Nutritime Revista Eletrônica n.04 vol.16 2019

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Editora Responsável: Juliana Maria Freitas Teixeira Editor Científico: Júlio Maria Ribeiro Pupa Editora Técnica: Rosana Coelho de Alvarenga e Melo Cláudio José Borela Espeschit Evandro de Castro Melo Fernando Queiróz de Almeida José Luiz Domingues

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Sumário ARTIGOS 494 - O associativismo e cooperativismo na bovinocultura leiteira, passado, presente e futuro: revisão de literatura ....................................................................................................................................................................... 8488 Márcia das Neves Soares, Alberto Jefferson da Silva Macêdo, Thaiano Iranildo de Sousa Silva 495 -Vitaminas e minerais na nutrição de suínos: revisão de literatura ............................................................. 8498 Darleny Eliane Garcia Horwat, Paula Teixeira Poltronieri, Daiane Cristina Ribeiro Dambroski Nack, Juliana Sperotto Brum 496 - Uso de marcadores para avaliação do consumo em ruminantes: .............................................................. 8508 Juliete de Lima Gonçalves, Sueli Freitas dos Santos, Rafael Teixeira de Sousa, Antônio Marcos Ferreira Fernandes 497 - Alimentos funcionais para animais monogástricos: revisão de literatura ................................................ 8522 Rannyelle Gomes Souza, Jorge Cunha Lima Muniz, Fernando Guilherme Perazzo Costa


O associativismo e cooperativismo na bovinocultura leiteira, passado, presente e futuro: revisão de literatura

Revista Eletrônica

Associar-se, bovino de leite, cooperar, participação comunitária. .

Vol. 16, Nº 04, jul./ago. de 2019 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

1

Márcia das Neves Soares 2 Alberto Jefferson da Silva Macêdo 3 Thaiano Iranildo de Sousa Silva 1

Discente do curso de Zootecnia, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Areia, PB, Brasil. 2 Discente do curso de doutorado em Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa, MG, Brasil. *E-mail: alberto.macedo@ufv.br. 3 Discente do curso de doutorado em Zootecnia, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Botucatu, SP, Brasil.

RESUMO Os pequenos produtores de leite participam do agronegócio, assim contribuem para o PIB (produto interno bruto), no entanto, enfrentam dificuldades diárias. Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi fazer uma explanação sobre o associativismo e cooperativismo junto à bovinocultura leiteira, abordando como as cooperativas e associações são importantes para os pequenos produtores. Se associar e cooperar em conjunto abre portas para os indivíduos que possuem uma necessidade de adquirir conhecimento e ter a oportunidade de ter acesso a tecnologias para suas fazendas, pois em conjunto os bens se tornam comum e o conhecimento é compartilhado. Verifica-se que os modelos atuais de associativismo e cooperativismo, surgem para facilitar a vida do produtor rural, pois sabe-se que devido à atuação de grandes empresas, levando a uma alta concorrência e ao sistema financeiro capitalista torna-se praticamente impossível que o pequeno empreendedor torne-se bem sucedido quando se trabalha sozinho. Dessa forma é importante que o produtor rural busque por parcerias para conseguir o fortalecimento do seu próprio negócio vinculados.

como

também

dos

Palavras-chave: associar-se, bovino de leite, cooperar, participação comunitária.

8488

demais

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

ASSOCIATIVISM AND COOPERATIVISM IN DAIRY CATTLE, PAST, PRESENT AND FUTURE: LITERATURE REVIEW ABSTRACT Small-scale dairy farmers participate in agribusiness, thus contributing to GNP (gross national product). However, they face daily difficulties because they have the challenge of competing with large producers, therefore they resort to assistance. Thus, the objective of this work was to make an explanation about the associativism and cooperativism with dairy cattle, addressing how cooperatives and associations are important for small producers. The present article was made from several other articles and scientific studies searched through the internet that lived up to the proposed theme. Joining and cooperating together opens doors for individuals who have a need to acquire knowledge and have the opportunity to have access to technologies for their farms, because together goods become common and knowledge is shared. It is verified that the current models of associativism and cooperativism, arise to facilitate the life of the rural producer, because it is known that due to the action of big companies, leading to a high competition and to the capitalist financial system it becomes practically impossible that the small entrepreneur becomes successful when working alone. In this way, it is important that the rural producer seeks partnerships to achieve the strengthening of his own business as well as those of other partners. Keyword: bovine milk, community participation, cooperate, to associate.


Artigo 494 - O associativismo e cooperativismo na bovinocultura leiteira, passado, presente e futuro: revisão de literatura

INTRODUÇÃO

Os produtores se associam para que possam

O associativismo e o cooperativismo são estratégias

compartilhar de uma assistência social comum que

de organização que visam minimizar os problemas

lhes permite crescer em conhecimentos que antes

que atuam como empecilhos ao crescimento das

não lhe eram disponíveis, possibilitando-se o saber

atividades

podem

dos seus direitos e outros, junto a cooperativas os

possibilitar o crescimento da renda dos produtores, e

associados podem ter ajuda nos seus negócios para

como consequência melhorar o sistema econômico,

que se torne lucrativo, sem a assistência técnica os

que é indispensável ao desenvolvimento (SANGALLI

produtores estão mais sujeitos a erros, como no

et al., 2015).

caso do uso de tecnologias inadequadas ou de

no

meio

agrícola,

ambos

forma errônea, como exemplo da produção alimentar Juntamente atuando com o associativismo e o

ineficiente que prejudica o produto final “produção de

cooperativismo em propriedades de criação de gado

leite”, assim o uso do cooperativismo torna possível

de leite, proporcionam que a atividade se mantenha

o crescimento rural.

em pequenas mesmo em pequenas propriedades. Segundo Souza (2016) o associativismo é pouco Nas últimas décadas ocorreu elevado crescimento

apresentado para as pessoas, levando até uma

no agronegócio do leite, no qual a cadeia produtiva

escassez de publicações acadêmicas que abordem

deixou de ser apenas para subsistência e se tornou

o tema, e que muitos autores possuem dificuldade

um negócio para gerar renda, ocorrendo uma alta

de falar sobre o associativismo em seus trabalhos,

produção, com qualidade e também agregação de

pois esse ao longo da história vem sendo discutido

valor aos produtos, aqueles produtores que não

com sentidos iguais. Sendo assim, haja vista a

estão

importância de trabalhos que abordem tal tema.

preparados

consequentemente

para passam

esse por

mercado dificuldades

(CORRÊA et al., 2010), por isso os produtores

Assim, o objetivo do trabalho foi de explanar acerca

necessitam das associações e cooperativas para

da importância dos aspectos do associativismo e

melhor se organizarem.

cooperativismo na bovinocultura leiteira de pequenos produtores.

A

atividade

leiteira

desempenha

um

papel

importante para as unidades familiares, a mesma

METODOLOGIA

gera oportunidades, com a diversificação da renda,

Este trabalho é uma revisão de literatura que foi

que acontece quando o produtor vende os animais,

realizada a partir de levantamentos bibliográficos em

portanto, o gado tem um valor de poupança para os

literatura nacional sobre o associativismo e o

pequenos produtores, assim, essa atividade gera

cooperativismo

renda,

abordando sua importância para tal atividade. O

e

consequentemente

sustenta

financeiramente sua família (ALTAFIN et al., 2011).

na

criação

de

gado

de

leite,

período de pesquisa foi de 10/2016 a 12/2018, no qual foram realizadas buscas exploratórias em

A

agricultura

familiar

desde

os

tempos

do

diversos periódicos, teses, dissertações e sites, a

descobrimento do Brasil desempenha o papel de

busca de informações relevantes acerca do referido

fornecer alimentos para uma grande parcela da

tema.

população, mas diante da agricultura moderna a agricultura

familiar

apresenta

problemas

para

DESENVOLVIMENTO

continuar existindo, e esse problema se torna mais sólido com a falta de apoio do governo sem políticas

Bovinocultura leiteira

que favoreçam aos pequenos produtores, com isso o

Durante os últimos vinte anos o Brasil deu um salto

associativismo possui o objetivo de organizar o

na sua produção leiteira, passando de 15,1 bilhões

trabalho

com

em 1991 para 30,7 bilhões em 2010, ou seja, sua

conseguinte apoio, para garantir o direito dos

produção teve um crescimento de 103,1% (REIS

mesmos (ALVES et al., 2011).

FILHO & SILVA, 2013).

dos

agricultores

familiares,

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Artigo 494 - O associativismo e cooperativismo na bovinocultura leiteira, passado, presente e futuro: revisão de literatura

Essa produção aumentada com o passar dos anos é

que o mesmo pode produzir para si e para os outros

um indício que os produtores têm buscado crescer

(FISCHER et al., 2011).

dentro das suas fazendas e possivelmente se adotou o uso de tecnologias para isso, como se

Com o grande potencial que o Brasil possui como

sabe

possuem

produtor de leite, a cadeia é formada por muitos

pequenos negócios e para o crescimento do

produtores que estão no setor pelos motivos de

empreendimento, os mesmos consequentemente

geração de rendimentos, que ocorre com a venda do

tenham usado de tecnologias que possivelmente

leite diariamente e também, às vezes, com a venda

foram

em

de bezerros, gado para reprodução e vacas que

associações e cooperativas, crescer em conjunto é

estão em idade avançada, restos de recursos, que

mais fácil que sozinho.

vem dos restos de cultura, pasto. Outro motivo é o

grande

parte

adquiridas

em

dos

produtores

conjunto,

ou

seja,

esterco, que pode ser utilizado como fertilizante Segundo Caixêta & Arêdes (2010) a cadeia de

(BLAUW et al., 2008).

produção de leite tem dado uma contribuição relevante para a economia do país, gerando renda e

No entanto, no Brasil a produção de leite se

emprego, mas essa importância do Brasil como

apresenta em distribuição desuniforme, no qual os

produtor de leite se estende internacionalmente, no

pequenos

qual o país está em sexta posição na produção de

produção no país todo, e os grandes produtores

leite no mundo, e essa produção cresce por ano em

estão em menor número, mas participam mais.

torno de 4%, sendo superior aos países que estão

Porém, uma parcela significativa dos pequenos

em primeiro lugar da classificação de produtor de

produtores mesmo sendo expulsos do mercado

leite.

formal, por causa do desenvolvimento, continua sua

produtores

possuem

uma

pequena

atividade informalmente (ROSA & TSAY, 2009). Essa atividade está sempre em crescimento, e encontra condições favoráveis no Brasil, pois, o

A importância da bovinocultura de leite é mundial,

mesmo possui condições naturais que possibilitam o

sendo assim, a procura de produtos advindos do

desenvolvimento de diversas atividades, por causa

leite ocorre em todo o mundo, no qual os governos

das suas vantagens de possuir clima e terra a favor,

querem que se produza leite, estimulando sua

mas para o desenvolvimento da bovinocultura é

produção, e às vezes também utilizando outras

necessário ir além, conhecer a cadeia produtiva é

espécies leiteiras como búfalos, ovelhas e cabras,

fundamental (SILVA et al., 2017).

em que em alguns países o consumo de leite é uma tradição enquanto em outros o consumo ainda é

O Brasil possui uma produção de leite de 26 bilhões

recente, (BLAUW et al., 2008).

de litros ao ano, mas esse setor sofre com alguns problemas, dentre o que se destaca é a efetividade

A pecuária de leite é importante tanto para os

econômica do mesmo, por causa de muitos fatores,

produtores como para o agronegócio brasileiro, para

por exemplo, o emprego da tecnologia e o

os produtores essa atividade propicia a formação de

gerenciamento da atividade, bem como os prejuízos

renda de um número considerável de pessoas, bem

que ocorrem com mais frequência que o lucro

como, ajuda na permanência do homem no campo,

(DUARTE et al., 2014).

ajudando a diminuir o êxodo rural (CAMPOS & PIACENTI, 2007).

O Brasil como produtor de leite passou por uma grande evolução que o colocou na sexta posição

A base do setor leiteiro é oferecer para a população

mundial, em que no ano de 1990 o Brasil teve uma

um leite de qualidade de uma forma que a atividade

produção de 14,9 bilhões de litros de leite passando

seja rentável para os produtores, assim para

para 27,57 bilhões de litros já no ano de 2008, antes

alcançar tais intuitos é preciso adotar controles e

o país tinha uma condição de grande importador de

estratégias

leite e passou a ser um dos maiores exportadores,

estratégias essas que devem envolver propriedades

essa evolução é importante para o país, significando

rurais, laticínios, varejo e também a legislação refe-

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para

todo

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o

sistema

de

criação;


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rente ao setor (FERNANDES, 2011). Por isso, as

distinguem de outros pequenos negócios, pois

associações e cooperativas foram criadas, para dar

possui estabilidade, sendo menos vulnerável do que

assistência aos produtores.

outros pequenos negócios.

Agricultura familiar

A agricultura familiar é uma atividade de grande

As famílias de agricultores formam a agricultura

relevância para a sociedade por disponibilizar

familiar que com seu trabalho produzem alimento,

alimento de boa qualidade e também por colocar no

nesse setor as mesmas geram seu próprio capital,

mercado alimento saudável. Segundo Amaral &

um ponto importante a destacar é que a agricultura

Araújo (2015) à medida que cresce leva consigo o

familiar gera uma parte considerável de alimentos,

desenvolvimento para a agricultura sustentável, que

integrando a produção ao consumo, ou seja,

se dá com o uso da terra e uma preservação do

produzem para si mesmo e para os outros, fornecem

meio ambiente.

alimentos de qualidade, já que, os produtores também comem do que produzem (ANDRIOLI,

Sendo assim, a agricultura familiar é uma unidade

2008).

produtora de alimentos, que são muito requeridos pela nova sociedade que se forma, exigentes em

As famílias formam o sistema da agricultura familiar,

produtos produzidos de forma orgânica, ou seja, na

em que trabalham com o objetivo de conseguir

nova

sustento, depois de bastante esforço o trabalho

relevância.

era

essa

atividade

possui

uma

grande

começa a ser produtivo e gerando alimento para a sociedade, com isso a atividade se modifica de não

O associativismo e sua importância

rentável para viável e promissora para o país, e o

O associativismo está presente na vida do homem

setor da produção de alimentos é o que movimenta

há alguns séculos, e atualmente esse faz parte da

o mundo. Com isso, o cooperativismo é uma

vida de pessoas de diferentes idades, seja para

ferramenta

realização e concretização de objetivos ou para

importante

para

a

expansão

da

agricultura familiar (BAIARDI & ALENCAR, 2015).

resolver problemas (TAVARES, 2011). Sendo assim, o associativismo como muitos pensam não faz parte

A agricultura familiar possui grande importância para

apenas para que empreendimentos financeiros se

o setor agropecuário brasileiro (RAMBO et al., 2016)

tornem realidade, mas também, o mesmo participa

uma

do lazer das pessoas.

vez

que

a

mesma

está

representando

aproximadamente 84% dos estabelecimentos da agropecuária, assim a contribuição da agricultura

Segundo

Oliveira

familiar não pode ser considerada pequena, já que,

ganhando espaço e relevância dentro do meio rural

essa contribui com 38% da produção para o setor da

brasileiro,

agropecuária (SCHNEIDER & CASSOL, 2013).

conseguissem recursos provenientes das políticas

por

(2010)

possibilitar

o

associativismo

que

os

foi

produtores

públicas, e o desenvolvimento das famílias se tornou Os agricultores familiares durante os anos de 1995 a

grande,

conseguindo

abranger

desde

2006 obtiveram um crescimento significativo, no qual

econômica, política, social até a cultural.

a

área

esses passaram a usufruir da tecnologia, neste caso especialmente a energia elétrica, e o uso de animais

Segundo Mapa (2016) o associativismo se constitui

para o trabalho, e também conseguiram acesso a

uma alternativa necessária de viabilização das

assistência técnica (SCHNEIDER & CASSOL, 2013),

atividades

ou seja, a vida dos trabalhadores rurais passou a ser

trabalhadores e pequenos proprietários um caminho

melhor e possivelmente o trabalho passou a ser

efetivo para participar do mercado em melhores

mais produtivo com tais mudanças.

condições de concorrência. Com a cooperação formal

entre

econômicas,

sócios

possibilitando

afins,

a

aos

produção

e

Segundo Baiardi & Alencar (2014) a agricultura de

comercialização de bens e serviços podem ser mais

base familiar também pode ser chamada de unidade

rentáveis, tendo-se em vista que a meta é construir

de produção agrícola familiar, suas características

uma estrutura coletiva das quais todos são benefici-

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ários. Os pequenos produtores, que normalmente

mico, busca melhoria e crescimento dos negócios

apresentam as mesmas dificuldades para obter um

para

bom desempenho econômico, têm na formação de

comunitária com visão financeira abre as portas para

associações um mecanismo que lhes garante melhor

o crescimento de um determinado negócio, pois o

desempenho para competir no mercado.

desenvolvimento do grupo de indivíduos é expresso de

os

indivíduos,

várias

em

maneiras,

que

como

a

participação

fortalecimento

da

competitividade

no

Segundo Mattosinho et al. (2010) o associativismo

atividade,

possui relevância no meio rural, pois o mesmo

mercado, melhoria de infraestrutura, dentre outras.

o

aumento

de

contribui para a expansão da cidadania e também por tornar as pessoas aptas a reivindicação de seus

Nos tempos de hoje a agricultura se encontra em um

direitos, no qual as pessoas lutam juntas por

cenário crítico, pois a população cresce e exige cada

interesses sociais, sendo um instrumento para a

vez mais produção de alimentos, a agricultura

realização de objetivos, apenas com o uso do

familiar estando no formato associativista, esse

associativismo é que muitos objetivos se tonam

problema

reais.

agricultura consegue atender as necessidades de

se

torna

menos

marcante,

pois

a

trabalho e geração de renda de uma grande parcela Assim, os aspectos do sistema do associativismo

da população que trabalha no campo, na teoria, a

trazem para os associados vários benefícios que são

agricultura familiar aliada ao associativismo se

comuns a todo grupo, por isso se associar causa um

apresenta como uma boa alternativa de sanar a falta

efeito grupal.

de alimentos, já que, incentiva a permanência do

Transformar a participação individual e familiar em participação grupal e comunitária se apresenta como

homem no campo (TONISASSO et al., 2007; MUMIC et al., 2015).

uma alavanca, um mecanismo que acrescenta

O associativismo une pessoas com ideais comuns,

capacidade produtiva e comercial a todos os

através dessa união é possível ver um crescimento

associados, colocando-os em melhor situação para

na produção individual dos agricultores e também

viabilizar suas atividades. A troca de experiências e

maior êxito para a própria comunidade que estiver

a utilização de uma estrutura comum possibilitam-

envolvida nesse método que fortalece os negócios

lhes

das famílias e as faz crescer (MUMIC et al., 2015).

explorar

o

potencial

consequentemente,

de

conseguir

cada maior

um

e,

retorno Sendo assim, o associativismo possui importância

financeiro por seu trabalho (ALVES, 2002).

democrática, uma vez que o mesmo apresenta A união dos pequenos produtores em associações

diferentes aspectos que mostram benefícios como

torna

e

tal, por exemplo, tem-se a defesa daqueles que

equipamentos com menores preços e melhores

estão em grupos excluídos e desamparados, esse

prazos de pagamento, como também o uso coletivo

também promove a educação política, relação de

de equipamentos como tratores, colheitadeiras,

confiança, espirito público e cooperação etc., entre

caminhões para transporte, etc. Tais recursos,

os membros das associações (LUCHMANN, 2011).

possível

a

aquisição

de

insumos

quando divididos entre vários associados, tornam-se acessíveis e o produtor certamente sai lucrando,

Como exemplo da atuação do associativismo

pois reúne esforços em benefício comum, bem como

podemos falar da agricultura de gênero familiar que

o compartilhamento do custo da assistência técnica,

possui desafios e capacidades, nesse meio os

de

pequenos

tecnologias

e

de

capacitação

profissional

(ADION, 2005).

produtores

a

partir

de

associações

ganham perspectiva de melhora no mercado, como consequência ocorre um desempenho econômico,

Por isso, o associativismo busca unir as pessoas

assim o associativismo passa a ser uma ferramenta

com o intuito de fornecer uma base de conhecimento

importante para a permanência das pessoas que

de direitos e outros meios que não englobem o fator

vivem no assentamento rural permanecerem com

financeiro, já o cooperativismo possui caráter econô-

suas atividades rurais (SANGALLI et al., 2015).

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Artigo 494 - O associativismo e cooperativismo na bovinocultura leiteira, passado, presente e futuro: revisão de literatura

O associativismo não apenas está presente na

mos direitos e também obrigações com seus

agricultura familiar, mas também

trabalhos e em sociedade (SALES, 2011).

em

diversos

setores que podem ter uma alta escala de produção, produzir sozinho é uma forma mais difícil do que

Esse sistema é formado pela associação voluntária

produzir em grupo.

de no mínimo 20 pessoas unidas em torno de objetivos comuns de caráter econômico. Para isso,

O cooperativismo e sua importância

constituem uma empresa de propriedade e controle

Há milhares de anos quando se começou a

coletivo organizando a produção e comercialização

formação de tribos a cooperação se fazia presente

de bens e serviços produzidos, dividindo benefícios

entre os homens (GIANEZINI et al., 2009; OLIVEIRA

materiais e sociais advindos das atividades e

et al., 2014). Gianezini et al. (2009) complementa, a

gerando renda e oportunidades de trabalho entre os

cooperação estava presente de forma a garantir para

cooperados. As cooperativas podem ser constituídas

os homens uma fortificação das comunidades, neste

livremente e organizar suas atividades econômicas

sentido a partir de fatores materiais para promover

para acessar os mercados tendo sempre como base

melhores condições de abrigo, fogo, alimentação, e

os princípios e valores da solidariedade, ajuda

também por fatores não materiais, como participação

mútua, honestidade, democracia e participação

nas relações sociais, com isso, se promovia uma

(MAPA, 2016).

melhoria na qualidade de vida dessas comunidades. O

sistema

tem

como

princípio

a

educação

Haja vista sua importância o cooperativismo foi

cooperativa, em que possui apoio de órgãos públicos

regulamentado por lei segundo Sales (2011), pela lei

que também contribuem para o associativismo. Os

nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971, teve parte

produtores são ajudados pelas cooperativas, que

modificada pela Lei nº 6.981, de 30/03/82.

fornece desde conhecimentos até a compra de um maquinário, em cooperativas, esses são ajudados

O cooperativismo e o associativismo na cadeia

pelo governo, sendo o cooperativismo uma união

produtiva de leite

para

O cooperativismo se deu da evolução do termo

BONGANHA, 2015).

se

ganhar

em

conjunto

(MINATEL

&

momento,

o

associativismo, surgiu a partir da necessidade de sanar problemas (SIMÃO & BANDEIRA, 2013).

Menezes

(2012)

diz

que,

no

cooperativismo está em destaque por se fazer Esse sistema é um método definido como uma

presente não só no meio econômico, mas em todos

estratégia que trabalhadores urbanos ou rurais se

os meios, por causa da sua importância na luta da

unem pensando em bens lucrativos, ou seja, ocorre

exclusão social e para o desenvolvimento no mundo.

uma união para garantir aos produtores, a renda,

No ano de 2012 a Organização das Nações Unidas

qualidade e preço, que sejam bons aos mesmos,

titulou o ano mundial das cooperativas, com o intuito

buscando o crescimento e desenvolvimento de seus

de tornar as pessoas conscientes da relevância das

negócios (RIBEIRO et al., 2013).

mesmas para a melhoria na vida das populações e

O sistema cooperativista possui como essência sua

para o surgimento de empregos.

característica principal que é a cooperação, isso

Por meio do crescimento econômico é possível de se

significa a união de esforços e forças em conjunto de

atribuir ao mesmo uma importância para expansão

pessoas que possuem objetivos em comum. O

da economia do país, a partir da filosofia e doutrina

cooperativismo diferente do capitalismo busca a

do sistema que os cooperados colocam seus valores

distribuição de bens de forma harmoniosa, esse

em prática, no qual o sistema têm princípios que

busca deixar a sociedade mais justa, humana e

formam uma linha de orientação (OLIVEIRA et al.,

comprometida com si própria, tem como princípio da

2014).

igualdade de direitos para as pessoas que fazem

cooperativismo,

parte desse sistema, deixando claro que ninguém é

agricultura familiar.

Como

exemplo

da

podemos

citar

participação no

setor

melhor que ninguém, no qual todos possuem os mes-

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do da


Artigo 494 - O associativismo e cooperativismo na bovinocultura leiteira, passado, presente e futuro: revisão de literatura

Segundo Baiardi & Alencar (2015) para que a

Como falado tanto o cooperativismo como o

agricultura familiar se torne viável e cresça para a

associativismo possuem relevância de estarem

sociedade e deixe de ser um cenário crítico como

presentes no meio rural, ajudando principalmente os

muitos acham, o cooperativismo é fundamental para

pequenos produtores em seus negócios.

o desenvolvimento da agricultura familiar, a partir desse método a união de pessoas com o mesmo

O sistema cooperativista torna possível a negociação

intuito o cenário do meio rural agrícola foi para

e produção do leite de forma mais econômica para o

outros rumos, através do mesmo as pessoas

produtor, proporcionando vários benefícios, dentre

melhoraram

suas

eles o aumento de empregos, que pode gerar capital

propriedades e adquiriram novas técnicas em

para o município, e que ocorre através das

equipamentos e no plantio, com o objetivo de ter

cooperativas, com compra e venda de produtos, e

parcerias com empresas privadas para aquisição de

por fim o produtor sai ganhando também com os

suas produções.

serviços prestados (RIBEIRO et al., 2013).

Na tabela abaixo (Tabela 1) é possível visualizar em

Esse sistema depois de instalado recebe apoio de

números

das

órgãos para que ocorra seu desenvolvimento, assim

cooperativas para o país, vendo que, as mesmas

em diversos lugares são realizados eventos que

estão presentes em 13 ramos de atividades, desde

reúnem profissionais da área de bovinocultura de

agronegócio até o turismo e lazer, ou seja, não é

leite, juntamente com os produtores e demais

apenas uma ferramenta que atua no foco de ajudar

interessados.

a

a

forma

magnitude

de

manejo

da

em

importância

ao produtor a melhorar e manter sua produção, mas também, de estar presente na vida de muitas pessoas

e não somente na dos

agricultores

familiares e empresários, com um número de 6.586 de cooperativas atuantes, além disso, é relevante frisar que com essas cooperativas há 296.286 empregados por essas cooperativas.

Cooperativas Associados

podem ter muitos benefícios, um deles é conseguir tornar o sistema de produção mais organizado e também seu plano de negócio no leite mais eficiente. Os produtores estão tendo acesso ao conhecimento e tecnologias, sem contar a facilidade para conseguir capital para investimentos, com isso os mesmos

Tabela 1. Atuação das cooperativas se estende em 13 ramos de atividades econômicas Ramo de

Através do cooperativismo os produtores rurais

Empregados

estão

sendo

incentivados

às

mudanças

e

modernização, com esses benefícios se tornou possível

agregar

valor

ao

leite

a

partir

da

comercialização em conjunto com os mercados

atividade Agropecuário

locais, de outras regiões e outros estados (DAVID,

1.523

969.541

155.896

120

2.710.423

10.968

1.047

4.673.174

33.988

As cooperativas de leite da agricultura familiar

294

51.534

3.694

possuem uma estrutura organizacional leve, com

9

393

12

uma forma fácil de gerir e são maleáveis, aceitam

Habitacional

226

99.474

1.829

mudanças em momentos críticos, sendo um fator

Infraestrutura

128

829.331

6.334

positivo de competividade ao se comparar a outras

Mineral

69

58.891

161

Produção

243

11.500

3.605

Saúde

846

271.004

67.156

A finalidade de implantar um sistema como esse

Trabalho

966

188.644

2.738

dentro da cadeia de produção de leite é de tornar o

Transporte

1.088

143.458

9.712

produtor rural capacitado em técnicas de laticínios,

Turismo e

27

1.468

193

para que ocorra um crescimento da produtividade

Consumo Crédito Educacional Especial

2009).

organizações

com

estruturas

(DAVID,

2009).

dos animais, no qual o mesmo pode aprender sobre

Lazer Totais

6.586

10.008.835

296.286

a higiene e manipulação de alimentos, produção de

Fonte: OCB 2011.

8494

grandes

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.4, p.8488-8497, jul./ago, 2019. ISSN: 1983-9006


Artigo 494 - O associativismo e cooperativismo na bovinocultura leiteira, passado, presente e futuro: revisão de literatura

queijos, bebidas lácteas e ricota, e por fim como

que quando associado à organização coletiva torna

comercializar esses produtos (CHIAFITELA, 2011).

possível que os pequenos produtores possam competir de uma melhor forma com os grandes

Por causa das diversas vantagens que esse sistema

produtores que investem alto no negócio para poder

proporciona ao produtor vem sendo cada vez mais

competir no mercado e possuem um alto custo do

empregado, mas é preciso ter em vista que o mesmo

leite (SCHUBERT & NIEDERLE, 2011).

não funciona sozinho, é necessário cooperados com força de vontade para não desistirem diante de

Ao final do texto, pode-se concluir que tanto o

obstáculos.

associativismo como também o cooperativismo são duas formas de participação comunitárias essenciais

De acordo com Dotta et al. (2008) as cooperativas

não apenas para pequenos produtores rurais como

de leite tiveram uma participação histórica no setor

também para grandes produtores rurais, pois estas

de leite pasteurizado, mas essa atividade foi

formas de participação mútua permitem um leque de

prejudicada quando as multinacionais chegaram,

opção e de melhorias tanto de ordem produtiva como

prejudicando

das

também de ordem comercial, em que a união dessas

empresas do setor privado, ou seja, ocorreu uma

pessoas permite um maior incremento da eficiência

desvalorização de uma menor atividade rural com a

do sistema de produção, como no caso da atividade

chegada de uma grande empresa no ramo do leite.

leiteira, que dependendo da situação pode ser

na

compra

ou

incorporação

Em um trabalho realizado por Craco et al. (2014) através da aplicação de um questionário a quinze produtores de leite na cidade de Nova Xavantina-

considerada uma atividade frágil, pois os produtores podem se tornarem reféns de grandes empresas processadoras, atravessadores etc.

MA, os dados coletados eram acerca de sua criação,

CONSIDERAÇÕES FINAIS

se possuíam maquinário para realização de suas

Verifica-se que os modelos atuais de associativismo

atividades, de que forma comercializavam o leite, se

e cooperativismo, surgem para facilitar a vida do

possuíam local apropriado para armazenamento do

produtor rural, pois sabe-se que devido à atuação de

leite etc. durante a pesquisa foi constatada uma

grandes empresas, levando a uma alta concorrência

problemática sobre a comercialização do leite, no

e

qual nessa cidade estava sendo proibido a venda do

praticamente

leite cru diretamente para as pessoas, pois o mesmo

empreendedor torne-se bem sucedido quando se

poderia estar contaminado, além disso muitos

trabalha sozinho. Dessa forma é importante que o

produtores

ao

produtor rural busque por parcerias para conseguir o

armazenamento do leite, e nem máquinas para

fortalecimento do seu próprio negócio como também

realização de suas atividades diárias em suas

dos demais vinculados.

não

possuíam

local

adequado

ao

sistema

financeiro

impossível

capitalista que

o

torna-se pequeno

propriedades, assim se lançou a proposta da implantação de uma associação para sanar tais

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problemas, porém não houve união entre os produtores e a associação não se consolidou, sabe-

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evolução de cadeias alimentares e sistemas

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8497


Vitaminas e minerais na nutrição de suínos: revisão de literatura Deficiência nutricional, intoxicação, monogástricos. Revista Eletrônica 1*

Darleny Eliane Garcia Horwat 2 Paula Teixeira Poltronieri 2 Daiane Cristina Ribeiro Dambroski Nack 3 Juliana Sperotto Brum

Vol. 16, Nº 04, jul./ ago. de 2019 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

1

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Paraná, UFPR. *E-mail: darlenyhorwat22@gmail.com. 2 Graduanda em Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná, UFPR. 3 Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Paraná, UFPR.

RESUMO As

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

VITAMINS AND MINERALS IN SWINE NUTRITION:

vitaminas

e

os

minerais

são

substâncias

LITERATURE REVIEW

essenciais ao metabolismo animal e devem estar

ABSTRACT

presentes

e

Vitamins and minerals are essential substances to

concentração variam entre os alimentos, e a

animal metabolism and must be present in their diet.

disponibilidade é afetada por diversos fatores, como

However, the presence and concentration between

a interação com outros compostos. Este trabalho

ingredients and their availabilityare affected by

objetivou elaborar uma revisão de literatura sobre as

several factors, such as the interaction with other

principais características das vitaminas e minerais,

compounds. This paper aimed to elaborate a review

bem como as consequências de suas deficiências e

of the literature about the main characteristics of

excessos na alimentação de suínos. As vitaminas e

vitamins and minerals, as well as the consequences

minerais atuam como cofatores enzimáticos em

of

muitas reações estão envolvidos no metabolismo de

feed.Vitamins

proteínas,

outras

cofactors in many reactions, they are involved in the

funções como, por exemplo: atuação da vitamina K

metabolism of proteins, carbohydrates and lipids

na coagulação; ação antioxidante da vitamina E, e

among other functions, for example: vitamin K in

selênio;

(ferro);

coagulation; antioxidant action of vitamin E and

formação do esqueleto. Tanto a deficiência quanto o

selenium; composition of hemoglobin (iron); bone

excesso desses nutrientes podem acarretar em

skeletal formation. Both, the deficiency and the

prejuízos a saúde dos suínos. As consequências da

excess of these nutrients, can lead to damages to the

deficiência ou excesso dessas substâncias estão

swine’s health. The consequences of deficiency or

geralmente associadas à redução do ganho de peso,

excess of these substances are generally associated

problemas reprodutivos, ósseos, dermatológicos e

with reduced weight gain, problems in reproduction,

manifestações

bone

na

dieta.

Porém,

carboidratos

composição

e

da

a

lipídios

presença

entre

hemoglobina

neurológicas.

Desta

forma

é

their

deficiencies and

formation,

and

excesses

minerals

dermatology

act

as

and

in

swine

enzymatic

neurological

importante que as vitaminas e minerais sejam

manifestations. In this way it is important that

fornecidos de forma equilibrada e de modo a atender

vitamins and minerals are provided in a balanced

as exigências dos suínos.

way and in order to reach the requirements of

Palavras-chave: deficiência nutricional; intoxicação;

swines.

monogástricos.

Keyword: nutritional monogastric.

8498

deficiency;

intoxication;


Artigo 495 - Vitaminas e minerais na nutrição de suínos: revisão de literatura

INTRODUÇÃO

suínos

Vitaminas e minerais são substâncias essenciais ao metabolismo normal dos seres vivos e contribuem

CLASSIFICAÇÃO DAS VITAMINAS E MINERAIS

para o crescimento e manutenção da saúde. Esses

As vitaminas são classificadas em lipossolúveis

nutrientes devem estar presentes na dieta, já que os

(solúveis em lipídios e solventes orgânicos –

minerais e grande parte das vitaminas não é

vitaminas A, D, E e K) e hidrossolúveis (solúveis em

sintetizada

água - vitaminas do complexo B e vitamina C). Os

pelo

organismo

(SANTANA,

2013;

minerais necessários em maiores quantidades são

MORENO et al., 2012; PISSININ, 2016).

classificados como macrominerais, enquanto que os A presença e concentração dessas substâncias

necessários em menor quantidade são classificados

variam entre os alimentos, e a disponibilidade é

como microminerais ou elementos traço (YAGUE,

afetada por diversos fatores, como a interação com

2009; MORENO et al., 2012; SANTANA, 2013).

outros compostos. Pode ocorrer, por exemplo, a deficiência de um mineral devido ao nível excessivo

VITAMINAS LIPOSSOLÚVEIS

de outro, sendo que o antagonismo entre cobre e

Vitamina A - Além da conhecida atuação no

ferro, cobre e zinco, iodo e ferro, cálcio e cobre e

processo visual, a vitamina A também está envolvida

cálcio e zinco são frequentemente citados (GAUDRÉ

em outras funções do organismo, como a síntese de

& QUINIOU, 2009). As exigências dos suínos

algumas glicoproteínas, regulação do crescimento e

também são afetadas por diversos fatores, como o

diferenciação celular, reprodução e desenvolvimento

potencial genético, fase de criação e sanidade

embrionário, resposta imune (SIGNOR et al., 2013) e

(SANTANA, 2013).

manutenção do tecido epitelial. A sua atuação no processo visual ocorre por meio do transretinol, um

A deficiência de minerais e vitaminas não se

derivado desta vitamina envolvido na síntese e

manifesta imediatamente, podendo levar semanas e

regeneração cíclica da rodopsina, uma proteína de

até meses para serem observados sinais de

membrana presente nas células fotorreceptoras

carência. Já os sinais de intoxicação podem se

adaptadas a baixa intensidade de luz (DARROCH,

manifestar de maneira tanto aguda como crônica

2001).

(MORENO et al., 2012; SANTANA, 2013). A ingestão de vitamina A diz respeito à absorção da Em

criações

intensivas

esses

nutrientes

são

vitamina pré-formada ou de provitaminas, compostos

adicionados na fabricação das rações com base nos

que no organismo são transformados em vitaminas,

requerimentos de cada fase de criação. Desta forma,

sendo o betacaroteno o principal deles. Os alimentos

a ocorrência de carências ou intoxicações é pouco

de origem animal como fígado, leite e ovos são

frequente. Pode ocorrer devido a fatores como

fontes da vitamina A pré-formada. Já vegetais como

redução do consumo alimentar, variabilidade no

cenoura, batata doce, manga e espinafre são fonte

conteúdo nutricional de alguns ingredientes da ração

de betacaroteno (FRANCO, 2008; COZZOLINO,

e erros na formulação e preparo (GAUDRÉ &

2009).

QUINIOU, 2009; MORENO et al., 2012). Já em criações tradicionais de baixo investimento, os

Em suínos, a deficiência de vitamina A causa

produtores geralmente utilizam alimentos disponíveis

principalmente sinais neurológicos, como andar

no local ou na região, não havendo a garantia de

cambaleante, incoordenação, espasmos e paralisia,

uma dieta balanceada, aumentando a probabilidade

além de redução no ganho de peso, corrimento

da ocorrência de doenças por carências (MUTUA,

ocular, cegueira, disfunção respiratória e rugosidade

2012).

na pele. As porcas podem apresentar distúrbios no ciclo

estral,

reabsorção

fetal,

aborto

e

gerar

Este trabalho objetivou elaborar uma revisão de

natimortos. Nos abortos e natimortos podem ser

literatura sobre as principais características das

observados anoftalmia, microftalmia, fenda palatina,

vitaminas e minerais, bem como as consequências

lábio

de suas deficiências e excessos na alimentação de

(DARROCH, 2001; MORENO et al., 2012).

leporino

e

patas

traseiras

deformadas

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.4, p.8498-8507, jul./ago, 2019. ISSN: 1983-9006

8499


Artigo 495 - Vitaminas e minerais na nutrição de suínos: revisão de literatura

Podem ocorrer intoxicações pela vitamina A durante

oxidativos que protegem o organismo da ação de

uma suplementação excessiva como tratamento da

radicais livres e melhora a resposta imunológica

hipovitaminose ou na utilização injetável como

(ARAÚJO, 2010a). A vitamina E apresenta também

protocolo para trazer benefícios à reprodução. Os

um papel no desenvolvimento embrionário, Umesiobi

sintomas

fraturas

(2009) demonstrou em seu estudo a importância da

espontâneas, hemorragias, diminuição do apetite e

vitamina E na otimização das taxas de fecundidade e

do ganho de peso e espessamento da pele

no tamanho da ninhada das porcas. Os alimentos

(DARROCH, 2001).

que contêm maiores concentrações de vitamina E

incluem

malformações,

são os cereais e óleos vegetais (COZZOLINO, Vitamina D - É encontrada sob várias formas, sendo

2009).

as principais colicalciferol (D3), formado a partir do colesterol; e oergocalciferol (D2), formado a partir do

A maior parte dos sinais de deficiência de vitamina E

ergosterol. Sua principal função é a regulação da

está associada com a deficiência de selênio. Nos

homeostase do cálcio e do fósforo. Isso ocorre por

suínos

meio de uma maior absorção no intestino delgado,

vasculares e musculares que podem lavar o animal à

pela

e

morte. Distrofia muscular, hepatose dietética e

da

microangiopatia nutricional ou “doença do coração

reabsorção nos túbulos renais (COZZOLINO, 2009;

de amora” são as principais doenças relacionadas à

MARQUES, 2010). A principal fonte ocorre pela

deficiência de vitamina E, e selênio. Os animais

formação endógena na epiderme após a exposição

acometidos podem apresentar icterícia, dificuldade

à radiação ultravioleta-B. Na dieta está pouco

de locomoção, tremores musculares, apatia e

presente nos alimentos de origem vegetal. Sua

dispneia; em muitos casos os suínos apresentam

forma

morte súbita (ARAÚJO, 2010a; MORENO et al.,

regulação

osteoclástica

da

dos

atividade

ossos

biologicamente

e

osteoblástica

pelo

ativa

aumento

é

o1α,

25-di-

são

encontradas

alterações

cardíacas,

2012). Não foram encontrados casos de intoxicação

hidroxivitamina D3 (MADSON & GOFF, 2012).

por vitamina E na literatura. A carência de vitamina D causa diminuição da absorção de cálcio, podendo levar ao aparecimento

Vitamina K - Os compostos com atividade de

de sinais de hipocalcemia. Nos animais jovens é

vitamina

relatada diminuição do depósito de cálcio nos ossos

presentes em alimentos de origem vegetal, e as

em crescimento (raquitismo) e nos adultos, perda de

menaquinonas, sintetizadas por bactérias da flora

cálcio nos ossos formados (osteomalacia). Suínos

intestinal (FRANCO, 2008; COZZOLINO, 2009). A

afetados

função

apresentam

retardo

no

crescimento,

K

são

mais

agrupados

conhecida

em

desta

filoquinonas,

vitamina

é

a

membros

participação no processo de coagulação sanguínea,

posteriores, aumento das articulações e apatia.

sendo necessária para a formação da protrombina e

Quando são criados ao ar livre e expostos ao sol os

dos fatores de coagulação VII, IX e X. A vitamina K

suínos não necessitam de suplementação dietética

também está envolvida na formação óssea. São

(MORENO et al., 2012; MADSON & GOFF, 2012).

exemplos de fontes desta vitamina, brócolis, couve-

Em casos de hipervitaminose ocorre atraso no

flor, acelga e espinafre (COZZOLINO, 2009).

claudicação,

fraturas,

paralisia

dos

crescimento, diminuição da conversão alimentar e calcificação de tecidos moles (CRENSHAW, 2001).

A deficiência de vitamina K nos suínos gera um retardo no tempo de coagulação do sangue. Podem

Vitamina E - O termo vitamina E refere-se a uma

ocorrer hemorragias internas, anemia, hematúria,

família de oito compostos homólogos sintetizados

taquipneia

pelas plantas. Estes compostos dividem-se em

subcutâneo (MORENO et al., 2012). Os suínos são

tocofenóis e tocotrienóis. Dentre estes compostos o

resistentes a altas doses de vitamina K, sendo a

alfa-tocoferol é o mais ativo (COZZOLINO, 2009).

intoxicação

Esta

experimentais. Os sintomas de intoxicação incluem

vitamina

é

o

principal

antioxidante

de

membranas biológicas, participa dos processos anti-

anemia

e

sinais

de

demonstrada

hemolítica,

hemorragia

apenas

hiperbilirrubinemia

cerebral (CRENSHAW, 2001). 8500

em

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no

tecido

trabalhos e

dano


Artigo 495 - Vitaminas e minerais na nutrição de suínos: revisão de literatura

cardíaca (DOVE & COOK, 2001).

VITAMINAS HIDROSSOLÚVEIS Vitamina C - A vitamina C, ou ácido ascórbico, é sintetizada pela maioria dos animais. O ascorbato

Riboflavina (Vitamina B2) - É uma vitamina

forma biologicamente ativa da vitamina, possui

hidrossolúvel encontrada principalmente na carne,

funções em diversas reações químicas, podendo

peixe e vegetais de cor verde-escura. Sua função é

atuar como cofator ou co-substrato para diferentes

como precursora da flavina adenina dinucleotídeo

enzimas. Essa vitamina age no metabolismo da

(FAD)

fenilalanina, tirosina, colesterol e glicose; participa

componentes das flavoenzimas, enzimas que atuam

da síntese da norepinefrina e do colágeno; atua na

em reações de transferência de hidrogênio e

formação da matriz óssea e na função leucocitária; e

importantes participantes da cadeia transportadora

aumenta a absorção de ferro (DOVE & COOK, 2001;

de elétrons (SOUZA et al., 2005). Desta forma, a

FRANCO, 2008; COZZOLINO, 2009). É encontrada

riboflavina

quase que exclusivamente em alimentos de origem

metabolismo dos lipídios, proteínas e glicídios

vegetal, como o mamão papaia, kiwi, melão e laranja

(FRANCO, 2008).

(COZZOLINO, 2009).

e

flavinamononucleotídeo

apresenta

um

papel

(FMN),

importante

no

Em suínos em crescimento, os sinais clínicos da

A vitamina C não necessita ser fornecida na dieta de

deficiência

suínos porque pode ser sintetizada pelo organismo,

retardado, catarata, espessamento e erosões na

desta forma não têm sido observados sinais de

pele,

carência (DOVE & COOK, 2001). As vitaminas

reprodutivas.

hidrossolúveis, de uma maneira geral, não são

lesões como descoloração hepática e dos rins,

armazenadas em

quantidades significativas no

esteatose hepática, degeneração dos óvulos e

organismo. A ingestão excessiva dessas vitaminas

degeneração mielínica dos nervos isquiático e

não provoca danos ao organismo, pois o excesso é

braquial (MORENO et al., 2012).

rapidamente eliminado por meio da urina (CASERTA & PILOTO, 2016).

de

riboflavina

alopecia, Em

incluem

anorexia, casos

crescimento

vômitos

severos

e

falhas

descrevem-se

Piridoxina (Vitamina B6) - Pode ser encontrada em três formas diferentes: piridoxamina, piridoxal e

Tiamina (Vitamina B1) - O pirofosfato de tiamina

piridoxol, todas elas fisiologicamente ativas. Atua

(TPP) é a forma fisiológica ativa da tiamina. O TPP é

como cofator em diversas reações enzimáticas e

essencial para o metabolismo de carboidratos e

está relacionada principalmente ao metabolismo de

proteínas. Tem atuação como coenzima em vários

aminoácidos, mas também atua no metabolismo dos

sistemas

na

carboidratos e lipídios. A piridoxina está presente na

descarboxilação oxidativa do piruvato para formação

maioria dos alimentos, em maior proporção nos de

do acetil coenzima A (COZZOLINO, 2009). A tiamina

origem animal (FRANCO, 2008; COZZOLINO, 2009).

enzimáticos

e

é

necessário

é encontrada em um grande número de alimentos, tanto de origem animal como vegetal (FRANCO, 2008).

Sua deficiência leva à redução do apetite e da taxa de crescimento dos suínos. Quando avançada pode levar ao desenvolvimento de exsudato ao redor dos

Os principais sintomas de deficiência tiamínica estão

olhos, convulsões, ataxia, coma e morte (MORENO

relacionados principalmente com o sistema nervoso

et al., 2012). Nos suínos com carência desta

e o aparelho cardiovascular (FRANCO, 2008). Vieira

vitamina têm sido descritas alterações degenerativas

et al. (2016) demonstraram que a deficiência de

nos nervos periféricos, células da raiz dos gânglios

tiamina

dorsais e posteriores da coluna e medula espinhal

durante

um

período

inicial

de

desenvolvimento pode fazer com que os indivíduos apresentem comprometimento motor e alterações neurotransmissoras

excitatórias

e

inibitórias

persistentes. Nos suínos, além dos sinais nervosos podem ocorrer também diminuição do apetite e consequente perda de peso, bradicardia e hipertrofia

(FRANCO, 2008). Cobalamina

(Vitamina

B12)

-

É

sintetizada

exclusivamente por microrganismos, sendo que, a única fonte na dieta são os alimentos de origem animal (COZZOLINO, 2009). Está envolvida na formação dos glóbulos sanguíneos, da bainha

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8501


Artigo 495 - Vitaminas e minerais na nutrição de suínos: revisão de literatura

dos nervos e do ácido nucleico, e está inter-

2002). A deficiência de ácido fólico nos suínos

relacionada com outros nutrientes, principalmente o

pode

ácido fólico (FRANCO, 2008). Funciona também

descoloração do pelo e anemia (MORENO et al.,

como um cofator essencial para duas enzimas: a

2012).

metionina

sintase

e

causar

retardo

no

crescimento,

L-metilmalonil-coAmutase,

ambas envolvidas no metabolismo de eliminação da

Ácido pantotênico (Vitamina B5) - Tem sua

homocisteína (PANIZ et al., 2005).

função por ser parte da coenzima A (CoA).

151-154, 2008.

Participa de dezenas de vias enzimáticas como mediador na transferência de grupos acetil.

A deficiência da vitamina B12 pode ocasionar

Desempenha função no metabolismo de ácidos

transtornos

graxos, aminoácidos e carboidratos e na síntese

hematológicos,

neurológicos

e

cardiovasculares (PANIZ et al., 2005). Nos suínos os

de

colesterol,

hormônios

esteroides,

sinais clínicos mais encontrados são: redução do

neurotransmissores, porfirinas e hemoglobina

apetite e do ganho de peso, incoordenação dos

(MORESCHI & MURADIAN, 2007). Suas fontes

membros posteriores, dermatite e anemia. Nos

alimentares são principalmente a carne, ovo,

leitões a alteração mais evidente é o retardo no

batata, aveia e brócolis (COZZOLINO, 2009).

crescimento (DOVE & COOK, 2001; MORENO et al., Suínos com carência de ácido pantotênico têm

2012).

como Niacina

(Vitamina

hidrossolúvel

cujo

B3) papel

-

É

uma

metabólico

vitamina é

como

principal

sintoma

o

andar

anormal,

denominado passo de ganso, que resulta da degeneração

e

desmielinização

dos

nervos

precursor das coenzimas nicotinamida adenina

periféricos dorsais. Outros sinais são o retardo no

dinucleotídeo

crescimento, anorexia, diarreia e pele seca e

(NAD)

e

nicotinamida

adenina

dinucleotídeo fosfato (NADP). Estas coenzimas

escamosa (MORENO et al., 2012).

estão envolvidas no metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas, e são importantes no processo

Biotina (Vitamina B7) - Atua como cofator

de geração de energia (COZZOLINO, 2009). Esta

enzimático e é importante para o grupo das

vitamina é encontrada em maior quantidade na

caboxilases. Está envolvida no metabolismo das

carne, no leite e nos legumes e está amplamente

proteínas e dos carboidratos e age diretamente

distribuída nos grãos (FRANCO, 2008).

na formação da pele (ARAÚJO et al., 2010b). Ela está presente na maioria dos alimentos, no

Em suínos a deficiência de niacina pode causar

entanto sua disponibilidade é variável. Uma parte

vômito, diarreia, anorexia, retardo no crescimento,

da exigência de biotina pode ser atendida pela

queda das cerdas, dermatite, anemia, ulcerações na

síntese

mucosa oral, gastrite ulcerativa e inflamação e

(COZZOLINO, 2009). A deficiência de biotina em

necrose do ceco e cólon (DOVE & COOK, 2001;

suínos resulta em redução do crescimento e da

MORENO et al., 2012).

eficiência

microbiana

alimentar.

no

intestino

Também

pode

grosso

ocorrer

alopecia, dermatite, rachadura nos cascos, ataxia Ácido fólico (Vitamina B9) – Os folatos, termo

e convulsões (ARAÚJO et al., 2010b).

usado para se referir ao ácido fólico e aos compostos com atividade do ácido fólico, estão

MACROMINERAIS

envolvidos

bioquímicos

Cálcio - É o elemento mineral mais abundante no

por meio da

organismo animal. A maior parte do cálcio está

transferência de compostos monocarbonados, sendo

presente nos ossos e nos dentes e o restante

importantes para a interconversão da serina e

está distribuído no sangue e tecidos moles. Nos

glicina, para a oxidação da histidina e para a síntese

ossos há uma constante deposição e reabsorção

de purinas e pirimidinas. Entre as principais fontes

de cálcio devido a ação do paratormônio e da

de ácido fólico estão as vísceras e vegetais folhosos

calcitonina. Sua absorção é dependente da

verde-escuro (DOVE & COOK, 2001; BALUZ et al.,

vitamina D e pode ser prejudicada pela presença

em

diversos

processos

essenciais para a vida. Atuam

8502

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Artigo 495 - Vitaminas e minerais na nutrição de suínos: revisão de literatura

de fitatos e oxalatos (FRANCO, 2008). Dentre as

Em casos de deficiência deste mineral na dieta, são

funções do cálcio no organismo estão a formação

encontrados sinais clínicos relacionados a problemas

dos ossos e dentes, a ativação e estabilização de

de mineralização óssea, assim como na deficiência

sistemas enzimáticos, a participação na contração

de cálcio (AROUCA et al., 2010). Percentuais de

muscular,

na

fósforo acima de 1,5% podem causar mobilização de

transmissão do impulso nervoso e a manutenção da

cálcio dos ossos, mesmo que este esteja em níveis

permeabilidade normal das células (SANTANA,

normais. Ocorre desta forma osteodistrofia fibrosa ou

2013). O cálcio é encontrado em maior concentração

hiperparatireoidismo secundário a hiperfosfatemia

no leite e derivados, também na carne de algumas

(SOBESTIANSKY et al., 2012).

na

coagulação

sanguínea

e

espécies de peixe, como a sardinha e o lambari, e em algumas hortaliças como a couve e o espinafre

Cloro - É um dos íons mais importantes na

(UNICAMP, 2011). Grãos de cereais e fontes de

regulação da pressão osmótica, desempenha um

proteína

tradicionalmente

papel fundamental na manutenção do equilíbrio

utilizados na alimentação dos suínos, são pobres em

ácido-básico e atua também na transmissão do

cálcio, desta forma é de grande importância sua

impulso nervoso. O cloro secretado pela mucosa

suplementação na dieta (CRENSHAW, 2001).

gástrica como ácido clorídrico acarreta acidez

vegetal,

ingredientes

necessária para digestão no estômago e para Quando a dieta é pobre em cálcio, o organismo

ativação de enzimas (FRANCO, 2008). Sua principal

recorre

demanda

fonte é o sal comum (cloreto de sódio) (PATIENCE &

metabólica (SANTANA, 2013), desta forma os suínos

ZIJLSTRA, 2001). Os sinais clínicos de carência e

apresentam os mesmos sinais discutidos no excesso

intoxicação são abordados em associação com o

de vitamina D. Porcas com alta produção de leite

sódio (SOBESTIANSKY et al., 2012).

aos

ossos

para

atender

a

estão sujeitas a apresentar febre vitular, também como

Sódio - É essencial para manutenção da pressão

consequência da hipocalcemia (MORENO et al.,

osmótica, atua no balanço ácido-básico, faz parte

2012). Por outro lado, o excesso de cálcio na dieta

dos processos de contração muscular e cardíaca,

prejudica a eficiência alimentar levando a redução do

além de ser um fator importante na transmissão do

ganho de peso e interfere na absorção de outros

impulso nervoso (YAGÜE, 2009). Os alimentos de

minerais como o zinco e o fósforo. Níveis elevados

origem

de fósforo também irão resultar no prejuízo da

concentração de sódio, e o sal comum é a principal

absorção do cálcio, devendo esses dois minerais ser

fonte. A homeostasia do sódio é regida pela

mantidos em equilíbrio (SOBESTIANSKY et al.,

aldosterona, responsável por controlar a reabsorção

2012).

deste mineral nos túbulos renais (FRANCO, 2008).

Fósforo - É o segundo mineral em maior quantidade

A deficiência de cloreto de sódio (NaCl) manifesta-se

no

nos

pela redução no consumo e na taxa de crescimento,

fosfolipídios, um dos principais componentes da

e piora na conversão alimentar. Os suínos podem

membrana celular, em nucleotídeos e em ácidos

apresentar alotriofagia, lambendo as instalações em

nucleicos. Entre suas funções está a participação na

busca de sal (MORENO et al., 2012). Por outro lado,

formação do esqueleto, o auxílio na manutenção do

o excesso de NaCl é tóxico aos suínos sendo o nível

pH devido sua ação tamponante, o armazenamento

máximo tolerado na dieta de 3,14% de sódio ou 8%

e transporte de energia e a ativação de enzimas

de NaCl (YAGÜE, 2009; BOOS et al., 2012). A

(COZZOLINO, 2009; AROUCA et al., 2010). É

intoxicação se caracteriza pelo aparecimento de

encontrado em maior quantidade em alimentos de

alterações neurológicas que atingem grande parte de

origem animal (UNICAMP, 2011). Os vegetais

animais.

apresentam uma quantidade considerável de fósforo,

salivação excessiva, movimentos de pedalagem,

porém a maior parte está indisponível por estar

opistótono, tremores musculares, convulsão e morte

ligada ao ácido fítico (MAGNAGO et al., 2015).

(BOOS et al., 2012).

chamada

de

organismo

paresia

animal.

da

parturiente,

Está

presente

animal

Podem

são

ser

os

que

observados

contêm

sinais

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maior

como

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Artigo 495 - Vitaminas e minerais na nutrição de suínos: revisão de literatura

Potássio - Tem atuação na contração muscular, na

(UNICAMP, 2011). Embora a exigência do suíno seja

transmissão do impulso nervoso, no controle do

inferior a 10 mg, é comum ser realizada a

balanço eletrolítico, no equilíbrio hídrico e é cofator

suplementação em dietas de leitões próximo de 150

para muitas ações enzimáticas. As principais fontes

mg/kg de matéria seca, devido a um efeito promotor

na dieta são a batata inglesa, carnes, leguminosas,

de crescimento durante esta fase (GAUDRÉ &

banana, couve e laranja (FRANCO, 2008; YAGÜE,

QUINIOU, 2009).

2009). A deficiência de potássio em suínos causa anorexia, pelagem áspera e crespa, emagrecimento,

Nos suínos a deficiência de cobre pode levar a

bradicardia e ataxia (MORENO et al., 2012). Casos

anemia, deformações ósseas e fraturas, deficiências

de intoxicação são raramente relatados. Os níveis

na

tóxicos não são bem definidos, sendo 3% o valor

despigmentação e distúrbios cardíacos (MORENO et

mais aceito (PATIENCE & ZIJLSTRA, 2001).

al., 2012). Por outro lado, o excesso deste mineral

queratinização

e

produção

de

colágeno,

pode causar danos aos hepatócitos e as membranas Magnésio - Atua em muitas reações enzimáticas.

dos eritrócitos. Deste modo, podem ser observados

Tem

da

sinais como anemia, apatia, vômito, diarreia, melena,

estabilidade cardíaca e do tônus vasomotor, na

hemoglobinúria, icterícia e tremores musculares

transmissão do impulso nervoso e na excitabilidade

(SOBESTIANSKY et al., 2012).

um

papel

neuromuscular.

importante

Também

no

está

controle

envolvido

no

metabolismo das proteínas, gorduras e carboidratos e

na

integridade

óssea

(FRANCO,

2008;

COZZOLINO, 2009; YAGÜE, 2009). O magnésio é amplamente distribuído nos alimentos, mas em diferentes concentrações, sendo que os vegetais folhosos são as principais fontes, seguidos pelos

Ferro

-

É

conhecido

principalmente

por

ser

constituinte da hemoglobina nas hemácias, atuando assim no transporte do oxigênio, mas também é o componente de outras moléculas importantes, como a mioglobina no músculo e a ferritina no fígado (GAUDRÉ & QUINIOU, 2009). Além disso, participa de reações de oxidação e redução como um

legumes (COZZOLINO, 2009).

carreador de elétrons. Alimentos de origem animal e Raramente ocorre deficiência de magnésio nos

sementes de leguminosas são as principais fontes

suínos devido sua presença em diversos alimentos.

de ferro. A presença de fitato, ácido oxálico, fibra

Os sinais clínicos de carência incluem anorexia,

alimentar e altas concentrações de cálcio prejudicam

baixo

sua absorção (COZZOLINO, 2009).

crescimento,

hiperirritabilidade,

espasmos

musculares, perda de equilíbrio, tetania e morte. Informações sobre a intoxicação por esse mineral são escassas. É aceito pela literatura que um nível de até 0,3% de magnésio no total de matéria seca da dieta não provoca danos aos suínos. (PATIENCE & ZIJLSTRA, 2001; YAGÜE, 2009).

A anemia por deficiência de ferro é um problema comum

em

leitões,

sendo

que

os

animais

acometidos manifestam sinais clínicos como: apatia, atraso no crescimento, mucosas pálidas e dispneia (MORENO et al., 2012). Esta doença ocorre como resultado de vários fatores, como o baixo nível de

MICROMINERAIS

reserva ao nascimento e o baixo teor de ferro no

Cobre - Participa de muitas reações de oxidação e é

colostro e no leite da porca. Desta forma a aplicação

necessário para a síntese da hemoglobina e

injetável de ferro dextrano é uma prática comum na

mioglobina (GAUDRÉ & QUINIOU, 2009). Participa

suinocultura e mostra-se eficiente na prevenção da

da manutenção dos sistemas vascular, esquelético,

anemia ferropriva (STARZYNSKI et al., 2013;

nervoso e imunológico. Também atua nos processos

PISSININ, 2016). Leitões com acesso a terra com

de pigmentação da pele e dos pelos (YAGÜE, 2009).

boas concentrações de ferro não necessitam de

É encontrado em maior concentração no leite e

suplementação, pois podem atender a demanda

derivados, também na carne de algumas espécies

desse mineral por meio do consumo da mesma

de peixe, como a sardinha e o lambari, e em

(ALMEIDA et al., 2016). Em casos de intoxicações

algumas hortaliças como a couve e o espinafre

são observados sinais clínicos como: incoordenação,

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Artigo 495 - Vitaminas e minerais na nutrição de suínos: revisão de literatura

tremores, convulsões, vômito e diarreia ou pode ocorrer

uma

reação

anafilática

rígido (SOBESTIANSKY et al., 2012).

aguda Selênio - É um mineral exigido em quantidades

(SOBESTIANSKY et al., 2012).

mínimas, porém essencial ao organismo. Entre suas Iodo - Este elemento traço tem uma alta absorção

funções estão: participação no sistema imunológico,

pelo trato gastrointestinal, sendo que no intestino é

proteção

convertido em iodeto para ser absorvido e a maior

participação da conversão do T4 em T3 e ação

parte é transportada da corrente sanguínea para

antioxidante

glândula tireoide.

glutationaperoxidase.

composição

Sua principal atuação é na

dos

por

ação

ser

de

metais

pesados,

componente

da

enzima

quantidade

de

selênio

A

contida em um mesmo tipo de alimento é muito

iodotironina (T3) e tetraiodotironina (T4) (FRANCO,

variável, refletindo a concentração no solo. São

2008).

na

alimentos fontes de selênio as castanhas, alfafa,

sistema

frutos do mar, repolho e brócolis (COZZOLINO,

hormônios

termorregulação,

no

tiroidianos

a

tri-

Esses

hormônios

contra

possuem

crescimento,

ação

no

nervoso e cardiovascular e afetam o metabolismo

2009).

dos carboidratos e lipídios (YAGÜE, 2009). Os sinais clínicos da deficiência de selênio em Deficiências

severas

no

suínos estão associados à deficiência de vitamina E,

desenvolvimento dos suínos, letargia e aumento da

já relatados anteriormente. Quando em excesso, o

tireoide. Pode ocorrer também um aumento no

selênio pode levar a intoxicação e são relatadas

número de leitões natimortos ou nascimento de

diferentes

leitões

2009;

dificuldade de locomoção com paresia dos membros,

MORENO et al., 2012). A exigência de iodo pode

lesões de pele e separação da borda coronária dos

ser atendia pela inclusão de iodato de cálcio ou sal

cascos, problemas reprodutivos com diminuição da

iodado na dieta dos suínos (GAUDRÉ & QUINIOU,

taxa de concepção e aumento do número de

2009). Casos de intoxicação são incomuns já que

natimortos (GOMES et al., 2014).

fracos.

provocam

(GAUDRÉ

&

atraso

QUINIOU,

apresentações

clínicas,

sendo

elas:

os suínos são relativamente resistentes, porém níveis muito elevados podem causar retardo no

Zinco - Desempenha um papel importante no

crescimento e diminuição dos níveis de hemoglobina

metabolismo por ser constituinte ou catalizador de

e ferro hepático (SOBESTIANSKY et al., 2012).

algumas enzimas. Tem atuação na síntese de proteínas,

na

calcificação

dos

ossos,

no

Manganês - É um mineral importante para o

desenvolvimento do sistema imunológico e na

desenvolvimento do esqueleto e componente de

produção de hormônios

muitas enzimas envolvidas no metabolismo de

principais fontes alimentares são os produtos de

proteínas, lipídios e carboidratos (GAUDRÉ &

origem animal como carne bovina, de peixe e aves,

QUINIOU,

na

leite, além de cereais integrais, feijões e castanhas

regulação de diversas enzimas e receptores de

(DOMENE et al., 2008). Sua absorção é afetada por

neurotransmissores.

de

diversos fatores, sendo prejudicada pela presença

manganês são as oleaginosas, como o amendoim e

de fitato e pelo excesso de cálcio (GAUDRÉ &

a noz, e outros vegetais como o agrião, espinafre e

QUINIOU, 2009; YAGÜE, 2009).

2009).

Está

envolvido

Importantes

também fontes

como a insulina. As

batata doce (COZZOLINO, 2009). A

deficiência

de

zinco

em

suínos

leva

ao

A deficiência deste mineral acarreta em prejuízos ao

desenvolvimento de uma dermatose conhecida como

crescimento, desenvolvimento do esqueleto e função

paraqueratose. Esta doença é caracterizada pelo

reprodutora. É possível observar alterações no ciclo

espessamento

estral, reabsorção fetal, redução da secreção láctea

epiteliais da pele, o que ocorre principalmente ao redor

e nascimento de leitões fracos e que apresentam

dos olhos e da boca, nas porções inferiores das patas,

ataxia (COZZOLINO, 2009; MORENO et al., 2012).

e em casos severos atinge toda a superfície corporal.

Níveis muito altos causam redução no consumo e

Ocorrem

ganho de peso, dificuldade de locomoção e andar

nascimento de um número reduzido de leitões e retardo

ou

também

hiperceratinização

problemas

das

reprodutivos,

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células

como

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no

desenvolvimento

testicular

em

cachaços

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padronizadas

excesso

município de Campinas. Revista de Nutrição,

dessas

substâncias

estão

geralmente

associadas à redução do ganho de peso, problemas reprodutivos, manifestações

ósseos

e

neurológicas.

dermatológicos Desta

e

forma

é

zinco

em

refeições da

com

alimentação

preparações escolar

do

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8507


Uso de marcadores para avaliação do consumo em ruminantes Revista Eletrônica

Excreção fecal, indicadores externos e internos, ingestão, pastejo, resíduos indigestíveis.

1*

Juliete de Lima Gonçalves 2 Sueli Freitas dos Santos 3 Rafael Teixeira de Sousa 4 Antônio Marcos Ferreira Fernandes 1

Doutora em Zootecnia, Universidade Federal da Paraíba, Areia, Paraíba. *Email: julietegoncalves@gmail.com. 2 Doutora em Zootecnia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará. 3 Doutor em Nutrição e Produção Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, Pirassununga, São Paulo. 4 Mestre em Zootecnia, Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral, Ceará.

RESUMO O consumo de forragem é o principal fator determinante do desempenho de animais em pastejo, o qual é influenciado por fatores associados ao animal, ao pasto, ao ambiente e às suas interações. Em pesquisas com ruminantes em pastejo é necessário utilizar-se de algumas técnicas que estimem o consumo dos mesmos, pois o consumo de matéria seca é um dos principais determinantes do processo produtivo. A estimativa acurada do consumo de matéria seca é importante para a formulação de dietas balanceadas que buscam o uso mais eficiente dos nutrientes presentes nos alimentos, com a finalidade de maximizar o desempenho animal e minimizar o impacto ambiental. Dentre as técnicas utilizadas atualmente para se estimar o consumo, o uso de marcadores vem sendo utilizados com esta finalidade. Objetivou-se com esta revisão discutir sobre a utilização de marcadores para ruminantes em pastejo, com destaque para os tipos de marcadores utilizados, suas vantagens e limitações. Ao mesmo tempo, destacar formas que possam melhorar, ou aperfeiçoar o uso desses indicadores, como forma de estimar o consumo e com isso verificar se estes animais estão consumindo as quantidades necessárias para atender as exigências nutricionais. Palavras-chave: excreção fecal, indicadores externos e internos, ingestão, pastejo, resíduos indigestíveis. 8508

Vol. 16, Nº 04, jul./ago. de 2019 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

USE OF MARKERS TO EVALUATE OF CONSUMPTION IN RUMINANTS ABSTRACT Feed intake is the main determinant of the performance of grazing animals, which is influenced by factors associated with the animal, pasture, environment and their interactions. In research with grazing ruminants it is necessary to use some techniques that estimate their consumption, since the consumption of dry matter is one of the main determinants

of

the

productive

process.

The

accurate estimate of dry matter intake is important for the formulation of balanced diets, which seek the most efficient use of the nutrients present in food, in order to maximize animal performance and minimize environmental

impact.

Among

the

techniques

currently used to estimate consumption, the use of markers has been used for this purpose. The objective of this review was to discuss the use of markers for ruminants in grazing, highlighting the types of markers used, their advantages and limitations. At the same time, highlight ways that can improve or improve the use of these indicators as a way of estimating consumption and thereby verify that these animals are consuming the necessary amounts to meet nutritional requirements. Keyword: external and internal indicators, fecal excretion, grazing, indigestible residues, ingestion.


Artigo 496 - Uso de marcadores para avaliação do consumo em ruminantes

INTRODUÇÃO

método de coleta total das fezes (RODRIGUEZ et

O Brasil apresenta grande potencial para atividade

al., 2006).

pecuária a pasto, em razão da expansão territorial e da vegetação. As pastagens constituem as principais

Marcadores

fontes de nutrientes para os ruminantes, como

normalmente de fácil determinação, podendo ser

proteína e energia, além de fornecer a fibra que é

fornecidos

essencial

diretamente em

para

proporcionar

a

mastigação,

são

substâncias

juntamente algum

com

o

indigestíveis, alimento

ou

segmento do aparelho

ruminação e o funcionamento adequado do rúmen

digestório, sendo posteriormente identificados e

(FERREIRA & ZANINE, 2007). Este consumo de

quantificados nas fezes ou ao final do segmento em

forragem é o principal fator determinante no

estudo (BERCHIELLI et al., 2005). Além de serem

desempenho de animais em pastejo, o qual é

utilizados para estimar o consumo, os marcadores

influenciado por vários fatores associados ao animal,

também são utilizados para medir a produção total

ao pasto, ao ambiente e às suas interações.

de fezes, digestibilidade e o trânsito da digesta (SALMAN, et al., 2010).

Para ter um bom êxito nos experimentos de digestão com ruminantes em pastejo é necessário utilizar-se

Objetivou-se com esta revisão elucidar os aspectos

de algumas técnicas que estimem o consumo dos

relacionados ao uso de marcadores para estimativa

mesmos, pois o consumo de matéria seca é um dos

do consumo de ruminantes em pastejo, com

principais

de

destaque para evolução da técnica, vantagens e

produção. A estimativa acurada do consumo de

limitações, bem como os tipos de marcadores

matéria seca (CMS) é importante para a formulação

utilizados, sejam estes externos ou internos. Ao

de dietas balanceadas, que buscam o uso mais

mesmo tempo, poder associar, juntamente com

eficiente dos nutrientes presentes nos alimentos,

estas limitações, formas que possam melhorar ou

com a finalidade de maximizar o desempenho

aperfeiçoar o uso desses indicadores, como forma

animal e minimizar o impacto ambiental.

de estimar o consumo e com isso verificar se estes

determinantes

em

um

sistema

animais Os sistemas de produção de animais em pastejo

estão

consumindo

as

quantidades

necessárias para atender as exigências nutricionais.

sejam estes em pasto cultivado ou nativo fizeram com

que

se

despertasse

o

interesse

de

REVISÃO DE LITERATURA

pesquisadores para buscar meios de quantificar o

Uso de marcadores para estimar o consumo em

CMS de forragem em condições de pastejo. No

ruminantes

entanto,

o

A determinação do consumo é essencial para se

conhecimento do consumo de animais em pastejo

conhecer o desempenho produtivo dos animais e se

ainda é um desafio para os pesquisadores, já que

a dieta oferecida está atendendo as exigências

não se

nutricionais dos mesmos. No entanto, o consumo

de

acordo

com

pode estimar

LONGO

a forragem

(2015),

consumida de

voluntário é influenciado por diversos fatores, dentre

confinamentos. O mesmo ainda relatou que o uso de

estes pela composição bromatológica do pasto e as

bolsas para coletas totais de fezes podem ser

exigências nutricionais dos animais (FORMIGA et al.,

eficazes para ovinos, já para bovinos, em razão do

2011). Portanto, em situação de pastejo, o CMS

volume e consistência das fezes pode não ser

pode ser alterado em função dos períodos de chuvas

viável.

ou sistemas de irrigação, composição química da

diretamente,

como

se

faz

em

sistemas

dieta, e outros fatores, e o entendimento destes, Desta forma, uma das técnicas utilizadas hoje em

implicarão na adequação do manejo das pastagens

muitos trabalhos para se estimar o consumo é o uso

e suplementações estratégicas.

de marcadores.

O

uso dos

marcadores

tem

despertado grande interesse de pesquisadores na

Os procedimentos experimentais e analíticos para

área de nutrição animal, por representar avanço no

determinação das estimativas de consumo em

entendimento do processo digestivo, sendo cada vez

pastejo têm evoluído ao longo do tempo, porém

mais empregados em substituição ao tradicional

ainda continuam sendo deficientes e de baixa confia-

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.4, p.8508-8524, jul./ago, 2019. ISSN: 1983-9006

8509


Artigo 496 - Uso de marcadores para avaliação do consumo em ruminantes

bilidade (MACHADO, 2010). Quando se estende esta

dores externos são fornecidos via oral ou ruminal por

determinação para pastagens heterogêneas, como a

meio de cápsulas de gel, papel ou misturados

caatinga, onde há uma grande variedade de

juntamente

espécies, associada à variação da disponibilidade de

marcadores internos são substâncias encontradas

forragem e os valores nutricionais ao longo do ano,

naturalmente nos alimentos (LONGO, 2015). O

podem dificultar ainda mais essa determinação.

mesmo ressaltou que a estimativa do consumo por

com

o

concentrado,

enquanto

os

meio de marcadores não pode ultrapassar o período Uma das técnicas que vem sendo utilizadas para

de 24 horas, além da variação da excreção fecal ao

estimar o consumo em pastejo é baseada no

longo do tempo, sendo necessárias coletas em

princípio de que a excreção fecal de um animal é

vários dias.

inversamente proporcional à digestibilidade, mas diretamente relacionada à quantidade de alimento

Conforme Valadares Filho & Marcondes (2009), a

ingerido (CARVALHO et al., 2007). No entanto, a

utilização

determinação da digestibilidade é essencial para

indigestibilidade do material utilizado. Conhecendo a

evitar erros na estimativa de consumo.

quantidade do indicador fornecido seria possível, a

de

indicadores

se

baseia

na

partir do percentual de indicador nas fezes, estimar a Assim,

como

alternativa,

os

métodos

de

determinação indireta utilizando marcadores internos

excreção fecal diária do animal pela equação: Equação (I):

ou externos vem sendo adotados em substituição a coleta total de fezes. Segundo Andrigueto (1988), o

Matéria seca fecal (g) = Consumo do indicador (g)

marcador é uma substância que já está presente no alimento (marcador

interno)

% Indicador nas fezes

ou adicionada ao

alimento (marcador externo), em que a determinação

Da mesma forma, conhecendo a excreção de um

da concentração destes nas fezes dos animais

indicador interno é possível, a partir dos dados

permite calcular a digestibilidade da dieta e/ou

obtidos

nutriente além da determinação do consumo.

(VALADARES FILHO & MARCONDES, 2009).

A

técnica

indicadores

de foi

determinação

pelo

método

de

desenvolvida

em

função

do

inconveniente de realizar a coleta total de fezes

anteriormente,

estimar

o

consumo

Equação (II): Consumo de matéria seca (g) = Excreção do indicador interno nas fezes (g)

excretada (RODRÍGUEZ et al., 2006). Os mesmos

% Indicador interno no alimento ingerido

ressaltaram que os marcadores possuem vantagens por não serem invasivos, já que não necessitam da

Dentre os marcadores externos destacam-se o uso

utilização de cânulas reentrantes no trato digestivo,

do óxido de cromo (Cr2O3), dióxido de titânio, alcanos

não precisam de bolsas de coleta de fezes e até mesmo esvaziamento do trato digestivo ou abate dos animais. Além disso, o método convencional, com a coleta

total

de

fezes

é

trabalhoso

e,

em

determinadas circunstâncias, difícil de ser realizado e na maioria das vezes provocam quedas significativas de consumo (LIMA, 2007). O uso de bolsas presas aos animais para coleta total das fezes pode causar desconforto do animal causado pelos arreios e/ou pelo peso das fezes, a ponto de modificar o comportamento ingestivo e o consumo de pasto (CARVALHO et al., 2007).

e

a

lignina

isolada,

purificada

e

enriquecida

(SAMPAIO et al., 2011). Já os marcadores internos usam-se as cinzas insolúveis em detergente ácido (CIDA), lignina em detergente ácido (LDAi), matéria seca indigestível (MSi), fibra insolúvel em detergente neutro (FDNi), fibra insolúvel em detergente ácido (FDAi) e alcanos (SILVA et al., 2010). No momento da escolha do marcador a ser utilizado deve-se levar em conta, o tipo de dieta que o animal está recebendo, pois, alguns marcadores são bastante

específicos. os

et

(2005)

preconizaram

estes os marcadores externos e internos. Os marca-

comportamento diferenciado de acordo com cada

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.4, p.8508-8524, jul./ago, 2019. ISSN: 1983-9006

marcadores

al.

Os marcadores são divididos em dois grupos, sendo

8510

que

Berchielli

apresentam


Artigo 496 - Uso de marcadores para avaliação do consumo em ruminantes

volumoso estudado e isso se deve as diferenças na

Os marcadores internos apresentam vantagem por já

constituição da fibra de cada volumoso, podendo

estarem presentes no alimento e, de modo geral,

afetar sua taxa e extensão de degradação. Os

permanecerem distribuídos na digesta durante o

mesmos ressaltaram a importância de pesquisas

processo de digestão e excreção.

que associam tipos de indicadores (externos ou internos) com diferentes forrageiras, com intuito de

Este método é baseado no princípio em que à

se estabelecerem os melhores contrastes.

medida que o alimento passa pelo trato digestivo, a concentração

do

indicador

pela

aumenta

Alguns fatores podem ainda afetar a acurácia nos

progressivamente

remoção

de

outros

resultados de determinação do consumo com a

constituintes por digestão e absorção (MACHADO et

utilização de marcadores, tais como o protocolo de

al., 2011). De acordo com LIPPKE (2002), o

administração do marcador, método de análise,

indicador começa a ser excretado nas fezes no

métodos de amostragem de fezes, variação na

período médio de 6 a 15 horas após o fornecimento

excreção dos marcadores e baixa recuperação fecal

do alimento que contém o indicador e essa variação

(KOZLOSKI et al., 2006).

ocorre em função da taxa de passagem. O aumento da concentração é proporcional à digestibilidade e,

Características desejáveis de um bom marcador

portanto, esta última pode ser calculada a partir da

Segundo Merchen (1993) nenhuma das substâncias

relação

usadas

indigestível presente no alimento e nas fezes

como

indicadores

possuem

todas

as

entre

a

características de indicador ideal. Entretanto, vários

coletadas, a partir

indicadores são suficientemente adequados para

(COSTA, 2015):

concentração

do

composto

desta equação III,

abaixo

fornecer dados representativos de fluxo omasal, fecais e de ingestão de matéria seca.

Equação (III): Digestibilidade =

De acordo com Salman et al. (2010) e Casali (2006)

Concentração do indicador no alimento x nutriente nas fezes x100

algumas

Concentração do indicador nas fezes x nutriente no alimento

características

são

desejáveis

nos

marcadores, como: serem substâncias indigestíveis e não assimiláveis pelo organismo, não apresentar

O uso de marcadores internos, em teoria, expressa o

nenhuma ação farmacológica sobre o trato digestivo,

real processo de digestão dos animais em pastejo.

misturar-se uniformemente com o alimento a ser

Os mais utilizados são os alcanos e resíduos de

testado, ter digestibilidade constante e conhecida,

incubação in vitro ou in situ, por um período mínimo

ser de fácil quantificação analítica, e de preferência,

de 144 horas, que

ser um componente natural do alimento a ser

(CARVALHO et al., 2007). Os mesmos ressaltaram a

testado.

importância das estimativas de digestibilidade, pois

incluem

a MSi

e FDAi

caso estas não sejam adequadamente validadas Os indicadores internos possuem naturalmente algumas destas vantagens consideradas ideais, entre estas a ausência de interferência no sistema digestivo e flora microbiana (COLLET, 2011). Outras exigências são estabelecidas, como: ser inerte e não tóxico; não apresentar função fisiológica; não influenciar nas secreções intestinais; absorção ou motilidade; não influenciar a microbiota do trato intestinal; e ser barato (LONGO, 2015).

com base em resultados de coleta total de fezes e/ou em ensaios de digestibilidade in vivo, as estimativas de consumo serão mais de caráter indicativo ou especulativo do que reais. Quando se trabalha com indicadores internos, um aspecto que deve ser observado é a possibilidade de seleção das dietas pelos animais, uma vez que o resíduo que sobra no cocho é, normalmente, rico em material indigestível, sendo necessário que se

Marcadores Internos

realize uma correção nos dados de consumo do

Os indicadores internos são componentes químicos indigestíveis presentes no alimento dos animais e totalmente recuperáveis nas fezes (SALIBA et al., 2003).

indicador em relação à fibra indigestível presente nas sobras (MACHADO, 2010). Uma maior limitação do uso dos indicadores internos em ensaios de estimativas de consumo é a variação na recuperação

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.4, p.8508-8524, jul./ago, 2019. ISSN: 1983-9006

8511


Artigo 496 - Uso de marcadores para avaliação do consumo em ruminantes

das fezes (SOUSA, 2014). As variações nas taxas

Kozloski et al. (2009) avaliaram o uso de indicadores

de recuperação fecal, maiores erros nas estimativas

internos, MSi e FDNi para estimar a digestibilidade

de determinação da digestibilidade e/ou produção

em ovinos, determinados após 144 horas de

fecal, a interação dos marcadores com a dieta, a

incubação in situ e conseguiram um grau de

variação da excreção do marcador ao longo do dia,

recuperação de MSi variando de 64,8 a 108,5% e o

falta de padronização das técnicas laboratoriais e a

da FDNi, de 49,5 a 67,9%. No entanto, MORAIS et

baixa concentração do marcador na dieta, podem

al. (2010) não encontraram diferenças no tempo de

constituir como restrições ao uso de marcadores

incubação sobre a concentração dos indicadores

internos (LOPES, 2007).

internos FDNi e FDAi, quando incubados in situ por 144 horas para reproduzir a fração indigestível.

Alguns indicadores internos têm sido utilizados tanto

FERREIRA et al. (2009) fizeram uma comparação

na estimativa da produção fecal, fluxo da digesta,

com o método de coleta total de fezes e o marcador

determinação do consumo e digestibilidade (MOTA,

FDNi e encontraram valores de 75,77 e 75,81%,

et al., 2013). Dentre os marcadores internos mais

mostrando o potencial deste indicador.

utilizados podem se citar: matéria seca indigestível (MSi), cinza insolúvel em detergente ácido (CIDA),

No estudo feito por Freitas et al. (2002) utilizando a

lignina em detergente ácido indigestível (LDAi),

FDNi e a FDAi em incubação in situ e in vitro por 144

lignina Klason e fibra em detergente neutro (FDNi)

horas para estimar a produção fecal em novilhos,

ou ácido (FDAi) indigestíveis (SOUSA, 2014).

verificaram na comparação de consumo com a coleta total de fezes que o melhor indicador foi a

Matéria seca (MSi), fibra em detergente neutro

FDAi. O resultado encontrado por Freitas et al.

(FDNi) e fibra em detergente ácido (FDAi)

(2002) difere do trabalho realizado por Sousa (2014)

indigestíveis

que ao avaliar a determinação do consumo de ovelhas utilizando a MSi, FDNi e FDAi observou que

Os resíduos de incubação in vitro ou in situ, por um

a MSi foi a que apresentou melhor estimativa, com

período mínimo de 144 horas, que incluem MSi,

valores próximos aos recomendados pelo National

FDAi ou FDNi são os marcadores internos mais

Research Council (NRC, 2007). Detmann et al.

utilizados (CARVALHO et al., 2007). No entanto,

(2007) corroboram com o resultado de Sousa (2014),

Kozloski et al. (2009) preconizaram que para estimar

uma vez que os mesmos observaram que a MSi e a

o consumo de animais a pasto, utilizando resíduo

FDNi são mais acurados na determinação do

indigestível como marcador interno, é necessário se

consumo de ovinos, quando comparados com a

conhecer o grau de recuperação desses indicadores

FDAi, pois esta última se mostrou mais sensível a

nos

de

erros sistemáticos decorrentes dos procedimentos

recuperação dos resíduos de MSi, FDAi e FDNi, a

laboratoriais, os quais podem reduzir a acurácia do

precisão

de

indicador. No trabalho de Maeda et al. (2011), os

consumo

indicadores de MSi e FDAi estimaram a ingestão de

sido variável

MS (IMS) com precisão, não diferindo da IMS

(BERCHIELLI et al., 2005; RODRIGUEZ et al.,

observado (oferta menos a sobra) e a FDNi, por sua

2006). Essas variações decorrem principalmente por

vez, subestimou a IMS em 26%.

ensaios e

de

digestibilidade.

exatidão

das

O

grau

estimativas

digestibilidade e a determinação do utilizando estes indicadores tem

essas frações não serem

entidades químicas

uniformes e constantes nos alimentos e não

Watanable et al. (2010) verificaram que quando a

possuírem

sua

dieta dos animais é composta por fonte rica em

2002).

carboidratos fibrosos, pode-se optar tanto pelo uso

Porém, Carvalho et al. (2007) relataram que estes

da FDNi quanto FDAi, mas para evitar dúvidas, os

determinação

um no

método

padrão

laboratório

para

(LIPPKE,

problemas não impedem o uso destes indicadores, mas enfatiza a importância de se medir o grau de recuperação deste indicador em cada experimento realizado.

8512

dois podem ser utilizados juntos. Santos (2006) trabalhando com ovinos concluíram que o uso de FDNi como indicador interno na estimativa da

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Artigo 496 - Uso de marcadores para avaliação do consumo em ruminantes

digestibilidade da matéria seca (DMS) para dietas a

Detmann

et

al.

(2007)

base de forragem, pode ser considerado bastante

recuperação de indicadores internos como FDNi,

eficaz, pois pode ser utilizar posteriormente na

FDAi e MSi em ensaios de digestão com ovinos e

estimativa da ingestão para situações com ou sem

observaram alguns vícios destes indicadores. Os

concentrado. No entanto, Detmann et al. (2001)

mesmos ressaltaram que a FDA podem ter erros por

verificaram que quanto à estimativa do consumo de

sua baixa concentração nos alimentos e nas fezes,

animais sob pastejo, a FDNi não deve ser utilizada

mas erros podem estar associados também às

em experimento que utiliza dieta com alta proporção

diferentes estruturas de partículas das fezes e dos

de grãos.

alimentos,

podendo

trabalharam

conduzir

a

com

a

resultados

divergentes quanto ao consumo e a excreção dos No trabalho realizado por Arcanjo (2014) com

indicadores caso os métodos de estimativas de

caprinos em pasto nativo de caatinga, o mesmo

concentração sejam aplicados de forma inadequada.

observou que a MSi e a FDNi foram melhores para estimar o consumo quando comparados com a FDAi, 2

Lignina

em

detergente

ácido

(LDA),

Cinza

obtendo coeficientes de determinação (R ) de 0,87 e

insolúvel em detergente ácido (CIDA) e Celulose

0,79 para MSi e FDNi, respectivamente, enquanto a

indigestível

FDAi foi apenas de 0,66. O mesmo explica que este

A

resultado pode ser decorrente da própria análise

fenilpropanóides que ocorre na parede celular das

laboratorial para determinação da FDA, uma vez que

plantas forrageiras, com valor teoricamente de

o método é sequencial, e, portanto, acumula erros

digestibilidade igual a zero (SALMAN et al., 2010). O

das análises anteriores, além de que a determinação

uso da lignina, em detergente ácido (LDA) apresenta

do consumo de animais a pasto é de difícil

a vantagem de ser um método fácil, de rápida

determinação,

pois

análise, econômico e rotineiro em laboratórios de

envolvidos,

por

e

existem isso

vários

os

fatores

coeficientes

de

lignina

é

um

polímero

de

unidades

de

análise de alimentos.

determinação para consumo são mais baixos. Rodrigues et al. (2010) avaliaram a acurácia e a

Recuperações

precisão

e

relatadas por Fahey & Jung (1983) e Van Soest

encontraram R de 0,38 e 0,40, respectivamente,

(1994). A complexa e variável estrutura da lignina

mostrando

torna difícil a adoção de metodologias específicas

dos

indicadores

FDNi

e

FDAi

2

assim,

a

baixa

confiabilidade

na

positivas

e

incompletas

foram

que determinem com alta confiabilidade, sua real

repetibilidade dos resultados.

concentração. A situação é agravada ao considerar Em trabalho feito com o uso do capim Brachiaria

evidências de que a lignina dietética difere da lignina

brizantha cv. marandu, Queiroz (2007) utilizou

fecal em seus constituintes químicos (ELAN &

indicadores internos e externos para estimar a

DAVIS, 1961).

produção fecal e verificou o pior resultado para o indicador FDNi comparado com o resultado da coleta total de fezes. A superestimativa na produção fecal obtida pelo uso dos indicadores FDNi e FDAi possivelmente ocorreu pela baixa recuperação dos indicadores

nas

fezes.

Silva

et

al.

(2009)

compararam a MSi, FDNi e a FDAi com o método de coleta total de fezes e observaram que a excreção fecal estimada pelos indicadores foram diferentes do método de coleta total de fezes. Os indicadores MSi e FDNi apesar de terem apresentado melhores estimativas que outros marcadores internos, estes não são mais precisos que o método da coleta total de fezes (ARCANJO, 2014).

Silva et al. (2010), avaliaram a influencia de indicadores internos (FDNi, FDAi e lignina de Kalson) para estimativa de consumo total por novilhas e concluíram

que a lignina de Kalson é a menos

indicada para determinação do consumo, em razão do grau de impurezas decorrentes da sua inabilidade de

recuperar

fenóis.

Carvalho

et

al.

(2007)

ressaltaram que a lignina, por sua vez, é inadequada como

marcador

interno

de

digestibilidade,

e

consequentemente na determinação do consumo porque em gramíneas jovens ela é parcialmente digerida no rúmen. A cinza insolúvel em detergente ácido (CIDA) repre-

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Artigo 496 - Uso de marcadores para avaliação do consumo em ruminantes

senta a fração mineral que é inerte e indisponível ao animal e inclui os silicatos de origem vegetal e mineral, provenientes do solo (VAN SOEST & ROBERTSON, 1985).

posteriormente, para determinação do consumo de

forragem

(SALMAN

et

al.,

2010).

digestibilidade aparente das dietas é obtida a partir da concentração do n-alcano interno na dieta e nas amostras de fezes, seguindo a

A crítica ao uso das CIDA está associada à sua

mesma

baixa concentração nas amostras, que diminui a

indicadores internos (FUKUMOTO, 2004).

precisão das estimativas, ou à possibilidade de contaminação

A

das

amostras

com

solo,

superestimando suas concentrações (CARVALHO et al., 2007). Salman et al. (2010) corroboram com essa afirmação ao relatarem que em animais que ingerem solo durante o pastejo tendem a reter partículas minerais no rúmen, que podem posteriormente mascarar a estimativa de cinzas nas fezes.

metodologia

utilizada

com

outros

O n-alcano par, principalmente o C32, é o hidrocarboneto externo utilizado na determinação do consumo, o qual também é combinado com nalcano ímpar, sendo geralmente C29, C31 ou C33 por serem os que estão mais presentes na cera das plantas (SAVIAN, 2013). Sánchez Chopa (2012)

verificou

que

a

combinação

dos

hidrocarbonetos C32 e C33 foram eficazes nas

Sherrod et al. (1978) citaram que o uso da CIDA

estimativas de consumo de terneiros alimentados

somente será adequado, quando sua participação na

com feno de azevém. Já no trabalho realizado por

matéria seca da ração for superior a 3%. Já Zeoula

Savian (2013) a determinação do consumo feito

et al. (2002) encontraram resultados satisfatórios

com o par de n-alcanos C31 e C32 foram mais

com teores em torno de 1,2 % de CIDA na matéria

eficazes quando comparados com o par C 32 e

seca. Zeoula et al. (1999), quando trabalharam com

C33. No entanto, Mayes et al. (1986) enfatizaram

ovinos alimentados com rações contendo 1,5% de

que o mais importante na escolha do par de n-

CIDA na MS, em consumo voluntário e/ou consumo

alcano a ser escolhido é a igualdade do grau de

restrito, obtiveram valores de 140,8 e 114,2% de

recuperação do n-alcano que será dosado e

recuperação fecal, respectivamente. Os autores

aquele natural, ou seja, o que já está presente na

concluíram que esses resultados propiciaram uma

planta.

superestimativa dos coeficientes de DMS, em comparação ao método de coleta total das fezes.

Para que o consumo de forragem seja estimado com acurácia, tem sido recomendado que a

A celulose indigestível pode ser usada como

concentração de alcanos na forragem deva

marcador, mas o uso deste marcador apresenta

exceder

desvantagens como o requerimento de animais

(LAREDO et al., 1991). Entretanto, os mesmos

fistulados no rúmen e o longo tempo necessário para

ressaltaram que algumas forrageiras tropicais

que ocorra a digestão das amostras (10 dias)

contêm quantidades insuficientes de alcanos C 33.

(SALMAN et al., 2010).

Nestas espécies, os alcanos de cadeia curta podem

50

ser

mg/kg

usados,

de

matéria

seca

ocasionando,

(MS)

contudo,

Alcanos

redução na acurácia da estimativa (LAREDO et

Os alcanos são hidrocarbonetos de cadeia longa

al., 1991).

(21-37 °C) que fazem parte da cutícula das forrageiras, sendo razoavelmente indigestíveis e recuperáveis

nas

fezes

e

utilizados

para

determinação do consumo e digestibilidade das forragens (MONTEIRO et al., 2015). A simplicidade relativa

da

análise

destes

compostos

por

cromatografia de gás e sua relativa inércia foram às razões principais para considerar sua utilização como marcador, inicialmente com o propósito de determinar a digestibilidade da dieta e, 8514

Para que se tenha uma melhor acurácia e perfeita aplicação da técnica de estimativa de consumo por ruminantes em pasto apenas usando nalcanos, alguns aspectos devem ser examinados pela pesquisa, como diferenças na recuperação fecal de n-alcanos de acordo com a idade, estado fisiológico e espécie animal, concentrações dos nalcanos nas forragens e variações advindas entre espécies forrageiras, estádio de crescimento e partes da planta (LOPES et al., 2001).

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Artigo 496 - Uso de marcadores para avaliação do consumo em ruminantes

Recuperação fecal de Indicadores Internos

individual diário dos animais, no entanto, os

Sein & Todd (1988) compararam o indicador CIDA e

autores ressaltaram que estes não permitem

LDAi com o método de coleta total para estimar a

estimar o consumo de períodos diferentes de 24

digestibilidade em ovinos alimentados com várias

horas, como durante uma refeição. Além disso,

dietas. Os mesmos observaram que apenas dois

existem algumas controvérsias a respeito do uso

experimentos de dezessete mostraram resultados

destes tipos de marcadores, havendo grandes

diferentes do método de CIDA pelo método de coleta

variações

total. Já Piaggio et al. (1991) utilizaram ovinos

recuperação total dos mesmos nas fezes. Em

alimentados com feno de alfafa e consumo restrito

caso de dosagens diárias constantes, este tempo

(90% do ad libitum) com teor de CIDA de 1,05% na

representa o número mínimo de dias para

MS

estabilizar

da

ração

e

obtiveram

porcentagem

de

em

a

relação

ao

excreção

tempo

fecal

para

do

à

indicador

recuperação fecal de CIDA de 83,8% ±19,2%,

(CARVALHO et al., 2007). Com isso, deve-se ter

diferindo de 100%, pelo método de coleta total.

bastante atenção na condução dos experimentos

Assim, eles ressaltaram que essas variações eram

com

decorrentes das variações nas porcentagens de

marcadores externos para determinar o consumo,

recuperação, causados pelo teor e a composição da

pois, as condições experimentais devem ser

CIDA, que podem interagir entre si.

semelhantes ao longo de todo o período de

animais

em

pastejo,

utilizando

os

fornecimento do indicador e das amostragens, Zeoula et al. (2002) trabalharam com a recuperação

para que não haja influências negativas nos

de

resultados.

marcadores

internos

e

verificaram

que

a

utilização da CIDA e da FDNi para estimar a produção fecal não diferiu de 100%, sendo igual aos

Existem vários indicadores externos que podem

valores obtidos pela coleta total de fezes. No

ser utilizados na determinação do consumo, entre

entanto, o uso da CIDA e da FDAi diferiu de 100% e

os quais os mais utilizados são: óxido de cromo,

superestimaram a produção fecal. Berchielli et al.

de ferro e de titânio (ROSA, 2016), as terras raras

(2000) verificaram que a CIDA subestimou a

lantânio, o cromo mordantado, o polietilenoglicol

digestibilidade por causa da baixa recuperação do

(PEG), quelatos como o Co-EDTA, Cr-EDTA,

mesmo nas fezes em rações com 1,16% de CIDA.

alguns alcanos, a lignina purificada e enriquecida,

Já Zeoula et al. (2000) e Ítavo et al. (2002) afirmaram

entre outros. O uso de um ou outro dependem de

que

materiais

a

FDNi

subestimou

a

digestibilidade

e

laboratoriais,

custos,

facilidade

de

apresentou altos coeficientes de variação. Freitas et

determinação e a menor variação da sua

al. (2002) também não obtiveram bons resultados

recuperação nas fezes.

com o uso da FDNi, observando que as estimativas de produção fecal obtida com o uso da FDNi in vitro

Óxido de cromo (Cr2O3)

e FDNi in situ foram sub e superestimadas,

O óxido de cromo é o indicador externo mais

respectivamente.

comumente utilizado, apresentando as vantagens de ser barato e facilmente incorporado à dieta,

Marcadores Externos Os

marcadores

externos

porém existem problemas relacionados como a ou

taxa de passagem mais rápida pelo rúmen em

compostos inertes que são administrados na ração,

relação à parte fibrosa, a possibilidade de

via oral ou intra-ruminal (MADEIRO, 2014), com o

acúmulo em alguma parte do trato digestório e a

objetivo de estimar o consumo, excreção total de

incompleta

fezes, taxa de passagem, fluxo da digesta e

(MACHADO et al., 2011). Algumas limitações

digestibilidade.

associadas

O

são

Marcador

substâncias

externo

deve

ser

mistura à

com

a

recuperação

digesta fecal

ruminal

incompleta

completamente recuperado nas fezes, e, portanto,

(SOARES et al., 2004), a sua irregularidade na

indigestível, e não pode ser absorvidos pelas

excreção ao longo dia (MORENZ et al., 2006;

paredes do trato digestivo (MOURA et al., 2013).

KOZLOSKI et al., 2006), e as propriedades

Segundo Carvalho et al. (2007), o uso de indicadores externos pode ser utilizado para estimar o consumo

carcinogênicas

(FIGUEIREDO,

2011)

ainda

persistem como problemas.

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Artigo 496 - Uso de marcadores para avaliação do consumo em ruminantes

Alguns fatores devem ser levados em consideração

realizados em pastejo com a utilização de

no momento da administração do óxido de cromo.

indicadores externos podem apresentar valores

Conforme Arcanjo (2014), a excreção do óxido de

subestimados para ganho de peso e consumo.

cromo está relacionada ao período de tempo, o tipo

Carvalho et al. (2007) observaram que quando há

de dieta e o número de doses diárias fornecidas para

o fornecimento do óxido de cromo via ruminal

atingir o máximo de concentração e assim obter

e/ou em horários prévios aos horários de pastejo

eficiência na recuperação deste indicador nas fezes.

dos animais reduz o estresse, contudo não evita

Penning (2004) compilou dados de literatura e

os

concluiu que o período recomendado de dosagem

densidade do cromo em relação à digesta.

problemas

associados

à

diferença

de

dos marcadores, em geral, e do óxido de cromo em particular, é de 12 dias, compreendendo um período

O consumo de matéria orgânica foi avaliado por

preliminar de sete dias e coletas de fezes nos

Rosa (2015) que utilizou o óxido de cromo como

últimos cinco dias, num regime de dosagem de duas

indicador e observou que o mesmo foi eficiente

vezes ao dia em intervalos de aproximadamente 8 a

na determinação de consumo de matéria orgânica

16 horas, com concomitante amostragem das fezes.

de cordeiras em pastejo. Zimmermann et al. (2005) verificaram que o uso do óxido de cromo

Em estudos com ruminantes, o óxido de cromo pode

em

ser ministrado através de cápsulas de gelatina,

satisfatórios, além de auxiliar na redução da

impregnado em papel de filtro ou na forma de pellets,

flutuação diária da excreção do indicador. Já

sendo fornecido uma ou duas vezes ao dia, em

Oliveira (2014) relataram que o baixo valor de

cápsulas de 1 a 10 gramas e alcança equilíbrio em

consumo de matéria seca para bovinos em

torno de seis a sete dias (SALMAN et al., 2010).

pastagem foi decorrente do fornecimento do

Penning (2004) recomendou dosagens diárias de 0,5

indicador óxido de cromo aos animais durante

a 1 g para ovinos, e 5 a 10 g para bovinos. O mesmo

nove dias, via esôfago.

rações

peletizadas

mostrou

resultados

enfatizou que o estresse causado pela administração do indicador pode ser reduzido com o fornecimento

Detmann et al. (2001) trabalharam com três

do mesmo somente uma vez ao dia. Esta alternativa

formas de utilização do cromo, dosado em uma

pode facilitar o manejo, diminuir o estresse causado

única vez, duas vezes e sua forma mordantada

aos animais e melhorar o controle da quantidade

para estimar o consumo de novilhos e verificaram

ingerida do indicador.

que

o

cromo

utilizado

apenas

uma

vez

subestimou a excreção fecal e o CMS (2,11% do Silva et al. (2009) trabalharam com novilhos da raça

peso vivo – PV em MS) sendo inferior às

nelore, utilizando o óxido de cromo em uma dose

metodologias

única de 10 g durante 12 dias, sendo sete dias de

mordantada (3,11 e 2,93% PV, respectivamente),

adaptação e regulação do fluxo de excreção do

que apresentaram melhores valores de CMS, não

marcador e cinco dias para coleta das fezes e

diferindo esses dois últimos entre si. Lima et al.

verificaram um menor ganho de peso, relacionado

(2008) aplicando o óxido crômico, uma vez ao

aos animais que receberam óxido de cromo. Os

dia, encontraram também valores subestimados

mesmos justificam que a causa deste resultado seja

de excreção fecal e, consequentemente, do CMS

provavelmente causado pelo manejo desses animais

de animais. Já Morais et al. (2010) comparando a

em que era colocado um papelote de 10 g do

estimativa de produção fecal utilizando o cromo,

marcador diretamente no esôfago com o auxílio de

encontraram um resultado de 1,26 kg/dia, muito

um cano de ferro a fim de garantir a deglutição,

próximo da coleta total de fezes que foi de 1,49

causando um estresse nos animais que resultou em

kg/dia, mostrando que pode ser utilizado com

um menor consumo e menores ganhos de pesos.

indicador.

fornecidas

duas

vezes

e

Devemos lembrar que o ideal é a utilização de animais já habituados com esse tipo de manejo, para

Muitas vezes a utilização do cromo para estimar a

que não haja tantas interferências no consumo. Com

produção fecal pode sofrer algumas variações ao

isso podemos verificar que os experimentos

longo do dia, o que foi observado por Kozloski et

8516

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Artigo 496 - Uso de marcadores para avaliação do consumo em ruminantes

al. (2006), em trabalho avaliando a produção fecal de

recuperação de mais de 100%. Correa et al.

vacas leiteiras para determinação do consumo, os

(2009) relataram que a recuperação do marcador

quais observaram que a determinação do óxido de

nas fezes pode ser afetada pelo nível de

cromo em amostras coletadas pela manhã possuem

consumo do suplemento contendo o marcador.

a tendência de superestimar e, às da tarde e noite,

Com esses dados podemos verificar que a

subestimar

recuperação dos marcadores nas fezes é bem

a

produção

fecal

destes

animais,

indicando desta forma, que o uso deste indicador, só

variável de experimento para experimento.

terá precisão se a coleta de fezes for realizada em vários horários no período de 24 horas. Silva et al.

Ferreira et al. (2009) avaliaram o uso dos

(2010) avaliaram o consumo de novilhas holandês x

indicadores óxido crômico e dióxido de titânio

zebu e para isso utilizaram o indicador óxido de

para

cromo para a estimativa da produção fecal e

concentrado e da FDAi para estimar o consumo

posteriormente o consumo e verificaram que o

individual de volumoso de vacas em lactação

indicador óxido de cromo subestimou a produção

alimentadas

fecal.

consumo de concentrado foram utilizados óxido

estimar

o

em

consumo

grupo.

crômico e dióxido de

Para

de

estimativa do

titânio (10g/vaca/dia)

Na determinação do consumo de bubalinos, Soares

misturados

et al. (2011) avaliaram dois indicadores externos

verificaram que tanto o cromo como o dióxido de

(óxido de cromo e lignina purificada e enriquecida), e

titânio

observaram que os maiores valores de consumo e

consumo individual de concentrado e que a FDAi

produção fecal foi para o óxido de cromo em

é

comparação com a lignina purificada e enriquecida,

individual de silagem de milho (3,5 e 10 kg,

destacando

ser

respectivamente). Marcondes et al. (2006), em

relacionado as variações de excreção do óxido de

estudo com novilhas mestiças alimentadas com

cromo nas fezes e a possibilidade de se acumular

cana-de-açúcar e concentrado, não verificaram

em algumas regiões do trato digestório, tais como

diferença no consumo individual de concentrado

omaso e abomaso, sendo posteriormente excretado

estimado por meio do óxido crômico e do dióxido

de uma vez só. Araújo (2015) avaliaram o consumo

de

de bovinos em sistemas silvipastoris e obtiveram

observado. Os resultados obtidos com o dióxido

bons resultados com o uso do óxido de cromo para

de

determinação

próximos

Titgemeyer et al. (2001), que demonstraram que

daqueles mostrados nas tabelas de exigências

esse indicador pode ser utilizado em estudos de

nutricionais do NRC (2001) para a categoria

consumo

avaliada.

alternativa de indicador para estudos de digestão.

Na avaliação do padrão de excreção do dióxido de

Lignina isolada, purificada e enriquecida

titânio e do óxido crômico em ovelhas, Myers et al.

Pesquisadores

(2006)

duas

Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG,

aplicações diárias leva à redução da amplitude total

em 2002, desenvolveram estudos sobre a lignina,

de variação em torno da média, de forma a tornar o

com o intuito de melhorar a sua determinação nas

perfil de excreção do óxido crômico mais estável e

fezes dos animais. Conforme Saliba et al. (2003),

próximo do equilíbrio desejado, com oposição ao que

os

ocorre com a dosagem única.

enriqueceram com grupamentos fenólicos não

que

do

verificaram

este

resultando

consumo,

que

o

pode

ficando

emprego

de

ao

individual

são

adequados

adequada

titânio

concentrado

para

em

titânio

para

do

comparação os

ruminantes,

da

pesquisadores

Escola

isolaram

os

mesmos

estimativa

estimativa

confirmam

em

e

ao

do

consumo

consumo

verificados

por

constituindo

uma

Veterinária

a

lignina

da

e

a

comumente encontrados na lignina da dieta Correa

et

al.

(2009)

trabalharam

com

vacas

animal, dando origem a lignina purificada e

holandesas, os quais utilizaram o cromo para

enriquecida.

determinar

caracterizados

o

consumo

e

conseguiram

uma

Esses como

grupamentos

são

hidroxifenilpropano

recuperação média do cromo nas fezes de 79,4%.

modificado e enriquecido, o qual se caracteriza

No entanto, outros autores relatam taxas de

como um indicador externo desenvolvido especi-

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Artigo 496 - Uso de marcadores para avaliação do consumo em ruminantes

ficamente

para

determinação

pesquisas,

do

consumo

utilizados e

na

forma de cápsulas de gelatina na dosagem diária

digestibilidade

de 500mg/animal, fornecida uma única vez por

(CANESIN et al., 2012). De

acordo

com

dia a cada animal, com um período de adaptação

Rodríguez

et

al.

(2006)

a

apresentação comercial da lignina purificada e enriquecida na forma de cápsulas é de: 100, 250 e 500 mg, em frascos contendo 100 cápsulas ou na forma de xarope na concentração de 10.000 mg por100 ml. O período de adaptação para que a excreção seja uniforme é de 48 horas e para a colheita de fezes é três dias para aves e cinco dias para outras espécies (SOUZA, 2016).

de dois dias, sendo realizados dois períodos de coleta de fezes, de três e seis dias. O autor observou que a estimativa de consumo com o uso do indicador lignina purificada e enriquecida com coleta de seis dias apresentou menor variação comparado aos demais e que provavelmente isto teria ocorrido pela melhor representação da excreção do indicador. O uso da lignina purificada e enriquecida pode proporcionar redução no estresse dos animais, em razão do menor número

A lignina purificada e enriquecida não apresenta

de vezes necessárias de contenção do animal

variação diurna de excreção nas fezes possibilitando

para fornecimento do indicador ao animal, uma

que o seu fornecimento e a amostragem das fezes

vez

sejam feitos uma vez ao dia, exige menor tempo de

comportamento

adaptação

consequentemente a excreção fecal.

dos

animais

e

tem

baixo

custo

(RODRIGUEZ et al., 2006; Machado et al., 2011). Lima et al. (2008) revelaram que a lignina purificada e

enriquecida apresenta

químicas

bastante

consistência

propriedades

estáveis

e

químico-estrutural

uma e

físicogrande

portanto

é

recomendado seu uso. De acordo com Silva et al. (2018), o período de colheita não causou alteração na excreção fecal do indicador lignina purificada e enriquecida, determinando apenas uma coleta fecal diária. Como limitação do uso da lignina purificada e enriquecida destaca-se a sua aquisição e análise, que são dependentes de um único laboratório (MADEIRO, 2014).

que

este

manejo de

pastejo,

pode o

alterar

o

consumo

e

Silva et al. (2018) utilizaram a lignina purificada e enriquecida como indicador e verificaram que não ocorreu variações nos diferentes horários de colheita das fezes, reforçando que não há variação

durante

os

períodos

do

dia

na

concentração do indicador nas fezes. Os mesmos relataram que os valores de recuperação fecal foram próximos de 100%, independente da dieta avaliada. Lima et al. (2008) utilizaram o óxido crômico na dosagem de 8 g por bezerro/dia e a lignina purificada e enriquecida na forma de cápsulas, na dosagem de 0,5 g por bezerro/dia e encontraram menores valores para o óxido

Costa (2016) utilizaram o marcador comercial de

crômico em relação a lignina purificada e

lignina purificada e enriquecida em combinação com

enriquecida.

a lignina Klason para determinar o consumo

indicadores para determinação da produção fecal

diferenciado de ovinos na caatinga do nordeste

de novilhos mestiços e concluiu que a lignina

brasileiro e concluíram que os dois indicadores

purificada e enriquecida é um bom indicador para

mostraram resultados satisfatórios e coerentes. A

estimativa da produção fecal, assim como para

utilização

digestibilidade quando comparados com a coleta

do

indicador

lignina

purificada

e

enriquecida para determinação do consumo e produção fecal de bubalinos em pastejo foram estimados de forma adequada (SOARES et al., 2011). Madeiro (2014) em trabalho com vacas em lactação em pasto de capim marandu utilizou os indicadores externos, dióxido de titânio e a lignina purificada e enriquecida para determinação do consumo, o qual esta última foi administrada na

8518

Silva

(2013)

avaliaram

alguns

total de fezes. A análise da lignina purificada e enriquecida é realizada por meio de espectrofotômetro de infravermelho próximo (SILVA et al., 2018), onde consiste na emissão de radiação eletromagnética diretamente numa amostra de fezes, sendo que a proporção da absorção de luz é variável para cada tipo de nutriente, como as proteínas, vitami-

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Artigo 496 - Uso de marcadores para avaliação do consumo em ruminantes

inas, matéria seca, carboidratos etc. Essa variação é

(MACHADO et al., 2006). Este método baseia-se

analisada por um software que vai determinar e

em que as concentrações do isótopo estável

exibir o resultado da quantidade e da digestão de

de

cada alimento. No entanto, para utilizar a técnica de

tropicais e temperadas e tem a vantagem de que

espectrometria no infravermelho requer adequada

a absorção de

calibração, grande número de amostras que devem

em uma faixa razoável de condições ambientais

ser relativamente homogêneas em sua constituição

(SMITH, 1972).

13

C sejam diferentes entre as forrageiras 13

C pela planta permanece estável

química (FONTANELI & FONTANELI, 2007). O uso combinado de alcanos e

13

C foi eficiente

Segundo Souza (2016) ainda são necessários mais

também para diferenciar a ingestão de pastagens

estudos com o uso do indicador externo lignina

temperadas e silagem de milho (GARCIA et al.,

purificada e enriquecida em animais sob diversas

2000) e de pastagens temperadas e suplementos

condições ecofisiográficas e de consumo, porque

a base de milho e farelo de soja (MACHADO et

estas situações poderiam refletir em diferentes

al., 2006).

produções fecais. Assim, é necessário investigar melhor o seu uso, assim como de outros indicadores

Considerações Finais

para reduzir a variação nos resultados encontrados.

O uso de marcadores, tanto externos quanto internos tem sido uma alternativa promissora nas

Alcanos

determinações

Uma das vantagens dos alcanos, em relação aos

sobretudo aqueles em sistemas de pastejo.

outros marcadores externos é que em uma única

Porém, pelo que foi exposto nos trabalhos desta

análise se determina o indicador externo e o interno

revisão deve-se saber que não existe o melhor

(MAYES et al., 1986). Carvalho et al. (2007)

marcador, e sim que existem indicadores que

comparam valores de CMS estimados com uso dos

melhor se adequam a especificidade de cada

alcanos ou de óxido de cromo, com aqueles preditos

experimento.

de

consumo

de

ruminantes,

pelo Cornell Net Carbohydrate and Protein System (CNCPS) e verificaram que o grau de exatidão e

Os

resultados

precisão das estimativas de consumo obtidas com

variáveis,

alcanos foram superiores aos obtidos com óxido de

vantagens

cromo.

importante de tudo além da escolha do marcador

e e

dos

trabalhos

são

cada

marcador

possui

desvantagens,

mas

bastante o

suas mais

ideal pra sua situação é a obtenção de uma No caso de se estimar o consumo de animais a

amostragem de forragem do real consumido pelo

pasto

animal em pastejo.

com

suplementação,

possuem

algumas

dificuldades metodológicas. Porém, alguns trabalhos já fazem adaptações destas metodologias para se

Assim, a técnica do uso de marcadores além de

estimar este consumo. Dove & Mayes, (1996)

possibilitar o conhecimento sobre o consumo

ressaltaram que é possível se estimar o consumo

permite uma melhor adequação das exigências

individual do suplemento com uso dos alcanos

nutricionais

quando a composição de alcanos do suplemento é

reprodutivo e produtivo dos rebanhos.

suficientemente diferente da composição do pasto, e a taxa de recuperação do alcano é conhecida. Caso isso não seja possível, a estimativa do consumo pelos animais tem baixa precisão (GARCIA et al., 2000).

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maximizando

uso

combinado

de

alcanos

marcadores, como o isótopo de carbono

com 13

C

outros

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Artigo 496 - Uso de marcadores para avaliação do consumo em ruminantes

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Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.4, p.8508-8524, jul./ago, 2019. ISSN: 1983-9006


Alimentos funcionais para animais monogástricos: revisão de literatura Aves, suínos, alimentação, funcional.

Revista Eletrônica

1*

Vol. 16, Nº 04, jul./ago. de 2019 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

Rannyelle Gomes Souza 2 Jorge Cunha Lima Muniz 3 Fernando Guilherme Perazzo Costa

1

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO

Rannyelle Gomes Souza, Zootecnista, mestranda da Universidade Federal da Paraiba,UFPB, Campus II, Areia/PB-* E-mail: rannyellegomes@gmail.com. 2 Jorge Cunha Lima Muniz . Universidade Federal da Paraiba,UFPB, Campus II, Areia/PB. 3 Fernando Guilherme Perazzo Costa . Universidade Federal da Paraiba,UFPB, Campus II, Areia/PB.

alimentação de animais monogástricos, já que

FUNCTIONAL FOOD FOR MONOGASTRIG ANIMALS: LITERATURE REVIEW ABSTRACT The objective of this review was to compile

nutrição pode influenciar direta e indiretamente a

information about the functional foods used to feed

qualidade durante o período de formação e do

monogastric animals, since nutrition can influence

produto final para atender as exigências do mercado

directly and indirectly the quality during the training

consumidor. A dieta fornecida aos animais pode

period and the final product to meet the demands of

modificar a qualidade do produto final podendo

the consumer market. The diet given to the animals

alterar seu valor proteico, perfil de aminoácidos,

can modify the quality of the final product by altering

perfil de ácidos graxos e quantidade de vitaminas e

its protein value, amino acid profile, fatty acid profile

minerais, mediante o tipo de alimento fornecido a

and amount of vitamins and minerals, according to

esses animais, surgindo assim, o conceito de

the type of food provided to these animals, thus, the

alimento funcional, que são aqueles que colaboram

concept of food functional, which are those that

para melhorar o metabolismo e prevenir problemas

collaborate to improve the metabolism and prevent

de saúde nos animais.

health problems in animals.

Objetivou-se com esta revisão compilar informações sobre

os

alimentos

Palavras-chave:

aves,

funcionais

suínos,

usados

na

alimentação,

Keyword: poultry, swine, feed, functional.

funcional.

8525


Artigo 497 - Alimentos funcionais para animais monogástricos: revisão de literatura

INTRODUÇÃO

obtidos com quantidades não tóxicas e que exerçam

O grande dinamismo e arrojo da produção animal

tais efeitos mesmo após a suspensão da ingestão e

brasileira, dentre outros fatores, estão altamente

que não se destinem a tratar ou curar doenças

relacionados

estando seu papel ligado à redução do risco de

à

excelente

capacidade

dos

profissionais da nutrição animal de formular dietas

contrair doenças (ANJO, 2004).

de qualidade e a custo reduzido (Araújo, 2005). Antigamente os livros

de nutrição animal se

Apesar dos vários conceitos existentes sobre os

baseavam em formular dietas a base de energia,

alimentos funcionais, ele deve atender alguns

proteína, NDT, cálcio e fósforo, com o passar dos

princípios básicos entre os quais podem ser citados:

anos

- Ser um alimento convencional;

surgiram

(metionina,

a

lisina

as

vitaminas,

entre

outros).

aminoácidos A

nossa

- Ser consumido como parte de uma dieta normal;

preocupação antigamente era apenas em satisfazer

- Possuir um efeito positivo em uma funcionalidade

a exigência dos animais. A partir da década de 80,

específica além de seu valor

surgiu a preocupação em não só satisfazer a

nutricional;

exigências dos animais, mas também com algo a

- Melhorar o bem-estar e a saúde e/ou reduzir o risco

mais que pudesse contribuir com a saúde e o bem-

de doenças;

estra dos seres humanos.

- Prover benefícios de saúde de forma a melhorar a qualidade de vida, incluindo aspectos fisiológicos,

A nutrição pode influenciar direta e indiretamente a

físicos e comportamentais;

qualidade durante o período de formação e do produto final para atender as exigências do mercado

A manipulação de dietas com nutrientes tem sido

consumidor. A dieta pode modificar a qualidade do

alvo de várias pesquisas com o propósito de

produto final podendo alterar seu valor proteico,

melhorar o desempenho dos animais. Sendo assim,

perfil de aminoácidos, perfil de ácidos graxos e

veremos a seguir alguns alimentos que podem ser

quantidade de vitaminas e minerais, mediante o tipo

usados como alimentos funcionais na alimentação

de alimento fornecido a esses animais. Foi então

de aves e suínos.

que surgiu o uso de alimentos funcionais, que são aqueles

que

colaboram

para

melhorar

o

Prebióticos e Probióticos

metabolismo e prevenir problemas de saúde nos

Uma das principais funções relacionadas com esses

animais.

aditivos alimentares é sua ação sobre a melhoria da condição estrutural da mucosa intestinal (LEMOS et

Revisão de Literatura

al.,

Alimentos Funcionais

integridade intestinal para o desempenho produtivo,

Segundo a ANVISA, Agência de Vigilância Sanitária,

a presença de uma microbiota benéfica é um fator

propriedade funcional é aquela relativa ao papel

determinantes para otimizar os processos digestivos

metabólico que o nutriente ou não nutriente tem no

e absortivos de nutrientes necessários para a

crescimento, desenvolvimento, manutenção e outras

produtividade.

2017).

Considerando

a

importância

da

funções normais do organismo. Desta forma, os alimentos funcionais são aqueles que além de

De forma melhorar a saúde, evitar o estresse,

possuírem a capacidade de nutrição, fornecem aos

retardar o envelhecimento e proporcionar uma

animais

melhor qualidade de vida aos nossos animais, é

a

possibilidade

de

melhorar

outra

característica à parte.

possível recorrer ao uso de um prebiótico ou probiótico.

Alguns parâmetros devem ser levados em conta em relação aos alimentos funcionais. Para Borges

Probióticos

(2001), eles devem exercer um efeito metabólico ou

Probióticos são microrganismos vivos empregados

fisiológico que contribua para a saúde física e para a

na alimentação animal, que afetam beneficamente o

redução do risco de desenvolvimento de doenças

hospedeiro, promovendo o equilíbrio da microbiota

crônicas. Nesse sentido, devem fazer parte da

intestinal e a saúde do hospedeiro, atualmente vêm

alimentação usual e proporcionar efeitos positivos,

sendo empregado vários tipos de microrganismos,

8526

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.4, p.8525-8537, jul./ago, 2019. ISSN: 1983-9006


Artigo 497 - Alimentos funcionais para animais monogástricos: revisão de literatura

entre eles estão as bactérias ácido- lácticas,

esse

bactérias não ácidas - lácticas e leveduras (NUNES

antibióticos, Sulfaminas e Antiparasitários, assim

et al., 2013).

como o estresse provocado por vários fatores, como a

Os

principais

microrganismos

utilizados

como

provocado

muda

da

principalmente

pena,

pelo

vacinações,

uso

de

reprodução,

transporte, mudança de instalações.

probióticos são as bactérias que pertencem aos gêneros

Lactobacillus,

Bifidumbacterium,

Nas doenças, os agentes patogénicos liberam

Enterococcus, Streptococcus, Bacilluse leveduras

toxinas que danificam a microflora intestinal, além de

(Gaggia et al., 2010). Devido a esta variedade de

outros fenômenos ligados à própria fisiologia do

bactérias probióticas a dose varia de acordo com a

intestino e ao fluxo alimentar que arrastam a

cepa e produto, não sendo possível generalizar a

microflora para o exterior, através das excretas.

dosagem.

Também a mudança repentina da dieta alimentar e do tipo de água, manejo inadequado, poderão

Prebióticos

provocar distúrbios da microflora intestinal.

Prebióticos são substâncias que não podem ser hidrolisadas no trato digestivo, tendo ação seletiva

Uma microflora saudável nos intestinos, não haverá

somente sobre um limitado número de bactérias

espaço para a entrada de bactérias patogênicas.

benéficas, as quais terão seus crescimento e

Assim, sempre que existam indicações, existe a

metabolismo

a

alternativa de recorrer aos prebióticos e probióticos

microbiota intestinal (LEMOS et al., 2016), ou seja,

ao invés do uso de produtos farmacêuticos como

os

antibióticos, antiparasitários, entre outros.

estimulados,

prebióticos

alterando

estimulam

assim

seletivamente

os

microrganismos benéficos que vivem no TGI do animal , reduzem

o pH intestinal, inibem

a

proliferação de Escherichia coli, Clostridium sp., e Salmonella.

Em estudos conduzidos por TANG et al. (2017), investigando os efeitos de um prebiótico, um probiótico e sua combinação (simbiótico) sobre o desempenho da galinha poedeiras de 20 a 52

Os principais prebióticos são: oligofrutose, inulina,

semanas de idade. Constataram que a utilização

galactooligossacardeos,

desses aditivos teve efeito positivo sobre o peso dos

galactose,

lactulose,

manose

oligossacarídeos

e

arabinose,

lactose.

(estaquiose,

Alguns

galactanas

e

ovos

e sobre

a produção de ovos, quando

comparadas com as aves do tratamento controle.

mananas) atuam sobre bactérias patogênicas por meio

de

exclusão

competitiva

impedindo

a

colonização do TGI por se ligarem as fímbrias e impedindo a aderência destas bactérias a superfície

Os probióticos quando utilizados na alimentação de suínos melhoram o desempenho zootécnico devido aos seus mecanismos de ação: competição por sítios

do TGI.

de

ligação;

antagonismo Assim,

pode

dizer-se

que

os

prebióticos

e

competição

direto;

estímulo

por

nutrientes;

do

sistema

imunológico; restauração da flora intestinal após

probióticos formam um conjunto de elementos

tratamento

com

conhecidos que se denominam como alimentos

supressão de amônia; redução e neutralização de

funcionais, já que são ingredientes alimentares que

enterotoxinas (FREITAS et al., 2014). Trabalhos

produzem efeitos benéficos para a saúde, o que

demonstram

permite entender como é possível atuar de forma

(Lactobacillus plantarum) na alimentação de suínos

natural e benéfica na melhoria do sistema imunitário

desmamados e desafiados com S. Typhimurium,

dos animais de modo a evitar, adiar ou reduzir os

aumentou a quantidade de IgM, IgG e IgA, ou seja,

efeitos nocivos das doenças, melhorando assim a

melhorou o sistema imune dos animais (NAGID et

qualidade de vida dos exemplares mantidos nos

al., 2014). A utilização de probióticos melhorou o

viveiros.

ganho de peso de suínos até o desmame, porém

que

antibióticos;

a

efeito

utilização

de

não influenciou na concentração de A sua utilização está indicada, quando existe um desequilíbrio da microflora intestinal, desequilíbrio

nutricional;

probióticos

bactérias

benéficas no TGI e nos parâmetros sanguíneos (BUSANELLO et al., 2015).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.4, p.8525-8537, jul./ago, 2019. ISSN: 1983-9006

8527


Artigo 497 - Alimentos funcionais para animais monogástricos: revisão de literatura

Trabalhos

demonstram

que

a

utilização

de

os efeitos adversos do calor sobre a produção

frutoligossacarídeos, um prebiótico na alimentação

avícola,

de suínos em terminação melhora o desempenho,

corticosteroides ( SAHIN et al., 2001)

digestibilidade

síntese de glicocorticóides (STILBORN et al., 1988) .

de

nutrientes,

aumenta

a

além

de

elevar

a

degradação

de

e diminuir a

concentração fecal de Lactobacillus, diminui a concentração de E. coli e a emissão de gases

Vieira Vaz (2006) de que tanto a suplementação de

(ZHAO et al., 2014).

vitamina C (0 a 400 mg/kg de ração) quanto a suplementação de vitamina E (0 a 300 mg/kg de

Antioxidantes

ração) influenciam o ganho de peso, que aumenta de

Antioxidantes são substâncias que visam evitar a

forma linear de 1 a 42 dias , quando as aves são

auto-oxidação

mantidas em ambiente de alta temperatura.

alimento, rancificação

dos

alimentos,

retardando e

perda

a de

sua

preservando

o

deterioração,

coloração

devido

a

oxidação. A oxidação de óleos e gorduras provoca odor e paladar desagradáveis e torna os alimentos menos nutritivos. Além de gorduras, os pigmentos e vitaminas ficam sujeitos à oxidação quando em contato com o ar. Os fatores umidade e calor são responsáveis pela aceleração da oxidação durante o processamento, o qual pode ser minimizado pela adição de antioxidantes. Segundo Rutz & Lima (1994), a ação dos antioxidantes pode ser explicada por um ou mais dos seguintes mecanismos: • Doação de H pelo antioxidante; • Doação de elétrons pelo antioxidante; • Incorporação do lipídeo ao antioxidante; • Formação de um complexo entre o lipídeo e o antioxidante.

Nas carnes, os antioxidantes mais utilizados são o ácido ascórbico (vitamina C) e o tocoferol (vitamina E). Segundo o NRC (1998), a necessidade de vitamina E no final do crescimento corporal para suínos é de 11mg kg-1 de ração. Entretanto, quando a vitamina E é suplementada em níveis maiores (100 a 200mg kg-1de ração), é verificado um efeito antioxidante, aumentando o tempo de vida útil da carne (SOUZA, 2001). Em relação aos níveis de vitamina E no músculo L. dorsi em suínos na fase de terminação ocorreu diferença significativa (P<0,05) entre os tratamentos. Os animais que receberam a dieta contendo 10 ppm de ractopamina associada a vitaminas

antioxidantes

apresentaram

maiores

valores de vitamina E, comparados aos animais que receberam a dieta controle (0,23 vs 0,08mg kg-1,

Antioxidantes devem ser adicionados aos alimentos

respectivamente). A vitamina E protege os ácidos

e às rações o mais rápido possível para inibir o início

graxos mono e polinsaturados da carne (SOUZA &

da oxidação. Estes micro ingredientes não podem

SILVA, 2006) e, quando aplicada via ração em níveis

reverter o processo de oxidação, uma vez ocorrido.

entre 100 a 200mg kg -1 de ração, produz efeito

Entretanto, os antioxidantes podem retardar o

antioxidante, o que aumenta o tempo de vida útil da

processo oxidativo de maiores consequências. A

carne.

vitamina E e o ácido ascórbico são exemplos de antioxidantes naturais, enquanto que BHT, BHA e Etoxiquim são exemplos de antioxidantes sintéticos.

Aditivos Fitogênicos, Extratos Vegetais e Óleos Essenciais

O butil-hidroxi-tolueno (BHT), etoxiquin e o butil-

Com a preocupação crescente da população em

hidroxi-anisol (BHA) são utilizados na concentração

relação à qualidade dos alimentos e as restrições

de 100 a 150 g/t com a finalidade de antioxidante,

impostas pela União Europeia a respeito do uso de

podendo associar-se e mostrarem sinergismo ao

antimicrobianos na alimentação animal aumenta-se a

acido cítrico.

demanda por pesquisa com produtos naturais (BARRETO, 2007). Os efeitos benéficos das plantas

Vitaminas Antioxidantes

estão associados com a constituição de seus

As vitaminas são comumente suplementadas a

princípios ativos e compostos secundários. Tendo

rações para aves submetidas a estresse por calor,

em vista a vasta variedade de plantas existentes,

principalmente em virtude de seu efeito antioxidade,

constituídas por inúmeras substâncias, o grande

Tanto a vitamina C e E são usadas em rações para

desafio na utilização de extratos vegetais, como

aves por seus efeitos anti-estresse ambiental

aditivo

(SAHIN & KUÇUK, 2003), maneira efetiva de aliviar

quantificação dos efeitos exercidos pelos diferentes

8528

alimentar

consiste

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.4, p.8525-8537, jul./ago, 2019. ISSN: 1983-9006

na

identificação

e


Artigo 497 - Alimentos funcionais para animais monogástricos: revisão de literatura

componentes presentes nos óleos essenciais sobre

mento. Possui efeito antidiarreico, anti-inflamatório,

o organismo animal.

anticéptico, antifúngico, antiviral, anticarcinogênico, antioxidante, facilita a desintoxicação hepática e

Espécies vegetais como alho, manjerona, orégano,

renal, é imunoestimulante e exerce efeito trófico na

hortelã, alecrim, tomilho, zimpro, pimenta vermelha e

mucosa intestinal (SANTOS, 2010). A propriedade

cebola despertam interesse dos pesquisadores da

de imunoestimulação do alho está relacionada com

nutrição animal, pois possuem princípios ativos que

os

poderiam trazer benefícios aos animais. Portanto,

considerados metais antioxidantes.

esses

e

(2005), ao testar a inclusão do alho em pó beneficiou

extratos vegetais, fazem parte de uma classe de

a conversão alimentar, porém não substituiu com

produtos

agentes

eficácia o antibiótico usado como promotor de

benéficos

crescimento. No entanto, Shi et al. (1999), ao

associados aos seus princípios ativos e compostos

fornecerem 0,2, 1,0 ou 2,0 % de alho em dietas de

secundários (KAMEL, 2000). Os extratos vegetais

frango de corte, verificaram redução da mortalidade,

possuem a capacidade de aprimorar o desempenho

maiores peso corporal e consumo de ração e

dos

melhores índices econômicos com o nível de 1,0%

aditivos

fitogênicos,

que

poderão

antimicrobianos,

devido

animais

pelos

extratos

herbais

substituir aos

os

efeitos

seguintes

mecanismos:

aumentam a palatabilidade da ração; estimulam a

altos

teores

de

zinco

e

selênio,

ambos

Carrijo et al.

de alho na dieta.

secreção de enzimas endógenas e da função digestiva;

mucosa,

Oleforuh-Okoleh et al. (2015) e Kim et al. (2009) e

modulam a microbiota intestinal e auxiliam na

possuem

efeito

trófico

da

encontraram efeito significativo (P<0,05) para os

redução de infecções subclínicas (LAUGHOUT,

parâmetros de desempenho de frangos de corte, no

2005).

período total de criação, recebendo alho em pó e sob infusão nas rações, respectivamente.

Os

óleos

misturas

essenciais de

constituem-se

substâncias

complexas

voláteis,

geralmente

Costa et. al. (2007), avaliando a substituição de

componentes

incluem

antimicrobianos promotores de crescimento por

simples,

óleos essenciais de cravo e orégano para leitões na

aldeídos, cetonas, fenóis, ésteres, ácidos orgânicos

fase de creche, observaram que os agentes

fixos, etc., em diferentes concentrações, nos quais,

antimicrobianos

um composto farmacologicamente ativo é majoritário

proporcionaram

(SIMÕES & SPITZER, 1999). De forma geral, os

leitões em fase de creche. Os extratos vegetais de

óleos essências modificam a microbiota intestinal e

cravo e orégano, individualmente, apresentaram

reduzem

a

efeitos ligeiramente redutores sobre o desempenho

proliferação de bactérias, fungos, protozoários e

dos animais. Por outro lado, a combinação dos

vírus, melhoram a renovação do revestimento

extratos de cravo e orégano promoveu desempenho

intestinal e evita ataque de parasitas, permitindo o

muito próximo ao obtido com os antimicrobianos,

desenvolvimento

demonstrando ser uma alternativa promissora como

lipofílicas,

cujos

hidrocarbonetos

a

terpênicos,

carga

de

álcoois

microbiana

células

ao

impedir

mais

saudáveis

(BRUERTON, 2002).

promotor

de

(colistina os

+

melhores

crescimento

tiamulina),

desempenhos

de

leitões

de

recém-

desmamados. A

capsaicina,

componente

ativo

da

pimenta

vermelha e o cinamaldeído presente na canela têm-

Ácidos orgânicos

se mostrado eficientes em estimular as enzimas

Em seu mecanismo de ação potencial, os ácidos

pancreáticas

orgânicos e os óleos essenciais (fitoterápicos)

e

intestinais

em

animais na

podem ser o tipo mais relevante de aditivos para

viscosidade intestinal e melhorando o processo de

desenvolver uma estratégia de alimentação isenta de

digestão dos alimentos. Outro exemplo desses

antibióticos (JESUS, 2010). A utilização de óleos

aditivos fitogênicos é o alho, de nome científico

essenciais tem mostrado potencial no controle de

Allium sativum, tem sido testado em animais, para o

infecções e são seguros para a saúde humana e

controle de parasitas e como um auxiliar no cresci-

animal (NOSTRO et al., 2004).

monogástricos.

Promovendo

a

redução

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.4, p.8525-8537, jul./ago, 2019. ISSN: 1983-9006

8529


Artigo 497 - Alimentos funcionais para animais monogástricos: revisão de literatura

A acidificação dos alimentos torna possível o

podem estar, parcialmente, relacionadas com a

controle

o

condição de não manterem o pH gástrico baixo,

crescimento e a eficiência alimentar, eliminando

pelos efeitos sobre a ativação da pepsina, pela

microrganismos

proliferação

das

bactérias, que

podendo

competem

por

melhorar

nutrientes.

de

coliformes

e

pela

taxa

de

Benefício semelhante é atribuído aos antibióticos;

esvaziamento estomacal (ROSTAGNO & PUPA,

entretanto, os ácidos orgânicos não deixam resíduos

1998).

na carcaça e não promovem o aparecimento de bactérias resistentes, de acordo com Garcia et al.

Vários pesquisadores observaram que a acidificação

(2000).

da dieta inicial melhora o desempenho dos leitões recém-desmamados. Os ácidos orgânicos de cadeia

Durante muitas décadas, os ácidos orgânicos têm

curta (AOCC) surgem com possibilidades de reduzir

sido

o

a carga bacteriana no trato digestivo e melhorarem o

crescimento microrganismos dos alimentos baixando

desempenho dos animais. No caso dos AOCC há

o pH (Murphy et al., 2006). Na legislação de

um efeito antibacteriano especifico à semelhança

alimentação estão inscritos como conservantes, mas

dos antibióticos, principalmente para AOCC, sendo

os seus efeitos positivos sobre a saúde animal e

particularmente efetivos contra E. coli, Salmonella e

desempenho, quando adicionadas em quantidades

Campylobacter. Entretanto, na avicultura, os efeitos

suficientes na ração, são também apresentados na

dos

literatura (GAMA et al. 2000; BONATO et al., 2009;

características

YOUSSEF et al., 2013).

capacidade tampão dos ingredientes, a qual influi no

usados

para

controlar

eficazmente

AOCC

têm

sido

variáveis

físico-químicas dos

devido AOCC

às e à

pH do trato gastro intestinal e por conseguinte na Portanto, os ácidos orgânicos quando usados corretamente junto com medidas nutricionais, de

heterogeneidade da microbiota intestinal (DIBNER & BUTTIN, 2002 e RICKE, 2003).

manejo e biosseguridade, podem ser um instrumento para manter a saúde o trato intestinal, melhorando o

Segundo resultados encontrados por Vasconcelos

rendimento zootécnico sem risco de (PARTANEN &

et al . (2016), Tabela 1, não houve efeito significativo

MROZ, 1999).

dos tratamentos sobre o consumo de ração, produção de ovos, peso médio dos ovos, massa de

A quantidade de acidificante a ser adicionada à ração depende do seu pH e de sua capacidade tamponante.

Dos

diversos

ácidos

ovos, conversão alimentar por massa de ovos, e conversão alimentar por dúzia de ovos.

orgânicos

utilizados na alimentação de suínos o ácido fumárico

Tabela 1. Consumo de ração, produção de ovos,

e o ácido cítrico são os mais utilizados, enquanto o

peso médio dos ovos, massa de ovos, conversão

ácido fosfórico é o ácido inorgânico mais comum.

alimentar por massa de ovos, e conversão alimentar

O ácido cítrico e fumárico são acidificantes que

por

podem ser empregados nas rações pré-iniciais.

semipesadas alimentadas com ácidos orgânicos,

Entretanto, o efeito do acidificante na dieta sobre o

óleos essenciais e simbióticos

dúzia

de

ovos

de

poedeiras

comerciais

desempenho dos suínos, depende da idade dos animais, da composição da dieta e da presença ou ausência de antimicrobianos. As quantidades de acidificantes empregadas dependem da capacidade em reduzir o pH. Animais adultos ajustam o pH gástrico por intermédio da secreção de HCl pelas células parietais, entretanto, em leitões recémdesmamados a situação é diferente, pois esses animais apresentam pH gástrico mais elevado e mais variável em relação aos animais adultos;

Fonte: Vasconcelos et al . (2016).

portanto, presume-se que a insuficiência digestiva e

A falta de efeito dos aditivos testados sobre as

as desordens intestinais de leitões desmamados

variáveis de desempenho podem ser vistos como um

8530

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.4, p.8525-8537, jul./ago, 2019. ISSN: 1983-9006


Artigo 497 - Alimentos funcionais para animais monogástricos: revisão de literatura

indício

de

que

estes

não

interferiram

no

olho de lombo (15,55 %) e diminuição de espessura

aproveitamento dos nutrientes da dieta, permitindo a

de toucinho (10,90%). A análise do hormônio lipase

manutenção da flora benéfica do trato digestivo,

sensitivo, revelou-se 79, 58 % mais ativo (p < 0,05) e

excluindo-se assim a possibilidade de efeitos tóxicos

as atividades da isocitrato desidrogenase e da

de tais aditivos.

malato

desidrogenase

decresceram

(P<0,05)

15,06% e 54,53% respectivamente, no grupo tratado Vitaminas, minerais

com Cr.

Nesses grupos a função exercida pelos minerais ou vitaminas tem efeito puramente nutricional, sendo incluídos como micro ingredientes de formulação dentro de pré-misturas de vitaminas e minerais. Porém, algumas vitaminas podem ser classificadas noutros grupos como, por exemplo, as vitaminas E e C, que também atuam como antioxidantes como mencionadas nos tópicos anteriores. 

Sahin et al. (2002) que, avaliando níveis de picolinato - cromo (CrPi) em dietas para codornas japonesas em postura mantidas em ambiente de alta o

temperatura

(32,5 C),

observaram

que

a

suplementação de Cr à dieta resultou em aumento do consumo de ração das aves. Em estudos conduzidos com galinhas poedeiras sob estresse por frio (SAHIN et al., 2001) e com frangos de corte em

Cromo

ambiente termoneutro (LIEN et al., 1999) e sob

Produtos que promovem melhorias na qualidade das carcaças têm sido lançados no mercado com o objetivo de melhorar a relação carne magra: gordura

estresse por calor (SAHIN et al., 2002 e 2003), foi observado aumento do consumo em resposta à suplementação de Cr às dietas.

nas carcaças. O cromo sob forma de complexos orgânicos vem sendo testado com relação a sua

Betaína

efetividade na melhoria da carcaça. A função

Os consumidores conscientes do que representa a

primaria do Cr é ajudar a manter a homeostase

alimentação

glicêmica pela regulação da ação do hormônio

nutricionistas,

insulina. Quando em presença de Cr em forma

alimentação animal que possam atender a demanda.

fisiologicamente

ativa,

A betaína e a carnitina são duas substâncias que

necessários

metabolismo

menores.

ao Esse

os

mineral

níveis tem,

de

insulina

a

buscarem

motivado os

estratégias

de

são

fazem parte dessas estratégias que tem sido

ação

estudada para verificar o efeito no crescimento,

normalmente portanto,

para a saúde, tem

potencializadora da insulina, mas não se constitui

inferindo-se

em substituto do hormônio, para promover absorção

porcentagem de carne e diminuir a gordura na

a

possibilidade

de

aumentar

a

de glicose pela célula. O Cr potencializa a ação da

carcaça. Descoberta ainda no século XIX a partir do

insulina influenciando desta forma o metabolismo de

extrato do suco de beterraba (Beta vulgaris), a

carboidratos, lipídios e proteínas (MERTZ, 1993).

betaína é um composto aromático encontrado naturalmente nas células e sintetizada por uma

Entre os vários experimentos conduzidos, Renteria &

grande variedade de microrganismos e plantas

Cuarón testando 558 suínos em crescimento e

(CRAIG, 2004).

terminação com 200 ppb de picolinato de Cr, sendo que não encontraram efeitos no desempenho. Porém, as carcaças dos animais apresentaram diminuição da espessura de toucinho de 3,14 para 2,95 cm. A área de olho de lombo (AOL) aumentou 2

de 28,6 para 31,4 cm . Um achado importante foi que houve interação do Cr suplementar com o peso de abate (P<0,03), sendo que o efeito do Cr foi evidente somente nos pesos altos de abate. Esses dados corroboram com os encontrados por Lien et al. (2001) e Xi Gang et al. (2001). Os últimos autores mostraram acentuada melhoria na porcentagem de carne magra (7,58%) e área de

As pesquisas com esses agentes têm sido bastante intensas

e

devem

continuar

para

elucidar

o

mecanismo de atuação dos produtos. A betaína é um composto metabólico, produto da oxidação da colina e que serve como doador de metilas no ciclo da adenosil-metionina a cisteína. Desta forma ela funciona como um poupador de metionina e/ou colina nos processos metabólicos. Ao reduzir o gasto energético para manutenção das atividades metabólicas da célula (EKLUND et al., 2005), disponibiliza energia para outros processos metabólicos de produção e crescimento, trazendo benefícios no desempenho

produtivo

(BARBOSA,

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2009). 8531


Artigo 497 - Alimentos funcionais para animais monogástricos: revisão de literatura

Na nutrição animal, a betaína é amplamente

espécie animal) as enzimas são produzidas em

apresentada como “modificador de carcaça” devido

quantidades insuficientes ou mesmo nem são

ao seu efeito lipotrófico (EKLUND et al., 2005).

produzidas, dificultando a digestão dos alimentos.

Participa da síntese de lecitina, que facilita o

Assim, a utilização de enzimas exógenas nas rações

transporte da gordura pelo corpo (RATRIYANTO et

pode se constituir em ferramenta eficiente para

al., 2009), e interage com o metabolismo lipídico por

melhorar a eficiência de utilização dos alimentos

estimular o catabolismo oxidativo dos ácidos graxos

pelos animais.

por meio do aumento da síntese de carnitina no fígado

assim

como

da

atividade

da

enzima

Fitase

adiposas,

As fitases são enzimas exógenas comumente

proporcionando redução na gordura abdominal

usadas na alimentação dos animais monogástricos.

(ZHAN et al., 2006) e oferecendo assim um potencial

Ao hidrolizar o fitato a enzima libera o fósforo,

para a redução de gordura de carcaça na produção

melhora a assimilação pelo animal e reduz os

comercial (SCHUTTE et al., 1997).

impactos

lipasehormônio-sensível

nas

células

negativos

da

excreção

de

fósforo

inorgânico para o meio ambiente. Vários estudos estão sendo conduzidos no sentido de avaliar o uso de betaína em suínos em

Tem sido largamente estudada em dietas de suínos

crescimento e terminação e seus efeitos sobre a

e aves. Nos vegetais cerca de 2/3 do fósforo (P)

qualidade de carcaça. Mathews et al. (2001)

encontra-se ligado aos fitatos e em geral, seria

alimentou suínos com peso corporal entre 55 e 109

suficiente para atender as funções essenciais dos

kg com dietas à base de milho e farelo de soja

suínos, não fosse sua baixa disponibilidade, variando

suplementadas com 0,125% de betaína, contendo

de 15 a 50% dependendo do vegetal. Isso ocorre

0,85% de lisina e 126 mg/kg de colina. A adição de

devido ao fósforo estar presente na forma de fitato, o

betaína as dietas não alterou o desempenho dos

qual é praticamente indigestível, sendo eliminado

animais nem as características da carcaça, no

nas fezes. Assim, há necessidade de se suplementar

entanto

na

P através de fontes inorgânicas para atender as

porcentagem de carne magra. Mais tarde em outro

exigências para máximo desempenho. Obviamente,

trabalho Matthews et al. (2001) encontraram que a

se os suínos são alimentados com quantidades de

betaína, com o uso de 0,250% , ocorreu melhoria

fósforo acima do requerido, o excesso é eliminado

significativa de alguns aspectos de qualidade da

através dos dejetos, agravando-se o problema de

carcaça . Wang & Xu (2000), concluíram que a

contaminação

suplementação de 1500 ppm de betaína para

quantidade de 466 FTU/kg de dieta proporcionou

castrados e leitoas abatidos aos 65 kg, aumentou o

uma redução nas excreções de N, P e Ca em dietas

ganho de peso em 10,3% e 15,6%, respectivamente.

de suínos (LUDKE et al., 2000).

provocou

um

pequeno

aumento

Também houve melhorias nas características de carcaça com redução da espessura de toucinho de

ambiental.

A

fitase

usada

na

Fitases são enzimas que possuem a propriedade de romper a ligação do fósforo orgânico ligado aos sais

18% e 11% para castrados e fêmeas.

de acido fítico, tornando-o disponível biologicamente Além

disso,

o

nas formas de inositol e ortofosfato. Por isso a

corte

adição de fitase exógena às dietas serve para

(BOEMO, 2012), de cortes em patos (WANG et al.,

disponibilizar o P orgânico presente nos vegetais.

2004),de peito em frangos de corte (BOEMO, 2012).

Mede-se

rendimento

o de

uso

de

carcaça

betaína de

aumentou

frangos

de

Enzimas As enzimas digestivas promovem a hidrólise dos componentes dos alimentos tornando os nutrientes mais disponíveis para a absorção. São produzidas a partir de um substrato dependente. Contudo, em

a

atividade

fitases

(FTU)

pela

quantidade de micromoles de P inorgânico liberado pelo fitato de sódio, em um minuto, na temperatura de 37 ºC e em pH de 5,5 ( 1 FTU = 1 µmol P inorgânico). 

Complexos enzimáticos

algumas circunstâncias (idade, saúde, fisiologia da 8532

das

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Artigo 497 - Alimentos funcionais para animais monogástricos: revisão de literatura

A

associação

de

enzimas

pode

ser

usada

Ômega-3 e 6

satisfatoriamente com melhoria no aproveitamento

A classificação ômega está relacionada à posição da

dos nutrientes, no equilíbrio da microbiota bacteriana

primeira dupla ligação, iniciando-se a partir do grupo

e com resultados positivos no desempenho das aves

metílico final da molécula de ácido graxo. Os ácidos

(BARBOSA et al., 2012); devido atuarem de maneira

graxos poliinsaturados -3 apresentam a primeira

sinérgica (MENEGHETTI, 2013).

ligação dupla entre o terceiro e o quarto átomo de

Preparações comerciais envolvendo enzimas como amilase,

xilanase,

proteases,

alfagalactosidase,

pectinases, celulases, lipases, tem sido usadas com sucesso na melhoria do desempenho de aves (GARCIA et al., 2000). Beta-glucanas e pentosanas solúveis (xilose + arabinose) são observadas em diversos cereais e possuem a capacidade de formar géis, em contato com a água, dando origem a soluções viscosas que retardam a absorção de nutrientes. O uso de complexo enzimático (fitase, protease, xilanase, β-glucanase, celulase, amilase e

carbono, enquanto os ácidos graxos poliinsaturados6 têm a primeira ligação dupla entre as séries dos ácidos graxos poliinsaturados -3 e -6 são originadas dos precursores: ácidos α-linolênico e linoleico, respectivamente, e são denominados de ácidos graxos essenciais, uma vez que os mamíferos e as aves necessitam adquiri-los através da dieta, pois não são capazes de sintetizá-los (HORNSTRA, 2001). O uso de estratégias nutricionais para melhorar a qualidade e a composição dos produtos de origem

pectinase) com níveis de 0; 100; 200; 300 e 400

animal, utilizados na alimentação humana, tem se

g/ton em dietas à base de milho e de farelo de soja

constituído no elo entre a produção animal, a

foram

de

tecnologia de alimentos e a nutrição humana. Atenta

desempenho, de rendimento de carcaça e de

a essa nova tendência, a indústria avícola vem

qualidade da carne de frangos de corte. A inclusão

pesquisando e promovendo a comercialização de

do

avaliados

complexo

desempenho,

sobre

os

enzimático o

rendimento

parâmetros

não de

influenciou

o

ovos enriquecidos com ácidos graxos poliinsaturados

carcaça

a

da série ômega-3.

e

qualidade da carne. No entanto, os níveis de 200g/ton aumentou o rendimento de peito e das

A percentagem de composição da gema do ovo em

asas aos 42 dias (DALÓLIO et al., 2016).

seus elementos principais – proteína, água, gordura, vitaminas e minerais, ácidos graxos saturados, a

Ácidos graxos

composição

em

ácidos

graxos

mono

e

Não há dúvidas de que os alimentos de origem

poliinsaturados da gema pode ser alterada pela

animal fornecem grande quantidade de nutrientes

manipulação da quantidade e do tipo de gordura

para a humanidade, como proteína de alto valor

incluída na dieta das galinhas poedeiras.

biológico, vitaminas, minerais, e outros. Entretanto, a quantidade e a natureza dos lipídios dos alimentos

Para suprir essa deficiência, produtos comerciais ou

de origem animal têm preocupado os consumidores.

alimentos ricos em ácidos graxos do grupo ômega-3

Há evidências que a dieta humana seja deficiente

(ácido

em ácidos graxos insaturados (AG-I) e ácidos graxos

docosapentanóico - C22:5), tem sido utilizados na

poliinsaturados ou PUFA (Polyunsaturated Fatty

alimentação das poedeiras, objetivando a produção

Acids).

de ovos com maior nível nutricional de "ácidos

docosahexanóico

DHA;

ácido

graxos essenciais", como os exemplos a seguir: A classificação dos ácidos graxos ocorre de acordo com o número de duplas ligações, onde há os

a) Produto obtido de algas

saturados (sem dupla ligação), monoinsaturados (uma dupla) e poliinsaturados. Os ácidos graxos

b) Óleo de peixe

poliinsaturados caracterizam-se por possuírem 18 ou

c) Farinha de peixe

mais átomos de carbono em sua estrutura química e duas ou mais insaturações. As principais séries de

d) Fontes vegetais

ácidos graxos poliinsaturados são os ômegas 3 e 6.

e) Óleo de linhaça

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.4, p.8525-8537, jul./ago, 2019. ISSN: 1983-9006

8533


Artigo 497 - Alimentos funcionais para animais monogástricos: revisão de literatura

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dieta é por apresentar em grande densidade

e

energética, melhorar a palatabilidade, aumentar o

Universidade Federal da Paraíba, 66p.

consumo de ração, melhorar a digestibilidade, melhorar

a

conversão

alimentar,

diminuir

a

poedeiras.

Dissertação

de

mestrado,

BARBOSA, N. A. A. Avaliação de aditivos em dietas de frangos de corte. 2009.190 f. Tese

pulverulência da ração, reduzir o estresse calórico

(Doutorado

das aves, além de melhorar a absorção das

Estadual

vitaminas lipossolúveis (PUCCI et al., 2003; LARA et

Faculdade

al., 2005).

Veterinárias,Jaboticabal. 2009.

em

Paulista

Zootecnia) Júlio

de

de

-Universidade Mesquita

Ciências

Filho,

Agrárias

e

BARBOSA, N.A.A.; SAKOMURA, N.K.; BONATO, O óleo de linhaça possui alto valor econômico devido às altas quantidades de ácido α-linolênico (C18:3 n-3 cis-9, 12, 15). Essa fonte lipídica tem sido cada vez mais utilizada para poedeiras com o intuito de produzir ovos enriquecidos com ácido graxo da família ômega 3 além dos benefícios que essa fonte lipídica pode proporcionar para o organismo das aves gerando possíveis melhoras na qualidade de

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metabolizável

de

rações

ovos de acordo com Basmacıoglu et al. (2003), a

suplementadas com extratos vegetais. Revista

inclusão de óleo de peixe na dieta de galinhas

Brasileira

poedeiras diminui o colesterol e enriquece a

Suplemento 9, p.33, 2007b.

de

Ciência

Avícola.

Campinas,

quantidade de ômega 3 do ovo. Nessa pesquisa

BASMACıOĞLU, H.; ÇABUK, M.; ÜNAL, K.; ÖZKAN,

citada, os resultados demonstram que o perfil de

K.; AKKAN, S.; YALÇN,H. Effects of dietary fish

ácidos

claramente

oil and flaxseed on cholesterol and fatty acid

manipulado pela dieta, indicando que o uso de óleo

composition of egg yolk and blood parameters of

de peixe na ração de poedeiras pode produzir ovos

laying hens. South African Journal of Animal

com

graxos

maior

do

valor

possibilidade

de

ovo

pode

ser

biológico, obtenção

implicando

de

maior

em

retorno

econômico.

Science.,v. 33,p. 265-273, 2003. BOEMO, L. S.N,N. Dimetilglicina em dietas para frangos de corte. 71 f. 2012. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Centro de Ciências

CONCLUSÃO

Rurais, Universidade Federal de Santa Maria,

Diante do exposto, podemos observar a importância

Santa Maria, 2012.

de se oferecer aos animais uma alimentação

BORGES,

V.

C.

Alimentos

funcionais:

balanceada que supra com as exigências de cada

prebióticos,

um e com a importância de se oferecer alimentos

simbióticos. In: Waitzberg DL. Nutrição Enteral e

que

Parenteral

melhorem

melhorando

a

o

desempenho

qualidade

do

dos

produto

mesmos, final

e

consequentemente a saúde do consumidor. Desta forma, os alimentos funcionais que são aqueles que além de possuírem a capacidade de nutrição, fornecem aos animais a possibilidade de melhorar outra característica à parte, cumprem com o papel que hoje em dia é tão importante do mercado. 8534

probióticos, na

Prática

fitoquímicos

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