Nutritime Revista Eletrônica n.05 v.17

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Revista Eletrônica

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Editora Técnica: Rosana Coelho de Alvarenga e Melo

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Editor Científico: Júlio Maria Ribeiro Pupa


Sumário ARTIGOS 523 - Ração de felinos silvestres: teste de aceitação e palatabilidade em gatos domésticos (felis catus) .8773 Jessica Lucilene Cantarini Buchini, Suelen Túlio Córdova Gobetti, Juliana Forgiarini, Angélica Rodrigues de Amorim, Wilmar Sachetin Marçal

524 - Inclusão de diferentes níveis de fubá de milho em silagem de capim-elegante (Pennisetum purpureum Schum cv. Napier) ..................................................................................................................................................... .8781 Kélvia Xavier Costa Ramos Neto, Arnaldo Prata Neiva Júnior, Ian Calisto Costa Neto, Paulo Ricardo Pereira Paula, Valdir Botega Tavares

525 - Utilização de subprodutos da indústria pesqueira na nutrição de peixes ................................................ .8788 Juliano Kelvin dos Santos Henriques, Bruno da Silva Pires, Rômulo Batista Rodrigues


Ração de felinos silvestres: teste de aceitação e palatabilidade em gatos domésticos (felis catus) Cativeiro, massa, palatável, proteína,

Revista Eletrônica

recobrimento.

Jessica Lucilene Cantarini Buchini ¹ Suelen Túlio Córdova Gobetti² Juliana Forgiarini³ Angélica Rodrigues de Amorim¹ 4 Wilmar Sachetin Marçal

*

Vol. 17, Nº 05, set/out de 2020 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

¹ Discente do Mestrado Profissional em Clínicas Veterinárias da Universidade Estadual de Londrina.* E-mail: jessicacantarini@hotmail.com ² Docente do Programa de Mestrado Profissional em Clínicas Veterinárias da Universidade Estadual de Londrina. ³ Nutricionista Animal e P&D – QUIMTIA S.A. 4 Professor Dr.º do Departamento de Clínicas Veterinárias da Universidade Estadual de Londrina.

RESUMO Manter espécies nativas ou exóticas em cativeiro tem sido um grande desafio, pois é necessário ações que reproduzam a vida dos animais de vida livre, desde ambientação dos recintos à alimentação adequada. Ainda nos dias atuais, é possível identificar problemas de manejo com a manutenção em cativeiro, que expõe os estabelecimentos a prejuízos econômicos, e os animais a problemas de saúde e bem-estar, principalmente quando se refere ao manejo e gastos com alimentação. Por isso, este trabalho tem como objetivo fazer uma revisão sobre alimentação de felinos silvestres, e testar uma ração formulada especificamente para estas espécies em gatos domésticos. Foram fornecidas duas rações idênticas na formulação e composição, que diferiram apenas na forma de adição do palatabilizante, e fornecidas a gatos domésticos para avaliar palatabilidade e aceitação. Na ração A foi adicionado palatabilizante diretamente na massa durante a fabricação e, na ração B foi adicionado na massa e no banho pós produção. O experimento foi conduzido em duas etapas, utilizando-se 27 gatos, com duração de quatro dias cada etapa. Foram confrontados a ração A vs B por meio da razão de ingestão. O delineamento do estudo foi inteiramente casualizado, e as médias de consumo foram submetidas ao teste de Tukey por meio do software RStudio com nível de significância de 0,05. De acordo com os resultados foi possível concluir que os animais preferiram a ração B em relação à ração A, e que a adição do palatabilizante na massa mais o banho de palatabilizante líquido não influenciou negativamente na palatabilidade e aceitação da ração. Palavras-chave: cativeiro, massa, palatável, proteína, recobrimento. 8773

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RATION OF FELINES SILVESTRES: ACCEPTANCE AND FLAVORING TEST IN DOMESTIC CATS (Felis catus) ABSTRACT Keeping native or exotic species in captivity has been a great challenge, as actions that reproduce the life of free-living animals are necessary, from ambiance of the enclosures to adequate feeding. Even today, it is possible to identify management problems with maintenance in captivity, which exposes establishments to economic losses, and animals to health and welfare problems, especially when it comes to management and food expenses. Therefore, this work aims to review the feeding of wild cats, and test a ration specifically formulated for these species in domestic cats. Two identical feeds were provided in the formulation and composition, which differed only in the form of appetence factors, and were provided to domestic cats for appetence and acceptance. In feed A palatability was added directly to the dough during manufacture and in feed B palatability was added to the dough and bath after production. The experiment was conducted in two stages using 27 cats, each lasting four days. Feed A vs. B were compared using the ingestion ratio. The study design was entirely randomized, and the means of consumption were submitted to the Tukey test using RStudio software with a significance level of 0.05. According to the results it was possible to conclude that the animals preferred feed B over feed A and that the addition of palatability enhancer to the mass plus liquid palatability bath had no negative influence on palatability and feed acceptance. Keyword: captivity, mass, palatable, protein, coating.


Artigo 523 - Ração de felinos silvestres: teste de aceitação e palatabilidade em gatos domésticos (Felis Catus)

INTRODUÇÃO A manutenção de espécies nativas e exóticas em

o bem-estar dos animais, e ainda contribuir para a

cativeiro demanda ações que reproduzam a vida dos

conservação das espécies. A adequada alimentação

animais em seu habitat natural, desde nutrição,

e nutrição é o principal ponto crítico para o sucesso

manejo adequado, ambientação dos recintos e

de manutenção de espécies em cativeiro, já que

programas de enriquecimentos e condicionamento,

para estabelecer uma dieta não basta apenas

os

para a

observar as necessidades energéticas de um animal

operação de um zoológico (CUBAS; SILVA & DIAS,

de vida livre, deve-se levar em consideração que o

2014). A gestão de espécies em cativeiro é um

gasto de energia é menor quando o animal está em

assunto que vem assumindo importância cada vez

reclusão. Outro grande desafio está na garantia de

mais relevante a nível nacional e internacional, com

manutenção do consumo diário do alimento, que

isso várias investigações vem sendo realizadas para

pode ter diversas influências como horário e forma

identificar a situação dos zoológicos brasileiros afim

de fornecimento, e o tempo em que o alimento fica

de aplicar melhorias que permitam a qualidade de

exposto ao animal, porque isso pode afetar a

vida e bem-estar animal.

qualidade do alimento fornecido (TASSI et al., 2008).

Os

quais

se tornaram

problemas

indispensáveis

biológicos

dermatológicos

e

como

score

os

corporal

dentários,

podem

ser

O comportamento alimentar dos felinos de vida livre é bastante diversificado e varia de acordo com a

decorrentes do manejo alimentar incorreto, seja pelo

localização

fornecimento de alimentos em textura errada, de

variabilidade no tipo de presa (capivara, jacaré,

alimentos incompatíveis à espécie e até mesmo pelo

macacos, tatu, tamanduá, quelônios, aves, entre

fornecimento de alimentos em volume inadequado,

outros), eles têm preferência pelas presas de menor

associado a pouca atividade física (ADANIA et al.,

tamanho pela facilidade de captura. Conforme a

1998). A SEMA/RS (2017) aponta que a alimentação

disponibilidade

inadequada,

alimentos

partes não tão apreciadas como pés, cascos, ossos,

incompatíveis para a espécie e a não observância

garras e o crânio, com o intuito de suprir a demanda

dos períodos de alimentação, são resultantes do

de nutrientes (CUBAS; SILVA & DIAS, 2014; AZA,

manejo

gera

2016). Geralmente para animais em cativeiro a carne

consequências como o desenvolvimento de diversas

equina e bovina são as prediletas por terem alta

patologias, dentre elas a obesidade, a desnutrição,

digestibilidade,

anorexia,

introduzido produtos à base de carne suína que

o

fornecimento

operacional

incorreto,

problemas

de

e

isso

tegumentares

e

geográfica.

de

Embora

alimentos

mas

haja

consomem

recentemente

tem

uma

outras

sido

musculoesqueléticos, gastrointestinais e odontológi-

demonstraram ter a mesma digestibilidade. Além

cos.

destas carnes é ainda associada a alimentação ossos e presas inteiras com o objetivo de manter a

Mediante a necessidade de implementação de um

saúde bucal, promover atividade física, além de

alimento completo e mais barato para felinos

estimular a prática de hábitos naturais da espécie

silvestres de cativeiro, este trabalho teve como

(AZA, 2016).

objetivo fazer uma revisão sobre alimentação de felinos silvestres, avaliar a aceitação e palatabilidade

Em cativeiro, a alta digestibilidade para carne crua

de uma ração extrusada formulada para estas

foi observada quando comparada ao consumo de

espécies, através do fornecimento para gatos

ração. Uma das explicações encontradas por Crissey

domésticos.

et al. (1997), foi pela alta influência da alimentação

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Alimentação de Felinos Silvestres

que os animais tem em vida livre, onde eles tendem a ter um baixo consumo de fibras, e pelo alto teor de nutrientes de origem vegetal na ração usada no

Conhecer aspectos da biologia dos grupos de

experimento. Atualmente já é de conhecimento que

espécies mantidos em cativeiro é fundamental para

existem bactérias no trato digestivo de felinos

estabelecer o manejo adequado e com isso propiciar

silvestres e em gatos domésticos que são encontradas

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Artigo 523 - Ração de felinos silvestres: teste de aceitação e palatabilidade em gatos domésticos (Felis Catus)

em herbívoros, essas bactérias auxiliam a função do

No trabalho de Carvalho (2010) ele testou a

trato gastrointestinal como no estímulo da motilidade

digestibilidade de uma ração comercial, e comparou

e principalmente na digestão da fibra (FERNANDES,

os métodos usados para determinar os índices de

2009; DUTRA; CENTENARO & ARALDI, 2011; AZA,

digestibilidade aparente em jaguatiricas (Leopardus

2016), com isso justifica-se as altas taxas de

pardalis). Quando comparou a coleta total com os

nutrientes de origem vegetal utilizada nas rações

métodos de coleta parcial com uso de indicadores,

para gatos domésticos.

foi observado que o indicador CIA obteve um resultado semelhante ao da coleta total, concluindo

Diversos fatores são associados às principais

que

causas de diarreia em felinos domésticos, dentre

experimentos em que não é possível fazer a coleta

elas estão a alimentação e a alergia alimentar

total de fezes. Com relação ao consumo da ração

(REIS, 2012). A diarreia tem sido uma preocupação

durante

também para felinos silvestres, por isso, os tipos de

apresentaram fezes de consistência amolecida, e

fibras fornecidos na dieta, foram avaliados por vários

sua explicação foi com relação ao teor de fibra da

pesquisadores. EDWARDS, GAFFNEY & BRAY

ração de 4,91%, sugerindo que sejam realizadas

(2001) testaram e analisaram os tipos de fibras e a

mais pesquisas com outras rações com teor de fibra

sua influência no peso, consistência das fezes bem

menores

como a digestibilidade. Eles testaram a celulose,

fermentabilidade.

o

CIA

seria

todo

uma

o

e

alternativa

experimento

com

para

os

ingredientes

os

animais

de

alta

polpa de beterraba e frutooligossacarídeos, e observaram

que

os

frutooligossacarídeos

teve

Como em todas as espécies carnívoras obrigatórias,

melhor índice de digestibilidade, enquanto que a

os felinos silvestres têm necessidades únicas como:

celulose teve o menor índice, pois suas fibras foram

altos níveis de proteínas devido a demanda de

eliminadas pelas fezes de forma intacta.

proteína total sanguínea, aminoácidos essenciais, taurina, vitamina A e ácido araquidônico. Além disso,

A digestibilidade e a palatabilidade de rações

o aparelho digestivo é semelhante ao do gato

comerciais tem sido usada como parâmetro de

doméstico

avaliação para identificar o comportamento e a

comprimento total do trato digestório. Por esse

fisiologia digestiva de gatos domésticos e felinos

motivo

silvestres. A ração pode ser uma alternativa para a

domésticos são usadas como parâmetro para

substituição de carne crua, já que a carne crua,

calcular as dietas fornecidas para as espécies felinas

diversas vezes foi associada à veiculação de

silvestres de cativeiro (AZA, 2016).

as

e

do

leão,

diferindo

exigências

apenas

enérgicas

dos

no

gatos

bactérias potencialmente patogênicas a felinos domésticos e silvestres (VESTER et al., 2010;

A recomendação é de que a nutrição dos felinos de

CARVALHO, 2010; AZA, 2016). Vester et al. (2010)

cativeiro seja a mais variada possível, principalmente

comparou uma dieta a base de carne equina crua

porque a carne muscular demonstra-se ineficiente e

com uma dieta a base de ração comercial (sabor

acaba não fornecendo quantidades adequadas de

frango) em gatos-do-mato-do-deserto (Felis lybica e

cálcio,

Feliz margarita) e gatos domésticos. No trabalho ele

micronutrientes

verificou que o índice de digestibilidade não obteve

SANTOS,

diferenças significativas, sugerindo que a ração

suplementação adicional, principalmente porque na

poderia ser uma alternativa para a substituição de

maioria dos zoológicos a adequação é feita pela

carne crua. Também relatou que com exceção da

observação visual do escore corporal. O manejo

PB não foi observado grandes diferenças em relação

inadequado

aos demais nutrientes, no entanto o volume fecal foi

excessivo, associado à falta de espaço para

um problema detectado que poderia significar um

atividades

aumento na logística em relação à limpeza dos

obesidade, e até mesmo gerar prejuízos econômicos

recintos,

ao estabelecimento pelos desperdícios de alimentos

mais

positivamente

a

ração

poderia

significar uma opção para diminuição de custos com

vitaminas

A,

(AZA

2018).

dos físicas,

Por

e

2016;

E

podem

é

pelo levar

(PINTO; HORT & SANTOS, 2018).

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entre

PINTO;

vezes

alimentos

manutenção dos animais. 8775

D

outros

HORT

&

necessária

a

fornecimento o

animal

a


Artigo 523 - Ração de felinos silvestres: teste de aceitação e palatabilidade em gatos domésticos (Felis Catus)

A variabilidade de alimentos tem sido fornecida

Foram realizados dois testes por um período de

principalmente nos estabelecimentos que tem a

quatro dias cada um, dos quais eram ofertadas a

prática

é

ração A e B (Tabela 1). A quantidade de ração da

fornecido presas inteiras, ossos e gelos nos dias

dieta para suprir as necessidades de energia

quentes, especialmente para promover a atividade

metabolizável dos animais, foi calculada a partir das

física bem como o bem-estar animal. A grande

fórmulas preconizadas pela NATIONAL RESEARCH

preocupação com o fornecimento de presas inteiras

COUNCIL – NRC (2006). A água estava acessível

é pela possível contaminação por

para os animais consumirem a vontade.

de

enriquecimento

ambiental,

onde

compostos

farmacêuticos, pesticidas e bactérias patogênicas, já com relação ao fornecimento de ossos e de gelo a

No primeiro teste com a ração A, o palatabilizante

preocupação está no desgaste dos dentes. Por isso

hidrolisado de fígado suíno, foi adicionado apenas na

alguns cuidados são essenciais, como o jejum de 24

massa da ração. No segundo teste, a ração B, além

horas para os grandes felinos (a fim de prevenir a

do

obesidade), fornecimento esporádicos dos ossos, e

adicionado na massa da ração, foi acrescentado o

cuidados com higiene no preparo dos alimentos,

palatabilizante líquido a base de fígado suíno, na

bem

proporção de 3%, com o auxílio de uma betoneira.

como

aquisição

de

presas

inteiras

de

estabelecimentos devidamente registrados (AZA, 2016).

palatabilizante

hidrolisado

de

fígado

suíno

Tabela 1: Quantidade de ração fornecida nos testes 1e2

A manutenção de espécies silvestres em cativeiro

Dias

Teste 1 – Ração A

Teste 2 – Ração B

ainda é um desafio no Brasil, principalmente porque

1

1,2 kg

1,2 kg

observamos

a

estabelecimentos

quantidade

de

2

1,2 kg

1,3 kg

que estão inadequados

para

3

1,2 kg

1,4 kg

4

1,2 kg

1,5 kg

elevada

abrigar as espécies de modo a atender todas as suas necessidades básicas, desde a nutrição a um

Fonte: Elaborado pelos autores.

de

O arraçoamento foi realizado uma vez ao dia, por

reprodução. Por isso, a elaboração de dietas devem

volta das 08h00min. No período da tarde por volta

sempre considerar também a ecologia alimentar, as

das 16:30 horas, os animais eram observados

histórias individuais e naturais para garantir que os

novamente, sendo também avaliadas as fezes de

padrões comportamentais sejam atendidos, além

acordo com a classificação da ABINPET (2017). Ao

das exigências nutricionais. Desta forma reafirma-se

completar vinte e quatro horas as sobras foram

ainda mais a necessidade de pesquisas que visam

pesadas.

ambiente

que

proporcione

a

possibilidade

diminuir os impactos da subsistência destes animais mantidos em cativeiro, e ainda o estabelecimento de protocolos para testes que não tragam prejuízos a saúde dos animais principalmente porque, os testes acabam exigindo um excesso manipulação aos animais.

A ração A e B da marca Quimtia S.A, apresenta grânulos circulares de 0,7 cm de diâmetro e a mesma composição nutricional, farinha de vísceras de aves, farinha de torresmo, farinha de arroz gelatinada,

plasma

sanguíneo

suíno

em

pó,

concentrado proteico de soja, ovo em pó, gordura de

Teste da ração de felinos silvestres em gatos domésticos (felis catus): aceitação e palatabilidade

frango, hidrolisado de fígado suíno, hemácias

O teste foi conduzido no Gatil da Fazenda

ervilha desidratada, nucleotídeos, calcário calcítrico,

experimental de Iguatemi, localizado no distrito de

vitamina A, vitamina D3, vitamina E, vitamina k3,

Iguatemi,

Universidade

vitamina B1, vitamina B2, vitamina B6, vitamina C,

Estadual de Maringá. As rações foram testadas em

Inositol, vitamina B12, cloreto de colina, cloreto de

27 gatos adultos, machos e fêmeas, de diferentes

potássio, niacina, pantoteno de cálcio, ácido fólico,

raças, com peso médio de 4 kg.

biotina, DL-metionina, L-taurina, L-carnitina, hexame

Paraná,

pertencente

à

desidratadas de suínos, cloreto de sódio (sal comum), polpa de beterraba, amido de batata,

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Artigo 523 - Ração de felinos silvestres: teste de aceitação e palatabilidade em gatos domésticos (Felis Catus)

tafosfato de sódio, L-glutamina, ácido glutâmico,

Houve diferença entre a razão de ingestão entre os

inulina, parede celular de levedura, algas marinhas

dois testes comparando a ração B vs A. Foi possível

calcárias, extrato de marigold, extrato de cardo

analisar que a ração B teve maior aceitabilidade

mariano, zinco aminoácido quelato, proteinato de

pelos felinos, e também que a ração A teve um

selênio, cobre aminoácido quelato, ferro aminoácido

consumo não aceitável (Tabela 3).

quelato, manganês aminoácido quelato, iodato de cálcio, extrato de yucca, BHA, BHT) e composição

Gráfico 1 - Consumo de ração A e B

química (Tabela 2). Tabela 2: Composição físico-química das rações A e B Níveis de garantia

Ração A

Ração B

Umidade (máx)

120 g/kg

120 g/kg

Proteína Bruta (min)

350 g/kg

350 g/kg

Extrato Etéreo (min)

180 g/kg

180 g/kg

Matéria Mineral (máx)

75 g/kg

75 g/kg

Fibra Bruta (máx)

40 g/kg

40 g/kg

Cálcio (min-máx)

10-13 g/kg

10-13 g/kg

Fósforo (min)

6.000 mg/kg

6.000 mg/kg

Na comparação da ração A e B, é possível verificar

Frutoligossacarídeo

6.000 mg/kg

6.000 mg/kg

que os animais preferiram a ração B, uma vez que o

Fonte: Elaborado pelos autores.

Fonte: Elaborado pelos autores.

seu consumo foi dentro do ideal desde o primeiro dia de teste. A adição do banho de palatabilizante neste

A aceitação e preferência alimentar foram calculadas

caso foi fundamental para este resultado, uma vez

com base no consumo (alimento fornecido - sobras).

que a aplicação por meio do banho possibilita que o

Os dados de ingestão também foram submetidos ao

palatabilizante fique sobre o grão da ração já

cálculo de Razão de ingestão (RI), por meio da

extrusada, permitindo assim a volatilização do

equação: RI (%) = [g ingeridas da ração A / g

aroma, e deixando a ração mais atrativa aos animais

ingeridas (A+B)] x 100. O delineamento do estudo foi

(LIMA, 2013).

inteiramente casualizado, e as médias de consumo foram submetidas ao teste de Tukey por meio do

Tabela 3: Razão de ingestão dos testes 1 e 2

software RStudio com nível de significância de 0,05. O consumo médio de ração diferiu entre os testes, e a comparação entre as médias de consumo diário entre a ração A e B foram significativas (P < 0,05). A adição do palatabilizante líquido à ração B

Ração B vs A

RI*

Dia 1

81,08%

Dia 2

69,89%

Dia 3

63,63%

Dia 4

61,47%

Fonte: Abinpet (2017).

influenciou significativamente na aceitação e no consumo (gráfico 1). Apenas no primeiro e quarto dia

O

dois animais apresentaram vômito devido à ingestão

negativamente e o animal pode refugar o alimento

rápida da ração. Em relação ao padrão de fezes,

por esta razão, e desta forma os felinos podem

apenas no segundo dia observou-se fezes bem

reduzir o interesse pelo alimento quando ele

formadas, duras e secas, enquanto que nos demais

apresenta palatabilizante em excesso (FREIRE,

dias as fezes apresentaram-se em consistência

2018). No presente estudo foi verificado que não

macia, bem formadas, úmidas, que marcavam o

houve refuga pela adição de 3% de palatabilizante

piso. No segundo teste nos quatro dias de

líquido a base de fígado suíno, confirmando que a

experimento, o padrão de fezes apresentou-se em

composição da ração B foi bem aceita pelos gatos.

excesso de palatabilizante pode influenciar

consistência macias, bem formadas, úmidas, que marcavam o piso. 8777

Ainda tem certa escassez de informações sobre os

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compostos e ingredientes que os felinos consideram

et al., 2011).

mais palatáveis. No entanto, há estudos que demonstram que os palatabilizantes hidrolisados de

Desta forma, os testes de aceitação e preferência

proteínas, extratos de carne, gordura bovina, alguns

têm sido cada vez mais utilizados como parâmetros

aminoácidos livres são bem agradáveis ao paladar

para determinar a qualidade do alimento que está

destes animais, e que eles tem certa preferência por

sendo produzido. Ele vem sendo intensamente

ingredientes

realizados

de

origem

animal,

especialmente

pelas

indústrias

de

alimentos

para

proteínas e gorduras animais, além disso, ainda

animais, e é importante destacar que a qualidade do

preferem a ração peletizada ao invés de pó, e

produto

peixes,

também

responsabilidade única do palatabilizante ou da

reportado por alguns autores que em relação aos

aceitação ou não nos testes, ela depende também

gatos, essa predileção por peixes e algumas carnes,

da escolha dos ingredientes e de como os testes de

podem ser consideradas um mito (RUTHERFORD,

aceitação ou preferência são conduzidos.

especialmente

o

salmão.

É

2004; MENOLLI, 2018), isso porque fatores como qualidade da ração, saúde animal, bem como os fatores ambientais em que o animal é criado, podem influenciar na preferência ou refuga ao alimento fornecido.

final

para

comercialização,

não

é

Acredita-se que o maior desafio no desenvolvimento de dietas industrializadas para felinos silvestres de cativeiro,

assim

como

para

demais

espécies

silvestres, está na dificuldade da aplicação dos testes principalmente pelo número pequeno de

Os gatos são fortemente influenciados pelos hábitos

espécimes, o estresse pelo manejo excessivo, a

e são menos propensos a aceitarem mudanças

alteração dos hábitos alimentares em cativeiro, bem

alimentares

como a necessidade da escolha de técnicas que não

(MENOLLI,

2018).

Ambientes

ou

situações estressantes dificultam ainda mais a aceitação

de

um

alimento,

e

ainda

podem

desenvolver aversão a ele, antes ou após um momento de náusea ou vômito. As dietas ricas em gorduras e moderadas em proteína são preferidas pelos felinos, e, como utilizam muito o olfato, tem preferência por alimentos com odor mais forte de carne ou peixe (CARVALHO, 2014). À medida que a fome aumenta nos animais, a palatabilidade torna-se menos importante em limitar a ingestão dos alimentos. Uma dieta nutricionalmente completa, mas, relativamente desagradável ao paladar dos felinos, será recusada por longos períodos (CARVALHO, 2014).

envolvam o sacrifício dos animais. CONCLUSÃO A partir deste trabalho é possível concluir que os gatos domésticos dos testes preferiram a ração B, cuja

formulação

havia

a

adição

de

3%

de

palatabilizante líquido à base de fígado suíno, por meio do revestimento. Contudo, acredita-se que a ração como complementação da dieta de felinos silvestres, elaborada para especificamente para essas espécies, e testadas neste trabalho em gatos domésticos, pode ser uma ótima alternativa para facilitar o manejo nutricional e reduzir os custos com manutenção destes animais em cativeiro. AGRADECIMENTOS

Os felinos quando comparados aos caninos são mais seletivos e sensíveis quanto a palatabilidade e a qualidade de seu alimento (CUENCAS et al., 2009; MENOLLI, 2018), por isso é importante considerar a espécie animal em que se está produzindo uma ração. Neste sentido os palatabilizantes que conferem aroma ao produto final, melhoram a aceitação e estimulam o consumo. Isso acontece porque provoca secreção das glândulas salivares e do suco gástrico, favorecendo também a digestão e o melhor aproveitamento pelo organismo (SIQUEIRA

À QUIMTIA S.A., que forneceu as rações dos testes, ao professor Dr. Ricardo Souza Vasconcelos do Departamento

de

Zootecnia

da

Universidade

Estadual de Maringá, à equipe de funcionários do Gatil da Fazenda experimental de Iguatemi. NOTA DE COMITÊ DE ÉTICA Este trabalho faz parte do projeto submetido e aprovado pela Comissão de Ética no Uso de animais da Universidade Estadual de Londrina, sob o número 14722.2019.08.

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Artigo 523 - Ração de felinos silvestres: teste de aceitação e palatabilidade em gatos domésticos (Felis Catus)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Artigo 523 - Ração de felinos silvestres: teste de aceitação e palatabilidade em gatos domésticos (Felis Catus)

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8780


Inclusão de diferentes níveis de fubá de milho em silagem de capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum cv. Napier)

Revista Eletrônica

Ensilagem, gramínea, produção.

Kélvia Xavier Costa Ramos Neto¹ Arnaldo Prata Neiva Júnior² Ian Calisto Costa Neto³ 4 Paulo Ricardo Pereira Paula Valdir Botega Tavares²

*

¹Graduanda em Zootecnia pelo IF Sudeste MG- Campus Rio Pomba. *E-mail: kelviaxavier_alimentos@hotmail.com. ² Professor do Departamento de Zootecnia do IF Sudeste MG- Campus Rio Pomba. ³Técnico em Agropecuária pelo IF Sudeste MG- Campus Rio Pomba. 4 Zootecnista pelo IF Sudeste MG- Campus Rio Pomba.

RESUMO Entre as variedades de gramíneas utilizadas para a produção de silagem, o capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum) tem se revelado superior a outras gramíneas tropicais por possuir bom valor bromatológico, alta produtividade por área durante o período das chuvas e baixo custo de produção em relação à silagem de milho. O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito da inclusão de diferentes níveis de fubá de milho na ensilagem de capim-elefante Pennisetum purpureum Schum, cv. Napier para determinação das variáveis: carboidratos totais (carboidratos fibroso e não fibroso), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE), matéria seca (MS); pH e perdas por efluentes. O experimento foi realizado no Departamento de Zootecnia do IF Sudeste-MG, Campus Rio Pomba, sendo que o capim-elefante utilizado era proveniente de uma capineira do campus. Utilizou-se o Delineamento inteiramente casualizado (DIC), adicionando o fubá de milho no momento da ensilagem, em cinco tratamentos: 0, 5, 10, 15 e 20% e quatro repetições. Posteriormente, os dados foram submetidos à análise da variância, e em sequência, análise de regressão por meio do Programa R Core Team (2014). Em geral, ficou evidente que a adição de fubá melhorou a qualidade bromatológica da silagem, diminuindo os valores de pH, FDA e FDN e aumentando os valores de MS, PB e EE. Contudo, o tratamento com inclusão de 20% de fubá de milho obteve melhor resultado nas perdas de efluentes. Palavras-chave: ensilagem, gramínea, produção. 8781

Vol. 17, Nº 05, set/out de 2020 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

INCLUSION OF DIFFERENT LEVELS OF CORNMEAL IN ELEPHANT GRASS SILAGE (Pennisetum purpureum Schum cv. Napier) ABSTRACT Among the varieties of grass used for silage production, elephant grass (Pennisetum purpureum Schum) has proven to be superior to other tropical grasses because it has good bromatological value, high productivity per area during the rainy season and low production cost in relation to corn silage. The objective of the work was to evaluate the effect of including different levels of cornmeal in elephant grass silage Pennisetum purpureum Schum, cv. Napier for determining the variables: total carbohydrates (fibrous and non-fibrous carbohydrates), neutral detergent fiber (NDF), acid detergent fiber (FDA), ether extract (EE), dry matter (MS); pH and effluent losses. The experiment was carried out at the Zootechnics Department of the IF Sudeste-MG, Campus Rio Pomba, and the elephant grass used was from a grasshopper on the campus. A completely randomized design (DIC) was used, adding cornmeal at the time of ensiling, in five treatments: 0, 5, 10, 15 and 20% and four repetitions. Subsequently, the data were subjected to analysis of variance, and in sequence, regression analysis using the R Core Team Program (2014). In general, it was evident that the addition of corn flour improved the bromatological quality of the silage, decreasing the values of pH, FDA and NDF and increasing the values of MS, PB and EE. However, the treatment with the inclusion of 20% cornmeal obtained the best results in effluent losses. Keyword: silage, grasses, production.


Artigo 524 - Inclusão de diferentes níveis de fubá de milho em silagem de capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum vc. Napier)

INTRODUÇÃO

teor de matéria seca de 15 a 20%, estudos

Nos últimos anos, tem havido crescente interesse na

envolvendo a adição de coprodutos ou resíduos com

utilização de gramíneas forrageiras para produção

elevado teor de matéria seca na ensilagem têm sido

de silagens. Dentre estas gramíneas, o capim-

conduzidos, já que o baixo teor de matéria seca das

elefante tem sido indicado, principalmente, por sua

forrageiras é um dos principais fatores responsáveis

alta produção de matéria seca e bom valor nutritivo.

pela produção de silagem de baixo valor nutritivo

Entretanto, a presença de alto teor de umidade no

(FERRARI Jr. & LAVEZZO, 2001; SOUZA et al.,

momento

de

2003; FERREIRA et al.; 2004; CARVALHO, 2006;

carboidratos solúveis e ainda alta capacidade

NEIVA et al., 2006; CARVALHO et al., 2007a;

tampão das gramíneas em geral, são fatores que

CARVALHO et al., 2007b; ZANINE et al., 2007;

inibem adequado processo fermentativo, dificultando

CRUZ, 2009; FERREIRA et al., 2009; PIRES et al.,

a

ideal

confecção

para

de

o

corte,

silagens

de

baixo

boa

teor

qualidade

2009a; PIRES et al., 2009b).

(MCDONALD, 1981; LAVEZZO, 1985). A ensilagem tem como principal objetivo maximizar a preservação original dos nutrientes encontrados na forragem fresca, durante o armazenamento, com o mínimo de perdas de matéria seca e energia. É necessário, portanto, que a respiração da planta e sua atividade proteolítica, bem como a atividade clostrídica e o crescimento de microrganismos aeróbios, sejam limitadas (PEREIRA et al., 2007). Assim, o processo de ensilagem deve envolver a conversão de carboidratos solúveis em ácido lático, que provocam queda no pH da massa ensilada a níveis

que

preservando

inibem suas

a

atividade

microbiana,

características

(FERRARI

De acordo com Andrade et al. (2010), para utilizar aditivos

absorventes,

preconiza-se

apresentem

alto

teor

de

capacidade

de

retenção

que

matéria de

estes

seca,

água

alta

e

boa

aceitabilidade, além de fácil manipulação, baixo custo e fácil aquisição. Considerando os requisitos citados anteriormente, o milho moído apresenta-se com

características

que

podem

beneficiar

a

qualidade final da silagem, com elevado teor de matéria seca (acima de 85%), o que poderia contribuir para a elevação da matéria seca da silagem e, como consequência, reduzir as prováveis perdas de valor nutritivo, além de ser uma fonte altamente energética, possuindo carboidratos de

JÚNIOR et al., 2009).

rápida fermentação ruminal. Segundo Silva et al. O momento ideal para ensilagem é quando o capim

(2007),

entre

os

aditivos

mais

utilizados

na

apresenta elevado valor nutritivo, ocorrendo próximo

ensilagem do capim-elefante são os que apresentam

das alturas de 1,60 a 1,85 metros e/ou idades de 56

como fontes de carboidratos solúveis, como fubá de

a 80 dias de crescimento após o corte de

milho, farelo de trigo, polpa cítrica e resíduos

uniformização, em que normalmente o teor de

regionais da agroindústria.

umidade é elevado (VILELA, 1998). Esse fato indesejáveis

Sendo que o milho (Zea mays L.), em função de seu

reduzindo a qualidade da silagem (MCDONALD,

potencial produtivo, composição química e valor

1981).

nutritivo, constitui-se em um dos mais importantes

permite

fermentações

secundárias

cereais cultivados e consumidos no mundo. Devido a Entre as variedades de gramíneas utilizadas para a

sua

produção de silagem, o capim-elefante (Pennisetum

alimentação humana quer na alimentação animal,

purpureum Schum.) tem se revelado superior a

assume relevante papel socioeconômico, além de

outras gramíneas tropicais por possuir bom valor

constituir-se

bromatológico, alta produtividade por área durante o

impulsionadoras

período das chuvas e baixo custo de produção em

agroindustriais (FANCELLI & NETO, 2000).

multiplicidade

em

de

aplicações,

indispensável de

diversificados

quer

na

matéria-prima complexos

relação à silagem de milho (RESENDE et al., 2008). O milho possui características importantes na dieta de O capim-elefante no momento ideal de corte apresenta

ruminantes por ser um alimento rico em amido, é encon-

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.5, p.8781-8787, set/out, 2020. ISSN: 1983-9006

8782


Artigo 524 - Inclusão de diferentes níveis de fubá de milho em silagem de capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum vc. Napier)

trado em proporções significativas nas misturas de

utilizando-se 0, 5, 10, 15 e 20% de fubá de milho

alimentos concentrados destinadas a esses animais.

com base na matéria natural e com a composição

No Brasil a dieta de ruminantes é predominantemente

bromatológica

composta de forragem, este grão surge como opção

conforme a Tabela 1.

de alimento durante o período de estiagem (LUCCI et al., 2008).

determinadas

em

laboratório,

Tabela 1- Composição químico-bromatológica do capim elefante e fubá de milho utilizados na

Desta forma, surge o fubá de milho como opção para ser utilizado como sequestrante de umidade em

ensilagem VARIÁVEL

silagens de capim-elefante, melhorando os padrões de fermentação e o valor nutricional desta silagem (ANDRIGUETTO, 2002). Diante do exposto, o presente trabalho objetivou-se avaliar o efeito da inclusão de diferentes níveis de fubá de milho na ensilagem de capim-elefante

MS (%) PB (%) EE (%) MM (%) FDA (%) FDN (%)

CAPIM ELEFANTE 23,1 6,20 2,57 9,39 43,8 75,0

FUBÁ DE MILHO 88,0 9,08 4,0 1,65 3,92 13,10

Fonte: Cappelle 2000, apud Valadares Filho et al., 2001.

Pennisetum purpureum Schum, cv. Napier para determinação das variáveis: fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE) e matéria seca (MS); pH; perda de matéria seca total e perdas por efluentes. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no Departamento de Zootecnia do IF Sudeste-MG, Campus Rio Pomba. Utilizou-se o capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum.),

proveniente

estabelecida

no

de

campus,

uma de

capineira

acordo

com

já o

recomendado por Cóser (2000), o corte foi realizado

As perdas por efluente foram quantificadas segundo equações propostas por (JOBIM et al., 2007). A medição da produção de efluente foi realizada por meio da diferença de pesagens do conjunto silo e saquinho de TNT com areia, antes e depois da ensilagem, em relação à quantidade de matéria natural de amostra ensilada (MNens). Após ser retirado todo o material do silo experimental, foi pesado o conjunto (silo + tampa + TNT com areia úmida + tela) e, subtraindo-se deste o peso do mesmo conjunto antes da ensilagem, efetuando-se a estimativa da produção de efluente drenado para o fundo do silo, conforme a equação:

rente ao solo na forrageira na altura de 1,80 metros.

P efluente (% da MNens) = (PCabert – PCens) / (MNens) x 100

As silagens foram confeccionadas em silos de PVC,

Onde:

com 0,1 m de diâmetro e 0,40 m de altura, com um

P efluente = Perda por efluente (% da MN ensilada);

3

volume de 3,14 x 10-3 m , providos de válvulas do tipo “Bunsen” permitindo o livre escape dos gases da fermentação. Foi utilizado 0,6 kg de areia seca em saquinhos confeccionados em tecido não tecido (TNT) no fundo de cada silo, para captando o

PC abert = Peso do conjunto (silo + tampa + TNT com areia úmida + tela) na abertura; PC ens = Peso do conjunto (silo + tampa + TNT com areia seca + tela) na ensilagem;

efluente gerado durante o processo e com uma tela

MVA ens = Massa verde de amostra na ensilagem

de náilon para separa o material ensilado da área de

A perda de MS decorrente da produção de gases foi determinada pela diferença entre o peso bruto de MS na ensilagem (MSens) e na abertura (MSabert), em relação à quantidade de MS ensilada (MSens), descontando-se do peso total do conjunto ensilado (PTCens – amostra + silo + tampa + TNT com areia seca + tela) o peso do conjunto na ensilagem (PCens) e na abertura (PCabert), conforme a equação.

captação de efluentes. Os silos experimentais foram mantidos em área coberta, à temperatura ambiente, e foram abertos com 90 dias após o fechamento dos mesmos. Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado (DIC) com quatro repetições por tratamento. O fubá de milho foi adicionado no momento da ensilagem, 8783

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Artigo 524 - Inclusão de diferentes níveis de fubá de milho em silagem de capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum vc. Napier)

Antes da ensilagem e na abertura foram coletadas

A inclusão acima de 12 % de fubá para matéria seca

0,8 kg de amostra de silagem destinadas à análise

proporcionou

da composição química. Estas amostras foram pré-

recomendado de acordo com a literatura. Esse valor

secas em estufa com ventilação forçada de ar a

foi estimado de acordo com a equação da regressão.

valores

mínimos

dentro

do

55ºC e em seguida homogeneizadas e processadas em moinho tipo Willey, utilizando peneira com malha

Em um estudo, (Souza et al., 2003) encontraram

de 1 mm. As análises de matéria seca (MS), fibra em

resultados semelhantes, em que, silagens com

detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido

adição de 0 e 8,7% de casca de café apresentaram

(FDA), extrato etéreo (EE) foram realizadas segundo

baixos teores de MS, associados aos maiores

os procedimentos descritos por (SILVA & QUEIROZ,

valores de pH registrados, o que pode ter contribuído

2002). Os carboidratos totais (CHOT) das amostras

para ocorrência de uma fermentação inadequada,

foram calculados segundo método descrito por

percebida por forte odor desagradável, semelhante a

Sniffen et al. (1992), em que CHOT(%) = 100 - (%PB

fermentação acética. De acordo com (BERNARDINO

+ %EE + %Cinzas). A quantificação dos carboidratos

et al., 2005) o aumento do teor de MS proporciona

não fibrosos (CNF) foi feita de acordo com a

um ambiente favorável ao desenvolvimento de

equação adaptada por (HALL, 2000). O pH foi

bactérias láticas e desfavorável ao desenvolvimento

determinado segundo técnica descrita por Silva e

de bactérias do gênero Clostridium, contribuindo

Queiroz (2002).

para o rápido declínio do pH e reduzindo o pH final das silagens, comprovado na Tabela 3.

Posteriormente, os dados foram submetidos à análise da variância regressão linear de 1° grau. A análise

estatística

foi

realizada

por

meio

do

Programa R Core Team (2014) com auxílio do pacote tecnológico ExpDes.pt. (FERREIRA et al., 2013).

Não houve diferença significativa (p>0,05) dos níveis de adição de fubá em relação ao nível de extrato etéreo (EE). De acordo com Andrade et al.( 2010), em seu estudo que avaliava o efeito da adição de farelo de mandioca, casca de café e farelo de cacau na ensilagem de capim-elefante, os teores de extrato

RESULTADOS E DISCUSSÃO Se encontram descritos na Tabela 2 os valores de matéria seca (MS), extrato etéreo (EE), fibra em detergente ácido (FDA) e fibra em detergente neutro (FDN) da silagem de capim-elefante sob diferentes níveis crescentes de fubá de milho.

etéreo (EE) também não foram afetados (P>0,05) pela interação entre os aditivos e os níveis de aditivos. Para Fibra em Detergente Neutro (FDN) identificado na Tabela 2 houve diferença significativa (p<0,05), ocorrendo um efeito linear, podendo ser explicado

Tabela 2- Valores médios de matéria seca (MS),

pelo baixo valor de FDN do fubá. Souza et al.( 2003)

extrato etéreo (EE), fibra em detergente ácido (FDA)

encontraram

e fibra em detergente neutro (FDN) da silagem de

tratamento controle também obteve maiores teores

capim com doses crescentes de fubá

de MS.

resultados

semelhantes,

onde,

o

Em relação à Fibra em Detergente Neutro Ácido (FDA) descrito na Tabela 2, a análise de variância comprovou efeito linear decrescente (P<0,05) dos níveis de fubá de milho em relação aos valores de FDA,

também

podendo

ser

explicado

esse

decréscimo em razão do menor teor de FDA do fubá em comparação ao capim-elefante.

CV= Coeficiente de variação. R²= Coeficiente de determinação Fonte: Elaborado pelos autores.

Na Tabela 3 encontra-se discutidos os dados com relação a perdas e pH da silagem de capim elefante.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.5, p.8781-8787, set/out, 2020. ISSN: 1983-9006

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Artigo 524 - Inclusão de diferentes níveis de fubá de milho em silagem de capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum vc.Napier)

Tabela 3- Perdas e pH de silagem de capim elefante

Diminuindo os valores de pH, FDA e FDN e aumentando os valores de MS, e EE. Contudo, o tratamento com inclusão de 20% de fubá de milho obteve melhor valores de perdas de efluentes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE,

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inclusão desse aditivo no nível de 14,23% foi

CARVALHO, G.G.P. de; GARCIA, R.; PIRES, A.J.V.;

suficiente para inibir a produção de efluente,

AZEVÊDO,

enquanto, no caso do farelo de mandioca e da casca

PEREIRA, O.G. Valor nutritivo e características

de café, foram necessários níveis de 25,63 e 30%,

fermentativas de silagens de capim-elefante com adição de casca de café. Revista Brasileira de

respectivamente, para reduzir a valores mínimos essas perdas. De certa forma, a redução das perdas por efluente diminui as perdas de nutrientes por percolação junto ao efluente produzido durante a ensilagem. CONCLUSÕES Em geral, ficou evidente que a adição de fubá melhorou a qualidade bromatológica da silagem. 8785

J.A.G.;

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Capim-elefante

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Valor Nutritivo das silagens de capim-Elefante

farelo de mandioca. Revista Brasileira de

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Utilização de subprodutos da indústria pesqueira na nutrição de peixes Alimentação, aproveitamento de subprodutos, resíduos Revista Eletrônica

industriais, tecnologia do pescado.

Vol. 17, Nº 05, set/out de 2020 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO

Juliano Kelvin dos Santos Henriques¹ * Bruno da Silva Pires² Rômulo Batista Rodrigues³ 1

Mestre em Zootecnia, pós graduando em piscicultura pela Universidade Estadual de Maringá UEM/PR. 2 Mestre em Zootecnia, doutorando em Zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá UEM/PR. *E-mail: brunodsp.2013@gmail.com. 3 Mestre em Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca, Doutorando em Zootecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS/RS.

Tecnologias na industrialização do pescado estão

USE OF FISHERY BY-PRODUCTS IN FISH NUTRITION

sendo cada vez mais exploradas, em consequência

ABSTRACT

disso, o setor de aquicultura tem aumentado o

Technologies in the industrialization of fish are being

número de resíduos derivados da obtenção do filé,

increasingly exploited; as a result, the aquaculture

aumentando

em

sector has increased the number of residues derived

pesquisas sobre a utilização destes resíduos. Assim

from the fillet, increasing in this way the interest in

sendo, pesquisas estão sendo realizadas visando

research on the use of this waste. Therefore,

caracterizar os resíduos de acordo com

researches

desta

maneira

o

interesse

sua

are

being

carried

out

aiming

to

composição química e suas possibilidades de uso, e

characterize the residues according to their chemical

desta forma proporcionar que estes resíduos sejam

composition and their possibilities of use, and in this

empregados em algum produto secundário. Com

way to provide that these residues are used in some

isso, a seguinte revisão foi realizada visando relatar

secondary product. Thus, the following review was

as principais formas de obtenção de subprodutos,

carried out aiming to report the main ways of

algumas de suas aplicações e demonstrar o valor

obtaining by-products, some of their applications and

nutritivo

to demonstrate the nutritional value of the residues

dos

resíduos

derivados

da

indústria

pesqueira.

derived from the fishing industry.

Palavras-chave: alimentação, aproveitamento de

Keyword:

subprodutos, resíduos industriais, tecnologia do

industrial residues, fish technology.

feeding,

utilization

of

by-products,

pescado.

8788


Artigo 525 - Utilização de subprodutos da indústria pesqueira na nutrição de peixes

samento de pescado (AGUIAR et al., 2014). O

INTRODUÇÃO A

indústria

de

alimentos

gera

quantidade

aproveitamento dos resíduos pode gerar produtos de

significativa de resíduos em toda sua cadeia

alto valor agregado e pode superar o valor do

produtiva,

são

material inicial. A transformação dos resíduos dos

fiscalizadas e cobradas por órgãos ambientais e pela

frigoríficos de pescados para a alimentação animal

população a serem mais responsáveis com o meio

seria mais uma opção de renda para as indústrias

ambiente, o que resulta na busca de diferentes

aumentando sua lucratividade.

desta

forma,

essas

indústrias

formas de aproveitamento dos resíduos, diminuindo assim o impacto ambiental (AGUIAR & GOULART,

Sendo assim, a seguinte revisão bibliográfica foi

2013).

realizada para discutir os fundamentos práticos e teóricos da utilização de resíduos oriundos da

Deve-se destacar que as operações de abate e

produção

de

pescado,

visando

obter

valores

filetagem de peixe podem levar a grandes montantes

nutricionais destes subprodutos e debater suas

de resíduos, que consiste de vísceras, cabeça, pele

formas de utilização na nutrição animal.

e ossos (FALCH et al., 2006). Os resíduos do processamento de pescado representam cerca de

DESENVOLVIMENTO DO ASSUNTO

2/3 do volume da matéria-prima da indústria, e

Farinha de peixes

quando descartados indevidamente podem causar

Uma alternativa viável para o aproveitamento dos

danos ambientais (BOSCOLO & FEIDEN, 2007).

resíduos pesqueiros é historicamente a produção de

Geralmente 65% do peso vivo é descartado durante

farinha, amplamente empregada na aquicultura,

o processo de filetagem (VALENTE et al., 2014),

como principal fonte proteica nas rações para a

sendo que esse percentual varia de acordo com a

maioria das espécies de peixes cultivadas (FAO,

espécie

Este

2014; GALDIOLI et al., 2001), sendo além de uma

resíduo, por muitas vezes não é aproveitado devido

fonte proteica, uma excelente fonte de energia

à falta de conhecimento do setor produtivo sobre

digestível, minerais essenciais e vitaminas (TACON,

procedimentos

tecnológicos

1996).

viabilizem

aproveitamento

(CONTRERAS-GUZMÁN,

o

e

1994).

sanitários desse

que

material.

Transformando em um desafio para os empresários do setor produtivo e para a comunidade científica, a busca

de

estratégias

de

aproveitamento

dos

resíduos para que a atividade se torne sustentável e economicamente viável (BEZERRA et al., 2001).

Farinha de pescado é o produto obtido pela secagem e moagem de peixes, sendo um produto destinado essencialmente para a alimentação animal. A farinha integral de pescado é obtida de pescados inteiros ou cortes de pescados e a farinha residual de pescado é o produto obtido a partir dos resíduos oriundos da

Sendo assim, devem-se estudar alternativas para

evisceração e filetagem do pescado, ambas são

dar melhor destino aos resíduos oriundos do

confeccionadas com ou sem extração de óleo, tendo

beneficiamento do pescado, pois o resíduo pode

sido seco e moído (AGUIAR et al., 2014).

permanecer na própria planta industrial como um agente contaminante, devido à rápida deterioração

Diversos autores relatam em seus estudos, a

do pescado (SEIBEL & SOUZA-SOARES, 2003) ou

composição química da farinha de peixe (ARAUJO et

o resíduo pode ser um agente contaminante do

al.,

ambiente, quando descartado de maneira indevida.

ROSTAGNO

2011;

FRACALOSSI et

al.,

2011).

&

CYRINO, Pode-se

2012;

observar,

portanto, que elas possuem características muito O aproveitamento dos resíduos provenientes do

interessantes para a nutrição animal, principalmente

setor aquícola, pode mitigar o problema do descarte

pelo alto teor de proteína bruta apresentado em sua

deste resíduo no ambiente e agregar valor ao

composição de forma geral. Sendo um importante

produto final, oferecendo vantagens econômicas

alternativa para formular dietas para animais de

para a indústria (AGUIAR & GOULART, 2014).

maior exigência nutricional de proteína. Porém, a

Óleos ricos em ácidos graxos essenciais, minerais,

utilização desse produto pode ser impactada por

enzimas, proteínas, e diversos outros componentes

alguns fatores, como o custo elevado para aquisição

podem ser obtidos em produtos oriundos do proces-

de uma farinha de peixe de boa qualidade, bem como

8789

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.5, p.8788-8799, set/out, 2020. ISSN: 1983-9006


Artigo 525 - Utilização de subprodutos da indústria pesqueira na nutrição de peixes

a alta variação na composição dessas farinhas

autores

disponíveis no mercado, principalmente quando

zootécnico de tilápias do Nilo (Oreochromis niloticus)

estas são provenientes de resíduos oriundos da

quando alimentadas com 12,15% de inclusão de

filetagem de peixes e não do peixe inteiro. Na

farinha de peixe nas dietas. Em estudo de Rossato

Tabela 1, podemos observar a composição química

et al. (2013) os autores concluíram que a utilização

de diferentes farinhas de pescado, que demonstra a

de

nível

de

grande variação na composição delas, inclusive no

confeccionada

a

partir

perfil aminoacídico.

processamento

de

jundiás

um

observaram

melhora

30%

de

no

desempenho

farinha de

de

peixe

resíduos

(Rhamdia

do

quelen),

proporciona uma melhor eficiência alimentar na Tabela 1 – Composição química da farinha de

alimentação de tilápias do Nilo.

peixes Nutrientes (%)

Proteína bruta Extrato etéreo Matéria seca Matéria

A utilização da farinha de peixe na nutrição animal,

Referências Fracalossi & Rostagno et al. Rostagno et al.

não é apenas uma prática utilizada para nutrição de

Cyrino (2012)

61% (2011)

peixes, mas também para outras espécies animais e

61,42

resultados promissores já podem ser observados na

50,20

54% (2011)

54,58

literatura. Stringuetta et al. (2007), estudando o uso 9,00

7,46

5,85

da farinha de peixe na alimentação de girinos de rã touro (Rana Catesbeiana), observaram

93,30

92,06

91,71

que a

proteína proveniente do farelo de soja pode ser substituída pela inclusão de até 15% de farinha de

19,35

resíduos da indústria de filetagem de tilápias, sem

24,10

22,74

Lisina

5,01

3,40

4,33

al. (2010), avaliaram a inclusão de farinha de

Metionina

2,32

1,35

1,61

pescado (de resíduos da indústria de filetagem de

Treonina

2,16

2,30

2,55

tilápias)

Triptofano

-

0,47

0,59

observaram que o nível mais alto de inclusão testado

Arginina

3,87

3,38

3,81

(8%), aumentou o triglicerídeo plasmático, porém

Valina

2,38

2,82

3,04

reduziu os níveis de fósforo e cálcio no sangue dos

Isoleucina

1,88

2,24

2,49

frangos e proporcionou melhor eficiência econômica

Leucina

3,78

3,89

4,40

na produção final desses animais.

Histidina

1,64

1,08

1,32

Fenilalanina

2,67

2,24

2,38

mineral

prejudicar o desenvolvimento dos animais. Eyng et

Fonte: Fracalossi & Cyrino (2012); Rostagno et al. (2011).

Problemas relacionados com a farinha de peixe, como a falta de cuidado no seu armazenamento; o tempo de permanência dos resíduos nas unidades coletoras; a dificuldade no transporte e o tipo de tratamento que o resíduo sofre; podem acarretar muitas vezes em um produto final que não apresenta o mínimo de segurança alimentar necessária e consequentemente uma baixa qualidade nutricional (BOELTER et al., 2011). Ainda, por ser sensível as condições de armazenamento, a farinha de peixe tem que ser armazenada com a adição de antioxidantes, para evitar a formação de produtos de oxidação e ácidos graxos livres (BUTOLO, 2002). Em trabalho realizado por Faria et al. (2001), os

em

dietas

para frangos

de corte e

Atualmente as pesquisas sobre farinha de peixe na nutrição animal são realizadas com o foco de encontrar potenciais substitutos desse alimento, tendo em vista a necessidade de diminuir os custos das rações, assim como encontrar alimentos que apresentem pouca variação sazonal quanto sua composição química. Em estudo realizado por Novriadi et al. (2019) avaliando o farelo de soja e farinha de peixe como fontes proteicas em dietas para Trachinotus carolinus, observou-se que quanto maior foi a inclusão do farelo de soja em substituição a farinha de peixe, pior foi o desempenho dos animais. Da mesma forma, Xu et al. (2019) observaram que a utilização de farinha de peixe em vez do farelo de soja ou farelo de colza, melhorou o desempenho de três diferentes linhagens de carpa prussiana (Carassius gibelio).

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8790


Artigo 525 - Utilização de subprodutos da indústria pesqueira na nutrição de peixes

Por fim, a farinha de peixe é a principal fonte de

da matéria-prima, que resulta ao final desses

proteína animal utilizada na nutrição de peixes,

processos o óleo bruto. Após a obtenção do óleo

contudo devido a redução dos estoques na pesca

bruto é feita a degomagem, através do aquecimento

extrativista e a alta variação da oferta e de qualidade

a 80°C e centrifugação, para obter o óleo degomado.

da farinha de pescado oriunda de resíduos de

O próximo processo é o de neutralização do óleo,

filetagem, a farinha de peixe se tornou um produto

onde o óleo degomado é aquecido a 40°C e feita

caro quando de qualidade e um produto desuniforme

uma mistura com NaOH 5N, e deixado em repouso

e com falta de oferta quando oriundo de resíduos

em temperatura de 80°C para decantação dos

frigoríficos. Desta forma, estudos que visem uma

resíduos. Em seguida o óleo passa pelo processo de

melhoria e padronização do processo de confecção

lavagem adicionando-se água a 95°C e é misturado,

de farinhas oriundas de subprodutos da indústria

após, a mistura é centrifugada para a retirada da

pesqueira são necessários. A padronização nos

maior quantidade possível de água e em seguida, o

processos de produção da farinha de pescado

óleo é aquecido a 90°C durante 20 minutos, sendo

oriundos de frigoríficos pode proporcionar uma

que ao final desses três processos resulta-se no óleo

grande

produto,

seco. Após o processo de lavagem é feito o

proporcionando uma farinha de peixe com preço

branqueamento do óleo, que é a última etapa, e se

competitivo no mercado, o que não ocorre com as

utiliza terra e carvão ativado, acrescentados no óleo

farinhas de pescado marinho e de melhor qualidade.

seco e misturados em uma temperatura de 70°C

melhora

na

qualidade

deste

durante 20 minutos, para obter o óleo branqueado ou ÓLEO DE PEIXE

refinado, que é rico em ácidos graxos com

O óleo de peixe, também conhecido por óleo de

configuração trans (GUERRA-SEGURA, 2012).

pescado, representa cerca de 2% da produção total de óleos e gorduras no mundo, sendo uma

O óleo de peixe ou óleo de pescado, pode ser obtido

importante fonte lipídica para a nutrição animal. A

de

caracterização

grande

cabeça, vísceras, sangue, pele, ossos e fígado.

importância para a determinação das exigências

Portanto, podemos ter óleo extraídos de peixes

nutricionais dessa fonte lipídica para cada espécie

inteiros ou extraídos a partir do tratamento de

em específico e nas suas diferentes fases de vida

resíduos ou ainda pela mistura dos dois. A

(BRUM et al., 2002).

composição lipídica do óleo pode variar de acordo

desse

alimento

é

de

diferentes

matérias-primas, como:

intestino,

com a espécie utilizada como matéria-prima, da O óleo de pescado pode ser obtido por meio do

alimentação da espécie, do local de cultivo, e da

processo de confecção tradicional da farinha de

própria fonte de obtenção desse óleo (peixe inteiro

peixe,

processos

ou de subprodutos), influenciando desta maneira a

hidrotérmicos e mecânicos, ou ainda através da

sua utilização na nutrição animal (TURCHINI et al.,

ensilagem ácida, colocando os resíduos do pescado

2009). Além da utilização em dietas para animais,

sobre

pode ser utilizado para o consumo humano e como

sendo

um

este

submetido

processo

a

de

acidificação

(GRUNENNVALDT et al., 2005). Os processos

biocombustível,

tradicionalmente

e

processo menos oneroso para a indústria (ADEOTI &

extração-

HAWBOLDT, 2014), tendo em vista a menor

fabricação

do

utilizados óleo

termomecânica,

de

para peixe

extração são:

degomagem,

neutralização,

lavagem, secagem e branqueamento (GUERRA-

necessidade

de

sendo

neste

refinamento

último

caso

empregado

um

para

atender a demanda da segurança alimentar.

SEGURA, 2012). Os ácidos graxos mais importantes obtidos através A

extração-termomecânica

feita

de

do óleo de peixe são o palmítico, esteárico e o

aquecimento

em

mirístico, sendo que suas relativas concentrações

autoclave a 150° e centrifugação, quanto por

podem variar de acordo com fonte da matéria-prima

congelamento lento, mais comumente usado no

para a extração do óleo (BRUM et al., 2002), como

processamento de vísceras, cabeça, couro, entre

discutimos anteriormente. . Esses ácidos graxos

outros resíduos, a -20°C e aquecimento em banho-

exercem funções importantes no organismo dos

maria para obtenção do óleo pela sua separação

animais, uma delas é relacionada com a reprodução,

diferentes

8791

formas,

tanto

pode por

ser

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.5, p.8788-8799, set/out, 2020. ISSN: 1983-9006


Artigo 525 - Utilização de subprodutos da indústria pesqueira na nutrição de peixes

o

do perfil de ácidos graxos do leite, o que pode tornar o

desenvolvimento gonadal e formação dos hormônios

produto nutricionalmente mais saudável para consumo

gonadotrópicos e esteroides. Na utilização de

humano, e sendo assim, uma forma de enriquecimento

diferentes fontes lipídicas na nutrição de fêmeas de

do produto final e agregação de valor (ALMEIDA et al.,

jundiá (Rhamdia quelen), o óleo de peixe marinho,

2019).

pois

são

considerados

fundamentais

para

foi quem proporcionou maior taxa de fertilização e concentração

de

ácidos

graxos

n-3,

EPA

(eicosapentanóico) e DHA (docosahexanóico) no fígado, ovários e oócitos nos animais estudados, provando uma melhora na capacidade reprodutiva dos animais avaliados, com a inclusão do óleo de peixe nas dietas (HILBIG, 2015).

Portanto, o óleo de peixe como fonte lipídica para nutrição animal apresenta grande potencial, pois além de trazer benefícios produtivos aos animais, também enriquece nutricionalmente o produto (carne ou leite) que será consumido pelo humano. Contudo, há algumas questões que merecem atenção e cuidado no uso dessa fonte lipídica, como a

A inclusão do óleo de peixe em dietas para tilápias,

facilidade de o óleo de peixe entrar em processo de

influenciou o metabolismo lipídico dos peixes como

peroxidação. Esse fato é comprovado em um estudo

constatado por Ribeiro et al. (2008), segundo os

recente feito com camarões (Litopenaeus vannamei),

autores, houve diminuição da atividade das enzimas

utilizando óleo de peixe com alta peroxidação nas

málica e Glicose-6-P desidrogenase, acarretando em

dietas desses crustáceos, no qual os mesmos

menores níveis de lipídios e maiores concentrações

apresentaram um efeito prejudicial no estado de

de proteína no músculo de juvenis de tilápias do Nilo

saúde, causando sérios danos ao hepatopâncreas e

(Oreochromis niloticus) alimentadas com rações

induzindo ao estresse oxidativo, na medida em que o

contendo óleo de peixe e linhaça, em comparação

óleo peroxidado foi adicionado (CHEN et al., 2019).

aos peixes alimentados com dietas contendo óleos

Dessa forma, o processamento para obtenção

de milho, soja e oliva. Os resultados demonstram

desses

que o valor biológico do óleo proveniente de pescado

variáveis que possam melhorar a estabilidade

pode ser maior que aqueles óleos provenientes de

desses lipídeos e também aumentar o tempo de

fontes vegetais.

prateleira desses produtos.

Em dietas para peixes marinhos, o óleo de peixe é

óleos

deve

considerar

seriamente

as

SILAGEM DE PESCADO

um ingrediente essencial, uma vez que sua inclusão

A ensilagem de resíduos de pescado é uma técnica

(quando comparado a inclusão do óleo de soja)

antiga de preservação da matéria orgânica (SHIRAI

influenciou

e o

et al., 2001). A silagem de pescado é o produto final

crescimento de juvenis do beijupirá (Rachycentron

de um processo controlado de fermentação, ou seja,

canadum)

e

um produto produzido a partir do pescado inteiro ou

proporcionou um bom desempenho produtivo para a

de resíduo, utilizando ácidos, enzimas ou bactérias

garoupa-verdadeira

marginatus),

produtoras de ácido láctico, promovendo assim a

quando acrescido em dietas comerciais no nível de

liquefação da massa (MORAIS & MARTINS, 1981).

4% (SANCHES et al., 2014).

A silagem de pescado é utilizada na nutrição animal,

positivamente a sobrevivência (SILVA

JÚNIOR

et

(Epinephelus

al.,

2011)

como fonte de minerais e proteínas de alta qualidade O óleo de peixe também pode ser utilizado para

(HAARD et al., 1985), sendo considerada uma

suplementar e enriquecer a dieta de animais

alternativa ao uso da farinha de peixe (BEERLI et al.,

ruminantes. Em bovinos na fase de terminação,

2004).

quando adicionando em até 2,1% na dieta, melhora a qualidade da carne (composição de ácidos graxos)

Segundo Beerli et al. (2004), a silagem de pescado

sem prejudicar o desempenho produtivo e eficiência

possui algumas vantagens em relação a farinha de

alimentar dos animais (BAHNAMIRI et al., 2019).

peixe, como: maior digestibilidade; o processo é

Quando o óleo de peixes é adicionado a dieta de

independente da escala de produção; tecnologia

cabras

simples; menor investimento, mesmo com alta

leiteiras,

ocorre

uma

modificação

das

propriedades do leite das cabras, através da alteração

escala de produção; efluentes e odores são reduzidos;

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.5, p.8788-8799, set/out, 2020. ISSN: 1983-9006

8792


Artigo 525 - Utilização de subprodutos da indústria pesqueira na nutrição de peixes

não há necessidade de refrigeração do produto na

biológica, ácida e enzimática de resíduos do

armazenagem e o produto pode ser utilizado de

processamento de tilápias do Nilo

imediato. Entretanto, Kompiang (1981) relata que a silagem

de

pescado

também

apresenta

desvantagens em relação à farinha de pescado, como: volume do produto; dificuldade no transporte e armazenamento; e em algumas vezes, a qualidade do produto final mais baixa devido ao alto teor de gordura. Além da utilização na alimentação animal, a silagem de pescado também pode ser utilizada como adubo orgânico, pois é rico em nutrientes, resultantes da presença

de

escamas, pele,

couro,

espinhas,

colágeno, sangue, gordura, gônadas, olhos, cérebro, fígado, enzimas digestivas e carotenoides (ARRUDA, 2007). Fonte: Adaptado de Borghesi (2004).

A confecção e preservação da silagem podem ser feita através da ação de ácidos (silagem química),

Pesquisas demonstram resultados positivos na

fermentação microbiana induzida por carboidratos

inclusão da silagem de pescado em dietas de peixes.

(silagem biológica) ou ainda através da ação natural

Para o jundiá (Rhamdia quelen), a inclusão de 33%

de enzimas do pescado ou na adição destas

de silagem de pescado melhorou o ganho em peso e

(silagem

O

a taxa de crescimento específico (ENKE et al.,

processo de ensilagem química envolve a utilização

2009). Já para juvenis de piauçu (Leporinus

de ácidos, como o ácido fórmico, orgânico com

macrocephalus), a suplementação com até 8% de

mineral ou somente o ácido mineral, sendo este

silagem de resíduos de filetagem, não influenciou no

processo responsável pela preservação do produto.

crescimento e composição da carcaça dos animais

A silagem microbiana trata-se da utilização de um

(FERNANDES et al., 2007), podendo ser utilizada

substrato rico em proteínas e lipídeos que é o

como ingrediente para formulação de dietas para

pescado e adição de carboidratos como melaço,

essa espécie. Honczaryk & Maeda (1998) avaliaram

proporcionando a formação de ácido lático que é

o crescimento do pirarucu (Arapaimas gigas), com

produzido por bactérias e resultando em diminuição

dietas a base de silagem biológica, elaborada com

do pH, que favorece a conservação, este processo

resíduos

também

(Brachyplatystoma vaillantii) e observaram que a

enzimática)

é

(KOMPIANG,

conhecido

como

1981).

silagem

biológica

(MORALES-ULLOA & OETTERER, 1997).

da

filetagem

da

piramutaba

silagem proporcionou bom crescimento e melhora nas características de carcaça, quando comparadas

A composição centesimal da silagem de pescado

com a dieta controle.

pode variar de uma espécie para outra e até entre a mesma espécie, dependendo da época do ano, tipo de

alimentação,

maturação

gonadal

e

sexo

(BORGHESI et al., 2007). Além destes fatores ligados a matéria-prima, a composição química do produto final, também pode ser alterada pelo processo utilizado, fato observado por Borghesi (2004), que avaliou a composição aminoacídica de silagens ácidas, biológicas e enzimáticas, como pode ser verificado na Figura 1.

A utilização de silagens de peixe, parcialmente desidratadas, como fontes alternativas de proteína na alimentação do pacu (Piaractus mesopotamicus) foi estudada por Vidotti (2001). Os valores de digestibilidade proteica (entre 74,71 e 83,43%) e de retenção proteica foram maiores que os obtidos com a dieta controle, que continha a farinha de peixe como principal fonte proteica, indicando o potencial da silagem como substituto parcial da farinha de peixe em dietas para o pacu. Borghesi (2004)

Figura 1. Composição de aminoácidos de silagem 8792

determinou o coeficiente de digestibilidade aparente

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.5, p.8788-8799, set/out, 2020. ISSN: 1983-9006


Artigo 525 - Utilização de subprodutos da indústria pesqueira na nutrição de peixes

dos nutrientes das silagens ácida, biológica e

A silagem de peixe ácida proveniente do pirarucu,

enzimática para tilápia do Nilo, obtendo valores de:

pode ser utilizada como alimento alternativo em

92,01; 89,09 e 93,66% para proteína bruta, 86,39;

dietas para poedeiras comerciais, até o nível de

84,53 e 89,09% para energia bruta, 82,52; 78,98 e

2,5% de inclusão, sem prejudicar o crescimento, o

82,96% para matéria seca, 81,72; 73,99 e 80,27%

desempenho e qualidade dos ovos (BATALHA et al.,

para cálcio e 77,86; 79,21 e 81,46% para o fósforo,

2018). A utilização da silagem química de peixes nos

respectivamente.

níveis de 5 e 10% das dietas de frangos de corte na fase inicial de vida, melhorou a conversão alimentar,

Testando a digestibilidade da silagem ácida de

porém não influenciou o ganho de peso (BOITAI et

sardinha e da farinha de peixe na alimentação da

al., 2018). Já a utilização de 12% de silagem de

tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), Goddard & Al-

resíduos de peixe em substituição ao farelo de soja

Yahyai

diferenças

na dieta para frangos de corte, na fase final,

significativas entre os ingredientes, mostrando o

proporciona um melhor desempenho e qualidade da

potencial do uso da silagem como substituto parcial

carne

da farinha de peixe. Fagbenro (1994) estudou o

demostrando a eficiência deste ingrediente e o

desempenho de tilápias do Nilo, alimentadas com

potencial para utilização na avicultura.

(2001)

não

encontraram

dessas

aves

(SHABANI

et

al.,

2018),

dietas contendo silagem biológica de pescado, parcialmente desidratadas por meio da adição de

A silagem de pescado apresenta-se, portanto, como

farelo de soja, farinha de vísceras, farinha de penas

um alimento proteico alternativo e de baixo custo na

hidrolisada ou farinha de carne e ossos, e não

nutrição

observou diferença entre a dieta a base de silagem e

principalmente em comparação a farinha de peixe.

farinha de peixe.

Porém, o que se observa na literatura disponível é

animal

(ABIMORAD

et

al.,

2009),

que o valor biológico da silagem de pescado pode Em

concordância,

Oliveira

et

al.

(2006)

não

variar de acordo com a matéria-prima utilizada e de

observaram diferença no desempenho de tilápias

acordo com o processo utilizado na ensilagem

alimentadas com silagem de pescado em relação

(química, enzimática ou biológica). Além disso, a

aos animais alimentados com farinha de peixe, além

resposta positiva ou não dos animais alimentados

disso, Assano (2004) constatou que o uso de

com silagem de pescado vai depender da espécie,

silagem de pescado apresenta menor custo que o

fase de desenvolvimento dos animais alimentados e

uso de farinha de peixe e farelo de soja, sem

também dos níveis de inclusão do produto.

prejudicar o desempenho de tilápias do Nilo. Trutas arco-íris (Oncorhynchus mykiss) apresentaram maior

HIDROLISADO PROTEICO DE PESCADO

ganho de peso, taxa de eficiência proteica e

Os hidrolisados proteicos de pescado são obtidos a

digestibilidade aparente da proteína (94%), quando

partir do processo de hidrólise com a utilização de

alimentadas com silagens ácidas (STONE et al.,

enzimas (RAHMAN et al., 2014), gerando um

1989).

produto final que contém entre 80 e 90% de proteína bruta na matéria seca (RITCHIE & MACKIE, 1982) e

A silagem de peixe também pode ser utilizada na

elevada quantidade de aminoácidos essenciais

nutrição de outras espécies, além de peixes. Na

(LEAL et al., 2010). Esse processo, porém, é

dieta de camarão (Litopenaeus vannamei), a silagem

considerado tecnologicamente complexo e de alto

de peixe pode ser utilizada como alternativa a

custo (MAIA JUNIOR & SALES, 2013).

substituição da farinha de peixe sem comprometer o crescimento destes (GONÇALVES et al., 2019;

A hidrólise pode ser feita com diferentes fontes de

SHAO et al., 2019). Ao alimentar camundongos com

matéria-prima derivadas da indústria pesqueira,

alimentos suplementados com silagem biológica

como: couro, cabeça, músculo, vísceras, fígado,

elaborada

carcaça e ossos (CHALAMAIAH et al., 2012). Estes

com

Lactobacillus

arizonensis,

proveniente de resíduos do processamento de

resíduos

Merluccius hubbsi, estes apresentam uma melhora

homogeneizados, para a realização da inclusão das

na saúde e no crescimento (GÓNGORA et al., 2018).

enzimas proteolíticas com aumento da temperatura

são

triturados,

diluídos

em

água

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.5, p.8788-8799, set/out, 2020. ISSN: 1983-9006

e

8793


Artigo 525 - Utilização de subprodutos da indústria pesqueira na nutrição de peixes

gradativamente para facilitar a ação enzimática, até

2002). O qual é confirmado por Broggi et al. (2017),

a estabilização do pH, posteriormente é realizada a

que também concluíram que o hidrolisado proteico

inativação

da

de resíduo de sardinha (Sardinella sp.) serve como

temperatura, seguida de filtragem do hidrolisado

atrativo alimentar para juvenis de jundiá (Rhamdia

para a retirada de resíduos que não foram

quelen). Já em estudos com larvas de robalo

degradados durante a hidrólise (VEIT, 2012).

(Dicentrarchus labrax), houve maior crescimento,

das

enzimas

pelo

aumento

sobrevivência e desenvolvimento intestinal nos A modificação enzimática de proteínas, utilizando

animais alimentadas com dietas contendo 10% de

enzimas proteolíticas cada vez mais específicas,

hidrolisado de pescado (KOTZAMANIS et al., 2007).

vem sendo amplamente estudada com o intuito de

Ainda, na alimentação de peixes, a suplementação

agregar valor ao pescado de baixo valor comercial,

do hidrolisado de atum se mostrou como uma

geralmente descartado pela indústria ou empregado

estratégia para melhorar o desempenho produtivo e

para

a saúde em juvenis de Lates calcarifer (SIDDIK et

fins

não

alimentícios

(KRISTINSSON

&

RASCO, 2000). Essa modificação (de estrutura da proteína)

é

propriedades

empregada funcionais,

para

melhorar

proporcionando

al., 2019).

as

maior

Os hidrolisados proteicos de pescado tem grande

Os

potencial para uso na nutrição animal. Atualmente o

hidrolisados se diferem de outras fontes proteicas

principal empecilho deve estar relacionado com o

oriundas

seu

alto custo de produção. Portanto necessita-se de

aminoácidos,

mais estudos voltados a real utilização desse

digestibilidade de

(ZAVAREZE resíduos

balanceamento

de

de

et

al.,

2009).

pescado

peptídeos

e

pelo

resultando num produto (hidrolisado) com maior

ingrediente

nas

dietas

de

animais

e

no

capacidade de retenção de água, absorção de óleos

aprimoramento de técnicas para a produção do

e solubilidade de proteína (CHALAMAIAH et al.,

material.

2010), possibilitando assim sua utilização tanto na dieta

animal

quanto

humana

(FURLAN

&

CONSIDERAÇÕES FINAIS O aproveitamento adequado dos resíduos gerados

OETTERER, 2002).

no processo de beneficiamento do pescado é uma A digestibilidade da matéria seca, proteína bruta e

necessidade do setor aquícola, pois além de mitigar

energia bruta para alevinos de tilápia do Nilo,

os

alimentados com hidrolisado de resíduos de tilápia e

indevido desses resíduos, há uma possibilidade de

sardinha, foram respectivamente, 98,29, 99,28 e

agregação

99,13% (SILVA et al., 2017), evidenciando a

agregação de valor sobre os subprodutos melhora o

qualidade

processo

retorno financeiro das indústrias de beneficiamento e

proporciona. Além disso, os hidrolisados proteicos

daquelas responsáveis pela fabricação de rações

de pescado apresentam um bom equilíbrio de

para nutrição animal, que pode ter à disposição

aminoácidos

produtos

do

produto

que

essenciais

esse

e

aumentam

a

palatabilidade da dieta, sendo dessa forma um

danos

ambientais de

de

valor

boa

causados desses

qualidade

pelo

descarte

subprodutos.

nutricional

A

como

alternativa.

ingrediente de potencial utilização na indústria fabricante de rações para animais, em especial para

Subprodutos da indústria pesqueira como óleos,

indústria pet e para rações aquícolas (FOLADOR et

farinhas, silagens e hidrolisados de peixes, são

al., 2006; SILVA et al., 2014).

alternativas interessantes para nutrição de diferentes espécies animais. Estudos que visem um melhor

O uso do hidrolisado proteico de peixe teve efeito

aproveitamento

positivo sobre o crescimento de larvas de salmão do

beneficiamento do pescado são necessários, para

Atlântico (BERGE & STOREBAKKEN, 1996) e

que esse setor produtivo, que é a aquicultura

melhoras nas taxas de crescimento e na aceitação

continue em desenvolvimento sem prejudicar o

das dietas em estudos com alevinos de tilápia do

ambiente com possíveis descartes de resíduos, e

Nilo,

também para que o pescado produzido seja utilizado

podendo

desta

maneira

caracterizá-lo

(hidrolisado proteico de peixe) como um atrativo

por

alimentar natural (PLASCENCIA-JATOMEA et al.,

produtiva.

8794

inteiro,

desses

agregando

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.17, n.5, p.8788-8799, set/out, 2020. ISSN: 1983-9006

resíduos

valor

em

oriundos

toda

do

cadeia


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