NutriTime Revista Eletrônica n. 02 vol. 15 2018

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Revista Eletrônica

© 2016 Nutritime Revista Eletrônica

Nutritime Revista Eletrônica www.nutritime.com.br Praça do Rosário, 01 Sala 302 - Centro - Viçosa, MG - Cep: 36.570-000 A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda, com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos e também resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br.

Editora Responsável: Juliana Maria Freitas Teixeira Brito Editor Científico: Júlio Maria Ribeiro Pupa Editora Técnica: Rosana Coelho de Alvarenga e Melo Cláudio José Borela Espeschit Evandro de Castro Melo Fernando Queiróz de Almeida José Luiz Domingues

Júlio Maria Ribeiro Pupa George Henrique Kling de Moraes Marcelo Diniz dos Santos Marcos Antonio Delmondes Bomfim Maria Izabel Vieira de Almeida Patricia Pinheiro de Campos Fonseca Rodrigues Rony Antonio Ferreira Rosana Coelho de Alvarenga e Melo É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo da NRE da em qualquer meio de comunicação, seja eletrônico ou impresso, sem a sua devida citação.



Sumário ARTIGOS 462 – Micotoxinas em alimentos para não ruminantes e o uso de adsorventes .............................................. 8122 Ana Carla Moreira, Soraia Viana Ferreira, Robson Evangelista Cardoso, Helena Maria Fonseca da Silva, Fagner Machado Ribeiro 463 – Potencial de utilização de subprodutos regionais da microrregião de Chapadinha na alimentação de ruminantes e produção de gases .......................................................................................................................... 8132 Samy Emanuelle Almeida Sousa Cavalcante 464 – Perfil dos consumidores de leite e derivados lácteos do município de Olho D’água - Paraíba ......... 8142 Rosa Maria dos Santos Pessoa, Glayciane Costa Gois, Anderson Antônio Ferreira da Silva, Fleming Sena Campos, Cristina Aparecida Barbosa de Lima 465 – Pontos de contaminação de carcaças bovinas dentro do fluxograma de abate .................................... 8147 Clarisse Carolina dos Santos Silva, Claudia Peixoto Bueno

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.02, p.8122-8064, mar./abr, 2018. ISSN: 1983-9006

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Micotoxinas em alimentos para não ruminantes e o uso de adsorventes Revista Eletrônica

Aves, contaminação fúngica, estratégia nutricional, micotoxicose, suínos. 1*

Ana Carla Moreira 2 Soraia Viana Ferreira 1 Robson Evangelista Cardoso 1 Helena Maria Fonseca da Silva 1 Fagner Machado Ribeiro

Vol. 15, Nº 02, Mar./Abr. de 2018 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

1

Mestranda (o) em Zootecnia no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Rio Verde (IFGoiano - Campus Rio Verde). *Email: anamoreiraufv@gmail.com. 2 Doutoranda em Zootecnia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

MYCOTOXINS IN NON-RUMINANT FOODS AND

RESUMO

THE USE OF ADSORVENTS

Os grãos e cereais utilizados na alimentação animal

ABSTRACT

encontram-se comumente contaminados por fungos,

Grains and cereals used in animal feed are

os quais comprometem a qualidade do alimento e, a

commonly contaminated by fungi, which compromise

colonização fúngica, muitas vezes é acrescida da

the quality of food and fungal colonization is often

produção de substâncias tóxicas (micotoxinas). A

compounded by the production of toxic substances

gama de micotoxinas é ampla, contudo, as de maior

(mycotoxins). The range of mycotoxins is wide,

relevância

as

however, the most relevant for animal production are

aflatoxinas, zearalenona, tricotecenos, fumonisinas e

aflatoxins, zearalenone, trichothecenes, fumonisins

ocratoxinas. É aconselhável preconizar os processos

and ochratoxins. It is advisable to recommend

preventivos da contaminação fúngica, porém, casos

preventive processes for fungal contamination, but in

onde os alimentos já se encontram contaminados,

cases where food is already contaminated, strategies

estratégias devem ser utilizadas a fim de minimizar

should be used in order to minimize the negative

os efeitos negativos da micotoxicose em animais não

effects of mycotoxicosis on non-ruminant animals

ruminantes de produção (aves e suínos). Uma

(poultry and pigs). One of these strategies is the use

destas estratégias é o uso de adsorventes nas

of adsorbents in feed, which are inert materials

rações, que são materiais inertes capazes de impedir

capable of preventing the absorption of toxins by the

a absorção das toxinas pelo trato gastrointestinal,

gastrointestinal tract, reducing performance losses

reduzindo as perdas de desempenho devido às

due to toxins, but depending on the mycotoxin load

toxinas,

de

present in the food, the use of this device becomes

micotoxinas presente no alimento, o uso deste

ineffective, it being important to check the properties

artifício torna-se ineficaz, sendo importante verificar

of the available adsorbent and the mycotoxin that it

as propriedades do adsorvente disponível e da

wishes to achieve.

para

porém,

a

produção

dependendo

animal

da

são

carga

micotoxina que deseja atingir. Keyword: birds, fungal

Palavras-chave: Aves, contaminação fúngica,

contamination, nutritional

strategy, mycotoxicosis, swine.

estratégia nutricional, micotoxicose, suínos.

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Artigo 462 – Micotoxinas em alimentos para não ruminantes e o uso de adsorventes

INTRODUÇÃO

gordurosa hepática; aumento de peso dos órgãos,

As carnes de aves e suínos representam uma das

problemas relacionados ao sistema reprodutivo,

fontes de proteína animal mais importante no

ulceração de palato, língua e comissura do bico,

mundo, fazendo parte da alimentação de populações

lesões renais e perdas na capacidade absortiva dos

de diferentes

os

alimentos, devido às alterações na morfologia

continentes (MIELLE, 2006). Segundo Luz (2014),

intestinal (GIACOMINI et al., 2006; ANDREATTA et

baseado em relatórios divulgados pela Organização

al., 2008).

níveis de renda em

todos

das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), até o ano de 2050, o mundo terá de

Uma alternativa para reduzir os efeitos tóxicos é o

aumentar a produção de carnes para suprir a

uso de adsorventes nas rações, que são materiais

demanda de consumo da população mundial, sendo

inertes, capazes de se fixar na superfície das

as perspectivas de crescimentos: carne de aves

micotoxinas e impedir sua absorção, diminuindo a

(206%), suína (56%) e carne bovina (47%).

toxidez (ARELLANO & ROSAS, 2008).

Para sustentar a demanda mundial de produção de

Objetivou-se com esta revisão abordar as condições

carne, é necessário o aumento na produção de

favorecedoras à produção de micotoxinas, os tipos

grãos. Atrelado a este cenário demanda versus

comumente encontrados nos grãos, seus impactos

oferta, a safra brasileira de 2015/2016 chegou a 211

na produção de animais não ruminantes, bem como

milhões de toneladas de grãos, representando

uma alternativa para minimizar os efeitos da toxidez.

aumento de 0,9% em relação à safra anterior (LSPA/IBGE, 2016) e colocando o Brasil como um

REFERENCIAL TEÓRICO

dos maiores produtores mundiais de grãos. MICOTOXINAS Com tamanha produção, faz-se essencial preconizar

As micotoxinas são substâncias tóxicas resultantes

os processos de prevenção da contaminação

do metabolismo secundário de fungos. Os fungos

fúngica, visando à qualidade dos alimentos que

apresentam crescimento e grande proliferação em

serão posteriormente ofertados aos animais (FOOD

cereais (milho, trigo, sorgo, cevada, amendoim, arroz

INGREDIENTS BRASIL, 2009).

e outros), principalmente quando a planta colonizada encontra-se sob condições estressoras – umidade

Em casos onde os processos preventivos tornam-se

relativa, mudança brusca de temperatura, presença

falhos, ocorre a contaminação e possível produção

de insetos e ventilação - (SANTIN, 2005).

de micotoxinas, sendo inevitável realizar ação corretiva a fim de minimizar os efeitos negativos aos

É comum que haja a produção de micotoxinas

animais

por

durante os processos de maturação (a campo),

micotoxinas (micotoxicose) (GIMENO & MARTINS,

colheita, secagem, transporte, processamento e

2011).

armazenamento dos grãos (UTTPATEL, 2007).

Os sintomas das micotoxicoses variam de acordo

Os cultivos em zonas tropicais e subtropicais são

com a idade e estado nutricional do animal, bem

mais propensos à contaminação do que àqueles

como a quantidade da micotoxina presente na ração

realizados em regiões temperadas, isto porque estes

e o período de exposição à ração contaminada

locais

(SANTURIO, 2007).

relativa e temperatura, principalmente) para a

provocados

pela

intoxicação

apresentam

condições

ótimas

(umidade

produção de fungos (MURPHY et al., 2006). Sinais clínicos de inapetência, depressão, redução no consumo alimentar e queda no desempenho são

A colonização por fungos acarreta diversas perdas,

comuns

intoxicação,

podendo ser destacada inicialmente a redução na

contudo, dependendo da origem da micotoxina,

qualidade do alimento, pois os fungos utilizam os

diversos quadros sintomáticos específicos podem ser

nutrientes como substrato (GIMENO & MARTINS,

encontrados em aves e suínos, como degeneração

2011). Secundariamente, quando há presença de mi-

nas

diversas

origens

de

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Artigo 462 – Micotoxinas em alimentos para não ruminantes e o uso de adsorventes

cotoxinas e estas são ingeridas, causam distintos

natural em diversos produtos, principalmente grãos.

efeitos deletérios à saúde dos animais, culminando

As AFM1 e AFM2 são originadas da transformação

em sinais clínicos diversos. Segundo Jobim &

das AFB1 e AFB2 pelo organismo após a ingestão de

Gonçalves (2003) é difícil mensurar a dimensão dos

alimentos contaminados, sendo encontradas na

problemas ocasionados pela ingestão, já que os

carne, leite e urina dos animais (COULOMBE, 1991).

sintomas da intoxicação (micotoxicose) podem ser confundidos com outras doenças e as toxinas

A AFB1, considerada a mais potente, possui um

podem estar presentes em baixas concentrações,

mecanismo de ação semelhante ao das AFB2, AFG1

resultando em casos constantes de intoxicação

e AFG2, que apesar de terem similaridade quanto à

crônica.

forma estrutural, se diferenciam quanto ao potencial tóxico. Sua ação inicia com a ingestão da micotoxina

Os sinais clínicos predominantes em casos de

por via oral e esta é rapidamente absorvida pelo trato

micotoxicose crônica em aves e suínos são: redução

gastrointestinal,

no consumo de alimentos, menor ganho de peso e

albumina sanguínea, espalhando pelos

conversão alimentar, aumento na incidência de

(hepático,

enfermidades

renais,

biotransformadas) e causando distúrbios metabólitos

imunossupressão, menor produção de ovos por

como a degeneração gordurosa hepática ocasionada

poedeiras, menor (ou nenhuma) produção de leite

pelo

em

oxidação/exportação dos ácidos graxos, além da

no

matrizes

plantel,

suínas

e,

disfunções

com

isto,

queda

no

ligando-se

principalmente

principalmente,

aumento das

de

síntese

enzimas

tecidos

onde

e

à são

redução

glicogênicas

e

na

desempenho produtivo e reprodutivo dos animais

inibição

a

(DILKIN & MALLMANN, 2004; TAFFAREL et al.,

gliconeogênese (OLIVEIRA & GERMANO, 1997;

2009), sendo portanto, os tipos de sinais clínicos e

SANTURIO, 2000; GIMENO & MARTINS, 2011).

lesões diretamente influenciados pela micotoxina, a dose ingerida, o período de exposição do animal ao

A regulamentação quanto ao limite máximo permitido

alimento contaminado, bem como a espécie animal

para

envolvida.

utilizadas para consumo animal é determinado por cada

aflatoxinas país,

em

sendo

matérias-primas

que

no

Brasil,

a a

serem Portaria

Segundo Murphy et al. (2006), entre as micotoxinas

MA/SNAD/SFA n° 07, de 09/11/88 do Ministério da

de maior relevância para a produção animal,

Agricultura prevê somente o limite máximo de

destacam-se: as aflatoxinas, produzidas por fungos

aflatoxinas (B1+B2+G1+G2) como 50 µg/kg.

do

gênero

possuem

Aspergillus; como

tricotecenos

as

principais

fusariotoxinas,

que

representantes

os

De acordo com Gimeno & Martins (2011), diferentes

DON,

danos podem ser causados pelo consumo de

(deoxinivalenol

diacetoxyscirpenol – DAS, toxina T2 e hidrotoxina T-

aflatoxinas

2 – HT2); as ocratoxinas, produzidas por cepas de

variáveis de acordo com a espécie, quantidade de

Aspergillus e Penicillium;

a zearalenona e as

toxina ingerida e tempo de exposição; os sinais

fumonisinas, produzidas por diversas espécies do

clínicos são influenciados também pela idade dos

gênero Fusarium.

animais (mais jovens têm maior sensibilidade) e o

TIPOS DE MICOTOXINAS

estado nutricional dos mesmos.

Aflatoxinas (AF)

Resultados obtidos em pesquisa evidenciam que

(aflatoxicose),

sendo

seus

efeitos

As aflatoxinas são micotoxinas produzidas por

aves alimentadas com rações contendo 3000 µg de

fungos

principalmente

aflatoxina/kg de ração apresentaram redução no

Aspergillus flavus, A. parasiticus, A. nominus e

consumo de alimentos, ganho de peso e conversão

outras espécies do gênero (WU et al., 2002). Dezoito

alimentar (Tabela 1), estatura desuniforme, palidez

tipos de aflatoxinas são conhecidos atualmente,

de crista, barbela e patas, comportamento anormal

sendo as mais comuns AFB1, AFB2 (produzidas

(amontoamento

pelos fungos A. flavus e A. parasiticus), AFG1 e

apatia), o fígado com coloração e tamanho alterado,

AFG2 (A. parasiticus), todas estas têm ocorrência

coração com tamanho superior ao normal e pior

do

gênero

Aspergillus,

nas

instalações,

prostração

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e

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Artigo 462 – Micotoxinas em alimentos para não ruminantes e o uso de adsorventes

peso de carcaça das aves, segundo Giacomini et al.

graminearum e F. crookwellense; que contém

(2006).

estrutura

Coagulopatias,

diminuição

da

síntese

química

semelhante

aos

estrógenos

proteica e prejuízos na ação da lipase pancreática

naturais; apresenta maior potencial estrogênico

no intestino, reduzindo a capacidade absortiva dos

quando comparada ao 17 β-estradiol, devido ao seu

lipídeos e aumentando a ocorrência de esteatorreia

modo de ação e o tempo de permanência no núcleo

(excreção de lipídeos) são destacados por Oliveira &

das células, sendo portanto, a principal causa dos

Germano (1997).

seus efeitos tóxicos (GROMADZKA et al., 2009). Assim como as aflatoxinas, ocorre em diversos

TABELA 1. Consumo de ração e ganho de peso nas

cereais quando submetidos a situações adversas.

diferentes fases de criação de frangos de corte

Segundo portaria do Ministério da Agricultura, níveis

alimentados ad libitum com dietas tratadas ou não

superiores a 50 μg kg

com aflatoxinas (3mg/kg de ração) durante o período

ocasionar intoxicação em animais monogástricos.

-1

de ZEA nas dietas podem

de 42 dias 1-21 dias

22-35 dias

Após a ingestão, a ZEA pode ser biotransformada no

36-42 dias

fígado em seus metabólitos, o α-zearalenol (α-ZEA)

Trat CR(kg)

GP(kg)

CA

CR(kg)

GP(kg)

CA

CR(kg)

GP(kg)

CA

A

1,22a

0,81a

1,51a

1,82a

1,11a

1,64a

0,94a

0,54a

1,74b

B

0,77b

0,51b

1,50a

1,61b

0,89b

1,81b

0,49b

0,40b

1,24a

e o β-zearalenol (β-ZEA). Segundo Malekinejad et al. (2006) os suínos são os animais mais sensíveis à ação da ZEA, isto porque têm predominante produção de α-ZEA e também maior afinidade dele pelos

a-b – Letras diferentes na mesma coluna representam diferença estatística significativa entre os tratamentos comparados pelo teste de Tukey (P ≤ 0,10).

receptores

carcinogênicos,

estrogênicos. hepatotóxicos,

Possui

efeitos

hematotóxicos,

imunotóxicos e genotóxicos (ZINEDINE et al., 2007).

A = 0mg de aflatoxina/kg de ração; B = 3mg de aflatoxina/kg de ração; CR = Consumo de ração; GP = Ganho de peso; CA =

Diversas alterações ocorrem no organismo quando

Conversão alimentar. Fonte: Adaptado de GIACOMINI et al. (2006).

uma fêmea suína é intoxicada por ZEA, porém, seus efeitos

Em suínos, os sinais clínicos da intoxicação aguda poderão iniciar 6 horas após a ingestão da micotoxina, presença

causando de

sangue

depressão, nas

inapetência,

fezes,

tremores

musculares, incoordenação motora com hipertermia, e podendo levar o animal a morte nas 12-24 horas seguintes. Em casos de intoxicações subagudas, observa-se cerdas eriçadas, letargia e depressão, áreas de coloração vermelho-púrpura na pele, além de perda progressiva de peso. Já animais com intoxicação crônica têm menor ganho de peso e conversão alimentar, inapetência, má aparência geral e, por vezes, diarreias. Se a ingestão ocorre em

níveis

mais

elevados

pode-se

observar

degeneração gordurosa no fígado, necrose lobular com incremento de células basofílicas na periferia do lóbulo, proliferação dos ductos biliares e cirrose (DILKIN, 2002).

destacam-se

mais

frequentemente

a

problemas do trato reprodutivo (JAKIMIUK et al., 2010). Malekinejad et al. (2006) e Aoyama et al. (2009) descreveram sinais clínicos da intoxicação como edema da vulva, do útero e dos mamilos, prolapso vaginal,

infertilidade,

permanente

sem

manifestação tolerância

de à

estro monta,

pseudogestação, vulvovaginite, leitões fracos e natimortos, redução nas taxas de concepção e repetição frequente de cios. Estes sinais ocorrem pelo

estímulo

dos

receptores

estrogênicos

citoplasmáticos, que incrementa a síntese proteica no aparelho reprodutor, provocando o aumento da secreção das células endometriais, aumento da síntese das proteínas uterinas, o que resulta em maior do peso do trato reprodutivo. Os neonatos podem ser expostos à micotoxina através do aleitamento. A intoxicação comumente

Zearalenona (ZEA) É uma micotoxina estrogênica não esteroide, produzida por diversas espécies de fungos do gênero Fusarium, principalmente F. culmorum, F.

mimetiza o estro e os leitões podem, ainda em fase inicial, apresentar vulvovaginite infantil (DÄNICKE et al., 2007).

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Artigo 462 – Micotoxinas em alimentos para não ruminantes e o uso de adsorventes

As aves são menos sensíveis à intoxicação por ZEA,

Fumonisinas

porém, associações dessa com outras micotoxinas

As fumonisinas pertencem ao grupo das micotoxinas

podem resultar em graves perdas.

produzidas por fungos do gênero Fusarium e Alternaria,

Tricotecenos Os

especialmente

F.

verticillioides

e

F.proliferatum. São amplamente encontradas em

tricotecenos

fungos

cereais produzidos em clima quente e seco, seguido

Myrothecium,

por períodos de alta umidade e em cereais atacados

Stachybotrys e Trichoderma, os tricotecenos estão

por insetos e condições de estocagem com umidade

divididos em dois grupos: macrocíclicos (principais

relativa superior a 18%. O limite máximo tolerado

representantes a toxina T-2, e diacetoxyscirpenol

pela

(DAS)) e não-macrocíclicos (deoxinivalenol - DON

(Resolução da ANVISA RDC n° 7 de 18/fev./2011).

Fusarium,

ou

são

produzidos

Cefalosporium,

vomitoxina

-

e

pelos

legislação

brasileira

é

de

5000

µg/kg

3-acetil-deoxinivalenol)

(SANTURIO, 2000).

Os

metabólitos

da

fumonisinas,

B1

(maior

abundância), B2 e B3 têm estrutura similar aos Quando em condições favoráveis (elevada umidade

esfingolipídeos; sendo a inibição da ceramida

e temperaturas entre 6-24°C), é comum a sua

sintetase (enzima responsável pela síntese de

presença nas culturas do milho, trigo, cevada, aveia,

esfingolipídeos)

arroz, centeio e outras plantações (SANTANA,

Segundo Dilkin et al. (2004), essa inibição, quando

2012).

ocorre de forma aguda (altos níveis de fumonisina),

seu

mecanismo

de

toxicidade.

induz à ocorrência de edema pulmonar em suínos, e A ação tóxica dos tricotecenos ocorre através da

atinge órgãos como pulmão, fígado e coração,

inibição da síntese proteica, redução da produção

podendo levar à óbito.

dos ácidos nucleicos, o que resulta em ação imunossupressora e prejudicam principalmente as

Quando o contato com a fumonisina ocorre por

células do trato gastrointestinal, pele e tecidos

períodos longos e com baixos níveis, leva a

linfoides e eritróides (DILKIN & MALLMANN, 2004).

modificações na morfologia do intestino, como redução na altura das vilosidades e profundidade de

De acordo com Freire et al. (2007), quando há

criptas (Tabela 2), queda no desempenho produtivo

ingestão de DON em doses elevadas, há ocorrência

e desuniformidade dos lotes. Em aves ocorre

de náuseas, vômitos e diarreias, culminando em

redução do ganho de peso, aumento do peso de

perda de peso e recusa alimentar. Os efeitos desta

órgãos como fígado, proventrículo e moela, diarreia,

micotoxina são encontrados nas diferentes espécies,

ascite, hidropericardite e palidez do miocárdio,

variando de acordo com os níveis de significância,

edema e congestão renal (DILKIN et al., 2004).

contudo,

suínos

e

cães

apresentam

maior

sensibilidade a baixos níveis de DON (1 e 4 ppm,

TABELA 2. Parâmetros morfológicos médios do

respectivamente), as outras espécies têm maior

intestino delgado mensurados em µm, de suínos

resistência à níveis maiores.

intoxicados com fumonisinas por 28 dias

A maior sensibilidade à toxina T-2 e DAS é encontrada nas aves, onde lesões orais decorrentes

Tratamentos Parâmetros

0mg de FB1/kg de

10mg de FB1/kg

30mg de FB1/kg

da intoxicação por T-2 se traduzem em necrose,

ração

de ração

de ração

erosões ou ulcerações na base da língua, no palato

AV duodeno

537,2

c

e na comissura do bico, causando assim, redução

AV jejuno

522,1b

no consumo de ração e no ganho de peso. Além disso,

os

tricotecenos

podem

também

estar

associados à diminuição da espessura da casca,

AV íleo PC duodeno PC jejuno

redução na produção de ovos, empenamento anormal das aves, regressão dos ovários, redução da resposta à vacinação e erosão da moela (FREIRE et al., 2007).

PC íleo ad

b

437,7

b

178,9

b

173,6 148,6

bc

(9,3)*

a

376,6

(11,1)

485,5b

(12,7)

(5,5)

467,0a

(6,2)

476,6a

(6,0)

(4,3)

363,6

a

(7,8)

a

359,6

(6,7)

(7,9)

a

(11,5)

a

(6,5)

a

(7,7)

a

(12,3)

(6,3) (4,9)

125,4

b

165,8 169,2

c

(5,0) (8,5)

133,1

126,0 120,8

– Letras diferentes na linha indicam diferença estatística pelo teste Tukey

(<0,05). AV = altura de vilosidade. PC = profundidade de cripta.* – Desviopadrão. Fonte: Adaptado de DILKIN et al. (2004).

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Artigo 462 – Micotoxinas em alimentos para não ruminantes e o uso de adsorventes

fúngico. Atuar nos pontos críticos de controle, Ocratoxina A (OTA)

principalmente nas fases pré e pós-colheita, com

A ocratoxina A é a mais conhecida e tóxica entre o

melhoria das práticas agrícolas, uso de híbridos

grupo das ocratoxinas. Produzida por diversas cepas

resistentes a fungos, colheita cautelosa evitando

de fungos do gênero Aspergillus sp., incluindo A.

danos aos grãos, transporte, processamento e

ochraceus, A. alliaceus, A. ostianus, A. mellus, além

armazenamento,

disto, fungos do gênero Penicillum sp. também

microambiente em que se encontra o alimento

produzem OTA (FREIRE et al., 2007).

(FOOD INGREDIENTS BRASIL, 2009).

Esta micotoxina é comumente encontrada em grãos

Contudo,

e cereais como milho, cevada, trigo, soja, aveia,

proliferação dos fungos, ou a segmentação da

centeio, feijão seco (LARSEN et al., 2001). A OTA

cadeia produtiva impossibilita um controle eficaz de

tem

todas as etapas de produção, sendo necessário

seu

desenvolvimento

potencializado

em

temperaturas entre 4 – 37°C e umidade relativa do ar de 19 – 40% (ROSMANINHO et al., 2001).

nem

mediante

sempre

a

é

manipulação

possível

do

evitar

a

então, utilizar recursos de detoxicação dos alimentos contaminados com micotoxinas, a fim de utilizá-los na alimentação animal sem que haja grandes

De acordo com Resolução da ANVISA RDC n° 7 de

prejuízos no valor nutritivo dos alimentos e no

18/fev./2011, o limite máximo tolerado de OTA em

desempenho dos animais. Um destes métodos é a

cereais para posterior processamento é de 20 µg/kg.

utilização de adsorventes (BÜNZEN & HAESE, 2006).

Possui alta afinidade de ligação às proteínas do plasma, sendo em sua maioria ligada às proteínas

ADSORVENTES

séricas, principalmente a albumina. Tem absorção rápida, mas pode apresentar lenta eliminação, isto

Adsorventes são materiais inertes, adicionados à

porque pode ocorrer reabsorção nos túbulos renais,

ração, com capacidade de se fixar na superfície da

dificultando sua eliminação e elevando o risco de

micotoxina, através da troca de cargas elétricas

acúmulo nos tecidos (PETZINGER & ZIEGLER,

(SANTIN et al., 2001), formando complexos estáveis,

2000).

hepatotóxicas,

que serão eliminados do organismo junto às

carcinogênicas

fezes/excretas, evitando sua absorção pelo trato

Apresenta

nefrotóxicas,

propriedades

imunotóxicas

e

(PFOHL-LESZKOWICZ & MANDERVILLE, 2007).

gastrointestinal do animal (ARELLANO & ROSAS, 2008). Esta estratégia é um recurso para uso em

O principal prejuízo pela intoxicação por OTA ocorre

rações com alta carga de micotoxinas, a fim de cobrir

nos rins, isto porque esta micotoxina altera a

possíveis falhas que tenham ocorrido na fabricação e

filtração glomerular, além de modificar a função dos

controle de qualidade do produto (MENEGAZZO,

túbulos contorcidos proximais, levando perdas na

2008).

capacidade de concentração urinária. Em suínos, a intoxicação causa inapetência, redução no ganho de

Diversos minerais têm sido utilizados para este fim,

peso, além de sinais clínicos como polidpsia,

provavelmente devido à facilidade com que são

poliúria, hematúria, lesões renais e hepáticas

incorporados

(DILKIN & MALLMANN, 2004).

adsorventes amplamente difundidos na atualidade,

às

rações,

porém,

dentre

os

destacam-se os aluminosilicatos, principalmente as As aves, quando em quadro de ocratoxicose,

zeolitas,

também apresentam piora no desenvolvimento,

constituídos basicamente por alumínios e silicatos

sendo em frangos de corte e perus, os principais

(HAUSCHILD, 2007). Esses adsorventes são cristais

sinais a nefropatia, aerosaculite, inapetência e

de aluminosilicatos hidratados de cátions alcalinos e

mortalidade.

alcalinos

em

galinhas

poedeiras

bentonitas

terrosos,

naturais

que

e

se

montmorilonita,

caracterizam

pela

nefrotoxicidade, redução da postura e qualidade dos

capacidade

ovos (GALTIER et al., 1981).

reversivelmente e trocar constituintes catiônicos sem que

PREVENÇÃO E CONTROLE DAS MICOTOXINAS

haja

de

perder

alteração

e da

ganhar sua

água estrutura

(SHARIATMADARI, 2008).

A melhor estratégia é a prevenção do crescimento Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.02, p.8122-8131, mar./abr, 2018. ISSN: 1983-9006

8127


Artigo 462 – Micotoxinas em alimentação para não ruminantes e o uso de adsorventes

A pureza, granulometria, origem e porosidade do

contendo

adsorvente, bem como as propriedades físicas da

apresentaram melhoria no ganho de peso diário,

micotoxina,

destacando

como

polaridade,

solubilidade

e

clinoptilolita o

nível

em de

diferente inclusão

níveis

de

4%

, de

distribuição de cargas em sua superfície são

clinoptilolita, contudo, não houve diferença estatística

características que influem diretamente no processo

para o parâmetro conversão alimentar (Tabela 3).

de adsorção, bem como a presença de compostos TABELA

orgânicos (HUWIG et al., 2001).

3.

Efeito

do

nível

de

inclusão

de

clinoptilolita na dieta sobre o desempenho de suínos Como demonstrado por Defang et al. (2009), suínos

em crescimento e terminação

em fase de crescimento alimentados com rações Parâmetros

Dietas

Período Crescimento (36-70kg)

Consumo de ração (g/d)

Terminação (70-110kg) Geral (36-110kg) Crescimento (36-70kg)

Ganho médio diário (g/d)

Terminação (70-110kg) Geral (36-110kg) Crescimento (36-70kg) Terminação

Conversão alimentar

(70-110kg) Geral (36-110kg)

Sem clinoptilolita

3% de clinoptilolita

4% de clinoptilolita

5% de clinoptilolita

1440

1440

1440

1440

3240

3240

3240

3240

2227

2227

2227

2227

448b

474b

504a

473b

580b

589ab

605a

597ab

501b

524ab

548a

527ab

3,22a

3,04a

2,86a

3,05a

5,68a

6,61a

6,37a

5,43a

4,45a

4,26a

4,07a

4,23a

a b

– Letras diferentes na mesma linha indicam diferença estatística (p<0,05). Fonte: Adaptado de DEFANG et al. (2009). combinação com

selênio orgânico em dietas

contaminadas com aflatoxinas Em outro estudo, realizado com frangos de corte, 784 animais foram alimentados por 35 dias com dietas

contaminadas

suplementados

com

com

aflatoxinas

adsorvente

a

base

e

Moela+ Tratamentos

de

Fígado

Baço

Coração

proventrículo

T1. DB+AF

3,13c

0,1198

0,5087

3,67

T2.T1+SeO

3,24c

0,1214

0,5084

3,55

T3.T1+GME

2,59b

0,1031

0,4668

3,42

macroscópicas na moela e proventrículo das aves

T4.T1+GME+SeO

2,52a

0,0978

0,5106

3,37

(Tabela 5), demonstrando então a eficiência no uso

Valor P

0,0016

ns

ns

ns

CV (%)

12,82

17,25

14,23

9,03

glucomanano esterificado e selênio orgânico. Os animais

que

receberam

a

dieta

contendo

o

adsorvente e os minerais apresentaram menor peso de

fígado

(Tabela

4),

além

disto,

todos

os

tratamentos contendo o glucomanano esterificado propiciaram

menor

incidência

de

lesões

deste adsorvente no processo de redução da toxidez da aflatoxina (ROSSI et al., 2013).

TABELA 4. Peso relativo (%) de órgãos de frangos de corte suplementados com glucomananoesterificado em

DB: Dieta basal; AF: Aflatoxinas; SeO: Selênio orgânico; GME: Glucomanano esterificado. Fonte: ROSSI et al. (2013).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.02, p.8122-8131, mar./abr, 2018. ISSN: 1983-9006

8128


Artigo 462 – Micotoxinas em alimentos para não ruminantes e o uso de adsorventes

TABELA 5. Porcentagem de órgãos com lesões em

corrigido kg

frangos de corte (35 dias de idade) suplementados

GDP, g/dia

391,00

395,00

6,00

27,00

6,93

0,60

com glucomanano esterificado em combinação com

CA

1,49

1,47

0,01

0,07

4,86

0,28

1706,00 1960,00 128,00

5,20

22,18

0,17

183,00

87,00 47,92

0,70

selênio orgânico em dietas contaminadas com

Fumonisina,

aflatoxinas

ppm

Tratamentos T1. DB+AF

Baço

Zearalenona,

Moela+proventrículo Fígado c

ppm

95,24

194,00

19,00

40,65

39,08

T2.T1+SeO

37,67

b

34,47

100

T3.T1+GME

30,58

20,58a

97,61

T4.T1+GME+SeO 28,64

22,37a

100

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Valor P

ns

0,0260

ns

Visto que a ingestão de alimentos contaminados com

CV (%)

60,22

45,89

6,07

micotoxinas prejudica a produção animal, devem-se

1

EP: erro padrão da média; 2 DP: desvio-padrão; 3 CV: coeficiente

de variação; 4 P: valor de P Fonte: Adaptado de SBARDELLA & LIMA (2012).

estabelecer programas eficazes na prevenção da

DB: Dieta basal; AF: Aflatoxinas; SeO: Selênio orgânico; GME:

contaminação da matéria-prima ou utilizar recursos

Glucomanano esterificado. Fonte: ROSSI et al. (2013).

que minimizem os efeitos nocivos das toxinas no organismo animal.

Resultados apontando o uso de adsorventes como benéficos na redução da toxidez de micotoxinas,

Faz-se necessário conhecer as propriedades da

diferentemente de Rossi et al. (2013) e Defang et al.

micotoxina que se quer atingir, as características do

(2009), não foram encontrados por

Sbardella &

material adsorvente a ser utilizado e a espécie

Lima (2012) quando forneceram à leitões na fase de

animal afetada, para que o processo de adsorção e

creche, rações contendo fumonisina, zearalenona e

eliminação

adsorvente

comprometimento da saúde e desempenho animal.

de

micotoxinas

mananoligosacarídeos, parede

de

composto

β-glucanos

leveduras,

por

extraídos

levedura

seca

seja

eficiente

sem

que

haja

de e

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fumonisina,

zearalenona

e

adsorvente

Variáveis Peso vivo inicial,kg Peso vivo final, kg Peso vivo final

EM

Adsorvente SEM

COM

7,40

7,37

EP1

DP2

CV3

P4

0,06

0,57

7,63

0,76

MICOTOXINAS

QUALITATIVA

20,55

0,23

1,55

7,68

0,74

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8131


Potencial de utilização de subprodutos regionais da microrregião de Chapadinha na alimentação de ruminantes e produção de gases Produção de ruminantes, resíduos para animais, sustentabilidade. Vol. 15, Nº 02, Mar./Abr. de 2018 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO Este trabalho trata de uma revisão de literatura sobre o potencial de utilização de subprodutos regionais da Microrregião de Chapadinha na alimentação de ruminantes.

Objetivou-se

com

este

trabalho

Samy Emanuelle Almeida Sousa Cavalcante

1

1

Professora Adjunta (Substituta) do curso de Engenharia Agrícola da Universidade Federal do Maranhão. E- mail:samyzootecnia@gmail.com.

POTENTIAL FOR THE USE OF REGIONAL SUBPRODUCTS OF THE CHAPADINHA MICROREGION IN RUMINANTS AND GAS PRODUCTION

caracterizar a região e enfatizar a importância da

ABSTRACT This paper is a literature review on the potential for

utilização de subprodutos regionais na alimentação

using

de ruminantes, com enfoque na emissão de metano,

Chapadinha in ruminant feed. The objective of this

tornando-o um tópico de debate científico e de

work is to characterize the region and to emphasize

grande interesse público.

the importance of the use of regional by-products in

regional

byproducts

of

Microregion

the feeding of ruminants, focusing on the emission of Palavras-chave: produção de ruminantes, resíduos

methane, making it a topic of scientific debate and of

para animais, sustentabilidade.

great public interest. Keyword: production of ruminants, waste for animal, sustainability.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.02, p.8132-8141, mar./abr, 2018. ISSN: 1983-9006

8132


Artigo 463 – Potencial de utilização de subprodutos regionais da microrregião de Chapadinha na alimentação de ruminantes e produção de gases

NTRODUÇÃO

rada como a principal responsável por grande parte

As atividades antropogênicas têm contribuído cada

da emissão dos gases de efeito estufa. No entanto, o

vez mais com as emissões de gases do efeito estufa

manejo e a alimentação podem melhorar ou agravar

(GEEs)

principais

a emissão destes gases. O metano é um dos GEEs

consequências destas alterações está diretamente

na

e, apresenta um potencial de promoção do efeito

relacionada às alterações climáticas, aumentando

estufa 25 vezes maior em relação ao gás carbônico

assim o potencial de aquecimento global. As

(IPCC, 2006). De acordo com RIVERA et al. (2010),

temperaturas

os

existe a possibilidade da redução na produção desse

fenômenos

atmosfera.

subiram, extremos

Uma

e

das

observa-se

estão

cada

que

mais

gás pela modificação da fermentação ruminal, obtida

frequentes, tais como, chuvas fortes, enchentes, as

vez

por alteração do volumoso, do tipo e da quantidade

ondas de frio intenso, os picos de calor, tudo isso

de carboidrato suplementado à dieta. O objetivo

está intimamente ligado ao efeito estufa.

deste trabalho é caracterizar a região e enfatizar a importância da utilização de subprodutos regionais na alimentação de ruminantes, com enfoque na

Os principais gases do efeito estufa são: gás

emissão de metano, tornando-o um tópico de debate

carbônico (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O),

científico e de grande interesse público.

clorofluorcaboneto (CFC), ozônio (O3), monóxido de carbono (CO), e vapor d’água (H2O). A queima de combustíveis fósseis é o maior contribuinte, cerca de 60% de todas as emissões mundiais dos GEEs. As

REVISÃO DE LITERATURA Agropecuária No Maranhão

indústrias e os carros são os culpados mais gás

O Brasil apresenta grande variabilidade em recursos

carbônico, mas a agropecuária, também tem sua

genéticos e ambientais para a exploração da

contribuição para o efeito estufa. As lavouras e

pecuária, sendo a bovinocultura um dos principais

criações de animais emitem gases, muitas vezes de

destaques do agronegócio brasileiro no cenário

forma natural. As aves e os suínos emitem metano

mundial. Na região do nordeste, o destaque da

por meio de dejetos da produção; as pastagens

bovinocultura segue de acordo com o cenário

contribuem na emissão de óxido nitroso; e um

nacional, apresentando um aumento de quase 2,5

exemplo bastante comum na atividade pecuária é a

milhões de cabeças, equivalente a 11% entre os

liberação

animais

censos agropecuários de 1995 e de 2006 promovido

ruminantes durante o processo de fermentação

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ruminal.

(IBGE, 2006). De acordo com os dados do IBGE

conhecidos

pela

natural

emissão

de

exagerada

metano

pelos

de

(2011), a Região Nordeste apresenta rebanho de 29.583.041

em

cabeças,

exibindo

assim

seu

O metano e óxido nitroso são os principais gases

crescimento de 2,9% no efetivo de bovinos em 2011

emitidos pela pecuária no ar, no entanto, o capim e

comparativamente a 2010. Na Região Nordeste,

as árvores fazem o procedimento inverso, retiram o

ressaltam os Estados do Maranhão, da Bahia, da

gás carbônico da atmosfera, processo denominado

Paraíba e do Pernambuco, sendo que a Bahia

de

apresenta

sequestro

de

carbono.

O

processo

de

o

maior

rebanho

da

região

com

fotossíntese retira o CO2 da atmosfera e incorpora

10.667.903 cabeças, seguido do Maranhão com

na massa de forragem. A massa de forragem, parte

7.264.106 e Ceará com 2.611.712 cabeças (IBGE,

dela é consumida pelos animais e a outra parte

2011).

senesce e vira matéria morta, compondo a matéria orgânica da superfície do solo. Na matéria orgânica do solo, existe o carbono proveniente do CO 2 da

A pecuária bovina do Maranhão é a principal

atmosfera.

atividade econômica do estado, sendo que seu rebanho destina-se em sua quase totalidade, ao corte. O efetivo de bovinos no Maranhão representa

A bovinocultura de corte brasileira pode ser conside-

3,4% do efetivo nacional, e classifica-se em 12º

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8133


Artigo 463 – Potencial de utilização de subprodutos regionais da microrregião de Chapadinha na alientação de ruminantes e produção de gases

posição no ranking nacional, dentre os estados com

A

Microrregião

maiores efetivos de bovinos. O Maranhão apresenta

Mesorregião do Leste Maranhense, e está dividida

um rebanho de caprinos de 405.672 e de ovinos

em nove municípios: Anapurus, Belágua, Brejo,

correspondente a 230.695 cabeças (IBGE, 2011).

Buriti,

Mas assim como nas outras regiões do Brasil, essas

Maranhão, São Benedito do Rio Preto e Urbano

atividades são predominantemente a pasto, sendo

Santos; e possui uma área total de 10.030,543 km².

também afetado pela estacionalidade, o que resulta

Essa microrregião é comumente identificada como

em queda na produção dos ruminantes dependente

Baixo

da alimentação a pasto.

classificação política e administrativa a denomina como

Os dados sobre a utilização das terras para pastagens no Maranhão reportam valores referentes às: pastagens naturais (1.713.367 ha), pastagens

de

Chapadinha,

Parnaíba

Chapadinha

Mata

Roma,

Maranhense,

microrregião

de

pertence

Milagres

porém

Chapadinha,

à

do

sua sendo

Chapadinha, o município sede e/ou o mais populoso, com uma população de 73.350 habitantes (IBGE, 2010).

plantadas degradadas por manejo inadequado ou por

falta

de

conservação

(pouco

produtivas)

A região de Chapadinha tem mostrado um grande

(487.724 ha) e pastagens plantadas em boas

crescimento

condições (incluindo aquelas em processo de

principalmente a soja, em decorrência da redução de

recuperação) (3.553.579 ha) (IBGE, 2006). As

áreas disponíveis no Sul do estado. De acordo com

principais

NOGUEIRA

culturas

agrícolas

no

Maranhão,

do

et

agronegócio

al.

(2014),

a

monocultor,

microrregião

de

e

Chapadinha corresponde a 78% da produção do

permanentes, seguindo a distribuição espacial das

Leste maranhense e, dentre os nove municípios que

culturas tem-se: soja (50,16%), milho (15,22%),

formam a microrregião, quatro municípios destacam-

mandioca (11,96%), arroz (5,78%), cana-de-açúcar

se, no tocante à produção de soja: Anapurus, Brejo,

(5,77%), algodão (4,50%), feijão (2,27%), banana

Buriti e Mata Roma; estes são responsáveis por 91%

(1,90%), abacaxi (1,20%) e melancia (0,28%) (IBGE,

da área plantada na microrregião e correspondem a

2015).

74% do Leste Maranhense. A linha de produção da

distribuídas

entre

lavouras

temporárias

agroindústria O estado do Maranhão é o segundo maior produtor de soja da região Nordeste, ficando atrás da Bahia. O Sul do estado é um dos maiores polos de produção de grãos do país, com destaque ao

da

microrregião

baseia-se

fundamentalmente em casas de farinha e usinas de arroz, cuja transformação é voltada para a produção básica da microrregião como abastecimento do arroz e produção de farinha (GUIMARÃES, 2012).

município de Balsas, que em 2015 produziu 501.668 toneladas com 181.764 de área plantada e 181.764

O município de Chapadinha apresenta um rebanho

de área colhida, rendimento médio 2.760 kg/ha

de bovinos de 13.539, caprinos de 11.465 e ovinos

(IBGE, 2015). No Maranhão, o milho é cultivado em

de 2.182 cabeças, e o número de estabelecimentos

consórcio principalmente com o arroz, o feijão e a

agropecuários correspondem a 646, 684 e 100

mandioca, encontrando-se disseminado por todo

unidades, respectivamente (IBGE, 2006). O sistema

Estado. A cultura da cana-de-açúcar é o produto que

de produção segue o panorama brasileiro, atividades

apresentou melhor safra de 2015 no estado, com

predominantemente a pasto, caracterizado pelo

rendimento médio de 65.516 kg/ha (IBGE, 2015).

sistema extensivo, utilizando pastagens nativas e

Todas essas culturas geram resíduos, uma vez não

cultivadas. Os dados sobre a utilização das terras

apresentando descarte ou utilização adequada,

para

podem contribuir com a poluição do meio ambiente

reportam valores referentes às: pastagens naturais

e/ou emissão de gases do efeito estufa.

(11.837 ha), pastagens plantadas degradadas por manejo inadequado ou por falta de conservação (1.008 ha) e pastagens plantadas em boas condições

Microrregião De Chapadinha

(incluindo aquelas em processo de recuperação)

pastagens

no

município

de

Chapadinha

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Artigo 463 – Potencial de utilização de subprodutos regionais da microrregião de Chapadinha na alimentação de ruminantes e produção de gases

(2.666 ha) (IBGE, 2006). Esses dados mostram que

inclusão na alimentação de ruminantes

as pastagens não são bem manejadas, e que são oriundos

da

ausência

de

um

Subproduto

MS

planejamento

adequado, acarretando em aumento nos custos de

PB

(g/kg)

FDN

FDA

Autores

(g/kg)

Casca da soja

926,0

154,5 607,4

468,1 Alcalde et al.

Palha da soja

960,0

35,0

594,0

produção, diminuindo assim, o lucro obtido no produto final.

(2009) 791,0

Restle et al. (2000)

Palha do milho

Subprodutos Regionais Com Potencial De

verde

Utilização Na Alimentação De Ruminantes

Feno da parte

As forragens são, frequentemente, o principal

230,7

75,0

726,7

347,5

Castro Filho et al. (2007)

872,3

190,7 658,8

505,7 Nunes Irmão

aérea da

et al. (2008)

mandioca*

ingrediente na dieta de ruminantes nos trópicos

Raspa integral

(ARCHIMÈDE et al., 2011) e sua utilização também

da mandioca

reduz muito os custos de produção. Grande parte

Farelo do arroz

904,0

36,0

135,0

68,0

Conceição et al. (2009)

903,8

142,4 600,3

404,3 Kazama et al.

das pastagens que se encontram no Brasil é

(2008)

constituída por pastagens tropicais, que apresentam

Bagaço de cana- 927,0

certa adaptação às condições climáticas adversas

de-açúcar

do nosso país. No entanto, a estacionalidade da

*18 meses após Plantio.

produção, limita a disponibilidade de alimentos para animais ruminantes no período mais crítico, tornando necessário

adotar

procedimentos

que

possam

contornar os problemas de escassez de alimentos no período de déficit hídrico.

utilização de subprodutos regionais, que seriam descartados no meio ambiente, como alimentos alternativos e de baixo custo, quando incluídos na alimentação dos ruminantes. Na Tabela 1 pode-se observar a composição da matéria seca (MS), os teores de proteína bruta (PB), e frações de fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) de alguns dos subprodutos encontrados na microrregião de Chapadinha. Estes subprodutos grande

638,0

494,0

Murta et al. (2011)

Soja A soja é uma cultura de grande importância econômica no Maranhão, e gera uma grande quantidade de resíduos que podem ser utilizados na alimentação de ruminantes. Após a extração do óleo,

Uma das formas de contornar esse problema é a

apresentam

12,0

potencial

de

inclusão

na

alimentação dos ruminantes, porém deverão ser realizadas análises e/ou estudos sobre seu potencial de produção de gases, principalmente o gás metano.

dois subprodutos são gerados: a casca da soja e o farelo de soja. A casca da soja ou casquinha da soja é um subproduto que pode substituir o grão de milho em rações para ruminantes. E o farelo de soja, é subproduto de maior utilização, como fonte protéica, na alimentação animal. ALCALDE et al. (2009) avaliaram a casca do grão de soja e concluíram que sua inclusão em níveis de até 75% nas rações de cabritos

melhora

a

digestibilidade

e

o

valor

energético das dietas, mantendo-se a viabilidade econômica. Outro subproduto oriundo da produção do grão de soja é a palha de soja, que fica no campo e quase não tem aproveitamento na alimentação animal. Trabalho conduzido por RESTLE et al. (2000)

Os

ruminantes

têm

papel

relevante

no

avaliaram a palha da soja na alimentação de

aproveitamento de resíduos da agroindústria na sua

terneiros

alimentação. Abaixo estão descritas as principais

destacaram a importância deste subproduto no Rio

culturas encontradas no Maranhão, com ênfase à

Grande do Sul, onde a relação da palhada com o

microrregião de Chapadinha, bem como seus

peso do grão varia de 120 a 150%, mostrando que

principais

ficam nas lavouras mais de 6 toneladas de palha de

subprodutos

com

potencial

para

alimentação de ruminantes.

de

corte

confinados.

Estes

autores

soja, anualmente, só no Rio Grande do Sul. O Maranhão por ser um dos grandes produtores de

TABELA 1. Subprodutos regionais com potencial de

soja do Nordeste, apresenta grande potencial para

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Artigo 463 – Pontencial de utilização de subprodutos regionais da microrregião de Chapadinha na alimentação de ruminantes e produção de gases

avaliar esse subproduto e, a partir de então,

to cultural, é desperdiçado durante a colheita ou no

determinar o nível adequado de inclusão na

processo de apara, sendo deixada para incorporação

alimentação de ruminantes.

ao solo resultando em adubo orgânico. Ela é constituída pelas hastes principais, galhos e folhas em proporções variáveis (ALMEIDA & FERREIRA

Milho

FILHO, 2005). Dependendo da relação caule/folha O milho é um dos principais ingredientes utilizados na alimentação animal, tanto o grão, como a planta inteira, na forma de silagem. A planta inteira é uma das principais espécies forrageiras utilizadas para ensilar, em razão de sua qualidade e facilidade de confecção da silagem de milho. Após a colheita do grão, palhadas são produzidas e podem ser aproveitadas e incorporadas na alimentação de

ela poderá ser aproveitada, como alimento de significativo teor protéico. A raspa integral de mandioca, que consiste da raiz integral após desintegração e desidratação, pode ser incluída em dietas para terminação de ovinos em confinamento, sem comprometer o consumo de nutrientes, o ganho de peso e a conversão alimentar (CONCEIÇÃO et al., 2009).

ruminantes. Arroz O produto industrial do beneficiamento do milho

O arroz é um dos cereais de maior utilização na

verde para conserva dá origem ao subproduto

alimentação humana, e apesar do menor teor

definido como palha do milho verde (PMV). Ele é

protéico, seus grãos possuem uma proteína de boa

constituído por palhas, sabugos, espigas inteiras

qualidade. No Estado do Maranhão, o arroz é

refugadas e extremidades de espigas. CASTRO

produzido

FILHO et al. (2007) avaliaram o valor nutritivo da

propriedades rurais, cerca de 85%, têm menos de

palha de milho verde para bovinos e concluíram que

100 ha (ARAÚJO, SOUSA & FERNANDES, 2003).

por

pequenos

agricultores,

cujas

esse subproduto apresentou um perfil interessante, para inclusão na alimentação de bovinos, quando

Durante o processo de beneficiamento do arroz com

comparados a outros alimentos considerados de boa

casca para obtenção do arroz branco, essa operação

qualidade.

produz em média 8% de farelo de arroz, variando entre 4 e 12% do peso, apresenta elevado teor de MS,

Mandioca A mandioca pode ser submetida a diferentes processos para obtenção de produtos destinados a alimentação animal, tanto integralmente quanto parcialmente, e se trata da principal fonte de renda dos agricultores familiares. Essa cultura tem grande

e

possui

baixo

custo

de

aquisição.

A

composição química depende de fatores associados à própria constituição do grão ou ao processo de beneficiamento, além da variedade genética e das condições ambientais nas quais a planta foi cultivada (CARVALHO & BASSINELO, 2006).

importância social, principalmente no estado do Maranhão, que apresenta uma produção de 6%,

Cana-de-açúcar

assumindo a 4ª posição no ranking brasileiro (FAO,

A cana-de-açúcar é a principal cultura do Brasil,

2006), e contribui como uma das principais fontes de

sendo este responsável por mais de 50% do açúcar

subsistência para as populações de baixa renda. É

comercializado no mundo. No Maranhão, o cultivo da

uma cultura que apresenta maior resistência à seca,

cana-de-açúcar mostrou um aumento de 213% entre

possui um ciclo mais longo, o que lhe permite uma

os anos de 2000 e 2007 (GONÇALVES, 2009). O

vantagem maior de recuperação diante das demais

bagaço da cana-de-açúcar, principal subproduto do

culturas anuais, como o arroz, o milho e o feijão.

processamento da cana-de-açúcar, pode ser usado

Cerca de 80% da produção de mandioca é destinada

como aditivo na confecção de silagens. A produção

à indústria de farinha, principalmente na região

deste subproduto é elevada e pode acarretar em

Nordeste.

danos para o meio ambiente, por este resíduo não possuir local adequado de descarte. De acordo com

A parte aérea da mandioca, caracterizada como res-

RABELO et al. (2008) o bagaço da cana-de-açúcar

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Artigo 463 – Potencial de utilização de subprodutos regionais da microrregião de Chapadinha na alimentação de ruminantes e produção de gases

in natura, pode ser utilizado como fonte de fibra íntegra em até 15% da matéria seca da dieta, sem

A avaliação de alimentos para animais ruminantes

apresentar prejuízos no desempenho animal. O

tem grande importância, principalmente quando se

processo

e

objetiva explorar ao máximo o desempenho animal.

acontecem

Os ruminantes são detentores de um sistema

justamente no período crítico no qual falta alimento

digestivo bastante peculiar, com características

para os animais, provocando diminuição no peso

bastante

(MURTA et al., 2011).

nutrientes

de

consequente

moagem

da

produção

do

cana-de-açúcar bagaço

definidas,

que

contidos

nos

permite

aproveitar

alimentos

os

volumosos

(carboidratos estruturais). Em outras palavras, estes Importância Do Valor Nutritivo Dos Alimentos

animais têm a capacidade de converter alimentos de

Para Ruminantes

baixo valor nutritivo em proteína de alto valor

O estudo do valor nutritivo dos subprodutos oriundos da

produção

agrícola

e

da

agroindústria

biológico, tais como carne e leite.

na

alimentação dos ruminantes é realizado em razão da

Há um grande número de técnicas para avaliação de

necessidade

alimentos, seguidas de algumas modificações para

de

alternativos

e

fornecimento viáveis

de

alimentos

economicamente,

sem

melhoria nos resultados quando se objetiva estimar o

concorrência direta com a alimentação humana

valor

(ALCALDE et al., 2009). Os custos com alimentação

ruminantes. Essas técnicas podem servir como base

dentro

animal,

para exploração da pecuária, e assim pode auxiliar

geralmente são elevados, assim como a análise

na melhoria dos índices zootécnicos com base no

química dos alimentos. Porém, essas análises

valor nutritivo dos alimentos. O valor nutricional de

podem fornecer informações importantes sobre os

determinado alimento é quantificado a partir do

fatores que podem limitar o desempenho animal

conhecimento

(SENGER et al., 2005). O conhecimento do valor

digestão, absorção e metabolismo de nutrientes que

nutritivo de um determinado alimento utilizado na

ocorrem no animal. As técnicas in vitro de avaliação

nutrição animal, além de ser a forma mais eficiente

de alimentos para animais ruminantes permitem

de identificarmos o teor de nutrientes, é também

determinar a fermentação ruminal de uma ampla

condição básica para a adoção de práticas de

variedade

manejo que visem aumentar a produção animal.

MOREIRA et al., 2009).

de

um

sistema

de

produção

O rendimento de animais ruminantes, de acordo com PASHAEI, RAZMAZAR e MIRSHEKAR (2010), é

nutritivo

de

dos

dos

alimentos

processos

forragens

(SILVA

para

animais

fisiológicos

et

al.,

de

2003;

Técnicas Para Quantificação De Metano

amplamente limitado pela qualidade da forragem,

Existem diferentes técnicas que foram desenvolvidas

que reflete principalmente no menor consumo

objetivando avaliar as emissões de metano. A

voluntário

o

grande parte das estimativas de produção de CH4

conhecimento do comportamento dos alimentos

por ruminantes tem como base modelos que foram

durante sua degradação no rúmen é um fator

desenvolvidos a partir de informações e medidas

importante para melhorar a utilização da dieta pelo

cuidadosamente obtidas em experimentos com

animal (JOBIM et al., 2011). A qualidade da forragem

animais

está associada à fração fibrosa, que é necessária na

respirométricas, conduzidas para avaliar o valor

forma efetiva para maximizar a função ruminal.

energético das dietas (JOHNSON & JOHNSON,

e

sua

digestibilidade.

Logo,

confinados,

realizados

em

câmaras

1995). Conhecer os métodos de avaliação da produção de metano entérico é fundamental para No

entanto,

composição

os

principais

química

desses

constituintes

da

obter um melhor entendimento sobre as emissões de

alimentos,

em

metano pelos ruminantes. Essas emissões podem

comparação às fontes convencionais de origem vegetal,

consistem

de

carboidratos

estruturais,

principalmente celulose e hemicelulose, assim como do elevado teor de lignina (SILVA et al., 2017).

ser mensuradas por procedimentos in vivo e in vitro. Métodos in vivo Os métodos in vivo aplicados pelos principais grupos

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de pesquisa sobre o assunto para quantificação da produção de metano entérico incluem o uso de

ruminal e degradabilidade da matéria orgânica, bem como, em estudos de emissão de metano.

câmaras respirométricas, onde os animais ficam alojados e os gases emitidos são coletados para

O RUSITEC – Rumen Simulation Technique – é

análise (OLIVEIRA, 2015). No interior das câmaras

uma

possuem alimento e água, e também um local para

BRECKENRIDGE (1977) que permite controlar as

depósito dos dejetos animais. As amostras do ar

condições do ambiente ruminal por longos períodos

externo e interno da câmara são avaliadas quanto

de tempo. Consiste de um sistema de cultura de

às concentrações de CH4, O2 e CO2 para

fluxo

determinar o consumo de O2 e a produção de CH4

manipulação, e pode realizar até 4 réplicas

e

de

experimentais ao mesmo tempo (CZERKAWSKI &

respiração são caras de se construir e operar e,

BRECKENRIDGE, 1977). Com esse equipamento

naturalmente, não podem simular o animal que

se estima a fermentação in vitro, que poderá ser

pasteja sob circunstâncias naturais. A vantagem

mantida por várias semanas, em uma escala de

dessa técnica é a precisão na quantificação de

tempo suficiente para permitir o estudo em longo

produção de gases e consumo de oxigênio pelo

prazo

animal.

microbiana.

CO2

(OLIVEIRA,

2015).

As

câmaras

A principal vantagem da avaliação in vivo é a condição de ambiente normal onde é possível obter dados mais precisos sobre o valor nutritivo de um determinado alimento ou ração. Porém, o método in vivo é trabalhoso e requer um grande número de animais (ZICARELLI et al., 2011), comparadas as técnicas in vitro.

técnica

descrita

semicontínuo,

da

possível

por

de

CZERKAWSKI

fácil

construção

adaptação

da

&

e

população

O sistema de produção de gases in vitro e o Rusitec podem ser resumidos, basicamente, em três etapas: colheita de líquido ruminal e preparo da solução tampão; produção e armazenamento dos gases oriundos do processo fermentativo; e a análise qualitativa do gás produzido. Em ambos os sistemas in vitro, o procedimento de colheita de conteúdo ruminal é basicamente o mesmo. O conteúdo ruminal (frações líquida e sólida) será

Método in vitro A

técnica

in

coletado antes da primeira refeição dos animais, gases

via fístula ruminal e, armazenado em garrafas

(THEODOROU et al., 1994) é eficiente para se

térmicas previamente aquecidas a 39ºC. A fração

conhecer o valor nutritivo de alimentos por estimar

sólida

os valores de digestibilidade aparente in vivo

acondicionada em sacos plásticos e mantidas em

(MAURICIO et al., 1999). Segundo MOREIRA et al.

caixa térmica. Para obtenção do inóculo ruminal, as

(2009) essa técnica consiste basicamente em

frações sólida e líquida serão homogeneizadas, em

medir a produção total de gases liberada pela

proporções iguais (50:50), durante 10 s, e filtradas

fermentação de uma amostra incubada em líquido

em quatro camadas de tecido de algodão (BUENO

ruminal tamponado ou a quantidade de AGV’s

et al., 2005). O inóculo será mantido a 39ºC,

produzidos dessa fermentação. O sistema in vitro

saturado

de

anaerobiose até a utilização (MAURICIO et al.,

produção

vitro

de

de

gases

produção

fornece

de

informações

detalhadas sobre a cinética de fermentação ruminal

será

coletada

com

CO2

com

para

auxílio

de

pinça,

manutenção

da

1999).

de alimentos para ruminantes (THEODOROU et al., 1994).

Esse

manipulação

sistema dos

se

fundamenta

microrganismos

na

ruminais

simulando seu ambiente natural, favorecendo seu crescimento e também na produção de seus metabólitos. De acordo com ABDALLA et al. (2008) essa técnica é bastante utilizada com a finalidade de avaliar o efeito de alimentos que possuem metabólitos secundários bioativos na fermentação

A amostragem dos gases oriundos da fermentação pode ser realizada entre o período de 4 e 24 horas após o início da incubação. Dependendo do objetivo experimental, esses períodos poderão ser fracionados ou não, e podem ser extrapolados por períodos acima de 24 horas de incubação. O metano poderá ser determinado por cromatografia,

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Artigo 463 – Potencial de utilização de subprodutos regionais da microrregião de Chapadinha na alimentação de ruminantes e produção de gases

utilizando-se um cromatógrafo de gases e ser

cabritos

calculado de acordo com o modelo matemático

Zootecnia, v.38, n.11, p.2198-2203, 2009.

proposto por LONGO et al. (2006): CH4 mL = (gases total, mL + head space, 85 mL) x CH4%.

Saanen.

Revista

Brasileira

de

ALMEIDA, J.; FERREIRA FILHO, J.R. Mandioca: uma boa alternativa para alimentação animal. Bahia Agrícola, v.7, n.1, set. 2005. ARAÚJO, E.S.; SOUZA, S.R.; FERNANDES, M.S.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Características morfológicas e moleculares e

As palhadas produzidas das culturas após a

acúmulo de proteína em grãos de variedades de

colheita

ser

arroz do Maranhão. Pesquisa Agropecuária

aproveitadas e utilizadas na alimentação de

Brasileira, Brasília, v. 38, n. 11, p. 1281-1288,

de

grãos

ruminantes,

ou

assim

sementes

como

a

podem

utilização

de

subprodutos agroindustriais. Esses subprodutos têm

grande

potencial

de

utilização

pelos

2003. ARCHIMÈDE, H. et al. Comparison of methane production between C3 and C4 grasses and

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para

quantificar

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emissão de metano, objetivando a formulação de

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8141


Perfil dos consumidores de leite e derivados lácteos do município de Olho D’água – Paraíba Revista Eletrônica Mercado consumidor, produtos lácteos, queijo. 1*

Vol. 15, Nº 02, Mar./Abr. de 2018 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Rosa Maria dos Santos Pessoa 2 Glayciane Costa Gois 3 Anderson Antônio Ferreira da Silva 4 Fleming Sena Campos 5 Cristina Aparecida Barbosa de Lima 1

Mestre em Zootecnia, UFCG, Patos, PB rosapessoaa@gmail.com. Pós-doutoranda em Ciências Veterinárias no Semiárido, CPGCVS/UNIVASF, Petrolina, PE. 3 Graduando em Zootecnia, CCA/UFPB, Areia, PB.. 4 Pós-doutorando em Ciência Animal e Pastagens, UFRPE/UAG, Garanhuns, PE. 5 Doutora em Zootecnia. CCA/UFPB, Areia, PB. 2

RESUMO

PROFILE OF CONSUMERS OF MILK AND DAIRY

Objetivou-se avaliar o perfil dos consumidores de

PRODUCTS IN THE MUNICIPALITY OF OLHO

leite e derivados no município de Olho D’água -

D'ÁGUA - PB

Paraíba. Foram aplicados 307 questionários, onde foram abordados alguns itens como: sexo, renda mensal, idade, escolaridade, consumo de leite e derivados, preferência dos produtos lácteos, local de compra do leite, local de compra dos derivados e embalagem. Os resultados mostraram que dos entrevistados, 94% consomem leite e produtos lácteos, tendo preferência por queijo (45%) e adquirindo-o diretamente do produtor (65%). Quando questionados sobre o local de compra do leite, 80% disseram comprar em supermercados, pois é mais confiável. 52% afirmam que a embalagem influencia na hora da compra. Dessa forma conclui-se que os entrevistados têm preferência em adquirir produtos lácteos diretamente do produtor. A embalagem influencia na compra, porém os consumidores não observam se a mesma apresenta o selo de fiscalização.

The objective of this study was to evaluate the profile of consumers of milk and dairy products in the municipality

of

Olho

D'água

-

Paraíba.

307

questionnaires were applied, where some items such as sex, monthly income, age, schooling, consumption of milk and milk products, preference for dairy products, place of purchase of milk, place of purchase of the products and packaging were analyzed. The results showed that 94% of the respondents consume milk and dairy products, preferring cheese (45%) and buying it directly from the producer (65%). When asked about the place to buy milk, 80% said they buy at supermarkets because it is more reliable. 52% say that packaging influences the time of purchase. In this way, it is concluded that the interviewees have a preference in acquiring dairy products directly from the producer.

Palavras-chave: mercado consumidor, produtos lácteos, queijo.

ABSTRACT

The

packaging

influences

the

purchase,

but

consumers do not observe if it has the seal of inspection. Keyword: consumer market, dairy products, cheese.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.02, p.8142-8146, mar./abr, 2018. ISSN: 1983-9006

8142


Artigo 464 – Perfil dos consumidores de leite e derivados lácteos do município de Olho D’água- Paraíba

INTRODUÇÃO Uma

tificação do fator preponderante em uma decisão de as

compra. No mundo atual, com as arenas cada vez

demandas do organismo, suprindo as necessidades

alimentação

adequada

visa

atender

mais competitivas, identificar o perfil do cliente torna-

de nutrientes e, ainda, envolve alguns aspectos que

se primordial na busca de vantagens competitivas

devem ser levados em consideração, como os

pelas empresas.

valores culturais, afetivos, sociais e sensoriais. A alimentação

diária

deve

apresentar

seis

Assim,

campanhas

de

marketing,

melhor

características fundamentais: ser variada, incluindo

organização da cadeia produtiva, melhoria da

todos os grupos alimentares; equilibrada, garantindo

qualidade, investimentos e um conhecimento mais

os nutrientes recomendados para cada indivíduo;

profundo sobre o consumidor de leite são ações que

suficiente,

às

podem aumentar a produção e o consumo desse

em

quantidades

que

atendam

preferindo

alimento. O conhecimento do perfil/preferências dos

comercializados

consumidores é importante, pois permite orientar o

regionalmente; colorida, tornando a refeição mais

trabalho de produção, direcionar o processo de

atrativa além de ser adequada em nutrientes e,

marketing e comercialização, além de demonstrar a

ainda, segura, livre de contaminantes para garantir a

importância

saúde do indivíduo. Os principais objetivos de uma

mercado regional. As diferentes percepções dos

alimentação saudável e equilibrada são a promoção

consumidores sobre a qualidade do produto sejam

da saúde e a prevenção de doenças (DUTRA et al.,

elas qualitativas ou quantitativas, demonstram a

2007).

necessidade de maior profundidade de investigações

necessidades alimentos

individuais; produzidos

acessível, e

desse

segmento

de

consumo

no

científicas sobre a percepção no consumo de O leite é um alimento com excepcional valor nutritivo

produtos lácteos no Brasil (VIANA et al., 2010).

e amplamente consumido pela população mundial, é recomendado desde o nascimento através do

O interesse das pesquisas de comportamento do

aleitamento materno, e depois como parte de uma

consumidor recai principalmente sobre a análise

alimentação equilibrada. Seu consumo e de seus

empírica de como ocorre o processo de compra e

derivados podem auxiliar na prevenção de algumas

quais são os fatores que afetam os consumidores.

doenças como osteoporose, devido ser considerada

Desta

como as principais fontes de cálcio, e alguns tipos de

buscam conhecer os gostos, preferências, hábitos e

câncer (ROSA & QUEIROZ, 2007).

atitudes dos consumidores, para que se possam

maneira,

pesquisadores

e

organizações

apontar tendências e perspectivas em relação ao Para BEDANI & ROSSI (2005) e AUGUSTINHO

comportamento de consumo (SPROESSER et al.,

(2007), o leite e seus derivados são a principal e

2006).

maior

fonte

de

cálcio

para

o

homem,

desempenhando papel importante na alimentação e

O presente trabalho teve como objetivo avaliar o

saúde humanas. ALVENSLEBEN (1997) afirma que

perfil dos consumidores de leite e derivados no

mesmo as necessidades mais básicas do ser

município de Olho D’água - Paraíba.

humano, como as fisiológicas, as de segurança e, também, as necessidades sociais, são influenciadas

MATERIAL E MÉTODOS

por fatores psíquicos e não podem ser dissociados

Foi realizada uma pesquisa “Survey”¸ a qual é

na compreensão dos motivos que influenciam as

utilizada para a obtenção de informações por

decisões de compra dos consumidores.

intermédio de uma entrevista com os participantes, na qual são realizadas inúmeras perguntas acerca

De acordo com ENGEL et al. (2000), são vários os

do tema que se está estudando, por meio da

fatores que interferem no comportamento de compra determinado produto ou marca. Fatores culturais,

aplicação de um questionário estruturado para obter uma padronização do processo de coleta de dados (Francisco et al., 2007). A pesquisa foi desenvolvida

sociais, familiares, econômicos e psicológicos agem

na cidade de Olho D’água – PB, durante o mês de

em conjunto de forma que se torne complexa a iden-

Maio de 2017.

e que afetam a escolha do consumidor por

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.02, p.8142-8146, mar./abr, 2018. ISSN: 1983-9006

8143


Artigo 464 – Perfil dos consumidores de leite e derivados lácteos do município de Olho D’água - Paraíba

Foi adotada uma pesquisa do tipo exploratória e

intolerância à lactose ou por não gostar do sabor ou

descritiva,

odor do leite.

realizando

entrevistas

em

estabelecimentos da zona urbana e rural. Não foram As

Estudos têm mostrado benefícios associados ao

entrevistas aconteceram em dias alternados da

consumo de leite e derivados. Entre eles, destaca-se

semana. A abordagem deste trabalho foi puramente

que a adoção de dieta com quantidades adequadas

quantitativa, com o intuito de mostrar, em números,

de leite diminuem o acúmulo de tecido adiposo

abordadas

crianças

nem

adolescentes.

a existência de um fato, a proporção em que ele

derivado de alta ingestão calórica, por meio da modulação do cálcio intracelular nos adipócitos,

ocorre na nossa sociedade.

podendo reduzir em até 70% o risco de sobrepeso. E Foram aplicados 307 questionários constituídos de 9

ainda,

perguntas

agem

na

formação

do

tecido

ósseo,

idade,

colaborando na redução da incidência de câncer

derivados,

colorretal, diminuindo a ocorrência de resistência à

preferência dos produtos lácteos, local de compra do

insulina e da pressão arterial (TOMBINI et al., 2012).

sobre:

escolaridade,

sexo,

consumo

renda de

mensal,

leite

e

leite, local de compra dos derivados e embalagem. Os questionários foram utilizados como material de

TABELA 1. Perfil dos consumidores questionados

pesquisa sobre a opinião pública e como indicativo

no município de Olho D’água – Paraíba

das

características

do

consumidor

e

suas Perfil do consumidor

preferências para que se possa trabalhar a cadeia

Total inquiridos n = 307 %=100

produtiva do leite. Sexo Após a aplicação do questionário, foi montado um

Masculino

39

banco de dados em planilha eletrônica do EXCEL

Feminino

61

(2010),

Idade

sendo

os

resultados

expressos

em

porcentagens.

18-30 anos

68

31-45 anos

15

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Acima de 45 anos

17

Através dos dados pessoais dos entrevistados

Escolaridade

(Tabela 1), observou-se um predomínio maior de

Fundamental completo

5

mulheres (61 %) do que de homens (39 %), durante

Médio completo

22

a realização da entrevista. Em relação à idade, 68%

Fundamental incompleto

36

dos consumidores entrevistados tinham entre 18 e

Médio incompleto

30

30 anos, sendo a faixa etária predominante; 15% de

Superior

4

31 a 45 anos; 17% acima de 45 anos. A

Superior incompleto

4

escolaridade também foi investigada e os resultados

Renda mensal

apontam maior participação de pessoas com nível rendimento

1 a 3 salários mínimos

80

familiar apontado foi entre 1 a 3 salários mínimos,

3 a 6 salários mínimos

12

fato este que pode estar diretamente relacionado ao

Acima 6

8

fundamental

incompleto

(36%).

O

nível de instrução descrito (Tabela 1). Fonte: Elaborada pelo autor.

Em relação ao consumo de leite e derivados (Tabela 2), 6% dos entrevistados afirmam que não os

Com relação à questão sobre o leite de preferência

consome. Os resultados encontrados corroboram os

dos consumidores, verificou-se que a maioria deles

achados por CAMPOS et al. (2016), que em estudo

tem preferência pelo leite integral (68,17%), seguido

descritivo similar sobre perfil do consumidor de leite

do

identificaram que 94% dos entrevistados consumiam

semidesnatado (5%). Algumas pessoas relataram a

leite. Apenas uma pequena parcela da população

preferência por algum outro tipo de leite, como o de

(6%) não consome leite ou derivados, por possuir

soja ou o leite 0% de lactose.

leite

desnatado

(26,83%)

e

do

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.02, p.8142-8146, mar./abr, 2018. ISSN: 1983-9006

leite

8144


Artigo 464 – Perfil dos consumidores de leite e derivados lácteos do município de Olho D’água - Paraíba

Quanto à preferência dos produtos, 45% dos entrevistados tem preferência por queijo, ficando em

Supermercado

80

segundo e terceiro lugares o iogurte (28%) e a

Ambulante

7

manteiga

Padaria

7

Mercado municipal

3

(2010), que ao analisar o perfil do consumo de leite

Feira Local de compra dos produtos lácteos

3

e produtos derivados na cidade de Maringá,

Industrializado

35

Direto do produtor A Embalagem influencia a compra?

65

Sim

48

Não

52

(13%),

respectivamente.

Resultados

superiores foram encontrados por MOLINA et al.

observaram que os consumidores preferiam o iogurte (52,67%), sorvete (43%) e queijo (32%). Quando os consumidores foram questionados sobre o local de compra do leite, 80% dos entrevistados

Fonte: Elaborada pelo autor.

disseram comprar o produto em supermercados, pois é mais confiável, 7% compram o leite em padarias

e

vendedor

ambulante

alegando

a

facilidade de se encontrar o leite e apenas 3% adquirem o leite em feira ou mercado municipal, por ser mais barato. Quanto à compra dos produtos lácteos, 65% dos entrevistados preferem comprar direto

do

produtor

industrializados

e

35%

alegando

preferem

serem

comprar

produtos

A embalagem é antes de tudo, um artefato que além das funções básicas de cobrir, empacotar, envasar, proteger e garantir a integridade e conservação dos produtos,

tanto

no

transporte

quanto

na

armazenagem e exposição nos pontos de venda, representa o principal elo entre o consumidor, o produto e a marca.

de Muitos

qualidade.

consumidores

determinadas Quando questionados se a embalagem influencia na hora da compra, 52% responderam que sim, comprando o leite apenas de uma específica marca e 48% que não. É importante ressaltar que nenhuma das pessoas entrevistadas mencionou observar o selo de fiscalização e o registro do produto em

marcas

associam

qualidade

consideradas

de

a sua

confiança, podendo nesta relação já embutir que o produto seja inspecionado em determinada instância da inspeção, seja ela municipal, estadual ou federal. A questão dos valores de apresentação do produto ao consumidor demonstrou ser um ponto de observação importante nessa avaliação, o que pode sugerir que parte do consumo pode ser flutuante nas

algum órgão de inspeção.

diferentes marcas, em função do valor apresentado TABELA 2. Preferência dos consumidores de leite e

ao público.

derivados no município de Olho D’água-PB CONCLUSÕES Perfil do consumidor

Total inquirido

Os

entrevistados

n = 307 %=100

produtos

tem

lácteos

preferência

diretamente

em do

adquirir produtor,

principalmente o queijo.

Consumo de leite e derivados Sim

94

Não Preferência pelo tipo de leite

6

A embalagem influencia na compra porém os consumidores não observam se a mesma apresenta

Integral

68,17

Desnatado

26,83

o selo de fiscalização.

Semidesnatado Preferência dos produtos lácteos

5

Iogurte

28

ANDRADE, A.N. Probiotics and Prebiotics A New

Manteiga

13

Tool at the Service of Animal Production.

Queijo

45

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8146


Pontos de contaminação de carcaças bovinas dentro do fluxograma de abate Revista Eletrônica Microrganismos, autocontole, entrebacterias.

Vol. 15, Nº 02, Mar./Abr. de 2018 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

Clarisse Carolina dos Santos Silva¹ Claudia Peixoto Bueno² ¹Especialista em Docência do Ensino Superior. Mestranda em Desenvolvimento Rural Sustentável pela Universidade Estadual de Goiás Campus São Luís de Montes Belos (UEG).E-mail: clarissezootecnista@hotmail.com. ² Orientadora do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Rural Sustentável pela Universidade Estadual de Goiás Campus São Luís de Montes Belos (UEG). Pós Doutorado pela Universidade Federal de Goiás (UFG).

RESUMO Objetivou-se com este trabalho descrever os principais pontos de contaminação das carcaças bovinas dentro do fluxograma

de

abate,

destacando

os

principais

microrganismos causadores deterioração da carne. Com o aumento das exportações de carne bovina e as exigências dos consumidores por produtos com qualidade e sem risco de contaminação, fez-se necessário que as indústrias investissem em ações de inspeção que atestem a qualidade

higiênico

sanitária

dos

produtos.

A

contaminação da carne e seus derivados está relacionada a uma das mais ameaçadoras a saúde humana. Esses microrganismos contaminantes estão presentes em toda etapa de processamento de abate, desde o transporte até a entrada da carcaça na câmara fria no abatedouro frigorifico.

São

exemplos

de

microrganismos

as

enterobactérias, especificamente a Salmonella ssp e Escherichia

coli,

considerada

como

indicador

de

contaminação fecal. A segurança e a qualidade da carne crua podem ser avaliadas com base nas contagens desses microrganismos indicadores. Um dos pontos críticos do abate

é

a

esfola,

devido

às

possibilidades

de

contaminação da superfície das carcaças a partir de microrganismos presente na superfície externa do animal e material fecal. Os programas de autocontrole garantem que

um

alimento

será

produzido

sem

risco

de

contaminação, porém quando apresentam falhas podem transmitir doenças por meio dos alimentos contaminados, além de prejuízo econômico.

Palavras-chave: entrebacterias.

microrganismos,

autocontole,

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

POINTS OF CONTAMINATION OF BOVINE CARCASSES WITHIN THE SLAUGHTER FLOW CHART ABSTRACT This work aims to describe the main contamination points of bovine carcasses within the slaughter flow chart, highlighting the main microorganisms that cause meat deterioration. With the increase in beef exports and consumer demands for quality products with no risk of contamination, it was necessary for the industries to invest in inspection actions that attest to the hygienic sanitary quality of the products. The contamination of meat and its derivatives is related to one of the most threatening to human health. These contaminating microorganisms are present in all stages of slaughter processing, from the transport to the entrance of the carcass in the cold chamber

in

the

slaughterhouse.

Examples

of

microorganisms are enterobacteria, specifically Salmonella ssp and Escherichia coli, considered as an indicator of fecal contamination. The safety and quality of raw meat can be assessed on the basis of the counts of these indicator micro-organisms. One of the critical points of slaughter is skinning, due to the possibility of contamination of the carcass surface from microorganisms present on the animal's external surface and fecal material. Self-control programs that a food will be produced without risk of contamination, but when they present flaws they can transmit diseases through contaminated foods, besides economic loss.

Keyword: microorganisms, enterobacteria.

self

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.02, p.8147-8152, mar./abr, 2018. ISSN: 1983-9006

control,

8147


Artigo 465 – Pontos de contaminação de carcaças bovinas dentro do fluxograma de abate

INTRODUÇÃO

microrganismos as enterobactérias, especificamente

A pecuária bovina encontra-se entre as principais

a Salmonella ssp e Escherichia coli, considerada

atividades econômicas do Brasil, apresentando um

como indicador fecal em matadouro frigorífico.

efetivo bovino de 215,5 milhões de cabeças,

Esses microrganismos são provenientes da pele,

responsável por 22,5% do rebanho mundial. O País

fezes e conteúdos intestinais, como também das

ocupou o segundo lugar na produção de carne

mãos e instrumentos dos funcionários. Dessa forma

bovina, participando com 16,3% da produção global.

o controle destes microrganismos é essencial para

Foram abatidas, no primeiro trimestre de 2017, 7,37

garantia da qualidade dos alimentos (HOFFMANN et

milhões de cabeças de bovinos sob algum tipo de

al., 2002).

inspeção sanitária. Essa quantidade foi 0,5% menor que a registrada no trimestre anterior e 0,7% maior

Este trabalho tem por objetivo descrever os pontos

que no mesmo período em 2016 (IBGE, 2017).

de contaminação das carcaças bovinas durante o abate, ressaltando os principais microrganismos

Com o aumento da população, a exigência do

causadores de deterioração da carne.

mercado externo e a demanda por alimentos de qualidade,

observou-se

uma

necessidade

de

REVISÃO DA LITERATURA

estruturação de toda cadeia de carne bovina, tornando-se

necessário

que

as

indústrias

FLUXOGRAMA DE ABATE

processadoras, investissem em qualidade para

Quando as carnes se destinam ao consumo in

atender

sanitárias

natura, à industrialização ou à estocagem, a

garantindo a segurança do alimento (MARRA, 2017).

obtenção e o preparo das carcaças e vísceras

Dessa forma, as indústrias de produtos de origem

comestíveis e, consequentemente, dos subprodutos

animal devem possuir ações de inspeção que

industriais derivados, devem cercar-se de atenções

atestem a qualidade dos produtos no âmbito

especiais

tecnológico e sanitário. Visto que a contaminação da

(BRESSAN, 2001).

as

diretivas

de

medidas

visando

à saúde dos

consumidores

carne e de seus derivados pode ocorrer em todas as etapas de abate, armazenamento e distribuição. Por

A carne constitui-se em alimento de natureza

ser um produto que oferece excelentes substratos

proteica e fonte de energia e nutrientes, sujeita ao

para o crescimento microbiano, a intensidade de

crescimento da maioria das bactérias. Dentre as

contaminação dependerá das medidas higiênicas

fontes principais que favorecem as contaminações

adotadas nos estabelecimentos de processamento

existem diversos fatores desde o transporte dos

da carne.

animais até a entrada da carcaça na câmara fria no abatedouro frigorifico (BONESI & SANTANA, 2008).

O

agronegócio

da

cadeia

bovina

apresenta

relevância sócio econômica no Brasil, refletindo nas

A obtenção adequada de carnes bovinas em

exportações dos produtos cárneos. Entretanto, o

abatedouros

conhecimento das principais fontes de contaminação

procedimentos

no processo de obtenção da carne e derivados

legislação vigente, incluindo aspectos relacionados à

constitui

para

higiene das instalações, equipamentos e utensílios,

Esses

além da qualidade da água utilizada nas diferentes

um

conservação

dos

fatores

de

sua

determinantes qualidade.

microrganismos contaminantes estão relacionados

deve

ser

realizada

padronizados

e

através

definidos

de pela

etapas do abate (BRASIL, 2017).

aos processos de deterioração, intoxicação, infecção e toxinfecção alimentar, levando a problemas

Os animais devem permanecer nos currais em

econômicos e de saúde pública.

descanso, jejum e dieta hídrica assim que chegam ao abatedouro frigorífico. Em seguida ao período de

A contaminação microbiológica da carne e seus

descanso inicia a fase de abate com a contenção

derivados

dos animais, insensibilização e sangria (PACHECO,

está relacionada a uma das

mais

ameaçadoras à saúde humana. São exemplos de

2006). A esfola inicia após a sangria, com a retirada

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.02, p.8147-8152, mar./abr, 2018. ISSN: 1983-9006

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Artigo 465 – Pontos de contaminação de carcaças bovinas dentro do fluxograma de abate

da pele do animal por separação do panículo

gramas de solo podem contaminar meia carcaça

subcutâneo. Em seguida, a carcaça é conduzida a

com cerca de 1.290.320 microrganismos/cm², do ar e

evisceração, divisão das carcaças, acabamento,

poeira, da água utilizada na lavagem da carcaça, do

lavagem das carcaças, resfriamento, corte, desossa

equipamento e do ambiente, dos utensílios (facas,

e expedição. Nessas operações o controle higiênico

chairas, serras e ganchos), dos recipientes usados,

sanitário é indispensável (STOCCO, 2017).

do equipamento e dos próprios manipuladores. A contaminação por conteúdo gastrintestinal, merece

FONTES DE CONTAMINAÇÃO

atenção especial, por

As contaminações da carne são decorrentes dos microrganismos

patogênicos

pertencentes

possuir

uma microbiota

especifica e pelas falhas operacionais.

à

microbiota natural dos animais. Antes do abate e no

BRANDÃO et al. (2012), encontraram maiores

momento do abate diversas bactérias aeróbias e

contagens de microrganismos indicadores na etapa

anaeróbias podem ser encontradas nas superfícies

de esfola, em média 1,15 Log10 UFC/cm² de

externas dos animais, como pele e pelos, junto a

enterobactérias. Enquanto BRICHTA-HARHAY et al.

sujidades

esses

(2008), indicaram maior prevalência de Salmonella

patógenos para o interior da sala de abate e

spp e Escherichia coli, respectivamente 89,6% e

processamento.

alguns

46,9%, na pele do que na superfície das carcaças

microrganismos estejam presentes nas carcaças dos

bovinas após a esfola (50,2% e 16,7%) em quatro

animais (JAY, 2005; RAFTARI et al., 2009).

estabelecimentos localizados em diferentes regiões

e

matéria Sendo

fecal,

carregando

inevitável

que

dos Estados Unidos. Os cuidados higiênico-sanitários durante abate, processamento e demais etapas de industrialização

Além das operações de abate, o ambiente pode

são fundamentais para a segurança microbiológica

influenciar na contaminação das carcaças. Em

do produto (MCEVOY et. al., 2000). A contaminação

ambientes

microbiológica das carcaças ocorre principalmente

deficiências no processo de higienização ligadas a

durante as operações de abate. Uma importante

capacidade

de

fonte de contaminação é a matéria fecal, a qual pode

potencializa

a

alcançar a carcaça através de deposição direta,

biofilmes, devido ao acumulo de células viáveis dos

contato

microrganismos

indireto

por

meio

dos

equipamentos

instalações e ar contaminados e limpos (BORCH,

produtivos

de

adesão

abatedouros, de

contaminação patogênicos

as

microrganismos, e

formação

(OLIVEIRA

et

de al.,

2010).

2002). Em estudos feitos por STOCCO et al. (2016), foram Um dos pontos críticos do abate é a esfola, devido

realizadas analises microbiológicas em 25 pontos

as possibilidades de contaminação da superfície das

dentro do abatedouro, desde a recepção dos animais

carcaças a partir de microrganismos presente na

até a expedição. Os autores identificaram a presença

superfície externa do animal e material fecal. Para

de Salmonella ssp e Escherichia coli em 10 pontos

Schwach (2007), uma das importantes fontes de

distintos.

contaminação seria durante a retirada do conjunto

contaminação por Escherichia coli e Salmonella ssp

do trato gastrintestinal, na etapa da evisceração, por

iniciou no armário de utensílios, na recepção da

possível ruptura das vísceras liberação do conteúdo

matéria-prima continuando na etapa de desossa e

gastrintestinal.

presente na luva de malha de aço, detectando falha

Os

autores

observaram

que

a

nos processos de higienização. BELL et al. (1997) citam que a pele e os pelos dos animais impregnados de sujidades e fezes, podem

Ao avaliar 250 amostras de carcaças de bovinos em

carrear milhões de bactérias aeróbias e anaeróbias,

frigorifico localizado na Turquia, AKKAYA et al.

potencializando

(2008) observaram a prevalência de Salmonella ssp

a

contaminação

dos

estabelecimentos de abate. Essas contaminações

em 10% e Escherichia coli em 2,35% das amostras.

dependerão do tipo de solo das pastagens, da higiene dos animais (banho), estimando que três (3)

Portanto, a carga microbiana inicial exerce efeito

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Artigo 465 – Pontos de contaminação de carcaças bovinas dentro do fluxograma de abate

marcante no tempo de armazenamento da carne

encontra-se na faixa de 106 UFC/g, níveis entre 107

fresca e produtos processados, sendo indispensável

e 108 UFC/g causam odores estranhos, para

para manter as propriedades qualitativas ótimas da

alteração de sabor devem apresentar de 108 a 109

carne e prolongar sua vida útil, reduzindo ao mínimo

UFC/g, e acima de 109 UFC/g aparece a limosidade

a contaminação durante as fases de manipulação,

superficial.

processamento,

embalagem

e

armazenamento.

Para conservar a qualidade da carne é importante

A

manter constante as temperaturas de refrigeração

microbiológicos com relação a mesofilos em cortes

legislação

brasileira

não

determina

padrão

em 3ºC ou menos (ROÇA, 2004).

bovinos e coliformes em meias carcaças, mesmo com a alta perecibilidade da carne com relação a

PHILLIPS et al. (2001), em trabalho na Austrália

contaminação microbiológica. Sobre contaminação

sobre qualidade microbiológica de carcaças bovinas

por Salmonella spp, a legislação brasileira, por meio

(nas regiões da cauda, do flanco e do peito) relatam

da RDC nº 12, de 2 de janeiro de 2001, refere-se a

que de 1.275 amostras de carcaças coletadas após

carnes refrigeradas ou congeladas in natura de

a refrigeração, 10,3% estavam contaminadas com

bovinos, carcaças bovinas inteiras ou fracionadas,

Escherichia coli e 0,2% com Salmonella spp.

quartos ou cortes, nos quais a presença desse

COLLOBERT et al. (2002) analisaram 233 carcaças

microrganismo seja ausente em 25 g (BRASIL,

bovinas

2001).

encontrando

resultado

positivos

para

Salmonella spp em três carcaças. A

presença

de

Salmonella

spp

e

coliformes

QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DA CARNE

termotolerantes foram verificados por DIAS et al.

O aumento da procura por alimentação saudável e

(2008) acima dos limites aceito pela legislação, em

por produtos de origem animal, especificamente a

12 amostras de 67 produtos cárneos. Os autores

carne, preocupa os consumidores no aspecto de

destacam a importância da contaminação por

alimentação

Salmonella spp dos produtos cárneos como veículo

demanda

segura.

quando

Por

possuir

acresce

as

uma

grande

exigências

do

de transmissão dessa bactéria ao homem.

consumidor, favoráveis à compra e ao consumo de produtos seguro. Por esse lado, é de suma

Entretanto, a segurança e a qualidade da carne crua

importância, oferecer gestão da qualidade em

podem ser avaliadas com base em contagens de

frigoríficos,

do

microrganismos indicadores, podendo destacar as

à

enterobactérias Salmonella spp e Escherichia coli.

sanidade e a ausência de substancias nocivas

De acordo som JAY (2005), para estimativa da

(BUENO et al., 2007).

população microbiana total utiliza-se a contagem de

alimento,

combinando com

os

com

padrões

a

segurança

microbiológicos,

mesofilos aeróbios, observando que os níveis mais A carne é considerada um alimento nutritivo, tanto

elevados geralmente são correlacionados com baixa

pelo valor nutricional como valor sensorial. Torna-se

qualidade e vida útil reduzida. O mesmo autor ainda

excelente

em

cita que os problemas associados a higiene e

possuir

contaminação fecal estão relacionados a contagens

atividade de água e oferecer pH favorável para a

de Escherichia coli e coliformes totais, os quais são

maioria dos microrganismos. Porém a quantidade e

significativos de patógenos entéricos, citado também

o tipo desses microrganismos que se desenvolverão

por FILHO et al. (2006).

substâncias

meio

de

cultura

nitrogenadas,

por

ser

minerais,

rico

na carne, dependerão das condições de abate ao qual o animal foi submetido. Assim como seus

A fim de reduzir a contaminação microbiológica dos

derivados, implica como uma das principais fontes

alimentos, a adoção de programas de autocontrole

de infecção alimentar (FRANCO & LANDGRAF,

pelas indústrias garante que um alimento será

2008).

produzido

sem

riscos

de

contaminação

(CONTRERAS et al., 2008). PINHEIROS et al. (2016) afirmaram que o número de mesofilos necessários para deteriorar a carne

Dentre os programas de autocontrole o Procedimen-

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.15, n.02, p.8147-8152, mar./abr, 2018. ISSN: 1983-9006

8150


Artigo 465 – Pontos de contaminação de carcaças bovinas dentro do fluxograma de abate

to

Padrão

de

Higiene

Operacional

(PPHO),

inspecionado pelo Ministério da Agricultura Pecuária

Journal of Musclle Foods, v. 19, p. 420-429, 2008.

e Abastecimento (MAPA), cita os procedimentos e

BELL, R. G. Distribution and sources of microbial

obrigações necessárias a serem cumpridas pelas

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indústrias alimentícias para evitar a contaminação cruzada,

consequentemente

infecções

e

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G.L.;

SANTANA,

E.H.W.

Fatores

toxinfecções causados pelo consumo de alimentos

tecnológicos e pontos críticos de controle de

contaminados.

contaminação

Deve

ser

feita

a

limpeza

e

em

carcaças

bovinas

no

higienização dos equipamentos e utensílios que

matadouro. Ciência Biol. Saúde, Londrina, 2008,

possuem ou não contato direto com o alimento

v.10, n.2, p39-46.

(BRASIL, 2005). Esse programa inclui o treinamento

BORCH, E.; ARINDER. P. Bacteriological safety

e a capacitação de pessoal, a condução dos

issues in beef and ready-to-eat meat products, as

procedimentos antes durante e após as operações;

well as control measures. Meat Science, Savoy,

o monitoramento e as avaliações rotineiras dos

v. 62, n. 3, p. 381-390, 2002.

procedimentos e de sua eficiência, como também a

BRANDÃO,

L.J.

et.

al.

Monitoramento

de

revisão das ações corretivas e preventivas em

microrganismos indicadores de higiene em linha

situações de desvios e alterações tecnológicas

de abate de bovinos de um matadouro-figrorifico

(MATIAS, 2007).

habilitado a exportação no oeste do Paraná. Semina: Ciência Agrária, Londrina, 2012, v.33,

Manter a qualidade dos produtos de origem animal tem sido um desafio para toda a cadeia produtiva. As

práticas

indústrias

de

devem

higienização assegurar

pelas

Abastecimento. Circular nº 175 de 16 de maio

propriedades

de 2005. Procedimento de Verificação dos

adotadas as

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nutricionais e sensoriais dos alimentos, satisfazendo

Programas de Autocontrole (Versão Preliminar).

os consumidores sem oferecer riscos à saúde

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Resolução - RDC nº 12 de 2 de janeiro de 2001.

falhas, podem transmitir doenças por meio de

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além

de

prejuízos

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CONSIDERAÇÕES FINAIS O

conhecimento

dos

principais

pontos

de

Ministério

da

Abastecimento.

Agricultura

Secretaria

de

e

do

Defesa

contaminação da carne durante os processos de

Agropecuária. Departamento de Inspeção de

abate possui grande relevância dentro da cadeia

Produtos de Origem Animal. Regulamento da

produtiva bovina. Com o aumento das exportações

Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de

tornou-se necessário intensificar os o controle

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abatedouros.

and carcasses of cull cattle present for slaughter Portanto, enumerar os microrganismos indicadores

in United States: an evaluation of prevalence and

de contaminação da carne, como Salmonella ssp e

bacterial loads by immunomagnetic separation

Escherichia coli, torna-se eficiente por fornecer

and

informações dos pontos críticos sobre a ocorrência

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8152


Revista Eletrônica

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