Nutritime Revista Eletrônica n.06 vol.16

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Revista Eletrônica

© 2019 Nutritime Revista Eletrônica

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Editora Responsável: Juliana Maria Freitas Teixeira

Editora Técnica: Rosana Coelho de Alvarenga e Melo

Júlio Maria Ribeiro Pupa George Henrique Kling de Moraes Marcelo Diniz dos Santos Marcos Antonio Delmondes Bomfim Maria Izabel Vieira de Almeida Patricia Pinheiro de Campos Fonseca Rodrigues Rony Antonio Ferreira Rosana Coelho de Alvarenga e Melo

Conselho Científico: Altivo José de Castro Cláudio José Borela Espeschit Evandro de Castro Melo Fernando Queiróz de Almeida José Luiz Domingues

É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo da NRE da em qualquer meio de comunicação, seja eletrônico ou impresso, sem a sua devida citação.

Editor Científico: Júlio Maria Ribeiro Pupa

Encontrou algum erro nessa edição? Fale conosco: mail@nutritime.com.br. Ficaremos muito agradecidos!


Sumário ARTIGOS 502 - Influência do fator humano sobre a qualidade do leite ................................................................................. 8586 Aloma Eiterer Leão, Mayara Campos Lombardi, Hilton do Carmo Diniz Neto, Sandra Gesteira Coelho 503 - Mastite: principais agentes causadores .............................................................................................................. 8593 Douglas Christofer Kicke Basaia, Jaine Aparecida Balbino Soares, Priscila Dornelas Valote 504 - Utilização de probióticos na alimentação de equinos .................................................................................... 8607 Camilla Mendonça Silva, Clístenes Gomes de Oliveira, Paula Gomes Rodrigues, Gregório Murilo de Oliveira Júnior, José Miradelson Oliveira Carvalho 505 - Infrared thermography: historym fundamentals and use in veterinary medicine and livestock ....... 8615 Mayara Campos Lombardi, Hilton do Carmo Diniz Neto, Geovanna Ribeiro Branquinho Pereira, Sandra Gesteira Coelho, Anna Luiza de Souza Alves Costa


Influência do fator humano sobre a qualidade do leite Mastite, CCS, comportamento, Revista Eletrônica

atitude, fator de risco.

Aloma Eiterer Leão¹

*

Mayara Campos Lombardi² Hilton do Carmo Diniz Neto² Sandra Gesteira Coelho

Vol. 16, Nº 06, nov/dez de 2019 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

³

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

¹Doutoranda em Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG. *E-mail: aloma_leao@hotmail.com. ²

Mestrando em Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG.

³Profa. Titular, Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG.

RESUMO

INFLUENCE OF HUMAN FACTOR ON MILK

A mastite representa o maior custo nos sistemas de

QUALITY

produção leiteiros, traduzido principalmente por

ABSTRACT

custos com tratamento, descarte de leite e queda na

Mastitis

produção de leite dos animais acometidos. Por

production systems, mainly due to treatment costs,

muitos anos a produção leiteira foi vista como

milk disposal and drop in milk production of the

atividade isolada, praticada por um indivíduo, porém

affected animals. For many years, dairy production

estudos e percepções recentes têm mostrado que as

was seen as an isolated activity, practiced by an

propriedades leiteiras têm sido cada vez mais vistas

individual, but recent studies and perceptions have

como empresas rurais, independentemente de seu

shown that dairy farms have been increasingly seen

porte. Questões importantes estão relacionadas à

as rural enterprises, regardless of their size.

etiologia das mastites, e foram evidenciadas por

Important issues are related to the etiology of

muitos estudos, como a presença de patógenos e a

mastitis, and were evidenced by many studies, such

carga

as

microbiana,

predisposição

genética

dos

represents

pathogens

and

the

highest

microbial

cost

in

load,

dairy

genetic

animais, estado de saúde, conforto, higiene do

predisposition of the animals, health status, comfort,

ambiente e das instalações e manutenção dos

hygiene of the environment and the facilities and

equipamentos de ordenha. Contudo, esses fatores

maintenance of milking equipment. However, these

não explicam a totalidade da variação na contagem

factors do not explain the total variation in somatic

de células somáticas entre rebanhos. Foi levantada a

cell count among herds. The hypothesis was raised

hipótese

nesse

that the human factor interferes in this parameter

parâmetro através do comportamento e atitude por

through the behavior and human attitude on the part

parte dos produtores. Essa revisão visa abordar a

of the producers. This review aims to address the

influência do fator humano sobre a contagem de

influence of the human factor on somatic cell count

células somáticas e consequente interferência na

and consequent interference with milk quality.

qualidade do leite.

Keyword: mastitis, SCC, behavior, attitude, risk

Palavras-chave: mastite, CCS, comportamento,

factor.

de

o

fator

atitude, fator de risco.

8586

humano

interferir


Artigo 502 - Influência do fator humano sobre a qualidade do leite

INTRODUÇÃO

baixa CCS, ao avaliar a qualidade do leite.

De uma perspectiva histórica, os produtos lácteos mostram grande contribuição para a alimentação e

A mastite é extensivamente abordada na literatura.

bem-estar do homem. Desde o ano de 2017,

Os estudos demonstram que a identificação de

algumas tendências e indicadores macroeconômicos

fatores

têm mostrado aumento da possibilidade para a

predisposição genética, higiene do animal e do

retomada do crescimento do consumo de lácteos no

ambiente

Brasil (Embrapa Gado de Leite, 2018). No entanto,

diferença encontrada entre propriedades.

os potenciais consumidores são mais críticos, e há uma pressão crescente sobre a indústria de laticínios para atender às suas demandas em relação à segurança alimentar e qualidade dos alimentos (LEBLANC et al., 2006; BOOGAARD et al., 2008).

de

risco

poderiam

como

imunidade,

explicar

apenas

estresse, parte

da

Dada à etiologia multifatorial da mastite, estudos mais recentes abordaram a relação do homem com o animal na rotina da fazenda. Os resultados mostram que parte da variação em casos de mastite e consequentemente redução da produção de leite exercem, em algum grau, efeito sobre resultados

As vacas leiteiras são responsáveis por 82,4% do

obtidos por cada fazenda. Por isso, é também fruto

leite

2016),

do comportamento e da atitude de produtores rurais

percentual traduzido em 659,2 bilhões de litros de

em relação à forma como eles enxergam a

leite no ano de 2016 (Panorama da Produção

ocorrência de mastite em seus rebanhos, e como

Mundial e no Brasil, Sistema OCB, 2018). Verificou-

reagem à mesma.

comercializável

no

mundo

(FAO,

se na última década que mais de 45% dos rebanhos leiteiros no Brasil apresentam contagem de células somáticas (CCS) superior a 400.000 células/mL de leite, em desacordo com a legislação vigente. Segundo Esguerra (2014), não há perspectiva de que esse valor seja reduzido em curto prazo no cenário atual do Brasil.

células do sistema imunológico presentes no úbere e de

literatura referentes à mentalidade, comportamento e atitude do produtor em relação à saúde do úbere, a fim de alertar sobre a importância desse fator tão pouco conhecido e seu impacto sobre as perdas econômicas causadas pela incidência de mastite nos rebanhos leiteiros.

A CCS é representada principalmente pela fração de células

A presente revisão tem o intuito de unir dados da

descamação

da

própria

glândula

mamária. A afecção de maior impacto econômico para atividade leiteira é a mastite (BRADLEY, 2002; LEBLANC et al., 2006; HALASA et al., 2007), de origem multifatorial, e pode ser estimada pela CCS. O aumento da incidência de mastite, em geral, pode decorrer do aumento da pressão de infecção, causada por elevada carga de microrganismos, em

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Medidas

governamentais

de

controle

e

prevenção à mastite A mastite é mundialmente a doença de rebanho leiteiro bovino com maior impacto econômico sobre a produção (HOGEVEEN et al., 2011). Em média, as perdas causadas pela mastite variam de € 164 a € 235 por caso clínico e de € 53 a € 182 por caso subclínico (HUIJPS et al., 2008).

especial as bactérias, ou pela menor resistência das

Além dos custos com tratamento de casos clínicos,

vacas ao contato com esses agentes. O aumento da

tanto a mastite clínica quanto a subclínica conduzem

ocorrência de doenças indica que o gerenciamento

a perdas em produção de leite. No Brasil, estima-se

da fazenda não está ideal (JANSEN et al., 2009), e

que os produtores percam cerca de 1,2 bilhões de

sugere falhas no manejo.

dólares por ano em função das perdas em produção

No

entanto,

existem

fazendas

submetidas

a

condições muito semelhantes de clima, localização, raça, infraestrutura e manejo que apresentam

de

leite

(LEHENBAUER

&

OLTJEN,

1998;

FONSECA & SANTOS, 2000; Centro de estudos em economia aplicada, 2013).

índices produtivos e de saúde totalmente distintos,

Haja vista a importância da doença e a dificuldade

representados neste caso, por rebanhos com alta ou

dos produtores em reduzir os valores de CCS, o

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Artigo 502 - Influência do fator humano sobre a qualidade do leite

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Relação de fatores humanos e não humanos com

(MAPA) estabeleceu a Instrução Normativa 62

a ocorrência de mastite e qualidade do leite

(IN62) em 2011. A IN 62 atualizou os padrões de

O caráter multifatorial da doença dificulta o controle e

qualidade para o leite cru preconizado pela Instrução

a prevenção, o que pode explicar parte do insucesso

Normativa anterior, a IN51. A indústria de lácteos

dos

participou dessa iniciativa ao adotar a política de

propriedades (ESGUERRA, 2014). A presença de

bonificação de seus fornecedores, baseada em

patógenos e a carga microbiana, bem como a

parâmetros

predisposição genética dos animais, estado de

de

qualidade,

avaliados

pela

programas

conforto,

implantados

higiene

do

em

ambiente

algumas

composição química, microbiana e CCS do leite. Os

saúde,

produtores que atendem aos parâmetros desejados

instalações e manutenção dos equipamentos de

e

das

podem chegar a receber até 20% a mais sobre o

ordenha são os principais fatores de risco não

preço do litro de leite pago pela indústria a um

humanos para mastite (VAARST, 2002; NYMAN,

produtor que não atenda a nenhum requisito do

2007).

sistema de bonificação (CASSOLI et al., 2011). O objetivo dessas medidas governamentais foi gerar

A partir disso, Jansen et al. (2009) executaram

um contexto favorável, mesmo que compulsório, à

trabalho de avaliação dos programas de controle de

diminuição da CCS média dos rebanhos nacionais e

mastite na Holanda junto a produtores rurais, e

da qualidade do leite como um todo.

exploraram o fator humano como uma variável atuante sobre os índices de mastite nos rebanhos.

Contudo, as metas previstas pela IN62 de reduzir a 5

Participaram do estudo 336 fazendas produtoras de

5

leite. Os resultados indicaram que comportamento e

cél/mL em julho de 2014 e 3,6 x 10 cél/mL em julho

atitude dos produtores explicaram 48% da média de

de 2016 não foram alcançadas. Esse fato levou à

CCS das fazendas, 31% da incidência das mastites

publicação da IN7, em 2017, que altera a IN

clínicas e 23% da taxa de mastites totais (clínicas e

62/2011, ao estender os prazos estipulados para

subclínicas). Bem como o relatado em estudos

alcance das metas, de forma que o último prazo

prévios, os autores concluíram que diferentemente

estabelecido ficou até julho de 2018 para as regiões

da forma corriqueira como é tratada, a mastite não é

Sul, Sudeste e Centro-Oeste e julho de 2019 para as

apenas um problema técnico, mas também uma

regiões Norte e Nordeste, além de elevar para 4,0 x

questão influenciada pelo fator humano (WILLOCK

CCS de 4,8 x 10 cél/mL em 2012 para 4,0 x 10 5

5

10 o limite de cél/mL (IN7/2016).

et al., 1999; BERGEVOET et al., 2004).

Claramente, a realidade da CCS no Brasil não

Ainda com os dados desse estudo, Jansen et al.

mudou na última década, e ao que tudo indica,

(2009) dividiram os produtores em quatro grupos de

pouco mudará nas próximas. Segundo dados

modelos mentais, de acordo com a percepção de

apresentados por Cassoli (2012), em 2008, seis

cada um sobre a mastite no seu rebanho, e com o

anos após a publicação da IN51, 45% dos rebanhos

que eles estavam dispostos ou não a fazer em

leiteiros do país apresentavam CCS média superior

relação ao controle e à prevenção da mesma. Os

a 400.000 cél/mL de leite. Entre 2009 e 2010, essa

modelos definidos pelos pesquisadores agruparam

porcentagem subiu para 50, chegou a 51 em 2011 e

os produtores em proativos, faça você mesmo,

tornou a cair em 2012, quando atingiu 49%.

espere e veja, e tradicionalistas reclusos. Segundo Jansen et al. (2009), esses produtores sentem-se

Esse

desafio

é

comum

países,

capazes de entender a mastite sozinhos e adotar ou

especialmente aos subdesenvolvidos, com realidade

não medidas de combate e prevenção, e buscam

cultural, social e econômica semelhantes às do

suas próprias fontes de conhecimento, de modo que

Brasil. Apesar dos investimentos pesados em

especialmente

os

pesquisa, adoção de programas e medidas de

tradicionalistas

reclusos

controle e prevenção à mastite, sua prevalência

participação efetiva e constante dos veterinários na

permanece

propriedade.

variável,

a

entre

muitos

29

e

75%

faça

você não

mesmo são

e

os

adeptos

da

(GIANNEECHINI et al., 2002; FOX, 2009; PLOZZA et al., 2011). 8588

Dos aspectos social e psicológico, o comportamento

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Artigo 502- Influência do fator humano sobre a qualidade do leite

fatores

ao negócio, que conduziu ao sucesso técnico e

(FISHBEIN & YZER, 2003; CAMERON, 2009).

financeiro. Resultados similares foram verificados

Análises realizadas sugerem que alguns desses

por (WILLOCK et al.,1999).

pode

ser

fatores

são

influenciado

por

representados

diversos

pela

personalidade,

atitudes, crenças, valores, pressão social, intenções,

Quanto

habilidades, conhecimento, normas percebidas e

observou que os produtores de rebanhos com baixa

auto eficácia percebida do indivíduo em relação às

CCS apresentam comportamentos favoráveis ao

práticas de manejo (BERGEVOET et al., 2004;

controle da mastite, como não introduzir animais de

NYMAN et al., 2007; WENZ et al., 2007). Esses

outros rebanhos no plantel, descartar animais com

fatores,

mastite crônica e fazer manutenção preventiva do

e

provavelmente

outros

ainda

não

ao

comportamento,

de

ordenha,

Esguerra

que

(2014)

estudados, compreendem o fator humano que, por

equipamento

corrobora

os

convenção foi nomeado mentalidade do produtor

resultados de Bergevoet et al. (2004) Esses

(JANSEN et al., 2010).

comportamentos, além de reduzirem a incidência da doença no rebanho, exercem reconhecido impacto

Embora muitos estudos apontem a mentalidade do

positivo sobre a produtividade, lucratividade e

produtor como um fator determinante que explica a

sucesso

incidência da mastite, apenas um número limitado

EDMONDSON, 2010).

técnico

das

fazendas

(BLOWEY

&

de estudos tentou correlacionar diretamente a mentalidade do produtor com a qualidade do leite

No

mesmo

trabalho

de

Esguerra

(2014),

os

(ROUGOOR et al., 1999; RENEAU, 2001), ou ainda,

produtores de rebanhos com alta CCS mostraram-se

quais aspectos da mentalidade do produtor são

mais familiarizados com as perdas financeiras

importantes, e como isso se relaciona à incidência

ocasionadas pela mastite do que os produtores de

de doenças como a mastite.

rebanhos com baixa CCS. Porém, apesar dessa maior familiaridade, o grupo com alta CCS pareceu

Em contrapartida, Múnera-Bedoya et al. (2017)

não agir efetivamente no controle da doença, fato

conduziram estudo na Colômbia, e avaliaram a

que

influência do ordenhador sobre a qualidade do leite.

conhecimento das consequências, os produtores

Em 100% das propriedades com qualidade do leite

podem optar por não tomar ações preventivas nem

classificada

ordenhadores

corretivas para diminuir a incidência de mastite no

possuíam formação escolar mínima de nível médio.

rebanho (VAN DER ZWAAG et al., 2005). Essa

Semelhante ao observado, nas propriedades em que

carência de atitude positiva foi explicada pela falta de

o ordenhador sentia-se reconhecido e valorizado

adequada pressão social sobre os produtores, ou

pelo proprietário, e naquelas em que o mesmo lhes

seja, sugere que a pressão social sobre os

oferecia melhores condições e ferramentas de

produtores brasileiros seria insuficiente para gerar

trabalho, a qualidade do leite foi melhor.

mudanças de atitude e de comportamento dos

como

excelente,

os

evidencia

que

mesmo

de

posse

do

produtores. Oitenta por cento do total de produtores De

68

propriedades

submetidas

ao

mesmo

programa de pagamento por qualidade do leite, Esguerra (2014) dividiu dois grupos de acordo com o

avaliados

desconhecem

os

limites

de

CCS

estabelecidos pela IN62 e por isso, não acreditam que as normas serão aplicadas e fiscalizadas.

perfil de CCS. Em estudo com questionários estruturados, o autor mostrou que a atitude e o comportamento dos produtores de rebanhos com alta e com baixa CCS são diferentes. A atitude do produtor foi um dos principais fatores relacionados à maior probabilidade de um rebanho apresentar baixa CCS. Essa atitude pareceu ser função de uma melhor orientação para a prevenção e controle da mastite e de uma disposição mais positiva frente ao

Jansen et al. (2010) afirmam que, da mesma maneira, a indústria exerce pressão social mediante bonificação financeira, apesar de já constatado que as medidas punitivas ao invés de bonificações tem impacto mais perceptível pelo produtor, portanto, seria mais eficaz. É importante ressaltar que as políticas de bonificação de programas implantados por empresas diferem entre os países.

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Artigo 502 - Influência do fator humano sobre a qualidade do leite

Ao avaliar empiricamente a influência das atitudes

CONSIDERAÇÕES FINAIS

dos produtores em relação à mastite sobre a adoção

A mastite não é apenas um problema técnico. Os

de práticas de manejo do rebanho, Dillon et al.

resultados das pesquisas permitem abordar a

(2015) identificaram que o comportamento dos

mastite não mais como um fator isolado, fruto da

produtores é muito mais voltado ao manejo curativo

atividade de um só indivíduo, mas do aspecto social

que preventivo.

da

doença,

comportamento

influenciado dos

pelas

produtores,

atitudes

traduzidas

e em

Em sequência ao estudo anterior, Jansen et al.

impacto sobre a CCS. Os estudos sugerem ainda

(2010) buscaram o efeito de um programa de

que a legislação atual e os programas de pagamento

controle de mastite sobre as atitudes, conhecimento

por qualidade por si só não são estímulos suficientes

e comportamento dos produtores em relação à

para

mastite. Em 2004, o primeiro ano do programa

comportamento dos produtores a favor da prevenção

nacional de controle da mastite na Holanda, um total

e controle da mastite.

incentivar

uma

mudança

de

atitude

e

de 378 produtores de leite responderam a uma pesquisa e no último ano do programa (2009), 204

Haja vista que a atitude é a variável com maior

desses

uma

impacto sobre a mastite, futuros programas de

pesquisa similar. Embora a média anual de CCS

controle e melhoria da qualidade do leite e redução

continuasse a mesma, as atitudes autorrelatadas, o

da CCS devem focar em modificar a atitude do

conhecimento

mesmos

o

completaram

mudaram

produtor a respeito da doença. Isto pode ser

significativamente. Mais produtores perceberam que

conseguido mediante campanhas de comunicação

eles

massiva, oficinas de divulgação e treinamento e

tinham

e

produtores

comportamento

conhecimento

suficiente

sobre

a

prevenção de mastite (34% em 2004 vs. 53% em

reforço da pressão social.

2009) e que sabiam mais sobre a causa da mastite (25% em 2004 contra 37% em 2009). O uso de luvas para ordenha aumentou de 15 para 46%, o uso de um protocolo padronizado de tratamento da mastite de 7 para 34%, e freestalls foram limpos com mais frequência (2,28 vs. 2,51 vezes/d) em 2009 em comparação com 2004. Foi observado ainda que o grupo de alta CCS reduziu significantemente seu patamar anual de CCS em 15.000 células / mL.

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2008.

intimamente

8590

ligados

e

dependem

de

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8591


Artigo 502 - Influência do fator humano sobre a qualidade do leite

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8592

decision

environmentally

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.6, p.8586-8592, nov/dez, 2019. ISSN: 1983-9006


Mastite: principais agentes causadores Qualidade do leite, contagem de células somáticas, contagem bacteriana total.

Revista Eletrônica

1*

Vol. 16, Nº 06, nov/dez de 2019 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO A mastite é a principal síndrome que afeta a produção e a qualidade do leite dos rebanhos mundiais. Por ser uma patologia multifatorial, seu controle é dificultado, podendo inclusive ficar latente nos animais ou no ambiente e torna-se recorrente de forma esporádica ou sazonal. Deste modo, este trabalho

expõe

alguns

dos

principais

agentes

causadores e seus possíveis impactos e algumas medidas para a sua prevenção e controle. Palavras-chave: qualidade do leite, contagem de células somáticas, contagem bacteriana total.

Douglas Christofer Kicke Basaia 2 Jaine Aparecida Balbino Soares 3 Priscila Dornelas Valote

1 Mestrando, programa de pós graduação em Zootecnia, FCA, UFGD, Dourados, Brasil. *E-mail: douglasbasaia@gmail.com. 2 Mestranda, programa de pós graduação em Agronegócios, FACE, UFGD, Dourados, Brasil. 3 Doutoranda, programa de pós graduação em Zootecnia DEZOO, UFV, Viçosa, Brasil.

MASTITE: SOME OF THE MAIN CAUSING AGENTS ABSTRACT Mastitis is the main syndrome that affects the productivity and milk quality of the world herds. Because it is a multi-factorial pathology, its control is difficult, and may even become dormant in animals or in the environment and return sporadically or seasonally. thus, this paper exposes some of the main causative agents and their possible impacts and some measures for their prevention and control. Keyword: milk quality, somatic cell counts, total bacterial count.

8593


Artigo 503 - Mastite: principais agentes causadores

INTRODUÇÃO

De acordo com Kitchen, (1981), a mastite resulta em

O objetivo desta revisão literária é apresentar

um considerável aumento dos valores da contagem

aspectos

de células somáticas (CCS), alterando a composição

relacionados

à

mastite

bovina, anti

do leite, atividade enzimática, o tempo necessário

bacteriana endógena que pode resultar em apoptose

para a coagulação no processo de fabricação de

celular e agravar o quadro clínico dos animais

queijos, rendimento e produtividade e a qualidade

(POSSENTI et al., 2018) e, além disso, abordar sua

dos derivados lácteos, influenciando negativamente

epidemiologia e o conceito de contagem de células

na qualidade destes (LEITNER et al., 2006).

estreitamente

associada

a

uma

resposta

somáticas (CCS) e da contagem bacteriana total A mastite pode se manifestar na forma clínica,

(CBT).

através da manifestação de sinais visuais aparentes O que é mastite?

("grumos") ou na forma subclínica, sem sinais

A mastite pode ser caracterizada como a principal

aparentes. Em trabalho realizado por Peller et al.

doença que afeta os animais direcionados à

(1999), os

exploração

uma

fazendas realizam descarte por mastite. Segundo

enfermidade de grande importância econômica

Silva et al. (2004), em animais da raça holandesa os

(PEREIRA et al., 2010; WELLENBERG et al., 2002,

descartes devido a alterações na glândula mamária

HERRY et al., 2017). Acometendo de 20 a 50% das

representaram 18,63%, sendo a mastite a maior

vacas em lactação (PITKALA et al., 2004). Essas

causa representando 56,82%.

leiteira

(LANGONI,

2000),

é

autores

verificaram

que 63%

das

perdas econômicas decorrem principalmente da menor quantidade de leite produzido (LADEIRA,

A mastite subclínica, que se destaca por não

2007), da redução na qualidade do leite dos quartos

apresentar sinais clínicos aparentes é a forma mais

afetados (OLIVEIRA et al., 2011), das alterações na

prevalente, pode reduzir a secreção de leite em até

composição do leite (MA et al., 2004), e também por

45% (Harmon, 1994), ocasionando significativas

alterações

glandular

perdas econômicas, tanto na diminuição do volume

(RADOSTITS et al., 2002; TALBOT & LACASSE,

produzido, como na qualidade do leite além dos

2005; HAND, 2012).

gastos com medicamentos (COSTA et al., 2017).

patológicas

do

tecido

Devido ao diagnóstico dificultoso, prevalece sobre a Além disso, existe uma relação entre a CCS e a

mastite na forma clínica Herry et al. (2017) se

concentração

classificando ainda como de curta duração, quando

dos

componentes

do

leite

(SCHÄELLIMBAUM, 2000), como a redução nas

ocasionada

proteínas sintetizadas na glândula mamária (α e β

medidas acertadas de manejo solucionam os casos,

caseína, α-lactoalbumina e β-lactoglobulina) e o

e os de longa duração, provocada por patógenos

aumento das proteínas de origem sanguínea, como

contagiosos, que podem se manifestar de forma

a albumina sérica e imunoglobulinas, em virtude do

esporádica ou não (CHANETON et al., 2008).

processo

inflamatório

causado

pela

por

patógenos

ambientais,

onde

mastite

(KITCHEN, 1981). Tais fatos resultam em menores

Fatores predisponentes para o desenvolvimento

valores pagos pela indústria, principalmente por

da mastite

aquelas que bonificam o produtor pelo quesito

Entre

qualidade do leite (EDMONDSON, 2002) e descarte

ocorrência das formas de mastite, podemos citar a

leite, devido à carência no uso de antibióticos.

resistência natural da glândula mamária, estágio e a

os

inúmeros

fatores

que

culminam

na

ordem da lactação, hereditariedade, idade do animal, Sua ocorrência está ligada a aspectos multifatoriais

infectividade e patogenicidade do agente etiológico,

(ANAYA-LOPEZ et al., 2006), como a falta de um

o manejo de ordenha, o clima e o estado

manejo

condições

imunológico e nutricional do animal, (PRESTES et

também

al., 2002) e ao manejo do rebanho (RENEAU, 1986).

alterações na celularidade do leite, resultando na

Uma das melhores formas de controlar a mastite nos

redução da produção, devido aos agravos no tecido

rebanhos

glandular, somados aos reflexos na saúde pública

adequada (National Mastitis Council, 1996).

de

ambientais

ordenha insalubres.

adequado

e

Ocasionando

leiteiros

consiste

(Ribeiro, 2008). 8594

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.6, p.8593-8606, nov/dez, 2019. ISSN: 1983-9006

em

uma

ordenha


Artigo 503 - Mastite: principais agentes causadores

Fontes de Infecção

Principais

Na tabela 1 três principais formas de proliferação da

características

mastite são demonstradas

Os microrganismos envolvidos na etiologia da

Tabela 1: Principais formas de proliferação de

mastite

mastite

patógenos “maiores” e “menores”. Na primeira

Bovinos portadores apresentam a forma subclínica crônica da doença, contaminando os demais animais do Mastite rebanho através do contato com endógena teteiras de ordenha, agulhas reutilizadas e utensílios de uso comum. Os reservatórios dos agentes causadores são constituídos por Mastites outros animais ou o homem, e ascendentes através destes, que ocorre a contaminação através de moscas, ou as mãos do ordenhador. Caracterizada pela presença de um animal doente, com a forma clínica Mastites da doença, que contamina o descendentes ambiente e utensílios de ordenha, que entrará então em contato com os outros animais. Fonte: Elaborado pelos autores.

agentes

bovina

causadores

podem

ser

e

suas

classificados

em

classe, estão incluídos os agentes que provocam grandes valores numéricos de CCS, alterações significativas na composição do leite e, portanto, um grande impacto econômico. Os principais patógenos classificados como “maiores” são os Staphylococcus aureus,

Streptococcus

estreptococos,

agalactiae,

enterococos,

Actinomyces pyogenes Estafilococos

coliformes,

Pseudomonas

sp.,

e Serratia sp., Já os

coagulase

negativos

e

Corynebacterium bovis são considerados patógenos “menores” e promovem inflamações moderadas com valores numéricos de CCS de no máximo 2 a 3 vezes superior à dos quartos sadios (MULLER, 2002). Classificação dos agentes Os agentes causadores são classificados de acordo com os seus padrões de transmissão, estando estes categorizados abaixo.

Dentre as principais vias de contaminação e transmissão Tabela 2, é possível ainda citar que

Agentes contagiosos:

alguns fatores são predisponentes para o aumento

presentes na microbiota normal dos animais, tetos e

da suscetibilidade dos animais a mastite, dentre

pele da glândula mamária (LANGONI, 2000), com

eles, a genética, o número de lactações, estado

sua infecção através de contato com ordenhadeira

nutricional e a idade do animal.

mecânica, com o próprio ordenhador e vaca para

Tabela 2: Principais vias de contaminação e

vaca (ESSLEMONT & KOSSAIBATI 2002; SOUZA,

transmissão de mastite

2010).

As

principais

Composto por

bactérias

agentes

envolvidas

nos

processos de desenvolvimento de casos de mastites Fômites, leite contaminado, fezes, urina, secreções oronasais, sangue e demais secreções. Leite contaminado, mãos do ordenhador, fômites, vetores Vias de (moscas), ordenhadeira mecânica, transmissão cânulas, sondas, seringas e agulhas (utilizadas para a aplicação de ocitocina) e utensílios em geral. A grande maioria das mastites se inicia através da entrada dos agentes Portas de causadores pelo canal do teto, já na entrada forma sistêmica, a infecção ocorre pela via hematógena. Vias de eliminação

contagiosas são demonstradas no quadro 1: Quadro 1: Principais bactérias envolvidas nos processos

de

desenvolvimento

de

mastites

contagiosas Corynebacterium bovis Mycoplasma spp. Staphylococcus Agentes contagiosos

coagulase

negativo Streptococcus agalactiae Staphylococcus aureus Staphylococcus

coagulase

negativo

Fonte: Elaborado pelos autores. Fonte: Elaborado pelos autores. Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.6, p.8593-8606, nov/dez, 2019. ISSN: 1983-9006

8595


Artigo 503 - Mastite: principais agentes causadores

Staphylococcus aureus

Quanto à composição do leite, o S.aureus é o

Dentre os agentes causadores, o Staphylococcus

microrganismo patogênico mais encontrado no leite

aureus é um dos principais agentes das mastites

cru,

consideradas contagiosas, apresentando elevada

provavelmente se dá devido à multiplicação do

incidência na maioria dos rebanhos leiteiros em

agente em uma grande velocidade, o que resulta em

vários países (SÁ et al., 2004). Caracterizado ainda

um grande número de bactérias presentes no interior

como o agente etiológico predominante em mastite

do quarto mamário afetado em um curto período de

subclínica

tempo.

(PYORALA

&

TAPONEN,

2009;

(ZECCONI

&

HAHN,

2000).

Tal

fato

BANDEIRA et al., 2013). Os casos normalmente são crônicos e de longa duração, podendo persistir por

Streptococcus agalactiae

várias semanas, meses ou nunca serem curados.

O

Os tratamentos com antibiótico dos casos clínicos

microrganismo identificado como o agente etiológico

falham

forma

da mastite, (ELVINGER & NATZKE, 1992). Possui

satisfatória a infecção principalmente em vacas mais

sintomatologia semelhante ao S.aureus, podendo

velhas ou com histórico de reincidência da doença

inclusive ser crônico. Normalmente os animais

(BRANMLEY & DODD, 1984; BRAMLEY, 1992),

portadores são identificados devido aos altos valores

devido ao fato do agente se encapsular quando o

de CCS que apresentam. O S. agalactiae é um

ambiente se torna desfavorável, e após algum

patógeno contagioso, ou seja, está plenamente

período de inatividade, volta a liberar esporos.

adaptado à sobrevivência no interior da glândula

continuamente

em

eliminar

de

Streptococcus

agalactiae

foi

o

primeiro

mamária. Desta forma, na maioria dos casos causam Em

experimento

realizado

com

423

animais,

a mastite na forma subclínica. Nos rebanhos onde o

Bandeira et al. (2013) constataram a presença de

controle de mastite é ineficiente, existe uma alta

mastite subclínica em 53,6% dos animais testados,

incidência, Maisano et. al. (2018), podendo ainda

sendo a presença de Staphylococcus coagulase

existir casos clínicos intermitentes, porém com

positiva identificada em 12,6% dos animais. Nestes

menor incidência (BRADLEY, 2002).

mesmos animais, a bactéria identificada como S. aureus foi o agente etiológico presente em 17,6%

Corynebacterium

dos casos. Percebeu-se ainda que, dentre o grupo

Em geral é um patógeno secundário, que afeta

identificado

principalmente os animais em lactação sem grandes

como

corresponderam mostraram

a

coagulase S.

aureus,

características

positiva, enquanto

8,5%

alterações

nos

valores

de

CCS,

coloniza

S.

principalmente o canal do teto e prevalece em

classificadas como

fazendas onde a realização do pós dipping é falha,

compatíveis

intermedius e 5,8% foram

85,7% com

sendo

sendoS. hyicus.

um

indicativo

de

manejo

inadequado

(GONÇALVES, 2012). O S. aureus é predominantemente encontrado no animais

Em estudos realizados no estado de Minas Gerais,

(BANDOSH & MELO, 2011). Deste modo, o próprio

sobre a prevalência de microrganismos causadores

animal pode se tornar uma fonte de contaminação, e

de mastite, identificaram-se bactérias do gênero

a infecção pode ocorrer com facilidade. Possui ainda

Corynebacterium spp. nos 48 rebanhos estudados,

um padrão cíclico de liberação de bactérias pela

de modo que em 24 destes rebanhos, 21 a 40% dos

glândula mamária (HARMON, 1994), que explica

quartos mamários das vacas estavam infectados e o

valores numéricos expressivos em determinado

agente era o responsável por causar infecção no

períodos e seguido de muito baixos, posteriormente,

maior

o que pode conferir uma falsa ideia de cura do

(MATTHEWS et al., 1992; BRITO et al., 1999).

epitélio

do

úbere

e

nos

tetos

dos

animal. Pode ainda ocorrer de forma hiperaguda a subclínica, tendo a forma subclínica crônica com episódios clínicos ocorrendo como a forma mais observada (QUINN et al., 2002).

8596

número

destes

quartos

mamários

Mycoplasma spp. O Mycoplasma é um gênero de bactérias de tamanho reduzido e com membrana flexível, que o torna imune a certas classes de antibióticos como as

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.6, p.8593-8606, nov/dez, 2019. ISSN: 1983-9006


Artigo 503 - Mastite: principais agentes causadores

as penicilinas. É altamente contagioso, disseminado

Quadro 2: Principais agentes envolvidos nos

durante a ordenha, por aerossóis e secreções de

processos de desenvolvimento de mastites

animais com distúrbios respiratórias e genitais, além

ambientais

das

vias

hematógena

ou

linfáticas

são Nocardia spp.

responsabilizadas pela disseminação do micoplasma de um órgão infectado para outro (SACHSE et al., 1993; BENNET & JASPER, 1977).

Trueperella pyogenes

A mastite causada por este microrganismo é caracterizada

por

uma

significativa

queda

Micoplasma bovis,

na

produção de leite, rápido desenvolvimento da Protothecas spp.

doença em todos os quartos mamários, secreção de leite aquoso com pequenos grumos e severa

Fungos e Leveduras

inflamação do úbere, que ainda pode ocasionar pequeno comprometimento sistêmico (BUSHNELL,

Agentes ambientais

1984). Além deste quadro clínico, alguns animais

Pseudomonas spp.

podem apresentar a mastite subclínica, e mesmo que as vacas estejam aparentemente saudáveis

Escherichia coli

podem liberar patógenos do mycoplasma no leite produzido,

vindo

desenvolver

a

nestas,

contaminar doenças

bezerras

como

e

Klebisiella spp.

diarreia,

pneumonia e problemas de locomoção. Streptococcus uberis Staphylococcus coagulase negativo Streptococcus dysgalactiae

Os estafilococos são classificados como positivos ou negativos para coagulase com base em sua

Fonte: Elaborado pelos autores.

capacidade de coagular o plasma. São integrantes da microbiota normal, entretanto são oportunistas

Streptococcus dysgalactiae

podendo vir a infectar o interior do úbere animal por

Por

longos períodos (TIMMS & SCHULTZ, 1987). O

disseminação pode se dar pelo equipamento de

grande

nesta

ordenha ou outro utensílio e a transmissão ocorre

classificação resulta em um maior cuidado quanto ao

principalmente após a ordenha (LANGONI et al.,

tratamento a ser adotado, incluindo medidas de

2015), e como a bactéria pode persistir na glândula

prevenção nos meios de transmissão como os

mamária, contaminando vários animais. O controle

ambientais.

pode ser realizado pela adoção de procedimentos

número

de

espécies

inseridas

se tratar

higiênicos Agentes

ambientais:

Estes

agentes

são

os

de um

corretos

agente ambiental, sua

no

momento

da

ordenha

(BRAMLEY & DODD, 1984). Devido a isso, é muito

existentes em múltiplos reservatórios, como o solo,

importante

água, fezes, cama, matéria orgânica e realizam a

corretamente realizado.

que

o

manejo

pós-dipping

seja

infecção via contato do animal com alguma destas fontes ou via sistema de ordenha entre um animal

Streptococcus uberis

sadio e outro infectado, de modo que estes

O Streptococcus uberis é a causa mais comum de

microrganismos colocam o animal em maior risco.

novas

Uma vez tendo invadido a glândula mamária, estes

usualmente no início da lactação e final do período

agentes não causam uma reação inflamatória quase

seco e já foi isolado tanto de material orgânico como

que imediata, porém de curta duração (SALINA et.

inorgânico, usado como cama (BRAMLEY & DODD,

al., 2017). As principais bactérias envolvidas nos

1984). Possivelmente por sua rápida mutação e

casos de mastites ambientais são demonstradas no

resistência

Quadro 2:

(ABUREEMA et al., 2014).

infecções

de

em

vacas

cepas

a

secas,

ocorrendo

antibioticoterapia

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.6, p.8593-8606, nov/dez, 2019. ISSN: 1983-9006

8597


Artigo 503 - Mastite: principais agentes causadores

Em trabalho realizado por Pecka-Kiełb et. al. (2016)

sob controle, principalmente em sistemas do tipo

os autores concluíram que esta bactéria provoca o

free-stall. Como este patógeno possui caráter

aumento da CBT e ainda a diminuição do nível de κ-

ambiental,

sua

caseína,

dificultada,

originando

o

que

afeta

significativamente

a

sobrevivência casos

no

úbere

clínicos

é

mais

composição do leite, levando a uma deterioração da

amenos e de curto prazo (LANGONI et al, 2017).

qualidade dos derivados lácteos.

Castro et al. (2016), observaram em seu estudo que um importante vetor deste agente causador é

Klebisiella spp.

a mosca dos estábulos Stomoxys calcitrans, e

A Klebisiella spp frequentemente é encontrada em

que o contágio em sistemas onde os animais

material orgânico e esterco, e nos produtos de

permanecem confinados é facilitado. As infecções

madeira, normalmente utilizados nas camas de

podem ocorrer de forma clínica e subclínica, com

bovinos em sistemas como o compost-barns, que

quadros que podem se agravar e até ocasionar a

são considerados os principais reservatórios de

morte do animal (HERTL et al., 2010).

Klebsiella nas explorações leiteiras, provavelmente

efeitos da infecção podem ser prejudiciais a longo

por ocorrer a liberação do agente pelas fezes dos

prazo, mesmo após a cura, culminando na

animais (MUNOZ et al., 2006).

diminuição da produção e qualidade do leite

E

os

(BLUM et al., 2014). A higiene ambiental e o uso de materiais de cama inorgânicos, como areia, são recomendados para

Pseudomonas spp.

controlar a mastite causada pela Klebsiella, embora

A

esta possa ocorrer também em camas de areia,

Pseudomonas, da família Pseudomonadaceae, e

Munoz et. al. (2006). Podendo ainda ser encontrada

Plesiomonas,

nos

Vibrionaceae, estão normalmente associados a

utensílios

de

ordenha,

facilitando

a

ocorrência

utilizada agente

penetra

gêneros

pertencentes

de

bactérias

à

família

ambientes aquáticos. De forma que a água

contaminação de animais sadios. O

dos

profundamente

no

na

higienização

dos

tetos

e

úbere

equipamentos de ordenha e também do conteúdo

diminuindo a capacidade de produção de leite,

reutilizável de pré ou pós-dipping, e de cânulas

podendo ainda se tornar crônica (University of

contaminadas durante a terapia intramamária,

Minnesota, 2014).

são os fatores facilitadores para a infecção da

As endotoxinas deste agente induzem severas mudanças

na

permeabilidade

vascular

e

consequente aumento das células somáticas na glândula

mamária

e

leite,

causando

edemas,

glândula mamária sendo que a Pseudomonas aeruginosa

é

Normalmente principais

fazendas leiteiras (ZADOSKS et al., 2011), além da correta fermentação e manejo de cama em sistemas compost-barns.

mesmo

enterobactérias Escherichia importantes

apresenta

grupamentos

convencionais,

devido

multirresistência de a

aos

antimicrobianos mutações

que

determinam linhagens resistentes às drogas derivadas do anel βlactâmico e fluorquinolonas (FERNANDES et al., 2009), o que ocasiona casos crônicos e/ou subclínicos em que os animais rebanho por toda a vida. A realização de um pré-

do

e Enterobacter spp,

comum

elevam a contagem de células somáticas do

Escherichia coli Membro

mais

et al., 2010).

mastite (FERNANDES et al., 2009).

e currais é fundamental para se conter o agente em

agente

(FERNANDES et al., 2009; OLIVEIRA DA COSTA

depressão, toxemia e, casos agudos e graves de

A correta higiene das instalações, salas de ordenha

o

configura-se

agentes

grupo

das

coli, Klebsiella spp como

causadores

da

um

dipping eficiente e a cloração da água utilizada são uma boa prática preventiva.

dos

mastite

Fungos e Leveduras

subclínica, principalmente nos rebanhos onde a

Quanto

mastite é causada por agentes contagiosos estão

normalmente são as causadoras de infecções da

8598

à

mastite

micótica,

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.6, p.8593-8606, nov/dez, 2019. ISSN: 1983-9006

as

leveduras


Artigo 503 - Mastite: principais agentes causadores

glândula mamária, sendo que os principais agentes

ingerem alimento oriundo de vacas infectadas

envolvidos

(LAMM et al., 2004).

na

mastite

micótica

são Candida e Cryptococcus,

além Devido a sua simplicidade estrutural, onde não

de Geotrichum, Pichia e Trichosporon principais

possuem parede celular fixa, e sim uma flexível,

reservatórios são o solo, água e principalmente

são altamente resistentes aos antibióticos, e uma

matéria

a

vez infectada, a vaca pode permanecer longos

contaminação ocorre através da falta de assepsia na

períodos sem demonstrar sintomas e liberar o

aplicação de medicamentos intramamários ou na

agente pelo resto de sua vida, o que faz com que

utilização

este

(SPANAMBERG

et

orgânica

de

al., em

cânulas.

2009).

Os

decomposição,

Pode

ocorrer

e

a

cura

espontânea, não sendo necessária a aplicação de antibióticos, somente a melhora nos procedimentos de higienização e de ordenha.

patógeno

seja

altamente

contagioso

(JUNQUEIRA, 2017). Pode

resultar

subclínicas

casos

ou

de

crônicas.

mastites Os

sinais

clínicas, clínicos

Protothecas spp.

incluem agalaxia em mais de um quarto mamário,

As algas do gênero Prototheca spp., aclorofilada,

e o aumento de casos que não respondem ao

imóvel são relatadas como uma importante causa de

tratamento (JUNQUEIRA, 2017).

mastite ambiental (ANDERSON & WALKER, 1988; HODGES et al., 1985; SPALTON, 1985; CAMBOIM et al., 2010). Estão distribuídas no ambiente Yamamura et al. (2007), principalmente em locais ricos em matéria orgânica em decomposição, úmidos e

em

ecossistemas

aquáticos,

como

rios

e

bebedouros (OLIVEIRA DA COSTA et al., 2010). A partir desses locais, a alga pode ser ingerida por animais e ser disseminada no ambiente pela eliminação através das fezes de vacas, bezerros e de animais silvestres (CAMBOIM et al., 2010).

Nocardia spp. A ocorrência de Nocardia spp,normalmente não é muito

comum,

em

trabalho

realizado

por

Castaneda et al. (2013), e avaliando 2205 animais, os autores encontraram a ocorrência deste agente causador em apenas 0,6% dos animais. Este agente, normalmente se encontra no solo, água e pele dos animais, e a infecção se dá através da ordenha. Como sintoma, o animal apresenta nódulos endurecidos no úbere, que podem se romper e deixar uma secreção

A contaminação muitas vezes se dá através do uso

purulenta extravasar para o exterior, Santos &

de água não clorada no manejo de ordenha, onde o

Fonseca, 2007. Ademais, o agente é resistente à

ordenhador utiliza somente a água no manejo pré-

maioria dos antibióticos, e a enfermidade pode se

dipping ou então na presença de poças de água

tornar contagiosa para o rebanho leiteiro (ZIECH

contaminada em que por algum motivo o animal

et al., 2011), Sendo a prevenção a melhor

venha a entrar em contato. Após a infecção, poucos

maneira de evitar.

agentes antimicrobianos possuem algum efeito e devido à alta taxa de contaminação de novos animais, é recomendado, como melhor método de controle da doença, a eliminação dos animais infectados (KIRK, 1991; LAGNEAU, 1996).

Trueperella pyogenes A ocorrência de Candida krusei e Trichosporon spp. é relatada na literatura. Normalmente a presença destes está condicionada à falha na antissepsia, ao tratamento intramamário repetitivo

Micoplasma bovis

ou higiene precária do sistema de ordenha

Mycoplasma é um patógeno altamente contagioso,

(SARTORI et al., 2014; COSTA et al., 2008).

podendo causar mastite, pneumonia, artrite, entre

Estes agentes se encontram principalmente no

outras enfermidades (MANZI et al., 2018). Tal fato é

ambiente, e a contaminação se dá através das

devido à transmissão com disseminação presumida

mãos do ordenhador e utensílios de ordenha.

hematogênica, linfática, ou através de passagens anatômicas compartilhadas, o que pode inclusive ocasionar pneumonia em bezerras lactentes que

CONCLUSÕES A metodologia utilizada não permitiu identificar todos os fatores que poderiam aumentar a CCS,

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.6, p.8593-8606, nov/dez, 2019. ISSN: 1983-9006

8599


Artigo 503 - Mastite: principais agentes causadores

entretanto define quais são os principais agentes

Mycoplasma

bovis.

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Utilização de probióticos na alimentação de equinos Cólica, equídeos, leveduras, Saccharomyces cerevisiae, nutrição. Revista Eletrônica

1*

Vol. 16, Nº 06, nov/dez de 2019 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO Objetiva-se

Camilla Mendonça Silva 2 Clístenes Gomes de Oliveira 3 Paula Gomes Rodrigues 3 Gregório Murilo de Oliveira Júnior 4 José Miradelson Oliveira Carvalho Pós doutoranda, Universidade Federal de Sergipe/UFS, São Cristovão – SE. *E-mail: camillamsazoo@gmail.com. 2 Msc. Zootecnia, Universidade Federal de Sergipe/UFS, São Cristovão - SE. 3 Prof. Dr. da Universidade Federal de Sergipe/UFS, São Cristovão – SE. 4 Graduando em Medicina Veterinária na Universidade Federal de Sergipe/UFS, São Cristovão – SE.

PROBIOTICS USE IN HORSE FEEDING com

esta

revisão

descrever

os

benefícios da utilização de probióticos bacterianos e de leveduras na alimentação de equinos. A inclusão de probióticos na dieta de equinos tem por objetivo modular o equilíbrio e as atividades da microbiota gastrointestinal, cujo papel é fundamental para a homeostase intestinal, uma vez que tem sido demonstrado

que

inúmeros

fatores,

como

fornecimento excessivo de carboidratos e problemas de manejo, podem afetar fortemente a estrutura e as atividades das cepas microbianas do intestino de equinos, afetando a sa de e principalmente o desempenho e o bem-estar dos animais atletas. Portanto, com o intuito de aprimorar a utilização de probióticos na nutrição de equinos

necessário

conhecer o funcionamento da fisiologia digestiva dos equinos, para adequar as suas necessidades e maximizar

o

aproveitamento

fornecidos.

Nesse

sentido

dos

diversos

nutrientes trabalhos

comprovaram o efeito das leveduras sobre a saúde e coeficiente de digestibilidade e desempenho de equinos, adicionalmente, a levedura Saccharomyces cerevisiae pode se tornar um importante aditivo probióticos para equinos além de reduzir a incidência de cólica nestes animais. Palavras-chave:

cólica;

equídeos;

Saccharomyces cerevisiae; nutrição.

leveduras;

ABSTRACT The objective of this review is to describe the benefits of using bacterial probiotics and yeast in feed for horses. The inclusion of probiotics in the equine diet aims to modulate the balance and activities of the gastrointestinal microbiota, whose role is fundamental for intestinal homeostasis, since it has been shown that innumerable factors, such as excessive

carbohydrate

supply

and

handling

problems, can strongly affect the structure and activities of the microbial strains of the intestines of horses, affecting the health and especially the performance and welfare of the animals athletes. Therefore, in order to improve the use of probiotics in equine nutrition, it is necessary to know the functioning of the digestive physiology of horses, to adapt their needs and maximize the use of nutrients supplied. In this sense, several studies have confirmed the effect of yeasts on the health and coefficient of digestibility and performance of horses, in addition, the yeast Saccharomyces cerevisiae can become an important probiotic additive for equines besides reducing the incidence of colic in these animals. Keyword: colic; equines; yeasts; Saccharomyces cerevisiae; nutrition.

8607


Artigo 504 - Utilização de prebióticos na alimentação de equinos

INTRODUÇÃO

essencial avaliar de forma mais específica a

Nos dias atuais, os cavalos deixaram de ser

utilização de leveduras na alimentação de equinos

utilizados apenas para a finalidade de tração e

como potencial probióticos para a espécie, e verificar

trabalho, dados do MAPA (2016), demonstram que o

se há atuação positiva desses aditivos sobre a

agronegócio dos cavalos movimenta anualmente

digestibilidade dos alimentos e saúde dos equinos.

cerca de R$ 16,15 bilhões de reais, com um crescente aumento de plantéis destinados ao

Diante do exposto, objetiva-se com esta revisão

esporte e lazer. Nesse sentido, as práticas de

descrever os benefícios da utilização de probióticos

manejo e alimentação também sofreram alterações,

bacterianos e de leveduras na alimentação de

tornando-se

equinos.

inconsistentes

com

os

hábitos

alimentares naturais e a fisiologia dos cavalos. Além disso, os equinos de estimação e atletas são

REVISÃO DE LITERATURA

frequentemente

Aspectos gerais do TGI e Microbiota intestinal de

submetidos

a

estresse

por

transporte, competição, medicamentos e outros, o

equinos

que pode prejudicar sua função digestiva e criar um

O conhecimento sobre a anatomia digestiva do

desequilíbrio da microflora, levando a distúrbios

equino e seu funcionamento representa uma das

digestivos.

bases para o estudo nutricional, como também, a elaboração de dietas.

Diante disso, os probióticos podem ser utilizados para tentar estabelecer um equilíbrio desejável entre

A espécie equina recebe a denominação de

os

principalmente

herbívoro não ruminante de ceco funcional por

benefícios,

possuir uma anatomia e fisiologia do sistema

microrganismos

aqueles

benéficos.

intestinais, Por

estes

a

suplementação desses aditivos na dieta cria-se

digestório

expectativa, pós-uso, de proporcionar organismos

capacidade de degradação das fibras vegetais com o

microscópicos viáveis e hábeis para adaptação no

auxílio de microrganismos fermentativos alojados no

ambiente intestinal, atuando de forma benéfica no

intestino grosso (GOBESSO et al., 2008).

equilíbrio da microbiota normal do trato digestivo, elevando desempenho zootécnico e/ou prevenção de patologias do trato digestivo (MOURA et al., 2009).

peculiar

e,

também,

devido

à

sua

O intestino delgado do equino é compreendido pelas regiões do duodeno, jejuno íleo e representa cerca de 30% do total do tamanho do trato digestório. Neste compartimento, o quimo alimentar sofre ação

Os probióticos têm sido utilizados na nutrição animal

das enzimas pancreáticas (proteases, amilases e

como promotores de crescimento em substituição

lipases) mais a da bile de maneira contínua, já que o

aos antibióticos (SANTOS et al., 2016), e além disso

equino não possui a vesícula biliar; promovendo a

contribuem

degradação dos nutrientes em partículas de menor

efetivamente

para

a

melhoria

na

absorção dos nutrientes pelo organismo animal

tamanho

capazes

de

(GEOR & HARRIS, 2007). Esses aditivos são

organismo

ofertados aos animais de diversas formas, tais como

compartimento

pós, pastas, gel e na maioria das vezes por via oral,

considerável de microrganismos anaeróbicos, sendo

misturado ao alimento durante a refeição ou

o local principal de digestão e absorção de

fornecido na água (BRAGA et al., 2008).

carboidratos solúveis, além de gorduras e proteínas,

(MOORE se

serem et

al.,

observa

absorvidas 2001). uma

pelo Neste

quantidade

promovendo fermentação em sua porção distal, Atualmente diversos estudos têm sido realizados

realizada

principalmente

por

bactérias

Gram-

para demonstrar a importância do equilíbrio na

positivas anaeróbicas obrigatórias (GOBESSO et al.,

microbiota intestinal a partir da suplementação com

2008).

probióticos (HILL et al., 2001; WARD et al., 2004; SANTOS et al., 2016). Entretanto, para equinos

O trânsito dos alimentos ao longo intestino delgado

esses resultados são conflitantes, quando se utiliza

varia em torno de 2 a 3 horas. Ocorrendo alterações

Saccharomyces cerevisae, deste modo, torna-se

digestivas durante essa passagem, que resulte em obstruções ou gases em demasia, possibilita movi-

8608

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.6, p.8607-8614, nov/dez, 2019. ISSN: 1983-9006


Artigo 504 - Utilização de probióticos na alimentação de equinos

mentos

erráticos

das

alças

ou

torções

e

Fusobacterium,

Lactobacillus,

estrangulamentos, predispondo o animal a cólica

Pediococcus,

(MOORE et al., 2001).

Propionibacterium,

Lactococcus,

Peptostreptococcus, Ruminococcus,

Serratia,

Veillonellae Streptococcus (GUPTA & GARG, 2009). O intestino grosso do equino é constituído de ceco, cólon e reto, representando 60% do trato digestório

As bactérias que povoam o ambiente digestório do

e recebe o restante dos alimentos não degradados e

equino são celulolíticas, proteolíticas, glicolíticas,

absorvidos pelo estômago e intestino delgado;

amilolíticas.

Como

sendo que em cada segmento a microbiota varia em

Lactobacillus

ssp

função do órgão (BRANDI & FURTADO, 2009). A

classificadas

como

maior parte da fermentação microbiana ocorre nesse

carboidratos

não

segmento e, por esta razão, apresenta bactérias e

intestino delgado; já as bactérias Ruminococcus

protozoários em quantidades e ações semelhantes

flavefacien,

ao pré-estômago dos ruminantes (CHAUCHEYRAS-

classificadas como celulolíticas e atuam na quebra

DURAND & DURAND, 2010). Neste compartimento

da celulose (HASTIE et al., 2008).

exemplo, e

as

bactérias

Streptococcus amilolíticas

digeridos

Fibrobacter

e

pelas

ssp,

são

atuam

nos

enzimas

do

succinogenes

são

ocorre a digestão dos carboidratos estruturais que são degradados por enzimas produzidas pela

As bactérias Lactobacillus e Streptococcus, são os

microbiota e absorvidos na forma de ácidos graxos

gêneros mais encontrados no trato gastrointestinal

voláteis, tais como acetato, propionato e butirato

de equinos (SILVA et al., 2009; MOREAU et al.,

(TARAN et al., 2011), além de vitaminas e

2014) e, alterações nas suas populações, sinalizam

aminoácidos.

que no sistema digestório dos equinos pode haver problemas no processo da digestão quando estas

Nesta

região

do

trato

gastrointestinal,

a

bactérias

estão

em

grandes

concentrações,

concentração de ácidos graxos voláteis pode variar

promovendo alterações na fermentação e produção

com a proporção entre concentrado e volumoso. O

exagerada de ácido lático, podendo prejudicar o

excesso de carboidratos hidrolisáveis e de rápida

animal e aumentar a chance de ocorrência de

fermentação atingem o ceco, podendo levar ao

afecções como laminite e cólicas (CRAWFORD et

desenvolvimento

al., 2007; AL JASSIM & ANDREWS, 2009).

excessivo

dessa

microbiota,

causando uma queda na produção de acetato, na redução do pH, aumentando a proporção de ácido

Devido a esta grande importância da associação das

propiônico

bactérias

e

lático

(MEYER,

1995),

o

que

com as

o

organismo

mudanças

de

dos

equinos,

possivelmente pode causar alterações na microbiota

acompanhar

manejo

e

na

intestinal (DROGOUL et al., 2001).

alimentação dos animais é primordial. Alterações tanto nas proporções dos alimentos, quanto na

Fica evidente que a microbiota do sistema digestório

composição da dieta, podem alterar a microflora

dos equinos é responsável pela etapa mais longa do

intestinal e influenciar no processo de digestão.

processo

digestivo,

a

quebra

e

consequente

aproveitamento da fibra da dieta (CHAUCHEYRAS-

Práticas equivocadas no manejo alimentar podem

DURAND & DURAND, 2010). Variada e densa, a

resultar em alterações na microbiota, causando

microbiota disponibiliza nutrientes por meio da

morbidades digestivas. A mudança brusca de

fermentação e degradação de alimentos que, sem

alimentação é um desses equívocos, seja pela

sua ação, não seriam aproveitados pelo processo de

mudança do alimento concentrado ou volumoso, ou

digestão

por

enzimática

(SADET-BOURGETEAU

&

sua qualidade, o

alterações

JULLIAND et al., 2010).

na

que pode proporcionar

população

microbiana,

podendo

provocar laminites ou cólicas. As mudanças devem Os principais gêneros de bactérias que fazem parte

sempre ocorrer de forma gradativa com alimentos de

da microbiota intestinal dos equinos são: Bacillus,

boa qualidade (BRANDI et al., 2009; DALY et al.,

Bacteriodes,

2012).

Bifidobacterium,

Citrobacter,

Clostridium, Enterobacter, Escherichia, Eubacterium,

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.6, p.8607-8614, nov/dez, 2019. ISSN: 1983-9006

8609


Artigo 504 - utilização de probióticos na alimentação de equinos

no

substâncias que suprimem patógenos ou impedem

quantitativo bacteriano no ceco, quando um equino

seu crescimento, concorrência com patógenos por

estava sendo acometido por laminite, desencadeado

sítios de adesão e nutrientes, impedimento das

por

Pesquisadores

observaram

as

alterações

resultados

bactérias em produzir toxinas como também inibição

revelaram que, dentro da microbiota, ocorreu um

de sua ação; ser inócuo para ao hospedeiro, sem

crescimento significativo de bactérias do gênero

causar qualquer afecção e ser natural do sistema

Streptococcus spp. momentos antes dos primeiros

digestório, sendo capaz de resistir a esse ambiente,

sinais da laminite, elevando os níveis de lactato pela

principalmente a alterações no pH e temperatura

degradação da oligofrutose (MILINOVICH et al.,

(GUPTA & GARG, 2009). Segundo Buts (2004), a

2008).

liberação de peptídeos antimicrobianos, como as

excesso

de

oligofrutose.

Os

bacteriocinas, inibem o crescimento de bactérias A microbiota digestiva equina, em relação ao seu

patogênicas, ou a produção de enzimas capazes de

desenvolvimento, crescimento e atividade podem ser

hidrolisar

influenciados pelo substrato apresentado, ou seja, a

algumas cepas podem excluir competitivamente

alimentação

alterar

bactérias patogênicas através de sua maior afinidade

população

por nutrientes ou sítios de adesão (LA RAGIONE et

bacteriana. Desta maneira, é essencial adequar os

al., 2003), afetando também a resposta imune dos

tipos de alimentos e as suas proporções para evitar

animais.

positivamente

dada ou

ao

animal

pode

negativamente

a

as

toxinas

bacterianas.

Além

disso,

morbidades digestivas e proporcionar mais saúde Atualmente, vários microrganismos são usados

aos animais.

como probióticos, sendo os mais comuns os do Caraterização de probióticos

gênero

Probióticos são microrganismos vivos, oferecidos na

Streptococcus, além das leveduras vivas como a

alimentação animal em doses ajustadas propiciando

Saccharomyces cerevisiae (OITICICA et al., 2007 .

melhorias à saúde do hospedeiro (FULLER, 1989;

Devido a esta variedade de bact rias probióticas a

FAO, 2001). O conceito de probiótico foi descrito por

dose varia de acordo com a cepa e produto, não

Elie Metchnikoff em 1907, ao observar que o

sendo possível generalizar a dosagem. Esses

consumo de leite fermentado foi responsável por

aditivos são ofertados aos animais de diversas

maior longevidade de uma população específica, e

formas, tais como pós, pastas, gel e na maioria das

sugeriu

vezes por via oral, misturado ao alimento durante a

que

estes

produtos

manipulavam

a

microbiota intestinal, auxiliando no equilíbrio das

Lactobacillus,

Bifidobacterium,

refeição ou fornecido na água (BRAGA et al., 2008).

bactérias patogênicas e não patogênicas (WEESE et Influência

al., 2003).

da

utilização

de

probióticos

na

alimentação equina Para um microrganismo ser considerado um bom

Os

probiótico deve possuir alguns atributos como, ser

equinocultura na recuperação de animais que

capaz

gástrico,

passaram por algum tipo de estresse, tal como a

propriedades antimicrobianas, deve ter taxa de

deficiência no consumo de colostro, estresse gerado

crescimento

pelo

pelo processo de desmama, durante o transporte,

peristaltismo intestinal, capaz de aderir ao muco e

quando há restrição hídrica e alimentar significativas,

células epiteliais e, é essencial que seja produzido e

alterações climáticas bruscas, morbidades crônicas

se mantenha viável por longos períodos (FAO,

devido a manejos equivocados tais como laminite ou

2001).

são

doenças gastroentéricas, como suplementos para

normalmente atribuídos às bactérias produtoras de

animais com escore corporal baixo e terapia de

ácido lático, enquanto que os dois últimos são mais

longa duração, a fim de contornar o uso de

específicos de leveduras (MOURA et al., 2009).

antibióticos

de

Os

sobreviver maior

três

que

ao

ambiente

sua

primeiros

eliminação

mecanismos

probióticos

são

(TARAN,

amplamente

2011).

Além

usados

de

na

serem

utilizados para tentar estabelecer um equilíbrio As características atribuídas aos microrganismos

desejável

probióticos estão relacionadas á produção de

principalmente aqueles benéficos. Esses aditivos

8610

entre

os

microrganismos

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.6, p.8607-8614, nov/dez, 2016. ISSN: 1983-9006

intestinais,


Artigo 504 - Utilização de probióticos na alimentação de equinos

tornaram-se uma opção diferenciada devido a seus

bons

atributos, dentre eles sua habilidade de diminuir

microbiota intestinal, o que pode ser observado em

patologias infecciosas e, por consequência, reduzir o

experimento onde utilizou uma dose de 2g/dia de

uso de antibióticos (WEESE et al., 2003), bem como

levedura para animais com 4 anos da raça mini-

reduzir os casos de obstruções intestinais. Podem

horse,

ser ofertados aos animais de diversas formas, tais

intestinal, e com alteração na população bacteriana

como pós, pastas, gel e na maioria das vezes por via

(MORAES FILHO et al., 2015). Enquanto que

oral, misturado ao alimento durante a refeição ou

Medina et al. (2002), suplementaram cavalos adultos

fornecido na água (BRAGA et al., 2008).

com Saccharomyces cerevisiae em dietas com as

Algumas pesquisas analisaram efeito da utilização de probióticos na alimentação equina. Jouany et al. (2007), verificaram melhora na digestibilidade da fibra em detergente ácido em dietas suplementadas com probióticos, que também estimulou a ingestão

resultados,

promovendo

apresentando

o

equilíbrio

equilíbrio

na

da

microflora

mesmas proporções de concentrado e volumoso, e verificaram aumento da concentração de células 6

vivas viáveis no ceco e cólon, obtendo 4,3 x 10 e 4,5

x

10

4

UFC/g

respectivamente,

e

a

suplementação reduziu o pH e as concentrações do ácido lático e amônia. Segundo Gobesso et al.

de matéria seca e da fibra em detergente neutro.

(2008), o maior sítio de atuação dos probióticos se Em potros desmamados a utilização da levedura

encontra no ceco do que no cólon, coincidindo com

Saccharomyces cerevisiae na dose 5g/dia mostrou

maior quantidade de cepas do probiótico. Além

resultados

da

disso, quando a digestão de concentrado do

hemicelulose (MOURA et al., 2009). Em dietas com

intestino delgado torna-se saturada, o efeito da

alimento

suplementação do probiótico pode reduzir o risco de

positivos volumoso

suplementados

com

na de

digestibilidade baixa

essa

qualidade,

levedura,

o

aproveitamento do volumoso foi aproximadamente 9%

melhor,

com

acréscimo

nos

valores

ocorrer uma acidose láctica (MEDINA et al., 2002; CHAUCHEYRAS-DURAND & DURAND, 2010).

dos

coeficientes de digestibilidade, quando comparado à

Por estes benefícios, a suplementação desses

dieta sem a levedura (MORGAN et al., 2007;

aditivos

FURTADO et al., 2010; AGAZZI et al., 2011).

proporcionar organismos microscópicos viáveis e

Resultados similares foram observados quando se

hábeis para adaptação no ambiente intestinal,

suplementou 20 g do probiótico Saccharomyces

atuando

cerevisiae por dia para equinos sob treinamento,

microbiota normal do trato digestivo, elevando

com aumento na digestibilidade da hemicelulose em

desempenho

4,1% (REZENDE et al., 2012). Desta forma, com o

patologias do trato digestivo (MOURA et al., 2009).

objetivo de melhorar a digestibilidade da porção

Weese

fibrosa e aumentar a energia disponível para os

Lactobacillus rhamnosus (1x10 ; 1x10

animais, pode se incrementar a dieta com esses

UFC/50kg para PV/dia) em cavalos adultos e potros,

aditivos probióticos.

os autores observaram colonização intestinal em

cria-se

de

et

expectativa,

forma

benéfica

zootécnico al.

(2003),

pós-uso,

no

e/ou

equilíbrio prevenção

avaliaram 9

de

o 10

da de

uso

de

e 5 x10

10

potros, que se manteve até 9 dias após a última A digestibilidade da fibra tem sido um fator que demonstra melhora com o acréscimo de aditivos probióticos na dieta dos equinos, especialmente com

9

suplementação (1x10 ), enquanto que em adultos a colonização foi efetiva apenas nas dosagens mais elevadas do aditivo.

o uso de Saccharomyces cerevisiae, possivelmente o aumento numérico de leveduras, proporcionando

O efeito benéfico da utilização destes aditivos em

ao animal, gera maior equilíbrio da flora intestinal,

equinos parece ser relevante quando os animais

reduzindo

de

encontram-se em estresse. Desrochers et al. (2005),

distúrbios, em especial de cólica (CRAWFORD et

observaram redução de sintomas da enterocolite

al., 2007).

constatada em um grupo de animais que receberam

A levedura Saccharomyces cerevisiae apresenta

10 x 10 UFC/g de Saccharomyces boulardiivivas a

a

possibilidade

de

ocorrência

9

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.6, p.8607-8614, nov/dez, 2019. ISSN: 1983-9006

8611


Artigo 504 - Utilização de probióticos na alimentação de equinos

cada 12 horas, durante 14 dias, em comparação a um grupo de animais que receberam um placebo. Ward et al. (2004), administraram de forma oral probióticos (Lactobacillus plantarum, Lactobacillus casei, L. acidophilus, and Enterococcus faecium) em cavalos

hospitalizados,

e

observaram

que

administração do aditivo pareceu reduzir a incidência de disseminação de Salmonella após 48 horas de hospitalização em aproximadamente 65%.

BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO – Revisão do estudo do complexo do agronegócio do cavalo. Brasília: MAPA, 2016. BRAGA, A.C., ARAÚJO, KV., LEITE, G.G., MASCARENHAS,

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Dentre

estes

probióticos,

a

Saccharomyces

cerevisiae possui potencial para ser utilizada como probióticos em equinos, haja vista que as pesquisas

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tem demostrado que a Saccharomyces cerevisiae

Flore

cepa UFMG 905 vem apresentando resultados

Eurotext, Montrouge, France, pp. 221-244. 2004.

em outras espécies de animais demonstraram

efetivos para humanos, estimulando a imunidade, reduzindo a resposta inflamatória em certos casos, e equilibrando a flora intestinal (MILANI et al., 2015).

microbienne

intestinale.

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Infrared thermography: history, fundamentals and use in veterinary medicine and livestock Animal health, diagnostic method, livestock, noninvasive technic, thermogram.

Revista Eletrônica

1*

Vol. 16, Nº 06, nov/dez de 2019 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Mayara Campos Lombardi 2 Hilton do Carmo Diniz Neto 3 Geovanna Ribeiro Branquinho Pereira 4 Sandra Gesteira Coelho 5 Anna Luiza de Souza Alves Costa 1

Doctorate student in Veterinary Medicine, Escola de Veterinária da UFMG. *E-mail: mayaralombardi.vet@gmail.com. 2 Doctorate student in Animal Science, Escola de Veterinária da UFMG. 3 Graduate student in Veterinary, Escola de Veterinária da UFMG. 4 Titular teacher, Animal Science Department, Escola de Veterinária da UFMG. 5 Doctorate student in Animal Production, Escola de Veterinária da UFMG.

ABSTRACT The infrared thermography (IRT) is a technic of

pursuit of identifying efficient animals. The results in

obtaining the superficial temperature of body and

these studies are controversial, but demonstrate the

objects, that is being used in diverse sectors. This

potential of utilization of this technology for that

tools does not require physical contact with the

matter. Beyond the use for obtaining data in live

surface of interest, therefore it is used as an

animals and machines, the IRT has been studied for

evaluation method for the temperature of equipment

the determining the quality of food produced for

in industries, humans and animals. The technic

bovines. The IRT is a versatile technic, applicable in

consists of a fast procedure, noninvasive and

many situations, and must continue to be studied as

relatively easy to perform. In the Veterinary Medicine

a tool to improve the routine of professionals and

it can be used as a tool to infer and diagnose

researches from different areas of knowledge.

diseases, physiological conditions and pain in domestic and wild animals. In livestock, the IRT has been associated with feed efficiency studies, in the

Key words: Animal health, diagnostic method, livestock, noninvasive technic, thermogram.

8615


Artigo 505 - Infrared thermography: history, fundamentals and use in veterinary medicine and livestock

INTRODUÇÃO The infrared thermography (IRT) is an instrument of analysis noninvasive and non-radioactive, capable of analyzing

physiological

functions.

The

technic

detects the infrared radiation emitted by a body with a temperature different than zero degrees and translates

it

into

a

thermographic

image

(thermogram) or a map of the temperature of the region analyzed. Hence, it allows the visualization of

research and storage of data is historical. The technical for obtaining the images of a body are diverse and capable of providing a range of information.

Among

these

we

can

quote:

photography, radiography, ultrasound and most recently used in veterinary, the IRT. The last one is a noninvasive and indirect method that has many applications (LUZI et al., 2013).

the body temperature changes due to regional

The first citations about the use IRT are dated from

alterations.

an

the experiments conducted in the era of Hippocrates.

amplificatory of our vision, assuring that we can

Even though rudimentary, he was the first on the

observe the infrared spectrum created by the image.

report the existence of something in the surface of

The

thermogram

works

as

In resume, it can capture the frequency of radiation that is naturally emitted by bodies, process and translates this information, in a way to make a visible image and passible of interpretation. In the industry or in any kind of business where preventive inspections are required, the IRT can be used to certify the conditions of mechanical and electronical equipment, for example, to infer about the circuit conditions and of energy panels (of low or medium tension)

and

other

productive

environments

(SANTOS, 2010).

to

neurological

through and

heat

muscle

analysis, disorders,

identify vascular

diseases, pain and athletes (BRIOSCHI et al., 2009; CÔRTE & HERNANDEZ, 2016).

utilization of IRT expanded to diverse specialties of the Veterinary Medicine. The technic is helpful in the diagnose of inflammatory processes in different species, as well in the early detection of disorders in of

where it was placed in the body. After that finding, a lot of studies worked to develop methods and equipment to detect and measure the component, the heat emitted in form of radiation, capable of causing the temperature difference between different points in the same body or object (ROBERTO & SOUZA, 2014). The antique thermographic models furnished images

difficult

processed. The technology of IRT as we know today, was only achieved and produced in major scale during the Second World War. From this point, the technology began to be used in evaluations of humans and animals, initially focusing in health and diagnostics (ROBERTO & SOUZA, 2014).

Beyond the application in the mentioned areas, the

animals

attached to it with different speeds according to

of low quality and that took long periods to be

Therefore, the IRT can also be used in the human medicine

the human skin, capable of drying a material

management,

and

the

identification of efficient individuals.

The

principle

of

IRT

have

as

fundamental

groundwork the knowledge that all bodies are made of matter or mass, which emits infrared radiation that can be measured and correlated to the body temperature

(KNIZKOVA

et

al.,

2007).

The

functioning and the production of the thermographic image occur by the capture of the frequency of the

application

infrared radiation emitted by a body that has an

possibilities for IRT, the subject must be discussed.

absolute temperature different from zero degrees.

This review has the objective to reunite information

The image obtained from a surface (object, living

on the matter of the history, functionality and

being, environment) is engendered in an specific

application of the technic in the areas of livestock

equipment able to capture those signals.

Considering

the

all

the

use

and

and health, focusing on animal applications.

The thermic radiation can be defined as the portion of

History and production of the thermographic

the electromagnetic spectrum

image

approximately 0,1 to 100 mm (INCROPERA &

The use of images for identification, diagnostics, 8616

that extends for

DEWITT, 2008). The thermic cameras collect the infrared radiation coming from the surface, convert

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Artigo 505 - Infrared thermography: history, fundamentals and use in veterinary medicine and livestock

this radiation into radiometric signs and create a

point of the image into a thermographic map. In this

thermic image that represents the distribution of the

map, the points of radiation emission correspond to

body’s

thermogram

the coordinates of the x and y axis, and are

(INCROPERA & DEWITT, 2008; DIGIACOMO et al.,

represented by pixel units (HARRISON et al., 2007;

2014). In this system, each color captured on the

GODYN et al., 2013; MCMANUS et al., 2016). The

thermogram

of

reading of the map is performed in Celsius or

temperature (EDDY et al., 2001; LUDWING, 2013)

Fahrenheit degree and are demonstrated by color

(FIGURE 1).

gradients, available in the software being used (color

surface

temperature,

expresses

a

the

specific

range

Figure 1. Photography (A) and thermogram with analysis of temperature (B) of a Gyr female calve at 173 days of age (Source: personal archive, 2017. Processed by FLIR Tools 5.x software).

palette). The region selected in the map by the user for the verification of temperature, provide the maximum, minimum and the average temperature of the area of interest. To produce a thermographic image is necessary to be between 0,5 m and 1,0 m close to the target, according to the origin of the body, without the need for constraining, sedation or analgesia (MCMANUS et al., 2016). Hence, it is considered a noninvasive technic of easy execution, that allows to be conducted

in

diverse

environments,

conditions,

equipment, humans and animals. Nevertheless, some factors need to be controlled when choosing the IRT, in order to guarantee the quality and the correct processing and interpretation of the images. Given its mechanism of capturing images, the temperature, humidity, direct incidence of sun light, rain, dirt, calibration and regulation of the thermographic camera can interfere in the result (REKANT et al., 2016; STEWART et al., 2016). Utilization of infrared thermography in different knowledge áreas The IRT is employed in sectors of the chemistry industry, automobilist, maritime, aeronautic, steel mill and

construction,

focusing

on

the

preventive

inspection of equipment (SANTOS, 2010). The thermographic

image

can

be

obtained

from

equipment during their functioning and during the inspection of systems and productive processes. Professionals and companies from the public security field and security of work also use this technology on construction and services (TAKEDA et al., 2017; TIRLONI et al., 2018). Infrared thermography on animal health Similar to the technological advances in the different For the temperature scales to be exhibited, the

areas of knowledge, in the agriculture and livestock

images are uploaded in the computer, processed

sciences the development, application and use more

and interpreted by a software that can translate each

refined equipment from the technology point of view,

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Artigo 505 - Infrared thermography: history, fundamentals and use in veterinary medicine and livestock

also occurred. That being so, we might say that as in

sickness and stress in animals (CHIU et al., 2005;

the human Medicine, the Veterinary went through

BOUZIDA et al., 2009).

important advances in the last decades, even though in different speeds and scale.

The world scientific literature has paid attention to the use of IRT in livestock for the purpose of diagnosing

The implementation of advanced tools is of great

diseases before the clinical signs appearance

value for areas applicable to the human and animal

(Schaefer et al., 2004). The application of the technic

health. Throughout these technics is possible to

has proven to helpful in the identification of calves

improve the knowledge into deeper levels, connect

facing respiratory diseases (SCHAEFER et al., 2007;

them to biological, physiological and microbiological

SCHAEFER et al., 2011). Schaefer et al. (2007) have

processes, that way constantly increasing the

shown that animals there are truly positive for

comprehension about the natural an pathological

diseases, based on a gold standard that includes

events related to living organisms. With the increase

rectal

in the application of the livestock precision, the IRT

leucocytes and the relation neutrophil / lymphocyte,

deserves highlighting in science and in the animal

exhibited higher thermic values of infrared pic, of

production, since it allows the collection of data

35,7 ± 0,35 ° C, when compared with animals truly

directly from the animal’s surface ou from specific

negative for diseases 34,9 ± 0,22 ° C (P < 0,01).

anatomic regions.

Poikalainen et al. (2012) demonstrated that thermic

Veterinary and animal science professionals and researchers obliged to the use of IRT in researches working with wild animals, birds, bovines, canids, caprine, equines, ovine and swine (NOGUEIRA et al., 2013; TORQUATO et al., 2015; CAMERINI et al., 2016;

FERREIRA

2016;

score,

number

of

images can be used with success for detection of skin lesions as well. Alterations in the locomotor system, as lameness (ALSAAOD & BÜSCHER, 2012) and digital dermatitis (ALSAAOD et al., 2014) can also be evaluated by using the IRT.

PULIDO-

Stewart et al. (2017) demonstrated that the IRT was a useful to determine the respiratory frequency of

applied

and

bovines. Corroborating this affirmative, Daltro et al.

environments made the use of this technic popular in

(2017), evaluating the tolerance of bovines for heat

the scientific community and in the field. In practice,

stress, found moderated to high correlations (P <

there are limitations regarding the utilization, which

0,05) between the humidity of the eye globe, the

must respect conditions described previously to

tolerance to heat, the rectal temperature, the cardiac

assure the quality of the image.

and respiratory frequency, with the IRT of some

different

al.,

clinical

RODRÍGUEZ et al., 2017). Its versatility in being to

et

temperature,

species,

objects

The IRT was used as a tool for evaluating clinical

regions of the body (Table 1).

parameters in studies, to allow the researchers to

able 1. Correlation between IRT and parameters

infer about the circulatory system in the region of

collected from the environment and the animal

interest in the animal’s body. In conditions of

Evaluated area IRT¹

balance, when there is no disease, the heat production by the body can be originated from the cellular metabolic reactions, digestion and blood flow

Parameter

Eye

Front udder

Posterior udder

Humidity

0,25

-

-

HT²

0,44

0,58

0,49

RT³

0,57

0,74

0,69

(HARRISON et al., 2007). The thermography of the skin is an evaluation method of the vascular system and the microcirculation, in which the radiation emissions are directly related to the perfusion and metabolism of the tissues. Variations in the tissue

CF

4

0,31

0,47

0,37

surface temperature, generally, are a result of

RF

5

0,43

0,57

0,50

6

0,37

0,54

0,41

changes in the vascularization of the selected area, what incites alterations in the emission of infrared

PS

radiation (STELLETTA et al., 2012). Hence, the IRT has been useful to evaluate the presence of disturbs,

IRT1: Infrared thermography; HT2: Heat tolerance; RT3: Rectal temperature; CF4: Cardiac frequency; RF5: Respiratory frequency, and PS6: Panting score. Source: Adapted from Daltro et al. (2017).

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Artigo 505 - Infrared thermography: history, fundamentals and use in veterinary medicine and livestock

Vaccination is a procedure adopted by the veterinary

of feed efficiency with the objective of bring

medicine for most domestic species but until the

information for the discussion about the results of

present moment the use of IRT for evaluating the

animals more or less effective.

effects of it are not described in some species, as it is not for bovines. A study conducted by Cook et al. (2015) observed the results of using the IRT on the detection of fever and behavior of swine in response to vaccination, finding a pic of radiation ten hours after. The thermographic evaluation was performed in a single interval of 24 hours.

Harrison et al. (2007) used the IRT to stablish predictive models of efficiency and growth (GE) in ruminants and birds. For growing animals, that does not transform the energy coming from the feed in product, the growth efficiency is a synonym of feed efficiency, translated as weight gain. The methods correlate IRT with average daily gain (ADG) and dry

Infrared thermograohy on animal performance

matter consumption (DMC). The equation defined b

Another important application of the IRT is on feed

the authors is:

efficiency researches, frequently conducted with production animals. One of the forms in which the animal can express its efficiency and metabolic activity is through heat production. The production of heat

comes

metabolism

majorly and

feed

from

physical

ingestion,

and

activities, can

EC ou GMD = ƒn(1/TIVn), in which the TIVn is the reason between the average temperature obtained on the thermogram and the metabolic weight (live weight

0,75

).

be

This equation can be applied to groups of similar

expressed, among others forms, by the thermic

animals, so for each group there must be a proper

radiation emitted by the body surface.

model of comparison. The same model cannot be

The same way the dissipation of the heat produced

used for any animal inside a population.

by the animal can be a result of the factors. The loss

Works that focused on residual feed intake tested the

of heat by the animal occur by evaporation,

IRT as an alternative for identifying efficient animals

conduction, convection and radiation. Animals more

and registered images from their anatomic regions

or less efficient emit different radiation patterns, in

such as the eye, nose, rib, flank and member. The

different anatomic regions (SILANIKOVE, 2000;

objective was to verify the existence of a correlation

HARRISON et al., 2007).

between the production of heat in these regions with

The production of heat is commonly recorded by indirect or

direct calorimetric methods, as

respiratory

chambers

(requires

a

in

specific

parameters used for classifying animals according to its efficiency. Is possible to suppose that animals more efficient for

environment and equipment for the measurement of

converting

production, emission and exchanges of CO2, O2 e

dissipate less heat, which means that they would

CH4 gases) and determination of the cardiac and

require

respiratory frequencies. However, these methods are

thermoregulatory capacity, among other genetic and

laborious because demand the permanence of the

phenotypic

animal in place for long periods of time and

metabolism. Many studies started from this principle

equipment of difficult maintenance (MCMANUS et

to investigate through the IRT if there was a

al., 2016). The measurement by cardiac and

correlation between heat production and dissipation,

pulmonary

debt

requires

less

equipment,

feed

less

into

metabolic

maintenance characteristics

energy

energy related

due to

would to

its their

but

with the feed efficiency of the phenotypic groups

manipulates the animal just as much, what can

used (MONTANHOLI et al., 2010; DIGIACOMO et

compromise the quality of the data, due to the stress

al., 2014; MARTELLO et al., 2016; LEÃO et al.,

(HARRISON et al., 2007).

2018).

The IRT presents itself hence as an alternative tool

Leão et al. (2018) used the IRT to research the

to gauge the heat production and can be applied to

phenotypic differences between crossbred calves

diverse anatomic regions of the body surface in

(Holstein x Gyr) during the suckling phase regarding

these animals. The IRT was employed in the studies

the residual feed consumption, residual weight gain

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8619


Artigo 505 - Infrared thermography: history, fundamentals and use in veterinary medicine and livestock

and heat production. Calves classified as efficient for

BRIOSCHI, M.L.; YENG, I.T.; TEIXEIRA, M.J.

residual weight gain presented a bigger temperature

Indicação da termografia infravermelha no estudo

of the anatomic region of the eye then the less

da dor. Dor é coisa séria, v.5, n.1, p.8-14, 2009.

efficient ones. On the other hand, Montanholi et al.

CAMERINI, N.L.; SILVA, R.C.; NASCIMENTO, W.B.

(2010), observed that the more efficient animals

et al. Variação da temperatura superficial de aves

presented smaller

poedeiras criadas em dois sistemas de criação

temperatures

then the less

efficient ones in the region of the cheek (28,1º C vs.

utilizando

29,2º C) and nose (30,0º C vs. 31,2º C).

Semiárido, v. 12, n. 2, p. 145-152, 2016.

Montanholi el al. (2010) also found a correlation of 0,37 and 0,41 between the IRT and the feed efficiency

index

used,

for

cheek

and

nose,

respectively. The same way, Martello et al. (2016) described a positive relation of the IRT of the cheek,

termografia.

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<

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The IRT has demonstrated good results in the continue

thermography

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must

infrared

explored

so

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