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Nutritime Revista Eletrônica www.nutritime.com.br Praça do Rosário, 01 Sala 302 - Centro - Viçosa, MG - Cep: 36.570-000 A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda, com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos e também resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br.
Editora Responsável: Juliana Maria Freitas Teixeira Brito Editor Científico: Júlio Maria Ribeiro Pupa Editora Técnica: Rosana Coelho de Alvarenga e Melo Cláudio José Borela Espeschit Evandro de Castro Melo Fernando Queiróz de Almeida José Luiz Domingues
Júlio Maria Ribeiro Pupa George Henrique Kling de Moraes Marcelo Diniz dos Santos Marcos Antonio Delmondes Bomfim Maria Izabel Vieira de Almeida Patricia Pinheiro de Campos Fonseca Rodrigues Rony Antonio Ferreira Rosana Coelho de Alvarenga e Melo É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo da NRE da em qualquer meio de comunicação, seja eletrônico ou impresso, sem a sua devida citação.
Sumário
ARTIGOS 430 – Frequência de suplementação a pasto ............................................................................................................... 6030 Leonardo Guimarães Silva, Frederico correia cairo, Diego Lima Dutra, Bárbara Bianca Porto de Avelar, Fernando correia cairo, Maxwelder Santos Soares, Olivaneide da Silva Frazão 431 - Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal........................................................................ 6041 Maxwelder Santos Soares 432 - Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema – Alagoas ..................................................................................................................................................................... 6056 Amanda Graça Gomes Ferreira, Daniele Gomes de Lyra, José Crisólogo de Sales Silva, Francisca Marcia França Soares, Cleyton de Almeida Araújo 433 – Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte....................................................................... 6066 Bruna Cristhina de Oliveira, Graciele Araújo de Oliveira Caetano, Messias Batista Caetano Júnior, Taynara Raimundo Martins, Cláudia Beatriz de Oliveira 434 – Caracterização dos confinamentos de bovinos de corte na região do meio oeste catarinense ....... 6076 João Paulo Carenagto, Cláudia Batista Sampaio, Edenio Detmann, Fabyano Fonseca, Pedro del Bianco Benedeti 435 – Enriquecimento ambiental e bem-estar na suinocultura.............................................................................. 6083 Francisca Luana de Araújo carvalho, Aline da Silva Gomes, Gabriela Priscila de Sousa Maciel, Firmino José Vieira Barbosa, Wéverton José Lima Fonseca 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes .................................... 6091 Laion Antunes Stella, Angel Sanchez Zubieta, Bruna Kuhn Gomes, Ênio Rosa Prates 437 – Estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro .......................................... 7001 Glayciane Costa Gois, Fleming Sena Campos, Gilmara Gurjão Carneiro, Tiago Santos Silva, Alex Gomes da Silva Matias
Frequência de suplementação a pasto Alimentação, bovinos, pastagem. 1
Revista Eletrônica
Leonardo Guimarães Silva 1 Maxwelder Santos Soares 2 Frederico Correia Cairo 2 Fernando Correia Cairo 2 Diego Lima Dutra
Vol. 14, Nº 04, jul./ago.de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br
1
Programa de Pós-Graduação em Zootecnia na Unesp-Jaboticabal, SP. Email- leocrado@hotmail.com 2 Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga-BA
A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
RESUMO
FREQUENCY SUPPLEMENTATION AT PASTURE
A maioria dos sistemas de produção de bovinos de
ABSTRACT
corte em regiões tropicais está baseada na utilização
Most beef cattle production systems in tropical
de gramíneas tropicais como recursos forrageiros
regions is based on the use of tropical grasses such
basais, pois estas são capazes de prover substratos
as basal forage resources, as these are capable of
energéticos de baixo custo, principalmente a partir
providing energy substrates low cost, mainly from the
dos carboidratos fibrosos. Contudo, as gramíneas
fibrous carbohydrates. However, tropical grasses can
tropicais raramente podem ser consideradas dieta
rarely be considered balanced diet for grazing
equilibrada
Os
animals. The supplements are commonly used to
suplementos são comumente usados para adicionar
add extra nutrients, or meet those limiting the
nutrientes extras, ou suprir aqueles limitantes ao
animal's performance. Thus should be the last resort
desempenho do animal. Dessa forma devem ser o
to be used, and the farmers need to evaluate other
último recurso a ser utilizado, e os pecuaristas
pasture management strategies before considering
necessitam avaliar outras estratégias de manejo da
its use. Supplementation should be used as a means
pastagem antes de considerarem o seu uso. A
of maximizing the use of available forage, keeping in
suplementação deve ser usada como meio de
mind that the supplement should not provide
maximizar a utilização da forragem disponível, tendo
nutrients beyond the requirements of the animals. In
em mente que o suplemento não deve fornecer
this approach, a practice that has been addressed in
nutrientes além das exigências dos animais. Nesse
beef production systems is the reduction in the
enfoque, uma prática que vem sendo abordada nos
frequency of providing supplement the animals on
sistemas de produção de carne bovina é a redução
pasture. Search with the implementation of this
na frequência do fornecimento do suplemento a
practice further rationalization of hand labor in the
animais mantidos em pastagens. Busca-se com a
supplement distribution and reducing costs without
implementação dessa prática maior racionalização
affecting the performance of the animals.
da mão-de-obra na distribuição do suplemento e
Keyword: food, cattle, pasture.
para
animais
em
pastejo.
redução dos custos sem afetar o desempenho dos animais. Palavras-chave: alimentação, bovinos, pastagem.
6030
Artigo 430 – Frequência de suplementação a pasto
INTRODUÇÃO
A
Nas principais regiões produtoras de carne bovina
diretamente da economia em escala, pois opera com
do país, há grande variação na produção e na
margens de lucro mais reduzidas. Assim, a utilização
qualidade das forragens durante o ano e essas
de
variações
principais
autocontrole de consumo ou infrequente pode ser
responsáveis pelos baixos índices produtivos obtidos
uma alternativa de manejo de suplementos em
no Brasil.
sistemas de suplementação de bovinos a pasto e
são
apontadas
como
as
viabilidade
da
estratégias
pecuária
de
de
corte
suplementação
depende
do
tipo
possibilita ao produtor redução de gastos com mãoSegundo a Associação Brasileira das Indústrias
de-obra e equipamentos para suplementação.
Exportadoras de Carne (ABIEC, 2013), o Brasil destaca-se por possuir o segundo maior rebanho
Desta forma, objetivou-se com esta revisão avaliar
mundial de bovinos, aproximadamente 208 milhões
os resultados produtivos de estratégia e frequência
de cabeças, ocupando uma área de pastagem 169
da suplementação a pasto.
milhões de hectares. Portanto, a pecuária de corte é uma atividade de grande importância social e econômica no Brasil. Entre as vantagens da pecuária nacional, destacam-se a competitividade econômica, a produção de carne sob condições de ambientes naturais e a tendência de demanda dos mercados mais exigentes. Diante dessas vantagens, a bovinocultura está passando de uma atividade extrativista e extensiva à utilização intensiva de
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA GRAMÍNEAS TROPICAIS As gramíneas pertencem ao reino vegetal, divisão angiospermae, classe monocotiledoneae e ordem gramínelas. As mesmas estão agrupadas em 600 gêneros e 5000 espécies; 75% das forrageiras são desta família.
tecnologia e à melhor capacidade de gerenciamento para maior eficiência ao longo de toda a cadeia
A maioria dos sistemas de produção de bovinos de corte, em regiões tropicais, está baseada na
produtiva (Zervoudakis, 2000).
utilização de gramíneas tropicais como recursos As pastagens constituem a base da alimentação de rebanhos estabelecidos nas regiões tropicais, o desempenho animal é obtido a partir da interação forragem disponível
x consumo x digestão x
exigências nutricionais, que pode ser satisfatório ou não no sistema de produção. Diante de um desempenho
não
satisfatório,
é
necessária
a
suplementação da dieta dos animais, que deve ser conveniente do ponto de vista técnico-econômico
Sob esta ótica, a suplementação, aliada ao manejo correto das pastagens, tem sido uma das principais de
manejo
nutricional
capaz
de
disponibilizar nutrientes para aumentar a taxa de digestão, síntese de proteína microbiana e assim aumentar o consumo, extração de energia da forragem e fluxo de nutrientes para o trato posterior, viabilizando e estabelecendo uma bovinocultura condizente
com
sustentabilidade
os
substratos
energéticos
de
baixo
custo,
principalmente a partir dos carboidratos fibrosos (Paulino et al., 2008). Contudo, as gramíneas tropicais raramente podem ser consideradas dieta equilibrada para animais em pastejo, pois estas irão exibir invariavelmente uma ou mais limitações nutricionais
que
causarão
restrições
sobre
o
consumo de pasto, a digestão da forragem ou a metabolizabilidade dos substratos absorvidos.
(Zervoudakis et al., 2002).
ferramentas
forrageiros basais, pois estas são capazes de prover
novos
socioeconômica
padrões e
de
Desta forma, demanda-se a identificação das principais limitações nutricionais do pasto para se evitar entraves à produção animal. Depois de identificadas, as deficiências nutricionais poderão ser reduzidas ou eliminadas utilizando-se programa adequado de suplementação, o que resultará em incremento no desempenho dos animais e na eficiência do sistema de produção (Detmann et al., 2010; 2013).
ambiental
preconizado (Paulino et al., 2008). Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6030-6040, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
6031
Artigo 430 – Frequência de suplementação a pasto
Os fatores climáticos são reconhecidamente um dos
sazonalidade é a principal causa da baixa produção
principais
das
bovina nos trópicos, promovendo inadequação no
gramíneas tropicais utilizadas em sistemas pastoris
atendimento das exigências nutricionais dos animais.
ao longo do ano. Em termos gerais, a influência
A tabela 1 apresenta a composição bromatológica de
climática
gramíneas forrageiras durante o período das águas
determinantes
é
da
qualidade
caracteristicamente
definida
pelas
alterações causadas na forragem pela presença ou
obtido de pastejo simulado.
ausência de precipitação. Todas
as
forragens
são
compostas
de
uma
população heterogênea de tipos de células, cada uma das quais tem uma parede celular com
TABELA 1 - Composição química de Brachiaria brizantha cv. Marandu obtida de pastejo simulado no período das águas. MS
MM
PB
EE
nutritivo potencial da sua fração parede celular
26,01
-
9,52
-
(fibra), por causa das diferenças tanto na quantidade
24,81
7,89
12,2
2,16
-
35,84
67,52
Dias, 2013
de paredes celulares derivadas de vários tipos de
25,75 10,93
7,73
2,00
-
45,13
52,13
Mendes, 2013
25,37
12,00 4,20
-
40,11
63,00
Barroso, 2014
propriedades únicas. Forragens diferem no valor
células consumidas pelo animal como pela sua degradabilidade individual. Estimativas de relações de folhas, bainhas de folhas e colmos refletem, a um nível morfológico, variações nas quantidades de diferentes tipos de células presentes.
8,36
FDN
FDA
FDNcp Autor
62,54 31,53
-
Canesin, 2007
MS- matéria seca; MM- mistura mineral; PB- proteína bruta; EEExtrato etéreo; FDN- Fibra em detergente neutro; FDA- Fibra em detergente ácido; FDNcp- Fibra em detergente neutro corrigido para cinza e proteína. Fonte: Canesin, 2007; Dias, 2013, Mendes, 2013, Barroso, 2014
No período da seca,
as
forrageiras
tropicais
A utilização por ruminantes, de componentes de
apresentam baixo valor nutritivo, com teores de
parede celular é diferente para várias frações de
proteína inferiores ao mínimo de 7,0% na matéria
plantas e estádios de desenvolvimento, assim como
seca, limitando a atividade de microrganismos.
para diferentes tipos de paredes celulares. As
Consequentemente,
células lignificam de acordo com o tipo e idade da
digestibilidade da fração fibrosa da forragem e da
célula. Paredes de células de mesófilo, floema e
produção de ácidos graxos voláteis, importantes
parênquima jovens são pouco lignificadas, enquanto
fontes de energia para os ruminantes, além de
as de esclerênquima e xilema velhos são altamente
carência
lignificadas. Há diferenças marcadas no processo de
(Minson, 1990). Na tabela 2 é apresentada a
lignificação e estrutura de lignina formada.
composição
proteica
verifica-se
e
química
energética de
diminuição
nesse
amostras
da
período
de
pastejo
simulado de gramíneas durante o período seco. Durante o período das águas a situação de uma maior quantidade e qualidade da forragem permite que animais em pastejo apresentem melhores desempenhos. Embora os pastos tropicais, na época
TABELA 2- Composição química de Brachiaria brizantha cv. Marandu obtida de pastejo simulado no período seco.
das águas, não sejam considerados deficientes em proteína,
elevada
proporção
dos
compostos
MS
MM
PB
EE
FDN
FDA FDNcp NIDIN NIDA LIG
nitrogenados totais do pasto pode ser encontrada na
57,95 7,18 4,39 2,47 83,03 44,96
62,87
forma insolúvel em detergente neutro. Considerada
51,00 6,50 4,00 2,52 78,56 45,27
20,84 24,20 8,86
72,20
-
-
5,00
de lenta e incompleta degradação, podendo implicar
23,70 8,00
1,80
-
-
72,50
-
-
-
em
30,41 9,68 8,11 2,47
-
35,37
63,73
-
-
-
carência
de
compostos
nitrogenados
aos
microrganismos ruminais.
6,7
MS- matéria seca; MM- mistura mineral; PB- proteína bruta; EEExtrato etéreo; FDN- Fibra em detergente neutro; FDA- Fibra em
Nos trópicos existe elevada flutuação qualitativa e
detergente ácido; FDNcp- Fibra em detergente neutro corrigido para cinza e proteína; NIDIN – Nitrogênio insolúvel em detergente
quantitativa das pastagens, o que resulta em ganhos
neutro; NIDA- Nitrogênio insolúvel em detergente ácido.
de peso no período das águas e perda de peso no
Fonte: Mateus, 2009; Souza, 2010; Mateus, 2013; Abreu Filho, 2014.
período seco, com duas estações bem definidas no Brasil central. Segundo Euclides et al. (1998), a 6032 Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6030-6040, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 430 – Frequência de suplementação a pasto
O que se busca em uma forrageira é a capacidade
a ingestão de matéria seca, o desempenho animal e
de
as
a taxa de digestão, além de fornecer os nutrientes
demandas dos animais. No entanto, se por um lado
que complementam o pasto (Bargo et al., 2003). A
as forrageiras variam em qualidade, por outro, os
suplementação concentrada pode, ainda, elevar o
requerimentos nutricionais do animal também não
suprimento de energia metabolizável que, aliado a
são constantes durante sua vida, ou mesmo no
quantidades satisfatórias de proteína degradável no
decorrer do ano. Estes variam em função de
rúmen aumenta a síntese de proteína microbiana. A
diversos fatores, como idade, estado fisiológico,
extensão da resposta ao suplemento varia em
sexo, grupo genético, peso e escore corporal. Assim,
função da qualidade da dieta basal (forragem),
considerando-se sistemas de produção nos quais se
definida pelo ganho de peso observado nos animais
buscam índices elevados de eficiência, somente em
suplementados com sal mineral.
atender,
pelo
maior
período
possível,
situações particulares, e por pouco tempo, mesmo durante o verão, estas forrageiras seriam capazes
No Brasil, a maior parte da produção bovina de corte
de possibilitar que animais de bom potencial
está fundamentada em sistemas de pastagens
genético
formadas por espécies do gênero Brachiaria, que por
tivessem
suas
exigências
atendidas
serem gramíneas tropicais, apresentam produção
(Euclides, 2000).
(quantitativa
e
qualitativa)
distribuída
em
dois
PRINCÍPIO DA SUPLEMENTAÇÃO
períodos distintos: estação chuvosa e quente e
Os suplementos concentrados são aqueles com
estação seca e fria.
menos de 18% de fibra bruta na matéria seca e podem ser classificados como proteicos, quando têm
Segundo Reis et al. (1997), com o crescimento,
mais de 20% de proteína na matéria seca, ou
ocorrem alterações que resultam na elevação dos
energéticos, com menos de 20% de proteína na
teores de compostos estruturais tais como: celulose,
matéria seca (NRC, 1996).
hemicelulose e lignina e paralelamente diminuição no conteúdo celular. Com o desenvolvimento das
Os suplementos são comumente usados para
plantas ocorre diminuição na relação folha/colmo
adicionar
aqueles
resultando em modificações na estrutura das plantas
limitantes ao desempenho do animal. Contudo, os
e dessa forma, é de se esperar, que plantas mais
suplementos são caros e frequentemente usados
velha apresentem menor conteúdo de nutrientes
para corrigir erros de manejo. Dessa forma deve ser
potencialmente digestíveis. Desta forma, no intuito
o último recurso a ser utilizado e os pecuaristas
de
necessitam avaliar outras estratégias de manejo da
satisfatórios,
pastagem antes de considerarem o seu uso.
suplementação alimentar, especialmente durante o
nutrientes
extras,
ou
suprir
O
principal objetivo da nutrição de bovinos em pastejo
manter
o
desempenho
tem
sido
animal
largamente
em
níveis
utilizada,
a
período de escassez de forragem (Brito et al., 2007).
é suprir os requerimentos dos microrganismos do rúmen, principalmente no que se refere ao nitrogênio
De maneira geral, a suplementação da dieta de
(Poppi & Mclennan, 2007).
animais em pastejo é realizada com os seguintes
Os suplementos podem ser usados para corrigir
objetivos: corrigir a deficiência de nutrientes da
deficiências de nutrientes específicos, adicionar
forragem; aumentar a capacidade de suporte das
outras fontes de forragem, incluir aditivos na
pastagens; potencializar o ganho de peso; diminuir a
alimentação. Ao desenvolver um suplemento, ele
idade ao abate; auxiliar no manejo das pastagens;
deve conter todos os nutrientes necessários para
fornecer aditivos ou promotores de crescimento
promover o equilíbrio nutricional na dieta (Kunkle et
(Reis et al., 2005).
al., 1999). A suplementação deve ser usada como meio de As estratégias apropriadas para incrementos na
maximizar a utilização da forragem disponível, tendo
produção
animal,
em mente que o suplemento não deve fornecer
requerem
uma
com
uso
compreensão
de dos
suplementos, efeitos
de
diferentes tipos de suplementos, que podem alterar
nutrientes além das exigências dos animais (Parsons & Allinson, 1991; Paterson et al.,1994).
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6030-6040, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
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Artigo 430 – Frequência de suplementação a pasto
FREQUÊNCIA DE SUPLEMENTAÇÃO
Nos mamíferos, a amônia absorvida no trato
A utilização de suplementos para bovinos de corte
gastrintestinal (nos ruminantes, principalmente no
em pastejo tem sido uma das principais estratégias
rúmen-retículo)
para intensificar os sistemas de produção, tornando-
catabolismo de aminoácido e ácidos nucléicos é
se
e
convertida, no fígado, a ureia, sendo posteriormente
sustentabilidade do setor pecuário (Valadares Filho
excretada na urina (Brody, 1994). Quanto ao destino
et al., 2006).
final da ureia produzida no metabolismo da amônia
fundamental
para
a
competitividade
(ciclo
da
ou
ureia),
ainda,
os
liberada
durante
ruminantes
o
assumem
Nesse enfoque, uma prática que vem sendo
característica importante em relação aos outros
abordada nos sistemas de produção de carne bovina
mamíferos, que é a possibilidade do retorno
é a redução na frequência do fornecimento do
(reciclagem) deste nitrogênio, agora na forma de
suplemento a animais mantidos em pastagens.
ureia para o trato digestivo, notadamente no rúmen-
Busca-se com a implementação dessa prática maior
retículo (NRC,1985). A reciclagem de ureia ocorre
racionalização da mão-de-obra na distribuição do
principalmente por meio da saliva ou por difusão
suplemento e redução dos custos sem afetar o
através da parede ruminal (Van Soeste, 1994).
desempenho dos animais (Berchielli et al., 2006). A alteração na frequência de suplementação permite A redução na frequência de suplementação não
ao produtor uma racionalização da mão-de-obra e
prejudica
pode
dos equipamentos (Zervoudakis, 2003). Goes et al.,
representar uma opção para o produtor visando
2005a estudando o efeito das diferentes frequências
principalmente
de suplementação de bovinos com média de peso
o
desempenho a
do
redução
animal dos
e
custos
do
inicial de 228 kg, fornecendo o equivalente de 0,4
fornecimento da alimentação (Canesin et al., 2007).
kg/dia de concentrado por animal, verificaram que a sistemas
suplementação diária, duas ou três vezes por
produtivos no setor pecuário brasileiro e da sensível
semana não promoveu diferenças em ganho de
adesão do produtor à técnica de suplementação,
peso, sendo que os mesmos autores sugerem que a
muitas dúvidas ainda permanecem obscuras quanto
frequência de três vezes por semana é um meio de
a esta prática de manejo nutricional. Há anos, os
redução da mão-de-obra na fazenda.
Diante
da
grande
variabilidade
dos
pesquisadores têm se esforçado na tentativa de de
Moraes et al. (2004) avaliaram o efeito da frequência
suplementação em pastagens, em decorrência da
da suplementação 7, 6, 5 e 3 vezes por semana
complexidade da interação solo x clima x forragem x
sobre o desempenho de bovinos (nelorados e
animal x suplemento utilizado (Brito, 2004).
mestiços leiteiros) em pastagem de Brachiaria
equacionar
integralmente
a
técnica
decumbens no período seco e não observaram Trabalhos de pesquisas ruminantes
podem
têm
ser
demostrado que
alimentados
com
diferença significativa no ganho médio diário (GMD) entre as frequências estudadas, porém, obtiveram
suplementos de proteína em intervalos infrequentes
valores
médios
inferiores
(0,25
kg/dia)
aos
e, ainda manter níveis de desempenho aceitáveis
encontrados neste estudo para todos os tratamentos,
(Bohnert et al., 2002a). O fato de a digestão e o
possivelmente em virtude da baixa disponibilidade
desempenho não serem fortemente deprimidos pela
(1,1 t MS/ha) e qualidade da forragem, afetando
redução na frequência de suplementação proteica
negativamente o desempenho dos animais.
pode refletir a habilidade de animais ruminantes em manterem o suprimento de N no ambiente ruminal
Moraes et al. (2005) avaliaram diferentes frequências
por
a
de suplementação durante o período das águas com
concentração de N-NH3 ruminal pode ser aumentada
concentrado à base de farelo de soja e mistura
nos dias entre os eventos de suplementação por
mineral na proporção de 0,50 kg/animal/dia e
causa da reciclagem de N, o que pode ajudar manter
também não observaram diferenças (P>0,10) entre
a digestão da fibra ruminal semelhante à de animais
as diferentes frequências, observando GMD de
recebendo suplementação diária.
0,895; 0,885 e 0,892 kg/dia, respectivamente, para
6034
meio
da
reciclagem.
Sugere-se
que
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6030-6040, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 430 – Frequência de suplementação a pasto
os
animais
sob
suplementação
3,
5
e
7
Segundo Bohnert et al. (2002a), os ruminantes são eficientes em manter níveis adequados de nitrogênio
vezes/semana.
no
ambiente
ruminal
entre
os
períodos
de
Canesin et al. (2007) avaliaram desempenho de
suplementação, de modo que essa manutenção do
bovinos com peso média de 230 kg mantidos em
nitrogênio pode ser atribuída a possíveis alterações
pastagem
Marandu
na permeabilidade do trato gastrintestinal à ureia
submetidos a três estratégias de suplementação
e/ou na regulação da excreção da ureia. Quando a
proteico-energética (1% do PV) diariamente (SD),
suplementação
em dias alternados (DA) e suplementação oferecida
intervalos irregulares, os ruminantes mantêm o
de segunda à sexta-feira e suspensa aos sábados e
ambiente ruminal produtivo, para adequada digestão
domingo (SF) no período das águas 2003, seca
da fibra e cinética de fluidos de partículas, sem afetar
2003 e águas 2004, os resultados estão exposto na
a síntese de N-microbiano (Bohnert et al., 2002b).
tabela
Brachiaria
3.
A
brizantha
estratégia
de
cv.
suplementação
com
proteína
é
fornecida
em
é
fundamental e, mesmo quando realizada em dias
Isso implica dizer que a suplementação em dias
alternados ou suspensa nos fins de semana, não
alternados é um manejo nutricional opcional à
afetou
suplementação diária, que pode reduzir os custos
o
ganho
de
peso
médio
diário,
em
com a distribuição de suplemento aos animais sem
comparação à suplementação diária.
afetar o desempenho produtivo. A suplementação TABELA 3- Ganhos médios diários (kg/dia) de bovinos mantidos em pastagem Brachiaria brizantha cv. Marandu submetidos a três estratégias de suplementação nos diferentes períodos do ano.
reduz a ingestão de matéria seca da forragem e melhora o desempenho animal; o maior nível de suplementação
avaliado
promove
melhor
desempenho, porém menor eficiência biológica. Independentemente das quantidades de suplemento
Tratamento
Período
fornecidas, as suplementações em dias alternados
SD
SF
DA
CV%
Águas, 2003
0,76a
0,74a
0,71a
34,22
Seca, 2003
0,57a
0,54a
0,51a
47,35
Águas, 2004
0,61a
0,57a
0,62a
44,06
SD = suplementação diária; SF = suplementação oferecida de segunda à sexta-feira e suspensa aos sábados e domingo; DA = suplementação em dias alternados. Fonte: Canesin et al. (2007)
não prejudicam o desempenho animal. Tem-se enfatizado que animais ruminantes sob suplementação infrequente, em dias alternados, mantêm elevados níveis de amônia e digestão da fibra similar à daqueles sob suplementação diária, mesmo nos dias em que não há oferta de
Simione et al. (2009) em pesquisa com novilhos de corte com peso inicial médio de 191 kg na estação seca avaliando dois níveis de suplementação energético-proteica (0,3 e 0,6% em relação ao peso vivo
(PV)
do
animal),
duas
frequências
de
fornecimento – diariamente ou em dias alternados (dia sim, dia não) – mais um tratamento adicional
suplemento.
Esse
fato
tem
sido
atribuído
à
reciclagem de nitrogênio, notadamente entre os eventos de suplementação (Beaty et al., 1994; Farmer et al., 2004). No entanto, os dados referentes aos efeitos da suplementação infrequente de bovinos em pastejo em condições tropicais ainda são escassos.
(apenas suplementação mineral). A suplementação com 0,6% do peso corporal promoveu ganho médio diário de 343 g e ganho total de 28,9 kg, valores superiores aos encontrados para 0,3% do peso corporal, de 238 g e 20,2 kg, respectivamente. Em comparação
à
suplementação
diária,
a
Paula et al. (2010) avaliando o desempenho produtivo de bovinos em pastejo no período seco com frequência de suplementação e duas fontes de proteína. Verificaram que não houve efeito da frequência de suplementação sobre os consumos de
suplementação em dias alternados não promoveu
matéria seca total, matéria seca do pasto e consumo
diferenças no consumo, o que pode explicar a
da fibra em detergente neutro (Tabela 4), o que está
semelhança no ganho médio diário e no ganho de peso total entre os animais recebendo suplemento diariamente e aqueles sob suplementação em dias
relacionado às não diferenças no tempo despendido com
atividade
de
pastejo
entre
animais
sob
suplementação diária ou três vezes por semana.
alternados. Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6030-6040, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
6035
Artigo 430 – Frequência de suplementação a pasto
TABELA 4- Desempenho produtivo de bovinos em pastejo no período seco com frequência de suplementação % CV
Frequência Variável
para bovinos de corte em recria no período seco é viável,
pois,
além
de
reduzir
os
custos
da
suplementação, possibilita desempenho superior ao obtido com a suplementação diária. Paula et al. (2011) em pesquisa com suplementação
7 vezes/semana 3 vezes/semana
infrequente e duas frequências semanais (três vezes CMST (%PC)
1,39
1,27
28,94
por semana, às segundas, quartas e sextas-feiras ou
CMSF (%PC)
1,02
1,04
37,57
diariamente) em comparação à oferta de mistura
CFDN (%PC)
0,68
0,61
34,68
mineral (controle), e fontes proteicas ( farelo se soja,
CDMS
45,57
51,21
25,48
e farelo de algodão com alta energia) para recria de
CDFDN
36,54
40,00
0,500b
0,679a
23,46 -
bovinos
GMD (kg) GMT (kg)
37,76
53,00
22,37
potencialmente digestível de 2.591 kg/ha, que
CMST- consumo de matéria seca total; CMSF- consumo matéria seca da forragem; CFDN- consumo de fibra em detergente neutro; (%PC)- percentagem do peso corporal; CDMS- coeficiente de digestibilidade da matéria seca; CDFDN- coeficiente de digestibilidade da fibra em detergente neutro; GMD- ganho médio diário; GMT- ganho de peso total. Fonte: Paula et al. (2010).
em
pastejo
disponibilidade
no
média
período de
seco
matéria
com seca
representa aproximadamente 65% da disponibilidade de
matéria
seca
total.
Verificaram
que
o
fornecimento infrequente de suplemento aumentou o consumo de matéria seca total e de matéria seca da forragem, porém não foram observados diferenças
Não houve efeito das frequências de suplementação sobre a digestibilidade da matéria seca (CDMS) e fibra em detergente neutro (CDFDN) (Tabela 4), possivelmente em
virtude da capacidade
dos
animais ruminantes em amenizar os efeitos do baixo suprimento
de
digestibilidade,
nutrientes mesmo
e
manter
sua
dias
sem
nos
suplementação. Farmer et al. (2004b) também salientaram a habilidade de ruminantes em manter a digestão
da
fibra
mesmo
em
situações
de
suplementação irregular e reforçaram o fato de ruminantes possuírem mecanismos capazes de inibir os efeitos do fornecimento infrequente de nutrientes.
nos consumos expressos em porcentagem do peso corporal. Segundo o autor, esse fato não era esperado, uma vez que houve diferenças nos consumos expressos em kg/dia, logo, entende-se que uma possível variação na uniformidade dos animais utilizados tenha resultado nesta divergência. O fornecimento do suplemento 3 vezes/semana não afetou as digestibilidade dos nutrientes da dieta. Inúmeros fatores podem interferir na digestibilidade dos nutrientes e, de maneira geral, a suplementação 3 vezes/semana e as fontes proteicas estudadas pouco interferiram na digestibilidade dos nutrientes. No entanto, os baixos coeficientes encontrados neste
estudo,
mesmo
quando
se
forneceu
suplemento, podem ser atribuídos à baixa qualidade O
ganho
médio
diário
dos
animais
sob
da forragem.
suplementação 3 vezes/semana foi superior ao 4),
Paulino et al. (2006b) relataram que a redução na
possivelmente em virtude da capacidade de animais
frequência não promove redução na degradação da
ruminantes em reciclar nitrogênio e manter a
forragem e no desempenho, devido à habilidade dos
digestão da fibra no rúmen entre os intervalos de
bovinos em manter os níveis de nitrogênio ruminal
suplementação
em patamares adequados para a microbiota ruminal.
obtido
com
recebendo grupos
suplementação
de
forma
suplemento
consumiam
diária
similar
diariamente.
semanalmente
(Tabela
aos
animais os
Desta forma, Berchielli et al. (2006) inferiram que o
mesma
principal mecanismo dessa redução no impacto da
Ambos a
quantidade de suplemento, portanto, acredita-se que
menor
a ausência de interações entre fontes proteicas e
desempenho animal é a reciclagem de nitrogênio.
frequência de suplementação também seja reflexo
Assim, o nitrogênio pode ser aumentado nos dias
deste mecanismo de reciclagem endógena. O
entre os eventos de suplementação, sendo a
fornecimento de suplemento três vezes por semana
provável razão para isso as mudanças na
6036
frequência
de
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6030-6040, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
suplementação
sobre
o
Artigo 430 – Frequência de suplementação a pasto
permeabilidade do trato gastrintestinal e/ou na
líquido ruminal em
níveis
regulação renal da excreção de ureia (BOHNERT et
crescimento
atividade
al., 2002).
fornecimento de suplementos autocontrole e a
e
suplementação
a três
adequados
vezes
para o
microbiana.
por
O
semana
são
A suplementação em dias alternados (em intervalo
alternativas viáveis de manejo de suplementos
de até 6 dias) pode ser feita com sucesso sem
proteicos, pois não prejudica as características
prejudicar o desempenho dos animais (BERCHIELLI
ingestivas e digestivas nem eficiência microbiana e o
et al., 2006). Segundo Shauer et al. (2005),
balanço de compostos nitrogenados dos animais.
ruminantes consumindo
sob
suplementação
forragem
de
intermitente,
baixa
qualidade
conseguem manter o desempenho, a eficiência
CONSIDERAÇÕES FINAIS
microbiana, eficiência de utilização da matéria seca
A redução na frequência de suplementação não
e
prejudica
do
nitrogênio
semelhantes
aos
animais
o
desempenho
do
animal
e
pode
suplementados diariamente. Outro ponto favorável à
representar uma opção para o produtor visando
menor frequência de suplementação foi relatado por
principalmente
Huston et al. (1999), que mencionaram menores
fornecimento
da
variações no ganho em peso entre os animais,
ruminantes
sob
devido à redução na competição pelo suplemento
consumindo
quando fornecidos em maiores quantidades.
conseguem manter o desempenho, a eficiência
à
redução alimentação.
dos Isto
custos
do
porque,
os
suplementação
forragem
de
intermitente
baixa
qualidade
microbiana, eficiência de utilização da matéria seca e Moraes et al. (2010) em pesquisa com estratégias
do
nitrogênio
semelhantes
aos
animais
de suplementação para bovinos de corte durante a
suplementados diariamente. Isso implica dizer que a
estação da seca. As estratégias estudadas foram
suplementação em dias alternados é um manejo
autocontrole de consumo e oferta de suplementos
nutricional opcional à suplementação diária. No
(1,0 kg/dia) em três frequências: 3 vezes/semana (às
entanto, os trabalhos referentes aos efeitos da
segundas, quartas e sextas-feiras), 5 vezes/semana
suplementação infrequente de bovinos em pastejo
(de segunda a sexta-feira), 6 vezes/semana (de
em condições tropicais ainda são escassos.
segunda a sábado) e diariamente. Não encontraram efeito
dos
suplementos
sobre
os
consumos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
expressos em kg/dia ou em %PV. A possível explicação para este fato, segundo Beaty et al.
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apresentou em sua formulação maior nível de ureia.
78p. Dissertação. (Mestrado em Zootecnia, Área
ou
três
vezes
por
semana
atividade de pastejo. A estratégia de suplementação
Assim,
os
requerimentos
de
NH3
dos
microrganismos ruminais podem ter sido atendidos de
forma
mais
rápida,
em
razão
da
alta
degradabilidade da ureia, que ao chegar no rúmen, é
de concentração em Produção de Ruminantes). BARGO, F.; MULLER, L.D.; KOLVER, E.S. et al. Invited review: production and digestion of supplemented dairy cows on pasture. Journal of Dairy Science, v.86, n.4, p.1-42, 2003.
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Estratégias
de
produção para abate de novilhos mestiços Em
condições
tropicais,
quando
recebem
em condições de pastejo aos 22 meses de
suplemento em baixa frequência, bovinos de corte
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são eficientes em manter a concentração de NH3 do
Dissertação.
(Mestrado
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SOUZA, Danilo Ribeiro de. Suplementação mineral
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Itapetinga-BA: UESB, 2010. 64p (Dissertação –
western Texas. Journal of Animal Science,
Mestrado
em
Zootecnia
–
Produção
de
v.77, p.3057-3067. 1999.
Ruminantes). VALADARES FILHO, S.C.; MORAES, E.H.B.K.; DETMANN, E. et al. Perspectiva do uso de indicadores para estimar o consumo individual de bovinos alimentados em grupo. In:
6040
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6030-6040, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal
Revista Eletrônica
Alimentação, forragem, nutrição.
Vol. 14, Nº 04, jul./ago. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
RESUMO Objetivou-se
avaliar
o
plantio,
espaçamento,
Maxwelder Santos Soares
1
1
Zootecnista,Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga.Email:maxwelder10@hotmail.com
CACTUS: ASPECTS OF CULTIVATION AND ANIMAL PERFORMANCE
adubação e uso de palma forrageira na dieta de
ABSTRACT
ruminantes. O semiárido do Nordeste Brasileiro é
The
caracterizado
fertilization and use of forage cactus in the diet of
pela
escassez,
irregularidade
de
objective
evaluate
estratégico para períodos com baixa disponibilidade
characterized by scarcity, irregular rainfall, so the
de forragem. A procura por forrageiras adaptadas a
cactus becomes a strategic food for periods low
essas
para
forage availability. The demand for forages adapted
melhoria da produtividade da pecuária desta região.
to these climatic conditions is essential for improving
A composição química da palma varia conforme a
livestock productivity in this region. The chemical
espécie, a idade e a época do ano, sendo um
composition of palm varies according to species, age
alimento rico em carboidratos, principalmente não
and the time of year, being a food rich in
fibrosos,
de
carbohydrates, especially non-fibrous, has a low
constituintes da parede celular e alto coeficiente de
percentage of cell wall constituents and high
digestibilidade
Portanto,
coefficient of dry matter digestibility. Therefore, it is
recomenda-se a palma forrageira na alimentação de
recommended to cactus to feeds for cattle, sheep
bovinos,
dos
and goats as one of the feed ingredients to meet the
ingredientes da ração visando atender as exigências
requirements of animals, but for efficient use of the
dos animais, porém para uma eficiente utilização da
palm, it is essential the use of bulky good quality.
palma, é essencial o uso de volumoso de boa
Keyword: food, forage, nutrition.
apresentam
ovinos
de e
baixa matéria caprinos
é
essencial
porcentagem seca. como
um
Northeast
spacing,
ruminants.
climáticas
semi-arid
planting,
chuvas, logo a palma forrageira torna-se um alimento
condições
The
to
Brazil
is
qualidade. Palavras-chave: alimentação, forragem, nutrição.
6041
Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal
INTRODUÇÃO
chuvosa ocasiona uma maior contaminação por
A palma forrageira é originária do México e se
fungos e bactérias em virtude da umidade excessiva.
adaptou bem na região semiárida do Brasil e do
Os cladódios que serão usados para o plantio devem
mundo
anatômicas,
ser retirados da parte intermediária da planta,
morfológicas, fisiológicas e bioquímicas, decorrente
vigorosos e livres de qualquer praga. Diante disso,
da adaptação aos rigores climáticos.
Na região
deve-se levar em consideração para um bom
Nordeste do Brasil predomina o cultivo de espécies
desenvolvimento da palma forrageira, necessita
de palma dos gêneros Opuntia (variedades Redonda
realizar práticas de manejo como, análise de solo,
e Gigante) e Nopalea (palma miúda ou palma doce),
aração, gradagem, adubação e se necessário, fazer
ambos da família Cactácea. Segundo Marconato et
a subsolagem da área.
pelas
suas
características
al. (2008), o Brasil possui a maior área plantada do mundo, aproximadamente 600 mil hectares, sendo
No entanto, por se tratar de uma cultura perene,
a maioria cultivada
Lopes et al. (2007) recomenda que o manejo seja
indica (L) Will,
mais
a espécie Opuntia fícusconhecida
como “Palma
mecanizado, e que seja utilizado solos de textura leve,
Gigante.”
preferencialmente
os argilo-arenosos não
sujeitos a encharcamento, com declividade de até Nessa busca por alimentos que possibilitem a
5%,
produção animal nos períodos críticos do ano, a
vegetativo e produtivo (Almeida et al., 2012).
resultando em um bom desenvolvimento
palma forrageira destaca-se por ser um alimento rico fibrosos,
Lopes et al. (2009) em pesquisa com a palma doce,
importante fonte de energia para os ruminantes (Van
plantada no espaçamento de 1,00 x 0,50 m,
Soest, 1994), apresenta baixa porcentagem de
avaliaram três formas de plantio, P1 - cladódio
constituintes da parede celular e alto coeficiente de
plantado na vertical 90°; P2 - cladódio plantado com
digestibilidade de matéria seca e há várias décadas
vértice para o leste, inclinação de 45º e P3 - cladódio
possibilita a produção animal nos períodos críticos
plantado com vértice para o oeste, com inclinação de
do ano.
45º. Estes observaram que as formas de plantio, não
em
carboidratos,
principalmente
não
foram influenciadas pela posição do cladódio. Portanto, objetivou-se avaliar a palma forrageira do Peixoto (2009) conduziu experimento no Centro de
cultivo à utilização na dieta de ruminantes.
Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará, onde
ESTABELECIMENTO DO PALMAL
os
tratamentos
avaliados
foram
plantas
expostas ao sol ou sombreadas, posição de plantio Plantio
do cladódio com ou sem adubação orgânica. Os
No processo de plantio recomenda-se que seja feita a seleção do material propagativo, pois o tamanho do cladódio exerce efeito importante quanto ao número e o tamanho das brotações no primeiro ano de crescimento da palma, bem como se recomenda deixá-los à sombra por pelo menos sete dias para que
ocorra
a
cicatrização
dos
ferimentos
provenientes do corte no processo de colheita.
mesmo verificaram que a adubação orgânica e o plantio sob o sol induzem a um melhor desempenho da palma forrageira (Opuntia ficus-indica (L.) Mill). Sendo que a posição no plantio Leste/Oeste ou Norte/Sul não influencia no desempenho da palma forrageira. Espaçamento
Cladódios com dois a três anos de idade são os
O espaçamento de plantio da palma forrageira é
mais
mais
utilizado como uma estratégia de manejo, pois é
vigorosas por ocasião do plantio (Farias et al., 2005).
importante no estabelecimento do palmal. Varia de
No plantio da palma forrageira destaca-se o sistema
acordo com a fertilidade do solo, pluviosidade,
manual com o plantio dos artículos realizado em
finalidade de exploração e sua utilização ou não em
covas, durante período seco é importante para evitar
consórcio com outras culturas. Além disso, o
o apodrecimento das raquetes; plantio na estação
espaçamento deve ser escolhido de acordo com a
6042
indicados
por
emitirem
brotações
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal
preferência e a disponibilidade de capital do
A fêmea prolífica de primeira cria pode perder acima
produtor.
de 15% de sua proteína corporal durante a primeira lactação. A conservação de sua massa proteica cor-
Ramos et al. (2011) com o objetivo de avaliação do
poral durante esta fase pode reduzir o intervalo des-
rendimento em massa verde de palma forrageira (Opuntia fícus indica (L.) Mill), cv. Italiana, em
mama-cio e aumentar o tamanho da leitegada subsequente em até 1,2 leitões/leitegada (BOYD, 2002).
função dos espaçamentos (1 x 1; 1 x 0,5; 2 x 1; 2 x 0,5 m ) aos 455 dias após o plantio, verificaram que a produção de fitomassa por área foram
Quando a dieta fornecida às marrãs é deficiente em
incrementadas com o adensamento, chegando a -1 130,06 Mg/ha de massa verde (Tabela 1).
servada uma redução no crescimento e na ingestão
TABELA 1- Peso de cladódio e rendimento em massa verde de palma forrageira (Opuntia ficusindica (L.) Mill), cv Italiana, em função dos espaçamentos, aos 455 dias após o plantio Soledade-PB Espaçamen Densidade to (plantas ha 1 (m) )
alguns aminoácidos principalmente triptofano, é obvoluntária de alimento (HENRY et al., 1992). O nível da alimentação a que as marrãs são submetidas durante a fase de crescimento influencia a idade em que elas iniciam a vida reprodutiva (puberdade) e o nú-mero
de
óvulos
liberados
(taxa
ovulatória)
durante os primeiros ciclos estrais.
Peso de cladódio (g)
Massa Verde -1 (Mg ha )
Segundo Booth et al. (1994) animais que receberam uma dieta com restrição alimentar a níveis de
1 x 0,5
20000
648,53a
130,06a
exigên-cia
1x1
10000
746,20a
67,90b
dificuldades na secreção do hormônio luteinizante
2 x 0,5
10000
647,29a
59,87b
(LH), no entanto, não verificaram maiores impactos
2x1
5000
662,24a
40,56c
sobre a secreção do hormônio folículo-estimulante
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% Fonte: Ramos et al. (2011)
para
manutenção
apresentaram
(FSH). Contudo, foi observado que com o retorno à alimentação à vonta-de ocorreu imediata restauração da secreção de LH. Portanto, estes dados mostram
Alves et al. (2007) avaliaram dados de 19 anos de cultivo de palma forrageira (Opuntia ficus indica Mill),
claramente efeitos do consumo de alimento sobre o controle central de se-creção de LH.
cv. Gigante no Agreste de Pernambuco, onde o solo é classificado como planossolo, em parcelas
Para Gill (2006), os genótipos modernos, seleciona-
principais (28 x 16 m) foram constituídas pelos
dos para deposição de tecido magro, ao receberem
espaçamentos de 2 x 1; 3 x 1 x 0,5 e 7 x 1 x 0,5 m, Não verificaram diferença sobre a produtividade de
uma dieta com restrição proteica e comparada a die-
biomassa, independentemente (Tabela 2).
vel (ED), mas com o dobro de lisina, alcançaram
do
espaçamento
tas com as mesmas quantidades de energia digestíuma redução no ganho de peso e um menor peso corpo-ral das fêmeas na cobertura, e uma maior
TABELA 2- Efeito do espaçamento e intensidade de corte de artículos de palma sobre a produção de matéria seca após 19 anos de cultivo de palma
deposição de gordura corporal. No entanto, esta deposição não se manteve durante a gestação e durante o intervalo desmama-estro.
Espaçamento
Plantas/ha
Intensidades de cortes Primário
Secundário -1
MS t ha ano
-1
2x1
5000
6,24Ab
13,26Aa
3 x 1 x 0,5
10000
5,55Aa
7,84Aa
7 x 1 x 0,5
5000
4,95Ab
9,52Aa
Letras maiúsculas na coluna comparam os espaçamentos dentro de cada intensidade de corte e letras minúsculas na linha comparam intensidades de cortes dentro de cada espaçamento, onde letras iguais não diferem entre si pelo teste Tukey a 5%. Fonte: Alves et al. (2007).
A recomendação geral é que leitoas destinadas aos plantéis reprodutivos devam ter no intervalo de peso entre 20 e 80 kg, um ganho de peso de 650 a 720 g/ dia (SOBESTIANKY et al., 1998). Recomenda-se separar dentro das salas de maternidade estes grupos de animais e fornecer a ração diferenciada visando minimizar a perda de peso e
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6043
Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal
O espaçamento está diretamente associado à
orgânica diminui com a elevação das doses de
interceptação de luz pela planta. Portanto, plantios
adubo, sendo que a dose de 20 t de esterco
mais adensados promovem maior produtividade,
bovino/ha/dois anos não atende as exigências
devido à maior eficiência na interceptação da
nutricionais de plantas cultivadas sob densidade de
radiação luminosa (Farias et al., 2005).
plantio de 160.000 plantas/ha.
Adubação A palma forrageira é uma cultura que responde bem a
adubação,
independentemente
da
cultivar
utilizada, promovendo incremento da área foliar e de matéria seca, refletindo no crescimento da planta e, consequentemente,
na
produtividade,
o
que
acontece também para o plantio adensado e para a adubação orgânica associada à adubação química (Almeida et al., 2012). Entretanto, para maior eficiência e produtividade do palmal é necessário identificar os elementos minerais e os níveis ideais para obter maiores ganhos de biomassa (Araújo Filho, 2000).
espécie Opuntia ficus indica (L) Mill e um da espécie Nopalea cochenillifera), Silva et al. (2010) utilizando adubação orgânica de esterco bovino equivalente a 30.000 kg/ha, no momento do plantio e após cada corte, verificaram a produção de 7,1 t matéria seca/ha/dois anos, em palma com 5 anos de idade. Provavelmente, a baixa produtividade obtida por estes autores foi devido à avaliação conjunta de várias plantas de genótipos distintos, algumas com produção,
(2012a)
avaliou
espaçamentos
e
o
efeito
adubação
de
mineral
diferentes sobre
o
crescimento e produção da palma forrageira, com três espaçamentos, 1,00 x 0,50 m; 2,00 x 0,25 m e 3,00 x 1,00 x 0,25 m e quatro adubação, 000-000000; 200-150-100; 200-150-000 e 000-150-000 kg -1
ha de N-P2O5-K2O, respectivamente. Foi avaliado o crescimento entre 90 e 390 dias após o plantio (DAP) e produção e crescimento aos 620 DAP. Este autor verificou que não existem diferenças em produção de matéria seca em função das adubações NPK, NP, P e testemunha para os espaçamentos 2,00 x 0,25 m e 3,00 x 1,00 x 0,25 m. As adubações
Avaliando, ao acaso, 50 clones de palma (49 da
alta
Silva
porém
menos
resistentes
a
cochonilha e outras resistentes ao inseto, mas como baixa capacidade produtiva.
com NPK e NP, principalmente sob espaçamento de 1,00 x 0,50 m, conferem melhores respostas para as características de crescimento avaliadas e para produção de massa verde e matéria seca e, ainda as quantidades de nutrientes utilizados nas adubações promovem pequenas alterações na produção. Donato et al. (2014) avaliaram o rendimento de palma forrageira cv. Gigante aos 600 dias após plantio, cultivada em diferentes espaçamentos (1,0 x 0,5; 2,0 x 0,25; e 3,0 x 1,0 x 0,25 m) e doses de adubação orgânica com esterco bovino (0; 30; 60 e 90 t ha
-1
produções
-1
ano ). Os autores verificaram que as de
matéria
seca
registradas
nos
-1
Em experimento conduzido na estação experimental de Caruaru-PE, Silva (2012b) utilizou como material forrageiro a palma Clone-IPA-20. Os tratamentos
espaçamentos foram 21,5; 18,6 e 14,7 t ha , sendo que a produção máxima de matéria seca foi 21,8 t -1
ha , sendo esperada quando se aplicam 71,8 t ha
-1
-1
ano de esterco.
experimentais foram combinação de doses de adubação orgânica 20, 40 e 80 t de matéria de
O nitrogênio promove alterações das plantas e em
esterco bovino/ha/dois anos e diferentes densidades
condições de alto suprimento deste nutriente,
de plantio 20, 40, 80 e 160 mil plantas por hectare,
ocorrem maior crescimento e aumento na área foliar
obtidas pelos seguintes espaçamentos de plantio:
consequentemente aumentando a produção de
1,0 x 0,50 m; 1,0 x 0,25 m; 0,50 x 0,25 m e 0,50 x
forragem. A adubação é um dos recursos mais
0,125 m, respectivamente. O autor concluiu que a
importantes que se tem no manejo de um palmal,
aplicação de 80 t de esterco promove maiores
pois
produtividades nas diferentes densidades de plantio
desenvolvimento vegetativo. Em face da fertilidade
com valores de 61,0; 90,0; 126; 117,0 e 139,0 t de
natural dos solos do Nordeste brasileiro apresentar
biomassa esterco, e que a eficiência de adubação
um baixo teor de matéria orgânica e de fósforo,
6044
proporciona
às
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
plantas
um
bom
Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal
se faz necessário a realização de uma adubação
Deste modo, se faz necessário a sua associação
orgânica e mineral à base de esterco. Portanto, a
com outros alimentos para que se obtenha uma dieta
palma forrageira é exigente em características físico-
nutricionalmente balanceada. A utilização de rações
químicas do solo, é indicado em áreas de textura
com grande proporção de palma implica em dietas
arenosa a argilosa, e frequentemente recomendada
com alta concentração umidade, o que pode ser
em solos argilo-arenosos. Além da fertilidade, é
favorável em regiões onde a água é um nutriente
necessário que os solos sejam de boa drenagem,
escasso
uma vez que áreas sujeitas a encharcamento o
podendo esta água tornar-se quase que suficiente
desenvolvimento poderá está comprometido.
para
em
atender
determinadas a
estações
necessidade
do
dos
ano,
animais
dependendo do nível de produção. PALMA NA DIETA DE RUMINANTES Devido suas características químicas, a palma
Composição química da palma forrageira
forrageira quando fornecida exclusivamente pode
As características nutricionais do alimento estão
causar distúrbios metabólicos nos animais (diarreia)
relacionadas com sua composição química, que
e perda de peso, além de promover um menor tempo
indica a quantidade de nutrientes potencialmente
de ruminação aos animais, havendo necessidade de
disponíveis para o animal. Em geral, ocorre variação
fornecer adequada quantidade de fibra com o intuito
na composição química dos diferentes alimentos, de
de aumentar o consumo máximo de matéria seca e
modo que um único alimento não fornece todos os nutrientes
em
quantidade
e
energia visando à manutenção da fermentação
proporções
ruminal, além de prevenir desordens metabólicas.
perfeitamente ajustadas às exigências nutricionais do animal.
Desta forma, havendo uma baixa disponibilidade de fibra efetiva resulta em menor mastigação pelo
A composição química das variedades de palma forrageira Opuntia e Nopalea é apresentada na tabela 3.
animal e menos mastigação resulta em redução da secreção salivar; logo, menor capacidade de poder tamponante no rúmen. Decréscimo na secreção de
Como pode ser observada na tabela 3, a palma
tamponante através da saliva, geralmente é um fator
forrageira apresenta baixa porcentagem de matéria
que ocorre combinado com maior produção de ácido
seca 10,29%, proteína bruta 4,08%, fibra em detergente
graxo volátil (AGV), resultando em decréscimo do pH
neutro, 31,6% e fibra em detergente ácido 18,70%. No
ruminal. Com a alteração no pH ruminal ocorre
entanto, apresentam teores razoáveis de carboidratos
mudança na população microbiana, logo os produtos
totais 82,43%, carboidratos não fibrosos 48,30% e
finais da fermentação de carboidratos são alterados
material mineral, 12,64%.
e a relação acetato:propionato é reduzida (Mertens, 2001).
TABELA 3 - Composição química de palma forrageira com base no percentual da matéria seca
Autor Batista (2003)
Palma
MS
MO
PB
EE
FDN
FDA
CHT
CNF
MM
4,20
1,36
26,90 35,81
16,50
9,43
-
6,20
Oliveira (2007)
(Nopalea) (Opuntia)
12,00
26,03
73,10 86,15
50,34
18,60 8,29
Cavalcanti (2008a)
(Opuntia)
9,80
91,49
4,53
1,50
34,37
20,80
85,46
53,53
-
Bispo (2009)
(Opuntia)
8,28
85,62
3,04
2,00
28,13
14,58
80,57
52,44
14,38
85,90
2,66
0,51
27,43
9,99
82,73
55,3
14,1
Ferreira (2009)
(Nopalea) (Opuntia)
11,56 13,4
90,69
3,00
1,55
31,62
17,88
86,13
55,49
9,31
Torres (2009)
(Opuntia)
9,93
90,33
4,01
2,54
36,50
16,9
83,78
47,31
9,67
Torres (2009)
(Nopalea)
10,28
87,38
5,48
2,22
37,30
20,2
79,68
42,36
12,62
Souza (2010)
(Opuntia)
10,0
85,78
3,00
0,50
26,00
20,0
82,53
27,87
14,22
Wanderley (2012)
(Opuntia)
9,10
87,43
4,92
2,17
31,87
20,38
84,13
50,05
12,57
Pessoa (2013)
(Opuntia)
9,39
88,08
3,82
2,48
-
22,50
-
-
-
Costa (2009)
FONTE: Batista (2003); Oliveira (2007); Cavalcanti (2008); Costa (2009); Ferreira (2009); Torres (2009); Souza (2010); Wanderley (2012); Pessoa (2013).
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
6045
Artigo 431- Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal
Palma na dieta de bovinos A bovinocultura leiteira é de grande importância social e econômica para o semiárido brasileiro,
TABELA 4 - Substituição total do milho e parcial do feno do capim-tifton por palma forrageira em dietas para vacas em lactação
principalmente na região nordeste, por ser menos vulnerável à seca, quando comparada com outras explorações agrícolas, pois constitui num dos
0
principais fatores de fixação do homem no campo e de geração de emprego e renda. A escassez e irregularidade acentuada na distribuição de chuvas, tanto no tempo quanto no espaço, com a ocorrência de
longos
períodos
de
estiagem,
motiva
a
suplementação de vacas leiteiras nos sistemas de produções em regiões semiáridas do Brasil (Ferreira et al., 2009).
Leite (kg/dia) Leite corrigido (kg/dia) Gordura (%) CPB (kg/dia) CNDT (kg/dia)
A palma forrageira se apresenta como um dos principais leiteiras
suplementos no semiárido,
alternativos
para
vacas
constituindo uma fonte
Nível de inclusão de palma (%MS)
Item
20 ,3 4 19 ,8 5 3, 83 3, 27 12 ,5 2
12 20 ,2 20 ,1 4, 0 3, 30 13 ,8 1
CV (%)
25
38
51
21 ,7 8 20 ,5 7 3, 66 3, 06 12 ,2 4
20 ,5 8 18 ,9 7 3, 5 2, 80 11 ,4 6
20 ,3 5 19 ,3 1 3, 68 2, 53 10 ,1 1
R²
ER
5,5 Y= 20,65 6,3 Y= 19,76 -
4,5 Y= 3,73
9,6 Y=3,3892- 0, 7 0,0155P 92 0, 11, Y=13,4609 6 93 -0,0566P 9
Consumos de proteína bruta (CPB) e nutrientes digestíveis totais (CNDT). Fonte: Adaptado de Oliveira et al. (2007).
potencial de água e forragem para os animais nesta época do ano. Frente a essa situação, a palma
Bispo (2009) pesquisou a substituição total do milho
forrageira vem sendo introduzida na alimentação do
e parcial do farelo de soja por palma forrageira em
gado leiteiro, sobretudo na forma de farelo, como
níveis de 45; 50; 55; 60 % da matéria seca e ureia
fonte energética (Sá, 2012).
0,2; 0,68; 1,15 e 1,63 em dietas para vacas em lactação e notou que os níveis testados não
Entretanto, apenas com o fornecimento dessa
influência
o
consumo
de
matéria
seca
e
o
cactácea não é possível atender às necessidades
coeficientes de digestibilidade dos nutrientes (Tabela
nutricionais do rebanho, em decorrência da sua
5).
limitação proteica e de fibra. Dessa forma, para adequar a dieta, torna-se necessário que o produtor recorra
a
suplementação
outros
meios
alimentar,
disponíveis
através
do
uso
de de
volumosos e de fontes de proteína. Oliveira et al. (2007) avaliando a substituição total do milho (Zea mays L.) e parcial do feno do
TABELA 5 – Consumo de matéria seca (CMS), fibra em detergente neutro (CFDN) e nutrientes digestíveis totais (NDT) e coeficiente de digestibilidade da matéria seca (CDMS), fibra em detergente neutro (CDFDN), carboidrato total (CDCHOT) e carboidrato não fibroso (CDCNF) de vacas em lactação alimentadas com níveis de palma na dieta
capim-tifton (Cynodon spp) por palma forrageira em dietas para vacas em lactação com diferentes níveis
Item
45
50
CMS (% PC)
3,24
3,18
CFDN (% PC)
1,28
1,29
(0; 12,0; 25,0; 38,0 e 51,0%) de palma forrageira (Opuntia fícus indica L Mill). Constataram que a inclusão de palma forrageira não alterou a produção e o teor de gordura do leite, sendo que o comportamento regular da produção de leite pode ser explicado pelo equilíbrio energético-proteico mantido nas dietas; mesmo com a retirada gradual
CNDT (kg/dia) CDMS CDFDN
fibrosos
CDCNF
palma
supriram
essa
ER
CV%
3,26
3,14
Y=3,205
6,55
1,36
1,31
Y=1,31
7,89
9,9
Y=9,95
9,93
9,97
7,25
10,0
Digestibilidade
CDCHT
da
60
55
Consumo
da fonte energética do milho, os carboidratos não oriundos
Níveis de Palma (%MS)
60,41 Y=61,13 47,49 49,64 49,59 52,07 Y=49,70 65,61 66,11 65,29 65,67 Y=65,67 82,74 84,12 83,29 82,77 Y=83,23 61,76 62,45
59,9
necessidade (Tabela 4). *PC- percentual do peso corporal; ER- equação de regressão; CV- coeficiente de variação Fonte: Adaptado de Bispo (2009).
6046
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
5,69 13,75 6,00 3,92
Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal
Contudo, o aumento dos níveis proporcionou uma
tendo
como
volumoso
a
cana-de-açúcar
diminuição da produção de leite, que se deve
(Saccharum
provavelmente ao excesso de proteína degradada
autora verificou que os níveis de farelo de palma
no rúmen (PDR), causada pelo aumento de ureia
não interferem no consumo de matéria seca em
nas dietas, porém a composição do leite, proteína,
percentual do peso corporal, o que se deve a
gordura e lactose não sofreu alteração, ao contrário
semelhança na concentração dos nutrientes entre
dos sólidos totais que diminuiu com os níveis
as dietas, sobretudo no que se refere aos teores de
testados (Tabela 6).
fibra em detergente neutro, bem como coeficiente
officinarum), variedade RB 72454. A
de digestibilidade da matéria seca e carboidratos TABELA 6 - Substituição total do milho e parcial do farelo de soja por palma forrageira e ureia em dietas para vacas em lactação produção e composição do leite
Item
PL (kg/dia)
PLCG (Kg/dia) Gordura (%) Proteína (%) Lactose (%) Sólidos Totais (%)
13, 51
50 13, 04
55 12, 25
60 11, 54
13, 66
12, 37
11, 93
11, 12
4,2 4 3,2 5 4,2 3
3,7 2 3,1 9 4,4 4
3,9 2 3,2 5 4,4 3
3,8 4 3,2 6 4,3 5
12, 93
12, 33
12, 56
12, 39
pode
ser
atribuído
à
semelhança
entre
a
digestibilidade dos alimentos, portanto, o equilíbrio é determinado pela fibra solúvel em detergente neutro
Níveis de palma (%MS) 45
não fibrosos também não foram influenciados, o que
e pelos carboidratos não fibrosos (Tabela 7). ER
CV (%)
R²
Y=14,2 640,6709 PF Y=14,2 840,8045 PF
0,9 9 5,29
O NRC (2001) recomenda em dietas para vacas leiteiras níveis mínimos 25% de fibra (FDN) e máximos de 44% para CNF, com base na matéria seca, respectivamente. Em decorrência das dietas não terem afetado a digestibilidade da matéria seca
0,9 6
8,39
Y=3,93
-
8,54
Y=3,24
-
3,5
farelo de palma nas dietas. Em relação à variação
Y=4,36
-
1,82
de peso corporal, não houve efeito com o aumento
e da maioria dos nutrientes, a produção de leite, corrigido para 3,5% de gordura e a eficiência alimentar não diferiram entre os níveis testados de
Y=12,8 960,1375 PF
dos níveis de farelo de palma na dieta, embora os 0,4 3
2,77
PL- produção de leite, PLCG- produção de leite corrigida para 4% de gordura, PF- palma forrageira Fonte: Bispo (2009).
níveis de 0 e 3,7% tenham sido negativos. Esses resultados demonstraram que os animais em questão apresentaram uma heterogeneidade em relação ao seu peso corporal. Sugere-se a inclusão de até 15,1% de farelo de palma na dieta de vacas
Portanto a diminuição da produção de leite pode ser
de produção em torno de 12 kg/dia (Tabela 7).
tolerada sobre certas condições econômicas, assim é necessário fazer uma avaliação da relação custo:
Aguiar et al. (2015) trabalhando com 24 novilhas
beneficio com inclusão da palma e ureia na época
mestiças leiteiras 3/4 Holandês-Zebu alimentadas
de utilização. O mais importante a ser observado é
com teores crescentes de palma forrageira (0, 200,
que com a substituição do concentrado ou parte do
400 e 600 g/kg )
mesmo pela palma forrageira, os custos com
volumoso, observou maior peso corporal em 266,57
alimentação podem ser reduzidos com menor
kg e ganho médio diário de 1,18 kg para os teores
utilização de concentrado e a alteração na produção
de palma forrageira de 167,40 g/kg e 121,80 g/kg
de
na dieta, respectivamente. Em relação à conversão
leite
pode
ser
compensada,
tornando-se
economicamente viável (Ferreira et al., 2009).
1
e silagem de sorgo como
-1
-1
alimentar, não houve diferença entre os teores crescentes de palma forrageira na dieta. -1
Palma
Sá (2012) trabalhando com farelo de palma (Opuntia
forrageira na dieta acima de 400 g/kg
deve ser
fícus indica) cv. Gigante, em dietas para vacas
utilizada quando se espera um ganho médio de 780
leiteiras mestiças Holandês x Zebu, em que os tra-
g dia para novilhas mestiças.
-1
tamentos foram constituídos de cinco níveis (0; 3,7; 7,4; 11,2; 15,1) de farelo de palma na dieta total,
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6047
Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal
Nesse contexto, a palma forrageira apresenta-se
elefante sobre consumo e digestibilidade em ovinos,
como recurso alimentar de extrema importância.
verificaram que o consumo de matéria seca em
Devido a suas características nutricionais e de
percentual do peso corporal aumentou com os
adaptação
alimento
níveis de palma, variando de 2,28 a 3,89 %PC,
energético importante para a pecuária na região
ao
semiárido,
sendo
um
provavelmente em decorrência do efeito crescente
Nordeste do Brasil.
na digestibilidade da matéria seca. Esta é uma característica importante da palma, diferentemente
TABELA 7 – Vacas leiteiras alimentadas com níveis de farelo de palma na dieta, consumo, digestibilidade e desempenho
de outras forragens, pois apresenta alta taxa de digestão ruminal, sendo a matéria seca degradada rapidamente, favorecendo maior taxa de passagem e, consequentemente, consumo semelhante ao dos
Nível de farelo de palma
Item
CMS (%PC)
concentrados (Tabela 8).
0
3,7
7,4
11,2
15,1
Equação
CV %
2,88
2,99
2,90
3,00
3,02
Y=2,95
10,3
65,18
65,38
63,69
63,25
63,42 Y=64,18
5,1
97,09
97,99
98,25
96,87
96,86 Y= 97,41
2,4
na dieta. O coeficiente de digestibilidade da fibra
11,54
11,42
11,00
11,06
10,06 Y=11,14
8,0
em detergente neutro (DFDN) apresentou média de
12,09
12,06
12,15
12,09
12,82 Y=12,04
8,4
51,33% de acordo com os níveis de palma. A
0,91
0,85
0,91
0,86
0,82
Y=0,87
11,4
-0,21
-0,02
0,22
0,84
0,21
Y=0,21
85,0
Para o consumo de FDN em percentual do peso corporal, foi observado o consumo máximo de 1,61
DMS (%) DCNF (%) Leite (kg/dia) Leite corrigido (kg/dia) Eficiência alimentar1 VPC2 (kg/dia)
Consumo de matéria seca em percentual do peso corporal (CMS), digestibilidade da matéria seca (DMS), digestibilidade dos carboidratos não fibrosos (DCNF), leite corrigida para 3,5% gordura, 1Eficiência alimentar (kg de leite produzido/kg de MS consumida). 2VPC = Variação de peso corporal Fonte: Adaptado de Sá (2012).
%PC com 24,83% de inclusão da palma forrageira
adição de palma forrageira aumenta o consumo de carboidratos totais e não fibrosos componente de rápida degradação no rúmen, que pode ter favorecido
a
consequentemente,
atividade a
microbiana
digestão,
e,
comportamento
explicado pelo aumento do consumo de matéria seca.
O
coeficiente
de
digestibilidade
dos
carboidratos totais aumentou linearmente com os Palma na dieta de ovinos
níveis de palma utilizado, entretanto os carboidratos grande
não fibrosos apresentaram média de 91,327%. O
importância mundial. No Brasil o rebanho de ovinos
consumo de água diminui linearmente à medida que
no Brasil é estimado em 17. 380.581 cabeças e a
se elevaram os níveis de palma na dieta, em
região nordeste destaca-se por possuir a maior
decorrência de maior consumo de água via palma
proporção da criação nacional com 9.857.754,
(Tabela 8).
A
ovinocultura
é
uma
atividade
de
Sudeste 781.874, Sul 4.886.541, Centro-Oeste 1.268.17, Norte 586.237 (IBGE, 2010).
Diante do exposto, o uso de até 56,0% de palma forrageira em substituição ao feno de capim-elefante
Os longos e constantes períodos de estiagem no
aumenta a ingestão e melhora o aproveitamento dos
semiárido do Nordeste brasileiro têm prejudicado a
nutrientes em dietas para ovinos. Desse modo,
criação de pequenos ruminantes, principalmente
ressalta-se a importância da palma como fonte de
pela falta de forragem e água. Em função disso,
água para os animais, característica de alto valor
atualmente vem crescendo o número de pesquisas,
para regiões semiáridas do nordeste, que sofrem
com alimentos alternativos adaptados a essa região,
constantemente com as irregularidades das chuvas.
tendo a palma forrageira como alternativa para produção animal já que é um alimento rico em água
Souza et al. (2010) avaliando quatro grupos
e apresenta grande produção de matéria seca.
genéticos nativos: Cariri, Barriga-preta, Cara-curta e Morada Nova, com pesos médios iniciais de 37,23;
Bispo et al. (2007) Avaliando a palma forrageira (14,
40,57; 35,88 e 33,29, respectivamente, verificaram o
28, 42 e 56%) em substituição ao feno de capim-
ganho de peso, de dieta à base de palma forrageira
6048
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Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal
em ovelhas nativas confinadas na região do
composto por raspa de mandioca e farelo de palma
semiárido nordestino: as estratégias de alimentação
forrageira.Verificaram
foram; ingredientes separados: palma forrageira
substituição da raspa de mandioca por farelo de
separada da mistura feno + concentrado e mistura
palma forrageiro de 25% de inclusão do farelo de
completa: palma misturada com o concentrado e o
palma, ocorre um incremento de 91,5 g no consumo
feno. O genótipo teve efeito sobre o peso médio
de matéria seca. Os autores não observaram efeito
inicial e final e o ganho de peso total, diário, com
dos níveis de farelo de palma forrageira nas dietas
exceção
O
para o peso vivo final e ganho de peso médio total e
desempenho não sofreu influência das estratégias
o ganho médio diário observado foi 70,0 g/dia e a
alimentares. Entre os grupos genéticos estudados, o
média de conversão alimentar de matéria seca foi
Cariri
13,38.
apenas
e
o
da
conversão
Cara-Curta
tiveram
alimentar.
desempenhos
um
incremento
com
a
superiores, com ganhos totais de 4,49 kg e 3,16 kg, respectivamente. Este fato pode estar relacionado
Treviño (2009) Utilizando a palma forrageira em
ao processo de formação das raças, tanto de suas
níveis 0, 25, 50, 75 e 100%, na base da matéria
origens quanto do tempo sob seleção natural, onde
seca em substituição ao milho sobre o desempenho,
normalmente uma população em que os aspectos de
consumo e digestibilidade em ovinos constatou-se
sobrevivência e reprodução foram mais destacados,
que o consumo de matéria seca apresentou o ponto
levando
mais
de máxima em 60,5% de inclusão da palma na
acelerado. Dessa forma, os grupos genéticos Cariri
dieta, na qual o consumo de MS alcançou 1,77
e Cara-Curta, considerados genótipos de grande
kg/dia. As dietas com 25 a 75% de palma
porte, necessitam de maior demanda de nutrientes,
apresentaram os maiores consumo de matéria seca,
resultando em maiores ganhos.
fatores como o baixo teor de fibra, a alta
os
animais
a
um
crescimento
palatabilidade e alta taxa de passagem da palma, Araújo et al. (2009) trabalhando com ovinos
podem ter contribuído para esses resultados. O
mestiços Santa Inês e sem padrão racial definido,
coeficiente de digestibilidade da fibra em detergente
avaliaram a substituição da raspa de mandioca (0,
neutro
25, 50, 75 e 100% ) por farelo de palma forrageira
substituição do milho pela palma na dieta, estes
cv. Gigante, sendo a relação volumoso: concentrado
resultados demonstram que a palma apresenta alta
de 50:50, em que o volumoso foi o feno de capim
digestibilidade, podendo melhorar a digestibilidade
buffel
de outros volumosos de menor qualidade (Tabela
em avançado grau de maturidade e
amonizado com 4% de ureia, e o concentrado
aumenta
linearmente
em
função
da
9).
TABELA 8- Palma forrageira em substituição ao feno de capim-elefante efeito sobre consumo, digestibilidade de ovinos Consumo
Nível de palma forrageira (% na MS) 56 CV %
Equação Regressão
2
0
14
28
42
R
CMS (%PC)
2,28
2,97
3,86
4,11
3,89 20,68 Y=2,5502+0,0312PF
0,80
CFDN (%PC)
1,24
1,38
1,66
1,57
1,08 30,13 Y=1,1842+0,0322PF - 0,0006PF
0,86
CT (g/d)
491,82 617,98 834,46 860,25 858,54 24,96 Y=537,47+6,9695PF
0,84
CNF (g/d)
144,17 234,71 369,93 438,12 513,68 22,81 Y=151,63+6,7317PF
0,99
Água (L/dia)
3,25
2,14
0,96
0,79
0,44 38,91 Y=2,9126-0,0498PF
CDMS
60,55
66,01
67,99
66,14
69,57
CDFDN
49,61
52,71
52,59
49,07
52,69 10,04 Y=51,33533
CDCT CDCNF
62,26 91,98
68,03 92,07
70,46 92,16
70,49 92,27
73,03 88,14
0,90
Digestibilidade 7,53 Y=62,418+0,1298PF 6,90 Y=64,058+0,1714PF 5,43 Y=91,32715
0,76 0,81 -
Consumo de matéria seca (CMS), fibra em detergente neutro (CFDN) em percentual do peso corporal (%PC), consumo de carboidratos totais (CCT), carboidratos não fibrosos (CCNF), água, coeficiente de digestibilidade da matéria seca (CDMS), fibra em detergente neutro (CDFDN), carboidratos totais (CDCT) e carboidratos não fibrosos (CDCNF). Fonte: Adaptado de Bispo et al. (2007).
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6049
Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal
TABELA 9- Desempenho de ovinos Santa Inês alimentado com palma forrageira em substituição ao milho
Item
Níveis de substituição (%) 0
25
50
75
ER 100
CMS (kg/dia)
1,45
1,66
1,75
1,76
1,63
DFDN (%) IVA (kg/dia) IAP (kg) PVF (kg)
60,95 4,9 0,00 35,88
62,96 4,23 0,91 35,77
70,68 3,57 1,8 35,91
77,41 2,95 2,58 36,04
82,15 2,31 3,45 35,22
Y=1, 45924+0, 01028P0,000085*P² Y=59,463333+0, 227378**P Y= 4, 87266–0, 025640**P Y=0,03622+0, 034347**P Y=35,76
r²
CV (%)
0,77
16,62
0,98 0,98 0,99 -
10,39 7,20 17,90 -
GPT (kg)
9,07
8,67
8,26
7,86
7,45
Y=9,077778-0,016222**P
0,78
16,67
GPD (kg/dia)
0,255
0,236
0,232
0,218
0,197
Y=0,252111-0,000451*P
0,78
16,70
CA
5,68
7,03
7,58
8,02
8,27
Y=6,082+0,0247**P
0,90
24,49
EA (%)
18,26
14,64
12,75
13,61
12,84
Y=16,794-0,0475*P
0,68
23,33
corporal (%PC), ingestão voluntária de água (IVA), ingestão de água via palma (IAP), peso vivo final (PVF), ganho de peso total (GPT), ganho peso diário (GPD), conversão alimentar (CA), eficiência alimentar (EA). Fonte: Adaptado de Treviño (2009).
A ingestão voluntária de água diminui em torno de 25,6 gramas/dia a cada unidade percentual de palma forrageira na dieta. Essa ingestão voluntária reduziu de 4,9 para 2,31 kg de água/dia, entre os tratamentos com 0 e 100% de inclusão da palma, respectivamente. Este comportamento deve-se à quantidade de água contida nos cladódios da palma que substituiu a ingestão de água nos bebedouros. Logo a ingestão de água via palma aumenta com os níveis
de
inclusão
da
palma
0,0
a
3,45%,
comprovando a importância da forrageira em regiões áridas e semiáridas (Tabela 9). Também se verificou que os ganhos de peso total (GPT) e o ganho de peso médio diário (GDMD) apresentaram decréscimo com aumento da palma na dieta (Tabela 9). Este comportamento pode ser explicado devido ao baixo conteúdo de fibra da palma e pela alta taxa de passagem que ela apresenta, diminuindo o tempo do contato com os microrganismos ruminais e consequentemente a produção de ácidos graxos voláteis, que são a principal fonte de energia dos ruminantes, prejudicou o bom desempenho dos ovinos. A conversão alimentar aumenta linearmente com a inclusão da palma na dieta e, consequentemente, a eficiência alimentar, a qual apresentou comportamento linear decrescente com o aumento de palma forrageira na dieta. A substituição total do milho por palma forrageira reduz o ganho de peso, eleva o consumo de matéria seca e melhora a digestibilidade dos nutrientes (Tabela 9). 6050
Beltrão (2012) avaliando níveis de inclusão (15; 30; 45
e
60%)
de
palma
forrageira
(nopalea
cochenillifera) no volumoso da dieta de ovinos mestiços Santa Inês, observaram que houve um decréscimo no consumo de matéria seca à medida que aumentou a ingestão de palma (Tabela 10). Na literatura, existem controvérsias sobre a influência do teor de MS nas dietas sobre o consumo. Segundo Mertens (1994), o percentual da FDN na dieta pode ser positivamente correlacionado com o consumo, quando a energia limitar a ingestão, ou negativamente, quando a capacidade do rúmenretículo for o fator limitante. Os coeficientes de digestibilidade da matéria seca, carboidratos totais e fibra em detergente neutro aumentaram linearmente com a inclusão de palma no volumoso, confirmando a influência desta sobre a digestibilidade e, principalmente, incrementando a digestão da fibra. Para a digestibilidade aparente dos CHOT, os valores médios variaram de 64,2 a 76,94 % com a inclusão da palma nas dietas, podendo ser atribuído ao aumento da digestão da fibra e produção de acetato. A digestibilidade de carboidratos
não
fibrosos
(DCNF)
apresentou
redução de 94,98 para 89,58 % pela inclusão de palma nas dietas, pode-se enfatizar que, mesmo com maior digestibilidade da matéria seca, a inclusão da palma nas dietas, proporcionou menor digestibilidade de carboidratos não fibrosos. Em relação ao ganho de peso diário não foram influenciadas pelos tratamentos, cujo valor médio foi de 144,19 g/dia, este resultado pode ser justificado
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal
seca à medida que se eleva os níveis de palma (Tabela 10).
pela tendência à redução na ingestão de matéria
TABELA 10- Avaliação de diferentes níveis de inclusão de Palma forrageira (nopalea cochenillifera) em substituição ao feno de capim Mombaça no volumoso da dieta de ovinos
Nível de inclusão de palma (%) Item 15
30
45
60
53,29 63,07
48,19 66,72
43,09 66,96
37,99 74,23
CDCHOT
64,2
68,93
67,72
CDCNF
94,82
91,38
92,53
CDFDN
55,99
60,12
GPMD (g/dia)
156,75
145,25
CFDN (g/kg CDMS
0,75
)
Equação Regressão
R²
CV %
Y=58,390-0,34X Y=62,924+0,078.X
74,24 52,00
8,28 8,82
76,94
Y=63,690+0,107.X
92,00
8,66
89,58
Y=95,938-0,105.X
44,10
2,25
57,87
68,82
Y=54,621+0,073.X
34,00
11,84
141,38
133,38
Y=144,19
-
-
Consumo de fibra em detergente neutro (CFDN), CDMS = coeficiente de digestibilidade da matéria seca, CDCHOT = carboidratos totais; CDCNF = carboidratos não fibrosos; CDFDN = fibra em detergente neutro; GPMD= ganho de peso médio diário. Fonte: Adaptado de Beltrão (2012).
Recomenda-se a utilização da palma forrageira no
bui para o aumento na produtividade desses
volumoso de dietas até o nível de 60 %. A inclusão
animais dessa região. Assim, estão em andamento
de 60 % de palma miúda melhora a digestibilidade
pesquisas
dos nutrientes da dieta, a exceção dos carboidratos
quantidade adequada deste alimento na dieta.
não fibrosos. Ferreira et al. (2011)
com
o
objetivo
de
determinar
a
sugeriram um
nível máximo de carboidratos não fibrosos em dietas a base de palma forrageira próximo de 44%, no
Palma na dieta de caprinos
tocante a saúde e função ruminal normais e
A produção de pequenos ruminantes é uma das
adequado desempenho animal.
mais importantes atividades econômicas e sociais do mundo. No Brasil, em 2010, o rebanho caprino diferentes
teve um aumento de 1,6% comparação ao ano de
suplementos associados à palma forrageira em
2009, apresentando valor de 9.312.784 animais
dietas
sendo que 8.458.578 destes animais encontram-se
Pessoa
et para
al.
(2013)
ovinos:
avaliaram
sobre
o
consumo
e
digestibilidade. A espécie de palma utilizada foi a
no nordeste (FAO, 2010).
Opuntia ficus indica (L) Mill cv. Gigante associada ao farelo de trigo, farelo de soja, farelo de algodão,
O Nordeste brasileiro tem se destacado durante
caroço de algodão a dieta a base de palma
séculos como área de vocação para a exploração
forrageira, bagaço de cana de açúcar e ureia.
de caprinos e ovinos, pelo potencial da vegetação
Verificaram que diferentes suplementos associados
natural para a manutenção e sobrevivência dos
à palma forrageira, não altera o consumo, a
animais
digestibilidade aparente dos nutrientes, exceto o
ruminantes apresentam maior eficiência produtiva
consumo de extrato etéreo, que se mostrou superior
que
para
rusticidade e capacidade de adaptação a uma
o
tratamento
suplemento
com
com alto
caroço teor
de
deste
algodão, nutriente.
destas
qualquer
ampla
espécies.
outro
variedade
pequenos
ruminante devido de
condições
climáticas,
de algodão e a alta digestibilidade deste nutriente,
caprinos em regiões castigadas pelas secas. Desta
observou-se maior digestibilidade.
forma, a palma forrageira por sua característica de à
de
sua
Considerando o alto teor de extrato etéreo do caroço
resistência
existência
à
comprovada
alta
pela
Estes
estiagem,
produção
aliada
à
de
alta
A associação da palma forrageira se apresenta
palatabilidade e produção de biomassa tem crescido
como uma boa alternativa alimentar para ovinos na
o uso na alimentação de caprinos, uma vez que, é
região semiárida do nordeste brasileiro, o que contri-
uma fonte alimentar que pode viabilizar a produção animal no semiárido do Nordeste, devido às suas
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6051
Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal
características morfofisiológicas e nutricionais (Lira
Constatou-se que os níveis de palma não alteraram
et al., 2006).
o consumo e a produção de leite. Recomenda-se o tratamento com 35% de inclusão de palma por
Golveia (2012) avaliaram a substituição parcial do
apresentar menor comprometimento da receita do
milho pela palma forrageira miúda em níveis 20, 25,
produtor com a alimentação (Tabela 11).
30, 35 e 40% na base de matéria seca em dietas para cabras Saanen x Pardo alpina em lactação.
TABELA 11- Substituição parcial do milho pela palma forrageira miúda em dietas para cabras em lactação Níveis de palma (%)
Item
Equação
CV(%)
20
25
30
35
40
Produção de leite (kg/dia)
1,13ª
1,14ª
1,23ª
1,32ª
1,12ª
Y=1,18
12,60
Consumo de MS (% PV)
3,85ª
4,14ª
4,21ª
4,37ª
4,01ª
Y=4,12
19,29
Custo total MS (R$)
0,50
0,51
0,53
0,49
0,43
-
-
Preço do leite (R$)
1,20
1,20
1,20
1,20
1,20
-
-
Receita do leite (R$)
1,36
1,37
1,48
1,58
1,34
-
-
Dieta (R$)/ kg MS
0,33
0,32
0,30
0,29
0,27
-
-
CRA (%)
36,80
37,36
35,83
31,00
31,80
-
-
Comprometimento da receita com alimentação (CRA). Fonte: Golveia (2012).
O tratamento com 35% de palma apresentou o
Entretanto, o teor de gordura do leite reduziu
menor comprometimento (31%), perfazendo uma
linearmente com a inclusão, do valor 3,84 para
economia de 6,6% para dieta com 35% de inclusão.
2,97%, para os níveis de zero e 27,6% de inclusão,
O importante a destacar com esses resultados é o
respectivamente, decorrente do decréscimo no teor
potencial que a palma forrageira pode apresentar
de extrato etéreo das dietas, já que a síntese de
para produzir leite ao substituir parcialmente o milho
lipídeos no leite de cabras é afetada pelos
sem alterar a produção de leite. Os resultados
triglicerídeos da dieta.
positivos que compõem os custos de produção palma
Tosto (2011) avaliou o efeito da utilização de níveis
ressaltam sua importância na composição de dietas
com base na matéria seca (8,4; 18,8; 31,2 e 48,3%)
para exploração da caprinocultura leiteira na região
de feno de erva-sal associado à palma forrageira in
semiárida.
natura, em dietas para cabritos ½ Boer confinados,
somados
aos
aspectos
nutricionais
da
constatou-se efeito quadrático para o peso vivo final, Costa et al. (2009) avaliaram a substituição em
onde o maior peso ao abate foi de 34,11kg com
níveis
do farelo de milho por palma
38,36% de feno de erva-sal. O ganho de peso diário
forrageira, em dietas para cabras em lactação, até o
teve comportamento linear crescente onde o valor
nível máximo de inclusão de 27,6% de palma e
máximo obtido de 216,95 g dia
observou que não houve efeito sobre a produção de
31,2% de feno de erva-sal e a conversão alimentar
leite (média 1,58 kg/dia), apesar de ter havido
dos animais apresentaram média de 5,53 (Tabela
redução no teor de energia das dietas com o
13).
crescentes
-1
para dietas com
aumento no nível de palma, portanto, este resultado pode ser parcialmente explicado pelo aumento linear no consumo de matéria seca à medida que aumentou a participação da palma forrageira.
6052
A menor ingestão de matéria seca 47,12kg pelos cabritos alimentados com 8,4% de feno de erva-sal possivelmente está relacionada com a alta
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Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal
participação de palma forrageira (74,9%) e as
compuseram as dietas experimentais, assim como o
características da composição química desta dieta
sistema de criação (confinamento) no qual os
(49,4% de carboidrato não fibroso), já que, o baixo
cabritos
consumo
contribuíram com os ganhos de peso obtidos.
de
dietas
com
elevados
níveis
de
foram
conduzidos,
possivelmente
carboidratos solúveis está associado a complicações
A produção de caprinos desempenha um papel
metabólicas
crucial no desenvolvimento do Nordeste brasileiro
relativas
ao
uso
demasiado
de
concentrados.
por representa, uma boa alternativa de trabalho e renda, por ser fonte de alimentos de alto valor
O uso de 31,2% de feno de erva-sal e de 37% de
biológico (leite, carne e vísceras), bem como, de
palma forrageira, em dietas para cabritos ½ Boer,
pele de excelente qualidade. Desta forma, é
em
confinamento
possível a utilização do feno de erva-sal associado à
proporcionou os maiores ganhos de peso corporal.
palma forrageira como fontes de volumosos para
Bem como a associação entre os ingredientes (teor
caprinos.
sistema
de
engorda
em
de fibra, carboidratos solúveis e proteína) que
TABELA 13- Desempenho de caprinos F1 Bôer x mestiços, confinados e alimentados com feno de erva-sal associado à palma forrageira Níveis de feno erval-sal (% na MS)
Variáveis PF (kg) -1
GPD (g.dia ) CTMS (kg) CA
8,4
18,8
31,2
48,3
EPM
Probabilidade L Q
27,79
31,14
33,01
31,57
1,41
0,07
0,06
145,93 47,12
169,6 53,76
216,95 65,76
207,61 72,72
18,79 4,75
0,03 <0,01
0,24 0,61
5,46
5,47
5,2
5,97
0,3
0,36
0,26
PF = peso final; GPD = ganho de peso diário; CTMS = consumo total de MS; CA = conversão alimentar; EPM – erro padrão da média; L – linear; Q – quadrática. Fonte: Adaptado de Tosto (2011).
CONSIDERAÇÕES FINAIS A palma forrageira é considerada uma das principais
do rebanho, sendo necessário realizar a correção da
plantas capazes de produzir grande quantidade de
proteína com a utilização de ureia e associar a uma
matéria seca para alimentação de ruminantes no
fonte de fibra que apresente efetividade.
semiárido, com a particularidade de estar disponível no período de maior escassez de forragem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Portanto, recomenda-se a palma forrageira na alimentação de ruminantes, uma vez que, apresenta alto conteúdo de água (90%) o que possibilita a produção animal nos períodos críticos do ano. É um alimento de alto valor energético, importante para a pecuária
no
Nordeste,
rico
em
carboidratos,
principalmente não fibrosos e apresenta altos coeficientes de digestibilidade. Não se recomenda o fornecimento exclusivo aos animais, pois apresenta limitações quanto ao valor
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diferentes intensidades de corte e espaçamentos. Revista Caatinga, v.20, n.4,
não atendendo a todas as necessidades nutricionais
p.38-44.
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
6053
Artigo 431 – Palma forrageira: aspecto do cultivo e desempenho animal
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Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6041-6055, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
6055
Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema – Alagoas Leite informal, legislação, leite bovino.
1
Amanda Graça Gomes Ferreira 2 Daniele Gomes de Lyra 3 José Crisólogo de Sales Silva 1 Francisca Marcia França Soares 4 Cleyton de Almeida Araújo
Vol. 14, Nº 04, jul./ago. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br
Eletrônica 1
Especialista em Bovinocultura de Leite; Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL; Santana do Ipanema/AL. E-mail: camandaggomes@hotmail.com 2 Mestre em Ciências da Nutrição, Professora do Instituto Federal de Alagoas – IFAL. 3 Professor de Zootecnia Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL. 1 Especialista em Bovinocultura de Leite; Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL; Santana do Ipanema/AL. 4 Graduanda em Zootecnia, Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL; Santana do Ipanema/AL.
RESUMO O leite é um alimento de elevado valor nutricional, apresenta em sua composição uma riqueza de
A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
PROFILE OF THE CONSUMERS OF BOVINE MILK IN NATURA IN THE MUNICIPALITY OF SANTANA DO IPANEMA - ALAGOAS
nutrientes, o que também o torna um excelente meio
ABSTRACT
de cultura para a maioria dos microrganismos. O
Milk is a food of high nutritional value; it has a rich
presente estudo teve como finalidade realizar um
nutrient composition, which also makes it an
levantamento do perfil e hábitos dos consumidores
excellent culture medium for most microorganisms.
do leite informal. O perfil dos consumidores de leite
The objective of the study was to carry out a survey
informal da cidade de Santana do Ipanema foi obtido
of the profile and habits of consumers of informal
através da aplicação de um questionário constituído
milk. The profile of informal milk consumers in the
de 22 questões. Os critérios de inclusão foram
city of Santana do Ipanema was obtained through
possuir idade igual ou superior a 18 anos e tomar
the application of a questionnaire consisting of 22
leite informal. Dentre os 196 entrevistados, 85,2%
questions. The inclusion criteria were to be 18 years
eram representantes do sexo feminino e a maioria
of age or older and to take informal milk. Among the
dos
196
entrevistados
possuía
como
nível
alfabetização o 1º grau incompleto (40,3%). principal
motivo
pelos
85.2%
were
female
representatives and the majority of the interviewees
entrevistados
had incomplete elementary school (40.3%) as literacy level. The main reason respondents stated
(36,7%). Apesar da maioria dos entrevistados (77%)
that they consumed informal milk was the taste
terem conhecimento que o consumo de leite cru
(36.7%). Although most respondents (77%) were
pode acarretar doenças, a maioria dos entrevistados
aware that consumption of raw milk could lead to
(81,1%) não tinha conhecimento sobre a ilegalidade
illness, most respondents (81.1%) were unaware of
da
Sugerimos
the illegality of raw milk marketing. We suggest
atividades educativas de conscientização para os
educative awareness activities for informal milk
consumidores de leite informal, acerca dos riscos de
consumers about the risks of disease transmission.
transmissão de doenças. Palavras-chave: leite informal, legislação, leite
Keyword: bacteria, Characteristics, Quality, legislation
de
leite
os
interviewees,
O
afirmaram consumir o leite informal foi o sabor
comercialização
quais
de
cru.
bovino. 6056
Artigo 432 – Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema- Alagoas
INTRODUÇÃO O leite é um dos principais produtos agropecuários em todo o mundo. Além da importância econômica,
chamadas
doenças
transmitidas
por
alimentos
(DTAs).
caracterizada por significativa geração de empregos
A qualidade do leite in natura é influenciada por
e renda, o produto ainda desempenha um papel
muitas variáveis, entre as quais se destacam fatores
fundamental na alimentação humana (GOLDBARG,
zootécnicos associados ao manejo, alimentação,
2007).
potencial
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2010 a produção de
genético
dos
rebanhos
e
fatores
relacionados à obtenção e armazenagem do leite (MÜLLER, 2002).
leite de vaca no Brasil chegou a 30,7 bilhões de litros, um acréscimo de 5,6% sobre o ano anterior. Foram ordenhadas 22,9 milhões de vacas em todo o país, representando 10,9% do efetivo total de bovinos. A maioria da produtividade de leite foi no Sul (2.388 litros/vaca/ano), com destaque para Santa Catarina (2.432 litros/vaca/ano). Minas Gerais
Depois de secretado no úbere, o leite pode ser contaminado por microrganismos a partir de três principais fontes: de dentro da glândula mamária, da superfície exterior do úbere e tetos, e da superfície do equipamento e utensílios de ordenha e tanque (SANTOS & FONSECA, 2001).
foi responsável por 27,3% da produção nacional de leite, Rio Grande do Sul por 11,8%, e Paraná por
Devido ao leite ser um produto muito perecível quando obtido sob condições higiênico-sanitárias
11,7% (IBGE 2010).
deficientes possui elevada contagem bacteriana A região nordeste produz 4 bilhões de litros, 13
total, o que constitui um risco à saúde da população,
lugares do leite do Brasil, e Alagoas contribui com
principalmente quando consumido sem tratamento
7%
térmico (NERO et al., 2005).
do
total
do
leite
nordestino.
Segundo
informações técnicas da Embrapa, a produção de leite do estado constitui-se, principalmente, de
Apesar da proibição legal imposta à comercialização
pequenos
concentrada
do leite cru no Brasil através da Lei nº 1.283 de
principalmente no Agreste, nas microrregiões de
18/12/1950 e do Decreto nº 30.691 de 29/03/1952
Batalha, Palmeiras dos Índios e Santana do
(BRASIL,
Ipanema. Nessas três microrregiões, em 2010, foi
Normativa Nº 51 de 18 de setembro de 2002,
produzidos 150 milhões de litros de leite, que
também proíbe o consumo e a comercialização de
representa 65% do volume de todo o estado
leite in natura, porém diversos pesquisadores (LIRO;
(MAIOR, 2012).
GRANJA; ZOCCHE, 2011; LONGHI et al., 2010;
produtores
e
está
1950;
BRASIL,
1952),
a
Instrução
NERO et a al., 2009, SILVA et al., 2009) demostram O leite é um alimento de elevado valor nutricional, apresenta em sua composição uma riqueza de
que esse consumo ainda existe em várias regiões do país.
proteínas, vitaminas, gorduras, carboidratos, sais minerais, além de uma alta digestibilidade. Esses fatores também são relevantes para considerá-lo um excelente meio de cultura para a maioria dos microrganismos (SILVA et al., 2009).
Portanto a adoção de medidas que evitem o consumo e a comercialização de leite cru depende do perfil do consumidor, que é quem exige esse tipo de produto, além de ser necessária a busca de
O leite bovino é o produto oriundo da ordenha
opções para o destino dessa produção informal.
completa, ininterrupta, em condições de higiene, de
Análises dessa natureza são mais eficientes sendo
vacas sadias, bem alimentadas e descansadas
efetuadas isoladamente em pequenas regiões, já
(BRASIL, 1952). Denomina-se leite cru ou leite in
que as realidades de produção e consumo de leite
natura aquele leite que não sofreu o térmico
cru são extremamente distintas em diferentes partes
adequado (BRASIL, 2002), ou seja, é aquele leite
do país (NERO et al., 2003).
que não tem garantia de isenção de patógenos e que, se consumido, pode resultar em doença, as
O trabalho teve como finalidade apresentar um
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6057
Artigo 432 – Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema- Alagoas
levantamento do perfil e hábitos dos consumidores
que 75,8%
dos
entrevistados
do leite, visando identificar o consumidor de leite in
Goldbarg (2007) entrevistou 100 pessoas em três
natura (cru) e avaliar seus conhecimentos quanto ao
supermercados no município de Volta Redondas
risco que esse leite pode provocar na saúde do
(RJ) e também identificou que a maioria (65%) dos
consumidor.
entrevistados
eram
mulheres.
eram
mulheres.
Considerando
o
estado civil, resultado similar foi observado por METODOLOGIA
Goldbarg (2007) no qual aproximadamente 50% dos
O perfil dos consumidores de leite informal da
entrevistados eram casados e 40% eram solteiros.
população de Santana do Ipanema foi obtido através da aplicação de um questionário constituído de 23
Em
relação
à
faixa
etária,
a
maioria
dos
questões. O questionário buscou investigar dados
entrevistados (42,3%) tinha entre 21 e 40 anos, 8,2%
pessoais, socioeconômicos e o consumo de leite
tinham entre 18 e 20 anos, 31,6% tinham entre 41 e
informal.
59 anos e 17,9% tinham idade igual ou superior a 60 anos (Gráfico 1). Resultado similar foi descrito por
Os dados foram coletados durante os meses de
Longhi et al. (2010), no qual a maioria (35,5%) dos
agosto de 2012 e novembro de 2012, na área
entrevistados possuíam idade entre 20 e 40 anos. Já
urbana do município de Santana do Ipanema, AL. A
Sousa et al. (2005) relataram que a maioria dos
pesquisa foi realizada nos bairros da área urbana:
entrevistados (41,7%) tinham entre 41 a 60 anos,
Domingos Acácio, Clima Bom, Monumento, Santo
mas também identificou um alto percentual (37%) de
Antônio, Baraúna, São Cristóvão, Lagoa do Junco,
pessoas
Santa Luzia, Santa Sofia, Bebedouro, São José e
provavelmente devido ao local de coleta de dados
Centro. Foi realizada visitas no horário da manhã em
(feira, supermercado e mercado público).
com
idade
entre
21
e
40
anos,
cada bairro. Os critérios de inclusão foram possuir idade igual ou superior a 18 anos e tomar leite informal. A avaliação estatística foi descritiva com o auxílio do Microsoft Excel.
GRÁFICO 1. Faixa etária dos entrevistados no município de Santana do Ipanema-AL, no período de agosto a novembro de 2012.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram entrevistadas em média 16 a 25 pessoas por bairro, totalizando 196 indivíduos. A maioria 56,6% (111) dos entrevistados nasceu no município de Santana do Ipanema, 30,1% (59) nasceu em outros municípios do estado de Alagoas e 11,2% (22) eram do estado de Pernambuco e 2,0 % (4) provenientes de outros estados do Brasil. Dentre as principais profissões exercidas pelos entrevistados, a maioria
Fonte: Elaborado pelo autor.
(38,8%) era agricultor, seguido de dona de casa (17,9%) e professor (7,1%), Agente de saúde (5%) e
A maioria dos entrevistados possuía como nível de
vendedor (4,1%).
alfabetização
o
não
alfabetizado
com
(8,7%),
alfabetizado (6,6%), 1º grau incompleto (40,3%), 1º Dentre os 196 entrevistados, 85,2% (167) eram
grau completo (2%), 2° grau incompleto (7,7%), 2°
representantes do sexo feminino e 14,3% (28) do
grau completo (5,6%), técnico profissionalizante
sexo masculino. Deste total, 45,4% (89) tinha uma
(1%), superior incompleto (2,6%), superior completo
união estável e 27% (53) eram solteiros, e 12,2%
(5,6%)
(24) dos entrevistados definiram sua relação como
semelhantes foram encontrados por Nero et al.
união estável. Resultado semelhante foi encontrado
(2003) e Longhi et al. (2010), os quais constataram
por Longhi et al. (2010), o qual entrevistou indivíduos
que a maioria dos entrevistados 54,73% e 50,5%,
nos seus domicílios em Arapongas-PR, identificando
respectivamente, tinham como nível de escolaridade
e
pós-graduação
o primeiro grau incompleto. 6058
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(1,5%).
Resultados
Artigo 432- Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema- Alagoas
Observou-se
que
em
relação
à
renda
dos
afirmaram consumir o leite informal, verificamos que
entrevistados, a maioria (51,5%) tinham a renda
a maioria dos entrevistados considera o leite mais
entre 1 e 2 salários mínimos, 28,6% tinha a renda
gostoso (36,7%), conforme descrito na tabela 1.
inferior a 1 salário mínimo; apenas 3,1% dos
Resultados semelhantes (40%) foram descritos por
entrevistados recebiam mais de 5 salários mínimos e
Liro, Granja e Zocche (2011) que relataram como
8,7% não souberam ou não quiseram responder.
justificativa para o consumo do leite in natura o fato
Entretanto, resultados distintos dos obtidos nessa
de ser mais gostoso.
pesquisa foram relatados por Longhi et al. (2010) dos
Longhi et al. (2010) também detectaram como
entrevistados tinha renda familiar entre 2 a 4 salários
preferência dos entrevistados o consumo de leite cru
mínimos e Goldbarg (2007) constatou que a maioria
por este apresentar melhor sabor (28,2%) que o leite
(33%) recebia mais do que 3-5 salários mínimos.
formal, e também por apresentar menor preço
Identificamos ainda em nosso estudo que 44,9% dos
(28,2%). Já Silva et al. (2009) descreveram diversos
entrevistados recebiam auxílio financeiro do governo
argumentos para o consumo do leite informal, como:
federal (bolsa família).
ser
que
verificou
que
a
maioria
(67,8%)
mais
forte,
mais
saudável,
não
conter
conservantes, ser um produto fresco, ser mais Com relação a variável de consumo de leite identificamos
que
22,4%
consomem
leite
diariamente e 21,9% consomem mais de uma vez por dia. Estes resultados são semelhantes ao relatados por Goldbarg (2007) o qual identificou que 47% dos entrevistados consomem leite quase que diariamente (6 ou 7 vezes por semana). Já Soares et
saboroso. TABELA 1.
Principais
razões
relatadas
pelos
consumidores pela preferência do consumo de leite informal, em Santana do Ipanema, entre agosto de 2012 a novembro de 2012 Razões
FA
FR (%)
entrevistados (84%) possui o hábito de ingerir leite
Considerado “saboroso”
72
36,7
diariamente, e, dentre estes 28% afirmam consumir
Considerado “mais forte”
32
16,3
leite mais de uma vez ao dia.
Considerado “mais saudável”
23
11,7
Mais barato (ou menor custo)
14
7,1
sem fervura) foi verificado em 10,2% (20) das
Considerado “mais puro”
11
5,6
residências, entretanto todos os consumidores de
Considerado “mais prático”
10
5,1
Outra opção
34
17,1
Total
196
99,6
al.
(2010)
verificaram
que
a
maioria
dos
Quanto o consumo de leite cru, ou seja, (in natura,
leite cru também ingeriam leite cru fervido. Este dado é maior do que o identificado por Neroet al. (2003) e Liro, Granja e Zocche (2011), os quais verificaram que 4,17% e 2,11%, respectivamente, da
Fonte: Elaborado pelo autor.
população consumidora que não ferviam o leite antes de consumir.
As principais formas de consumo do leite apontadas foram mingau (1,5%), doce de leite (1%), vitamina
O consumo de um alimento é considerado frequente
(8,75%), com achocolatado (4,1%), coalhada (1%),
quando sua ingestão é maior ou igual a 4 vezes por
ingrediente para bolo (2,6%), com café (15,3%), com
semana.
relatou
outro alimento (51,5%), consumo direto (14,3%),
consumir o leite cru (n = 20), a maioria relatou
sendo que o consumo como “com outro alimento”,
consumi-lo raramente (60%), sendo o consumo
seguido de leite com café e consumo direto /puro
frequente do leite in natura de 15%. Já em relação
foram os de maiores expressividades. Os dados
ao consumo de leite informal fervido, a maioria
correspondentes as formas de consumo são distintas
(66,3%) tem um consumo frequente.
daqueles observados por Nero et al. (2003), que
Dentre
os
entrevistados
que
observaram, em seu trabalho, que a forma mais Em relação ao motivo pelos quais os entrevistados
comum de consumir leite (30%) é misturada a algum
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6059
Artigo 432 – Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema- Alagoas
entrevistados
Entretanto o acondicionamento e transporte para
consomem misturado com café; 25% consomem o
posteriormente comercialização do leite com maiores
leite puro (sem nenhuma adição), 6% consumem
índices
tipo
de
achocolatado;
27%
dos
com frutas; 4% com cereal e 8% com outros produtos, tais como cevada e canela. Já Liro, Granja e Zocche (2011) identificaram que dentre os
de ocorrência eram
vasilhas
plásticas
(41,8%), leiteiras de metal (12,8%). Estes dados não estão de acordo com o relatado na literatura, já que
consumidores de leite, 40% o destinavam para o
Nero et al. (2003) e Liro, Granja e Zocche (2011), os
consumo direto, e 37,41% para fazer derivados e
quais identificaram que a maioria dos consumidores
outros alimentos (queijo, coalhada, doce).
ao comprar o produto o mesmo se encontrava armazenado em garrafas plásticas tipo pet, 54,22% e
A maioria (63,3%) dos entrevistados apresentaram
47%, respectivamente.
características de consumo inferior a um litro de leite por dia na sua casa, e 28,6% consomem de 2 a 3 litros por dia. Longhi et al. (2010) afirmaram que do
Quanto ao horário de comercialização do produto foi
total dos entrevistados 48,7% tinham o habito de
um fator bem variável onde se concentrou entre 7h e
consumir diariamente menos de 1 litro de leite;
8h da manhã (69,6%), antes das 7h (18,8%), após
46,7% consumiam entre 1 a 2 litros/dia e 4,5%
as
consumiam mais de 3 litros/dia.
identificados por Nero et al. (2003) onde o horário de
8h
(10,7%).
Resultados
distintos
foram
maior entrega de leite cru nas residências ocorria Considerando a metodologia de comercialização do
entre 9h (26,06%) e 10h (26,06%), e Liro, Granja e
leite, a maioria dos entrevistados (57,1%) compra o
Zocche (2011) a entrega do leite se concentrou entre
leite “porta a porta”, na vizinhança (21,9%), na
8h (18,9%) e 10h (17,6%). O resultado encontrado
padaria (7,1%), e uma parcela tem o leite no próprio
no nosso estudo é positivo, pois a ordenha é feita
sítio (7,7%) (Gráfico 2).
Resultado semelhantes
bem cedo e quanto menor o tempo de exposição do
foram encontrados por Nero et al. (2003) e Liro,
leite à temperatura ambiente, menor seu nível de
Granja e Zocche (2011), os quais identificaram que a
contaminação.
maioria
dos
entrevistados
89,44%
e
38%,
respectivamente, relataram que recebiam o produto
A maioria dos entrevistados (89,8%) tinha como
na própria residência.
metodologia o processo de fervura antes da utilização (Gráfico 3). Resultados semelhantes são
GRÁFICO 2. Local onde é adquirido o leite in natura
relatados na literatura no qual o percentual varia de
no município de Santana do Ipanema-AL
81,5% a 97,89% (NERO et al., 2003;SILVA et al., 2009; SOARES, et al., 2010; LIRO, GRANJA e ZOCCHE, 2011). GRÁFICO 3. Tratamento realizado no leite antes do seu consumo pelos entrevistados
Fonte: Elaborado pelo autor.
Dentre os consumidores que compram o leite porta a porta (112), o recipiente utilizado eram basicamente os de Vasilha Plástica com (73%), vasilha de alumínio (22%), garrafa pet (4%), não informou (1%). 6060
Fonte: Elaborado pelo autor.
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Artigo 432 – Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema- Alagoas
TABELA 2. Principais razões relatadas pelos
consumo de leite cru desde 1950 (BRASIL, 1950),
consumidores que justificam a fervura do leite in
ainda é muito alto o percentual dos entrevistados
natura antes do consumo, em Santana do
que desconhecem a proibição da comercialização de
Ipanema
leite in natura.
Razões
Frequência
Porcentagem
(n)
(%)
GRÁFICO 4. Percentual da questão: “Você sabia
Matar as bactérias
117
59,7
que é proibido comercializar leite cru?”
Porque não gosta do leite
26
13,3
Tradição
20
10,2
Outra opção
33
16,8
196
100
cru
Total Fonte: Elaborado pelo autor.
Quando questionados sobre o processo térmico relatado por eles a maioria dos entrevistados (47,4%) responderam que preferem desligar o fogo, após o início da fervura, seguido de realização de
Fonte: Elaborado pelo autor.
fervura duas vezes (25,5%), e realização da fervura, e manutenção de fogo baixo durante 5 minutos (9,7%). Resultado semelhantes foram descritos por Nero et al. (2003) e Liro, Granja e Zocche (2011), os quais identificaram que a maioria dos entrevistados 67,63% e 57,63%, respectivamente, desligavam a fonte de calor assim que o produto entrava em ebulição.
conhecimento que o consumo de leite cru pode acarretar doenças e (23%) relatou que desconhece o
leite
pode
transmitir
doenças,
sendo
semelhantes a valores evidenciados e obtidos por Longhi et al. (2010) e Liro, Granja e Zocche (2011), os quais relataram que a maioria dos entrevistados 71,7%
A aquisição de leite informal tem relação com a praticidade na compra e cultura do consumo deste tipo de produto na região. O desconhecimento que há no processo de fervura ainda não é difundido para a população consumidora, uma vez que, o
A maioria dos entrevistados (77%) relatou ter
se
CONSIDERAÇÃO FINAL
e
77,4%,
respectivamente,
tinham
conhecimento de que o leite pode transmitir doenças. Entretanto Nero et al. (2003) verificaram que 68,09% sabiam que o leite pode transmitir doenças. A maioria dos entrevistados (81,1%) não tinha conhecimento sobre a legislação de comercialização
mesmo é ineficiente para manter o produto livre de contaminação. O leite informal é proibido de ser comercializado por lei, tornando isso mais um fator que contribui fortemente para manutenção do hábito de ingerir o produto. Sugerimos campanhas educativas no município para os consumidores com intuito de conscientizar a população dos riscos do consumo do leite cru in natura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária. Departamento Nacional
de leite cru (Gráfico 4). Outros estudos (Nero et al.
de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Regulamento de Inspeção Indústria e Sanitária
2003; Longhi et al. 2010) também detectaram alto
de Produtos de Origem Animal. Aprovado pelo
percentual (83,8% e 83,8%, respectivamente) de desconhecimento sobre a ilegalidade da venda de
Decreto 30.691 de 29 de março de 1952. Rio de Janeiro. 1952. Alterado pelo Decreto 29.093, de
leite cru. Apesar de existir legislação que proíba o
30/04/1956, Decreto 1.255, de 25/06/1962,
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6061
Artigo 432 – Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema- Alagoas
Decreto 1.236, de 02/09/1994, Decreto 1.812, de 08/02/1996, Decreto 2.244, de 04/06/1997 e
NERO, L. A.; MATTOS, R.M.; BELOTI, V.; BARROS, F.A.M.; PINTO, N.A.P.J.; ANDRADE, J.N.; SILVA,
Decreto 6.385 de 27/02/2008. BRASIL. Instrução Normativa nº 51, de 18 de setembro de 2002. Aprova os Regulamentos
P.W.; FRANCO, M.G.D.B. Leite cru de quatro regiões leiteiras brasileiras: perspectivas de
Técnicos de Produção, Identidade e Qualidade do Leite tipo A, do Leite tipo B, do Leite tipo
estabelecidos pela Instrução Normativa 51. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas,
C, do Leite Pasteurizado e do Leite Cru Refrigerado e o Regulamento Técnico da
atendimento
dos
requisitos
v. 25, n. 1, p. 191-195. 2005. SILVA, P.W.; FRANCO, M.G.D.B.
microbiológicos
Leite cru de
Coleta de Leite Cru Refrigerado e seu Transporte a Granel. Diário Oficial da União,
quatro regiões leiteiras brasileiras: perspectivas de atendimento dos requisitos microbiológicos
Brasília, p.13, 21 set. 2002. Seção 1. GOLDBARG, M. Perfil do Consumidor de Leite da cidade de Volta Redonda.2007. Monografia
estabelecidos pela Instrução Normativa 51. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas,
(Pós-Graduação em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal e Vigilância Sanitária
SILVA, C. P. A.; ARAÚJO, M. C. G.; CIRILO, R. L.; CIRILO, R. L.; MARQUES, R. C. P. Dados
em Alimentos) – Universidade Castelo Branco, RJ, 2007. LIRO, C. V.; GRANJA, R. E. P.; ZOCCHE, F. Perfil
preliminares do perfil do consumo de leite e derivados lácteos no município de Currais Novos – RN. Anais do VI Congresso de Pesquisa e
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Inovação da Rede Norte e Nordeste Tecnológica. Belém – PA. 2009.
Goiânia, v.12, n.4, p. 718 – 726, out/dez. 2011. IGBE 2010: Disponível em:
SOARES, K. M. P.; GÓIS, V. A.; AROUCHA, E. M. M; VERÍSSIMO, A. M. O. T.; SILVA, J. B. A.
http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=n oticia&id=1&idnoticia=2002&busca=&t=ppm-
Hábitos de consumo de leite em três municípios do estado do Rio Grande do Norte. Revista
2010-rebanho-bovino-nacional-cresce-2-1-chega-
Verde (Mossoró – RN – Brasil), v.5, n.3, p.160 -
209-5-milhoes. LONGHI, R.; MORENO, A. C. P; REIS, A. B.; OKANO, Werner; ARAGON-ALEGRO, L. C.; SANTANA, E. H. W. Perfil dos consumidores de leite cru da cidade de Arapongas – PR. Revista Instituto Latic. “Cândido Tostes”, Mar/Abr, nº
v. 25, n. 1, p. 191-195. 2005.
164 julhos/setembros de 2010. SOUSA, D.D.P. Consumo de produtos lácteos informais em Jacareí-SP. São Paulo, 2005. 114 f. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal, Universidade de São Paulo. SANTOS, M. V.; FONSECA, L. F. L. Importância e
373, 65: 14-19, 2010. MAIOR, B. S. Beltrão quer melhorar a produção de Leite em Alagoas, 2012. Disponível em: http://cadaminuto.com.br/noticia/2012/05/04/joaq
efeito de bactérias psicotróficas sobre a qualidade do leite. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 15, n. 82, p. 13-19, 2001.
uim-beltrao-quer-melhorar-a-producao-de-leiteem-alagoas. MÜLLER, E. E. Qualidade do leite, células somáticas e prevenção da mastite. Simpósio sobre Sustentabilidade
da
Pecuária
Leiteira
na
Região Sul do Brasil, v. 2, p. 206-217, 2002. NERO, L. A.; MAZIERO, D.; BEZERRA, M. M. S. Hábitos alimentares do consumidor de leite cru de Campo Mourão – PR. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 24, n. 1, p. 21-26, jan. /Jun. 2003.
6062
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ANEXO Anexo I – Questionário utilizado na entrevista PESQUISA DO PERFIL DO CONSUMIDOR DE LEITE BOVINO NO SERTÃO
QUESTIONÁRIO Data de aplicação: __________________ Local:_____________________________ CONSOME LEITE BOVINO? (de vaca) ( ) SIM
( ) NÃO
IDENTIFICAÇÃO 1. ORIGEM (onde mora?) Área urbana ( )
Área rural ( )
a) Nasceu na cidade: ____________________
2. SEXO ( ) Feminino
( ) Masculino
3. IDADE: _____________________________
4. ESTADO CIVIL ( ) solteiro ( ) casado ( ) divorciado
( ) viúvo
( ) união estável
( ) outros: _____________
DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS 5. ESCOLARIDADE (Estudou até qual série?) ( ) Não Alfabetizado
( ) Alfabetizado
( ) 1º grau incompleto (fundamental)
( ) 2º grau incompleto (médio) ( ) 2º grau completo ( ) técnico profissionalizante ( ) superior incompleto ( ) superior completo ( ) Pós-graduação incompleto ( ) Pós-G completo
6. PROFISSÃO: __________________________
7. RENDA DA FAMÍLIA ( ) menos de 1 SM ( ) 1 a 2 SM ( ) 3 a 4 SM ( ) 5-7 SM ( ) ≥ 08 SM ( ) Não sabe/não quis responder
8. VOCÊ OU ALGUÉM DE SUA FAMÍLIA RECEBE ALGUM BENEFÍCIO DO GOVERNO FEDERAL? ( ) Bolsa Família/Bolsa Escola ( ) nenhum
( ) BPC (benefício de prestação continuada) ( )PROJOVEM ( )PETI ( ) outro: especifique _____________________
9. QUANTAS PESSOAS MORAM NA SUA CASA: _____________
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CONSUMO DE LEITE 10. QUANTAS PESSOAS DA SUA CASA TOMAM LEITE?
11. QUEM GERALMENTE COMPRA O LEITE? ( ) Entrevistado
( ) Mãe
( ) Pai
( ) Filho
( ) outra opção: especifique:
____________
12. ONDE GERALMENTE VOCÊ COMPRA O LEITE? ( ) Fazenda
( ) Padaria
( ) Supermercado
( ) Vendido “porta a porta”
( ) Vizinhança
( ) outra opção: especifique: ______________
Responder as questões de 13 e 14, se a entrega do leite for realizada em casa: 13. Horário da entrega em casa? ___________________________
14. O leite cru é comercializado em qual recipiente? (vasilha de alumínio, vasilha plástica, garrafa pet)
15. VOCÊ PREFERE COMPRAR LEITE IN NATURA OU INDUSTRIALIZADO: ( ) INDUSTRIALIZADO Porque? _________________________________________________ ( ) IN NATURA ( ) AMBOS
Porque? _________________________________________________ Porque? _________________________________________________
16. TIPO DE LEITE CONSUMIDO TIPO DE LEITE CONSUMIDO
mais de uma vez ao
Dias por semana 1 x / dia
dia
5 a 6 dias
3 a 4 dias
Rarame 1 a 2 dias
leite in natura cru leite in natura fervido leite UHT (caixinha) leite em pó leite pasteurizado . Responder as questões de 17 a 19, se ingerir leite in natura pelo menos 1 vez por semana: 17. ANTES DE TOMAR O LEITE IN NATURA, VOCÊ: ( ) COA
( ) FERVE
( ) COA E FERVER
outra opção: ……...........….........................
18. VOCÊ ACREDITA QUE A FERVURA DO LEITE MATA AS BACTÉRIAS PRESENTES NO LEITE? ( ) NÃO ( ) SIM.
19. PORQUE VOCÊ CONSUME O LEITE IN NATURA? ( ) é mais barato ( ) é mais forte ( ) é mais gostoso ( ) é mais saudável
6064
( ) única opção
( ) é mais prático ( ) é mais puro
outra opção: ……….........................
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nte
Nunca
Artigo 432 – Perfil dos consumidores de leite bovino in natura no município de Santana do Ipanema- Alagoas
20. VOCÊ TEM CONHECIMENTO QUE O LEITE CRU PODE CAUSAR DOENÇA? ( ) NÃO ( ) SIM.
21. VOCÊ SABIA QUE É PROIBIDO COMERCIALIZAR LEITE CRU? ( ) NÃO ( ) SIM.
22. QUAL A PRINCIPAL FORMA DE UTILIZAÇÃO/CONSUMO DO LEITE? ( ) consumo direto
( ) com outro alimento (cuscuz)
( ) ingrediente para bolo
( ) vitamina
( ) coalhada
( ) doce de leite
( ) queijo
( ) outra opção: ___________
23. QUANTOS LITROS DE LEITE SÃO CONSUMIDOS POR DIA NA SUA CASA? ( ) até 1 litros
( ) 1 a 2 litros
( ) 2 a 3 litros
( ) 3 a 4 litros
( ) 4 a 5 litros
( ) 5 a 6 litros
( ) 6 a 7 litros
( ) outra opção: ____________
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6065
Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte Fatores físicos, fatores químicos, fatores psicogênicos, Revista Eletrônica
ingestão de água.
1
Bruna Cristhina de Oliveira 2 Graciele Araújo de Oliveira Caetano 3 Messias Batista Caetano Júnior 1 Taynara Raimundo Martins 4 Cláudia Beatriz de Oliveira
Vol. 14, Nº 04, jul./ago. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br
¹ Mestranda em Produção de Ruminantes, UFG – EVZ, Goiânia-GO. ² Doutoranda em Produção de Ruminantes. Universidade Federal de Goiás, UFG – EVZ, Goiânia-GO; Professora da Faculdade de Jussara, JussaraGO. gracielecaetano@outlook.com. 3 Zootecnista, Especialista em Gerenciamento de Projetos. IFMG, Bambuí – MG. 4 Tecnóloga em Análise de Sistemas, Instituto Federal Goiano, IFG – IporáGO.
RESUMO Mecanismos que regulam o consumo de bovinos de corte são aspectos relevantes para estudo da Nutrição de Ruminantes, já que será a partir de tais informações que será possível entender como ocorre a seleção e a ingestão dos alimentos pelos animais. Serão
discutidos,
em
uma
abordagem
individualizada, os mecanismos que regulam o consumo de animais ruminantes, como fatores físicos, químicos e psicogênicos, metabólicos, neurohormonais e ingestão de água. A partir dessa revisão de literatura será possível perceber que o consumo de matéria seca dos bovinos é o resultado dessa interação
complexa
intrínsecos Conhecendo
ao os
dos
animal,
diversos ambiente
mecanismos
reguladores e
alimento.
reguladores
será
possível maximizar o consumo, o que poderá proporcionar
melhor
desempenho
produtivo
e
consequentemente maior lucratividade da atividade pecuária. Palavras-chave: fatores físicos, fatores químicos, fatores psicogênicos, ingestão de água.
6066
A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
REGULATORY MECHANISMS OF CONSUMPTION IN BEEF CATTLE ABSTRACT Mechanisms that regulate the consumption of beef cattle are relevant in Ruminants Nutrition study, since it will be from such information that it will be possible to understand how selection and ingestion of food by the animals occurs. Mechanisms of consumption regulating of ruminant animals, such as physical, chemical
and
psychogenic
factors,
metabolic,
neurohormonal and water intake, will be discussed in an individualized approach. From this literature review it will be possible to know that the dry matter intake of cattle is the result of this complex interaction of the various regulators intrinsic to the animal, environment and food. Knowing the regulatory mechanisms
will
be
possible
to
maximize
consumption, which may provide better productive performance and consequently greater profitability of livestock activity. Keyword: physical factors, chemical factors, psychogenic factors, water intake.
Artigo 433 – Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte
INTRODUÇÃO O consumo voluntário refere-se à quantidade máxima de matéria seca que o animal ingere espontaneamente.
A
quantidade
de
alimento
ingerido ad libitum é um fator fundamental, que frequentemente limita, no caso das forragens, a quantidade de energia e de elementos nutritivos ao ruminante (ALVES et al., 2001). Na alimentação animal é extremamente importante o conhecimento sobre os mecanismos que controlam a seleção e ingestão de alimentos, já que a ingestão de alimentos depende da quantidade total de nutrientes que o animal precisa para crescimento, saúde
e
produção.
Os
nutrientes
absorvidos
dependem da digestibilidade, mas o consumo é responsável pela maior parte das diferenças entre os
Fonte: (PRESTON; LENG, 1987).
alimentos, e nesse contexto a digestibilidade está relacionada com a cinética e taxa de passagem da
Anteriormente acreditava-se que aceitabilidade era
digesta pelo trato digestivo (SILVA, 2011).
uma característica do alimento, no entanto, agora é vista
como
uma
função
individual
do
animal
Diante da importância econômica do consumo
(FORBES, 1999). Hoje, sabe-se que é possível fazer
adequado dos nutrientes nas dietas de ruminantes
com que animais que preferiam anteriormente um
para
mesmas,
alimento de sabor adocicado (palatável) demonstrar
objetivou-se com esta revisão identificar e discutir de
aversão a esse sabor através da associação a um
que maneira os fatores de regulação interferem no
estímulo não condicionado desagradável (FORBES;
consumo de alimentos pelos ruminantes.
PROVENZA, 2000).
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os
o
melhor
aproveitamento
das
nutrientes
requeridos
pelos
animais
são
regulados por uma cascata de retroalimentação (feedback) estabelecida a partir da visão e cheiro do
Fatores reguladores do consumo Os
ruminantes
aprendem
a
associar
as
alimento,
gosto,
efeitos
gástrico
e
intestinal,
consequências pós ingestivas de um alimento com
respostas do fígado, sinais ligados ao sangue e
suas
propriedades
preferências fazerem
a
ou
usam
suas
deposições teciduais inadequados (Figura 2). Essa
condicionadas
para
reação é capaz de ser usada para criar associações
(FORBES;
de comandos e continuidade da alimentação que são
sensoriais,
aversões
seleção
dos
e
alimentos
usados na seleção de alimentos a serem ingeridos e
PROVENZA, 2000).
no controle da ingestão voluntária do alimento (S O A partir da Figura 1 podem ser observados, de forma
consumo de alimento em ruminantes é regulado por
esquemática, os principais fatores que atuam na
mecanismos que atuam a longo e em curto prazo. No
regulação do consumo.
entanto, o local primário responsável pelo controle integrado da ingestão de alimento e equilíbrio
FIGURA 1: Balanço de fatores que influenciam a ingestão de alimentos em ruminantes
energético no corpo é o sistema nervoso central (SNC), embora muitos mecanismos específicos não sejam totalmente entendidos.
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6067
Artigo 433 – Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte
ficamente relacionado à manutenção do equilíbrio
FIGURA 2: Cascata da saciedade
energético; e a regulação psicogênica, relacionada à resposta
do
animal
a
fatores
inibidores
ou
estimuladores no alimento ou no manejo alimentar. Sobre essa questão, Silva (2011) afirma que além dos fatores físicos, existem também os fatores químicos e metabólicos que estão relacionados com informações geradas por receptores não suficientes para o SNC saber exatamente a quantidade de nutrientes ingeridos; e fatores neuro-hormonais que está relacionado com os hormônios que sinalizam a regulação do consumo. Fatores físicos Sabe-se que o consumo voluntário de matéria seca está limitado pela capacidade de distensão física do
Fonte: (FORBES; PROVENZA, 2000).
rúmen.
Dessa forma,
quando
os
animais
se
TABELA 1. Efeito de entrega de alimentação (1, 2,
alimentam de dietas palatáveis, porém em alta
ou 3 x por dia) e de paridade (PP= primíparas; mp=
quantidade e baixas em concentração energética, o
multíparas) em IMS, comportamento de alimentação,
consumo é limitado por restrição na capacidade de
taxa de alimentação, tipo de dieta e comportamento
enchimento do trato digestivo (MERTENS, 1994).
e duração de consumo por dieta O consumo é limitado pelo tempo necessário para 1x VARIÁVEIS
PP
2x
MP
PP
3x
MP
PP
MP
IMS (kg/d)
24.3 30.6 24.3 29.7 24.4 31.1
Comportamento
238.6 219.9 247.0 220.6 234.3 219.3
Alimentação (min/d)
processar a forragem ingerida (mastigação) em partículas suficientemente pequenas que possam deixar o rúmen, ou seja, o tempo total de mastigação por unidade de forragem consumida, o tempo gasto ruminando
e
correlacionado
Taxa alimentação
o
tempo
com
a
gasto
comendo
qualidade
da
está
forragem
0.11 1.15 0.10 0.14 0.11 0.14
(NASCIMENTO et al., 2009).
9.3
As características físicas e químicas da dieta, como
(kg/min) Frequência fornecimento
9.5
9.3
9.6
9.5
9.6
dieta (dietas/d)
conteúdo de fibra da dieta, tamanho de partícula,
Tipo dieta (kg/dieta)
2.7
3.3
2.7
3.2
2.7
3.3
fonte da fibra, digestibilidade da fração FDN (fibra
Duração por dieta
26.7 23.6 27.9 23.3 26.0 23.6
em detergente neutro), fragilidade da partícula, facilidade de hidrólise do amido e fibra, produtos da
(min/dieta) 1
2
Dados calculados em 7 d por 12 vacas em cada tratamento. P = paridade; T = frequência de entrega de alimentos para animais; P x T = interação. 3 Comprimento (min) e tamanho (kg) da primeira refeição consumida após o retorno de ordenha, com base em critérios vaca refeição individual. Fonte: Hart et al. (2014).
fermentação
de
silagens,
concentração
e
características da gordura suplementada, além da quantidade e a degradação da proteína podem afetar grandemente o consumo de matéria seca de animais ruminantes, ao determinarem a integração dos sinais
Sendo assim, Mertens (1994) e Coelho da Silva
envolvidos na regulação do mesmo (NASCIMENTO
(2006)
et al., 2009).
atribuíram
o
controle
da
ingestão
de
alimentos a três mecanismos básicos: o físico, que está associado à capacidade de distensão do
O teor de FDN da dieta é um dos principais
rúmen-retículo em função do teor de fibra em
determinantes da regulação física do consumo
detergente neutro (FDN) da ração; o fisiológico, que
tornando-se o fator que mais afeta o consumo à
é regulado pelo balanço nutricional da dieta, especi-
medida que o requerimento energético do animal e o
6068
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Artigo 433 – Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte
efeito de enchimento das dietas aumentam, devido
menos que vacas de alta produção e o consumo é
sua baixa velocidade de digestão, sendo associado
variável ao longo da lactação. Há várias dúvidas se
com a capacidade de enchimento do trato digestivo
a produção de leite leva ao consumo ou se o
(ALLEN, 2000).
consumo leva à produção de leite. Aparentemente as vacas consomem alimento para atender à exigência
Segundo Detmann et al. (2014) após realizar uma
energética, logo, entende-se que o consumo parece
meta-análise com dados de 53 estudos com vacas
ser determinado pela produção de leite.
em lactação e 126 estudos com bovinos confinados em crescimento e terminação publicados em Brasil
A FDN, por causa de sua baixa velocidade de
de 1990 a 2012 para avaliar a regulação da ingestão
digestão é considerada o nutriente mais associado
voluntária em bovinos alimentados à vontade com
com a capacidade de enchimento do trato digestivo
dietas à base de forragens tropicais concluiu que a
pela dieta (ALLEN, 1996). Dietas com alto teor de
IMS diminuiu linearmente conforme a fração FDN da
fibra têm o consumo limitado fisicamente, ou seja, o
dieta aumentou, onde o consumo voluntário foi
CMS
regulado pelas limitações físicas e metabólicas dos
capacidade de enchimento do trato digestivo por
animais.
fibra.
Para animais que têm altas exigências energéticas,
A Figura 3 mostra a relação entre o teor de FDN da
a distensão ruminal tem um efeito maior sobre o
dieta e o CMS (% do peso vivo).
máximo
atingido
é
determinado
pela
consumo de matéria seca, pois o animal precisa ingerir uma maior quantidade de nutrientes para
FIGURA 3: Representação gráfica do controle físico
atender às suas necessidades, não podendo assim,
do consumo adaptado de Pereira (2015)
atingir o nível de consumo necessário em função da limitação na capacidade volumétrica do rúmen (NASCIMENTO et al., 2009). Mertens
(1992)
enchimento
sugeriu
pode
ser
que
a
limitação
correlacionada
com
por a
quantidade de FDN de uma ração e propôs o valor máximo de consumo de 1,2% do peso vivo em FDN como nível de consumo regulado por mecanismos 13
físicos . No entanto, Silva et al. (2009) sugeriram em sua revisão que os consumos de FDN próximos de 1,8% do peso vivo podem ser alcançados por animais em pastejo de Brachiarias no período seco, diferindo
da
informação
Fonte: Adaptado de Pereira (2015).
citada
anteriormente
diversos
experimentos
dietético é sinônimo de queda no conteúdo de
comparando forragens com diferentes digestibilidade
energia da mesma. Por este mecanismo, dietas com
da FDN, porém os teores de FDN e de PB eram
alto teor de FDN seriam menos consumidas que
semelhantes, para vacas leiteiras em lactação, e
dietas com baixo teor de FDN. Este conceito é
constataram aumentos significativos na ingestão de
importante
MS e produção de leite, quando a digestibilidade da
pastagens, por exemplo. Pastos de alta qualidade
FDN era maior.
têm baixo FDN e, portanto, propiciam alto consumo
(CARDOSO et al., 2014). A partir da Figura 3, nota-se que o aumento no FDN Allen
(2000)
realizou
para
compreender
qualidade
em
A necessidade de se alimentar é determinada pelo
diário pelos animais. O CMS, por este mecanismo, é
potencial
ditado pela relação entre a capacidade de consumo
genético
do
animal
e
pelo
estádio
fisiológico. Vacas de baixa produção consomem
de FDN e a concentração de FDN na dieta.
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Artigo 433– Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte
tagens
Fatores psicogênicos
tropicais,
pode
limitar
o
consumo
de
forragem. O mecanismo psicogênico envolve respostas no comportamento do animal a fatores inibidores ou
Dentre as características relacionadas ao alimento, o
estimuladores relacionados ao alimento ou ao
fator de maior impacto na regulação psicogênica do
ambiente que não são relacionados à energia ou
consumo de alimento parece estar relacionado à
enchimento da dieta. Fatores como sabor, odor,
palatabilidade.
textura, aparência visual de um alimento, status
palatabilidade é definida como a característica dos
emocional
o
alimentos associada com a aceitabilidade gustatória,
aprendizado podem modificar a intensidade do
olfatória, e visual pelos animais. No entanto, Forbes
consumo de um alimento (MERTENS, 1994). Tais
(1995), afirma que muitas controvérsias estão
fatores afetam o consumo em ruminantes e devem
relacionadas à sua real influência no controle do
ser agregados em uma classe de moduladores ou
consumo voluntário. Elementos sensores do olfato e
modificadores
paladar podem influenciar a seleção e o consumo de
do
animal,
interações
psicogênicos
sociais
do
e
consumo.
A
modulação psicogênica nada mais é que um fator de
Segundo
Mertens
(1996),
vários alimentos em inúmeras espécies.
ajustamento escalar, que determinada elevações ou reduções
no
consumo
predito,
física
ou
A maior razão para que a palatabilidade tenha sido
fisiologicamente, devido a interações entre animal e
definida em termos de preferência entre alimentos é
meio (NASCIMENTO et al., 2009).
porque diferenças no consumo entre alimentos escolhidos livremente podem ser usados para
Os
alimentos
que
serão
ingeridos
irão
ser
quantificar a preferência. Quando dois alimentos são
selecionados por visão e/ou cheiro e a decisão, em
fornecidos
relação a comer ou não, é tomada. Uma vez na
quantidade de cada alimento consumido pode ser
boca, o alimento pode ser engolido ou rejeitado,
uma medida quantitativa de preferência.
aos
animais
simultaneamente,
a
dependendo do seu gosto e textura (CARDOSO et al., 2014). Segundo Detmann et al. (2007), a ureia é
Estudos demonstram que o farelo de soja é
um bom controlador de consumo de suplementos
percebido como mais palatável do que farelo de
para bovinos em pastejo devido ao aprendizado em
canola por bezerros leiteiros. Sendo assim Miller-
função de sensações de mal estar nos animais. As
Cushon et al. (2014) avaliaram o efeito da fonte de
características sensoriais da ureia também controlam
proteína sobre a seleção alimentar por bezerros
o consumo de suplementos, devido ao sabor amargo
leiteiros. No primeiro experimento foi utilizado um
e odor característico.
total de quarenta bezerros, eles recebiam 6 litros de leite por dia e água à vontade. Esses animais
Portanto, sabe-se que a amônia em excesso é
receberam alimentos sólidos com teores de proteína
absorvida pela parede do rúmen e, no fígado, é
semelhante e diferiram apenas na fonte de proteína
convertida a ureia. Esta conversão custa ao animal
(soja e canola), e foi observada uma preferência por
12 kcal/g de nitrogênio (VAN SOEST, 1994). Sendo
dietas ricas em fonte de proteínas do farelo de soja
assim a utilização da ureia como regulador de
em comparação com o farelo de canola, sendo que
consumo de suplemento deve ser avaliado sobre a
os animais apresentaram maior consumo, o que
eficiência
a
indica que palatabilidade pode afetar a ingestão. No
nitrogênio
geral, estes resultados indicam que a seleção da
de
possibilidades
utilização de
do
excessos
nitrogênio, do
e
(CARDOSO et al., 2014).
dieta durante as primeiras semanas de vida é influenciada pela inata preferência alimentar.
As características estruturais do pasto, como altura, relação folha/caule e densidade também afetam o
Fatores químicos e metabólicos
consumo, por influenciarem o tamanho do bocado, a
A regulação metabólica do CMS é ditada pela demanda de energia do animal. Em dietas onde o teor de FDN não é alto o suficiente para limitar o consumo
taxa de bocado e o tempo de pastejo. O tamanho dos bocados apreendidos, pelos bovinos em pas6070
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Artigo 433– Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte
fisicamente, o consumo máximo atingido é aquele suficiente para atender a demanda metabólica de energia. Em animais leiteiros consumindo dietas com baixo teor de forragem este mecanismo de regulação é prevalente. Distintamente da curva de regulação física, na curva de regulação metabólica o CMS aumenta com aumento no teor de FDN da dieta, sinônimo de queda na concentração de energia da mesma (Figura 4).
considerando que, quando melhora a qualidade da dieta, aumenta o aporte de nutrientes por unidade de alimento – por exemplo, a concentração energética do alimento (Mcal/kg MS); dessa maneira, o animal necessitará consumir menor quantidade de matéria seca para dispor da quantidade de nutrientes requerida, dentro de certos limites de digestibilidade do alimento. Muitas forragens de alta digestibilidade podem ser
FIGURA 4: Representação gráfica do controle metabólico do consumo
potencialmente ingeridas em quantidades menores que as preditas pela teoria do controle físico. Nesses casos, o consumo é, então, mais provavelmente determinado por entraves metabólicos relacionados à habilidade animal em utilizar nutrientes absorvidos que desencadeiam reações hormonais de regulação de consumo (NASCIMENTO et al., 2009). O sinal de saciedade é o reflexo do excesso de um ou mais metabólitos que aparecem na corrente sanguínea em uma taxa maior do que eles podem ser removidos, resultando em uma elevação na concentração sanguínea. Há poucas evidências de que a utilização de glicose ou sua concentração sanguínea tenha um papel significativo no controle da ingestão de alimento no ruminante (SILVA, 2011). O fígado é o primeiro órgão a receber um quadro
Fonte: PEREIRA, 2015.
relativamente completo do que está sendo absorvido Sendo assim, em quantidades menores que às
do aparelho digestivo, e sinaliza para o SNC pelos
preditas,
nervos
quando
o
consumo
é
limitado
pelo
autonômicos
(FORBES,
2000).
Essa
enchimento da ração, o consumo cessa e as
sinalização
demandas relativas ao potencial de desempenho ou
quimiorreceptores da parede intestinal que sinalizam
estado fisiológico do animal são atendidas. Forbes
a
(1993) concluiu que os ruminantes em geral são
osmolaridade e certos metabólitos (SILVA, 2011). É
capazes de controlar seu consumo energético de
por meio destes mecanismos o animal pode enviar
maneira semelhante aos animais de estômago
ao sistema nervoso central avisos com mais
simples, desde que a densidade de nutrientes da
antecedência sobre o potencial de mudanças no
dieta seja suficientemente alta para que as restrições
estado metabólico e riscos de toxicidade.
existência
também de
pode
certas
ocorrer
condições,
com como
os pH,
físicas não interfiram. A pressão osmótica no fluido do rúmen-retículo O princípio da teoria desta regulação de consumo
também pode influenciar sinais de saciedade e, às
baseia-se no seguinte conceito: se um animal dispõe
vezes, ser confundida com os efeitos dos ácidos
de uma quantidade de nutrientes, principalmente
graxos
energia e proteína, superior aos requerimentos de
osmolaridade, do fluido do rúmen é altamente
mantença e produção, fatores fisiológicos atuarão,
variável, dependendo do conteúdo de sais minerais
deprimindo o apetite e, portanto, seu consumo. Essa
e fermentabilidade da matéria orgânica da dieta. O
teoria relaciona a qualidade do alimento, no que se
aumento da osmolaridade está associado com
refere à sua digestibilidade, com o consumo animal,
várias respostas fisiológicas que podem afetar a
voláteis.
Segundo
Allen
(2000),
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a
6071
Artigo 433– Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte
saciedade, então pode-se dizer que a depressão na
revisados que a adição de gordura aumentou a
ingestão de alimento por infusão de acetato de
energia ingerida e produção de leite, enquanto que
sódio no rúmen,provavelmente, deve-se a seu efeito
em outros foi verificada redução no consumo e
em osmolaridade.
digestibilidade da MS.
Os efeitos de hiperosmolalidade no rúmen sobre o
A máxima ingestão de MS (Figura 5) ocorre quando
termino de uma refeição são possivelmente medidos
a ingestão regulada pelos requerimentos energéticos
por excitação de osmorreceptores localizados em
é igual à ingestão limitada pela repleção ruminal
outro lugar no trato gastrointestinal ou em outros
(NASCIMENTO et al., 2009). Os autores sugerem
locais alcançados pelo sistema circulatório, como o
que, no caso de animais em confinamento, em que o
fígado ou o cérebro. A desidratação também pode
nível de energia - efeito fisiológico - regula o
reduzir a ingestão de alimentos, pois esta estimula a
consumo, o aumento da eficiência energética
vasopressina (LANGHANS; ROSSI; SCHARRER,
favorece a redução do consumo de alimentos por
1995).
satisfazer as necessidades nutricionais (OLIVEIRA; REIS; BERTIPAGLIA, 2013).
O teor de proteína na dieta tem correlação positiva com consumo em vacas lactantes, sendo este efeito
FIGURA 5: Regulação do consumo, com base na
proveniente parcialmente do aumento da proteína
equação algébrica simples, mostrando o consumo
degradável no rúmen e melhora na digestibilidade
esperado quando limitado pela demanda energética
dos alimentos. Em rações de baixo teor proteico, a
ou enchimento físico
quantidade total de proteína ingerida pode aumentar se houver aumento na demanda de energia, aumentando o consumo. Teores críticos de ingestão de proteína provocam queda no consumo, sendo que para ruminantes o limite crítico é mais baixo devido à síntese de proteína microbiana (CARDOSO et al., 2014). Bach et al. (2012) realizaram um estudo com 32 cordeiros mestiços para avaliar se o fornecimento de diferentes níveis de proteínas (10,9% e 20,4% de PB) e diferentes sabores (sabor umami e mistura doce, amargo e umami) iria alterar as preferências de consumo. No geral, o consumo de ração ou desempenho animal não foi afetado diretamente pela escolha do sabor oferecido a cordeiros. No entanto, é possível observar que a limitação do fornecimento de PB compromete a ingestão de matéria seca e que houve uma interação (P<0,01) entre nível de PB, sabor e dia de testes sobre as preferências de alimentação. Sabe-se que a gordura pode inibir a digestão da fibra com possíveis efeitos na distensão do rúmen-retículo causando o efeito de enchimento. A suplementação de gordura na dieta de vacas em lactação está associada ao aumento da densidade energética desta consequentemente ao seu consumo. Contudo Allen (2000) verificou na maioria dos trabalhos 6072
Fonte: Adaptado de Mertens, 1994.
Fatores neuro-hormonais O SNC é claramente o integrador de muitas ações do animal, tais como exercer papel vital no controle do consumo voluntário, tão bem como crescimento, deposição de gordura e reprodução. O cérebro coleta
informações
de
sensores
e
receptores
especiais da parede do trato digestivo e tecidos metabolizadores. Estas informações são integradas de tal forma a determinar que alimento ingerir e se o consumo deve iniciar ou cessar (FORBES, 2007).
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Artigo 433– Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte
Diversos hormônios como os reprodutivos, do
Rottman et al. (2015) realizou um experimento com
estresse, leptina, insulina, glucagon, e outros, têm
vacas leiteiras alimentadas com dietas contendo
sido apontados como sinalizadores da regulação do
diferentes quantidades de FDN. Foram utilizadas 9
consumo (INGVARTSEN; ANDERSEN, 2000).
vacas em lactação, distribuídas em quadrado latino 3x3, uma dieta controle (CON, 33,3% FDN); uma
A leptina é produzida nas células adiposas e atua
dieta pobre em fibras (LF, 29,6% FDN), e uma dieta
como regulador da ingestão de alimentos bem como
rica em fibras (HF, 34,8% FDN). Concluíram que
nas reservas corporais. Sua síntese é regulada pelos
animais alimentados com dietas ricas em fibras
principais hormônios que controlam a atividade do
podem reduzir a ingestão através do preenchimento
tecido adiposo. Além do efeito sobre a redução da
físico, e animais alimentados com dietas baixa em
ingestão de alimento, leptina tem um forte efeito
fibra aumenta a insulina e reduz ácidos graxos não
sobre o metabolismo do corpo, ela também aumenta
esterificados (NEFA).
a liberação do hormônio estimulante da tireoide, resultando na produção de tireoxina pela glândula
Por sua vez, o glucagon é um hormônio considerado
tiroide (SILVA, 2011).
também como regulador de consumo de ruminantes e pode reduzir o consumo de matéria seca em ratos
A leptina regula o armazenamento, equilíbrio e uso
e
de energia pelo organismo. Além disso, sinaliza o
diretamente no cérebro, mas através do fígado, uma
estado
nutricional
do
organismo
para
humanos,
entretanto
sua
atuação
não
é
outros
vez que injeção na veia-porta é mais efetiva
sistemas fisiológicos. Esse hormônio é secretado
deprimindo o consumo mais do que na circulação
pelo tecido adiposo branco e liga-se a receptores
geral, e seus efeitos podem ser anulados pela
específicos na circulação sanguínea e leva a
vagotomia hepática. Além disso, o glucagon é mais
informação para o cérebro da quantidade de energia
potente quando administrado na veia porta do que
corporal depositada na forma de gordura, ativando
na veia cava inferior (NASCIMENTO, 2009).
com isso o centro de saciedade (FORBES, 2007). Dos poucos estudos com glucagon sobre o consumo A insulina exerce efeitos biológicos sobre os tecidos
alimentar em ruminantes, um mostra que glucagon
cerebrais, atuando como neuromoduladores no
administrado intravenosamente em concentrações
sistema nervoso. Acredita-se que este hormônio seja
fisiológicas reduz o consumo em ovelha. Mais
um sensor do metabolismo periférico, devido à
pesquisas,
nesta
correlação positiva entre a concentração plasmática
ruminantes
para
de insulina e os níveis de reservas gordurosas. A
glucagon na regulação do consumo (NASCIMENTO,
concentração de insulina aumenta com a severidade
2009).
área,
são
identificar
a
requeridas
em
importância
do
da adiposidade. Ingestão de água No SNC a insulina se liga a receptores cerebrais específicos,
maior
É extremamente importante o conhecimento sobre a
são
ingestão de água pelos ruminantes, sendo essencial
encontrados nas áreas mais importantes para o
que a água seja de qualidade e disponível à vontade,
controle do consumo e do metabolismo energético
pois
no cérebro (INGVARTSEN; ANDERSEN, 2000).
carboidrato, proteínas, minerais e vitaminas.
Em resumo, a insulina pode exercer um papel em
A água representa em média 70% da composição
longo prazo na regulação do consumo e do peso
corporal dos animais adultos magros, e não é apenas
vivo em ruminantes, mas ela não parece exercer
um material inerte ou um solvente e sim um
papel de deprimir o consumo em vacas de leite no
componente ativo e estrutural do corpo. A água tem
início da lactação quando a concentração de insulina
elevada capacidade ionizante para facilitar as reações
é baixa (FORBES, 2007).
energéticas nas células e alto calor específico que
concentração
onde de
os
neurônios
receptores
de
com insulina
é
um
nutriente
tão
importante
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6066-6075, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
quanto
6073
Artigo 433– Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte
permite absorver o calor dessas reações com um
alimento e de água consumida, na maioria das
mínimo
condições.
de
elevação
da
temperatura
corporal
(MAYNARD et al., 1979). As propriedades sensoriais do alimento e da água
CONSIDERAÇÕES FINAIS
são importantes para estimular a ingestão. A
Embora a regulação do consumo de matéria seca
sensação de secura durante a ingestão de alimento
seja o resultado de uma complexa interação entre
há muito tem sido considerada como um estímulo à
fatores
ingestão de água para facilitar a mastigação e
relacionados à habilidade psicológica e sensorial dos
deglutição de alimentos secos. Além disso, as
animais, é de extrema importância que estes
ingestões de alimento e de água atendem aos
processos sejam estudados e elucidados, afim de
mecanismos
ou
que modelos de predições, baseados em respostas
evitando deficiências nos metabólitos energéticos e
biológicas, possam ser desenvolvidos de forma mais
fluidos do corpo. A ingestão de alimento requer
consistentes e acurada.
homeostáticos,
satisfazendo
ingestão de água e esta, por sua vez, parece facilitar o consumo de alimento. Por outro lado, ingestão de alimento
é
normalmente
reduzida
quando
há
físicos,
metabólicos
e
quimiostáticos
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A relação entre ingestão de água e de alimento é
ALLEN MS. Physical constraints on voluntary intake of forages by ruminants. J. Anim. Sci., p. 3063-
escassez
de
influenciada
por
água
vários
(LANGHANS;
fatores,
entre
eles
a
composição do alimento, temperatura ambiente e
3075, 1996. ALVES AA, SALLES
RO,
AZEVÊDO
DMMR,
demandas produtivas. Alimentos com alto teor de
AZEVÊDO
umidade vão demandar menor ingestão de água em
consumo de alimento pelos ruminantes: Uma revisão. Rev. Cient. Prod. Anim., v. 3, n. 2, p.
espécie. Com base na elevada relação entre balanço de água e de eletrólitos no corpo, também alimentos ricos em sais vão resultar em maior consumo de água; dessa forma a relação água matéria seca ingerida vai aumentar. A suplementação adequada de sal não parece influenciar muito o consumo de água e alimentos. Alimentos ricos em proteína frequentemente resultam em maior demanda de água, em consequência do incremento calórico da proteína
e
da
eliminação
de
resíduos
do
AR.
Fatores
que
interferem
no
62-72, 2001. BACH A, VILLALBA JJ, IPHARRAGUERRE IR. Interactions between mild nutrient imbalance and taste preferences in young ruminants. J. Anim. Sci. p. 1015–1025, 2012. CARDOSO ES et al. Reguladores de consumo de bovinos em pastagem: recentes avanços. Revista eletrônica Nutritime. Artigo 271, vol. 11, nº 5, p. 3672-3682. 2014. COELHO DA SILVA JF. Mecanismos reguladores de
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contêm excesso de sais ou proteína, há uma
de Veterinária e Zootecnia, v.55, p.73-93, 2007.
bem como por demandas produtivas, como a lactação. Não obstante, em condições dentro da
entre
DETMANN E, GIONBELLI MP, HUHTANEN P. A
consumo de oxigênio e taxa de renovação de água
meta-analytical evaluation of the regulation of voluntary intake in cattle fed tropical forage-based diets. J. Anim. Sci. p. 4632–4641. 2014.
correlação
linear
altamente
significativa
no corpo que é refletida, no final das contas, na correlação elevada e positiva entre a quantidade de 6074
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6066-6075, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 433– Mecanismos reguladores de consumo em bovinos de corte
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Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6066-6075, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
6075
Caracterização dos confinamentos de bovinos de corte na região do meio oeste catarinense Confinamentos, frigorífico, qualidade, precocidade. 1
Carenagto, João Paulo 2 Sampaio, Cláudia Batista 2 Detmann, Edenio 2 Fonseca, Fabyano 3 Benedeti, Pedro del Bianco 1
Mestre, Programa de Mestrado Profissional em Zootecnia, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa, claudiabsampaio@ufv.com 2 Professor Adjunto, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa. 3 Pós-doutorando, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa.
RESUMO Objetivou-se realizar um levantamento técnico sobre o perfil dos confinamentos da região do meio oeste do estado de Santa Catarina, bem como levantar dados de frigorífico para caracterizar o sistema de produção e o perfil dos animais abatidos. O procedimento metodológico utilizado foi baseado na Análise Diagnóstico de Sistemas de Produção caracterizandose como uma pesquisa qualitativa e quantitativa. A análise foi realizada por abordagem descritiva e utilização de planilhas eletrônicas do Excel. Os dados dos confinamentos e do Frigorífico São João foram coletados através de entrevista com roteiro semiestruturado. Nos confinamentos avaliados identificou-se como ponto de maior relevância a falha na gestão técnico financeira, pois não foi possível o levantamento de dados para análise econômica em função da ausência de registros. Nos confinamentos avaliados foram identificados pequenas propriedades em sistemas de produção diversificados, onde a grande maioria faz somente a engorda para terminação, produzindo animais jovens e com elevado grau de sangue europeu. O sistema pode ser definido como produção de animais precoces e superprecoces em confinamento. Adicionalmente, após a análise conjunta dos dados levantados dos confinamentos com os dados do frigorífico identificou-se o aumento do abate de animais jovens impulsionado pelos programas de incentivo à produção, governamentais e privados, e consequentemente a melhoria na qualidade dos produtos. Palavras-chave confinamentos, frigorífico, qualidade, precocidade.
Vol. 14, Nº 04, jul./ ago.de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
CHARACTERIZATION OF THE FEEDLOTS OF BEEF CATTLE IN THE MIDWESTERN REGION OF SANTA CATARINA STATE ABSTRACT
This study aimed to conduct a technical survey on the profile of feedlots in the Midwestern region of Santa Catarina state, as well as to collect data from slaughterhouse to characterize the production system and the profile of slaughtered animals. The methodological procedure used based on the Diagnosis Analysis of Production Systems, characterizing as a qualitative and quantitative research. The analysis were performed by descriptive approach and by use of Excel spreadsheets. The data of the feedlots and slaughterhouse were collected through an interview with a semi-structured script. In the slaughterhouse evaluated, were identified as a point of greater relevance the failure in technical financial management, since it was not possible to access data to economic analysis due to the absence of records. In the feedlots evaluated, small properties were identified in diversified production systems, where most only use feedlot to finishing, producing young animals with a high European blood level. The system could be defined as the production of young animals in feedlot. Additionally, after the analysis of the data collected from the feedlots and with the data from the slaughterhouse, was identified the increase in slaughter of young animals, driven by government and private incentive programs of production, and consequently the improvement of quality in final product. Keyword: feedlots, precocity, quality, slaughterhouse.
6076
Artigo 434 – Caracterização dos confinamentos de bovinos de corte na região do meio oeste catarinense
INTRODUÇÃO
médio porte associadas aos produtores rurais em um
A pecuária de corte brasileira tem lugar de destaque
modelo bem sucedido de integração onde as
frente à produção animal, e vem ganhando liderança
empresas
nas posições no mercado mundial de carnes.
compram os respectivos produtos de origem animal
Segundo dados
(Santa Catarina, 2016).
da Associação Brasileira das
fornecem
insumos
e
tecnologia
e
Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) em 2014, foram
Santa Catarina conta com programas de qualidade
provenientes de confinamentos, o que representa
da iniciativa privada (associações das raças) para
uma pequena parcela do abate total, mas que vem
incentivo à produção de animais de raças precoces
ganhando destaque pela qualidade do animal
como o Angus, Hereford e Charolês com ótima
abatido. Com o objetivo de aumentar a eficiência e a
qualidade
produtividade da bovinocultura de corte brasileira
conforme parâmetros de cada associação e a
estratégias estão sendo cada vez mais adotadas por
classificação realizada por técnico credenciado.
criadores de todo o país. O confinamento para
Outro incentivo privado é utilizado para animais
terminação,
a
jovens e com bom acabamento, com critérios de
suplementação estratégica durante o período seco
classificação estipulados pelo frigorífico, sendo a
são algumas delas e contribuem para reduzir o ciclo
classificação realizada por um técnico do próprio
de produção, para a obtenção de carcaça de
frigorífico. A intenção dos programas de incentivo
qualidade e consequentemente para o uso mais
seria motivar os confinadores a produzirem animais
sustentável da terra e dos recursos naturais.
que atendam às exigências de mercado o que
cerca
de
11%
o
dos
animais
abatidos
semi-confinamento,
e
de
carcaça,
sendo
as
premiações
resulte em remuneração maior para ambos, além de A bovinocultura é atividade presente em todas as
carnes
certificadas
com
regiões do Brasil e segundo dados do IBGE entre
consumidores exigentes.
alta
qualidade
para
setembro de 2014 e setembro de 2015 apenas os estados de Santa Catarina (SC), Pará e Pernambuco
Para estimular o crescimento do setor pecuário em
tiveram variação positiva em abate de bovinos.
SC, a Secretaria da Agricultura e a Federação da
Segundo o MAPA (2016) o estado de Santa Catarina
Agricultura do Estado de Santa Catarina (FAESC),
possui um rebanho efetivo de 4.375.358 bovinos e
implantaram o Programa de Apoio à Criação de
possui reconhecimento de “Livre de Febre Aftosa
Gado para Abate Precoce (Também denominado
Sem Vacinação” pela Organização Mundial de
Programa Novilho Precoce – NP) em 1993, Lei No
Saúde Animal (OIE), sendo um dos poucos territórios
9.183. A iniciativa governamental proporciona um
sul-americanos a possuir este status sanitário
incentivo fiscal ao produtor rural, através da redução
(CIDASC, 2015).
de
ICMS
gerado
pelos
estabelecimentos
abatedouros. O Programa foi criado com o objetivo O território do meio oeste e oeste Catarinense foi
de impulsionar o setor através de uma bonificação
colonizado por imigrantes italianos, alemães e
repassada
austríacos; e tem grande tradição econômica com
abatedouro, em troca da oferta de produtos com uma
uma
maior qualidade ao mercado consumidor.
agricultura
forte,
baseada
em
pequenas
ao
produtor
pelo
estabelecimento
propriedades rurais e com agroindústrias de grande porte.
A suinocultura, avicultura, bovinocultura e
A bovinocultura de corte catarinense tem atualmente
produção de maçã, associadas à produção de grãos
uma
com destaque para a cultura do milho utilizada na
diversificada.
alimentação animal, são a base principal da
cadeia produtiva da carne bovina principalmente na
economia do território. A prioridade por uma ou outra
industrialização e mercado, mas por outro lado
atividade depende da importância que o produtor
faltam informações sobre o perfil social e econômico
atribui
dos produtores rurais que estão envolvidos com a
para
os
diferentes
produtos
que
são
comercializados. Existem empresas de grande e de
realidade
pouco
conhecida,
complexa
e
Existem informações gerais sobre a
pecuária de corte do estado.
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6076-6082, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
6077
Artigo 434 – Caracterização dos confinamentos de bovinos de corte na região do meio oeste catarinense
Diante do exposto, o presente trabalho objetivou a
RESULTADOS E DISCUSSÃO
realização de um levantamento do perfil pecuário de confinamentos
para
identificar,
descrever
e
Constatou-se a inexistência de números
para
caracterizar do ponto de vista social, econômico e
qualquer tipo de análise econômica relevante,
produtivo o sistema de confinamentos de bovinos
ficando claro a falha de gestão econômica nas
que predomina na região do meio Oeste de Santa
propriedades.
Catarina e através de um frigorífico representativo
econômica
da região e buscar o perfil qualitativo e quantitativo
praticamente inexistentes, com poucas anotações e
dos animais abatidos.
apenas números gerais. Ou seja, os produtores não
Os
dos
dados
referentes
confinamentos
a
análise
avaliados
são
possuem certeza dos valores relacionados apenas à MATERIAIS E MÉTODOS
atividade confinamento, pois acima de 68% deles
O presente trabalho caracterizou-se por pesquisa de
trabalham em mais de um sistema de produção,
campo realizada com 22 produtores pecuaristas que
sendo
utilizam o confinamento para recria e engorda na
(Tabela 1).
predominante
a
suinocultura
na
região
região do meio oeste catarinense, compreendendo os municípios de Arroio Trinta, Fraiburgo, Macieira,
As propriedades foram consideradas diversificadas
Pinheiro Preto, Rio das Antas, Salto Veloso, Tangará
do ponto de vista das atividades produtivas na região
e Videira.
do meio oeste catarinense, sendo elas: avicultura, bovinocultura de leite, fruticultura e com maior
A coleta de dados foi realizada de janeiro a junho de
destaque a suinocultura (Tabela 1). A produção de
2016, tendo como ano base de referência 2015. Os
suínos em SC é relevante devido ao sistema de
dados foram coletados durante visitas de rotina de
integração e em 2015, segundo a Empresa de
cunho técnico comercial, através de um roteiro pré
Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa
definido. Para avaliação do perfil de abate e
Catarina S.A (Epagri, 2016); compreendeu 26,7% da
qualidade de carcaças foi coletado dados do
produção do país, representando o estado com
Frigorífico São João, localizado em São João do
maior produção. Santa Catarina é também o maior
Itaperíu em maio de 2016.
produtor
nacional
pescados,
ostras,
vieiras
e
mexilhões e o segundo em abate de frangos do País O
procedimento
metodológico
utilizado
nesta
(Fiesc,
2015).
Sistemas
diversificados
são
pesquisa foi, em grande parte, baseado na Análise-
importantes na região estudada, visto que favorece a
Diagnóstico de Sistemas de Produção. Para análise
permanência na atividade agrícola reduzindo o risco
dos dados foi utilizado abordagem descritiva e
de ter apenas uma atividade, o que resulta em
utilização de planilhas eletrônicas Excel.
grande oferta e demanda de produtos agrícolas.
Foram levantados dados referentes aos sistema de
Considerando as fases de produção, constatou-se
produção
atividades,
uso frequente de tecnologia em fases iniciais do
tamanho da propriedade, raça produzida, idade,
sistema de produção o que resulta em intensificação
sexo, peso e idade de abate, características
onde cerca de 40% dos avaliados usam o sistema
relacionadas ao processo de gestão e econômica. A
intensivo desde as fases iniciais de crescimento, o
análise dos dados do frigorífico foi referente ao
que reflete em redução de ciclo produtivo e aumento
número de animais abatidos, à classe sexual,
no desfrute, além da oferta de animais precoces
rendimento de carcaça de machos e fêmeas,
(Tabela 1).
como
diversificação
de
número de animais que se enquadram no programa de Novilho Precoce, número de animais que se
Quando se observa o número de animais produzidos
enquadram no programa de incentivo a raça;
percebe-se que a produção é realizada em ambiente
número de animais que atingem o padrão mínimo de
de tamanho restrito (Tabela 1) sendo consideradas
espessura de gordura e o que desqualifica animais
pequenas ou médias, com capacidade limitada de
no
produção,
programa.
Adicionalmente
objetivou-se
razão
correlacionar dados das propriedades com do frigorífico. 6078
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6076-6082, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
do
uso
do
confinamento.
Artigo 434 – Caracterização dos confinamentos de bovinos de corte na região do meio oeste catarinense
TABELA 1 - Perfil de produção de acordo com a
No sistema avaliado, os animais são desmamados e
atividade produzida e tamanho do rebanho nas
seguem para o confinamento, o que reflete animais
propriedades avaliadas
em recria em sistema de produção intensivo para a
Produção principal
garantia do ganho contínuo e redução do ciclo de
Confinamento (%)
31,81
Confinamento + outras atividades (%) Suinocultura (% do total das outras atividades) Fases de produção
68,18 73,33
Cria, recria e engorda (%)
41,81
Engorda (%)
59,09
Rebanho (número de animais produzidos por ano) 100-300
31,81
300-600
22,72
Acima de 600
45,45
produção, ou seja, animais em crescimento contínuo abatidos precocemente não refletindo animais que passaram por restrição alimentar em alguma fase da vida,
principalmente
nas
fases
iniciais
de
crescimento. A intensificação do sistema usando confinamento nas fases iniciais de crescimento resulta em animais de bom desempenho na cria, recria e engorda, com boa musculatura e um bom
Fonte: Elaborada pelo autor.
acabamento de gordura. Mesmo em sistemas convencionais, para um melhor resultado produtivo é indicado a suplementação
Quanto à classe sexual, verificou-se que a maior
desde a fase gestacional e durante toda a fase de
proporção de animais produzidos são machos
crescimento. No estágio inicial e meados do
inteiros (Tabela 2), corroborando com os dados
crescimento
apresentados pelo frigorífico avaliado, onde a maior
vascularização
proporção de animais abatidos são machos (Tabela
miogênese e adiponogênese eventos decisivos para
3). A idade média de abate para machos e fêmeas é
o desempenho e qualidade da carne da progênie. A
abaixo de 20 meses para abate (Tabela 2), ficando
formação das fibras musculares ocorre por dois
claro o sistema de produção curto. O peso de abate
eventos distintos temporalmente. Inicialmente, ocorre
de machos e fêmeas atende as exigências de
a formação das miofibras primárias durante o
mercado, reflete o grau de sangue do animal
desenvolvimento embrionário nos dois primeiros
produzido
com
meses da gestação, entretanto, devido ao baixo
possibilidade de serem terminados em sistema
número de fibras musculares durante o estágio de
intensivo de produção precocemente com um ganho
desenvolvimento, a nutrição materna nos primeiros
de peso médio diário satisfatório.
meses de gestação tem efeitos negligentes sobre o
que
é
predominante
taurino,
fetal
que da
ocorre placenta,
a
diferenciação, organogênese,
desenvolvimento do feto. Portanto, é importante o TABELA 2 – Caracterização do rebanho produzido nos confinamentos avaliados
conhecimento
Item
de otimizar a formação de fibras musculares,
Mínimo
Máximo
Média
de
como
se
manipular
o
desenvolvimento intrauterino do animal com objetivo
50
100
60
DP 16,3
20
50
40
10,8
Ganho médio diário 1,1 (kg/dia) Idade média abate 13 machos (meses) Idade média abate 12 fêmeas (meses) Peso vivo abate 420 machos (kg) Peso vivo abate 400 fêmeas (kg) Mortalidade na fase de 0,2 engorda Grau de sangue (% de 50 sangue europeu no rebanho – Angus, Hereford) Peso bezerro 140 desmamado – entrada confinamento (kg) Fonte: Elaborada pelo autor.
1,8
1,45
0,18
20
17
1,81
o rebanho composto por gado europeu com
24
16
2,48
destaque para Angus e Hereford (Tabela 2). Esse
550
484
36,6
resultado é reflexo do programa de qualidade
450
425,5
17,6
5
1,69
1,11
100
82,8
13,3
Machos inteiros produzidos Fêmeas produzidas
proporcionando maior potencial de crescimento animal na vida pós-natal (Paulino & Duarte, 2013). Verificou-se que em média 82% dos produtores têm
existente em SC, onde a produção de animais precoces com melhor acabamento é privilegiada e incentivada pelo programa. A escolha de uma raça produtiva influenciará diretamente a tentativa da obtenção de carcaça no padrão desejável. Existe
350
226,2
39,8
uma grande variação no grau de marmorização entre as raças bovinas produtoras de carne. Isso se torna importabte porque o pecuarista pode incorporar ao
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6076-6082, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
6079
Artigo 434- Caracterização dos confinamentos de bovinos de corte na região do meio oeste catarinense
seu rebanho raças ou linhagens bovinas que produzam carne com o perfil desejado pelo mercado consumidor (Luchiari Filho, 2003).
Frigorífico São João, consequência dos programas de incentivo, seja governamental ou de iniciativa privada que inclui incentivo as raças e o Super
A escolha por raças como as taurinas pelos
Precoce sendo um programa interno.
produtores se deve pela adaptação destes animais à região e por atender as exigências do mercado tanto
O sistema de produção caracterizado por animais
em peso quanto em acabamento, o que garante ao
taurinos,
produtor maior rentabilidade. Além do programa
sistema de pagamento por qualidade existente em
governamental Novilho Precoce, existem programas
SC, onde a produção de animais precoces e
de incentivo à produção da iniciativa privada, dentre
superprecoces é valorizada pelo estado e por
eles o programa Super Precoce idealizado
pelo
frigoríficos. Isso pode ser verificado quando se avalia
Frigorifico São João, em São João do Itaperiú SC,
o número de animais abatidos pela série histórica
no qual bonifica produtores em um sistema interno
entre 2011 e junho de 2016, e o pagamento por
de seleção, onde as carcaças que se encaixam aos
qualidade
parâmetros
são
Percebe-se claramente o aumento no número de
acrescidas de 4 até 7,5% (Tabela 3) do valor total
animais abatidos na região onde abates de animais
pago por animal de acordo com as características
precoces e superprecoces praticamente triplicaram
individualmente analisadas em um sistema de
ao longo da série histórica.
estabelecidos
pelo
frigorifico,
abatidos
precocemente
realizado
neste
é
período
reflexo
(Figura
do
1),
avaliação e tipificação de carcaça definido pelo FIGURA 1 – Abate geral de animais, abates de
próprio estabelecimento.
animais Adicionalmente,
Santa
Catarina
conta
com
classificados
como
precoces
e
superprecoces e incentivo por qualidade pago pelo
programas de incentivo à raças como exemplo,
frigorífico
animais da raça Angus, Hereford, Braford que tem
2016
de
2011
a
junho
de
suas tabelas de premiação conforme exigências das associações de cada raça, com premiações que variam de 5 até 10% (Tabela 3) acrescidos no valor pago por animal, sendo a classificação desses animais realizada por um técnico de cada raça e não tem vínculo com o frigorífico. As premiações são adquiridas pelos animais jovens que atingirem os critérios de cada enquadramento de classificação principalmente em peso e acabamento de carcaça. As iniciativas citadas estimulam produtores da região a especializar-se e procurar por novas tecnologias a serem usadas no sistema de produção, melhorando seu rebanho geneticamente o que garante maior rentabilidade e para o frigorífico, obtenção de carne certificada e um produto de qualidade para oferecer
Fonte: Adaptado de Frigorífico São João.
aos consumidores. O número total de animais abatidos de 2012 a 2015 O frigorífico São João atua em todo estado de Santa
aumentou
Catarina, mas com uma grande atuação na região
paralelamente
do meio oeste onde, segundo o frigorífico, se
classificados nos programas para animais Precoces
encontram os melhores animais em termos de
e Super Precoces e isto é resultado da renumeração
qualidade e em número. A grande maioria dos
adicional em programas de incentivo a qualidade.
produtores tem relação comercial fiel com o
Esse resultado reflete a atuação do Frigorífico e as
6080
consideravelmente houve
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o
aumento
(Figura de
1),
animais
Artigo 434 – Caracterização dos confinamentos de bovinos de corte na região do meio oeste catarinense
associações
de
incentivo
a
raças
e
órgãos
governamentais como a Companhia Integrada de Desenvolvimento
Agrícola
de
Santa
Catarina
260 a 279,99 acima de 280
10%
10%
8%
10%
10%
10%
180 a 209,99 210 a 219,99 220 a 239,99 240 a 259,99 260 a 279,99 acima de 280
6%
6%
0%
8%
6%
0%
10%
6%
0%
10%
8%
6%
10%
10%
8%
10%
10%
10%
4%
0%
0%
5%
0%
0%
5%
0%
0%
(CIDASC), que realizaram reuniões com grupos de produtores em algumas regiões para apresentar as
Novilha
vantagens dos programas o que consequentemente contribuiu para o aumento dos números. O frigorífico utiliza internamente critério de classificação e incentivo levando em consideração o sexo, raça e precocidade (Tabela 3). O frigorífico São João foi o 9º Frigorífico Brasileiro a receber a credencial para abate da carne certificada Angus, e o primeiro fora do Rio Grande do Sul a receber o certificado da Associação Brasileira de
Novilho inteiro
Hereford e Braford. Essas raças se destacam por produzir marmoreio, critério muito valorizado pelos consumidores destes cortes, pois proporcionam
210 a 259,99 260 a 279,99 acima de 280
Fonte: Adaptado de Frigorífico São João.
maciez, suculência e sabor, consequentemente também valorizada no abate (Tabela 3).
ácidos graxos de cadeia média e longa no omaso ou
TABELA 3 - Incentivo por qualidade considerando
abomaso (NOBLE, 1981).
classe sexual, raça, peso e idade dos animais
O número total de machos e fêmeas abatidas de
abatidos no Frigorífico
2011 a junho de 2016 pode ser verificado na Tabela 4.
Sexo
Novilhas
Novilhos
Novilho castrado Novilho castrado Novilha Novilha Novilho inteiro Novilho inteiro Novilho castrado
Verificou-se
que
a
média
dos
machos
% Incentivo por qualidade de acordo com a categoria e raça Peso Dente de 2 4 (kg) leite dentes dentes Precoce
enquadrados no programa revela um peso médio
Acima de 3,5% 210 180 a 3,5% 209,9 Acima de 3,5% 240 210 a 3,5% 239,9 Superprecoce
ao Super Precoce, com dados a partir de 2013, machos e fêmeas apresentaram peso superior de
3,5%
2,8%
carcaça em comparação a categoria dos precoces.
3,5%
0,0%
Os dados referentes ao abate e peso médio de
3,5%
2,8%
3,5%
0,0%
machos e fêmeas reforçam os dados apresentados na Figura 1, onde verificamos o crescimento contínuo de animais enquadrados nos programas de qualidade.
Acima de 7,5% 7,5% 240 210 a 6,0% 6,0% 239,9 Acima de 6,5% 6,5% 210 180 a 5,0% 5,0% 209,9 Acima de 5,5% 5,5% 240 210 a 4,0% 4,0% 239,9 Angus, Hereford, Braford 210 a 219,99 220 a 239,99 240 a 259,99
acima das fêmeas da mesma categoria. Em relação
6,0% 0,0% 5,0%
As fêmeas que apresentarem peso inferior aos machos dentro da classificação do Novilho Precoce recebem as mesmas porcentagens de incentivo e as
0,0%
fêmeas enquadradas no Programa Super Precoce
4,0%
também recebem premiação, mas neste caso é
0,0%
inferior ao novilho castrado mas superior ao novilho inteiro, ou seja a média. As fêmeas em geral são “discriminadas” pelos produtores justamente pelo
6%
6%
0%
peso de carcaça ser mais baixo que dos machos. É
8%
6%
0%
necessária
10%
8%
6%
atenção
especial
em
relação
ao
confinamento de fêmeas, nutrição e de ponto de abate para que se atinjam os padrões mínimos exigidos
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6076-6082, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
6081
Artigo 434 – Caracterização dos confinamentos de bovinos de corte na região do meio oeste catarinense
são
pontos
essências
como
critérios
de
produção. O sexo tem grande importância na composição da carcaça. Diferenças na distribuição muscular causadas pelo sexo aumentam à medida que o animal cresce. A influência mais visualizada do sexo e na composição da carcaça é no acabamento, as fêmeas alcançam a maturidade mais cedo, possuem maior proporção de gordura corporal e pesos mais baixos que os machos. Os machos castrados alcançam maturidade em fase intermediária entre inteiros e fêmeas, então o peso ótimo de abate é menor para novilho e maior para animais inteiros (Suñé, 2005). CONCLUSÃO Verificou-se uso de tecnologia crescente nos sistemas de produção avaliados, com uso das raças especializadas e busca por produção de animais
precoces
como
consequência
do
aumento dos programas de incentivo privados e governamentais em relação à raça e qualidade. Porém, a ausência ou insuficiência de dados financeiros isolados da produção de bovinos reflete em falta de gestão impedindo avaliações financeiras
dos
confinamentos
da
região
avaliada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ABIEC – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne. Pecuária Brasileira. Disponível em: <http://www.abiec.com.br>. Acesso em 29 de junho de 2016. CIDASC, Defesa Sanitária Animal (programas/vigilancia-epidemiologica). Disponível em: <http://www.cidasc.sc.gov.br>. Acesso em 02 de maio de 2016. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores IBGE. Estatísticas da Produção Pecuária. Disponível em:
6082
<http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 29 de junho de 2016. EPAGRI- Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina. Produção vegetal e animal, segundo as unidades da federação e do Brasil – 2015. Disponível em: <http://www.epagri.sc.gov.br/?page_id=1485 6>. Acesso em 22 de outubro de 2016. FIESC – Federação das Industrias do Estado de Santa Catarina – 2016. Disponível em: <http:// fiesc.com.br/. Acesso em 22 de dezembro de 2016. LUCHIARI FILHO, Albino. Novilho precoce – 40 anos. Piracicaba Sp: Dibd/esalq/usp, 2013. MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Dados de rebanho bovino e bubalino no Brasil – 2014. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br>. Acesso em 23 de maio de 2016. PAULINO, P. V.R.; DUARTE, M.S. Programação fetal e seus impactos na produção e qualidade de carne bovina. IN: A tecnologia a serviço da bovinocultura de corte. VIII SIMPEC. Anais... Lavras-MG: Suprema, 2013. SANTA CATARINA (Estado). Lei nº 9.183, de 28 de julho de 1993. Cria O Programa de Apoio à Criação de Gado Para Abate Precoce e Dá Outras Providências. Florianópolis, SC, Disponível em: <http://www.cidasc.sc.gov.br/inspecao/files/2 012/08/Lei-91931.pdf>. Acesso 03 de julho de 2016. SUÑÉ, Y.B.P. Uma análise da comercialização de bovinos para abate no estado do Rio Grande do Sul. 2005, Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – UFRGS-RS.
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6076-6082, jul. / ago, 2017. ISSN: 1983-9006
Enriquecimento ambiental e bem-estar na suinocultura Brinquedos, comportamento, suinocultura. Francisca Luana de Araújo Carvalho 2 Aline da Silva Gomes 3 Gabriela Priscila de Sousa Maciel 4 Firmino José Vieira Barbosa 5 Wéverton José Lima Fonseca
Revista Eletrônica
1*
1
Vol. 14, Nº 04, jul./ ago. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
Mestranda do programa de pós graduação em Ciência Animal - Nutrição de não ruminantes, Universidade Federal do Piauí-UFPI, Teresina, PI. Email: luanaraielly@hotmail.com * 2 Mestranda do programa de pós graduação em Ciência Animal Melhoramento Genético Animal, Universidade Federal do Piauí-UFPI, Teresina, PI. 3 Graduanda em Engenharia Agronômica, Universidade Federal do Ceará UFC, Fortaleza CE. 4 Professor adjunto e coordenador do curso de Zootecnia – Universidade Estadual do Piauí - UESPI, Teresina, PI. Mestre em melhoramento Genético animal, Universidade Federal do Piauí – UFPI, Teresina, PI.
O objetivo dessa revisão foi avaliar enriquecimento
ENVIRONMENTAL ENRICHMENT AND WELL-BEING IN THE PIG
ambiental e o bem-estar de suínos, bem como as
ABSTRACT
RESUMO
medidas que podem ser utilizadas para enriquecer o ambiente de criação. O sistema de criação de suínos pode ser enriquecido de diversas maneiras, as quais estimulam o interesse do animal de forma positiva, tais
como
disponibilização
de
brinquedos
e
substratos. A produção da suinocultura no Brasil vem aumentando cada vez mais e com as exigências do mercado consumidor sobre o bem-estar do animal, durante seu ciclo de vida, está sendo muito fiscalizados por todos da sociedade atual. A competitividade
da
suinocultura
brasileira
no
mercado mundial depende da sua adaptação às novas tendências e tecnologias. A questão do bemestar animal, que é uma exigência dos mercados internacionais,
tem
gerado
discussões
e
questionamentos sobre o sistema suinícola brasileiro atual. Palavras-chave: brinquedos, comportamento,
The
purpose
of
this
review
was
to
assess
environmental enrichment and pig welfare, and the measures that can be used to enrich the authoring environment. The pig rearing system may be supplemented in several ways, which stimulates the interest of the animal in a positive manner, such as toys and availability of substrates. The production of pig farming in Brazil has increased more and more. And with the requirements of the consumer market on the well being of the animal during its life cycle, being very inspected by all of today's society. The competitiveness of Brazilian pig farming in the world market depends on their adaptation to new trends and technologies. The issue of animal welfare, which is a requirement of international markets, has generated discussions and questions about the current Brazilian pig system. Keyword: toys, behavior, pig farming.
suinocultura.
6083
Artigo 435 – Enriquecimento ambiental e bem-estar na suinocultura
INTRODUÇÃO
equipamentos (HOTZEL & FILHO, 2004).
Um dos temas mais relevantes dentro das normas de bem-estar são os problemas relacionados ao
Dessa forma, objetivou-se com esta revisão, abordar
confinamento intensivo. Para tal há dois caminhos
a relação do enriquecimento ambiental como o bem-
para a superação da limitação do bem-estar animal:
estar de suínos, bem como as medidas que podem
o
ser utilizadas para enriquecer o ambiente de criação.
enriquecimento
ambiental,
que
consiste
no
aperfeiçoamento das instalações com o objetivo de tornar o ambiente mais adequado às necessidades
BEM-ESTAR NA PRODUÇÃO DE SUÍNOS
comportamentais dos animais, ou a busca de
Na produção animal, a avaliação do bem-estar
sistemas criatórios promotores do bem-estar animal
animal (BEA) é complexa, pois envolve aspectos
(MCGLONE, 2001).
relacionados às instalações, ao manejo e ao ambiente. De acordo com ZANELLA (1995) e
O enriquecimento ambiental, também conhecido
CANDIANI et al. (2008), o bem-estar animal (BEA)
como o uso de objetos dentro das instalações
pode
consiste
comportamentais,
permitindo
em
fornecer que
aos
estes
animais
artefatos
diversifiquem
seus
ser
avaliado
através
de
fisiológicos,
aspectos
sanitários
e
produtivos.
comportamentos. Um animal com mais opções comportamentais terá mais chances de lidar com
Conforme
eventos estressantes ao seu redor. O estudo do
descreveram que alguns indicadores de BEA podem
enriquecimento
objetivo
ser mensurados por meio de avaliações fisiológicas,
proporcionar um ambiente adequado para criação,
tais como a frequência cardíaca, a atividade adrenal
atendendo às necessidades comportamentais típicas
e
da espécie, reduzindo estresse e tornando o
mensurações
ambiente ativo mais complexo e diverso por
importância
contemplar suas necessidades etológicas (MAIA et
comportamentos
al., 2013).
estereotipias, a automutilação, o canibalismo, a
ambiental
tem
por
a
BROOM
resposta
do
&
MOLENTO
sistema
imunológico.
comportamentais na
avaliação anormais,
(2004)
têm
do
a
mesma
bem-estar. tais
As
como
Os as
agressividade excessiva e a apatia em suínos O bem-estar pode ser defendido através de vários
indicam condições desfavoráveis ao seu bem-estar
pontos de vista considerando o animal de acordo
(BROOM & MOLENTO, 2004).
com sua saúde física e mental. A falta do bem-estar leva ao comprometimento da saúde dos animais,
Atualmente, o bem-estar animal é um dos assuntos
podendo levá-los a um nível elevado de estresse,
mais polêmicos, embora não seja um conceito novo.
realização
É de crescente importância no cenário suinícola
de
comportamentos
estereotipados,
agressividade e imunossupressão. No entanto, os
mundial,
principalmente
problemas de bem-estar animal são agravados, uma
demandado
vez que as condições submetidas restringem o
consumidores da carne suína brasileira. Na criação
comportamento natural dos animais (NAZARENO et
intensiva de suínos, os animais passam toda sua
al., 2009).
vida produtiva em instalações fechadas e com
pelos
por
ser
mercados
um
requisito
internacional
espaços individuais restritos, gerando situações que A suinocultura brasileira tem evoluído muito nos
comprometem o bem-estar (MAIA et al., 2013).
últimos anos ganhando cada vez mais espaço no mercado internacional (CARVALHO et al., 2013).
Conceituar cientificamente bem-estar animal não é
Portanto, melhorar o bem-estar animal é necessário
simples. Vários conceitos vêm sendo desenvolvidos,
para atender às exigências do mercado consumidor,
utilizados e aprimorados ao longo do tempo por
seja ele interno ou externo. A sociedade passou a
diversos autores (YEATES & MAIN, 2008; OHL &
exigir métodos para melhorar a qualidade de vida
VAN DER STAAY, 2012). De modo geral, nas
dos animais, o que fez com que produtores a
definições, bem-estar positivo indica ausência de
investissem em treinamento pessoal, instalações e
sofrimento
6084
ou
estresse
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6083-6090, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
e
são
baseadas
nos
Artigo 435 – Enriquecimento ambiental e bem-estar na suinocultura
princípios de bem-estar embasados nas cinco
De acordo com MACHADO FILHO; HÖTZEL (2000)
liberdades dos animais definidos pelo FAWC (Farm
são
Animal Welfare Council, 1992): livres de fome e
enriquecimento ambiental: colocação de objetos,
sede; livre de desconforto; livre de dor, sofrimento e
como correntes e “brinquedos” para quebrar a
doença; livre de medo e angústia; e livre para
monotonia do ambiente físico, a colocação de palha
expressar seu comportamento natural (MAIA et al.,
no
2013).
canibalismo; que a área mínima por suíno em
exemplos
piso,
de
evitando
medidas
piso
na
ripado,
direção
o
que
do
reduz
2
terminação seja de 1 m e de leitões na creche de ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL
0,35m , sem piso ripado e com palha do lado do
Com relação ao bem-estar, animais confinados
comedouro, o bebedouro do lado oposto, isso reduz
encontram-se impossibilitados de manifestar seu
agressão e os animais separam área de excreção
repertório
(próximo ao bebedouro) da área de descanso.
normal
de
2
comportamento
e
ficam
expostos a um maior grau de agressões ao seu organismo. Enriquecimento ambiental é utilizado
A palha é um importante componente ambiental
como uma forma de melhorar as condições animais,
influenciando favoravelmente o bem-estar do suíno.
pois a preocupação com o bem-estar animal, não
Nos sistemas confinados o uso de palha, ou outro
somente reflete uma postura “ética” com relação aos
substrato similar cobrindo o piso, tem impacto na
sistemas de produção vigentes, mas também tem se
manifestação
tornado uma exigência do mercado internacional,
impropriamente chamados "vícios" entre os animais
constituindo-se em breve, numa barreira oficial para
(MACHADO FILHO; HÖTZEL, 2000).
comportamental
de
alguns,
o comércio entre países, especialmente com a Comunidade
Econômica
Europeia
(IELER
et
BRINQUEDOS Embora os estudos tenham mostrado que os suínos
al.,2009).
preferem os substratos aos brinquedos (VAN DE O enriquecimento ambiental é um princípio do
WEERD et al., 2003; SCOTT et al., 2007; ELMORE
manejo animal que procura ampliar a qualidade de
et
vida
al.,
2012),
o
uso
de
brinquedos
como
da
enriquecimento na suinocultura mostra-se bastante
identificação e fornecimento de estímulos ambientais
promissor, apresentando resultados significativos.
necessários para alcançar o seu bem-estar psíquico
Constituem-se artefatos simples que podem ser
e fisiológico, estimulando comportamentos típicos da
utilizados onerando pouco o custo de produção, por
espécie, reduzindo estresse e tornando o ambiente
meio
cativo mais complexo e diverso, por contemplar suas
comportamentos que comprometem o bem-estar
necessidades etológicas. Assim, o enriquecimento
animal.
dos
animais
em
cativeiro
através
de
ideias
criativas,
e
ainda,
reduzindo
ambiental consiste em uma forma de propiciar melhor condição de vida aos animais (BOERE,
Os tipos de brinquedos mais comuns são pneus,
2001; HOHENDORFF, 2003).
correntes, garrafas pet, barras de madeira ou plástico, brinquedos de cães entre outros. Poucos
A ausência de um ambiente adequado impossibilita
testes têm sido realizados quanto à preferência dos
o animal de demonstrar seu máximo potencial
suínos pelos tipos de brinquedos disponíveis para
genético, de manter sua higidez e de nutrir-se de
enriquecimento do ambiente de produção. As
forma
maiorias
adequada
(SARUBBI,
2009).
Conforme
das
pesquisas
comparam
tipos
de
CARLSTEAD; SHEPHERDSON (2000), a redução
brinquedos com os substratos para cama (SCOTT et
do
distúrbios
al., 2009; ELMORE et al., 2012)., tipo a palha, já que
intervenções
este último aparenta ser preferido pelos animais.
clínicas, a diminuição da mortalidade e o aumento
Outros exemplos de objetos de enriquecimento
de taxas reprodutivas são alguns benefícios do
podem ser obtidos em uma pesquisa de Van de
enriquecimento ambiental.
Weerd et al. (2003), na qual os autores utilizaram 74
estresse,
comportamentais,
a
diminuição a
redução
de de
tipos de enriquecimento diferentes, considerando Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6083-6090, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
6085
Artigo 435 – Enriquecimento ambiental e bem-estar na suinocultura
brinquedos e substratos. Como exemplo dos objetos
corrente, serragem e por fim a maravalha. E ainda,
utilizados pode citar diversos tipos de bolas,
independente do material, o tempo no qual os
espelho, baldes, tapete, peneira entre muitos outros.
animais gastavam interagindo com os objetos foi diminuindo ao longo do experimento, assim como, o
Em um estudo de preferência realizado por Jensen
nível de interação com os artefatos quando os
et al. (2008), três tipos de brinquedos suspensos
animais
(corda, bloco de madeira e cano de plástico) foram
combinação.
disponibilizados
para
os
suínos.
Os
eram
apresentados
a
uma
segunda
autores
observaram que os animais não apresentaram
FASE DE CRESCIMENTO E TERMINAÇÃO
interesse por nenhum dos objetos apresentados
Estudos mostram que os suínos em condições
naquela condição. No entanto, eles preferiram a
naturais passam 75% das horas do dia fuçando,
outros estudos que forneceram os mesmos tipos de
buscando
brinquedos, nos quais os animais preferiram a corda
Entretanto, essas condições não são possíveis em
de sisal quando comparada a blocos de madeira e
uma
canos de plástico.
2000). Os principais problemas de bem- estar em
alimento
situação
de
e
explorando
confinamento
o
ambiente.
(STEVENSON,
suínos em engorda são excesso de densidade, falta Em
estudos
realizados
(2012)
de palha, corte da calda, castração e corte dos
concluiu que o uso de cordas como objeto de
dentes (STEVENSON, 2000). De acordo com Sator
enriquecimento foi mais interessante para suínos do
et al. (2004) as instalações na fase de crescimento e
que bolas com comida de leitões. As duas formas
terminação devem possuir área por animal de 0,50
mais
de
m a 0,75m e 0,85m a 1,00m respectivamente,
brinquedos nas baias são suspensos ou no chão. Os
conforme o tipo de piso que pode ser ripado,
suínos preferem materiais que estão suspensos a
parcialmente ripado ou compacto.
comuns
de
por
NILSSON
fornecimento
dos
tipos
2
2
2
2
aqueles que são fornecidos no chão (GUY et al., 2013). Blackshaw et al. (1997) sugeriram que o suíno perde o interesse primariamente pelos objetos sobre o chão por estes ficarem sujos mais rapidamente, perdendo a valor de novidade. Resultados obtidos por Trickett et al. (2009) indicam que os grupos de suínos interagiram tanto com o bloco de madeira como com a corda de sisal, e concluíram que ambos os objetos apresentam alto valor de enriquecimento. Entretanto, quando o acesso a estes brinquedos foi contínuo, os animais interagiram mais com a corda e apresentaram mais atividades de exploração, por ser um objeto que
CORTE DA CAUDA O corte da cauda dos leitões é feito na primeira semana de vida. Essa prática é importante para evitar o canibalismo. A indústria suinícola alega que o corte da cauda não causa dor. Mas não é verdade. O
Comitê
Científico
Veterinário
da
Comissão
Europeia (SVC) concluiu que o corte da cauda provavelmente é doloroso e que, em alguns animais, “leva à dor prolongada” (STEVENSON, 2000). Os suínos em baias de crescimento geralmente desenvolvem o comportamento de mordida de cauda por falta de enriquecimento. Van de Weerd et al. (2006)
atende mais as características desejáveis, tais como
introduziram diferentes objetos de enriquecimento e
mastigável e destrutível. Além disso, a corda estava
observaram que houve redução (P<0,05) de mordidas
suspensa na baia, o que pode ter contribuído para a
de cauda entre suínos na fase de crescimento,
maior interação.
mostrando uma melhora no bem-estar. De acordo
com Edwards (2002) uma alternativa para reduzir o Ao combinarem quatro diferentes materiais de
risco de mordida na cauda seria através de
enriquecimento para suínos na fase de crescimento:
estratégias de seleção. A mordida na cauda possui baixa herdabilidade, mas é significativo em raças Landrace. O corte da cauda deve ser realizado como
objetos suspensos (corda de sisal e corrente de metal) e dois substratos (serragem e maravalha), Guy et al. (2013) verificaram que houve maior interação dos animais com a corda, seguido da 6086
último recurso após o uso de estratégia nutricional e ambiental (EDWARDS, 2002).
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6083-6090, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 435 – Enriquecimento ambiental e bem-estar na suinocultura
CASTRAÇÃO
de o médico veterinário indicar sua necessidade
A castração em suínos é uma prática utilizada para
somente quando houver indícios objetivos de
evitar o “odor na carcaça”. O odor esta relacionado
ferimentos nos tetos das matrizes, de modo a
com a maturidade sexual e produção de hormônios
promover benefícios à saúde e melhoria do bem-
dos machos suínos, tornando a carne de animais
estar dos leitões e da matriz (BREUER et al.,
não castrados imprópria para o consumo (BABOL et
2003).
al., 1998). Outro fator levado em consideração, principalmente por países da União Europeia,
MATRIZES
baseia-se no fato de que os leitões são castrados
No setor de gestação as celas para matrizes são
cirurgicamente
durante
os
primeiros
dias
ou
semanas de vida sem anestesia ou analgesia pósoperatória (Prunier et al., 2006), por ser um fator estressante aos animais, causando dor e ferimentos que
podem
levar
a
deficiências
desempenho
dos
procedimento
questionável,
animais, e
crônicas
tornou até
se
mesmo
feitas de barra de metal e possuem espaço extremamente
limitado
que
as
porcas
não
conseguem nem mesmo se virar. As matrizes são
no
confinadas a estas celas durante as 16 semanas
um
e meia de prenhes. Após esse período, as
em
matrizes vão para o setor de maternidade, onde
processo de banimento em alguns países.
são confinadas em celas de parição, e depois voltam para o setor de gestação até serem
A utilização do próprio sistema imune do suíno para suprimir o GnRH interrompe o eixo hipotalâmicohipofisário-gonadal, pelo estabelecimento de uma barreira imunológica que interrompe a passagem de
descartadas. Isto significa que as matrizes ficam aprisionadas desta forma durante a maior parte de suas vidas.
GnRH do local de liberação no hipotálamo ao local de ação, na glândula pituitária. A supressão do
De acordo com Cruz (2003) a União Europeia
GnRH o impede de estimular a secreção de LH e
exige que as fêmeas após desmame sejam
FSH pela glândula pituitária, consequentemente,
mantidas em baias com no mínimo 2.8 m cada
reduzindo o desenvolvimento dos testículos e a
parede. Para abrigo individual, deve propiciar que
síntese de hormônios esteróides (Oonk etal.,1998;
o animal possa girar em todas as direções com
Adams, 2005; Thun et al., 2006; Claus et al., 2007;
facilidade
Bauer et al., 2008; Pauly et al., 2009), incluindo a
convencionais).
androsterona
encontraram alternativas que garantem uma
(Zamaratskaia,
2008),
principal
hormônio responsável pelo odor na carcaça.
(proibido
gaiolas
Pesquisas
de
gestação
ainda
não
proteção adequada aos leitões durante a fase de aleitamento (EDWARDS, 2002). Os estudiosos têm desafiado e intimado a cadeia produtiva a
CORTES DOS DENTES A remoção dos dentes de leitões entre o primeiro e terceiro dia de vida é uma prática de manejo rotineira empregada na suinocultura moderna, com o objetivo de reduzir a incidência de lesões cutâneas na face dos leitões e nos tetos das matrizes. Entretanto esta prática vem sendo questionada, em virtude de sua influência negativa no bem-estar dos animais, no seu desempenho zootécnico e na maior predisposição dos mesmos a doenças oportunistas.
levar
em
consideração
seguintes
aspectos
básicos visando proporcionar maior conforto ás fêmeas (SOBESTIANSKY et al., 2003): A fêmea gestante deve possuir condições de deitar em decúbito, sem que o aparelho mamário fique em contato com a cela adjacente, ou seja, devem ser evitados quaisquer tipos de compressão
do
aparelho
mamário
contra
paredes, barras de ferro ou outros tipos de barreiras.
Desde 2001, a legislação da União Europeia que rege os padrões mínimos de bem-estar animal, proíbe a prática da remoção dos dentes dos leitões
A cabeça da fêmea gestante não pode ficar apoiada sobre o comedouro frontal da cela gestante.
como medida de manejo rotineira, ficando a critério Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6083-6090, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
6087
Artigo 435 – Enriquecimento ambiental e bem-estar na suinocultura
O posterior das fêmeas não pode ficar em contato permanente com a estrutura de sustentação
o Comitê Científico Veterinário da Comissão Europeia (Stevenson, 2000):
traseira da cela de gestação. A fêmea gestante deve ter condições de levantar sem nenhum tipo de impedimento.
Enfraquecimento dos ossos
A falta de exercício também está associada com a maior tendência das matrizes em celas a
Estudos mostram que as celas infligem uma série de problemas de saúde e de bem-estar em matrizes como o contato social, esteriotipias, desconforto
ferimentos nas patas e manqueira. Isto em parte se deve a ossos mais fracos, inerentes de sistemas de celas. A manqueira também está associada ao fato de que as matrizes confinadas
físico e falta de exercício.
em celas ou acorrentadas são mantidas em pisos de concreto. Matrizes em piso de concreto têm incidência mais alta de feridas nos cascos,
CONTATO SOCIAL O
Comitê
Científico
Veterinário
da
Comissão
Europeia indicou que as matrizes têm uma forte
edemas inflamatórios nas articulações e abrasões na pele do que as outras.
preferência por companhia social. Acrescenta que as matrizes preferem ter contato social com outros
CONCLUSÕES
suínos e que se associam e interagem de forma
O uso do enriquecimento ambiental como medida
amistosa com maior frequência do que de forma
para melhorar o bem-estar de suínos confinados
agressiva (STEVENSON, 2000).
é promissor e eficiente. Há métodos, como disponibilização de substratos para cama e brinquedos, que possuem respaldo científico, embora ainda haja muitos critérios a serem estudados e
ESTEREOTIPIAS O
comportamento
estereotipado
é
um
comportamento altamente repetitivo, realizado sem propósito aparente. A ocorrência de estereotipias,
definidos. Outros métodos, tais como ionização do ar, musicoterapia e aromaterapia, que são menos
pesquisados,
prometem
resultados
satisfatórios.
como morder barras, mastigar no vazio e enrolar a língua, em matrizes confinadas em celas foi relatada
A escolha do tipo de enriquecimento a ser
por
este
utilizado em uma granja é subjetiva, sendo
comportamento é extremamente raro em matrizes
dependente da sua realidade. É importante con-
mantidas em ambientes complexos. As estereotipias
siderar a viabilidade econômica e as condições
diversos
autores.
Acrescenta
que
indicam que o animal está tendo dificuldade de lidar com o seu ambiente e, portanto, seu bem-estar está prejudicado (STEVENSON, 2000).
de
operacionalização
unidade
de
enriquecimento
do
produção, ambiental
enriquecimento ressaltando pode
na
que
ser
o
uma
ferramenta de baixo custo e de bons resultados, desde que se use a criatividade.
DESCONFORTO FÍSICO Não há fornecimento de cama em sistemas de cela;
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
em vez disso, as matrizes são forçadas a ficar de pé ou deitar no piso de concreto. Alguns estudos
BLACKSHAW, J.K. et al. The effect of a fixed or free toy on the growth rate and aggressive
mostram que as matrizes que são obrigadas a deitar
behaviour of weaned pigs and the influence of
no concreto podem sofrer perda de calor excessiva e
hierarchy on initial investigation of the toys. Applied Animal Behaviour Science, Elsevier,
desconforto
físico
crônico,
especialmente
nas
articulações no joelho e do jarrete (Machado Filho & Hötzel, 2000).
Amsterdam, v. 53, n. 3, p. 203-212, Jun., 1997.
FALTA DE EXERCÍCIO As matrizes alojadas em celas fazem pouco
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exercício o que acarreta alguns problemas, segundo
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6088
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6083-6090, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
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Artigo 435 – Enriquecimento ambiental e bem-estar na suinocultura
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6090
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on
the
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of
Hora Veterinária, v.14, n.83, p.47- 52, 1995.
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.6083-6090, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes Aditivos, bovinos, nutrição, zootecnia.
Revista Eletrônica
1*
Vol. 14, Nº 04, jul./ ago. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
RESUMO
Laion Antunes Stella 1 Angel Sanchez Zubieta 1 Bruna Kuhn Gomes 1 Ênio Rosa Prates 1
Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – A Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS- E-mail: laionstella@hotmail.com
Objetivou-se destacar o uso dos óleos essenciais
ESSENTIAL OILS AS AN ALTERNATIVE TO METHANE REDUCTION IN RUMINANTS
como modificadores da fermentação ruminal e suas
ABSTRACT
alterações na metanogênese. O uso de aditivos
Dietary additives are used to modulate ruminal
moduladores da fermentação ruminal, visando o
fermentation and increase feed efficiency, and have
aumento da eficiência alimentar em ruminantes, é
been subject of study for a long time. Monensin is
alvo de estudos da pesquisa há bastante tempo. Um
the most popular in animal nutrition, as it improves
dos aditivos mais utilizados é a monensina, pelo fato
nutrient utilization and reduces the incidence of
de melhorar o aproveitamento de nutrientes e reduzir
metabolic disturbances in animals. It also reduce
a incidência de distúrbios metabólicos nos animais.
enteric
Contudo, o seu uso está sendo questionado pela
depending on basal diet, specifically to roughage to
possibilidade de deixar resíduos nos produtos de
concentrate
origem animal. Desta forma, se abre caminho para o
residues left on animal products and about the
uso
possibility
de
fontes
naturais
que
tenham
função
methane ratio. of
emission However,
bacterial
intensity, doubts
resistance
variably
about to
the
antibiotic
semelhante à dos ionóforos, e que possam ser
treatment in humans, led their ban in the European
aplicados de forma segura na nutrição animal. O uso
Union (EU), in 2006. This scenario made animal
de óleos essências nas dietas para ruminantes
nutritionist to study natural compounds capable to
possuem potencial para reduzir a produção de
modify ruminal fermentation similarly to ionophores,
metano. O metano além de ser um gás de efeito
but on a natural way, appreciable by consumers.
estufa, é uma perda energética do animal que
This review highlights the use of essential oils as
poderia
modifiers
ser
direcionado
para
um
melhor
of
ruminal
fermentation
and
desempenho animal.
methanogenesis. It show their potential to reduce
Palavras-chave: aditivos, bovinos, nutrição, zootecnia.
methane production when added to ruminant diet.. Keyword: additives, Animal Science, cattle, nutrition.
9091
Artigo 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes
INTRODUÇÃO
ruminantes (Cobellis et al., 2016). Dentre os extratos
Os ruminantes contribuem para a mudança climática
testados se destacam os óleos essenciais, taninos e
através da emissão de gases de efeito estufa de
as saponinas.
forma direta (através da fermentação entérica e manejo do estrume) ou indiretamente (produção de
Os efeitos da suplementação com óleos essenciais
alimentos e conversão de floresta em pastagem)
(OE) são variados e muitas vezes contraditórios.
(FAO, 2013). O metano entérico é uma perda de
(Yesilbag et al., 2016). Estudos para avaliar o
energia produtiva na faixa entre 2% e 12% da
consumo de ração e a digestibilidade in vivo são
energia
ruminantes,
importantes para validar os resultados in vitro. O
dependendo do nível de ingestão de alimentos e da
desafio para os estudos in vivo é identificar
composição da dieta (Johnson & Johnson, 1995).
substâncias fitogênicas com efeitos duradouros e
bruta
consumida
pelos
sem deprimir a ingestão de alimentos e a digestão, Várias estratégias nutricionais foram testadas para
bem
melhorar a fermentação ruminal, especialmente para
(Flachowsky & Lebzien, 2012). Além disso, a dose
diminuir a produção de metano, possibilitando
ótima de utilização tem de ser melhorada para obter
aumentar o desempenho animal e a eficiência da
uma redução significativa na metanogênese (Rira et
utilização dos alimentos (Jouany & Morgavi, 2007).
al., 2015). Com base nos dados in vivo disponíveis, é
+
possível concluir que os OE e os seus compostos
Essas estratégias podem ser feitas reduzindo o H
metabólico disponível para metanogênese, com +
como
podem
a
ser
saúde
e
utilizados
produtividade
como
animal
promotores
de
redutores alternativos para eliminação de H (Bodas
crescimento natural na nutrição animal (Giannenas
et al., 2012).
et al., 2013).
Os antibióticos têm sido amplamente utilizados para
Desta forma, objetivou-se destacar o uso dos óleos
esses fins em ruminantes há bastante tempo. No
essenciais como modificadores da fermentação
entanto, o aparecimento potencial de resíduos em
ruminal e suas alterações na metanogênese.
produtos de origem animal criou uma preocupação social sobre a transferência para humanos da
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
resistência ao tratamento antibiótico observada em bactérias ruminais (Hart et al., 2008). Os compostos
Aditivos naturais como redutores da
secundários de extratos de plantas podem afetar
metanogênese
uma ampla gama de microrganismos do rúmen
As maiores fontes de emissão de CH4 considerando
(Wallace, 2004), incluindo bactérias gram-positivas
as atividades agropecuárias são representadas pela
(a maioria produtoras de acetato e butirato), gram-
fermentação entérica em ruminantes, produção de
negativas (normalmente produtoras de propionato),
arroz em terrenos alagados e fermentação de
metanogênicas, fúngicas e protozoárias (Patra &
dejetos (Olesen et al., 2006). O setor pecuário
Saxena,
Como
representa uma fonte significativa de emissões de
fermentação
gases de efeito estufa em todo o mundo, gerando
(Frutos et al., 2004, Busquets et al., 2006), reduzir a
dióxido de carbono, metano e óxido nitroso ao longo
síntese de metano (Kim et al., 2013), e promover o
do processo produtivo (FAO 2013). O metano é
crescimento de animais quando usado em doses
eliminado
adequadas (Durmic & Blache, 2012).
proveniente da fermentação ruminal, que está
2009,
consequência,
Cieslak podem
et
al.,
modular
2013). a
por
ruminantes
e
sua
produção
é
relacionada ao tipo de animal e ao consumo e à No passado, metabólitos secundários de plantas
digestibilidade de alimento.
eram considerados como fatores antinutricionais devido a efeitos adversos na utilização de nutrientes.
A
Recentemente, muitos extratos de plantas foram
essencial no rúmen que atua como dissipador de
estudados pela sua atividade antimicrobiana e
hidrogênio. A inibição da metanogênese é essencial
capacidade de modificar a função intestinal em 6092
metanogênese
é
um
processo
metabólico
para manter a adequada fermentação no rúmen,
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Artigo 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes
aumentando a eficiência de conversão alimentar e
Brasil, maiores produtores mundiais de carne e/ou
reduzindo a poluição ambiental (Pawar et al., 2014).
leite (Dufield et al., 2008). No entanto, desde a
Durante o processo de fermentação, a produção do
proibição dos antibióticos em 2006 pela legislação da
ácido acético e ácido butírico liberam grande
União Europeia, os estudos com compostos naturais
quantidade de H2, esse por sua vez, é removido do
como
rúmen via metano (Nascimento et al., 2007).
consideravelmente (Wallace, 2004; Durmic & Blache,
alternativas
aos
antibióticos
aumentaram
2012). Assim, existe a possibilidade da redução desse gás pela modificação da fermentação ruminal, obtida por
Compostos fenólicos (timol, eugenol, carvacrol) ou
alteração do volumoso, do tipo e da quantidade de
óleos essenciais com altas concentrações destes
carboidrato suplementado à dieta, pela adição de
fenólicos, óleo de canela e seu componente principal
lipídeos e pela manipulação da microbiota do rúmen
cinamaldeído, óleo essencial de alho e seus
com aditivos alimentares (Figura 1) (Mohammed et
derivados, em particular dissulfeto dialílico e outros
al., 2004).
óleos essenciais podem ser eficazes, pelo menos in vitro na diminuição da produção de CH4 (Benchaar,
FIGURA 1: Estratégias nutricionais para a redução do metano em ruminantes
2011). Também a associação entre óleos essenciais pode apresentar resultados valiosos na redução da metanogênese, porém pode haver efeito competitivo nesse caso. Os aditivos são usados para melhorar a relação simbiótica entre os microrganismos presentes no rúmen e seu hospedeiro, favorecendo os processos fermentativos no rúmen em animais que recebem dietas com alto teor de carboidratos não fibrosos (Franzolin et al., 2000).
Desta forma, aumenta o
desempenho animal e a eficiência da utilização dos alimentos
por
melhorar
geneticamente
os
microrganismos ruminais (Jouany & Morgavi, 2007). Segundo Cardozo (2005) os óleos essenciais são dependentes do pH para apresentarem o seu potencial. Desta forma, dietas com baixo pH (5,5), quando comparadas a um pH alto (7,0) são capazes de aumentar a concentração de ácidos graxos
Fonte: Adaptado Mohammed et al., 2004.
Os resultados mais promissores da pesquisa foram obtidos a partir de alguns aditivos alimentares como
voláteis (principalmente propianato) e reduzir a quantidade
de
amônia.
Em
uma meta-análise
probióticos, lipídios dietéticos, ácidos orgânicos, enzimas e compostos secundários de plantas. Os aditivos ideais devem diminuir a produção de metano reduzindo a taxa de degradação de carboidratos facilmente fermentáveis para reduzir o risco de acidose ruminal e melhorar a digestão das fibras
Khiaosa-ard & Zebeli (2013) compararam a reposta
(Jouany & Morgavi, 2007).
resposta pelo fato de os bovinos testados recebiam
in vivo do uso de inúmeros óleos essenciais e a espécie animal que apresentou a melhor resposta e menor variabilidade dos dados foram os bovinos de corte,
quando
comparados
com
pequenos
ruminantes e gado de leite. O autor justifica essa dietas mais padronizadas e com maior teor de
A
monensina
é
o
ionóforo
mais
difundido
concentrado, tendo um pH ruminal mais baixo na
mundialmente, sendo seu uso permitido em países
média de 6.05, versus um pH de 6.31 e 6.22
como Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e
respectivamente para pequenos ruminantes e vacas de leite.
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6093
Artigo 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes
O metano pode ser afetado por um efeito seletivo
2012; Khiaosa & Zebeli, 2013). Estes incluem
dos óleos essencias através da inibição direta das
metabólitos secundários como saponinas, taninos e
archaea
outros presentes em óleos essenciais (Calsamiglia et
metanogênicas
e/ou
depressão
dos
processos metabólicos microbianos envolvidos na
al., 2007; Patra & Saxena, 2009).
metanogênese (Bodas et al., 2012). A utilização de recursos que atuem na redução da emissão de CH 4
O
de
origem
ruminal
resultam
em
aumento
da
resistência
antibacteriana
dos
benefícios
microrganismos e o aparecimento de resíduos na
econômicos, pela maior eficiência na utilização dos
carne e no leite tem desencorajado o uso de
alimentos e, principalmente, benefícios para o meio
antibióticos na alimentação animal. Deste modo, tem
ambiente (McGinn et al., 2004).
havido um interesse crescente na exploração de metabólitos
secundários
de
plantas
como
Como a ingestão de alimentos é o principal fator que
modificadores naturais (Pawar et al., 2014). Os óleos
afeta o desempenho animal (Illius & Jessop, 1996),
essenciais (OE) e seus compostos provaram sua
os extratos de plantas não devem ter efeitos
eficácia in vitro como agentes antimicrobianos,
prejudiciais na digestibilidade da matéria orgânica e
antioxidantes,
na produção de ácidos graxos voláteis (Wallace,
inflamatórios. Estes compostos merecem um lugar
2004). Isto depende das características químicas dos
importante como aditivos alimentares que são
compostos secundários (Frutos et al., 2004 Salem et
geralmente considerados como seguros. (Giannenas
al., 2012), que é altamente variável entre espécies
et al., 2013). Alguns têm se mostrado promissores
de plantas (Kamalak et al., 2005).
na
mitigação
imunomoduladores
da
emissão
de
e
anti-
metano
pelos
ruminantes devido aos seus efeitos diretos na Os resultados sobre a atividade anti-metanogênica
metanogênese, nos protozoários, na digestão dos
dos metabólitos secundários das plantas indicam o
alimentos e na fermentação (Cobellis et al., 2016).
seu potencial para serem utilizados como aditivos na alimentação para reduzir a produção de metano,
Nos últimos anos diversos trabalhos estão sendo
mas o mecanismo da sua ação necessita de uma
realizados para buscar um óleo essencial com
investigação detalhada (Rira et al., 2015).
características produtividade
Os óleos essenciais possuem muitas substâncias químicas diferentes (20-60 componentes em cada tais
como
álcoois,
aldeídos,
cetonas,
hidrocarbonetos, ésteres e éteres (Benchaar et al., 2007). Esse tipo de material possui atividade antioxidante devido a presença de compostos fenólicos.
No
flavonóides
entanto,
compostos
e terpenóides
também
como
os
apresentam
atividade antioxidante. Essas substâncias podem interceptar e neutralizar radicais livres, impedindo a
aditivos
são
aumento
sustentável.
Os
da
óleos
utilizados
para
promover
o
maneira direta de mitigar as emissões de metano entérico pelos ruminantes (Hristov et al., 2014). Alguns compostos naturais, rotulados como seguros para humanos (FDA, 2004), são propostos como substitutos potenciais de antibióticos (Salem et al.,
Greathead, 2011; Cieslak et al., 2013) afetando a população de bacteriana, entre elas, as produtoras de amônia (Wallace, 2004). Assim, é razoável pensar que o uso de compostos secundários em doses
adequadas
pode
resultar
em
múltiplos
benefícios na fermentação ruminal (Benchaar & Greathead, 2011; Patra & Yu, 2013). Vários são os óleos essenciais, porém alguns deles, tais como o timol (extraído do tomilho), carvacrol alho), citrol e citronolol (extraídos de diversas plantas
crescimento e a saúde dos animais, bem como uma
6094
forma
o
(extraído do orégano), alina e alicina (extraídos do
propagação do processo oxidativo (Hui, 1996). Os
de
para
essenciais têm atividade antimicrobiana (Benchaar &
Óleos essenciais
óleo),
positivas
cítricas), mentol (extraído da menta) e cinamaldeído (extraído da canela) já possuem sua funcionalidade conhecida (Velluti et al., 2003). Os óleos essenciais são obtidos a partir de diferentes partes da planta, tais como, folhas, raízes, caule ou de mais de uma parte, sendo que a melhor tecnologia para a extração destes óleos essenciais é por destilação a
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Artigo 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes
vapor, quando comparadas pela extração com
Uma redução nos ácidos graxos voláteis pode ser
metanol ou acetona (Burt, 2004).
justificada pela menor fermentação ruminal. É mais interessante do ponto de vista energético a
uma alteração na proporção dos AGV, com maior
capacidade de reduzir a produção de metano, pelo
contribuição do propionato e menores perdas de
fato da concorrência de substrato para a produção
energia via metano (CH4). Um aumento na
de propionato e a redução da metanogênese
produção de AGV se dá pela degradação dos
(Cieslak et al., 2013). Alterar o padrão fermentativo,
compostos dos óleos no rúmen. Os óleos de alho,
reduzindo
rúmen
tomilho e canela foram os que apresentaram os
energicamente mais eficiente e reduz a geração de
resultados mais promissores, sendo que o alho foi
CH4. Ao se produzir propionato não há produção de
ainda capaz de aumentar o pH, algo interessante
H+ como observado para as rotas que levam à
para dietas com alto teor de concentrado.
Segundo
alguns
a
trabalhos,
relação
os
C2:C3,
óleos
torna
o
têm
produção de acetato e butirato. Além disso, as vias metabólicas de produção de propionato servem de
A redução da produção de CH4 deve ser pela
dreno de H+ (Van Soest, 1994).
maior proporção de propionato e não pela redução da digestibilidade da matéria seca
A variabilidade nas respostas pode estar relacionada
(DMS). Pela grande quantidade de óleos para se
a diferenças no tipo, concentração e atividade de
avaliar e visando experimentos com menores
compostos secundários, que provavelmente serão
custos, existe maior disponibilidade de trabalhos
afetados pela planta, ambiente de crescimento,
com ensaios in vitro. Os óleos essenciais são
processo de pós-colheita (Patra et al., 2006, Salem
capazes
et al., 2012), O método de extração (Yang et al.,
gerando produtos mais desejáveis para o animal,
2010), as doses empregadas (Busquets et al., 2006)
culminando em uma melhor eficiência alimentar e
e, finalmente, o consumo de um ingrediente ativo
um menor impacto ambiental. Contudo, deve ser
específico por parte dos animais (Frutos et al.,
pesquisado um maior número de óleos, com
2004).
diversas combinações, em diferentes dosagens e
de alterar
a fermentação ruminal,
com experimentos in vivo. Uso de óleos essenciais em dietas para ruminantes
Conforme a literatura, vários autores reportam um efeito significativo na redução do metano in vitro
Aditivos de fontes naturais como os compostos secundários
de
plantas
e
seus
componentes
bioativos estão sendo avaliados como substitutos do uso de antibióticos. Resultados in vitro apontam que os óleos essenciais (OE) inibem determinados microrganismos
(bactérias
gram-positivas,
metanogênicas e protozoários) reduzindo o acúmulo de amônia e a produção de metano entérico.
pelo uso dos OE. Joch et al. (2016) com uma relação volumoso/concentrado de 70%:30% e uma dosagem de 1 ml/l de componentes de OE e 0,15 ml de solução de monensina; o metano foi reduzido (<0,001) em 32% para eugenol, 29% para limoneno, 41% para a-pipeno e 27% para monensina.
Pinksi
at
al.
(2016)
testaram
diferentes óleos essenciais (500mg/L), e somente
Na tabela 1 e 2 são apresentados os resultados de trabalhos envolvendo o uso de OE como aditivo na
os óleos de canela e alecrim foram capazes de reduzir a produção de metano in vitro (P=0,02).
alimentação de ruminantes. Cada óleo possui diferentes funções: antimicrobiana, anti-inflamatória, anti-helmíntica,
antioxidante,
entre
outras.
A
combinação entre óleos (blend) pode gerar um produto mais completo pelo sinergismo entre seus componentes, como também pode ocorrer um efeito oposto onde um determinado óleo pode gerar efeito deletério a outro.
Em um experimento in vivo Wang et al. (2009) usando um óleo comercial a base de orégano na alimentação de ovinos fistulados conseguiram reduzir a produção de metano em 12% (P=0,003), sendo
que
os
animais
produziram
17
g/animal/dia. Klevenhusen et al. (2011) utilizando óleo de alho adicionados a uma dieta para ovinos reduziram em 10% a produção de metano em
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6095
Artigo 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes
relação ao tratamento controle, com uma produção de 26 g/animal/dia. TABELA 1: Diferença em relação ao tratamento controle na manipulação da fermentação ruminal em dietas de bovinos de corte
Óleos
Teste
Dosagem
Substrato
AGV
C3
pH
CH4t
DMS
Comentários
Referências
=
CH4 kg/MS =
Blend 1
in vivo
1g/d e 2g/d
100% V
=
=
=
NA
Tomkins (2015)
+
-
NA
-
-
+
-
NA
-
=
+
+
-
NA
=
50% V 50% C
-
-
+
-
NA
-
0,25; 0,50 e 1g/L
50% V 50% C
=
-
+
-
NA
-
in vivo
1d/d
75 % V 25% C
=
=
=
=
=
-
Canela
in vivo
0,4; 0,8 e 1.6 g/d
9% V 91% C
=
=
=
NA
NA
=
Não alterou o CMS e as população de metanogênicas Reduziu a metanogênese e a produção de amônia Reduziu a metanogênese e a produção de amônia Reduziu a metanogênese e a produção de amônia Reduziu a metanogênese e a produção de amônia Reduziu a metanogênese e a produção de amônia Não alterou o CMS e o ganho de peso Na menor dose aumentou o CMS e a DMO
Cravo
in vitro
0,25; 0,50 e 1g/L
50% V 50% C
-
-
Eucalipto
in vitro
0,25; 0,50 e 1g/L
50% V 50% C
+
Alho
in vitro
0,25; 0,50 e 1g/L
50% V 50% C
Orégano
in vitro
0,25; 0,50 e 1g/L
Pimenta
in vitro
Blend 1
Blend 1
in vivo
1g/d
7,5% V 92,5% C
+
=
=
NA
NA
=
Blend 2
in vivo
1g/d
7,5% V 92,5% C
+
=
=
NA
NA
=
Tomilho
in vivo
0,5g/Kg/MS
30% V 70% C
=
+
=
NA
NA
=
Canela
in vivo
0,5g/Kg/MS
30% V 70% C
=
+
=
NA
NA
=
Baunilha
in vitro
1,52g/L
50% V 50% C
-
=
-
-
NA
-
6096
Não houve diferenças no desempenho e características de carcaça Não houve diferenças no desempenho e características de carcaça Não alterou o CMS. Reduziu a população metanogênica e de protozoários Não alterou o CMS. Reduziu a população metanogênica e de protozoários Reduziu a produção de amônia
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Patra & Yu (2012)
Patra & Yu (2012)
Patra & Yu (2012))
Patra & Yu (2012)
Patra & Yu (2012)
Beauchemin & McGinn (2006) Yang (2010)
Meyer (2009)
Meyer (2009)
Khorrami (2015)
Khorrami (2015)
Patra (2013)
Artigo 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes
TABELA 2: Diferença em relação ao tratamento controle na manipulação da fermentação ruminal em dietas de bovinos de leite
Óleos
Teste
Dosagem
Substrato
AGV
C3
pH
CH4t
Crina
In
2g dia
42:58
=
=
+
NA
CH4 kg/MS NA
DMS
Comentários
Referências
+
Benchaar et al. (2006)
NA
=
Melhor digestibilidade, aumento da produção de leite e alteração da composição do leite. Não alterou a produção e a composição do leite Não alterou a produção e a composição do leite Reduziu o CMS
vivo
Crina
Blend
In
0,75
vivo
dia
In
g
50:50
+
+
=
NA
0,5 g dia
34:66
=
=
=
10 g dia
34:66
=
=
=
NA
NA
=
58:42
=
=
=
-
-
=
NA
NA
=
vivo In
Blend
vivo Orégano
Orégano
In
0,25
vivo
dia
In
0,5 g dia
58:42
=
=
=
-
-
=
In
0,75
58:42
=
=
=
-
-
=
vivo
dia
g
Diminuiu a amônia e o N urinário Diminuiu a amônia e o N urinário Diminuiu a amônia e o N urinário
vivo Orégano
g
Benchaar et al. (2007)
Tager e Krause (2011) Tager e Krause (2011) Hristov et al. (2014) Hristov et al. (2014) Hristov et al. (2014)
Recomendações para estudos futuros
importância de fazer posteriores avaliações in
Estudos in vivo desses compostos são de suma
vivo é para não excluir extratos de plantas que
importância para ver a real eficácia nos animais de
poderiam
produção, porém deve ser levado em conta a alta
apresentaram resultados satisfatórios in vitro.
volatilidade que esses óleos possuem. A solução
-Padronização nos estudos in vitro, já que existe
para
de
muitas variações nessa pratica de avaliação.
microencapsulação, que promoveria a adequada
Divergências nas metodologias impossibilitam de
absorção dos componentes por parte do animal.
se fazerem comparações.
Outra vantagem seria no processo de mistura da
-Informação dos principais componentes dos
ração, pelo pequeno tamanho das partículas,
óleos, realizada através de cromatografia gasosa.
facilitando o manejo. Também no processo de
Visto de existem diferenças na composição de
microencapsulação seria possível mascarar o odor
mesmos óleos.
a
sua
aplicação
seria
o
processo
ser
promissores,
porém
não
-Estudos in vitro que apresentam resultados O uso desses fitocompostos é promissor na indústria
positivos possuem uma dosagem muito alta se for
animal, por ser uma fonte natural e dentro de um
extrapolado para um estudo in vivo, o que seria
médio prazo os ionóforos serem banidos das rações
inviável para sua aplicação.
de ruminantes. Deste modo, algumas considerações
-Os estudos in vivo são em sua maioria de curta
são importantes para os futuros trabalhos na área:
duração (máximo 21 dias), desta forma não é
-A eficiência dos compostos de plantas no controle
possível mensurar se ocorreu adaptação dos
de bactérias patogênicas.
microrganismos pelos óleos utilizados.
-Avaliar
os
óleos
essências
com
capacidade
-Avaliar se ocorrem alterações na qualidade
antimicrobiana que ainda não foram testados in
organoléptica e na composição química dos
vitro, bem como a dosagem mais efetiva. No
produtos gerados (carne e leite) por animais que
segundo
momento
realizar
testes
in
vivo.
A
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6097
Artigo 436 – Óleos essenciais como alternativa para a redução do metano em ruminantes
recebam esses aditivos. E se é possível aumentar o tempo de prateleira desses produtos. -Novas pesquisas migram para a avaliação de blends (misturas) de óleos essenciais, testando um efeito sinérgico dos mesmos, porém um efeito
CONSIDERAÇÕES FINAIS uso de óleos
ruminantes
essências
possuem
nas
dietas
potencial para
para
reduzir
a
produção de metano. O metano além de ser um gás de efeito estufa, é uma perda energética do animal que poderia ser direcionado para um melhor desempenho animal. Mais pesquisas devem ser realizadas in vivo para avaliar os efeitos satisfatórios
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Estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro Alimentação; caatinga; semiárido.
1
Vol. 14, Nº 04, jul./ ago.de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
Glayciane Costa Gois 2 Fleming Sena Campos 3 Gilmara Gurjão Carneiro 4 Tiago Santos Silva 5 Alex Gomes da Silva Matias 1
Doutora em Zootecnia. Pós Doutoranda em Nutrição Animal, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Semiárido, Petrolina - PE. E-mail: glayciane_gois@yahoo.com.br 2 Doutor em Zootecnia. Pós Doutorando em Ciência Animal e Pastagens, Universidade Federal Rural de Pernambuco UFRPE/UAG, Garanhuns - PE. 3 Engenheira Agrônoma. Doutora em Engenharia de Processos, Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, Campina Grande – PB. 4 Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal da Paraíba – UFPB/CCA, Areia – PB. 5 Zootecnista, Mestrando em Ciência Animal, Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, Petrolina – PE.
RESUMO
FEEDING STRATEGIES FOR GOATS AND SHEEP
Diversos métodos de manejo alimentar têm sido
IN BRAZILIAN SEMI-ARID
propostos, com
ABSTRACT
vistas
a atenuar
o problema
nutricional dos rebanhos nos períodos mais críticos
Several methods of food management have been
no semiárido, como o corte da vegetação lenhosa,
proposed with a view to alleviate the nutritional
como forma de aumentar a disponibilidade de
problem of the herds in the most critical periods in
forragens, bancos de proteínas para suplementação
the semiarid, such as the cutting of the woody
alimentar dos rebanhos em pastejo e manipulação
vegetation, as a way to increase the availability of
da vegetação lenhosa, através do rebaixamento e do
forages, protein banks for food supplementation of
raleamento de árvores e arbustos, bem como pelo
the herds in Grazing and manipulation of woody
enriquecimento do extrato herbáceo. A utilização de
vegetation, by lowering and thinning trees and
espécies forrageiras arbustivas e arbóreas existentes
shrubs, as well as by enriching the herbaceous
na região é uma das formas de minimizar o problema
extract. The use of shrub and tree fodder species in
de escassez de forragem durante o período seco do
the region is one of the ways to minimize the problem
ano. O fornecimento de forrageiras nas formas
of forage scarcity during the dry period of the year.
verde, fenada ou ensilada, pode suprir, em boa
The provision of green fodder, hay or silage forms,
parte, a deficiência das pastagens nos períodos de estiagem
a
of pastures in periods of drought at relatively low
estratégias de suplementação da Caatinga mais
costs. The most adequate Caatinga supplementation
adequadas incluem o uso de culturas forrageiras não
strategies include the use of unconventional forage
convencionais, misturas múltiplas, confinamento,
crops,
pastagens irrigadas, dentre outras. Objetivou-se com
pastures, among others. The objective of this work
este
was to conduct a survey on feeding strategies for
realizar
relativamente
um
baixos.
can, for the most part, compensate for the deficiency
As
trabalho
custos
levantamento
sobre
estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro. Palavras-chave: alimentação; caatinga; semiárido. 7001
multiple
mixtures,
confinement,
irrigated
goats and sheep in the Brazilian semi-arid region. Keyword: feeding; Caatinga; Semiarid.
Artigo 437 – Estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro
INTRODUÇÃO A
ovinocultura
minimizar o problema de escassez de forragem brasileira
tem
passado
por
durante o período seco do ano. O fornecimento de
anos
forrageiras existentes na região, nas formas: verde,
devido ao aumento na exigência do mercado
fenada ou ensilada, pode suprir, em boa parte, a
consumidor por produtos de qualidade, o que leva a
deficiência das pastagens nos períodos de estiagem
necessidade de obter animais terminados mais
a custos relativamente baixos (Oliveira et al., 2010).
significativas
transformações
nos
últimos
jovens, associado à utilização de sistemas de produção adequados. O Nordeste brasileiro é uma
As alternativas de alimentação para caprinos e
região que apresenta uma irregularidade bastante
ovinos nos períodos secos no semiárido se baseiam
acentuada na distribuição de chuvas. Isso reflete de
na produção e conservação de espécies forrageiras
forma negativa na produção dos rebanhos. Esse fato
nativas ou introduzidas, no uso de alguns resíduos
é causado tanto pela produção sazonal de forragem,
agroindustriais
quanto pela variação da composição química das
concentrados. Todas essas alternativas, são mais ou
plantas forrageiras, fazendo com que não ocorra o
menos utilizadas de acordo com o perfil tecnológico,
atendimento adequado das exigências nutricionais
social e econômico do caprinoovinocultor. Para as
dos animais na época seca (Oliveira et al., 2010).
condições de semiárido não existe um alternativa
e
na
compra
de
ingredientes
“milagrosa”, suas potencialidades e formas de uso De acordo com dados disponibilizados pelo IBGE
podem ser diferentes em função das particularidades
(2013), o efetivo do rebanho ovino brasileiro no ano
específicas de cada uma delas.
de 2011 foi de cerca de 17,7 milhões de cabeças, sendo liderado pela região Nordeste com 10,11
Objetivou-se
milhões de cabeças. Embora grande parte do
levantamento sobre estratégias de alimentação para
rebanho brasileiro esteja concentrada na região
caprinos e ovinos no semiárido brasileiro.
com
este
trabalho
realizar
um
nordeste (56,7%), o estado do Rio Grande do Sul apresenta 22,89% do rebanho ovino brasileiro com
O Semiárido:
4,95 milhões de ovinos. Ainda segundo o IBGE
O Nordeste brasileiro é dividido em três zonas:
(2013), além da Bahia que detém 17,98% do
litorânea, sertão e agreste. Essas duas últimas
rebanho região nordeste, destacam-se também os
formam, essencialmente, a região semiárida, que
estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, que
abrange 70% da área nordestina e 13% do Brasil.
apresentam 17,6%, 12,08% e 9,34% do rebanho
Essa região se caracteriza por balanço hídrico
brasileiro, respectivamente, sendo constituído em
negativo, resultante de precipitações médias anuais
grande parte por animais deslanados e Sem Padrão
inferiores a 800 mm, insolação é dia de 2800
Racial Definido (SPRD).
horas/ano, temperaturas médias anuais de 23º a 287 ºC, evaporação de 2.000 mm/ano e umidade relativa
Diversos métodos de manejo alimentar têm sido
do ar média em torno de 60%. O clima do semiárido
propostos, com vistas a atenuar o problema
brasileiro é pouco diversificado, apesar da grande
nutricional dos rebanhos nos períodos mais críticos
extensão territorial dessa área. Mesmo assim, existe
no semiárido, que é o período seco, como o corte da
um importante gradiente pluviométrico, já que as
vegetação lenhosa, como forma de aumentar a
precipitações diminuem à medida que se adentra o
disponibilidade de forragens nos períodos críticos,
continente, alcançando valores médios inferiores a
bancos de proteínas para suplementação alimentar
500 mm anuais em determinadas regiões. Ainda
dos rebanhos em pastejo e manipulação da
assim,
vegetação lenhosa, através do rebaixamento e do
principalmente em anos com pluviosidade inferior a
raleamento de árvores e arbustos, bem como pelo
um terço da média anual (Araújo Filho 1995; Souza
enriquecimento do extrato herbáceo (Silva et al.,
& Ceolin, 2013).
existem
grandes
variações
estacionais,
2010). A
A utilização de espécies forrageiras arbustivas e arbóreas existentes na região é uma das formas de 7002
área
de
exclusivamente
domínio
da
brasileiro,
2
caatinga,
único
compreende
bioma
cerca
800.000 km , ou seja, 55,60% da Região Nordeste.
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.7001-7007, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
de
Artigo 437 – Estratégias de alientação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro
na Austrália no final da década de 1980 (RAMOS et
As pastagens são o principal alimento dos rebanhos
al., 2010).
do Semiárido, predominando áreas de pastagem nativa em relação às de pastagens cultivadas em
A vegetação nativa da caatinga é rica em espécies
todos os estados, exceto no norte de Minas Gerais
forrageiras, formadas principalmente por plantas
(Giulietti et al., 2004). O pasto nativo pode ser usado
lenhosas,
xerófilas
para terminação de ovinos durante a época chuvosa.
resistentes ao clima seco e à umidade em seus três
A caatinga, por ser a principal e mais econômica
extratos: arbóreo, arbustivo e herbáceo. Estudos
fonte de alimentos para os rebanhos na região, é um
revelam que mais de 70% das espécies botânicas
dos mais importantes fatores para a produção
participam significativamente da dieta de ruminantes
animal.
domésticos e, no grupo de espécies botânicas, as
manejada, a fim de que sejam evitados riscos na
gramíneas e dicotiledôneas herbáceas perfazem
pele e estresses desnecessários sobre o animal. O
acima de 80% da dieta de ruminantes durante o
manejo também é importante para manter o
período chuvoso. Entretanto, à medida que a
equilíbrio do ecossistema, além de elevar o lucro do
estação chuvosa progride e, com o aumento da
produtor (Araújo Filho et al., 1995).
cactáceas,
bromeliáceas
e
Portanto,
a
mesma
precisa
ser
bem
disponibilidade de folhas secas e arbustos, essas espécies se tornam cada vez mais importantes na
A caatinga é um tipo de vegetação baixa, espinhenta
dieta dos animais (Andrade et al., 2010; Rosas et al.,
e decídua, que pode ser dividida em dois tipos: o
2016).
arbóreo, predominante nas encostas das serras e áreas de melhor potencial agrícola; e o arbustivo,
Na
região
semiárida
ocorrem
duas
estações
dominante nas regiões dos sertões. Por outro lado, a
climáticas bem diferenciadas, sendo uma estação
vegetação nativa do Semiárido é bem diversificada,
das águas, com duração de quatro a seis meses; e
com muitas espécies forrageiras nos três estratos:
uma estação seca, que dura de seis a oito meses.
herbáceo, arbustivo e arbóreo. Estudos mostraram
Durante a estação das águas, desenvolvem-se
que mais de 70% das espécies da caatinga
pastos abundantes e de boa qualidade, permitindo
participam
que os rebanhos alcancem elevadas taxas de
ruminantes domésticos. Em termos de grupos de
crescimento (Costa et al., 2011). No entanto, por
espécies botânicas, as gramíneas e dicotiledôneas
ocasião da estação seca, os animais perdem peso,
herbáceas perfazem acima de 80% da dieta dos
devido à acentuada e progressiva escassez de
ruminantes, durante as águas. Porém, à medida que
pasto, associada à perda de qualidade da forragem.
a estação seca progride e com o aumento da
significativamente
da
dieta
dos
disponibilidade de folhas secas de árvores e A má distribuição e irregularidade de chuvas no semiárido prolongadas,
são
responsáveis
resultando
em
por
estiagens
sérios
prejuízos
arbustos, estas espécies se tornam cada vez mais importantes na dieta, principalmente dos caprinos (Silva et al., 2010).
econômicos para os pecuaristas, que, assim, são forçados a comercializar o rebanho, periodicamente, com preços abaixo do mercado, em função da falta de alimentos (Felker, 2001).
A produção média anual da vegetação da caatinga situa-se em torno de 4,0 t de MS/ha, com substanciais variações advindas de diferenças nos sítios
Na época das chuvas, a disponibilidade de forragens é quantitativamente e qualitativamente satisfatória, todavia, nas épocas críticas do ano, além da escassez de forragens, o valor nutritivo se apresenta em níveis bastante baixos, o que acarreta queda de produtividade e compromete a produção de leite e carne (Lima et al., 2004).
ecológicos
e
flutuações
anuais
das
características da estação de chuvas (Araújo Filho et al., 1995). Entre as diversas espécies nativas, merecem ser destacadas: a maniçoba (Manihot pseudoglaziovii),
o
angico
(Anadenanthera
macrocarpa), o pau ferro (Caesalpinia ferrea), a catingueira (Caesalpinia pyramidalis), a catingueira rasteira
(Caesalpinia
microphylla),
a
favela
Cnidoscolus phyllacanthus), a canafístula (Senna esPastagens nativas: Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.7001-7007, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
7003
Artigo 437 – Estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro
pectabilis), o marizeiro (Geoffrae spinosa) o mororó
têm a capacidade de permanecer verde por algum
(Bauhinia sp.), o sabiá (Mimosa caesalpiniifolia), o
tempo após o fim das “águas”. Com isso, os animais
rompe gibão (Pithecelobium avaremotemo)
o
têm acesso à forragem verde e de alto valor nutritivo
juazeiro (Zyzyphus joazeiro), a jurema preta (Mimosa
já em uma época onde a vegetação encontra-se
tenuiflora), o engorda-magro (Desmodium sp), a
senescente, diminuindo os prejuízos causados pela
marmelada de cavalo (Desmodium sp), o feijão
seca.
bravo (Phaseolus firmulus), a camaratuba (Cratylia
recomendadas, encontram-se a Leucena, a Cunhã, o
mollis),
Guandú, o Sabiá, a Jurema-Preta e a Gliricídia.
o
mata
pasto
(senna
sp),
facheiro
Dentre
as
espécies
já
avaliadas
e
(Pilosocereus pachycladus) e o mandacaru (Cereus O manejo dos animais no banco de proteína
jamacaru).
equivale, normalmente, a um período de uma a duas As limitações nutricionais das pastagens nativas do
horas diário. Este período é suficiente para que o
Semiárido estão ligadas não somente à composição
animal eleve o teor de proteína bruta da sua dieta
química e à digestibilidade do material consumido
para próximo de 6 a 7% (1% de N), refletindo-se no
pelos
pela
maior consumo e melhor digestibilidade do pasto
disponibilidade de material ao longo do ano. Devido
seco. Outra recomendação é dividir a área do banco
à marcada sazonalidade de produção, os animais
de proteína em piquetes, o que permite uma melhor
passam longos períodos com baixíssimas ofertas de
utilização da forragem disponível e melhor vigor da
forragem por unidade de área.
rebrotação da forrageira. A forragem produzida, no
animais,
mas
principalmente
banco de proteína, no período chuvoso poderá ser Pastagens cultivadas:
utilizada para fenação, silagem, enriquecimento de
O uso de pastagens cultivadas permite o aumento
silagem de gramíneas ou adubação verde (Andrade
dos níveis de produção animal por hectare e por ano
et al., 2010).
no Nordeste brasileiro. Contudo, a formação de pastos cultivados tem encontrado alguns entraves
Fenação:
para a sua expansão na região, devido aos elevados
Pelas facilidades nos processos de produção e
custos para a implantação e, principalmente, para a
armazenamento,
manutenção com adubação de reposição e energia
nutricional, a administração de feno é uma das
elétrica (Silva et al., 2010).
alternativas mais viáveis para os sistemas de
bem
como
pela
qualidade
produção nordestinos. O feno é obtido mediante a Neiva (2005) cita que o objetivo principal de se usar
exposição ao sol e ao ar da planta cortada, que sofre
intensivamente esse tipo de pastagem não é
dessecação lenta e parcial, de modo que a sua taxa
substituir o uso das pastagens nativas, busca-se,
de unidade, originalmente de 60 a 85%, seja
apenas, intensificar a produção nessas áreas para
reduzida para teores entre 10 e 20%, com perda
diminuir a pressão sobre as pastagens nativas, as
mínima de nutrientes, maciez, cor e sabor.
quais constituem um ecossistema bastante frágil. O bom feno é palatável, nutritivo e ótima fonte de Em pastagem cultivada, qualquer gramínea pode ser
vitaminas A e D. A qualidade de um feno depende de
utilizada, desde que atenda os requisitos básicos de
sua
uma boa forrageira para pastejo, ou seja, boa
digestibilidade,
adaptação ao local onde será cultivada, resistência
dependência de diversos fatores, principalmente os
ao pisoteio, alta produtividade e boa qualidade
seguintes: espécie botânica da planta, estágio de
(Sousa, 2009).
desenvolvimento, proporção de folhas, coloração
composição que
química, por
sua
palatabilidade vez
estão
e na
verde, alterações causadas por mofos, bolores e Banco de proteína:
insetos, presença de material estranho e perdas
No Semiárido, há ainda a possibilidade de se utilizar
sofridas durante a preparação. Algumas forrageiras
áreas exclusivas de leguminosas nativas ou exóticas
como o capim-buffel, a braquiária, erva sal e tifton
adaptadas como bancos de proteína. Tais plantas
podem produzir fenos de alta qualidade.
7004
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.7001-7007, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
Artigo 437 – Estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro
De acordo com Camurça et al. (2002), o capim-buffel
radores (enterobactérias e clostrídios), que são
possibilita a produção de fenos de qualidade, com 6
menos tolerantes às condições ácidas é inibido
a 10% de proteína bruta de acordo com a época de
(Pereira & Santos, 2006).
corte. Esses mesmos autores observaram teor de proteína bruta de 10,9% aos 35 dias de rebrota e
As plantas forrageiras cultivadas no semiárido para
afirmaram que essa é a idade ideal para o corte do
produção de silagem devem apresentar teores
capim-buffel para fenação. A digestibilidade da
médios
matéria seca reduz acentuadamente à medida que
quantidade
de
avança a idade da planta. Esses autores observaram
capacidade
tampão.
decréscimo nos percentuais de digestibilidade com o
forrageiras
avanço da idade da planta quando cortada aos 42
características xerófitas excetuando-se a caducifólia,
(67,1%) e 84 dias de idade (47,0%).
resistentes
entre
de ao
30-35%
matéria
carboidratos ciclo
Além curto
estresse
seca,
solúveis disso, ou
elevada e
baixa
sugerem-se
efêmeras,
hídrico,
com
resistentes
a
salinidade e capazes de colonizar solos rasos (Lima O uso de feno de erva-sal, de acordo com Porto &
Jr et al., 2013).
Araújo (1999), é recomendado em consórcio com outra planta forrageira, com o objetivo de reduzir o
Alguns recursos forrageiros nativos e adaptados ao
efeito do excesso de NaCl, o que não compromete o
semiárido podem ser utilizados para ensilagem,
consumo, já que esse é o principal fator que
como o Buffel (Cenchrus ciliaris L.), Erva Sal
determina o desempenho animal. Brito et al. (2007),
(Atriplex
no entanto, pesquisando níveis crescentes de feno
caesalpiniaefolia), orelha de onça (Macroptilium
de erva-sal como único volumoso na dieta de
martii Benth), Leucena (Leucaena leucocephala
cordeiros
em
crescimento,
o
(Lam.) R. de Wit.) Pornunça (Manihot esculenta
consumo
de
matéria
(1,52
Cranz x Manihot glaziovii) e Gliricídia (Gliricidia
observaram
seca
foi
que
menor
kg/animal/dia de MS) no maior nível de adição de
nummulária),
Sabiá
(Mimosa
sepium) (Santos et al., 2010).
feno (66%), o que comprova que seu elevado teor de sódio pode limitar o consumo pelos animais.
Alsersy et al. (2015),
avaliando o efeito do
fornecimento de erva-sal mediterrânea (Atriplex Ensilagem: Apesar
de
halimus) ensilada com enzimas sobre o consumo de a
fenação
operacionais,
a
conservação
mais
apresentar é
digestibilidade
dos
nutrientes
e
a
fermentação ruminal em ovinos, encontraram valores PB de 11,7%, FDN, 55,2%, FDA, 33,4% e EE, 1,9%,
semiáridas, uma vez que a água é conservada na
semelhantes aos encontrados por Santos et al.
forragem
do
(2010), que, em pesquisa sobre fatores que afetam o
rebanho. Todavia, a ensilagem é um processo
valor nutritivo de silagens de forrageiras tropicais,
complexo e sujeito a diversos fatores, principalmente
reportaram valores de MS de 34,96%, PB, 9,81%,
a espécie forrageira (Lima Jr et al., 2013).
FDN, 54,15% e FDA, 30,55%, para silagem de erva-
contribui
para
para
método
a
de
indicado
o
ração,
regiões
e
ensilagem
facilidades as
dessedentação
sal. Contudo, Belem et al. (2010) pesquisaram a A ensilagem é uma alternativa muito empregada nos
composição bromatológica de silagens de gliricídia
sistemas de criação animal. Consiste na preservação
com diferentes níveis de erva-sal e encontraram
de forragens úmidas, recém-colhidas, com elevado
teores de MS de 36,97%, PB, 6,22%, FDN, 67,08%,
valor nutritivo, para serem administradas nas épocas
FDA,
de escassez de alimentos. Consiste em um método
adicionaram essa forrageira em silagem de gliricídia.
49,15%
e
DIVMS
de
47,8%
quando
de conservação da forragem sob condição de anaerobiose, onde ocorre uma metabiose, ou seja,
Cabral Jr et al. (2007) avaliando períodos crescente
uma sucessão de grupos de microrganismos até
de emurchecimento sobre as características da
atingir um nível de acidez, através da produção de
silagem
ácido lático pelas bactérias ácido láticas (BAL), no
crescente sobre os teores de matéria seca e
qual o desenvolvimento de microrganismos deterio-
capacidade fermentativa e linear decrescente sobre
de
gliricídia,
observaram
efeito
linear
os teores de proteína bruta e carboidratos solúveis. Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.4, p.7001-7007, jul./ ago, 2017. ISSN: 1983-9006
7005
Artigo 437 – Estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro
Além de efeitos quadráticos para pH, capacidade tampão e degradabilidade in vitro. Dantas et al. (2006) avaliaram as alterações na
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maniçoba e pornunça produzidas com 7, 14, 28 e 56
S. A. 2010. Composição bromatológica de silagens de gliricídia com diferentes níveis de
dias de fermentação e relataram que os teores de
erva-sal. In.: Congresso Nordestino de Produção
MS das silagens foram de 28,09 e 27,56% para
Animal, VI, Mossoró – RN. Anais... Mossoró: CNPA, 2010.
composição químico-bromatológica de silagens de
maniçoba e pornunça, respectivamente, menores que o preconizado pela literatura, que seria em torno de 30 a 40%. Os teores de FDN para maniçoba
BRITO, E. A.; RAMOS, J. P. F.; SOUZA, W. H.; OLIVEIRA JUNIOR, S.; SALES, A. T.; CUNHA,
enquanto o de FDA foi de 29,84% para maniçoba e
M. G. G.; SOUSA, L. C.; SANTOS, S. S. 2007. Níveis de inclusão de feno de atriplex (Atriplex
de 35,74% para pornunça. Apesar de ser uma planta
nummularia Lind.) sobre o desempenho de
pouco conhecida, a pornunça tem sido procurada
cordeiros em crescimento. In: Simpósio internacional sobre ovinos e caprinos de corte, 3.,
foram de 47,59% e para pornunça, de 48,89%,
por muitos criadores de animais no semiárido, porém a falta de conhecimento sobre seu manejo impede o aproveitamento máximo (Silva et al., 2009) de seu potencial produtivo e valor nutritivo, considerados satisfatórios para seu uso como planta forrageira.
2007, João Pessoa. Anais... João Pessoa: SIMCORTE, 1 CD-ROM. CABRAL, L. S.; VALADARES FILHO, S. C.; DETMANN, E.; ZERVOUDAKIS, J. T.; SOUZA, A. L.; VELOSO, R. G. 2008. Eficiência microbiana e
CONCLUSÃO: Existem inúmeras estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no semiárido brasileiro que possibilitam o incremento da disponibilidade de forragem
nas
épocas
secas
do
ano,
sendo
necessário, no entanto, conscientizar e informar os produtores.
ALSERSY, H.; SALEM, A. Z. M.; BORHAMI, B. E.; OLIVARES, J.; GADO, H. M.; MARIEZCURRENA, M. D.; YACUOT, M. H.; KHOLIF, A. E.; EL-ADAWY, M.; HERNANDEZ, S. R. 2015. Effect of Mediterranean saltbush (Atriplex halimus) ensilaging with two developed cocktails
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