NutriTime Revista Eletrônica n. 06 vol. 13 2016

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Revista Eletrônica

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Editora Responsável: Juliana Maria Freitas Teixeira Brito Editor Científico: Júlio Maria Ribeiro Pupa Editora Técnica: Rosana Coelho de Alvarenga e Melo Cláudio José Borela Espeschit Evandro de Castro Melo Fernando Queiróz de Almeida José Luiz Domingues

Júlio Maria Ribeiro Pupa George Henrique Kling de Moraes Marcelo Diniz dos Santos Marcos Antonio Delmondes Bomfim Maria Izabel Vieira de Almeida Patricia Pinheiro de Campos Fonseca Rodrigues Rony Antonio Ferreira Rosana Coelho de Alvarenga e Melo É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo da NRE da em qualquer meio de comunicação, seja eletrônico ou impresso, sem a sua devida citação.

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Sumário ARTIGOS 398 - Tratamentos químicos em volumosos – revisão de literatura ..................................................................... 4854 Alex Lopes da Silva, Diego Sousa Amorim, Dalva Batista de Sousa, Sheila Vilarindo de Sousa, Keilane Menes da Silva 399 - Oferta de pastagem como pré-requisito de formulação de dietas ............................................................. 4861 Diego Sousa Amorim, Alex Lopes da Silva, Romilda Rodrigues do Nascimento, Dalva Batista de Sousa, Luciana Viana Diogénes 400 - Características de produção e crescimento de espécies forrageiras para produção de silagem: revisão de literatura.................................................................................................................................................................4867 Amauri Felipe Evangelista, Laylson da Silva Borges, Amanda Nonata Fernandes da Silva, Willâmy Fonseca Vogado, Kássio Alexandre Marques 401 - Ferro para leitões – revisão de literatura..............................................................................................................4874 Dejanir Pissinin 402 - Pigmentantes naturais e alimentação alternativa para codornas japonesas..............................................4883 Weslane Justina da Silva, Poliana Carneiro Martins, Alison Batista Vieira Silva Gouveia, Fabiana Ramos dos Santos, Cibele Silva Minafra 403 - Produção de leite em Microrregiões do Agreste Alagoano ............................................................................4891 Rafaelle Santos Santana, José Crisólogo de Sales Silva, Fernanda de Araujo Vieira 404 - Resistência à insulina no período de transição de vacas leiteiras.................................................................4895 Rafael Alves de Azevedo, Sandra Gesteira Coelho 405 - A influência da dieta no desenvolvimento ruminal de bezerros...................................................................4902 Messias Batista Caetano Júnior, Graciele Araújo de Oliveira Caetano, Maryelle Durães de Oliveira


Tratamentos químicos em volumosos: revisão de literatura Alimentação, conservação, forragem, pecuária.

Revista Eletrônica

1

Alex Lopes da Silva 1 Diego Sousa Amorim 3 Dalva Batista de Sousa 2 Sheila Vilarindo de Sousa 4 Keilane Menes da Silva

Vol. 13, Nº 06, nov./dez.de 2016 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

1

Aluno de Pós-Graduação em Zootecnia, Universidade Federal do Piauí, Campus Professora Cinobelina Elvas bolsista CNPq, Bom Jesus, Piauí, Brasil, 64.900000. alex.lopes77@hotmail.com 2 Mestre em Zootecnia, bolsista CNPq da Universidade Federal do Piauí, Campus Professora Cinobelina Elvas, Bom Jesus, Piauí, Brasil, 64.900-000. 3 Aluna de Graduação em Agronomia, Universidade Estadual do Piauí, Campus Salomão Mascarenhas Cavalcante, Corrente, Piauí, Brasil. 4 Aluna de Pós-Graduação em Solos, Universidade Federal do Piauí, Campus Professora Cinobelina Elvas bolsista Capes, Bom Jesus, Piauí, Brasil, 64.900000.

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO

CHEMICAL TREATMENTS IN VOLUMINOUS:

Objetivou-se com esta revisão compilar informações sobre a melhoria na composição dos alimentos

LITERATURE REVIEW

volumosos

com

tratamentos

químicos.

Os

tratamentos químicos são formas de melhorar digestibilidade dos volumosos com a adição de aditivos alcalinos, relacionada à ação da hidrólise alcalina, beneficiando o valor nutricional. Os efeitos da amonização sobre a estrutura da fibra dos volumosos incluem a solubilização da hemicelulose, o aumento da digestão da celulose e da hemicelulose em razão da expansão da fração fibrosa. Têm sido desenvolvidos com intuito de melhorar as características nutritivas e diminuir a frequência de corte pelo armazenamento da canade-açúcar a partir de seu tratamento com óxido (CaO) ou hidróxido de cálcio (Ca (OH)2). As utilizações dos tratamentos químicos em volumosos melhoram as composições dos alimentos, principalmente nos teores de fibras e proteína, tornando-se uma opção para o aproveitamento dos alimentos de alto teor de fibra. Palavras-chave: Alimentação, conservação, forragem, pecuária.

4854

ABSTRACT The objective of this review compile information about the improvement in the composition of bulky foods with chemical treatments. The chemical treatments are ways to improve digestibility of forages with the addition of alkaline additives, related to the action of alkaline hydrolysis, benefiting nutritional value. The effects of ammoniation on the bulky fiber structure include solubilize the hemicellulose, increasing the digestion of cellulose and hemicellulose due to the expansion of the fiber. Have been developed in order to improve the nutritional characteristics and decrease the cutoff frequency for the storage of sugarcane from treatment with oxide (CaO) or calcium hydroxide (Ca (OH) 2). The use of chemical treatments to improve bulky food compositions, especially in terrors fibers and protein, making it an option for use of self fiber content foods. Keyword: Conservation, food, fodder, livestock.


Artigo 398 – Tratamentos químicos em volumosos – revisão de literatura

INTRODUÇÃO

alto teor de fibra afetando seu aproveitamento.

A produção de ruminantes é uma das atividades que crescem rapidamente no Brasil, tornando a pecuária

Nesses processos normalmente são utilizados ureia

uma atividade que necessita de inovações e que

dissolvida em água para amonização e cal virgem

produza alimentos a baixo custo e ciclos curtos.

dissolvida em água para a hidrolização. ANDRADE &

Quando se trata da alimentação dos animais, a

QUADROS

(2011)

pecuária

ruminantes,

importante

a

pasto

quando

bem

manejada

e

a

alimentação

de

componente

animais

econômico

planejada, é a forma mais barato de produzir, tanto

dentro do processo produtivo, busca alternativas que

na pecuária de corte como de leite, porém, como o

reflitam na diminuição de custos. Dessa forma

Brasil é um país tropical, existem dificuldades de se

objetivou-se com esta revisão compilar informações

manter competitivo no mercado, uma vez que

sobre a melhoria na composição dos alimentos

existem épocas de abundância de alimentos e

volumosos com tratamentos químicos.

escassez, necessitando de meios que possam aproveitar os alimentos ou conservá-los. PÁDUA et al.

(2011),

restando

os

produtores

procura

REVISÃO DE LITERATURA Importância dos tratamentos químicos

alternativas que atendam às exigências, tais como

As pastagens tropicais durante o período chuvoso de

reservando as pastagens ou conservando na forma

produção encontram-se em grande vigor e apta a ser

de silagem ou fenos.

pastejadas com adequado valor nutritivo, porém, quando no período seco, apresentam uma baixa

A utilização da ureia no tratamento químico de

produção

volumosos é estratégia simples e fácil de ser

digestibilidade devido seu elevado teor de lignina,

executada, podendo ser utilizadas em tratamento de

diante

subprodutos de altos teores de fibra, considerada

conservação de forragens como é o caso da silagem

uma

fácil

e fenação. KOEFENDER et al. (2013), a importância

disponibilidade para os pequenos produtores rurais,

econômica da pecuária nacional necessita de

lhes conferindo o melhoramento de alimentos

pesquisas que visam minimizar custos de produção

fibrosos fornecidos aos animais (PINHEIRO et al.,

em sazonalidade na disponibilidade de forragens em

2009). Formas de tratamentos químicos podem

animais criados a pasto, pois é o causador de baixos

servir também para conservação de alimentos tais

índices produtivos na pecuária.

como a cal virgem. DOMINGUES et al. (2012),

(2011), afirmam que quando a indisponibilidade de

assim agentes alcalinizastes, seriaram capazes de

forragens de qualidade para essas duas técnicas,

conservar materiais picados, no caso da cana-de-

apresenta-se como fator limitante para garantir os

açúcar, reduzindo a mão-de-obra diária.

índices de produtividade, podem ser utilizadas outras

prática

viável

com

produto

de

e

das

baixo

valor

dificuldades

nutritivo surge

com

baixa

opções

de

PÁDUA et al.

alternativas, tais como: tratamentos físicos, químicos Formas de aproveitamento de alimentos volumosos

ou biológicos, suplementação ou combinação de

como bagaço de cana, palhadas, cascas de arroz,

dois ou mais destes.

pastagens em estágio avançado ou melhorar as condições de feno e silagens, são alternativas de

Dietas no período seco que visam melhorar o

otimizar os sistemas de produção dos pecuaristas,

desempenho

sendo os tratamentos químicos uma saída, como é o

viáveis é de extrema importância, ROMÃO et al.

caso da amonização e hidrolização, estes melhoram

(2013) assim podemos dizer que uma das formas é a

a degradabilidade da fibra tornando mais digestível.

digestibilidade melhorada dos volumosos com a

Assim esses alimentos que possuem baixos valores

adição de aditivos alcalinos, relacionada a ação da

nutritivos, podem ser aproveitados permitindo um

hidrólise alcalina, beneficiando o valor nutricional.

planejamento alimentar que evita perdas nutricionais

GARCEZ et al. (2014) a amonização é utilizada com

drásticas dos rebanhos. DOMINGUES et al. (2011)

intuito de melhorar o valor nutritivo dos volumosos

eram utilizados alimentos de baixa qualidade com

por meio do fornecimento de nitrogênio, e redução

dos

ruminantes

economicamente

do teor de fibra, quando se usa hidróxido de sódio 4855

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4854-4860, nov./dez. 2016. ISSN: 1983-9006


Artigo 398 – Tratamentos químicos em volumosos – revisão de literatura

(NaOH) e o hidróxido de cálcio (Ca(OH)2), estes são

Assim podem ser usados na alimentação dos

eficientes no tratamento de alimentos fibrosos,

ruminantes, obedecendo às exigências de cada

devido à elevada capacidade alcalinizante.

espécie ou categoria animal. Priorizando os custos e o bem-estar dos animais onde um dos fatores

Os pecuaristas vivem em déficit de produção, e

importantes é o consumo dos alimentos pelos

existem formas de otimizar seus sistemas e

animais e a resposta da dieta contendo forragens

aproveitar os alimentos, principalmente quando

com tratamentos químicos além da disponibilidade

estão em estágio avançado ou muitos fibrosos, que

do produto. Os resultados podem ser obtidos nas

são os tratamentos químicos. PINA et al. (2011), são

diferentes concentrações e produtos, conferindo

alternativas para aumentar a fração potencialmente

redução de gastos coma alimentos de custos mais

digestível da fibra ou sua taxa de digestão. Dessa

elevados.

forma possibilita aproveitamentos desses volumosos

Amonização em silagem

ganhando peso (Tabela 1).

A silagem é um método de conservação de foragem em seu estado úmido, ocorrido devido a fermentação

TABELA 1. Consumo e desempenho de animais alimentados com alimentos usando tratamentos químicos Espécie/Categoria

por bactérias anaeróbicas, promovendo uma queda do pH, assim permite a conservação por um longo

Relação (Vo/Co)

Níveis de tratamento no volumoso hidrolisado (%)

40:60

2% de ureia 4MS

1

2

3

CMS

GMD

Autor

Ovinos Macho inteiro

0,85

0,18

0,86

0,16

7,48

1,08

Freitas et al. (2011)

5,82

0,98

Domingues et al. (2012)

Pinheiro et al. (2009)

Fêmea Bovinos Novilhos inteiros

0,9% hidróxido de cálcio 5MN

70:30

Novilhas

5

40:60

0,5% cal virgem MN

1

Volumoso: concentrado; 2Consumo de matéria seca dia-1; 3Ganho médio diário; 4Materia seca; 5Materia natural. Fonte: Adaptado dos autores citados.

hemicelulose, o segundo tipo mais abundante de período (SANTOS et al., 2010). Sendo que a mesma

polissacáridos de biomassa ao lado da celulose.

pode ser conservada com adição de nitrogênio ou amonizadas

melhorando

principalmente

em

termos

sua

qualidade

nutricionais,

assim

Segundo SOUZA et al. (2001) o tratamento químico de volumosos com amônia ou ureia eleva o teor de

disponibiliza mais nutrientes para absorção pelos

nitrogênio

ruminantes. PANCOTI et al. (2011) teores de

componentes nutritivos para os microrganismos

minerais em algumas dietas podem ser facilmente

ruminais. BARROS et al. (2010), observaram que

corrigido com suplementação mineral, enquanto o de

quando se utiliza 100% bagaço de cana-de-açúcar

proteína pode ser corrigido utilizando-se fontes de

amonizado com ureia como fonte de volumoso, onde

nitrogênio não proteico ou suplemento proteico.

tem disponibilidade de aquisição é uma alternativa

LIMA JÚNIOR et al. (2010) corrigindo com o

viável para confinamentos de bovinos.

e

aumenta

a

disponibilidade

dos

abaixamento da fermentação alcoólica. Amonização de forragens utilizando fontes de N, A celulose e hemicelulose estão agrupadas em

como a amônia anidra, amônia líquida ou ureia, tem

arranjo sistemático de encostamentos de lignina

sido uma das alternativas em razão de ser de fácil

(OLIVEIRA et al., 2011). A amonização pode

aplicação,

solubiliza-la, disponibilizando para ser aproveitada

decréscimo no conteúdo de fibra em detergente

na digestão. SEGUIN et al. (2012) sendo a

neutro

não

(FDN),

poluir

o

aumentar

ambiente, o

provocar

consumo

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4854-4860, nov./dez., 2016. ISSN: 1983-9006

e

a 4856


Artigo 398 – Tratamentos químicos em volumosos – revisão de literatura

digestibilidade, além de conservar as forragens com alto teor de umidade (ROSA & FADEL, 2001). FORTALEZA et al. (2012) devendo ter cuidados pois, sugerindo que a liberação de amônia, ao se dissolver a ureia na água, gera perdas significativas de nitrogênio.

alternativos

animais é mínimo, MOREIRA FILHO et al. (2013) afirmam que o efeito da amonização do restolho de milho, o teor de proteína e matéria seca e degradabilidade

da

proteína

na

cinética

de

degradação in situ e aumento de amonização com

Amonização em fenos Alimentos

e bagaços ou resíduos, onde o aproveitamento pelos

de

baixo

custo

ou

a

disponibilidade de alimento durante todo o ano são alternativas de alimentação de interesse para os produtores, sendo importante para avaliar a inclusão na dieta de gramíneas com estágio vegetativo

3% de ureia na MS da palha de milho safra -1

associada a fertilizações de 40 ou 120 kg N ha , não justificando amonização de restolho das culturas resultante dessas culturas adubadas com 200 kg N -1

ha .

avançado para os animais (PINHEIRO et al., 2009).

Em um tratamento diferente, como avaliado por

Dessa forma métodos adotados para melhorar a

OLIVEIRA et al. (2011) observaram que o aumento

degradabilidade de fenos através da amonização

das doses de ureia no processo de amonização do

pode ser uma alternativa de melhorar o desempenho

bagaço de cana-de-açúcar implicou em redução dos

nutricional dos ruminantes.

teores de FDN, FDA, celulose, hemicelulose e lignina, e aumento dos teores de PB. O que pode

BEZERRA et al. (2014) quantificando população de

afirmar é que melhorou as condições para o

mofos e leveduras e avaliando as perdas de matéria

aproveitamento dos nutrientes com o aumento da

seca e a composição bromatológica de fenos de

digestibilidade desse alimento. Quando se avalia o

capim-buffel amonizado com ureia, observaram que

comportamento animal consumindo estes alimentos

a aplicação de ureia não proporciona benefícios em

com palhadas, bagaços de cana-de-açúcar ou

relação à recuperação de matéria seca, exceto na

silagens amonizadas podem obter bons resultados,

dose de 1,0%, no entanto, é eficiente em reduzir a

BARROS

população de mofos e leveduras e aumenta o teor

substituição da silagem de sorgo por bagaço de

de PB em fenos de capim-buffel.

cana-de-açúcar amonizado com ureia provocou

GARCEZ

et

al.

(2014)

Avaliando

efeito

de

tratamentos alcalinos por amonização com ureia e por NaOH e Ca(OH)2 sobre a composição química e degradação ruminal da MS, PB e FDN do feno de folíolos de pindoba de babaçu, observaram que os tratamentos

alcalinos

melhoram

a

composição

et

al.

(2011)

observaram

que

a

alterações no comportamento ingestivo, reduzindo o tempo de alimentação e aumentando o tempo de ruminação dos animais, afetando número de ciclos de ruminação e a duração destes ciclos ambos volumosos substitutos. É

importante

encontrar

fontes

alternativas

de

química do feno de folíolos da pindoba de babaçu,

suplementos de proteína, o que possa minimizar a

com redução nos teores de hemicelulose, lignina e

competição por terra e com entrada mínima externo,

nitrogênio insolúvel e incremento no teor de

especialmente

proteína, e que o feno de folíolos de pindoba de

(NURFETA et al., 2009). A busca de melhorar o

babaçu apresenta uma reduzida degradação da

aproveitamento desses alimentos não com objetivo

matéria seca, proteína e fibra, o que se atribui à

de ser uma fonte de proteína mais, pode ser

intensa lignificação da parede celular, com limitação

adicionada com uma fonte de proteína e assim

à

otimizando a produção no período de escassez de

utilização

ruminantes.

como

volumoso

Comprovando

em

que

dietas

em

para

fenos

a

amonização apresenta resultados favoráveis para a

para

os

pequenos

agricultores

alimentos com o fornecimento de alimentos de baixo custo.

sua utilização. Hidrolização Amonização em bagaços e palhas Quando se trata de fontes de alimentos como palhas 4857

A digestibilidade de alimentos com alto teor de fibra pode ser favorecida com a utilização da amonização,

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4854-4860, nov./ dez, 2016. ISSN: 1983-9006


Artigo 398 – Tratamentos químicos em volumosos – revisão de literatura

tornando mais fácil o aproveitamento na alimentação

Em virtude disso, estudos têm sido desenvolvidos

dos rebanhos. Hoje estudos buscam melhorar o

com intuito de melhorar as características nutritivas e

desempenho dos animais através dos tratamentos

diminuir a frequência de corte pelo armazenamento

com amonização não apenas com alimentos de

da cana-de-açúcar a partir de seu tratamento com

baixo valor nutritivo, mas sim para maximizar o

óxido (CaO) ou hidróxido de cálcio (Ca(OH)2)

aproveitamento dos mesmos, um exemplo mais

(PANCOTI et al., 2011).

comum é a cana-de-açúcar. CARVALHO et al. (2011) avaliando efeito do tratamento da cana-deaçúcar com doses de óxido de cálcio sobre o comportamento

ingestivo

de

caprinos

em

crescimento observaram que o uso de óxido de cálcio no tratamento da cana-de-açúcar em doses de até 2,25% não altera a eficiência de alimentação e ruminação em caprinos. ROMÃO et al. (2013) porcentagens de óxido de cálcio a partir de 1,5% na cana-de-açúcar

promovem

aumento

da

fração

solúvel e da fração disponível da fibra e reduzem a fração indigestível.

novilhos recebendo dietas à base de cana-de-açúcar in natura ou hidrolisada observaram que a cana-deaçúcar com adição de 0,5% de hidróxido de cálcio, se fornecida após 24 horas de armazenamento, não prejudica o desempenho dos animais. ENDO et al. (2014), avaliando desempenho e consumo de nutrientes em cordeiros alimentados com cana-deaçúcar hidrolisada in natura ou hidrolisado em condições aeróbias e anaeróbias, concluíram que cana

CARVALHO et al. (2009) afirma que quando aplicada em um eventual sistema de alimentação, dietas balanceadas com volumosos tratados podem predispor animais a desempenhos semelhantes ao obtido com dietas de alta qualidade. Estudos mais atuais mostram resultados opostos, DOMINGUES et al. (2012) avaliando desempenho, consumo e conversão alimentar de novilhas mestiças (Angus x Nelore)

FREITAS et al. (2011) avaliando o desempenho de

alimentadas

com

cana-de-açúcar

hidrolisada, nas condições proposta eles concluíram que a hidrólise da cana-de-açúcar com cal virgem não aumentou o consumo e o desempenho dos animais avaliados. MISSIO et al. (2013) trabalhando com desempenho de novilhas Nelore alimentadas

hidrolisada

sob

condições

aeróbias

e

anaeróbias não afetam o desempenho nem a ingestão de nutrientes dos animais. LIMA JÚNIOR et al. (2010) assim uso de corretivos, ensilagem, fenação,

tratamentos

físicos

e

químicos

são

estratégias que melhoram a disseminação da canade-açúcar como opção volumosa de qualidade para animais nos sistemas de produção. A aplicação desse tratamento é aplicada na forma de cal virgem, variando a sua concentração diluída em 4 litros de água, para ser pulverizada a cada 100 kg de cana-de-açúcar,

(Tabela

2)

mostra

algumas

concentrações testadas com sucesso com seus respectivos autores.

com dietas contendo cana-de-açúcar in natura ou

SANTOS et al. (2014), com uma nova tecnologia de

tratada com hidróxido de cálcio e armazenada por

pré-tratamento

diferentes períodos, observaram que dietas com

eficiência na remoção da hemicelulose da palha de

elevada proporção de cana-de-açúcar hidrolisada

cana-de-açúcar, além de fornecer substratos de alta

não

de

susceptibilidade à hidrólise enzimática. Neste sentido

novilhas Nelore, em virtude da adição de 0,5% de

para melhorar as características dos alimentos a

hidróxido de cálcio, na matéria natural, limitar a

pesquisa vem mostrando que é possível otimizar

ingestão de alimento e reduzir o ganho de peso.

economicamente a utilização da cana-de-açúcar

são

recomendadas

para

alimentação

hidrotérmico

mostrou

uma

boa

hidrolisada, uma vez que, os gastos dos produtos Cana-de-açúcar hidrolisada

são

Na alimentação dos animais ruminantes, a utilização

estratégia

da cana-de-açúcar, é utilizada com a combinação

produtores.

em

pequenas para

quantidades,

pequenos,

tornado

médios

e

uma

grandes

com ureia e enxofre, porém, requer muito trabalho, pois a mesma tem que ser cortada com mais frequência para ser fornecida diariamente. Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4854-4860, nov./ dez., 2016. ISSN: 1983-9006

4858


Artigo 398 – Tratamentos químicos em volumosos – revisão de literatura

TABELA 2. Concentrações de hidróxido de cálcio (Ca (OH)2 ) utilizados na hidrolise de cana-de-açúcar Autor Carvalho et al. (2011) Domingues et al. (2011) Freitas et al. (2011) Missio et al. (2013) Domingues et al. (2012) Romão et al. (2013) Romão et al. (2014)

Concentração % 2,25

CARVALHO, G.G.P.; GARCIA, R.; PIRES, A.J.V. et al. Comportamento ingestivo em caprinos alimentados com dietas contendo cana-de-açúcar tratada com óxido de cálcio. Revista Brasileira de Zootecnia. v.40, n.8, p.1767-1773, 2011.

0,5

1,0

DOMINGUES, F.N.; OLIVEIRA, M.D.S.; MOTA, D.A. et al. Desempenho de novilhas de corte alimentadas com cana hidrolisada. Ciência Animal Brasileira. v.13, n.1, p.8 - 14, 2012.

4,5 1,5

Fonte: Adaptado dos autores citados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS As

utilizações

volumosos

dos

melhoram

tratamentos as

químicos

composições

em dos

alimentos, principalmente nos terrores de fibras e proteína,

tornando-se

uma

opção

CARVALHO, G.G.P.; CAVALI, J.; FERNANDES, F.E.P. et al. Composição química e digestibilidade da matéria seca do bagaço de cana-de-açúcar tratado com óxido de cálcio. Arquivos Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v.61, p.13461352, 2009.

para

o

aproveitamento dos alimentos de alto teor de fibra. As aplicações da amonização e hidrolização devem ser exploradas respeitando as suas concentrações de uso para não comprometer o consumo dos animais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, A.P.; QUADROS, D.G. Composição bromatológica da casca de soja amonizada com ureia. Revista de Biologia e Ciências da Terra. v.11, n.1, 2011. BARROS, R.C.; ROCHA JÚNIOR, V.R.; SARAIVA, E.P. et al. Comportamento ingestivo de bovinos Nelore confinados com diferentes níveis de substituição de silagem de sorgo por cana-de-açúcar ou bagaço de cana amonizado com ureia. Revista Brasileira de Ciências Veterinária. v.18, n.1, p.613, 2011. BARROS, R.C.; ROCHA JÚNIOR, V.R.; SOUZA, A.S. et al. Viabilidade econômica da substituição da silagem de sorgo por cana-de-açúcar ou bagaço de cana amonizado com ureia no confinamento de bovinos. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal. v.11, n.3, p.555-569, 2010. BEZERRA, H.F.C.; SANTOS, E.M.; OLIVEIRA, J.S. et al. Fenos de capim-buffel amonizados com ureia. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal. v.15, n.3, p.561-569, 2014.

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4859

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4854-4860, nov./ dez, 2016. ISSN: 1983-9006


Artigo 398 – Tratamentos químicos em volumosos – revisão de literatura

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Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4854-4860, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006

4860


Oferta de pastagem como prérequisito de formulação das dietas: revisão de literatura Bovinos, disponibilidade, sazonalidade.

Revista Eletrônica 1

Vol. 13, Nº 06, nov./ dez. de 2016 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

Diego Sousa Amorim 1 Alex Lopes da Silva 3 Romilda Rodrigues do Nascimento 4 Dalva Batista de Sousa 3 Luciana Viana Diogénes 1

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem bomo resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Aluno de Pós-Graduação em Zootecnia, Universidade Federal do Piauí, Campus Professora Cinobelina Elvas bolsista CNPq, Bom Jesus, Piauí, Brasil, 64.900-000. diego.zootecnista@hotmail.com 3 Aluna de Graduação em Zootecnia, bolsista PIBIC/CNPq, Universidade Federal do Piauí, Campus Professora Cinobelina Elvas bolsista CNPq, Bom Jesus, Piauí, Brasil, 64.900-000. 4 Aluna de Graduação em Agronomia, Universidade Estadual do Piauí, Campus Salomão Mascarenhas Cavalcante, Corrente, Piauí, Brasil.

RESUMO A demanda por alimento de origem animal tem aumentado consideravelmente. Diante da situação

PASTURE SUPPLY AND FORMULATION PREREQUISITE DIETS: LITERATURE REVIEW

fazem-se necessárias tecnologias que permitam acréscimos na produtividade dos rebanhos criados a

ABSTRACT

pasto. Dessa forma, considerando os sistemas a

The demand for animal foods has increased

pasto a forma mais barata de produzir carne, a

considerably. Given the situation it is necessary

formulação de dietas deve ser considerada ou as

technologies to increases in productivity of cattle

condições de subnutrição aceitas. As gramíneas

raised on pasture. Thus, considering the systems in

tropicais possuem uma sazonalidade de produção,

pasture are the cheapest way of producing meat, the

bem

componentes

formulation of diets should be considered or

nutricionais, sendo a dieta suplementar do pasto

malnutrition conditions accepted. Tropical grasses

capaz de minimizar as características da baixa

have a seasonal production, as well as a variation in

qualidade das forrageiras durante o período crítico

nutritional components, and supplemental diet of

do ano torna-se uma ferramenta para melhorar a

pasture able to minimize the low quality of forage

disponibilidade do pasto. A dieta suplementar do

characteristics during the critical period of the year

animal no período crítico permite maior crescimento

becomes a tool to improve the availability of pasture .

de microrganismos ruminais devido ao aumento de

The supplementary diet of the animal during the

nutrientes que são fornecidos via dieta suplementar,

critical

aumentando

microorganisms due to the increase in nutrients that

como

forragem,

uma

o

variação

consumo

e

consequentemente

aproveitamento

dos

nos

digestibilidade

da

melhorando

o

alimentos

disponíveis.

are

period

supplied

allows through

greater dietary

growth

rumen

supplementation,

increasing the intake and digestibility of forage,

Objetivou-se com esta revisão, discutir a oferta de

consequently

pastagem como pré-requisito na formulação de

available food. The objective of this review, discuss

dietas utilizadas na complementação da alimentação

pasture offer as a prerequisite to formulate diets

de bovinos criados a pasto.

used to complement the feeding of cattle raised on

Palavras-chave: Bovinos, disponibilidade,

pasture.

sazonalidade. 4861

improving

the

utilization

Keyword: Availability, cattle, seasonality.

of

the


Artigo 399 – Oferta de pastagem como pré-requisito de formulação das dietas – revisão de literatura

INTRODUÇÃO

A bovinocultura suporta grandes pressões quanto ao

A produção de bovinos de corte no Brasil tem sido

uso das terras, abrindo espaço para sistemas mais

desafiada a estabelecer sistemas de produção que

lucrativos, deslocando-se para regiões distantes dos

sejam capazes de produzir de forma eficiente e

grandes centros, onde se pratica uma pecuária

sustentável carne de boa qualidade a baixo preço.

extensiva com baixa intensificação e tecnologia.

Esta atividade se destaca pela competitividade

Diante disso, o sistema adotado é aquele onde a

econômica, pois a maioria do rebanho se alimenta

dieta basal é uma forragem geralmente de valor

basicamente de pastagens (SCHIO et al., 2011). Por

nutricional baixo, portanto, os resultados de baixos

isso, sempre que os animais estiverem recebendo

índices de produtividade devem ser aceitos. Neste

oferta de pastagem com quantidade insuficiente de

sentido,

nutriente que resultem na carência de um ou mais

bovinocultura brasileira podem estar relacionados

nutriente, é importante corrigi-las para que os

com o manejo nutricional e sanitário inadequados e

mesmos

com

possam

desenvolver

seu

potencial

o

os

baixo

baixos

índices

potencial

zootécnicos

genético

dos

da

bovinos

genético, além de se manterem saudáveis. Em

produzido no país (SILVA et al., 2015; SOUZA, et al.,

algumas circunstâncias, a correção do pH do solo e

2011).

a adubação podem disponibilizar, em maior ou menor quantidade, alguns nutrientes, além de

Uma característica importante da pecuária brasileira

melhorar a produção de massa verde da forragem

é ter a maioria de seu rebanho criado a pasto. Dessa

(MEZZALIRA et al., 2012).

maneira é visível o aumento de produção de bovinos de corte, através de abertura de novas áreas de

Contudo,

a

fertilização

com

pastagens, no entanto após análise dos fatores de

compostos minerais, tendo o objetivo de suprir as

crescimento da pecuária bovina por meio de uma

necessidades e exigências dos animais que não

identidade matemática relacionando produção com

foram atendidas no pasto, com isso, é necessária a

área de pastagem, taxa de lotação e desempenho

adequação

diferentes

animal, constatou-se que esse aumento na produção

formulações de dietas que visa atender essas

de bovinos de corte se dá pela eficiência no aumento

exigências

das

de produtividade através de melhorias nos índices

pastagens (HOFFMANN et al., 2014; PEREIRA, et

zootécnicos (BERNARDO, et al., 2014; MARTHA JR

al., 2015).

et al., 2012).

nutricional não

das

através

supridas

pela

pastagens

de

adubação

No entanto, a produtividade e qualidade das pastagens sofrem variações estacionais ao longo do ano devido às condições climáticas, permitindo desempenho instável dos animais ao longo do ano, resultando em baixos índices zootécnicos. No período seco do ano o rebanho bovino alimenta-se de forragem de baixo valor nutritivo, caracterizada por elevado teor de fibra indigestível e teores de proteína bruta (PB) inferiores ao nível preconizado de 7% PB na dieta basal (MARQUES et al., 2015). Portanto objetivou-se com esta revisão, discutir a oferta

de

pastagem

como

pré-requisito

na

formulação de dietas utilizadas na complementação da alimentação de bovinos criados a pasto. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Bovinocultura a pasto no Brasil

Portanto, a alimentação é um

dos principais

componentes do sistema de produção de bovinos criados a pasto, pois é o componente mais importante dentre os fatores que influenciam o desempenho dos animais. No intuito de promover um alto e eficiente desempenho produtivo na criação de bovinos, deve-se levar em consideração a interação entre os animais e sua oferta de alimento. Com isso, grandes avanços em pesquisas científicas vêm ocorrendo na área de nutrição animal, em especial quanto ao estudo dos processos fisiológicos e como diferentes fatores os afetam. Em especial com dietas que são usadas como melhoradoras do desempenho animal criado a pasto (FERREIRA, et al., 2015; SANTOS et al., 2012).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4861-4866, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006

4862


Artigo 399 – Oferta de pastagem como pré-requisito de formulação das dietas – revisão de literatura

Importância da oferta de pastagens para bovinos

mais favoráveis do ano, suprindo as necessidades

O manejo da oferta de pastagem compõe um dos

de energia, proteína, minerais e vitaminas essenciais

requisitos determinantes das produções principais

à produção animal. A eficiência da utilização das

dos ecossistemas pastoris. Com isso, o emprego de

pastagens pelos animais não é dependente apenas

níveis de oferta de pastagem pode determinar as

da quantidade, mas também da qualidade e da

composições biológicas e de estrutura de forrageiras

forma como a forragem é ofertada aos animais

distintas, assim como diferentes ganhos de peso vivo

(estrutura do pasto), pois a estrutura afeta de forma

por animal e por área (REZENDE, et al., 2015).

determinante

o

comportamento

ingestivo

e

o

consumo pelos bovinos (PAZETO et al., 2015). No entanto, nas pastagens de climas tropicais, a é

A quantificação da proporção dos componentes da

considerada o principal fator que limita o consumo e

planta, especialmente a produção de lâminas

a produção dos bovinos, especialmente durante o

foliares, representa um indicador de qualidade da

início do crescimento vegetativo das pastagens.

pastagem, sendo importante na comparação entre

Mas, com o desenvolvimento rápido das forrageiras

cultivares e espécies forrageiras. Essa relação pode

tropicais, há acréscimo de colmos e de material

ser um indicador potencial do ganho de peso dos

morto na pastagem, dificultando o pastejo. As

animais em pastejo. A maior presença de folhas na

alterações na qualidade nutritiva e estrutural do

fitomassa total é desejável uma vez que resulta na

pasto,

produção

melhora da digestibilidade e, consequentemente, no

forrageira durante o desenvolvimento das pastagens

aumento da ingestão da forrageira (LUPATINI, et al.,

tropicais, fazem com que seja comumente observada

2013).

oferta

de matéria

que

seguem

seca

o

total

de

aumento

forragem

da

e deste modo há uma associação negativa entre produção ou disponibilidade de forragem e seu grau

A qualidade da pastagem no Brasil é um fator muito

de utilização (PESQUEIRA-SILVA, et al., 2015).

importante,

que

influencia

diretamente

na

produtividade de bovinos em pastejo. As plantas Segundo FONSECA et al. (2012), a obtenção de

forrageiras suprem energia, proteína, minerais e

elevada produção por animal e por área depende,

vitaminas aos animais em pastejo. Com isso, a

entre outros fatores, do manejo apropriado da

importância das gramíneas como as principais fontes

pastagem, o qual pode ser conduzido em função de

de nutrientes para ruminantes. Além da proteína e

critérios como altura ou oferta de forragem. Nesse

energia, as pastagens procedem à fibra necessária

sentido, quando os pastos são manejados sob

nas rações para promover a mastigação, ruminação

lotação intermitente, observam-se reduções

no

e saúde do rúmen. Na formulação de dietas para

consumo diário de forragem e no desempenho

bovinos, a qualidade e a quantidade de forragens é o

animal quando os pastos são rebaixados além de

primeiro fator a ser analisado no atendimento das

40% da altura pré-pastejo.

exigências nutricionais e de fibra (SILVEIRA & WANDER, 2015; THOMÉ, et al., 2013).

Além dessas estratégias de manejo, a associação da suplementação alimentar dos animais é essencial

A sazonalidade da oferta de pastagem

para possibilitar níveis adequados de desempenho,

As variações sazonais nas características dos pastos

uma vez que gramíneas tropicais podem apresentar

tropicais

adequada disponibilidade de forragem com baixo

brasileira,

valor nutritivo (REIS, et al., 2012).

basicamente com o pasto, o qual perde valor nutricional

As pastagens tropicais, quando bem manejadas, são de

sustentar

níveis

satisfatórios

de

produção de leite e carne, sobretudo nas épocas 4863

pois em

estacionalidade

Qualidade das pastagens tropicais

capazes

exercem os

forte

impacto

animais

decorrência da

produção

são

na

pecuária

alimentados

da

variação

da

em

determinadas

regiões (GOES, et al., 2015). Contudo, no período seco do ano, a produção de pastagem reduz em consequência das folhas e per-

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Artigo 399 – Oferta de pastagem como pré-requisito de formulação das dietas – revisão de literatura

filhos, diminuindo a disponibilidade forrageira de boa

Diante disso, a ingestão de matéria seca (MS) é o

qualidade. Este resultado da sazonalidade climática

fator mais preponderante dentro da nutrição de

não

bovinos,

afeta

somente

os

pastos,

mas

reduz,

pois

estabelece

as

quantidades

de

principalmente, o desempenho do animal (TURINI,

nutrientes disponíveis para saúde e produção dos

et al., 2015).

animais (DIAS, et al., 2015). Contudo, as estimativas de consumo em bovinos criados a pasto são vitais

Diante disso, a produção animal é condicionada por

para a predição do ganho de peso, assim como para

vários fatores, como o material genético do animal

o estabelecimento das exigências nutricionais dos

sob influência do ambiente, consumo de pastagem,

animais, necessários à formulação das dietas

valor nutritivo do pasto e eficiência na conversão da

(OLMEDO, et al., 2010).

pastagem consumida (SANTANA JUNIOR et al., 2013). Segundo SANTANA JUNIOR et al. (2013), a

Além disso, a escolha da dieta pode ser influenciada

taxa de lotação, frequentemente expressa em

em diversas maneiras pelo estado do bovino e

unidade

experiência

animal

por

hectare,

não

recomenda

recente

e

limites

impostos

pela

nenhuma qualidade da pastagem. Entretanto, os

distribuição espacial dos recursos das pastagens. Os

autores afirmam que esta quando associada a uma

bovinos em pastejo são sempre seletivos, isto é, eles

oferta de forragem pré-formada, é um indício do

escolhem atentamente as espécies de plantas

potencial de produção das pastagens tropicais.

forrageiras, plantas individuais e partes das plantas disponíveis. Portanto, a seleção da dieta afeta o

Portanto, a produção de pastagem ao longo do ano

estado nutricional dos animais (SOCREPPA, et al.,

não atende as exigências nutricionais dos bovinos,

2015).

devido principalmente, à estacionalidade na sua produção,

sendo

um

dos

principais

fatores

O bovino procura evitar dietas muito altas ou muito

responsáveis pela baixa produtividade da pecuária

baixas em proteína relativa à energia, dentro da

brasileira (SILVEIRA, et al., 2015).

meta de obtenção de balanço de nutrientes. Os desvios, de natureza qualitativa ou quantitativa,

Formulação de dietas para bovinos criados a

geram desconfortos que o animal tenta minimizar

pasto

quando

sua

capacidade

de

tamponar

estes

desconfortos é ultrapassada ocorre redução de A pecuária é a atividade mais expressiva no setor

consumo e, consequentemente, de desempenho

produtivo

(FERNANDES, et al., 2015).

do

Brasil.

Os

bovinos

são

criados

exclusivamente a pasto, onde obtém o alimento que resultam em produtos para consumo humano como

Com isso, os bovinos criados em pastagens tropicais

carne ou leite. Com isso, a dieta dos bovinos

podem

constitui

por

nutrientes, especialmente durante a estação de

processo de digestão conhecido como fermentação

dormência das gramíneas, que no Brasil é induzida

ruminal, realizada por microrganismos anaeróbios

pelo déficit hídrico durante a época seca. Contudo, a

obrigatórios que vivem simbioticamente no aparato

formulação de dietas suplementar para bovinos em

digestivo, permitem ao bovino o aproveitamento das

pastejo constitui o ato de fornecer uma fonte de

plantas fibrosas. Entretanto, nesse processo, a

nutrientes adicionais para o sistema, e isto seria

população microbiana transforma os carboidratos

refletido em mudanças no consumo de forragens,

fibrosos e não fibrosos em ácidos graxos de cadeia

concentrações de nutrientes, disponibilidade de

curta, principalmente ácido acético, propiônico e

energia dietética, dos precursores bioquímicos do

butírico, fonte de energia para os bovinos criados a

metabolismo

pasto (CODOGNOTO, et al., 2014; PEREIRA, 2013).

(ANDRADE, et al., 2015; MORAES et al., 2010).

basicamente

de

gramíneas,

que

experimentar

e

do

deficiências

desempenho

múltiplas

dos

de

bovinos

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4861-4866, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006

4864


Artigo 399 – Oferta de pastagem como pré-requisito de formulação das dietas – revisão de literatura

CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se que a oferta de forragem traz uma

manejos. Rev. Bras. Saúde Prod. Anim., v.16,

dimensão quantitativa importante para o manejo das

p.36-46, 2015.

pastagens, porém, insuficiente para explicar as relações de que causa efeito na interação pastagembovino. Entretanto, a importância da estrutura do pasto na determinação dos processos de produção

FERREIRA, S.F.; FERNANDES, J.J.R.; PÁDUA, J.T. et al. Desempenho e metabolismo ruminal em bovinos de corte em sistema de pastejo no periodo

das plantas forrageiras, do manejo de pastagens deve

seco do ano recebendo virginiamicina na dieta.

ser visto como ações do produtor que devam ter, por

Semina: Ciências Agrárias, v. 36, p. 2067-2078,

objetivo, manipular a estrutura dos pastos com vistas

2015.

a maximizar a produção animal e a qualidade da pastagem.

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Nesta emergente filosofia de manejo, o manejo de pastagens resume-se na criação de pastos favoráveis à ingestão de nutrientes pelo animal e que também estejam

em

concordância

com

os

atributos

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production

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Artigo 399 – Oferta de pastagem como pré-requisito de formulação de dietas – revisão de literatura

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4866


Características de produção e crescimento de espécies forrageiras para produção de silagem: revisão de literatura

Revista Eletrônica

Alimentação animal, conservação de forragem, silagem . 1

Vol. 13, Nº 06, nov./ dez. de 2016 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Amauri Felipe Evangelista* 1 Laylson da Silva Borges 2 Amanda Nonata Fernandes da Silva 3 Willâmy Fonseca Vogado 4 Kássio Alexandre Marques 1

Mestrando em Ciência Animal, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Centro de Ciências Agrárias, Teresina, Brasil.*E-mail: amaurifelipe17@hotmail.com 2 Graduando em Licenciatura Plena em Pedagogia, Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Bom Jesus. 3 Graduando em Medicina Veterinária, Universidade Federal do Piauí UFPI, Bom Jesus.

PRODUCTION

RESUMO

AND

GROWTH

TRAITS

OF

É fato reconhecido a importância da conservação

SPECIES OF FODDER PLANTS FOR SILAGE:

de forragem no Brasil. Desta forma, há uma

LITERATURE REVIEW

necessidade de se elevar a quantidade e melhorar a qualidade desses alimentos nas épocas mais críticas do ano, isso tem motivado os produtores a produzir silagem em grandes quantidades, que supre a necessidade de seus rebanhos. Neste contexto, a prática de conservação de forragens, na forma de silagem, é conhecida e têm sido bastante aplicadas

nas

gramíneas,

visto

como

uma

alternativa de minimizar estas limitações, com a finalidade de atenuar o problema da escassez de forragens no período de estiagem. Sendo assim, o objetivo desta revisão é de compilar informações características de produção e crescimento de algumas

espécies

forrageiras

utilizadas

para

produção de silagem. Palavras-chave: Alimentação animal, conservação de forragem, silagem.

4867

ABSTRACT The importance of forage conservation in Brazil is a fact recognized. Thus, there is a need to increase the quantity and improve the quality of fodder in most critical seasons of the year, which has motivated farmers to produce silage in large quantities for supplying the demand of their livestock. In this context, the forage conservation in the form of silage is well-known and it has been widely applied in grass, seen as an alternative to minimize those limitations, in order to alleviate the shortage of fodder in the dry season. Thus, the aim of this review is to compile information about production and growth traits of some species of fodder plants used for silage production. Keyword: Animal feed, fodder conservation, silage.


Artigo 400 – Características de produção e crescimento de espécies forrageiras para produção de silagem- revisão de literatura

INTRODUÇÃO

geiras utilizadas para produção de silagem.

Um dos principais problemas que o pecuarista enfrenta no Brasil é a baixa disponibilidade de forragem de alto valor nutritivo em determinadas

REVISÃO DE LITERATURA

forte

Importância de estudar espécies forrageiras para conservação de forragem A conservação de forragem é uma prática

estacionalidade, em decorrência, principalmente, da

fundamental quando se adota o manejo intensivo

má distribuição das chuvas. Este fato leva ao

das pastagens. A ensilagem e a fenação são as

fornecimento de forragens de baixa qualidade aos

principais formas de conservação de forragem

animais, gerando assim em inadequado consumo de

empregadas pelos pecuaristas, não podendo ser

nutrientes, consequentemente comprometendo a

considerados

produção animal.

complementar, pois o alimento produzido apresenta

épocas do ano. Na região Nordeste do Brasil, a produção

de

forragem

apresenta

sistema

características

distintas,

antagônico, de

e

maneira

sim

geral

a

A conservação de alimentos, principalmente de

ensilagem é mais utilizada no Brasil, pois envolve o

volumosos, tem sido utilizada como uma técnica que

uso de máquinas mais simples, com custo mais

permite a utilização desses alimentos em qualquer

baixo,

época do ano. Dessa forma, Carvalho et al. (2013)

MOREIRA, 2001).

quando

comparado

à

fenação

(REIS;

mencionam que para evitar a falta de alimento na época seca, são propostos alguns métodos de

Os processos de conservação de forragem têm

conservação, sendo a silagem uma alternativa para

como objetivo manter um alimento de bom valor

os produtores manterem a produção dos animais no

nutritivo com o mínimo de perdas para uso posterior.

decorrer do ano.

Nesse sentido, a silagem pode ser uma opção interessante, por permitir que o excedente da

A conservação de forragens na forma de silagem é

forragem

uma prática comum de suplementação volumosa de

utilizado na alimentação dos animais durante o

ruminantes em todo o mundo. Os princípios básicos

período de escassez de alimentos (PEREIRA; REIS,

da conservação de forragens são armazenar o

2001).

produzida

possa

ser

armazenado

e

excedente e conservar o seu valor nutritivo, de modo que este permaneça estável até a necessidade de

Silagem é a forragem verde, suculenta, conservada

fornecimento. Nesse contexto Silva et al. (2014)

por

salientam que o conhecimento sobre características

anaeróbica, guardadas em silos. A ensilagem é o

agronômicas e o valor nutritivo das espécies que se

processo de cortar a forragem, colocá-la no silo,

pretende conservar são de fundamental importância.

compactá-la e protegê-la com a vedação do silo para

meio

de

um

processo

de

fermentação

que haja a fermentação (AMIN; PAULA, 2009). Nascimento et al. (2013) afirmam que o método de conservação de alimentos através da silagem tem

A

recebido maior ênfase por parte dos produtores, por

relacionada às características agronômicas das

exigir tecnologia simples e apresentar excelentes

plantas forrageiras, o que torna de suma importância

resultados. As plantas mais recomendadas para

o estudo da relação das partes componentes de

serem ensiladas são as gramíneas, tais como: milho,

cada forrageira antes de indicar sua viabilidade para

milheto, sorgo, capim- elefante e girassol. Outras

essa utilização (MELLO et al., 2006). Uma série de

espécies também podem ser utilizadas, como:

fatores que influencia no processo de produção e

leucena, maniçoba, gliricídia e mandioca.

crescimento

qualidade

da

das

silagem

espécies

está

intimamente

forrageiras,

que

consequentemente vem afetar a silagem, tornando Com base nestes fatos, o objetivo desta revisão é de

um alimento de péssima qualidade, isto acontece

compilar

desde o plantio da forragem até a colheita.

informações

sobre

características

de

produção e crescimento de algumas espécies forraNutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4867-4873, nov./ dez, 2016. ISSN: 1983-9006

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Artigo 400 – Características de produção e crescimento de espécies forrageiras para produção de silagem- revisão de literatura

refletindo-se em bons rendimentos. Sendo assim, a O desempenho animal no pasto é altamente

silagem de milho se destaca, quando comparada

correlacionado com o consumo de forragem, uma

com

vez que esta é a principal fonte de nutrientes para o

nutricional da forragem e se tornando uma forrageira

animal, e o conhecimento sobre

padrão (MENDES et al., 2008).

a forragem

outros

tipos

de

silagem

pela

qualidade

consumida pelo animal em pastejo é de fundamental importância, principalmente em países tropicais, em

A silagem de milho é considerada padrão, em virtude

que a pecuária tem como base as pastagens, e

dos adequados teores de carboidratos solúveis

desse modo, espera-se que a quantidade de

encontrados na planta, que levam à fermentação

forragem consumida aliada a sua qualidade, atenda

láctica, promovendo a conservação de um alimento

totalmente ou em grande parte as exigências de

de alto valor nutritivo (OLIVEIRA et al., 2010).

mantença, crescimento e produção do animal

DEMINICIS et al. (2009), relataram que a silagem de

(PINHEIRO et al., 2014).

milho é considerada padrão por preencher os

Algumas

espécies

forrageiras

utilizadas

na

requisitos para confecção de uma boa silagem com teor de matéria seca entre 30% a 35%, contendo no

produção de silagem

mínimo 3% de carboidratos solúveis na matéria original, baixo poder tampão e por proporcionar boa

Milho

fermentação microbiana. O milho (Zea mays L.) é uma planta de origem tropical pertencente à família Gramineae, pertence

Diante dessas características, o milho é uma

ao grupo das plantas com metabolismo do tipo C4,

forragem essencial para a produção de silagem, pois

que se caracteriza pelo elevado potencial produtivo,

a mesma se destaca no cenário mundial como o

é um dos mais importantes alimentos do setor

volumoso mais utilizado em confinamentos ou semi-

agrícola por ser elemento básico da ração animal.

confinamentos, em virtude de seu elevado teor de

Para produção de silagem, há necessidade de uma

energia

espécie forrageira que apresente produção elevada

rendimento em produtividade por área. E seu uso é

de massa por unidade de área e que seja um

preferível a qualquer outra, onde as condições de

alimento de alta qualidade para

clima são favoráveis ao seu ótimo desenvolvimento.

os

animais,

tradicionalmente, dentre as forrageiras, o milho é a

por

quilograma

de

matéria

seca

e

Milheto

que mais se destaca, sobretudo em razão do seu valor nutritivo e da boa produção de massa por

A produção brasileira de leite tem uma grande influência pela quantidade e qualidade do alimento

unidade de área plantada (ZEOULA et al., 2003).

que o produtor dispõe para seu rebanho. Isso se Para esta prática de conservação de forragem, o milho é cada vez mais recomendado, entre as várias plantas que são utilizadas para a produção de silagem, por se adaptarem melhor as condições climáticas e de solo menos favoráveis. Entre os motivos da preferência dos produtores pelo uso do milho como forrageira para silagem, é a sua facilidade

de

cultivo,

altos

rendimentos

e

especialmente pela qualidade da silagem produzida,

deve em grande parte ao período de estiagem, dessa forma, o uso de forragens conservadas tem sido amplamente recomendado e é muito bem explorado pelos produtores. Dentre várias espécies de forrageiras utilizadas, o milheto (Pennisetum glaucum) surge como opção, pois vem crescendo sua

importância

no

cenário

do

agronegócio

brasileiro, principalmente nos sistemas de produção de leite.

sem necessidade de aditivo para estimular a O milheto é uma planta pertencente à família

fermentação (LUCAS et al., 2010).

Poaceae do gênero Pennise datados de 1929. Na É nítido que o milho é indicado pelas suas características

de

qualidade,

facilidade

de

fermentação no silo e boa aceitação pelos animais, 4869

região Nordeste, foi introduzido na década de 70, pela

Empresa

Pernambucana

de

Pesquisa

Agropecuária (IPA), como cultura de alto potencial e

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4867-4873, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006


Artigo 400 – Características de produção e crescimento de espécies forrageiras para produção de silagem- revisão de literatura

alternativo para a alimentação animal (COSTA et al.,

matéria seca produzida por unidade de área e

2014).

silagem de boa qualidade. No Brasil, apesar de apresentar pouca expressão, a cultura do girassol

O milheto se expandiu nas regiões de cerrado,

vem sendo praticada nos estados do nordeste.

devido

alta

Inúmeras foram as tentativas de fomentar e expandir

resistência à seca e a boa adaptabilidade a solos de

seu cultivo, em diferentes regiões do país, a partir do

baixo nível de fertilidade. O milheto pode ser

início do século XX (CARVALHO et al., 2013).

às

características

da

planta

de

utilizado como planta forrageira, tanto na forma conservada quanto em pastejo para o gado devido à

Apesar de ter sido introduzido no Brasil como uma

capacidade de rebrota da planta. Além disso, pode

oleaginosa, estudos realizados apontam o girassol

ser utilizada ainda como produtora de grãos para

como uma forrageira alternativa tanto na forma de

compor parte da ração de animais e como planta de

ensilagem, quanto consorciado a outras culturas.

cobertura na formação de palhada em sistema de

Assim, o uso do girassol na alimentação animal sob

plantio direto (RÊGO, 2012).

a forma de silagem tem surgido como boa alternativa para o Brasil, devido aos períodos de estiagem, onde

No Brasil, a silagem do milheto ainda é pouco

impossibilitam a produção de alimentos volumosos

estudada, mas alguns trabalhos já demonstraram

de

que é possível produzir forragem em quantidade e

manutenção da produção animal todo o ano

qualidade satisfatórias, principalmente quando a

(EVANGELISTA; LIMA, 2001).

boa

qualidade

e,

consequentemente,

a

cultura é cultivada e manejada adequadamente (GUIMARÃES JÚNIOR, 2013). A silagem de milheto

O cultivo do girassol para produção de forragem

apresenta boa composição nutricional, tornando uma

apresenta

boa alternativa para ser conservado a fim de ser

favoráveis, como menor exigência hídrica, maior

servido aos animais durante o período de estiagem,

adaptação às distintas condições edafoclimáticas,

momento em que a produção de forrageira é baixa

constituindo-se uma opção para rotação de cultura

(BUSO et al., 2011).

na safrinha (GONÇALVES, 2000). As vantagens da

algumas

características

agronômicas

silagem de girassol em comparação a de gramíneas Girassol

como o milho estão na maior tolerância ao déficit

Para a produção de silagem, pode-se utilizar uma

hídrico,

grande variedade de gramíneas e leguminosas.

germinação (até 5°C), menor ciclo vegetativo,

Embora o milho seja considerado a silagem-padrão,

proporcionando mais de um cultivo no verão com

o girassol é uma planta adaptada a diversos climas

outra cultura e qualidade desejada do produto

por ser resistente ao frio e ao calor, além de uma

ensilado e o valor proteico da silagem de girassol,

grande quantidade de matéria seca. Geralmente a

segundo diversos estudos, tem valores superiores

silagem de girassol contém alto teor proteico, devido

(REZENDE et al., 2007).

ao elevado teor de óleo, também possui grande valor energético.

Silagens de qualidade são

requeridas

agricultores

significativos

pelos

incrementos

na

por

propiciar

produtividade

e

menores

temperaturas

na

fase

de

Sorgo A escassez de forragem, agravado na estação seca, e o baixo valor nutritivo da forragem no crescimento

maximizar a rentabilidade do sistema produtivo,

natural

sendo a cultura do girassol (Helianthus annuus L.)

desenvolvimento

uma opção para este fim (POSSATTO JUNIOR et

diminuição da produtividade bem como na diminuição

al., 2013).

da produção de leite e carne, o que torna os produtores

das

dependentes

pastagens,

da

dos

compromete

o

resultando

em

animais,

disponibilidade

de

forragens

O cultivo do girassol sob âmbito mundial apresenta-

conservadas, como a silagem de plantas forrageiras

se como uma opção para finalidade silagem (MELLO

cultivadas e resíduos de culturas para alimentar o gado

et al., 2006), devido a consideráveis quantidades de

em regiões semiáridas (PERAZZO et al., 2014).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4867-4873, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006

4870


Artigo 400 – Características de produção e crescimento de espécies forrageiras para produção de silagem- revisão de literatura

A região semiárida do Brasil é caracterizada pela

alimentação dos animais se constitui como o item de

ocorrência

maior peso no custo de produção (JOBIM et al.,

de

precipitações

mal

distribuídas,

concentradas num curto período chuvoso, seguido de

um

longo

período

de

estiagem,

2007).

essa

característica climática é o principal fator que

O conceito do termo valor nutritivo refere-se à

prejudica a produção agropecuária dessa região,

composição

sendo

digestibilidade.

importante

a

aplicação

de

estratégias

química O

da

valor

forragem nutritivo

e

das

sua

plantas

na

forrageiras é influenciado pela composição química,

produção de forragens (PERAZZO et al., 2013). A

assim como pela digestibilidade e pelo consumo do

silagem surge como uma alternativa para reduzir o

animal.

problema de escassez de alimentos para os animais

forrageira, deve ser reconhecida a sua composição

no período seco.

química, pois o valor nutritivo de um alimento é

específicas

para

obter

maior

rendimento

Ao

fazer

a

avaliação

de

uma planta

definido em função da composição química e dos Entre as diversas espécies de gramíneas, que têm

produtos finais da digestão. Já a qualidade de uma

características para produção de silagem, milho (Zea

planta forrageira é representada pela associação da

mays) e o sorgo (Sorghum bicolor L. Moench) são

composição bromatológica, da digestibilidade e do

aqueles com o perfil mais adequado para este fim,

consumo

devido à facilidade de cultivo, produção elevada de

forragem em questão (GERDES et al., 2000).

voluntário,

entre

outros

fatores,

da

forragem e especialmente, as características que promovem a silagem de fermentação adequada e

A definição mais adequada de qualidade da

uma qualidade satisfatória, como o elevado teor de

forragem é a que relaciona o desempenho do animal

hidratos de carbono solúveis (SILVA et al., 2012).

com o consumo de energia digestível (ED), e neste contexto tem o valor nutritivo, que se refere ao

O sorgo é uma gramínea que vem ganhando espaço

conjunto formado pela composição química da

na

forragem, sua digestibilidade e a natureza dos

utilização

para

silagem

e

que

pode

ser

comparado ao milho que é a principal cultura

produtos de digestão (REIS; RODRIGUES, 1993).

utilizada para produção de silagem no Brasil, em as

A composição química pode ser utilizada como

vantagens do uso do sorgo para produção de

parâmetro de qualidade das espécies forrageiras,

silagem está a alta produção de matéria seca,

contudo deve-se ter em mente, que tal composição é

resistência a situações de déficit hídrico e curtos

dependente de aspectos de natureza genética e

períodos de verão, através da eficiência do uso da

ambiental e, além disso não deve ser utilizado como

água, baixa necessidade de fertilidade do solo e

único determinante da qualidade de uma forragem

possível uso de rebrota se destacam (SILVA et al.,

(ATHAYDE et al., 2012).

relação

aos

valores

agronômicos.

Entre

2011). CONSIDERAÇÕES FINAIS Composição forrageiras

e

valor

nutritivo

de

plantas

É intensa a atividade pecuária na região nordeste do

A conservação de forragens, na forma de silagem é uma técnica indispensável aos sistemas de produção animal, sobretudo, no semiárido. A Região semiárida

Brasil, onde as forragens são as principais fontes de

possui

nutrientes para os animais, assim, é necessário que

girassol, milheto, milho e sorgo que podem ser

estas apresentem boa produtividade e elevado valor

exploradas com grande potencial para produção de

nutritivo. Neste sentido, o setor pecuário demanda

silagem, estes quando são incluídos na dieta dos

cada vez mais alimentos de bom valor nutritivo e a

animais é uma alternativa para melhorar a qualidade

baixo custo, o que pode ser obtido somente por meio

alimentar

de eficiência na produção. Atualmente exige-se

melhorar o desempenho produtivo, obtendo-se animais

maior quantidade e qualidade das forragens e a

terminados de alta qualidade. Em virtude disso, pes-

4871

inúmeras

dos

espécies

mesmos,

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4867-4873, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006

forrageiras

podendo

tais

contribuir

como

para


Artigo 400 – Características de produção e crescimento de espécies forrageiras para produção de silagem- revisão de literatura

pesquisas no âmbito da produção animal, voltada a conservação de forragem, fazem-se necessárias, principalmente

no

Brasil,

pois

devem

ser

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4872


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Ferro para leitões: revisão de literatura Suínos, anemia, ferro, suplementação. Revista Eletrônica

Dejanir Pissinin

1

1

MBA em Agronegócio

Vol. 13, Nº 06, nov./ dez. de 2016 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

Graduação em Tecnologia em Agronegócio

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Técnico em Agroindústria Técnico em Agropecuária

RESUMO O

ferro

IRON SUPPLEMENTS FOR PIGLETS: é

um

micromineral

indispensável

ao

LITERATURE REVIEW

organismo animal, principalmente para os leitões no período neonatal. É essencial na formação da

ABSTRACT

hemoglobina, que é responsável pelo transporte de

Iron is an essential trace mineral to the animal

oxigênio em nível celular. Leitões confinados em

organism, particularly for piglets in the neonatal

piso, sem contato com o solo e que não recebem

period. It is essential in the formation of hemoglobin,

suplementação de ferro, podem ter mortalidade de 6

which is responsible for the transport of oxygen at the

a 60%. Além disso, a anemia ferropriva pode levar à

cellular level. Piglets confined in floor, without contact

ocorrência

maior

with the ground and who do not receive iron

predisposição a infecções e, consequentemente,

supplementation can be 6 to 60% mortality. In

afetar a conversão alimentar dos animais. Diversas

addition, iron deficiency anemia can lead to the

formas de fornecimento de ferro podem ser utilizadas

occurrence

para suprir essas necessidades, visando manter

predisposition to infection and consequently affect

níveis

de

baixo

adequados

desenvolvimento,

development,

greater

de

the feed conversion. Various forms of iron supply

desde

o

may be used to meet these needs, in order to

fornecimento de terra vermelha, aplicações injetáveis

maintain adequate levels of hemoglobin and iron

de ferro dextrano, aplicação de pasta antianêmica

storage, ranging from the supply of Red Earth, iron

nas tetas das porcas, suplementação das rações

dextran injectable applications, application applying

com sulfato ferroso ou ainda a utilização via oral de

anti anemic folder in the teats of nuts, feed

suplemento alimentar ultra precoce (SAUP), rico em

supplementation with ferrous sulfate or the oral use

ferro quelatado em pó.

of dietary supplement ultra early (SAUP) with plenty

Palavras-chave: suínos, anemia, ferro,

of chelated iron powder.

suplementação.

Keyword: anemia, iron, supplementation.

4874

de

ferro,

hemoglobina

low

e

armazenamento

de

of

que

vão


Artigo 401- Ferro para leitões – revisão de literatura

INTRODUÇÃO

em sistemas biológicos se encontra em dois estados

Diante dos avanços tecnológicos, a suinocultura,

de

cada vez mais, necessita que todas as etapas do

(BRAGA; BARBOSA, 2006), sendo a forma ferrosa a

processo produtivo sejam conduzidas de forma

mais solúvel e, portanto, a mais indicada como

adequada.

suplemento (BERTECHINI, 2012).

A falta de atenção a determinados

oxidação:

ferroso

(Fe2+)

e

férrico

(Fe3+)

detalhes, como os ligados à nutrição, por exemplo, pode comprometer a eficiência de toda a produção.

Em alguns aspectos, o ferro pode ser considerado como um micromineral necessário em quantidades

Aspectos da nutrição mineral de suínos são

pequenas

relativamente pouco estudados, provavelmente em

Entretanto, sua presença em quantidades muito

razão de representarem uma pequena parcela dos

maiores

custos com alimentação. Contudo, os minerais

necessidades do organismo sejam, em determinados

participam

casos, mais difíceis de corrigir do que as de outros

do

metabolismo

basal

e

formação

como na

cofator

hemoglobina

de faz

muitas com

enzimas. que

as

tecidual de suínos, sendo essenciais para a saúde e

oligoelementos

o desempenho dos animais.

componente importante da hemoglobina nas células

(WORWOOD,

1996).

É

um

vermelhas do sangue, sendo também encontrado De acordo com Bertechini (2012), os minerais são

nos músculos como mioglobina, no soro como

classificados segundo suas necessidades orgânicas

transferrina, na placenta como uteroferina, no leite

em macrominerais e microminerais, sendo que

como lactoferrina e no fígado como ferritina e

esses

hemosiderina, além de desempenhar um papel

últimos

também

são

denominados

de

elementos traço.

importante no corpo (ZIMMERMAN, 1980; DUCSAY et al., 1984), sendo também componente de enzimas

Dentre os microminerais, o ferro assume posição de

metabólicas (NRC, 1998).

destaque, pois é o de maior exigência dietética e, seguramente, o mais estudado. O ferro tem

As exigências de ferro de alguns animais, como os

importância significativa para os leitões no período

bovinos, por exemplo, são, em condições normais,

neonatal devido a uma série de fatores, como a

supridas pela alimentação, caso que não se aplica

baixa transferência de ferro para os leitões através

aos

da placenta, a reduzida reserva de ferro no

suplementar de ferro. A elevada exigência de ferro

nascimento, o baixo teor de ferro no colostro e no

dos leitões é causada, principalmente, pela rápida

leite materno e a rápida velocidade de ganho de

taxa de crescimento após o nascimento quando

peso inicial quando comparado a outras espécies.

comparado a outras espécies, confinamento e a

Esses fatores se tornam ainda mais relevantes na

baixa transferência placentária e mamária da fêmea

suinocultura moderna devido à ausência de contato

para a sua prole (ALLEN, 2005). Assim, uma prática

direto dos suínos com o solo e ao melhoramento

padrão nas granjas de suínos é a suplementação de

genético, que tem promovido leitegadas maiores,

ferro para os leitões nos primeiros dias de vida.

suínos,

que

necessitam

de

uma

fonte

com maior velocidade de ganho de peso e de alta precocidade, o que aumenta ainda mais a exigência

Os leitões apresentam baixa taxa de armazenamento

de ferro nos leitões. Baseado nisso, este estudo

de ferro corporal inicial quando comparados a outros

objetivou elaborar uma revisão de literatura sobre a

animais domésticos e ao próprio homem, conforme

necessidade de ferro para os leitões no período

demonstrado na Tabela 1. A concentração de ferro

neonatal.

no corpo de um leitão no momento do nascimento é de aproximadamente 20 a 30 partes por milhão

NECESSIDADES DE FERRO DOS LEITÕES

(VENN et al., 1947).

O ferro é um metal de transição de número atômico 26, sendo um dos mais abundantes na terra. Apesar de sua abundância, é insolúvel no meio ambiente e 4875

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4874-4882, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006


Artigo 401- Ferro para leitões – revisão de literatura

TABELA 1 - Concentração de ferro no tecido do

com o objetivo de suprir as necessidades deste

corpo livre de gordura (ppm)

elemento para manutenção do nível de hemoglobina circulante no sangue dos recém-nascidos (SANSOM,

Espécies

Novos

Adultos

Leitão

29

90

Gato

55

60

Coelho

135

60

Humano

94

74

1984). Não há meios eficazes de aumentar a transferência placentária e mamária de ferro da fêmea para a sua prole. Estudos mostram conclusivamente que a administração de ferro nas fêmeas por via oral ou injetável

Fonte: Widdowson (1950)

não

aumentou

suficientemente

a

concentração de ferro nos leitões ao nascer e nem a No nascimento, os leitões possuem, principalmente,

concentração no leite para prevenir a anemia

reserva hepática para o atendimento da alta

ferropriva (POND et al., 1961). Brady et al. (1978)

necessidade

também

nutricional

hemoglobina,

mas

para

esta

biossíntese

reserva

se

de

verificaram

que,

mesmo

fêmeas

esgota

alimentadas durante a gestação com altos índices de

rapidamente, podendo não durar mais do que 5 dias

ferro na dieta, seja como sulfato de ferro ou quelatos

para os leitões maiores (BERTECHINI, 2006). O

de ferro ou ainda de forma parenteral não elevaram

leitão, ao nascer, possui aproximadamente 50 mg

suficientemente a transferência de ferro para o feto.

(miligramas) de ferro, sendo que a maioria está

Estes

depositada na forma de hemoglobina (MUNRO,

deficiência de ferro em leitões que tiverem acesso às

1977).

fezes maternas, ricas em ferro (KIEFER, 2005).

níveis

podem,

no

entanto,

prevenir

a

Contradizendo as pesquisas até então relatadas, O colostro e o leite materno são uma fonte pobre

Bertechini (2012) afirma que a suplementação de

deste nutriente, contendo apenas de 1 a 3 ppm

ferro a 80 ppm na forma orgânica (quelatada) para

(partes por milhão) de ferro (VENN et al., 1947).

porcas, faltando 30 dias para o parto e prosseguindo

Esse fornecimento de aproximadamente 1 mg/dia

até 21 dias pós-parto, poderia suprir a aplicação de

(Tabela 2) corresponde a 15% das necessidades

ferro em leitões.

reais dos leitões, o que implica em uma deficiência de 85% que deve ser mobilizada dos depósitos do

Deve ser ressaltado, também, que o leitão recém-

organismo, que são baixos (SCHWEIGERT et al.,

nascido possui taxa de crescimento elevada, tendo o

2000). Monteiro (2006) citou resultados semelhantes

seu peso quadruplicado em três semanas de vida

e ratificou o achado de Venn, o qual constatou que o

(SOBESTIANSKY et al., 1999; SCHWEIGERT et al.,

nível

2000). Este rápido crescimento aliado ao aumento

de

ferro

presente

no

leite

é

de

do volume plasmático exige uma alta ingestão de

aproximadamente 2,3x10-³ mg/mL.

ferro para manter a hemoglobina adequada e, dessa TABELA 2 - Consumo aproximado de ferro via leite 1

Prod. leite g/dia 2 Ferro no leite (mg) N° de leitõe² 1 Consumo de leite/ leitão/dia (g)

12000 12 12 1000

Consumo médio ferro/leitão/dia - leite 2 (mg) 1

O leitão recém-nascido necessita, para uma taxa de crescimento normal, de 7 a 16 mg de ferro por dia (VENN et al., 1947). Outra forma também utilizada para estimar a necessidade de ferro dos leitões é

1,2

Fonte: adaptado de Whittemore (1996) e Venn et al. (1947)

forma, evitar a anemia ferropriva.

relacioná-la com o ganho de peso, ou seja, na primeira 2.

semana de idade o leitão tem a necessidade de

Em decorrência da baixa concentração férrica do

21mg de ferro para cada quilograma de ganho de

leite da fêmea suína, há a necessidade de

peso (BRAUDE et al., 1962), de forma que, se nesta

suplementação de ferro ao nascer para os leitões

fase houver um ganho de 1,5 kg, tem-se uma

alimentados exclusivamente com o leite materno,

demanda de 31,5 mg de ferro (BERTECHINI, 2006).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4874-4882, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006

4876


Artigo 401- Ferro para leitões – revisão de literatura

A necessidade estimada por Braude et al., (1962) de 21 mg de ferro por kg de aumento de peso vivo leva em consideração que 90% do requisito de ferro ao

Idade Peso Volume de Hemogl Conteúdo de (seman vivo sangue aprox. obina ferro na Hb as)¹ (kg)¹ (mL)² (g)¹ (mg)¹ 0 1,3 112,5 12,3 41,8

longo das primeiras semanas de vida é representado

1

2,7

211,5

28,8

97,9

pela exigência para síntese de hemoglobina, sendo

2

4,2

314,0

38,4

130,6

assumido um nível de hemoglobina de 8g/100 mL de

3

6

469,0

52,1

177,1

sangue e um volume de sangue de 70 mL/kg de

4

7,8

585,5

66,1

224,7

peso corporal. Com base nesses dados, a exigência

5

9,8

710,5

80,9

275,1

de ferro para síntese de hemoglobina é de cerca de

Adaptado de Annenkov et al.¹ (1982) e Talbot (1963)²

19 mg e o requisito total de 21 mg por kg de Na

aumento de peso vivo.

Tabela

3,

pode

ser

verificado

o

rápido

crescimento do leitão aliado ao aumento do volume Com relação às necessidades de ferro, Annenkov et

de sangue e isso exige uma alta ingestão de ferro

al. (1982) mencionam que o nível ótimo de

para manter o conteúdo de hemoglobina adequado.

hemoglobina é de 11g/100 mL de sangue e do total

Considerando apenas as necessidades de ferro para

de ferro presente no organismo cerca de 80% está

manter o nível de hemoglobina ideal (11g/100mL de

na molécula de hemoglobina que contém 0,34% de

sangue) e levando em consideração o volume de

ferro. Se for considerado um nível de 11g/100 mL de

sangue mencionado por Talbot (1963), obtém-se

sangue como ideal, ter-se-á necessidades de ferro

valores

superiores às mencionadas por Braude et al. (1962).

próximos ao mencionado por Venn et al. (1947), de 7

Estas variações quanto às necessidades diferem

mg/dia.

referentes

às

necessidades

de

ferro

os

As exigências de ferro são maiores nas

autores mencionam valores diferentes para as taxas

fases iniciais e de crescimento quando a demanda

de crescimento e níveis de hemoglobina em seus

para síntese de mioglobina é grande. Quanto ao

animais. Há uma diferença considerável entre os

aproveitamento do ferro da dieta, este varia de

valores de necessidade diária e dose diária citada na

acordo com a idade dos animais, de forma que os

literatura,

leitões recém-nascidos conseguem assimilar uma

consideravelmente,

que

principalmente

podem

ser,

em

porque

grande parte,

maior quantidade de ferro quando comparados com

atribuídos ao nível variável de absorção de ferro.

animais de idade mais avançada (BERTECHINI, Talbot (1963) calculou o volume de sangue de

2012), como pode ser verificado na Tabela 4.

leitões no período inicial de vida e obteve dados aproximados aos já encontrados por Hansard et al.

TABELA 4 – Assimilação de ferro dietético por suínos

(1953), que observaram uma diminuição progressiva

Idade

Assimilação (%)

do volume total de sangue em relação ao peso vivo

1 – 5 dias 56 – 63 dias

95 – 99 12

com o aumento da idade.

Fonte: Bertechini (2006b)

Os dados da Tabela 3 são referentes à idade, peso

A absorção e a biodisponibilidade do ferro podem ser

vivo,

na

afetadas por vários fatores, tais como a idade dos

hemoglobina mencionados por Annenkov et al.

animais, o estado do ferro, a espécie, a dosagem e a

(1982) e estão relacionados ao volume de sangue

presença de outros componentes na dieta. Suínos

aproximado encontrados por Talbot (1963) em

mais jovens assimilam melhor o ferro e sofrem mais

leitões da mesma idade.

com problemas de anemia do que outras espécies. A

hemoglobina

e

conteúdo

de

ferro

absorção de ferro da hemoglobina apresenta relação TABELA 3 – Volume de sangue, quantia de

inversa ao nível de dosagem e a forma ferrosa é

hemoglobina e conteúdo de ferro em leitões com

mais

diferentes idades e pesos vivos

EASTER, 1999).

4877

absorvível

que

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4874-4882, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006

a

férrica

(ANDERSON;


Artigo 401- Ferro para leitões – revisão de literatura

Animais com deficiência em ferro absorvem este

Apesar da essencialidade do ferro, Puntarulo (2005)

elemento em maior quantidade se comparados a

menciona que o mesmo pode apresentar efeitos

animais com nível adequado deste mineral, que

tóxicos quando em excesso, causando um estresse

transferem apenas pequena porção dele para o

oxidativo com danos à membrana lipídica celular.

sangue (CONRAD e CROSBY, 1963).

Esse efeito nocivo pode ocorrer em aplicações injetáveis de ferro dextrano em dose excessiva e

A necessidade de adição de ferro na dieta diminui

fornecida em aplicação única.

com a idade e peso dos suínos, devido à diminuição do volume sanguíneo por unidade de peso corporal

A

suplementação -1

de

ferro

em

altas

doses

e a maior ingestão diária de ferro, devido ao maior

(5.102mg.kg

consumo de alimento (SOBESTIANSKY et al.,

desempenho de leitões devido à deficiência de

1999).

fósforo por interferência na sua absorção (YU et al.,

ferro)

causa

efeito

adverso

no

2000). O ferro depositado em excesso nos tecidos Braud et al. (1962) e Miller (1980) afirmaram que

pode causar lesões graves, particularmente no

mais de 90% do ferro dextrano injetável (100 ou 200

coração, glândulas e no fígado (HOFFBRAND et al.,

mg)

na

2004). A busca pelo aumento da disponibilidade

o

mineral para os animais pode gerar também uma

fornecimento. Harmon et al. (1974), Thoren-Tolling

suplementação excessiva e este excesso pode gerar

(1975) e Cornelius e Harmon (1976) verificaram que

efeitos prejudiciais, levando a uma redução da ação

doses de ferro dextrano semelhantes às injetadas,

metabólica de outros nutrientes, além de não

se administradas via oral durante as primeiras 12

melhorar sua concentração e causar poluição

horas após o nascimento dos leitões (antes do

ambiental (KIEFER, 2005).

absorvido

hemoglobina

é

em

incorporado até

4

diretamente

semanas

após

fechamento do intestino), também têm promovido eficiente incorporação de ferro na hemoglobina.

Considerando que tanto o excesso quanto a deficiência de ferro são prejudiciais, podendo causar

De acordo com Amaral et al. (1995) e Sobestiansky

a morte celular, o desafio consiste em evitar a

et al. (1985, 1999), a mortalidade em função da

deficiência e o excesso para que, dessa forma,

anemia ferropriva em rebanhos confinados, em que

possa ser obtida a maior eficiência produtiva com

os leitões recebem ferro somente através do leite

menores custos e evitando problemas ambientais.

materno, varia de 6 a 60%. Lopes (1982) também salienta a importância do ferro entre os minerais essenciais para suínos como elemento vital para o seu

desenvolvimento,

influência

negativa

pois na

a

deficiência

tem

sobrevivência

e

desenvolvimento dos leitões. Assim como os demais minerais, o ferro segue a mesma regra em que não só a deficiência é

MÉTODO DE ANÁLISE DE BIODIAGNÓSTICO De acordo com Zimmermam (1980), a hemoglobina se torna um indicador atraente para medir a biodisponibilidade de ferro, devido basicamente a dois fatores: primeiro, pelo fato de ter elevada taxa de ferro, tornando-se assim um sensível detector de absorção e; em segundo lugar, a relativa facilidade

prejudicial, mas também o excesso e, portanto, os

de realizar sua determinação. O nível adequado de

seus níveis devem ser controlados.

hemoglobina no sangue dos leitões deve ser igual ou superior a 10g/dL (gramas/decilitro), enquanto que

Um nível excessivo de ferro (superior a 200 mg)

valores iguais ou inferiores a 7g/dL indicam quadro

administrado injetável ou por via oral deverá ser

anêmico, conforme pode ser observado na Tabela 5.

evitado porque o ferro sérico não ligado incentiva o

O nível normal de hemoglobina no sangue em

crescimento de bactérias e resulta em maior

suínos é de 10 a 16g/dL (JAIN, 1993).

susceptibilidade a diarreias e infecções, além de causar reduções na taxa de crescimento (KADIS et al., 1984). Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4874-4882, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006

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Artigo 401- Ferro para leitões – revisão de literatura

TABELA 5 – Níveis de hemoglobina no sangue e suas consequências Hemoglobina (g/100mL de sangue) 10 ou acima 9 8 7 ou inferior 6 ou inferior 4 ou inferior

Consequências Nível normal de ferro para ótimo desempenho. Nível mínimo necessário para desempenho médio. Linha divisória entre a normalidade e a anemia. Anemia limite. Tratamento com ferro é necessário. Estado anêmico com retardo de crescimento. Anemia grave acompanhada de acentuada redução de desempenho. Anemia grave que pode resultar em aumento da taxa de mortalidade.

Fonte: Cunha (1977)

Além dos níveis de hemoglobina no sangue, as

 Utilização de pasta antianêmica nas tetas das

alterações do ferro podem ser avaliadas por meio de

porcas: esse método é de difícil implementação e

outras formas laboratoriais comumente utilizadas,

não garante o consumo adequado de ferro.

tais como a determinação sérica do ferro, a

 Utilização de terra vermelha (rica em ferro): essa

capacidade total de ligação do ferro, a concentração

prática não é muito aceita em criações tecnificadas,

de ferritina, o índice de saturação da transferrina e a

em razão da qualidade do material e da maioria do

avaliação do conteúdo de ferro medular (ALENCAR

ferro se apresentar na forma férrica, que possui

et al., 2002).

baixa solubilidade.  Suplementação das rações com sulfato ferroso: é

FONTES E FORMAS DE FORNECIMENTO DE

um meio adequado de suplementação, porém os

FERRO

leitões

Existem diversas fontes e maneiras para suprir a

normalmente a partir de 7 dias de idade, sendo que

carência de ferro nos leitões, conforme será

o período mais crítico é na primeira semana.

mencionado na sequência.

 Suplementação das porcas durante a gestação

começam

a

ingerir

alguma

ração

com ferro na forma orgânica: essa medida pode De acordo com Bertechini (2012), o colostro

aumentar as reservas hepáticas ao nascer e também

apresenta quase o dobro de ferro comparado com o

o teor de ferro do leite.

leite normal, o que contribui na economia de uma

Quanto a fontes orgânicas de suplementação de

parte da reserva orgânica no primeiro dia de vida do

ferro,

leitão. Os leitões de maior peso competem pelas

determinar a sua biodisponibilidade. Porém, Spears

tetas de maior produção de leite, desenvolvem-se

et al. (1992), comparando fontes de ferro metionina

mais rapidamente e se não forem suplementados

com fontes inorgânicas concluíram, por meio da

com ferro esses animais serão os primeiros a

concentração

apresentar sinais de deficiência desse micromineral.

biodisponibilidade do ferro orgânico foi de 180%

No entanto, existem diversas formas de suprir o ferro

quando

que o leitão necessita, como mencionado por

consideradas como 100%.

poucos

estudos

de

comparada

foram

conduzidos

hemoglobina, às

formas

para

que

a

inorgânicas,

Bertechini (2012):  Aplicação intramuscular de 100 mg de ferro (ferro

Estudos têm sido feitos em que as fêmeas

dextrano ou outras associações) no 3° e 11° dias de

receberam suplemento à base de ferro na gestação

vida do leitão. Pode se aplicar 200 mg de uma única

e os resultados geralmente são pobres quando se

vez, porém isso implica em maior injúria no tecido e

utilizam

maior estresse pela intensa dor causada na

utilização do ferro é feita na forma de quelatos, têm

aplicação. Cabe destacar que a aplicação fracionada

melhorado

é a maneira mais segura de garantir o suprimento de

hepático, formação de hemoglobina e o crescimento

ferro.

dos leitões (MATEOS et al., 2004).

4879

fontes

inorgânicas.

significativamente

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4874-4882, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006

Porém, o

nível

quando de

a

ferro


Artigo 401- Ferro para leitões – revisão de literatura

As fontes inorgânicas de ferro apresentam uma variação

de

disponibilidade

(AMMERMANN

et

al.,

de

10

1995),

a

100%

porém

a

disponibilidade relativa de ferro oriunda dos quelatos (fontes orgânicas) pode variar de 125 a 185% (HENRY; MILLER, 1995). Os

estudos

animadores,

com embora

minerais alguns

quelatados

são

trabalhos

não

apresentem respostas diferentes das apresentadas quando se fornece o mineral na forma inorgânica, porém

em

maior

concentração.

A

maior

biodisponibilidade dos minerais quelatados propicia a redução do uso, minimiza o impacto ambiental, porém o custo elevado é um entrave. Além das formas já mencionadas, a utilização de suplemento alimentar ultra precoce (SAUP) via oral em substituição à aplicação intramuscular de ferro

TABELA 6 – Dose mínima necessária de ferro dextrano a ser aplicada N° de Necessidad Ferro Reservas Ferro Deficiê Dose de dias es via ferro- fornecid ncia ferro totais/leitão leite nasciment o via (mg) dextrano (mg) (mg) o (mg) ração necessá (mg) ria (mg)

35

245

35

8

64

138

148,9

Fonte: Adaptado BRAUDE et al., 1962

A Tabela 6 leva em consideração os seguintes aspectos: 92,7% do ferro aplicado foi recuperado (BRAUDE et al., 1962); necessidade diária de 7 mg/dia, reservas no nascimento de 8 mg e ferro fornecido via leite de 1 mg/dia (VENN et al. 1947); e consumo de ferro na ração no período de 64 mg (consumo de ração de 4 kg até 35 dias (EMBRAPA, 1988)), concentração de ferro na ração de 80 mg/kg (NRC, 1998) e absorção de 20% do ferro da ração (ANNENKOV et al.1982).

dextrano na fase pré-inicial dos leitões vem sendo testada com resultados promissores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do mencionado nesta revisão, é visível a

A aplicação injetável de ferro dextrano continua

importância da suplementação de ferro para evitar a

sendo uma das opções mais utilizadas para suprir as

anemia ferropriva em leitões, principalmente nos

necessidades de ferro em leitões. Braude et al.

animais confinados. A suplementação pode ser feita

(1962) menciona que possivelmente 180 mg de ferro

de várias formas, porém pesquisas na área de

dextrano injetável forneça ferro suficiente para

microelementos, mais especificamente relacionadas

manter um nível de hemoglobina satisfatório no

ao ferro, não têm recebido a devida importância, ao

sangue durante as primeiras 5 semanas de vida,

menos na literatura científica, sendo a maior parte delas desenvolvida há muitos anos atrás, utilizando

antes do leitão obter ferro dos alimentos com

dietas distintas das empregadas atualmente e

fluência. Porém, se for levado em consideração que

animais com potencial genético completamente

o leitão consome aproximadamente 4,0 kg de ração

diferente do atual.

pré-inicial até os 35 dias (EMBRAPA, 1988) e que a mesma apresenta em média 80 mg/kg de ferro

Pesquisas

devem

(NRC, 1998) com uma absorção estimada de 20%

alternativas eficientes e economicamente viáveis

(ANNENKOV et al.1982), ter-se-ia um incremento de

para complementar ou substituir as já existentes,

64 mg de ferro que poderá ser reduzido da aplicação

facilitando o manejo, eliminando ou reduzindo os

injetável ou oral.

efeitos

negativos

ser

e

realizadas

proporcionando

buscando

melhores

resultados, tanto produtivos e econômicos quanto Quando em condições fisiológicas normais, a

ambientais.

excreção de ferro é mínima, sendo a maioria proveniente do ferro não absorvido da dieta (SECHINATO,2003).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4874-4882, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006

4880


Artigo 401- Ferro para leitões – revisão de literatura

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4882


Pigmentantes naturais e alimentação alternativa para codornas japonesas Corante, coturnicultura, gema, ovo.

Revista Eletrônica

. 1

Vol. 13, Nº 06, nov./ dez. de 2016 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO A coturnicultura

brasileira vem

despertando a

Weslane Justina da Silva 3 Poliana Carneiro Martins 1 Alison Batista Vieira Silva Gouveia 2 Fabiana Ramos dos Santos Cibele Silva Minafra² 1

Discente de pós-graduação mestrado em Zootecnia do Instituto Federal Goiano (IFGoiano), Campus Rio Verde, GO. E-mail: cibele.minafra@ifgoiano.edu.br 2 Zootecnista, Profa. Dra. Instituto Federal Goiano (IFGoiano) – Campus Rio Verde-GO. 3 Discente de pós-graduação, doutorado em ciência animal da Universidade Federal de Goiás- Campus Samambaia, Goiânia– GO.

NATURAL PIGMENTS AND ALTERNATIVE FOOD FOR JAPANESE QUAILS

atenção e o interesse de pesquisadores que

ABSTRACT

contribuem para o aprimoramento e fixação dessa

Brazilian coturniculture has attracted the attention

exploração como fonte rentável na produção avícola,

and interest of researchers contributing to the

atraindo produtores, devido ao seu grande retorno

improvement and fixation of exploitation as profitable

lucrativo e à diversidade de seus produtos. As

source in poultry production, attracting producers,

codornas têm carne saborosa e ovos que, sejam in

due to its large profitable return and diversity of its

natura, cozidos ou em conserva estão presente em

products. Quails has tasty meat and eggs that are

vários pontos de venda de alimentos. A produção de

fresh, cooked or canned are present in several points

ovos se deve a alta fertilidade, rápido crescimento,

of sale of food. Egg production is due to high fertility,

maturidade sexual precoce e longevidade da ave.

rapid growth, early sexual maturity and longevity of

Apesar do baixo consumo de ração os custos com a

the bird. Despite the low feed intake the food costs

alimentação podem ser reduzidos com o uso de

can be reduced with the use of substitutes for

substitutos para os alimentos tradicionais, sem

traditional foods, while meeting the requirements of

deixar de atender às exigências da ave. Alguns

the bird. Some alternative feedstuffs reduce the

alimentos

a

pigmentation of egg yolk, due to the low amount of

pigmentação da gema do ovo, devido à baixa

carotenoids in their composition. However the

quantidade de carotenos em sua composição. No

inclusion of natural pigments in the feed is effective

entanto a inclusão de pigmentos naturais nas rações

in improving the yolk color without affecting the

é eficiente em melhorar a coloração da gema sem

nutritional value of the ingredients and the production

afetar o valor nutricional dos ingredientes e o

performance of quails, creating a quality product and

desempenho zootécnico das codornas, gerando um

cheaper to producer.

produto de qualidade e mais acessível para produtor.

Keyword: dye, coturniculture, yolk, egg.

alternativos

utilizados

reduzem

Palavras-chave: corante, coturnicultura, gema, ovo.

4883


Artigo 402 – Pigmentantes naturais e alimentação alternativa para codornas japonesas

INTRODUÇÃO

A criação comercial de codornas no Brasil teve início

A codorna (Coturnix coturnix) é uma ave migratória

em 1989, implantada inicialmente no Sul do Brasil.

de origem européia, domesticada pelos japoneses

Atualmente, a coturnicultura tem grande importância

desde

na

1300

crescimento,

D.C.

A

alta

maturidade

fertilidade,

sexual

rápido

precoce

economia

agropecuária,

e

criações

e

automatizadas e tecnificadas aliadas a novas formas

longevidade favoreceram sua criação com baixo

de comercialização do ovo e da carne de codornas

investimento e rápido retorno financeiro. No Brasil a

têm dado ao Brasil, desde 2011, a posição de quinto

produção de ovos é mais representativa pela

maior produtor mundial de carne de codornas e

subespécie Japonica, sendo a produção de carne

segundo maior produtor mundial de ovos (SILVA et

proveniente do abate de machos não utilizados

al., 2011).

(TEIXEIRA et al., 2013). A coturnicultura é um ramo da avicultura de grande O baixo consumo de ração pela codorna não

interesse, por possibilitar um melhor retorno do

extingue os custos de produção, pois estas aves

capital investido dos seus produtos (carne e ovos)

consomem mais proteína e são mais exigentes

além de ser uma alternativa para a alimentação

nutricionalmente

humana (TEIXEIRA et al., 2013).

do

que

frangos.

Contudo,

a

utilização de ingredientes alternativos ao milho nas rações proporciona uma redução nos gastos com a

Qualidade de ovos

alimentação sem acarretar prejuízos no desempenho

O alimento proteico ovo possui alto valor nutricional

animal (GARCIA et al., 2012).

na alimentação das famílias, no entanto, apresenta alto custo de aquisição. O ovo consiste em uma

O milho é a principal fonte de pigmento amarelo em

fonte de proteína barata para as famílias de baixo

rações comerciais de aves, portanto, ao substituí-lo

poder aquisitivo, atende aos requisitos nutricionais

por alimentos alternativos, como por exemplo, o

do organismo e de fácil aquisição (OLIVEIRA, 2008).

sorgo e o milheto, a pigmentação da gema é alterada. Segundo MOURA et al. (2011) ao substituir

O ovo de codorna é composto de nutrientes

totalmente o milho por alimentos pobres em

essenciais á nutrição humana, vitaminas A, D, E, K,

carotenos nas rações para codornas japonesas em

B1 (tiamina), B2 (riboflavina), ácido ascórbico

postura, ocorre uma redução na cor da gema, sendo

(vitamina

interessante a inclusão de pigmentantes na ração

piridoxina, lipoproteínas, fosfolipídios, ácidos graxos

para solucionar este problema.

e minerais, como ferro, fósforo, zinco, manganês,

Objetivou-se com esta revisão expor a utilização de pigmentos naturais na ração, alimentos alternativos, e seus efeitos sobre a coloração e a qualidade dos

C),

ácido

fólico,

cálcio,

e

componentes

luteína

e

zeaxantina,

ácido

bioativos, colina

e

Pantatênico,

carotenoides, lecitina,

sua

composição é influenciada pela nutrição da ave (TACO, 2011).

ovos de codornas japonesas. SOBRAL et al. (2009) verificaram que o ovo de REVISÃO DE LITERATURA

codorna tem em média 74,6% de umidade, 13,1% de

Codornas

proteína, 1,1% de minerais e 11,2% de lipídeos, e

As codornas são originárias do norte da África, da

que em 100g de ovo tem-se 59 mg de cálcio, 220 mg

Europa e da Ásia, pertencem à família dos

de fósforo, 3,8 mg de ferro, 300 UI de vitamina A e

Fasianídeos

158 kcal de energia.

Perdicinidae.

(Phasianidae)

e

à

sub-família

Foram criadas primeiramente na

China, Coréia e Japão, e após vários cruzamentos

A estrutura física do ovo de codorna compreende

deram origem à Coturnix coturnix japonica, ou

formato oval-arredondado, com aproximadamente 3

codorna doméstica, com plumagem cinza-bege e

cm de comprimento e 2,5 de largura (THOMPSON et

pequenas listras brancas e pretas, apta à produção

al., 1981), o peso pode chegar próximo a 13g,

de carne e ovos (PINTO et al., 2002).

representa 6% do peso corporal, dependendo da

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4883-4890, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006

4884


Artigo 402 – Pigmentantes naturais e alimentação alternativa para codornas japonesas

idade e da espécie de codorna (PEREIRA et al., 2016). De acordo com GENCHEV, (2012), 31% a

uma pigmentação da gema que varia do amarelo ao laranja (OLIVEIRA et al., 2008).

37% de gema, 53,5% a 59,5% de albúmen e 9% a GARCIA et al. (2012), observaram uma redução

10% de casca.

linear para o índice de pigmentação da gema à O ovo é um alimento altamente nutritivo e perecível, logo após a postura está sujeito a sofrer alterações físico-químicas, como a perda de dióxido de carbono (CO2) e a água através da evaporação do albúmen para o fluído externo, tornando-o propenso à contaminação,

o

que

deprecia

sua

qualidade

nutricional (FREITAS et al., 2011; MOURA et al., 2008).

medida que se aumentou a inclusão de milheto nas rações, pois este alimento tem baixa concentração de carotenoides. Pigmentos naturais Os pigmentantes naturais como os carotenoides (xantofilas),

caracterizam-se

responsáveis

pelas

cores,

por amarelo,

compostos laranja

e

vermelho dos alimentos, frutas, alguns peixes, como A qualidade e a aparência do ovo, podendo estar

salmão e a truta, alguns crustáceos e gema de ovo.

relacionada à alimentação e à genética da ave, além da Unidade Haugh, os parâmetros utilizados para avaliar a qualidade dos ovos são as variáveis para a qualidade externa: peso dos ovos, percentual de ovos trincados, e para a qualidade interna: peso da gema, índice de gema, porcentagem de clara, gema e casca.

Nas aves o metabolismo dos pigmentos como os carotenos presentes nos alimentos se dá pela absorção a luz do lúmen intestinal, onde os carotenoides são transportados juntamente com os lipídeos e adentram nas células pelas lipoproteínas presentes na membrana celular, estes pigmentos podem se acumular na célula de diversos tecidos

Cor da gema A maioria dos componentes do ovo é metabolizada no fígado, e o acúmulo de nutrientes na circulação sanguínea faz com que sejam transportados até o ovário, onde ocorre a deposição dos compostos lipossolúveis, lipídios, fosfolipídios, colesterol e, os carotenoides que dão a cor amarelo-laranja da gema (LOPES et al., 2011).

ricos em lipídeos, como é o caso da gema do ovo (FAEHNRICH et al., 2016) O pigmento β-caroteno é encontrado em todas as folhas verdes, a criptoxantina no milho amarelo e o licopeno no tomate. Este grupo de pigmentos tem função biológica de pro-vitaminas A, que ao serem hidrolisados a retinol no intestino, é armazenado e metabolizado no fígado da ave a palmitato, um

A cor da gema é uma característica de relevância econômica por ser associada à sua qualidade nutricional.

componente de crucial importância na postura e eclosão de ovo, sua deposição é responsável pela cor amarela da gema dos ovos de galinhas (CARVALHO et al., 2006).

A coloração da gema é influenciada pela espécie. Tratando-se de aves poedeiras, deve-se considerar que mudanças químicas e nutricionais em ovos podem ocorrer por meio da adição de determinados compostos à dieta. A presença de carotenóides nos alimentos consumidos influencia a intensidade de coloração da gema (SEIBEL et al., 2010). Na produção comercial de ovos de codornas, o fornecimento ininterrupto de rações para postura à base de milho amarelo e farelo de soja proporciona 4885

Os

carotenoides,

dependendo

do

tempo

de

estocagem do alimento, da temperatura ambiente e da incidência de iluminação, dos processos de colheita e de moagem para a produção de ração, podem sofrer oxidação degradativa que compromete a quantidade destes pigmentos e sua absorção e deposição nos tecidos corporais das aves e gema do ovo são também utilizados em outras funções bioquímicas, como atividade antioxidante e efeito imunomodulador (SOTO-SALANOVA, 2003).

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Artigo 402 – Pigmentantes naturais e alimentação alternativa para codornas japonesas

A biodisponibilidade dos carotenoides é influenciada

pode ser corrigido por meio da inclusão de

por fatores intrínsecos e extrínsecos, como genética,

pigmentantes na dieta das aves (OLIVEIRA et al.,

tipo,

2008).

quantidade

consumida,

modificações

na

absorção e estado nutricional do animal. Alimentos alternativos Os pigmentantes naturais mais utilizados nas rações

Considerando altos custos na nutrição de codornas

são extrato de urucum (Bixa orellana) e açafrão

durante a criação e produção é interessante a

(Curcuma longa), marigold (Tagetes erecta), páprica

utilização de alimentos alternativos, favorecendo a

(Capsicum annum), (MOURA et al., 2011).

expressão do potencial genético dos animais a fim de reduzir estes custos.

O açafrão (Curcuma longa), por exemplo, tem sido estudado como aditivo na alimentação animal e seu

Uma das opções de baixar os custos da ração é

extrato apresenta um polifenol de cor amarelo-

viabilizar o uso de substitutos dos alimentos

alaranjado, na forma de um pó seco amarelo,

tradicionalmente utilizados na nutrição animal, de

segundo SARASWATI et al. (2013), o uso do

forma que atendam as exigências das codornas,

açafrão em dietas de codornas não altera o peso do

sem afetar a produção e a qualidade dos ovos.

ovo e da casca, porém, pode reduzir a espessura da

Serão

casca do ovo.

utilizados nas rações de codornas.

O extrato de marigold (contém 12 g/kg de xantofilas,

O farelo de mamona é um substituto em potencial da

sendo 80 a 90% de luteína, um carotenoide amarelo.

soja, viável em regiões onde há pouca oferta de

A páprica tem de 4 a 8 g/kg de xantofilas, sendo 50

grãos, é um subproduto do beneficiamento da

a

mamona, o qual após o processo de destoxificação

70%

capsantina,

um

pigmento

vermelho-

alaranjado (GALOBART et al., 2004).

citados

alguns

alimentos

alternativos

pode ser utilizado na alimentação de aves em função principalmente do seu teor de proteína conforme

De acordo com MOURA, et al. (2011) a ração à base

SILVA

de milho e farelo de soja deposita pigmento na gema

desdoxicado apresenta 30,93% de proteína bruta,

de forma satisfatória, a ração à base de sorgo sem

podendo substituir o farelo de soja.

adição

de

pigmentos

proporcionou

et

al.

(2011),

o

farelo

de

mamona

uma

despigmentação da gema e as rações à base de

A casca de soja resultante do processamento da

sorgo com inclusão de pigmentos foram capazes de

soja

conferir cor à gema com mais intensidade, com

nutricional, e apesar da pouca quantidade de amido,

destaque para a ração com páprica e marigold, não

tem nutrientes totais digestíveis e fibras de alta

ocorrendo efeito da inclusão de níveis de pigmentos

digestibilidade. De acordo com ROSTAGNO et al.

em rações para codornas sobre a qualidade de ovos

(2011), a casca da soja possui 13,9% de proteína

de codornas japonesas.

bruta (PB) e 32,7% de fibra bruta (FB), devido a

apresenta

boa

disponibilidade

e

valor

codorna apresentar uma boa digestibilidade de O corante do urucum responsável pelas colorações

fibras, a casca da soja torna-se uma opção na

que variam do amarelo ao vermelho é a bixina, que

alimentação destas aves.

não é tóxica, sem fator limitante para uso na alimentação animal. A inclusão de subprodutos do

A fibra

urucum nas dietas melhora a pigmentação da gema

digestibilidade em comparação a outros alimentos

dos ovos sem prejudicar a produtividade da ave

fibrosos devido a alta taxa de fermentação e a sua

(GARCIA et al., 2009).

inclusão na dieta não compromete a qualidade dos

da casca de soja apresenta melhor

ovos de poedeiras comerciais (ESONU et al., 2010). A substituição do milho pelo sorgo ocasiona redução na cor da gema(MOURA et al., 2009) um efeito que

No experimento de DUARTE et al. (2013), a inclusão

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Artigo 402 – Pigmentantes naturais e alimentação alternativa para codornas japonesas

de casca de soja não afetou os parâmetros de

poedeiras

qualidade peso dos ovos, espessura da casca,

produção de ovos e a conversão alimentar das aves

unidade Haugh e gravidade específica.

de postura (COSTA et al., 2009; FERREIRA et al.,

comerciais

afeta

negativamente

a

2012; FERREIRA et al., 2014). O sorgo é um alimento alternativo ao milho, porém seus grãos têm quantidade deficiente de caroteno e

De acordo com GERON, et al. (2014), pode-se incluir

pigmentos como as xantofilas, e por isso o seu

até 30% de raspa de mandioca integral na

fornecimento à ave induz à despigmentação da

alimentação de codornas de postura, no entanto

gema do ovo (MOURA et al., 2011).

PEREIRA et al. (2016), observaram que a inclusão de raspa de mandioca na ração de codornas em

O

milheto

constitui

uma

opção

como

fonte

energética para ser utilizado na alimentação animal e pode substituir o milho em até 100% na ração,

postura não deve ultrapassar o nível de 12%, pois o aumento deste alimento na ração gera redução no peso do ovo e piora a conversão alimentar.

reduzindo seu custo sem prejuízos na produção e qualidade dos ovos de codornas, melhorando assim a rentabilidade do produtor (GARCIA et al., 2012). A mandioca (Manihot esculenta, Crantz) é uma planta brasileira de elevada rusticidade, fácil cultivo, com alta produtividade de raízes, explorada até em solos marginais, e caracteriza-se como alimento energético por ser rica em carboidratos, principalmente, na forma de amido. Constitui uma boa opção de alimento que pode ser usado na nutrição de aves, nas formas in natura (após secagem), folhas (feno) e farelo. Apesar de apresentar o ácido cianídrico como fator antinutricional, a exposição ao sol das partes da planta causa a perda deste ácido, possibilitando assim sua utilização na alimentação animal (MACHADO et al., 2016). O feno de mandioca, parte aérea da rama, pode ser utilizado

na

alimentação

animal,

suas

folhas

possuem até 28% de proteína bruta, vitaminas A, C

O pequi, fruto encontrado no cerrado brasileiro, comercializado para consumo humano, apresenta alto percentual de casca que são descartadas podem gerar a farinha de casca de pequi, resíduo com valor nutritivo (SOARES JÚNIOR et al., 2010; WERNECK, 2011; SOARES JÚNIOR et al., 2009) pode ser incluído na alimentação de codornas. OLIVEIRA et al. (2016), utilizaram a farinha de casca de pequi na alimentação de codornas japonesas e verificaram aumento da cor das gemas dos ovos, recomendando-se a inclusão de até 3% deste alimento na ração. A canola é derivada geneticamente da colza, e sua produção é utilizada para extração de óleo gerando assim resíduo que consiste em farelo de canola (LEESON et al., 2001).

e do complexo B e contêm alto teor de cálcio e de ferro, podendo ser administradas sob as formas de feno ou de silagem. Normalmente é um resto cultural, usado como adubo orgânico ( SILVA et al., 2010), ao incluírem até 12% do feno da parte aérea da mandioca em rações de codornas japonesas em fase de postura, verificaram que o desempenho

O farelo de canola é uma alternativa na alimentação das codornas japonesas em fase de postura, onde o nível de até 30% de inclusão na ração viabiliza aumento no peso do ovo e na intensidade de cor das gemas, sem prejudicar o desempenho produtivo destes animais (MORAES et al., 2015).

zootécnico não foi comprometido. Um dos subprodutos resultantes do abate de aves A raspa da raiz de mandioca é uma boa fonte de energia, contudo, tem baixo teor de proteína, vitaminas e minerais, que devem se ajustados nas formulações de rações a fim de suprir as necessidades nutricionais das aves, a inclusão de percentuais de raspa de mandioca nas rações de 4887

obtido através da cocção de vísceras é a farinha de vísceras

de

aves

(FVA).

Sua

utilização

na

alimentação animal reduz o custo da ração e colabora com a preservação ambiental, evitando que este resíduo seja descartado no meio ambiente (NASCIMENTO et al., 2002).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4883- 4890 nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006


Artigo 402 – Pigmentantes naturais e alimentação alternativa para codornas japonesas

Journal of Veterinary Research and Animal No Brasil, o abate de animais gera grande volume de vísceras, penas, sebo, sangue, carne e ossos, que podem ser transformados em farinhas de origem animal, utilizadas nas

rações de aves como

ingrediente de elevado valor nutricional, fonte de vitaminas, aminoácidos e macro minerais, como cálcio e fósforo.

Percebe-se que os níveis de

inclusão de farinha de vísceras na ração de codornas não influenciam o peso, a massa, a gravidade

específica

e

os

percentuais

de

comercialização e viabilidade dos ovos das codornas (REIS et al., 2013). CONSIDERAÇÕES FINAIS A constante busca por medidas alternativas na utilização de alimentos na nutrição de codornas poedeiras com o propósito de viabilizar os custos da produção de forma que não afete a qualidade do produto ovo. A qualidade dos ovos é influenciada pela nutrição, e seus aspectos visíveis como cor de gema e aparência da casca, que são critérios observados pelos consumidores, o que remete a cuidados com a alimentação destas aves. A cor da gema pode ser alterada através da substituição de ingredientes da ração como o milho por alternativos como o sorgo e milheto, entre outros, que contêm uma quantidade baixa de carotenoides, levando à obtenção de gemas pouco pigmentadas. A baixa pigmentação da gema pode ser evitada através da inclusão de pigmentos naturais na ração. Estes pigmentantes não alteram a composição nutricional dos alimentos, eles apenas disponibilizam os carotenoides para deposição na gema de forma que ocorra uma eficiente pigmentação da mesma. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, P.R.; PITA, M.C.G.; REBER-NETO, E.; MIRANDOLA, R.M.S.; MENDONÇA JÚNIOR, C.X. Influência da adição de fontes marinhas de carotenóides à dieta de galinhas poedeiras na pigmentação da gema do ovo. Brazilian

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Produção de leite em Microrregiões do Agreste Alagoano Revista Eletrônica

Leite, comparação, produtividade.

Rafaelle Santos Santana Vol. 13, Nº 06, nov./ dez. de 2016 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO Com o presente estudo objetivou-se realizar um comparativo sobre a produção de leite nas microrregiões do agreste alagoano no ano de 2014. A pesquisa foi do tipo quantitativa por meio de dados de domínio público obtidos no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi acessado o link Pecuária Municipal (PPM) dentro da opção Economia. A produção selecionada foi de leite no período de 01/01 a 31/12 de 2014, segundo a Unidade de Federação e os Municípios. Foram selecionados vinte e cinco municípios divididos em três microrregiões Palmeira, Arapiraca e Traipú, localizadas na mesorregião Agreste de Alagoas. Foi realizado um comparativo: vacas ordenhadas, quantidade de leite produzido, valor da produção e produtividade de litros por vaca. Com base nas informações coletadas foi realizada estatística quantitativa. A microrregião Palmeira apresentou melhor produtividade 3.004 (L/vaca/ano) em relação às demais microrregiões, Arapiraca 1.702 (L/vaca/ano) e Traipu 1.143 (L/vaca/ano) e em relação ao Estado 1.887( L/vaca/ano) e a mesorregião do Agreste 2.250 (L/vaca/ano). A microrregião de Arapiraca apresentou resultados acima da média apenas em relação a produtividade do estado. A microrregião Traipu apresentou a menor produtividade quando comparada com o a média de Alagoas e do agreste. A produção leiteira do agreste é de fundamental importância para o setor lácteo alagoano, possuindo influência no aumento da produtividade do Estado de Alagoas. Palavras-chave: leite, comparação, produtividade. 4891

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José Crisólogo de Sales Silva Fernanda de Araujo Vieira

2

1

1

Especialista em Bovinocultura de Leite da Universidade Estadual de Alagoas- UNEAL, Santana do Ipanema (AL); rafaelle.santanas@gmail.com. 2 Professor Titular do Curso de Zootecnia da Universidade Estadual de Alagoas.

MILK PRODUCTION IN THE MICROREGIONS AGRESTE ALAGOANO ABSTRACT The present study aimed to conduct a comparison of milk production in the regions of Alagoas wild in the year 2014. The research was of a quantitative type through data public domain obtained from the Brazilian Institute of Geography and Statistics. It was accessed the link Municipal Livestock (PPM) within the Economy option. The production was selected milk in the period from 01/01 to 31/12 2014, according to the unit of the Federation and the municipalities. twenty-five divided municipalities were selected in three micro Palmeira, Arapiraca and Traipu, located in the middle region Agreste Alagoas. a comparison was made: milked cows, amount of milk produced, the production value and liters per cow productivity. Based on the information collected was quantitative statistical performed. The micro Palm showed better productivity 3.004 (L / cow / year) compared to other micro-regions, Arapiraca 1,702 (L / cow / year) and Traipu 1143 (L / cow / year) and from the State 1.887 (L / cow / year ) and the middle region of Agreste 2,250 (L / cow / year). the micro-Arapiraca presented results above average only in relation to the state of productivity. the micro Traipu had the lowest productivity compared with the the average of Alagoas and untamed. the milk production of the rough is of fundamental importance for the Alagoas dairy sector, having influence on increasing the productivity of the state of Alagoas. Keyword: milk, comparison, productivity.


Artigo 403 – Produção de leite em Microrregiões do Agreste Alagoano

INTRODUÇÃO Em Alagoas, a pecuária leiteira é muito forte sendo

Orçamento e Gestão. Após entrar no sítio do (IBGE),

respaldada pelo processo histórico de colonização

foi acessado o link Pecuária Municipal (PPM) dentro

vivenciada na região do agreste e do sertão. A

da opção Economia, que é um sistema eletrônico

produção de leite é considerada segunda atividade

onde está disponível a produção da pecuária

econômica mais importante do estado, perdendo

municipal no ano de 2014 em nível nacional, regional

apenas para a cana-de-açúcar, e se concentra na

e estadual. A produção de leite foi selecionada no

bacia leiteira do estado, no sertão e agreste

período de 01/01 a 31/12 de 2014, segundo a

alagoano (DANTAS, 2011).

Unidade de Federação e os Municípios.

A atividade leiteira é oriunda, principalmente, da agricultura familiar e a produção está estimada em

Foram selecionados vinte e cinco municípios

231 milhões de litros por ano. Os Estados de

divididos em três microrregiões Palmeira, Arapiraca

Alagoas, Pernambuco e Sergipe possuem o maior

e Traipú, localizadas na mesorregião Agreste de

volume de leite produzido por área. Em todo Brasil

Alagoas. A microrregião Palmeira é representada

estes estados só perdem para o Paraná e Santa

pelos municípios Palmeira dos Índios, Belém, Igaci,

Catarina em produção de leite por área (VILELA,

Minador do Negrão, Quebrangulo, Cacimbinhas,

2011).

Mar Vermelho, Tanque d’arca, Estrela de Alagoas e Maribondo.

A

Microrregião

Arapiraca

pelos

Considerando genética do rebanho leiteiro alagoano

municípios de Arapiraca, Craíbas, Lagoa da Canoa,

que é constituída basicamente pela raça Girolando,

Taquarana, Campo Grande, Feira Grande, Limoeiro

apesar de deter o menor rebanho de vacas da

de Anadia, Coité do Noia, Girau do Ponciano e São

região nordeste, com 160.303 cabeças, é o estado

Sebastião e a Microrregião de Traipu pelos

da região Norte/Nordeste que apresenta o melhor

municípios de Olho d’água Grande, São Brás e

desempenho em termos de produtividade de leite

Traipu.

por animal. A produção média por vaca no estado, em 2010, foi de 1.549 (L/vaca/ano), superada

Foi

apenas pelos estados da região Sul com 2.314

Mesorregião

(L/vaca/ano), além do Distrito Federal e Minas

ordenhadas, quantidade de leite produzido, valor da

Gerais

1.502

produção, produtividade de litros por vaca. Com

(L/vacas/ano) produzidos, respectivamente (IBGE,

base nas informações coletadas foi realizada

2010).

estatística quantitativa.

Em termos de produtividade leiteira, o Brasil cresceu

Para

12% no período de 2005 a 2010, e com isso

considerou-se a quantidade total em litros (mil)

ocorreram ganhos significativos de produtividade em

dividida pelo número total de vacas ordenhadas dos

todas as regiões do país, merecendo destaque os

municípios que estão inseridos nas 3 microrregiões

crescimentos na região Nordeste (IBGE, 2010). Com

do agreste alagoano.

o

com

presente

comparativo

1.722

estudo sobre

(L/vaca/ano)

objetivou-se a

produção

e

realizar de

leite

realizado

a

um

comparativo

Agreste:

números

produtividade

animal

dentro de

da

vacas

(L/vaca/ano),

um nas

RESULTADOS E DISCUSSAO

microrregiões do agreste de Alagoas no ano de A

2014.

microrregião

Palmeira

apresentou

melhor

produtividade 3.004 (L/vaca/ano) em relação às MATERIAL E METODO

demais microrregiões, Arapiraca 1.702 (L/vaca/ano)

A pesquisa foi do tipo quantitativa, por meio de dados de domínio público obtidos no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sob a responsabilidade do Ministério do Planejamento,

e Traipu 1.143 (L/vaca/ano) e em relação ao Estado de Alagoas 1.887 (L/vaca/ano) e a mesorregião do Agreste 2.250 (L/vaca/ano). Esses resultados são considerados satisfatórios quando comparados com a produtividade do Brasil e em outros estados,

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4891-4894, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006

4892


Artigo 403 – Produção de leite em Microrregiões do Agreste Alagoano

segundo

a

(EMBRAPA,

2011)

a

média

da

produtividade (L/vaca/ano) no Brasil foi 1.374 (L/vaca/ano). Na comparação com os demais Estados

do

produtividade

Nordeste,

houve

satisfatória

para

também Alagoas

uma e

a

mesorregião do Agreste, os Estados de Pernambuco

TABELA 1 - Produção de leite no período de 01.01 a 31.12 de 2014, no agreste e microrregiões de Alagoas Unidade da Federação Vacas Quantidade Valor Produtividade Mesorregião e Microrregião Ordenha * 1000 (R$) das (cab) (litro/vaca/ano) * 1000

Alagoas

161.462

304.674305.064

1.887

Grande do Norte 903 (L/vaca/ano) mantiveram

Agreste

60947

137167 136720

2.250

resultados inferiores quando comparados (IBGE,

Microrregião Palmeira

28517

85673 84575

3.004

Palmeira dos Índios

6.800

29.580 28.397

4.350

Belém

1570

produtividade e que ficaram acima da média

Igaci

comparada a Alagoas e ao agreste estão inseridos

1.395 (L/vaca/ano), Sergipe 1.466 (L/vaca/ano) e Rio

2014).

Os

municípios

que

apresentaram

melhor

4553

4416

2.900

3850

11165 10942

2.900

Minador do Negrão

3107

10812 10488

3.480

Quebrangulo

2300

Cacimbinhas

4764

na microrregião Palmeira: Palmeira dos Índios 4.350 (L/vaca/ano), Belém 2.900 (L/vaca/ano), Igaci 2.900 (L/vaca/ano), Minador do Negrão 3.480 (L/vaca/ano), Cacimbinhas 2.610 (L/vaca/ano), Tanque D’arca

2484

3478

1.080

12434 12061

2.610

Mar Vermelho

540

583

816

1.080

Tanque d’arca

1500

3915

3798

2.610

Estrela de Alagoas

3146

9132

8758

2.902

940

1015

1421

1.080

43877 44349

1.702

2.610 (L/vaca/ano) e Estrela de Alagoas 2.902 (L/vaca/ano). Do total desses 7 municípios apenas 2, Belém e Tanque d’Arca, não fazem parte do Pólo da Bacia Leiteira de Alagoas, que é o maior centro

Maribondo

produtor de leite in natura do Nordeste, com

25770

aproximadamente 2500 produtores rurais, gerando

Microrregião Arapiraca

25.000

Arapiraca

6445

Craíbas

4722

Grande 2.267 (L/vaca/ano) apresentaram resultados

Lagoa da Canoa

1484

2924

2924

1.970

superiores à média estadual e da mesorregião, os

Taquarana

2100

4872

4677

2.320

790

623

717

780

2020

4581

4581

2.267

427

552

994

1.292

empregos

microrregião

diretos

Arapiraca,

(BNB,

apenas

2005).

Na

Craíbas

2.148

(L/vaca/ano), Taquarana 2.320 (L/vaca/ano) e Feira

8343

8343

1.294

10143 10143

2.148

demais apresentaram produtividade inferior. Na Microrregião de Traipu todos os municípios ficaram

Campo Grande

abaixo da média (Tabela 1).

Feira Grande

Observa-se que embora a produtividade do agreste

Limoeiro de Anadia

alagoano tenha sido 2.250 (L/vaca/ano) chegando a

Coité do Noia

1442

2242

2242

1.554

Girau do Ponciano

5478

8721

8721

1.592

862

876

1007

1.016

6660

7617

7796

1143

Olho d’água Grande

810

639

734

788

destaque nos estados do Rio Grande do Sul 3.034

São Brás

705

558

642

791

(L/vaca/ano), seguido de Santa Catarina 2.694

Traipú

5145

6420

6420

1.247

ultrapassar a média da produtividade do estado de Alagoas 1.887 (L/vaca/ano), ainda está muito abaixo da produtividade desejada, quando comparados com

São Sebastião

a produtividade da região Sul do Brasil, que

Microrregião Traipu

apresenta a maior produtividade nacional com média de 2.789 (L/vaca/ano) segundo a (SEAB, 2014) com

(L/vaca/ano) e Paraná 2.629 (L/vaca/ano). Fonte: IBGE 2014.*No calculo da produtividade considera-se (mil) litros/vaca/ano

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Artigo 403 – Produção de leite em Microrregiões do Agreste Alagoano

CONCLUSÃO Constatou-se que a microrregião Palmeira obteve maior

produtividade

(L/vaca/ano)

quando

comparada a média do Agreste e do estado de Alagoas. Ficando apenas abaixo da média as microrregiões Arapiraca e Traipu. Com isso, a produção leiteira do agreste mostra sua

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção Pecuária 2014. Estados. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/estadosat/index.php. Acessado em 18 de junho de 2016. EMBRAPA GADO DE LEITE. III Plano Diretor da Embrapa Gado de Leite 2004-2007. Juiz de Fora, 2006, 28 p. (Embrapa Gado de Leite. Documentos, 107).

importância para o setor lácteo alagoano, possuindo influência no aumento da produtividade do Estado de Alagoas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BNB, Banco do Nordeste do Brasil. Perfil dos Estados – Alagoas: Pólo de Desenvolvimento Integrado – Bacia Leiteira de Alagoas. 2005. Disponível em: <http://www.bnb.gov.br/content/aplicacao/Investi r_no_Nordeste/Perfil_dos_Estados/gerados/al_a presentacao.asp>. Acessado em 19 de junho de 2016.

SEAB, Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento. Prognósticos bovinos 2014. http://www.agricultura.pr.gov.br/arquivos/File/der al4/Prognosticos/bovinocultura_leite_14_15.pdf. Acessado em 19 de junho de 2016. VILELA, D. Palestra proferida na abertura do Congresso Internacional do Leite, 10. Maceió, Centro de Convenções, 26 out. 2011, Maceió, 2011.

DANTAS, J. S. Palestra proferida na abertura do Congresso Internacional do Leite, 10. 2011. Maceió: Centro de Convenções, 26 out. 2011. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção da Pecuária Municipal 2010, v. 38, p.165, 2010. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção da Pecuária Municipal 2009. Rio de Janeiro, v. 37, p.55, 2010.

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Resistência à insulina no período de transição de vacas leiteiras Balanço energético negativo, glicose, pré-parto, pós-parto.

Revista Eletrônica

Rafael Alves de Azevedo Vol. 13, Nº 06, nov./ dez. de 2016 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

Sandra Gesteira Coelho

1

2

1

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO

Doutorando em Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG E-mail: rafaelzooufmg@gmail.com 2 Profa. Associada, Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG.

Durante o período de transição ocorrem mudanças

INSULIN RESISTANCE IN THE TRANSITION PERIOD OF DAIRY COWS

na regulação metabólica e o controle do consumo de

ABSTRACT

energia durante o pré-parto é um fator importante no

During the transition period there are changes in

manejo nutricional, pois a energia consumida pode

metabolic

interagir com a resistência à insulina. Nesse período,

consumption during prepartum is a major factor in

o crescimento fetal, a produção de leite, o balanço

nutritional management, because the consumed

energético negativo e as diferenças associadas à

energy can interact with insulin resistance. During

seleção genética para a produção de leite podem,

this period the fetal growth, milk production, negative

pelo menos em parte, ser atribuídas ao maior grau

energy balance and differences associated with

de resistência à insulina desses animais, sendo que

genetic selection for milk production can, at least in

a

forte

part, be attributed to the higher degree of insulin

influência na condição metabólica do pós-parto e

these animals, while the intensity of this resistance

parece estar relacionada a concentrações elevadas

has a strong influence on metabolic postpartum

de AGNE nessa fase. Nesta revisão, os mecanismos

condition and appears to be related to high

predisponentes para a resistência à insulina em

concentrations of NEFA at that stage. In this review,

vacas

the mechanisms predisposing to insulin resistance in

intensidade

leiteiras

metabólica

no

dessa

e

o

resistência

impacto

período

de

possui

dessa

alteração

transição

são

regulation

and

control

of

dairy cows and the impact of metabolic change in the

apresentados e discutidos.

transition period are presented and discussed.

Palavras-chave: balanço energético negativo, glicose, pré-parto, pós-parto.

Keyword: glucose, negative energy balance, prepartum, postpartum.

4895

energy


Artigo 404 – Resistência à insulina no período de transição de vacas leiteiras

INTRODUÇÃO

Opsomer, 2013). A maioria das células capta a

A produção média de leite em vacas leiteiras

glicose por difusão facilitada, pelas moléculas

aumentou drasticamente ao longo das últimas décadas sendo os objetivos de criação focados

transportadoras de glicose (GLUT). Essa captação é

principalmente em características de produção de

basicamente

leite.

concentração de glicose entre o fluido extracelular e

Em

contrapartida,

ocorreu

aumento

da

conduzida

pela

diferença

incidência de distúrbios metabólicos e reprodutivos,

intracelular

ocasionando

homeostase (Zhao e Keating, 2007).

consideráveis

perdas

econômicas,

(Johnson,

2008),

para

na

manter

a

resultando em uma vaca que produz mais leite e tem maior

propensão

para

rapidamente

mobilizar

Existem 13 isoformas diferentes de GLUTs, com especificações na distribuição nos tecidos, no perfil

condição corporal no início da lactação.

de

expressão

e

nas

propriedades

quanto

à

Durante o período de transição, o crescimento fetal,

sensibilidade a hormônios (De Koster e Opsomer,

a produção de leite, o balanço energético negativo e

2013). Quantitativamente, os maiores consumidores

as diferenças associadas à seleção genética para a

de glicose são os músculos esqueléticos, a glândula

produção de leite podem, pelo menos em parte, ser

mamária e o útero gestante (De Koster e Opsomer,

atribuídas ao maior grau de resistência à insulina

2013).

desses animais. O GLUT-4 é responsável pela absorção de glicose Objetiva-se com essa revisão avaliar os mecanismos

estimulada por insulina, sendo localizado no músculo

predisponentes para a resistência à insulina em

esquelético, coração e tecido adiposo (Duhlmeier et

vacas

al.; 2005; Zhao e Keanting, 2007). Na glândula

leiteiras

e

o

impacto

dessa

alteração

mamária, tecidos fetais e no fígado, por exemplo,

metabólica no período de transição.

existe, INSULINA A insulina é um hormônio peptídico sintetizado e secretado pelas células β do pâncreas, em resposta a glicose e seus precursores, sendo metabolizada pelo fígado e rins (Valera Mora et al., 2003). No

principalmente,

o

GLUT-1,

que

é

independente de insulina (Zhao e Keating, 2007). A independência da glândula mamária para a absorção de

glicose

é

demonstrada

pela

redução

da

expressão de GLUT-4 durante a lactação e aumento do GLUT-1 (Zhao e Keating, 2007).

entanto, os fatores que influenciam a liberação de insulina são pouco conhecidos em bovinos (Bossaert

A expressão de todos os transportadores de glicose

et al., 2008).

na glândula mamária, e particularmente o GLUT-1, aumenta entre cinco a 100 vezes no início da

Este hormônio possui funções em diversos tecidos

lactação (Zhao e Keating, 2007), permitindo que o

corporais e, principalmente, possui efeitos no

úbere consiga consumir grande parte da glicose

metabolismo de glicose, aminoácidos e lipídios. No

disponível na corrente sanguínea. Já no úbere não

geral,

lactante, a expressão do GLUT-1 é dificilmente

desempenha

papel

importante

no

armazenamento de energia e juntamente com o

detectada (Zhao e Keating, 2007).

glucagon regula a homeostase da glicose (Cryer e relações com outros hormônios, como o fator de

ADAPTAÇÕES NO METABOLISMO ENERGÉTICO DURANTE O PERÍODO DE TRANSIÇÃO

crescimento semelhante à insulina (IGF-1), e atua no

Durante o período de transição de vacas leiteiras,

sistema reprodutivo (Webb et al., 2007), porém estas

três semanas finais da gestação e três semanas

funções não serão enfocadas nesta revisão.

iniciais da lactação, as mudanças na concentração

Polonsky, 2008). A insulina também possui inter-

de hormônios e as respostas dos tecidos a esses A captação de glicose é provavelmente a ação mais

hormônios

estudada da insulina em vacas leiteiras (De Koster e

energética para o útero gestante e para a glândula mamária

são

focadas

(Bauman

em e

atribuir

prioridade

Currie,

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4895-4901, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006

1980). 4896


Artigo 404 – Resistência à insulina no período de transição de vacas leiteiras

A

preservação

crescimento,

da

glicose

suficiente

desenvolvimento

fetal

e

para

o

resposta de metade-máxima na concentração de

lactação,

glicose no sangue (Kahn, 1978; Oikawa e Oetzel,

geram alterações no metabolismo da glicose em

2006; Bossaert et al., 2009).

todo o corpo, como exemplo, no músculo esquelético e no tecido adiposo, o consumo de glicose é

FIGURA 1. Representação esquemática de dois tipos de

reduzido (De Koster e Opsomer, 2013).

resistência à insulina

Na fase de transição ocorre redução no consumo de matéria seca (CMS), levando os animais ao balanço energetico negativo (BEN) no pós-parto (Esposito et al., 2014). Nessa fase, grande mobilização das reservas corporais, depósitos de gordura e reservas de proteína, são mobilizadas, levando à perda de escore de condição corporal (ECC) e declínio das concentrações basais de insulina e da secreção de insulina, induzida pela glicose (Bossaert et al., 2008), sendo

mudanças

fundamentais

para

o

direcionamento do fluxo de energia desses animais (Schoenberg et al., 2012; Marett et al., 2015).

Fonte: Adaptado de De Koster e Opsomer (2013)

Algumas dessas alterações no metabolismo são

Do ponto de vista molecular, a resistência à insulina

mediadas por alterações relacionadas à insulina e a

pode ocorrer no: pré-receptor, que inclui diminuição

sua resistência em alguns tecidos, como: redução na

da

captação de glicose pelo músculo esquelético e

degradação de insulina; no receptor, o qual inclui

tecido adiposo; redução da lipogênese e aumento da

redução do número de receptores e diminuição da

lipólise

no

tecido

gliconeogênese metabolismo

no de

adiposo; fígado

e

proteínas

produção

de

insulina

e/ou

aumento

da

aumento

da

afinidade de ligação; ou no pós-receptor, que inclui

aumento

do

sinalização intracelular prejudicada e translocação

dos

músculos

dos GLUTs (Hayirli, 2006).

esqueléticos (De Koster e Opsomer, 2013; Zachut et al., 2013).

Como a insulina tem vários locais alvo e uma variedade de respostas biológicas, o resultado da

RESISTÊNCIA À INSULINA

diminuição da sensibilidade à insulina depende do tecido envolvido. No fígado, a insulina inibe a

A resistência à insulina ocorre quando há redução na

glicólise, glicogenólise e gliconeogênese, e nos

sensibilidade

as

músculos, ela estimula a exteriorização do GLUT-4 e

concentrações normais de insulina (Boura-Halfon e

dos

o processamento intracelular de glicose. Já no tecido

Zick, 2009). Ela pode ser subdividida em duas

adiposo, o efeito da resistência é reforçado pelo

formas distintas: capacidade de resposta à insulina e

GLUT-4 e pela inibição do hormônio-sensível a lipase

sensibilidade

(Bossaert et al., 2009).

à

tecidos

insulina,

para

responder

podendo

ocorrer

separadamente ou concomitantemente. No final da gestação e no início da lactação de vacas A redução da capacidade de resposta à insulina

leiteiras, a resistência à insulina é algo normalmente

(Figura 1) representa o deslocamento para baixo da

aceito (De Koster e Opsomer, 2013) e estas

curva de dose-resposta da insulina. Já a diminuição

adaptações

na sensibilidade à insulina consiste no desvio para a

fornecimento de glicose suficiente para o útero

direita da curva de dose-resposta da insulina, ou

gestante, o feto e para a glândula mamária em

seja, alta dose de insulina é necessária para produzir

lactação

4897

são

necessárias

(Bauman

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4895-4901, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006

e

para

Currie,

garantir

1980).


Artigo 404 – Resistência à insulina no período de transição de vacas leiteira

Muitos aspectos da resistência à insulina são

O aumento da resistência do tecido adiposo à

benéficos. No entanto, parece que as vacas também

insulina predispõe a mobilização de AGNE pela

podem desenvolver resistência à insulina em casos

vaca, criando um ciclo vicioso de mobilização de

de obesidade, o que é análogo ao diabetes tipo II em seres

humanos.

Embora

a

redução

das

gordura e redução no CMS durante o pré-parto, o

concentrações de insulina periférica seja uma

que explica metabolicamente porque ECC altos em

estratégia vital, a supressão crônica da secreção de

vacas geram menores CMS do que vacas com

insulina pode resultar em excessiva lipólise, gerando

moderado ou baixo ECC (Grummer et al., 2004).

rápido aumento nas concentrações circulantes de ácidos graxos não esterificados (AGNE) e rápida

Porém, os fatores que influenciam a liberação de

queda

distúrbios

insulina em vacas permanecem mal documentados

metabólicos energéticos e imunológicos durante o

(Bossaert et al., 2008). Em humanos, o acúmulo

período de transição (Gonzalez et al.,2011).

intracelular de intermediários de AGNE parece

no

CMS,

aumentando

os

interromper a cascata de sinalização normal da ÁCIDOS GRAXOS NÃO ESTERIFICADOS E O SEU PAPEL NA RESISTÊNCIA À INSULINA O entendimento da natureza e do tempo de

insulina, causando prejuízo na exteriorização do

resistência à insulina, com foco específico em

esqueléticos (Petersen e Shulman, 2006), indicando

determinar as relações entre AGNE e o CMS durante

alterações no pós-receptor, em vez de no receptor.

o período de transição de vacas leiteiras, vem sendo

GLUT-4 e na utilização de glicose nos músculos

al., 2012) e pode ser a chave para explicar as

MANEJO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO DE TRANSIÇÃO E SUA RELAÇÃO COM A RESISTÊNCIA À INSULINA Por muitos anos, a ênfase de pesquisadores e

mudanças metabólicas que ocorrem neste período.

profissionais da indústria leiteira era maximizar o

objeto de muitos trabalhos (Oikawa e Oetzel, 2006; Pires et al. 2007a; Pires et al., 2007b; Schoenberg et

CMS, garantindo que as vacas consumissem energia Vacas leiteiras não gestantes e não lactantes foram

suficiente durante o período seco. Esta estratégia foi

submetidas à elevação artificial de AGNE circulantes

apoiada, em parte, por pesquisa que demonstrou

após período de jejum, pela administração de sebo

que vacas com menores concentrações de AGNE

na dieta. O aumento de AGNE na circulação

durante as duas últimas semanas antes do parto

demonstrou que a glicose dependente de insulina

apresentaram redução na incidência da maioria das

teve sua absorção prejudicada nos tecidos sensíveis

desordens metabólicas no pós-parto (Dyk, 1995).

a esse hormônio (Oikawa e Oetzel, 2006; Pires et al.,

Como o maior CMS normalmente resulta em menor

2007a; Schoenberg et al., 2012). Por outro lado, a

circulação de AGNE, a associação entre maior CMS

redução de AGNE, pela infusão de ácido nicotínico

e melhoria da saúde e desempenho estava implícita.

no abomaso, melhorou a absorção de glicose estimulada por insulina (Pires et al., 2007b).

Por outro lado, evidências crescentes sugerem que o plano de nutrição, em particular o consumo de

O tecido adiposo desempenha papel crucial na

energia durante o período de pré-parto, modula o

determinação e modulação da sensibilidade à

grau de resistência à insulina e, consequentemente,

insulina no metabolismo da glicose de vacas leiteiras

as relações entre AGNE e CMS durante o período

(De Koster e Opsomer, 2013), e a diminuição da

pós-parto imediato. Vacas que recebem dietas pré-

capacidade de resposta à insulina pode ser um

parto com grande densidade energética ganham

ponto importante no acúmulo de lipídeos no fígado

maior ECC e também perdem por mais tempo ECC

seguinte à rápida perda de ECC (Oikawa e Oetzel,

no pós-parto que vacas alimentadas com dietas

2006).

menos energéticas (Janovick e Drackley, 2010), além de reduzirem o CMS (Karimian et al., 2015).

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4895-4901, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006

4898


Artigo 404 – Resistência à insulina no período de transição de vacas leiteira

Douglas

et

al.

(2006)

relataram

que

vacas

alimentadas com 80% das necessidades de energia

início da lactação, possuem menor partição de

no

energia para melhorar o ECC no terço médio e no

período

seco

apresentaram

menores

concentrações de glicose e insulina circulante

final

durante

menores

desempenho reprodutivo inferior a vacas da NZ

concentrações de AGNE e maior CMS no pós-parto,

(Roche et al., 2006; Macdonald et al., 2008), além

quando comparadas a vacas que consumiram 160%

de serem mais resistentes à insulina do que

das necessidades energéticas previstas. Dann et al.

vacas da NZ no início da lactação (Chagas et al.,

(2006)

2009).

o

período

demonstraram

energética

no

pré-parto

que

período

a

seco

e

superalimentação pode

agravar

da

lactação,

e,

em

geral,

possuem

a

resistência à insulina das vacas no pré-parto,

Tal como nos seres humanos, em animais

resultando em maior concentração de AGNE e de

também parece que componentes genéticos

BEN e menor CMS e durante os 10 primeiros dias

determinam a sensibilidade à resistência à

no

(2012)

insulina e estudos sugerem que o componente

verificaram que apesar das concentrações de

genético que modula essa resistência pode ser

glicose plasmática diária não ter diferido em vacas

sutil, e pode ser determinado por outros fatores,

alimentadas

das

sendo necessárias investigações para definir os

exigências energéticas, aquelas alimentadas com

genes que influenciam a resistência à insulina e

dietas de alta energia tiveram concentrações de

quais os efeitos da epigenética sobre os mesmos

insulina circulantes duas vezes maior do que os

(De Koster e Opsomer, 2013).

pós-parto.

com

Schoenberg

diferentes

et

al.

atendimentos

animais alimentados com dieta de baixa energia, demonstrando possivelmente maior resistência à insulina nos animais recebendo dietas com energia maior do que a exigência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O período de transição é um momento de mudança na regulação metabólica e o controle do consumo de energia durante o pré-parto é um

SELEÇÃO GENÉTICA E SUA INFLUÊNCIA SOBRE A RESISTÊNCIA À INSULINA

fator importante no manejo nutricional, pois a

Vacas de origem genética da América do Norte (AN)

resistência à insulina.

e

da

Nova

Zelândia

(NZ)

energia

consumida

pode

interagir

com

a

representam,

respectivamente, duas linhagens de alto e baixo

A intensidade da resistência á insulina no período

mérito genético para a produção de leite (Roche et

próximo ao parto possui forte influência na

al., 2006), a alta produção de leite é associada

condição metabólica do pós-parto e parece estar

genotipicamente (Gutierrez et al., 2006) com baixas

relacionada a concentrações elevadas de AGNE

concentrações de insulina.

nessa fase.

A intensa seleção genética para a produção de leite

O período de transição torna o metabolismo da

pode ter acentuado esta unidade evolutiva em

glicose de vacas leiteiras um exemplo de como a

direção à priorização de energia para a produção de

intensa

leite, com resistência à insulina em vacas da AN

metabolismo a extremos.

seleção

genética

pode

dirigir

o

Partitioning

of

(Chagas et al., 2009), sugerindo que a seleção para produção de leite implica em animais com baixa sensibilidade a insulina (Bossaert et al., 2009).

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A INFLUÊNCIA DA DIETA NO DESENVOLVIMENTO RUMINAL DE BEZERROS Bezerros, dieta, desenvolvimento ruminal.

Revista Eletrônica

Messias Batista Caetano Júnior¹ Graciele Araújo de Oliveira Caetano² Maryelle Durães de Oliveira³

¹ Zootecnista, Instituto Federal de Minas Gerais, IFMG/Bambuí. ² Mestre em Produção Animal, UFVJM. Estudante especial do Doutorado em Produção de Ruminantes. Universidade Federal de Goiás, UFG – EVZ, Goiânia-GO; gracielecaetano@outlook.com. ³ Doutoranda em Zootecnia. Universidade Federal de Goiás, UFG – EVZ, Goiânia-GO.

Vol. 13, Nº 06, nov./ dez.de 2016 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO O fornecimento de alimentos volumosos e concentrados para bezerros pré-ruminantes tem sido adotado para promover seu desenvolvimento e permitir o fornecimento de dieta o mais cedo possível. Acredita-se que o desenvolvimento ruminal seja influenciado por alguns fatores como idade do animal, formação da goteira esofágica e nutrição. Conhecer esses fatores possibilita realizar manejo mais adequado a fim de obter o melhor desempenho dos animais. O alimento sólido, seja concentrado, feno ou ambos, resulta em aumentos marcantes no rúmen-reticulo e omaso. O desenvolvimento em termos de volume (anatômico) só pode ser conseguido com a presença de alimentos grosseiros (volumosos), inclusive com material inerte (maravalha, serragem ou esponjas), apesar do menor crescimento do bezerro; já o desenvolvimento fisiológico está associado à presença de ácidos graxos voláteis, que são absorvidos pelas paredes do rúmen, desenvolvendo assim as papilas ruminais. Sabe-se que quando mais cedo o animal se torna um ruminante funcional, mais cedo ele entrará em produção, seja para carne ou leite e, portanto será mais eficiente em sua vida produtiva, todavia devem ser avaliados outros fatores como sistema de produção e condições ambientais. O objetivo dessa revisão de literatura é discorrer acerca do desenvolvimento ruminal de bovinos, principalmente no que se refere à influência da dieta. Palavras-chave: bezerros, dieta, desenvolvimento

THE DIET AND ITS INFLUENCE IN RUMEN DEVELOPMENT OF CATTLE ABSTRACT The supply of roughage and concentrate on preruminant calves feed have been adopted to promote its development and allow the diet supply as soon as possible. It is believed that the rumen development is influenced by factors such as age of the animal, formation of esophageal groove and nutrition. Know about these factors makes it possible to perform more proper management in order to get the best performance of the animals. Solid food, hay or both, results in marked increases in the rumen, reticulum and omasum. The development in volume (anatomical) can only be achieved with the presence of roughage, including inert materials, despite the lower calf growth; have physiological development is associated with the presence of volatile fatty acids, which are absorbed by the rumen wall, thereby developing ruminal papillae. It is known that as soon as the animal becomes a functional ruminant sooner it will go into production, for meat or milk, and therefore will be more efficient in its productive life, however, they should be evaluated other factors such as sistem of production and environmental condition. The purpose of this review is to discuss about the rumen development of cattle, especially with regard to the influence of diet. Keyword: calves, diet, rumen development.

ruminal. 4902


Artigo 405 – A influência da dieta no desenvolvimento ruminal de bezerros

INTRODUÇÃO

divertículos distintos e volumosos, o rúmen, o

O desenvolvimento de bezerros recém-nascidos à

retículo e o omaso, coletivamente conhecidos como

condição de ruminante funcional envolve uma série

pré-estômagos (pró-ventriculos). São revestidos por

de mudanças anatômicas e fisiológicas do aparelho

epitélio

digestório (NUSSIO, 2005).

correspondem a uma série de câmaras onde o

escamoso

estratificado

aglandular

e

alimento é sujeito à digestão por microrganismos O

fornecimento

de

alimentos

volumosos

e

antes de passar através do trato digestório para a

concentrados para bezerros pré-ruminantes tem sido

porção glandular menor do estômago no ruminante,

adotado para promover seu desenvolvimento e

o abomaso.

permitir o fornecimento de dieta o mais cedo possível. O alimento sólido, seja concentrado, feno

De acordo com Castro e Vidal (2002), os pré-

ou ambos, resulta em aumentos marcantes no

estômagos (rúmen, retículo e omaso) são revestidos

rúmen-retículo e omaso. O desenvolvimento em

por

termos

ser

aglandular. O rúmen é um órgão grande (podendo

conseguido com a presença de alimentos grosseiros

reter de 150 a 240 litros de material), possui mucosa

(volumosos),

inerte

recoberta por papilas, onde predomina a presença

(maravalha, serragem ou esponjas), apesar do

de microrganismos, e é onde ocorre a fermentação

menor crescimento do bezerro; já o desenvolvimento

microbiana pré-gástrica do alimento.

de

volume

(anatômico)

inclusive

com

pode

material

um

epitélio

estratificado

queratinizado

e

fisiológico está associado à presença de ácidos graxos voláteis “AGV”, que são absorvidos pelas

O rúmen é o maior dos pré-estômagos e preenche

paredes do rúmen, desenvolvendo assim as papilas

quase todo o lado esquerdo da cavidade abdominal.

ruminais (LIZIEIRE et al., 2002).

É dividido em quatro áreas ou sacos por estruturas musculares chamadas de pilares ruminais. Há um

Existem ainda contradições sobre o fornecimento de

saco dorsal, um ventral e dois sacos posteriores. Os

volumoso para bezerros pré-ruminantes. Não é

pilares movem o alimento pelo rúmen em sentido

recomendado o fornecimento de feno para essa

rotatório, misturando o conteúdo sólido com o

categoria

conteúdo

em

rebanhos

leiteiros,

pois

serão

líquido.

O

órgão

movimenta-se

aproveitados para a produção de carne; recomenda-

continuamente, em ritmo de um a três movimentos

se que o feno deva ser parte da dieta dos bezerros

por

somente após o desaleitamento pelos seguintes

(estratificação da digesta), e mistura das forragens e

fatores: o seu consumo ser muito baixo, e ainda,

outras partículas ingeridas aos líquidos. Quando

porque a exigência em energia desses animais pode

completamente desenvolvido, apresenta vilosidades

ser mantida pela dieta líquida e pelo concentrado.

na face interna de sua parede, as papilas ruminais

minuto,

proporcionando

divisão

física

(FRANDSON; WILKE; FAILS, 2005). Outro fator que deve ser considerado quanto ao desenvolvimento do rúmen em bezerros é que,

O rúmen funciona como combinado de reservatório e

quanto mais cedo o bezerro estiver apto a consumir

câmara fermentativa de alimentos ingeridos. A

e metabolizar alimentos grosseiros, mais cedo ele

ingesta que chega ao rúmen pela deglutição é

poderá ser desaleitado, e consequentemente, mais

digerida ou degradada por processos fermentativos

leite

realizados pelos microrganismos que vivem dentro

pode

ser

comercializado,

gerando

maior

lucratividade na fazenda (LIZIEIRE et al., 2002).

do órgão: bactérias, protozoários e fungos. A digestão ou fermentação é garantida por enzimas

REVISÃO DA LITERATURA

produzidas por estes, que não são secretadas, mas

Morfofisiologia do rúmen em bovinos Segundo Frandson; Wilke e Fails (2005), ao

ficam aderidas à parede celular. Sob determinadas

contrário do que muitos pensam, o estômago do

condições, o rúmen e o retículo (e também o omaso), fornecem ambiente ideal para a colonização

ruminante é um estômago único, modificado pela

e crescimento de microrganismos, que são os

expansão marcante da região esofágica em três

maiores responsáveis pelos processos digestivos dos

4903

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4902-4918, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006


Artigo 405 – A influência da dieta no desenvolvimento ruminal de bezerros

ruminantes.

Estas

condições

ideais

ao

tes tem acesso à comida sólida logo após o

desenvolvimento e permanência dos microrganismos

nascimento a velocidade de desenvolvimento dos

são: anaerobiose, ou seja, ausência quase total de

pré-estômagos é maximizada (HERDT, 2004).

oxigênio (O2); pH entre 5,5 a 7,0; sendo mais comum, valores entre 6,8 a 6,9; temperatura entre

De acordo com Herdt (2004), o desenvolvimento dos

39° a 40° C, ideal para a atividade enzimática

pré-estômagos de bovinos pode ser dividido em três

microbiana; fornecimento contínuo de substrato, que

fases: pré-ruminante (do nascimento até 3 semanas

é o alimento destes microrganismos; movimentos

de idade); período de transição (de 3 a 8 semanas

contínuos do retículo-rúmen, que apresentam e

de idade, quando os animais tem acesso à alimento

inoculam estes microrganismos nas partículas de

grosseiro) e ruminante funcional (após 8 semanas de

alimento (substrato microbiano); alta umidade (em

idade), nesta fase os animais que têm acesso a

torno de 80% a 90% de água); retirada contínua dos

alimento sólido já apresentam as proporções dos

produtos finais da fermentação, que poderiam

estômagos semelhantes à de animais adultos.

acumular e se tornarem tóxicos (SOUZA, 2003).

Bezerros que recebem dietas apenas de leite ou sucedâneos,

Fatores que influenciam o desenvolvimento

permanecem

com

pré-estômagos

rudimentares entre 14 e 15 semanas.

ruminal Acredita-se que o desenvolvimento ruminal seja

Uma característica que chama a atenção quanto ao

influenciado por alguns fatores como idade do

desenvolvimento do rúmen em bovinos é a maneira

animal, formação da goteira esofágica e nutrição.

que o leite é desviado do rúmen. De acordo com

Conhecer esses fatores possibilita realizar manejo

Herdt (2004), para que o rúmen se desenvolva

mais adequado a fim de obter o melhor desempenho

adequadamente no animal lactente, o leite deve ser

dos animais.

desviado do órgão que está em desenvolvimento; isto é possível pela ação da goteira reticular (goteira

O trato digestório de bovinos ao nascer, pode ser

esofágica).

comparado ao de mamíferos não ruminantes, pois, animais

“Esta estrutura é uma invaginação, semelhante a

monogástricos (CARVALHO et al., 2003). Nessa

uma calha, situada na parede do retículo, desde o

fase de vida, o alimento básico é o leite, sendo a

cárdia até o orifício reticulomasal.

atividade gástrica digestiva exercida pelo abomaso,

estimulados, os músculos da goteira se contraem,

e do ponto de vista nutricional, é a fase de vida mais

causando um encurtamento e uma torção da

crítica do animal (ITAVO et al., 2007).

mesma. A torção faz com que as bordas da goteira

comportam-se

fisiologicamente

como

Quando

se fechem, formando um tubo quase que completo Segundo Baldwin et al. (2004) a colonização do

do cárdia ao canal omasal. Quando a goteira está

sistema

por

contraída, o leite que entra no cárdia é direcionado

microrganismo tem como origem o contato da cria

para o omaso e entra no abomaso, mas somente

com a vagina da mãe, saliva da mãe, bolo

10% ou menos entram no rúmen. O leite atravessa

alimentício, cama e microbiota ambiental, outros

rapidamente o omaso e entra no abomaso. O

animais, úbere, leite, saliva, urina, fezes e outras

fechamento da goteira esofágica é uma ação

fontes alimentícias sendo o mais importante o

reflexa, cujos impulsos eferentes se originam no

contato com saliva, bolo ruminal e fezes.

tronco cerebral trafegam pelo nervo vago. Os

digestório

no

recém-nascido

estímulos aferentes podem originar centralmente O tamanho dos pré-estômagos dos bovinos recém-

ou na faringe. A expectativa de sugar promove o

nascidos é quase igual ao do abomaso; enquanto

fechamento da goteira esofágica através

adultos, o volume gástrico total corresponde a mais

estimulação central e esta resposta pode ser

de 90%, porém a velocidade em que ocorre esse

considerada uma fase cefálica. A presença de

aumento depende do tipo de dieta. Quando ruminan-

líquido

na

faringe,

principalmente

de

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de

líquido 4904


Artigo 405 – A influência da dieta no desenvolvimento ruminal de bezerros

contendo sólido, estimula fibras aferentes, o que

como celulose e compostos de nitrogênio não

reforça a fase cefálica do fechamento da goteira. A

proteico (ARLEI, 2006).

postura do bezerro ou cordeiro ao sugar não parece ter grande influência sobre a função da

As condições ideais à adequada fermentação

goteira reticular, mas a ingestão rápida de líquido

ruminal de bovinos seriam as altas taxas de digestão

de um balde, ao contrário da sucção de um bico de

da fibra, presença de ácidos graxos voláteis,

mamadeira,

no

produção de amônia e metano, além de elevada

funcionamento inadequado da goteira e na perda

síntese microbiana (ARCURY; MATTOS, 1992).

de leite para o rúmen. A presença de leite no

Entretanto, a manipulação de algumas dessas

rúmen

características, em diferentes dietas, é limitada pelo

frequentemente

desencadeia

reações

resulta

de

fermentação

inadequadas (HERDT, 2004: 306).”

efeito prejudicial, que pode causar em outros aspectos

da

fermentação

ruminal,

sobre

o

De acordo com a visão desse autor, a goteira

desempenho

esofágica

consequentemente, do animal (BERCHIELLI, 2002).

tem

função

importante

em

animais

dos

microrganismos

e,

lactentes, e o fechamento reflexo da goteira parece diminuir após o desaleitamento e avançar da idade,

A fisiologia do rúmen exige teores de material fibroso

porém, este reflexo também é estimulado pelo

que regulam o pH e influenciam a dinâmica de

hormônio antidiurético, indicando assim, que ele

crescimento da população bacteriana dentro do

pode ter alguma função na vida adulta. Este

rúmen. Os desequilíbrios no pH ruminal, produzidos

hormônio é secretado pela hipófise posterior em

pela fibra inadequada na dieta, podem promover

resposta à desidratação, ou ainda, aumento na

acidose ruminal clínica ou subclínica. Junto com a

osmolaridade plasmática; é associado à sede, e

queda do pH, as relações entre os diferentes tipos

como estimula a goteira esofágica, grande porção da

de bactérias mudam. Sob estas condições, a

água ingerida pelo animal privado de água, poderá

produção de proteína bacteriana e de ácidos graxos

ser desviada do rúmen. Este mecanismo funcional

voláteis pode se alterar levando à queda no

assegura que a água chegue mais rápido ao

consumo alimentar, causando menor síntese de leite

intestino delgado, o local de máxima absorção.

e mudança na sua composição. Outra consequência derivada está relacionada com a apresentação de

A idade do animal não é um fator que está

desequilíbrios metabólicos (Cetose, deslocamento

diretamente relacionado com o desenvolvimento do

de abomaso) que afetam a saúde e a rentabilidade

rúmen. Segundo Nussio (2005) o desenvolvimento

da produção animal (OETZEL, 2001 apud ARLEI et

do rúmen de bovinos é um processo natural, e a

al., 2006).

idade do animal em si, pouco influencia seu desenvolvimento.

NUTRIÇÃO Segundo Teixeira (1997), conceitos sobre como os

Fatores que influenciam a fisiologia do rúmen

alimentos diferem em sua capacidade de gerar

Ruminantes vivem em estrita simbiose com a

produção e reprodução, além do conhecimento

população microbiana presente no interior do rúmen.

sobre tecnologias de conservação e manejo dos

Esta relação é descrita como simbiose do tipo

alimentos são conhecidos desde a antiguidade.

protocooperação, porque é mutuamente benéfica

Estes conhecimentos foram mais desenvolvidos no

para os ruminantes e para os microrganismos. De

século XVIII, o que possibilitou este aumento foram

um lado, o ruminante provê um ambiente adequado

os avanços científicos na agricultura, paralelamente

com elevada disponibilidade de alimentos para os

àqueles obtidos em ciências correlatas como física,

microrganismos crescerem e reproduzirem. Por outro

química e bioquímica.

lado, os microrganismos permitem ao ruminante a

Leite (colostro) De acordo com Embrapa Gado de Leite (2003), é

habilidade de utilizar carboidratos complexos, tais

muito importante fornecer colostro para o bezerro o 4905

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Artigo 405 – A influência da dieta no desenvolvimento ruminal de bezerros

o mais rápido possível, pois esta é a forma de

interconversões que ocorrem nos animais requerem

garantir a sobrevivência do animal nas primeiras

água. As células dos mamíferos são estruturas

semanas

fornecendo-lhe

complexas de macro-moléculas organizadas para

anticorpos. A maneira mais eficiente é fazer o

após

o

nascimento,

oxidar carbono de forma a liberar energia. Oxigênio

bezerro mamar o colostro na vaca logo após o

e carbono, elementos dos quais a energia é liberada,

nascimento.

são carregados através dos tecidos numa corrente de água que os transporta dos pulmões ou do

O alimento natural usado na criação de bezerros é o

aparelho digestório através das células e os expele

leite integral, que possui alto valor nutritivo (tabela 1),

através dos rins e na evaporação.

porém, é um alimento caro (MEDINA et al., 2001). A água é um solvente de substâncias absorvidas, à TABELA 1. Composição do colostro e do leite em

medida que carreia os produtos “inúteis”, como o

função das ordenhas após o parto

dióxido de carbono e excesso de ureia. Para que

Componentes

sejam mantidas as funções dos tecidos e essas

Número de Ordenhas após o parto 1

2

3

Colostro

4

5

11

funções permaneçam constantes, a concentração de

23,9

17,9

Leite de transição 14,1 13,9

6,7

5,4

3,9

3,7

3,5

3,2

Proteína* (%) 14,0

8,4

5,1

4,2

4,1

3,2

Anticorpos (%) Lactose (%)

6,0

4,2

2,4

0,2

0,1

0,09

2,7

3,9

4,4

4,6

4,7

4,9

Minerais (%)

1,11

0,95

0,87

0,82

0,81

0,74

Vitamina A (microg/dL)

295

-

113

-

74

34

Sólidos Totais (%) Gordura (%)

Leite inteiro

água no corpo animal deve permanecer equilibrada.

13,6

12,5

Moléculas de água são as mais numerosas dos

sempre disponível, pois o consumo do alimento seco

leite mamando diretamente no úbere da vaca, já o aleitamento artificial consiste em fornecer a dieta líquida em balde, mamadeira ou similar. A vantagem deste sistema é que permite racionalizar o manejo dos animais, ordenhar com mais higiene e controlar de

leite

ingerida

pelo

bezerro

(EMBRAPA GADO DE LEITE, 2003). Segundo Herdt (2004) o leite deve ser desviado do órgão que está em desenvolvimento, no caso, o para

que

o

mesmo

se

desenvolva

adequadamente.

a água é nutriente, pois, ocorre contínua excreção e da

mesma

pelos bovinos é melhor quando se aumenta o consumo de água. Deve-se considerar também que o ambiente ruminal é composto de cerca de 70% de água, e essa porcentagem é muito importante para o bom funcionamento do rúmen, no que diz respeito à atuação dos microrganismos presentes no mesmo (SOUZA, 2003). Se forem usados baldes para dar de beber aos animais, a água deve ser renovada diariamente. Recomenda-se que os bezerros tenham, à sua disposição, desde a primeira semana de idade, água fresca e limpa, porque há evidências de maior

Água Assim como qualquer outro, na acepção da palavra, perda

restrição de água, o que pode estar relacionado com com Nuvital (2008), água limpa e fresca deve estar

artificial. No aleitamento natural, o bezerro obtém o

quantidade

alimentos pelos bovinos, cai drasticamente com a o aumento da viscosidade da ingesta e, de acordo

O aleitamento dos bezerros pode ser natural ou

rúmen,

(TEIXEIRA; TEIXEIRA, 2001). Segundo este mesmo autor, a ingestão voluntária de

*Incluído os anticorpos indicados na linha abaixo. Fonte: WATTIAUX (1997) apud SANTOS et al. (2002).

a

mamíferos e representam cerca de 99% do total

que

deve

ser

reposta

organismo. Todas as reações químicas e

ao

consumo de concentrado pelos animais assim manejados (EMBRAPA GADO DE LEITE, 2003). Cuidados com fontes de água são de suma importância, incidência de parasitoses (protozoários, bactérias e vermes), podem ser decorrentes de sua ingestão.

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4906


Artigo 405 – A influência da dieta no desenvolvimento ruminal de bezerros

Alimentos concentrados De acordo com Barbosa (2004), os alimentos

trados, com alto teor de carboidratos e proteína

concentrados são aqueles com alto teor de energia,

sofrem fermentação no rúmen, produzindo ácidos

acima de 60% de nutrientes digestíveis totais (NDT),

graxos

abaixo de 18% de fibra bruta (FB), e são divididos de

desenvolvimento e crescimento de papilas (figura 1);

acordo com a sua composição nutricional.

os principais AGV produzidos no rúmen são o ácido

voláteis

(AGV),

que

proporcionam

o

butírico, em seguida o ácido propiônico, e o ácido Alimentos

energéticos

são

concentrados,

que

apresentam menos de 20% de proteína bruta (PB) na sua composição; de origem vegetal pode-se citar:

acético. FIGURA 1: Parede ruminal. Papilas (A) e túnicamuscularis(B)

milho, sorgo, trigo, arroz, melaço, polpa cítrica; de origem animal: sebos e gordura animal. Os proteicos são alimentos concentrados que apresentam mais de 20% de PB na sua composição; de origem vegetal podem ser: farelo de soja, farelo de algodão, farelo de girassol, soja grão, farelo de amendoim, caroço de algodão; e de origem animal: farinha de sangue, de peixe, carne e ossos (sendo esta última atualmente proibida pelo Ministério da Agricultura para uso em nutrição de ruminantes). Os minerais são

os

compostos

de

minerais

usados

na

alimentação animal: fosfato bicálcico, calcário, sal comum, sulfato de cobre, sulfato de zinco, óxido de magnésio, entre outros. As vitaminas: divididas em vitaminas lipossolúveis e hidrossolúveis. Existem ainda os aditivos que podem ser utilizados na nutrição

de

substâncias

ruminantes; como

são

compostos

antibióticos,

Fonte: Anais do I Seminário sobre Integridade Digestiva de Ruminantes (2005)

de

hormônios,

Segundo

Embrapa

Gado

de

Leite

(2003),

probióticos, antioxidantes e corantes (BARBOSA,

concentrado inicial deve ser fornecido aos bezerros

2004).

do nascimento aos 60 ou 70 dias de idade, independente do sistema de aleitamento utilizado, e

Alguns dos concentrados utilizados na nutrição de

deve ter na sua composição ingredientes de boa

ruminantes

de

qualidade. Afirma ainda que os concentrados que

alimentos. Os mesmos podem ser utilizados nas

contém grãos que sofreram tratamento térmico ou

dietas de ruminantes porque têm potencial para

vapor, e alimentos na forma de pelets aumentam a

atender as condições desejáveis. Entre estes,

digestibilidade e estimulam o consumo precoce.

são

subprodutos

da

indústria

destaca-se a polpa cítrica peletizada, resultante da produção

industrial

de

suco

de

laranja;

os

Alimentos volumosos

subprodutos da indústria de farinha de mandioca,

Alimentos

como a raspa de mandioca, que é o resíduo da

energético, altos teores de fibra e/ou água. Possuem

fabricação do polvilho e a casca de mandioca

menos de 60% de nutrientes digestíveis totais (NDT)

constituída por cascas e pontas de mandioca

e/ou mais de 18% de fibra bruta (FB), podem ainda

residuais, que se caracterizam também como fonte

ser divididos em secos e úmidos. Os volumosos são

de energia, por conterem carboidratos de alta

os alimentos de menor custo na propriedade. Os

degradabilidade ruminal (BERCHIELLI, 2002).

mais usados para os bovinos são as pastagens

volumosos

são

os

de

baixo

teor

naturais ou artificiais (braquiárias e panicuns são os De acordo com Santos (2008), os alimentos concen4907

mais comuns), capineiras (capim elefante), silagens

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Artigo 405 – A influência da dieta no desenvolvimento ruminal de bezerros

(capim, milho, sorgo, cana- de- açúcar), cana-de-

e interações de compensações, que ocorrem

açúcar, bagaço de cana hidrolisado; entre os menos

quando se determina o consumo de alimentos por

usados estão: milheto, fenos de gramíneas, silagem

um determinado grupo de animais, recebendo

de girassol, palhadas de culturas, entre outros

uma dieta específica. Sugere ainda que para se

(BARBOSA, 2004).

medir o consumo potencial de alimentos, o ideal

Segundo Bianchini et al. (2007), as forragens são fontes de nutrientes muito importantes para os ruminantes; fornecem proteína e energia, e ainda provêm fibra necessária para promover mastigação, ruminação e saúde do rúmen e, por isso, para a formulação de dietas para bovinos, o primeiro fator a ser analisado deve ser qualidade e quantidade de fibra.

seria dividir os alimentos em frações que limitam o consumo devido ao enchimento ou densidade, daquelas que limitam o consumo da dieta devido à densidade energética. Paula (2005), afirma que o primeiro conceito crítico ao se desenvolver um sistema para predizer o consumo de fibra é que este é função do animal, do alimento e das condições de

FIBRA Pode-se considerar fibra um termo meramente

alimentação. Sendo assim, não se obtém sucesso utilizando qualquer equação que tente predizer o

nutricional cuja, definição está vinculada ao método

consumo baseada somente nas características do

analítico empregado na determinação da mesma

animal (peso vivo, nível de produção, etc.) ou

(BIANCHINI et al., 2007).

ainda,

equações

características

baseadas

do

alimento

somente (volume,

nas fibra,

Quimicamente, a fibra é um agregado de compostos,

densidade energética, etc.). Nenhuma equação

sendo assim, sua composição química varia de

também será aplicável se, por exemplo, as

acordo com a fonte e metodologia utilizada em sua

condições de alimentação (área de cocho, taxa

determinação laboratorial, que deve estar de acordo

de

com princípios biológicos ou com sua utilidade

estiverem limitando o consumo de alimento.

lotação,

quantidade

de

alimento,

etc.)

empírica, porém deve-se avaliar o método a ser empregado em acurácia analítica, alta repetibilidade

“Os pontos críticos para se estimar consumo são

e ainda, custo (PAULA, 2005).

as limitações relativas entre o animal, o alimento e as condições de alimentação. Se a densidade

Segundo este mesmo autor, embora o método ideal

energética da ração é alta (baixa concentração de

deva apresentar correlação nutricional, não é

fibra) em relação às exigências do animal, o

obrigatoriamente necessária composição química

consumo será limitado pela demanda energética

uniforme, porém, deve fornecer informações úteis

deste animal e o rúmen não ficará repleto.

aos nutricionistas de ruminantes no tocante ao

Entretanto, parece bastante lógico que se a ração

comportamento da fibra no trato digestivo dos

foi formulada para uma densidade energética

animais, velocidades e extensão da degradação e

baixa

produtos finais de sua degradação; e, quando

requerimentos

possível, deve ser considerada a interação da fibra

limitado pelo efeito do enchimento do alimento.

com outros componentes da dieta.

Se a disponibilidade de alimento é limitada, nem o

(teor

de do

fibra

elevado)

animal,

o

relativa

aos

consumo

será

enchimento nem a demanda de energia seriam Paula (2005), concordando com Bianchini et al.

importantes para predizer o consumo (PAULA,

(2007), afirma que o papel da fibra na regulação do

2005: 20).”

consumo não tem sido bem aceito da mesma maneira como é reconhecido na disponibilidade de

De acordo com Paula (2005), o segundo conceito

energia e fermentação ruminal, e a principal causa

crítico para a previsão de consumo de alimento é

disto, é a falta de reconhecimento da complexidade

que o enfoque utilizado para desenvolver um sis-

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4908


Artigo 405 – A influência da dieta no desenvolvimento ruminal de bezerros

tema depende das informações conhecidas e das

Fibra insolúvel em detergente neutro (FDN)

razões para se predizer o consumo; razões estas

Na fibra insolúvel em detergente neutro estão

que podem ser classificadas em três categorias: (1)

incluídos celulose, hemicelulose e lignina como

para formulação de rações, (2) para previsão de

os componentes principais (BIANCHINI et al.,

desempenho e (3) para estimar a demanda de

2007).

alimentos e exigência. A previsão de consumo no terceiro caso é relativamente fácil, considerando que

Segundo Paula (2005), a metodologia original

os animais obedecem às leis de conservação de

para

massa e energia, pois a dieta e a produção animal

detergente neutro (FDN) foi desenvolvida na

são usualmente conhecidas ou estabelecidas. Sabe-

década de 60, e a partir daí várias modificações

se que a primeira razão para predição de consumo é

foram feitas ao longo do tempo, porém, deve-se

a mais importante em nutrição aplicada, porém a

tomar cuidado ao realizar comparações de

maioria das pesquisas envolvendo predição de

valores. Os reagentes utilizados para análise de

consumo tem sido associadas com o segundo

fibra em detergente neutro não dissolvem as

objetivo.

partes indigestíveis ou lentamente digestíveis dos

determinação

de

fibra

insolúvel

em

alimentos, sugerindo então que o método mede Fibra bruta Na

com mais acurácia as características nutricionais

determinação

da

fibra

bruta

(FB)

são

associadas à fibra.

empregados ácidos e bases fortes a fim de isolá-la (BIANCHINI et al., 2007). A extração ácida objetiva a

Existem

remoção dos amidos, açúcares e parte da pectina e

determinação da fibra em detergente neutro, por

hemicelulose do alimento. A extração básica remove

isso, há necessidade de se realizar avaliação

as

hemicelulose

comparativa das metodologias, com o objetivo de

remanescentes e ainda, parte da lignina. Os

padronizá-las, permitindo a comparação entre

constituintes da fibra bruta são principalmente

resultados (NEWMANN, 2002 apud PAULA,

celulose,

2005).

proteínas,

com

pectinas

e

pequenas

quantidades

de

várias

alterações

no

método

de

hemicelulose (PAULA, 2005). Efeitos da fibra na alimentação Segundo Paula (2005), a fibra bruta vem sendo abandonada na análise laboratorial dos alimentos,

Produção de ácidos graxos voláteis (AGV) Segundo Hall (2000), apud Bianchini et al. (2007)

porque, não separa as porções do alimento, o que é

a proporção de AGV varia de acordo com a dieta

interessante

e

na

formulação

de

dietas

para

população

ruminal.

Embora

haja

muitas

ruminantes. Pesquisadores da área de nutrição de

variações

ruminantes têm determinado a fibra através da

concentrado nas dietas, a população é estável;

metodologia de Van Soest como fibra insolúvel em

porém as proporções de AGV dependem do pH.

detergente neutro (FDN) e/ou fibra insolúvel em

Pode-se manipular o tipo e quantidade de AGV

detergente

praticamente

produzido, de acordo com o tipo de carboidrato

inexistentes trabalhos de pesquisa usando FB para

utilizado na dieta, manipulando assim, rendimento

identificar a fração fibrosa dos alimentos para

e composição de leite ou crescimento corporal,

ruminantes atualmente.

por exemplo.

Fibra insolúvel em detergente ácido (FDA)

Aumentando celulose e hemicelulose em relação

De acordo com Bianchini et al. (2007), a fração de

ao amido e carboidratos

fibra insolúvel em detergente ácido (FDA) dos

aumenta a relação acetato - propionato (BACKES

alimentos

et al., 2000, apud BIANCHINI et al., 2007).

ácido

inclui

componentes

(FDA),

e,

celulose

primários

além

são

e

lignina de

a

proporção

quantidades

variáveis de cinza e compostos nitrogenados. 4909

como

entre

Efetividade e fibrosidade

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de

fibra

e

solúveis, também


Artigo 405 – A influência da dieta no desenvolvimento ruminal de bezerros

Uma característica relacionada às forragens é a

no entanto a FDN efetiva pode ser maior ou

efetividade em promover as atividades física e

menor que a concentração total de FDN em um

motora do trato gastrintestinal. Os bovinos retêm a

alimento (BIANCHINI et al., 2007).

fibra no rúmen por tempo determinado, adequado à digestão, pois ingerem partículas grandes enquanto comem. No rúmen, a fibra ingerida, por sua vez, forma uma rede flutuante, induzindo o “incentivo de arranhão” que estimula a ruminação (BIANCHINI et al., 2007).

CONSUMO DE ALIMENTOS A predição de consumo é ponto crítico de todos os métodos e modelos atuais de formulação de dietas, e, de acordo com Waldo; Jorgensen (1981), citado por Forbes (1995), apud de Paula (2005), predição de consumo em ruminantes é

De acordo com Paula (2005), pode-se definir fibra efetiva como a capacidade que a fibra da dieta tem de promover mastigação, ou capacidade de manter normal a porcentagem de gordura no leite e

extremamente importante e difícil, devido às interações que ocorrem entre o animal e a dieta, existindo poucos dados disponíveis para subsidiar o uso de equações.

produção de leite, ou ainda, ambas as definições. Sabe-se que o consumo é regulado por vários Segundo Bianchini et al. (2007), é importante ressaltar que as determinações químicas da fibra, sejam elas como FB, FDN e FDA, podem não satisfazer as necessidades de fibra efetiva. Formas

fatores,

alguns

descritos

como:

fatores

associados ao alimento, fatores associados ao animal e fatores associados à condição de alimentação.

físicas da fibra (finamente moída) nem sempre são efetivas na produção de gordura do leite, o que conduz ao conceito de fibra efetiva. Existem ainda poucos dados disponíveis e pouco claros a respeito da determinação da efetividade dos alimentos.

De acordo com Paula (2005), dentre os aspectos que limitam o consumo, relacionados ao animal têm-se o enchimento do rúmen que pode variar de acordo com a dieta.

Mesmo a porcentagem de gordura no leite sendo critério para determinar fibra efetiva, se aceita que ambas as propriedades, químicas e físicas da fibra são importantes na determinação de efetividade. Da mesma maneira em que se desenvolveu o conceito de fibra efetiva, determinou-se que as propriedades físicas dos alimentos afetam a digestibilidade, a taxa de passagem e a função ruminal.

Em dietas que contém altas proporções de fibra, o consumo se torna função das características da dieta, sendo assim, o animal consome o alimento até atingir sua capacidade máxima de ingestão Mertens (1987), apud de Paula (2005), atingindo o limite de destruição ruminal que determina a interrupção do consumo (BAILE; FORBES, 1974, apud PAULA, 2005).

FDN efetivo e fisicamente efetivo De acordo com Paula (2005) e Bianchini et al.

Van Soest (1982), apud Paula (2005), afirma que

(2007), a efetividade da fibra em estimular a

o animal consome alimento para manter a

mastigação é diferente da efetividade da fibra na

ingestão de energia constante, e neste caso, o

manutenção da porcentagem de gordura no leite.

fator que determina a saciedade controlando a ingestão é a densidade calórica da ração.

A FDN efetiva está relacionada com a capacidade de um alimento em diminuir a quantidade de fibra,

Sabe-se que, quando se trabalha com dietas de

de maneira que não seja alterada a porcentagem de

baixa qualidade, a ingestão é predita com mais

gordura no leite, enquanto isso, a FDN fisicamente

acurácia por fatores que descrevem o limite físico

efetiva está relacionada com propriedades físicas da

da ingestão: digestibilidade da dieta, output fecal

fibra, ou seja, o tamanho das partículas, que tem

(índice de capacidade física) e peso vivo, sendo

função

que neste caso, a primeira característica que

de

estimular

a

mastigação.

A

FDN

fisicamente efetiva será sempre menor que a FDN, Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.6, p.4902-4918, nov./ dez. 2016. ISSN: 1983-9006

4910


Artigo 405 – A influência da dieta no desenvolvimento ruminal de bezerros

influencia esta relação é a digestibilidade (PAULA,

se em torno de 6,8; quando o pH encontra-se

2005).

abaixo de 6,0 a capacidade tamponante é baixa, e uma das principais consequências quando o pH

Bull et al. (1976), apud Paula (2005), observaram

ruminal está abaixo de 6,0 é a redução drástica

que ao variar a densidade energética da ração, a

da digestão da fibra. Existem duas razões para

limitação física controla o consumo das dietas com

isto, a primeira é que as enzimas necessárias

menor densidade energética, e ainda, que FDN é o

para quebra da fibra não funcionam efetivamente

fator primário da limitação física do consumo por

com pH abaixo de 6,0; a segunda razão é que a

ruminantes, ou seja, depois que estes animais

taxa de crescimento da atividade fibrolítica é

atingem a capacidade máxima de consumo de

inibida em pH reduzido (RUSSEL; WILSON,

parede celular, a ingestão cessa. Foi citado por

1996, apud PAULA, 2005).

Andrade; Carvalho (1992), o maior consumo de matéria seca, de matéria orgânica e de proteína

Em ruminantes com alto nível de consumo de

bruta em bovinos, em resposta a diferentes níveis de

dietas de alta fermentabilidade, o pH ruminal é

concentrados na dieta.

mais ácido que o fisiologicamente observado em animais

com

baixo

aporte

energético.

Em

Souza et al. (2000), não verificaram diferenças

ruminantes modernos, com alto desempenho, não

estatísticas sobre o consumo de matéria seca entre

se pode exigir que parâmetros descrevendo a

bovinos

fermentação ruminal sejam similares àqueles

e

bubalinos

alimentados

com

rações

contendo diferentes níveis de FDN.

observados em ruminantes com baixa ingestão de energia. Dietas de alta fermentabilidade

Interferência do pH ruminal na digestão

tendem a reduzir, tanto o pH ruminal, quanto a

A manutenção da saúde ruminal e o equilíbrio dos

relação entre ácido acético e ácido propiônico.

meios maximizam a digestão da fibra e o consumo

Uma amplitude normal de variação ao longo de

de alimentos. Dificilmente as forragens são utilizadas

24 horas no pH ruminal de vacas leiteiras de alta

como fonte exclusiva de alimento para ruminantes,

produção varia entre 5,5 e 7,0 (figura 2);

sendo que os concentrados são fermentados mais

enquanto a relação entre moles de acetato e

rapidamente no rúmen. Se há maior fermentação no

moles de propionato se mantém próxima de 2,5/1

rúmen,

(PEREIRA; ARMENTANO, 2000, apud PEREIRA,

será

maior

a

produção

de

AGV

e

consequentemente o pH no rúmen mais baixo. O pH ruminal é influenciado principalmente pela produção de saliva, sendo assim, animais alimentados com

2003). FIGURA 2: Variação no pH ruminal de vacas holandesas recebendo dieta completa

dietas contendo elevada porcentagem de alimentos volumosos normalmente apresentam pH ruminal mais alto, devido ao maior estimulo de produção de saliva

durante

os

processos

de

ingestão

e

regurgitação de alimentos, em contrapartida, animais recebendo dietas com alta porcentagem de grãos, normalmente possuem menor ingestão de saliva, acarretando diminuição do pH, seguida por aumento do crescimento das bactérias Streptococus bovis, com consequente elevação na produção de lactato, acompanhado por acentuada queda no pH e sintomas de acidose (PAULA, 2005). O rúmen é bem tamponado quando o pH encontra-

4911

Fonte: adaptado de Anais do I Seminário sobre Integridade Digestiva de Ruminantes (2005)

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Artigo 405 – A influência da dieta no desenvolvimento ruminal de bezerros

O gráfico mostra a variação no pH ruminal ao longo

ao peso da cabeça, expresso em porcentagem do

de 24 horas em vacas Holandesas alimentadas em

peso vivo, decresce de 8,1% ao nascimento para

sistema de dieta completa, fornecida uma vez por

2,4%, na 41º semana de idade.

dia

ou

recebendo

dieta

similar

em

sistema

convencional, caracterizado por dois fornecimentos

De acordo com Black (1983), apud Pires et al.

diários de alimentos concentrados separadamente

(200?) os órgãos internos, como fígado, rins e

da forragem.

trato digestório, apresentam notável divergência no

padrão

de

crescimento,

aumentam

Acidose ruminal

rapidamente de peso, se o animal recebe dieta

Acidose ruminal pode ser definida como adição e

acima da mantença e notável atrofia, em

acúmulo excessivo de ácido, ou falta de bases no

consequência de alimentação com níveis abaixo

ambiente ruminal. Secundariamente ao processo de

dessa; sendo assim, a alimentação é importante

acidose ruminal, pode ocorrer a acidose metabólica,

fator no crescimento dos órgãos em geral, não só

com possibilidade de levar o pH do rúmen abaixo do

em termos quantitativos, mas, principalmente,

limite vital. Usualmente, o distúrbio é associado com

qualitativos.

a microbiota ruminal inadequada ou não adaptada a um aumento nos níveis de concentrado na dieta em

Se for restrito o fornecimento de proteína e

detrimento de forragem (LEEK, 1993 apud PAULA,

energia, são reduzidos de forma significativa os

2005).

pesos absolutos de fígado, estômagos juntos e intestino, como verificaram (DROUILLARD et al.,

Acidose ruminal é um distúrbio nutricional, gerado

1991, apud PIRES, 200?).

pelo consumo excessivo de carboidratos solúveis e rapidamente disponíveis, que elevam a produção de

INFLUÊNCIA DA DIETA NO DESENVOLVIMENTO

ácidos no rúmen (PAULA, 2005).

RUMINAL A

dieta

influencia

significativamente

o

De acordo com este mesmo autor, o correto balanço

desenvolvimento do sistema digestório. Bezerros

das dietas quanto ao seu conteúdo, e seu correto

alimentados

fornecimento aos animais, é o caminho lógico para

sucedâneo, podem ser mantidos em fase pré-

evitar casos de acidose, e ainda, que fatores

ruminante por extensos períodos de tempo. A

ambientais

o

presença de fibra na dieta pode ser requerida

desencadeamento dos processos que podem levar

para o bom desenvolvimento e função normal do

aos quadros de acidose.

rúmen. Pré-ruminantes mais velhos apresentam

também

concorrem

para

adaptação DESENVOLVIMENTO DE ÓRGÃOS CAVITÁRIOS

exclusivamente

rápida

à

com

leite

alimentação

ou

sólida,

(TEIXEIRA; TEIXEIRA, 2001).

Os órgãos internos exercem as principais funções no organismo

animal,funções

essas

que

estão

Silva et al. (2004) avaliaram o desenvolvimento

relacionadas com a preservação da vida (PAULA,

trato

2005).

holandesa alimentados com leite integral e dois

gastrintestinal

de

bezerros

da

raça

sucedâneos, os mesmo autores observaram que Segundo Pires et al. (200?), Pálsson (1959), afirma

os sucedâneos não influenciaram de forma

que os órgãos mais vitais para o animal, como o

significativa as proporções dos compartimentos

cérebro, olhos, pulmão, rins, coração, esôfago,

do estômago dos bezerros em relação ao leite

abomaso

integral, considerando-se 60 dias de aleitamento.

e

proporcionalmente nascimento

e,

intestino melhor por

delgado,

estão

desenvolvidos

consequência,

ao

crescem

proporcionalmente menos na vida pós-natal. Quanto

Lucci (1989), afirma que o plano nutricional tem influência marcante sobre a velocidade na qual

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4912


Artigo 405 – A influência da dieta no desenvolvimento ruminal de bezerros

ocorrerá a inversão dos valores de medida entre os

presença

compartimentos

MURDOCK; WALLENIUS, 1980; e QUIGLEY et al.,

estomacais

do

rúmen-retículo

e

abomaso. Quanto maior a quantidade de leite e maior o

de

AGV’s

(TOMATE

et

al.,

1962,

1996 apud SANTOS, 2008).

tempo para fornecê-lo a um bezerro, mais lenta será sua transformação em ruminante funcional.

Santos (2008) destaca que o ácido butírico é o mais importante em relação ao crescimento em número e

Paiva e Lucci (1972), apud Carvalho et al. (2003)

tamanho de papilas; e afirma que a falta de

relatam que o desenvolvimento do rúmen em idades

forragem pode reduzir a quantidade de abrasão

precoces está associado ao consumo de alimentos

física das partículas de alimentos nas papilas.

sólidos. Afirmam ainda que os alimentos concentrados, que proporcionam uma maior produção de AGV no rúmen, estimulam o desenvolvimento da mucosa deste órgão, aumentando as papilas ruminais em número e tamanho. O feno proporciona maior desenvolvimento do rúmen quanto à capacidade e aumento do tecido muscular das paredes do órgão, contribuindo ainda para estabilizar o pH no rúmen, pelo efeito tamponante da

saliva

que

é

ingerida

no

ato

da

regurgitação/ingestão.

Alimentos volumosos são muito importantes para o desenvolvimento fisiológico, e, principalmente do tamanho e da musculatura do rúmen. Um bom volumoso, feno ou verde picado, deve ser fornecido aos bezerros desde a segunda semana de idade. Em escala de importância, para bezerros, antes dos três meses de idade, bons fenos são melhores que bons alimentos verdes picados, que, por sua vez, são melhores que boas silagens. Esta é uma recomendação de ordem geral, já que a qualidade

Segundo Orskov (1990), apud Carvalho et al. (2003), é

do

alimento

é

extremamente

importante

na

possível substituir precocemente a proteína do leite por

determinação do consumo (EMBRAPA GADO DE

outras proteínas, apesar de que, tecnicamente, seja

LEITE, 2003).

uma substituição difícil, pois, quando a proteína láctea reage com os sucos estomacais forma-se grande coágulo que posteriormente, vai se desintegrar aos poucos.

De acordo com Rehagro (2004), a chave para o desenvolvimento do rúmen é o consumo de alimentos sólidos, especialmente concentrados, e para maximizar o consumo de concentrado por

Recomenda-se

utilizar

concentrados

iniciais

bezerros em aleitamento, recomenda limitar a

corretamente balanceados, a menor custo e com alta

quantidade de leite ou sucedâneo e fornecer

eficiência Campos et al. (1991); já Carvalho et al.

concentrado limpo e fresco à vontade.

(2003), afirmam que concentrados e fenos fornecidos na

mesma

dieta

desenvolvem

no

rúmen

um

ecossistema mais completo.

Segundo Carvalho et al. (2003), ao desaleitar precocemente bezerros da raça holandês. Modesto et al. (1999), observaram que o rúmen-retículo e

De acordo com Silva, Leão (1979), apud Santos (2008),

omaso, levam duas a três semanas respectivamente

o crescimento e a densidade das papilas ruminais

para dobrar de peso. Após a primeira semana a

podem ser aumentados em função da proporção de

velocidade

concentrado e nível de energia da dieta. Afirmam ainda

tornando a crescer depois de 56 dias. O rúmen-

que as funções das papilas se resumem no aumento

retículo aumenta seu peso em oito vezes e o omaso

da

em cinco vezes, demonstrando que a administração

superfície

das

paredes

do

rúmen,

havendo

de

crescimento

alimentos

abomaso

de

que constituem a principal forma de energia para os

desenvolvimento muscular do rúmen-retículo até os

ruminantes e ajudam o movimento do material.

50 dias de idade, o que também foi verificado por

O desenvolvimento de papilas, responsável pelos

et

al.,

1966;

CARVALHO et al., 2003).

produtos finais de fermentação, é dependente da 4913

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estimula

cai,

consequentemente um aumento na absorção de AGV,

(STOBO

sólidos

do

OCHOA,

1994,

rápido

apud


Artigo 405 – A influência da dieta no desenvolvimento de bezerros

Na Tabela 2, são apresentados dados sobre o

Como pode ser observado na tabela acima, ao

desenvolvimento normal do estômago dos ruminantes.

nascerem, os bovinos tem os retículos-rúmen

TABELA 2: Crescimento do Estômago de Bovinos, Bubalinos e Ovinos (Adaptado de Lyford, Jr., 1988) Retículo-

Omaso

Rúmen Idade

P.V.

(sem.)

(kg)

(g)

(g/k g)

significativamente menores que o abomaso, e com o avançar da idade, a medida que o animal desenvolve o aparelho digestório, estes valores

Abomaso

são invertidos. O mesmo acontece com o omaso, %

(g)

(g/k g)

%

(g)

(g/k g)

%

que aumenta significativamente; este fator pode ser

BOVINOS

observado

também

desenvolvimento Nascime

23,9

95

4,0

2

25,8

180

7,0

4

32,6

335

10,3

nto

8

42,9

12

59,7

17

76,3

Adulto

770 115 0 204 0

325,

454

4

0

18,0

19,3

26,7

14,0

3 5 4 0 5 5 6 5 6 6 6 8

40

1,68

65

2,51

70

2,15

160

3,72

265

4,43

550

7,21

6

180

2

0

5,53

1 4 1 5 1 1 1 4 1 5 1 8

140

2,13

200

7,75

210

6,44

250

5,82

330

5,52

425

5,57

2

103

4

0

3,17

5 1

3

34,0

439

12,9

6

38,7

553

14,3

9

44,7

875

19,6

12

15

Adulto

45,7

56,7

108 4 134 8

347,

700

6

0

23,7

23,8

20,3

5 6 8 7 1 7 1 7 1

1,59

8

180

5,29

60

1,55

7

206

5,32

133

2,98

223

4,99

183

270

7

180

0

0

4,00

4,76

5,18

1 1 1 2 1 4

258

286

1

120

8

0

5,65

5,04

3,45

5 3 4 2

5,7

19

3,3

2

12,1

39

3,2

4

14,4

131

9,1

nto

8

21,5

343

15,9

12

30,0

466

15,5

16

38,9

695

17,9

Adulto

61,8

919

14,9

3 2 3 6 6 2 7 7 7 1 7 2 7 3

0,86

8

36

6,32

5

0,41

5

63

5,21

11

0,76

5

68

4,72

21

0,98

5

82

3,81

45

1,50

7

145

4,83

59

1,53

6

206

5,29

1,92

Recomendações para alimentação de bezerras holandesas Objetivos de crescimento De acordo com Santos et al. (2002), durante o

1

período de aleitamento, o primeiro objetivo é

9

manter a bezerra viva e saudável, e não procurar

1

ganhos de pesos elevados. Não há interesse na

4

criação de bezerras, em obter ganhos de peso

1

elevados

4

2 7 2

como

na

criação

de

vitelos.

As

diferenças de pesos se atenuam por volta do mês

independentemente

do

tipo

de

alimentação utilizado durante as seis primeiras semanas de vida. Acredita-se que é melhor

5

manter

1

crescimento igual a 450 g por dia, a fim de facilitar

8

a introdução de alimentos sólidos susceptíveis de

1

satisfazer o apetite da bezerra. O segundo

7 1 5 1 2

a

bezerra

de

grande

porte

num

objetivo visa obter o 1º parto da novilha antes dos 28

meses

de

idade,

com

um

peso

de

aproximadamente 490 - 520 kg para a Holandesa Holstein e Pardo Suíça, 370 - 390 kg para Girolando e 320 - 340 kg para a Jersey, conforme

5

119

de

1

OVINOS Nascime

digestório

bubalinos e ovinos.

sexto

54

sistema

ao

4

BUBALINOS 6

do

quanto

9

226

3,66

6

a genética, manejo e alimentação, levada em

0

conta durante a criação das bezerras e novilhas.

5 9

Alimentação Láctea

3

Após os três primeiros dias de ingestão do

3

colostro, recomenda-se fornecer leite integral ou

1

sucedâneo de qualidade durante 8 a 12 semanas

8 2

consecutivas. A quantidade oferecida por dia

2

deve ser dividida em duas refeições, e, são

2

estabelecidas

2

representar, 8, 9, 10, 8 e 5% do peso vivo da

1

bezerra ao nascimento, respectivamente, durante

8

8 semanas do período de aleitamento. Um bom

Fonte: Princípios de nutrição de bovinos leiteiros (TEIXEIRA; TEIXEIRA, 2001

em

função

do

peso;

podem

sucedâneo de leite deve conter no máximo 0,25% de fibra bruta na matéria seca (MS). Níveis mais

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4914


Artigo 405 – A influência da dieta no desenvolvimento de bezerros

elevados de fibra indicam que, o sucedâneo é

bezerras de raças de grande porte) e 400 a 600 g

constituído por uma porção maior de ingredientes de

(para as bezerras de raças de pequeno porte),

fontes vegetais, o que consequentemente, pode

por um período consecutivo de cinco dias, o

causar diminuição da digestibilidade, conduzindo a

desaleitamento pode ser efetuado. Para bezerras

um ganho inferior durante as três primeiras semanas

da raça Holandesa, o fornecimento de 4 a 5 kg de

de idade (SANTOS et al.; 2002).

leite, divididos em dois tratos diários, nos primeiros 30 dias, seguido de 3 a 4 kg até os 45

Este mesmo autor afirma que, substituir leite integral

dias

por

criador.

normalmente, é o suficiente para nos 60 dias de

Conhecendo o valor nutritivo incontestável do leite,

idade desaleitar estas bezerras, desde que,

qual é a utilidade de sucedâneos? Principalmente o

paralelamente, estejam consumindo por volta de

fator econômico justifica a utilização pelo produtor,

800 a 1.000 g de concentrado/dia.

sucedâneos

provoca

dúvidas

ao

e

nos

15

dias

subsequentes

2

kg,

que obtém o benefício da venda de seu leite, e, as performances

de

bezerras

alimentadas

com

A administração do concentrado será dividida em

sucedâneos não são em nada ameaçadas. O

concentrado inicial (18 a 20% de PB) nos

sucedâneo aumenta os riscos de doenças (diarreias)

primeiros 3-4 meses de vida, e após, concentrado

e de mortalidade, quando a qualidade e o modo de

para crescimento (16 a 18% de PB) (tabela 3). O

preparação e de distribuição forem ruins.

fornecimento deve ser no mínimo até o 6° mês de vida, limitando consumo máximo de 2,0 a 3,0

Desaleitamento precoce: 8 a 12 semanas

kg/diário, em função dos objetivos a serem

É durante este período que será realizado o

alcançados.

desaleitamento da bezerra, o que significa a passagem de um regime à base de leite para o de

TABELA 3 - Características a serem observadas

ruminante (LUCCI, 1989).

Características

De acordo com Santos et al. (2002), dois aspectos podem justificar o desaleitamento precoce:

a

economia obtida com a substituição do leite por

NDT* Proteína Bruta

Concentrado para Crescimento (após 4 meses) 65 – 70%

18 – 20%

16 – 18% Grosseira ou peletizada Até 3 kg

Necessário

1% + Sal no cocho 1% + Fosfato BiCa no cocho Dispensável

Feno de Boa Qualidade**

Feno de Boa Qualidade

desaleitar precocemente a bezerra, uma vez que,

Quantidade

Grosseira ou peletizada Até 3 kg

após

Sal mineral

1%

Suplemento Ca e P Suplemento Vitamínico Complemento Volumoso

1%

alimento mais barato; não existe desvantagem em o

desmame,

ocorre

ganho

de

peso

compensatório, e aos 180 dias as diferenças observadas

no

desmame

desaparecem;

o

desenvolvimento precoce do volume do rúmen, devido à ingestão de alimentos sólidos, desde a 2ª semana de vida.

nos Concentrados para bezerras

Santos et al. (2002) ainda afirma que, deve-se considerar além destes dois fatores, a redução das horas de trabalho e diminuição de incidências de diarreias e problemas digestivos. Na fase final do período

de

aleitamento,

devem-se

fornecer

à

bezerra menores quantidades de leite, durante uma semana, a fim de forçar maior ingestão de alimentos sólidos (feno e concentrado). Quando a ingestão de concentrado atinge de 800 a 1.000 g (para as

4915

Textura

Concentrado Inicial (até 4 meses) 70 – 80%

* NDT = Nutrientes Digestíveis Totais ** Entende-se como feno de boa qualidade aquele confeccionado com gramíneas ou leguminosas bem manejadas, cortadas num estágio vegetativo adequado, podendo ser do tipo Coastcross, Tifton-85, Aveia, Azevém, Estrela africana e Alfafa. Fonte: SANTOS et al. (2002).

A

partir

da

primeira

semana

de

vida,

o

concentrado deve ser oferecido à bezerra, mesmo que não o consuma em quantidade. Uma maneira simples de induzir a bezerra a consumir concentrado precocemente, consiste em colocar

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Artigo 405 – A influência da dieta no desenvolvimento de bezerros

uma pequena quantidade no fundo do balde, ao final

deve ser fornecido diariamente, em quantidade

da refeição líquida. As bezerras manejadas desta

estimada em % do peso vivo, duas vezes ao dia,

forma consomem mais concentrado e ganham mais

até que o desaleitamento possa acontecer. A

peso do que aqueles não estimulados (SANTOS et

partir das primeiras semanas de vida, deve-se

al.; 2002).

fornecer concentrado inicial, a fim de estimular o consumo. Quando o animal for

capaz de

consumir quantidade satisfatória (800 gramas

CONSIDERAÇÕES FINAIS Segundo as literaturas consultadas, pode-se concluir que a dieta interfere significativamente sobre o

para raças de grande porte) de concentrado, pode-se realizar o desaleitamento.

desenvolvimento ruminal em bovinos, sendo o mais O concentrado administrado deve ser dividido em

importante fator.

inicial (até 3-4 meses) e crescimento (no mínimo O

estudo

elaborado

desenvolvimento

evidencia

anatômico

do

que

rúmen

o está

associado à presença de volumosos em seu interior, por meio do qual a ação mecânica da fibra

até 6 meses). Volumoso de qualidade deve ser oferecido

aos

animais,

pois

ocorre

melhor

desenvolvimento quando concentrado e volumoso são fornecidos na mesma dieta.

(enchimento) estimula o aumento do órgão em suas dimensões

e

favorece

o

desenvolvimento

da

musculatura através da movimentação, promovida pelo incentivo de arranhão, decorrente do atrito entre a

fibra

e

a

parede

ruminal.

Entretanto,

o

desenvolvimento fisiológico do rúmen é influenciado pela presença de ácidos graxos voláteis (AGV) que estimulam o crescimento de papilas, em número e tamanho, responsáveis pela absorção de gases. Os alimentos que proporcionam a maior produção de AGV

são

os

concentrados,

devido

à

maior

disponibilidade de nutrientes, e também, por serem excelente

fonte

destacam-se

de

como

amido. de

Dentre

maior

os

AGV,

importância

no

desenvolvimento, os de cadeia curta (propionato e

Como consequência do desenvolvimento ruminal tem-se o desaleitamento precoce, o que implica em maior lucratividade para o produtor, uma vez que, ao ser capaz de ingerir e metabolizar alimentos sólidos, o animal pode ser desaleitado sem prejuízos para sua saúde, permitindo com que o leite destinado ao aleitamento seja comercializado. Todavia, devem ser considerados fatores como sistema de criação (intensivo, semiintensivo, extensivo), condições ambientais (bemestar, sanidade), finalidade funcional (corte, leite), pois estes interferem, especialmente, sobre o tipo de manejo que estes animais receberão e, caso os animais não estejam com o aparelho digestório desenvolvido, o lucro obtido com a venda do leite

butirato).

poderá ser anulado com o aumento dos índices De acordo com os autores citados nesta revisão de

de mortalidade e morbidade.

literatura, a melhor dieta a ser fornecida para bezerros em fase de desenvolvimento ruminal precisa ser balanceada em proporções e qualidades de concentrado e fibra (volumoso, forragens), a fim de atender o mais próximo possível às exigências nutricionais

do

desenvolvimento

animal, saudável

proporcionando de

seu

o

aparelho

digestório. Sugere-se que o bezerro receba colostro nas primeiras horas de vida, e nos próximos três dias, para garantir sua imunidade através deste. O leite

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, J.B.; CARVALHO, D.D. Estádio de maturação na produção e qualidade da silagem de sorgo. II - Digestibilidade e consumo da silagem. Boletim da Indústria Animal, v.49, n.2, p.101-106, 1992. ARCURY, P. B.; MATTOS, L. L. Microbiologia do rúmen. Informe Agropecuário, v.16, n.5, p.5-8, 1992. ARLEI, C.; CARDOSO, F.; GONZÁLES, F.; CAMPOS, R. Indicadores do ambiente ruminal e suas relações com a composição do leite e células somáticas em diferentes períodos da primeira fase da lactação em vacas de alta produção. Ciência Rural, v.36, n.2, mar-abr, 2006.

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Artigo 405 – A influência da dieta no desenvolvimento de bezerros

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