Nutritime Revista Eletrônica n 04 v.18

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Revista Eletrônica

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Sumário ARTIGOS 540 - Avaliação de diferentes aditivos (formaldeído isolado e a combinação de formaldeído e ácidos orgânicos) no controle microbiológico dos pontos críticos de controle em fábrica de rações .......... 8946 Matheus Faria de Souza, Thamirys Vianelli Maurício de Souza, Alana Santos Miguel, Beatriz Helena Timm Amadei, Pedro Henrique Gomes Soares Bitencourt

541 - Efeito do protocolo de adaptação no desempenho de bovinos de corte confinados ........................... 8953 Guilherme Lobato Menezes, Alan Figueiredo de Oliveira, Pamella Grossi de Sousa, Frederico Patrus Ananias de Assis Pires, Diogo Gonzaga Jayme 542 - Lignina: caracterição, efeito e manipulação na nutrição de ruminantes .................................................. 8961 Rafael Araújo de Menezes, Lúcio Carlos Gonçalves, Frederico Patrus Ananias de Assis Pires, Guilherme Lobato Menezes, Alan Figueiredo de Oliveira 543 - Exercício aeróbico de longa duração em peixes pode otimizar o crescimento ....................................... 8971 Anderson Ferreira Santana, Gesyane Bentos França, Frederico Antonio Basmage Vasconcelos, Silvia Prestes dos Santos, Claucia Aparecida Honorato


Avaliação de diferentes aditivos (formaldeído isolado e a combinação de formaldeído e ácidos orgânicos) no controle microbiológico dos pontos críticos de controle em fábrica de rações

Revista Eletrônica

Salmonella, BPF, APPCC, Fungos. Vol. 18, Nº 04, jul/ago de 2021 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

Matheus Faria de Souza¹ Thamirys Vianelli Maurício de Souza¹ Alana Santos Miguel² 2 Beatriz Helena Timm Amadei 2 Pedro Henrique Gomes Soares Bitencourt ¹Docentes do curso de Medicina Veterinária Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC.*Email:matheusfari@yahoo.com.br 2 Graduandos em Medicina Veterinária Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC.

RESUMO Objetivando-se

avaliar

diferentes

aditivos

(formaldeído isolado e a combinação do formaldeído com ácidos orgânicos) no controle microbiológico

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

EVALUATION OF DIFFERENT ADDITIVES (ISOLATED FORMALDEHYDE AND THE COMBINATION OF FORMALDEHYDE AND ORGANIC ACIDS) IN THE MICROBIOLOGICAL CONTROL OF CRITICAL CONTROL POINTS IN A FEED FACTORY

dos pontos críticos de controle em fábrica de rações. Foi realizado o estudo em uma fábrica de rações no

ABSTRACT

município de Santa Maria Jetibá – ES, foram

Aiming to evaluate different additives (formaldehyde alone and the combination of formaldehyde and organic acids) in the microbiological control of critical control points in feed mill. The study was carried out in a feed factory in Santa Maria Jetibá - ES, where the critical control points of the production process were established and identified, and from these samples were collected in three stages, pre-cleaning, after application. of additive with formaldehyde and after application of the additive with the combination of formaldehyde and organic acid. Samples were collected at 10 different points (lung silo, central elevator foot, corn elevator leg, mixer elevator foot, mixer, mixer scale, storage silo, redler, corn mill and central thread) with The use of sterile swab of microorganisms, and after collected, were sent to the TECSA Laboratory (Technology in Animal Health) in the city of Belo Horizonte - MG. Greater efficacy was observed in the quantitative reduction in total bacteria, enterobacteria, salmonella, fungi and molds when the additive containing the association between formaldehyde and organic acid was compared to the formaldehyde based additive alone. Keyword: salmonella, GMP, HACCP, fungi.

estabelecidos e identificados os pontos críticos de controle do processo de produção, e foram coletadas amostras em três etapas, na pré-limpeza, após a aplicação de aditivo com formaldeído e após aplicação do aditivo com a combinação entre formaldeído e ácidos orgânicos. As amostras foram coletadas em 10 pontos diferentes (silo pulmão, pé do elevador central, pé do elevador de milhor, pé do elevador do misturador, misturador, balança do misturador, silo de armazenamento, redler, moinho de milho e a rosca central) com a utilização de swab estéril de microrganismos, e após coletadas, foram enviadas para o Laboratório TECSA (Tecnologia em Saúde animal) na cidade de Belo Horizonte – MG. Foi observado maior eficácia na redução quantitativa em bactérias totais, enterobactérias, salmonella, fungos e bolores quando aplicado o aditivo contendo a associação entre formaldeído e ácidos orgânicos, comparando ao aditivo a base formaldeído de forma isolada. Palavras-chave: salmonella, BPF, APPCC, fungos.

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Artigo 540 - Avaliação de diferentes aditivos (formaldeído isolado e a combinação de formaldeído e ácidos orgânicos) no controle mirobiológico dos pontos críticos de controle em fábrica de rações

INTRODUÇÃO

Foram coletadas amostras nos dez diferentes pontos

As contaminações microbiológicas causam grandes

críticos da fábrica de ração (Silo Pulmão, Pé do

impactos

nos

Elevador Central, Pé do Elevador do Milho, Pé do

resultados zootécnicos e na mortalidade, gerando

Elevador do Misturador-Silo, Misturador, Balança

prejuízos econômicos. Em fábricas de rações, deve-

Misturador, Silo de armazenamento, Redler, Moinho

se ter um controle constante e rigoroso quanto às

de Milho e Rosca Central) e em três etapas: na pré-

possibilidades de contaminação do produto durante

limpeza,

o processo de produção, estabelecendo os pontos

formaldeído e após aplicação do aditivo com a

críticos e os monitorando rotineiramente e fazendo

combinação entre formaldeído e ácidos orgânicos.

sua desinfecção de forma efetiva.

As mesmas após coletadas com cuidados de

na

saúde

animal

como:

piora

após

a

aplicação

de

aditivo

com

assepsia foram acondicionadas em sacos plásticos Os

principais

desinfecção

aditivos das

a

linhas

serem de

utilizados produção

na

esterilizados.

são

formaldeídos que tem ação bactericida, esporicida,

As

viricida e fungicida, e o ácido orgânico que tem como

isotérmicas com gelo para manter a temperatura e

efeito acidificar o pH do meio, impedindo a

após cada coleta, as amostras foram levadas ao

proliferação bacteriana.

laboratório TECSA (Tecnologia em Sanidade Animal)

amostras

foram

transportadas

em

caixas

em Belo Horizonte - MG, para a análise laboratorial. Esse trabalho tem como objetivo avaliar a eficiência

Em seguida, as amostras foram preparadas e

da utilização do formaldeído e a combinação do

diluídas, que consisti em homogeneizar os tubos de

formaldeído com ácidos orgânicos no controle

ensaio com os swabs das superfícies amostrais

microbiológico na desinfecção de linhas de produção

(água

de rações.

representaram possibilitaram

MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi conduzido na fábrica de rações no município de Santa Maria de Jetibá– ES. Foi realizada a verificação do roteiro de inspeção da fábrica de ração, para definir os dez pontos críticos de controle na linha de produção. Os pontos críticos (Silo Pulmão, Pé do Elevador Central, Pé do Elevador do Milho, Pé do Elevador do MisturadorSilo,

Misturador,

Balança

peptonada

Misturador,

Silo

de

armazenamento, Redler, Moinho de Milho e Rosca Central) esses foram enumerados para identificar os locais onde foram realizadas as coletas de amostras. Após a definição dos pontos críticos de controle da fábrica de ração foram feitas amostras com a utilização de Swab estéril de microrganismos. O swab foi umedecido sua extremidade com algodão no diluente em água peptonada 0,1% p/v, o swab sendo comprimido contra as paredes do frasco. O esfregaço foi feito aplicando o swab pressionando na superfície, com movimentos da esquerda para a direita e posteriormente de baixo para a cima, rodando continuamente, para que toda a superfície do algodão entre em contato com a amostra.

a as

0,1%

p/v).

Esses

tubos

10°

que

concentração preparações

das

diluições

necessárias para avaliação microbiológica dos locais amostrados. A partir das diluições previamente preparadas, foram inoculadas em duplicada, assepticamente, 1,0 mL de cada diluição em placa de Petri. Nas placas inoculadas foram vertidos 15 a 20 mL de ágar padrão para contagem, previamente fundido e resfriado a 45°C. Após a homogeneização e solidificação, as placas foram incubadas a 35°C por 48 horas. Após este período, as placas foram selecionadas e contadas. Sendo calculado o número de unidades formadoras de colônias (UFC.g-1) de amostra. A análise de coliformes fecais foi inoculada 1 mL numa série de três tubos, contendo 10 mL de Caldo Lauril

Sulfato

Triptose.

Os

tubos

que

foram

incubados a 35 ± 0,5ºC por 24/48 horas e observados quanto à produção de gás. Após leitura do NMP presuntivo foi transferida uma alçada de cada cultura para tubos de Caldo Bile Verde Brilhante. Os tubos que foram incubados a 35 ± 0,5ºC por 48 ± 2 47 horas e observado se houve crescimento com produção de gás. Foi anotado o

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Artigo 540 - Avaliação de diferentes aditivos (formaldeído isolado e a combinação de formaldeído e ácidos orgânicos) no controle mirobiológico dos pontos críticos de controle em fábrica de rações

número de tubos de Bile Verde Brilhante com gás,

cultura crescida por 24 horas, segundo (EDWRDS &

confirmativo da presença de coliformes totais e foi

EWING et al., 1972).

determinado o Número Mais Provável (NMP) /g A contagem de bactérias mesófilas ocorreu a partir

(SILVA, 2010).

das

diluições

previamente

preparadas,

foram

Em relação, as pesquisas de salmonella foram

inoculadas em duplicada, assepticamente, 1,0 mL de

transferidas, assepticamente, as amostras para um

cada diluição em placa de Petri. Nas placas

frasco de homogeneização, previamente esterilizado

inoculadas foram vertidos 15 a 20 mL de Ágar

e tarado. Foram adicionados 225 mL de caldo

Padrão para Contagem, previamente fundido e

Lactosado e procedida homogeneização da amostra.

resfriado

Os frascos foram incubados a 37ºC por 18 a 24

solidificação, as placas foram incubadas a 35ºC por

horas.

48 horas. Após este período, as placas foram

a

45ºC.

Após

homogeneização

e

selecionadas e contadas. Sendo calculado o número Posteriormente, o frasco foi agitado. Em seguida foi

de unidades formadoras de colônias (UFC) por

transferido 1,0 mL para 10 mL de Caldo Tetrationato

amostra (SILVA et al., 2010).

e 1,0 mL para 10 mL de Caldo Selenito Cistina. Ambos os caldos foram incubados a 37ºC por 18 -

A contagem de bolores e leveduras foi iniciada com

24

as

horas.

Após

incubação

os

tubos

de

diluições

previamente

preparadas

foram

enriquecimento seletivo foram agitados e destes

transferidas, assepticamente, 1,0 mL de cada

foram feitas estrias, com uma alçada contendo o

diluição para placa de Petri. Sobre as placas

caldo Tetrationato em placas de Ágar Salmonella

inoculadas foram vertidas, 15 a 20 mL de Ágar

Shigella, Ágar Bismuto Sulfito, Ágar Manitol Lisina

Batata Dextrose acidificado com ácido tartárico 10%,

Cristal Violeta Verde Brilhante e Ágar Verde

pH 3.5. Após homogeneização e solidificação as

Brilhante.

placas foram incubadas a 25ºC ± 1°C por 3 a 5 dias. O resultado foi expresso em UFC/g por amostra

Esse procedimento foi repetido com o caldo Selenito

(SILVA et al., 2010).

Cistina. As placas invertidas foram incubadas a 37ºC por 18 - 24 horas e em seguida foi verificado se

Os resultados obtidos nas análises microbiológicas

houve desenvolvimento de colônias típicas de

foram transformados em logarítmicos da base 10

Salmonella. Estas colônias foram transferidas com o

para realização da comparação com a tabela

auxílio de uma agulha de inoculação, para tubos

referência proposta pelo Ministério da Agricultura,

inclinados de Ágar Triptona de Soja, e incubadas a

Pecuária e Abastecimento (MAPA) no ano de 2009

37ºC por 24 horas.

para avaliação em: Bom, aceitável e inaceitável quanto à presença microbiológica permitida em

Ao término desse tempo foram inoculadas em Ágar

fábrica de rações, FIGURA 1.

Lisina Ferro e Ágar Tríplice Açúcar Ferro. A inoculação foi feita por picada e estrias na rampa,

FIGURA 1- Normas Microbiológicas para Rações

utilizando-se a mesma alçada para inocular ambos os tubos. Todas as culturas típicas em Ágar Lisina Ferro

e

Ágar

confirmadas

Tríplice

através

de

Açúcar testes

Ferro

foram

bioquímicos

e

sorológicos, realizados a partir da cultura em Ágar Triptona de Soja. Na série de testes bioquímicos foi feito

urease,

fermentação

do

dulcitol,

indol,

malonato, vermelho de metila, VogesProskauer e citrato de Simmons (SILVA et al., 2010).

Fonte: Ministério de Agricultura do Brasil, 2009.

O teste sorológico foi utilizado com soro Polivalentes

RESULTADOS E DISCUSSÃO

anti-Salmonela (PROBAC DO BRASIL). Através da

Os resultados obtidos no presente estudo quanto às

técnica de aglutinação em lâmina, a partir de uma

análises microbiológicas de bactérias totais encontram-se

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Artigo 540 - Avaliação de diferentes aditivos (formaldeído isolado e a combinação de formaldeído e ácidos orgânicos) no controle mirobiológico dos pontos críticos de controle em fábrica de rações

apresentadas na Tabela 1.

tério de agricultura do Brasil. O ponto 8 alcançou. uma

TABELA 1- Análise microbiológica de bactérias totais nos pontos coletados na pré-limpeza e na pós-

concentração

de

bactérias

totais

aceitável

posteriormente a limpeza e desinfecção.

limpeza utilizando formaldeído ou a combinação de

Nos pontos 4,5,6 e 10, o produto foi capaz de anular

formaldeído e ácidos orgânicos

a presença das bactérias anteriormente encontradas na pré-limpeza. A mistura de formaldeído e ácidos orgânicos tem sido muito aplicada no controle bacteriano sendo benéfica no sentido de diminuir os efeitos colaterais de ambos os produtos, reduzindo a capacidade de corrosão dos ácidos, não sendo assim necessário o uso de equipamentos especiais (que não sofrem corrosão),

e

melhorando

a

aplicabilidade

do

formaldeído no sentido de diminuir as chances de intoxicação do manejador e reduzir a volatilidade, além de reduzir as doses aplicadas (LONGO et al., 2010). Nesse sentido, a utilização da combinação do Fonte: Elaborada pelos autores.

formaldeído e ácidos orgânicos pode ser eficiente no

Foi observado de forma quantitativa que nas

controle de bactérias totais conforme observado no

amostras coletadas na pré-limpeza a presença de

presente estudo.

bactérias totais excede o nível aceitável segundo a

Os resultados obtidos no presente estudo quanto às

tabela de referência proposta pelo MAPA (2009).

análises

Quando foi utilizado na pós-limpeza a solução de

microbiológicas

de

fungos

e

bolores

encontram-se apresentadas na Tabela 2.

formaldeído todos os pontos coletados ficaram entre

TABELA 2- Análise microbiológica de fungos e

os índices de bom e aceitável. Nos pontos 5,6 e 10

bolores nos pontos coletados na pré-limpeza e na

houve eliminação da presença de bactérias totais.

pós-limpeza utilizando formaldeído ou a combinação

A

efetividade

desinfetante

no

para

uso

de

formaldeído

eliminação

de

como

bactérias

de formaldeído e ácidos orgânicos

é

comprovada, sendo ele muito bem-sucedido contra a maioria das bactérias, quando empregado no corretamente (LONGO et al., 2010). No entanto, por ter alta volatilidade que causa desperdício pela evaporação, é recomendado seu uso em associação com ácidos ou outros compostos antimicrobianos, que leva a redução da volatilidade e da chance de intoxicação do operador (LONGO et al., 2010). Em relação, a utilização da solução com a associação

entre

formaldeído

e

ácidos

na

desinfecção após a limpeza os pontos 1,2,3,7 e 9 obtiveram concentrações consideradas como boas seguindo como base a tabela de referência do minis-

Fonte: Elaborada pelos autores.

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Artigo 540 - Avaliação de diferentes aditivos (formaldeído isolado e a combinação de formaldeído e ácidos orgânicos) no controle mirobiológico dos pontos críticos de controle em fábrica de rações

Os pontos coletados na pré-limpeza se apresentam inaceitáveis, assumindo como parâmetro as normas microbiológicas

para

rações

do

Ministério

da

agricultura, abastecimento e pecuária (2009). A utilização da solução de formaldeído, os pontos 2,4,5,6 e 8 ainda se mantiveram na classificação inaceitável. O ponto 7 foi avaliado como aceitável, no entanto, os pontos 1,3,9 e 10 tiveram resultados classificados como bom. O formaldeído é utilizado como desinfetante para eliminar fungos, porém é necessário o uso de altas concentrações para demonstrar boa eficácia, pois os fungos são resistentes ao mesmo quando aplicado em baixas concentrações (PRZYBYSZ, SCOLIN, 2009).

Fonte: Elaborada pelos autores.

Em relação, aos resultados obtidos de amostras da

Na associação entre formaldeído e ácidos, o ponto 2

pré-limpeza, apenas os pontos 4 e 6 houve presença

ficou com uma quantidade aceitável de UFC/ cm², já

de

o restante foi classificado como bom, chegando a

inaceitável, nos demais pontos houve a ausência de

zerar a quantidade de fungos e bolores no ponto 1.

Salmonella spp..

Os ácidos orgânicos são usados como inibidores de

O protocolo da utilização pós-limpeza do formaldeído

fungos além de ter ação bactericida, porém sua ação

de forma isolada e o uso de formaldeído associado a

depende do tempo de exposição do produto e a

ácidos orgânicos, foram eficientes na erradicação da

dose utilizada para controle microbiológico (LONGO

Salmonella spp. em todos os pontos, confirmando a

et al., 2010). O mecanismo de ação sobre os fungos

eficiência de ambos os protocolos quanto ao

se dá pela inibição do transporte de aminoácidos por

combate à Salmonella spp.

parte das células fúngicas, acidificando o conteúdo celular e pela ionização interna do citoplasma (GRIGOLETTI, 2007).

Salmonella

Ambos

os

spp.

sendo

protocolos

classificado

utilizados

como

demonstraram

resultados muito satisfatórios, isso se dá pelo potencial

bactericida

aditivos

base

de

eficazes

no

obtidos que a associação dos ácidos orgânicos ao

combate a bactérias no geral, incluindo a salmonella.

devido a maior eficácia dos ácidos orgânicos sobre os mesmos.

extremamente

à

Com isso, pode-se inferir com base nos resultados formaldeído foi mais eficiente no controle fúngico

serem

de

formaldeído,

Longo et al. (2010), realizaram um estudo que compara o uso de ácidos orgânicos com

a

associação de formaldeído com ácidos orgânicos,

Os resultados obtidos no presente estudo quanto às

onde os autores testaram o controle de salmonella

análises microbiológicas de Salmonella encontram-

com esses aditivos em farinha de peixe, onde há o

se apresentadas na Tabela 3.

tratamento com as substância a fim de prevenir a recontaminação do produto, onde houve efetividade

TABELA 3- Análise microbiológica de Salmonella

no controle microbiológico com o uso de 10 kg/ton de

nos pontos coletados na pré-limpeza e na pós-

ácidos orgânicos e na outra amostra foi necessário

limpeza utilizando formaldeído ou a combinação de

utilizar 2kg/ton da associação de formaldeído com

formaldeído e ácidos orgânicos

ácidos orgânicos, com esse resultado, podemos sugerir de que o formaldeído é o grande diferencial quando comparamos poder bactericida dos aditivos.

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Artigo 540 - Avaliação de diferentes aditivos (formaldeído isolado e a combinação de formaldeído e ácidos orgânicos) no controle mirobiológico dos pontos críticos de controle em fábrica de rações

Os resultados obtidos no presente estudo quanto às

Porém, quando analisamos o ponto 09, é possível

análises

perceber uma ineficiência do desinfetante sobre

microbiológicas

de

Enterobactérias

encontram-se apresentadas na Tabela 4.

aquele ponto, isso pode ser justificado em Amaral (2015)

TABELA

4

-

Análise

microbiológica

de

Enterobactérias nos pontos coletados na pré-limpeza

que

fala

que

quando

uma

alta

concentração de microrganismos, os aditivos não agem com sua total capacidade antimicrobiana.

e na pós-limpeza utilizando formaldeído ou a combinação de formaldeído e ácidos orgânicos

O uso da associação entre formaldeído e ácidos orgânicos, o ponto 9 permaneceu com um nível inaceitável

de

enterobactérias,

demonstrando

ineficiência. Nos pontos 2,5 e 6 o protocolo apresentou eficiência chegando a anular a presença de enterobactérias nas amostras coletadas. Nos pontos 3,4,8 e 10 o resultado obtido foi classificado como bom assumindo como parâmetro as normas microbiológicas

para

rações

do

Ministério

da

agricultura, já as demais amostras ficaram dentro do limite aceitável de bactérias. A associação

entre formaldeído e os

ácidos

orgânicos, mostrou melhor resultado quantitativo por haver efeito sinérgico entre os produtos. Sendo benéfico no ponto de reduzir as dosagens aplicadas e

também

apresentados

Fonte: Elaborada pelos autores.

diminuindo pelos

os

efeitos

princípios

negativos

ativos

usados

separadamente, como a capacidade de corrosão dos Com os resultados apresentados na tabela 4, foi

ácidos, a volatilidade e irritabilidade provocada pelo

observado que nas amostras da pré-limpeza, os

uso do formaldeído (LONGO et al., 2010).

pontos 2,3,5,6,7 e 10 apresentaram uma quantidade aceitável de enterobactérias, os demais ficaram

Com base no resultado obtido no ponto 09, pode-se

acima

como

inferir que a ineficiência da utilização do aditivo deve-

parâmetro as normas microbiológicas para rações do

se a maior contaminação microbiana que reduz a

Ministério da agricultura (2009).

ação dos desinfetantes segundo relatos de Amaral

do

limite

aceitável,

assumindo

(2015). Além disso, Segundo Longo (2010), a Quando

de

eficiência dos ácidos orgânicos, também depende de

formaldeído, nos pontos 2 e 5 a quantidade de

foi

utilizado

o

produto

à

base

seu tempo e dose de aplicação, caso não seja

enterobactérias foi zerada, nos pontos 1,3,4,6,7,8 e

executado

10 a quantidade de enterobactérias ficou dentro do

desinfecção será ineficiente.

corretamente

o

procedimento,

a

aceitável. Porém, no ponto 9 a quantidade de enterobactérias

permaneceu

na

classificação

CONSIDERAÇOES FINAIS Esse trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência

inaceitável.

da utilização de formaldeído e sua combinação com O resultado sugere que o aditivo é eficiente no

ácidos orgânicos no controle microbiológico na

controle de enterobactérias como é demonstrado no

desinfecção de linhas de produção de ração, e a

presente estudo. Isso se dá pelo seu efeito

partir dos dados coletados e analisados, conclui-se

bactericida que age sob a maioria das bactérias,

que com o uso de formaldeído isolado e a

sendo

dos

associação entre formaldeído e ácidos orgânicos

desinfetantes quando se trata de combate à

foram capazes de reduzir a quantidade microbiológica

contaminação por bactérias (LONGO et al., 2010).

presentes nos pontos analisados após sua utilização.

considerado

o

mais

eficiente

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Artigo 540 - Avaliação de diferentes aditivos (formaldeído isolado e a combinação de formaldeído e ácidos orgânicos) no controle mirobiológico dos pontos críticos de controle em fábrica de rações

Como resultados quantitativos, inferiu-se que a melhor das alternativas testadas para este controle microbiológico

(salmonella,

enterobactérias,

bactérias totais, fungos e bolores) é a associação entre formaldeído e ácidos orgânicos. A partir desse resultado, propõe-se que pesquisas futuras sejam realizadas no sentido avaliar quanto ao efeito residual dos aditivos estudados nesta pesquisa. REFERÊNCIAS AMARAL, A. L. et al. Salmonela na suinocultura brasileira: do problema ao controle. 1 ed. Brasília: Embrapa, 192 p, 2015. EDWARDS, P. R. e Ewing, W. H. Identification of Enterobactereaceae.

edição.

Mineapolis

(MA): Burgess Publishing Co. 1972. GRIGOLETTI, C. Associação de ácidos orgânicos no controle de fungos em grãos de milho armazenados.

Tese

(pós-graduação)

Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 2007. LONGO, F. A. et al. A importância do controle microbiológico em rações para aves. In: XI Simpósio Brasil Sul de Avicultura, Chapecó. Anais... Chapecó: Núcleo oeste de médicos veterinários e zootecnistas, p. 36-63, 2010. LONGO, F. A. A importância do controle microbiológico em rações para aves. 2010. Disponível

em:

https://pt.engormix.com/avicultura/artigos/controle -microbiologico-racoes-aves-t36902.htm. Acesso em: 28 de abr. 2019. MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regulamento Técnico que dispõe

acerca

dos

Procedimentos

para

Registro de Estabelecimentos e dos Produtos Destinados à Alimentação Animal. Instrução Normativa n.15, de 26 maio de 2009. PRZYBYSZ, Carlos Henrique; SCOLIN, Edson. Avaliação do formaldeído como fungicida no laboratório

de

anatomia

humana.

Revista

F@pciência, Apucarana-PR, v.5, n. 12, p. 121 – 133, 2009. SILVA et al. Manual de métodos de análise microbiológica de alimentos e água. 4. ed. São Paulo: Varela. Cap. 1-3, 6-8 e 19. 2010.

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Efeito do protocolo de adaptação no desempenho de bovinos de corte confinados Revista Eletrônica

Adaptação, carboidrato, confinamento, desempenho, protocolos. 1*

Vol. 18, Nº 04, jul/ago de 2021 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO

Guilherme Lobato Menezes 2 Alan Figueiredo de Oliveira 1 Pamella Grossi de Sousa 1 Frederico Patrus Ananias de Assis Pires 3 Diogo Gonzaga Jayme 1

Doutorandos em Nutrição Animal pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. UFMG. *E-mail: lobatoguilherme@hotmail.com 2 Doutorando em Produção Animal pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. UFMG. 3 Professor do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. UFMG.

são desafiadoras pela alta inclusão de alimento

EFFECT OF THE ADAPTATION PROTOCOL ON THE PERFORMANCE OF CONFINED BEEF CATTLE

concentrado. Nos últimos anos, os nutricionistas no

ABSTRACT

Brasil aumentaram a inclusão de concentrado nas

The animals adaptation to feedlot diets is challenging

dietas de terminação. Além disso, em busca de

due to high concentrate inclusion. In recent years,

facilidades operacionais muitos confinamentos estão

nutritionists in Brazil have increased the concentrate

reduzindo os dias de adaptação com dietas múltiplas

inclusion in finishing diets and aiming operational

ou adotando a utilização de dietas de terminação

facilities many feedlots are reducing adaptation days

com restrição de consumo para adaptar os animais.

with multiple diets or adopting finishing diets use with

O impacto dessas decisões foi revisado com objetivo

intake restrictions to adapt animals. The impact of

de avaliar o desempenho, a ocorrência de ruminite e

these decisions was reviewed in order to assess

as

no

performance, ruminite occurrence and changes in

comportamento alimentar e nas características de

rumen morphometry, feeding behavior and carcass

carcaça de bovinos de corte confinados. A restrição

characteristics

de consumo com dietas de terminação pode ser

restriction with termination diets can be used to adapt

utilizada na adaptação dos animais. Entretanto,

animals. However, attention should be paid to the

deve-se ter atenção quanto à intensidade da

restriction intensity to not impair animal performance.

restrição para não comprometer o desempenho

Considering adaptation time, the studies described

animal. Quanto ao tempo de adaptação, os estudos

suggest that animals can be adapted for 14 days

descritos sugerem que os animais podem ser

without compromising animals health and with the

adaptados por 14 dias sem comprometer a saúde

potential to increase performance in weight gain and

dos animais e com potencial de incrementar o

carcass.

desempenho em ganho de peso e carcaça.

Keyword: adaptation, carbohydrate, confinement, performance, protocols.

A adaptação dos animais às dietas de confinamento

alterações

Palavras-chave:

na

morfometria

do

adaptação,

rúmen,

carboidrato,

of

confined

beef

cattle.

Intake

confinamento, desempenho, protocolos.

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Artigo 541 - Efeito do protocolo de adaptação no desempenho de bovinos de corte confinados

INTRODUÇÃO

quantidade de papilas dependem das características

Nos últimos anos, as dietas de gado de corte em

da dieta ingerida. O período para adaptação dos

confinamento estão cada vez mais concentradas.

animais às dietas ocorre, em média, entre duas e

Essas

por

três semanas. O incremento de concentrado na dieta

megacaloria de energia líquida e possibilitam ganhos

dietas

apresentam

menor

custo

aumenta as proporções de ácido propiônico e

operacionais pela facilidade de manuseio quando

butírico que proporcionam maior fluxo sanguíneo e

comparadas às dietas com maior inclusão de

aumentam a taxa mitótica do epitélio rumenal

volumosos (BROWN et al., 2006). Os grandes

(CHURCH,

confinamentos enfrentam dificuldades na logística de

aumento do tamanho das papilas e da superfície de

alimentação, por isso diminuem a inclusão de

absorção dos ácidos.

1988). Como consequência, ocorre

volumoso na dieta com o objetivo de diminuir custos (OLIVEIRA & MILLEN, 2014; PINTO & MILLEN,

Pereira et al. (2020) consideram a adaptação como o

2018).

estão

período mais crítico do confinamento. Geralmente os

reduzindo o tempo de adaptação dos animais às

animais migram de dietas com alta proporção de

dietas ou utilizando dietas de terminação com

volumoso para altas proporções de concentrados

restrição de consumo para adaptar os animais

após longas viagens com

(CHOAT et al., 2002; PERDIGÃO et al., 2018;

alimentar (LOERCH & FLUHARTY, 1999). Segundo

BARDUCCI et al., 2019; PARRA et al., 2019;

Owens et al. (1998), animais submetidos a restrição

ESTEVAM et al., 2020).

alimentar por 12 a 24h quando recebem alimentação

Com

isso,

alguns

nutricionistas

privação hídrica e

em grande quantidade podem ser acometidos pela Normalmente as maiores proporções de concentrado

acidose. Em geral, os animais saem das pastagens

na dieta estão associadas a maior eficiência do

com

ganho e proporcionam maiores ganhos de carcaça

concentrados e iniciam o confinamento com teores

(BEVANS et al., 2005). Entretanto, os benefícios da

de concentrado na dieta próximos de 55% e chegam

maior inclusão de concentrado são acompanhados

a 90% na fase de terminação em menos de 14 dias,

de

nas

aproximadamente (BROWN et al., 2006; PEREIRA

propriedades, os quais podem comprometer o

et al., 2020). Além disso, um fator agravante são os

desempenho animal. Segundo Pinto & Millen (2018),

diferentes

os distúrbios de saúde nos animais decorrentes de

fazendas que utilizam diferentes inclusões de

problemas nutricionais, como a acidose, são o

concentrado, o que dificulta a criação de um

segundo

protocolo de adaptação que se adeque a todos os

aumentos

dos

maior

nutricionistas

desafios

problema

brasileiros,

sanitários

relatado

totalizando

pelos

27,6%.

A

nenhuma

ou

baixa

protocolos

de

suplementação

recria

adotados

de

nas

animais.

adaptação é uma estratégia importante para diminuir esses

desafios,

porém

as

necessidades

Um animal pode ser considerado adaptado quando é

os

capaz de ingerir uma dieta sem sofrer efeitos

nutricionistas a reduzirem o número de dietas e de

adversos da acidose subaguda ou aguda, que são

dias de adaptação. Neste contexto, objetivou-se

classificadas pelo pH ruminal abaixo de 5,6 e 5,0,

avaliar a influência dos protocolos de adaptação

respectivamente (COUNOTTE & PRINS, 1981;

sobre

HULS et al., 2016). Church (1988) relatou que a

operacionais

o

do

confinamento

desempenho

de

pressionam

bovinos

de

corte na

acidose aguda é mais letal, porém a acidose

morfometria do rúmen, no comportamento alimentar

subaguda é mais frequente e ocasiona maiores

e nas características de carcaça de bovinos de corte

prejuízos. Esses prejuízos muitas vezes não estão

confinados.

associados com a mortalidade, mas sim com a

confinados,

na

ocorrência

de

ruminite

e

redução de desempenho e causam maior prejuízo REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

econômico.

Adaptação em sistemas confinados No rúmen, microrganismos anaeróbios fermentam

No Brasil as dietas de terminação aumentaram os

carboidratos e produzem ácidos graxos voláteis

níveis de concentrado nos últimos anos. Estudos

(AGV), que são absorvidos pelas papilas presentes

realizados entre 2009 e 2014 demonstraram um

na mucosa rumenal. O tamanho, a distribuição e a

aumento de 11% na proporção de concentrado nas

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Artigo 541 - Efeito do protocolo de adaptação no desempenho de bovinos de corte confinados

dietas

de

confinamento

(71,2%

e

79%,

centrados são fornecidas abruptamente e pode

respectivamente) (MILLEN et al., 2009; OLIVEIRA &

ocasionar acidose ruminal. Essa doença ocorre com

MILLEN, 2014). Já no ano de 2016, um estudo

maior frequência em dietas com alto concentrado.

realizado por Pinto & Millen (2018) apontou que

Em sistemas de confinamento, quando os animais

87,9% dos confinamentos no país utilizavam acima

saem do pasto, em que a regulação de consumo

de 71% de concentrado na dieta, e destes 54,6%

ocorre pelas características físicas da dieta, e

utilizavam mais de 80%. A inclusão de concentrado

recebem alta proporção de concentrado, em que a

média no país foi igual a 79,4%.

regulação de consumo é quimiotática (OWENS et al.,

Além dos protocolos de adaptação, o manejo

1998), o desafio de saúde ruminal aumenta.

alimentar dos animais é importante na prevenção da

Falhas no processo de adaptação ocasionam muitas

acidose. O fracionamento dos tratos em vacas de

vezes

leite é uma prática recomendada por (KAUFMANN

alterações

et al., 1980) na prevenção da acidose. Essa técnica

superfície de absorção e lesões nas paredes dos

também pode ser utilizada nos animais de corte

órgãos (CHURCH, 1988; ESTEVAM et al., 2020).

confinados. Porém, o fracionado dos tratos pode

Bevans et al. (2005) adaptaram 12 novilhas cruzadas

impactar na logística operacional do confinamento e

em confinamento em dois protocolos, com inclusão

dificultar o fornecimento de alimento aos animais.

rápida ou com inclusão lenta de concentrados. Os

Schutz et al. (2011) avaliaram o fornecimento de

animais

dietas por uma, duas ou três vezes ao dia. O

primeiro ao terceiro dia, dietas com 65% de

aumento

aumentou

concentrado e após o quarto dia receberam 90% de

linearmente (p<0,02) o ganho de peso 1,63, 1,64 e

concentrado. Os animais com adaptação lenta

1,71, respectivamente. O peso final também foi

tiveram 15 dias de adaptação até atingir 90% de

influenciado linearmente (p<0,03) e os animais ao

concentrado e as transições das dietas foram feitas a

término do experimento pesaram, em média, 593,

cada três dias com aumentos graduais de 48,3, 56,7,

593 e 604. O desempenho superior no estudo foi

65, 73,3 e 81,7% de concentrado na dieta. Durante

relacionado ao maior consumo devido ao maior

três ou quatro dias com 65 ou 90% de concentrado

fornecimento de tratos. Porém, outro benefício que

não houve diferença (p>0,05) no pH ruminal dos

pode

no

animais dos tratamentos com adaptação rápida ou

fornecimento da dieta é a maior estabilidade no pH

gradual. Entretanto, a rápida adaptação gerou maior

ruminal.

ter

variação (p<0,05) dos valores de pH ruminal, o que

ocasionado o maior consumo da dieta (OWENS et

aumenta os riscos de acidose. A rápida transição de

al., 1998). Esse estudo utilizou o fracionamento dos

dietas resulta em falhas no processo de adaptação e

tratos ao longo de todo período de confinamento. Os

resulta na ocorrência de acidose ruminal.

na

estar

frequência

relacionado

Essa

maior

de

ao

tratos

fracionamento

estabilidade

pode

acidose,

lesões

morfométricas

com

adaptação

na

parede como

rápida

ruminal

redução

e da

receberam

do

autores relatam que o fornecimento de trato único pode ser realizado quando o custo operacional de

Perdigão et al. (2018) não observaram (p>0,05)

aumentar

ganho

aumento no escore de ruminite com a redução no

incremental de peso (SCHUTZ et al., 2011).

tempo adaptação de nove para seis dias ou pelo uso

Entretanto, deve-se ter cuidado com a utilização

de protocolo de adaptação com dieta de terminação

desta técnica na fase de adaptação. Neste período,

e restrição de consumo. Também não foi observado

como os animais não estão adaptados, uma grande

(p>0,05) alteração no número e área média das

ingestão de concentrados pode ocasionar acidose

papilas e na área de superfície de absorção. Parra et

com queda no desempenho e morte de animais.

al. (2019) não observaram (p>0,05) alteração no

os

tratos

for

maior

que

o

score de ruminite em animais adaptados por 14 ou Lesões ocasionadas por acidose

21 dias. Entretanto, nesse estudo os animais

Microrganismos anaeróbios fermentam carboidratos

adaptados por 14 dias apresentaram redução

e produzem AGV. O ácido lático também é produzido,

(p=0,02) de 11% no número de papilas por cm . A

principalmente, quando grandes proporções de con-

redução no número de papilas, dependendo da inten-

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Artigo 541 - Efeito do protocolo de adaptação no desempenho de bovinos de corte confinados

sidade, pode ocasionar falhas no processo de

dias definidos, representam 57,6% das dietas de

absorção e reduzir o desempenho animal.

adaptação formuladas no país e são fornecidas em

Barducci et al. (2019) não observaram (p>0,05) alteração no escore de ruminite ao reduzirem a adaptação de 14 para nove dias com protocolos de restrição e dieta de terminação ou ad libitum com transição de dietas aumentando as proporções de concentrado em relação ao volumoso. Com relação a morfometria ruminal medidas no saco craniano, animais com protocolo de restrição e dieta de terminação aumentaram 13,5% (p=0,03) a área 2

média de papila por cm . Entretanto, o número de papilas não diferiu (p>0,05) entre os tratamentos. O maior tamanho de papilas pode ter ocorrido em função da maior proporção de ácido propiônico e butírico na dieta desses animais. Estevam et al. (2020) relataram que touros quando adaptados por seis dias, apresentaram maiores escores de ruminite ao final da adaptação do que os adaptados por 21 dias (2,33; 1,17). A superfície absortiva foi afetada cubicamente (p=0,03), onde animais adaptados por 14 dias apresentaram maior área. Na prática esses resultados demonstram que deve ser utilizado no mínimo 14 dias de adaptação para evitar problemas ocasionados por acidose.

30,3% utilizam apenas uma dieta com menos energia do que na fase de terminação por 19,8 dias, em média, 6,1% utilizam a mesma dieta de terminação com restrição alimentar por 12 dias de adaptação, em média, e 6,1% utilizam mistura de duas rações por 19,5 dias de adaptação, em média (PINTO & MILLEN, 2018). Nos EUA, as dietas múltiplas são as mais utilizadas pelos nutricionistas (56,3%), seguido pelo uso da mistura de duas rações (40,6%). As dietas múltiplas iniciam com 40,7% de forragem na matéria seca (MS) e possuem em média quatro dietas com seis dias de transição. Quando utilizado duas dietas, essas iniciam em média com 38,8% de forragem na MS com um período de transição mais longo, resultando em 27 dias de adaptação (SAMUELSON et al., 2016). Bierman & Pritchard (1996) avaliaram uma dieta de terminação com consumo restrito como protocolo de adaptação em bovinos confinados. Os animais foram alimentados por 121 dias e o estudo foi divido em dois

tratamentos

de

adaptação.

No

primeiro

tratamento os animais iniciaram o experimento

Efeito de diferentes protocolos no desempenho

consumindo 6,8 kg de MS de uma dieta com 92% de concentrado e foram realizados aumentos graduais

animal Tradicionalmente os animais são adaptados ao confinamento com aumento gradual na quantidade de alimento concentrado e redução na de volumosos por períodos de 14 a 21 dias (BIERMAN & PRITCHARD,

1996).

Esse

protocolo

objetiva

minimizar a acidose e a variação de ingestão, que pode

média por 16,2 dias. Nos demais confinamentos,

ocorrer

quando

animais

não

adaptados

consomem excesso de concentrado (CHOAT et al., 2002). Segundo Estevam et al. (2020) um dos fatores determinantes ao protocolo de adaptação é o teor energético das dietas de terminação. Segundo os autores, os sistemas que trabalham com menor teor energético podem usar menores períodos de adaptação sem prejudicar a saúde e o desempenho dos animais. O consumo total também pode ser restrito com estratégia de adaptação conforme descrito por Preston (1995).

sem permitir sobras de alimento no cocho até os animais atingirem consumo ad libitum na fase de terminação. No segundo tratamento os animais foram alimentados ad libitum e foi realizado a transição das dietas a cada três dias com 55%, 65%, 75% e 82% de concentrado, totalizando 12 dias em adaptação. Após essa fase os animais foram alimentados com dieta de terminação com 92% de concentrado. Ao final do experimento, o ganho médio diário (GMD) não diferiu (p>0,10) entre os tratamentos

(1,74

e

1,75,

respectivamente).

Entretanto, o consumo de MS foi 12% maior (p=0,009) no tratamento com adaptação ad libitum. O maior consumo e o ganho de peso semelhante resultaram em pior (p=0,095) eficiência alimentar no tratamento com consumo ad libitum na adaptação (6,90 e 6,14). Esses resultados demonstram que a adaptação com dietas de terminação e o manejo de

No Brasil, os animais confinados são adaptados em

cocho limpo podem ser utilizados para aumentar a

média com três dietas. As dietas múltiplas, com

eficiência alimentar sem comprometer o ganho de

aumento de concentrado e redução de volumoso em

peso dos animais.

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Artigo 541 - Efeito do protocolo de adaptação no desempenho de bovinos de corte confinados

Choat et al. (2002) avaliaram o efeito do consumo

Perdigão et al. (2018) avaliaram quatro protocolos de

restrito da dieta de terminação na adaptação

adaptação, com seis ou nove dias e o consumo

comparado a uma dieta tradicional com consumo ad

restrito da dieta de terminação ou ad libitum. O

libitum em dois estudos utilizando animais de

tratamento com consumo ad libitum foi realizado com

diferentes categorias. No experimento um, 84 bois

aumento do nível de concentrado de 61% para 85%

Angus × Hereford (Peso inicial (PI) = 418 ± 29,0 kg)

da MS durante seis ou nove dias. A troca de dietas

foram alimentados por 70 dias. Os animais com

no tratamento com seis dias foi realizado a cada três

adaptação

de

dias com duas dietas de adaptação (61,0 e 73,0% de

concentrado e atingiram 90% em 20 dias. A dieta foi

concentrado). No protocolo com nove dias a primeira

oferecida na quantidade de 1,5% do peso vivo (PV)

e a segunda dieta de adaptação (61,0 e 73,0% de

inicialmente e foi aumentada 0,450 kg/boi/dia sem

concentrado) foram fornecidas por quatro e cinco

sobra no cocho. O tratamento restrito iniciou o

dias, respectivamente. No protocolo com consumo

fornecimento de dieta com 1,25% do PV e aumentou

restrito os animais receberam no primeiro dia a dieta

0,230 kg/boi/dia quando o cocho amanhecia sem

de

sobras. No experimento dois, os animais cruzados

aumentados 0,250 kg/dia de MS até o sexto dia ou

(PI = 289 ± 22,9 kg) foram adaptados ao longo de 22

receberam no primeiro dia a dieta de terminação

dias com

com 1,76% do PV e foram aumentados 0,170 kg/dia

tradicional

iniciaram

aumento de 65%

com

70%

para 92,5%

de

concentrado da MS ou com consumo restrito da

terminação

com

1,81%

do

PV

e

foram

de MS até atingir o consumo ad libitum no nono dia.

dieta de terminação na fase de adaptação até os animais atingirem o consumo ad libitum. Nos

A duração da adaptação não alterou (p>0,05) o

animais com dieta de adaptação o consumo iniciou

consumo e o desempenho no confinamento como

com 2,0 % do PV de MS e aumentou 0,450

efeito principal. Os animais sob consumo ad libitum

kg/boi/dia quando não houve sobra no cocho. Nos

tiveram o consumo de MS e o GMD 6,2% (p=0,009)

animais adaptados com dieta de terminação restrita

e 7,5% (p=0,04) maiores que os animais com

o protocolo inicial e de aumento foi o mesmo do

restrição alimentar utilizando dieta de terminação.

experimento um.

Apesar do maior consumo e maior ganho, não houve diferença (p>0,05) sobre o peso final e na conversão

O GMD no experimento um não foi afetado pelos

alimentar. Os dias em adaptação não alteraram

tratamentos (p=0,43) com valores de 2,10 e 2,02

(p=0,31) a variação de consumo de MS durante a

kg/d para os tratamentos ad libitum e restrito,

adaptação (seis dias = 0,80kg e nove dias = 0,71kg).

respectivamente. Já no experimento dois os animais

Entretanto o protocolo de restrição que utilizou dieta

com consumo ad libitum aumentaram (p<0,01) 9,3%

de terminação na adaptação aumentou (p<0,001) a

o GMD comparado aos animais com a adaptação

variação de consumo comparado ao protocolo ad

com consumo restrito (1,65 e 1,51 kg/d). O consumo

libitum (restrição = 1,00 kg e ad libitum = 0,51kg).

dos

no

Neste cenário, animais podem ser adaptados por

experimento um e dois foram 9,7% e 5,8% maiores

seis ou nove dias utilizando dietas de adaptação ad

(p<0,01) em comparação com os animais com

libitum com aumento gradual de concentrado. Ao

consumo restrito. Entretanto, a eficiência alimentar

utilizar dietas de terminação na adaptação com

não diferiu entre os tratamentos (p=0,14; p=0,19).

restrição de consumo, essa pode prejudicar o

Os animais no experimento dois apresentaram peso

desempenho dos animais.

animais

com

adaptação

ad

libitum

de saída e de carcaça 4,2 e 3,5% maiores (p=0,14; p<0,01) no tratamento com consumo ad libitum.

Parra

et

al.

(2019)

avaliaram

protocolos

Esses resultados demonstram que animais podem

adaptação com 14 e 21 dias e 63 e 70 dias de

ser adaptados com dietas de terminação restritas

terminação, respectivamente, com ou sem restrição

sem prejudicar a eficiência alimentar. Deve-se ter

alimentar na adaptação. Os animais adaptados pelo

atenção na intensidade da restrição para não

protocolo com 14 dias sem restrição iniciaram a

prejudicar o ganho de peso e aumentar os dias do

adaptação com uma dieta composta por 55% de

confinamento até o abate.

concentrado e aumentaram o concentrado em 10% Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.18, n.4, p.8953-8960, jul/ago, 2021. ISSN: 1983-9006

de

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Artigo 541 - Efeito do protocolo de adaptação no desempenho de bovinos de corte confinados

nos dias cinco e 10 da adaptação. Já os animais

dois, três e sete dias, respectivamente, e para o

com 21 dias de protocolo sem restrição fizeram as

tratamento com 14 dias de adaptação a transição

transições das dietas com 55, 65 e 75% de

das dietas foram feitas com quatro, cinco e cinco

concentrado a cada sete dias. Os animais com

dias. Contrastes Ortogonais foram utilizados para

restrição alimentar iniciaram o consumo com a dieta

avaliar as relações lineares ou quadráticas entre os

de terminação. No tratamento com 14 dias de

dias de adaptação e as variáveis avaliadas. Não foi

adaptação, os animais iniciaram o confinamento

observado diferença linear ou quadrática (p>0,05)

recebendo 1,76% do PV de dieta e aumentaram

durante a fase de confinamento (zero a 88 dias) para

0,260 kg MS/dia até o 14º dia. No tratamento com 21

dias de adaptação na ingestão de MS em kg ou em

dias de adaptação os animais foram alimentados no

% do PV. O peso final (p=0,06), o GMD (p=0,07) e a

primeiro dia com 1,76% do PV e aumentaram 0,200

eficiência

kg MS/dia até o 21º dia. O aumento no tempo de

quadraticamente pelos dias em adaptação. Os

adaptação não aumentou (p>0,05) o desempenho

bovinos adaptados por 14 dias apresentaram maior

dos animais. Já a transição gradual das dietas com

peso final, maior GMD e melhor eficiência alimentar.

aumento de concentrado e redução de volumoso

Esses resultados demonstram que expor os animais

diminuiu (p=0,01; p<0,01) a variação diária de

a menos dias de adaptação pode não trazer bons

consumo na adaptação e em todo o confinamento

resultados ao confinamento.

alimentar

(p=0,07)

foram

afetados

(0,42 para 0,36 e 0,47 para 0,38 kg por dia, respectivamente). O GMD não foi influenciado

Comportamento alimentar

(p>0,05) por nenhum tratamento.

A disponibilidade de alimento no cocho assim como a proporção de volumoso na dieta de adaptação

Barducci et al. (2019) avaliaram animais adaptados

pode

por nove ou 14 dias com protocolos de restrição ou ad libitum. Os animais com consumo ad libitum

Perdigão et al. (2018) demonstraram que animais

iniciaram com 55% de concentrado e foi aumentado

terminação na fase de adaptação passaram em

10% de concentrado em cada fase da adaptação até

média 65 min/dia a menos (p<0,001) no cocho e

atingir 85% na fase de terminação. Os animais com

reduziram em 31,4% o tempo de ruminação. Parra et

consumo restrito iniciaram alimentando com 1,76%

al. (2019) também observaram maior (p<0,01) tempo

do PV de MS e aumentaram gradativamente até o

de consumo em animais adaptados em dietas

dia nove e 14 da adaptação. Nenhum efeito principal

múltiplas com inclusão graduais de concentrado

(protocolo de adaptação ou duração da adaptação)

quando comparado à protocolos de adaptação com

foi observado (p>0,05) sobre o ganho de peso, peso

restrição de consumo e dietas de terminação. Neste

final no confinamento e consumo de matéria seca.

estudo também

Entretanto, os animais alimentados utilizando-se protocolos

de

restrição

apresentaram

melhora

(p=0,04) de 6,3% na eficiência alimentar quando comparados aos dos protocolos de adaptação com inclusões resultados

crescentes demostram

de que

concentrado. quando

Esses

realizados

adequadamente, os protocolos de restrição com dietas de terminação podem obter bons resultados com o benefício da melhora na eficiência alimentar.

com

influenciar restrição

no

comportamento

alimentar

utilizando

alimentar. dietas

de

foi observado uma tendência

(p=0,07) na redução do tempo médio de ruminação em animais adaptados com dietas de terminação com consumo restrito. Os animais adaptados com a dieta de terminação com restrição de consumo e com dietas múltiplas ad libitum ruminaram 366 e 382 min/dia, respectivamente. Esses estudos também demonstraram que adaptar os animais por seis ou nove dias (PERDIGÃO et al., 2018) e por 14 ou 21 dias (PARRA et al., 2019), não influencia o

Estevam et al. (2020) avaliaram protocolos de

comportamento

adaptação por seis, nove, 14 e 21 dias de transição

Corroborando com esses achados, Estevam et al.

de dietas que iniciaram com 70% e aumentaram

(2020) também

para 75% e 80,5% de concentrado para chegar em

comportamento alimentar em animais adaptados por

uma dieta de terminação com 85%. A transição das

seis, nove, 14 ou 21 dias consumindo dietas

dietas com seis, nove e 21 dias foram feitas a cada

múltiplas ad libitum

8958

alimentar

dos

não observaram

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.18, n.4, p.8953-8960, jul/ago, 2021. ISSN: 1983-9006

animais.

alteração no


Artigo 541 - Efeito do protocolo de adaptação no desempenho de bovinos de corte confinados

Efeito de diferentes protocolos na qualidade de

por 14 dias comparado aos com 21 dias de

carcaça

adaptação.Os animais adaptados por 14 dias,

Os protocolos de adaptação demonstraram potencial

também apresentaram rendimento de carcaça 1,2%

de melhorar a eficiência alimentar sem comprometer

maior (p=0.04) que os animais adaptados por 21

o desempenho no confinamento ao utilizar restrições

dias. O percentual de gordura renal pélvica em

alimentares moderadas na adaptação dos animais

relação ao peso de carcaça quente não diferiu

(BIERMAN & PRITCHARD,1996; CHOAT et al.,

(p>0,05)

2002; BARDUCCI et al., 2019). Entretanto, apesar

terminação apresentaram em média 22,8% mais

de não comprometer o peso final e o GMD, dietas

energia (MJ kg ) que as dietas de adaptação. Como

com

podem

o tempo de confinamento foi o mesmo entre os

possibilitar maiores ganhos de carcaça e melhor

tratamentos a maior permanência na fase de

acabamento. Portanto, outras características como o

terminação aumentou o peso de carcaça dos

peso de carcaça quente, o rendimento de carcaça e

animais adaptados por 14 dias.

maior

inclusão

de

concentrado

entre

os

tratamentos.

As

dietas

de

-1

o percentual de gordura renal pélvica em relação ao peso de carcaça quente (característica relacionada a

O efeito da redução da adaptação de 14 para nove

gordura total corporal) podem ser utilizados para

dias sobre a carcaça de animais Nelore foi avaliada

mensurar a qualidade da carcaça.

por Barducci et al. (2019) e demonstraram não haver diferença (p>0,05) do tempo de adaptação sobre o

Choat et al. (2002) utilizaram dietas de terminação

peso de carcaça quente, o rendimento e o percentual

na adaptação de animais Angus x Hereford com

de gordura renal pélvica em relação ao peso de

peso inicial de 418 kg e não observaram efeito da

carcaça quente. Estevam et al. (2020) observaram

restrição de consumo sobre as características de

efeito quadrático (p=0,04) do tempo de adaptação

carcaça. Entretanto, quando a restrição foi feita

sobre o peso de carcaça quente de bovinos abatidos

utilizando dietas de adaptação em animais mais

aos 88 dias. Animais adaptados por 14 dias

jovens, pesando em média 288 kg, o peso de

apresentaram maior peso de carcaça. Entretanto, o

carcaça

outras

rendimento de carcaça e o percentual de gordura

características de carcaça não foram alteradas.

renal pélvica em relação ao peso de carcaça quente

Animais jovens quando submetidos a dietas de

não diferiu entre os tratamentos.

reduziu

(p<0,01)

4,4%.

As

terminação com altas inclusões de concentrado podem chegar a fase de acabamento mais rápido. A

CONSIDERAÇÕES FINAIS

composição corporal, principalmente gordura, afeta

Bovinos em confinamento podem ser adaptados por

o consumo pelo efeito de feedback negativo do

14 dias sem comprometer a saúde ruminal e o

tecido adiposo na ingestão de alimento (NRC, 1987),

desempenho dos animais. A restrição do consumo

que pode reduzir o peso de carcaça ao abate.

com dietas de terminação altera o comportamento alimentar, mas pode ser utilizada como protocolo de

A inclusão de dietas com alto concentrado na

adaptação e apresenta potencial de aumentar a

adaptação pode alterar a composição do ganho de

eficiência alimentar. Entretanto, deve-se ter cuidado

peso e favorecer a deposição de gordura corporal.

com a intensidade da restrição para não prejudicar o

Entretanto, Perdigão et al. (2018) não observaram

ganho de peso dos animais. E deve-se ter atenção

(p>0,05) alteração do peso e do rendimento de

ao fracionamento dos tratos para não potencializar a

carcaça em animais adaptados por seis ou nove

ocorrência de acidose nos animais.

dias. Os períodos utilizados na adaptação foram 3,3 e 2,2 vezes menores que a média nacional quando

REFERÊNCIAS

comparado a misturas múltiplas na adaptação e 2 e

BARDUCCI, R. S. et al. Restricted versus step-up

1,3 vezes menores que a média nacional quando

dietary adaptation in Nellore bulls: Effects over

comparado a dietas de terminação com restrição de

periods of 9 and 14 days on feedlot performance,

consumo na adaptação (PINTO & MILLEN, 2018).

feeding

Já Parra et al., 2019 observaram o peso de carcaça

morphometrics. Animal

quente 2,5% maior (p=0,03) nos animais adaptados

Technology, v. 247, p. 222-233, 2019.

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and Feed

Science

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.18, n.4, p.8953-8960, jul/ago, 2021. ISSN: 1983-9006

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Lignina: caracterização, efeito e manipulação na nutrição de ruminantes Revista Eletrônica

Fibra, carboidratos, digestibilidade, bioquímica, tecnologia .

1*

Vol. 18, Nº 04, jul/ago de 2021 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Rafael Araújo de Menezes 2 Lúcio Carlos Gonçalves 3 Frederico Patrus Ananias de Assis Pires 3 Guilherme Lobato Menezes 3 Alan Figueiredo de Oliveira 1

Mestrando na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.*E-mail:

rafaelaraujodemenezes@gmail.com. 2

Professor Adjunto na Universidade Federal de Minas Gerais –UFMG.

3

Doutorando na Universidade Federal de Minas Gerais –UFMG.

RESUMO

LIGNIN:

A lignina é um componente natural das forragens e

MANIPULATION

está presente nas dietas dos ruminantes como um

RUMINANTS

fator antinutricional por reduzir a digestibilidade da

ABSTRACT

fibra

conhecimento

Lignin is a forage`s natural component present in

aprofundado sobre a lignina e como minimizar seu

ruminants diets as an anti-nutritional factor due to its

efeito negativo é a chave para progredir na melhoria

negative effect on fiber digestibility. Therefore, a

do valor nutritivo das fontes volumosas lignificadas

deeper understanding of lignin and ways to minimize

utilizadas na alimentação animal. O objetivo deste

its effects is key to improve the nutritional value of

trabalho foi revisar o processo de lignificação na

lignified roughage sources used in animal feed. The

célula vegetal e compreender o mecanismo de ação

objective of this study was to review the lignification

das

fontes

process in the plant cell as well as understand the

volumosas lignificadas a favor da melhoria de sua

mechanism behind the main technologies applied on

qualidade nutricional.

lignified

Palavras-chave: fibra, carboidratos, digestibilidade,

nutritional quality.

bioquímica, tecnologia.

Keyword: dairy cows, milk production, lipids, ruminal

no

rúmen.

principais

Portanto,

tecnologias

o

aplicadas

a

CHARACTERIZATION,

forage

IN

THE

sources

EFFECT

NUTRITION

intending

to

AND OF

improve

metabolism.

8961


Artigo 542 - Lignina: caracterização, efeito e manipulação na nutrição de ruminantes

INTRODUÇÃO

Caracterização e definições de lignina

O nome lignina provém do latim “lignum” que

A diversidade da constituição das ligninas é tamanha

significa madeira, em virtude de a lignina ser um dos

que há variações não somente entre espécies

principais componentes estruturais presentes nos

vegetais, mas até mesmo entre tecidos da mesma

tecidos vegetais (exceto fungos, algas e líquens) e

planta (SALIBA et al., 2001). Essas diferenças

também o segundo polímero mais abundante na

parecem ser influenciadas também pelas condições

natureza, depois da celulose. Na planta, tem o papel

edafoclimáticas, pelo estágio de maturação e pelo

fortificador de paredes celulares e suporte físico de

manejo a que são submetidas (SALIBA, 1998;

tecidos, bem como contribui com a longevidade dos

DIXON et al., 2001).

tecidos, facilita o transporte de água e protege a parede celular da degradação, da perda hídrica, da radiação ultravioleta, das lesões teciduais e das infecções (HATFIELD & VERMERRIS, 2001). Trata-

As ligninas têm formação complexa, com mais de 30 monômeros já detectados, que realizam diferentes tipos de ligações químicas e sofrem modificações

se de uma importante substância de sustentação e

estruturais durante o processo de lignificação na

proteção dos vegetais que, segundo linhas de

parede celular (MORAIS, 1992; VANHOLME et al.,

estudos

função

2019). Essa gama de constituintes e interações torna

primordial na adaptação dos vegetais aquáticos para

a lignina um componente complexo de ser estudado,

evolucionárias,

desempenhou

a sobrevivência e perpetuação em ambiente terrestre (NACZK & SHAHIDI, 2004).

principalmente no que diz respeito a sua constituição e propriedades químicas. Por isso, a tipificação e denominação da lignina de uma amostra pode variar

A lignina está naturalmente presente nas forragens

de acordo com o método de obtenção e a

em diferentes teores e composições, independente

caracterização química utilizados.

da apresentação do volumoso (pasto, silagem, feno ou resíduos agroindustriais). Na nutrição animal, a lignina é apresentada como uma substância não nutricional e indigestível, que atua como barreira física contra o ataque dos microrganismos sobre a parede celular vegetal. Além disso, sua ligação com carboidratos e proteínas os deixa indisponíveis para digestão e absorção animal (HALPIN, 2019).

A definição de lignina proposta por Lapierre (1993) é a mais utilizada nos estudos de nutrição animal, classificando-a como core ou não core, segundo a sua susceptibilidade à hidrólise e o material residual. A lignina não core é liberada da parede celular por hidrólise e formada por compostos fenólicos de baixo peso molecular que estão unidos aos polímeros da parede celular por ligações covalentes. Já a lignina

Sabe-se que a alimentação de ruminantes se baseia

core, é resistente à hidrólise e formada por

no consumo de forragem, seja como ingrediente da

compostos

ração ou fonte exclusiva de alimento. É por meio da

realizam

fermentação ruminal dos carboidratos, dentre eles os

compostos são divididos em três unidades básicas:

presentes na parede celular vegetal (celulose e

p-hidroxifenila (H), guaiacila (G) e siringila (S). Essas

hemiceluloses), que os ruminantes adquirem suas

unidades básicas constituem os três principais

principais fontes energéticas e proteicas para sua

monômeros da lignina core e são chamados de

sobrevivência e produção. Por reduzir o acesso

monolignóis. Percebe-se então que a lignina não

microbiano e enzimático e, consequentemente, a

core é mais suscetível às enzimas, então apresenta

fermentação ruminal dos carboidratos fibrosos, é

algum potencial de degradação (SALIBA et al.,

notável a influência da lignina na qualidade final da

2001). Por isso, a definição de lignina core ou não

dieta, na eficiência alimentar e no desempenho

core torna-se indicada para comparar o valor

animal. Logo, o trabalho de melhoramento genético

nutricional

das forragens tropicais e os avanços tecnológicos

características

que visam reduzir o teor de lignina e sua interação

composição

com os carboidratos fibrosos são oportunos para

existentes. Logo, os esforços para melhoria da

promover o melhor desempenho zootécnico e

digestibilidade

nutricional dos ruminantes em diferentes sistemas de

concentram em reduzir a quantidade de lignina core

alimentação.

e/ou modificar a sua composição de modo a deixá-la

8962

fenilpropanóides ligações

de

condensados

éster-interresistentes.

forragens

por

moleculares

química de

e

os

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.18, n.4, p.8961-8970, jul/ago, 2021. ISSN: 1983-9006

considerar

de

estrutura,

tipos

alimentos

que Esses

de

as a

ligações

lignificados

se


Artigo 542 - Lignina: caracterização, efeito e manipulação na nutrição de ruminantes

da tirosina em p-cumarato pelas enzimas fenilalanina

mais susceptível à hidrólise.

amonialiase (PAL), cinamato 4-hidroxilase (CH4) e a A

diferença

entre

os

monolignóis

está

nos

bifuncional

L-fenilalanina/L-tirosina

amônia-liase

grupamentos ligados ao anel aromático: siringila (S)

(PTAL). A partir de então, o p-cumarato é convertido

possui dois agrupamentos metóxi (-CH3O) nos

nos ácidos hidroxicinâmicos p-cumárico, cafeico,

carbonos três e cinco do anel; guaiacila (G) possui

ferúlico e sinapínico, os quais sofrem uma série de

um grupamento metóxi no carbono três; e p-

reações enzimáticas até a formação dos álcoois p-

hidroxifenila (H)

cumarílico, coniferílico e sinapílico (TAIZ & ZEIGER,

não possui esse grupamento

(FERREIRA, 2016). Os monômeros de guaiacila

2004; LIN et al., 2010; BARROS et al., 2019).

formam um esqueleto ramificado de estrutura mais condensada (JUNG & CASLER, 1991). Já os

Para a formação do álcool p-cumarílico ocorre uma

monômeros de siringila formam um esqueleto linear

sequência de reações de ligação, redução e

e uma estrutura menos condensada (RALPH et al.,

desidrogenação

2004). Salvo exceções, a lignina das gimnospermas

ligase (4CL), cinamoil-CoA redutase (CCR) e cinamil

são compostas principalmente pelo monômero G e

álcool desidrogenase (CAD). Para a formação dos

uma pequena participação do H, enquanto as

álcoois

angiospermas

principais reações enzimáticas, porém várias outras

dicotiledônias

são

formadas

por

são

unidades G e S (VANHOLME et al., 2010).

pelas

coniferílico

necessárias

enzimas

e

4-cumarato-CoA

sinapílico

para

estas

completar

o

são

as

processo

(BARROS et al., 2019). Precursores da lignina e processo de lignificação A biossíntese da lignina na célula vegetal avança em

Cada um desses álcoois formados representa um

sentido topoquímico radial e pode ser dividida em

monolignol (S, G ou H) e, uma vez formados, os

duas fases. A primeira é chamada de fase

monômeros são uniformemente distribuídos próximo

enzimática ou oxidação horizontal, caracterizada

a membrana plasmática e translocados do citosol

pela ação de diversas enzimas para a formação dos

para

a

parede

celular,

possivelmente

pela

precursores intermediários e finais da lignina no

desglicosidação dos monolignóis por β-glicosidases

citosol. A segunda fase é chamada de semi-

e

enzimática ou oxidação vertical, caracterizada pela

(BOERJAN et al., 2003). Outras teorias mais

menor

modernas defendem a translocação por meio de

ação

de

enzimas,

pela

oxidação

translocação

nas

formas

provenientes

4-O-glicosiladas

desidrogenativa dos monômeros e sua polimerização

vesículas

do complexo de Golgi

na parede celular.

(VANHOLME et al., 2010) ou pelos transportadores ATP-binding cassette (ABC) (TAIZ et al., 2017).

A biossíntese dos principais precursores da lignina

Ainda, Boija & Johansson (2006) sugerem que os

inicia-se na via do ácido chiquímico (RIPPERT et al.,

álcoois coniferílico e sinapílico têm a capacidade de

2009). Esta é uma via de metabólitos secundários

se difundirem através da membrana plasmática. Ao

que ocorre exclusivamente no metabolismo de

chegarem na parede celular, assim como os demais

microrganismos e plantas. O fosfoenolpiruvato,

monômeros, os monolignóis sofrem acoplamento

advindo da via glicolítica, e a eritrose-4-fosfato,

oxidativo e é iniciado o processo de polimerização

advinda da via das pentoses fosfato, entram na via

(TAIZ et al., 2017). Nesta fase, primeiro, os

cíclica do ácido chiquímico para a formação do

monolignóis sofrem oxidação catalisada por lacases

chiquimato como composto intermediário e do

e fenol-oxidases, criando dímeros, os quais são

corismato como produto final. O corismato pode ser

novamente oxidados a radicais fenólicos. Esses

utilizado em diferentes vias metabólicas, sobretudo

radicais se acoplam constituindo desidrodímeros em

para a síntese de aminoácidos aromáticos, como a

ligação covalente entre suas subunidades. Assim, o

fenilalanina, o triptofano e a tirosina (HERRMAN &

acoplamento

WEAVER,

A

individualmente até formar o polímero de lignina.

fenilalanina e a tirosina serão utilizadas na síntese

Como a estrutura final da lignina é dependente da

dos monolignóis. Essa síntese é feita na via dos fenil-

disponibilidade de cada monolignol e seu respectivo

propanóides por meio da conversão da fenilalanina e

radical fenólico, a polimerização ocorre de maneira alea-

1999;

BARROS

et

al.,

2016).

entre

radicais

fenólicos

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.18, n.4, p.8961-8970, maio/jun, 2021. ISSN: 1983-9006

ocorre

8963


Artigo 542 - Lignina: caracterização, efeito e manipulação na nutrição de ruminantes

tória e de acordo com a presença relativa de cada

o que confere maior poder de penetração. Por isso,

um deles, ao passo que também pode ser moldada

plantas com maior proporção dos monômeros G na

pelo tipo e concentração das enzimas presentes. Por

composição de sua lignina são mais susceptíveis à

exemplo, em gramíneas as peroxidases têm maior afinidade com radicais do álcool p-cumarílico do que radicais do álcool sinapílico (VANHOLME et al., 2010;

FERREIRA,

2016),

favorecendo

o

degradação, enquanto que aquelas com maior proporção do monômero S sãos menos degradáveis (JUNG

&

DEETZ,

1993).

O

teor

de

ácidos

acoplamento daquele. Devido a essa diferença de

hidroxicinâmicos (principalmente o ácido ferúlico)

enzimas presentes, angiospermas monocotiledônias

tem considerável influência na recalcitrância de

possuem maior concentração de p-hidroxifenila (H),

forrageiras, pois funcionam como pontes de ligação

ácido p-cumárico e ácido ferúlico quando comparado

covalentes entre os polímeros de carboidratos da

com as dicotiledôneas.

parede celular e a lignina (LAM et al., 2003).

Efeito da lignina na digestibilidade da fibra

Estudos sobre a composição da lignina em função

A resistência física e química da lignina a classifica

do estágio de maturação de gramíneas indicam que

como substância indigestível para a nutrição animal

há alteração na relação guaiacila/siringila. Buxton &

e, devido a sua forte ligação com a celulose e as

Russel

proteínas, estes nutrientes têm a digestibilidade

leguminosas em diferentes idades e observaram que

reduzida (TAIZ et al., 2017). Segundo Jung et al.

o avanço da idade de maturação favorece a maior

(1993) e RALPH (2010), os ácidos p-cumárico e

proporção

ferúlico

relaciona-se com a redução na digestibilidade e do

comportam-se

como

âncoras

e

ligam

fortemente os polímeros de lignina com a celulose e

(1988)

de

trabalharam

siringila,

o

com

que

gramíneas

e

provavelmente

valor nutritivo.

as hemiceluloses. Em estudo de digestibilidades in vitro e in vivo da FDN (fibra em detergente neutro)

Tecnologias aplicadas a fontes volumosas para

de vinte e três forrageiras e em diferentes estágios

melhoria da forragem

de maturação, Raffrenato et al. (2017) concluíram

Mutação brown midrib (bmr)

que os teores dos ácidos p-cumárico e ferúlico

Com a finalidade de melhorar o valor nutritivo e

tiveram correlação negativa com a digestibilidade e

aproveitamento da fibra de alimentos lignificados

correlação positiva com o teor de lignina, os quais

pelos ruminantes, algumas tecnologias podem ser

variaram de acordo com o genótipo da planta e as

aplicadas de acordo com a fonte volumosa. Uma

condições ambientais. Os autores relacionaram

destas tecnologias é a mutação brown midrib (bmr),

estas ocorrências com a existência das ligações do

em que as plantas mutantes são tipicamente

tipo éter e éster entre estes ácidos e os carboidratos

caracterizadas pelo menor conteúdo de lignina e

fibrosos da parede celular. A lignina, então, tem a

pela coloração vermelha amarronzada na nervura

capacidade de reduzir a ação hidrolítica de enzimas

central

e microrganismos ruminais sobre os carboidratos

descobertos seis loci (bm1, bm2, bm3, bmr-2, bmr-6

fibrosos devido às ligações inter-resistentes entre

e o bmr-12) que reduzem a atividade de enzimas

eles, resultando na menor degradabilidade da fibra

envolvidas na biossíntese dos precursores da

no rúmen, menor aproveitamento pelo ruminante e,

lignina, como a O-metiltransferase (OMT) e a CAD

consequentemente, no menor valor nutritivo do

(SATTLER et al., 2014; LI et al., 2015).

das

folhas

e

nos

colmos.

foram

alimento. Em pesquisas feitas com milho (Zea mays), sorgo Embora tenha maior número de ligações éter, o

(Sorghum bicolor spp.) e milheto (Pennisetum

monolignol G realiza ligações cruzadas e estrutura-

glaucum) os resultados agronômicos são variáveis e

se, tridimensionalmente, de forma reticulada, o que

com tendência de menor produtividade de matéria

dificulta

sua

penetração

na

parede

celular

secundária. O monolignol S, por sua vez, realiza apenas ligações simples e estrutura-se de forma linear 8964

seca. Porém, as avaliações nutricionais e de desempenho animal normalmente são favoráveis ao uso das plantas mutantes. A mutação bmr foi observada primeiramente em plantas de milho e é es-

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.18, n.4, p.8961-8970, jul/ago, 2021. ISSN: 1983-9006


Artigo 542 - Lignina: caracterização, efeito e manipulação na nutrição de ruminantes

tudada

até

resultados

menor valor de fibra em detergente ácido (FDA -

nutricionais positivos como demonstrado por Miller et

média de 38,4% x 37%). Ademais, em todos esses

al. (2020). Os autores descreveram maiores valores

trabalhos foram observadas reduções significativas

de

digestibilidade

do teor de lignina de aproximadamente 10 a 20%

aparente da FDN, taxa de passagem ruminal,

para as plantas bmr. Para Beck et al. (2013), as

produção de leite corrigido para gordura e teor de

diferenças entre os genótipos não são significantes

proteína no leite e menores valores de nitrogênio

em estágios iniciais de maturação, mas em estágios

ureico no leite para vacas alimentadas com dieta a

mais avançados as plantas mutantes possuem

base de silagem de milho bmr quando comparadas

significativa vantagem nutricional.

ingestão

hoje,

de

demonstrando

matéria

seca,

com vacas alimentadas com dieta a base de silagem Embora as pesquisas sobre a mutação bmr estejam

de milho convencional.

centradas em experimentos com sorgo, milho e A mutação bmr tem apresentado potencial de

milheto, essa tecnologia tem potencial para ser

mitigação de gás de efeito estufa na pecuária.

usada em diversas outras espécies de gramíneas

Hassanat et al. (2017) avaliaram o consumo,

utilizadas como fonte volumosa na alimentação dos

parâmetros ruminais, características produtivas e

ruminantes. Os principais problemas práticos de

produção de metano (CH4) em vacas da raça

campo que essa mutação pode causar são a

Holandês alimentadas com dieta contendo milho

suscetibilidade ao acamamento e a baixa resistência

convencional ou mutante para bmr. As vacas

ao pisoteio (CHERNEY et al., 1991). Casler et al.

aumentaram a produção de proteína e gordura do

(2003) sugerem que o loci bmr é influenciado por

leite quando alimentadas com milho mutante. O pH

fatores ambientais e por isso devem ser estudados

ruminal, o número de protozoários, a concentração

em diferentes condições.

total de ácidos graxos voláteis e as proporções molares de acetato e propionato foram semelhantes,

RNA de interferência (RNAi)

assim como a produção diária (g/dia) de CH4. Logo,

Além da mutação, tem sido realizada a técnica de

os animais alimentados com milho mutante tiveram

melhoramento de precisão intragênica por meio da

melhor desempenho e menor emissão de CH4 por

incorporação de RNA de interferência (RNAi) que

quilo de produto produzido.

causa supressão gênica na síntese de enzimas específicas envolvidas no processo de lignificação.

Atualmente,

as

a

Jung et al. (2016) demonstraram que o aumento da

mutação bmr focam no melhoramento genético do

eficiência de sacarificação aumentou em 52 e 76%

sorgo, pois este apresenta maiores teores de lignina

em duas linhagens transgênicas de cana-de-açúcar,

do que o milho. Vários trabalhos utilizam o sorgo

após a supressão das enzimas 4CL. Além disso,

para

e

obtiveram até 18% mais suco extraído quando

convencionais (OLIVERA et al., 2004; SABALLOS et

comparado com linhagens convencionais justificado

al., 2012; BECK et al., 2013; FERREIRA et al., 2015;

pela redução do conteúdo de lignina em até 16,5%

SÁNCHEZ-DUARTE et al., 2020). No geral, as

nas plantas transgênicas.

comparar

pesquisas

plantas

brasileiras

mutantes

sobre

bmr

produções de matéria seca e matéria seca digestível foram maiores para as plantas convencionais (20 x

A supressão da enzima CCR utilizando-se a mesma

13 tonMS/ha). Os parâmetros de stand e relação

técnica resultou na diminuição de 9 a 37% no

folha/colmo foram semelhantes. Já os valores de

conteúdo de lignina e no aumento de 15% na

digestibilidade aparente (54.4% x 40,8%) e in situ

digestibilidade ruminal em plantas transgênicas de

(76.4% x 70,4%) da FDN, de digestibilidade in vitro

milho e azevém (Lolium perenne), sem afetar a

da matéria seca (média de 56,6% x 55%), de

produtividade (TAMASLOUKHT et al., 2011; PARK

nutrientes digestíveis totais (NDT - 54.8% x 50,1%) e

et al., 2012). Segundo os autores, a inibição dessas

de produção de leite corrigida para 4% de gordura

duas enzimas reduziu a síntese dos três monolignóis

(33,7 kg/dia x 29,1 kg/dia) foram maiores para as

(G, S e H) sem alterar a relação G/S. Também pode-

plantas mutantes. Estas plantas também apresentaram

se usar essa técnica para reduzir a concentração de

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8965


Artigo 542 - Lignina: caracterização, efeito e manipulação na nutrição de ruminantes

apenas um ou dois desses monolignóis. TU et al. (2010) descreveram dramática mudança no teor e na composição da lignina em plantas de azevém no primeiro estágio reprodutivo (R1) ao suprimirem a expressão das enzimas OMT e CCR. Comparando-

observaram o aumento do potencial de degradação do material em 114,58% a 135,33% e da taxa de degradação em 198,12% e 59,26% para caprinos e ovinos, respectivamente. A digestibilidade in vitro da matéria seca aumentou de 42,59% para 73,86%.

se as hastes das plantas transgênicas com as das convencionais, houve reduções máximas de 41,8%

Outra opção alcalina é a amonização, largamente

no teor de guaiacila, 45,7% no teor de siringila e

aplicada em bagaço de cana-de-açúcar, capaz de

20,5% na relação S/G. Isso resultou no aumento de

solubilizar as hemiceluloses e aumentar o teor de

11,78 unidades percentuais na digestibilidade in vivo

nitrogênio total. Neste processo, aplica-se amônia

da matéria seca.

anidra gasosa, amônia líquida, amônia resultante da aplicação de ureia ou ainda a fibra de amônia

Pré-tratamento químico

expandida (ammonia-fiber expansion - AFEX) sobre

O pré-tratamento químico é amplamente utilizado para

melhorar

a

digestibilidade

de

resíduos

agroindustriais devido ao seu baixo custo, eficiência e praticidade. Estes resíduos são estrategicamente utilizados na alimentação de ruminantes devido ao favorável custo-benefício como fonte de fibra efetiva e alimento energético para as categorias menos exigentes,

como

novilhas

e

animais

em

confinamento para abate.

proporciona

a

hidrólise

das

hemiceluloses, reduz a cristalinidade estrutural da celulose e aumenta a porosidade da biomassa (SUN & CHENG, 2005), o que melhora a digestibilidade da parede celular. Geralmente usa-se o ácido diluído por conta dos custos mais acessíveis. Porém, os trabalhos descritos na literatura são inconsistentes e controversos

quanto

à

principais reações químicas: amoniólise e hidrólise alcalina. Na primeira reação ocorre a amoniólise das ligações

do

tipo

éster

entre

as

cadeias

de

hemiceluloses e celulose ou entre os carboidratos estruturais e a lignina. Na segunda reação ocorre a hidrólise alcalina das ligações do tipo éster ainda presentes nas fibras. Bals et al. (2010) observaram aumento de 206% na digestibilidade da FDN com o

O uso de ácido para o tratamento dos materiais lignificados

o material em sistema fechado e inicia-se duas

real

eficácia

do

pré-

tratamento ácido quanto ao consumo, produção e desempenho de animais leiteiros e de corte.

uso de AFEX e de 56% com amônia anidra em gramíneas da espécie Panicum Virgatum (switch grass). Griffith et al. (2016), utilizando a AFEX no pré-tratamento de palha de cevada, encontraram ganhos de 35% para a digestibilidade in vitro da matéria

seca

(DIVMS)

e

de

27%

para

a

digestibilidade in vitro da FDN, sem prejuízos de consumo. Além disso, o teor de proteína bruta do material tratado geralmente é maior devido à incorporação de nitrogênio durante as reações químicas do processo de amoniação. A AFEX mostra-se como a técnica de amoniação mais

Os ganhos no valor nutricional desses alimentos

vantajosa por oferecer maior segurança, facilidade

também

pré-

de transporte, capacidade de reciclagem e ausência

tratamento com álcalis. O mais utilizado é o

de efeitos prejudiciais à saúde relatados até o

hidróxido de sódio (NaOH), aplicado via solução por

momento, embora seja mais onerosa (ADESOGAN

imersão

et al., 2018).

podem

ou

ser

aspersão

potencializados

durante

pelo

alguns

dias

e

posteriormente lavado com água para retirar o álcali restante que não reagiu (JACKSON, 1977). Segundo este autor, o NaOH modifica a estrutura cristalina da celulose e promove sua expansão, além de causar a hidrólise de ligações do tipo éster existentes e solubilizar parcialmente as hemiceluloses, a lignina, a sílica e o ácido p-cumárico, o que foi diretamente associado ao aumento da digestibilidade. Gomes et al. (2015), trabalhando com bagaço de cana-deaçúcar integral e pré-tratado com hidróxido de sódio, 8966

Com

objetivos

voltados

para

a

produção

de

bioenergia, Assumpção et al. (2016) utilizaram o prétratamento combinado de ácido sulfúrico (1,45%), peróxido de hidrogênio (7,5%) e hidróxido de sódio (4%) em bagaço de cana-de-açúcar e obtiveram redução de 85,8% da lignina juntamente com 70,7% das hemiceluloses, mantendo preservada as cadeias de celulose. Este trabalho demonstra a eficácia do pré-tratamento combinado para a remoção da lignina

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Artigo 542 - Lignina: caracterização, efeito e manipulação na nutrição de ruminantes

no material. Possivelmente, outras combinações de

em 107% (P < 0,001) e a melhoria de 23,6% (P <

pré-tratamento

0,001) da digestibilidade ruminal in vitro da matéria

são

possíveis

e

passíveis

de

preservar mais as hemiceluloses.

seca às 72 horas de incubação, com produção de ácidos graxos voláteis 11,2% maior e aumento da

A maior parte dos trabalhos sobre pré-tratamentos

proporção acetato:propionato. Os menores teores de

são antigos e mostra-se uma prática menos

FDN e FDA, bem como a maior proporção de

explorada atualmente por causa das desvantagens

propionato:acetato

contribuiu

para

práticas que envolvem custos, a redução do

acumulação

hidrogênio

no

consumo

baixa

consequentemente, para a menor produção de

palatabilidade, alteração de pH e variação da

metano entérico (cerca de 30% a menos de metano

microbiota ruminal, o perigo à saúde humana

produzido por grama de matéria seca digestível).

durante

dos

a

animais

ocasionada

manipulação

dos

pela

químicos

de

a

menor

rúmen

e,

por

apresentarem natureza corrosiva e a poluição

No estudo com bagaço de cana, Yu et al. (2013)

ambiental (ADESOGAN et al., 2018). Todavia, novos

compararam o método liquid hot water (LHW) com

compostos químicos mais seguros à saúde humana

pré-tratamento químico ácido (HCl)

e animal, como por exemplo, a fibra de amônia

(NaOH) e avaliaram a produção de glicose e xilose.

expandida (ammonia-fiber expansion - AFEX) em

Todos os pré-tratamentos aumentaram a produção

substituição da amônia ou o hidróxido de cálcio (Ca

dos carboidratos. O teor de lignina Klason foi menor

(OH)2) e o óxido de cálcio (CaO) em substituição do

para NaOH (2,1%), intermediário para HCl (17,9%) e

NaOH podem ser utilizados com os mesmos

maior para LHW (19%) em comparação ao material

propósitos e com resultados semelhantes (SHRECK

original (21,3%) e, após 72 horas de hidrólise

et al., 2015; COOK et al., 2016). Mais estudos

enzimática, a recuperação total dos açúcares glicose

precisam ser feitos para comprovar a eficácia destes

e xilose seguiram o mesmo comportamento, com

e outras fontes alternativas de pré-tratamento.

77,3% para NaOH, 76,6% para HCl e 71,6% para

e alcalino

LHW. Liquid hot water Novas tecnologias que visam melhorar a qualidade

CONSIDERAÇÕES FINAIS

de fontes volumosas ricas em fibras lignificadas

A lignina é um composto natural das forragens e as

estão sendo desenvolvidas e testadas. O liquid hot

ligações

water é um processo de cozimento, geralmente em

monômero

temperaturas entre 160 e 190°C a pH entre 4 e 7, o

resistência microbiológicas. Na nutrição animal, é um

qual desfaz a matriz celulose-hemiceluloses-lignina

fator antinutricional, reduz a eficiência fermentativa

e melhora a digestibilidade do material. Requer

no rúmen e a produtiva. Algumas estratégias têm

maior investimento, porém tem como principal

sido estudadas e utilizadas para reduzir o teor de

vantagem a exclusão de agentes químicos perigosos

lignina e/ou modificar sua composição, a fim de

à saúde e ao meio ambiente.

aumentar a digestibilidade do alimento, seu valor nutritivo

existentes

e

estabelecem

e,

a

proporção sua

de

cada

característica

consequentemente,

de

melhorar

o

Estudos de digestibilidade e aproveitamento da

desempenho animal. Mais trabalhos sobre o assunto

energia de fontes volumosas lignificadas já foram

devem ser realizados utilizando mais espécies de

testadas e os resultados foram positivos, dentre elas

gramíneas para fins zootécnicos. de ácidos graxos por estes já estarem presentes na dieta (METZ, 2009).

a palhada de milho (MOSIER et al., 2005), palha de trigo (PÉREZ et al., 2008) e bagaço de cana (YU et al., 2013). Os benefícios do liquid hot water vão além da melhoria da digestibilidade. Zhang et al. (2019)

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Exercício aeróbico de longa duração em peixes pode otimizar o crescimento Revista Eletrônica

Exercício aeróbico, peixes, crescimento, metabolismo, criação. *

Vol. 18, Nº 04, jul/ago de 2021 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Anderson Ferreira Santana¹ Gesyane Bentos França² Frederico Antonio Basmage Vasconcelos³ 4 Silvia Prestes dos Santos 5 Claucia Aparecida Honorato 1

Acadêmico do curso de engenharia de aquicultura, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). *E-mail: andersonferreirasantana@gmail.com. 2 Acadêmica do curso de engenharia de aquicultura, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). 3 Academico do mestrado em zootecnia, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). 4 Academica do mestrado em zootecnia, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). 3 Professora Doutora do curso de Engenharia de aquicultura, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

RESUMO Peixes são ideais para a realização de exercício contínuo por dias, possibilitando o estudo de seus

LONG-TERM AEROBIC EXERCISE IN FISH CAN OPTIMIZE GROWTH

efeitos por longos períodos em associação ao uso de

ABSTRACT

dietas variáveis. O exercício pode contribuir para a

Fish are ideal for continuous exercise for days,

criação mais eficiente de peixes melhorando seu

making it possible to study its effects over long

crescimento, FCA, sobrevivência e reduzindo o seu

periods in association with variable diets. Exercise

comportamento

e

can contribute to more efficient rearing of fish by

protocolo de exercício aeróbico bem estabelecidos

improving their growth, FCF, survival and reducing

podem promover maiores taxas de crescimento. O

their aggressive behavior. Well established balanced

projeto se propõe a otimização do desempenho de

diets and aerobic exercise protocols can promote

pacu sob exercício aeróbico submetido a regimes

higher growth rates. The project aims to optimize the

variados de carboidratos e lipídios, o objetivo será

performance

atingido com o exercício em velocidade ideal,

subjected to varying carbohydrate and lipid regimes.

determinada

The objective will be achieved by exercising at

agressivo.

através

zootécnico,

das

Dieta

do

respostas

seu

balanceada

desempenho

metabólicas,

das

of

pacu

under

aerobic

exercise

optimal speed, determined through their zootechnical

respostas digestivas enzimáticas, dos níveis de

performance,

carboidratos e lipídios da dieta e das atividades de

enzymatic responses, dietary carbohydrate and lipid

enzimas do metabolismo. O projeto em

dois

levels, and metabolism enzyme activities. The

experimentos, ao longo de 60 dias cada, utilizando

project in two experiments, over 60 days each, using

pacus

por

juvenile pacu individually monitored by electronic

marcação eletrônica. No primeiro será determinada a

tagging. In the first, the optimal exercise speed will

velocidade ideal do exercício, no segundo, sob essas

be determined, and in the second, under these pre-

condições

established conditions, the fish will be evaluated in

juvenis

monitorados

pré-estabelecidas,

individualmente

os

peixes

serão

metabolic

responses,

avaliados em resposta a situações distintas de

response to different feeding situations.

alimentação.

Keyword:

Palavras-chave:

exercício

aeróbico,

peixes,

aerobic

exercise,

fish,

digestive

growth,

metabolism, rearing.

crescimento, metabolismo, criação.

8971


Artigo 543 - Exercício aeróbico de longa duração em peixes pode otimizar o crescimento

INTRODUÇÃO

pesquisa PEIXE BR, destacam-se ainda carpas e tru-

O exercício moderado de longa duração é um

tas representando 4,6%.

procedimento que pode contribuir significativamente para a criação mais eficiente de peixes. Esta prática melhora o crescimento, as taxas de conversão alimentar,

adapta

as

respostas

fisiológicas

e

bioquímicas em favor do crescimento, aumenta as taxas de sobrevivência e diminui o comportamento agressivo de diversas espécies (DAVISON, 1997; SHANGAVI & WEBER, 1999; YOGATA & OKU, 2000;

AZUMA

et

al.,

2002;

HACKBARTH

&

MORAES, 2006). Em outras palavras, não somente uma dieta balanceada é capaz de influenciar sobre o comportamento, a integridade estrutural, a saúde, as funções fisiológicas, a reprodução e o crescimento dos

peixes:

o

exercício

pode

contribuir

significativamente para o crescimento em menor tempo quando comparados espécimes que se

Entretanto, ainda pouco se sabe sobre a capacidade natatória e a resposta ao crescimento de peixes neotropicais expostos ao exercício de longa duração. Portanto, objetiva-se com essa breve revisão o exercício aeróbico de longa duração em peixes neotropicais. O exercício de natação aeróbico, que também pode ser chamado de exercício de longa duração

ou

caracterizado

de

resistência,

pela

é

utilização

do

um

exercício

metabolismo

aeróbico, que pode contribuir significativamente para a criação mais eficiente de peixes, podendo ser mantido por longos períodos sem resultar em fadiga e acúmulo de lactato (JOBLING, 1994; DAVISON, 1997; HOLK & LYKKEBOE, 1998; AZUMA et al., 2002).

exercitam com não exercitados (YOUNG & CECH

Como os peixes são capazes de realizar exercício

JR., 1994; DAVISON, 1997; YOGATA & OKU, 2000;

contínuo, tornam-se ideais para o estudo dos efeitos

OGATA & OKU, 2000; AZUMA et al., 2002;

do exercício por longos períodos, em combinação

HAKCBARTH & MORAES, 2006). Como os peixes

com dietas contendo níveis variáveis de energia,

são capazes de realizar exercício contínuo por dias

influenciando sobre o comportamento, a integridade

ou meses, tornam-se ideais para o estudo dos

estrutural, a saúde, as funções fisiológicas, a

efeitos do exercício por longos períodos, em

reprodução e o crescimento dos peixes, contribuindo

combinação com dietas contendo níveis variáveis de

para o crescimento em menor tempo quando

energia. A sustentabilidade tem se tornado cada vez

comparados espécimes que se exercitam com não

mais discutida dentro da aquicultura. Devido a

exercitados (YOUNG & CECH JR., 1994; DAVISON,

demanda na produção de peixes há um grande

1997; YOGATA & OKU, 2000; OGATA & OKU, 2000;

interesse em otimizar as condições de cultivo sem

AZUMA et al., 2002; HAKCBARTH & MORAES,

prejudicar o bem-estar e saúde desses animais

2006).

(PALSTRA, 2014). Os peixes criados em altas densidades ou em baixo fluxo de água não exibem

As diferenças no crescimento de peixes exercitados

completamente

natação,

ocorrem de acordo com a espécie e com o tipo de

prejudicando o seu comportamento natural. Sendo

o

treinamento realizado. Mesmo peixes considerados

assim, estão sendo aplicados exercícios de natação

sedentários, com pouca habilidade natatória, podem

em velocidade de forma não invasiva e econômica

ser beneficiados pelo exercício (OGATA & OKU,

que podem resultar no aumento do crescimento

2000).

desses

velocidades ótimas (30-60% da velocidade máxima

espécimes

seu

potencial

criados

em

nessas

condições

(PALSTRA & PLANAS, 2011).

Quando

os

peixes

são

exercitados

a

que eles podem atingir) geralmente apresentam boas taxas de conversão alimentar, bem como peso

A piscicultura brasileira produziu 697 mil toneladas

e comprimento maiores do que aqueles peixes

de peixes de cultivo no ano de 2017 onde representa

mantidos em ambientes de águas estacionárias

51,7% da piscicultura nacional, é 8% superior ao ano

(JOBLING, 1993; YOUNG & CECH JR., 1994;

de 2016 (Associação Brasileira da Piscicultura,

JOBLING, 1994; DAVISON, 1997; YOGATA & OKU,

PEIXE BR), sendo a tilápia a principal espécie. Em

2000; OGATA & OKU, 2000; AZUMA et al., 2002;

segunda

BUGEON et al., 2003; ARBELÁEZ-ROJAS, 2007).

posição

temos

os

nativos

onde

representam 43,7% da produção, de acordo com a 8972

Existem algumas espécies que também respondem

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Artigo 543 - Exercício aeróbico de longa duração em peixes pode otimizar o crescimento

positivamente quando o exercício é interrompido,

do exercício, permitindo maior síntese proteica e

obtendo-se ganho de peso mesmo no período em

aumentando o catabolismo lipídico e glicídico, o que

que não se exercitam (DAVISON, 1997; BUGEON et

favorece o crescimento (DAVISON, 1997; MOYES &

al., 2003).

WEST, 1995; WOOD, 2001; RICHARDS et al., 2002; HACKBARTH

A

oxidação

dos

lipídeos

contribui

para

o

ROJAS,

&

MORAES,

2006;

2007).

Matrinxãs

(Brycon

ARBELÁEZcephalus)

metabolismo energético de muitos tecidos, inclusive

exercitados por 72 dias, a velocidade de 1cc/seg,

dos músculos (VAN DEN THILLART & AMP; VAN

apresentaram

RAAJI, 1995; WEBER & AMP; HAMAN, 1996). De

alimentar e de crescimento, com ganho de peso

acordo

superior a 38% (HACKBARTH & MORAES, 2006).

com

Weber

&

amp;

Haman

(1996),

melhores

taxas

de

conversão

provavelmente o exercício aeróbico permite tanto um

Também

aumento da mobilização de TGL e AGL através do

oxidar lipídios e carboidratos, com catabolismo

plasma para os tecidos requisitados, como da sua

superior a 40% e 15%, respectivamente, ao mesmo

oxidação nas mitocôndrias das células musculares.

tempo em que apresentaram maior efeito poupador

O exercício aeróbico, que também pode ser chamado de exercício de longa duração ou de resistência, é caracterizado pela utilização do metabolismo aeróbico, podendo ser mantido por longos períodos, de dias até meses, sem resultar em fadiga e acúmulo de lactato (JOBLING, 1994; DAVISON, 1997; HOLK & LYKKEBOE, 1998; AZUMA

et

al.,

2002).

Diversos

peixes

têm

apresentado melhores taxas de crescimento quando expostos a este tipo de atividade, como salmões (Salmo salar, Onchorhynchus masou masou), trutas (Salmo truta, Oncorhynchus mykiss), “striped bass” (Morone saxatilis), “red sea bream” (Pagrus major) e “yellowtail” (Seriola quinqueradiata) (YOUNG & CECH JR., 1994; DAVISON, 1997; YOGATA & OKU, 2000; OGATA & OKU, 2000; AZUMA et al., 2002). Entretanto, ainda pouco se sabe sobre a

apresentaram

maior

capacidade para

de proteína, com acréscimo no conteúdo proteico e de

aminoácidos

superior

a

30%

e

16%,

respectivamente. Em outro estudo realizado com matrinxãs

(Brycon

amazonicus)

exercitados

a

1cc/seg, observou-se melhores taxas de crescimento e de conversão alimentar, maior oxidação de lipídios e carboidratos (40% e 15%) e maior síntese de proteína

muscular

(30%)

(ARBELÁEZ-ROJAS,

2007). Ainda neste estudo, o autor deixa claro que boas taxas de crescimento dependem da velocidade em que os peixes se exercitam, pois ao se exercitarem a 1,0 e 1,5 cc/s, apresentaram melhores taxa de crescimento e, quando nadaram a 2,0 cc/s apresentaram respostas de crescimento similares ao grupo sem exercício. Isto mostra a importância em se determinar a velocidade correta para a execução da atividade de longa duração para cada espécie.

capacidade natatória e a resposta ao crescimento de

Já que o exercício de longa duração favorece o

peixes neotropicais expostos ao exercício de longa

crescimento ao permitir que o peixe metabolize

duração.

melhor o alimento ofertado, sua execução poderia

Quando um peixe é exercitado a velocidades moderadas, o maior crescimento não se deve a um maior consumo de alimento, mas sim, à sua capacidade de converter melhor o alimento ingerido, utilizando-o para crescer e não para manter sua dominância sobre outros peixes. Com o exercício, a ração também é melhor distribuída e os peixes crescem mais uniformemente (JOBLING, 1994; WOOD, 2001; HACKBARTH & MORAES, 2006; ARBELÁEZ-ROJAS, 2007). Quando realizada sem interrupções,

esta

atividade

reorganiza

metabolismo poupando gastos extras provenientes

o

contribuir para diminuir um problema enfrentado no cultivo de peixes, o qual está relacionado aos gastos com alimentos. Estes representam de 50 a 70% dos custos de produção, e uma significativa redução nesta porcentagem pode ser alcançada através da utilização de ingredientes de alta qualidade, do uso de técnicas eficazes de processamento das rações e da aplicação de estratégias na alimentação e na criação (KUBITZA, 1998). O exercício aeróbico poderia desta forma, auxiliar no aproveitamento da dieta proporcionando maior crescimento em menor tempo, já que com sua realização os peixes aumentam o consumo de fontes não-proteicas.

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Artigo 543 - Exercício aeróbico de longa duração em peixes pode otimizar o crescimento

Sabe-se que os peixes obtêm energia através do

A oxidação dos lipídeos contribui para o metabolismo

metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas,

energético de muitos tecidos, inclusive dos músculos

sendo os açúcares a fonte mais econômica das três.

(VAN DEN THILLART & VAN RAAJI, 1995; WEBER

Entretanto, algumas espécies têm mais habilidade

& HAMAN, 1996). De acordo com Weber & Haman

em digeri-los do que outras (KUBITZA,1998; MOON

(1996), provavelmente o exercício aeróbico permite

& FOSTER, 1995; LEE et al., 2003). Por isso é de

tanto um aumento da mobilização de TGL e AGL

suma importância determinar quais os níveis de

através do plasma para os tecidos requisitados,

exigência de carboidratos para cada espécie, pois

como da sua oxidação nas mitocôndrias das células

tanto altas como baixas concentrações na dieta

musculares. Entretanto, algumas espécies podem

inibem a ingestão de alimentos, acarretam a

mobilizar lipídios mais que outras (WEBER &

deposição de gordura corporal e favorecem o

HAMAN,

catabolismo proteico (LEE et al., 2003), prejudicando

BERNARD et al., 1999; YOGATA & OKU, 2000;

o crescimento e encarecendo o cultivo. Outro ponto

OGATA & OKU, 2000).

importante

é

que

os

carboidratos

1996;

FORSTER

&

OGATA,

1996;

também

proporcionam uma ação poupadora da proteína,

Com relação às proteínas, pode-se afirmar que o

podendo esta ser direcionada ao crescimento e não

organismo dos peixes apresenta uma preferência

à

marcante por essas biomoléculas, e a quantidade de

manutenção

energética

(TACON,

1989;

aminoácidos requerida está relacionada diretamente

LUNDSTEDT, 2003).

ao seu estado nutricional variando de acordo com a Os lipídios são considerados a principal fonte de

espécie (MOYES & WEST, 1995). Entretanto, o

energia não proteica para os peixes, particularmente

ajuste dos níveis de proteína da dieta aos mínimos

os ácidos graxos livres derivados de gorduras e

exigidos reflete-se em redução na emissão de

óleos (TACON, 1989; VAN DEN THILLART & VAN

compostos nitrogenados para o ambiente e na

RAAJI,

economia

1995;

WEBER

&

HAMAN,

1996),

dos

recursos

disponíveis,

pois

a

contribuindo para o metabolismo energético de

substituição da energia proteica da dieta pela

muitos tecidos. Kim & Lee (2005) acreditam que os

energia dos lipídeos e/ou carboidratos pode resultar

lipídios são boas fontes de energia não-proteica

em maior produção por unidade consumida de fontes

quando comparadas aos carboidratos por serem

proteicas de alto custo (HILLESTAD et al., 2001). É

nutrientes

por isso que a fração proteica da dieta não é apenas

de

energia

densa,

mais

facilmente

um componente decisivo para a sua qualidade, mas

metabolizada pelos peixes.

também determina os custos de elaboração da ração No exercício de longa duração em peixes a

(KUBITZA et al., 1998; KIM & LEE, 2005).

contribuição dos lipídeos e dos carboidratos torna-se e

O exercício aeróbico de longa duração melhora o

favorecendo o efeito poupador de proteína (MOYES

aproveitamento das proteínas, direcionando-as para

& WEST, 1995; FORSTER & OGATA, 1996;

o crescimento e não para o catabolismo. Wood

WEBER & HAMAN, 1996; DAVISON, 1997; OGATA

(2001)

& OKU, 2000; RICHARDS et al., 2002; WOOD,

velocidades moderadas, a contribuição da oxidação

2001). Os carboidratos são essenciais para o

proteica permanece a mesma, ou em alguns casos

metabolismo de todos os vertebrados, entretanto, a

pode até diminuir, já que não seria lógico utilizar a

intensidade do exercício e a disponibilidade de

própria

oxigênio determinam a preferência metabólica (VAN

demanda energética. Durante o exercício de longa

DEN THILLART & VAN RAAJI, 1995). A eventual

duração

dificuldade dos peixes em utilizar os açúcares como

carboidratos

fonte energética é suprida pela sua capacidade em

síntese proteica ao invés de degradação, o que

utilizar outros precursores para manter a glicemia,

favorece o crescimento dos peixes (DAVISON, 1997;

como lactato, aminoácidos, glicerol e frutose (MOON

WOOD, 2001). Tais resultados podem ser vistos em

& FOSTER, 1995), porém, o papel dos carboidratos

trabalhos realizados com trutas arco-íris e matrinxãs

é muito menor quando comparado ao dos lipídios e

(RICHARDS et al., 2002; HACKBARTH & MORAES,

das proteínas (MOYES & WEST, 1995).

2006; ARBELÁEZ-ROJAS, 2007), onde as proteínas

maior,

8974

resultando

em

maior

crescimento

afirma

que

maquinaria a

em

peixes

metabólica

contribuição torna-se

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dos

maior,

exercitados

para

suprir

lipídios permitindo

e

a

a dos

maior


Artigo 543 - Exercício aeróbico de longa duração em peixes pode otimizar o crescimento

duração favorece o crescimento ao permitir que o

exibem papel menor como substrato energético.

peixe metabolize melhor o alimento ofertado, sua Como a comercialização de pescado vem se

execução poderia contribuir para diminuir um

tornando

promissor,

problema enfrentado no cultivo de peixes, o qual

apresentando uma produção mundial superior a 128

está relacionado aos gastos com alimentos. Estes

milhões de toneladas em 2001 (FAO, 2002), é

representam de 50 a 70% dos custos de

importante que sejam desenvolvidas técnicas e que

produção, e uma significativa redução nesta

se aprimorem aquelas que já estão em vigor para

porcentagem pode ser alcançada através da

que o Brasil se torne proeminente na produção de

utilização de ingredientes de alta qualidade, do

pescado, visto seu potencial aquícola. O Brasil

uso de técnicas eficazes de processamento das

contribui com menos de 0,5% da produção mundial

rações

(FAO, 1999), o que o coloca como 24.º produtor

alimentação e na criação (KUBITZA, 1998). O

mundial de pescado (INSTITUTO DE PESCA, 2003).

exercício aeróbico poderia, desta forma, auxiliar

Por isso é fundamental que se estabeleçam as

no aproveitamento da dieta proporcionando maior

bases fisiológicas e bioquímicas do exercício, bem

crescimento em menor tempo, já que com sua

como

realização os peixes aumentam o consumo de

um

as

mercado

respostas

comportamento

frente

de a

muito

crescimento diferentes

e

de

regimes

e

da

aplicação

de

estratégias

na

fontes não-proteicas.

alimentares, em espécies promissoras como o pacu, permitindo assim uma visão mais completa das suas

Quando os peixes são exercitados a velocidades

necessidades

suas

ótimas (30-60% da velocidade máxima que eles

condições de cultivo e ampliando as margens de

podem atingir) geralmente apresentam boas

rendimento.

taxas de conversão alimentar, bem como peso e

orgânicas,

favorecendo

comprimento maiores do que aqueles peixes A sustentabilidade tem se tornado cada vez mais

mantidos em ambientes de águas estacionárias

discutida dentro da aquicultura. Devido a demanda

(JOBLING, 1993; YOUNG & CECH JR., 1994;

na produção de peixes há um grande interesse em

JOBLING, 1994; DAVISON, 1997; YOGATA &

otimizar as condições de cultivo sem prejudicar o

OKU, 2000; OGATA & OKU, 2000; AZUMA et al.,

bem-estar e saúde desses animais (PALSTRA,

2002; BUGEON et al., 2003; ARBELÁEZ-ROJAS,

2014). Os peixes criados em altas densidades ou em

2007). Existem algumas espécies que também

baixo fluxo de água não exibem completamente o

respondem positivamente quando o exercício é

seu potencial em natação, prejudicando o seu

interrompido, obtendo-se ganho de peso mesmo

comportamento natural. Sendo assim, estão sendo

no período em que não se exercitam (DAVISON,

aplicados exercícios de natação em velocidade de

1997; BUGEON et al., 2003).

forma não invasiva e econômica que podem resultar no aumento do crescimento desses espécimes

Quando um peixe é exercitado a velocidades

criados

moderadas, o maior crescimento não se deve a

nessas

condições

(PALSTRA

&

um maior consumo de alimento, mas sim, à sua

PLANAS, 2011).

capacidade de converter melhor o alimento EXERCÍCIO DE NATAÇÃO EM PEIXES

ingerido, utilizando-o para crescer e não para

O exercício de natação em peixes pode ser baseado

manter sua dominância sobre outros peixes. Com

em dois métodos principais: resistência, onde é

o exercício, a ração também é melhor distribuída

medido o tempo em que o peixe pode nadar

e

continuamente contra uma velocidade de água

(JOBLING, 1994; WOOD, 2001; HACKBARTH &

constante. E mais recentemente o exercício por meio

MORAES,

da velocidade de transição (DRUCKER, 1996),

Quando

colocando-se o peixe em um túnel de água e nada

atividade reorganiza o metabolismo poupando

contra uma velocidade aumentada. Essas técnicas

gastos

têm-se

permitindo maior síntese proteica e aumentando o

mostrado

um

forte

coadjuvante

no

crescimento dos peixes. Já que o exercício de longa

os

peixes

crescem

2006;

uniformemente

ARBELÁEZ-ROJAS,

realizada extras

mais

sem

interrupções,

provenientes

do

2007). esta

exercício,

catabolismo lipídico e glicídico, o que favorece o

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.18, n.4, p.8971-8980, jul/ago, 2021. ISSN: 1983-9006

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Artigo 543 - Exercício aeróbico de longa duração em peixes pode otimizar o crescimento

crescimento (DAVISON, 1997; MOYES & WEST,

crescimento em menor tempo, já que com sua

1995; WOOD, 2001; RICHARDS et al., 2002;

realização os peixes aumentam o consumo de fontes

HACKBARTH

não-proteicas..

&

MORAES,

2006;

ARBELÁEZ-

ROJAS, 2007).

Sabe-se que os peixes obtêm energia através do

Infelizmente, os protocolos de exercício aeróbico de

metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas,

longa duração não estão disponíveis para peixes

sendo os açúcares a fonte mais econômica das três.

neotropicais,

Entretanto, algumas espécies têm mais habilidade

existentes com matrinxã (HACKBARTH & MORAES,

em digeri-los do que outras (KUBITZA,1998; MOON

2006).

matrinxãs

& FOSTER, 1995; LEE et al., 2003). Por isso é de

exercitados a 1 cc/seg por 72 dias (HACKBARTH &

suma importância determinar quais os níveis de

MORAES, 2006) apresentaram maior capacidade

exigência de carboidratos para cada espécie, pois

em oxidar lipídios e carboidratos, com catabolismo

tanto altas como baixas concentrações na dieta

superior a 40% e 15% respectivamente, ao mesmo

inibem a ingestão de alimentos, acarretam a

tempo em que aumentaram o conteúdo de proteínas

deposição de gordura corporal e favorecem o

salvo

Pôde-se

pelos

poucos

observar

que

trabalhos os

e de aminoácidos muscular em 30% e 16%, respectivamente. Em outro estudo realizado com a mesma espécie exercitados a 1cc/seg, observou-se melhores taxas de crescimento e de conversão alimentar, maior oxidação de lipídios e carboidratos (40% e 15%) e maior síntese de proteína muscular (30%) (ARBELÁEZ-ROJAS, 2007). Ainda neste estudo, o autor deixa claro que boas taxas de crescimento dependem da velocidade em que os peixes se exercitam, pois ao se exercitarem a 1,0 e 1,5

cc/seg,

apresentaram

melhores

taxa

de

crescimento e, quando nadaram a 2,0 cc/seg apresentaram respostas de crescimento similares ao grupo sem exercício. Isto mostra a importância em se determinar a velocidade correta para a execução da atividade de longa duração para cada espécie.

catabolismo proteico (LEE et al., 2003), prejudicando o crescimento e encarecendo o cultivo. Outro ponto importante

é

que

os

carboidratos

também

proporcionam uma ação poupadora da proteína, podendo esta ser direcionada ao crescimento e não à

manutenção

energética

(TACON,

1989;

LUNDSTEDT, 2003). Os lipídios são considerados a principal fonte de energia não proteica para os peixes, particularmente os ácidos graxos livres derivados de gorduras e óleos (TACON, 1989; VAN DEN THILLART & VAN RAAJI,

1995;

WEBER

&

HAMAN,

1996),

contribuindo para o metabolismo energético de muitos tecidos. Kim & Lee (2005) acreditam que os lipídios são boas fontes de energia não-proteica quando comparadas aos carboidratos por serem

Já que o exercício de longa duração favorece o

nutrientes

de

energia

densa,

mais

facilmente

metabolizada pelos peixes.

crescimento ao permitir que o peixe metabolize melhor o alimento ofertado, sua execução poderia

No exercício de longa duração em peixes a

contribuir para diminuir um problema enfrentado no

contribuição dos lipídeos e dos carboidratos torna-se maior, resultando em maior crescimento e

cultivo de peixes, o qual está relacionado aos gastos com alimentos. Estes representam de 50 a 70% dos custos de produção, e uma significativa redução

favorecendo o efeito poupador de proteína (MOYES & WEST, 1995; FORSTER & OGATA, 1996; WEBER

nesta porcentagem pode ser alcançada através da

& HAMAN, 1996; DAVISON, 1997; OGATA & OKU,

utilização de ingredientes de alta qualidade, do uso

2000; RICHARDS et al., 2002; WOOD, 2001). Os carboidratos são essenciais para o metabolismo de

de técnicas eficazes de processamento das rações e da aplicação de estratégias na alimentação e na criação (KUBITZA, 1998). A

INFLUÊNCIA

DO

EXERCÍCIO

NA

ALIMENTAÇÃO DOS PEIXES O

exercício

aeróbico

poderia

a preferência metabólica (VAN DEN THILLART & VAN RAAJI, 1995). A eventual dificuldade dos peixes em utilizar os açúcares como fonte energética é

auxiliar

aproveitamento da dieta proporcionando maior 8976

todos os vertebrados, entretanto, a intensidade do exercício e a disponibilidade de oxigênio determinam

no

suprida pela sua capacidade em utilizar outros precursores para manter a glicemia, como lactato,

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aminoácidos, glicerol e frutose (MOON & FOSTER,

tos torna-se maior, permitindo maior síntese proteica

1995), porém, o papel dos carboidratos é muito

ao invés

menor quando comparado ao dos lipídios e das

crescimento dos peixes (DAVISON, 1997; WOOD,

proteínas (MOYES & WEST, 1995).

2001). Tais

de degradação, o que favorece resultados

podem

ser

vistos

o em

trabalhos realizados com trutas arco-íris e matrinxãs A

oxidação

dos

lipídeos

contribui

para

o

(RICHARDS et al., 2002; HACKBARTH & MORAES,

metabolismo energético de muitos tecidos, inclusive

2006; ARBELÁEZ-ROJAS, 2007), onde as proteínas

dos músculos (VAN DEN THILLART & VAN RAAJI,

exibem papel menor como substrato energético.

1995; WEBER & HAMAN, 1996). De acordo com Weber & Haman (1996), provavelmente o exercício

Como a comercialização de pescado vem se

aeróbico permite tanto um aumento da mobilização

tornando

de TGL e AGL através do plasma para os tecidos

apresentando

requisitados,

como

da

sua

oxidação

um

mercado uma

muito

produção

promissor,

global

aquícola

nas

(incluindo plantas aquáticas) foi de 110,2 milhões de

mitocôndrias das células musculares. Entretanto,

toneladas em 2018 (SOPIA, 2018), é importante que

algumas espécies podem mobilizar lipídios mais que

sejam desenvolvidas técnicas e que se aprimorem

outras (WEBER & HAMAN, 1996; FORSTER &

aquelas que já estão em vigor para que o Brasil se

OGATA, 1996; BERNARD et al., 1999; YOGATA &

torne proeminente na produção de pescado, visto

OKU, 2000; OGATA & OKU, 2000).

seu potencial aquícola. O crescimento anual da produção aquícola já não registra taxas tão altas

Com relação às proteínas, pode-se afirmar que o

quanto na década de 80 e 90. O índice caiu para

organismo dos peixes apresenta uma preferência

5,8% durante o período de 2001-2016, contudo,

marcante por essas biomoléculas, e a quantidade de

ainda é o setor que mais cresce (FAO, 2018), o que

aminoácidos requerida está relacionada diretamente

o coloca como 16º lugar, respondendo por 0,55% do

ao seu estado nutricional variando de acordo com a

total mundial. produtor mundial de pescado (PLANO

espécie (MOYES & WEST, 1995). Entretanto, o

MUNICIPAL

ajuste dos níveis de proteína da dieta aos mínimos

PISCICULTURA

exigidos reflete-se em redução na emissão de

fundamental

compostos nitrogenados para o ambiente e na

fisiológicas e bioquímicas do exercício, bem como as

economia

a

respostas de crescimento e de comportamento frente

substituição da energia proteica da dieta pela

a diferentes regimes alimentares, em espécies

energia dos lipídeos e/ou carboidratos pode resultar

promissoras como o pacu, permitindo assim uma

em maior produção por unidade consumida de

visão

fontes proteicas de alto custo (HILLESTAD et al.,

orgânicas, favorecendo suas condições de cultivo e

2001). É por isso que a fração proteica da dieta não

ampliando as margens de rendimento.

dos

recursos

disponíveis,

pois

mais

DE que

DESENVOLVIMENTO

2018 se

completa

-

2020).

Por

estabeleçam

das

suas

DA

isso

as

é

bases

necessidades

é apenas um componente decisivo para a sua qualidade, mas também determina os custos de

CONSIDERAÇÕES FINAIS

elaboração da ração (KUBITZA et al., 1998; KIM &

O desempenho dos peixes sob exercício aeróbico de

LEE, 2005).

longa duração é eficiente e contribui de maneira significativa para criação, o exercício aeróbico

O exercício aeróbico de longa duração melhora o

melhora o aproveitamento de proteínas, contribuindo

aproveitamento das proteínas, direcionando-as para

para oxidação proteica, lipídeos e carboidratos, o

o crescimento e não para o catabolismo. Wood

que permite uma maior síntese proteica o que

(2001)

a

favorece para o crescimento dos peixes, melhorando

velocidades moderadas, a contribuição da oxidação

seu crescimento, taxas de conversão alimentar,

proteica permanece a mesma, ou em alguns casos

sobrevivência e reduzindo o seu comportamento

pode até diminuir, já que não seria lógico utilizar a

agressivo.

própria

a

seu crescimento, taxas de conversão alimentar,

demanda energética. Durante o exercício de longa

sobrevivência e reduzindo o seu comportamento

duração a contribuição dos lipídios e dos carboidra-

agressivo.

afirma

que

maquinaria

em

peixes

metabólica

exercitados

para

suprir

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.18, n.4, p.8971-8980, jul/ago, 2021. ISSN: 1983-9006

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