NutriTime Revista Eletrônica n. 02 vol. 14 2017

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Editora Responsável: Juliana Maria Freitas Teixeira Brito Editor Científico: Júlio Maria Ribeiro Pupa Editora Técnica: Rosana Coelho de Alvarenga e Melo Cláudio José Borela Espeschit Evandro de Castro Melo Fernando Queiróz de Almeida José Luiz Domingues

Júlio Maria Ribeiro Pupa George Henrique Kling de Moraes Marcelo Diniz dos Santos Marcos Antonio Delmondes Bomfim Maria Izabel Vieira de Almeida Patricia Pinheiro de Campos Fonseca Rodrigues Rony Antonio Ferreira Rosana Coelho de Alvarenga e Melo É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo da NRE da em qualquer meio de comunicação, seja eletrônico ou impresso, sem a sua devida citação.

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Sumário

ARTIGOS 414 – As principais doençs na criação de tilápias no Brasil: revisão de literatura............................................. 4982 Matheus Hernandes Leira, Aline de Assis Lago, Jose Antonio Viana, Luciane Tavares da Cunha, Felipe Gabarra Mendonça, Rilke Tadeu Fonseca de Freitas 415 – Utilização de resíduo industrial de tomate (RIT) na alimentação de ruminantes: revisão de literatura........................................................................................................................... ............................................ 4657 Kárito Augusto Pereira, Alliny das Graças Amaral, Renata Vaz Ribeiro, Anderson Rodrigues de Oliveira Angelo Herbet Moreira Arcanjo 416 – Alternativa de forragem para caprinos e ovinos no semiárido ................................................................... 5004 Fleming Sena Campos, Glayciane Costa Gois, Saullo Laet Almeida Vicente, Amélia de Macedo, Alex Gomes da Silva Matias 417 – Consumo voluntário: regulação, modelos de predição e métodos de medida ...................................... 5014 Jéssica Maria Santos Sousa, Antônia Leidiana Moreira 418 – Pesquisa de mercado: hábitos de compra e consumo de carne em Senhor do Bonfim- Bahia ........ 5024 Italo Reneu Rosas de Albuquerque, Glayciane Costa Gois, Fleming Sena Campos, Tiago Santos Silva, Alex Gomes da Silva Matias 419 – Distribuição espacial da produção de capim-mombaça (panicum maximum cv. mombaça) em um latossolo amarelo na região do baixo Parnaíba) .............................................................................. 5030 Guilherme Augusto Drehmer, Fernando Silva Araújo, Antônio Hosmylton Carvalho Ferreira, Flavio C.Aquino, Valdemar Cavalcante Queiroga Filho 420 – Níveis de proteína bruta no desempenho de juvenis de tambaqui criados em tanques-rede durante a fase de recria.......................................................................................................................................... ......................5038 João Lucas Moraes Vieira 421 – Aspectos do manejo reprodutivo de equinos ................................................................................................... 5046 Luis Gustavo Silva Rodrigues, Vanessa Cristina de Souza Resende, Antônio Roberto Oliveira Júnior, Lidiane Oliveira Silva, Letícia Mariano Barbosa



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Professor Associado II do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras – UFLA/MG, Brasil.

As principais doenças na criação de tilápias no Brasil: revisão de literatura Bactéria, microbiologia, peixes, produção, aquicultura. 1

Matheus Hernandes Leira 2 Aline de Assis Lago 3 Jose Antonio Viana 4 Luciane Tavares da Cunha 5 Felipe Gabarra Mendonça 6 Rilke Tadeu Fonseca de Freitas Vol. 14, Nº 02, mar. / abr. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br ¹ Professor e Pesquisador do Curso de Medicina Veterinaria do Universitário do Sul de Minas – UNIS. matheushernandes@uol.com.br; 2 Pesquisadora, Pós-doutorando em zootecnia UFLA; 3 Professor e Pesquisador do Curso de Medicina Veterinária do Universitário do Sul de Minas - UNIS; 4 Professora e Pesquisadora do Curso de Medicina Veterinária do Universitário do Sul de Minas - UNIS; 5 Graduando em Medicina Veterinária pela UFLA;

Centro Cenrto

RESUMO Com o aumento da produção de tilápias em sistemas superintensivos, o número de casos de doenças bacterianas

nesses

significativamente.

peixes O

vem

produtor

aumentando acaba

não

encontrando meios de detecção e diagnósticos precisos para as doenças que acarretam na mortalidade de praticamente toda a produção. O uso indiscriminado de antibióticos e outras drogas têm selecionado

espécies

mais

resistentes

de

microrganismos e o número de pesquisas sobre vacinas

tem

apresentado

um

crescimento

significativo nos últimos anos, porém sem grandes sucessos. O manejo e a seleção de espécies de peixes mais resistentes vêm sendo usada como uma boa forma de prevenção de doenças bacterianas. Esta revisão objetivou-se em descrever sobre as principais bactérias encontradas em tilápias no Brasil, mostrando suas principais características e estudos realizados. Palavras-chave: Bactéria, microbiologia, peixes, produção, aquicultura.

4982

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Centro E-mail

MAJOR DISEASES IN TILAPIA CREATION IN BRAZIL: LITERATURE REVIEW ABSTRACT With

the

increased

production

of

tilapia

Superintensive systems, the number of cases of bacterial diseases has grown significantly in these fish. The producer ends up finding no means of detection and accurate diagnosis for diseases that cause mortality of virtually all production. The indiscriminate use of antibiotics and other drugs have selected more resistant species of microorganisms and the number of vaccine research has shown significant growth in recent years, but without great success. The management and the selection of fish species are being used more resistant as a good way of preventing bacterial diseases. This review aimed to describe yourself on the main bacteria found in tilapia in Brazil, showing its main features and studies. Keyword: Bacteria, microbiology, fish production, aquaculture.


Artigo 414 – As principais doenças na criação de tilápias no Brasil- revisão de literatura

INTRODUÇÃO

por aproximadamente 40% do volume da piscicultura

No Brasil, como em todo o mundo, as enfermidades

nacional. (MPA, 2012).

bacterianas são motivo de constante preocupação, pois são responsáveis por elevadas taxas de

REVISÃO DE LITERATURA

mortalidade de peixes e quando não ocasionam

Aeromonas hydrophila

mortalidade, provocam lesões que inviabilizam sua

É

comercialização,

facultativas, não formadoras de esporos (Rodriguez

causando

grandes

prejuízos

econômicos.

um

cocobacilo

gram-negativas,

anaeróbias

et al., 2005). Aeromonas é um hydrophila móvel que possui um único flagelo polar, catalase e oxidase

As bactérias com importância econômica para a

positiva, glucose que fermentam com ou sem

piscicultura são consideradas oportunistas. Estão

produção

presentes na água e na microbiota dos peixes e

vibriostáticos

desencadeiam enfermidades quando o hospedeiro

pteridina). Além disso, produz 2,3-butanodiol e reduz

se encontra debilitado em decorrência de alguns

o nitrato a nitrito (CIPRIANO, 2001).

de

gás

e

0/129

é

insensível

(2,4-diamino,

a

agentes

6,7-di-isopropil

fatores. Entre os quais, podemos ressaltar o estresse provocado por alterações na qualidade da

Não é tolerante ao sal e ao ambiente ácido (pH min.

água,

de

6,0), posssui crescimento máximo a cerca de 28°C.

estocagem de peixes, favorecendo o aumento de

associados

à

elevada

Tem a capacidade para crescer a temperaturas frias

populações

tendo sido relatado casos -0,1°C para algumas

bacterianas

e

densidade outros

agentes

patogênicos ou oportunistas.

especies. (DASKALOV, 2006).

As bactérias constituem importantes patógenos na

A caracterização taxonômica do gênero Aeromonas

piscicultura intensiva, devido a sua facilidade de

é bastante complexa, entretanto sabe-se muito sobre

disseminação e por apresentarem um caráter

seus caracteres genéticos e moleculares (JOSEPH;

oportunista. Embora existam inúmeras bactérias

CARNAHAN, 2000).

patogênicas, algumas delas são de ocorrência frequente e apresentam maior impacto econômico

Segundo

na produção comercial de peixes cultivados, como:

hydrophila pode ser encontrada em muitos nichos

Aeromonas spp, Edwardsella spp, Flavobacterium

ecológicos, sobretudo em águas, seja de rios, lagos,

columnare, Francisella spp, Streptococcus spp.

poluídas ou não e até mesmo em água levemente

Palumbo

et

al.

(2001),

Aeromonas

salinas. Os peixes podem ser portadores de agentes etiológicos sem, contudo, apresentarem sintomas

A produção de α e β hemolisinas por Aeromonas,

clínicos, podendo ocorrer uma proliferação se

pode

houver alteração nas condições ambientais ou no

hospedeiros.

hospedeiro. A combinação de um agente infeccioso

peptidases séricas são produzidas em condições

e o estresse provocado pelos fatores ambientais

ótimas de temperatura, pH e potencial redox,

causa a progressão da enfermidade e morte.

produzem danos teciduais e prejudicam o sistema de

causar

hemólise As

e

proteases

citotoxicidade

nos

metalopeptidases

e

defesa do hospedeiro, sendo possível, algumas, A intensificação dos cultivos representa um dos

ainda atuarem na ativação de toxinas. Quando em

principais fatores estressantes para os peixes,

presença de microbiota lática competidora, como

contribuindo para a permanência e disseminação do

Lactococcus lactis, o crescimento e produção de

agente

proteases de A. hydrophila podem ser inibidos

no

ambiente,

principalmente

quando

associada a variações abruptas nos parâmetros de

(SANTOS et al., 1999).

manejo a que estão acostumadas. As infecções por bactérias do gênero Aeromonas A tilápia do Nilo se tornou na última década, a

são comuns em diversas espécies animais, inclusive

espécie mais cultivada no Brasil, sendo responsável

nos seres humanos, e é especialmente importante

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Artigo 414 – As principais doenças na criação de tilápias no Brasil- revisão de literatura

para a aquicultura, devido ao acometimento de uma

rias são capazes de se fixarem nas adesinas,

variedade enorme de peixes de cativeiro e silvestres.

facilitando a subsequente invasão (EISSA et al., 1994).

Nos peixes cultivados, a infecção por A. hydrophila normalmente causa hemorragia cutânea no corpo e

Demonstrou-se que a prevalência da Aeromonas em

nas nadadeiras, progredindo para ulcerações com

placas de cultura de tilápias nilóticas selvagens, era

perdas de epitélio. Os peixes afetados normalmente

de 2,5% a 10% respectivamente. A bactéria possui

morrem entre 02 e 10 dias após o início dos sinais

múltiplos fatores de virulência, tais como, fatores de

clínicos. A doença é transmitida horizontalmente a

produtos

partir das excretas dos peixes ou lesões da pele.

associados a células de fatores, plasmídeos e

extracelulares

de

superfície

(ECPs),

sistemas de restrição ou modificação, que parecem A. hydrophila é um habitante normal da água e do

desempenhar

trato gastrointestinal

e

patogenicidade da doença em peixes, sem, no

terrestres. No entanto, as condições ambientais, tais

entanto ter sido capaz de identificar exatamente

como

temperatura,

entre todas quais possui maior relevância em relação

manipulação de alimentos, superlotação inadequada

ao aparecimento e desenvolvimento da doença

e redução na taxa de oxigênio, são fatores de

(KHALIL & MANSOUR, 1997).

mudanças

predisposição

que

dos

animais

bruscas

podem

de

aquáticos

iniciar

um

papel

importante

na

processos

patológicos em peixes e mamíferos (RODRIGUEZ et

Tan et al. (1998) concluíram que A. hydrophila pode

al., 2005).

entrar e invadir as células dos peixes, sobrevivendo como um parasita intracelular. Eles estudaram a

Na espécie A. hydrophila foram caracterizadas 5

interação entre A. hydrophila e EPC, sugerindo que

subespécies; A. hydrophila subsp. Anaerogenes, A.

existe uma via de transdução de sinal que participam

hydrophila subsp. Dhakensis, A. hydrophila subsp.

dessa interação, onde A. hydrophila adere à

Hydrophila, A. hydrophila subsp. Proteolytica e A.

superfície

hydrophila subsp. Ranae (HARF-MONTEIL et al.,

internalização. Após a adesão, A. hydrophila inicia

2004).

uma cascata de sinalização que envolve a enzima

da

célula

hospedeira

antes

da

tirosina quinase. No final desta via de sinalização, A. As infecções em seres humanos são causadas pela

hydrophila

produz

uma

reorganização

dos

A. hydrophila, ocasionando meningite, endocardite e

microfilamentos (F-actina) em células EPC, para

outras doenças, principalmente em recém-nascidos

formar nuvens de actina. Posteriormente bactérias

(Begue et al., 1994; FALCON et al., 2001).

internalizadas replicam intracelularmente, causando alterações morfológicas nas monocamadas EPC.

O papel desta bactéria em incidentes de origem alimentar não é bem estabelecido. No entanto, há dados que indicam que é possível que a A. Hydrophila, é capaz de crescer a temperaturas de alimentos refrigerados, atualmente considerados adequados para a prevenção do crescimento de organismos patogênicos (DASKALOV, 2006). Um pré-requisito para iniciar a infecção, é a adesão e a invasão de células hospedeiras epiteliais. A.hydrophila é capaz de ligar-se a fibronectina, o colágeno e as glicoproteínas encontradas no soro e em células da mucosa epitelial (Ascencio et al., 1991;. Neves et al., 1994). Acredita-se que as bacté-

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A microscopia electrônica mostrou que as fímbrias movéis produzidas por Aeromonas (Pili), facilitam a aderência (Cipriano, 2001). Além disso, Dooley e Confiança (1988) caracterizaram uma proteína de superfície denominada 52 kDa tetragonal (S layer), cuja tampa penetra a membrana celular bacteriana, aumentando assim a sua hidrofobicidade. Esta tensão superficial potencializa a resistência das bactérias, aumentando assim a lise ocasionada pelo complemento e pela fagocitose (CIPRIANO, 2001). Em peixes existem três possíveis manifestações da doença: na pele, por septicemia com limitadas lesões de pele e de músculo e ainda uma forma latente a

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Artigo 414 – As principais doenças na criação de tilápias no Brasil- revisão de literatura

qual não apresenta sinais clínicos (GRIZZLE &

dificultada pela falta de um método rápido para a

KIRYU, 1993).

identificação

taxonômica

e

complexidades

dos

múltiplos isolados (LONGYANT et al., 2007). O período de incubação da doença depende das espécies de peixes e suas respectivas resistências, condições ambientais e época do ano. Este período varia de 2 a 4 dias quando há infecções naturais, e de 8 a 48 horas em modelos de infecção experimental (HUIZINGA, 1979). Na

forma

aguda,

a

septicemia

fatal

ocorre

rapidamente, e o peixe morre antes de desenvolver quaisquer sinais da doença. Quando os sinais clínicos de infecção estão presentes, o peixe afetado pode apresentar exoftalmia, rubor na pele e um acúmulo de líquido nas cavidades (FAKTOROVICH, 1969).

resultante

das

escalas

pode

estar

muito

desenvolvido. Brânqueas podem estar sangrando e úlceras podem se desenvolver na derme. Outras aeromonas celulares foram isoladas a partir dos olhos, fígado e rins de peixes afetados (CIPRIANO, 2001; ROBERTS, 2001). Infecções

ou tripticase de soja (TSA), ou meios seletivos chamados de meio Rimler-Shotts (SHOTTS e RIMLER, 1973). Incubou- se durante 24 a 48 horas, a uma temperatura de 20 a 25°C. Ambos os métodos fenotípicos e sorológicos são usados no diagnóstico (Austin & Austin, 2007). A fermentação da glicose é considerada

uma

reação

crítica

utilizada

na

identificação da A. hydrophila (CIPRIANO, 2001).

sistêmicas

foram

caracterizadas

por

presença de macrófagos contendo melanina do sangue internamente, o fígado e os rins são os órgãos alvo da septicemia aguda. (VENTURA GRIZZLE, 1987).

esverdeada, enquanto o rim apresenta um aspecto inflamado e friável. Estes órgãos são atacados por toxinas bacterianas e aparentemente perdem a sua integridade estrutural (AFIFI et al., 2000). foi

hydrophila (Sendra et al., 1997; Swain et al., 2002), ou o estudo do papel de flagelos de invasão bacteriana (Merino et al., 1997). Sem os anticorpos policlonados (PAb) poderia causar

um

fundo

falso

positivo

e

uma

particular

para

a

caracterização

dos

epítopos

antígenos alvo. Em contraste, os MAbs específicos para A hydrophila tem sido caracterizados

contra

LPS isolados a partir de A. hydrophila tipo I (Cartwright et al., 1994) e também contra 110 kDa proteína A. hydrophila com baixa reatividade cruzada com outras espécies de Aeromonas e várias

O fígado pode estar pálido ou possuir uma cor

rins

anticorpos policlonais (PAB), específicos para A.

inespecificidade de reação antígeno-anticorpo, em

necrose difusa em vários órgãos internos, com a

possível

observar

espécies bacterianas (DELAMARE et al., 2002). Jongjareanjai

et

al.,2009

descobriram

que

o

antibiótico cloranfenicol foi mais eficaz para inibir o crescimento de A. hydrophila, sendo assim o primeiro medicamento de escolha; seguido por

hemorragia

subcapsular, degeneração intersticial do parênquima com

rim em meios não seletivos, tais como agar nutriente

Para o diagnóstico também podem ser utilizados

O abdômen pode se tornar distendido e o edema

Nos

O isolamento acontece por meio de esfregaços de

uma formação vacuolar citoplasmática e

necrose epitelial tubular com infiltração. Esta última possui relação direta com o aparecimento da nefrite intersticial linfocítica, que foi observada em estudos paralelos (Yardimci & AYDIN, 2011). A investigação epidemiológica de A. hydrophila foi

sulfametoxazol - trimetoprim e amicacina. Em contraste,

100%

relataram

resistência

ao

metronidazol e colistina, enquanto que para a penicilina e a amoxicilina, observou-se semelhante resistência (92,31%). Geralmente, as drogas de escolha para o tratamento de infecções em animais aquáticos são a enrofloxacina e a oxitetraciclina, no entanto este estudo mostrou que a enrofloxacina (37,04% de sensibilidade, 51,85% resistente), possui pouca eficácia na eliminação das bactérias.

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Artigo 414 – As principais doenças na criação de tilápias no Brasil- revisão de literatura

Vários

estudos

isolados

sobre

A.

hydrophila,

mostrou uma alta resistência a alguns antibióticos,

mamíferos marinhos, incluindo leões-marinhos e botos (COLES et al., 1978).

aplicados na prática clínica, o que pode gerar dificuldades para a cura de doenças causadas por

Vários estudos indicam que as mudanças nas

esta bactéria (DASKALOV, 2006).

condições ambientais (por exemplo, salinidade e temperatura), geram impacto sobre a virulência da

Por esta razão, existe atualmente uma tendência a

bactéria (Darwish et al., 2001; Zheng et al., 2004).

desenvolver outras propostas, incluindo vacinas, probióticos e imunoestimulantes, para controle de

Yasunobu et al., 2006 sugeriram que a atividade de

doenças em peixes (AWAD, 2010).

hemaglutinação e de expressão da proteína 19,3 kDa fimbrial são atenuadas com concentrações

Edwardsella ssp É

uma

bactéria

elevadas de NaCl e virulência de E. levemente gram-negativa

da

família

aumentada.

Enterobacteriaceae, curto móvel de 1 micron de diâmetro e 2-3 microns de comprimento, o que afeta

E. tarda é um patógeno oportunista , considerada

uma grande variedade de hospedeiros, incluindo os

muito ampla e embora o início da septicemia não

peixes de água doce e salgada (THUNE et al.,

seja necessariamente crítica, estressores ambientais

1993).

como flutuações de temperatura, grau de qualidade da

E. tarda é anaeróbia facultativa e mesofílica,

água

caracterizada como citocromo oxidase negativa,

a incidência e a gravidade da doença em peixes

indol positiva e também produtor forte de H2S na

(PLUMB, 1999).

natureza.

e

superlotação

podem

aumentar

E. tarda forma típicas colônias verdes

com centros brancos em meio agar Rimler-Shott

Plumb e Evans 2006 relataram uma faixa de

(ACHARYA et al., 2007).

temperatura ótima entre cerca de 20 e 30°C, para a transmissão

E. tarda é considerado um organismo oblico e foi

em

Edwarsiella

em

peixe

com

septicemia.

identificada como hospedeiro em amostras de animais e ambientais de água. O habitat natural da

É importante considerar o impacto destas bactérias

bactéria E. tarda é o trato gastrointestinal de

zoonóticas, vários pesquisadores afirmam que a

animais, e a sua deposição nas fezes permite que a

exposição ao ecossistema aquático e seus habitats

propagação seja feita no ecossistema, a infecção é

parecem ser precursores de doenças por E. tarda

mais provável de ocorrer através do epitélio do

(WIEDENMAYER, 2006).

intestino danificado (PLUMB & EVANS, 2006). Considera-se também patógeno de origem alimentar, Os répteis e anfíbios foram identificados como

o consumo de forma crua ou manipulados de

importantes hospedeiros da bactéria E. toma, sendo

produtos do mar em condições inadequadas ou

isoladas em cobras, lagartos, jacarés, tartarugas,

processados em ambientes contaminados, podendo

sapos e rãs (Wiedenmayer, 2006). As aves são

levar à doença (SLAVEN et al., 2001).

também consideradas hospedeiras essenciais das bactérias e pode ser um componente importante de

A patogênese da E. tarda é multifatorial. (Janda et

propagação (WIEDENMAYER, 2006).

al., 1991) demosntra a capacidade das bactérias para

aderência

e

replicação

dentro

das

White et al., 1973 identificaram a presença de E.

monocamadas das linhas celulares epiteliais HEp-2.

tarda em várias espécies de aves aquáticas, como o

A invasão foi relatada como sendo dependente de

pelicano marrom. Elas são capazes de infectar uma

microfilamentos.

variedade

de

espécies

de

mamíferos,

sendo

isoladas em macacos (Kourany et al., 1977), gado

Da mesma forma, Phillips et al .,1998 através de

(Ewing et al., 1965), suínos (Owens et al., 1974) e

microscopia eletrônica mostrou que E.toma induz projecções que se estendem sobre a membrana

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Artigo 414 – As principais doenças na criação de tilápias no Brasil- revisão de literatura

plasmática de células HEp-2. Estudos recentes descobriram que a E. tarda produz O alto potencial de infecção do agente patogênico

uma proteína tóxica que pode ser injectada dentro

em relação ao seu hospedeiro deve-se ao fato da

das células hospedeiras por sistema de secreção

sua capacidade de desintoxicar várias formas

T3SS (TAN et al., 2005; ZHENG et al., 2005).

tóxicas de oxigênio (O2, H2O2 e OH2) presentes no

As

organismo invadido, no intuito de produzir enzimas

maioria das cepas das bactérias são responsáveis

como

pelo maior dano (HIRONO et al., 1997).

a

peróxidase

superóxido (SOD)

dismutase,

(Mohanty

e

catalase Sahoo,

e

a

dermotoxinas

hemolisinas

produzidas

pela

2007).

(Wakabayashi & Yamada, 1999) identificaram o

De acordo com Aranishi & Hand, 2000 relataram que

gene da SOD (SodB) de E. tarda.

durante a infecção, o nível habitual de catepsinas da

.

pele aumentou, indicando uma atividade anti-

De acordo com Srinivasa Rao et al., 2003 relataram

bacteriana.

14 genes (derivados mutantes de TnphoA 15) importantes na patogênese causada por E. tarda,

Ao reproduzir a infecção experimental de E. tarda em

que codificam alguns fatores de virulência, como

tilápias nilóticas, injetando por via intramuscular 0,3

transportadores de fosfato de proteínas homólogas

mL de suspensão bacteriana contendo 108 UFC /Ml.

ao sistema regulador, secreção de catalase como o

Vários sinais clínicos foram observados, incluindo

glutamato descarboxilase, proteínas fimbriais e duas

movimentos lentos e perda de reflexos de defesa e

novas proteínas.

fuga. Sintomaticamente relataram derramamento de escalas e coloração pálida, edematose grave,

O gene fimA da bactéria é responsável pela adesão

inchaço no local da injeção, presença de balonismo

à sede invasão (Mohanty & Sahoo, 2007). Dentro do

na barriga com ascite amareladas, ânus sangrando e

hospedeiro, a bactéria produz um soro anti- morte

opacidade em ambos os olhos (EL-YAZEED &

mediada pelos fagócitos, que são realizadas pelos

IBRAHEM, 2009).

genes gadB, ISOR, Katb e ompS2 SSRB. Os genes Pst ajudam adquirir nutrientes, tais como o fosfato e

Em infecções leves, a única manifestação da doença

o ferro no hospedeiro, necessários

para a

inclui pequenas lesões de pele (3-5 mm de

proliferação das bactérias (MOHANTY & SAHOO,

diâmetro), localizadas nas porções laterais do corpo.

2007).

Com a progressão da doença, abscessos se desenvolveram lateralmente dentro dos músculos ou

Ainda de acordo com Shen & Chen, 2005 também

no pedúnculo caudal. Estes abscessos rapidamente

observaram a expressão de genes de virulência

aumentam de tamanho e se desenvolvem dentro de

(hlyA,

mukF)

grandes cavidades cheias de gás, e que na fase

correlacionados com a mortalidade de peixes

aguda, são visíveis como áreas convexas e inchadas

infectados com E. tarda.

(MOHANTY & SAHOO, 2007).

Han et al.,2006 relataram que estirpes virulentas

Se a lesão está instalada, um odor fétido é emitido,

possuem genes do tipo I e sodB Katb, enquanto

sendo

cepas avirulentos têm tipo II sodB, mas não Katb.

necrosados nas cavidades (WIEDENMAYER, 2010).

CITC,

Fima,

gadB,

Katb

e

possível

indetificar

restos

de

tecido

Isto sugere que a capacidade de E. leva a resistência fagocitose

do

complemento

e é para a

da

atividade

presença

de

À medida que a infecção progride, os peixes

da enzima

afetados perdem o controle sobre a metade caudal

superóxido dismutase e catalase.Além disso, as estruturas

de

superfície

celular,

tais

do corpo (MOHANTY & SAHOO, 2007).

como

peptidoglicano

O exame histopatológico de septsemia por E. toma

também ajudam a resistir ao ambiente hostil dentro

são realizados no rim, fígado, baço e intestino. A

do hospedeiro (Matthew et al., 2001). E. Tarda

infecção é caracterizada por necrose liquefativa,

também tem um sistema de aquisição de ferro,

disseminação bacteriana extensa, e presença de

mediada por (KOBO et al., 1990).

macrófagos (WIEDENMAYER, 2006).

lipopolissacáridos

e

bactérias

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Artigo 414 – As principais doenças na criação de tilápias no Brasil- revisão de literatura

espaço para enfatizar um ponto-chave. Para colocar essa caixa de texto em qualquer De naacordo com arrastá-la.] Galal et al.,2005 alterações Saccharomyces cerevisiae aumentam o sistema lugar página, basta histopatológicas em O. niloticus inoculados imune não específico, adaptando ligeiramente a experimentalmente, levando a mudanças como

tilápia para sobreviver sob estresse salino, e

degeneração hepática, alterações de gordura, e

reduzindo a mortalidade devido à infecção E. tarda.

necrose. Nos rins, a necrose epitelial observada Uma OMP foi detectada em várias estirpes de E.

ocorreu nos túbulos contornados.

tarda, designando

uma vacina eficaz contra a

O isolamento primário de E. tarda é mais satisfatório

infecção

usando

de

linguado japonês (Kawai et al., 2004). No entanto,

Salmonella-Shigella ou dupla força caldo selenito-

essas vacinas requerem um trabalho caro e não

cisteína, seguido de semeadura direta em ágar

prático.

uma

etapa

de

caldo

enriquecido

experimental

em

peixes

da

espécie

Salmonella-Shigella (STARLIPER, 2008). Liu

et

al.,2005

prepararam

uma

GAPDH

Além disso, Horenstein, et al., 2004 diagnosticou

recombinante de E. tarda, a qual serve como um

E.tarda utilizando PCR levadas a amostras de

antígeno de vacina, prático e eficaz contra a infecção

sangue.

por E. Tarda no linguado japonês. Curiosamente, a GAPDH protege de forma eficaz o linguado japonês

Segundo Savan et al., 2005 relatou um método

da infecção víbrio porque ambas as bactérias

sensível e rápido de LAMP para o diagnóstico da

patogênicas são altamente homólogas.

edwarsiellosis. Verjan et al.,2005 identificou 7 proteínas antigênicas Vários

pesquisadores

norfloxacina, gentamicina

relataram

ciprofloxacina, e

cloranfenicol

o

uso

de

de E.tarda utilizando anti-soro leva policlonal de

oxitetraciclina,

coelho

(SAHOO

identificados

&

e

suas

sequências

como

de

aminoácidos

lipoproteínas,

proteínas

MUKHERJEE, 1997), cefazolina (ZHANG et al.,

periplásmicas e proteínas exportadas, realizando

2005) e azetronam (ZHU et al., 2006).

papel importante no transporte de

metabólitos

através da membrana celular, ocasionando uma O parâmetro físico-químico do ambiente deve ser

resposta ao estresse e a mortalidade. Genes

ideal para prevenir a infecção. Uma boa alternativa é

detectados e seus produtos podem ser utilizados

manter as codições adequadas em lagoas. As

para

incubadoras devem ser mantidas com saneamento

subunidades de DNA.

desenvolver

vacinas

recombinantes

ou

básico e higiene. Para um melhor controle de edwarsiellosis, deve-se monitorar constantemente a

Além disso, outros métodos importantes relatados

sua presença no meio e manter a raça livre de

referem-se ao controle, tratamento e prevenção da

patógenos (MOHANTY & SAHOO, 2007).

doença,

utilizando

selecionado

imunoestimulantes.

um

número

grande

Foi de

O uso de substâncias tais como probióticos stress,

imunoestimulantes usados contra infecções por E.

ácido

ser

tarda nas grandes carpas indianas. Alguns deles,

realizados, adicionando-os ao alimento. (Pirarat et

tais como o β-1, 3-glucano, proveniente da parede

al., 2006) sugeriu que peixes infectados com E.

celular de Saccharomyces cerevisiae com uma dose

tarda, possuem um aumento de Lactobacillus

de 0,1 mg de alimentação / kg por 5 vezes, a

rhamnosus no sistema do complemento do peixe,

intervalos de 3 dias, foi encontrada para ser mais do

ocorrendo uma agregação de células fagocíticas

eficaz no tratamento da doença e para reduzir a

permitindo dessa forma, um aumento da atividade

mortalidade em casos agudo. Estas substâncias

fagocítica subsequentemente protegendo os peixes

protegem contra outros patógenos como bactérias,

da morte por septicemia aguda.

vírus,

ascórbico,

lipopolissacarídeo

podem

parasitas

e

fungos,

não

ocorrendo

a

possibilidade de criação de um ambiente prejudicial Taoka et al.,2006 reportou que a administração de

(SAHOO & MUKHERJEE, 2002).

probióticos comerciais contendo Bacillus subtilis, Lactobacillus acidophilus, e Clostridium butyricum 4988

Flavobacterium columnare

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.4982-4996, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

para enfatizar um ponto-chave. Para colocar essa caixa de texto em qualquer lugar na página, basta


Artigo 414 – As principais doenças na criação de tilápias no Brasil- revisão de literatura

espaço para enfatizar um ponto-chave. Para colocar essa caixa de texto em qualquer lugar na página, bastaé arrastá-la.] Flavobacterium columnare o agente etiológico da canismos de virulência. columnariose, enfermidade comumente observada em pisciculturas de água doce, que ocasiona

Estudos tem sugerido que a adesão ao tecido

extensiva morbidade e mortalidade em peixes de

branquial é um passo importante na patogênese

todo o mundo, gerando sérios impactos econômicos

desta bactéria, e a quimiotaxia da mucosa do peixe

(PILARSKI et al., 2008).

está associada com a virulência deste patógeno (KUNTTU, 2010).

F. columnare é uma bactéria gram-negativa, não flagelada, que tem como principal característica a

Além

disso,

as

atividades

das

enzimas

que

motilidade, através de deslocamento e deslizamento

degradam tecidos conjuntivos, como a condroitina

em superfícies sólidas. As características que

AC liase aparentam estar relacionadas com a

distinguem esta bactéria de outras são as suas

virulência de F. columnare. Também verificou-se que

habilidades para crescer na presença de sulfato de

a composição de LPS difere dos mutantes virulentos

neomicina e sulfato de polimixina B. Forma colônias

(KUNTTU, 2010).

de coloração amarelada, produtoras de rizóides, e de uma enzima que degrada a condroitina, gelatina

A

B, sulfato de congo e absorção o vermelho dentro de

presença de áreas de erosão ou lesões necróticas

doença

é

colônias (SEBASTIÃO et al., 2011).

rasas,

com

caracterizada uma

clinicamente

coloração

entre

pela cinza-

esbranquiçado e branco-cinza-amarelado, localizada Esta

ampla

na região das barbatanas, da cabeça e / ou do

distribuição geográfica no Brasil. Foi encontrada em

bactéria

é

oportunista,

e

possui

corpo. As brânquias também são afetadas e

espécies nativas, assim como nas comercialmente

mostram sinais de palidez e necrose. Epizootias de

importantes, incluindo tilápias nilóticas (Oreochromis

columnaris são especialmente importantes quando a

niloticus). Ela faz parte da microbiota normal da

temperatura da água é de 21°C ou mais, conduzindo

água, da pele e das guelras de um peixe. É

a perdas elevadas no peixe afetado (SANDOVAL et

comumente observada em água de piscicultura e é

al., 2010).

descrito como um agente causador de um grande número de mortalidades em tilápias.

Mohamed & Ahmed, 2011 trabalhando com tilápias nilóticas contaminadas com 0,2 x 108 UFC de F.

A doença

Columnarisose

aparecimento

de

pontos

é caracterizada por

columnare,

cinzentos

desconforto respiratório, natação perto da superfície

ou

áreas

água,

demonstrou movimentos

perda

de

rápido,

apetite

opérculo

e

amareladas de erosão, que são normalmente

da

com

cercadas por uma zona hiperémicas avermelhada

manifestações nervosas e uma mortalidade de

geralmente aparecendo na cabeça, na superfície do

aproximadamente 70% dos peixes.

corpo e nas brânquias (PILARSKI et al., 2008). As lesões de pele formam erosões extensas e No entanto, sob condições desfavoráveis, tais como

placas, principalmente na região frontal da cabeça e

temperaturas superiores a 20°C, baixos níveis de

abdomen,

oxigênio dissolvido na água, altas concentrações de

hemorrágicas cercadas por uma área avermelhada

amônia,

alta

densidade

contaminação

como

pequenas

úlceras

da

idetificadas nas áreas pélvica e anal. O sangramento

a outras bactérias, são

foi observado na base das nadadeiras peitorais e

capazes de invadir o corpo do hospedeiro causando

nadadeira caudal, com edema e margem cinza

danos ou até a morte em casos mais graves

desbotada.

(SEBASTIÃO et al., 2011).

membranosa caudal final, nos filamentos branquiais

população, associadas

de

assim

e

nas

Necrose

vísceras

foi

observada

congestionadas,

na

que

porção estavam

Columnaris é uma doença contagiosa que pode ser

inflamadas e cobertas de muco. Em outros casos,

transmitida horizontalmente através do contato direto

uma ligeira opacidade da córnea foi observada

em feridas na pele ou por via fecal (MOHAMED &

(MOHAMED & AHMED, 2011). Segundo os mesmos

AHMED, 2011), sendo pouco conhecidos seus me-

autores,

as

lesões

encontradas

em

tilápias

infectadas com F. Columnare foram limitadas à pele Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.4982-4996, mar. / abr. 2017. ISSN: 1983-9006

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Artigo 414 – As principais doenças na criação de tilápias no Brasil- revisão de literatura

e às brânquias, além de lesões septicêmicas em

isoladas em crescimento em ágar Mac Conkey e

outros órgãos. As infecções das brânquias são

ágar nutritivo (6% de NaCl) (OTTEM et al., 2007).

menos comuns, sendo que as lesões mais graves começam na base do arco branquial, provocando

A F. asiatica foi recentemente descrita como membro

um alargamento progressivo e posterior necrose.

do gênero Francisella, recuperada a partir de três pacientes infectados com Parapristipoma trilineatum

A pele apresentou necrose coagulativa grave e

no Japão, utilizando o isolamento para descrever

espongiose na epiderme, sendo que em alguns

novas espécies (MIKALSEN & COLQUHOUN, 2009).

casos, a necrose mostrou pústulas, erosões e ulcerações induzidas, apresentando massas de

Nos

basófilos e colônias bacterianas. As ulcerações

mortalidade significativa em tilápias de cultivo

penetram nos tecidos mais profundos causando

(Oreochromis

dermatite,

importantes de águas quentes e frias nos Estados

miosite

necrosante

e

perimiositis

(MOHAMED & AHMED, 2011).

últimos

cinco

anos,

spp.),

e

a

em

bactéria

causou

outras

espécies

Unidos, Taiwan, América Latina, especialmente na Costa Rica e no Japão (SOTO et al., 2009;

O

fígado apresentou

necrose de coagulação,

VOJTECH et al., 2009).

infiltração de neutrófilos e congestão dos vasos sanguíneos. O fígado foi observado apresentando

A transmissão da infecção da F. asiatica está

um tecido parenquimatoso fibroso, infiltrado com

aparentemente restrita a uma temperatura entre

numerosos

20°C - 28°C em Robalo (OSTLAND et al., 2006).

macrófagos,

linfócitos

e

células

polimorfonucleares (MOHAMED & AHMED, 2011). O sucesso da Francisella diz respeito ao fato de o Os rins mostraram áreas multifocais de necrose

patógeno estar intimamente associado com a sua

coagulativa

degeneração

capacidade de sobreviver e se replicar em uma

moderada hidrofóbica no revestimento epitelial dos

grande variedade de tipos de células hospedeiras

túbulos renais e encolhimento dos glomérulos.

(PECHOUS et al., 2009).

e

hemorragia,

com

Observaram-se também áreas focais de células de fibrose mononuclear, que substituíram o tecido renal

A Francisella adentra as células por meio do

(MOHAMED & AHMED, 2011).

processo de fagocitose (looping fagocitose), que envolve o rearranjo de actina via sinalização

De acordo com Mohamed & Ahmed, 2011 relataram

fosfatidilinositol 3-quinase e sofre dependência da

o uso de oxitetraciclina para minimizar a lesão

presença do fator de C3 e de receptor CR3 do

ocasionada por F. Columnare.

complemento (CLEMENS et al., 2009).

A prevenção e o controle de columnaris incluem

Seguido por internalização dentro da célula, a

manutenção da qualidade da água e controle do

Francisella é capaz de alterar os processos normais

policultivo. O uso de nifurpirinol (NFP) e nitrofuranos,

bactericidas

dentre outros medicamentos, tem alcançado um

respiratória (FORTIER et al., 1994).

bom

resultado

no

tratamento

dessa

e

evitar

a

indução

da

explosão

doença

(SANDOVAL et al., 2010). O uso de probióticos

Os vacúolos contendo F. tularensis não adquirem

contendo Bacillus subtilis na dieta e na água de

catepsina D e mesclam a hidrolase com lisossomos

tanques com, dois meses antes do desafio com F.

(Clemens et al., 2009). Além disso, F. altera as

columnare, favoreceu o deseparecimento de sinais

células tularensis do hospedeiro, fazendo com que o

clínicos, não ocorrendo relatos de mortalidade

fagossoma entre no citosol, sofrendo dessa maneira

(MOHAMED & AHMED, 2011).

uma replicação extensiva (PECHOUS et al., 2009).

Francisella spp. A francisela é

um

cocobacilo

gram-negativo

Membros

do

gênero

Francisella,

por

serem

pequeno, pleomórfico, sem motilidade, estritamente

organismos não móveis, são transmitidos por contato

aeróbico, intracelular facultativo, e que não produz

direto com animais infectados, através de água ou

esporos (Foley & Nieto, 2009). As bactérias são

alimentos contaminados ou por vetores, como

4990

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.4982-4996, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

para enfatizar um ponto-chave. Para colocar essa caixa de texto em qualquer lugar na página, basta


Artigo 414 – As principais doenças na criação de tilápias no Brasil- revisão de literatura

insetos mastigadores (COLQUHOUN & DUODU,

cultivadas na Costa Rica, de acordo com relatos de

2011).

(Hsieh et al., 2006) e (Mauel et al., 2007). Sinais clínicos e alta mortalidade estavam presentes nas

A transmissão da Francisellosis em peixes possui

tilápias. De acordo com relatos de criadores, os

uma ligação com os ambientes aquáticos, sendo

peixes afetados nadavam de forma irregular por

possível ser identificada em peixes de água doce e

cinco a dez minutos e depois sucumbiam e ocorria

salgada (MIKALSEN et al., 2007).

óbito.

Aparentemente, transmissível

a

em

francisellosis condições

é

altamente

ambientais

Este sinal clínico pode ser relacionado com a

ideais,

quantidade de infiltração de células granulomatosas

possuindo níveis altos de infecção principalmente no

inflamatórias presentes no sistema nervoso central,

bacalhau do Atlântico e em tilápias. (CHERN, 2006).

uma vez que a maioria dos peixes afetados foram aqueles que exibiram este comportamento (SOTO et

Além disso, Colquhoun & Duodu, 2011 relataram

al., 2010).

que o contato peixe a peixe é desnecessário para a contaminação. Por exemplo, o bacalhau pode ser

Soto et al.,2009 mostrou que apenas 23 bactérias de

diretamente infectado através da água de efluentes,

F. Asian injetadas no peritônio são capazes de

contida em tanques com peixes infectados.

causar

mortalidade

em

tilápias

(Oreochromis

niloticus), e menos patógenos ainda são suficientes Foi relatado, também que F. noatunensis subsp.

para causar graves lesões em órgãos importantes

noatunensis

como rim e baço.

pode

ser

cultivada

a

50%

dos

coabitantes no intestino do bacalhau do Atlântico (Mikalsen et al., 2009), o que pode indicar que a via

Streptococcus spp.

de propagação fecal-oral é uma das principais rotas

Streptococcosis é uma das infecções bacterianas

de transmissão (COLQUHOUN & DUODU, 2011).

mais importantes que afetam tilápias e evoluiu de uma "doença emergente", para uma entidade

Além disso, a identificação de F. noatunensis subsp.

verdade,

noatunensis em ovas de bacalhau do Atlântico pode

estabelecida. Esta doença tem sido relatada em todo

indicar que a doença é

o mundo, afetando mais de 45 espécies de peixes

contudo,

é

preciso

transmitida verticalmente uma

investigação

completamente

identificada

e

bem

mais

em ambientes de água doce, e em água salgada em

aprofundada para se chegar a uma conclusão

estuários na África, América, Ásia, Austrália e

precisa (COLQUHOUN & DUODU, 2011).

Europa. O continente americano possui casos notificados de streptococcosis em tilápias cultivadas

A patogenicidade da Francisella sp (FPI) é um locus

em pelo menos 12 países (Conroy, 2009).

de 30 kb, identificado dentro da Francisella genoma tularensis. As funções associadas com os genes

S. iniae é um cocobacilo gram-positivo, catalase

codificados

crescimento

negativo, organizado em pares ou em cadeias. Não

intracelular. (Soto, 2010a). Vários genes homólogos

móvel; sensível à vancomicina, a reacção negativa

ao Igla, iglB, IGLC e IGLD de F. tularensis foram

de Voges-Proskauer (VP) para acetimetil carbinol a

encontrados na estirpe 07-285 F. asiatica, isolados a

produção da enzima, e que não reagem com a bílis

partir de tilápias doentes (SOTO, 2010).

meia – escualina (BE), ácido produção de sorbitol e

pelo

IFP

incluem

o

de gás no Mann Rogosa afiada caldo (MRS), e Os peixes infectados mostraram sinais clínicos

cultivadas a 45 ° C ou caldo contendo 6,5% de NaCl.

inespecíficos, como a natação errática, anemia,

No entanto, algumas cepas podem mostrar fraco

anorexia, exoftalmia e alta mortalidade (SOTO et al.,

crescimento, positiva para a produção de leucina

2010).

aminopeptidase (LAP) e CAMP (teste para aumentar a

produção

de

hemólise

beta

utilizando

Existem graves alterações patológicas em achados

Staphylococcus aureus Streptococcus (Evans et al.,

histopatológicos descritos em tilápias afetadas,

2006b.).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.4982-4996, mar. / abr. 2017. ISSN: 1983-9006

4991


Artigo 414 – As principais doenças na criação de tilápias no Brasil- revisão de literatura

Ele foi isolado pela primeira vez em 1976, em botos

Sinais clínicos típicos podem incluir anorexia, letargia

de água doce da Amazônia (iniae geoffrensis) que

(Romano & Mejia, 2003), melanose da pele,

viveram no aquário de San Francisco e de Nova

hemorragias petequiais e hiperemia da região anal e

York (Pier & Madin, 1976).

nas asas, lesões hemorrágicas e necróticas na pele e tecido muscular, exoftalmia unilateral ou bilateral

Esses animais tinham lesões superficiais na pele. Na

com ou sem sangramento e opacidade da córnea e

década de 80, foram isoladas novas espécies de

periocular (CONROY, 2009).

streptococos, consideradas agentes etiológicos da meningoencefalite aguda que afetavam o cultivo de

Uma característica importante é a presença de

tilápias em Israel, Taiwan e EUA (Eldar et al., 1994 e

movimentos

1995a), causando alta taxa de mortalidade entre os

principalmente quando peixe está morrendo, o que

animais. Inicialmente este patógeno foi denominado

tem dado origem ao termo "doença de tilápia

de Streptococcus shiloi, entretanto as análises

selvagem." O comportamento de natação anormal é

fenotípicas e genotípicas mostraram que a bactéria

causado pela meningoencefalite, que é a infecção

isolada era a Streptococcus iniae (Eldar et al.,

das meninges por Streptococcus cérebro invasivo

1995b).

(CONROY, 2009).

S. iniae pode afetar diversas espécies de peixes, incluindo peixes de água salgada (Boletim OPAS Epidemiológica,

2000;

Colourn

2002).Entratanto vários relatórios

et

al.,

indicam que a

tilápia é o peixe mais afetado (Baiano & Barnes, 2009).

erráticos

e

natação

desorientada,

A exoftalmia geralmente está associada com as fases iniciais da doença, e apresentam como sintomas

congestão

e

edema

retrobulbar

acompanhada por inflamação, necrose e hiperemia do nervo óptico e coróide, o que resulta na expulsão de materiais necróticos através da córnea ulcerada.

Kitao, 1993 mostrou que os peixes que sobrevivem a um surto de streptococcosis permanecem como uma foco permanente de infecção. Dessa maneira, uma vez que a doença entra numa fazenda ou em uma produção de tilápia, é extremamente difícil ou impossível erradica-lá. De acordo com Chang, 1994 demonstrou que O. niloticus

era

susceptível

à

infecção

por

Streptococcus após sofrer lesão na superfície da pele, observando-se a maior responsável pela elevada taxa de mortalidade quando os peixes foram mantidos em água com uma salinidade de 30% e uma temperatura de 25ºC. Isto possivelmente indica que a suscetibilidade de tilápias para esta doença aumenta a medida que a salinidade e a temperatura da água se elevam.

Pode ser encontrada opacidade ou até mesmo a perda total da córnea (CONROY, 2009). De acordo com a experiência de Conroy, 2009, em particular

na

América,

os

sinais

manifestações

patológicas

podem

de acordo com

variar

de

clínicos

tilápias

e

doentes

a espécie

de

Streptococcus que causou a infecção. As hemorragias petequiais ou difusas cutâneas são comuns e embora a situação prevaleça em todo o corpo, na região cefálica e caudal é onde irá apresentar maiores manifestações. Muitas vezes o baço e fígado, estão friáveis. Na cavidade craniana, pode haver a congestão difusa do fluido espinhal cerebral hemorrágico (ROMANO & MEJIA, 2003). Na necropsia o baço normalmente está com o tamanho aumentado e o fígado e os rins estão

Normalmente tilápias infectadas com streptococcosis

pálidos e manchados com inúmeras áreas de

mostram

clínicas,

necrose focal. Frequentemente é identificada uma

dependendo das espécies de Streptococcus e da

miocardite e pericardite (Perera et al., 1998) e

espécie de tilápia (Conroy, 2009). Ainda de acordo

poliserositis.

A

com

aparentemente

distendida,

contendo

resistente

sanguinolento (ROMANO & MEJIA, 2003).

diferentes

(Sandoval

Oreochromis

et

manifestações

al.,

niloticus

é

2010), mais

ao

cavidade

sptreptococosis aureus. 4992

abdominal

um

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.4982-4996, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

pode

exsudato

ser

seros-


Artigo 414 – As principais doenças na criação de tilápias no Brasil- revisão de literatura

Os vasos branquiais são geralmente hiperemico e infiltrados com os macrófagos e nesses casos, os

A S. iniae é sempre hemolítica em placas de sangue,

filamentos

apresentar

enquanto que S. Agalactiae hemolítica pode ou não

sangramento maciço e sofrem um processo de

ser não hemolítico. O teste para a hidrólise de amido

necrose

brânquias,

é essencial para identificação de S. iniae e

provocando odor e posteriormente aumentando a

diferenciação de outros organismos (Evans et al.,

mortalidade. O trato intestinal pode também estar

2004).

branquiais que

afeta

podem

as

áreas

das

com a mucosa hiperemiada e sofrer descamação S. iniae é sensível a vários antibióticos, incluindo a

contínua (CONROY, 2009).

oxitetraciclina, Streptococcosis

em

tilápias

geralmente

estão

clavulónico,

ciprofloxacina,

penicilina,

amoxicilina

cloranfenicol,

ácido

tetraciclina,

associados com o aparecimento de granulomas. A

rifampina, trimetoprim sulfametoxazol, eritromicina e

análise histológica mostra uma aguda septicemia,

vancomicina (Evans et al., 2006b.). Isolados da S.

com infiltração de células inflamatórias e numerosos

iniae são resistentes à eritromicina, amicacina e

cocos

ácido

na

maioria

Predominantemente encefálico

dos

tecidos

uma

apresentam

os

examinados.

imagem

meningo-

capilares

dilatados,

nalidíxico

variando

a

sensibilidade

à

gentamicina e ampicilina (VANDAMME et al., 1997).

ocorrendo um extravasamento dos eritrócitos e

Os Alevinos de tilápias que apresentaram sinais

densos infiltrados inflamatórios com predominância

clínicos e mortalidade causados por S. iniae,

de

sofreram tratamento com florfenicol em doses de 15

granulócitos-macrófagos

embora

também

mg de peso corporal / kg / dia, durante 10 dias.

linfócitos sejam observados (CONROY, 2009).

Observou-se

um

aumento

significativo

de

Com técnicas de impregnação de prata, é possível

sobrevivência após os 14 dias de tratamento, em

identificar

comparação com os animais não medicados. As

cocos

abundantes

no

parênquima focal

chances de morte entre peixes não medicados eram

intraséptica com focos de necrose hepatocelular e

1,34 vezes maiores do que os encontrados em

infiltrado

inflamatório.

peixes medicados (GAIKOWSKI, 2009).

envolvem

várias

cerebral.

No

fígado,

uma

hepatite

Métodos técnicas

de

diagnóstico

de

bioquímica

bacteriológica,

juntamente

com

as

convencionais

moleculares

(ROMANO

técnicas MEJIA,

A adição de probióticos para alimentar é uma boa escolha. Recentemente, foi utilizada uma mistura de dois probióticos contendo Lactobacillus acidophilus,

2003).

e Streptococcus faecium, que parecem melhorar o Alterações na taxonomia e nomenclatura do gênero

ambiente intestinal, reduzindo o estresse em animais

Streptococcus ocorreram como um resultado do

e gerando alguma protecção contra a infecção por

advento de técnicas moleculares utilizadas para

parasitas e / ou bactérias patogênicas, tais como S.

ajudar a delinear as diferenças de gênero em

iniae (TAVARES-DIAS et al., 2001).

espécies bacterianas. Além disso, a semelhança entre as características fenotípicas como catalase negativos, cocos gram-positivos, como ocorre, por exemplo,

em

Lactococcus

gera,

Enterococcus

hemolítica e Streptococcus, pode causar confusão e

No entanto, a melhor estratégia, como quase sempre acontece, é a vacinação apropriada nos animais. Quando se menciona a utilização adequada, referese à utilização de vacina específica. Portanto, não fazer uma boa identificação do microrganismo que

erros de identificação (EVANS et al., 2006).

possuem diferentes cepas de virulência e cada um Tanto S. iniae e S. agalactiae são positivos para LAP e

CAMP.

Para

confirmar

o

diagnóstico,

a

diferenciação entre S. Iniae e S. agalactiae é feita pelo fato de a primeira crescer normalmente a 10 ° C, não hidrolisar hipurato, mas sim o amido, e ter um grupo Lancefield (EVANS et al., 2006).

diferente genótipo é um equívoco (Fuller et al., 2001). É por isso que algumas vacinas parecem ser bem sucedidas, partindo do fato de que o sistema imunitário dos peixes é muito semelhante ao dos mamíferos e o reconhecimento da fase específica da resposta imune, seja móvel ou humoral antígeno-

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.4982-4996, mar. / abr. 2017. ISSN: 1983-9006

4993


Artigo 414 – As principais doenças na criação de tilápias no Brasil- revisão de literatura

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para enfatizar um ponto-chave. Para colocar essa caixa de texto em qualquer lugar na página, basta


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Utilização de Resíduo Industrial de Tomate (RIT) na Alimentação de Ruminantes: revisão de Revista Eletrônica

literatura Armazenamento, bovinos, degradabilidade, valor nutricional. 1

Vol. 14, Nº 02, mar. / abr. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Kárito Augusto Pereira 2 Alliny das Graças Amaral 3 Renata Vaz Ribeiro 1 Anderson Rodrigues de Oliveira 4 Angelo Herbet Moreira Arcanjo 1

Mestrando em Produção Animal – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Minas Gerais. Brasil. E-mail: karitoaugusto@hotmail.com 2 Doscente e pesquisadora da Universidade Estadual de Goiás (UEG) – Câmpus São Luís de Montes Belos. Goiás. Brasil. 3 Mestranda em Produção Animal – Universidade Federal de Goiás (UFG). Goiás. Brasil. 4 Mestre em Produção Animal – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Minas Gerais. Brasil.

RESUMO

USE TOMATO INDUSTRIAL WASTE (RIT) IN

O setor da pecuária bovina nacional é suportado

RUMINANT FEED: LITERATURE REVIEW

quase em sua totalidade por um sistema de produção extensiva em que a alimentação volumosa

ABSTRACT

é exclusivamente fornecida por meio das pastagens.

The sector of the national cattle breeding is

Entretanto, a escassez da forrageira na época seca

supported almost entirely by an extensive production

interfere drasticamente nos índices de produtividade

system in which the bulky power is exclusively

do rebanho brasileiro. Fazendo-se necessário a

provided

busca por alimentos alternativos como resíduos

shortage of fodder in the dry season interfere

industriais, quando disponível na região, tornando

dramatically in the Brazilian herd productivity. Making

uma alternativa válida na alimentação de ruminantes

it necessary to search for alternative foods such as

a fim de suprir parte das exigências. Tomando como

industrial waste, when available in the region,

análise o uso industrial do tomate, uma vez que a

becoming a valid alternative in ruminant feeding in

colheita do fruto coincide com o período de escassez

order to supply part of the requirements. Taking as

e baixa qualidade e disponibilidade da forragem,

the industrial tomato, since the fruit harvest coincides

podendo este, se tornar uma importante fonte

with the period of the poor quality and availability of

alimentar.

fodder and can become an important food source.

through

the

pastures.

However,

the

Keyword: cattle, degradability, nutritional value, Palavras-chave: armazenamento, bovinos,

storage.

degradabilidade, valor nutricional.

4997


Artigo 415- Utilização de resíduo industrial de tomate (RIT) na alimentação de ruminantes- revisão de literatura

INTRODUÇÃO

Objetivou-se, a partir deste trabalho, descrever a

Diante de um cenário cada vez mais competitivo na

utilização de resíduos industriais de polpa de tomate

criação

na

de

animais

substituição

de

para

fins

alimentos

zootécnicos,

convencionais

a por

alimentação

de

ruminantes,

visando

sua

disponibilidade e potencial produtivo.

subprodutos torna-se uma saída consideravelmente atraente, a fim de adotarem estratégias para redução dos custos de produção e obtenção de maiores lucros no setor (MATOS, 2002). Garantindo que as necessidades nutricionais dos bovinos possam ser supridas. Sobretudo os subprodutos apresentam grandes vantagens na alimentação de ruminantes por não estabelecer competição com o uso na alimentação humana (SILVA et al., 2013).

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Resíduo Industrial de Tomate O estado de Goiás se destaca por ser o maior produtor nacional, e o setor vem crescendo 11% nos últimos anos no segmento de molhos, 5% no segmento de extratos. (G1, 2014). A partir do GRÁFICO 1 pode-se perceber o crescimento na produção de tomate entre os anos de 1994 a 2014, produção computada em 4.302,777 toneladas de

Por conseguinte, essa prática tem sido utilizada há

tomate, e da área utilizada no plantio do fruto no

vários anos com crescimento exponencial em seu

mesmo período com 64,363 hectares da lavoura

uso. Grande parte dos subprodutos na alimentação

(IPEA, 2014).

animal é resultante do processamento da indústria GRÁFICO 1- Série histórica da produção e da área

alimentícia e têxtil (GRASSER et al., 1995).

colhida de tomate de 1994 a 2014 do Brasil. Há

inúmeros

subprodutos

agroindustriais

com

diversidades satisfatórias em suas composições químicas que podem ser empregados na nutrição de ruminantes. Se destacando pela alta disponibilidade, ou

por

suas

características

bromatológicas

GRÁFICO 1- Série histórica da produção e da área colhida de tomate de 1994 a 2014 do Brasil.

(ROGÉRIO et al., 2009). Diante de tais ponderações torna-se pertinente destacar a geração de resíduos de tomate, que é bastante

significativo

pesquisadores

a

o

que

estudarem

tem

levado

alternativas

que

viabilizem a utilização do resíduo industrial de tomate (RIT) na alimentação animal, sendo esse subproduto

utilizado

principalmente

para

a

alimentação de ruminantes (RODRIGUEZ et al., 2009). Fonte: IBGE/PAM (2014).

O RIT é composto por fruto, casca do fruto, fração fibrosa da polpa e sementes, visto que o percentual

A colheita do tomate coincide com o período de

de cada um pode variar de acordo com o tipo de

escassez e baixa qualidade e disponibilidade da

processamento que o fruto recebe (RIBEIRO et al.,

forragem, período em que é comum a utilização de

2000).

outras fontes alternativas de alimentos (DENUCCI, 2010).

O manejo do resíduo industrial de tomate representa sérios problemas de contaminação ambiental para a

O resíduo de tomate é um produto oriundo da

indústria, resultando em maiores custos de produção

indústria produtora de polpa ou suco de tomate, e

devido ao transporte e pagamento de áreas para depósito do resíduo. 4998

gera em torno de 8,1% do peso fresco em resíduo,

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.4997-5003, mar./abr. 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 415- Utilização de resíduo industrial de tomate (RIT) na alimentação de ruminantes-revisão de literatura

sendo basicamente constituído de sementes e

de soja e vitaminas do complexo B. Entretanto

cascas, apresentando pequena quantidade de polpa.

grande parte da proteína pode estar indisponível

A proporção de cada uma das frações do resíduo é

para a utilização pelo animal, pois o tomate passa

variável de acordo com o produto final, e quando é

por um tratamento térmico durante o processo de

um produto descascado o resíduo será rico em

extração da polpa (RODRIGUEZ et al., 2009).

cascas, e quando o foco é a produção de molho de tomate, há maior presença de sementes no resíduo

A degradabilidade potencial da matéria seca (MS) e

(RODRIGUEZ et al., 2009).

da proteína bruta (PB) do resíduo industrial de tomate

utilizado

na

alimentação

de

bovinos,

Já na indústria, o tomate passa por três etapas de

apresenta valores de 70,2 e 79,6%, muito próximos

limpeza,

posteriormente

aos parâmetros de degradação da silagem de milho

encaminhado a moagem. A maior parte do produto

moído a 2 mm, com degradabilidade da MS e da PB

colhido se concentra em polpa concentrada, que

de 71,8 e 80,4%, respectivamente (CAMPOS, 2005).

sendo

classificado

e

garante a produção de extratos de tomate e molhos durante o ano todo, e seus respectivos resíduos

Todavia a digestibilidade da fração fibrosa da polpa

agroindustriais (G1, 2014).

de tomate pode ser comprometida devido aos elevados teores de lignina e extrato etéreo que

Seu processamento consiste em pasteurização em

podem

80ºC, moagem e prensagem, o que resulta 20,5 a

subproduto apresenta tamanho de partícula bastante

42% do peso do fruto em resíduo, variando ao tipo

reduzido, o que pode provocar rápida taxa de

do

passagem, permitindo altas ingestões diárias de MS

processamento

empregado.

Em

relação

à

produção do extrato de tomate, molho condimentado ou

até

mesmo

do

ketchup

são

levar

a

redução

do

consumo.

Este

(RODRIGUEZ et al., 2009).

produzidos

respectivamente 420, 205 e 230 kg de resíduos, o

Campos et al. (2004) reportam que a dinâmica de

que torna irrefutável sua reutilização (RIBEIRO et al.,

fermentação ruminal de bovinos alimentados com

2000).

RIT nas proporções de 0, 15, 30 ou 45% da MS da dieta, apresentam menores concentrações de ácido

Segundo Pessini (2003), o tomate é uma das

acético e butírico nos animais que receberam 45%

hortaliças mais conhecidas e de maior consumo

de RIT na dieta. E identificaram que a utilização de

mundial,

resíduo de tomate na dieta de ruminantes não

devido

à

multiplicidade

de

seu

compromete a fermentação ruminal. Entretanto,

aproveitamento na alimentação humana.

devido à baixa disponibilidade ruminal da proteína desse subproduto deve-se dar atenção especial ao Valor nutricional do resíduo de tomate na

fornecimento de fontes de nitrogênio disponíveis no

alimentação animal

rúmen.

De acordo com Campos et al. (2007a) o resíduo industrial de tomate é um subproduto agroindustrial que pode constituir boa fonte de nutrientes para os

Em avaliação a degradabilidade ruminal da fibra de variadas frações do RIT, na forma de cascas e de sementes inteiras e moídas apresentaram altas

microrganismos ruminais e para o animal.

taxas de degradação, identificando que as sementes moídas Em função do seu elevado teor de fibra como da

possuem

a

melhor

degradabilidade

(CAMPOS et al., 2007a).

Fibra em Detergente Neutro (FDN) e Fibra em Detergente Ácido (FDA), o resíduo de polpa de

Entretanto, Rodriguez et al. (2009) explanaram que

tomate

alimento

as recomendações de utilização do resíduo industrial

volumoso. Este apresenta alto teor de proteína bruta

de tomate na dieta de bovinos são bastante

(PB) que pode chegar a 22,1%, sendo uma boa fonte

variáveis, com níveis de inclusão bastante elevados.

de lisina, correspondendo 13% a mais do que farelo

Recomendando não exceder a utilização deste

pode

ser

classificado

como

subproduto a 30% da MS da dieta. Ressaltando a Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.4997-5003, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

4999


Artigo 415 – Utilização de resíduo industrial de tomate (RIT) na alimentação de ruminantes-revisão de literatura

necessidade da inclusão do RIT ser feita de forma

Partindo deste pressuposto Golshani et al. (2010)

gradativa, respeitando os limites de sua utilização.

comparando o valor nutritivo do bagaço de tomate e de cerveja para ruminantes usando a técnica de

Elucidando de forma objetiva a notória contribuição

produção de in vitro, identificaram de maneira geral

da composição bromatológica, Tabela 1, de cada

que a polpa de tomate apresentou melhores

fração composta pelo RIT como ingrediente na dieta

resultados do que a utilização de resíduos de

de bovino em virtude da boa aceitabilidade por parte

cervejaria.

dos animais, consumo entre 4 a 5 kg/animal/dia e inexistência de relatos e problemas sanitários

Uso do RIT na Bovinocultura de Corte

(CAMPOS et al., 2005).

O uso de resíduos industriais em substituição às silagens pode representar largo potencial da redução

TABELA 1- Composição bromatológica da casca, semente e resíduo industrial de tomate em porcentagem da matéria seca.

nos custos de produção em sistemas confinados (DENUCCI, 2010). Devido à elevada concentração proteica, o RIT tem sido

Fração

PB FDN FDA EE

Casca

10,8 62,5 52,4 3,6

Lignina NIDA

mencionado

como

fonte

interessante

de

proteína, tendo em vista sua baixa degradabilidade ruminal. O RIT pode ser uma boa alternativa para

20,4

22

animais confinados em fase de terminação, devido

Semente

29

60

30

22,4

16,9

18,6

ao alto valor proteico e considerável teor lipídico,

RIT

22

71,7

40

15,5

17,3

18,6

além de melhorar a conversão alimentar, pode resultar em maior cobertura de gordura na carcaça

PB= proteína bruta, FDN= fibra em detergente neutro, FDA= fibra

de bovinos. Sobretudo vem identificando que o

em detergente ácido, EE= extrato etéreo, NIDA= nitrogênio

bagaço de tomate é utilizado em larga escala e

insolúvel em detergente ácido.

possui grande aceitabilidade por parte dos animais

Fonte: CAMPOS et al. (2007b)

confinados (RODRIGUEZ et al., 2010).

Com a padronização no processamento desse subproduto representa um salto de qualidade na utilização do RIT, pois permiti formulação de dietas mais precisas e menor possibilidade de erros independentes da realização de análise laboratoriais sofisticadas, que muitas vezes tornam inviável sua utilização devido ao seu alto custo (RODRIGUEZ et

Em estudo Lima et al. (1995) identificaram que a substituição do feno de braquiária por polpa úmida de tomate em bovinos mestiços confinados pode ser em até 80% sem alterações no consumo de matéria seca (CMS) e ganho em peso diário (GPD). Confirmando que o RIT pode ser adicionado em dietas com alto nível de inclusão.

al., 2009). Já, Denucci (2010) em substituição a silagem de De maneira mais pronunciada Campos et al.

sorgo por RIT na alimentação de bovinos de corte,

(2007c),

machos

percebeu que é possível substituir até 60% sem

castrados acondicionados em gaiolas individuais,

afetar o GPD e características de carcaça como área

alimentados em quatro dietas experimentais de RIT

de olho de lombo, comprimento de carcaça,

na MS, por dezesseis dias. Identificou-se que a

espessura de gordura, textura, capacidade de

adição de silagem de RIT à dieta dos animais não

retenção de água e perda por cozimento e pH.

utilizaram

dezesseis

ovinos

afetou a ingestão de MS, MO, PB, FDN e FDA, além de apresentarem boa ingestão de MS em relação ao

Armazenagem do RIT

peso vivo. Visto que a silagem do resíduo industrial

No que tange ao aspecto ambiental, o manejo do

de tomate apresenta boa digestibilidade aparente de

resíduo industrial de tomate representa sérios

todas

no

problemas de contaminação para a indústria quando

máximo45% de RIT em dietas de ovinos não afetou

não realizados de maneira adequada pela indústria

o consumo alimentar.

(CAMPOS et al., 2005).

5000

as

frações

analisadas.

O

uso

de

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.4997-5003, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 415 - Utilização de resíduo industrial de tomate (RIT) na alimentação de ruminantes-revisão de literatura

O bagaço de tomate é um produto muito perecível, e

em silos de laboratório com diferentes aditivos com e

quando fresco torna-se inutilizado em dois dias, se

sem compactação, com 2 e 4h de pré-secagem e

for exposto ao ar, portanto, há necessidade de

sem pré-secagem. Assim o resíduo industrial de

preservar este material a partir da ensilagem com

tomate se apresentou como boa alternativa para a

palha de arroz para eventual preservação de seu

ensilagem, sem necessidade de inclusão de aditivos

valor nutritivo e de aceitabilidade pelos animais, e

para se garantir sua preservação.

assim, possa ser utilizado posteriormente (COLUYA, Do mesmo modo Campos et al. (2007b) utilizando

2000).

silos de laboratório a fim de analisar a qualidade da Nessa ótica, devido a estacionalidade de produção

silagem de resíduo industrial de tomate submetido a

do RIT ser do mês de julho à novembro associado

oito tipo de tratamentos, identificou após 56 dias de

ao seu baixo custo de obtenção, a ensilagem desse

fermentação que o material ensilado apresentava

produto pode ser uma alternativa para a sua inclusão

bom aspecto de preservação e sem crescimento de

na dieta dos ruminantes durante todo o ano, pois

fungos ou sinal de putrefação. Além das análises

esse resíduo apresenta boas concentrações de

bromatológicas

proteína bruta e de extrato etéreo (CAMPOS et al.,

satisfatória, com ou sem a utilização de aditivos.

que

apresentaram

preservação

2007b). Tornando de extrema importância os cuidados no Um dos grandes entraves nesse sistema de

armazenamento para se preservar o valor nutricional

produção em resíduos de hortifrutigranjeiros são a

destes alimentos ao longo do tempo, bem como a

sua elevada umidade e grande perecibilidade,

segurança e saúde animal (RODRIGUEZ et al.,

dificultando o transporte e conservação. Visto que a

2010).

secagem com o uso de combustíveis fósseis encarece o alimento, inviabilizando sua exploração.

Visto que falhas ou mau acondicionamento na

Então, outras formas de conservação seriam a

conservação do material podem causar rejeição

ensilagem, secagem ao sol e industrialização,

pelos animais ou até mesmo distúrbios metabólicos

elaborando ―pellets‖ destes produtos (RODRIGUEZ

como

et al., 2010).

qualidade do produto (ALMEIDA, 1992).

Certamente a necessidade de fornecimento do

CONSIDERAÇÕES FINAIS

material fresco limita sua utilização em períodos

O presente estudo versa sobre a viabilidade no uso

restritos do ano na safra do tomate. Visto que tal

do RIT em substituição a outras fontes de alimentos

produto possui elevado conteúdo de água que limita

a fim de reduzir o custo de produção com a nutrição,

o tempo de estocagem e aumenta o custo do

visto que esta representa considerável dispêndio na

transporte, entretanto uma boa opção a fim de

produção de animais, sobretudo os confinados. Este

reduzir os níveis altos de água é o processo de

resíduo pode ser utilizado durante a escassez de

secagem do produto, mas este possui alto custo

alimentos, quando disponíveis na região, ressaltando

(CAMPOS et al., 2007b).

a

intoxicações,

indiscutível

demonstrando

composição

perdas

bromatológica

na

aos

microrganismos do rúmen, desde que o mesmo seja O processo de conservação tem como propósito

bem acondicionado assegurando a qualidade e

impedir

segurança do alimento de consumo animal.

a

contaminação

destes

produtos

por

inseticidas, fungicidas, herbicidas, metais pesados derivados de adubos e micotoxinas, além de uma

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

boa alternativa para conservação deste subproduto, mantendo a qualidade e segurança do alimento (RODRIGUEZ et al., 2010).

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silagem

de

sorgo

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5003


Alternativa de forragem para caprinos e ovinos criados no semiárido Revista Eletrô Caatinga, conservação, produção animal. 1

Fleming Sena Campos 1 Glayciane Costa Gois 2 Saullo Laet Almeida Vicente 3 Amélia de Macedo 4 Alex Gomes da Silva Matias

Vol. 14, Nº 02, mar. / abr. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores

1

Pós-doutorandos em Zootecnia, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária- Embrapa Semiárido, Petrolina - PE. E-mail: glayciane_gois@yahoo.com.br 2 Mestrando em Zootecnia, Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, Petrolina – PE. 3 Graduando em Zootecnia, Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, Petrolina – PE. 4 Graduanda em Biologia, Universidade de Pernambuco – UPE, Petrolina - PE

ALTERNATIVE FORAGE FOR GOATS AND

RESUMO A

.

produção

animal

é

predominante

sobre

a

SHEEP RAISED IN SEMIARID

agricultura em quase todas as regiões semiáridas do

ABSTRACT

mundo.

contribui

Livestock production is predominantly on agriculture

substancialmente na agricultura familiar, tendo papel

in almost all semiarid regions of the world. The

socioeconômico de destaque nesta na região, porém

creation of goats and sheep contributes substantially

os animais possuem índices zootécnicos abaixo do

in family agriculture, with prominent socio-economic

recomendado,

forte

role in the region, but the animals have biological

dependência da vegetação nativa como fonte básica

indices below the recommended, which is related to

de alimento. A busca por alternativas alimentares

the strong dependence of native vegetation as a

para caprinos e ovinos nesta região baseia-se na

basic food source. The search for food alternatives

produção e conservação de espécies forrageiras

for goats and sheep in this region is based on the

nativas ou introduzidas. No entanto para essa região

production and conservation of native or introduced

não existe uma alternativa perfeita, deste modo,

forage species. However for this region there is no

saídas para amenizar a situação dos sertanejos no

perfect alternative thus outputs to ease the situation

período seco são procuradas, dando assim um maior

of the country people in the dry season are sought,

suporte para melhorar a produtividade animal.

thus giving greater support to improve animal

A

caprinovinocultura

o

que

é

relacionado

à

productivity. Palavras-chave: Caatinga, conservação, produção animal.

Keyword: Caatinga, conservation, animal production.

5004


Artigo 416 – Alternativa de forragem para caprinos e ovinos criados no semiárido

INTRODUÇÃO O clima semiárido é caracterizado por ser quente,

devem ser levadas em consideração, pensando em

seco e de baixo índice pluviométrico, onde os

produção animal (DRUMOND et al., 2000).

períodos secos são prolongados e as chuvas ocasionais concentradas em poucos meses do ano.

A pecuária é menos afetada pela seca quando

As altas temperaturas com pequena variação anual

comparada com a agricultura. A caprinovinocultura

exercem forte efeito sobre a evapotranspiração que

contribui substancialmente na agricultura familiar,

determinam o déficit hídrico muito alto na região

tendo assim um grande papel socioeconômico na

(ARAUJO FILHO & ARAUJO CRISPIM, 2002).

região, porém os animais possuem baixos índices

Geralmente

zootécnicos,

o

índice

pluviométrico

na

região

fato

este

relacionado

à

forte

semiárida varia de 200 a 800 mm anuais, podendo

dependência da vegetação nativa como fonte básica

ser inferior a esses índices dependendo da região,

de alimento (PEREIRA et al., 2007).

além disso, essa região possui um solo raso, o que

incessante de alternativas de alimentação para

favorece a evaporação das águas (INSA, 2009).

caprinos e ovinos no semiárido brasileiro, baseia-se

A busca

na produção e conservação de espécies forrageiras Bastante diversificados e disseminados no mundo o

nativas ou introduzidas. No entanto para essa região

clima semiárido, a qual somada a zonas áridas e

não existe uma alternativa perfeita, deste modo

desérticas equivalem a 55% da área do globo. No

devendo-se buscar saídas para amenizar a situação

Brasil encontra-se uma das três grandes áreas de

dos sertanejos no período seco, dando assim um

semiárido existente na América do Sul, além dela,

maior suporte para melhorar a produtividade animal.

existem ainda áreas distribuídas na Argentina, Colômbia, Venezuela, Chile e Equador. O Semiárido

Objetivou-se

brasileiro é um dos maiores, mais populosos e

informações sobre alternativas forrageiras para a

também mais úmido, possuindo uma faixa territorial

alimentação de caprinos e ovinos criados no

2

de 1.646.500 km que segundo SÁ et al. (2004), a geografia

convencional

a

divide

em

com

esta

revisão,

apresentar

semiárido.

zonas:

Litorânea, Agreste e Sertão. As duas últimas dão origem à região semiárida, abrangendo 70% da área do Nordeste e 13% do Brasil. A área de domínio da 2

caatinga compreende 925.043 km , ou seja, 55,60% do nordeste brasileiro. O clima semiárido apesar de ser predominante no Nordeste, abrange também o Vale do Jequitinhonha, no Norte de Minas Gerais, e parte da região Norte do Espírito Santo (INSA, 2009).

Semiárido e sua vegetação O semiárido brasileiro além de ser um dos maiores do mundo, é o mais populoso e está localizado geograficamente em: 1º a 18º de latitude sul e de 34º30‘ a 48º20‘ de longitude oeste. O nordeste brasileiro caracteriza-se pelo clima semiárido, pois 70% de seu território é tomado por esse clima e sua vegetação, com clima seco e quente ou megatérmico o

com temperaturas médias mensais acima de 18 C (ARAUJO FILHO & ARAUJO CRISPIM, 2002). Os

A vegetação predominante no clima semiárido é a

rios, geralmente são intermitentes com volume de

caatinga, que tem sua composição formada por

água limitado. A altitude da região varia de 0 a 600

plantas lenhosas e herbáceas de pequeno porte,

m, a temperatura média anual vai de 24 a 28ºC, a

cactáceas, bromeliáceas e xerófilas resistentes ao

precipitação média de 250 a 1000 mm e a

clima seco e baixa umidade. Em relação ao

evapotranspiração potencial situa-se em torno de

potencial forrageiro, a caatinga é bastante rica e

2.700 mm/ano, caracterizando um déficit hídrico

diversificada, tendo uma relevante produção de

elevado.

fitomassa das espécies lenhosas e da parte aérea das herbáceas, os quais são utilizados como fonte

A vegetação predominante na região é a caatinga,

de alimentação animal. No entanto a fragilidade da

geralmente dotada de espinhos, sendo, caducifólias,

caatinga, as adversidades edafoclimáticas e a

em sua maioria, perdendo suas folhas no início da

necessidade de conservação de recursos naturais,

estação

seca.

Segundo

Prado

et

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5004-5013, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

al.

(2003)

5005


Artigo 416 - Alternativa de forragem para caprinos e ovinos criados no semiárido

a caatinga apresenta na sua maioria árvores e

aumentam à medida que a estação seca progride,

arbustos baixos, muitos dos quais apresentam

mostrando-se assim que a caatinga é insuficiente

espinhos,

características

para fornecer os requisitos energéticos e proteicos

xerofíticas. Não existe lista completa para as

dos animais durante todo ano (ALVES et al., 2007).

espécies da caatinga, encontradas nas suas mais

Esses aspectos citados reforçam a importância e a

diferentes situações climáticas. As famílias mais

necessidade de se implantar estratégias alimentares

frequentes

microfilia

são

e

algumas

Mimosaceae,

para a região, as quais podem ser o plantio e manejo

Euphorbiaceae, Fabaceae e Cactaceae, sendo os

Caesalpinaceae,

adequado de forrageiras xerófilas, uso de forragem

gêneros Senna, Mimosa e Pithecellobium os que

conservada, utilização de resíduos da agroindústria,

apresentam maior número de espécies. As forragens

suplementação dos animais, objetivando melhorar o

nativas bastante citadas como fonte de alimento

rendimento dos animais e também visando à

para os animais são: catingueira (Caesalpinia),

conservação de forragens as quais apresentam - se

marmeleiro

em abundância na estação chuvosa.

(Croton

spp.),

mandacaru

(Cereus

jamacaru D.C.), macambira (Bromelia laciniosa Mart. ex Schult.), xique-xique (Cereus gounellei), coroa de

Potencial forrageiro da Caatinga

frade

angico

A maioria da constituição da vegetação da caatinga

(Melocactus

(Anadenanthera

Zehntneri),

pau-ferro

é formada principalmente por plantas lenhosas que

(Caesalpinia férrea Mart. ex. Tul.), canafistula

servem como fonte de forragem para os rebanhos

(Senna spectabilis var. excelsa Sharad), marizeiro

dos sertões nordestinos, chegando a corresponder

(Geoffraea spinosa Jacq.), jurema-preta (Mimosa

com cerca de até 90% da dieta dos pequenos

tenuiflora), sabiá (Mimosa caesalpinifolia Benth.),

ruminantes,

rompe-gibão (Pithecelobium avaremotemo Mart.),

(GONZAGA NETO et al., 2001). No entanto a

juazeiro (Zizyphus joazeiro Mart.), mororó (Bauhinia

manipulação de árvores e arbustos forrageiros

sp.), engorda-magro (Desmodium sp.), marmelada-

necessita de técnica para melhorar a qualidade e

de-cavalo (Desmodium sp.), feijão-bravo (Capparis

maximizar a utilização das forragens nativas, para

flexuosa L.), mata pasto (Senna sp.) urinárias

isso é requerente o conhecimento adequado das

(Zornia sp.), mucunãs (Stylozobium sp.), cunhãs

características de produção de fitomassa e o seu

(Centrosema sp.), maniçoba (Manihot sp), erva de

valor nutritivo. As plantas nativas do semiárido se

ovelha (Sthylosanthes humilis HBK), faveiro (Parkia

destacam geralmente pela sua resistência à seca,

platycephala

(Spondias

além de apresentarem um alto nível proteico,

pachycladus

fornecerem outros produtos como madeira e frutos,

tuberosa),

macrocarpa

Benth), facheiro

Benth),

umbuzeiro

(Pilosocereus

principalmente

Ritter), erva Sal (Atriplex nummularia), flor de seda

sendo

(Calotropis procera), feijãozinho (Centrosema sp),

(DRUMONT et al., 2000).

jitirana(

Ipomoea

brasiliensis

Engl.)

tomentosa

L.)

sp).,Baraúna e

o

Capa

(DRUMOND

explorados

de

época

forma

seca

extrativista

(Schinopsis

bode (Melochia et

esses

na

al.,

(2000);

A produção de forragem dos pastos nativos é resultante da parte aérea das plantas nativas,

CAVALCANTI & RESENDE et al. (2004); SANTOS

principalmente

et al. (2005); ALVES et al. (2007); MARQUES et al.

contribuição dos arbustos e outras árvores. As

(2008)).

plantas do semiárido apresentam uma característica,

das

lenhosas,

porém

uma

que segundo alguns autores, ocorrem um aumento A mata branca (caatinga) mostra-se bastante rica e

do teor de matéria seca (MS) durante a estação

diversificada,

chuvosa e estabilização durante a estação seca,

com

grande

potencial

forrageiro,

madeireiro, frutífero, medicinal e faunístico. Vários

caracterizando

estudos mostram que a caatinga apresenta um

aumento no período das chuvas no mês de janeiro,

grande potencial de espécies

que

atingindo o ponto máximo nos meses de junho e

contribuem para a dieta animal, no entanto, os

julho, com a média de quase 4.000 kg/ha/ano de MS,

valores de proteína bruta e digestível decrescem e,

mais apresentam grandes variações anuais (LEITE,

ao mesmo tempo, os teores de lignina e as fibras

2002).

5006

forrageiras

a

produção

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5004-5013, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

de

biomassa,

em


Artigo 416 - Alternativa de forragem para caprinos e ovinos criados no semiárido

Além dessa baixa produção de MS das plantas

seria a utilização de pastagens nativas e adaptadas

nativas, o que pode ocasionar um déficit forrageiro

ao clima semiárido, além da conservação das

ao longo do ano, muitas dessas apresentam fatores

mesmas

antinutricionais afetando negativamente a ingestão

GIULIETTI et al. (2004) as pastagens nativas

dessas

mais

suportam o pastejo dos animais, porém as áreas

comumente encontrados nas plantas do nordeste

sofrem em sua maioria superlotações; o que pode

brasileiro é o tanino, que é um polímero de

provocar um déficit de forragem ao decorrer do ano

compostos fenólico, que auxiliam as plantas contra

na região.

forragens.

Um

desses

fatores

no

período

das

chuvas.

Segundo

fungos, bactérias vírus e até mesmo contra ingestão de herbívoros (GUIMARÃES-BEELEN et al., 2006).

Alternativa de forragem para o semiárido

Essa

nas

Com uma grande variação de forragem nativa, a

forragens pode influenciar positivamente, prevenindo

caatinga pode representar uma fonte alimentar para

o timpanismo e aumentando o nível de nitrogênio

os animais da região do semiárido. (GONZAGA

não amoniacal e aminoácidos no rúmen, porém a

NETO et al., 2001). Outras forragens cultivadas e

sua alta concentração pode afetar de forma

subprodutos

negativa, reduzindo o consumo das forragens,

utilizadas na alimentação animal, como alternativa

afetando a palatabilidade dos alimentos e/ou a

para o período de escassez e diminuição de custos

digestão

de produção.

substância

dos

digestibilidade

em

baixa

mesmos, das

concentração

comprometendo

proteínas

e

a

industriais

também

vêm

sendo

carboidratos

(GONZAGA NETO et al., 2001).

As principais alternativas para o semiárido brasileiro seria a racional utilização das plantas nativas do

Pecuária no semiárido brasileiro

semiárido em consorciação com algumas plantas

A criação de bovinos, caprinos e ovinos constitui a mais importante atividade desenvolvida na pecuária nordestina.

Segundo

Araújo

et

al.

(2003),

a

exploração ovina e caprina é importante para agricultores e habitantes das cidades do Nordeste, devido as suas adaptações às condições ambientais das caatingas e habilidade em transformar material fibroso de baixo valor nutritivo, em alimentos nobres

cultivadas resistentes ao clima e adaptada ao solo, juntamente com a conservação do excesso das forragens no período das chuvas, seja essa na forma de fenação ou silagem e também utilização do recurso

das

capineiras,

para

poder

suprir

a

necessidade do animal no período seco, sem necessidade de diminuição do número de animal por área ou hectare.

de alto valor proteico para o homem, como a carne e o leite, possuindo desta forma um grande papel

Araújo Filho et al. (1999) recomendaram os capins:

socioeconômico na região, além de fixar o homem

andropógon (Andropogon gayanus), buffel grass

no campo e servir como fonte de renda. No entanto

(Cenchrus ciliaris), gramão (Cynodon dactylon var.

a

Aridus

caprinovinocultura

apresenta

uma

forte

dependência da pastagem nativa que é fonte básica da produção animal, o que favorece a baixa produtividade, devido à redução drástica da MS das forragens durante a estação seca.

cv.

Calie)

mosambicensis)

para

e a

corrente

(Urochloa

ovinocaprinocultura

no

semiárido nordestino. Tendo em vista que não existe uma forragem ideal para produção animal, e sim a utilização de várias fontes de alimento para formar uma dieta completa e suprir as necessidades do

Na produção animal, os gastos com alimentação

animal.

podem variar muito, podendo chegar até 80%, como visto por FORTALEZA et al. (2009) na criação de

Com

bovinos de corte. Esses gastos deixam a produção

subprodutos estudados para utilização na alimentação animal, na tentativa de baratear o custo

animal

cara,

impossibilitando

os

pequenos

produtores de investirem na compra de insumos. Com isso buscam-se alternativas para reduzir os gastos

na

produção

animal

e

aliviar

as

consequências das secas para o animal e uma opção

uma

ampla

variedade

de

alimentos

e

de produção e aumentar o rendimento animal, o mais coerente seria a associação de algumas dessas fontes de alimento, buscando suprir as necessidades fisiológicas dos animais. As

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5007


Artigo 416 - Alternativa de forragem para caprinos e ovinos criados no semiárido

alternativas de alimentos que vem sendo estudadas

gliricídia, são nativas das regiões tropicais da

estão entre as plantas xerófilas nativas, exóticas e

América. Atualmente são conhecidas cerca de seis a nove espécies, selvagens e cultivadas,

até mesmo subprodutos industriais.

compreendendo arbustos e pequenas árvores. São Cunhã (Clitoria ternatea L.)

usadas como forragem para bovinos, ovinos e

Leguminosa tropical de raízes profundas que se

caprinos. Têm alto teor de proteína (15 a 30%). As

desenvolve bem na região tropical e resistente à

flores são comestíveis e contém cerca de 3% de

seca, apresenta alto potencial forrageiro, é originaria

nitrogênio. As gliricídias podem ser exploradas como

da Ásia e chega a

com

lenha. Os ramos apresentam um poder calorífero

aproximadamente 12 – 22% de proteína bruta (PB),

bastante alto (4.900 kcal/kg). O uso potencial das

além de apresentar boa digestibilidade, com fibra de

espécies deste gênero inclui o controle de erosão em

detergente neutro (FDN) entre 50 e 60% o que

encostas e revegetação de solos degradados.

favorece a produção de feno com essa herbácea

Moreira et al. (2008), encontraram no seu trabalho

(DUEBEUX JUNIOR et al., 2009). Apresenta alta

teores de MS, PB e FDN de 88,62%, 12,23% e

palatabilidade e é bastante aceita pelos animais.

30,68% respectivamente, apresentando bons valores

São bastante adaptadas as condições do Nordeste,

nutricionais, porém os autores constataram uma

persistindo bem ao curto período de estiagem. Essa

queda

forragem chega a produzir cerca de 800 kg/ha/ano

supostamente associado a fatores antinutricionais.

produzir

forragens

no

consumo

do

feno

de

gliricidia,

em algumas regiões. Maniçoba (Manihot sp) Duebeux Junior et al. (2009) em seu trabalho,

As maniçobas são espécies nativas da família

acharam níveis nutricionais bons, com MS de 93% e

Euphorbiaceae, bastante difundidas no Nordeste.

PB de 18%, demonstrando que essa planta pode ser

Crescem em áreas abertas e desenvolvem-se na

utilizada como banco de proteína na produção

maioria dos solos. Existe uma grande variedade de

animal.

espécies que recebem o nome vulgar de maniçoba ou ―mandioca brava‖.

Leucena (Leucaena leucocephala) A leucena é uma leguminosa, originada da América

O sistema radicular da maniçoba é bastante

Central, é uma planta bastante palatável para os

desenvolvido, formado por raízes tuberosas, onde

animais, apresenta uma raíz profunda, com folhas

acumula suas reservas, e proporciona a planta

bipinadas e no geral ficam verdes no período seco.

grande capacidade de

É uma planta perene, que podem se desenvolver em

produção de maniçoba e variável no decorrer do

solos

uma

ano. Em análises bromatológicas de amostras de

produção de forragem de até 20 toneladas/MS/ha

folhas e ramos tenros normalmente apresentam os

dependendo da sua subespécie e pode apresentar

seguintes valores (%MS): 20,88%, 8,30%, 13,96%,

cerca de 21 a 23% de PB nas folhas e vagens,

49,98%, 6,88%, 62,30%, respectivamente para

servindo como banco de proteína na propriedade

proteína bruta, extrato etéreo, fibra bruta, extrato não

tropicais

e subtropicais, apresenta

resistência à seca.

A

nitrogenado, cinzas e digestibilidade in vitro da Resultados apresentado por Moreira et al. (2008),

matéria seca (ARAÚJO et al., 2004), podendo

mostraram que o feno de leucena apresentou teor

considerar uma forrageira de boa qualidade, quando

de MS, PB e FDN de 90,6%, 12,47 e 42,09%. Deste

comparada com outras forrageiras tropicais.

modo o autor sugere estratégia alimentar e salienta que o feno de leucena são técnicas viáveis para

Segundo Castro et al. (2007) o feno de maniçoba

compor a ração dos caprinos.

apresenta-se como uma alternativa viável na dieta de ovinos, podendo chegar até 80% da dieta do

Gliricidia (Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.)

animal, que os ovinos em engorda apresentaram

No Brasil não tem nome vulgar e é chamada de

bons desempenhos.

5008

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Catingueira (Caesalpinea bracteosa)

do à produção do biodiesel, servindo como uma do

fonte de renda para o agricultor. No entanto os

semiárido nordestino, é a forragem que mais demora

subprodutos dessa planta vêm sendo utilizado como

a entrar em estado de dormência após o termino das

fonte alimentar para os animais como a torta de

chuvas. É uma planta com características xerófila,

mamona, farelo e a própria casca. A casca da

com teor de tanino que varia de 6,3% a 18,5%, que

mamona apresenta cerca de 5,3% de proteína bruta,

pode

sendo utilizado como fonte de fibra para os animais.

Planta

nativa

predominante

afetar

a

na

caatinga

palatabilidade

da

forragem,

dependendo no seu estágio de florescência. Pode apresentar teor de proteína bruta que varia de 11 a

Cajueiro (Anacardium ocidentale)

17% (GONZAGA NETO et al., 2001).

O cajueiro vem sendo cada vez mais cultivado de forma racional nos estados, principalmente Piauí,

Segundo Gonzaga Neto et al. (2001), apesar do feno

Ceará e Rio Grande do Norte, com o objetivo da

de

níveis

produção de castanha. No entanto o seu subproduto

nutricionais, a adição do feno na dieta dos animais

(pedúnculo) também apresenta um bom valor

diminuiu a digestibilidade e o consumo, o que pode

nutricional, podendo ser utilizado na alimentação dos

está diretamente ligado aos fatores antinutricionais,

animais.

catingueira

ter

apresentado

bons

neste caso o tanino. O pedúnculo de caju é um alimento energético, rico Umbuzeiro

(Spondias

tuberosa

Arr.

Cam.

-

Anacardiaceae) Árvore

frutífera

em fibras, com teor de 13% de proteína bruta, podendo assim substituir o concentrado como

xerófila

nativa

do

Nordeste.

também

o

volumoso

na

alimentação

animal.

Encontrada em toda a região do polígono das secas.

Segundo Vasconcelos et al. (2002), a composição do

Desenvolve-se em zonas com pluviosidade anual

subproduto do caju, apresenta teor de MS, PB, EB e

variando de 400 a 800 mm, em associação com

tanino de 89,1%, 14,4%, 4721 kcal/g e 4%

outras plantas da caatinga. A folhagem, os frutos e

respectivamente. Esses resultados demonstram que

os túberos servem de alimento para os animais

o pedúnculo do caju, pode ser uma alternativa de

domésticos (bovinos, caprinos, ovinos e outros) e

alimento para os animais do semiárido, onde a

para os animais silvestres, especialmente para

produção de caju é grande.

veados e cágados (ARAÚJO et al., 2006). Capim Buffel (Cenchrus ciliares L.) Girassol (Helianthus anuus)

O capim buffel tem se mostrado adaptada às

O girassol é uma planta de origem americana, sendo

condições

característico por ser uma cultivar rústica. Tem suas

germinação e estabelecimento, precocidade na

raízes pivotantes, de suas flores pode ser extraída

produção de sementes e capacidade de entrar em

cerca de 20 a 40 kg e óleo/ha. Apresenta melhor

dormência na época seca. Em algumas áreas seu

produtividade que o milho e a soja em climas

cultivo tem se dado com as retiradas áreas nativas,

adversos

está

entretanto sua implantação pode está associada ao

destinada à produção de óleo, deixando um resíduo

manejo integrado com a caatinga, visando aproveitar

altamente proteico o qual vem sendo usado e

a potencialidade do capim como complemento da

estudado para alimentação animal. Uma alternativa

pastagem nativa (Moreira et al., 2007).

e

ultimamente

sua

produção

semiáridas,

associando

uma

rápida

de utilização dessa planta é a produção de silagem, que pode apresentar bons níveis de proteína, estrato

Palma

etéreo e matéria mineral, viabilizando uma ração de

A palma forrageira pode ser da espécie: Opuntia

baixo custo e com bons níveis nutricionais (SOUSA

ficus-indica

et al., 2008).

vulgamente chamada de palma-forrageira, palma

(L.)

P.

Mill.Família:

Cactaceae

gigante e palma redonda ou da Espécie: Nopalea Mamona (Ricinus communis L.)

cochinilifera Salm Dyck Família: Cactaceae essas

A mamona apresenta em sua semente o seu

chamadas de palma-forrageira, palma doce, palma

principal produto: o óleo, o qual vem sendo destina-

miúda. São cactáceas suculentas, ramificadas, de

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5009


Artigo 416 - Alternativa de forragem para caprinos e ovinos criados no semiárido

porte arbustivo, com altura entre 1,5 e 3 m, mais

de teobromina que pode diminuir a utilização do

compridos (30 - 60 cm) do que largos (6 - 15 cm),

farelo de cacau na alimentação animal; uma

variando

até

significativa quantidade de farelo de cacau está

desprovidos de espinhos (inermes). As folhas são

disponivel no mercado nacional, com preço baixo,

excepcionalmente pequenas, decíduas precoces.

sendo usados para alimentação de vacas, porcos e

Embora introduzido na década de XVII, só foi

aves. (Carvalho et al., 2006).

de

densamente

espinhosos

direcionado pra forrageira no século XX servindo como alternativa forrageira para alimentação animal

Conservação de forragens

(Cavalcanti et al., 2008). São bem adaptadas as

O sistema mais econômico para produção de

regiões adversas como semiárido.

ruminantes é a utilização das pastagens. No entanto a produção de forragens sofre alterações devido à

Segundo Cavalcanti et al. (2008), esta cactácea é

irregularidade das chuvas, principalmente no clima

um alimento suculento, rico em água e mucilagem,

semiárido, caracterizando a produção de forragens

com significativos teores de minerais, principalmente

com período de escassez e excesso de produção de

cálcio (Ca), potássio (K) e magnésio (Mg). Apresenta

fitomassa, com isso a conservação de forragens no

altos teores de carboidratos não fibrosos (CNF) e

tempo das chuvas é indispensável para equilibrar a

elevado coeficiente de digestibilidade da matéria

oferta de forragens. As

seca (MS). Ao contrário de outras forragens, a palma

conservação de forragens são a ensilagem e a

forrageira possui baixo percentual de parede celular

fenação, os quais são de grande importância

e alta concentração de carboidratos não-fibrosos,

econômica para a maioria dos países, incluindo o

possuindo aproximadamente 28% de FDN, 48% de

Brasil, em virtude da produção irregular de forragens

carboidratos

durante as estações do ano (ANDRIGUETTO et al.,

não-estruturais,

7,4%

de

ácido

principais

formas

de

galacturônico e 12% de amido.

2002).

Polpa cítrica

Calixto Júnior et al. (2007) relatam que as forrageiras

A polpa cítrica desidratada, subproduto da indústria,

subtropicais e tropicais podem produzir fenos de boa

pode ser utilizada em rações para ruminantes como

qualidade em condições climáticas adequadas e

ingrediente de alta densidade energética para os

bom manejo no processo de fenação e que o

animais tendo pouco ou nenhum efeito negativo na

processo consiste na desidratação rápida das

fermentação ruminal. No entanto, a substituição de

forragens e conservação dos valores nutricionais,

ingredientes

porém a maioria dos fenos produzidos no Brasil têm

tradicionais,

como

o

milho,

por

subprodutos como a polpa cítrica, pode alterar a

qualidade inferior.

composição e a qualidade da carne ovina, mesmo que o desempenho seja satisfatório. De acordo com

Há uma necessidade de maior disseminação das

Rodrigues et al. (2008), a utilização desse produto

técnicas de conservação de forragem, para evitar

não influencia as características de carcaça de

perdas de qualidade e até mesmo do material a ser

cordeiros

a

conservado, deste modo armazenando forragens de

substituição total do milho por polpa cítrica reduz em

boa qualidade para serem utilizadas no período de

12,4% o teor de gordura na carcaça e pode

estiagem.

em

confinamento,

entretanto,

ocasionar mudanças em algumas características de qualidade da carne, como a cor e maciez.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O semiárido é caracterizado pelas suas condições

Farelo de cacau

climáticas, onde há um longo período de estiagem e

O farelo de cacau é obtido após torra do grão para

má distribuição das chuvas ao longo do ano,

obtenção da manteiga de cacau e do chocolate e

causando uma irregularidade no fornecimento de

pode ser encontrado no mercado nacional com 16%

forragens, sendo um fator limitante na produção

e com 25% de PB, tendo uma boa aceitabilidade

animal nessas regiões.

pelos animais e dependendo da sua variedade e de sua utilização pode apresentar mais ou menos teor 5010

A caatinga apresenta uma ampla variedade de

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Artigo 416 - Alternativa de forragem para caprinos e ovinos criados no semiárido

plantas, as quais apresentam um bom teor de forragem para alimentação de caprinos e ovinos no período

das

chuvas.

No

entanto

as

secas

MOREIRA, J.N.; FERREIRA, M.A.; TURCO, S.H.N.; SOCORRO, E.P. Consumo voluntário e desempenho

prolongadas prejudicam o desenvolvimento dos

de ovinos submetidos a dietas contendo diferentes

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níveis de feno de maniçoba. Revista Ciência

na

região,

sendo

de

fundamental

importância o surgimento ou o reaproveitamento de

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alternativas

alimentares

vêm

sendo

estudadas, para suprir as exigências nutricionais dos animais, e uma alternativa para suprir a alimentação dos caprinos e ovinos nas secas é a conservação do

forrageiras

arbustivas

arbóreas

na

alimentação animal no Semiárido do Nordeste. 2006.

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consorciação

com

gramíneas

adaptadas

e

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leguminosas e utilização de subprodutos industrial

de

oriundo do semiárido, auxiliando o produtor a manter

bromatológica

os animais com bons índices produtivos sem a necessidade da venda ou diminuição da quantidade de animal.

desidratação

e

do

composição

feno

de

químico-

grama-estrela

(Cynodon nlemfuensis Vanderyst) em função de níveis

de

adubação

nitrogenada.

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PEC

NORDESTE,

4,

Anais...

Pernambuco. Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, p.454-463, 2005. SOUSA, V.S.; LOUVANDINI, H.; SCROPFNER, E.S.; MCMANUS, C.M.; ABDALLA, A.L.; GARCIA, J.A.S. Desempenho, características de carcaça e componentes corporais de ovinos deslanados alimentados com silagem de girassol e silagem

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5004-5013, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

5013


Consumo voluntário: regulação, modelos de predição e métodos de medição Hipótese das duas fases, teoria energostática, bovino de corte.

Revista Eletrônica

Jéssica Maria Santos Sousa¹ Antônia Leidiana Moreira² Vol. 14, Nº 02, mar. / abr. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

¹Mestranda em Ciência Animal/Programa de Pós Graduação em Ciência Animal/Universidade Federal do Maranhão – UFMA. E-mail: jessicahistozoo@gmail.com ²Doutoranda em Ciência Animal/Programa de Pós Graduação em Ciência Animal/Universidade Federal do Piauí - UFPI

RESUMO Consumo voluntário pode ser definido como a quantidade de alimento ingerido espontaneamente

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

VOLUNTARY INTAKE: REGULATION, PREDICTION MODELS AND MEASUREMENT METHODS

pelo animal em determinado período de tempo com

ABSTRACT

acesso livre ao alimento. A produção animal é

Voluntary intake may be defined as the amount of

determinada pelo consumo de MS, pois a quantidade

food consumed by the animal voluntarily in a given

de nutrientes ingerida pelo animal afeta diretamente

time period with unrestricted access to food.

o seu desempenho. O consumo de MS pode ser

Livestock production is determined by the DM intake,

medido através de modelos de predição, que em

because the amount of nutrients ingested by the

animais ruminantes torna-se difícil devido interações

animal directly affects their performance. The DM

que ocorrem entre animais e dieta e pelos poucos

intake can be measured using predictive models,

estudos

equações.

which in ruminant animals becomes difficult due to

Alimentos com alto teor de parede celular podem se

interactions among animals and diet and the few

mostrar de mais fácil predição, devido à repleção

studies to support the use of equations. Foods with

ruminal, já em dietas de alta qualidade, o consumo

high cell wall content may prove easier to predict due

pode ser predito pela demanda fisiológica do animal.

to

Assim, objetivou-se abordar conceitos e modelos

consumption can be predicted by physiological

utilizados na predição e regulação do consumo

animal demand. Thus, it aimed to address concepts

voluntário em bovinos de corte.

and models used in the production and regulation

Palavras-chave: Hipótese das duas fases, teoria

voluntary intake in beef cattle.

energostática, bovino de corte.

Keyword: Two-phase hypothesis, energostatic

para

subsidiar

o

uso

de

rumen

fill,

already

theory, beef cattle.

5014

in

high

quality

diets,


Artigo 417- Consumo voluntário: regulação, modelos de predição e métodos de medição

INTRODUÇÃO Consumo

(DISMS) e negativa com o conteúdo de FDN da

voluntário

pode

ser

definido

pela

dieta.

quantidade de alimento ingerido por um animal ou grupo de animais durante um determinado período

Os ruminantes são capazes de controlar a ingestão

de tempo, o qual eles têm acesso livre de ração,

de energia, contanto que a densidade de nutrientes

geralmente é apresentado na unidade de kg de

seja

MS/animal/dia,

medida

interferência por restrições físicas (FORBES, 1995).

comparativa relativa ao seu peso vivo, ou peso vivo

Este controle é possível através da detecção dos

metabólico em % (NASCIMENTO et al., 2009).

níveis

ou

ainda

em

uma

suficientemente

de

ácidos

alta

para

graxos,

que

não

produzidos

haja

pela

fermentação, pelos receptores presentes no rúmen e A produção animal é determinada pelo consumo de

pelos receptores hepáticos (MAGGIONI et al., 2009).

matéria seca (CMS), valor nutritivo da dieta e resposta do animal. O consumo de matéria seca

As teorias clássicas postulam que a alimentação é

constitui o primeiro ponto determinante do ingresso

controlada por um único fator que atua em forma de

de nutrientes necessários ao atendimento das

feedback negativo. Estas incluem principalmente

exigências de mantença e produção animal, e,

distensão ruminal e estomacal, pressão osmótica e

portanto, é considerado o parâmetro mais importante

acidez titulável, temperatura hipotalâmica, Ácidos

na avaliação de dietas com alimento volumoso

Graxos de Cadeia Curta (AGCC) de glicose no

devido sua alta correlação com a produção animal

sangue e concentrações de aminoácidos, depósitos

nestas condições (NOLLER et al., 1996).

de gordura corporal, e outros (FORBES, 1995).

Restrições na ingestão de nutrientes (quantidade e/ou qualidade) constituem no fator principal que limita

a

produção

dos

animais

em

pastejo,

especialmente em regiões tropicais, onde estes estão sujeitos às mudanças contínuas no padrão de suprimento do alimento (GENRO et al., 2004;

Teorias energostáticas A teoria glucostática de Mayer e a teoria termostática de Brobeck foram duas teorias clássicas, sobre o controle de ingestão de alimentos, onde foi proposto que mudanças na ingestão do alimento, possuíam correlação fisiológica, forte o suficiente para inibir a alimentação. De acordo com essas teorias o

MOREIRA et al., 2004).

hipotálamo é considerado como o receptor que Qualquer decréscimo no consumo voluntário tem

conduz essa reação. Tais ideias foram modificadas

efeito significativo sobre a eficiência de produção.

como evidência experimental acumulada e o termo

Desta forma, o entendimento dos fatores que

―glucostático‖ foi substituído por ―energostático‖

regulam

(BOOTH, 1972).

o

consumo

de

forragem

e

demais

alimentos, pode ser de grande importância para auxiliar

no

estabelecimento

de

manejos

que

permitam superar tais limitações e melhorar a utilização dos alimentos (MAGGIONI et al., 2009). Desta forma, esta revisão objetiva abordar conceitos e modelos utilizados na predição e regulação do consumo voluntário em bovinos de corte. TEORIAS DESENVOLVIDAS PARA A REGULAÇÃO DE CONSUMO O valor nutritivo da forragem disponível geralmente

Foi recentemente percebido que as teorias clássicas não são suficientes para explicar como o consumo é controlado

em

muitas

circunstâncias.

A

ideia

expressa foi a seguinte: ―Quando a ingestão aumentar o preenchimento gástrico e aumentar a oferta de calorias hepáticas, ambos servem para reduzir

a

probabilidade

de

que

os

animais

continuarão a se alimentar. Uma vez que parando de comer, eles permanecerão saciados apesar de o estômago estar vazio, enquanto o fígado continua a

tem grande influência na quantidade de forragem

obter calorias utilizáveis a partir do intestino‖

consumida pelos ruminantes (MAGGIONI et al.,

(STICKER & MCCANN, 1985, citado por FORBES,

2009). Euclides et al. (2000) encontraram correlação

1995). Este conceito foi o primeiro passo para o

positiva para o consumo voluntário da matéria seca

desenvolvimento da primeira teoria integrativa do

(CVMS) e digestibilidade in situ da matéria seca

controle da ingestão de alimentos de forma voluntária,

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5014-5023, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

5015


Artigo 417 - Consumo voluntário: regulação, modelos de predição e métodos de medição

a teoria ‗energostática‘.

de ruminantes é um problema a ser resolvido já que o desenvolvimento, de novas hipóteses de pesquisa,

Desenvolvimentos posteriores do conceito integrador

pode ser esperado para beneficiamento do todo, se

de regulação da ingestão de alimentos incluem

não

vários novos aspectos. Destaca-se o presumível

conceitual e matemática rigorosa de

modelos

papel de tecido adiposo na regulação em longo

quantitativos

modelos

prazo (FORBES, 1995).

quantitativos de predição de consumo, tanto modelos

houver

dependência existentes.

de

um

Inúmeros

tratamento

autônomos, quanto componentes de modelos de Considerando-se os efeitos inibitórios cumulativos

simulação de sistemas de produção de animais

do carboidrato sobre a alimentação são de fato

ruminantes, têm sido desenvolvidos (PITROFF &

energostáticos, em vez de glicose específica, em

KOTHMANN, 2001b).

seguida,

qualquer

substância

que

possa

ser

facilmente utilizada pelo animal para fornecer

Pittroff & Kothmann (2001a) argumentam que a

energia deve produzir uma compensação apropriada

consideração de ―peso do animal‖ implica uma

à ingestão de alimentos ao longo de um período de

referência para o TPH porque a capacidade de

várias horas após o enchimento gástrico (FORBES,

ingestão em modelos que usam explicitamente o

2007).

TPH calcula a capacidade de ingestão física com base no peso vivo.

Os sinais a partir de receptores e vias descritas acima, e outros, necessitam ser integrados ao

O modelo apresentado por Mertens (1987) baseia-se

cérebro. Presumivelmente, estes sinais que oscilam

na hipótese de que, para a fase de controle

rapidamente em relação às refeições, e são

fisiológico assumida, a ingestão é determinada pela

adicionados ao sinal mais constante proveniente do

relação das necessidades energéticas líquidas para

tecido

relativamente

a energia líquida, fornecidas pela dieta. Também

pequena no sinal proveniente do tecido adiposo, em

determina que a concentração de energia líquida da

longo

papel

dieta não depende apenas da digestibilidade, mas

significativo no controle de consumo. Outras teorias

também da capacidade metabólica da energia

atualmente

digestível.

adiposo. prazo

Uma

pode

em

mudança desempenhar

processo

de

um

desenvolvimento

incluem a hipótese de que os ruminantes comem a mesma quantidade de alimento por dia em que a

Análises dos modelos de predição de ingestão com

produção líquida de energia por mol de oxigênio é

base no TPH geram dúvidas quanto à adequação

maximizada (TOLKAMP & KATELAARS, 1992).

deste, hipótese ainda hoje dominante. Modelos de

Cálculos teóricos baseados em dados do ARC

ingestão mais precisos não serão provavelmente

(ARC, 1980) dão suporte a esta afirmação, mas a

baseados

evidência experimental ainda não está disponível.

dominando como mais de 30 anos de tentativas de

no

conceito

de

TPH,

atualmente

formulação matemática a partir do TPH, entretanto, Hipótese das duas fases

não produzem um modelo satisfatório (PITTROFF &

O conceito atualmente dominante da ‗hipóteses das

KOTHMANN, 2001b).

duas fases‘ (TPH) remonta a um artigo de Svoboda (1937) citado por Pitroff & Kothmann (2001a). Entretanto,

tem

sido

amplamente

criticado

(GROVUM, 1987; KETELAARS & TOLKAMP, 1992; PITTROFF & KOTHMANN, 1999), mas continua a ser

utilizado

como

base

teórica

para

o

desenvolvimento de modelos (FINLAYSON et al., 1995; CHILIBROSTE et al., 1997). A predição quantitativa precisa do consumo de ração 5016

Sendo assim, observa-se que embora o modelo TPH seja bastante criticado, ainda não foi criado um modelo que possa substituí-lo conforme a sua designação, além de possuir grande relevância ecológica e econômica, novos modelos possuem falhas na formulação, conforme demonstrado por Pittroff & Kothmann (2001a; 2001b). Teoria do mínimo desconforto total

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5014-5023, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 417 - Consumo voluntário: regulação, modelos de predição e métodos de medição

Forbes (1999; 2007) propôs uma teoria universal, a

le metabólico (incluindo aquelas que negaram

qual relata que os animais regulam o consumo de

fatores físicos no total), chegou-se a uma hipótese

alimentos para minimizar o desconforto total. O autor

multifatorial sobre

define

alimentos em ruminantes: mínimo desconforto total

desconforto

como

quaisquer

condições

metabólicas e fisiológicas afetadas por fatores

o controle

da ingestão de

(FORBES, 2007).

dietéticos e do meio. O aumento do tempo de busca de alimento que acompanha uma dieta mais seletiva

MODELOS DE PREDIÇÃO DE CONSUMO

atua como um ―desconforto‖, o que reduz a

Os fatores que controlam o consumo de alimentos

probabilidade de o animal fazer a seleção perfeita. O

são complexos, verdadeiramente multifatoriais e não

autor também caracteriza desconforto como um

existe um consenso de como os ruminantes regulam

termo usado deliberadamente, uma vez que implica

esta

menos

Interações entre numerosos fatores como: dieta,

de

um

processo

consciente

do

que

‗descontentamento‘ ou ‗infelicidade‘.

importante

atividade

(FORBES,

2007).

animal, ambiente e manejo são os principais responsáveis pela falta de precisão das equações de

A hipótese de Ketelaars & Tolkamp (1992) é outro

predição

exemplo

(McMENIMAM et al., 2009).

de

abordagem

de

otimização.

Eles

de

consumo

de

matéria

seca

propuseram que os ruminantes adotam esse nível de ingestão de alimentos (incluindo forragem), que

Para que possa ser planejado um eficiente programa

permite a máxima eficiência de utilização do

de alimentação capaz de encontrar a melhor

consumo de O2 para o fornecimento de energia

formulação de ração para atender as exigências

líquida (energia utilizada para a "produção" mais a

nutricionais, é necessário predizer

produção de calor em jejum) e que a limitação física

precisão e acurácia o nível de consumo voluntário de

de admissão é um conceito errôneo baseado em

bovinos em crescimento sob alimentação ad libitum.

com

maior

métodos experimentais inadequados e interpretação. Modelo NRC Forbes (2007) relata que as funções usadas para

As equações de predição de CMS propostas pelo

obter desconfortos de desvios na oferta de recursos

NRC (1984, 2000) foram por muito tempo as mais

devem ser exploradas. Possivelmente, a curva que

utilizadas

relaciona o desconforto de desvio na oferta de

anabolizantes foram usados nos bovinos do banco

recursos não deve ser simétrica em relação ao ideal.

de dados do modelo de predição de CMS proposto

Segundo o autor, o desconforto pode muito bem ser

pelo NRC (1984, 2000). No Brasil, a proibição do uso

mais acentuado para um déficit de nutrientes do que

de anabolizantes para qualquer finalidade teve início

para um excesso, em relação aos requisitos, porque

em 1961 e atualmente vigora a Portaria Ministerial nº

um déficit reduz a aptidão enquanto um leve

51

excesso pode ser tolerado, embora com algum

importação, comercialização e o uso de produtos

aumento

para fins de crescimento e ganho de peso dos

de

desconforto,

podendo

haver

um

no

(BRASIL,

Brasil.

1991)

No

que

entanto,

proíbe

estimulantes

a

produção,

intervalo de conforto ideal ao invés de um único

animais

ponto ótimo.

esteróidais com atividade anabolizante, a proibição

de

abate.

Para

os

compostos

não

se estende, inclusive, para fins terapêuticos. Evidências experimentais a partir da literatura sobre a quantidade de desconforto que surge a partir de

Além disso, as equações propostas pelo NRC (1984,

um desvio do fornecimento de cada recurso a partir

2000) foram desenvolvidas principalmente com

do "requisito" (que se assume para a produção de

animais Bos taurus. Segundo Magnabosco (1997),

desconforto zero) pode ser utilizado para avançar

80% do rebanho brasileiro é composto de gado

esta área. Desde o simples conceito de limitação

Zebu. Devido às características de fertilidade, rusticidade, adaptabilidade ao ambiente tropical e aos sistemas de produção de carne brasileira, a raça Nelore predomina nos sistemas de produção de carne no Brasil. Fox et al.

física do consumo de forragem que parecia se encaixar de forma adequada aos dados até a década de 1960, através de várias teorias de contro-

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5014-5023, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

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Artigo 417 - Consumo voluntário: regulação, modelos de predição e métodos de medição

Modelo CNCPS O sistema de proteínas e carboidratos ―líquidos‖ ou

forrageiras tropicais diferem muito das espécies

―CNCPS - The Cornell Net Carbohydrate and Protein

qualidade, pois apresentam menor digestibilidade e

System‖ (FOX et al., 1992; RUSSELL et al., 1992;

maior teor de fibra em detergente neutro (FDN).

SNIFFEN et al., 1992; O‘CONNOR et al., 1993) foi

Além disso, o ambiente ao qual os animais estão

desenvolvido com o objetivo de avaliar a qualidade

submetidos pode fazer com que os requerimentos de

da dieta e o desempenho do rebanho bovino.

mantença e a ingestão de matéria seca variem

temperadas,

sendo,

geralmente,

de

menor

consideravelmente (FOX & TYLUTKI, 1998). O Modelo utiliza os princípios básicos da função ruminal, crescimento microbiano, cinética digestiva

Em regiões tropicais, estas variações podem ser

do alimento (ração) e estado fisiológico do animal,

decorrentes do maior desgaste causado por altas

assim como variáveis ambientais e de manejo, o que

temperaturas

permite estimativas mais acuradas do desempenho

energético para obtenção de alimento (sistemas de

dos rebanhos e da excreção de nutrientes, em

pastejo) e possíveis adaptações às forragens de

diferentes situações (FOX et al., 2003; 2004).

baixa qualidade. Nos trópicos, os animais são

e

maior

insolação,

maior

gasto

criados basicamente a pasto, e a produtividade dos O CNCPS está em desenvolvimento há mais de 10

rebanhos é em geral menor, seja pela baixa

anos

qualidade

e,

como

desenvolvido

a

maioria

dos

utilizando-se

sistemas,

foi

requerimentos

das

forrageiras, seja pela falta

de

tecnologia empregada. No entanto, ressalta-se a

europeias

importância destas regiões na estratégia de atender

especializadas, criados em condições controladas

o aumento da demanda por produtos de origem

(confinados), e com valores de alimentos oriundos

animal (TEDESCHI et al., 2002).

nutricionais

de

animais

de

raças

de clima temperado. Este modelo usa relações mecanicistas e empíricas no diagnóstico nutricional e

O aumento da demanda por alimentos, decorrente

para formulação e avaliação de dietas para bovinos

do crescimento constante da população mundial,

(FOX et al., 1995). A partir de características

associada à questão ambiental, implica na melhoria

nutricionais dos ingredientes da dieta e de suas

da eficiência econômica e produtiva dos rebanhos, a

interações com os requerimentos do animal e

um menor custo e com redução das perdas

práticas

energéticas

de

manejo,

permite,

sob

diferentes

e

nitrogenadas

que

ocorrem

nos

condições de produção, uma predição confiável do

processos de digestão e absorção (TAMMINGA,

desempenho

2003). A melhoria do manejo nutricional é o mais

de

bovinos.

Fundamenta-se

na

sincronização da digestão ruminal de proteínas e

importante

meio

para

obter

o

carboidratos, visando o máximo desempenho do

produtividade (TEDESCHI et al., 2002).

aumento

da

hospedeiro e comunidades microbianas ruminais, redução das perdas de nitrogênio e de energia

Na elaboração da versão 4.0 houve uma série de

decorrentes da fermentação ruminal e minimização

modificações, com o objetivo de ajustar o modelo às

da excreção de nutrientes (FOX et al., 2000).

condições tropicais. Foram adicionados ajustes como: requerimentos de energia líquida de mantença

Embora o CNCPS baseie-se em uma estrutura

(NEm), peso ao nascimento e pico de lactação para

biológica e mecanicista que, teoricamente, permite

um maior número de raças tropicais, incluindo raças

sua aplicação em diversas condições de ambiente e

denominadas de duplo-propósito (Bos taurus x Bos

manejo, com diferentes raças e alimentos, sua

indicus); equação de predição do consumo de

aplicação em condições tropicais deve ser estudada,

matéria seca, proposta por TRAXLER (1997), para

antes de o modelo ser recomendado para estes

vacas de duplo propósito; e adição de um banco de

sistemas de produção (MOLINA et al., 2004), onde

dados de alimentos tropicais (TEDESCHI et al.,

as raças e seus graus de sangue, os alimentos e o

2002).

manejo são, na maioria das vezes, muito diferentes daqueles adotados em regiões de clima temperado.

A última versão do modelo CNCPS (versão 5.0)

A composição e estrutura da parede celular das

possui um banco de dados sobre alimentos tropicais

5018

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5014-5023, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 417 - Consumo voluntário: regulação, modelos de predição e métodos de medição

atualizados e expandido, o que, teoricamente,

incapazes

permite melhor ajuste nas predições do desempenho

variação observada no CMS, quando comparada às

de

explicar

maior

porcentagem

da

em sistemas de produção de bovinos em condições

equações adotadas pelo BR-CORTE.

tropicais. Entretanto, mesmo com a inclusão desse banco de dados e a possibilidade de atualização dos

MÉTODOS DE MEDIÇÃO DE CONSUMO

dados, a aplicação do modelo em condições

VOLUNTÁRIO

tropicais deve ser avaliada (ELYAS et al., 2009).

A nutrição e o desempenho de herbívoros em pastejo dependem diretamente da capacidade do

Fox et al. (2000) chamaram a atenção para a falta de

animal para selecionar uma dieta que possui alta

informações referentes aos alimentos tropicais,

digestibilidade e tem um alto consumo voluntário,

sugerindo a realização de pesquisas nesta área,

que por sua vez depende da qualidade e da

para atualizar e possibilitar o uso mais confiável do

disponibilidade de pastagem. O método clássico de

banco de dados de alimentos tropicais para as

determinação da digestibilidade in vivo da matéria

predições do CNCPS. Porém, poucos trabalhos têm

orgânica (DMO) e matéria seca ou orgânica do

sido realizados com o objetivo de avaliar e/ou validar

consumo voluntário (DMS ou DMO) é baseado na

a utilização do modelo em condições tropicais,

medição da quantidade e da qualidade da dieta

sendo, em sua maioria, simulações.

ingerida e excreção fecal, entretanto, geralmente requer habitação animal em gaiolas metabólicas

Modelo BR- CORTE

(DEMARQUILLY et al., 1995; ANDUEZA et al.,

Segundo Neal et al. (1984), as equações de CMS

2007). Porém este método consome muito tempo, e

deveriam ser testadas em condições semelhantes

assume que a forragem colhida e oferecida para o

àquelas em que se destina serem utilizadas.

animal é uma representação da forragem que seria

Portanto, não existe uma única equação que se

selecionada pelo animal durante o pastejo. É difícil,

aplica em todas as situações, existindo necessidade

portanto, para mensurar a digestibilidade do pasto,

de desenvolver e validar equações de predição do

consumo voluntário e composição da ingestão em

CMS em condições tropicais.

pastejo ou das pastagens, especialmente durante longos períodos. A fim de resolver estes problemas,

Por isso, equações para predizer o CMS de gado de

foram

corte em condições brasileiras e com zebuínos (raça

digestibilidade in vivo e/ou ingestão de uma série de

Nelore)

medições de laboratório (DECRUYENAERE et al.,

foram

desenvolvidas

e

validadas

por

Valadares Filho et al. (2006a; 2006b), que aliados às

desenvolvidos

métodos

que

ligam

a

2015).

exigências de energia, proteína e minerais resultou no sistema BR-CORTE. As equações de CMS

O método da pepsina no fluido ruminal, desenvolvido

propostas indicaram que os valores preditos foram

por Tilley e Terry (1963) é provavelmente o método

equivalentes aos observados em condições práticas

mais antigo para estimar a digestibilidade in vitro,

de alimentação de bovinos de corte confinados em

mas a sua reprodutibilidade pode ser considerada

condições tropicais.

fraca

(WAINMAN

et

al.,

1981,

citado

por

ADEGOSAN et al., 2000). Ribeiro et al. (2008) avaliaram o CMS por grupos os valores

O teor de proteína na dieta tem correlação positiva

observados com os preditos por meio dos sistemas

com consumo em vacas lactantes, sendo este efeito

NRC (2000), CNCPS 5.0 e BR-CORTE. Estes

por conta do aumento da proteína degradável no

autores observaram que o sistema brasileiro BR-

rúmen e a melhoria da digestibilidade dos alimentos

CORTE se mostrou mais eficiente nas predições de

(SOUZA,

CMS por raça e para os zebuínos como um todo.

correlação positiva entre proteína bruta na dieta e

genéticos

zebuínos e compararam

2013).

Allen

(2000)

sugeriu

que

a

consumo pode ser efeito da redução da produção de Valadares Filho et al. (2006b) também observaram

propionato quando a proteína substitui o amido.

falta de ajuste para as equações propostas pelo

Teores críticos do consumo de proteína provocam

NRC (1984, 2000) para predizer o CMS de bovinos

queda no consumo voluntário, sendo que para

de corte em condições tropicais. Neste sentido, as

ruminantes o limite crítico é mais baixo devido ao

equações propostas pelo NRC (1984, 2000) seriam

comprometimento do crescimento microbiano e,

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Artigo 417 - Consumo voluntário: regulação, modelos de predição e métodos de medição

consequentemente, aumentando-se

o

a efeito

degradação de

da

repleção

FDN, ruminal

(DECRUYENAERE

et

al.,

2002,

2009,

2015;

ANDUEZA et al., 2011).

(SOUZA, 2013). CONSIDERAÇÕES FINAIS Os métodos convencionais para o estudo do

O consumo voluntário do animal é influenciado por

comportamento animal e indiretamente, da dieta

diversos fatores, sejam eles: físicos, psicogênicos ou

selecionada, têm incluído observação direta dos

fisiológicos, estes se relacionam e influenciam

animais, durante o pastejo, análise de amostras

diretamente na eficiência da produção animal. Nesse

obtidas de fístulas esofágicas, trato digestivo ou

sentido, relata-se a importância de estudos mais

fezes (por exemplo, usando a análise micro-

profundos acerca da inter-relação desses fatores, a

histológica) e a gravação automática ou manual dos

fim

movimentos dos animais ou atividades. Uma grande

eficientes,

desvantagem de todos estes métodos é que eles são

predição e exigências do consumo.

de

preconizar bem

modelos

como,

matemáticos

teorias

mais

relacionadas

à

mão de obra intensiva e, geralmente, há dificuldade de repetição (HOLECHEK et al., 1982). Modelos dinâmicos simplificados que predizem o consumo diário, somando-se, eventos de refeição ou pela interação de soluções para se chegar ao estado estacionário, podem ser usados para descrever as informações atuais sobre regulação do consumo e explicar as interações entre os mecanismos.

No

entanto, os modelos dinâmicos têm utilidade limitada como sistemas de predição porque não podem ser facilmente resolvidos por retro solução, para obter as características

da

dieta

e

dos

animais

que

correspondem a um nível desejado de consumo (MERTENS, 1987). Outra

abordagem

espectroscopia

de

envolve refletância

a de

aplicação

de

infravermelho

proximal para fezes (FNIRS), a fim de prever a composição e atributos de dietas baseadas em forragens (DECRUYENAERE et al., 2015). Ao longo das últimas três décadas diversos estudos têm destacado a capacidade e o papel da FNIRS na medição da dieta selecionada e gerenciamento da nutrição de ruminantes em pastejo (COATES, 2004; DIXON & COATES, 2009). Usando a tecnologia FNIRS, observa-se que há semelhança em relação ao uso de NIRS para predição de análises de forragens, composição da dieta e outros atributos (COLEMAN et al., 1989; STUTH et al., 1989; COLEMAN & Murray, 1993; LEITE & STUTH, 1995; BOVAL et al., 2004; DIXON& COATES, 2009; COATES & DIXON, 2011). Calibrações da FNIRS foram desenvolvidas para medir a qualidade da dieta herbívora e ingestão em condições tropicais e subtropicais no Mediterrâneo (KELI et al., 2008; LANDAU et al., 2008) e em ambientes temperados 5020

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Pesquisa de mercado: Hábitos de compra e consumo de carne em Senhor do Bonfim – Bahia Revista Eletrônica

Vol. 14, Nº 02, mar. / abr. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Carne, disponibilidade, mercado consumidor, renda.

Italo Reneu Rosas de Albuquerque 2 Glayciane Costa Gois 2 Fleming Sena Campos 3 Tiago Santos Silva 4 Alex Gomes da Silva Matias

1

1

Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal da Bahia – UFBA, Salvador – BA 2Pós-doutorandos em Zootecnia, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Semiárido, Petrolina - PE. E-mail: glayciane_gois@yahoo.com.br 3 Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Areia – PB. 4 Graduando em Zootecnia, Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, Petrolina – PE.

RESUMO

RESEARCH OF MARKET: HABITS OF

O presente trabalho tem como objetivo avaliar o

PURCHASE AND CONSUMPTION OF MEAT IN

perfil sócioeconômico dos consumidores de carne e

SENHOR OF BONFIM - BAHIA

suas preferências em Senhor do Bonfim – Bahia, através de questionários. Da análise dos dados, constatou-se que os consumidores possuem uma maior predileção pela carne bovina (44,73%), seguida de aves (19,73%), suínos (13,16%) caprinos (7,90%), peixes (7,90%) e ovinos (6,58%). Concluise que o preço não é um fator limitante para o consumo de carne, sendo a carne bovina a preferida pelos entrevistados em relação a outras espécies animais, ocupando lugar de destaque na dieta do consumidor. Palavras-chave:

carne, disponibilidade, mercado

consumidor, renda.

ABSTRACT The present work has as objective evaluates the meat consumers' profile economical partner and your preferences in Senhor of Bonfim - Bahia, through questionnaires. Of the analysis of the data, it was verified that the consumers possess a larger predilection for the bovine meat (44,73%), followed by chicken (19,73%), pig (13,16%) goat (7,90%), fish (7,90%) and sheep (6,58%). Ended that the price is not a factor for the meat consumption, being the bovine meat the favorite for the interviewees in relation to other animal species, occupying prominence place in the consumer's diet. Keyword: meat, readiness, consuming market, income.

5024


Artigo 418 – Pesquisa de mercado: hábitos de compra e consumo de carne em Senhor do Bonfim-Bahia

INTRODUÇÃO

tares.

Assim,

o

interesse

das

pesquisas

de

A busca pela qualidade na indústria tem levado a

comportamento do consumidor recai principalmente

uma

área

sobre a análise empírica de como ocorre o processo

tecnológica quanto na oferta de novos produtos.

de compra e quais são os fatores que afetam os

Empresas e países produtores buscam ganhar

consumidores. Desta maneira, pesquisadores e

espaço no mercado consumidor, procurando atender

organizações

a um consumidor cada vez mais exigente, informado

preferências, hábitos e atitudes dos consumidores,

e preocupado com o aspecto higiênico sanitário do

para

produto que consome. A certificação internacional é

perspectivas em relação ao comportamento de

a ferramenta básica para garantir a origem e a

consumo (Sproesser et al., 2006).

constante

modernização

tanto

na

que

buscam

se

conhecer

possam

apontar

os

gostos,

tendências

e

qualidade dos produtos e processos agroindustriais e depende de um complexo sistema de informação, ou

Para as indústrias agroalimentares, conhecer as

de rastreabilidade, desde a produção das matérias-

escolhas e a necessidades do cliente por meio da

primas (Rhoden et al., 2010). Em virtude de um

pesquisa de mercado é um meio de diminuir os

maior acesso a informações através dos meios de

riscos de investimento e minimizar erros nos planos

comunicação, os consumidores, ao comprar o

de marketing, além de estabelecer estratégias de

produto, estão cada vez mais preocupados com

gestão (Rhoden et al., 2010).

aspectos

como:

armazenamento,

embalagem,

método de conservação e teor nutricional. As

mudanças

nos

hábitos

de

consumo

A carne apresenta-se juntamente com o leite e os ovos como o alimento de melhor composição

dos

consumidores ditam o processo industrial. Empresas que não conseguem perceber as mudanças no mercado tendem a se tornar menos competitiva frente a outras. Com isso, as indústrias buscam a obtenção de um produto politicamente correto, voltado a atender as necessidades e exigências da sociedade moderna, com o máximo em qualidade, sem destruição ou contaminação ambiental, que não

nutricional para o ser humano. Possui proteínas de alto valor biológico tanto no aspecto qualitativo como quantitativo. Rica em aminoácidos essenciais, de forma balanceada, supre aproximadamente 50% das necessidades diárias de proteína do ser humano (Azevedo, 2008). O

objetivo

deste

estudo

é

avaliar

o

perfil

socioeconômico dos consumidores de carne e suas preferências em Senhor do Bonfim - BA.

se utilize de práticas de abates desumanas. Isso pode determinar o sucesso ou não de uma atividade

Material e Métodos

produtiva (Rodrigues, 2009; Silva, 2009).

Foi realizada uma pesquisa ―Survey‖¸ a qual é utilizada para a obtenção de informações por

Para que se possa entender o consumidor brasileiro,

intermédio de uma entrevista com os participantes,

é preciso primeiro compreender o comportamento do

na qual são feitas inúmeras perguntas acerca do

consumidor, que pode ser definido como ―as atividades

diretamente

envolvidas

em

tema que se está estudando, por meio da aplicação

obter,

de um questionário estruturado para obter uma

consumir e dispor de produtos e serviços, incluindo

padronização do processo de coleta de dados

os processos decisórios que antecedem e sucedem

(Francisco et al., 2007).

estas ações‖. Neste sentido, o marketing analisa constantemente os desejos e as necessidades dos

O trabalho foi realizado na cidade de Senhor do

clientes, de maneira a se adaptar de modo mais

Bonfim,

eficaz que a concorrência (Francisco et al., 2007).

questionários, durante os meses de outubro e

Bahia,

por

meio

da

aplicação

de

novembro de 2010. Inicialmente foi elaborado um As pesquisas que abordam o comportamento do

questionário de múltipla escolha composto de 16

consumidor fazem uso das informações referentes à

perguntas, onde foram abordados vários aspectos do

produção, abastecimento e dados sobre as compras

consumo de carne bovina. O questionário foi

dos alimentos para identificarem as práticas alimen-

aplicado

por

entrevistadores

experientes,

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5024-5029, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

que

5025


Artigo 418 - Pesquisa de mercado: hábitos de compra e consumo de carne em Senhor do Bonfim-Bahia

abordavam

os

consumidores

em

portas

de

supermercado, açougue, feiras livres e repartições públicas. No total, foram realizadas 76 entrevistas

Na análise de compra de carne (Tabela 2) observase que 56,58% dos entrevistados realizam a compra 04 vezes no mês, tendo um gasto de mais de 100 reais mensais com a carne. O maior poder aquisitivo

completas.

permite à aquisição de diferentes fontes de proteína Não foram abordadas crianças nem adolescentes. As entrevistas aconteceram em dias alternados da semana. A abordagem deste trabalho foi puramente quantitativa, com o intuito de mostrar em números a existência de um fato, a proporção em que ele ocorre, na nossa sociedade.

animal, caso contrário, há restrição e compra daquelas fontes mais baratas. Quanto ao local de compra, verifica-se que existe a preferência da compra em açougues/frigoríficos (36,84%) e até mesmo em mercados públicos (30,26%), sendo seguido pela compra efetuada em

As perguntas permitiram verificar aspectos inerentes ao perfil do consumidor, tais como sexo, idade e

supermercados (21,06%), o que exprime que os consumidores ainda têm preferência pelas carnes diretamente cortadas em açougue e mercado público

renda, bem como quanto ao consumo de carne

do que a forma de oferecimento dos cortes pelos

(bovina, caprina, ovina, suína, aves e peixes) e

supermercados que passaram a vender a carne em

identificação da frequência de consumo. Para

bandejas.

tabulação dos dados, foi feito o uso de uma planilha, sendo realizados cálculos das percentagens e dos

A aparência da carne, especialmente a sua cor, é

seus respectivos valores absolutos.

utilizada pelos consumidores como um importante indicador de qualidade. Silva et al. (2007) enfatiza que Saab (1999), em trabalho realizado em Ribeirão

Resultados e Discussão pelos

Preto, verificou que os atributos mais importantes

consumidores. A partir deles houve a contagem dos

para os consumidores do município são, nesta

depoimentos,

e

ordem: cor; selo de garantia de maciez; preço;

entrelaçando-se os resultados de forma a atender o

embalagem. Segundo esse autor, a cor é o atributo

objetivo do trabalho. As respostas do questionário

mais facilmente perceptível. A manutenção da cor

foram tabuladas e analisadas. As entrevistas foram

aceitável é uma preocupação tanto dos produtores

realizadas nos diversos pontos de venda de carne

como do varejo. Inúmeros fatores afetam a cor da

do município, que ofereciam o produto regularmente.

carne. Entre os fatores intrínsecos incluem-se a raça,

Os

questionários

foram

respondidos

classificando-se

as

respostas

a localização do músculo na carcaça e a idade do Através dos dados pessoais dos entrevistados,

animal (Rodrigues, 2009).

observou-se um predomínio maior de homens (52,63 %) do que de mulheres (47,37 %), durante a

Atualmente, os consumidores exigem alimentos com

realização da entrevista. Em relação à idade,

qualidade, além de certificados confiáveis que

14,47% dos consumidores entrevistados tinham

atestem

entre 18 e 30 anos; 36,85% de 31 a 40 anos;

características

48,68% acima de 40 anos, sendo a faixa etária

adquiridos. Tal fato explica os resultados desta

predominante.

A

escolaridade

foi

análise, já que a garantia de qualidade e sanidade

investigada

os

resultados

maior

apresentam grande importância no momento da

participação de pessoas com nível médio (35,52%)

compra, o que possivelmente está relacionado à

em detrimento do nível fundamental (28,95%) e

decisão de onde irá comprar a carne, pois apenas

superior (25%). O rendimento familiar apontado foi

10,53%

entre 01 a 03 salários mínimos, fato este que pode

decidem pelo preço. Haja visto que os entrevistados

estar diretamente relacionado ao nível de instrução

estariam dispostos a pagar a mais caso houvesse

descrito (Tabela 1).

maior garantia do produto, o que comprova que para o consumidor da região avaliada interessa a qualidade

5026

e

também apontam

e

dos

garantam de

a

existência

qualidade

entrevistados

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5024-5029, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

nos

dessas alimentos

mencionaram

que


Artigo 418 - Pesquisa de mercado: hábitos de compra e consumo de carne em Senhor do Bonfim-Bahia

do produto que ele irá consumir, e com menor

comercializada em Senhor do Bonfim – Bahia.

importância, o local onde é realizada a compra e onde o alimento foi produzido. VARIÁVEIS TABELA 1. Perfil dos consumidores questionados no município de Senhor do Bonfim – Bahia Total Inquirido VARIÁVEIS

n= 76 %= 100

Gênero Feminino Masculino

36 40

47,37 52,63

11 28 37

14,47 36,85 48,68

Classe Etária 18 – 30 31 – 40 > 40

Escolaridade Analfabeto 5 Fundamental 22 Médio 27 Graduação 19 Pós-Graduação 3 Categoria Profissional Aposentado 11 Do lar/Doméstica 16 Estudante/Desempregado 2 Profissional Liberal 17 Funcionário Público 20 Funcionário Privado 10 Rendimento do Agregado Familiar Até 1 salário 20 1 a 3 salários 35 4 a 6 salários 18 7 a 9 salários 0 ≥10 salários 3 Dimensão do Agregado Familiar 1 1 2 14 3 23 4 20 5 11 >5 7

6,58 28,95 35,52 25,00 3,95 14,47 21,05 2,63 22,37 26,32 13,16

Quanto gasta mensalmente com carne 0 a 25 reais 25 – 50 reais 50 – 100 reais Acima de 100 reais

TOTAL INQUIRIDO N°76 %=100

12 16 20 28

15,79 21,05 26,32 36,84

Frequência que compra carne 1 vez no mês 2 vezes no mês 3 vezes no mês 4 vezes no mês 5 vezes no mês + 5 vezes no mês Local de compra

6 8 10 43 2 7

7,89 10,53 13,16 56,58 2,63 9,21

Açougue/Frigorífico Produtor Feiras livres Supermercado Mercado público

28 2 7 16 23

36,84 2,63 9,21 21,06 30,26

Atributos considerados importantes Cor 22 Maciez 21 Preço 12 Quantidade de gordura 7 Embalagem 14 O que considera mais importante na aquisição da carne Sanidade/Inspeção 20 Onde foi produzido 4 Preço da carne 8 Qualidade 42 Proximidade do mercado da sua2 casa

26,31 46,06 23,68 0 3,95 1,32 18,42 30,26 26,32 14,47 9,21

Fonte: Elaborado pelo autor

28,95 27,63 15,79 9,21 18,42

26,32 5,26 10,53 55,26 2,63

Fonte: Elaborado pelo autor

As carnes de um modo geral são vistas pelos consumidores como alimentos nobres, de qualidade

De acordo com o levantamento realizado observou-

e que atendem às necessidades nutricionais do ser

se (Tabela 3), a predileção do consumidor por carne

humano moderno, que se preocupa em buscar maior

bovina (44,73%), seguida de aves (19,73%), suína

expectativa de vida e com mais saúde. É um

(13,16%) caprina (7,90%), peixes (7,90%) e ovinos

alimento

na

(6,58%). Observou-se também através do trabalho

alimentação. Segundo estudos, as carnes mais

que a maior preferência por um produto não reflete

consumidas no Brasil são: avícola, bovina e suína,

necessariamente no maior consumo daquele produto

respectivamente (ANUALPEC, 2007).

em relação a outros.

TABELA 2. Gasto mensal, frequência na semana,

TABELA 3. Quilos de carne comercializada e tipo de

local de compra, atributos e aspectos que se

carne adquirida pelos consumidores de carne

considera

comercializadas em Senhor do Bonfim – BA.

que

merece

importante

destaque

na

especial

aquisição

da

carne

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5024-5029, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

5027


Artigo 418 - Pesquisa de mercado: hábitos de compra e consumo de carne em Senhor do Bonfim-Bahia

Quilos de carne comercializada (Mensal)

Kg

vado

ao

efetuar

a

compra,

mas

o

mesmo

Bovina

338,3

desconhece o fato de que a cor é bastante

Caprina

76,5

influenciada por diversos fatores externos como

Ovina

15,8

Suína

45,2

Aves

135,4

Peixes

80,3

Tipo de carne que consomem

N° 76

% 100

Bovinos

34

44,73

Caprino

6

7,90

Ovino

5

6,58

Suínos

10

13,16

Aves

15

19,73

Peixes

6

7,90

iluminação, Evidencia-se

bovina, pela imagem social que ela transmite, isto é, de

a

embalagem, necessidade

entre

outros.

de

melhor

esclarecimento ao consumidor, inclusive na própria embalagem do produto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANUALPEC. Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo: Instituto FNP, 2007. 368 p. AZEVEDO, P.R.A. O valor nutricional da carne. Revista Nacional da Carne, São Paulo, n.372, p.18-29, 2008. BARCELLOS, M.D. Processo decisório de compra

2002. O alimento mais desejado pelos brasileiros é a carne necessidade

de

de carne bovina na cidade de Porto Alegre.

Fonte: Elaborado pelo autor

a

tipo

o

brasileiro

mostrar

certa

ascensão social, e por ser um dos alimentos que

167

f.

Dissertação

(Mestrado

em

Agronegócios) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002. FRANCISCO,

D.C.;

NASCIMENTO,

causam maior sensação de saciedade. Estudo

LOGUERCIO,

realizado por Barcellos (2002), destaca que os

Caracterização do consumidor de carne de frango

consumidores

da cidade de Porto Alegre. Ciência Rural, v.37,

adquirem

carne

bovina

porque

gostam, demonstram atitude favorável e simpática ao consumo dessa carne, diferente de outros alimentos que são consumidos por obrigação, em função de questões de saúde, renda ou apenas por

A.P.;

CAMARGO,

V.P.; L.

n.1, p. 253 - 258, 2007. RHODEN, P.C.L.; SANTOS, A.L.; SOUZA, C.S.; FERREIRA, C.M.; VIEITES, F.M.; BORGES, M.T. Analise socioeconômico dos consumidores de

hábito.

carne suína de Mato Grosso e do Rio Grande do Em segundo lugar temos a carne de frango. Silva &

Sul - Fase 2. In.: Reunião Anual da Sociedade

Fabrini Filho (1994) salientam que as grandes

Brasileira de Zootecnia, 47, 2010, Salvador – BA.

empresas processadoras têm associado a carne de frango à praticidade e à melhora de qualidade de vida do homem moderno, apresentando cortes práticos que podem ser manuseados e preparados com maior facilidade.

Anais... Salvador, 2010. 3p. RODRIGUES, S.D. Pesquisa de mercado: Hábitos de consumo e perfil do consumidor de carne bovina in natura na grande Vitória. 2009. 55f. Monografia (Pós-Graduação ―Latu Sensu‖ em

CONCLUSÃO Conclui-se que o preço não é um fator limitante para o consumo de carne, sendo a carne bovina a preferida pelos entrevistados em relação à de outras espécies animais, ocupando lugar de destaque na dieta do consumidor.

Higiene e inspeção de produtos de origem animal) - Universidade Castelo Branco, Vitória, 2009. SILVA,

R.A.M.S.

Porque

estudar

o

comportamento do consumidor de carnes? Informativo da Cadeia da Carne Bovina do

O consumidor considera a cor o melhor indicador da qualidade da carne, sendo o principal atributo obser5028

Pantanal Mato-Grossense. EMBRAPA Pantanal, Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5024-5029, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 418 - Pesquisa de mercado: hábitos de compra e consumo de carne em Senhor do Bonfim-Bahia

Ano I, n.4, Corumbá, Mato Grosso do Sul. 2009. SILVA, L.M.; LIMA FILHO, D.O.; SPROESSER, R.L.

SAAB, M.S.M. Changes in contractual relations an example in the beef agribusiness system in

Perfil dos consumidores de carne de frango: Um

Brazil.

estudo de caso na cidade de campo grande,

AGRIBUSINESS FORUM AND CONGRESS, 1999, Florence, Italy. Electronic

estado do Mato Grosso do Sul. Informações Econômicas, v.37, n.1, jan. p.18-27. 2007. SILVA, L.F.; FABRINI FILHO, L.C. Complexo avícola e questões sobre hábito alimentar. Caderno de Debate UNICAMP, Campinas, v. 2, p. 41-61, 1994.

In:

WORLD

FOOD

AND

proceedings... Florence: IAMA, 1999. SPROESSER, R.L.; NOVAES, A.L.; BATALHA, M.O.; LAMBERT, J.L.; LIMA FILHO, D.O. Perfil do consumidor brasileiro de carne bovina e de hortaliças. In.:

CONGRESSO DA

SOBER, ―Questões agrárias, educação no campo

e

desenvolvimento‖,

Campo

Grande

MS.

XLIV,

Anais...

2006, Campo

Grande, 2006.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5024-5029, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

5029


Distribuição espacial da produção de capim-mombaça (panicum maximum cv. mombaça) em um latossolo amarelo na região do baixo Parnaíba Geoestatistica, krigagem, zootecnia de precisão. . 1

Guilherme Augusto Drehmer 2 Fernando Silva Araújo 2 Antônio Hosmylton Carvalho Ferreira 3 Flavio C.Aquino 4 Valdemar Cavalcante Queiroga Filho 1

Graduando em Engenharia Agronômica – Universidade Estadual do Piauí - UESPI /Parnaíba-PI E-mail: guiengagronomo@outlook.com 2 Professor Adjunto da UESPI/Parnaíba - PI 3 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal – UFPI/Teresina- PI 4 Engenheiro agrônomo pela UESPI/Parnaíba- PI

RESUMO Objetivou-se com este trabalho avaliar a estrutura de dependência espacial da matéria seca produzida por Panicum Maximum cv. mombaça em um LATOSSOLO AMARELO na região do baixo Parnaíba, com vistas na determinação de zonas de manejo específico. Foram coletados 140 pontos, referentes aos cruzamentos de uma malha amostral de 46 x 210 metros, subdividida em 28 piquetes de 15 x 23 metros, nos quais se coletaram cinco amostras dentro de cada piquete (uma em cada extremidade e uma central). Os resultados obtidos pelo teste Shapiro-Wilk foram significativos para os atributos avaliados. Houve maior variação entre média e mediana na massa verde (MV) quando comparado com as variações de massa seca (MS) e taxa de lotação. Os valores mínimos e máximos variaram de 7,2 para 36,0 na MV; 0,86 para 6,05 na MS e de 5,45 para 38,01 na taxa de lotação. O grau de dependência espacial apresenta-se como moderado para ambos. De modo geral, a massa seca da pastagem distribuiu-se na área em estudo com uma estrutura de dependência espacial bem definida, com ajuste ao modelo esférico e a área de estudo possui zonas de manejo específico. Palavras-chave: geoestatistica, krigagem, zootecnia de precisão. Revista Eletrônica

Vol. 14, Nº 02, mar./ abr. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

VARIABILITY MOMBAÇA GRASS PRODUCTION (PANICUM MAXIMUM CV. MOMBAÇA) LATOSOL AN AREA IN YELLOW BASS REGION PARNAIBA ABSTRACT The objective of this study was to evaluate the spatial dependence structure of dry matter produced by Panicum Maximum cv. mombaça on a OXISOL in the lower region Parnaíba, in order to determine specific management zones. 140 points were collected, relating to intersections of a sampling grid of 46 x 210 meters is subdivided into 28 pickets 15 x 23 meters, in which 5 samples were collected within each picket (one at each end and a central). The results obtained by Shapiro-Wilk test were significant for the evaluated attributes. There was a greater variation between average and median in green mass (MV) when compared to the dry mass variations (MS) and stocking rate. The minimum and maximum values ranged from 7.2 to 36.0 in MV; 0.86 to 6.05 in MS and from 5.45 to 38.01 in stocking rate. The spatial dependence appears as moderate for both. In general, the dry matter of the pasture was distributed in the study area with a spatial dependence structure well defined, with adjustment to the spherical model and the study area has specific management zones. Keyword: geostatistics, kriging, precision animal 5030


Artigo 419 – Distribuição espacial da produção de capim-mombaça (panicum maximum cv. mombaça) em um latossolo amarelo na região do baixo Parnaíba

INTRODUÇÃO

O

A agropecuária nacional ocupa atualmente uma

atributos do solo e de suas relações com a pastagem

posição de destaque no cenário mundial por possuir

pode auxiliar no seu manejo (GREGO et al., 2012).

o

com

As causas da degradação de pastagens variam e

aproximadamente 212 milhões de cabeças (IBGE,

incluem: práticas inadequadas de pastejo e manejo,

2015). Neste cenário, há predominância de sistemas

falhas no estabelecimento fatores bióticos e abióticos

produtivos baseados na utilização de pastagens,

(DIAS-FILHO et al., 2011). Desfolhação seletiva dos

principalmente, em virtude do menor custo de

animais, bem como pelo clima, relevo do terreno,

produção nessas condições. Sendo que grande

estratégias de manejo da pastagem e deposição de

parte

fezes (CARVALHO, 2009).

maior

rebanho

das

comercial

restrições

à

do

mundo

produção

animal

em

conhecimento

da

distribuição

espacial

dos

pastagens tropicais pode ser resolvida com práticas de manejo que aumentem a eficiência de utilização

Na literatura autores têm demonstrado a variação

ou colheita da forragem produzida (BARBOSA et al.,

espacial

2007).

Correlacionando produtividade de gramíneas com

de

atributos

de

solo

e

planta.

atributos do solo Souza et al. (2010) e Montanari et A conversão de áreas naturais, tais como florestas, a

al. (2012) observaram dependência espacial em

sistemas agropecuários de produção promovem um

atributos solo a partir de técnicas de geoestatística.

desequilíbrio no ecossistema, a retirada da cobertura

Da mesma forma, as culturas agrícolas apresentam

vegetal original e a implantação de monocultivos,

variação

tais como pastagens, aliados a práticas de manejo

desenvolvimento.

espacial,

interferindo

no

seu

inadequadas, resulta no rompimento do equilíbrio entre

o

solo

e

o

meio,

comprometendo

a

Outro fator que permite avaliar o potencial forrageiro

sustentabilidade da sua utilização agropecuária

de

uma

determinada

gramínea

trata-se

da

(Araújo et al., 2010).

determinação da massa seca da parte aérea de pastagem, visto que, pode ser utilizada para

O uso sustentável das áreas sob pastagens é uma

expressar o resultado do metabolismo da planta e o

questão de alta relevância, haja vista que, uma boa

efeito

parte das pastagens cultivadas no Brasil encontra-se

crescimento, isto é, determinando a quantidade da

com algum nível de degradação (ANDRADE et al.,

matéria seca do pasto, pode-se estimar a taxa de

2011) Kichel et al. (2012) afirmam que uma

crescimento da planta, bem como a capacidade de

pastagem degradada pode apresentar menos de

lotação do pasto.

das

condições

ambientais

sobre

seu

50% de seu potencial produtivo em relação às foi

Partindo desses pressupostos, objetivou-se avaliar a

implantada e da espécie ou cultivar da forrageira

estrutura de dependência espacial da matéria seca

utilizada.

produzida

condições

edafoclimáticas

do

local

onde

por

capim

Panicum

Maximum

cv.

mombaça em um LATOSSOLO AMARELO na região Dentre os fatores mais importantes relacionados

do baixo Parnaíba, com vistas na determinação de

com a degradação das pastagens destacam-se o

zonas de manejo específico.

manejo animal inadequado, a falta de reposição de nutrientes, a lotação animal excessiva, sem os

MATERIAL E MÉTODOS

ajustes para uma adequada capacidade de suporte,

Local do experimento

tratando a área como um sistema homogêneo, não

O experimento foi realizado na propriedade Balde

levando em consideram as variações da pastagem

Cheio, localizada no município de Parnaíba-PI, na

causadas pelos processos citados acima, além da

BR-343 (02º 54‘ 18‖ S 41º 46‘ 37‖). O clima é o

ausência de adubação de manutenção têm sido os

tropical chuvoso (Aw‘) pelo critério de classificação

aceleradores

de Koppen. Sua área, de topografia ondulada, é

do

(MACEDO, 2009).

processo

de

degradação

voltada para produção de gado leiteiro, utilizando como forragem o capim mombaça, cultivado em um Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5030-5037, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

5031


Artigo 419 - Distribuição espacial da produção de capim-mombaça (panicum maximum cv. mombaça) em um latossolo amarelo na região do baixo Parnaíba

LATOSSOLO AMARELO, distrófico, textura média,

durante o pastejo nos piquetes coletados.

fase caatinga litorânea, com relevo plano e suave Pesagem do capim Mombaça

ondulado.

Em cada ponto coletado, a massa de forragem foi Mapeamento da pastagem

pesada, no mesmo local coletado, logo após a coleta

Para o mapeamento da pastagem, foram coletados

utilizando uma balança de precisão com capacidade

140 pontos, referentes aos cruzamentos de uma

para até 50 kg. Após a determinação da massa

malha amostral de 46 x 210 m, subdividida em 28

verde, por meio da pesagem do material em campo,

piquetes de 15 x 23 m, nos quais se coletaram cinco

o capim foi encaminhado para o laboratório da

amostras dentro de cada piquete (uma em cada

EMBRAPA MEIO-NORTE PARNAÍBA, onde foram

extremidade e uma central) conforme mostra a

levados para estufa com ventilação forçada a 65ºC

Figura 1. A área onde foi realizada a coleta

por 36 horas, quando atingiram peso constante, em

apresenta um desnível que converte para o centro

seguida se determinou a massa seca.

da área, estando este local sujeito a maiores níveis de fertilidade e umidade, devido ao processo de

Determinação da taxa de lotação

escorrimento superficial e subsuperficial, na qual

Para a determinação da taxa de lotação foi levado

ocorre o transporte de moléculas pela enxurrada.

em consideração a unidade animal (UA) = 550 kg,

(COGO et al., 2003).

que é a média de peso do gado leiteiro (atividade predominante da propriedade) e o consumo de

FIGURA 1. Grid amostral da distribuição dos pontos de coleta na pastagem de capim Mombaça em um LATOSSOLO AMARELO.

matéria seca igual a 2% do peso vivo (PV). Análise de dependência espacial dos atributos A dependência espacial foi analisada por meio de ajustes de semivariogramas (SOUZA et al., 2006), com base na pressuposição de estacionariedade da hipótese intrínseca, a qual é estimada por:

Em que N(h) é o número de pares experimentais de observações, Z(xi) e Z (xi + h) são separados por

Fonte: Elaborado pelo autor

uma distância h. O semivariograma é representado Coleta dos pontos amostrais

pelo gráfico ŷ(h), versus h. Do ajuste de um modelo

Para coleta dos pontos foi utilizado método do

matemático aos valores calculados de ŷ(h), são

quadrado que consiste no corte da forragem

estimados os coeficientes do modelo teórico para o

presente, dentro de uma área conhecida delimitada

semivariograma (o efeito pepita, C0; patamar,

por uma moldura de madeira (quadro), lançada em

C0+C1; e o alcance, a); já para analisar o grau da

diferentes pontos previamente estabelecidos da área

dependência espacial dos atributos em estudo foi

2

a ser avaliada. A área do quadro foi de 0,25 m .

utilizado a classificação de Cambardella et al. (1994).

Após a identificação dos pontos, foi feito o corte da pastagem manualmente com auxílio de uma tesoura

Softwares utilizados

de poda, sendo o material coletado em sacos

Os modelos de semivariogramas considerados

plásticos de 100 litros. O critério utilizado foi um

foram o esférico, o exponencial, o linear e o

corte em 30 cm quando o capim apresentava-se com até 80 cm de altura na entrada, e corte em 40

gaussiano, sendo ajustados por meio do programa +®

GS

(versão 7.0) (Gamma design software, 2004).

cm quando a altura estivesse acima de 80 cm, simulando uma altura de entrada e saída do gado

Posteriormente, tais modelos foram usados no desenvolvimento de mapas de isolinhas (krigagem).

5032

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5030-5037, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 419 - Distribuição espacial da produção de capim-mombaça (panicum maximum cv. mombaça) em um latossolo amarelo na região do baixo Parnaíba

Em caso de dúvida entre mais de um modelo para o

apresentaram assimetria positiva, com mediana

mesmo semivariograma, foi considerado o maior

menor que a média, mostrando, assim, a tendência

valor do coeficiente de correlação obtido pelo

para concentração de valores menores que a média.

método de validação cruzada. Para elaboração dos

A maioria dos atributos apresentou distribuição de

mapas de distribuição espacial da variável, será

frequência

®

platicúrtica,

ou

seja,

com

curtose

utilizado o programa Surfer 8.0 (Golden software,

negativa, indicando maior variabilidade entre os

1999).

atributos avaliados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com a modelagem dos resíduos, foi possível a

Os resultados obtidos pelo teste Shapiro-Wilk não

obtenção de melhores ajustes de semivariogramas.

foram significativos para os atributos avaliados:

Na

massa verde (MV), massa seca (MS) e taxa de

atributos, adicionou-se a tendência aos resíduos.

lotação (Tabela 1). Sendo que a normalidade dos

Seguem na Tabela 2 os parâmetros de ajuste dos

dados não é condição necessária para aplicação

semivariogramas,

das técnicas de geoestatística. Assim, segundo

resíduos.

confecção

dos

mapas

aos

temáticos

dados

originais

desses

e

aos

Gonçalves et al. (2001), a análise exploratória dos dados torna possível admitir, em princípio, estas

TABELA

distribuições como suficientemente simétricas para o

semivariogramas,

estudo geoestatístico.

resíduos.

TABELA 1. Estatística descritiva e modelos e parâmetros

estimados

dos

semivariogramas

experimentais da taxa de lotação, massa verde e massa seca de pastagem de capim Mombaça em um LATOSSOLO AMARELO. Massa Seca

Parâmetros Massa Verde

Taxa de Lotação

-1

Média Mediana Mínimo Máximo DP CV (%) Cs Ck W

-1

--------- t ha ---------UA ha 25,95 2,55 16,05 15,6 2,32 14,6 7,2 0,86 5,45 36,0 6,05 38,01 4,85 0,89 5,6 32,5% 0,79% 0,79% 0,15 (0,22) 0,59 (0,22) 0,49 (0,21) -0,54 (0,43) 0,3 (0,44) -0,28 (0,42) ns ns ns 0,93910 0,93197 0,93216

2.

Parâmetros aos

de

dados

ajuste

originais

e

Massa

Taxa de

Seca

Lotação

dos aos

Massa Verde Parâmetros -1

--------- t ha Modelo Esférico C0 5.7200,0 C0+C1 12.5100,0 a (m) 40,0 GDE (%) 45,7 2

R (%) SQR N Outlier

92,1 0,03 140 20

-1

---------- UA ha Esférico Esférico 0,24820 987,000 0,49740 1,975,000 100,0 150,0 49,9 49,9 76,1 0,03 140 20

91,3 6,60 140 16

DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação; CS = assimetria; CK = curtose; W= estatística do teste Shapiro-Wilk. ns = não significativo a 5 % de probabilidade pelo de Shapiro-Wilk; UA = unidade animal; C0 = efeito pepita; C0+C1 = patamar; a = alcance; GDE = grau de dependência espacial; R2 = coeficiente de determinação do modelo; SQR = soma de quadrados do resíduo; UA = unidade animal Fonte: Elaborado pelo autor

O modelo ajustado a todos os atributos foi o esférico,

Fonte: Elaborado pelo autor

o alcance (a) é uma medida importante, uma vez que Observando os três itens estudados, foi perceptível

pode

uma maior variação entre média e mediana na MV

amostragem, ou seja, pontos coletados em uma área

quando comparado com as variações de MS e taxa

circular de raio igual ao alcance são correlacionados

de lotação. Houve variação entre os valores mínimos

e, acima deste, são independentes, podendo utilizar

e máximos na MV; MS e taxa de lotação. Com

a estatística clássica para o estudo dos atributos do

relação ao desvio padrão, nota-se uma variação

solo (VIEIRA, 2000). O maior alcance foi encontrado

baixa, o que indica que os dados tendem a estarem

para taxa de lotação, indicando maior continuidade

próximos da média, sendo que entre os itens

espacial. E o menor foi para MV, indicando variação

estudados, o CV apresentou-se como baixo na MS e

de escala de acordo com o atributo estudado. Os

taxa de lotação, e médio na MV. Os itens

valores de alcance podem influenciar na qualidade

auxiliar

na

definição

de

práticas

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5030-5037, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

5033

de


Artigo 419 - Distribuição espacial da produção de capim-mombaça (panicum maximum cv. mombaça) em um latossolo amarelo na região do baixo Parnaíba

das estimativas, uma vez que ele determina o

capim - mombaça nos piquetes entre 13 e 16

número

toneladas por hectare, que é uma das menores

de

valores

usados

na

interpolação,

estimativas feitas com interpolação por krigagem

produções

observadas.

ordinária, utilizando valores de alcances maiores,

percebida nos piquetes localizados nas partes

tendem a ser mais confiáveis, apresentando mapas

mais baixas da área em estudo; este fator pode

que representem melhor a realidade (CORÁ et al.,

estar relacionado pela alta umidade presente no

2004).

local

devido

o

Tal

produção

escorrimento

foi

superficial,

prejudicando o desenvolvimento da pastagem, Para analisar o grau da dependência espacial dos

atrelada a fatores ambientais, na qual relatado

atributos em estudo, foi utilizado a classificação de

pelo proprietário, este local da área apresenta

Cambardella et al. (1994), em que são considerados

grande quantidade de pedras, dificultando o

grau

desenvolvimento

de

dependência

espacial

forte

os

do

sistema

radicular

nas -1

semivariogramas que têm um efeito pepita < 25% do

plantas, a maior produção de MV (20 t ha ),

patamar, moderada quando está entre 25 e 75% e

conforme mostra o gráfico, deu-se nos piquetes

fraca, > 75%. Com isso, o grau de dependência

finais,

espacial apresenta-se como moderado para MV, MS

impedimentos hídricos e mecânicos.

onde

aparentemente

não

apresentou

e taxa de lotação. Isso indica moderada precisão na estimativa de valores em locais não medidos até o

As diferenças de produção podem acontecer

alcance do semivariograma.

também pelo tipo de adubação e manejo utilizado na propriedade. Segundo Fagundes et al. (2012)

Nas Figuras 2 e 3 são apresentados os mapas

práticas como calagem, manejo do pastejo,

temáticos interpolados, por krigagem ordinária, da

irrigação

distribuição espacial dos atributos na área de

particularmente,

pastagem, o que possibilitou identificar regiões

aumentos em produção de matéria. Dessa forma,

heterogêneas, mesmo em uma área de pequena

a utilização da fertilização nitrogenada tem

extensão. Os valores estimados foram agrupados

proporcionado

em uma escala de cores, contendo cinco classes

forragem, devido alterações que ocorrem nas

para os itens em análise.

características morfológicas e estruturais das

e

adubação a

de

nitrogenada

mudanças

na

pastagens, proporcionam

produção

de

plantas forrageiras, influenciando o comprimento FIGURA 2. Distribuição espacial da massa verde (t -1

final das folhas, alongamento foliar, densidade

ha ) de pastagem de capim Mombaça em um

populacional de perfilho, índice de área foliar e

LATOSSOLO AMARELO

composição morfológica, que reflete na produção de matéria seca (FAGUNDES et al., 2006). FIGURA 3. Distribuição espacial da massa verde -1

(t ha ) de pastagem de capim Mombaça em um LATOSSOLO AMARELO

Fonte: Elaborado pelo autor

Observando o mapa da Figura 2 é notória a predominância de uma produção de massa verde de Fonte: Elaborado pelo autor

5034

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5024-5037, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 419 - Distribuição espacial da produção de capim-mombaça (panicum maximum cv. mombaça) em um latossolo amarelo na região do baixo Parnaíba

FIGURA 5. Média da taxa de lotação por piquetes

Na Figura 3 o mapa representa a produção de matéria

seca

(MS)

por

hectare,

onde

a

predominância foi de uma produção entre 1,7 e 2,3 toneladas por hectare, percebidas também nos piquetes da parte mais baixa da área em estudo. Da mesma forma da MV, a maior produção de MS foi observada nos últimos piquetes, com uma produção de

3,2

-1

t

ha .

Podendo

haver

uma

melhor

disponibilidade de nutrientes para as plantas. O que, segundo

Bomfim-Silva

disponibilidade

de

e

Monteiro

nutrientes

(2010)

exerce

a

grande

influência na nutrição da planta, que se reflete no desenvolvimento vegetal e na recuperação do capim. O mapa mostra ( figura 4) a lotação ideal para um melhor aproveitamento da pastagem e um melhor aproveitamento

do

animal,

Fonte: Elaborado pelo autor

consequentemente.

Observa-se a estimativa de uma lotação de 11,5 a

CONCLUSÃO

14 UA nos piquetes do meio e uma lotação máxima de 19 UA nos piquetes finais, o que coincide com a

A massa seca da pastagem distribuiu-se na área

melhor produção de MV. De acordo com Sarmento

em estudo com uma estrutura de dependência

et al. (2008), o efeito do pisoteio dos animais sobre o

espacial bem definida, com ajuste ao modelo

solo aumenta quando o pastejo é realizado em solos

esférico.

com umidade elevada e com baixa cobertura vegetal. Isto evidencia a importância do controle das

A área de estudo possui zonas de manejo

taxas de lotação animal quanto à quantidade de

específico,

pastagem produzida e à cobertura vegetal, para

devendo-se

fazer

um

manejo

diferenciado nas áreas com menor massa seca,

mitigar o efeito do pisoteio sobre a qualidade física

devido ao excesso de umidade no local.

dos solos. O Mombaça tem apresentado maiores produções de matéria seca total e de folhas, maior teor de fósforo (P) na parte aérea, podendo suportar

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5037


Níveis de proteína bruta no desempenho de juvenis de tambaqui criados em tanquesrede durante a fase de recria Crescimento, exigência de proteína, nutrição, Colossoma macropomum. Vol. 14, Nº 02, mar./ abr. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

João Lucas Moraes Vieira¹

1

Mestrando em Agricultura no Trópico Úmido, pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA. E-mail: lucasjoao1991@hotmail.com

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Revista Eletrônica

RESUMO

CRUDE PROTEIN LEVELS IN TAMBAQUI

Objetivou-se com este experimento avaliar níveis de

PERFORMANCE CREATED IN CAGES DURING

proteína bruta (PB) sobre o desempenho do

THE GROWING PHASE

tambaqui (Colossoma macropomum) durante a fase de recria. Foram utilizados 1200 juvenis com peso inicial médio de 2,05 g, mantidos em tanques-rede de 1m³, utilizando-se uma densidade de 100 3

peixes/m .

Foi

adotado

um

delineamento

experimental inteiramente casualizado com quatro tratamentos (280, 320, 360 e 400 g/kg de PB) e três repetições. A alimentação foi fornecida a taxa de 5% da biomassa ao dia, dividida em quatro refeições, corrigida a cada 15 dias. Os valores médios de oxigênio dissolvido, pH, temperatura, transparência, nitrogênio amoniacal e dureza durante o período experimental foram, respectivamente: 7,44mg/l; 6,81; 28,52ºC;

31,9cm;

permanecendo

dentro

0,33mg/l do

e

23,7mg/l,

recomendado

para

espécies tropicais. Concluiu-se que 320 g/kg de PB na

ração

foram

suficientes

para

atender

as

exigências de PB dos tambaquis juvenis. Palavras-chave: crescimento, exigência de proteína, nutrição, Colossoma macropomum.

ABSTRACT The objective of this study was to evaluate levels of crude protein on the performance of tambaqui (Colossoma

macropomum)

during

the

growing

phase. 1200 juveniles were used with initial average weight of 2.05 g, kept in cages 1m³, using a 100 fish density

/

m3.

It

was

adopted

a

completely

randomized design with four treatments (280, 320, 360 and 400 mg/kg crude protein) and three replications. Food was provided a rate of 5% of biomass per day, divided into four meals, corrected every 15 days. The average values of dissolved oxygen, pH, temperature, transparency, ammonia nitrogen and hardness during the trial period were: 7,44mg / l; 6.81; 28, 52ºC; 31,9cm; 0,33mg / l and 23,7mg / l, remaining within the recommended for tropical species. It was concluded that 32 g/kg crude protein in the diet were sufficient to meet the requirements of crude protein of juvenile tambaquis.. Keyword: growth, protein requirement, nutrition, fish, Colossoma macropomum.

5038


Artigo 420 – Níveis de proteína bruta no desempenho de juvenis de tambaqui criados em tanques-rede durante a fase de recria

INTRODUÇÃO

observaram que houve efeito dos níveis de PB sobre

Nos últimos 10 anos, a procura pela criação de

o ganho de peso até a faixa de 250,1 g/kg,

peixes

crescente,

decrescendo o ganho de peso após esse valor, o

principalmente pelas espécies nativas tropicais,

que descartaria a ideia de que maiores níveis de PB

como o tambaqui (Colossoma macropomun), que

levam a um maior ganho de peso.

em

cativeiro

tem

sido

apresentam grande potencial para a piscicultura intensiva, uma vez que possui carne de excelente

A inclusão de três níveis de PB (220, 260 e 300 g/kg)

qualidade, facilidade de adaptação ao cultivo em

na alimentação do pacu (Piaractus mesopotamicus)

tanques ou viveiros (FERNANDES et al., 2000).

com peso entre 4,62 e 11,31g, foram avaliados por FERNANDES et al. (2000), onde observaram que a

Segundo MENDONÇA et al. (2009), o tambaqui vem

inclusão de 220 g/kg de PB apresentou o pior

despertando

e

resultado de ganho de peso e os níveis com 260 e

produtores, devido ao rápido crescimento, fácil

300 g/kg de PB não apresentaram diferenças

aceitação de alimento artificial e elevado valor de

significativas.

interesse

de

pesquisadores

sua carne. O cultivo intensivo de peixes requer a utilização de uma alimentação balanceada, à base

SÁ & FRACALOSSI (2002) avaliaram a exigência

de rações que são formuladas com os mais diversos

proteica e a relação energia/proteína em alevinos de

ingredientes e processos de elaboração, para um

Piracanjuba (Brycon orbignyanus) utilizando 240,

melhor aproveitamento pelos peixes, uma vez que

260, 290, 320, 360 e 420 g/kg de PB e 123, 116,

os gastos com alimentação correspondem de 50 a

104, 92, 85 e 71 g/kg de energia metabolizável, e

70% dos custos de produção, sendo a fração

observaram que a partir de 290 g/kg de PB, os

proteica a mais onerosa (SILVA et al., 2006).

índices de ganho de peso diário estabilizaram, não havendo

Devido ao alto custo das fontes proteicas, associado

incremento

neste

parâmetro

com

o

aumento do teor de PB.

à poluição ambiental em função do uso excessivo das fontes nitrogenadas nas dietas, SPERANDIO

Diante do exposto, objetivou-se com este trabalho

(2000) relata que há a necessidade de reavaliação

avaliar o efeito de crescentes níveis de PB, em

dos níveis de proteína a serem utilizados em rações

dietas

comerciais, sendo necessário estudo sobre as

tambaquis, criados durante 60 dias, visando detectar

exigências proteicas na alimentação do tambaqui,

o nível de PB ótimo para a recria da espécie.

isocalóricas,

sobre

desempenho

de

visando aperfeiçoar o seu desempenho. MATERIAL E MÉTODOS Dietas com insuficiência de proteínas e aminoácidos

O experimento foi realizado no período de fevereiro a

podem causar redução no crescimento e menor

abril de 2012 em uma barragem de 2.780 m²

eficiência alimentar, devido à função de mobilização

localizada no município de Ji-Paraná – RO. Segundo

da proteína de alguns tecidos para a manutenção de

a classificação de Köppen, o clima predominante no

funções vitais dos peixes. Por outro lado, em uma

estado é do tipo Aw - Clima Tropical Chuvoso, com

dieta com excesso de proteína, parte será utilizada

média climatológica da temperatura do ar durante o

para a formação de tecido muscular e crescimento,

mês mais frio superior a 18 °C e um período seco

sendo o restante convertido em energia, o que deve

bem definido durante a estação de inverno, quando

ser evitado ao máximo uma vez que a proteína

ocorre no estado um moderado déficit hídrico com

compreende a fração mais onerosa da dieta

índices pluviométricos inferiores a 50 mm/mês

(FERNANDES et al., 2001).

(SEDAM, 2010).

Em estudos avaliando a inclusão de cinco níveis de

Foram utilizados 1200 alevinos de tambaqui com

proteína bruta (PB) (180, 210, 240, 270 e 300 g/kg)

peso médio inicial de 2,05 ± 0,76 g e comprimento

na criação de tambaqui com peso médio de 30 a 250

inicial médio de 47,59 ± 9,32 mm distribuídos em 12

g em tanques de alvenaria, JÚNIOR et al. (1998)

tanques-rede (1x1x1 m), confeccionados com malha

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5038-5045, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

5039


Artigo 420 - Níveis de proteína bruta no desempenho de juvenis de tambaqui criados em tanques-rede durante a fase de recria

de 10 mm entrenós respeitando-se a densidade de

de um kit comercial – Kit Técnico Água Doce, uma

100 peixes/m³.

vez por dia, as 9 horas, sendo coletado 200 ml de água à 20 cm de profundidade para a realização das

O

delineamento

experimental

utilizado

foi

o

análises.

inteiramente casualizado com quatro tratamentos (280, 320, 360 e 400 g/kg de PB) e três repetições,

A biometria foi realizada com auxílio de uma balança

com adaptação prévia dos alevinos por um período

analítica de precisão e paquímetro digital a cada

de sete dias ao ambiente, ao manejo e à dieta. Para

duas semanas utilizando-se 10% dos indivíduos de

facilitar o manejo diário os tanques-rede foram

cada unidade experimental com jejum prévio de 24

dispostos em duas linhas, espaçadas 5 m entre si e 1

horas, para o ajuste da quantidade de ração a ser

m entre os tanques.

fornecida

e

cálculo

das

variáveis

estudadas

crescimento em peso (g) e comprimento padrão Para a alimentação dos juvenis foram utilizadas

(mm).

rações comerciais formuladas de acordo com as exigências nutricionais do tambaqui segundo NRC

As variáveis analisadas foram: Ganho de Peso (GP =

(2011). As rações foram previamente moídas em

Peso final – Peso inicial), Conversão Alimentar

moinho manual para uniformização do tamanho do

Aparente (CAA = Consumo de ração/Ganho de

pellet de todos os tratamentos. A composição das

peso), Taxa de Eficiência Proteica (TEP = Ganho de

rações experimentais encontra-se na Tabela 1.

peso/Consumo de proteína), Eficiência Alimentar (EA = 100 x Ganho de peso/Consumo de ração) e Custo

A alimentação foi fornecida em quatro refeições

da Alimentação (CA = Preço da ração x CAA). Para

diárias (9, 11, 14 e 16 h), utilizando-se uma taxa de

cálculo de custos de alimentação, foi utilizado o preço

alimentação de 5% do peso vivo/dia. Para facilitar o

de venda da ração no mercado de Ji-paraná em

manejo nutricional diário foi utilizado um comedor de

janeiro de 2012.

mangueira, unida nas extremidades formando um

As

―bambolê‖, com a finalidade de reter a ração dentro

realizadas por intermédio do programa SAEG-

do tanque até o seu completo consumo pelos peixes.

Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas, e as

análises

estatísticas

das

variáveis

foram

médias foram comparadas pelo teste de Tukey com Os

parâmetros

físico-químicos

da

água:

pH,

intervalo de confiança de 5%. Os efeitos dos níveis

temperatura (°C), transparência (cm) e oxigênio

de

dissolvido (mg/L) foram monitorados diariamente,

descritas, foram analisados utilizando-se os modelos

enquanto nitrito (mg/L), nitrogênio amoniacal (mg/L),

linear, quadrático ou descontínuo ―Linear Response

alcalinidade

Plateau‖ (LRP), conforme o melhor ajustamento

(mg/L)

e

dureza

(mg/L)

foram

proteína

sobre

as

variáveis,

anteriormente

monitorados semanalmente.

obtido para cada variável.

O oxigênio dissolvido foi obtido por titulação pelo

RESULTADOS E DISCUSSÃO

método de Winkler, conforme descrito por VARGAS

A temperatura média da água dos tanques foi de

et al. (2007); o pH por solução indicadora de pH; a

28,52ºC, valor contido na faixa considerada ótima

temperatura através de termômetro, mensurado

para esta espécie segundo KUBITZA (1998). Os

diretamente no açude a 20 cm de profundidade; a

resultados das análises da água da barragem,

transparência da água com auxilio do Disco de Secchi; o nitrito através de teste colorimétrico, utilizando-se

alfa-naftilamina

(C10H9N)

como

reagente; o nitrogênio amoniacal também através da colorimetria,

utilizando

o

Azul

de

Indofenol;

realizadas durante o período experimental, são apresentados na tabela 2. Os valores de dureza e alcalinidade (23,7 e zero mg/L, respectivamente) estão abaixo do considerado adequado para criação de peixes segundo TEIXEIRA

alcalinidade por titulação de neutralização e dureza

(2009), porém as águas de ocorrência natural da

por titulação de complexação, testes feitos através

espécie e as utilizadas para criação de peixes na

5040

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5038 -5045, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 420 - Níveis de proteína bruta no desempenho de juvenis de tambaqui criados em tanques-rede durante a fase de recria

Amazônia,

normalmente,

apresentam

baixas

encontram-se os resultados de ganho de peso

concentrações de alcalinidade e dureza (BRANDÃO

médio, consumo de ração, consumo de proteína,

et al., 2005) tendo esses valores pouca interferência

conversão alimentar aparente, taxa de eficiência

sobre o desempenho dos peixes.

proteica e eficiência alimentar.

Durante o período experimental, a Amônia Total teve

O menor ganho de peso dos peixes foi o referente à

uma média de 0,33 mg/L, valor abaixo do encontrado

dieta com 280 g/kg de PB. A dieta com 320 g/kg de

por BRANDÃO et al. (2004) trabalhando com

PB proporcionou um aumento significativo (p<0,05)

densidades de estocagem de tambaqui, utilizando

no ganho de peso. A partir daí incrementos

200, 300, 400 e 500 peixes/m³ (1,69; 1,43; 1,3 e 1,23

adicionais de PB produziram aumento no ganho de

mg/L de Amônia Total, respectivamente). Segundo o

peso, mais sem significância.

mesmo autor, a principal causa para os altos valores de amônia total obtidos se deve ao intenso processo

O ganho de peso atingiu seu máximo na taxa de 360

de excreção dos peixes, mas como o pH da água

g/kg de PB, tendo um decréscimo no nível de 400

estava baixo, apenas uma pequena fração (0,08-

g/kg. Portanto, a exigência dietética por

0,8%) da amônia total é tóxica, não causando efeito

necessária para o crescimento máximo da espécie

negativo na produção de juvenis do tambaqui.

durante a fase da recria foi atendida com a dieta

PB,

contendo 320 g/kg de PB, sendo que possivelmente, A

transparência

experimento

foi

média de

encontrada

31,9cm,

valor

durante abaixo

o

a proteína excedente nas dietas com 360 e 400 g/kg

do

estava sendo metabolizadas para a produção de

recomendado por KUBITZA (1998), que sugere uma

energia,

transparência ótima de 40 a 60 cm. Segundo o

FRACALOSSI (2002), JÚNIOR et al. (1998) e

mesmo autor, a transparência da água pode ser

FERNANDES et al. (2001).

assim

como

observado

por

&

usada como indicativo de ocorrência de níveis críticos de oxigênio dissolvido, mas como este

O nível de PB de 320 g/kg foi superior ao observada

parâmetro permaneceu dentro do recomendado para

por SILVA et al. (2006), que trabalhando com

espécies tropicais, provavelmente não afetou o

tambaqui com peso médio inicial de 5,55g ± 0,12g,

desempenho dos peixes.

alimentado com dietas contendo diferentes níveis de proteína (240, 260, 280 e 300 g/kg de PB), não

Durante o período experimental, o nitrito se manteve

observaram

nulo. CAVERO et al. (2003), avaliando a densidade

tratamentos para o ganho de peso, concluindo assim

de estocagem de juvenis de pirarucu em tanques-

que 260 g/kg de PB foi suficiente para atender as

rede, também não observou a presença de nitrito,

exigências nutricionais em proteína para juvenis de

não causando efeito negativo na criação de peixes.

tambaqui.

diferenças

estatísticas

entre

os

O oxigênio dissolvido (7,44mg/L) se assemelha com o encontrado por COSTA et al. (2009) avaliando

O nível de PB de 320 g/kg também foi superior ao

níveis protéicos sobre o crescimento de tilápia do

encontrado por JÚNIOR et al. (1998), que utilizando

nilo, onde encontrou valores de 5,62 mg/L pela

o tambaqui com peso vivo de 30 a 250g, submetidos

manhã (06:00 horas) e 9,66 mg/L á tarde (16:00

a diferentes níveis de proteína (180, 210, 240, 270 e

horas), considerando os valores como ideal.

300 g/kg de PB), observou que a exigência proteica foi 250,1 g/kg de PB para o melhor ganho de peso.

Os valores de pH (6,81±0,25) foi semelhante ao

Desta

encontrado por BRANDÃO et al. (2004), que

desenvolvimento dos juvenis foi maior no presente

trabalhando

de

trabalho, em comparação com o encontrado pelos

estocagem durante a recria do tambaqui em tanques

autores citados anteriormente, em função do menor

rede, obteve pH médio de 6,7±0,3; considerando

peso inicial utilizado (2,05±0,76g), uma vez que a

este valor como dentro da faixa ótima para o

exigência em proteína decresce com o aumento do

desenvolvimento da espécie. Na Tabela 3

tamanho

com

diferentes

densidades

forma,

do

o

nível

peixe

ótimo

(SAMPAIO

de

PB

et

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5038-5045 mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

para

al.,

o

2000).

5041


Artigo 420 - Níveis de proteína bruta no desempenho de juvenis de tambaqui criados em tanques-rede durante a fase de recria

O menor consumo de proteína foi observado na

observaram aumento significativo da EA, com o

dieta contendo o menor nível proteico (280 g/kg), o

aumento dos níveis de PB, mas os valores por

que se deve à menor quantidade de proteína

eles encontrados (17,24; 30,66; 32,44; 32,81% de

oferecida ao peixe. Apesar de não ocorrerem

EA

diferenças estatísticas (p>0,05) entre os níveis

respectivamente) foram relativamente inferiores

proteicos testados sobre a conversão alimentar

aos encontrados no presente experimento (48,3;

aparente (CAA), pode-se perceber que à medida

66,1; 72,4; 87,2% de EA para 28, 32, 36 e 40%

que se aumentou a concentração de proteína na

de PB, respectivamente).

para

28,

32,

36

e

40%

de

PB,

dieta houve tendência a diminuir os valores de CAA (2,4; 1,5; 1,4 e 1,2 para os tratamentos de 280, 320,

Os

360

estatisticamente entre os tratamentos (p>0,05),

e

400

g/kg

demonstrando

que

de

PB,

respectivamente),

rações

com

custos

de

alimentação

não

diferiram

maiores

mas o menor custo foi obtido utilizando a ração

concentrações de PB são utilizadas com maior

com 32% de PB, chegando a uma economia de

eficiência pelos peixes, respondendo com uma CAA

R$ 0,70 para cada quilo de peixe produzido, em

menor.

comparação com as rações com 28 e 40% de PB e R$ 0,30 se comparando com a ração com 36%

Da mesma forma, o consumo de ração não foi significativamente

diferente

(p>0,05)

para

de PB.

as

concentrações proteicas das dietas. JÚNIOR et al.

Os

(1998)

do

comprimento estão dispostos, respectivamente

tambaqui (180, 210, 240, 270 e 300 g/kg de PB) de

nas tabelas 4 e 5. Os níveis de PB testados não

30 a 350 g em tanques de alvenaria, também não

proporcionaram diferenças significativas (P>0,05)

detectou diferenças no consumo de ração com o

sobre o peso dos peixes até os 30 dias de estudo.

aumento do nível de proteína na dieta.

avaliando

as

exigências

proteicas

valores

houve

de

crescimento

diferença

em

estatística

peso

entre

e

os

tratamentos durante os 45 e 60 dias de Para a taxa de eficiência proteica (TEP) não foi

experimento,

observada diferença significativa em relação aos

tratamento com 28% de PB foi inferior aos demais

níveis de PB testados. O mesmo foi verificado por

tratamentos para o peso médio.

onde

foi

observado

que

o

SILVA et al. (2006), que estudaram o tambaqui com peso inicial médio de 5,55 ± 0,12 g submetido a

O

dietas com diferentes níveis de PB (24, 26, 28 e

comportamento semelhante ao peso, onde os

30%) em tanques de alvenaria. Os resultados

dados só diferiram entre os tratamentos aos 45 e

também corroboram com o encontrado por SÁ &

60 dias, observando os piores resultados no

FRACALOSSI (2002), que avaliaram dietas com

tratamento com 28% de PB.

crescimento

em

comprimento

teve

níveis crescentes de PB (24, 26, 29, 32, 36 e 42%) sobre alevinos de Piracanjuba criados em tanques

CONCLUSÃO

de fibra de vidro, e observaram que a TEP não foi

O aumento do nível de PB na dieta causou

afetada pelo teor de PB da dieta.

aumento linear da relação de eficiência alimentar e não alterou a eficiência de utilização da proteína

Observou-se uma tendência de aumento linear

da dieta.

2

(y=3,075x-36,05 R =0,971) da Eficiência Alimentar (EA) com o aumento do nível de PB, conforme

Com as condições descritas neste experimento,

Figura 1. O pior resultado de EA foi obtido com 28%

sugere-se que a criação de juvenis de tambaqui

de PB, e os outros tratamentos não diferiram

(entre 2,05 a 9,06g) seja feita utilizando-se um

estatisticamente (p>0,05). SANTOS et al. (2010),

nível de 32% de PB, pois níveis menores

avaliando

diminuíram o ganho de peso do animal, e maiores

alevinos

de

tambaqui,

utilizando

crescentes níveis de PB (28, 32, 36 e 40% de PB),

não levaram a diferenças estatísticas dentre os parâmetros observados.

5042

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5038 -5045, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006


Artigo 420 - Níveis de proteína bruta no desempenho de juvenis de tambaqui criados em tanques-rede durante a fase de recria

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5043


Artigo 420 - Níveis de proteína bruta no desempenho de juvenis de tambaqui criados em tanques-rede durante a fase de recria

TABELA 1: Composição química das dietas experimentais (g/kg). Componentes Umidade Matéria mineral Proteína bruta Extrato etéreo Fibra em detergente ácido Fibra bruta Fósforo Cálcio Lisina Sódio Magnésio

280 120 140 280 45 45 25 17 30 13 35 1,9

Tratamentos 320 120 145 320 40 50 30 17 30 15 35 2

360 120 150 360 40 55 35 17 30 15 35 2

400 120 155 400 35 60 40 18 30 22 35 2

Enxofre Colina Metionina

2,2 1,5 3,5

2,5 1,5 4,4

2,5 2 4,9

3,2 2 5,5

Fonte: Elaborado pelo autor

TABELA 2: Parâmetros de qualidade da água e respectivas médias e desvio-padrão durante o período experimental. Parâmetros Oxigênio Dissolvido (mg/L) pH Temperatura (ºC) Transparência (cm) Nitrogênio Amoniacal (mg/L) Nitrito (mg/L) Alcalinidade (mg/L) Dureza (mg/L)

Valores 7,44 ± 0,77 6,81 ± 0,25 28,52 ± 1,23 31,90 ± 3,53 0,33 ± 0,14 0 0 23,70 ± 7,97

Fonte: Elaborado pelo autor

TABELA 3: Ganho de peso (GP), consumo de ração (CR), consumo de proteína (CP), conversão alimentar aparente (CAA), taxa de eficiência proteica (TEP), eficiência alimentar (EA) e custo alimentar (CA) em tambaquis alimentados com rações contendo níveis crescentes de proteína bruta. Parâmetros Observados---------------------------- Níveis de Proteína --------------------280 320 360 400 CV (%) GP (g)

362,9b

636,5ab

921,2a

881,3a

26,6

CR(g)

794,4

1026,7

1267,4

1002,8

22,9

CP (g)

222,4b

328,5ab

456,3a

401,1a

22,2

CAA (%)

2,4

1,5

1,4

1,2

41,6

TEP (%)

1,7

2,1

2,0

2,2

26,6

48,3

66,1

72,4

87,2

24,0

3,0

2,3

2,6

3,0

34,0

EA (%)

1

CA (R$)

Médias seguidas de letras distintas na linha representam diferença pelo teste t (p<0,05). Não houve diferença significativa nos parâmetros sem letras. CV=Coeficiente de variação 1 Efeito linear (P<0,05) Fonte: Elaborado pelo autor

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Artigo 420 - Níveis de proteína bruta no desempenho de juvenis de tambaqui criados em tanques-rede durante a fase de recria

FIGURA 1: Eficiência alimentar (%) de tambaquis alimentados com rações contendo níveis crescentes de proteína bruta.

Fonte: Elaborado pelo autor

TABELA 4: Peso médio (g) de tambaquis alimentados com rações contendo níveis crescentes de proteína bruta durante 60 dias. Níveis 28 32 36 40

0 1,9 A c 2,2 Ac 2,4 A d 1,6 Ad

15 2,5 A bc 3,2 Ac 3,6 A cd 2,7 Acd

Dias 30 3,2 A bc 4,0 A c 5,1 A c 4,3 Ac

45 4,6 B ab 6,3 ABb 8,3 A b 7,2 ABb

60 5,6 B a 8,6 AB a 11,6 A a 10,4 Aa

CV (%) = 17,6. Médias seguidas de letras distintas minúsculas na linha e maiúscula na coluna representam diferença pelo teste Tukey (p<0,05) Fonte: Elaborado pelo autor

TABELA 5: Comprimento médio (mm) de tambaquis alimentados com rações contendo níveis crescentes de proteína bruta durante 60 dias.

Níveis 28 32 36 40

0 46,4 Ac 48,7 Ad 50,4 Ae 46,4 Ad

15 52,4 Abc 57,4 Ac 59,6 Ad 51,7 Ad

Dias 30 58,5 Ab 63,9 Ac 68,3 Ac 64,3 Ac

45 66,6 B a 74,3 AB b 82,1 A b 77,2 AB b

60 72,9 B a 83,9 AB a 92,8 A a 92,0 A a

CV (%) = 4,57. Médias seguidas de letras distintas minúsculas na linha e maiúscula na coluna representam diferença pelo teste Tukey (p<0,05) Fonte: Elaborado pelo autor

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Aspectos do manejo reprodutivo de equinos Equinos, manejo, reprodução, raça.

Luis Gustavo Silva Rodrigues *¹ Vanessa Cristina de Souza Resende¹ Antônio Roberto Oliveira Júnior¹ Lidiane Oliveira Silva¹ Letícia Mariano Barbosa¹ 1

Discentes do curso de Bacharel em Zootecnia. Do Instituto Federal Goiano – Câmpus Ceres, Ceres, Goiás, Brasil * E-mail: luisgsilvarodrigues@hotmail.com

RESUMO Nas últimas décadas, o desenvolvimento de novas técnicas reprodutivas possibilitou o melhor aproveitamento dos equinos, tornando possível acelerar o aprimoramento das raças e seus cruzamentos. O conhecimento das particularidades anatômicas e fisiológicas dos equinos proporciona melhor desenvolvimento de ferramentas que auxiliam no manejo reprodutivo dos equinos. É fundamental a correta aplicação dos principais manejos nutricional e sanitário dos equinos para que possam expressar ao máximo seu potencial reprodutivo. Quanto às biotecnologias empregadas e difundidas na reprodução equina, vale destacar as mais comumente usadas como a inseminação artificial e a transferência de embriões, que possibilitam acelerar o progresso genético dos reprodutores. A inseminação pode ser realizada de forma natural ou artificial, sendo a última muito usada quando se pretende maximizar o potencial genético de garanhões. Já a transferência de embriões é uma biotecnologia que possibilita aumentar o número de descendentes de matrizes equinas com alto valor genético. No entanto, é pertinente ressaltar que dentre as várias associações de criadores de equinos existem algumas restrições ou normas que impedem maior difusão do material genético de cavalos e éguas, mesmo com as diferentes técnicas reprodutivas que são aplicadas na equideocultura. Objetivou-se com esse trabalho realizar uma revisão bibliográfica sobre a reprodução equina, deste a sua anatomia, fisiologia, manejo alimentar e sanitário e biotecnologias utilizadas na reprodução destes animais. Palavras-chave: equinos, manejo, reprodução, raça. 5046

Revista Eletrônica

Vol. 14, Nº 02, mar./ abr. de 2017 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

ASPECTS OF REPRODUCTIVE MANAGEMENT OF EQUINES ABSTRACT In recent decades, the development of new reproductive techniques has allowed the best use of horses, making it possible to accelerate the improvement of breeds and their crosses. Knowledge of anatomical and physiological characteristics of horses, provides better development tools that assist in reproductive management of horses. The correct implementation of the main nutritional and health management for equines so that they may express the most of their reproductive potential is essential. The biotechnology used and disseminated in equine reproduction, it is worth highlighting the most commonly used as artificial insemination and embryo transfer, which allow speed up genetic progress of breeding animals. The insemination may be performed in a natural or artificial way, the latter being often used when it is desired to maximize the genetic potential of stallions. Already embryo transfer is a biotechnology that helps to increase the number of descendants of mares with high genetic value. However, it is pertinent emphasize that among the various equine breed societies there are any restrictions or rules that prevent dissemination of this genetic material of horses and mares, even with the different reproductive techniques that are applied in creating horse. This study aimed to demonstrate the key aspects involved in equine reproductive management features improvements in reproductive characteristics, respecting some observations such as, choice and selection of reproducers, health management, feed management and particularities between the different breeds. Keyword: equine, management, reproduction, breed.


Artigo 421 – Aspectos do manejo reprodutivo de equinos

INTRODUÇÃO

FISIOLOGIA REPRODUTIVA

Nas últimas décadas, o desenvolvimento de novas

As éguas são consideradas poliéstricas estacionais,

técnicas

melhor

ou seja, têm um ciclo reprodutivo dividido em período

aproveitamento dos animais, tornando possível

de estação reprodutiva durante a primavera/verão e

acelerar

e seus

estação não reprodutiva no outono/inverno, sendo

cruzamentos. A ampla utilização das biotecnologias

esta característica marcante nas regiões onde há

trouxe, ao longo dos anos benefícios aos criadores

grande variação do fotoperíodo durante o ano

de equinos de diversas raças, e com isso a

(FARIA & GRADELA, 2010). Os equinos são

possibilidade de aumentar o número de produtos

considerados reprodutores de dias longos, pois sua

obtidos por ano, de animais com genética superior.

atividade reprodutiva é estimulada principalmente

Em relação à reprodução equina, várias tecnologias

pelo aumento do comprimento do dia, ou seja, pelo

se tornaram difundidas e comuns tais como a

aumento do fotoperíodo, que ocorre na primavera. A

inseminação artificial, a transferência de embriões e

diminuição do fotoperíodo ocorre no final do verão e

a manipulação do sêmen (GOMES & GOMES,

início do outono, estimula o término da estação

2009).

reprodutiva. Fatores secundários relacionados à

reprodutivas

possibilitou

o aprimoramento das

o

raças

primavera, como o aumento da temperatura e a Segundo Canisso et al. (2008) as biotecnologias da

melhora da qualidade do alimento, antecipam o início

reprodução

da estação reprodutiva. Há uma forte relação entre o

colocam

como

uma

importante

ferramenta a serviço da equideocultura mundial,

fotoperíodo e a ovulação (INTERVET, 2007).

como instrumento direto no melhoramento genético. Dadas

as

vantagens

inseminação

esta

contendo uma fase folicular, isto no estro, na qual a égua se encontra sexualmente receptiva ao macho,

equina, pois um reprodutor pode deixar centenas de

onde o aparelho reprodutor está preparado para

descendentes ao longo de sua vida reprodutiva,

aceitar e transportar o sêmen aos ovidutos para

quando

fertilização e que envolve, o processo da ovulação e

artificial

é

seja

O ciclo reprodutivo pode ser considerado como

a

inseminação

talvez

pela

biotecnologia com maior impacto na produção

a

artificial,

proporcionadas

utilizada

eficientemente.

uma fase lútea (diestro) na qual a égua não está receptiva ao garanhão. O hormônio FSH nas fêmeas

A espécie equina foi considerada por muito tempo

participa no crescimento dos folículos ovarianos e

como a de menor fertilidade entre as espécies

nos machos pelo estabelecimento da diferenciação

domésticas, o que foi atribuído a características de

dos espermatozóides nos túbulos seminíferos dos

seleção e problemas relacionados ao manejo

testículos. O hormônio LH, nas fêmeas proporciona a

reprodutivo

as

maturação final do folículo a indução da ovulação e o

biotecnologias da reprodução como a transferência

início da formação dos corpos lúteos. Nos machos o

de embrião e a inseminação artificial tem se

hormônio LH induz a síntese de testosterona pelas

destacado nas últimas décadas pelo seu avanço

células de Leydig, estimulando a espermatogênese,

científico

formado os espermatozóides pelas células de Sertoli

(LIRA

e

et

al.,

comercial,

2009),

contudo

possibilitando

melhor

aproveitamento dos animais. O êxito na reprodução

(SILVA et al., 1991).

equina depende do conhecimento da anatomia reprodutiva, fisiologia, endocrinologia, conduta de

ESCOLHA DE REPRODUTORES

criação, manejo sanitário e realização de um manejo

Seleção de Garanhões

alimentar correto.

Segundo Silva et al. (1991), na seleção de garanhões é considerado seu pedigree, performance

O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão

atlética e conformação. Outros aspectos relevantes

bibliográfica sobre a reprodução equina, deste a sua

são as condições físicas e a fertilidade, na qual é

anatomia, fisiologia, manejo alimentar e sanitário e

avaliada por meio dos exames clínicos do sêmen e o

biotecnologias utilizadas

comportamento sexual (INTERVET, 2007).

na reprodução destes

animais. Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5046-5053, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

5047


Artigo 421 - Aspectos do manejo reprodutivo de equinos

Considerando as condições físicas de um garanhão é importante avaliar a genitália externa, os membros anteriores, coluna e posição dos testículos dentro da bolsa escrotal (INTERVET, 2007).

motilidade, concentração e morfologia espermáticas nos quais são parâmetros clássicos na avaliação de amostras de sêmen (ARRUDA, 2007). No que diz respeito ao libido observa se o tempo de reação do animal na presença da égua. É essencial equilibrar o de

éguas

destinadas

variação da duração do ciclo estral pode variar dependendo

da

origem

racial,

individual

e

principalmente pela idade do animal, lembrando que animais com idade avançada possuem um ciclo

Em relação à da fertilidade é importante avaliar a

número

ocorrendo a ovulação no terço final do estro. A

a

determinado

garanhão, atentando ao libido e à produção de sêmen (INTERVET, 2007).

estral mais prolongado. Sendo recomendada a cobertura da fêmea até 18 horas antes do final do estro. Após este período a fêmea aumenta a agressividade podendo ocorrer acidentes com os animais (SILVA et al., 1998). Mais de um folículo pode estar presente, sendo que em geral somente um folículo será chamado de dominante, no qual se desenvolve até a ovulação, com isso os demais folículos sofrerão atresia, ocorrer graças a assincronia entre os níveis de FSH e LH,

Seleção de Matrizes

ondas foliculares e a maturação do folículo pré-

Na seleção de égua Silva et al. (1991) cita 5 critérios

ovulatório (SILVA et al., 1991).

principais, sendo: pedigree, performance atlética, conformação e desempenho produtivo e reprodutivo.

A

A

genético

gonadotrofinas hipofisárias de FSH no crescimento e

verdadeiro e, para isto, precisa ser oriunda de

de LH na maturação do folículo. O crescimento

linhagens fortes, assim, dessa forma a fertilidade da

folicular

égua e de sua família não pode ser esquecida,

condições ambientais, em dias nublados e frios o

tomando cuidados com a presença de registros

crescimento folicular e a duração do estro são

passados, ou presentes, de infertilidade. Lopes

retardados, até o restabelecimento da temperatura e

(2009) complementa a seleção de uma égua matriz

da luminosidade (ROMANO et al., 1998).

égua

deve

apresentar

um

valor

ovulação

inicial

poderá

acontece

ser

sob

influenciado

efeito

por

das

algumas

considerando o tamanho em relação ao garanhão, a idade, o temperamento dócil e o desenvolvimento

Os folículos aumentam de tamanho antes da

das glândulas mamarias.

ovulação muito rapidamente, entretanto, o tamanho e consistência folicular não são características

Morris

&

Allen

(2002),

observaram

diferença

significativa no índice de prenhez entre éguas Puro

viáveis para determinar o momento da ovulação (SILVA et al., 1998).

Sangue Inglês (PSI) abaixo e acima de 13 anos, no qual as éguas mais jovens apresentavam 61,95% de

Após a ocorrência da ovulação, há a elevação dos

prenhez, enquanto as mais velhas 50,7% aos 12

níveis

dias pós-ovulação.

transformação de células da granulosa folicular em células

de

LH

luteais,

circulantes, aumentando

estimulando gradativamente

a a

ESTAÇÃO REPRODUTIVA

secreção de progesterona, mantendo a secreção até

Ciclo Estral

o sexto dia após a ovulação (ITHO, 2010).

O estro é a fase folicular do ciclo estral, nesta fase o hormônio de receptividade sexual, estradiol é

Cio do Potro

produzido no folículo, aumentando seus níveis a

O cio do potro acontece geralmente entre o 5º e o

partir do 12º ao 14º dia do ciclo estral, atingindo o

12º dia após a ocorrência do parto, com duração em

máximo

a

média de 10,5 dias (± 1,5 dias). Existe fêmeas que

receptividade sexual ao garanhão (SOUZA et al.,

não manifestam o cio do potro, isso ocorre por

2008). A manifestação do estro ocorre em intervalos

alguns

de 17,5 (± 3 dias) e com duração de 7,5 (± 4 dias),

desequilíbrios nutricionais ou hormonais.

5048

antes

da

ovulação,

aumentando

fatores

como:

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5046-5053, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

fatores

ambientais,


Artigo 421 - Aspectos do manejo reprodutivo de equinos

A exteriorização do estro está ligada aos níveis de

do rebanho, possibilita uma larga expansão das

estrógeno e LH no sangue do animal (SOUZA et al.,

características de garanhões de qualidade genética

2008).

superior e permite que um reprodutor deixe centenas de descendentes (Taveiros, 2008). Essa técnica

É normal fêmeas recém-paridas protegeram as crias

ainda

e não expor o estro pós-parto (SILVA et al., 1998).

garanhões e evita a disseminação de doenças

proporciona

um

menor

desgaste

dos

sexualmente transmissíveis (TAVEIROS, 2008). Quando não aproveita o cio do potro, poderá ocorrer retardamento para o próximo estro, em regiões onde

A inseminação artificial é a técnica utilizada para

acontece a variação de iluminação solar. Com isso

depositar espermatozoides normais e vivos no útero,

recomenda-se a aplicação de prostaglandina no 20º

no momento adequado. São várias as metodologias

dia após o primeiro estro pós-parto (SILVA et al.,

para uso da inseminação artificial, diversos fatores

1991).

devem ser considerados como: localização da propriedade; momento inseminante (pré e/ou pós-

O cio do potro quando aproveitado obtêm-se altas

ovulação);

taxas

das

volume; diluidor; temperatura do armazenamento;

condições físicas do animal ao parto, e do aparelho

características individuais de qualidade do sêmen do

reprodutivo pós-parto (ROMANO et al., 1998).

garanhão; valor do sêmen; reposta inflamatória

de

fertilidade,

dependendo

sempre

número

total

de

espermatozóides;

uterina da égua a ser inseminada; tipo de cio; MÉTODOS REPRODUTIVOS

momento da estação; raça, entre outros fatores

Monta Natural

(CARVALHO et al., 1997).

A

cobertura

em

geral

é

controlada,

isso

condicionando um determinado garanhão para uma

Para Taveiros (2008) a realização da inseminação a

égua. Sendo que a cobertura aconteça sempre em

égua deve estar devidamente contida, a cauda deve

um mesmo local, condicionando o garanhão para a

ser ligada e levantada para evitar o contato com a

monta (FREITAS, 2005).

vulva e períneo. Em seguida de ser feita a lavagem da

vulva

e

secagem.

Para

realização

do

O reprodutor é levado até a égua ou o contrário, no

procedimento o profissional deve colocar uma luva

momento ideal para a concepção. Este método

estéril e pegar numa pipeta (cateter) de inseminação

resulta em uma taxa maior de prenhez, e o controle

estéril e proteger a ponta do cateter com os dedos

folicular permite um uso racional do garanhão.

de modo a garantir a sua esterilidade até chegar ao

(SILVA et al., 1998).

útero, Deve aplicar gel lubrificante não espermicida na luva e sobre a mão que envolve a ponta do

Quando não ocorre o controle folicular diário,

cateter. A ponta do cateter deve está sempre

recomenda-se a cobertura em dias alternados, a

protegido pelas pontas dos dedos passando o

partir do 3º dia após o início até o final do estro.

cateter pelos lábios da vulva, vagina e depois

Neste

reprodutor,

inserindo um ou dois dedos na cérvix. Os dedos

Principalmente quando há um número elevado de

servem de guia para se poder avançar a pipeta de

éguas,

inseminação pelo cérvix e cerca de 1 cm no útero da

modo

sempre

um

desgaste

atenuando

do

para

capacidade

reprodutiva do garanhão (SILVA et al.,1991).

égua.

A taxa de concepção aumenta no 3º dia após o início

Existem três diferentes formas de processamento do

do estro, diminuindo após a ovulação, tendo o

sêmen: in natura; resfriado, e congelado. O sêmen in

ovócito a vida útil de 12 a 24 horas (FREITAS, 2005).

natura deve ser colhido e utilizado, imediatamente para não perde os parâmetros de motilidade e vigor,

Inseminação Artificial

além

A inseminação artificial vem sendo usada como

elevado. O local de deposição pode ser o corpo do

ferramenta para acelerar o melhoramento genético

útero (CARVALHO et al., 1997). O sêmen resfriado e

do

metabolismo

espermático

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5046-5053, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

manter-se

5049


Artigo 380 - Aspectos do manejo reprodutivo de equinos

diluído tem como vantagem o tratamento antibiótico,

Com o advento de novos estudos com resultados

diminuindo a contaminação bacteriana; melhora da

positivos, a metodologia atualmente utilizada é a

fertilidade do sêmen devido ao aporte de nutrientes

transferência não cirúrgica coberta, associada á

contidos

de

avaliação e seleção da égua receptora (Fleury et al.,

inseminação, onde o sêmen depois de diluído,

2007). Ainda, esta é uma técnica muito menos

dependendo da situação, pode ser transportado em

invasiva, rápida e de alto percentual de prenhez, na

curtas distâncias sem necessidade de resfriamento,

qual consiste em depositar o embrião no corpo do

entre haras próximos e, se devidamente protegido

útero com o uso de uma pipeta de inseminação que

dos raios solares até uma hora, sem prejuízo da

atravessa a cérvix.

no

diluidor;

maior

flexibilidade

fertilidade; e a possibilidade do fracionamento para maior número de éguas pela expansão do volume

A qualidade do embrião equino é considerada um

diluidor mais o sêmen (CANISSO et al., 2008).

dos fatores mais importantes e que mais afeta as

Usando sêmen congelado a inseminação é feita em

taxas de prenhez nos programas de transferência de

qualquer altura devido a viabilidade do sêmen

embrião (AZEVEDO et al., 2013).

congelado ser muito longa, desde que permaneça a Para Lira et al. (2009), os embriões equinos são

uma temperatura de – 196 ºC.

seletivamente transportados da tuba uterina para o O descongelado do sêmen deve ser feita seguindo o

útero entre os dias 5 e 6 pós ovulação, os quais

protocolo para que não haja percas das doses, o

estão

número de espermatozoides contidos por dose

desenvolvimento inicial de blastocisto. Após entrar

inseminante varia na maioria dos trabalhos de 250 a

no lúmen uterino, o tamanho do embrião aumenta

500 milhões (CANISSO et al., 2008). A maioria dos

dramaticamente, desenvolvendo-se para blastocisto

trabalhos tem recomendado inseminações em dias

expandido.

alternados, a partir do segundo ou do terceiro dia do

recuperados nos dias 6 a 9, o período ideal para sua

cio, na ausência do controle folicular. Quando

coleta é nos dias 7 ou 8 após a fertilização.

na

fase

de

Embora

mórula

compacta

embriões

possam

para

ser

submetidas à palpação retal, ou controle folicular sido

Segundo Bortot e Zappa (2013) a coleta do embrião

inseminadas a partir da detecção de um folículo de

a égua é contida e realizada a limpeza criteriosa

35 mm de diâmetro, até a comprovação da ovulação

externamente e com um algodão embebido em

(VALLE et al., 2000).

solução fisiológica os lábios e comissura vulvares

pela

ultrassonografia,

as

éguas

têm

são limpos. O embrião é recolhido através de uma Transferência de Embrião

lavagem

No uso de transferência de embrião (TE) deve – se

utilizando para tal 2 a 3 litros de uma solução de

levar em consideração vários fatores ligados à

Ringer Lactato previamente aquecida. Para coleta

técnica de coleta, idade (dia da coleta) e tamanho do

usa-se um cateter do tipo Foley, semirrígido, que

embrião, idade do corpo lúteo da receptora, bem

passa através da cérvix até o corpo uterino. Este

como o método de transferência, interferem nos

cateter possui um balão na porção anterior que,

índices de recuperação embrionária e de prenhes

quando cheio de ar, impede que o meio de lavagem

(FLEURY et al., 2001).

reflua através da cérvix para a vagina. O extremo

uterina

(flushing)

da

égua

doadora,

posterior é ligado a um circuito de duas vias, em que Para seleção da égua doadora deve ser considerado

uma extremidade corresponde ao recipiente com o

o seu histórico reprodutivo, a fertilidade e genitores,

meio de lavagem e a outra ao filtro. Ao termina o

as diretrizes do registro da raça, o valor potencial do

procedimento,

potro resultante, e o número de gestações desejadas

transferem-se os 20 a 30 ml de meio de lavagem que

(AZEVEDO et al., 2013). Segundo Lira (2009), a TE

ficaram residuais no filtro para placas de Petri

em equino pode ser realizada pela técnica cirúrgica

estéreis, para procurar o embrião.

separa-se

por incisão ao flanco, ou pela técnica não cirúrgica por via cervical. 5050

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5046-5053, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

o

filtro

do

circuito,


Artigo 421 - Aspectos do manejo reprodutivo de equinos

O embrião é envasado em palheta plástica de 0,25

podem

ml

associação recomenta no período de 15 de agosto a

em

porções

alternadas

de

solução,

de

ocorrer

durante

todo

ano,

porém

a

manutenção e ar. Este procedimento minimiza os

31 de dezembro. Todas as ações devem ser

movimentos do embrião dentro da palheta e

comunicadas em formulários específicos para cada

assegura a perfeita expulsão do embrião para dentro

um dos métodos. As matrizes utilizadas como

do útero (LIRA et al., 2009). Para a inovulação é

doadoras de embrião deverão possuir registro de

usado uma pipeta de inseminação artificial.

doadoras de embrião, as receptoras poderão ser de

PARTICULARIDADES ENTRE ASSOCIAÇÕES DE RAÇAS A

raça

qualquer raça, sendo que a partir de 2020 as receptoras deverão possuir pelo menos registro de ½ sangue Quarto de Milha, as doadoras poderão ter

Mangalarga

Marchador

possui

como

particularidades a permissão de realizar coberturas durante todo o ano corrente, sendo permitida a

vários embriões gerados em uma temporada de monta, podendo ser cobrados diferentes valores de

utilização de monta natural, inseminação artificial e

emolumentos para os números de animais gerados

transferência de embrião. Para o congelamento de

(ABQM, 2013).

sêmen e embriões deveram ser realizados por médicos veterinários credenciados pela associação de criadores da raça. Todos os pais devem possuir registros

genealógicos, incluindo as

receptoras

utilizadas para transferências de embriões deveram possuir registros genealógicos da raça Mangalarga Marchador.

Todos

os

produtos

resultantes

de

inseminação artificial e de transferência de embrião deverão realizar teste de DNA para comprovação de paternidade e maternidade (ABCCMM, 2011). Para a raça Campolina, as gestações devem ser comunicadas a cada semestre sendo que as coberturas do 1º semestre deverão ser comunicadas a associação até 15 de Agosto e do segundo semestre até 15 de fevereiro. Pode utilizar das seguintes técnicas: Monta natural, inseminação

CONSIDERAÇÕES FINAIS O manejo reprodutivo de equino bem conduzido pode melhorar as características reprodutiva e produtiva, com o uso de biotecnologias como a inseminação artificial e transferência de embrião, através da escolha bem conduzida dos garanhões e matrizes a fim de atingir os parâmetros desejados. Os manejos sanitário e nutricional devem ser respeitados, pois quando mal conduzidos podem debilitar ou até mesmo levar a morte dos animais, além de prejudicar o desempenho reprodutivo dos equinos. O manejo reprodutivo deve ser direcionado respeitando as exigências das associações de criadores

e

visando

preservar

características

morfológicas e culturais de cada raça.

artificial e transferência de embrião. Todos os

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

animais utilizados para reprodução deverão ser

ABCCCampolina. Regul amento do serviço do

identificados no certificado de registro, ficando arquivado o exame de DNA dos animais. Os animais oriundos de inseminação artificial e transferência de embrião deverão realizar exame de DNA para

registro genealógico da ABCCCampolina.15p. Disponível

em:

http://www.campolina.org.br/portal/download/reg

comprovar maternidade e paternidade, podendo

ulamentos/--Reg_SRG.pdf

utilizar receptoras dos embriões de qualquer raça,

06/2016], 2006.

sendo a mesma registrada como receptora na associação

de

criadores

da

raça

campolina

(ABCCCampolina, 2006). A raça Quarto de Milha permite a utilização das seguintes técnicas: monta natural, transferência de embrião e inseminação artificial. As coberturas

[Acessado

em:

ABCCMM. Regulamento do serviço de registro genealógico do cavalo Mangalarga Machador. 12p

Disponível

em:

http://www.abccmm.org.br/uploads/1480-manualsrg.pdf.pdf. [Acessado em: 06/2016], 2011.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.14, n.2, p.5046-5053, mar./ abr. 2017. ISSN: 1983-9006

5051


Artigo 421- Aspectos do manejo reprodutivo de equinos

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5053



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