

semi-arid

planting,

chuvas, logo a palma forrageira torna-se um alimento

condições

The

to

Brazil

is

qualidade. Palavras-chave: alimentação, forragem, nutrição.

6041


Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal

INTRODUÇÃO

chuvosa ocasiona uma maior contaminação por

A palma forrageira é originária do México e se

fungos e bactérias em virtude da umidade excessiva.

adaptou bem na região semiárida do Brasil e do

Os cladódios que serão usados para o plantio devem

mundo

anatômicas,

ser retirados da parte intermediária da planta,

morfológicas, fisiológicas e bioquímicas, decorrente

vigorosos e livres de qualquer praga. Diante disso,

da adaptação aos rigores climáticos.

Na região

deve-se levar em consideração para um bom

Nordeste do Brasil predomina o cultivo de espécies

desenvolvimento da palma forrageira, necessita

de palma dos gêneros Opuntia (variedades Redonda

realizar práticas de manejo como, análise de solo,

e Gigante) e Nopalea (palma miúda ou palma doce),

aração, gradagem, adubação e se necessário, fazer

ambos da família Cactácea. Segundo Marconato et

a subsolagem da área.

pelas

suas

características

al. (2008), o Brasil possui a maior área plantada do mundo, aproximadamente 600 mil hectares, sendo

No entanto, por se tratar de uma cultura perene,

a maioria cultivada

Lopes et al. (2007) recomenda que o manejo seja

indica (L) Will,

mais

a espécie Opuntia fícusconhecida

como “Palma

mecanizado, e que seja utilizado solos de textura leve,

Gigante.”

preferencialmente

os argilo-arenosos não

sujeitos a encharcamento, com declividade de até Nessa busca por alimentos que possibilitem a

5%,

produção animal nos períodos críticos do ano, a

vegetativo e produtivo (Almeida et al., 2012).

resultando em um bom desenvolvimento

palma forrageira destaca-se por ser um alimento rico fibrosos,

Lopes et al. (2009) em pesquisa com a palma doce,

importante fonte de energia para os ruminantes (Van

plantada no espaçamento de 1,00 x 0,50 m,

Soest, 1994), apresenta baixa porcentagem de

avaliaram três formas de plantio, P1 - cladódio

constituintes da parede celular e alto coeficiente de

plantado na vertical 90°; P2 - cladódio plantado com

digestibilidade de matéria seca e há várias décadas

vértice para o leste, inclinação de 45º e P3 - cladódio

possibilita a produção animal nos períodos críticos

plantado com vértice para o oeste, com inclinação de

do ano.

45º. Estes observaram que as formas de plantio, não

em

carboidratos,

principalmente

não

foram influenciadas pela posição do cladódio. Portanto, objetivou-se avaliar a palma forrageira do Peixoto (2009) conduziu experimento no Centro de

cultivo à utilização na dieta de ruminantes.

Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará, onde

ESTABELECIMENTO DO PALMAL

os

tratamentos

avaliados

foram

plantas

expostas ao sol ou sombreadas, posição de plantio Plantio

do cladódio com ou sem adubação orgânica. Os

No processo de plantio recomenda-se que seja feita a seleção do material propagativo, pois o tamanho do cladódio exerce efeito importante quanto ao número e o tamanho das brotações no primeiro ano de crescimento da palma, bem como se recomenda deixá-los à sombra por pelo menos sete dias para que

ocorra

a

cicatrização

dos

ferimentos

provenientes do corte no processo de colheita.

mesmo verificaram que a adubação orgânica e o plantio sob o sol induzem a um melhor desempenho da palma forrageira (Opuntia ficus-indica (L.) Mill). Sendo que a posição no plantio Leste/Oeste ou Norte/Sul não influencia no desempenho da palma forrageira. Espaçamento

Cladódios com dois a três anos de idade são os

O espaçamento de plantio da palma forrageira é

mais

mais

utilizado como uma estratégia de manejo, pois é

vigorosas por ocasião do plantio (Farias et al., 2005).

importante no estabelecimento do palmal. Varia de

No plantio da palma forrageira destaca-se o sistema

acordo com a fertilidade do solo, pluviosidade,

manual com o plantio dos artículos realizado em

finalidade de exploração e sua utilização ou não em

covas, durante período seco é importante para evitar

consórcio com outras culturas. Além disso, o

o apodrecimento das raquetes; plantio na estação

espaçamento deve ser escolhido de acordo com a

6042

indicados

por

emitirem

brotações

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal

preferência e a disponibilidade de capital do

A fêmea prolífica de primeira cria pode perder acima

produtor.

de 15% de sua proteína corporal durante a primeira lactação. A conservação de sua massa proteica cor-

Ramos et al. (2011) com o objetivo de avaliação do

poral durante esta fase pode reduzir o intervalo des-

rendimento em massa verde de palma forrageira (Opuntia fícus indica (L.) Mill), cv. Italiana, em

mama-cio e aumentar o tamanho da leitegada subsequente em até 1,2 leitões/leitegada (BOYD, 2002).

função dos espaçamentos (1 x 1; 1 x 0,5; 2 x 1; 2 x 0,5 m ) aos 455 dias após o plantio, verificaram que a produção de fitomassa por área foram

Quando a dieta fornecida às marrãs é deficiente em

incrementadas com o adensamento, chegando a -1 130,06 Mg/ha de massa verde (Tabela 1).

servada uma redução no crescimento e na ingestão

TABELA 1- Peso de cladódio e rendimento em massa verde de palma forrageira (Opuntia ficusindica (L.) Mill), cv Italiana, em função dos espaçamentos, aos 455 dias após o plantio Soledade-PB Espaçamen Densidade to (plantas ha 1 (m) )

alguns aminoácidos principalmente triptofano, é obvoluntária de alimento (HENRY et al., 1992). O nível da alimentação a que as marrãs são submetidas durante a fase de crescimento influencia a idade em que elas iniciam a vida reprodutiva (puberdade) e o nú-mero

de

óvulos

liberados

(taxa

ovulatória)

durante os primeiros ciclos estrais.

Peso de cladódio (g)

Massa Verde -1 (Mg ha )

Segundo Booth et al. (1994) animais que receberam uma dieta com restrição alimentar a níveis de

1 x 0,5

20000

648,53a

130,06a

exigên-cia

1x1

10000

746,20a

67,90b

dificuldades na secreção do hormônio luteinizante

2 x 0,5

10000

647,29a

59,87b

(LH), no entanto, não verificaram maiores impactos

2x1

5000

662,24a

40,56c

sobre a secreção do hormônio folículo-estimulante

Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% Fonte: Ramos et al. (2011)

para

manutenção

apresentaram

(FSH). Contudo, foi observado que com o retorno à alimentação à vonta-de ocorreu imediata restauração da secreção de LH. Portanto, estes dados mostram

Alves et al. (2007) avaliaram dados de 19 anos de cultivo de palma forrageira (Opuntia ficus indica Mill),

claramente efeitos do consumo de alimento sobre o controle central de se-creção de LH.

cv. Gigante no Agreste de Pernambuco, onde o solo é classificado como planossolo, em parcelas

Para Gill (2006), os genótipos modernos, seleciona-

principais (28 x 16 m) foram constituídas pelos

dos para deposição de tecido magro, ao receberem

espaçamentos de 2 x 1; 3 x 1 x 0,5 e 7 x 1 x 0,5 m, Não verificaram diferença sobre a produtividade de

uma dieta com restrição proteica e comparada a die-

biomassa, independentemente (Tabela 2).

vel (ED), mas com o dobro de lisina, alcançaram

do

espaçamento

tas com as mesmas quantidades de energia digestíuma redução no ganho de peso e um menor peso corpo-ral das fêmeas na cobertura, e uma maior

TABELA 2- Efeito do espaçamento e intensidade de corte de artículos de palma sobre a produção de matéria seca após 19 anos de cultivo de palma

deposição de gordura corporal. No entanto, esta deposição não se manteve durante a gestação e durante o intervalo desmama-estro.

Espaçamento

Plantas/ha

Intensidades de cortes Primário

Secundário -1

MS t ha ano

-1

2x1

5000

6,24Ab

13,26Aa

3 x 1 x 0,5

10000

5,55Aa

7,84Aa

7 x 1 x 0,5

5000

4,95Ab

9,52Aa

Letras maiúsculas na coluna comparam os espaçamentos dentro de cada intensidade de corte e letras minúsculas na linha comparam intensidades de cortes dentro de cada espaçamento, onde letras iguais não diferem entre si pelo teste Tukey a 5%. Fonte: Alves et al. (2007).

A recomendação geral é que leitoas destinadas aos plantéis reprodutivos devam ter no intervalo de peso entre 20 e 80 kg, um ganho de peso de 650 a 720 g/ dia (SOBESTIANKY et al., 1998). Recomenda-se separar dentro das salas de maternidade estes grupos de animais e fornecer a ração diferenciada visando minimizar a perda de peso e

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

6043


Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal

O espaçamento está diretamente associado à

orgânica diminui com a elevação das doses de

interceptação de luz pela planta. Portanto, plantios

adubo, sendo que a dose de 20 t de esterco

mais adensados promovem maior produtividade,

bovino/ha/dois anos não atende as exigências

devido à maior eficiência na interceptação da

nutricionais de plantas cultivadas sob densidade de

radiação luminosa (Farias et al., 2005).

plantio de 160.000 plantas/ha.

Adubação A palma forrageira é uma cultura que responde bem a

adubação,

independentemente

da

cultivar

utilizada, promovendo incremento da área foliar e de matéria seca, refletindo no crescimento da planta e, consequentemente,

na

produtividade,

o

que

acontece também para o plantio adensado e para a adubação orgânica associada à adubação química (Almeida et al., 2012). Entretanto, para maior eficiência e produtividade do palmal é necessário identificar os elementos minerais e os níveis ideais para obter maiores ganhos de biomassa (Araújo Filho, 2000).

espécie Opuntia ficus indica (L) Mill e um da espécie Nopalea cochenillifera), Silva et al. (2010) utilizando adubação orgânica de esterco bovino equivalente a 30.000 kg/ha, no momento do plantio e após cada corte, verificaram a produção de 7,1 t matéria seca/ha/dois anos, em palma com 5 anos de idade. Provavelmente, a baixa produtividade obtida por estes autores foi devido à avaliação conjunta de várias plantas de genótipos distintos, algumas com produção,

(2012a)

avaliou

espaçamentos

e

o

efeito

adubação

de

mineral

diferentes sobre

o

crescimento e produção da palma forrageira, com três espaçamentos, 1,00 x 0,50 m; 2,00 x 0,25 m e 3,00 x 1,00 x 0,25 m e quatro adubação, 000-000000; 200-150-100; 200-150-000 e 000-150-000 kg -1

ha de N-P2O5-K2O, respectivamente. Foi avaliado o crescimento entre 90 e 390 dias após o plantio (DAP) e produção e crescimento aos 620 DAP. Este autor verificou que não existem diferenças em produção de matéria seca em função das adubações NPK, NP, P e testemunha para os espaçamentos 2,00 x 0,25 m e 3,00 x 1,00 x 0,25 m. As adubações

Avaliando, ao acaso, 50 clones de palma (49 da

alta

Silva

porém

menos

resistentes

a

cochonilha e outras resistentes ao inseto, mas como baixa capacidade produtiva.

com NPK e NP, principalmente sob espaçamento de 1,00 x 0,50 m, conferem melhores respostas para as características de crescimento avaliadas e para produção de massa verde e matéria seca e, ainda as quantidades de nutrientes utilizados nas adubações promovem pequenas alterações na produção. Donato et al. (2014) avaliaram o rendimento de palma forrageira cv. Gigante aos 600 dias após plantio, cultivada em diferentes espaçamentos (1,0 x 0,5; 2,0 x 0,25; e 3,0 x 1,0 x 0,25 m) e doses de adubação orgânica com esterco bovino (0; 30; 60 e 90 t ha

-1

produções

-1

ano ). Os autores verificaram que as de

matéria

seca

registradas

nos

-1

Em experimento conduzido na estação experimental de Caruaru-PE, Silva (2012b) utilizou como material forrageiro a palma Clone-IPA-20. Os tratamentos

espaçamentos foram 21,5; 18,6 e 14,7 t ha , sendo que a produção máxima de matéria seca foi 21,8 t -1

ha , sendo esperada quando se aplicam 71,8 t ha

-1

-1

ano de esterco.

experimentais foram combinação de doses de adubação orgânica 20, 40 e 80 t de matéria de

O nitrogênio promove alterações das plantas e em

esterco bovino/ha/dois anos e diferentes densidades

condições de alto suprimento deste nutriente,

de plantio 20, 40, 80 e 160 mil plantas por hectare,

ocorrem maior crescimento e aumento na área foliar

obtidas pelos seguintes espaçamentos de plantio:

consequentemente aumentando a produção de

1,0 x 0,50 m; 1,0 x 0,25 m; 0,50 x 0,25 m e 0,50 x

forragem. A adubação é um dos recursos mais

0,125 m, respectivamente. O autor concluiu que a

importantes que se tem no manejo de um palmal,

aplicação de 80 t de esterco promove maiores

pois

produtividades nas diferentes densidades de plantio

desenvolvimento vegetativo. Em face da fertilidade

com valores de 61,0; 90,0; 126; 117,0 e 139,0 t de

natural dos solos do Nordeste brasileiro apresentar

biomassa esterco, e que a eficiência de adubação

um baixo teor de matéria orgânica e de fósforo,

6044

proporciona

às

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

plantas

um

bom


Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal

se faz necessário a realização de uma adubação

Deste modo, se faz necessário a sua associação

orgânica e mineral à base de esterco. Portanto, a

com outros alimentos para que se obtenha uma dieta

palma forrageira é exigente em características físico-

nutricionalmente balanceada. A utilização de rações

químicas do solo, é indicado em áreas de textura

com grande proporção de palma implica em dietas

arenosa a argilosa, e frequentemente recomendada

com alta concentração umidade, o que pode ser

em solos argilo-arenosos. Além da fertilidade, é

favorável em regiões onde a água é um nutriente

necessário que os solos sejam de boa drenagem,

escasso

uma vez que áreas sujeitas a encharcamento o

podendo esta água tornar-se quase que suficiente

desenvolvimento poderá está comprometido.

para

em

atender

determinadas a

estações

necessidade

do

dos

ano,

animais

dependendo do nível de produção. PALMA NA DIETA DE RUMINANTES Devido suas características químicas, a palma

Composição química da palma forrageira

forrageira quando fornecida exclusivamente pode

As características nutricionais do alimento estão

causar distúrbios metabólicos nos animais (diarreia)

relacionadas com sua composição química, que

e perda de peso, além de promover um menor tempo

indica a quantidade de nutrientes potencialmente

de ruminação aos animais, havendo necessidade de

disponíveis para o animal. Em geral, ocorre variação

fornecer adequada quantidade de fibra com o intuito

na composição química dos diferentes alimentos, de

de aumentar o consumo máximo de matéria seca e

modo que um único alimento não fornece todos os nutrientes

em

quantidade

e

energia visando à manutenção da fermentação

proporções

ruminal, além de prevenir desordens metabólicas.

perfeitamente ajustadas às exigências nutricionais do animal.

Desta forma, havendo uma baixa disponibilidade de fibra efetiva resulta em menor mastigação pelo

A composição química das variedades de palma forrageira Opuntia e Nopalea é apresentada na tabela 3.

animal e menos mastigação resulta em redução da secreção salivar; logo, menor capacidade de poder tamponante no rúmen. Decréscimo na secreção de

Como pode ser observada na tabela 3, a palma

tamponante através da saliva, geralmente é um fator

forrageira apresenta baixa porcentagem de matéria

que ocorre combinado com maior produção de ácido

seca 10,29%, proteína bruta 4,08%, fibra em detergente

graxo volátil (AGV), resultando em decréscimo do pH

neutro, 31,6% e fibra em detergente ácido 18,70%. No

ruminal. Com a alteração no pH ruminal ocorre

entanto, apresentam teores razoáveis de carboidratos

mudança na população microbiana, logo os produtos

totais 82,43%, carboidratos não fibrosos 48,30% e

finais da fermentação de carboidratos são alterados

material mineral, 12,64%.

e a relação acetato:propionato é reduzida (Mertens, 2001).

TABELA 3 - Composição química de palma forrageira com base no percentual da matéria seca

Autor Batista (2003)

Palma

MS

MO

PB

EE

FDN

FDA

CHT

CNF

MM

4,20

1,36

26,90 35,81

16,50

9,43

-

6,20

Oliveira (2007)

(Nopalea) (Opuntia)

12,00

26,03

73,10 86,15

50,34

18,60 8,29

Cavalcanti (2008a)

(Opuntia)

9,80

91,49

4,53

1,50

34,37

20,80

85,46

53,53

-

Bispo (2009)

(Opuntia)

8,28

85,62

3,04

2,00

28,13

14,58

80,57

52,44

14,38

85,90

2,66

0,51

27,43

9,99

82,73

55,3

14,1

Ferreira (2009)

(Nopalea) (Opuntia)

11,56 13,4

90,69

3,00

1,55

31,62

17,88

86,13

55,49

9,31

Torres (2009)

(Opuntia)

9,93

90,33

4,01

2,54

36,50

16,9

83,78

47,31

9,67

Torres (2009)

(Nopalea)

10,28

87,38

5,48

2,22

37,30

20,2

79,68

42,36

12,62

Souza (2010)

(Opuntia)

10,0

85,78

3,00

0,50

26,00

20,0

82,53

27,87

14,22

Wanderley (2012)

(Opuntia)

9,10

87,43

4,92

2,17

31,87

20,38

84,13

50,05

12,57

Pessoa (2013)

(Opuntia)

9,39

88,08

3,82

2,48

-

22,50

-

-

-

Costa (2009)

FONTE: Batista (2003); Oliveira (2007); Cavalcanti (2008); Costa (2009); Ferreira (2009); Torres (2009); Souza (2010); Wanderley (2012); Pessoa (2013).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

6045


Artigo 431- Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal

Palma na dieta de bovinos A bovinocultura leiteira é de grande importância social e econômica para o semiárido brasileiro,

TABELA 4 - Substituição total do milho e parcial do feno do capim-tifton por palma forrageira em dietas para vacas em lactação

principalmente na região nordeste, por ser menos vulnerável à seca, quando comparada com outras explorações agrícolas, pois constitui num dos

0

principais fatores de fixação do homem no campo e de geração de emprego e renda. A escassez e irregularidade acentuada na distribuição de chuvas, tanto no tempo quanto no espaço, com a ocorrência de

longos

períodos

de

estiagem,

motiva

a

suplementação de vacas leiteiras nos sistemas de produções em regiões semiáridas do Brasil (Ferreira et al., 2009).

Leite (kg/dia) Leite corrigido (kg/dia) Gordura (%) CPB (kg/dia) CNDT (kg/dia)

A palma forrageira se apresenta como um dos principais leiteiras

suplementos no semiárido,

alternativos

para

vacas

constituindo uma fonte

Nível de inclusão de palma (%MS)

Item

20 ,3 4 19 ,8 5 3, 83 3, 27 12 ,5 2

12 20 ,2 20 ,1 4, 0 3, 30 13 ,8 1

CV (%)

25

38

51

21 ,7 8 20 ,5 7 3, 66 3, 06 12 ,2 4

20 ,5 8 18 ,9 7 3, 5 2, 80 11 ,4 6

20 ,3 5 19 ,3 1 3, 68 2, 53 10 ,1 1

ER

5,5 Y= 20,65 6,3 Y= 19,76 -

4,5 Y= 3,73

9,6 Y=3,3892- 0, 7 0,0155P 92 0, 11, Y=13,4609 6 93 -0,0566P 9

Consumos de proteína bruta (CPB) e nutrientes digestíveis totais (CNDT). Fonte: Adaptado de Oliveira et al. (2007).

potencial de água e forragem para os animais nesta época do ano. Frente a essa situação, a palma

Bispo (2009) pesquisou a substituição total do milho

forrageira vem sendo introduzida na alimentação do

e parcial do farelo de soja por palma forrageira em

gado leiteiro, sobretudo na forma de farelo, como

níveis de 45; 50; 55; 60 % da matéria seca e ureia

fonte energética (Sá, 2012).

0,2; 0,68; 1,15 e 1,63 em dietas para vacas em lactação e notou que os níveis testados não

Entretanto, apenas com o fornecimento dessa

influência

o

consumo

de

matéria

seca

e

o

cactácea não é possível atender às necessidades

coeficientes de digestibilidade dos nutrientes (Tabela

nutricionais do rebanho, em decorrência da sua

5).

limitação proteica e de fibra. Dessa forma, para adequar a dieta, torna-se necessário que o produtor recorra

a

suplementação

outros

meios

alimentar,

disponíveis

através

do

uso

de de

volumosos e de fontes de proteína. Oliveira et al. (2007) avaliando a substituição total do milho (Zea mays L.) e parcial do feno do

TABELA 5 – Consumo de matéria seca (CMS), fibra em detergente neutro (CFDN) e nutrientes digestíveis totais (NDT) e coeficiente de digestibilidade da matéria seca (CDMS), fibra em detergente neutro (CDFDN), carboidrato total (CDCHOT) e carboidrato não fibroso (CDCNF) de vacas em lactação alimentadas com níveis de palma na dieta

capim-tifton (Cynodon spp) por palma forrageira em dietas para vacas em lactação com diferentes níveis

Item

45

50

CMS (% PC)

3,24

3,18

CFDN (% PC)

1,28

1,29

(0; 12,0; 25,0; 38,0 e 51,0%) de palma forrageira (Opuntia fícus indica L Mill). Constataram que a inclusão de palma forrageira não alterou a produção e o teor de gordura do leite, sendo que o comportamento regular da produção de leite pode ser explicado pelo equilíbrio energético-proteico mantido nas dietas; mesmo com a retirada gradual

CNDT (kg/dia) CDMS CDFDN

fibrosos

CDCNF

palma

supriram

essa

ER

CV%

3,26

3,14

Y=3,205

6,55

1,36

1,31

Y=1,31

7,89

9,9

Y=9,95

9,93

9,97

7,25

10,0

Digestibilidade

CDCHT

da

60

55

Consumo

da fonte energética do milho, os carboidratos não oriundos

Níveis de Palma (%MS)

60,41 Y=61,13 47,49 49,64 49,59 52,07 Y=49,70 65,61 66,11 65,29 65,67 Y=65,67 82,74 84,12 83,29 82,77 Y=83,23 61,76 62,45

59,9

necessidade (Tabela 4). *PC- percentual do peso corporal; ER- equação de regressão; CV- coeficiente de variação Fonte: Adaptado de Bispo (2009).

6046

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

5,69 13,75 6,00 3,92


Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal

Contudo, o aumento dos níveis proporcionou uma

tendo

como

volumoso

a

cana-de-açúcar

diminuição da produção de leite, que se deve

(Saccharum

provavelmente ao excesso de proteína degradada

autora verificou que os níveis de farelo de palma

no rúmen (PDR), causada pelo aumento de ureia

não interferem no consumo de matéria seca em

nas dietas, porém a composição do leite, proteína,

percentual do peso corporal, o que se deve a

gordura e lactose não sofreu alteração, ao contrário

semelhança na concentração dos nutrientes entre

dos sólidos totais que diminuiu com os níveis

as dietas, sobretudo no que se refere aos teores de

testados (Tabela 6).

fibra em detergente neutro, bem como coeficiente

officinarum), variedade RB 72454. A

de digestibilidade da matéria seca e carboidratos TABELA 6 - Substituição total do milho e parcial do farelo de soja por palma forrageira e ureia em dietas para vacas em lactação produção e composição do leite

Item

PL (kg/dia)

PLCG (Kg/dia) Gordura (%) Proteína (%) Lactose (%) Sólidos Totais (%)

13, 51

50 13, 04

55 12, 25

60 11, 54

13, 66

12, 37

11, 93

11, 12

4,2 4 3,2 5 4,2 3

3,7 2 3,1 9 4,4 4

3,9 2 3,2 5 4,4 3

3,8 4 3,2 6 4,3 5

12, 93

12, 33

12, 56

12, 39

pode

ser

atribuído

à

semelhança

entre

a

digestibilidade dos alimentos, portanto, o equilíbrio é determinado pela fibra solúvel em detergente neutro

Níveis de palma (%MS) 45

não fibrosos também não foram influenciados, o que

e pelos carboidratos não fibrosos (Tabela 7). ER

CV (%)

Y=14,2 640,6709 PF Y=14,2 840,8045 PF

0,9 9 5,29

O NRC (2001) recomenda em dietas para vacas leiteiras níveis mínimos 25% de fibra (FDN) e máximos de 44% para CNF, com base na matéria seca, respectivamente. Em decorrência das dietas não terem afetado a digestibilidade da matéria seca

0,9 6

8,39

Y=3,93

-

8,54

Y=3,24

-

3,5

farelo de palma nas dietas. Em relação à variação

Y=4,36

-

1,82

de peso corporal, não houve efeito com o aumento

e da maioria dos nutrientes, a produção de leite, corrigido para 3,5% de gordura e a eficiência alimentar não diferiram entre os níveis testados de

Y=12,8 960,1375 PF

dos níveis de farelo de palma na dieta, embora os 0,4 3

2,77

PL- produção de leite, PLCG- produção de leite corrigida para 4% de gordura, PF- palma forrageira Fonte: Bispo (2009).

níveis de 0 e 3,7% tenham sido negativos. Esses resultados demonstraram que os animais em questão apresentaram uma heterogeneidade em relação ao seu peso corporal. Sugere-se a inclusão de até 15,1% de farelo de palma na dieta de vacas

Portanto a diminuição da produção de leite pode ser

de produção em torno de 12 kg/dia (Tabela 7).

tolerada sobre certas condições econômicas, assim é necessário fazer uma avaliação da relação custo:

Aguiar et al. (2015) trabalhando com 24 novilhas

beneficio com inclusão da palma e ureia na época

mestiças leiteiras 3/4 Holandês-Zebu alimentadas

de utilização. O mais importante a ser observado é

com teores crescentes de palma forrageira (0, 200,

que com a substituição do concentrado ou parte do

400 e 600 g/kg )

mesmo pela palma forrageira, os custos com

volumoso, observou maior peso corporal em 266,57

alimentação podem ser reduzidos com menor

kg e ganho médio diário de 1,18 kg para os teores

utilização de concentrado e a alteração na produção

de palma forrageira de 167,40 g/kg e 121,80 g/kg

de

na dieta, respectivamente. Em relação à conversão

leite

pode

ser

compensada,

tornando-se

economicamente viável (Ferreira et al., 2009).

1

e silagem de sorgo como

-1

-1

alimentar, não houve diferença entre os teores crescentes de palma forrageira na dieta. -1

Palma

Sá (2012) trabalhando com farelo de palma (Opuntia

forrageira na dieta acima de 400 g/kg

deve ser

fícus indica) cv. Gigante, em dietas para vacas

utilizada quando se espera um ganho médio de 780

leiteiras mestiças Holandês x Zebu, em que os tra-

g dia para novilhas mestiças.

-1

tamentos foram constituídos de cinco níveis (0; 3,7; 7,4; 11,2; 15,1) de farelo de palma na dieta total,

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

6047


Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal

Nesse contexto, a palma forrageira apresenta-se

elefante sobre consumo e digestibilidade em ovinos,

como recurso alimentar de extrema importância.

verificaram que o consumo de matéria seca em

Devido a suas características nutricionais e de

percentual do peso corporal aumentou com os

adaptação

alimento

níveis de palma, variando de 2,28 a 3,89 %PC,

energético importante para a pecuária na região

ao

semiárido,

sendo

um

provavelmente em decorrência do efeito crescente

Nordeste do Brasil.

na digestibilidade da matéria seca. Esta é uma característica importante da palma, diferentemente

TABELA 7 – Vacas leiteiras alimentadas com níveis de farelo de palma na dieta, consumo, digestibilidade e desempenho

de outras forragens, pois apresenta alta taxa de digestão ruminal, sendo a matéria seca degradada rapidamente, favorecendo maior taxa de passagem e, consequentemente, consumo semelhante ao dos

Nível de farelo de palma

Item

CMS (%PC)

concentrados (Tabela 8).

0

3,7

7,4

11,2

15,1

Equação

CV %

2,88

2,99

2,90

3,00

3,02

Y=2,95

10,3

65,18

65,38

63,69

63,25

63,42 Y=64,18

5,1

97,09

97,99

98,25

96,87

96,86 Y= 97,41

2,4

na dieta. O coeficiente de digestibilidade da fibra

11,54

11,42

11,00

11,06

10,06 Y=11,14

8,0

em detergente neutro (DFDN) apresentou média de

12,09

12,06

12,15

12,09

12,82 Y=12,04

8,4

51,33% de acordo com os níveis de palma. A

0,91

0,85

0,91

0,86

0,82

Y=0,87

11,4

-0,21

-0,02

0,22

0,84

0,21

Y=0,21

85,0

Para o consumo de FDN em percentual do peso corporal, foi observado o consumo máximo de 1,61

DMS (%) DCNF (%) Leite (kg/dia) Leite corrigido (kg/dia) Eficiência alimentar1 VPC2 (kg/dia)

Consumo de matéria seca em percentual do peso corporal (CMS), digestibilidade da matéria seca (DMS), digestibilidade dos carboidratos não fibrosos (DCNF), leite corrigida para 3,5% gordura, 1Eficiência alimentar (kg de leite produzido/kg de MS consumida). 2VPC = Variação de peso corporal Fonte: Adaptado de Sá (2012).

%PC com 24,83% de inclusão da palma forrageira

adição de palma forrageira aumenta o consumo de carboidratos totais e não fibrosos componente de rápida degradação no rúmen, que pode ter favorecido

a

consequentemente,

atividade a

microbiana

digestão,

e,

comportamento

explicado pelo aumento do consumo de matéria seca.

O

coeficiente

de

digestibilidade

dos

carboidratos totais aumentou linearmente com os Palma na dieta de ovinos

níveis de palma utilizado, entretanto os carboidratos grande

não fibrosos apresentaram média de 91,327%. O

importância mundial. No Brasil o rebanho de ovinos

consumo de água diminui linearmente à medida que

no Brasil é estimado em 17. 380.581 cabeças e a

se elevaram os níveis de palma na dieta, em

região nordeste destaca-se por possuir a maior

decorrência de maior consumo de água via palma

proporção da criação nacional com 9.857.754,

(Tabela 8).

A

ovinocultura

é

uma

atividade

de

Sudeste 781.874, Sul 4.886.541, Centro-Oeste 1.268.17, Norte 586.237 (IBGE, 2010).

Diante do exposto, o uso de até 56,0% de palma forrageira em substituição ao feno de capim-elefante

Os longos e constantes períodos de estiagem no

aumenta a ingestão e melhora o aproveitamento dos

semiárido do Nordeste brasileiro têm prejudicado a

nutrientes em dietas para ovinos. Desse modo,

criação de pequenos ruminantes, principalmente

ressalta-se a importância da palma como fonte de

pela falta de forragem e água. Em função disso,

água para os animais, característica de alto valor

atualmente vem crescendo o número de pesquisas,

para regiões semiáridas do nordeste, que sofrem

com alimentos alternativos adaptados a essa região,

constantemente com as irregularidades das chuvas.

tendo a palma forrageira como alternativa para produção animal já que é um alimento rico em água

Souza et al. (2010) avaliando quatro grupos

e apresenta grande produção de matéria seca.

genéticos nativos: Cariri, Barriga-preta, Cara-curta e Morada Nova, com pesos médios iniciais de 37,23;

Bispo et al. (2007) Avaliando a palma forrageira (14,

40,57; 35,88 e 33,29, respectivamente, verificaram o

28, 42 e 56%) em substituição ao feno de capim-

ganho de peso, de dieta à base de palma forrageira

6048

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal

em ovelhas nativas confinadas na região do

composto por raspa de mandioca e farelo de palma

semiárido nordestino: as estratégias de alimentação

forrageira.Verificaram

foram; ingredientes separados: palma forrageira

substituição da raspa de mandioca por farelo de

separada da mistura feno + concentrado e mistura

palma forrageiro de 25% de inclusão do farelo de

completa: palma misturada com o concentrado e o

palma, ocorre um incremento de 91,5 g no consumo

feno. O genótipo teve efeito sobre o peso médio

de matéria seca. Os autores não observaram efeito

inicial e final e o ganho de peso total, diário, com

dos níveis de farelo de palma forrageira nas dietas

exceção

O

para o peso vivo final e ganho de peso médio total e

desempenho não sofreu influência das estratégias

o ganho médio diário observado foi 70,0 g/dia e a

alimentares. Entre os grupos genéticos estudados, o

média de conversão alimentar de matéria seca foi

Cariri

13,38.

apenas

e

o

da

conversão

Cara-Curta

tiveram

alimentar.

desempenhos

um

incremento

com

a

superiores, com ganhos totais de 4,49 kg e 3,16 kg, respectivamente. Este fato pode estar relacionado

Treviño (2009) Utilizando a palma forrageira em

ao processo de formação das raças, tanto de suas

níveis 0, 25, 50, 75 e 100%, na base da matéria

origens quanto do tempo sob seleção natural, onde

seca em substituição ao milho sobre o desempenho,

normalmente uma população em que os aspectos de

consumo e digestibilidade em ovinos constatou-se

sobrevivência e reprodução foram mais destacados,

que o consumo de matéria seca apresentou o ponto

levando

mais

de máxima em 60,5% de inclusão da palma na

acelerado. Dessa forma, os grupos genéticos Cariri

dieta, na qual o consumo de MS alcançou 1,77

e Cara-Curta, considerados genótipos de grande

kg/dia. As dietas com 25 a 75% de palma

porte, necessitam de maior demanda de nutrientes,

apresentaram os maiores consumo de matéria seca,

resultando em maiores ganhos.

fatores como o baixo teor de fibra, a alta

os

animais

a

um

crescimento

palatabilidade e alta taxa de passagem da palma, Araújo et al. (2009) trabalhando com ovinos

podem ter contribuído para esses resultados. O

mestiços Santa Inês e sem padrão racial definido,

coeficiente de digestibilidade da fibra em detergente

avaliaram a substituição da raspa de mandioca (0,

neutro

25, 50, 75 e 100% ) por farelo de palma forrageira

substituição do milho pela palma na dieta, estes

cv. Gigante, sendo a relação volumoso: concentrado

resultados demonstram que a palma apresenta alta

de 50:50, em que o volumoso foi o feno de capim

digestibilidade, podendo melhorar a digestibilidade

buffel

de outros volumosos de menor qualidade (Tabela

em avançado grau de maturidade e

amonizado com 4% de ureia, e o concentrado

aumenta

linearmente

em

função

da

9).

TABELA 8- Palma forrageira em substituição ao feno de capim-elefante efeito sobre consumo, digestibilidade de ovinos Consumo

Nível de palma forrageira (% na MS) 56 CV %

Equação Regressão

2

0

14

28

42

R

CMS (%PC)

2,28

2,97

3,86

4,11

3,89 20,68 Y=2,5502+0,0312PF

0,80

CFDN (%PC)

1,24

1,38

1,66

1,57

1,08 30,13 Y=1,1842+0,0322PF - 0,0006PF

0,86

CT (g/d)

491,82 617,98 834,46 860,25 858,54 24,96 Y=537,47+6,9695PF

0,84

CNF (g/d)

144,17 234,71 369,93 438,12 513,68 22,81 Y=151,63+6,7317PF

0,99

Água (L/dia)

3,25

2,14

0,96

0,79

0,44 38,91 Y=2,9126-0,0498PF

CDMS

60,55

66,01

67,99

66,14

69,57

CDFDN

49,61

52,71

52,59

49,07

52,69 10,04 Y=51,33533

CDCT CDCNF

62,26 91,98

68,03 92,07

70,46 92,16

70,49 92,27

73,03 88,14

0,90

Digestibilidade 7,53 Y=62,418+0,1298PF 6,90 Y=64,058+0,1714PF 5,43 Y=91,32715

0,76 0,81 -

Consumo de matéria seca (CMS), fibra em detergente neutro (CFDN) em percentual do peso corporal (%PC), consumo de carboidratos totais (CCT), carboidratos não fibrosos (CCNF), água, coeficiente de digestibilidade da matéria seca (CDMS), fibra em detergente neutro (CDFDN), carboidratos totais (CDCT) e carboidratos não fibrosos (CDCNF). Fonte: Adaptado de Bispo et al. (2007).

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6049


Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal

TABELA 9- Desempenho de ovinos Santa Inês alimentado com palma forrageira em substituição ao milho

Item

Níveis de substituição (%) 0

25

50

75

ER 100

CMS (kg/dia)

1,45

1,66

1,75

1,76

1,63

DFDN (%) IVA (kg/dia) IAP (kg) PVF (kg)

60,95 4,9 0,00 35,88

62,96 4,23 0,91 35,77

70,68 3,57 1,8 35,91

77,41 2,95 2,58 36,04

82,15 2,31 3,45 35,22

Y=1, 45924+0, 01028P0,000085*P² Y=59,463333+0, 227378**P Y= 4, 87266–0, 025640**P Y=0,03622+0, 034347**P Y=35,76

CV (%)

0,77

16,62

0,98 0,98 0,99 -

10,39 7,20 17,90 -

GPT (kg)

9,07

8,67

8,26

7,86

7,45

Y=9,077778-0,016222**P

0,78

16,67

GPD (kg/dia)

0,255

0,236

0,232

0,218

0,197

Y=0,252111-0,000451*P

0,78

16,70

CA

5,68

7,03

7,58

8,02

8,27

Y=6,082+0,0247**P

0,90

24,49

EA (%)

18,26

14,64

12,75

13,61

12,84

Y=16,794-0,0475*P

0,68

23,33

corporal (%PC), ingestão voluntária de água (IVA), ingestão de água via palma (IAP), peso vivo final (PVF), ganho de peso total (GPT), ganho peso diário (GPD), conversão alimentar (CA), eficiência alimentar (EA). Fonte: Adaptado de Treviño (2009).

A ingestão voluntária de água diminui em torno de 25,6 gramas/dia a cada unidade percentual de palma forrageira na dieta. Essa ingestão voluntária reduziu de 4,9 para 2,31 kg de água/dia, entre os tratamentos com 0 e 100% de inclusão da palma, respectivamente. Este comportamento deve-se à quantidade de água contida nos cladódios da palma que substituiu a ingestão de água nos bebedouros. Logo a ingestão de água via palma aumenta com os níveis

de

inclusão

da

palma

0,0

a

3,45%,

comprovando a importância da forrageira em regiões áridas e semiáridas (Tabela 9). Também se verificou que os ganhos de peso total (GPT) e o ganho de peso médio diário (GDMD) apresentaram decréscimo com aumento da palma na dieta (Tabela 9). Este comportamento pode ser explicado devido ao baixo conteúdo de fibra da palma e pela alta taxa de passagem que ela apresenta, diminuindo o tempo do contato com os microrganismos ruminais e consequentemente a produção de ácidos graxos voláteis, que são a principal fonte de energia dos ruminantes, prejudicou o bom desempenho dos ovinos. A conversão alimentar aumenta linearmente com a inclusão da palma na dieta e, consequentemente, a eficiência alimentar, a qual apresentou comportamento linear decrescente com o aumento de palma forrageira na dieta. A substituição total do milho por palma forrageira reduz o ganho de peso, eleva o consumo de matéria seca e melhora a digestibilidade dos nutrientes (Tabela 9). 6050

Beltrão (2012) avaliando níveis de inclusão (15; 30; 45

e

60%)

de

palma

forrageira

(nopalea

cochenillifera) no volumoso da dieta de ovinos mestiços Santa Inês, observaram que houve um decréscimo no consumo de matéria seca à medida que aumentou a ingestão de palma (Tabela 10). Na literatura, existem controvérsias sobre a influência do teor de MS nas dietas sobre o consumo. Segundo Mertens (1994), o percentual da FDN na dieta pode ser positivamente correlacionado com o consumo, quando a energia limitar a ingestão, ou negativamente, quando a capacidade do rúmenretículo for o fator limitante. Os coeficientes de digestibilidade da matéria seca, carboidratos totais e fibra em detergente neutro aumentaram linearmente com a inclusão de palma no volumoso, confirmando a influência desta sobre a digestibilidade e, principalmente, incrementando a digestão da fibra. Para a digestibilidade aparente dos CHOT, os valores médios variaram de 64,2 a 76,94 % com a inclusão da palma nas dietas, podendo ser atribuído ao aumento da digestão da fibra e produção de acetato. A digestibilidade de carboidratos

não

fibrosos

(DCNF)

apresentou

redução de 94,98 para 89,58 % pela inclusão de palma nas dietas, pode-se enfatizar que, mesmo com maior digestibilidade da matéria seca, a inclusão da palma nas dietas, proporcionou menor digestibilidade de carboidratos não fibrosos. Em relação ao ganho de peso diário não foram influenciadas pelos tratamentos, cujo valor médio foi de 144,19 g/dia, este resultado pode ser justificado

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Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal

seca à medida que se eleva os níveis de palma (Tabela 10).

pela tendência à redução na ingestão de matéria

TABELA 10- Avaliação de diferentes níveis de inclusão de Palma forrageira (nopalea cochenillifera) em substituição ao feno de capim Mombaça no volumoso da dieta de ovinos

Nível de inclusão de palma (%) Item 15

30

45

60

53,29 63,07

48,19 66,72

43,09 66,96

37,99 74,23

CDCHOT

64,2

68,93

67,72

CDCNF

94,82

91,38

92,53

CDFDN

55,99

60,12

GPMD (g/dia)

156,75

145,25

CFDN (g/kg CDMS

0,75

)

Equação Regressão

CV %

Y=58,390-0,34X Y=62,924+0,078.X

74,24 52,00

8,28 8,82

76,94

Y=63,690+0,107.X

92,00

8,66

89,58

Y=95,938-0,105.X

44,10

2,25

57,87

68,82

Y=54,621+0,073.X

34,00

11,84

141,38

133,38

Y=144,19

-

-

Consumo de fibra em detergente neutro (CFDN), CDMS = coeficiente de digestibilidade da matéria seca, CDCHOT = carboidratos totais; CDCNF = carboidratos não fibrosos; CDFDN = fibra em detergente neutro; GPMD= ganho de peso médio diário. Fonte: Adaptado de Beltrão (2012).

Recomenda-se a utilização da palma forrageira no

bui para o aumento na produtividade desses

volumoso de dietas até o nível de 60 %. A inclusão

animais dessa região. Assim, estão em andamento

de 60 % de palma miúda melhora a digestibilidade

pesquisas

dos nutrientes da dieta, a exceção dos carboidratos

quantidade adequada deste alimento na dieta.

não fibrosos. Ferreira et al. (2011)

com

o

objetivo

de

determinar

a

sugeriram um

nível máximo de carboidratos não fibrosos em dietas a base de palma forrageira próximo de 44%, no

Palma na dieta de caprinos

tocante a saúde e função ruminal normais e

A produção de pequenos ruminantes é uma das

adequado desempenho animal.

mais importantes atividades econômicas e sociais do mundo. No Brasil, em 2010, o rebanho caprino diferentes

teve um aumento de 1,6% comparação ao ano de

suplementos associados à palma forrageira em

2009, apresentando valor de 9.312.784 animais

dietas

sendo que 8.458.578 destes animais encontram-se

Pessoa

et para

al.

(2013)

ovinos:

avaliaram

sobre

o

consumo

e

digestibilidade. A espécie de palma utilizada foi a

no nordeste (FAO, 2010).

Opuntia ficus indica (L) Mill cv. Gigante associada ao farelo de trigo, farelo de soja, farelo de algodão,

O Nordeste brasileiro tem se destacado durante

caroço de algodão a dieta a base de palma

séculos como área de vocação para a exploração

forrageira, bagaço de cana de açúcar e ureia.

de caprinos e ovinos, pelo potencial da vegetação

Verificaram que diferentes suplementos associados

natural para a manutenção e sobrevivência dos

à palma forrageira, não altera o consumo, a

animais

digestibilidade aparente dos nutrientes, exceto o

ruminantes apresentam maior eficiência produtiva

consumo de extrato etéreo, que se mostrou superior

que

para

rusticidade e capacidade de adaptação a uma

o

tratamento

suplemento

com

com alto

caroço teor

de

deste

algodão, nutriente.

destas

qualquer

ampla

espécies.

outro

variedade

pequenos

ruminante devido de

condições

climáticas,

de algodão e a alta digestibilidade deste nutriente,

caprinos em regiões castigadas pelas secas. Desta

observou-se maior digestibilidade.

forma, a palma forrageira por sua característica de à

de

sua

Considerando o alto teor de extrato etéreo do caroço

resistência

existência

à

comprovada

alta

pela

Estes

estiagem,

produção

aliada

à

de

alta

A associação da palma forrageira se apresenta

palatabilidade e produção de biomassa tem crescido

como uma boa alternativa alimentar para ovinos na

o uso na alimentação de caprinos, uma vez que, é

região semiárida do nordeste brasileiro, o que contri-

uma fonte alimentar que pode viabilizar a produção animal no semiárido do Nordeste, devido às suas

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

6051


Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal

características morfofisiológicas e nutricionais (Lira

Constatou-se que os níveis de palma não alteraram

et al., 2006).

o consumo e a produção de leite. Recomenda-se o tratamento com 35% de inclusão de palma por

Golveia (2012) avaliaram a substituição parcial do

apresentar menor comprometimento da receita do

milho pela palma forrageira miúda em níveis 20, 25,

produtor com a alimentação (Tabela 11).

30, 35 e 40% na base de matéria seca em dietas para cabras Saanen x Pardo alpina em lactação.

TABELA 11- Substituição parcial do milho pela palma forrageira miúda em dietas para cabras em lactação Níveis de palma (%)

Item

Equação

CV(%)

20

25

30

35

40

Produção de leite (kg/dia)

1,13ª

1,14ª

1,23ª

1,32ª

1,12ª

Y=1,18

12,60

Consumo de MS (% PV)

3,85ª

4,14ª

4,21ª

4,37ª

4,01ª

Y=4,12

19,29

Custo total MS (R$)

0,50

0,51

0,53

0,49

0,43

-

-

Preço do leite (R$)

1,20

1,20

1,20

1,20

1,20

-

-

Receita do leite (R$)

1,36

1,37

1,48

1,58

1,34

-

-

Dieta (R$)/ kg MS

0,33

0,32

0,30

0,29

0,27

-

-

CRA (%)

36,80

37,36

35,83

31,00

31,80

-

-

Comprometimento da receita com alimentação (CRA). Fonte: Golveia (2012).

O tratamento com 35% de palma apresentou o

Entretanto, o teor de gordura do leite reduziu

menor comprometimento (31%), perfazendo uma

linearmente com a inclusão, do valor 3,84 para

economia de 6,6% para dieta com 35% de inclusão.

2,97%, para os níveis de zero e 27,6% de inclusão,

O importante a destacar com esses resultados é o

respectivamente, decorrente do decréscimo no teor

potencial que a palma forrageira pode apresentar

de extrato etéreo das dietas, já que a síntese de

para produzir leite ao substituir parcialmente o milho

lipídeos no leite de cabras é afetada pelos

sem alterar a produção de leite. Os resultados

triglicerídeos da dieta.

positivos que compõem os custos de produção palma

Tosto (2011) avaliou o efeito da utilização de níveis

ressaltam sua importância na composição de dietas

com base na matéria seca (8,4; 18,8; 31,2 e 48,3%)

para exploração da caprinocultura leiteira na região

de feno de erva-sal associado à palma forrageira in

semiárida.

natura, em dietas para cabritos ½ Boer confinados,

somados

aos

aspectos

nutricionais

da

constatou-se efeito quadrático para o peso vivo final, Costa et al. (2009) avaliaram a substituição em

onde o maior peso ao abate foi de 34,11kg com

níveis

do farelo de milho por palma

38,36% de feno de erva-sal. O ganho de peso diário

forrageira, em dietas para cabras em lactação, até o

teve comportamento linear crescente onde o valor

nível máximo de inclusão de 27,6% de palma e

máximo obtido de 216,95 g dia

observou que não houve efeito sobre a produção de

31,2% de feno de erva-sal e a conversão alimentar

leite (média 1,58 kg/dia), apesar de ter havido

dos animais apresentaram média de 5,53 (Tabela

redução no teor de energia das dietas com o

13).

crescentes

-1

para dietas com

aumento no nível de palma, portanto, este resultado pode ser parcialmente explicado pelo aumento linear no consumo de matéria seca à medida que aumentou a participação da palma forrageira.

6052

A menor ingestão de matéria seca 47,12kg pelos cabritos alimentados com 8,4% de feno de erva-sal possivelmente está relacionada com a alta

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal

participação de palma forrageira (74,9%) e as

compuseram as dietas experimentais, assim como o

características da composição química desta dieta

sistema de criação (confinamento) no qual os

(49,4% de carboidrato não fibroso), já que, o baixo

cabritos

consumo

contribuíram com os ganhos de peso obtidos.

de

dietas

com

elevados

níveis

de

foram

conduzidos,

possivelmente

carboidratos solúveis está associado a complicações

A produção de caprinos desempenha um papel

metabólicas

crucial no desenvolvimento do Nordeste brasileiro

relativas

ao

uso

demasiado

de

concentrados.

por representa, uma boa alternativa de trabalho e renda, por ser fonte de alimentos de alto valor

O uso de 31,2% de feno de erva-sal e de 37% de

biológico (leite, carne e vísceras), bem como, de

palma forrageira, em dietas para cabritos ½ Boer,

pele de excelente qualidade. Desta forma, é

em

confinamento

possível a utilização do feno de erva-sal associado à

proporcionou os maiores ganhos de peso corporal.

palma forrageira como fontes de volumosos para

Bem como a associação entre os ingredientes (teor

caprinos.

sistema

de

engorda

em

de fibra, carboidratos solúveis e proteína) que

TABELA 13- Desempenho de caprinos F1 Bôer x mestiços, confinados e alimentados com feno de erva-sal associado à palma forrageira Níveis de feno erval-sal (% na MS)

Variáveis PF (kg) -1

GPD (g.dia ) CTMS (kg) CA

8,4

18,8

31,2

48,3

EPM

Probabilidade L Q

27,79

31,14

33,01

31,57

1,41

0,07

0,06

145,93 47,12

169,6 53,76

216,95 65,76

207,61 72,72

18,79 4,75

0,03 <0,01

0,24 0,61

5,46

5,47

5,2

5,97

0,3

0,36

0,26

PF = peso final; GPD = ganho de peso diário; CTMS = consumo total de MS; CA = conversão alimentar; EPM – erro padrão da média; L – linear; Q – quadrática. Fonte: Adaptado de Tosto (2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS A palma forrageira é considerada uma das principais

do rebanho, sendo necessário realizar a correção da

plantas capazes de produzir grande quantidade de

proteína com a utilização de ureia e associar a uma

matéria seca para alimentação de ruminantes no

fonte de fibra que apresente efetividade.

semiárido, com a particularidade de estar disponível no período de maior escassez de forragem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Portanto, recomenda-se a palma forrageira na alimentação de ruminantes, uma vez que, apresenta alto conteúdo de água (90%) o que possibilita a produção animal nos períodos críticos do ano. É um alimento de alto valor energético, importante para a pecuária

no

Nordeste,

rico

em

carboidratos,

principalmente não fibrosos e apresenta altos coeficientes de digestibilidade. Não se recomenda o fornecimento exclusivo aos animais, pois apresenta limitações quanto ao valor

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não atendendo a todas as necessidades nutricionais

p.38-44.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

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6055


Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema – Alagoas Leite informal, legislação, leite bovino.

1

Amanda Graça Gomes Ferreira 2 Daniele Gomes de Lyra 3 José Crisólogo de Sales Silva 1 Francisca Marcia França Soares 4 Cleyton de Almeida Araújo

Vol. 14, Nº 04, jul./ago. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

Eletrônica 1

Especialista em Bovinocultura de Leite; Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL; Santana do Ipanema/AL. E-mail: camandaggomes@hotmail.com 2 Mestre em Ciências da Nutrição, Professora do Instituto Federal de Alagoas – IFAL. 3 Professor de Zootecnia Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL. 1 Especialista em Bovinocultura de Leite; Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL; Santana do Ipanema/AL. 4 Graduanda em Zootecnia, Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL; Santana do Ipanema/AL.

RESUMO O leite é um alimento de elevado valor nutricional, apresenta em sua composição uma riqueza de

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

PROFILE OF THE CONSUMERS OF BOVINE MILK IN NATURA IN THE MUNICIPALITY OF SANTANA DO IPANEMA - ALAGOAS

nutrientes, o que também o torna um excelente meio

ABSTRACT

de cultura para a maioria dos microrganismos. O

Milk is a food of high nutritional value; it has a rich

presente estudo teve como finalidade realizar um

nutrient composition, which also makes it an

levantamento do perfil e hábitos dos consumidores

excellent culture medium for most microorganisms.

do leite informal. O perfil dos consumidores de leite

The objective of the study was to carry out a survey

informal da cidade de Santana do Ipanema foi obtido

of the profile and habits of consumers of informal

através da aplicação de um questionário constituído

milk. The profile of informal milk consumers in the

de 22 questões. Os critérios de inclusão foram

city of Santana do Ipanema was obtained through

possuir idade igual ou superior a 18 anos e tomar

the application of a questionnaire consisting of 22

leite informal. Dentre os 196 entrevistados, 85,2%

questions. The inclusion criteria were to be 18 years

eram representantes do sexo feminino e a maioria

of age or older and to take informal milk. Among the

dos

196

entrevistados

possuía

como

nível

alfabetização o 1º grau incompleto (40,3%). principal

motivo

pelos

85.2%

were

female

representatives and the majority of the interviewees

entrevistados

had incomplete elementary school (40.3%) as literacy level. The main reason respondents stated

(36,7%). Apesar da maioria dos entrevistados (77%)

that they consumed informal milk was the taste

terem conhecimento que o consumo de leite cru

(36.7%). Although most respondents (77%) were

pode acarretar doenças, a maioria dos entrevistados

aware that consumption of raw milk could lead to

(81,1%) não tinha conhecimento sobre a ilegalidade

illness, most respondents (81.1%) were unaware of

da

Sugerimos

the illegality of raw milk marketing. We suggest

atividades educativas de conscientização para os

educative awareness activities for informal milk

consumidores de leite informal, acerca dos riscos de

consumers about the risks of disease transmission.

transmissão de doenças. Palavras-chave: leite informal, legislação, leite

Keyword: bacteria, Characteristics, Quality, legislation

de

leite

os

interviewees,

O

afirmaram consumir o leite informal foi o sabor

comercialização

quais

de

cru.

bovino. 6056


Artigo 432 – Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema- Alagoas

INTRODUÇÃO O leite é um dos principais produtos agropecuários em todo o mundo. Além da importância econômica,

chamadas

doenças

transmitidas

por

alimentos

(DTAs).

caracterizada por significativa geração de empregos

A qualidade do leite in natura é influenciada por

e renda, o produto ainda desempenha um papel

muitas variáveis, entre as quais se destacam fatores

fundamental na alimentação humana (GOLDBARG,

zootécnicos associados ao manejo, alimentação,

2007).

potencial

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2010 a produção de

genético

dos

rebanhos

e

fatores

relacionados à obtenção e armazenagem do leite (MÜLLER, 2002).

leite de vaca no Brasil chegou a 30,7 bilhões de litros, um acréscimo de 5,6% sobre o ano anterior. Foram ordenhadas 22,9 milhões de vacas em todo o país, representando 10,9% do efetivo total de bovinos. A maioria da produtividade de leite foi no Sul (2.388 litros/vaca/ano), com destaque para Santa Catarina (2.432 litros/vaca/ano). Minas Gerais

Depois de secretado no úbere, o leite pode ser contaminado por microrganismos a partir de três principais fontes: de dentro da glândula mamária, da superfície exterior do úbere e tetos, e da superfície do equipamento e utensílios de ordenha e tanque (SANTOS & FONSECA, 2001).

foi responsável por 27,3% da produção nacional de leite, Rio Grande do Sul por 11,8%, e Paraná por

Devido ao leite ser um produto muito perecível quando obtido sob condições higiênico-sanitárias

11,7% (IBGE 2010).

deficientes possui elevada contagem bacteriana A região nordeste produz 4 bilhões de litros, 13

total, o que constitui um risco à saúde da população,

lugares do leite do Brasil, e Alagoas contribui com

principalmente quando consumido sem tratamento

7%

térmico (NERO et al., 2005).

do

total

do

leite

nordestino.

Segundo

informações técnicas da Embrapa, a produção de leite do estado constitui-se, principalmente, de

Apesar da proibição legal imposta à comercialização

pequenos

concentrada

do leite cru no Brasil através da Lei nº 1.283 de

principalmente no Agreste, nas microrregiões de

18/12/1950 e do Decreto nº 30.691 de 29/03/1952

Batalha, Palmeiras dos Índios e Santana do

(BRASIL,

Ipanema. Nessas três microrregiões, em 2010, foi

Normativa Nº 51 de 18 de setembro de 2002,

produzidos 150 milhões de litros de leite, que

também proíbe o consumo e a comercialização de

representa 65% do volume de todo o estado

leite in natura, porém diversos pesquisadores (LIRO;

(MAIOR, 2012).

GRANJA; ZOCCHE, 2011; LONGHI et al., 2010;

produtores

e

está

1950;

BRASIL,

1952),

a

Instrução

NERO et a al., 2009, SILVA et al., 2009) demostram O leite é um alimento de elevado valor nutricional, apresenta em sua composição uma riqueza de

que esse consumo ainda existe em várias regiões do país.

proteínas, vitaminas, gorduras, carboidratos, sais minerais, além de uma alta digestibilidade. Esses fatores também são relevantes para considerá-lo um excelente meio de cultura para a maioria dos microrganismos (SILVA et al., 2009).

Portanto a adoção de medidas que evitem o consumo e a comercialização de leite cru depende do perfil do consumidor, que é quem exige esse tipo de produto, além de ser necessária a busca de

O leite bovino é o produto oriundo da ordenha

opções para o destino dessa produção informal.

completa, ininterrupta, em condições de higiene, de

Análises dessa natureza são mais eficientes sendo

vacas sadias, bem alimentadas e descansadas

efetuadas isoladamente em pequenas regiões, já

(BRASIL, 1952). Denomina-se leite cru ou leite in

que as realidades de produção e consumo de leite

natura aquele leite que não sofreu o térmico

cru são extremamente distintas em diferentes partes

adequado (BRASIL, 2002), ou seja, é aquele leite

do país (NERO et al., 2003).

que não tem garantia de isenção de patógenos e que, se consumido, pode resultar em doença, as

O trabalho teve como finalidade apresentar um

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6057


Artigo 432 – Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema- Alagoas

levantamento do perfil e hábitos dos consumidores

que 75,8%

dos

entrevistados

do leite, visando identificar o consumidor de leite in

Goldbarg (2007) entrevistou 100 pessoas em três

natura (cru) e avaliar seus conhecimentos quanto ao

supermercados no município de Volta Redondas

risco que esse leite pode provocar na saúde do

(RJ) e também identificou que a maioria (65%) dos

consumidor.

entrevistados

eram

mulheres.

eram

mulheres.

Considerando

o

estado civil, resultado similar foi observado por METODOLOGIA

Goldbarg (2007) no qual aproximadamente 50% dos

O perfil dos consumidores de leite informal da

entrevistados eram casados e 40% eram solteiros.

população de Santana do Ipanema foi obtido através da aplicação de um questionário constituído de 23

Em

relação

à

faixa

etária,

a

maioria

dos

questões. O questionário buscou investigar dados

entrevistados (42,3%) tinha entre 21 e 40 anos, 8,2%

pessoais, socioeconômicos e o consumo de leite

tinham entre 18 e 20 anos, 31,6% tinham entre 41 e

informal.

59 anos e 17,9% tinham idade igual ou superior a 60 anos (Gráfico 1). Resultado similar foi descrito por

Os dados foram coletados durante os meses de

Longhi et al. (2010), no qual a maioria (35,5%) dos

agosto de 2012 e novembro de 2012, na área

entrevistados possuíam idade entre 20 e 40 anos. Já

urbana do município de Santana do Ipanema, AL. A

Sousa et al. (2005) relataram que a maioria dos

pesquisa foi realizada nos bairros da área urbana:

entrevistados (41,7%) tinham entre 41 a 60 anos,

Domingos Acácio, Clima Bom, Monumento, Santo

mas também identificou um alto percentual (37%) de

Antônio, Baraúna, São Cristóvão, Lagoa do Junco,

pessoas

Santa Luzia, Santa Sofia, Bebedouro, São José e

provavelmente devido ao local de coleta de dados

Centro. Foi realizada visitas no horário da manhã em

(feira, supermercado e mercado público).

com

idade

entre

21

e

40

anos,

cada bairro. Os critérios de inclusão foram possuir idade igual ou superior a 18 anos e tomar leite informal. A avaliação estatística foi descritiva com o auxílio do Microsoft Excel.

GRÁFICO 1. Faixa etária dos entrevistados no município de Santana do Ipanema-AL, no período de agosto a novembro de 2012.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram entrevistadas em média 16 a 25 pessoas por bairro, totalizando 196 indivíduos. A maioria 56,6% (111) dos entrevistados nasceu no município de Santana do Ipanema, 30,1% (59) nasceu em outros municípios do estado de Alagoas e 11,2% (22) eram do estado de Pernambuco e 2,0 % (4) provenientes de outros estados do Brasil. Dentre as principais profissões exercidas pelos entrevistados, a maioria

Fonte: Elaborado pelo autor.

(38,8%) era agricultor, seguido de dona de casa (17,9%) e professor (7,1%), Agente de saúde (5%) e

A maioria dos entrevistados possuía como nível de

vendedor (4,1%).

alfabetização

o

não

alfabetizado

com

(8,7%),

alfabetizado (6,6%), 1º grau incompleto (40,3%), 1º Dentre os 196 entrevistados, 85,2% (167) eram

grau completo (2%), 2° grau incompleto (7,7%), 2°

representantes do sexo feminino e 14,3% (28) do

grau completo (5,6%), técnico profissionalizante

sexo masculino. Deste total, 45,4% (89) tinha uma

(1%), superior incompleto (2,6%), superior completo

união estável e 27% (53) eram solteiros, e 12,2%

(5,6%)

(24) dos entrevistados definiram sua relação como

semelhantes foram encontrados por Nero et al.

união estável. Resultado semelhante foi encontrado

(2003) e Longhi et al. (2010), os quais constataram

por Longhi et al. (2010), o qual entrevistou indivíduos

que a maioria dos entrevistados 54,73% e 50,5%,

nos seus domicílios em Arapongas-PR, identificando

respectivamente, tinham como nível de escolaridade

e

pós-graduação

o primeiro grau incompleto. 6058

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(1,5%).

Resultados


Artigo 432- Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema- Alagoas

Observou-se

que

em

relação

à

renda

dos

afirmaram consumir o leite informal, verificamos que

entrevistados, a maioria (51,5%) tinham a renda

a maioria dos entrevistados considera o leite mais

entre 1 e 2 salários mínimos, 28,6% tinha a renda

gostoso (36,7%), conforme descrito na tabela 1.

inferior a 1 salário mínimo; apenas 3,1% dos

Resultados semelhantes (40%) foram descritos por

entrevistados recebiam mais de 5 salários mínimos e

Liro, Granja e Zocche (2011) que relataram como

8,7% não souberam ou não quiseram responder.

justificativa para o consumo do leite in natura o fato

Entretanto, resultados distintos dos obtidos nessa

de ser mais gostoso.

pesquisa foram relatados por Longhi et al. (2010) dos

Longhi et al. (2010) também detectaram como

entrevistados tinha renda familiar entre 2 a 4 salários

preferência dos entrevistados o consumo de leite cru

mínimos e Goldbarg (2007) constatou que a maioria

por este apresentar melhor sabor (28,2%) que o leite

(33%) recebia mais do que 3-5 salários mínimos.

formal, e também por apresentar menor preço

Identificamos ainda em nosso estudo que 44,9% dos

(28,2%). Já Silva et al. (2009) descreveram diversos

entrevistados recebiam auxílio financeiro do governo

argumentos para o consumo do leite informal, como:

federal (bolsa família).

ser

que

verificou

que

a

maioria

(67,8%)

mais

forte,

mais

saudável,

não

conter

conservantes, ser um produto fresco, ser mais Com relação a variável de consumo de leite identificamos

que

22,4%

consomem

leite

diariamente e 21,9% consomem mais de uma vez por dia. Estes resultados são semelhantes ao relatados por Goldbarg (2007) o qual identificou que 47% dos entrevistados consomem leite quase que diariamente (6 ou 7 vezes por semana). Já Soares et

saboroso. TABELA 1.

Principais

razões

relatadas

pelos

consumidores pela preferência do consumo de leite informal, em Santana do Ipanema, entre agosto de 2012 a novembro de 2012 Razões

FA

FR (%)

entrevistados (84%) possui o hábito de ingerir leite

Considerado “saboroso”

72

36,7

diariamente, e, dentre estes 28% afirmam consumir

Considerado “mais forte”

32

16,3

leite mais de uma vez ao dia.

Considerado “mais saudável”

23

11,7

Mais barato (ou menor custo)

14

7,1

sem fervura) foi verificado em 10,2% (20) das

Considerado “mais puro”

11

5,6

residências, entretanto todos os consumidores de

Considerado “mais prático”

10

5,1

Outra opção

34

17,1

Total

196

99,6

al.

(2010)

verificaram

que

a

maioria

dos

Quanto o consumo de leite cru, ou seja, (in natura,

leite cru também ingeriam leite cru fervido. Este dado é maior do que o identificado por Neroet al. (2003) e Liro, Granja e Zocche (2011), os quais verificaram que 4,17% e 2,11%, respectivamente, da

Fonte: Elaborado pelo autor.

população consumidora que não ferviam o leite antes de consumir.

As principais formas de consumo do leite apontadas foram mingau (1,5%), doce de leite (1%), vitamina

O consumo de um alimento é considerado frequente

(8,75%), com achocolatado (4,1%), coalhada (1%),

quando sua ingestão é maior ou igual a 4 vezes por

ingrediente para bolo (2,6%), com café (15,3%), com

semana.

relatou

outro alimento (51,5%), consumo direto (14,3%),

consumir o leite cru (n = 20), a maioria relatou

sendo que o consumo como “com outro alimento”,

consumi-lo raramente (60%), sendo o consumo

seguido de leite com café e consumo direto /puro

frequente do leite in natura de 15%. Já em relação

foram os de maiores expressividades. Os dados

ao consumo de leite informal fervido, a maioria

correspondentes as formas de consumo são distintas

(66,3%) tem um consumo frequente.

daqueles observados por Nero et al. (2003), que

Dentre

os

entrevistados

que

observaram, em seu trabalho, que a forma mais Em relação ao motivo pelos quais os entrevistados

comum de consumir leite (30%) é misturada a algum

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6056-6065, jul./ agp, 2017. ISSN: 1983-9006

6059


Artigo 432 – Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema- Alagoas

entrevistados

Entretanto o acondicionamento e transporte para

consomem misturado com café; 25% consomem o

posteriormente comercialização do leite com maiores

leite puro (sem nenhuma adição), 6% consumem

índices

tipo

de

achocolatado;

27%

dos

com frutas; 4% com cereal e 8% com outros produtos, tais como cevada e canela. Já Liro, Granja e Zocche (2011) identificaram que dentre os

de ocorrência eram

vasilhas

plásticas

(41,8%), leiteiras de metal (12,8%). Estes dados não estão de acordo com o relatado na literatura, já que

consumidores de leite, 40% o destinavam para o

Nero et al. (2003) e Liro, Granja e Zocche (2011), os

consumo direto, e 37,41% para fazer derivados e

quais identificaram que a maioria dos consumidores

outros alimentos (queijo, coalhada, doce).

ao comprar o produto o mesmo se encontrava armazenado em garrafas plásticas tipo pet, 54,22% e

A maioria (63,3%) dos entrevistados apresentaram

47%, respectivamente.

características de consumo inferior a um litro de leite por dia na sua casa, e 28,6% consomem de 2 a 3 litros por dia. Longhi et al. (2010) afirmaram que do

Quanto ao horário de comercialização do produto foi

total dos entrevistados 48,7% tinham o habito de

um fator bem variável onde se concentrou entre 7h e

consumir diariamente menos de 1 litro de leite;

8h da manhã (69,6%), antes das 7h (18,8%), após

46,7% consumiam entre 1 a 2 litros/dia e 4,5%

as

consumiam mais de 3 litros/dia.

identificados por Nero et al. (2003) onde o horário de

8h

(10,7%).

Resultados

distintos

foram

maior entrega de leite cru nas residências ocorria Considerando a metodologia de comercialização do

entre 9h (26,06%) e 10h (26,06%), e Liro, Granja e

leite, a maioria dos entrevistados (57,1%) compra o

Zocche (2011) a entrega do leite se concentrou entre

leite “porta a porta”, na vizinhança (21,9%), na

8h (18,9%) e 10h (17,6%). O resultado encontrado

padaria (7,1%), e uma parcela tem o leite no próprio

no nosso estudo é positivo, pois a ordenha é feita

sítio (7,7%) (Gráfico 2).

Resultado semelhantes

bem cedo e quanto menor o tempo de exposição do

foram encontrados por Nero et al. (2003) e Liro,

leite à temperatura ambiente, menor seu nível de

Granja e Zocche (2011), os quais identificaram que a

contaminação.

maioria

dos

entrevistados

89,44%

e

38%,

respectivamente, relataram que recebiam o produto

A maioria dos entrevistados (89,8%) tinha como

na própria residência.

metodologia o processo de fervura antes da utilização (Gráfico 3). Resultados semelhantes são

GRÁFICO 2. Local onde é adquirido o leite in natura

relatados na literatura no qual o percentual varia de

no município de Santana do Ipanema-AL

81,5% a 97,89% (NERO et al., 2003;SILVA et al., 2009; SOARES, et al., 2010; LIRO, GRANJA e ZOCCHE, 2011). GRÁFICO 3. Tratamento realizado no leite antes do seu consumo pelos entrevistados

Fonte: Elaborado pelo autor.

Dentre os consumidores que compram o leite porta a porta (112), o recipiente utilizado eram basicamente os de Vasilha Plástica com (73%), vasilha de alumínio (22%), garrafa pet (4%), não informou (1%). 6060

Fonte: Elaborado pelo autor.

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Artigo 432 – Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema- Alagoas

TABELA 2. Principais razões relatadas pelos

consumo de leite cru desde 1950 (BRASIL, 1950),

consumidores que justificam a fervura do leite in

ainda é muito alto o percentual dos entrevistados

natura antes do consumo, em Santana do

que desconhecem a proibição da comercialização de

Ipanema

leite in natura.

Razões

Frequência

Porcentagem

(n)

(%)

GRÁFICO 4. Percentual da questão: “Você sabia

Matar as bactérias

117

59,7

que é proibido comercializar leite cru?”

Porque não gosta do leite

26

13,3

Tradição

20

10,2

Outra opção

33

16,8

196

100

cru

Total Fonte: Elaborado pelo autor.

Quando questionados sobre o processo térmico relatado por eles a maioria dos entrevistados (47,4%) responderam que preferem desligar o fogo, após o início da fervura, seguido de realização de

Fonte: Elaborado pelo autor.

fervura duas vezes (25,5%), e realização da fervura, e manutenção de fogo baixo durante 5 minutos (9,7%). Resultado semelhantes foram descritos por Nero et al. (2003) e Liro, Granja e Zocche (2011), os quais identificaram que a maioria dos entrevistados 67,63% e 57,63%, respectivamente, desligavam a fonte de calor assim que o produto entrava em ebulição.

conhecimento que o consumo de leite cru pode acarretar doenças e (23%) relatou que desconhece o

leite

pode

transmitir

doenças,

sendo

semelhantes a valores evidenciados e obtidos por Longhi et al. (2010) e Liro, Granja e Zocche (2011), os quais relataram que a maioria dos entrevistados 71,7%

A aquisição de leite informal tem relação com a praticidade na compra e cultura do consumo deste tipo de produto na região. O desconhecimento que há no processo de fervura ainda não é difundido para a população consumidora, uma vez que, o

A maioria dos entrevistados (77%) relatou ter

se

CONSIDERAÇÃO FINAL

e

77,4%,

respectivamente,

tinham

conhecimento de que o leite pode transmitir doenças. Entretanto Nero et al. (2003) verificaram que 68,09% sabiam que o leite pode transmitir doenças. A maioria dos entrevistados (81,1%) não tinha conhecimento sobre a legislação de comercialização

mesmo é ineficiente para manter o produto livre de contaminação. O leite informal é proibido de ser comercializado por lei, tornando isso mais um fator que contribui fortemente para manutenção do hábito de ingerir o produto. Sugerimos campanhas educativas no município para os consumidores com intuito de conscientizar a população dos riscos do consumo do leite cru in natura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária. Departamento Nacional

de leite cru (Gráfico 4). Outros estudos (Nero et al.

de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Regulamento de Inspeção Indústria e Sanitária

2003; Longhi et al. 2010) também detectaram alto

de Produtos de Origem Animal. Aprovado pelo

percentual (83,8% e 83,8%, respectivamente) de desconhecimento sobre a ilegalidade da venda de

Decreto 30.691 de 29 de março de 1952. Rio de Janeiro. 1952. Alterado pelo Decreto 29.093, de

leite cru. Apesar de existir legislação que proíba o

30/04/1956, Decreto 1.255, de 25/06/1962,

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Artigo 432 – Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema- Alagoas

Decreto 1.236, de 02/09/1994, Decreto 1.812, de 08/02/1996, Decreto 2.244, de 04/06/1997 e

NERO, L. A.; MATTOS, R.M.; BELOTI, V.; BARROS, F.A.M.; PINTO, N.A.P.J.; ANDRADE, J.N.; SILVA,

Decreto 6.385 de 27/02/2008. BRASIL. Instrução Normativa nº 51, de 18 de setembro de 2002. Aprova os Regulamentos

P.W.; FRANCO, M.G.D.B. Leite cru de quatro regiões leiteiras brasileiras: perspectivas de

Técnicos de Produção, Identidade e Qualidade do Leite tipo A, do Leite tipo B, do Leite tipo

estabelecidos pela Instrução Normativa 51. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas,

C, do Leite Pasteurizado e do Leite Cru Refrigerado e o Regulamento Técnico da

atendimento

dos

requisitos

v. 25, n. 1, p. 191-195. 2005. SILVA, P.W.; FRANCO, M.G.D.B.

microbiológicos

Leite cru de

Coleta de Leite Cru Refrigerado e seu Transporte a Granel. Diário Oficial da União,

quatro regiões leiteiras brasileiras: perspectivas de atendimento dos requisitos microbiológicos

Brasília, p.13, 21 set. 2002. Seção 1. GOLDBARG, M. Perfil do Consumidor de Leite da cidade de Volta Redonda.2007. Monografia

estabelecidos pela Instrução Normativa 51. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas,

(Pós-Graduação em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal e Vigilância Sanitária

SILVA, C. P. A.; ARAÚJO, M. C. G.; CIRILO, R. L.; CIRILO, R. L.; MARQUES, R. C. P. Dados

em Alimentos) – Universidade Castelo Branco, RJ, 2007. LIRO, C. V.; GRANJA, R. E. P.; ZOCCHE, F. Perfil

preliminares do perfil do consumo de leite e derivados lácteos no município de Currais Novos – RN. Anais do VI Congresso de Pesquisa e

do consumidor de leite no Vale do rio São Francisco, Pernambuco. Ci. Anim. Bras.,

Inovação da Rede Norte e Nordeste Tecnológica. Belém – PA. 2009.

Goiânia, v.12, n.4, p. 718 – 726, out/dez. 2011. IGBE 2010: Disponível em:

SOARES, K. M. P.; GÓIS, V. A.; AROUCHA, E. M. M; VERÍSSIMO, A. M. O. T.; SILVA, J. B. A.

http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=n oticia&id=1&idnoticia=2002&busca=&t=ppm-

Hábitos de consumo de leite em três municípios do estado do Rio Grande do Norte. Revista

2010-rebanho-bovino-nacional-cresce-2-1-chega-

Verde (Mossoró – RN – Brasil), v.5, n.3, p.160 -

209-5-milhoes. LONGHI, R.; MORENO, A. C. P; REIS, A. B.; OKANO, Werner; ARAGON-ALEGRO, L. C.; SANTANA, E. H. W. Perfil dos consumidores de leite cru da cidade de Arapongas – PR. Revista Instituto Latic. “Cândido Tostes”, Mar/Abr, nº

v. 25, n. 1, p. 191-195. 2005.

164 julhos/setembros de 2010. SOUSA, D.D.P. Consumo de produtos lácteos informais em Jacareí-SP. São Paulo, 2005. 114 f. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal, Universidade de São Paulo. SANTOS, M. V.; FONSECA, L. F. L. Importância e

373, 65: 14-19, 2010. MAIOR, B. S. Beltrão quer melhorar a produção de Leite em Alagoas, 2012. Disponível em: http://cadaminuto.com.br/noticia/2012/05/04/joaq

efeito de bactérias psicotróficas sobre a qualidade do leite. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 15, n. 82, p. 13-19, 2001.

uim-beltrao-quer-melhorar-a-producao-de-leiteem-alagoas. MÜLLER, E. E. Qualidade do leite, células somáticas e prevenção da mastite. Simpósio sobre Sustentabilidade

da

Pecuária

Leiteira

na

Região Sul do Brasil, v. 2, p. 206-217, 2002. NERO, L. A.; MAZIERO, D.; BEZERRA, M. M. S. Hábitos alimentares do consumidor de leite cru de Campo Mourão – PR. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 24, n. 1, p. 21-26, jan. /Jun. 2003.

6062

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ANEXO Anexo I – Questionário utilizado na entrevista PESQUISA DO PERFIL DO CONSUMIDOR DE LEITE BOVINO NO SERTÃO

QUESTIONÁRIO Data de aplicação: __________________ Local:_____________________________ CONSOME LEITE BOVINO? (de vaca) ( ) SIM

( ) NÃO

IDENTIFICAÇÃO 1. ORIGEM (onde mora?) Área urbana ( )

Área rural ( )

a) Nasceu na cidade: ____________________

2. SEXO ( ) Feminino

( ) Masculino

3. IDADE: _____________________________

4. ESTADO CIVIL ( ) solteiro ( ) casado ( ) divorciado

( ) viúvo

( ) união estável

( ) outros: _____________

DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS 5. ESCOLARIDADE (Estudou até qual série?) ( ) Não Alfabetizado

( ) Alfabetizado

( ) 1º grau incompleto (fundamental)

( ) 2º grau incompleto (médio) ( ) 2º grau completo ( ) técnico profissionalizante ( ) superior incompleto ( ) superior completo ( ) Pós-graduação incompleto ( ) Pós-G completo

6. PROFISSÃO: __________________________

7. RENDA DA FAMÍLIA ( ) menos de 1 SM ( ) 1 a 2 SM ( ) 3 a 4 SM ( ) 5-7 SM ( ) ≥ 08 SM ( ) Não sabe/não quis responder

8. VOCÊ OU ALGUÉM DE SUA FAMÍLIA RECEBE ALGUM BENEFÍCIO DO GOVERNO FEDERAL? ( ) Bolsa Família/Bolsa Escola ( ) nenhum

( ) BPC (benefício de prestação continuada) ( )PROJOVEM ( )PETI ( ) outro: especifique _____________________

9. QUANTAS PESSOAS MORAM NA SUA CASA: _____________

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Artigo 432 – Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema- Alagoas

CONSUMO DE LEITE 10. QUANTAS PESSOAS DA SUA CASA TOMAM LEITE?

11. QUEM GERALMENTE COMPRA O LEITE? ( ) Entrevistado

( ) Mãe

( ) Pai

( ) Filho

( ) outra opção: especifique:

____________

12. ONDE GERALMENTE VOCÊ COMPRA O LEITE? ( ) Fazenda

( ) Padaria

( ) Supermercado

( ) Vendido “porta a porta”

( ) Vizinhança

( ) outra opção: especifique: ______________

Responder as questões de 13 e 14, se a entrega do leite for realizada em casa: 13. Horário da entrega em casa? ___________________________

14. O leite cru é comercializado em qual recipiente? (vasilha de alumínio, vasilha plástica, garrafa pet)

15. VOCÊ PREFERE COMPRAR LEITE IN NATURA OU INDUSTRIALIZADO: ( ) INDUSTRIALIZADO Porque? _________________________________________________ ( ) IN NATURA ( ) AMBOS

Porque? _________________________________________________ Porque? _________________________________________________

16. TIPO DE LEITE CONSUMIDO TIPO DE LEITE CONSUMIDO

mais de uma vez ao

Dias por semana 1 x / dia

dia

5 a 6 dias

3 a 4 dias

Rarame 1 a 2 dias

leite in natura cru leite in natura fervido leite UHT (caixinha) leite em pó leite pasteurizado . Responder as questões de 17 a 19, se ingerir leite in natura pelo menos 1 vez por semana: 17. ANTES DE TOMAR O LEITE IN NATURA, VOCÊ: ( ) COA

( ) FERVE

( ) COA E FERVER

outra opção: ……...........….........................

18. VOCÊ ACREDITA QUE A FERVURA DO LEITE MATA AS BACTÉRIAS PRESENTES NO LEITE? ( ) NÃO ( ) SIM.

19. PORQUE VOCÊ CONSUME O LEITE IN NATURA? ( ) é mais barato ( ) é mais forte ( ) é mais gostoso ( ) é mais saudável

6064

( ) única opção

( ) é mais prático ( ) é mais puro

outra opção: ……….........................

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6056-6065, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

nte

Nunca


Artigo 432 – Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema- Alagoas

20. VOCÊ TEM CONHECIMENTO QUE O LEITE CRU PODE CAUSAR DOENÇA? ( ) NÃO ( ) SIM.

21. VOCÊ SABIA QUE É PROIBIDO COMERCIALIZAR LEITE CRU? ( ) NÃO ( ) SIM.

22. QUAL A PRINCIPAL FORMA DE UTILIZAÇÃO/CONSUMO DO LEITE? ( ) consumo direto

( ) com outro alimento (cuscuz)

( ) ingrediente para bolo

( ) vitamina

( ) coalhada

( ) doce de leite

( ) queijo

( ) outra opção: ___________

23. QUANTOS LITROS DE LEITE SÃO CONSUMIDOS POR DIA NA SUA CASA? ( ) até 1 litros

( ) 1 a 2 litros

( ) 2 a 3 litros

( ) 3 a 4 litros

( ) 4 a 5 litros

( ) 5 a 6 litros

( ) 6 a 7 litros

( ) outra opção: ____________

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6065


Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte Fatores físicos, fatores químicos, fatores psicogênicos, Revista Eletrônica

ingestão de água.

1

Bruna Cristhina de Oliveira 2 Graciele Araújo de Oliveira Caetano 3 Messias Batista Caetano Júnior 1 Taynara Raimundo Martins 4 Cláudia Beatriz de Oliveira

Vol. 14, Nº 04, jul./ago. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

¹ Mestranda em Produção de Ruminantes, UFG – EVZ, Goiânia-GO. ² Doutoranda em Produção de Ruminantes. Universidade Federal de Goiás, UFG – EVZ, Goiânia-GO; Professora da Faculdade de Jussara, JussaraGO. gracielecaetano@outlook.com. 3 Zootecnista, Especialista em Gerenciamento de Projetos. IFMG, Bambuí – MG. 4 Tecnóloga em Análise de Sistemas, Instituto Federal Goiano, IFG – IporáGO.

RESUMO Mecanismos que regulam o consumo de bovinos de corte são aspectos relevantes para estudo da Nutrição de Ruminantes, já que será a partir de tais informações que será possível entender como ocorre a seleção e a ingestão dos alimentos pelos animais. Serão

discutidos,

em

uma

abordagem

individualizada, os mecanismos que regulam o consumo de animais ruminantes, como fatores físicos, químicos e psicogênicos, metabólicos, neurohormonais e ingestão de água. A partir dessa revisão de literatura será possível perceber que o consumo de matéria seca dos bovinos é o resultado dessa interação

complexa

intrínsecos Conhecendo

ao os

dos

animal,

diversos ambiente

mecanismos

reguladores e

alimento.

reguladores

será

possível maximizar o consumo, o que poderá proporcionar

melhor

desempenho

produtivo

e

consequentemente maior lucratividade da atividade pecuária. Palavras-chave: fatores físicos, fatores químicos, fatores psicogênicos, ingestão de água.

6066

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

REGULATORY MECHANISMS OF CONSUMPTION IN BEEF CATTLE ABSTRACT Mechanisms that regulate the consumption of beef cattle are relevant in Ruminants Nutrition study, since it will be from such information that it will be possible to understand how selection and ingestion of food by the animals occurs. Mechanisms of consumption regulating of ruminant animals, such as physical, chemical

and

psychogenic

factors,

metabolic,

neurohormonal and water intake, will be discussed in an individualized approach. From this literature review it will be possible to know that the dry matter intake of cattle is the result of this complex interaction of the various regulators intrinsic to the animal, environment and food. Knowing the regulatory mechanisms

will

be

possible

to

maximize

consumption, which may provide better productive performance and consequently greater profitability of livestock activity. Keyword: physical factors, chemical factors, psychogenic factors, water intake.


Artigo 433 – Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte

INTRODUÇÃO O consumo voluntário refere-se à quantidade máxima de matéria seca que o animal ingere espontaneamente.

A

quantidade

de

alimento

ingerido ad libitum é um fator fundamental, que frequentemente limita, no caso das forragens, a quantidade de energia e de elementos nutritivos ao ruminante (ALVES et al., 2001). Na alimentação animal é extremamente importante o conhecimento sobre os mecanismos que controlam a seleção e ingestão de alimentos, já que a ingestão de alimentos depende da quantidade total de nutrientes que o animal precisa para crescimento, saúde

e

produção.

Os

nutrientes

absorvidos

dependem da digestibilidade, mas o consumo é responsável pela maior parte das diferenças entre os

Fonte: (PRESTON; LENG, 1987).

alimentos, e nesse contexto a digestibilidade está relacionada com a cinética e taxa de passagem da

Anteriormente acreditava-se que aceitabilidade era

digesta pelo trato digestivo (SILVA, 2011).

uma característica do alimento, no entanto, agora é vista

como

uma

função

individual

do

animal

Diante da importância econômica do consumo

(FORBES, 1999). Hoje, sabe-se que é possível fazer

adequado dos nutrientes nas dietas de ruminantes

com que animais que preferiam anteriormente um

para

mesmas,

alimento de sabor adocicado (palatável) demonstrar

objetivou-se com esta revisão identificar e discutir de

aversão a esse sabor através da associação a um

que maneira os fatores de regulação interferem no

estímulo não condicionado desagradável (FORBES;

consumo de alimentos pelos ruminantes.

PROVENZA, 2000).

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Os

o

melhor

aproveitamento

das

nutrientes

requeridos

pelos

animais

são

regulados por uma cascata de retroalimentação (feedback) estabelecida a partir da visão e cheiro do

Fatores reguladores do consumo Os

ruminantes

aprendem

a

associar

as

alimento,

gosto,

efeitos

gástrico

e

intestinal,

consequências pós ingestivas de um alimento com

respostas do fígado, sinais ligados ao sangue e

suas

propriedades

preferências fazerem

a

ou

usam

suas

deposições teciduais inadequados (Figura 2). Essa

condicionadas

para

reação é capaz de ser usada para criar associações

(FORBES;

de comandos e continuidade da alimentação que são

sensoriais,

aversões

seleção

dos

e

alimentos

usados na seleção de alimentos a serem ingeridos e

PROVENZA, 2000).

no controle da ingestão voluntária do alimento (S O A partir da Figura 1 podem ser observados, de forma

consumo de alimento em ruminantes é regulado por

esquemática, os principais fatores que atuam na

mecanismos que atuam a longo e em curto prazo. No

regulação do consumo.

entanto, o local primário responsável pelo controle integrado da ingestão de alimento e equilíbrio

FIGURA 1: Balanço de fatores que influenciam a ingestão de alimentos em ruminantes

energético no corpo é o sistema nervoso central (SNC), embora muitos mecanismos específicos não sejam totalmente entendidos.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6066-6075, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

6067


Artigo 433 – Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte

ficamente relacionado à manutenção do equilíbrio

FIGURA 2: Cascata da saciedade

energético; e a regulação psicogênica, relacionada à resposta

do

animal

a

fatores

inibidores

ou

estimuladores no alimento ou no manejo alimentar. Sobre essa questão, Silva (2011) afirma que além dos fatores físicos, existem também os fatores químicos e metabólicos que estão relacionados com informações geradas por receptores não suficientes para o SNC saber exatamente a quantidade de nutrientes ingeridos; e fatores neuro-hormonais que está relacionado com os hormônios que sinalizam a regulação do consumo. Fatores físicos Sabe-se que o consumo voluntário de matéria seca está limitado pela capacidade de distensão física do

Fonte: (FORBES; PROVENZA, 2000).

rúmen.

Dessa forma,

quando

os

animais

se

TABELA 1. Efeito de entrega de alimentação (1, 2,

alimentam de dietas palatáveis, porém em alta

ou 3 x por dia) e de paridade (PP= primíparas; mp=

quantidade e baixas em concentração energética, o

multíparas) em IMS, comportamento de alimentação,

consumo é limitado por restrição na capacidade de

taxa de alimentação, tipo de dieta e comportamento

enchimento do trato digestivo (MERTENS, 1994).

e duração de consumo por dieta O consumo é limitado pelo tempo necessário para 1x VARIÁVEIS

PP

2x

MP

PP

3x

MP

PP

MP

IMS (kg/d)

24.3 30.6 24.3 29.7 24.4 31.1

Comportamento

238.6 219.9 247.0 220.6 234.3 219.3

Alimentação (min/d)

processar a forragem ingerida (mastigação) em partículas suficientemente pequenas que possam deixar o rúmen, ou seja, o tempo total de mastigação por unidade de forragem consumida, o tempo gasto ruminando

e

correlacionado

Taxa alimentação

o

tempo

com

a

gasto

comendo

qualidade

da

está

forragem

0.11 1.15 0.10 0.14 0.11 0.14

(NASCIMENTO et al., 2009).

9.3

As características físicas e químicas da dieta, como

(kg/min) Frequência fornecimento

9.5

9.3

9.6

9.5

9.6

dieta (dietas/d)

conteúdo de fibra da dieta, tamanho de partícula,

Tipo dieta (kg/dieta)

2.7

3.3

2.7

3.2

2.7

3.3

fonte da fibra, digestibilidade da fração FDN (fibra

Duração por dieta

26.7 23.6 27.9 23.3 26.0 23.6

em detergente neutro), fragilidade da partícula, facilidade de hidrólise do amido e fibra, produtos da

(min/dieta) 1

2

Dados calculados em 7 d por 12 vacas em cada tratamento. P = paridade; T = frequência de entrega de alimentos para animais; P x T = interação. 3 Comprimento (min) e tamanho (kg) da primeira refeição consumida após o retorno de ordenha, com base em critérios vaca refeição individual. Fonte: Hart et al. (2014).

fermentação

de

silagens,

concentração

e

características da gordura suplementada, além da quantidade e a degradação da proteína podem afetar grandemente o consumo de matéria seca de animais ruminantes, ao determinarem a integração dos sinais

Sendo assim, Mertens (1994) e Coelho da Silva

envolvidos na regulação do mesmo (NASCIMENTO

(2006)

et al., 2009).

atribuíram

o

controle

da

ingestão

de

alimentos a três mecanismos básicos: o físico, que está associado à capacidade de distensão do

O teor de FDN da dieta é um dos principais

rúmen-retículo em função do teor de fibra em

determinantes da regulação física do consumo

detergente neutro (FDN) da ração; o fisiológico, que

tornando-se o fator que mais afeta o consumo à

é regulado pelo balanço nutricional da dieta, especi-

medida que o requerimento energético do animal e o

6068

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6066-6075, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 433 – Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte

efeito de enchimento das dietas aumentam, devido

menos que vacas de alta produção e o consumo é

sua baixa velocidade de digestão, sendo associado

variável ao longo da lactação. Há várias dúvidas se

com a capacidade de enchimento do trato digestivo

a produção de leite leva ao consumo ou se o

(ALLEN, 2000).

consumo leva à produção de leite. Aparentemente as vacas consomem alimento para atender à exigência

Segundo Detmann et al. (2014) após realizar uma

energética, logo, entende-se que o consumo parece

meta-análise com dados de 53 estudos com vacas

ser determinado pela produção de leite.

em lactação e 126 estudos com bovinos confinados em crescimento e terminação publicados em Brasil

A FDN, por causa de sua baixa velocidade de

de 1990 a 2012 para avaliar a regulação da ingestão

digestão é considerada o nutriente mais associado

voluntária em bovinos alimentados à vontade com

com a capacidade de enchimento do trato digestivo

dietas à base de forragens tropicais concluiu que a

pela dieta (ALLEN, 1996). Dietas com alto teor de

IMS diminuiu linearmente conforme a fração FDN da

fibra têm o consumo limitado fisicamente, ou seja, o

dieta aumentou, onde o consumo voluntário foi

CMS

regulado pelas limitações físicas e metabólicas dos

capacidade de enchimento do trato digestivo por

animais.

fibra.

Para animais que têm altas exigências energéticas,

A Figura 3 mostra a relação entre o teor de FDN da

a distensão ruminal tem um efeito maior sobre o

dieta e o CMS (% do peso vivo).

máximo

atingido

é

determinado

pela

consumo de matéria seca, pois o animal precisa ingerir uma maior quantidade de nutrientes para

FIGURA 3: Representação gráfica do controle físico

atender às suas necessidades, não podendo assim,

do consumo adaptado de Pereira (2015)

atingir o nível de consumo necessário em função da limitação na capacidade volumétrica do rúmen (NASCIMENTO et al., 2009). Mertens

(1992)

enchimento

sugeriu

pode

ser

que

a

limitação

correlacionada

com

por a

quantidade de FDN de uma ração e propôs o valor máximo de consumo de 1,2% do peso vivo em FDN como nível de consumo regulado por mecanismos 13

físicos . No entanto, Silva et al. (2009) sugeriram em sua revisão que os consumos de FDN próximos de 1,8% do peso vivo podem ser alcançados por animais em pastejo de Brachiarias no período seco, diferindo

da

informação

Fonte: Adaptado de Pereira (2015).

citada

anteriormente

diversos

experimentos

dietético é sinônimo de queda no conteúdo de

comparando forragens com diferentes digestibilidade

energia da mesma. Por este mecanismo, dietas com

da FDN, porém os teores de FDN e de PB eram

alto teor de FDN seriam menos consumidas que

semelhantes, para vacas leiteiras em lactação, e

dietas com baixo teor de FDN. Este conceito é

constataram aumentos significativos na ingestão de

importante

MS e produção de leite, quando a digestibilidade da

pastagens, por exemplo. Pastos de alta qualidade

FDN era maior.

têm baixo FDN e, portanto, propiciam alto consumo

(CARDOSO et al., 2014). A partir da Figura 3, nota-se que o aumento no FDN Allen

(2000)

realizou

para

compreender

qualidade

em

A necessidade de se alimentar é determinada pelo

diário pelos animais. O CMS, por este mecanismo, é

potencial

ditado pela relação entre a capacidade de consumo

genético

do

animal

e

pelo

estádio

fisiológico. Vacas de baixa produção consomem

de FDN e a concentração de FDN na dieta.

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Artigo 433– Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte

tagens

Fatores psicogênicos

tropicais,

pode

limitar

o

consumo

de

forragem. O mecanismo psicogênico envolve respostas no comportamento do animal a fatores inibidores ou

Dentre as características relacionadas ao alimento, o

estimuladores relacionados ao alimento ou ao

fator de maior impacto na regulação psicogênica do

ambiente que não são relacionados à energia ou

consumo de alimento parece estar relacionado à

enchimento da dieta. Fatores como sabor, odor,

palatabilidade.

textura, aparência visual de um alimento, status

palatabilidade é definida como a característica dos

emocional

o

alimentos associada com a aceitabilidade gustatória,

aprendizado podem modificar a intensidade do

olfatória, e visual pelos animais. No entanto, Forbes

consumo de um alimento (MERTENS, 1994). Tais

(1995), afirma que muitas controvérsias estão

fatores afetam o consumo em ruminantes e devem

relacionadas à sua real influência no controle do

ser agregados em uma classe de moduladores ou

consumo voluntário. Elementos sensores do olfato e

modificadores

paladar podem influenciar a seleção e o consumo de

do

animal,

interações

psicogênicos

sociais

do

e

consumo.

A

modulação psicogênica nada mais é que um fator de

Segundo

Mertens

(1996),

vários alimentos em inúmeras espécies.

ajustamento escalar, que determinada elevações ou reduções

no

consumo

predito,

física

ou

A maior razão para que a palatabilidade tenha sido

fisiologicamente, devido a interações entre animal e

definida em termos de preferência entre alimentos é

meio (NASCIMENTO et al., 2009).

porque diferenças no consumo entre alimentos escolhidos livremente podem ser usados para

Os

alimentos

que

serão

ingeridos

irão

ser

quantificar a preferência. Quando dois alimentos são

selecionados por visão e/ou cheiro e a decisão, em

fornecidos

relação a comer ou não, é tomada. Uma vez na

quantidade de cada alimento consumido pode ser

boca, o alimento pode ser engolido ou rejeitado,

uma medida quantitativa de preferência.

aos

animais

simultaneamente,

a

dependendo do seu gosto e textura (CARDOSO et al., 2014). Segundo Detmann et al. (2007), a ureia é

Estudos demonstram que o farelo de soja é

um bom controlador de consumo de suplementos

percebido como mais palatável do que farelo de

para bovinos em pastejo devido ao aprendizado em

canola por bezerros leiteiros. Sendo assim Miller-

função de sensações de mal estar nos animais. As

Cushon et al. (2014) avaliaram o efeito da fonte de

características sensoriais da ureia também controlam

proteína sobre a seleção alimentar por bezerros

o consumo de suplementos, devido ao sabor amargo

leiteiros. No primeiro experimento foi utilizado um

e odor característico.

total de quarenta bezerros, eles recebiam 6 litros de leite por dia e água à vontade. Esses animais

Portanto, sabe-se que a amônia em excesso é

receberam alimentos sólidos com teores de proteína

absorvida pela parede do rúmen e, no fígado, é

semelhante e diferiram apenas na fonte de proteína

convertida a ureia. Esta conversão custa ao animal

(soja e canola), e foi observada uma preferência por

12 kcal/g de nitrogênio (VAN SOEST, 1994). Sendo

dietas ricas em fonte de proteínas do farelo de soja

assim a utilização da ureia como regulador de

em comparação com o farelo de canola, sendo que

consumo de suplemento deve ser avaliado sobre a

os animais apresentaram maior consumo, o que

eficiência

a

indica que palatabilidade pode afetar a ingestão. No

nitrogênio

geral, estes resultados indicam que a seleção da

de

possibilidades

utilização de

do

excessos

nitrogênio, do

e

(CARDOSO et al., 2014).

dieta durante as primeiras semanas de vida é influenciada pela inata preferência alimentar.

As características estruturais do pasto, como altura, relação folha/caule e densidade também afetam o

Fatores químicos e metabólicos

consumo, por influenciarem o tamanho do bocado, a

A regulação metabólica do CMS é ditada pela demanda de energia do animal. Em dietas onde o teor de FDN não é alto o suficiente para limitar o consumo

taxa de bocado e o tempo de pastejo. O tamanho dos bocados apreendidos, pelos bovinos em pas6070

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Artigo 433– Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte

fisicamente, o consumo máximo atingido é aquele suficiente para atender a demanda metabólica de energia. Em animais leiteiros consumindo dietas com baixo teor de forragem este mecanismo de regulação é prevalente. Distintamente da curva de regulação física, na curva de regulação metabólica o CMS aumenta com aumento no teor de FDN da dieta, sinônimo de queda na concentração de energia da mesma (Figura 4).

considerando que, quando melhora a qualidade da dieta, aumenta o aporte de nutrientes por unidade de alimento – por exemplo, a concentração energética do alimento (Mcal/kg MS); dessa maneira, o animal necessitará consumir menor quantidade de matéria seca para dispor da quantidade de nutrientes requerida, dentro de certos limites de digestibilidade do alimento. Muitas forragens de alta digestibilidade podem ser

FIGURA 4: Representação gráfica do controle metabólico do consumo

potencialmente ingeridas em quantidades menores que as preditas pela teoria do controle físico. Nesses casos, o consumo é, então, mais provavelmente determinado por entraves metabólicos relacionados à habilidade animal em utilizar nutrientes absorvidos que desencadeiam reações hormonais de regulação de consumo (NASCIMENTO et al., 2009). O sinal de saciedade é o reflexo do excesso de um ou mais metabólitos que aparecem na corrente sanguínea em uma taxa maior do que eles podem ser removidos, resultando em uma elevação na concentração sanguínea. Há poucas evidências de que a utilização de glicose ou sua concentração sanguínea tenha um papel significativo no controle da ingestão de alimento no ruminante (SILVA, 2011). O fígado é o primeiro órgão a receber um quadro

Fonte: PEREIRA, 2015.

relativamente completo do que está sendo absorvido Sendo assim, em quantidades menores que às

do aparelho digestivo, e sinaliza para o SNC pelos

preditas,

nervos

quando

o

consumo

é

limitado

pelo

autonômicos

(FORBES,

2000).

Essa

enchimento da ração, o consumo cessa e as

sinalização

demandas relativas ao potencial de desempenho ou

quimiorreceptores da parede intestinal que sinalizam

estado fisiológico do animal são atendidas. Forbes

a

(1993) concluiu que os ruminantes em geral são

osmolaridade e certos metabólitos (SILVA, 2011). É

capazes de controlar seu consumo energético de

por meio destes mecanismos o animal pode enviar

maneira semelhante aos animais de estômago

ao sistema nervoso central avisos com mais

simples, desde que a densidade de nutrientes da

antecedência sobre o potencial de mudanças no

dieta seja suficientemente alta para que as restrições

estado metabólico e riscos de toxicidade.

existência

também de

pode

certas

ocorrer

condições,

com como

os pH,

físicas não interfiram. A pressão osmótica no fluido do rúmen-retículo O princípio da teoria desta regulação de consumo

também pode influenciar sinais de saciedade e, às

baseia-se no seguinte conceito: se um animal dispõe

vezes, ser confundida com os efeitos dos ácidos

de uma quantidade de nutrientes, principalmente

graxos

energia e proteína, superior aos requerimentos de

osmolaridade, do fluido do rúmen é altamente

mantença e produção, fatores fisiológicos atuarão,

variável, dependendo do conteúdo de sais minerais

deprimindo o apetite e, portanto, seu consumo. Essa

e fermentabilidade da matéria orgânica da dieta. O

teoria relaciona a qualidade do alimento, no que se

aumento da osmolaridade está associado com

refere à sua digestibilidade, com o consumo animal,

várias respostas fisiológicas que podem afetar a

voláteis.

Segundo

Allen

(2000),

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6066-6075, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

a

6071


Artigo 433– Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte

saciedade, então pode-se dizer que a depressão na

revisados que a adição de gordura aumentou a

ingestão de alimento por infusão de acetato de

energia ingerida e produção de leite, enquanto que

sódio no rúmen,provavelmente, deve-se a seu efeito

em outros foi verificada redução no consumo e

em osmolaridade.

digestibilidade da MS.

Os efeitos de hiperosmolalidade no rúmen sobre o

A máxima ingestão de MS (Figura 5) ocorre quando

termino de uma refeição são possivelmente medidos

a ingestão regulada pelos requerimentos energéticos

por excitação de osmorreceptores localizados em

é igual à ingestão limitada pela repleção ruminal

outro lugar no trato gastrointestinal ou em outros

(NASCIMENTO et al., 2009). Os autores sugerem

locais alcançados pelo sistema circulatório, como o

que, no caso de animais em confinamento, em que o

fígado ou o cérebro. A desidratação também pode

nível de energia - efeito fisiológico - regula o

reduzir a ingestão de alimentos, pois esta estimula a

consumo, o aumento da eficiência energética

vasopressina (LANGHANS; ROSSI; SCHARRER,

favorece a redução do consumo de alimentos por

1995).

satisfazer as necessidades nutricionais (OLIVEIRA; REIS; BERTIPAGLIA, 2013).

O teor de proteína na dieta tem correlação positiva com consumo em vacas lactantes, sendo este efeito

FIGURA 5: Regulação do consumo, com base na

proveniente parcialmente do aumento da proteína

equação algébrica simples, mostrando o consumo

degradável no rúmen e melhora na digestibilidade

esperado quando limitado pela demanda energética

dos alimentos. Em rações de baixo teor proteico, a

ou enchimento físico

quantidade total de proteína ingerida pode aumentar se houver aumento na demanda de energia, aumentando o consumo. Teores críticos de ingestão de proteína provocam queda no consumo, sendo que para ruminantes o limite crítico é mais baixo devido à síntese de proteína microbiana (CARDOSO et al., 2014). Bach et al. (2012) realizaram um estudo com 32 cordeiros mestiços para avaliar se o fornecimento de diferentes níveis de proteínas (10,9% e 20,4% de PB) e diferentes sabores (sabor umami e mistura doce, amargo e umami) iria alterar as preferências de consumo. No geral, o consumo de ração ou desempenho animal não foi afetado diretamente pela escolha do sabor oferecido a cordeiros. No entanto, é possível observar que a limitação do fornecimento de PB compromete a ingestão de matéria seca e que houve uma interação (P<0,01) entre nível de PB, sabor e dia de testes sobre as preferências de alimentação. Sabe-se que a gordura pode inibir a digestão da fibra com possíveis efeitos na distensão do rúmen-retículo causando o efeito de enchimento. A suplementação de gordura na dieta de vacas em lactação está associada ao aumento da densidade energética desta consequentemente ao seu consumo. Contudo Allen (2000) verificou na maioria dos trabalhos 6072

Fonte: Adaptado de Mertens, 1994.

Fatores neuro-hormonais O SNC é claramente o integrador de muitas ações do animal, tais como exercer papel vital no controle do consumo voluntário, tão bem como crescimento, deposição de gordura e reprodução. O cérebro coleta

informações

de

sensores

e

receptores

especiais da parede do trato digestivo e tecidos metabolizadores. Estas informações são integradas de tal forma a determinar que alimento ingerir e se o consumo deve iniciar ou cessar (FORBES, 2007).

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Artigo 433– Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte

Diversos hormônios como os reprodutivos, do

Rottman et al. (2015) realizou um experimento com

estresse, leptina, insulina, glucagon, e outros, têm

vacas leiteiras alimentadas com dietas contendo

sido apontados como sinalizadores da regulação do

diferentes quantidades de FDN. Foram utilizadas 9

consumo (INGVARTSEN; ANDERSEN, 2000).

vacas em lactação, distribuídas em quadrado latino 3x3, uma dieta controle (CON, 33,3% FDN); uma

A leptina é produzida nas células adiposas e atua

dieta pobre em fibras (LF, 29,6% FDN), e uma dieta

como regulador da ingestão de alimentos bem como

rica em fibras (HF, 34,8% FDN). Concluíram que

nas reservas corporais. Sua síntese é regulada pelos

animais alimentados com dietas ricas em fibras

principais hormônios que controlam a atividade do

podem reduzir a ingestão através do preenchimento

tecido adiposo. Além do efeito sobre a redução da

físico, e animais alimentados com dietas baixa em

ingestão de alimento, leptina tem um forte efeito

fibra aumenta a insulina e reduz ácidos graxos não

sobre o metabolismo do corpo, ela também aumenta

esterificados (NEFA).

a liberação do hormônio estimulante da tireoide, resultando na produção de tireoxina pela glândula

Por sua vez, o glucagon é um hormônio considerado

tiroide (SILVA, 2011).

também como regulador de consumo de ruminantes e pode reduzir o consumo de matéria seca em ratos

A leptina regula o armazenamento, equilíbrio e uso

e

de energia pelo organismo. Além disso, sinaliza o

diretamente no cérebro, mas através do fígado, uma

estado

nutricional

do

organismo

para

humanos,

entretanto

sua

atuação

não

é

outros

vez que injeção na veia-porta é mais efetiva

sistemas fisiológicos. Esse hormônio é secretado

deprimindo o consumo mais do que na circulação

pelo tecido adiposo branco e liga-se a receptores

geral, e seus efeitos podem ser anulados pela

específicos na circulação sanguínea e leva a

vagotomia hepática. Além disso, o glucagon é mais

informação para o cérebro da quantidade de energia

potente quando administrado na veia porta do que

corporal depositada na forma de gordura, ativando

na veia cava inferior (NASCIMENTO, 2009).

com isso o centro de saciedade (FORBES, 2007). Dos poucos estudos com glucagon sobre o consumo A insulina exerce efeitos biológicos sobre os tecidos

alimentar em ruminantes, um mostra que glucagon

cerebrais, atuando como neuromoduladores no

administrado intravenosamente em concentrações

sistema nervoso. Acredita-se que este hormônio seja

fisiológicas reduz o consumo em ovelha. Mais

um sensor do metabolismo periférico, devido à

pesquisas,

nesta

correlação positiva entre a concentração plasmática

ruminantes

para

de insulina e os níveis de reservas gordurosas. A

glucagon na regulação do consumo (NASCIMENTO,

concentração de insulina aumenta com a severidade

2009).

área,

são

identificar

a

requeridas

em

importância

do

da adiposidade. Ingestão de água No SNC a insulina se liga a receptores cerebrais específicos,

maior

É extremamente importante o conhecimento sobre a

são

ingestão de água pelos ruminantes, sendo essencial

encontrados nas áreas mais importantes para o

que a água seja de qualidade e disponível à vontade,

controle do consumo e do metabolismo energético

pois

no cérebro (INGVARTSEN; ANDERSEN, 2000).

carboidrato, proteínas, minerais e vitaminas.

Em resumo, a insulina pode exercer um papel em

A água representa em média 70% da composição

longo prazo na regulação do consumo e do peso

corporal dos animais adultos magros, e não é apenas

vivo em ruminantes, mas ela não parece exercer

um material inerte ou um solvente e sim um

papel de deprimir o consumo em vacas de leite no

componente ativo e estrutural do corpo. A água tem

início da lactação quando a concentração de insulina

elevada capacidade ionizante para facilitar as reações

é baixa (FORBES, 2007).

energéticas nas células e alto calor específico que

concentração

onde de

os

neurônios

receptores

de

com insulina

é

um

nutriente

tão

importante

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6066-6075, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

quanto

6073


Artigo 433– Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte

permite absorver o calor dessas reações com um

alimento e de água consumida, na maioria das

mínimo

condições.

de

elevação

da

temperatura

corporal

(MAYNARD et al., 1979). As propriedades sensoriais do alimento e da água

CONSIDERAÇÕES FINAIS

são importantes para estimular a ingestão. A

Embora a regulação do consumo de matéria seca

sensação de secura durante a ingestão de alimento

seja o resultado de uma complexa interação entre

há muito tem sido considerada como um estímulo à

fatores

ingestão de água para facilitar a mastigação e

relacionados à habilidade psicológica e sensorial dos

deglutição de alimentos secos. Além disso, as

animais, é de extrema importância que estes

ingestões de alimento e de água atendem aos

processos sejam estudados e elucidados, afim de

mecanismos

ou

que modelos de predições, baseados em respostas

evitando deficiências nos metabólitos energéticos e

biológicas, possam ser desenvolvidos de forma mais

fluidos do corpo. A ingestão de alimento requer

consistentes e acurada.

homeostáticos,

satisfazendo

ingestão de água e esta, por sua vez, parece facilitar o consumo de alimento. Por outro lado, ingestão de alimento

é

normalmente

reduzida

quando

físicos,

metabólicos

e

quimiostáticos

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A relação entre ingestão de água e de alimento é

ALLEN MS. Physical constraints on voluntary intake of forages by ruminants. J. Anim. Sci., p. 3063-

escassez

de

influenciada

por

água

vários

(LANGHANS;

fatores,

entre

eles

a

composição do alimento, temperatura ambiente e

3075, 1996. ALVES AA, SALLES

RO,

AZEVÊDO

DMMR,

demandas produtivas. Alimentos com alto teor de

AZEVÊDO

umidade vão demandar menor ingestão de água em

consumo de alimento pelos ruminantes: Uma revisão. Rev. Cient. Prod. Anim., v. 3, n. 2, p.

espécie. Com base na elevada relação entre balanço de água e de eletrólitos no corpo, também alimentos ricos em sais vão resultar em maior consumo de água; dessa forma a relação água matéria seca ingerida vai aumentar. A suplementação adequada de sal não parece influenciar muito o consumo de água e alimentos. Alimentos ricos em proteína frequentemente resultam em maior demanda de água, em consequência do incremento calórico da proteína

e

da

eliminação

de

resíduos

do

AR.

Fatores

que

interferem

no

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contêm excesso de sais ou proteína, há uma

de Veterinária e Zootecnia, v.55, p.73-93, 2007.

bem como por demandas produtivas, como a lactação. Não obstante, em condições dentro da

entre

DETMANN E, GIONBELLI MP, HUHTANEN P. A

consumo de oxigênio e taxa de renovação de água

meta-analytical evaluation of the regulation of voluntary intake in cattle fed tropical forage-based diets. J. Anim. Sci. p. 4632–4641. 2014.

correlação

linear

altamente

significativa

no corpo que é refletida, no final das contas, na correlação elevada e positiva entre a quantidade de 6074

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6066-6075, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006


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Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6066-6075, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

6075


Caracterização dos confinamentos de bovinos de corte na região do meio oeste catarinense Confinamentos, frigorífico, qualidade, precocidade. 1

Carenagto, João Paulo 2 Sampaio, Cláudia Batista 2 Detmann, Edenio 2 Fonseca, Fabyano 3 Benedeti, Pedro del Bianco 1

Mestre, Programa de Mestrado Profissional em Zootecnia, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa, claudiabsampaio@ufv.com 2 Professor Adjunto, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa. 3 Pós-doutorando, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa.

RESUMO Objetivou-se realizar um levantamento técnico sobre o perfil dos confinamentos da região do meio oeste do estado de Santa Catarina, bem como levantar dados de frigorífico para caracterizar o sistema de produção e o perfil dos animais abatidos. O procedimento metodológico utilizado foi baseado na Análise Diagnóstico de Sistemas de Produção caracterizandose como uma pesquisa qualitativa e quantitativa. A análise foi realizada por abordagem descritiva e utilização de planilhas eletrônicas do Excel. Os dados dos confinamentos e do Frigorífico São João foram coletados através de entrevista com roteiro semiestruturado. Nos confinamentos avaliados identificou-se como ponto de maior relevância a falha na gestão técnico financeira, pois não foi possível o levantamento de dados para análise econômica em função da ausência de registros. Nos confinamentos avaliados foram identificados pequenas propriedades em sistemas de produção diversificados, onde a grande maioria faz somente a engorda para terminação, produzindo animais jovens e com elevado grau de sangue europeu. O sistema pode ser definido como produção de animais precoces e superprecoces em confinamento. Adicionalmente, após a análise conjunta dos dados levantados dos confinamentos com os dados do frigorífico identificou-se o aumento do abate de animais jovens impulsionado pelos programas de incentivo à produção, governamentais e privados, e consequentemente a melhoria na qualidade dos produtos. Palavras-chave confinamentos, frigorífico, qualidade, precocidade.

Vol. 14, Nº 04, jul./ ago.de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

CHARACTERIZATION OF THE FEEDLOTS OF BEEF CATTLE IN THE MIDWESTERN REGION OF SANTA CATARINA STATE ABSTRACT

This study aimed to conduct a technical survey on the profile of feedlots in the Midwestern region of Santa Catarina state, as well as to collect data from slaughterhouse to characterize the production system and the profile of slaughtered animals. The methodological procedure used based on the Diagnosis Analysis of Production Systems, characterizing as a qualitative and quantitative research. The analysis were performed by descriptive approach and by use of Excel spreadsheets. The data of the feedlots and slaughterhouse were collected through an interview with a semi-structured script. In the slaughterhouse evaluated, were identified as a point of greater relevance the failure in technical financial management, since it was not possible to access data to economic analysis due to the absence of records. In the feedlots evaluated, small properties were identified in diversified production systems, where most only use feedlot to finishing, producing young animals with a high European blood level. The system could be defined as the production of young animals in feedlot. Additionally, after the analysis of the data collected from the feedlots and with the data from the slaughterhouse, was identified the increase in slaughter of young animals, driven by government and private incentive programs of production, and consequently the improvement of quality in final product. Keyword: feedlots, precocity, quality, slaughterhouse.

6076


Artigo 434 – Caracterização dos confinamentos de bovinos de corte na região do meio oeste catarinense

INTRODUÇÃO

médio porte associadas aos produtores rurais em um

A pecuária de corte brasileira tem lugar de destaque

modelo bem sucedido de integração onde as

frente à produção animal, e vem ganhando liderança

empresas

nas posições no mercado mundial de carnes.

compram os respectivos produtos de origem animal

Segundo dados

(Santa Catarina, 2016).

da Associação Brasileira das

fornecem

insumos

e

tecnologia

e

Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) em 2014, foram

Santa Catarina conta com programas de qualidade

provenientes de confinamentos, o que representa

da iniciativa privada (associações das raças) para

uma pequena parcela do abate total, mas que vem

incentivo à produção de animais de raças precoces

ganhando destaque pela qualidade do animal

como o Angus, Hereford e Charolês com ótima

abatido. Com o objetivo de aumentar a eficiência e a

qualidade

produtividade da bovinocultura de corte brasileira

conforme parâmetros de cada associação e a

estratégias estão sendo cada vez mais adotadas por

classificação realizada por técnico credenciado.

criadores de todo o país. O confinamento para

Outro incentivo privado é utilizado para animais

terminação,

a

jovens e com bom acabamento, com critérios de

suplementação estratégica durante o período seco

classificação estipulados pelo frigorífico, sendo a

são algumas delas e contribuem para reduzir o ciclo

classificação realizada por um técnico do próprio

de produção, para a obtenção de carcaça de

frigorífico. A intenção dos programas de incentivo

qualidade e consequentemente para o uso mais

seria motivar os confinadores a produzirem animais

sustentável da terra e dos recursos naturais.

que atendam às exigências de mercado o que

cerca

de

11%

o

dos

animais

abatidos

semi-confinamento,

e

de

carcaça,

sendo

as

premiações

resulte em remuneração maior para ambos, além de A bovinocultura é atividade presente em todas as

carnes

certificadas

com

regiões do Brasil e segundo dados do IBGE entre

consumidores exigentes.

alta

qualidade

para

setembro de 2014 e setembro de 2015 apenas os estados de Santa Catarina (SC), Pará e Pernambuco

Para estimular o crescimento do setor pecuário em

tiveram variação positiva em abate de bovinos.

SC, a Secretaria da Agricultura e a Federação da

Segundo o MAPA (2016) o estado de Santa Catarina

Agricultura do Estado de Santa Catarina (FAESC),

possui um rebanho efetivo de 4.375.358 bovinos e

implantaram o Programa de Apoio à Criação de

possui reconhecimento de “Livre de Febre Aftosa

Gado para Abate Precoce (Também denominado

Sem Vacinação” pela Organização Mundial de

Programa Novilho Precoce – NP) em 1993, Lei No

Saúde Animal (OIE), sendo um dos poucos territórios

9.183. A iniciativa governamental proporciona um

sul-americanos a possuir este status sanitário

incentivo fiscal ao produtor rural, através da redução

(CIDASC, 2015).

de

ICMS

gerado

pelos

estabelecimentos

abatedouros. O Programa foi criado com o objetivo O território do meio oeste e oeste Catarinense foi

de impulsionar o setor através de uma bonificação

colonizado por imigrantes italianos, alemães e

repassada

austríacos; e tem grande tradição econômica com

abatedouro, em troca da oferta de produtos com uma

uma

maior qualidade ao mercado consumidor.

agricultura

forte,

baseada

em

pequenas

ao

produtor

pelo

estabelecimento

propriedades rurais e com agroindústrias de grande porte.

A suinocultura, avicultura, bovinocultura e

A bovinocultura de corte catarinense tem atualmente

produção de maçã, associadas à produção de grãos

uma

com destaque para a cultura do milho utilizada na

diversificada.

alimentação animal, são a base principal da

cadeia produtiva da carne bovina principalmente na

economia do território. A prioridade por uma ou outra

industrialização e mercado, mas por outro lado

atividade depende da importância que o produtor

faltam informações sobre o perfil social e econômico

atribui

dos produtores rurais que estão envolvidos com a

para

os

diferentes

produtos

que

são

comercializados. Existem empresas de grande e de

realidade

pouco

conhecida,

complexa

e

Existem informações gerais sobre a

pecuária de corte do estado.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6076-6082, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

6077


Artigo 434 – Caracterização dos confinamentos de bovinos de corte na região do meio oeste catarinense

Diante do exposto, o presente trabalho objetivou a

RESULTADOS E DISCUSSÃO

realização de um levantamento do perfil pecuário de confinamentos

para

identificar,

descrever

e

Constatou-se a inexistência de números

para

caracterizar do ponto de vista social, econômico e

qualquer tipo de análise econômica relevante,

produtivo o sistema de confinamentos de bovinos

ficando claro a falha de gestão econômica nas

que predomina na região do meio Oeste de Santa

propriedades.

Catarina e através de um frigorífico representativo

econômica

da região e buscar o perfil qualitativo e quantitativo

praticamente inexistentes, com poucas anotações e

dos animais abatidos.

apenas números gerais. Ou seja, os produtores não

Os

dos

dados

referentes

confinamentos

a

análise

avaliados

são

possuem certeza dos valores relacionados apenas à MATERIAIS E MÉTODOS

atividade confinamento, pois acima de 68% deles

O presente trabalho caracterizou-se por pesquisa de

trabalham em mais de um sistema de produção,

campo realizada com 22 produtores pecuaristas que

sendo

utilizam o confinamento para recria e engorda na

(Tabela 1).

predominante

a

suinocultura

na

região

região do meio oeste catarinense, compreendendo os municípios de Arroio Trinta, Fraiburgo, Macieira,

As propriedades foram consideradas diversificadas

Pinheiro Preto, Rio das Antas, Salto Veloso, Tangará

do ponto de vista das atividades produtivas na região

e Videira.

do meio oeste catarinense, sendo elas: avicultura, bovinocultura de leite, fruticultura e com maior

A coleta de dados foi realizada de janeiro a junho de

destaque a suinocultura (Tabela 1). A produção de

2016, tendo como ano base de referência 2015. Os

suínos em SC é relevante devido ao sistema de

dados foram coletados durante visitas de rotina de

integração e em 2015, segundo a Empresa de

cunho técnico comercial, através de um roteiro pré

Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa

definido. Para avaliação do perfil de abate e

Catarina S.A (Epagri, 2016); compreendeu 26,7% da

qualidade de carcaças foi coletado dados do

produção do país, representando o estado com

Frigorífico São João, localizado em São João do

maior produção. Santa Catarina é também o maior

Itaperíu em maio de 2016.

produtor

nacional

pescados,

ostras,

vieiras

e

mexilhões e o segundo em abate de frangos do País O

procedimento

metodológico

utilizado

nesta

(Fiesc,

2015).

Sistemas

diversificados

são

pesquisa foi, em grande parte, baseado na Análise-

importantes na região estudada, visto que favorece a

Diagnóstico de Sistemas de Produção. Para análise

permanência na atividade agrícola reduzindo o risco

dos dados foi utilizado abordagem descritiva e

de ter apenas uma atividade, o que resulta em

utilização de planilhas eletrônicas Excel.

grande oferta e demanda de produtos agrícolas.

Foram levantados dados referentes aos sistema de

Considerando as fases de produção, constatou-se

produção

atividades,

uso frequente de tecnologia em fases iniciais do

tamanho da propriedade, raça produzida, idade,

sistema de produção o que resulta em intensificação

sexo, peso e idade de abate, características

onde cerca de 40% dos avaliados usam o sistema

relacionadas ao processo de gestão e econômica. A

intensivo desde as fases iniciais de crescimento, o

análise dos dados do frigorífico foi referente ao

que reflete em redução de ciclo produtivo e aumento

número de animais abatidos, à classe sexual,

no desfrute, além da oferta de animais precoces

rendimento de carcaça de machos e fêmeas,

(Tabela 1).

como

diversificação

de

número de animais que se enquadram no programa de Novilho Precoce, número de animais que se

Quando se observa o número de animais produzidos

enquadram no programa de incentivo a raça;

percebe-se que a produção é realizada em ambiente

número de animais que atingem o padrão mínimo de

de tamanho restrito (Tabela 1) sendo consideradas

espessura de gordura e o que desqualifica animais

pequenas ou médias, com capacidade limitada de

no

produção,

programa.

Adicionalmente

objetivou-se

razão

correlacionar dados das propriedades com do frigorífico. 6078

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6076-6082, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

do

uso

do

confinamento.


Artigo 434 – Caracterização dos confinamentos de bovinos de corte na região do meio oeste catarinense

TABELA 1 - Perfil de produção de acordo com a

No sistema avaliado, os animais são desmamados e

atividade produzida e tamanho do rebanho nas

seguem para o confinamento, o que reflete animais

propriedades avaliadas

em recria em sistema de produção intensivo para a

Produção principal

garantia do ganho contínuo e redução do ciclo de

Confinamento (%)

31,81

Confinamento + outras atividades (%) Suinocultura (% do total das outras atividades) Fases de produção

68,18 73,33

Cria, recria e engorda (%)

41,81

Engorda (%)

59,09

Rebanho (número de animais produzidos por ano) 100-300

31,81

300-600

22,72

Acima de 600

45,45

produção, ou seja, animais em crescimento contínuo abatidos precocemente não refletindo animais que passaram por restrição alimentar em alguma fase da vida,

principalmente

nas

fases

iniciais

de

crescimento. A intensificação do sistema usando confinamento nas fases iniciais de crescimento resulta em animais de bom desempenho na cria, recria e engorda, com boa musculatura e um bom

Fonte: Elaborada pelo autor.

acabamento de gordura. Mesmo em sistemas convencionais, para um melhor resultado produtivo é indicado a suplementação

Quanto à classe sexual, verificou-se que a maior

desde a fase gestacional e durante toda a fase de

proporção de animais produzidos são machos

crescimento. No estágio inicial e meados do

inteiros (Tabela 2), corroborando com os dados

crescimento

apresentados pelo frigorífico avaliado, onde a maior

vascularização

proporção de animais abatidos são machos (Tabela

miogênese e adiponogênese eventos decisivos para

3). A idade média de abate para machos e fêmeas é

o desempenho e qualidade da carne da progênie. A

abaixo de 20 meses para abate (Tabela 2), ficando

formação das fibras musculares ocorre por dois

claro o sistema de produção curto. O peso de abate

eventos distintos temporalmente. Inicialmente, ocorre

de machos e fêmeas atende as exigências de

a formação das miofibras primárias durante o

mercado, reflete o grau de sangue do animal

desenvolvimento embrionário nos dois primeiros

produzido

com

meses da gestação, entretanto, devido ao baixo

possibilidade de serem terminados em sistema

número de fibras musculares durante o estágio de

intensivo de produção precocemente com um ganho

desenvolvimento, a nutrição materna nos primeiros

de peso médio diário satisfatório.

meses de gestação tem efeitos negligentes sobre o

que

é

predominante

taurino,

fetal

que da

ocorre placenta,

a

diferenciação, organogênese,

desenvolvimento do feto. Portanto, é importante o TABELA 2 – Caracterização do rebanho produzido nos confinamentos avaliados

conhecimento

Item

de otimizar a formação de fibras musculares,

Mínimo

Máximo

Média

de

como

se

manipular

o

desenvolvimento intrauterino do animal com objetivo

50

100

60

DP 16,3

20

50

40

10,8

Ganho médio diário 1,1 (kg/dia) Idade média abate 13 machos (meses) Idade média abate 12 fêmeas (meses) Peso vivo abate 420 machos (kg) Peso vivo abate 400 fêmeas (kg) Mortalidade na fase de 0,2 engorda Grau de sangue (% de 50 sangue europeu no rebanho – Angus, Hereford) Peso bezerro 140 desmamado – entrada confinamento (kg) Fonte: Elaborada pelo autor.

1,8

1,45

0,18

20

17

1,81

o rebanho composto por gado europeu com

24

16

2,48

destaque para Angus e Hereford (Tabela 2). Esse

550

484

36,6

resultado é reflexo do programa de qualidade

450

425,5

17,6

5

1,69

1,11

100

82,8

13,3

Machos inteiros produzidos Fêmeas produzidas

proporcionando maior potencial de crescimento animal na vida pós-natal (Paulino & Duarte, 2013). Verificou-se que em média 82% dos produtores têm

existente em SC, onde a produção de animais precoces com melhor acabamento é privilegiada e incentivada pelo programa. A escolha de uma raça produtiva influenciará diretamente a tentativa da obtenção de carcaça no padrão desejável. Existe

350

226,2

39,8

uma grande variação no grau de marmorização entre as raças bovinas produtoras de carne. Isso se torna importabte porque o pecuarista pode incorporar ao

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6076-6082, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

6079


Artigo 434- Caracterização dos confinamentos de bovinos de corte na região do meio oeste catarinense

seu rebanho raças ou linhagens bovinas que produzam carne com o perfil desejado pelo mercado consumidor (Luchiari Filho, 2003).

Frigorífico São João, consequência dos programas de incentivo, seja governamental ou de iniciativa privada que inclui incentivo as raças e o Super

A escolha por raças como as taurinas pelos

Precoce sendo um programa interno.

produtores se deve pela adaptação destes animais à região e por atender as exigências do mercado tanto

O sistema de produção caracterizado por animais

em peso quanto em acabamento, o que garante ao

taurinos,

produtor maior rentabilidade. Além do programa

sistema de pagamento por qualidade existente em

governamental Novilho Precoce, existem programas

SC, onde a produção de animais precoces e

de incentivo à produção da iniciativa privada, dentre

superprecoces é valorizada pelo estado e por

eles o programa Super Precoce idealizado

pelo

frigoríficos. Isso pode ser verificado quando se avalia

Frigorifico São João, em São João do Itaperiú SC,

o número de animais abatidos pela série histórica

no qual bonifica produtores em um sistema interno

entre 2011 e junho de 2016, e o pagamento por

de seleção, onde as carcaças que se encaixam aos

qualidade

parâmetros

são

Percebe-se claramente o aumento no número de

acrescidas de 4 até 7,5% (Tabela 3) do valor total

animais abatidos na região onde abates de animais

pago por animal de acordo com as características

precoces e superprecoces praticamente triplicaram

individualmente analisadas em um sistema de

ao longo da série histórica.

estabelecidos

pelo

frigorifico,

abatidos

precocemente

realizado

neste

é

período

reflexo

(Figura

do

1),

avaliação e tipificação de carcaça definido pelo FIGURA 1 – Abate geral de animais, abates de

próprio estabelecimento.

animais Adicionalmente,

Santa

Catarina

conta

com

classificados

como

precoces

e

superprecoces e incentivo por qualidade pago pelo

programas de incentivo à raças como exemplo,

frigorífico

animais da raça Angus, Hereford, Braford que tem

2016

de

2011

a

junho

de

suas tabelas de premiação conforme exigências das associações de cada raça, com premiações que variam de 5 até 10% (Tabela 3) acrescidos no valor pago por animal, sendo a classificação desses animais realizada por um técnico de cada raça e não tem vínculo com o frigorífico. As premiações são adquiridas pelos animais jovens que atingirem os critérios de cada enquadramento de classificação principalmente em peso e acabamento de carcaça. As iniciativas citadas estimulam produtores da região a especializar-se e procurar por novas tecnologias a serem usadas no sistema de produção, melhorando seu rebanho geneticamente o que garante maior rentabilidade e para o frigorífico, obtenção de carne certificada e um produto de qualidade para oferecer

Fonte: Adaptado de Frigorífico São João.

aos consumidores. O número total de animais abatidos de 2012 a 2015 O frigorífico São João atua em todo estado de Santa

aumentou

Catarina, mas com uma grande atuação na região

paralelamente

do meio oeste onde, segundo o frigorífico, se

classificados nos programas para animais Precoces

encontram os melhores animais em termos de

e Super Precoces e isto é resultado da renumeração

qualidade e em número. A grande maioria dos

adicional em programas de incentivo a qualidade.

produtores tem relação comercial fiel com o

Esse resultado reflete a atuação do Frigorífico e as

6080

consideravelmente houve

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6076-6082, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

o

aumento

(Figura de

1),

animais


Artigo 434 – Caracterização dos confinamentos de bovinos de corte na região do meio oeste catarinense

associações

de

incentivo

a

raças

e

órgãos

governamentais como a Companhia Integrada de Desenvolvimento

Agrícola

de

Santa

Catarina

260 a 279,99 acima de 280

10%

10%

8%

10%

10%

10%

180 a 209,99 210 a 219,99 220 a 239,99 240 a 259,99 260 a 279,99 acima de 280

6%

6%

0%

8%

6%

0%

10%

6%

0%

10%

8%

6%

10%

10%

8%

10%

10%

10%

4%

0%

0%

5%

0%

0%

5%

0%

0%

(CIDASC), que realizaram reuniões com grupos de produtores em algumas regiões para apresentar as

Novilha

vantagens dos programas o que consequentemente contribuiu para o aumento dos números. O frigorífico utiliza internamente critério de classificação e incentivo levando em consideração o sexo, raça e precocidade (Tabela 3). O frigorífico São João foi o 9º Frigorífico Brasileiro a receber a credencial para abate da carne certificada Angus, e o primeiro fora do Rio Grande do Sul a receber o certificado da Associação Brasileira de

Novilho inteiro

Hereford e Braford. Essas raças se destacam por produzir marmoreio, critério muito valorizado pelos consumidores destes cortes, pois proporcionam

210 a 259,99 260 a 279,99 acima de 280

Fonte: Adaptado de Frigorífico São João.

maciez, suculência e sabor, consequentemente também valorizada no abate (Tabela 3).

ácidos graxos de cadeia média e longa no omaso ou

TABELA 3 - Incentivo por qualidade considerando

abomaso (NOBLE, 1981).

classe sexual, raça, peso e idade dos animais

O número total de machos e fêmeas abatidas de

abatidos no Frigorífico

2011 a junho de 2016 pode ser verificado na Tabela 4.

Sexo

Novilhas

Novilhos

Novilho castrado Novilho castrado Novilha Novilha Novilho inteiro Novilho inteiro Novilho castrado

Verificou-se

que

a

média

dos

machos

% Incentivo por qualidade de acordo com a categoria e raça Peso Dente de 2 4 (kg) leite dentes dentes Precoce

enquadrados no programa revela um peso médio

Acima de 3,5% 210 180 a 3,5% 209,9 Acima de 3,5% 240 210 a 3,5% 239,9 Superprecoce

ao Super Precoce, com dados a partir de 2013, machos e fêmeas apresentaram peso superior de

3,5%

2,8%

carcaça em comparação a categoria dos precoces.

3,5%

0,0%

Os dados referentes ao abate e peso médio de

3,5%

2,8%

3,5%

0,0%

machos e fêmeas reforçam os dados apresentados na Figura 1, onde verificamos o crescimento contínuo de animais enquadrados nos programas de qualidade.

Acima de 7,5% 7,5% 240 210 a 6,0% 6,0% 239,9 Acima de 6,5% 6,5% 210 180 a 5,0% 5,0% 209,9 Acima de 5,5% 5,5% 240 210 a 4,0% 4,0% 239,9 Angus, Hereford, Braford 210 a 219,99 220 a 239,99 240 a 259,99

acima das fêmeas da mesma categoria. Em relação

6,0% 0,0% 5,0%

As fêmeas que apresentarem peso inferior aos machos dentro da classificação do Novilho Precoce recebem as mesmas porcentagens de incentivo e as

0,0%

fêmeas enquadradas no Programa Super Precoce

4,0%

também recebem premiação, mas neste caso é

0,0%

inferior ao novilho castrado mas superior ao novilho inteiro, ou seja a média. As fêmeas em geral são “discriminadas” pelos produtores justamente pelo

6%

6%

0%

peso de carcaça ser mais baixo que dos machos. É

8%

6%

0%

necessária

10%

8%

6%

atenção

especial

em

relação

ao

confinamento de fêmeas, nutrição e de ponto de abate para que se atinjam os padrões mínimos exigidos

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6076-6082, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

6081


Artigo 434 – Caracterização dos confinamentos de bovinos de corte na região do meio oeste catarinense

são

pontos

essências

como

critérios

de

produção. O sexo tem grande importância na composição da carcaça. Diferenças na distribuição muscular causadas pelo sexo aumentam à medida que o animal cresce. A influência mais visualizada do sexo e na composição da carcaça é no acabamento, as fêmeas alcançam a maturidade mais cedo, possuem maior proporção de gordura corporal e pesos mais baixos que os machos. Os machos castrados alcançam maturidade em fase intermediária entre inteiros e fêmeas, então o peso ótimo de abate é menor para novilho e maior para animais inteiros (Suñé, 2005). CONCLUSÃO Verificou-se uso de tecnologia crescente nos sistemas de produção avaliados, com uso das raças especializadas e busca por produção de animais

precoces

como

consequência

do

aumento dos programas de incentivo privados e governamentais em relação à raça e qualidade. Porém, a ausência ou insuficiência de dados financeiros isolados da produção de bovinos reflete em falta de gestão impedindo avaliações financeiras

dos

confinamentos

da

região

avaliada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ABIEC – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne. Pecuária Brasileira. Disponível em: <http://www.abiec.com.br>. Acesso em 29 de junho de 2016. CIDASC, Defesa Sanitária Animal (programas/vigilancia-epidemiologica). Disponível em: <http://www.cidasc.sc.gov.br>. Acesso em 02 de maio de 2016. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores IBGE. Estatísticas da Produção Pecuária. Disponível em:

6082

<http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 29 de junho de 2016. EPAGRI- Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina. Produção vegetal e animal, segundo as unidades da federação e do Brasil – 2015. Disponível em: <http://www.epagri.sc.gov.br/?page_id=1485 6>. Acesso em 22 de outubro de 2016. FIESC – Federação das Industrias do Estado de Santa Catarina – 2016. Disponível em: <http:// fiesc.com.br/. Acesso em 22 de dezembro de 2016. LUCHIARI FILHO, Albino. Novilho precoce – 40 anos. Piracicaba Sp: Dibd/esalq/usp, 2013. MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Dados de rebanho bovino e bubalino no Brasil – 2014. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br>. Acesso em 23 de maio de 2016. PAULINO, P. V.R.; DUARTE, M.S. Programação fetal e seus impactos na produção e qualidade de carne bovina. IN: A tecnologia a serviço da bovinocultura de corte. VIII SIMPEC. Anais... Lavras-MG: Suprema, 2013. SANTA CATARINA (Estado). Lei nº 9.183, de 28 de julho de 1993. Cria O Programa de Apoio à Criação de Gado Para Abate Precoce e Dá Outras Providências. Florianópolis, SC, Disponível em: <http://www.cidasc.sc.gov.br/inspecao/files/2 012/08/Lei-91931.pdf>. Acesso 03 de julho de 2016. SUÑÉ, Y.B.P. Uma análise da comercialização de bovinos para abate no estado do Rio Grande do Sul. 2005, Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – UFRGS-RS.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6076-6082, jul. / ago, 2017. ISSN: 1983-9006


Enriquecimento ambiental e bem-estar na suinocultura Brinquedos, comportamento, suinocultura. Francisca Luana de Araújo Carvalho 2 Aline da Silva Gomes 3 Gabriela Priscila de Sousa Maciel 4 Firmino José Vieira Barbosa 5 Wéverton José Lima Fonseca

Revista Eletrônica

1*

1

Vol. 14, Nº 04, jul./ ago. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Mestranda do programa de pós graduação em Ciência Animal - Nutrição de não ruminantes, Universidade Federal do Piauí-UFPI, Teresina, PI. Email: luanaraielly@hotmail.com * 2 Mestranda do programa de pós graduação em Ciência Animal Melhoramento Genético Animal, Universidade Federal do Piauí-UFPI, Teresina, PI. 3 Graduanda em Engenharia Agronômica, Universidade Federal do Ceará UFC, Fortaleza CE. 4 Professor adjunto e coordenador do curso de Zootecnia – Universidade Estadual do Piauí - UESPI, Teresina, PI. Mestre em melhoramento Genético animal, Universidade Federal do Piauí – UFPI, Teresina, PI.

O objetivo dessa revisão foi avaliar enriquecimento

ENVIRONMENTAL ENRICHMENT AND WELL-BEING IN THE PIG

ambiental e o bem-estar de suínos, bem como as

ABSTRACT

RESUMO

medidas que podem ser utilizadas para enriquecer o ambiente de criação. O sistema de criação de suínos pode ser enriquecido de diversas maneiras, as quais estimulam o interesse do animal de forma positiva, tais

como

disponibilização

de

brinquedos

e

substratos. A produção da suinocultura no Brasil vem aumentando cada vez mais e com as exigências do mercado consumidor sobre o bem-estar do animal, durante seu ciclo de vida, está sendo muito fiscalizados por todos da sociedade atual. A competitividade

da

suinocultura

brasileira

no

mercado mundial depende da sua adaptação às novas tendências e tecnologias. A questão do bemestar animal, que é uma exigência dos mercados internacionais,

tem

gerado

discussões

e

questionamentos sobre o sistema suinícola brasileiro atual. Palavras-chave: brinquedos, comportamento,

The

purpose

of

this

review

was

to

assess

environmental enrichment and pig welfare, and the measures that can be used to enrich the authoring environment. The pig rearing system may be supplemented in several ways, which stimulates the interest of the animal in a positive manner, such as toys and availability of substrates. The production of pig farming in Brazil has increased more and more. And with the requirements of the consumer market on the well being of the animal during its life cycle, being very inspected by all of today's society. The competitiveness of Brazilian pig farming in the world market depends on their adaptation to new trends and technologies. The issue of animal welfare, which is a requirement of international markets, has generated discussions and questions about the current Brazilian pig system. Keyword: toys, behavior, pig farming.

suinocultura.

6083


Artigo 435 – Enriquecimento ambiental e bem-estar na suinocultura

INTRODUÇÃO

equipamentos (HOTZEL & FILHO, 2004).

Um dos temas mais relevantes dentro das normas de bem-estar são os problemas relacionados ao

Dessa forma, objetivou-se com esta revisão, abordar

confinamento intensivo. Para tal há dois caminhos

a relação do enriquecimento ambiental como o bem-

para a superação da limitação do bem-estar animal:

estar de suínos, bem como as medidas que podem

o

ser utilizadas para enriquecer o ambiente de criação.

enriquecimento

ambiental,

que

consiste

no

aperfeiçoamento das instalações com o objetivo de tornar o ambiente mais adequado às necessidades

BEM-ESTAR NA PRODUÇÃO DE SUÍNOS

comportamentais dos animais, ou a busca de

Na produção animal, a avaliação do bem-estar

sistemas criatórios promotores do bem-estar animal

animal (BEA) é complexa, pois envolve aspectos

(MCGLONE, 2001).

relacionados às instalações, ao manejo e ao ambiente. De acordo com ZANELLA (1995) e

O enriquecimento ambiental, também conhecido

CANDIANI et al. (2008), o bem-estar animal (BEA)

como o uso de objetos dentro das instalações

pode

consiste

comportamentais,

permitindo

em

fornecer que

aos

estes

animais

artefatos

diversifiquem

seus

ser

avaliado

através

de

fisiológicos,

aspectos

sanitários

e

produtivos.

comportamentos. Um animal com mais opções comportamentais terá mais chances de lidar com

Conforme

eventos estressantes ao seu redor. O estudo do

descreveram que alguns indicadores de BEA podem

enriquecimento

objetivo

ser mensurados por meio de avaliações fisiológicas,

proporcionar um ambiente adequado para criação,

tais como a frequência cardíaca, a atividade adrenal

atendendo às necessidades comportamentais típicas

e

da espécie, reduzindo estresse e tornando o

mensurações

ambiente ativo mais complexo e diverso por

importância

contemplar suas necessidades etológicas (MAIA et

comportamentos

al., 2013).

estereotipias, a automutilação, o canibalismo, a

ambiental

tem

por

a

BROOM

resposta

do

&

MOLENTO

sistema

imunológico.

comportamentais na

avaliação anormais,

(2004)

têm

do

a

mesma

bem-estar. tais

As

como

Os as

agressividade excessiva e a apatia em suínos O bem-estar pode ser defendido através de vários

indicam condições desfavoráveis ao seu bem-estar

pontos de vista considerando o animal de acordo

(BROOM & MOLENTO, 2004).

com sua saúde física e mental. A falta do bem-estar leva ao comprometimento da saúde dos animais,

Atualmente, o bem-estar animal é um dos assuntos

podendo levá-los a um nível elevado de estresse,

mais polêmicos, embora não seja um conceito novo.

realização

É de crescente importância no cenário suinícola

de

comportamentos

estereotipados,

agressividade e imunossupressão. No entanto, os

mundial,

principalmente

problemas de bem-estar animal são agravados, uma

demandado

vez que as condições submetidas restringem o

consumidores da carne suína brasileira. Na criação

comportamento natural dos animais (NAZARENO et

intensiva de suínos, os animais passam toda sua

al., 2009).

vida produtiva em instalações fechadas e com

pelos

por

ser

mercados

um

requisito

internacional

espaços individuais restritos, gerando situações que A suinocultura brasileira tem evoluído muito nos

comprometem o bem-estar (MAIA et al., 2013).

últimos anos ganhando cada vez mais espaço no mercado internacional (CARVALHO et al., 2013).

Conceituar cientificamente bem-estar animal não é

Portanto, melhorar o bem-estar animal é necessário

simples. Vários conceitos vêm sendo desenvolvidos,

para atender às exigências do mercado consumidor,

utilizados e aprimorados ao longo do tempo por

seja ele interno ou externo. A sociedade passou a

diversos autores (YEATES & MAIN, 2008; OHL &

exigir métodos para melhorar a qualidade de vida

VAN DER STAAY, 2012). De modo geral, nas

dos animais, o que fez com que produtores a

definições, bem-estar positivo indica ausência de

investissem em treinamento pessoal, instalações e

sofrimento

6084

ou

estresse

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6083-6090, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

e

são

baseadas

nos


Artigo 435 – Enriquecimento ambiental e bem-estar na suinocultura

princípios de bem-estar embasados nas cinco

De acordo com MACHADO FILHO; HÖTZEL (2000)

liberdades dos animais definidos pelo FAWC (Farm

são

Animal Welfare Council, 1992): livres de fome e

enriquecimento ambiental: colocação de objetos,

sede; livre de desconforto; livre de dor, sofrimento e

como correntes e “brinquedos” para quebrar a

doença; livre de medo e angústia; e livre para

monotonia do ambiente físico, a colocação de palha

expressar seu comportamento natural (MAIA et al.,

no

2013).

canibalismo; que a área mínima por suíno em

exemplos

piso,

de

evitando

medidas

piso

na

ripado,

direção

o

que

do

reduz

2

terminação seja de 1 m e de leitões na creche de ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL

0,35m , sem piso ripado e com palha do lado do

Com relação ao bem-estar, animais confinados

comedouro, o bebedouro do lado oposto, isso reduz

encontram-se impossibilitados de manifestar seu

agressão e os animais separam área de excreção

repertório

(próximo ao bebedouro) da área de descanso.

normal

de

2

comportamento

e

ficam

expostos a um maior grau de agressões ao seu organismo. Enriquecimento ambiental é utilizado

A palha é um importante componente ambiental

como uma forma de melhorar as condições animais,

influenciando favoravelmente o bem-estar do suíno.

pois a preocupação com o bem-estar animal, não

Nos sistemas confinados o uso de palha, ou outro

somente reflete uma postura “ética” com relação aos

substrato similar cobrindo o piso, tem impacto na

sistemas de produção vigentes, mas também tem se

manifestação

tornado uma exigência do mercado internacional,

impropriamente chamados "vícios" entre os animais

constituindo-se em breve, numa barreira oficial para

(MACHADO FILHO; HÖTZEL, 2000).

comportamental

de

alguns,

o comércio entre países, especialmente com a Comunidade

Econômica

Europeia

(IELER

et

BRINQUEDOS Embora os estudos tenham mostrado que os suínos

al.,2009).

preferem os substratos aos brinquedos (VAN DE O enriquecimento ambiental é um princípio do

WEERD et al., 2003; SCOTT et al., 2007; ELMORE

manejo animal que procura ampliar a qualidade de

et

vida

al.,

2012),

o

uso

de

brinquedos

como

da

enriquecimento na suinocultura mostra-se bastante

identificação e fornecimento de estímulos ambientais

promissor, apresentando resultados significativos.

necessários para alcançar o seu bem-estar psíquico

Constituem-se artefatos simples que podem ser

e fisiológico, estimulando comportamentos típicos da

utilizados onerando pouco o custo de produção, por

espécie, reduzindo estresse e tornando o ambiente

meio

cativo mais complexo e diverso, por contemplar suas

comportamentos que comprometem o bem-estar

necessidades etológicas. Assim, o enriquecimento

animal.

dos

animais

em

cativeiro

através

de

ideias

criativas,

e

ainda,

reduzindo

ambiental consiste em uma forma de propiciar melhor condição de vida aos animais (BOERE,

Os tipos de brinquedos mais comuns são pneus,

2001; HOHENDORFF, 2003).

correntes, garrafas pet, barras de madeira ou plástico, brinquedos de cães entre outros. Poucos

A ausência de um ambiente adequado impossibilita

testes têm sido realizados quanto à preferência dos

o animal de demonstrar seu máximo potencial

suínos pelos tipos de brinquedos disponíveis para

genético, de manter sua higidez e de nutrir-se de

enriquecimento do ambiente de produção. As

forma

maiorias

adequada

(SARUBBI,

2009).

Conforme

das

pesquisas

comparam

tipos

de

CARLSTEAD; SHEPHERDSON (2000), a redução

brinquedos com os substratos para cama (SCOTT et

do

distúrbios

al., 2009; ELMORE et al., 2012)., tipo a palha, já que

intervenções

este último aparenta ser preferido pelos animais.

clínicas, a diminuição da mortalidade e o aumento

Outros exemplos de objetos de enriquecimento

de taxas reprodutivas são alguns benefícios do

podem ser obtidos em uma pesquisa de Van de

enriquecimento ambiental.

Weerd et al. (2003), na qual os autores utilizaram 74

estresse,

comportamentais,

a

diminuição a

redução

de de

tipos de enriquecimento diferentes, considerando Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6083-6090, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

6085


Artigo 435 – Enriquecimento ambiental e bem-estar na suinocultura

brinquedos e substratos. Como exemplo dos objetos

corrente, serragem e por fim a maravalha. E ainda,

utilizados pode citar diversos tipos de bolas,

independente do material, o tempo no qual os

espelho, baldes, tapete, peneira entre muitos outros.

animais gastavam interagindo com os objetos foi diminuindo ao longo do experimento, assim como, o

Em um estudo de preferência realizado por Jensen

nível de interação com os artefatos quando os

et al. (2008), três tipos de brinquedos suspensos

animais

(corda, bloco de madeira e cano de plástico) foram

combinação.

disponibilizados

para

os

suínos.

Os

eram

apresentados

a

uma

segunda

autores

observaram que os animais não apresentaram

FASE DE CRESCIMENTO E TERMINAÇÃO

interesse por nenhum dos objetos apresentados

Estudos mostram que os suínos em condições

naquela condição. No entanto, eles preferiram a

naturais passam 75% das horas do dia fuçando,

outros estudos que forneceram os mesmos tipos de

buscando

brinquedos, nos quais os animais preferiram a corda

Entretanto, essas condições não são possíveis em

de sisal quando comparada a blocos de madeira e

uma

canos de plástico.

2000). Os principais problemas de bem- estar em

alimento

situação

de

e

explorando

confinamento

o

ambiente.

(STEVENSON,

suínos em engorda são excesso de densidade, falta Em

estudos

realizados

(2012)

de palha, corte da calda, castração e corte dos

concluiu que o uso de cordas como objeto de

dentes (STEVENSON, 2000). De acordo com Sator

enriquecimento foi mais interessante para suínos do

et al. (2004) as instalações na fase de crescimento e

que bolas com comida de leitões. As duas formas

terminação devem possuir área por animal de 0,50

mais

de

m a 0,75m e 0,85m a 1,00m respectivamente,

brinquedos nas baias são suspensos ou no chão. Os

conforme o tipo de piso que pode ser ripado,

suínos preferem materiais que estão suspensos a

parcialmente ripado ou compacto.

comuns

de

por

NILSSON

fornecimento

dos

tipos

2

2

2

2

aqueles que são fornecidos no chão (GUY et al., 2013). Blackshaw et al. (1997) sugeriram que o suíno perde o interesse primariamente pelos objetos sobre o chão por estes ficarem sujos mais rapidamente, perdendo a valor de novidade. Resultados obtidos por Trickett et al. (2009) indicam que os grupos de suínos interagiram tanto com o bloco de madeira como com a corda de sisal, e concluíram que ambos os objetos apresentam alto valor de enriquecimento. Entretanto, quando o acesso a estes brinquedos foi contínuo, os animais interagiram mais com a corda e apresentaram mais atividades de exploração, por ser um objeto que

CORTE DA CAUDA O corte da cauda dos leitões é feito na primeira semana de vida. Essa prática é importante para evitar o canibalismo. A indústria suinícola alega que o corte da cauda não causa dor. Mas não é verdade. O

Comitê

Científico

Veterinário

da

Comissão

Europeia (SVC) concluiu que o corte da cauda provavelmente é doloroso e que, em alguns animais, “leva à dor prolongada” (STEVENSON, 2000). Os suínos em baias de crescimento geralmente desenvolvem o comportamento de mordida de cauda por falta de enriquecimento. Van de Weerd et al. (2006)

atende mais as características desejáveis, tais como

introduziram diferentes objetos de enriquecimento e

mastigável e destrutível. Além disso, a corda estava

observaram que houve redução (P<0,05) de mordidas

suspensa na baia, o que pode ter contribuído para a

de cauda entre suínos na fase de crescimento,

maior interação.

mostrando uma melhora no bem-estar. De acordo

com Edwards (2002) uma alternativa para reduzir o Ao combinarem quatro diferentes materiais de

risco de mordida na cauda seria através de

enriquecimento para suínos na fase de crescimento:

estratégias de seleção. A mordida na cauda possui baixa herdabilidade, mas é significativo em raças Landrace. O corte da cauda deve ser realizado como

objetos suspensos (corda de sisal e corrente de metal) e dois substratos (serragem e maravalha), Guy et al. (2013) verificaram que houve maior interação dos animais com a corda, seguido da 6086

último recurso após o uso de estratégia nutricional e ambiental (EDWARDS, 2002).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6083-6090, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 435 – Enriquecimento ambiental e bem-estar na suinocultura

CASTRAÇÃO

de o médico veterinário indicar sua necessidade

A castração em suínos é uma prática utilizada para

somente quando houver indícios objetivos de

evitar o “odor na carcaça”. O odor esta relacionado

ferimentos nos tetos das matrizes, de modo a

com a maturidade sexual e produção de hormônios

promover benefícios à saúde e melhoria do bem-

dos machos suínos, tornando a carne de animais

estar dos leitões e da matriz (BREUER et al.,

não castrados imprópria para o consumo (BABOL et

2003).

al., 1998). Outro fator levado em consideração, principalmente por países da União Europeia,

MATRIZES

baseia-se no fato de que os leitões são castrados

No setor de gestação as celas para matrizes são

cirurgicamente

durante

os

primeiros

dias

ou

semanas de vida sem anestesia ou analgesia pósoperatória (Prunier et al., 2006), por ser um fator estressante aos animais, causando dor e ferimentos que

podem

levar

a

deficiências

desempenho

dos

procedimento

questionável,

animais, e

crônicas

tornou até

se

mesmo

feitas de barra de metal e possuem espaço extremamente

limitado

que

as

porcas

não

conseguem nem mesmo se virar. As matrizes são

no

confinadas a estas celas durante as 16 semanas

um

e meia de prenhes. Após esse período, as

em

matrizes vão para o setor de maternidade, onde

processo de banimento em alguns países.

são confinadas em celas de parição, e depois voltam para o setor de gestação até serem

A utilização do próprio sistema imune do suíno para suprimir o GnRH interrompe o eixo hipotalâmicohipofisário-gonadal, pelo estabelecimento de uma barreira imunológica que interrompe a passagem de

descartadas. Isto significa que as matrizes ficam aprisionadas desta forma durante a maior parte de suas vidas.

GnRH do local de liberação no hipotálamo ao local de ação, na glândula pituitária. A supressão do

De acordo com Cruz (2003) a União Europeia

GnRH o impede de estimular a secreção de LH e

exige que as fêmeas após desmame sejam

FSH pela glândula pituitária, consequentemente,

mantidas em baias com no mínimo 2.8 m cada

reduzindo o desenvolvimento dos testículos e a

parede. Para abrigo individual, deve propiciar que

síntese de hormônios esteróides (Oonk etal.,1998;

o animal possa girar em todas as direções com

Adams, 2005; Thun et al., 2006; Claus et al., 2007;

facilidade

Bauer et al., 2008; Pauly et al., 2009), incluindo a

convencionais).

androsterona

encontraram alternativas que garantem uma

(Zamaratskaia,

2008),

principal

hormônio responsável pelo odor na carcaça.

(proibido

gaiolas

Pesquisas

de

gestação

ainda

não

proteção adequada aos leitões durante a fase de aleitamento (EDWARDS, 2002). Os estudiosos têm desafiado e intimado a cadeia produtiva a

CORTES DOS DENTES A remoção dos dentes de leitões entre o primeiro e terceiro dia de vida é uma prática de manejo rotineira empregada na suinocultura moderna, com o objetivo de reduzir a incidência de lesões cutâneas na face dos leitões e nos tetos das matrizes. Entretanto esta prática vem sendo questionada, em virtude de sua influência negativa no bem-estar dos animais, no seu desempenho zootécnico e na maior predisposição dos mesmos a doenças oportunistas.

levar

em

consideração

seguintes

aspectos

básicos visando proporcionar maior conforto ás fêmeas (SOBESTIANSKY et al., 2003):  A fêmea gestante deve possuir condições de deitar em decúbito, sem que o aparelho mamário fique em contato com a cela adjacente, ou seja, devem ser evitados quaisquer tipos de compressão

do

aparelho

mamário

contra

paredes, barras de ferro ou outros tipos de barreiras.

Desde 2001, a legislação da União Europeia que rege os padrões mínimos de bem-estar animal, proíbe a prática da remoção dos dentes dos leitões

 A cabeça da fêmea gestante não pode ficar apoiada sobre o comedouro frontal da cela gestante.

como medida de manejo rotineira, ficando a critério Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6083-6090, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

6087


Artigo 435 – Enriquecimento ambiental e bem-estar na suinocultura

 O posterior das fêmeas não pode ficar em contato permanente com a estrutura de sustentação

o Comitê Científico Veterinário da Comissão Europeia (Stevenson, 2000):

traseira da cela de gestação.  A fêmea gestante deve ter condições de levantar sem nenhum tipo de impedimento.

Enfraquecimento dos ossos

A falta de exercício também está associada com a maior tendência das matrizes em celas a

Estudos mostram que as celas infligem uma série de problemas de saúde e de bem-estar em matrizes como o contato social, esteriotipias, desconforto

ferimentos nas patas e manqueira. Isto em parte se deve a ossos mais fracos, inerentes de sistemas de celas. A manqueira também está associada ao fato de que as matrizes confinadas

físico e falta de exercício.

em celas ou acorrentadas são mantidas em pisos de concreto. Matrizes em piso de concreto têm incidência mais alta de feridas nos cascos,

CONTATO SOCIAL O

Comitê

Científico

Veterinário

da

Comissão

Europeia indicou que as matrizes têm uma forte

edemas inflamatórios nas articulações e abrasões na pele do que as outras.

preferência por companhia social. Acrescenta que as matrizes preferem ter contato social com outros

CONCLUSÕES

suínos e que se associam e interagem de forma

O uso do enriquecimento ambiental como medida

amistosa com maior frequência do que de forma

para melhorar o bem-estar de suínos confinados

agressiva (STEVENSON, 2000).

é promissor e eficiente. Há métodos, como disponibilização de substratos para cama e brinquedos, que possuem respaldo científico, embora ainda haja muitos critérios a serem estudados e

ESTEREOTIPIAS O

comportamento

estereotipado

é

um

comportamento altamente repetitivo, realizado sem propósito aparente. A ocorrência de estereotipias,

definidos. Outros métodos, tais como ionização do ar, musicoterapia e aromaterapia, que são menos

pesquisados,

prometem

resultados

satisfatórios.

como morder barras, mastigar no vazio e enrolar a língua, em matrizes confinadas em celas foi relatada

A escolha do tipo de enriquecimento a ser

por

este

utilizado em uma granja é subjetiva, sendo

comportamento é extremamente raro em matrizes

dependente da sua realidade. É importante con-

mantidas em ambientes complexos. As estereotipias

siderar a viabilidade econômica e as condições

diversos

autores.

Acrescenta

que

indicam que o animal está tendo dificuldade de lidar com o seu ambiente e, portanto, seu bem-estar está prejudicado (STEVENSON, 2000).

de

operacionalização

unidade

de

enriquecimento

do

produção, ambiental

enriquecimento ressaltando pode

na

que

ser

o

uma

ferramenta de baixo custo e de bons resultados, desde que se use a criatividade.

DESCONFORTO FÍSICO Não há fornecimento de cama em sistemas de cela;

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

em vez disso, as matrizes são forçadas a ficar de pé ou deitar no piso de concreto. Alguns estudos

BLACKSHAW, J.K. et al. The effect of a fixed or free toy on the growth rate and aggressive

mostram que as matrizes que são obrigadas a deitar

behaviour of weaned pigs and the influence of

no concreto podem sofrer perda de calor excessiva e

hierarchy on initial investigation of the toys. Applied Animal Behaviour Science, Elsevier,

desconforto

físico

crônico,

especialmente

nas

articulações no joelho e do jarrete (Machado Filho & Hötzel, 2000).

Amsterdam, v. 53, n. 3, p. 203-212, Jun., 1997.

FALTA DE EXERCÍCIO As matrizes alojadas em celas fazem pouco

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exercício o que acarreta alguns problemas, segundo

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6088

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6083-6090, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006


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Artigo 435 – Enriquecimento ambiental e bem-estar na suinocultura

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(Mestre

em

Engenharia

Agrícola)

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6090

enrichment

on

the

behaviour

of

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Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6083-6090, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006


Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes Aditivos, bovinos, nutrição, zootecnia.

Revista Eletrônica

1*

Vol. 14, Nº 04, jul./ ago. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO

Laion Antunes Stella 1 Angel Sanchez Zubieta 1 Bruna Kuhn Gomes 1 Ênio Rosa Prates 1

Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – A Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS- E-mail: laionstella@hotmail.com

Objetivou-se destacar o uso dos óleos essenciais

ESSENTIAL OILS AS AN ALTERNATIVE TO METHANE REDUCTION IN RUMINANTS

como modificadores da fermentação ruminal e suas

ABSTRACT

alterações na metanogênese. O uso de aditivos

Dietary additives are used to modulate ruminal

moduladores da fermentação ruminal, visando o

fermentation and increase feed efficiency, and have

aumento da eficiência alimentar em ruminantes, é

been subject of study for a long time. Monensin is

alvo de estudos da pesquisa há bastante tempo. Um

the most popular in animal nutrition, as it improves

dos aditivos mais utilizados é a monensina, pelo fato

nutrient utilization and reduces the incidence of

de melhorar o aproveitamento de nutrientes e reduzir

metabolic disturbances in animals. It also reduce

a incidência de distúrbios metabólicos nos animais.

enteric

Contudo, o seu uso está sendo questionado pela

depending on basal diet, specifically to roughage to

possibilidade de deixar resíduos nos produtos de

concentrate

origem animal. Desta forma, se abre caminho para o

residues left on animal products and about the

uso

possibility

de

fontes

naturais

que

tenham

função

methane ratio. of

emission However,

bacterial

intensity, doubts

resistance

variably

about to

the

antibiotic

semelhante à dos ionóforos, e que possam ser

treatment in humans, led their ban in the European

aplicados de forma segura na nutrição animal. O uso

Union (EU), in 2006. This scenario made animal

de óleos essências nas dietas para ruminantes

nutritionist to study natural compounds capable to

possuem potencial para reduzir a produção de

modify ruminal fermentation similarly to ionophores,

metano. O metano além de ser um gás de efeito

but on a natural way, appreciable by consumers.

estufa, é uma perda energética do animal que

This review highlights the use of essential oils as

poderia

modifiers

ser

direcionado

para

um

melhor

of

ruminal

fermentation

and

desempenho animal.

methanogenesis. It show their potential to reduce

Palavras-chave: aditivos, bovinos, nutrição, zootecnia.

methane production when added to ruminant diet.. Keyword: additives, Animal Science, cattle, nutrition.

9091


Artigo 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes

INTRODUÇÃO

ruminantes (Cobellis et al., 2016). Dentre os extratos

Os ruminantes contribuem para a mudança climática

testados se destacam os óleos essenciais, taninos e

através da emissão de gases de efeito estufa de

as saponinas.

forma direta (através da fermentação entérica e manejo do estrume) ou indiretamente (produção de

Os efeitos da suplementação com óleos essenciais

alimentos e conversão de floresta em pastagem)

(OE) são variados e muitas vezes contraditórios.

(FAO, 2013). O metano entérico é uma perda de

(Yesilbag et al., 2016). Estudos para avaliar o

energia produtiva na faixa entre 2% e 12% da

consumo de ração e a digestibilidade in vivo são

energia

ruminantes,

importantes para validar os resultados in vitro. O

dependendo do nível de ingestão de alimentos e da

desafio para os estudos in vivo é identificar

composição da dieta (Johnson & Johnson, 1995).

substâncias fitogênicas com efeitos duradouros e

bruta

consumida

pelos

sem deprimir a ingestão de alimentos e a digestão, Várias estratégias nutricionais foram testadas para

bem

melhorar a fermentação ruminal, especialmente para

(Flachowsky & Lebzien, 2012). Além disso, a dose

diminuir a produção de metano, possibilitando

ótima de utilização tem de ser melhorada para obter

aumentar o desempenho animal e a eficiência da

uma redução significativa na metanogênese (Rira et

utilização dos alimentos (Jouany & Morgavi, 2007).

al., 2015). Com base nos dados in vivo disponíveis, é

+

possível concluir que os OE e os seus compostos

Essas estratégias podem ser feitas reduzindo o H

metabólico disponível para metanogênese, com +

como

podem

a

ser

saúde

e

utilizados

produtividade

como

animal

promotores

de

redutores alternativos para eliminação de H (Bodas

crescimento natural na nutrição animal (Giannenas

et al., 2012).

et al., 2013).

Os antibióticos têm sido amplamente utilizados para

Desta forma, objetivou-se destacar o uso dos óleos

esses fins em ruminantes há bastante tempo. No

essenciais como modificadores da fermentação

entanto, o aparecimento potencial de resíduos em

ruminal e suas alterações na metanogênese.

produtos de origem animal criou uma preocupação social sobre a transferência para humanos da

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

resistência ao tratamento antibiótico observada em bactérias ruminais (Hart et al., 2008). Os compostos

Aditivos naturais como redutores da

secundários de extratos de plantas podem afetar

metanogênese

uma ampla gama de microrganismos do rúmen

As maiores fontes de emissão de CH4 considerando

(Wallace, 2004), incluindo bactérias gram-positivas

as atividades agropecuárias são representadas pela

(a maioria produtoras de acetato e butirato), gram-

fermentação entérica em ruminantes, produção de

negativas (normalmente produtoras de propionato),

arroz em terrenos alagados e fermentação de

metanogênicas, fúngicas e protozoárias (Patra &

dejetos (Olesen et al., 2006). O setor pecuário

Saxena,

Como

representa uma fonte significativa de emissões de

fermentação

gases de efeito estufa em todo o mundo, gerando

(Frutos et al., 2004, Busquets et al., 2006), reduzir a

dióxido de carbono, metano e óxido nitroso ao longo

síntese de metano (Kim et al., 2013), e promover o

do processo produtivo (FAO 2013). O metano é

crescimento de animais quando usado em doses

eliminado

adequadas (Durmic & Blache, 2012).

proveniente da fermentação ruminal, que está

2009,

consequência,

Cieslak podem

et

al.,

modular

2013). a

por

ruminantes

e

sua

produção

é

relacionada ao tipo de animal e ao consumo e à No passado, metabólitos secundários de plantas

digestibilidade de alimento.

eram considerados como fatores antinutricionais devido a efeitos adversos na utilização de nutrientes.

A

Recentemente, muitos extratos de plantas foram

essencial no rúmen que atua como dissipador de

estudados pela sua atividade antimicrobiana e

hidrogênio. A inibição da metanogênese é essencial

capacidade de modificar a função intestinal em 6092

metanogênese

é

um

processo

metabólico

para manter a adequada fermentação no rúmen,

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6091-7000, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes

aumentando a eficiência de conversão alimentar e

Brasil, maiores produtores mundiais de carne e/ou

reduzindo a poluição ambiental (Pawar et al., 2014).

leite (Dufield et al., 2008). No entanto, desde a

Durante o processo de fermentação, a produção do

proibição dos antibióticos em 2006 pela legislação da

ácido acético e ácido butírico liberam grande

União Europeia, os estudos com compostos naturais

quantidade de H2, esse por sua vez, é removido do

como

rúmen via metano (Nascimento et al., 2007).

consideravelmente (Wallace, 2004; Durmic & Blache,

alternativas

aos

antibióticos

aumentaram

2012). Assim, existe a possibilidade da redução desse gás pela modificação da fermentação ruminal, obtida por

Compostos fenólicos (timol, eugenol, carvacrol) ou

alteração do volumoso, do tipo e da quantidade de

óleos essenciais com altas concentrações destes

carboidrato suplementado à dieta, pela adição de

fenólicos, óleo de canela e seu componente principal

lipídeos e pela manipulação da microbiota do rúmen

cinamaldeído, óleo essencial de alho e seus

com aditivos alimentares (Figura 1) (Mohammed et

derivados, em particular dissulfeto dialílico e outros

al., 2004).

óleos essenciais podem ser eficazes, pelo menos in vitro na diminuição da produção de CH4 (Benchaar,

FIGURA 1: Estratégias nutricionais para a redução do metano em ruminantes

2011). Também a associação entre óleos essenciais pode apresentar resultados valiosos na redução da metanogênese, porém pode haver efeito competitivo nesse caso. Os aditivos são usados para melhorar a relação simbiótica entre os microrganismos presentes no rúmen e seu hospedeiro, favorecendo os processos fermentativos no rúmen em animais que recebem dietas com alto teor de carboidratos não fibrosos (Franzolin et al., 2000).

Desta forma, aumenta o

desempenho animal e a eficiência da utilização dos alimentos

por

melhorar

geneticamente

os

microrganismos ruminais (Jouany & Morgavi, 2007). Segundo Cardozo (2005) os óleos essenciais são dependentes do pH para apresentarem o seu potencial. Desta forma, dietas com baixo pH (5,5), quando comparadas a um pH alto (7,0) são capazes de aumentar a concentração de ácidos graxos

Fonte: Adaptado Mohammed et al., 2004.

Os resultados mais promissores da pesquisa foram obtidos a partir de alguns aditivos alimentares como

voláteis (principalmente propianato) e reduzir a quantidade

de

amônia.

Em

uma meta-análise

probióticos, lipídios dietéticos, ácidos orgânicos, enzimas e compostos secundários de plantas. Os aditivos ideais devem diminuir a produção de metano reduzindo a taxa de degradação de carboidratos facilmente fermentáveis para reduzir o risco de acidose ruminal e melhorar a digestão das fibras

Khiaosa-ard & Zebeli (2013) compararam a reposta

(Jouany & Morgavi, 2007).

resposta pelo fato de os bovinos testados recebiam

in vivo do uso de inúmeros óleos essenciais e a espécie animal que apresentou a melhor resposta e menor variabilidade dos dados foram os bovinos de corte,

quando

comparados

com

pequenos

ruminantes e gado de leite. O autor justifica essa dietas mais padronizadas e com maior teor de

A

monensina

é

o

ionóforo

mais

difundido

concentrado, tendo um pH ruminal mais baixo na

mundialmente, sendo seu uso permitido em países

média de 6.05, versus um pH de 6.31 e 6.22

como Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e

respectivamente para pequenos ruminantes e vacas de leite.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6091-7000, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

6093


Artigo 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes

O metano pode ser afetado por um efeito seletivo

2012; Khiaosa & Zebeli, 2013). Estes incluem

dos óleos essencias através da inibição direta das

metabólitos secundários como saponinas, taninos e

archaea

outros presentes em óleos essenciais (Calsamiglia et

metanogênicas

e/ou

depressão

dos

processos metabólicos microbianos envolvidos na

al., 2007; Patra & Saxena, 2009).

metanogênese (Bodas et al., 2012). A utilização de recursos que atuem na redução da emissão de CH 4

O

de

origem

ruminal

resultam

em

aumento

da

resistência

antibacteriana

dos

benefícios

microrganismos e o aparecimento de resíduos na

econômicos, pela maior eficiência na utilização dos

carne e no leite tem desencorajado o uso de

alimentos e, principalmente, benefícios para o meio

antibióticos na alimentação animal. Deste modo, tem

ambiente (McGinn et al., 2004).

havido um interesse crescente na exploração de metabólitos

secundários

de

plantas

como

Como a ingestão de alimentos é o principal fator que

modificadores naturais (Pawar et al., 2014). Os óleos

afeta o desempenho animal (Illius & Jessop, 1996),

essenciais (OE) e seus compostos provaram sua

os extratos de plantas não devem ter efeitos

eficácia in vitro como agentes antimicrobianos,

prejudiciais na digestibilidade da matéria orgânica e

antioxidantes,

na produção de ácidos graxos voláteis (Wallace,

inflamatórios. Estes compostos merecem um lugar

2004). Isto depende das características químicas dos

importante como aditivos alimentares que são

compostos secundários (Frutos et al., 2004 Salem et

geralmente considerados como seguros. (Giannenas

al., 2012), que é altamente variável entre espécies

et al., 2013). Alguns têm se mostrado promissores

de plantas (Kamalak et al., 2005).

na

mitigação

imunomoduladores

da

emissão

de

e

anti-

metano

pelos

ruminantes devido aos seus efeitos diretos na Os resultados sobre a atividade anti-metanogênica

metanogênese, nos protozoários, na digestão dos

dos metabólitos secundários das plantas indicam o

alimentos e na fermentação (Cobellis et al., 2016).

seu potencial para serem utilizados como aditivos na alimentação para reduzir a produção de metano,

Nos últimos anos diversos trabalhos estão sendo

mas o mecanismo da sua ação necessita de uma

realizados para buscar um óleo essencial com

investigação detalhada (Rira et al., 2015).

características produtividade

Os óleos essenciais possuem muitas substâncias químicas diferentes (20-60 componentes em cada tais

como

álcoois,

aldeídos,

cetonas,

hidrocarbonetos, ésteres e éteres (Benchaar et al., 2007). Esse tipo de material possui atividade antioxidante devido a presença de compostos fenólicos.

No

flavonóides

entanto,

compostos

e terpenóides

também

como

os

apresentam

atividade antioxidante. Essas substâncias podem interceptar e neutralizar radicais livres, impedindo a

aditivos

são

aumento

sustentável.

Os

da

óleos

utilizados

para

promover

o

maneira direta de mitigar as emissões de metano entérico pelos ruminantes (Hristov et al., 2014). Alguns compostos naturais, rotulados como seguros para humanos (FDA, 2004), são propostos como substitutos potenciais de antibióticos (Salem et al.,

Greathead, 2011; Cieslak et al., 2013) afetando a população de bacteriana, entre elas, as produtoras de amônia (Wallace, 2004). Assim, é razoável pensar que o uso de compostos secundários em doses

adequadas

pode

resultar

em

múltiplos

benefícios na fermentação ruminal (Benchaar & Greathead, 2011; Patra & Yu, 2013). Vários são os óleos essenciais, porém alguns deles, tais como o timol (extraído do tomilho), carvacrol alho), citrol e citronolol (extraídos de diversas plantas

crescimento e a saúde dos animais, bem como uma

6094

forma

o

(extraído do orégano), alina e alicina (extraídos do

propagação do processo oxidativo (Hui, 1996). Os

de

para

essenciais têm atividade antimicrobiana (Benchaar &

Óleos essenciais

óleo),

positivas

cítricas), mentol (extraído da menta) e cinamaldeído (extraído da canela) já possuem sua funcionalidade conhecida (Velluti et al., 2003). Os óleos essenciais são obtidos a partir de diferentes partes da planta, tais como, folhas, raízes, caule ou de mais de uma parte, sendo que a melhor tecnologia para a extração destes óleos essenciais é por destilação a

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Artigo 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes

vapor, quando comparadas pela extração com

Uma redução nos ácidos graxos voláteis pode ser

metanol ou acetona (Burt, 2004).

justificada pela menor fermentação ruminal. É mais interessante do ponto de vista energético a

uma alteração na proporção dos AGV, com maior

capacidade de reduzir a produção de metano, pelo

contribuição do propionato e menores perdas de

fato da concorrência de substrato para a produção

energia via metano (CH4). Um aumento na

de propionato e a redução da metanogênese

produção de AGV se dá pela degradação dos

(Cieslak et al., 2013). Alterar o padrão fermentativo,

compostos dos óleos no rúmen. Os óleos de alho,

reduzindo

rúmen

tomilho e canela foram os que apresentaram os

energicamente mais eficiente e reduz a geração de

resultados mais promissores, sendo que o alho foi

CH4. Ao se produzir propionato não há produção de

ainda capaz de aumentar o pH, algo interessante

H+ como observado para as rotas que levam à

para dietas com alto teor de concentrado.

Segundo

alguns

a

trabalhos,

relação

os

C2:C3,

óleos

torna

o

têm

produção de acetato e butirato. Além disso, as vias metabólicas de produção de propionato servem de

A redução da produção de CH4 deve ser pela

dreno de H+ (Van Soest, 1994).

maior proporção de propionato e não pela redução da digestibilidade da matéria seca

A variabilidade nas respostas pode estar relacionada

(DMS). Pela grande quantidade de óleos para se

a diferenças no tipo, concentração e atividade de

avaliar e visando experimentos com menores

compostos secundários, que provavelmente serão

custos, existe maior disponibilidade de trabalhos

afetados pela planta, ambiente de crescimento,

com ensaios in vitro. Os óleos essenciais são

processo de pós-colheita (Patra et al., 2006, Salem

capazes

et al., 2012), O método de extração (Yang et al.,

gerando produtos mais desejáveis para o animal,

2010), as doses empregadas (Busquets et al., 2006)

culminando em uma melhor eficiência alimentar e

e, finalmente, o consumo de um ingrediente ativo

um menor impacto ambiental. Contudo, deve ser

específico por parte dos animais (Frutos et al.,

pesquisado um maior número de óleos, com

2004).

diversas combinações, em diferentes dosagens e

de alterar

a fermentação ruminal,

com experimentos in vivo. Uso de óleos essenciais em dietas para ruminantes

Conforme a literatura, vários autores reportam um efeito significativo na redução do metano in vitro

Aditivos de fontes naturais como os compostos secundários

de

plantas

e

seus

componentes

bioativos estão sendo avaliados como substitutos do uso de antibióticos. Resultados in vitro apontam que os óleos essenciais (OE) inibem determinados microrganismos

(bactérias

gram-positivas,

metanogênicas e protozoários) reduzindo o acúmulo de amônia e a produção de metano entérico.

pelo uso dos OE. Joch et al. (2016) com uma relação volumoso/concentrado de 70%:30% e uma dosagem de 1 ml/l de componentes de OE e 0,15 ml de solução de monensina; o metano foi reduzido (<0,001) em 32% para eugenol, 29% para limoneno, 41% para a-pipeno e 27% para monensina.

Pinksi

at

al.

(2016)

testaram

diferentes óleos essenciais (500mg/L), e somente

Na tabela 1 e 2 são apresentados os resultados de trabalhos envolvendo o uso de OE como aditivo na

os óleos de canela e alecrim foram capazes de reduzir a produção de metano in vitro (P=0,02).

alimentação de ruminantes. Cada óleo possui diferentes funções: antimicrobiana, anti-inflamatória, anti-helmíntica,

antioxidante,

entre

outras.

A

combinação entre óleos (blend) pode gerar um produto mais completo pelo sinergismo entre seus componentes, como também pode ocorrer um efeito oposto onde um determinado óleo pode gerar efeito deletério a outro.

Em um experimento in vivo Wang et al. (2009) usando um óleo comercial a base de orégano na alimentação de ovinos fistulados conseguiram reduzir a produção de metano em 12% (P=0,003), sendo

que

os

animais

produziram

17

g/animal/dia. Klevenhusen et al. (2011) utilizando óleo de alho adicionados a uma dieta para ovinos reduziram em 10% a produção de metano em

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6091-7000, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

6095


Artigo 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes

relação ao tratamento controle, com uma produção de 26 g/animal/dia. TABELA 1: Diferença em relação ao tratamento controle na manipulação da fermentação ruminal em dietas de bovinos de corte

Óleos

Teste

Dosagem

Substrato

AGV

C3

pH

CH4t

DMS

Comentários

Referências

=

CH4 kg/MS =

Blend 1

in vivo

1g/d e 2g/d

100% V

=

=

=

NA

Tomkins (2015)

+

-

NA

-

-

+

-

NA

-

=

+

+

-

NA

=

50% V 50% C

-

-

+

-

NA

-

0,25; 0,50 e 1g/L

50% V 50% C

=

-

+

-

NA

-

in vivo

1d/d

75 % V 25% C

=

=

=

=

=

-

Canela

in vivo

0,4; 0,8 e 1.6 g/d

9% V 91% C

=

=

=

NA

NA

=

Não alterou o CMS e as população de metanogênicas Reduziu a metanogênese e a produção de amônia Reduziu a metanogênese e a produção de amônia Reduziu a metanogênese e a produção de amônia Reduziu a metanogênese e a produção de amônia Reduziu a metanogênese e a produção de amônia Não alterou o CMS e o ganho de peso Na menor dose aumentou o CMS e a DMO

Cravo

in vitro

0,25; 0,50 e 1g/L

50% V 50% C

-

-

Eucalipto

in vitro

0,25; 0,50 e 1g/L

50% V 50% C

+

Alho

in vitro

0,25; 0,50 e 1g/L

50% V 50% C

Orégano

in vitro

0,25; 0,50 e 1g/L

Pimenta

in vitro

Blend 1

Blend 1

in vivo

1g/d

7,5% V 92,5% C

+

=

=

NA

NA

=

Blend 2

in vivo

1g/d

7,5% V 92,5% C

+

=

=

NA

NA

=

Tomilho

in vivo

0,5g/Kg/MS

30% V 70% C

=

+

=

NA

NA

=

Canela

in vivo

0,5g/Kg/MS

30% V 70% C

=

+

=

NA

NA

=

Baunilha

in vitro

1,52g/L

50% V 50% C

-

=

-

-

NA

-

6096

Não houve diferenças no desempenho e características de carcaça Não houve diferenças no desempenho e características de carcaça Não alterou o CMS. Reduziu a população metanogênica e de protozoários Não alterou o CMS. Reduziu a população metanogênica e de protozoários Reduziu a produção de amônia

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Patra & Yu (2012)

Patra & Yu (2012)

Patra & Yu (2012))

Patra & Yu (2012)

Patra & Yu (2012)

Beauchemin & McGinn (2006) Yang (2010)

Meyer (2009)

Meyer (2009)

Khorrami (2015)

Khorrami (2015)

Patra (2013)


Artigo 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes

TABELA 2: Diferença em relação ao tratamento controle na manipulação da fermentação ruminal em dietas de bovinos de leite

Óleos

Teste

Dosagem

Substrato

AGV

C3

pH

CH4t

Crina

In

2g dia

42:58

=

=

+

NA

CH4 kg/MS NA

DMS

Comentários

Referências

+

Benchaar et al. (2006)

NA

=

Melhor digestibilidade, aumento da produção de leite e alteração da composição do leite. Não alterou a produção e a composição do leite Não alterou a produção e a composição do leite Reduziu o CMS

vivo

Crina

Blend

In

0,75

vivo

dia

In

g

50:50

+

+

=

NA

0,5 g dia

34:66

=

=

=

10 g dia

34:66

=

=

=

NA

NA

=

58:42

=

=

=

-

-

=

NA

NA

=

vivo In

Blend

vivo Orégano

Orégano

In

0,25

vivo

dia

In

0,5 g dia

58:42

=

=

=

-

-

=

In

0,75

58:42

=

=

=

-

-

=

vivo

dia

g

Diminuiu a amônia e o N urinário Diminuiu a amônia e o N urinário Diminuiu a amônia e o N urinário

vivo Orégano

g

Benchaar et al. (2007)

Tager e Krause (2011) Tager e Krause (2011) Hristov et al. (2014) Hristov et al. (2014) Hristov et al. (2014)

Recomendações para estudos futuros

importância de fazer posteriores avaliações in

Estudos in vivo desses compostos são de suma

vivo é para não excluir extratos de plantas que

importância para ver a real eficácia nos animais de

poderiam

produção, porém deve ser levado em conta a alta

apresentaram resultados satisfatórios in vitro.

volatilidade que esses óleos possuem. A solução

-Padronização nos estudos in vitro, já que existe

para

de

muitas variações nessa pratica de avaliação.

microencapsulação, que promoveria a adequada

Divergências nas metodologias impossibilitam de

absorção dos componentes por parte do animal.

se fazerem comparações.

Outra vantagem seria no processo de mistura da

-Informação dos principais componentes dos

ração, pelo pequeno tamanho das partículas,

óleos, realizada através de cromatografia gasosa.

facilitando o manejo. Também no processo de

Visto de existem diferenças na composição de

microencapsulação seria possível mascarar o odor

mesmos óleos.

a

sua

aplicação

seria

o

processo

ser

promissores,

porém

não

-Estudos in vitro que apresentam resultados O uso desses fitocompostos é promissor na indústria

positivos possuem uma dosagem muito alta se for

animal, por ser uma fonte natural e dentro de um

extrapolado para um estudo in vivo, o que seria

médio prazo os ionóforos serem banidos das rações

inviável para sua aplicação.

de ruminantes. Deste modo, algumas considerações

-Os estudos in vivo são em sua maioria de curta

são importantes para os futuros trabalhos na área:

duração (máximo 21 dias), desta forma não é

-A eficiência dos compostos de plantas no controle

possível mensurar se ocorreu adaptação dos

de bactérias patogênicas.

microrganismos pelos óleos utilizados.

-Avaliar

os

óleos

essências

com

capacidade

-Avaliar se ocorrem alterações na qualidade

antimicrobiana que ainda não foram testados in

organoléptica e na composição química dos

vitro, bem como a dosagem mais efetiva. No

produtos gerados (carne e leite) por animais que

segundo

momento

realizar

testes

in

vivo.

A

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6091-7000, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

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Artigo 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes

recebam esses aditivos. E se é possível aumentar o tempo de prateleira desses produtos. -Novas pesquisas migram para a avaliação de blends (misturas) de óleos essenciais, testando um efeito sinérgico dos mesmos, porém um efeito

CONSIDERAÇÕES FINAIS uso de óleos

ruminantes

essências

possuem

nas

dietas

potencial para

para

reduzir

a

produção de metano. O metano além de ser um gás de efeito estufa, é uma perda energética do animal que poderia ser direcionado para um melhor desempenho animal. Mais pesquisas devem ser realizadas in vivo para avaliar os efeitos satisfatórios

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Artigo 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes

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Estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro Alimentação; caatinga; semiárido.

1

Vol. 14, Nº 04, jul./ ago.de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Glayciane Costa Gois 2 Fleming Sena Campos 3 Gilmara Gurjão Carneiro 4 Tiago Santos Silva 5 Alex Gomes da Silva Matias 1

Doutora em Zootecnia. Pós Doutoranda em Nutrição Animal, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Semiárido, Petrolina - PE. E-mail: glayciane_gois@yahoo.com.br 2 Doutor em Zootecnia. Pós Doutorando em Ciência Animal e Pastagens, Universidade Federal Rural de Pernambuco UFRPE/UAG, Garanhuns - PE. 3 Engenheira Agrônoma. Doutora em Engenharia de Processos, Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, Campina Grande – PB. 4 Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal da Paraíba – UFPB/CCA, Areia – PB. 5 Zootecnista, Mestrando em Ciência Animal, Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, Petrolina – PE.

RESUMO

FEEDING STRATEGIES FOR GOATS AND SHEEP

Diversos métodos de manejo alimentar têm sido

IN BRAZILIAN SEMI-ARID

propostos, com

ABSTRACT

vistas

a atenuar

o problema

nutricional dos rebanhos nos períodos mais críticos

Several methods of food management have been

no semiárido, como o corte da vegetação lenhosa,

proposed with a view to alleviate the nutritional

como forma de aumentar a disponibilidade de

problem of the herds in the most critical periods in

forragens, bancos de proteínas para suplementação

the semiarid, such as the cutting of the woody

alimentar dos rebanhos em pastejo e manipulação

vegetation, as a way to increase the availability of

da vegetação lenhosa, através do rebaixamento e do

forages, protein banks for food supplementation of

raleamento de árvores e arbustos, bem como pelo

the herds in Grazing and manipulation of woody

enriquecimento do extrato herbáceo. A utilização de

vegetation, by lowering and thinning trees and

espécies forrageiras arbustivas e arbóreas existentes

shrubs, as well as by enriching the herbaceous

na região é uma das formas de minimizar o problema

extract. The use of shrub and tree fodder species in

de escassez de forragem durante o período seco do

the region is one of the ways to minimize the problem

ano. O fornecimento de forrageiras nas formas

of forage scarcity during the dry period of the year.

verde, fenada ou ensilada, pode suprir, em boa

The provision of green fodder, hay or silage forms,

parte, a deficiência das pastagens nos períodos de estiagem

a

of pastures in periods of drought at relatively low

estratégias de suplementação da Caatinga mais

costs. The most adequate Caatinga supplementation

adequadas incluem o uso de culturas forrageiras não

strategies include the use of unconventional forage

convencionais, misturas múltiplas, confinamento,

crops,

pastagens irrigadas, dentre outras. Objetivou-se com

pastures, among others. The objective of this work

este

was to conduct a survey on feeding strategies for

realizar

relativamente

um

baixos.

can, for the most part, compensate for the deficiency

As

trabalho

custos

levantamento

sobre

estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro. Palavras-chave: alimentação; caatinga; semiárido. 7001

multiple

mixtures,

confinement,

irrigated

goats and sheep in the Brazilian semi-arid region. Keyword: feeding; Caatinga; Semiarid.


Artigo 437 – Estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro

INTRODUÇÃO A

ovinocultura

minimizar o problema de escassez de forragem brasileira

tem

passado

por

durante o período seco do ano. O fornecimento de

anos

forrageiras existentes na região, nas formas: verde,

devido ao aumento na exigência do mercado

fenada ou ensilada, pode suprir, em boa parte, a

consumidor por produtos de qualidade, o que leva a

deficiência das pastagens nos períodos de estiagem

necessidade de obter animais terminados mais

a custos relativamente baixos (Oliveira et al., 2010).

significativas

transformações

nos

últimos

jovens, associado à utilização de sistemas de produção adequados. O Nordeste brasileiro é uma

As alternativas de alimentação para caprinos e

região que apresenta uma irregularidade bastante

ovinos nos períodos secos no semiárido se baseiam

acentuada na distribuição de chuvas. Isso reflete de

na produção e conservação de espécies forrageiras

forma negativa na produção dos rebanhos. Esse fato

nativas ou introduzidas, no uso de alguns resíduos

é causado tanto pela produção sazonal de forragem,

agroindustriais

quanto pela variação da composição química das

concentrados. Todas essas alternativas, são mais ou

plantas forrageiras, fazendo com que não ocorra o

menos utilizadas de acordo com o perfil tecnológico,

atendimento adequado das exigências nutricionais

social e econômico do caprinoovinocultor. Para as

dos animais na época seca (Oliveira et al., 2010).

condições de semiárido não existe um alternativa

e

na

compra

de

ingredientes

“milagrosa”, suas potencialidades e formas de uso De acordo com dados disponibilizados pelo IBGE

podem ser diferentes em função das particularidades

(2013), o efetivo do rebanho ovino brasileiro no ano

específicas de cada uma delas.

de 2011 foi de cerca de 17,7 milhões de cabeças, sendo liderado pela região Nordeste com 10,11

Objetivou-se

milhões de cabeças. Embora grande parte do

levantamento sobre estratégias de alimentação para

rebanho brasileiro esteja concentrada na região

caprinos e ovinos no semiárido brasileiro.

com

este

trabalho

realizar

um

nordeste (56,7%), o estado do Rio Grande do Sul apresenta 22,89% do rebanho ovino brasileiro com

O Semiárido:

4,95 milhões de ovinos. Ainda segundo o IBGE

O Nordeste brasileiro é dividido em três zonas:

(2013), além da Bahia que detém 17,98% do

litorânea, sertão e agreste. Essas duas últimas

rebanho região nordeste, destacam-se também os

formam, essencialmente, a região semiárida, que

estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, que

abrange 70% da área nordestina e 13% do Brasil.

apresentam 17,6%, 12,08% e 9,34% do rebanho

Essa região se caracteriza por balanço hídrico

brasileiro, respectivamente, sendo constituído em

negativo, resultante de precipitações médias anuais

grande parte por animais deslanados e Sem Padrão

inferiores a 800 mm, insolação é dia de 2800

Racial Definido (SPRD).

horas/ano, temperaturas médias anuais de 23º a 287 ºC, evaporação de 2.000 mm/ano e umidade relativa

Diversos métodos de manejo alimentar têm sido

do ar média em torno de 60%. O clima do semiárido

propostos, com vistas a atenuar o problema

brasileiro é pouco diversificado, apesar da grande

nutricional dos rebanhos nos períodos mais críticos

extensão territorial dessa área. Mesmo assim, existe

no semiárido, que é o período seco, como o corte da

um importante gradiente pluviométrico, já que as

vegetação lenhosa, como forma de aumentar a

precipitações diminuem à medida que se adentra o

disponibilidade de forragens nos períodos críticos,

continente, alcançando valores médios inferiores a

bancos de proteínas para suplementação alimentar

500 mm anuais em determinadas regiões. Ainda

dos rebanhos em pastejo e manipulação da

assim,

vegetação lenhosa, através do rebaixamento e do

principalmente em anos com pluviosidade inferior a

raleamento de árvores e arbustos, bem como pelo

um terço da média anual (Araújo Filho 1995; Souza

enriquecimento do extrato herbáceo (Silva et al.,

& Ceolin, 2013).

existem

grandes

variações

estacionais,

2010). A

A utilização de espécies forrageiras arbustivas e arbóreas existentes na região é uma das formas de 7002

área

de

exclusivamente

domínio

da

brasileiro,

2

caatinga,

único

compreende

bioma

cerca

800.000 km , ou seja, 55,60% da Região Nordeste.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.7001-7007, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

de


Artigo 437 – Estratégias de alientação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro

na Austrália no final da década de 1980 (RAMOS et

As pastagens são o principal alimento dos rebanhos

al., 2010).

do Semiárido, predominando áreas de pastagem nativa em relação às de pastagens cultivadas em

A vegetação nativa da caatinga é rica em espécies

todos os estados, exceto no norte de Minas Gerais

forrageiras, formadas principalmente por plantas

(Giulietti et al., 2004). O pasto nativo pode ser usado

lenhosas,

xerófilas

para terminação de ovinos durante a época chuvosa.

resistentes ao clima seco e à umidade em seus três

A caatinga, por ser a principal e mais econômica

extratos: arbóreo, arbustivo e herbáceo. Estudos

fonte de alimentos para os rebanhos na região, é um

revelam que mais de 70% das espécies botânicas

dos mais importantes fatores para a produção

participam significativamente da dieta de ruminantes

animal.

domésticos e, no grupo de espécies botânicas, as

manejada, a fim de que sejam evitados riscos na

gramíneas e dicotiledôneas herbáceas perfazem

pele e estresses desnecessários sobre o animal. O

acima de 80% da dieta de ruminantes durante o

manejo também é importante para manter o

período chuvoso. Entretanto, à medida que a

equilíbrio do ecossistema, além de elevar o lucro do

estação chuvosa progride e, com o aumento da

produtor (Araújo Filho et al., 1995).

cactáceas,

bromeliáceas

e

Portanto,

a

mesma

precisa

ser

bem

disponibilidade de folhas secas e arbustos, essas espécies se tornam cada vez mais importantes na

A caatinga é um tipo de vegetação baixa, espinhenta

dieta dos animais (Andrade et al., 2010; Rosas et al.,

e decídua, que pode ser dividida em dois tipos: o

2016).

arbóreo, predominante nas encostas das serras e áreas de melhor potencial agrícola; e o arbustivo,

Na

região

semiárida

ocorrem

duas

estações

dominante nas regiões dos sertões. Por outro lado, a

climáticas bem diferenciadas, sendo uma estação

vegetação nativa do Semiárido é bem diversificada,

das águas, com duração de quatro a seis meses; e

com muitas espécies forrageiras nos três estratos:

uma estação seca, que dura de seis a oito meses.

herbáceo, arbustivo e arbóreo. Estudos mostraram

Durante a estação das águas, desenvolvem-se

que mais de 70% das espécies da caatinga

pastos abundantes e de boa qualidade, permitindo

participam

que os rebanhos alcancem elevadas taxas de

ruminantes domésticos. Em termos de grupos de

crescimento (Costa et al., 2011). No entanto, por

espécies botânicas, as gramíneas e dicotiledôneas

ocasião da estação seca, os animais perdem peso,

herbáceas perfazem acima de 80% da dieta dos

devido à acentuada e progressiva escassez de

ruminantes, durante as águas. Porém, à medida que

pasto, associada à perda de qualidade da forragem.

a estação seca progride e com o aumento da

significativamente

da

dieta

dos

disponibilidade de folhas secas de árvores e A má distribuição e irregularidade de chuvas no semiárido prolongadas,

são

responsáveis

resultando

em

por

estiagens

sérios

prejuízos

arbustos, estas espécies se tornam cada vez mais importantes na dieta, principalmente dos caprinos (Silva et al., 2010).

econômicos para os pecuaristas, que, assim, são forçados a comercializar o rebanho, periodicamente, com preços abaixo do mercado, em função da falta de alimentos (Felker, 2001).

A produção média anual da vegetação da caatinga situa-se em torno de 4,0 t de MS/ha, com substanciais variações advindas de diferenças nos sítios

Na época das chuvas, a disponibilidade de forragens é quantitativamente e qualitativamente satisfatória, todavia, nas épocas críticas do ano, além da escassez de forragens, o valor nutritivo se apresenta em níveis bastante baixos, o que acarreta queda de produtividade e compromete a produção de leite e carne (Lima et al., 2004).

ecológicos

e

flutuações

anuais

das

características da estação de chuvas (Araújo Filho et al., 1995). Entre as diversas espécies nativas, merecem ser destacadas: a maniçoba (Manihot pseudoglaziovii),

o

angico

(Anadenanthera

macrocarpa), o pau ferro (Caesalpinia ferrea), a catingueira (Caesalpinia pyramidalis), a catingueira rasteira

(Caesalpinia

microphylla),

a

favela

Cnidoscolus phyllacanthus), a canafístula (Senna esPastagens nativas: Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.7001-7007, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

7003


Artigo 437 – Estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro

pectabilis), o marizeiro (Geoffrae spinosa) o mororó

têm a capacidade de permanecer verde por algum

(Bauhinia sp.), o sabiá (Mimosa caesalpiniifolia), o

tempo após o fim das “águas”. Com isso, os animais

rompe gibão (Pithecelobium avaremotemo)

o

têm acesso à forragem verde e de alto valor nutritivo

juazeiro (Zyzyphus joazeiro), a jurema preta (Mimosa

já em uma época onde a vegetação encontra-se

tenuiflora), o engorda-magro (Desmodium sp), a

senescente, diminuindo os prejuízos causados pela

marmelada de cavalo (Desmodium sp), o feijão

seca.

bravo (Phaseolus firmulus), a camaratuba (Cratylia

recomendadas, encontram-se a Leucena, a Cunhã, o

mollis),

Guandú, o Sabiá, a Jurema-Preta e a Gliricídia.

o

mata

pasto

(senna

sp),

facheiro

Dentre

as

espécies

avaliadas

e

(Pilosocereus pachycladus) e o mandacaru (Cereus O manejo dos animais no banco de proteína

jamacaru).

equivale, normalmente, a um período de uma a duas As limitações nutricionais das pastagens nativas do

horas diário. Este período é suficiente para que o

Semiárido estão ligadas não somente à composição

animal eleve o teor de proteína bruta da sua dieta

química e à digestibilidade do material consumido

para próximo de 6 a 7% (1% de N), refletindo-se no

pelos

pela

maior consumo e melhor digestibilidade do pasto

disponibilidade de material ao longo do ano. Devido

seco. Outra recomendação é dividir a área do banco

à marcada sazonalidade de produção, os animais

de proteína em piquetes, o que permite uma melhor

passam longos períodos com baixíssimas ofertas de

utilização da forragem disponível e melhor vigor da

forragem por unidade de área.

rebrotação da forrageira. A forragem produzida, no

animais,

mas

principalmente

banco de proteína, no período chuvoso poderá ser Pastagens cultivadas:

utilizada para fenação, silagem, enriquecimento de

O uso de pastagens cultivadas permite o aumento

silagem de gramíneas ou adubação verde (Andrade

dos níveis de produção animal por hectare e por ano

et al., 2010).

no Nordeste brasileiro. Contudo, a formação de pastos cultivados tem encontrado alguns entraves

Fenação:

para a sua expansão na região, devido aos elevados

Pelas facilidades nos processos de produção e

custos para a implantação e, principalmente, para a

armazenamento,

manutenção com adubação de reposição e energia

nutricional, a administração de feno é uma das

elétrica (Silva et al., 2010).

alternativas mais viáveis para os sistemas de

bem

como

pela

qualidade

produção nordestinos. O feno é obtido mediante a Neiva (2005) cita que o objetivo principal de se usar

exposição ao sol e ao ar da planta cortada, que sofre

intensivamente esse tipo de pastagem não é

dessecação lenta e parcial, de modo que a sua taxa

substituir o uso das pastagens nativas, busca-se,

de unidade, originalmente de 60 a 85%, seja

apenas, intensificar a produção nessas áreas para

reduzida para teores entre 10 e 20%, com perda

diminuir a pressão sobre as pastagens nativas, as

mínima de nutrientes, maciez, cor e sabor.

quais constituem um ecossistema bastante frágil. O bom feno é palatável, nutritivo e ótima fonte de Em pastagem cultivada, qualquer gramínea pode ser

vitaminas A e D. A qualidade de um feno depende de

utilizada, desde que atenda os requisitos básicos de

sua

uma boa forrageira para pastejo, ou seja, boa

digestibilidade,

adaptação ao local onde será cultivada, resistência

dependência de diversos fatores, principalmente os

ao pisoteio, alta produtividade e boa qualidade

seguintes: espécie botânica da planta, estágio de

(Sousa, 2009).

desenvolvimento, proporção de folhas, coloração

composição que

química, por

sua

palatabilidade vez

estão

e na

verde, alterações causadas por mofos, bolores e Banco de proteína:

insetos, presença de material estranho e perdas

No Semiárido, há ainda a possibilidade de se utilizar

sofridas durante a preparação. Algumas forrageiras

áreas exclusivas de leguminosas nativas ou exóticas

como o capim-buffel, a braquiária, erva sal e tifton

adaptadas como bancos de proteína. Tais plantas

podem produzir fenos de alta qualidade.

7004

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.7001-7007, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 437 – Estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro

De acordo com Camurça et al. (2002), o capim-buffel

radores (enterobactérias e clostrídios), que são

possibilita a produção de fenos de qualidade, com 6

menos tolerantes às condições ácidas é inibido

a 10% de proteína bruta de acordo com a época de

(Pereira & Santos, 2006).

corte. Esses mesmos autores observaram teor de proteína bruta de 10,9% aos 35 dias de rebrota e

As plantas forrageiras cultivadas no semiárido para

afirmaram que essa é a idade ideal para o corte do

produção de silagem devem apresentar teores

capim-buffel para fenação. A digestibilidade da

médios

matéria seca reduz acentuadamente à medida que

quantidade

de

avança a idade da planta. Esses autores observaram

capacidade

tampão.

decréscimo nos percentuais de digestibilidade com o

forrageiras

avanço da idade da planta quando cortada aos 42

características xerófitas excetuando-se a caducifólia,

(67,1%) e 84 dias de idade (47,0%).

resistentes

entre

de ao

30-35%

matéria

carboidratos ciclo

Além curto

estresse

seca,

solúveis disso, ou

elevada e

baixa

sugerem-se

efêmeras,

hídrico,

com

resistentes

a

salinidade e capazes de colonizar solos rasos (Lima O uso de feno de erva-sal, de acordo com Porto &

Jr et al., 2013).

Araújo (1999), é recomendado em consórcio com outra planta forrageira, com o objetivo de reduzir o

Alguns recursos forrageiros nativos e adaptados ao

efeito do excesso de NaCl, o que não compromete o

semiárido podem ser utilizados para ensilagem,

consumo, já que esse é o principal fator que

como o Buffel (Cenchrus ciliaris L.), Erva Sal

determina o desempenho animal. Brito et al. (2007),

(Atriplex

no entanto, pesquisando níveis crescentes de feno

caesalpiniaefolia), orelha de onça (Macroptilium

de erva-sal como único volumoso na dieta de

martii Benth), Leucena (Leucaena leucocephala

cordeiros

em

crescimento,

o

(Lam.) R. de Wit.) Pornunça (Manihot esculenta

consumo

de

matéria

(1,52

Cranz x Manihot glaziovii) e Gliricídia (Gliricidia

observaram

seca

foi

que

menor

kg/animal/dia de MS) no maior nível de adição de

nummulária),

Sabiá

(Mimosa

sepium) (Santos et al., 2010).

feno (66%), o que comprova que seu elevado teor de sódio pode limitar o consumo pelos animais.

Alsersy et al. (2015),

avaliando o efeito do

fornecimento de erva-sal mediterrânea (Atriplex Ensilagem: Apesar

de

halimus) ensilada com enzimas sobre o consumo de a

fenação

operacionais,

a

conservação

mais

apresentar é

digestibilidade

dos

nutrientes

e

a

fermentação ruminal em ovinos, encontraram valores PB de 11,7%, FDN, 55,2%, FDA, 33,4% e EE, 1,9%,

semiáridas, uma vez que a água é conservada na

semelhantes aos encontrados por Santos et al.

forragem

do

(2010), que, em pesquisa sobre fatores que afetam o

rebanho. Todavia, a ensilagem é um processo

valor nutritivo de silagens de forrageiras tropicais,

complexo e sujeito a diversos fatores, principalmente

reportaram valores de MS de 34,96%, PB, 9,81%,

a espécie forrageira (Lima Jr et al., 2013).

FDN, 54,15% e FDA, 30,55%, para silagem de erva-

contribui

para

para

método

a

de

indicado

o

ração,

regiões

e

ensilagem

facilidades as

dessedentação

sal. Contudo, Belem et al. (2010) pesquisaram a A ensilagem é uma alternativa muito empregada nos

composição bromatológica de silagens de gliricídia

sistemas de criação animal. Consiste na preservação

com diferentes níveis de erva-sal e encontraram

de forragens úmidas, recém-colhidas, com elevado

teores de MS de 36,97%, PB, 6,22%, FDN, 67,08%,

valor nutritivo, para serem administradas nas épocas

FDA,

de escassez de alimentos. Consiste em um método

adicionaram essa forrageira em silagem de gliricídia.

49,15%

e

DIVMS

de

47,8%

quando

de conservação da forragem sob condição de anaerobiose, onde ocorre uma metabiose, ou seja,

Cabral Jr et al. (2007) avaliando períodos crescente

uma sucessão de grupos de microrganismos até

de emurchecimento sobre as características da

atingir um nível de acidez, através da produção de

silagem

ácido lático pelas bactérias ácido láticas (BAL), no

crescente sobre os teores de matéria seca e

qual o desenvolvimento de microrganismos deterio-

capacidade fermentativa e linear decrescente sobre

de

gliricídia,

observaram

efeito

linear

os teores de proteína bruta e carboidratos solúveis. Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.7001-7007, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006

7005


Artigo 437 – Estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro

Além de efeitos quadráticos para pH, capacidade tampão e degradabilidade in vitro. Dantas et al. (2006) avaliaram as alterações na

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maniçoba e pornunça produzidas com 7, 14, 28 e 56

S. A. 2010. Composição bromatológica de silagens de gliricídia com diferentes níveis de

dias de fermentação e relataram que os teores de

erva-sal. In.: Congresso Nordestino de Produção

MS das silagens foram de 28,09 e 27,56% para

Animal, VI, Mossoró – RN. Anais... Mossoró: CNPA, 2010.

composição químico-bromatológica de silagens de

maniçoba e pornunça, respectivamente, menores que o preconizado pela literatura, que seria em torno de 30 a 40%. Os teores de FDN para maniçoba

BRITO, E. A.; RAMOS, J. P. F.; SOUZA, W. H.; OLIVEIRA JUNIOR, S.; SALES, A. T.; CUNHA,

enquanto o de FDA foi de 29,84% para maniçoba e

M. G. G.; SOUSA, L. C.; SANTOS, S. S. 2007. Níveis de inclusão de feno de atriplex (Atriplex

de 35,74% para pornunça. Apesar de ser uma planta

nummularia Lind.) sobre o desempenho de

pouco conhecida, a pornunça tem sido procurada

cordeiros em crescimento. In: Simpósio internacional sobre ovinos e caprinos de corte, 3.,

foram de 47,59% e para pornunça, de 48,89%,

por muitos criadores de animais no semiárido, porém a falta de conhecimento sobre seu manejo impede o aproveitamento máximo (Silva et al., 2009) de seu potencial produtivo e valor nutritivo, considerados satisfatórios para seu uso como planta forrageira.

2007, João Pessoa. Anais... João Pessoa: SIMCORTE, 1 CD-ROM. CABRAL, L. S.; VALADARES FILHO, S. C.; DETMANN, E.; ZERVOUDAKIS, J. T.; SOUZA, A. L.; VELOSO, R. G. 2008. Eficiência microbiana e

CONCLUSÃO: Existem inúmeras estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro que possibilitam o incremento da disponibilidade de forragem

nas

épocas

secas

do

ano,

sendo

necessário, no entanto, conscientizar e informar os produtores.

ALSERSY, H.; SALEM, A. Z. M.; BORHAMI, B. E.; OLIVARES, J.; GADO, H. M.; MARIEZCURRENA, M. D.; YACUOT, M. H.; KHOLIF, A. E.; EL-ADAWY, M.; HERNANDEZ, S. R. 2015. Effect of Mediterranean saltbush (Atriplex halimus) ensilaging with two developed cocktails

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7007




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