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Editora Responsável: Juliana Maria Freitas Teixeira Brito Editor Científico: Júlio Maria Ribeiro Pupa Editora Técnica: Rosana Coelho de Alvarenga e Melo Conselho Científico: Altivo José de Castro Cláudio José Borela Espeschit Evandro de Castro Melo Fernando Queiróz de Almeida José Luiz Domingues
Júlio Maria Ribeiro Pupa George Henrique Kling de Moraes Marcelo Diniz dos Santos Marcos Antonio Delmondes Bomfim Maria Izabel Vieira de Almeida Patricia Pinheiro de Campos Fonseca Rodrigues Rony Antonio Ferreira Rosana Coelho de Alvarenga e Melo
É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo da NRE da em qualquer meio de comunicação, seja eletrônico ou impresso, sem a sua devida citação.
Sumário ARTIGOS 382 - Desempenho de frangos de corte com diferentes níveis de energia........................................................4652 Yânez André Gomes Santana, Élisson Coelho Mendes dos Santos, Melina da Conceição Macêdo da Silva Santana, Carolina de Sousa Santana, Sandro dos Santos Aguiar
383 - Produção de forragem em sistemas integrados...............................................................................................4657 Kaio Augusto Ribeiro Santana Cavalini Soares, Henrique, Melo Da Silva, Hozane Alves De Souza, Helio Stinguel 384 - Ergonomia em tratores agrícolas...........................................................................................................................4665 Luis Gustavo Silva Rodrigues, Enio Fernandes de Lima, Larissa Aires Mariano, Vanessa Cristina de Souza Resende
385 - Utilização de probióticos para leitões desmamados4672 Eliseu Carlos Cristofori, Jansller Luiz Genova, Davi Elias de Sá e Castro, Aparecida da Costa Oliveira, Matheus Leonardi Damasceno 386 - Efeito do transporte em peixes .............................................................................................................................. 4677 Emizael Menezes de Almeida, Alan Soares Machado, Anderli Divina Ferreira Rios 387 - Características forrageiras de algumas gramíneas do gênero Brachiaria - revisão de literatura.........4691 Taiz Borges Ribeiro, Walquiria Maria de Lima, Fagner Machado Ribeiro, Wilian Henrique Diniz Buso
388 - Utilização de forrageira da caatinga x desempenho animal - revisão de literatura................................4697 Paulo Henrique Amaral Araújo de Sousa, Barbara Silveira Leandro de Lima, Diego Sousa Amorim, Genilson Sousa do Nascimento, Cicero Pereira Barros Júnior
389 - Estimativas dos componentes de (co) variância de características de crescimento em bovinos da raça tabapuã – revisão de Literatura................................................................................................................................ 4702 Amauri Felipe Evangelista, Wéverton José Lima Fonseca, José Elivalto Guimarães Campelo, KarinaRodrigues dos Santos, Severino Cavalcante de Sousa Júnior
Desempenho de frangos de corte com diferentes níveis de energia Revista Eletrônica
Óleo vegetal, Alimentação, Rendimento de carcaça. 1
Yânez André Gomes Santana* 2 Élisson Coelho Mendes dos Santos 3 Melina da Conceição Macêdo da Silva Santana 4 Carolina de Sousa Santana 5 Sandro dos Santos Aguiar
Vol. 13, Nº 04, julho/agosto de 2016 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br
1
Doutor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal na Universidade Federal do Piauí – UFPI. * E-mail: yanezags@gmail.com 2 Graduando no curso de Tecnologia em Agroindústria na Universidade Estadual do Maranhão – UEMA 3 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal na Universidade federal do Piauí – UFPI 4 Professora do Instituto Federal do Maranhão-IFMA 5 Graduando no curso de Pedagogia na Universidade Federal do PiauíUFPI
A Revista Eletrônica Nutritime é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resulta-dos de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
RESUMO
BROILER PERFORMANCE WITH DIFFERENT
Objetivou-se avaliar o efeito da introdução de óleo vegetal em ração de frangos de corte, observando
ENERGY LEVELS
seu desempenho alimentar e características de
ABSTRACT
carcaça, no período de 1 a 42 dias, sendo a ração, a
This study aimed to evaluate the effect of the
base de soja, milho e sorgo, observando um possível
introduction of vegetable oil in feed of broilers,
efeito no desenvolvimento de carcaça das aves.
Watching Your Food Performance and Carcass
Foram avaliados parâmetro de consumo de ração,
Characteristics, no period 1- 42 days BEING a ration
ganho de peso, conversão alimentar, rendimento de
a soy, maize and sorghum, Watching hum possible
carcaça
de
effect not Development Housing of Birds. Were
vísceras, (coração, fígado, moela e intestino), todos
evaluated parameter of feed intake, weight gain, feed
no período de 1 a 42 dias. Inteiramente esses
conversion, Commercial Courts Housing Income,
parâmetros foram avaliados no final do experimento.
Income viscera (heart, liver, gizzard and intestine), all
Assim observando que a inserção de óleo de soja
without
como complementação energética ao nível de
Parameters Were this to the end of experiment. SO
aproximadamente 3%, não demonstrou resultado
Noting That the soybean oil Insertion As Energy
nos parâmetros avaliados, comparando com o outro
Complementation At the level of Approximatif 3%, not
tratamento, obtendo algum resultado significativo no
shown results in all evaluated parameters, compared
parâmetro de rendimento de sobrecoxa. Acredita-se
to The Other treatment, obtaining Some significant
que pela pouca introdução de óleo de soja na
results in drumstick Yield parameter. It is believed
alimentação não houve diferença significativa entre
que for Little introduction soybean oil in food no
os tratamentos a 5% de probabilidade.
significant difference between treatments at 5%
Palavras-chave: Óleo vegetal, Alimentação, de
probability.
carcaça
Keyword: Vegetable Oil, Food, Housing Income.
4732
de
cortes
comerciais,
rendimento
period
1-42
days.
Fully
processes
Artigo 382 – Desempenho de frangos de corte com diferentes níveis de energia
INTRODUÇÃO A avicultura industrial é uma das atividades agrícolas
conversão alimentar e a redução da perda de
mais
impulsionada,
nutriente entre outros como efeitos benefícios do uso
utilização
de gorduras nas formulações.
desenvolvidas
sobretudo
pela
do
mundo,
necessidade
de
de
proteína de origem animal na dieta humana, a produção avícola no Brasil apresenta uma das mais
Fornecer ração de qualidade tendo componente
importantes
como milho e soja vem apresentando custo cada vez
cadeias
produtivas
(FIGUEIREDO,
2001).
mais
elevado
ao
empreendedor,
que
está
procurando alimentos alternativos para composição No desenvolver
desse mercado, o
Brasil se
de uma ração balanceada com custos menores,
transformou em um grande exportador de frango,
porém
segundo
alimentação tradicional.
Girotto
(2013),
o
Brasil
tem
sido
os
produtores
continuam
utilizando
a
competente tanto na produção como na conquista de mercado exterior. A avicultura consolidou-se
A finalidade desse trabalho foi analisar o efeito da
como uma das mais importantes e eficientes
introdução de óleo vegetal em ração de frangos de
atividades da agropecuária brasileira, o que levou o
corte, observando seu desempenho alimentar e
Brasil a transformar-se no maior exportador mundial
características de carcaça, no período de 1 a 42
de carne de frango (EVANGELISTA et al., 2008).
dias, sendo a ração a base de soja, milho e sorgo, observando um possível efeito no desenvolvimento
Quando as condições ambientais no galpão avícola
de carcaça das aves.
não são adequadas e os animais ficam expostos a condições
de
deterioração
estresse do
comprometer
seu
seu
térmico,
ocorre
bem-estar,
crescimento
uma
além
e
MATERIAL E MÉTODOS
de
O experimento foi executado no período de maio a
produção
junho de 2014, na granja são Francisco, localizada
(PONCIANO, 2011).
na zona rural a poucos quilômetros (km) de São João dos Patos-MA, o clima da região é tropical. A
A temperatura ambiente é considerada um fator
temperatura
físico de maior efeito no desempenho de frangos de
experimento variou de 26°C (matutino) a 30°C
corte, já que exerce grande influência no consumo
(vespertino).
média
durante
o
período
de
de ração e, com isso, afeta diretamente o ganho de peso e a conversão alimentar destes animais
Nesse trabalho foram utilizados 120 pintainhos de um
(PONCIANO, 2011). Outro fator que influencia no
dia de vida, da raça Ross, divididos por dois
ganho de peso das aves é a inserção de óleo como
tratamentos nutricionais, sendo introduzida em uma das
fonte de energia em dietas para aumentar o ganho
dietas uma quantidade aproximadamente de 3% de de
de peso. Segundo (WATANABE et al., 2001) o
óleo de soja.
acréscimo
do
nível
de
energia
das
rações
proporciona melhor ganho de peso e conversão
Para dar início a esse experimento tornou-se
alimentar, porém acarreta aumento no teor de
necessário o preparo do galpão para que estivesse
gordura abdominal.
em plenas condições de receber os pintainhos de um dia de vida, o primeiro passo foi a montagem da
Além de soja e milho, também pode ser introduzido
estrutura de sustentação dos boxes, que tinha a
na dieta avícola o óleo como fonte de energia.
função de acomodar as aves do início ao fim do
Segundo Pucci et al. (2003), no entanto para o
experimento, essa estrutura foi feita de canos de
balanceamento energético, é necessário a inclusão
PVC com 20 milímetros de espessura. Com o
de óleo vegetal e/ou gordura nas rações. O (NRC,
término da montagem da estrutura com canos, foi
2001) destaca a melhora da probabilidade e na
adicionada
a
ela
a
tela
de
pinteiro
onde
impossibilitaria a saída das aves dos boxes. Nutritime Revista Eletrônica, on-line, v13, n.4, p.4732-4737, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
4733
Artigo 382 - Desempenho de frangos de corte com diferentes níveis de energia
Após a montagem da estrutura de boxe, realizou-se uma segunda etapa que habilitaria o galpão para
Tabela 1: Período estabelecido para a mudança de
chegada dos pintainhos, o galpão passou por uma
fases da alimentação
limpeza para retirada de sujidades e posteriormente
que no decorrer do experimento se tornaria cama de
Fases Período Pré-inicial 01 a 07 dias Inicial 07 a 14 dias Engorda 14 a 21dias Final 21 a 28 dias Abate 28 a 42 dias Fonte: Elaborado pelo autor
frango devido a mistura com fezes das aves, e por
Em todas as mudanças de fase, ocorria a alteração
fim veio o preparo das instalações elétricas que
da ração fornecida, sendo contabilizadas as sobras
possibilitaria fornecer iluminação independente para
de ração de cada fase e ocorrendo a mudança na
todos os boxes.
mesma. As aves nesse período sofriam com um
foi aplicado no chão e paredes do galpão uma pintura com cal, para evitar a proliferação de microrganismos, a seguir foi introduzido em todos os boxes, palha de arroz com uma altura de 3 a 5 cm,
pouco de estresse onde eram capturadas todas de Foram utilizados 120 pintainhos de um dia de idade, separados em grupos de 15 em 15 e pesados de 2 em 2, depois distribuídos casualmente em 8
boxe a boxe para efetuar o processo de pesagem, para fins de obtenção de dados estatísticos.
unidades experimentais de 1 metro de largura com 2 metros de comprimento e 60 cm de altura, o galpão era coberto com palha, com pé-direito de 3,5m, largura de 7,5m e comprimento de 20m, com as cortinas laterais nas cores, azul e amarelo. Cada unidade
experimental
foi
equipada
com
uma
No final do experimento, aos 42 dias de idade, os frangos foram submetidos a uma pesagem, e o mesmo procedimento foi exercido nas sobras de ração, a fim de obtenção de dados médios de ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar.
lâmpada florescente, um bebedouro pendular e um comedouro
tubular,
observando
diariamente
e
estabelecendo práticas de manejo.
Depois de finalizar o processo de passagem das aves, foram selecionadas duas aves em cada unidade experimental, com base na média de peso
Foi utilizado uma dieta alimentar com 5 fases: pré-
de cada repetição.
inicial, inicial, engorda, final e abate. Para analisar o desempenho, as aves foram pesadas com um dia de idade e no intervalo de mudança de fase alimentar, assim sendo obtidos dados que proporcionou avaliação do ganho de peso, conversão alimentar, consumo de ração e a observação da mortalidade. O que diferenciava no experimento eram as dietas, sendo introduzidas nos tratamentos distintos, sendo que a base da estrutura das duas dietas era composta de milho, soja e sorgo, uma delas era composta com um acréscimo de aproximadamente 3% de energia em relação à outra. Sendo que a fonte de energia utilizada era o de óleo soja.
No momento as aves já se encontravam em um jejum de 8 horas, assim foram identificadas com os dados da unidade de tratamento a qual pertenciam, seguidamente foram conduzidas a cozinha da granja,
onde
foram
abatidas,
sangradas
novamente submetidas a outra pesagem, agora de carcaça com
pena sem
pescoço, após essa
atividade foram depenadas e submetidas a outra pesagem sem penas. Seguidamente veio o processo de evisceração, que foi manual praticada pela equipe de acadêmicos, com a separação e pesagem das vísceras (coração, moela, fígado e intestino), sendo também
retirada
seguidamente
a
a
gordura
carcaça
foi
do
abdômen,
desmembrada
submetendo todos os cortes separadamente a uma
4734
e
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, v.13. n.4, p.4732-4737, julho/agosto, 2016.ISSN:1983-9006
e
Artigo 382 - Desempenho de frangos de corte com diferentes níveis de energia
a uma pesagem final, (coxa, pernas, peito, dorso,
CV: Coeficiente de variância. MSS: Milho, soja e
sobrecoxa, asa, coxinha da asa, gordura e pele.
sorgo; MSS3%: Milho, soja, sorgo e 3% de óleo de soja.
Os dados foram aplicados em um programa de análise estatística utilizando o SAS (2002).
Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de
RESULTADOS E DISCUSSÃO
probabilidade.
As tabelas 02, 03 e 04 demonstram os resultados de variáveis de desempenho de frangos de corte,
A tabela 03 apresenta variáveis adquiridas no
consumo de ração, ganho de peso, conversão
experimento; podem-se notar
alimentar, rendimento dos cortes nobres de carcaça,
médios, percebendo que o corte de peito não diferiu
vísceras comestíveis e não comestíveis, fígado,
estatisticamente (P<0,05). Essa baixa variação pode
coração, moela e intestino.
todos
os
dados
se dar pelo baixo nível de energia acrescentada na dieta de 3%. No corte do dorso e coxa também não
Os dados obtidos, na tabela 02, não apresentaram
foram obtidos diferença (P<0,05). Os parâmetros de
diferença significativa (P<0,05), para consumo de
asa, coxinha da asa, pés, gordura e pele, não
ração (CR), ganho de peso (GP), e conversão alimentar (CA), no período de 1 a 42 dias, em temperaturas
que
variam
de
26°C
a
30°C,
caracterizando como fora da zona de conforto
demonstraram diferença estatística (P<0,05). O único corte que demonstrou diferença (P>0,05) entre os tratamentos foi o parâmetro de sobrecoxa. Sendo
térmico. Segundo Tinoco (1998), um ambiente
todos os dados obtidos pelo teste de tukey.
considerado confortável em números de 16 a 23°C.
Corroborando com este trabalho Brandão (2008),
Observando que a pouca inserção de óleo na
verificou que os níveis de inclusão de óleos e os
alimentação
não
diferentes tipos de óleos de soja não interferiram nas
diferenciação estatística. Segundo Carvalho Filho et
variáveis: peso de carcaça, asas, entreasa, peito,
al. (2014) as aves em estresse térmico reduzem a
coxa,
pode
ter
contribuído
para
ingestão de alimento na tentativa de minimizar o calor metabólico, observando e comparando os resultados de Rosa (1999), que utilizou dietas para frangos de corte contendo 3% de fontes lipídicas
sobrecoxa,
dorso,
gordura
abdominal,
pescoço, fígado e moela. Demonstrando resultado adverso apenas no parâmetro de sobrecoxa. Vários fatores podem ter colaborado, um deles pode ser a
(óleo de linhaça, óleo comercial e óleo de soja) e
pouca introdução de óleo na alimentação e fatores
uma ração controle sem adição de óleo, não
ambientais como a temperatura; essa que foi
observou diferença estatística de rendimento de
apresentada em 26°C em horários mais ventilados.
carcaça inteira e no rendimento de cortes para as
Segundo
diferentes dietas. Resultados adquiridos por Gonzalo
considerável favorável para aves adultas quando
(1982), em frangos alimentados em 7% na ração
apresenta temperaturas de 16 a 23ºC. Resultados
apresentam menores consumos de ração em
semelhantes foram encontrados por, Leandro et al.
comparação aos alimentados com 1 a 4%.
(2003), que concluíram que os rendimentos de corte não
Tabela 2. Dados médios de consumo de ração (CR),
Tinoco
diferenciaram
(1998),
um
ambiente
estatisticamente
para
é
os
diferentes planos nutricionais. Dados obtidos por Lima et al. (1996), não verificaram diferenças para as
PARÂMETRO CR GP CA
MSS (g) 4,5 a 1,9 a 2,4 a
MSS3%(g) 4,5 a 1,9 a 2,4 a
CV% 3,7 4,2 1,7
características de rendimento de coxas, peito e nos níveis de 1%, 2% e 3% nas rações de frangos de corte. Esses resultados corroboram com Lara et al. (2005) estudando a influência de peso inicial sobre o
Fonte: Elaborado pelo autor
desempenho e o rendimento de carcaça e cortes de
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, v.13. n.4, p.4732-4737, julho/agosto, 2016.ISSN:1983-9006
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Artigo 382 - Desempenho de frangos de corte com diferentes níveis de energia
frango de corte, observaram maior rendimento de coxa e sobrecoxa das aves.
Médias seguidas da mesma letra não diferem
Tabela 3. Variáveis de rendimento de carcaça, dos
estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de
cortes comerciais
probabilidade. CV: Coeficiente de variância. MSS: Milho, soja e sorgo; MSS3%: Milho, soja, sorgo e 3%
PARÂMETRO MSS (g) MSS3%(g) Peito 280a 270a Dorso 410a 410a Coxa 180a 170a Sobre coxa 190a 160b Asa 150a 90a Coxinha da110a 110a asa Pés 80a 70a Gordura 30a 30a Pele 140a 130a Fonte: Elaborado pelo autor
CV% 17,7 13,4 11,0 15,3 131,0 13,5
de óleo de soja.
15,6 37,1 13,8
alimentação, sendo que na análise de todos os
CONSIERAÇÕES FINAIS Os parâmetros de desempenho de frangos de corte da linhagem Ross não podem ser influenciados pela introdução de níveis baixos de energia em sua parâmetros promovidos no experimento, não foram obtidas
diferenças,
sobrecoxa, enfim
exceto, as
aves
no
parâmetro
podem
ter
de
sofrido
Médias seguidas da mesma letra não diferem
influencia de alguns fatores como temperatura,
estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de
umidade,
probabilidade. CV: Coeficiente de variância. MSS:
desenvolvimento das aves.
podendo
interferir
no
pleno
Milho, soja e sorgo; MSS3%: Milho, soja, sorgo e 3% REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS
de óleo de soja.
BRANDÃO, T. M. Diferentes tipos de óleos de soja e Na tabela 04, utilização de óleo de soja na
níveis de energia em dietas de frango de corte:
introdução de dietas de frangos de corte não
desempenho
apresentou diferença estatística (P<0,05) sobre os
Dissertação, Bióloga e Tecnóloga em Alimentos.
pesos de carcaça de órgãos internos, sendo fígado,
TERESINA – PI, 2008.
e
carcaterística
de
carcaça.
moela, coração e intestino. Um dos possíveis
CARVALHO FILHO, D.U. et al. Fitase em dietas para
motivos para não obtenção de dados diferenciais
frangos de corte de 1 a 21 dias alojados em
estatísticos pode ser remetido à exposição das aves
ambientes
a autos níveis de temperatura provocando um estresse calórico, que dificulta no desenvolvimento desses
animais. Segundo Harrison (1995)
as
variáveis como temperatura são manejadas no no sistema de alojamento avícola e influencia tanto na
com
diferentes
sistemas
de
climatização. Revista Brasileira Saúde Produção Animal, 2014, vol.15, n.4, pp. 957-969. ISSN 15199940. EVANGELISTA, J. Tecnologia de alimentos. 2. ed. São Paulo, SP: Atheneu, 2008. 654,. FIGUEIREDO,
E.A.P.
Como
está
a
avicultura
qualidade como na quantidade da produção. Os
brasileira. Revista Brasileira de Agropecuária, ano
resultados obtidos por Lara et al. (2006) corroboram
II nº 13. 2001. p.12-16.
com os diagnosticados nesse trabalho, sendo que
GIROTTO, A. F.; AVILA, V. S. Sistema de Produção de
fontes lipídicas de origem vegetal não influenciam no
Frangos de Corte. Embrapa Suínos e Aves, ISSN
rendimento de carcaça de vísceras e cortes de (peito
1678-8850 Versão Eletrônica, janeiro de 2013. GONZALO, G.M. Rate of passage (transit time) as
e coxa). Tabela 4. Dados médios de rendimento de
órgãos
influenced by level of supplemental fat. Poultry Science, Champaign, v.61, p.94-100, 1982.
PARAMETRO Fígado Moela Coração Intestino
MSS (g) 30a 40a 10a 90a
MSS3%(g) 30a 40a 20a 200a
CV% 17,4 25,4 92,8 157,8
Fonte: Elaborado pelo autor
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Artigo 382 - Desempenho de frangos de corte com diferentes níveis de energia
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4737
Produção de forragem em sistemas integrados Espécies forrageiras, ILPF, produtividade, sombreamento.
Kaio Augusto Ribeiro Santana Cavalini Soares¹* Henrique Melo Da Silva² Hozane Alves De Souza² Helio Stinguel¹
Revista Eletrônica Vol. 13, Nº 04, julho/agosto de 2016 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br
¹Mestrando em Zootecnia, UFMT/ICAA-Sinop, ² Acadêmico do Curso de Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso Campus Sinop *E-mail: kaiocavalini@gmail.com
A Revista Eletrônica Nutritime é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
RESUMO O sistema de integração lavoura-pecuária-floresta
FODDER PRODUCTION IN INTEGRATED SYSTEMS
(ILPF) vem ganhando destaque no cenário nacional
ABSTRACT
e internacional nos últimos anos, devido sua
The
sustentabilidade e viabilidade econômica. Integrando
(IAFP) has gained prominence on the national and
atividades
florestais,
international scene in recent years, owing its
realizadas na mesma área, num cultivo consorciado,
sustainability and economic viability. Integrating
em
efeitos
agricultural, livestock and forestry held in the same
sinérgicos entre os componentes do sistema, em
area, in intercropping, in succession or rotation,
busca
agrícolas,
sucessão da
ou
pecuárias rotação,
buscando
integration
crop-livestock-forest
a
promoting a synergistic effect between the system
sistema
já
components, in pursuit of environmental compliance.
estabelecido mudará a configuração da atividade. A
However, the deployment of trees on a system
competividade por luz e nutrientes entre as árvores e
already established had changed the configuration of
as gramíneas interfere diretamente na produção de
the activity. The competitiveness for light and
forragem, por outro lado, as árvores aumentam a
nutrients between the trees and the grass directly
ciclagem de nutrientes e diminui a perda de umidade
interferes in forage production on the other hand, the
dentro do sistema. Existem algumas espécies
trees increase nutrient cycling and reduces moisture
forrageiras tolerantes que quando submetidas ao
loss within the system. There are some tolerant
sombreamento moderado, apresentaram algumas
forage species when subjected to moderate shading,
características intrínsecas do sistema que devem ser
presented some intrinsic characteristics of the
avaliadas de forma mais conjunta aos outros
system to be assessed more jointly with other
componentes do sistema, tais como: plasticidade
system components such as phenotypic plasticity,
fenotípica, qualidade nutricional e valor nutricional.
nutritional quality and nutritional value.
Palavras-chave: espécies forrageiras, ILPF,
Keyword:
produtividade, sombreamento.
shading.
de
árvores
ambiental.
of
Porém,
implantação
adequação
e
system
em
um
forage
species,
IAFP,
productivity,
4738
Artigo 383 – Produção de forragem em sistemas integrados
INTRODUÇÃO A
fornecendo cifras cada vez mais atrativas ao
integração
lavoura-pecuária-floresta
(ILPF)
produtor. Devido à maior exploração da ILP nos
apresenta dúvidas sobre aspectos do manejo dos
últimos anos, a atividade se encontra em um elevado
componentes do sistema. Ao se integrar em uma
nível tecnológico. Atualmente a ILPF vem para
mesma área física plantas herbáceas, arbustivas
revolucionar a ILP, porém há pouco conhecimento
e/ou arbóreas e animais ruminantes, estabelece-se
técnico - científico a respeito dos efeitos aditivos do
um ambiente de relações ecológicas, baseadas em
componente florestal sobre a lavoura e a pecuária e
interações complexas e dinâmicas entre seus
qual o sinergismo entre as atividades. Portanto
componentes.
de
objetivou-se com essa revisão, discutir sobre a
competição entre os componentes são determinados
produção e qualidade da forragem produzida em
pelo clima, manejo, tipo de solo e espécies. Em
sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta,
sistemas estabelecidos em ambientes tropicais
tendo em vista a interferência do componente
úmidos, espécies arbóreas e forrageiras competem
florestal, buscando identificar quais os tipos de
primariamente por luz (SHELTON et al., 1997;
interações e efeitos aditivos sobre a produção de
PACIULLO et al., 2011). Ao longo do tempo, as
forragem.
A
significância
e
o
nível
árvores crescem e interceptam progressivamente maiores
quantidades
fotossinteticamente
da
ativa,
radiação
aumentando
o
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
sombreamento do pasto. Ao mesmo tempo, ocorrem
A inclusão do componente arbóreo na lavoura e
mudanças na qualidade da radiação que atravessa o
pastagem
dossel arbóreo e alcança o pasto, o que interfere em
Integração Lavoura Pecuária (ILP), evoluindo para o
várias características morfofisiológicas das plantas
conceito de integração Lavoura Pecuária Floresta
forrageiras.
(ILPF). Estratégia de produção sustentável que
O
grau de sombreamento imposto sobre
as
forrageiras, assim como a capacidade dessas plantas
continuarem
produzindo,
mesmo
em
condições de menor luminosidade são condições básicas para o sucesso na exploração desses sistemas, especialmente quando se prioriza a produção animal. O uso de densidade de árvores, de modo a promover apenas sombreamento moderado
representa um
avanço inovador
da
integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais, realizadas na mesma área, num cultivo consorciado, em
sucessão
ou
rotação,
buscando
efeitos
sinérgicos entre os componentes do sistema, em busca da adequação ambiental (Embrapa, 2009). Além disso, o modelo pode possibilitar o aumento de renda da propriedade, pela exploração econômica de mais de um produto comercializável.
das forrageiras, além do plantio de espécies, pelo
A implantação de espécies arbóreas no sistema
menos medianamente tolerantes à sombra, pode
constitui a garantia de manter ativa a circulação de
contribuir significativamente para o sucesso de
nutrientes e o aporte significativo de matéria
sistemas de produção animal baseado no uso de
orgânica, condição essencial para se cultivar de
pastagens
ao
maneira contínua os solos tropicais (BURGUER et
sombreamento depende da capacidade que a planta
al., 1986). Porém, com o desenvolvimento das
tem em se ajustar morfológica e fisiologicamente a
árvores
um dado nível de irradiância (DIAS-FILHO, 2000),
luminosidade disponível para o sub-bosque que
variando entre espécies e é de suma importância o
influencia
conhecimento no momento de escolher qual plantar.
sombreamento pode comprometer a produção de
arborizadas.
A
tolerância
há
uma a
diminuição
produtividade
progressiva do
pasto.
da O
forragem (CASTRO et al., 1999; GUENNI et al., Recentemente a integração lavoura pecuária (ILP)
2008), mas há evidências de seus benefícios sob
vem se consolidando dentro da pecuária nacional e
determinadas condições (ROZADOS LORENZO et al., 2007; YAMAMOTO et al., 2007; SOUSA et al., 2010).
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4739
Artigo 383 – Produção de forragem em sistemas integrados
moderado,
agrosilvipastoris, no que se refere ao espaçamento
algumas gramíneas, que apresentam tolerância mediana a esse tipo de ambiente, podem manter sua
entre faixas de árvores e escolha de espécies
produção semelhante à do cultivo a pleno sol ou
máximo benefício da inclusão de espécies arbóreas
mesmo aumentar, quando estabelecidas em solos pobres em nitrogênio (CASTRO et al., 1999;
em pastagens.
PACIULLO et al., 2008; SOUSA et al., 2010).
Produção de forragem em sistemas integrados
Em
condições
de
sombreamento
Algumas variáveis importantes que influenciam a disponibilidade de luz para o sub-bosque, para obtenção de sombra moderada, são a densidade e a disposição das árvores na área de pastagem (Oliveira et al., 2007; Rozados Lorenzo et al., 2007). Em sistemas agrosilvipastoris, cujo arranjo espacial envolve a disposição das árvores em linhas ou renques com mais de uma linha, é possível supor que haja influência das árvores sobre o pasto, à medida que este se distancia dos troncos. Embora a influência
do
componente
arbóreo
nas
características do pasto se concentre principalmente sob
as
copas
das
árvores,
os
efeitos
do
sombreamento podem alcançar regiões localizadas além da projeção das copas (DIAS et al., 2007).
forrageiras adaptadas, para que se possa obter o
De maneira geral, a produção de forragem é dependente
tanto
da
temperatura
quanto
da
luminosidade. Forrageiras de estação fria têm o pico de produção no inverno e na primavera, enquanto forrageiras de estação quente apresentam maior produtividade durante os meses mais quentes. Durante
o
inverno,
temperaturas
e
em
consequência
luminosidade
baixa,
de
espécies
perenes de verão reduzem a produção de forragem, enquanto, no verão, água é o fator mais limitante à produção de forragem (NELSON & MOSER, 1994). No Centro-oeste, tendo em vista que as estações do ano são bem definidas, deste modo, pode-se dizer que o fator limitante de produção é a escassez de água no período da seca.
Paciullo et al. (2011) avaliando os efeitos de árvores dispostas em renques sobre as características produtivas e nutricionais de Urochloa decumbens
A produção de matéria seca de forrageiras em
verificou que a densidade de perfilhos variou
como a tolerância das espécies à sombra e o grau
(p<0,05) com a época do ano e com as distâncias dos renques, mas não com a interação entre esses
de sombreamento proporcionado pelas árvores.
fatores. O sombreamento natural, proporcionado
tolerantes
pelas árvores, alterou tanto a intensidade quanto a qualidade da radiação incidente no sub-bosque o
redução acentuada da produção de forragem quando
que explicou a menor densidade de perfilhos.
em geral com níveis de sombra acima de 50% de luz
associação
com
espécies
arbóreas
pode
ser
prejudicada ou favorecida, dependendo de fatores
Mesmo
gramíneas ao
consideradas
sombreamento
têm
medianamente apresentado
submetidas a condições de sombreamento intenso, solar plena (CASTRO et al., 1999; ANDRADE et al.,
A presença de árvores em sistemas agrosilvipastoris também influencia o valor nutritivo do pasto,
2004; PACIULLO et al., 2007). Resultados de
principalmente
adaptações
se mostrou pouco tolerante ao sombreamento
morfofisiológicas da planta (BARUCH & GUENNI, 2007), sendo que, em condições de sombreamento
intenso (65% de sombreamento em relação à
moderado, diminui-se a quantidade de matéria seca total, mas em contrapartida aumenta-se o teor de
de produtividade obtido (Tabela 1). A diminuição do
nitrogênio na folha, o que pode repercutir em melhorias do teor proteico da forragem (PACIULLO
aumentos da ordem de 65% para a massa de
et al., 2007; SOUSA, 2009).
(1999) também observaram redução de 50% no
em
razão
de
pesquisa têm revelado que a Brachiaria. decumbens
condição de sol pleno), considerando o baixo nível sombreamento de 65 para 35% resultou em forragem (PACIULLO et al., 2007). Castro et al. rendimento
O conhecimento do efeito de sombreamento é de
forrageiro
espécie
quando
cultivada com 60% de sombreamento artificial.
suma importância no planejamento de sistemas 4740
dessa
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4738-4748, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
Artigo 383 – Produção de forragem em sistemas integrados
A espécie Brachiaria brizantha cv. Marandu também apresentou diminuição de 60% na taxa de acúmulo de MS quando cultivada sob 70% sombreamento artificial (ANDRADE et al., 2004).
RFA Incidente no Sub-Bosque de B. decumbens (%) 7 100 79 45 1 1,389 1,111 6,23 2 2,306 2,591 1,78 1 3,071 1,963 1,684 4 5,377 4,554 3,462 2 1,66 2,33 2,85 1 2,21 1,77 2,7 4 3,87 4,09 5,5
Massa de parte aérea Massa de raiz Massa total Parte aérea Raiz Total
crescimento
associação
de
com
gramíneas
espécies
forrageiras
arbóreas
em
pode
ser
como o grau de sombreamento e de competição entre as plantas, contribuição das árvores em biomassa, nível de nitrogênio no solo e tolerância das gramíneas ao sombreamento (CARVALHO et al.
conforme a intensidade da RFA
RFA (µmol/m²/s)
O
prejudicado ou favorecido, dependendo de fatores
Tabela 1: Radiação fotossinteticamente ativa (RFA), massas de parte aérea e raiz de Brachiaria decumbens (kg/ha) e relações massa/RFA,
CARACTERÍSTICAS
Forrageiras tolerantes ao sombreamento
1997). Nesse contexto, há uma necessidade de identificar
espécies
arbóreas
e
forrageiras,
adaptadas a esse sistema, assim, avaliações de forrageiras tolerantes ao sombreamento devem ser priorizadas.
A
pesquisa
sobre
tolerância
de
forrageiras ao sombreamento tem avançado a partir de estudos realizados com diversas espécies de gramíneas e leguminosas forrageiras em várias partes do mundo (SMITH & WHITEMAN, 1983; WONG et al., 1985; ANDRADE et al., 2003; 2004; SOARES et al., 2009; PACIULLO et al., 2011), o que tem permitido orientação segura para escolha da
Fonte: Adaptado de Paciullo et al. (2011)
espécie mais adequada para compor sistemas Castilhos et al. (2003) avaliaram a produção de
silvipastoris.
forragem de cinco cultivares de Panicum maximum a pleno sol e em um bosque de eucalipto com 15 anos de idade, plantado no espaçamento 3 × 3 m. Na sombra, foi observada redução acentuada da produção de forragem de todas as cultivares, em decorrência
da
alta
consequentemente,
densidade
baixos
níveis
arbórea de
e,
radiação
disponível para as gramíneas. A produção de matéria
seca
média
obtida
na
sombra
foi,
aproximadamente, 25% da observada a pleno sol. O grau de sombreamento imposto pelas árvores no sistema silvipastoril sobre as forrageiras, assim
De acordo com Wong (1991), essa característica se refere à capacidade da espécie crescer a sombra, em relação ao crescimento a pleno sol, e sob a influência de desfolhações regulares. Além do crescimento,
outros
aspectos
importantes
das
gramíneas forrageiras que podem ser afetados pelo sombreamento
são
o
florescimento,
e
consequentemente, a produção de sementes, e aspectos do valor nutritivo da forragem, como a digestibilidade e composição mineral (CARVALHO et al., 2002).
como a capacidade dessas plantas continuarem produzindo,
mesmo
em
condições
de
menor
luminosidade, são condições básicas para o sucesso
Dentre as espécies de gramíneas que possuem tolerância mediana ao sombreamento estão algumas
de
na exploração desses sistemas, especialmente
das forrageiras mais utilizadas para formação
quando se prioriza a produção animal. O uso de
pastagem no Brasil e em outras regiões tropicais e
densidade de árvores, de modo a promover apenas
subtropicais, de como Brachiaria spp. e Panicum
sombreamento moderado das forrageiras, além do
maximum
(Tabela
plantio de espécies medianamente tolerantes à
Brachiaria
decumbens
sombra, pode contribuir significativamente para o
brizantha cvs. Marandu, Xaraés e Piatã, Brachiaria
sucesso de sistemas de produção animal baseado
ruziziensis,
no uso de pastagens arborizadas.
Massai e Vencedor apresentaram relativa tolerância
Panicum
2).
Gramíneas cv.
Basilisk,
maximum
cvs.
tais
como
Brachiaria Tanzânia,
ao sombreamento moderado, sendo potencialmente Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4738-4748, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
4741
Artigo 383 – Produção de forragem em sistemas integrados
adequadas para sistemas silvipastoris (CASTRO et
série de pesquisas deverá ser feita para melhorar e
al., 1999; CARVALHO et al., 2002; ANDRADE et al.,
complementar o sistema.
2004; PACIULLO et al., 2007; GUENNI et al., 2008; SOARES et al., 2009; SILVA et al., 2010; PACIULLO et al., 2011d; SANTOS et al., 2012).
Ajustes morfológicos sombreamento
em
resposta
ao
Sabe-se que o dossel forrageiro sofre modificações Tabela 2: Gramíneas forrageiras tropicais tolerantes ao sombreamento moderado
B. brizantha cv. Marandu B. brizantha cv. Xaraes B. brizantha cv . Piatã B. humidicola B. ruziziensis
P. maximum cv. Vencedor P. maximum cv.Tanzânia P. maximum cv. Massai
o componente arbóreo por recursos de
competição pela radiação fotossinteticamente ativa
Schreiner (1987), Andrade et al. (2003), Paciullo et al., (2007; 2011d), Guenni et al. (2008), Gobbi et al. (2009) Dias-Filho (2000), Andrade et al. (2003), Soares et al. (2009), Paciullo et al. (2011d) Martuscello et al. (2009), Paciullo et al. (2011d) Santos et al (2012) Smith & Whiteman (1983), Dias-Filho (2000 Paciullo et al. (2011)
B. decumbens
com
crescimento, principalmente no que se refere à
REFERÊNCIA Gênero Brachiaria
ESPÉCIE/CULTIVAR
morfofisiológicas quando submetido à competição
(DIAS-FILHO, 2002; PACIULLO et al., 2008; GOBBI et al., 2009). Aumentos da área foliar específica com a diminuição da
luminosidade
têm
sido
observados
para
gramíneas de clima temperado (KEPHART et al.,
Gênero Panicum
1992) e tropical (PACIULLO et al., 2007). Da mesma
Castro et al. (1999) Carvalho et al. (2002), Castro et al. (2009) Andrade et al. (2004), Silva et al. (2010)
forma,
plantas
submetidas
ao
sombreamento
apresentam maiores teores de clorofila total que aquelas cultivadas em condições de pleno sol (DIASFILHO, 2002). Dias-Filho (2002) examinou as
Fonte: Adaptado de Carvalho et al. (2002).
respostas fotossintéticas de Brachiaria brizantha e As respostas que ocorrem em condições de
Brachiaria humidicola, cultivadas em condições de
sombreamento variam de espécie para espécie. O
luz plena e sombreamento. Para ambas as espécies,
capim Tanzânia, por exemplo, nos estudos se
as
demonstrou tolerante ao sombreamento (Carvalho et
apresentaram menor ponto de compensação de luz
al., 2002), porém, reduziu a produção de matéria
do que plantas expostas ao sol pleno, o que foi
seca total, retardou o florescimento e apresentou
resultado das menores taxas de respiração no
mudanças morfológicas. Por outro lado, aumentou a
escuro por unidade de área foliar. Segundo os
concentração
autores, baixa respiração no escuro e baixo ponto de
de
consequentemente
nitrogênio melhorou
na a
planta
e
qualidade
da
forragem.
um
sistema
submetidas
ao
sombreamento
compensação de luz são atributos de plantas tolerantes à sombra.
Como a Integração Lavoura Pecuária Floresta ainda é
plantas
pioneiro,
ainda
é
de
pouco
Com
o
sombreamento
a
espécie
forrageira
desenvolve algumas características para se adaptar
conhecimento técnico e científico os efeitos aditivos entre as atividades agrossilvipastoris, deste modo,
ao ambiente. Estudos com gramíneas tropicais
não se pode afirmar que a implantação de arvores em um sistema pecuário é prejudicial, pois, na
resultou em lâminas foliares e colmos mais longos
mesma hora que o sombreamento diminui a produção total de matéria seca melhora-se a qualidade da forragem. A partir dessa afirmação, gera-se uma série de questionamentos: Qual será a eficiência de utilização dessa forragem? Como será a
indicaram que a intensificação do sombreamento (LOPES et al., 2011; PACIULO et al., 2011). Esses resultados
decorrem
das
maiores
taxas
de
alongamento de folhas e colmos quando as plantas são submetidas à luminosidade reduzida, conforme observado para gramíneas dos gêneros Brachiaria
suplementação de um animal manejado nesse sistema? Será que com a suplementação se
(DIAS-FILHO, 2000; PACIULLO et al., 2011d;
consegue aumentar a produção por área, uma vez que diminui a produção de forragem? ... Assim uma
2009) cultivadas em condições de sombreamento.
4742
LOPES et al., 2011) e Panicum (CASTRO et al.,
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Artigo 383 – Produção de forragem em sistemas integrados
Em geral, a taxa de aparecimento de folhas não é
mento de onda esteja na faixa de 400-700 nm. A luz
influenciada pelo sombreamento (PACIULLO et al.,
cujo comprimento de onda esteja compreendido
2008; 2010), ou apresenta apenas aumento de
entre o azul e o vermelho é reduzida em comparação
pequena
2011),
com o espectro verde e infra-vermelho, diminuindo a
provavelmente pelo papel central que desempenha
relação luz vermelha/luz infravermelha. A queda
na morfogênese das plantas, fato que contribui para
dessa relação, em condições de sombreamento
que essa seja a última característica modificada pela
natural,
planta em condições adversas de crescimento
morfogênese das plantas, principalmente diminuindo
(NABINGER & PONTES, 2001). O número de folhas
o perfilhamento das gramíneas (GAUTIER et al.,
por perfilho também não tem se modificado com o
1999). A importância da intensidade da sombra
sombreamento, o que está relacionado ao pequeno
sobre este fator foi demonstrada por Paciullo et al.
ou
(2007), em pastagem de B. decumbens, cuja
magnitude
ausente
aparecimento
efeito e
(LOPES
da
tempo
et
sombra de
al.,
na
vida
taxa da
de folha
causa
densidade
importantes
populacional
de
efeitos
sobre
perfilhos
a
por
m²
(FERNANDÉZ et al., 2002; PACIULLO et al., 2008;
aumentou de 253 para 447 quando a intensidade de
LOPES et al., 2011).
luz se elevou, respectivamente, de 35 para 65%, em relação à condição de sol pleno. Outro estudo
Em relação aos perfilhos, variações nos padrões e
demonstrou redução entre 20 e 32% na densidade
taxas de aparecimento e morte correspondem a um
de perfilhos, com o sombreamento, para várias
dos principais mecanismos utilizados pelas plantas
espécies do gênero Brachiaria cultivadas sob sol
forrageiras para se manterem vivas e perenes em
pleno
áreas de pastagem, uma vez que asseguram
(PACIULLO et al., 2011).
e
diferentes
percentagens
de
sombra
reposição de perfilhos mortos e restauração da área foliar removida pelo pastejo. Em geral, tem sido
Outra modificação decorrente do sombreamento é a
constatada redução da taxa de perfilhamento de
redução da produção de raízes (Figura 1), resultante
gramíneas quando submetidas ao sombreamento
da
(FERNANDÉZ et al., 2002; PACIULLO et al., 2007).
fotoassimilados
Normalmente, para manter o desenvolvimento do
ambiente de reduzida luminosidade, especialmente
perfilho, em condições de sombreamento, a planta
na camada de 0 a 40 cm de profundidade do solo
prioriza o crescimento dos perfilhos existentes, em
(PACIULLO et al., 2010). Como consequência desse
detrimento da produção de novos perfilhos. Pode
fenômeno, tem-se maior relação parte aérea/raiz em
ocorrer maior mortalidade de perfilhos em função da
plantas cultivadas sob sombreamento. Em pastagem
limitação no suprimento de carbono gerada pela
de Brachiaria decumbens calculou-se que a redução
competição
2010).
da biomassa aérea sob a maior porcentagem de
Adicionalmente, em condições de sombreamento,
sombra (60% da radiação plena) foi de 29,7% em
algumas gemas axilares podem ser abortadas antes
relação ao cultivo sob menor sombreamento (16%
mesmo da emergência de novos perfilhos (LEMAIRE
da radiação plena), enquanto a redução relativa na
& CHAPMAN, 1996).
biomassa de raízes, causada pelo sombreamento,
por
luz
(KIM
et
al.,
mudança
no
padrão
pelas
de
plantas
alocação
de
cultivadas
em
foi de 70,5% (PACIULLO et al., 2010). A diminuição Além do efeito da quantidade de luz sobre a
mais acentuada da massa de raízes em relação à
produção de fotoassimilados, que sustenta e permite
parte aérea refletiu-se em plantas sob maiores
o desenvolvimento dos perfilhos, a qualidade da luz
percentagens de sombra, em relação àquelas
também tem efeito sobre o perfilhamento. A
crescendo sob menor efeito da sombra das árvores.
qualidade da luz que passa através das copas das
Dias-Filho (2000) enfatiza que a marcada redução na
árvores é alterada porque as folhas das mesmas
biomassa
absorvem, preferencialmente, radiação cujo compri-
vulnerabilidade do pasto aos estresses ambientais
de
raízes
pode
resultar
em
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4738-4748, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
maior
4743
Artigo 383 – Produção de forragem em sistemas integrados
que exijam forte interferência do sistema radicular para o processo de rebrotação.
(FDN) e digestibilidade in vitro da MS (DIVMS) os resultados, embora contraditórios, indicam uma
Valor nutritivo da forragem A temperatura, a disponibilidade de água, a fertilidade do solo e radiação solar são os fatores mais importantes que determinam a quantidade e o valor nutritivo da forragem produzida (FONTANELI et al., 2012). A qualidade da forragem está diretamente relacionada com o desempenho animal, isto é, produção diária de leite por animal ou por área e ganho de peso vivo diário. Uma maneira simples de representar
qualidade
de
forragem
pode
ser:
qualidade de forragem = quantidade ingerida da forragem x valor nutritivo (FONTANELI et al., 2012). O valor nutritivo de uma forragem refere-se às características inerentes da forragem consumida que determinam a concentração de energia digestível e sua eficiência de utilização. O valor nutritivo é determinado pela concentração e digestibilidade de nutrientes e natureza dos produtos finais da digestão. A qualidade da forragem produzida pela planta ou, de forma mais geral, pela população de plantas é determinada pelo estádio de crescimento destas e por suas condições durante a colheita. Em sentido global, a qualidade da forragem é o resultado das espécies presentes e da quantidade de forragem disponível, bem como da composição e da textura de cada espécie.
tendência de redução dos teores de FDN e aumento da DIVMS em condições de sombra (CARVALHO, 2001). Kephart e Buxton (1993) verificaram que, impondo 63% de sombra a cinco espécies de gramíneas forrageiras perenes, o conteúdo da parede celular decresceu em apenas 3% e o teor de lignina em 4%, fatores que contribuíram para um aumento da digestibilidade em 5%. À sombra, as gramíneas apresentam um ligeiro aumento da digestibilidade (1 a 3%), em virtude de sua menor concentração de parede celular. Entretanto, um aumento do teor de lignina foi reportado nas gramíneas cultivadas à sombra, em relação àquelas mantidas em pleno sol (SAMARAKOON et al., 1990a). Efeito significativo da condição de luminosidade foi observado sobre o teor de FDN da Brachiaria decumbens, o qual foi maior a pleno sol do que sob as copas das árvores (PACIULLO et al., 2007). Resultado semelhante foi encontrado para as espécies Brachiaria brizantha e Panicum maximum, cultivadas em diferentes níveis de sombreamento (DENIUM et al., 1996). De acordo com os autores, a maior concentração de FDN, a pleno sol, é conseqüência da maior disponibilidade de fotoassimilados, do que resulta aumento na
A sombra, geralmente, favorece o aumento da disponibilidade de nitrogênio no solo e induz aumentos na
Sobre os teores de fibra em detergente neutro
concentração
de
nitrogênio
das
gramíneas
(SAMARAKOON et al. 1990A; KEPHART & BUXTON, 1993; RIBASKI & MONTOYA, 2000). Em pastagens de Brachiaria decumbens sombreadas ou não com leguminosas arbóreas, os teores de proteína bruta foram influenciados pelas condições de luminosidade. Nas lâminas foliares o teor de proteína bruta (PB) foi 29% maior na sombra do que no sol (PACIULLO et al., 2007). A sombra possibilita maior retenção de água no solo, cujo efeito positivo sobre a atividade microbiana,
quantidade de tecido esclerenquimático, com maior número de células e paredes celulares mais espessas. A literatura mostra que o efeito do sombreamento na DIVMS é variável com a espécie, nível de sombreamento
e
condições
climáticas,
principalmente temperatura e umidade. Quatro anos após a introdução de nove espécies de leguminosas arbóreas em uma pastagem já formada de Brachiaria decumbens, foi observado que durante a estação seca ou em período de menores precipitações, em áreas de pastagem
resulta em maior decomposição da matéria orgânica e
sob a influência da sombra a mesma apresentava
ciclagem de nitrogênio (WILSON, 1998).
melhor qualidade do que a forragem produzida nas áreas fora da influência das árvores (CARVALHO et al., 1999). O teor de PB da forragem foi maior
4744
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, v.13. n.4, p.4738-4748, julho/agosto, 2016.ISSN:1983-9006
Artigo 383 – Produção de forraagem em sistemas integrados
em regime de sombreamento do que a pleno sol, em
menor
ambas as estações. Durante a estação chuvosa, as
condições de sombra, associada ao maior teor de
condições de sombreamento não apresentaram efeito
PB, geralmente melhora a digestibilidade da
significativo na DIVMS da Brachiaria decumbens.
matéria seca. Contudo, as variações positivas
Entretanto, durante a seca a forragem produzida na
esperadas
sombra apresentou valores de DIVMS maiores do que
sombreadas dependem da espécie, nível de
aqueles observados ao sol. Paciullo et al. (2007)
sombreamento, fertilidade inicial do solo, estação
verificaram maior DIVMS para lâminas foliares de B.
do ano, entre outros.
decumbens
desenvolvidas
na
sombra,
quantidade
no
de
valor
fotoassimilados
nutritivo
em
em
forrageiras
quando
comparada a sol pleno. Os autores relacionaram o maior valor de DIVMS, ao maior teor de PB e menor de FDN obtidos em condições de sombreamento.
CONCLUSÕES A produção de forragem dentro do ILPF sofre interferência
do
sombreamento,
porem
vai
depender da tolerância e adaptação da espécie Denium et al. (1996) observaram efeito positivo da sombra na DIVMS para a Setaria anceps, negativo para P. maximum e ausência de efeito para B. brizantha. Sob sombreamento intenso (28% de de transmissão de luz) foram verificados decréscimos nos valores
de
digestibilidade
de
várias
gramíneas
forrageiras; mas em condições de sombra moderada (64% de transmissão de luz)
a digestibilidade
aumentou em comparação ao cultivo à luz solar plena.
forrageira
ao
sombreamento
produzido
pelo
componente arbóreo. Nesta situação ocorrem adaptações morfofisiológicas, como a diminuição da densidade de perfilhos. Contudo, estudos demonstram condições
de
beneficiadas proporcionada
que
espécies
tolerantes
sobre
sombreamento moderado, pela pelas
ciclagem árvores.
de
são
nutrientes
Dessa
forma,
estudos mais detalhados sobre os efeitos aditivos dentro da ILPF deverão ser desenvolvidos para
De forma consistente o sombreamento contribui para aumentos dos teores de PB e minerais na forrageira.
que possamos elaborar técnicas mais específicas de manejo dentro do sistema.
A tendência de menores teores de FDN, decorrente da
Figura 1. Distribuição de raízes de B. decumbens no perfil do solo, em um sistema silvipastoril, conforme a intensidade de radiação fotossinteticamente ativa (RFA) incidente no pasto.
Fonte: Adaptado de Paciullo et al. (2010).
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, v.13. n.4, p.4738-4748, julho/agosto, 2016.ISSN:1983-9006
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Artigo 383- Produção de forragem em sistemas integrados
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Ergonomia em tratores agrícolas Segurança do trabalho, normas, irregularidades, postos de trabalho. 1
Luis Gustavo Silva Rodrigues 2 Enio Fernandes de Lima 3 Larissa Aires Mariano 4 Vanessa Cristina de Souza Resende Revista Eletrônica
Vol. 13, Nº 04, julho/agosto de 2016 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br
Engenheiro Ambiental e Engenheiro de Segurança do Trabalho, Graduando em Zootecnia IFGoiano. E-mail: luisgsilvarodrigues@hotmail.com Engenheiro Mecânico e Engenheiro de Segurança do Trabalho. Engenheira Química e Engenheira de Segurança do Trabalho. Zootecnista e Técnica em Agropecuária
A Revista Eletrônica Nutritime é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
ERGONOMICS IN AGRICULTURAL TRACTORS
RESUMO Objetivou-se
com
esse
trabalho
identificar
os
principais riscos ergonômicos e problemáticos que estão sujeitas os motoristas de tratores agrícolas e analisar, por meio de revisão bibliográfica, a condição desses maquinários agrícolas, quanto aos requisitos das normas nacionais e internacionais. Para isso, foram utilizados artigos dos últimos doze anos, focando em estudos de 2010 a 2013. A conclusão obtida foi que apesar da importância que se dá a ergonomia e segurança do trabalho hoje, ser bem maior que há alguns anos, ainda há muita irregularidade em itens importantes de normas referentes a postos de trabalho e comandos de operação de tratores agrícolas. Palavras-chave: Segurança do trabalho, normas,
ABSTRACT The objective of this work was to identify ergonomic risks and main problems that are subject drivers of agricultural tractors and analyze, through a literature review, the condition of these agricultural machinery, for the requirements of national and international standards. For this, articles was used for the past twelve years, focusing on studies from 2010 to 2013. The conclusion was that despite the importance given to ergonomics and safety be much higher today than a few years, there is still much irregularity important items of standards relating to jobs and operation commands tractors. Keyword: Work security, standards, irregularities.
irregularidades, postos de trabalho.
4749
Artigo 384 – Ergonomia em tratores agrícolas
INTRODUÇÃO
trabalho do mesmo. Da mesma forma, os acidentes
A produtividade da agropecuária brasileira é uma
eram relacionados, normalmente, à falta de mão-de-
das mais altas do mundo, com crescimento médio
obra qualificada. Entretanto, o rendimento do trator,
anual de 3,57% de 1975 a 2009, segundo o
e a ocorrência de acidentes dependem também do
Ministério da Agricultura. Nesse período, a produção
trabalhador e seu nível de fadiga e, também, a
de grãos no Brasil aumentou 240% e a área foi
intensidade
expandida em 44%, mostrando o forte crescimento
condições ergonômicas intrínsecas de cada trator.
destes
esforços
dependem
das
da produtividade agrícola no Brasil. O cansaço do colaborador faz com que sua A Organização Mundial do Comércio (OMC) destaca
concentração diminua, seus reflexos fiquem mais
que em 2011 o Brasil foi responsável pelo maior
lentos e a ocorrência de erros aumente. Atualmente,
saldo comercial agrícola do mundo. Faro (2013),
passam a existir convicções de que os riscos de
também
acidentes, que ocasionam
relata
que
as
expectativas
para
o
perdas
econômicas,
agronegócio são bastante otimistas, diferente de
devem ser minimizados. E então, a melhoria no
alguns setores da economia no Brasil. No primeiro
sentido humano de encarar a pessoa que realiza
trimestre de 2013, por exemplo, o Produto Interno
trabalho na agricultura faz com que os estudos
Bruto (PIB), que é a soma dos produtos e serviços
ergonômicos
ganhem
produzidos pelo país, ficou abaixo do esperado, com
mecanização
rural,
0,6%, porém, no setor agrícola apresentou o maior
agrícolas.
força
no
principalmente
contexto em
da
tratores
crescimento desde 1998, avançando 9,7%. O trabalho manual foi progressivamente substituído Para 2013, a Associação Nacional dos Fabricantes
pelo trabalho mecanizado e, com isso, veio à
de Veículos Automotores (Anfavea) espera alta de
preocupação com o conforto e a segurança do
18% nas vendas de máquinas agrícolas. De janeiro
operador dos maquinários agrícolas e, consequentes
a julho deste ano, a Anfavea registrou alta de 28%
acidentes de trabalho. A importância que hoje é dada
nas vendas de veículos automotores em relação ao
aos aspectos ergonômicos e de segurança do
mesmo período no ano passado. Seguindo a mesma
operador de máquinas agrícolas é bem maior do que
comparação,
aquela que se dava há alguns anos atrás, por
também
houve
crescimento
na
produção de máquinas agrícolas, de 17,5%.
profissionais de diversas áreas.
A partir da década de 1970, a demanda na agricultura vem sofrendo mudança, entre elas destaca-se
o
tratorizados
uso
crescente
(VILAGA,
2009).
dos O
maquinários aumento
na
produtividade foi uma das grandes evoluções que as máquinas agrícolas trouxeram para agricultura, considerando a redução do esforço físico necessário para a execução de determinadas tarefas e a potencialização do trabalho no meio rural. Porém, a operação de máquinas agrícolas demanda certo esforço físico e mental, o que resulta na fadiga do operador. Segundo
tratam de dimensões tanto do posto de operação do trator agrícola como de uma maneira geral desta máquina,
confirmando
a
importância
desse
equipamento, bem como de se ter segurança com o mesmo. A NR-31, por exemplo, estabelece os preceitos para a organização e ambiente de trabalho, nas atividades da agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura, relacionadas com a segurança, saúde e meio ambiente do trabalho. O ANEXO XI da NR-12 (Segurança no trabalho em
Rozin
(2004),
acreditava-se
que
a
qualidade e a dimensão dos componentes dos tratores, como motor, caixa de câmbio, dentre outros eram os fatores determinantes da produtividade de 4750
Existem normas nacionais e internacionais que
máquinas e equipamentos) refere-se a máquinas e implementos para uso agrícola e aplica-se às fases de projeto, fabricação, importação, comercialização, exposição e cessão a máquinas e implementos para uso agrícola e florestal.
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4749-4756, juho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
Artigo 384 – Ergonomia em tratores agrícolas
A NR-17 (Ergonomia) direciona parâmetros que
no período de 1960 a 2006 (VIAN; ANDRADE,
permitem a adaptação das condições de trabalho às
2009).
características
dos
Tabela 1 - Área Cultivada, Frota de Tratores de
colaboradores, reunindo maior conforto, segurança e
psíquicas
Rodas e Índice de Mecanização da Agricultura no
desempenho.
Brasil, 1960-2006.
Para
avaliar
e
fisiológicas tais
condições,
o
empregador precisa realizar a análise ergonômica
Ano
do trabalho. Tanto as normas International Organization for
(1.000 ha)
(unidade)
(ha/trator de
Área
Frota de
rodas) Índice
cultivada
tratores de
de tratorização
rodas
Standardization (ISO), Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), como American Society of
1960
25.673
62.684
410
Agricultural Engineers (ASAE) são utilizadas para
1965
31.637
76.691
413
projeto de tratores agrícolas.
1970
34.912
97.160
359
1975
41.811
273.852
153
1980
47.641
480.340
99
1985
49.529
551.036
90
1990
47.666
515.815
92
1995
50.038
481.316
104
2000
53.300
450.000
118
2005
59.399
354.722
167
2006
57.445
336.589
171
Objetivou-se
com
esse trabalho
identificar
os
principais riscos ergonômicos e problemáticos que estão sujeitas os motoristas de tratores agrícolas e analisar, por meio de revisão bibliográfica, a condição desses maquinários agrícolas, quanto aos requisitos das normas nacionais e internacionais. REVISÃO DE LITERATURA CONCEITO E EVOLUÇÃO DOS TRATORES
Fonte: Vian e Andrade (2009).
Trator agrícola é uma máquina de médio a grande porte, unidade móvel com potência, constituída
Segundo Vilagra (2009), podem-se classificar os
basicamente por motor, sistema de transmissão,
tratores sob dois requisitos básicos, que são tipo de
sistema de direção e sistema de locomoção. Esse equipamento possui uma ampla gama de aplicações na agricultura e pecuária, entre elas transportar, empurrar, arrastar, levantar e acionar máquinas
rodado e tipo de chassi. O tipo de rodado refere-se à tração, estabilidade e rendimento operacional do trator e classificam-se em: duas rodas, triciclos, quatro rodas, semi-esteira e esteira. Para uso em
equipamentos agrícolas (SILVEIRA, 2001).
atividade agrícola, os tratores de quatro rodas são Segundo Vian e Andrade (2009), os Estados Unidos
predominantes. O tipo de chassi relaciona-se ao
foram
e
trator em Peso X Potência, distribuição dos esforços
colheitadeiras, movidos a vapor, que executavam
e localização do centro de gravidade. Segundo este
em um dia o processo de colher e realizar todas as
critério, pode ser classificado em: trator industrial,
operações necessárias, após a guerra civil norte
trator florestal e trator agrícola.
os
primeiros
a
usarem
tratores
americana, em 1861. Em 1905, surgiu a primeira fábrica de trator, chamada Hart-Parr Company, em Iowa, estado norte americano. Assim, a fabricação de tratores atingiu seu auge em 1913, quando dez mil tratores foram fabricados. A Tabela 1 mostra o aumento da frota de tratores de rodas a partir de 1975 em relação à área cultivada e o índice de mecanização da agricultura no Brasil, no
Para Márquez (1990), o trator agrícola foi a máquina que proporcionou o alavancamento da agricultura devido a sua versatilidade para executar várias atividades e a sua fonte de potência e tração para a utilização
com
implementos
e
equipamentos
agrícolas, assim sendo a base da agricultura moderna.
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4749-4756, julho/ agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
4751
Artigo 384 – Ergonomia em tratores agrícolas
metria Para Academia Nacional de Engenharia dos Estados Unidos da América a mecanização agrícola é uma invenção que está à frente do computador, telefone e naves, ocupando a 7ª posição no quesito maior
é
o
estudo
características
do
das
medidas
das
corpo
humano
e
várias abrange
principalmente o estudo das dimensões lineares, diâmetros, pesos, centros de gravidade do corpo humano e suas partes (IIDA, 2003).
invenção do século XX. Por ter tantas funções agregadas, como: tracionar máquinas e implementos
Sempre harmonizando a relação homem e máquina,
de arrasto; acionar máquinas estacionárias através
a ergonomia tem a função de adaptar o processo de
de tomada de potência (TDP) e carregar máquinas e
efetivação
implementos montados, o trator agrícola é um dos
características do homem (ROSSI et al., 2011). Vidal
mais
(2009) completa afirmando que a ergonomia tem
importantes
insumos
agrícolas
modernos
(VILAGRA, 2009).
de
uma
tarefa,
respeitando
as
como finalidade a alteração do posto de trabalho para as características, funcionalidade e restrições
Técnicas agrícolas mais aprimoradas, diminuição de
do operador com fim de realizar o desempenho com
custos de produção, aumento da produtividade,
maior eficácia, conforto e sem perigo para o
levou as empresas que fabricam tratores a se
funcionário.
adaptarem
a agricultura então praticada, isso
levando o desenvolvimento de novas tecnologias
Agindo sobre os fatores do sistema homem-
eficientes e de qualidade seguindo a evolução dos
máquina, a ergonomia busca aumentar a eficiência
maquinários de outros países (ROZIN, 2004).
desse sistema para beneficiar o ser humano (FERNANDES et al., 2011). Para Trindade et al.
Para Silveira (2001), o trator deve se adaptar as
(2013), a ergonomia também procura adequar as
características mais diversas perante as várias
condições de trabalho com as características do
funções que podem ser exercidas. Eles necessitam
homem.
ter boa manobrabilidade, comodidade, segurança operacional, visibilidade, acoplamento rápido e
A ergonomia surgiu com a necessidade de melhoria
simples e fácil manutenção.
dos postos de trabalho, com isso buscou-se responder as grandes questões importantes das
Segundo a ANFAVEA (2013), no ano de 1960 o
situações insatisfatórias e relacionando com a
Brasil possuía uma frota de aproximadamente 60 mil
organização
tratores, nos dias atuais existe uma frota de
Segundo Rossi et al. (2011), ela tem como finalidade
aproximadamente 820 mil máquinas.
a harmonização para a realização de determinada
no
trabalho
(RIO;
PIRES,
2001).
atividade, sempre buscando o melhor beneficio de CONCEITOS E FUNÇÕES DA ERGONOMIA
produção e bem-estar ao homem.
Para Iida (2005), a ergonomia é definida como a adaptação do trabalho ao homem. O trabalho
Segundo Iida (2005), a ergonomia é uma nova
abrange as máquinas, os equipamentos e também
ciência que segue os aspectos da reação humana e
toda a situação em que ocorre o relacionamento
algumas outras características como ser humano
entre o homem e seu trabalho. Complementando,
(características físicas, fisiológicas, psicológicas e
Trindade et al. (2013) afirma que é um conjunto de
sociais do trabalhador, sexo, idade, etc), máquina
tecnologias
adaptar
(ferramentas usadas no trabalho, equipamentos,
confortável e produtivamente a relação do homem e
mobílias e instalações), ambiente (características
seu trabalho.
físicas do trabalho, temperatura, ruídos, gases,
e
ciência
que
objetiva
vibrações, cores), informação (transmissões de Segundo Rossi (2011), a ergonomia é uma ciência
informação, processamento e tomada de decisões),
multidisciplinar que utiliza aspectos da psicologia,
organização (horários, turnos de trabalho e formação
biomecânica, fisiologia humana, ambiente e antropo-
de equipes das funções) e consequência do trabalho
4752
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4749-4756, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
Artigo 384 – Ergonomia em tratores agrícolas
(controle como tarefas de inspeções, estudos de
trabalho desse trabalhador deve ser verificado,
acidentes e erros, e estudos sobre energia, fadiga e
analisando se há condições para que o trabalho seja
estresse).
realizado sem riscos a saúde e acidentes (ROSSI et
A pesquisa em ergonomia é recente, e para
al., 2011).
Trindade et al. (2013), pode-se falar em “ergonomia aplicada ao trabalho” a partir da década de 1950. O
Além disso, o operador passa de 40% a 60% do
autor ainda conceitua “ergonomia aplicada ao
tempo de trabalho olhando para trás acompanhando
trabalho” como uma ligação do trabalho humano
o funcionamento dos implementos acoplados na
social e tecnológica, tendo por objetivo desvendar
traseira dos tratores, podendo chegar de 15 a 20
as situações de trabalho e os múltiplos fatores que
rotações na cabeça por minuto. Assim podendo levar
as compõem.
a fadigas nos músculos do pescoço e da coluna vertebral (IIDA, 2005).
ERGONOMIA EM TRATORES Segundo Rozin (2004), o conforto e a segurança dos trabalhadores vêm chamando a atenção de profissionais com a certeza de considerar a ergonomia nos projetos de tratores agrícolas, visando minimizar as adversidades impostas no
Segundo Iida (2005), o operador ideal deveria ter três pernas, dois olhos atrás da cabeça e uma coluna de ferro, a fim de facilitar e diminuir os impactos ergonômicos gerados a partir dos tratores. Além disso, a utilização de implementos agrícolas na parte
manuseio das máquinas agrícolas.
dianteira
dos
tratores
possui
benefícios
ergonômicos na saúde e segurança do operador. Verifica-se
que
o
mercado
agrícola
cresce
anualmente no Brasil, portanto questões como ergonomia
e
segurança
dos
operadores
de
máquinas têm sido cada vez mais demandado (NIETIEDT et al., 2012).
Para maior conforto, segurança e produtividade, alguns pontos devem ser avaliados, tais como acesso à máquina, o conforto térmico, o campo visual, o esforço para acionamento dos comandos e as dimensões do posto de trabalho (VILAGRA,
Os operadores de tratores estão submetidos a limitações e adversidades como: ruídos, vibrações, poeiras, temperatura, umidade, iluminação entre outros. Essas adversidades são oriundas tanto das máquinas, quanto do meio ambiente onde estão executando as atividades (SCHLOSSER et al., 2002). Em concordância, Fernandes et al. (2001) complementa dizendo que no aspecto agrícola, a operação de tratores ganha destaque devido a essas condições ambientais dos postos de trabalho,
2009). DISCUSSÃO Na Tabela 2 estão descritos os valores padrões a serem
seguidos
pelos
fabricantes
de
tratores
presentes na Norma NBR/ISO 4252 (ABNT, 1999), que são considerados para a maioria dos trabalhos que envolvem ergonomia em tratores, além da classificação da ANFAVEA para potência de tratores agrícolas (Tabela 3).
além de distribuição adequada dos comandos de Segundo estudo realizado por Mattar et al. (2010)
operação e assento do operador.
com tratores semi-novos de marcas nacionais, sendo A tarefa do operador de trator quase sempre vem
12 modelos com potência de 36 a 73 kW (classe II) e
acompanhada de jornadas de trabalho extensas,
9 modelos com potência de 74 a 147 kW (classe III),
tornando-a bastante fatigante. Além disso, as
itens importantes da norma NBR 4252 foram
condições
analisados. Quanto aos valores de altura de
climatológicas
estão
intrinsecamente
ligadas às operações do equipamento, podendo
plataforma,
todos
os
modelos
atenderam
as
afetar o rendimento produtivo. Portanto, o posto de
especificações, enquanto a que distância mínima entre degraus foi atendida por 85,71% dos modelos.
Nutritime Revista Eletronica, on-line, v.13, n.4, p.4749-4756, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
4753
Artigo 384 – Ergonomia em tratores agrícolas
A altura do primeiro degrau é importante devido ao
é um pouco melhor, sendo que 45,4% dos comandos
impacto negativo sobre os joelhos dos motoristas,
frequentes estão na zona de conforto e 57,5% dos
além do grande esforço que o operador tem que
comandos raros na zona de acesso.
despender quando não adaptado. Os itens das normas vigentes de ergonomia em Para Nietiedt et al. (2012), que utilizaram uma
tratores agrícolas normalmente não estão sendo
amostra de 101 modelos de tratores agrícolas
atendidos, afirmação provada com os dados dos
comercializados no Brasil, em conformidade com a
autores estudados. Tal fato mostra que ainda há
norma NBR ISO 4253. Os autores constataram que
uma despreocupação por parte dos fabricantes de
o posicionamento do comando de embreagem
tratores agrícolas e também dos empregadores, que
(pedal) foi de 36,4% na classe I e nas demais
muitas vezes não fazem modificações a fim de
classes foi cerca de 55%. Quanto aos pedais de
adaptar e melhorar o posto de trabalho dos
freio, a média de conformidade foi de 56,4% entre
motoristas.
as classes. O caso mais crítico foi do acelerador de pé, cujo índice de atendimento a norma ficou em
O resultado é maléfico para ambos os lados. Com o
14,9% de todos os tratores agrícolas.
excesso de esforço do tratorista devido à falta do conforto mínimo necessário ao trabalho, o cansaço é
Rossi et al. (2011) usou um trator de potência
maior, a probabilidade de errar também e o
73.550 W novo para avaliar os controles dos postos
rendimento é menor. Dessa forma, a produtividade
de trabalho do tratorista, fundamentando-se na
do trabalho cai e o dono do trator lucra menos. Por
norma NBR/NM/ISO 5353 e NBR/ISO 4130. Após a
outro ponto de vista, há o aumento dos índices de
coleta de dados e confrontamento com a norma
doenças ocupacionais, acidentes de trabalho e
NBR ISO 6682, concluíram que dos controles
afastamentos de colaboradores, prejudicando o
principais (direção, câmbio, pedais, aceleradores e
próprio trabalhador.
embreagem), embreagem e acelerador de pé, que são de uso frequente pelo operador, estão fora da
CONSIDERAÇÕES FINAIS
zona de conforto e de alcance. Isso pode ocasionar
Apesar da importância que hoje é dada aos aspectos
lesões
ergonômicos e de segurança do operador de
musculoesqueléticas
do
operador
nos
máquinas agrícolas serem bem maiores do que há
membros inferiores.
alguns anos atrás, ainda há muita mudança a ser Por Nietiedt et al. (2012), tratores de classe II
feita nessa área. Um dos pontos observados é a
também foram estudados, em 2012, empregando as
quantidade limitada de artigos existentes com
normas ABNT/NBR/ISO 4253 e ISO 15077 como
estudos de ergonomia em equipamentos agrícolas,
referenciais.
avaliados
sobretudo tratores, se comparado com outros temas.
comandos de operação de acionamento frequentes
Como nosso país tem potencial agrícola, deveria se
e raros, nos perfis, vertical longitudinal e superior
preocupar mais com as questões que envolvem os
horizontal. Analisando o perfil vertical longitudinal,
colaboradores desse ramo.
Nos
tratores
foram
para os comandos frequentes 29,2% estiveram na zona de conforto, onde devem se localizar, e 30,8%
Uma
ficaram na zona inacessível, onde não devem estar.
encontradas talvez seja em razão do aumento da
Para os comandos raros 76,6% se posicionaram na
produção agrícola e a necessidade do uso constante
zona de acesso e 23,4% na zona inacessível. Em
de maquinários como tratores. As empresas diante
referência ao perfil superior horizontal, a estatística
desta demanda tendem a atender o mercado consu-
4754
das
explicações
Nutritime Revista Eletrönica, on-line, v.13, n.4, p.4749-4756, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
dessas
irregularidades
Artigo 384- Ergonomia em tratores agrícolas
midor gerando maquinários mais baratos,que gerem
ergonomia, fundamentais para o bom desempenho
mais lucros ou equipamentos mais produtivos,
do operador e, consequentemente a tranquilidade do
deixando de analisar, às vezes, a segurança e a
empregador.
Tabela 2 – Dimensões da norma NBR 4252 de acessos e saídas dos postos de operação.
Itens
Dispositivos de Acesso
Medidas
A
Ângulo de abertura da porta (valor mínimo)
120°
B
Largura superior da porta (valor mínimo)
670 mm
C
Maior largura da porta (valor mínimo)
750 mm
D
Profundidade do degrau (valor mínimo)
150 mm
E
Altura da porta do trator ou da plataforma ao toldo (valor mínimo)
1.330 mm
F
Largura do degrau e a entrada da plataforma (valor mínimo)
270 mm
G
Distanciamento do degrau à plataforma (valor máximo)
300 mm
H
Distanciamento de um degrau ao outro sucessivo (valor máximo)
300 mm
I
Altura do primeiro degrau em relação ao solo (valor máximo)
550 mm
J
Distância da entrada ao primeiro obstáculo (valor mínimo)
450 mm
Fonte: Mattar et al. (2010).
Tabela 3 – Classes de potência nominal do motor de tratores agrícolas.
Classes
Faixa de Potência (kW)
I
< 36
II
36 – 73
III
74 – 147
IV
Acima de 147
Fonte: ANFAVEA (2013).
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4749-4756, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
4755
Artigo 384 – Ergonomia em tratores agrícolas
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4756
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4749-4756, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
Utilização de probióticos para leitões desmamados Aditivo, antibióticos, microrganismos vivos, nutrição alternativa
Eliseu Carlos Cristofori¹ 1* Jansller Luiz Genova Davi Elias de Sá e Castro¹ Aparecida da Costa Oliveira² Matheus Leonardi Damasceno¹
Revista Eletrônica
Vol. 13, Nº 04, julho/agosto de 2016 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br
1
Mestrandos em Zootecnia, PPZ/UNIOESTE, Marechal Cândido Rondon – PR, bolsistas CAPES. *jansllerg@gmail.com
² Pós-doutoranda da CAPES (PNPD/CAPES), Marechal Cândido Rondon –
A Revista Eletrônica Nutritime é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
PR.
RESUMO
UTILIZATION OF PROBIOTICS FOR WEANED
O período pós-desmame é uma fase em que, o leitão
PIGLETS
sofre alterações bruscas em sua relação social, ocorrem
alterações
repentinas,
além
metabólicas
do
estrutura
ABSTRACT The post-weaning period is a phase wherein, the
(ambiente) é modificada. Por estes fatores, seu
piglet undergoes abrupt changes in your social
sistema imune apresenta uma depressão, ficando
relation; occur sudden metabolic and physiological
então,
changes,
às
a
fisiológicas física
susceptível
mais,
e
enfermidades.
Um
dos
moreover,
the
physical
structure
principais meios para modificar esta situação é a
(ambience) is modified. For these factors, your
utilização de quimioterápicos, porém, seus efeitos
immune system presents a depression, being then,
secundários alertam os consumidores e nutricionista
susceptible the diseases. An of the main ways to
na área animal. Com esse agravante, surge como
modify this situation is the use of chemotherapy, but,
aditivo alternativo a utilização de probióticos, que em
yours
definição são microrganismos vivos que quando
nutritionist in the animal area. With this aggravating,
administrados de forma correta atuam em beneficio
arises as alternative additive the use of probiotics,
na microbiota intestinal, e assim promovem melhores
which in definition are live microorganisms, that when
índices
administered of correct form act in benefit in the
zootécnicos.
As
principais
classes
secondary
effects
alert
consumers
and
consideradas como probióticas são os Bacillus, as
intestinal
leveduras e bactérias produtoras de ácido lático, tais
zootechnical
como Lactobacillus, Bifidobacterium e Enterococus.
considered as probiotic the Bacillus, the yeast and
O objetivo desta revisão de literatura é discutir
lactic acid producers bacteria such as Lactobacillus,
informações sobre a utilização de probióticos na
Bifidobacterium and Enterococcus. The aim of this
nutrição de leitões, bem como, sua finalidade
literature review is discuss information about the use
metabólica,
sistema
of probiotics in the nutrition of piglets, as well, your
digestivo, apresentando resultados experimentais
metabolic finality, acting and changes in the digestive
obtidos com a inclusão deste aditivo.
system, presenting experimental results obtained
atuação
e
alterações
no
microbiota, indexes.
and The
thus
promote
main
classes
better are
with the inclusion of this additive. Palavras-chave: Aditivo, antibióticos, microrganismos vivos, nutrição alternativa. 4757
Keyword: Additive, antibiotics, live microorganisms, alternative nutrition.
Artigo 385 – Utilização de probióticos para leitões desmamados
INTRODUÇÃO O
desmame
formações sobre a utilização de probióticos na é
um
período
crítico
no
desenvolvimento do leitão, pelos fatores de estresse nutricional, social e ambiental. Uma vez que, os animais recebiam uma dieta de altamente digestível, passam a receber uma dieta mais complexa e
nutrição de leitões, bem como, sua finalidade metabólica,
atuação
e
alterações
no
sistema
digestivo, apresentando resultados experimentais obtidos com a inclusão deste aditivo.
menos digestível, através da ração sólida, com isso causando transtornos no trato gastrointestinal do
REVISÃO DE LITERATURA
animal. Ocorre uma perda de peso passageira,
Diversas pesquisas são encontradas no meio
como
científico,
geralmente
é
observado
logo
após
o
em
que
pesquisadores
intestinal,
composta
estudam por
a
desmame, levando a uma disfunção no intestino,
microbiota
diversos
predispondo o animal a infecções entéricas e
microrganismos, e que cada vez procuram-se
concomitantes casos de diarreia.
estudar os efeitos destes. Estudos feitos por Kotzampassi & Giamarellos-Bourboulis (2012) e
Estudos têm demonstrado que a função da barreira
Power et al. (2014) estudando a microbiota intestinal,
intestinal fica comprometida, resultando no aumento
descobriram que ela possui influência direta com a
da secreção de eletrólitos e água, além de aumentar
saúde do hospedeiro, como alterações metabólicas,
a permeabilidade para substâncias potencialmente
fisiológicas, nutricionais e processos imunológicos.
tóxicas
(LALLE’s
et
al.,
2004).
Com
esses
agravantes, os antibióticos são utilizados como
Assim, com a finalidade de melhorar o desempenho
promotores de crescimento para prevenir essas
zootécnico dos animais, surgem os probióticos,
perdas econômicas geradas pelo estresse ao
definidos como microrganismos vivos e quando
desmame e por microrganismos patogênicos no
administrados
trato gastrointestinal dos animais, que ocasionam as
melhoram a microbiota intestinal conferindo um
disfunções a nível metabólico.
benefício à saúde do hospedeiro (FAO/WHO, 2001).
Contudo, os efeitos secundários dos antibióticos
Estudos realizados por Wang et al. (2012) utilizando
alertam os consumidores e os nutricionistas de animais a buscarem alternativas na alimentação animal (KABIR, 2009). Uma alternativa encontrada para substituição aos antibióticos é o probiótico (GRIGGS & JACOB, 2005), que em definição são microrganismos vivos que quando administrados de forma correta atuam em beneficio na microbiota intestinal, e assim promovem melhores índices
em
como
probióticos
como probióticas e assim diversos trabalhos são encontrados na literatura avaliando a eficiência e
para
leitões
desmamados
encontraram melhores resultados de desempenho. Lojanica et al. (2010) utilizando faecium
encontraram
melhores
Enterococcus valores
para
conversão alimentar (C.A), ganho de peso diário (GPD)
e
menor
mortalidade
para
leitões
desmamados. Datt et al. (2011) utilizaram a levedura suínos
Várias classes de microrganismos são utilizadas
adequadas,
Lactobacillus acidophilus e Pediococcus acidilactici,
Saccharomyces
zootécnicos (FULLER, 1989).
quantidades
na
fase
cerevisiae de
+
Lactobacillus,
crescimento,
em
encontraram
melhores valores de digestibilidade e melhor taxa de crescimento. Em um experimento utilizando apenas a
levedura
Saccharomyces
cerevisiae
como
classes
probiótico, Shen et al. (2009) encontrou resultado
consideradas como probióticas são: os Bacillus, as
positivo para o desempenho em leitões na fase de
leveduras e bactérias produtoras de ácido lático, tais
creche.
ação
dos
mesmos.
As
principais
como Lactobacillus, Bifidobacterium e Enterococus (STEIN & KIL, 2006).
Na literatura também são encontrados alguns trabalhos em que os efeitos não foram positivos.
O objetivo desta revisão de literatura é discutir in-
Utiyama et al. (2006), em um experimento utilizando Bacillus subtilis e Bacillus licheniformis verificaram
4758
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4757-4763, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
Artigo 385 – Utilização de probióticos para leitões desmamados
efeito negativo sobre o desempenho de leitões e
fazer parte da flora intestinal normal do hospedeiro,
efeito semelhante sobre a ocorrência de diarreia na
sobreviver e colonizar rapidamente o intestino do
fase de creche em comparação aos antibióticos.
hospedeiro, ser capaz de aderir ao epitélio intestinal
Fedalto et al. (2002) encontraram efeito negativo
do hospedeiro, sobreviver à ação de enzimas
sobre o desempenho de leitões utilizando Bacillus
digestivas, ter ação antagonista aos microrganismos
toyoy.
patogênicos (ALMEIDA, 2012), não ser tóxico ou patogênico, ser cultivável em escala industrial, ser
Bontempo
et
al.
(2006)
utilizou
a
levedura
Saccharomyces cerevisiae, com suínos na fase de
estável e viável na preparação comercial, além de estimular a imunidade (FULLER et al., 1989).
desmame e verificou maior GP. Shen et al. (2009) avaliou a Saccharomyces cerevisiae em leitões na
Várias
fase de creche e encontrou menores contagens de
caracterizadas como probióticas, porém apenas as
Escherichia coli na microbiota intestinal, seja pelo
cepas ácido láticas são consideradas importantes
modo
excluir
para a nutrição e a alimentação (HOLZAPFEL et al.,
microrganismos nocivos. Van Heugten et al. (2003)
2001). Assim, para compor esse grupo, as bactérias
encontrou menores contagens de bactérias totais
devem ser Gram-positivas, não esporulantes, cocos
nas
levedura
ou bastonetes “não respirantes”, e que durante a
Sacharomyces cerevisiae. Cupere et al. (1993), não
fermentação de carboidratos, produzem o ácido
encontrou
lático como principal produto final (AXELSSON,
de
ação
fezes
de
dos
probióticos
leitões
influência
utilizando
na
em
a
mortalidade,
sintomas
clínicos e contagem de Escherichia coli nas fezes de
espécies
de
bactérias
podem
ser
2005).
leitões utilizando Bacillus cereus, Lactobacillus spp e Streptococcus.
Huyghebaert espécies
et al. (2011)
colonizadoras,
classificaram
os
como
Lactobacillus
e
Probióticos de modo geral
Enterococcus spp., e não colonizadoras, de transito
A primeira definição para probióticos foi feita por Lilly
intestinal livre os Bacillus spp. e Saccharomyces
& Stillwell (1965), em que descreveram como
cerevisiae.
substâncias
produzidas
estimulavam
o
por
protozoários
crescimento
de
que outros
Modo de ação dos probióticos
microrganismos. Posteriormente, várias pesquisas
Em um aspecto geral, os probióticos adicionados na
foram realizadas objetivando verificar esse modo de
alimentação de monogástricos agem melhorando os
ação dos probióticos. Parker (1974) definiu como
índices econômicos, conferindo maior produtividade
microrganismo ou substância que contribui para o
pelo aumento e melhoria dos parâmetros de
equilíbrio
desempenho. O aumento do índice de desempenho
microbiano
intestinal.
Weichselbaum
(2009) definiu os probióticos como suplementos
zootécnico
alimentares a base de microrganismos vivos, que
probióticos reduzirem a contaminação por agentes
afetam
patogênicos, principalmente Salmonella spp., no
beneficamente
o
hospedeiro,
quando
administrado em níveis adequados.
pode
estar
associado
devido
os
trato gastrointestinal do animal (VILÀ et al., 2009) e à melhora da imunidade (KHAKSEFIDI & GHOORCHI,
Várias definições são encontradas na literatura e
2006).
atualmente a mais aceita internacionalmente é que os probióticos são microrganismos vivos e, quando
O trato gastrointestinal possui várias toxinas que são
administrados
produzidas
de
forma
adequada,
conferem
benefícios a saúde do hospedeiro.
por
inúmeros
microrganismos
patogênicos. Quando é utilizado probióticos, a quantidade desses microrganismos patogênicos é
Para um microrganismo ser considerado probiótico
reduzida e o seu metabolismo bacteriano é afetado,
ele deve atender algumas características como:
consequentemente a produção de toxinas é reduzida
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4757-4763, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
4759
Artigo 385 – Utilização de probióticos para leitões desmamados
(MURALI et al., 2010; HOOPER & MACPHERSON, 2010). Segundo Vila et al. (2010), os Lactobacillus acidophilus produzem metabolitos como acidophilin, lactocidin e acidolin, e os Lactobacillus plantarum produzem
lactolin.
Saccharomyces
As
leveduras,
cerevisiae
atuam
como
a
reduzindo
a
quantidade disponível de toxinas secretadas pelos patógenos através da concorrência pelo local de adesão. as
toxinas
ligam-se
a
receptores
específicos nas células do epitélio intestinal e induzem a alterações resultantes na perda de água eletrólitos,
nutricional.
substâncias como lisozima, peróxido de hidrogênio e outros ácidos orgânicos e ácidos graxos voláteis, com propriedades bactericidas ou bacteriostáticas, onde acidificam o meio, causando uma redução do pH intestinal, prejudicando a sobrevivência das bactérias patogênicas, como a Escherichia coli e Salmonella (BROWN, 2011). A adesão das bactérias nas células epiteliais é a
Geralmente
e
Após o estabelecimento no intestino, produzem
causando
Certas
um
estirpes
desbalanceamento de
Saccharomyces
cerevisiae podem excretar uma serina-protease que hidrolisa as toxinas produzidas por Clostridium difficile, que é resistente a tripsina e inibe a ligação da toxina ao seu receptor glicoproteico na borda em escova (CASTAGLIULO et al., 1996).
fase inicial da infecção bacteriana nas mucosas. As bactérias possuem uma ligação molecular na sua superfície
que
especificamente hospedeira.
são com
capazes a
Evidência
determinadas
estirpes
de
membrana
de
interagir da
célula
estabelecida
que
Escherichia
coli
ou
Salmonella possuem uma adesina fimbrial que se liga a resíduos de manose em membranas das células epiteliais (OFEK et al., 1977). Tais bactérias ou
suas
fimbrias
isoladas
também
aglutinam
levedura contendo manose na camada exterior da
Os probióticos também podem inibir os agentes patogênicos pelo aumento na função da barreira intestinal através da modulação do citoesqueleto e forte junção das proteínas (SHERMAN et al., 2005).
sua parede celular (KORHONEN, 1979). Esta aglutinação é inibida por soluções de D-manose. Gedek (1989) relatou que a ligação de agentes patogênicos de parede celular de levedura induz um efeito protetor. A concorrência entre levedura e patógenos para a ligação das células intestinais
Competição por locais de adesão
poderia ajudar a explicar a ação benéfica da
A exclusão competitiva é a habilidade da microflora
levedura, uma vez que esta adesão é crucial para a
de se proteger dos efeitos nocivos estabelecidos
expressão do efeito citopatogênico.
pelos agentes patogênicos (CHO et al., 2011). A competição de espaço para as bactérias exógenas
Probióticos e imunidade
se
bactérias
A distinção entre as bactérias benéficas e maléficas
endógenas no lúmen intestinal resultam na chamada
não são bem esclarecidas. De fato, uma grande
exclusão
variedade
aderirem
entre
competitiva
o
espaço
de
das
patógenos
exógenos
de
microrganismos
intestinais,
que
(BROWN, 2011). O conceito da exclusão competitiva
normalmente são comensais, pode em algum
indica que, as culturas de microrganismos benéficos
momento tornar-se ameaça ao hospedeiro.
selecionados adicionados a alimentação, competem
consequência das bactérias patogênicas no lúmen
com as bactérias nocivas com relação nos locais de
intestinal é que precisam ser interrompidas por uma
adesão e no substrato, principalmente fontes de
resposta imune agressiva (BISWAS & KOBAYASHI,
carbono e energia.
2013).
Probióticos podem excluir as bactérias patogênicas
O desafio para o sistema imunitário do intestino é
de duas maneiras: inicialmente competem por
proteger os tecidos do hospedeiro a partir da invasão
nutrientes
os
microbiana, enquanto, ao mesmo tempo, mantém a
microrganismos patógenos e assim impedem a sua
presença da simbiose microbiana (HOOPER et al.,
proliferação maléfica no intestino (BROWN, 2011;
2012).
e
sítios
de
absorção
com
MALAGO & KONINKX, 2011). 4760
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4757-4763, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
A
Artigo 385 – Utilização de probióticos para leitões desmamados
A tolerância em relação à microbiota no lúmen intestinal
positiva
é conseguida através de células que apresentam
microbiota benéfica e no desenvolvimento do
amostragem continuamente de antígenos no lúmen
trato
intestinal e apresentam essas amostras para as células
controversas
do sistema imunológico no córtex do GALT em
parâmetros de desempenho. Desta forma, torna-
mamíferos
estabelecido
se necessário a realização de mais estudos com
recentemente que Clostridiaceae, pertencentes ao filo
a inclusão de probióticos em dietas para leitões,
Firmicutes, desempenham um papel essencial no
pois são vários os desafios para a nutrição atual,
estabelecimento da tolerância de resposta pela indução
em virtude da redução dos quimioterápicos, além
de regulação dos linfócitos T (NAGANO et al., 2012).
de alguns resultados serem discrepantes.
(baço
em
aves).
Foi
Segundo Fleige et al. (2009), os probióticos atuam tanto modulando a resposta imune inata como a adquirida, favorecendo
o
combate
aos
microrganismos
patogênicos. Os probióticos fornecidos na alimentação animal modulam a resposta humoral e celular para aumentar a proteção pelo sistema imunológico (LEE et al., 2010) e estimulam a produção de anticorpos e ativação dos linfócitos (NG et al., 2009).
no
sistema
gastrointestinal. sobre
imune,
modulação
Observam-se sua
da
algumas
influência
nos
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através
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administração de probiótico (Lactobacillus plantarum)
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em
várias
administrações
por
semana.
Eles
Journal
of
Animal
and
1900, 2011.
9
descobriram que a administração de 5x10 UFC de
CASTAGLIULO, I.; LACANT, T.; NIKULASSAN,
Lactobacillus plantarum uma vez na desmama de
S.T. Saccharomyces boulardii protease inhibits
leitões aumentou a concentração de ácido lático e
Clostridium difficile toxin A effects in the rat
bactérias
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produtoras
de
butirato
no
colón
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dietas para leitões demonstram exercer influência
Nutritime Revista Eletronica, on-line, v.13, n.4, p.4757-4763, julho/agosto, 2016.ISSN: 1983-9006
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4763
Efeito do transporte em peixes Estresse, Oreochromis niloticus, Tilápia. Emizael Menezes de Almeida Alan Soares Machado
1*
2
Anderli Divina Ferreira Rios
3
.
1
R Vol. 13, Nº 04, julho/agosto de 2016 ISSN: 1983-9006
Mestrando em Zootecnia da Universidade Federal Goiás – EVZ. emizelmenezes@gmail.com 2 Professor Doutor do Instituto Federal Goiano – Câmpus Ceres 3 Doutora em Produção Vegetal EA/UFG.
www.nutritime.com.br A Revista Eletrônica Nutritime é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
RESUMO
EFFECT OF TRANSPORTATION IN FISH
O objetivo dessa revisão de literatura foi elucidar o manejo no transporte de peixes. A espécie
ABSTRACT
abordada foi tilápia-do-Nilo, Oreochromis niloticus.
The purpose of this literature review was to elucidate
Mesmo o transporte de peixes sendo um manejo
the management in the transport of fish. The species
rotineiro nas piscigranjas, a devida importância não
was addressed to the Nile tilapia, Oreochromis
lhe é atribuída. Quando esse manejo é realizado de
niloticus. Even the transport of fish being a routine
forma não adequada desencadeia uma série de
management in fish farms, due importance is not
reações fisiológicas que podem, até mesmo,
assigned. When this management is performed not
atrapalhar a produtividade animal como levar à
properly triggers a series of physiological reactions
morte. O estresse animal pode ser caracterizado
that can even disrupt animal productivity and lead to
em três estágios: primário (alterações hormonais),
death. The animal stress can be characterized in
secundário (mudança dos parâmetros fisiológicos e
three
bioquímicos)
secondary (change of physiological and biochemical
e
terciário
(mudanças
stages:
desempenho e suscetibilidade a doenças). Após o
performance
transporte os animais necessitam de um ambiente
disease). After transporting the animals need a
adequado para retornarem ao seu estado de
suitable environment to return to their state of
homeostase.
homeostasis.
Palavras-chave: Estresse, Oreochromis niloticus,
Keyword: Oreochromis niloticus, Stress, Tilapia.
impairment
(behavioral
changes),
parameters)
comprometimento
tertiary
(hormonal
do
comportamentais,
and
primary
and
changes,
susceptibility
to
Tilápia.
4764
Artigo 386 – Efeito do transporte em peixes
INTRODUÇÃO Segundo VINATEA (2004), o acelerado crescimento
Logo, alguns procedimentos deverão ser seguidos,
da população mundial tem levado ao aumento do
como relata JARBOE (1995), à necessidade da
problema da disponibilidade de alimento para suprir
depuração, por promover o esvaziamento do trato
as necessidades dessa população. Neste contexto a
digestivo, fazendo com que os peixes, entrem nos
criação de peixes é uma alternativa racional, de
tanques de transporte, reduzindo o impacto do
grande valor econômico e ecológico (FIGUEIREDO,
material fecal na água de transporte.
2007). Além do transporte, outro cuidado com os peixes que A aquicultura no Brasil tem sido desenvolvida muito
devemos nos preocupar é o povoamento dos
modestamente, se comparada com outras partes do
viveiros, que segundo PROENÇA e BITTENCOURT
mundo (CAMARGO e POUEY, 2005). A produção
(1994), ao chegar ao local os sacos deverão ser
brasileira de peixes não corresponde ao potencial
colocados ainda fechados e a flutuar por cerca de 20
hídrico do país e tampouco a indústria nacional de
minutos, até que se atinja o equilíbrio da água entre
pescado faz jus à imensa diversidade de espécies
a temperatura interna e externa, e só após, as
aquáticas nativas brasileiras (EMBRAPA, 2012).
embalagens deverão ser abertas e a água do viveiro adicionada à água dos sacos.
Segundo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA, 2012), a aquicultura brasileira vive um momento de
SITUAÇÃO ATUAL NO BRASIL
expansão
Para GUIMARÃES e STORTI FILHO (2004), a
e transformação, com
produção de
480.000 toneladas em 2010, aos quais 394.000 são referentes à produção continental. Segundo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
piscicultura no Brasil é uma atividade incipiente, pois é prática mais para fins de lazer do que gerar renda, mesmo se comparada com regiões de grande produção,
pois
nossa
tradição
é
ínfima
em
Naturais Renováveis (IBAMA, 2007), no cenário
contraposição a outros países onde a criação de
nacional, a produção aquícola continental mostra-se
peixes é uma prática milenar.
bastante desuniforme e concentrada em algumas 2
regiões, sendo que o Sul o maior produtor nacional
O Brasil, com mais de 8,5 milhões de km tem uma
(30,6%), seguido do Nordeste (20,9%), Centro-Oeste
das maiores reservas hídricas mundiais, com cerca
(19,1%), Sudeste (17,0%) e Norte (12,4%). No Brasil, a piscicultura continental tem as carpas e tilápias como as espécies mais cultivadas e de maior produção nacional (MPA, 2012).
de 14% da água doce disponível no planeta. A maior disponibilidade de corpos de água se situa na região Norte e Centro-Oeste que concentra cerca de 84% do potencial de águas superficiais do país. Na região Centro-Oeste existe uma das maiores áreas úmidas 2
do mundo – o Pantanal, com cerca de 140.000 km , Na criação de peixes o transporte é um manejo,
onde poderiam
dentre outros que promovem o estresse, acarretando
aquicultura
o comprometimento do desempenho produtivo. De
respeitadas às condições ambientais (DIEGUES,
acordo com CARNEIRO e URBINATI (2001), o
2006).
com
ser desenvolvidos projetos de espécies
nativas,
desde
que
tempo de transporte de peixes é variado, logo deverá ser realizado para que os animais cheguem com
A potencialidade nacional de produção de proteína
condições fisiológicas adequadas ao destino, para
de origem animal cresce a olhos vistos e estão longe
não comprometer seu desempenho.
de esgotar-se. Ao mesmo tempo, a competição aperta a margem de lucro. Em seu dia a dia, o produtor deve mostrar competência na definição de estratégias, na gestão dos recursos e na aplicação da tecnologia.
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4764-4772, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
4765
Artigo 386 - Efeito do transporte em peixes
Considerando as qualidades nutritivas do pescado, o potencial de geração de empregos, o baixo custo de produção, a redução dos estoques naturais e o aumento da demanda de alimentos, a piscicultura se justifica como sendo uma alternativa viável, para o aumento dessa demanda de proteína animal de baixo custo (FAO, 2006). Além do que, o consumo per capita de pescado no Brasil é de 14,5 kg segundo o MPA (2013), valor esse abaixo do
cultura firmou-se como atividade empresarial a partir da
década
de
1980,
empreendimentos
quando
pioneiros.
surgiram Estes
os
foram
inicialmente limitados por vários tipos de restrições, como falta de pesquisas, conhecimento incipiente das técnicas de cultivo, inexistência de rações adequadas e baixa qualidade dos alevinos, entre outras. E que houve intenso crescimento da produção de tilápias no período de 1996 a 2005, quando a atividade se consolidou de forma definitiva
recomendado pela FAO (2006) de 16,2 kg.
na aquicultura brasileira. O Brasil possui inúmeras espécies nativas para exploração pela aquicultura. No entanto, a grande
TRANSPORTE DE PEIXES
maioria delas necessita ainda de uma série de
O transporte é um procedimento traumático que
aportes científicos e tecnológicos para colocá-las em
consiste de uma sucessão de estímulos adversos,
um patamar de plena viabilidade zootécnica e
incluído a captura, o carregamento das unidades de
econômica.
transporte, o transporte em si, o descarregamento e
Enquanto
isso
não
acontece,
a
aquicultura brasileira é amplamente dominada pelas espécies exóticas, em especial a tilápia.
a estocagem
dos
animais
no
viveiro destino
(ROBERTSON et al., 1988).
CARACTERIZAÇÃO DA ESPÉCIE Oreochromis niloticus, conhecida como tilápia do Nilo, pertence à família Cichlidae, possui listras verticais na nadadeira caudal, coloração cinza azulada, corpo curto e alto, cabeça e caudas pequenas, de hábito alimentar fitoplanctófago e de baixo custo de produção (PÁDUA, 2001). A família Chichlidae reúne um grupo de peixes conhecidos genericamente como tilápias. Essas, em função do comportamento reprodutivo estão subdivididas em três importantes gêneros. O gênero Tilápia, cuja incubação se processa em ninhos; o gênero Oreochromis onde a incubação dos ovos ocorre na boca da fêmea e gênero Sarotherodon no qual o macho e ou a fêmea incubam os ovos na boca (HILISDORF, 1995). No Brasil a primeira introdução oficial da espécie aconteceu no ano de 1971 pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) (NOGUEIRA e RODRIGUES, 2007). Com base nas informações e resultados alcançados em trabalho de revisão de literatura FIGUEIREDO JÚNIOR e VALENTE JÚNIOR (2008), retrataram que a tilápi-
GOMES et al. (2001), citam que embora o transporte seja uma das operações mais importantes da piscicultura, pouca atenção tem sido dada ao assunto no Brasil. O transporte como prática de manejo em piscicultura intensiva pode ter duração variada dependendo da finalidade. Os peixes vivos são transportados para diversos destinos, incluindo a indústria e os estabelecimentos voltados à pesca esportiva,
no
caso
de
peixes
adultos;
e
estabelecimentos de criação de engorda, no caso de larvas e juvenis. Em todos os casos, os animais devem chegar em boas condições fisiológicas para satisfazer os critérios exigidos pelo comprados (URBINATI e CARNEIRO, 2001). De acordo com CARNEIRO e URBINATI (2001), o tempo de transporte de peixes vivos é muito variado em
função
propriedades,
do
destino,
distribuição
deslocamento a
entre
estabelecimentos
voltados à pesca esportiva, abatedouro, devendo ser realizado com cuidado para que os animais cheguem a melhores condições fisiológicas possíveis ao destino, visto que este procedimento é considerado traumático e capaz de gerar claras respostas de estresse, quer seja em animais adultos, como em jovens (URBINATI et al., 2004). Ao mesmo tempo em que é importante a adequação da den-
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Artigo 386 - Efeito do transporte em peixes
sidade de estocagem durante a operação para
O potencial para crescimento de qualquer espécie
minimizar os custos envolvidos (Carneiro e Urbanati,
animal depende das condições ambientais em que
2002).
são cultivados, como competição por espaço, alimentos e oxigênio. De acordo com SIPAÚBA-
Segundo GROTTUM et al. (1997) e WEDEMEYER
TAVARES (2000), para se obter produção máxima
(1997), o principal fator de sucesso do transporte é
de peixes, é importante o estudo das características
conter a maior densidade de peixes no menor volume de
água
possível,
sem
que
haja
mortalidade,
deterioração da qualidade da água e estresse. Para PÁDUA (2001), elevadas perdas no transporte de peixes reduzem a eficiência produtiva e o rendimento de uma piscicultura.
físicas, químicas e biológicas da água dos viveiros e tanques de cultivo. A água de boa qualidade reflete positivamente na biomassa vivente. O inverso, no entanto, acarreta danos à criação, e até mesmo ao meio ambiente.
O sal comum (NaCl) é uma das substâncias mais
A maioria dos peixes tropicais apresenta bom
utilizadas para reduzir a amplitude das respostas
desenvolvimento
fisiológicas do estresse que este procedimento acarreta (WEIRICH et al., 1992). A adição do sal à água de transporte tem o objetivo de elevar a salinidade do meio externo a valores próximos à salinidade interna do animal, diminuindo assim o gradiente iônico e as respostas
metabólicas
e
hormonais
do
estresse
(TOMASSO et al., 1980).
concentração
de
em
águas
oxigênio
com
valores
dissolvido
na
de água
variando entre 3,7 a 5,1 mg/L não observaram sinais de hipoxia para os juvenis de pacu (Piractus mesopotamicus). ESTRESSE EM PEIXES Pode-se definir estresse ambiental como a soma de todas as respostas fisiológicas que ocorrem quando um organismo tenta restabelecer seu metabolismo
Em
trabalho
de
avaliação
de
densidade
e
aos níveis normais ou se manter vivo após
concentração de sal (NaCl), no transporte de
mudanças ambientais, tais como o confinamento,
tambaqui (C. macropormum) GOMES et al. (2003),
transporte (BARTON et al., 2003), captura e ao
evidenciaram que o sal de cozinha na concentração
manejo inadequado (SHRIMPTON et al., 2001).
de 8g/L é eficiente para causar uma supressão da liberação de cortisol e consequentemente glicemia.
Os causadores do estresse em piscicultura são variáveis, aos sistemas de criação. Entre eles, estão:
AMBIENTE APÓS O TRANSPORTE No desenvolvimento de um pacote de produção para
estação do ano, idade do animal, condições
uma espécie de peixe, o primeiro passo é a
fisiológicas, fatores sociais (predação, competição
determinação da densidade de estocagem a qual visa
intensiva por espaço, alimento ou parceiros sexuais),
determinar os níveis ótimos de produtividade e
características individuais herdáveis ou adquiridas e
crescimento por área. De acordo com GOMES et al.
mesmo linhagens ou espécies diferentes, bem como
(2000), peixes criados em baixas densidades de estocagem apresentam boa taxa de crescimento e alta porcentagem de sobrevivência, porém a produção por
mudanças abruptas no ambiente físico (temperatura, qualidade da água, luminosidade, sanidade) e
área é baixa, caracterizando baixo aproveitamento da
interferência
área disponível. Já EL-SAYED (2002), relata que
aquicultura (captura, manuseio, transporte, aumente
peixes mantidos em altas densidades normalmente têm
da densidade) e poluição da água (metais pesados e
menor crescimento e ficam estressados. IGUCHI et al.
químicos orgânicos) que vão levar a uma resposta
(2003),
afirmam
que
peixes
mantidos
em
alta
densidades ficam mais estressados, e para CAVERO et al. (2003), estão sujeitos ao aparecimento de
humana,
incluindo
práticas
de
típica (WENDELAAR BONGA, 1997). Tais fatores, individualmente ou juntos, podem desencadear
interações sociais que levam à produção de um lote de
considerável estresse no sistema fisiológico do peixe
peixes com tamanho heterogêneo.
(ADAMS, 1990).
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Artigo 386 - Efeito do transporte em peixes
O estresse está presente em todas as fases
(MORGAN e IWAMA, 1996). Consequentemente, as
envolvidas no procedimento do transporte. Diversos
reações fisiológicas dos peixes a esses tipos agudos
trabalhos relatam aumento das respostas fisiológicas
de estresse necessitam de análise, tanto em relação
ao manejo durante a embalagem (CARMICHAEL et
ao tipo de resposta, como à sua intensidade
al., 1983 e FORSBERG et al., 2001). Durante o
(KRIEGER-AZOLINI et al., 1989).
transporte em sistemas fechados, outros fatores como
acondicionamento
movimento
irregular
e
em
alta
água
densidade,
com
elevada
As respostas de estresse são divididas em três categorias:
primária,
secundária
e
terciária
concentração de amônia e outras toxinas resultantes
(BARTON, 2000). As respostas primárias são as
do metabolismo, atuam como agentes estressores.
hormonais, as secundárias são mudanças nos parâmetros fisiológicos e bioquímicos decorrentes da
Segundo
CAMICHAEL
altas
ação dos hormônios e as terciárias são as de caráter
concentrações de CO2 apresentam efeito sedativo.
crônico com o comprometimento no desempenho,
Em altas concentrações o CO2 desacelera o
mudanças
metabolismo dos peixes, reduzindo o consumo de
suscetibilidade a doenças. O cortisol, principal
oxigênio,
de
corticosteróide em peixes, é considerado um bom
corticosteroides no plasma e diminui a utilização da
indicador para avaliação de estresse primário
glucose, elevando a concentração da mesma no
(MOMMSEN et al., 1999).
mantém
et
baixa
al.
a
(1984),
concentração
no
comportamento
e
aumento
da
sangue (AMEND et al., 1982). Em peixes submetidos a estresse, as alterações Além disso, o CO2 livre na água reduz o pH,
hematológicas geralmente são acompanhadas de
reduzindo o potencial tóxico da amônia durante o
hiperglicemia
transporte. Segundo CHOW et al. (1994), um
relacionada com a liberação de cortisol e outros
problema relacionado com o CO2 é que o aumento
hormônios,
dos níveis na água, reduz a velocidade de
(MOMMSEN et al., 1999). Os indicadores mais
eliminação através da redução do gradiente de
utilizados
difusão do CO2 através das brânquias, resultando
normalmente fornecem uma boa resposta são a
em um aumento do CO2 no sangue, afetando o
glicose e o cortisol plasmático. O cortisol é utilizado
equilíbrio ácido-base e o transporte de oxigênio das
para caracterizar a resposta primária, e a glicose a
brânquias para os tecidos.
resposta secundária (BARTON, 2000).
TAKAHASHI et al. (2006), em trabalho de avaliação
A elevação do valor de hematócrito pôde ser
de ambiente pós-transporte do pacu (Piaractus
observada como resposta secundária hematológica
mesopotamicus), encontraram que o ambiente de
a eventos estressantes, para diversas espécies
estocagem influencia o perfil de recuperação dos
(BARTON e IWAMA, 1991).
(TAVARES
e
MORAES,
principalmente na
avaliação
do
2004),
catecolaminas estresse
e
que
indicadores de estresse de pacus juvenis após o manejo de transporte, sugerindo que a estocagem
Dentre os fatores que auxiliam na prevenção do
dos peixes em tanques de terra acelera a retomada
estresse, destaca-se a depuração dos peixes, pois a
da homeostase orgânica.
produção de amônia e o consumo de oxigênio aumentam consideravelmente após a alimentação.
Os peixes respondem ao estresse de forma a refletir
Segundo JARBOE (1995), recomenda-se um jejum
a severidade e a duração do estressor (BARTON e
de 48 horas antes do transporte, pois os peixes se
ZITZOW, 1995). Estas
o
recuperam mais rapidamente do estresse. Além
da
disso, os peixes bem depurados entram nos tanques
adversidade, e podem variar de acordo com a
de transporte com o trato digestivo praticamente
intensidade
vazio, reduzindo impacto do material fecal na água
organismo
para e
a
respostas
tentativa
duração
do
de
preparam escapar
agente
estressor
de transporte. 4768
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Artigo 386 - Efeito do transporte em peixes
GROTTUM et al. (1997), para minimizar estas
OLIVEIRA et al. (2009) em estudo com diferentes
respostas, indicam a necessidade durante o pré-
concentrações de cloreto de sódio no transporte de
transporte à restrição alimentar, que visa diminuir o
alevinos e juvenis de tilápia do Nilo (Oreochromis
consumo de oxigênio e a excreção de amônia e gás
niloticus), observaram que o uso de 6 a 8g/L de NaCl
carbônico permitindo melhor qualidade da água
diminuiu a resposta fisiológica e reduziu o estresse
durante o transporte.
durante um período de 5 horas. Os mesmos autores concluíram que a benzocaína e o óleo de cravo são
Outro recurso é o uso do sal de cozinha (NaCl) na
substâncias que podem ser utilizadas no transporte
água para igualar o gradiente osmótico entre o meio
de alevinos e juvenis de tilápia do Nilo, porém,
ambiente externo ao peixe, fazendo com que haja
quando comparadas ao NaCl essas substâncias tem
redução na difusão de íons para água. Além disso, o
custo elevado e difícil aquisição, assim o cloreto de
sal serve para estimular a produção de muco sobre
sódio possui melhor custo-benefício.
o epitélio das brânquias, dificultando a passagem de íons das membranas celulares (WURTS, 1995). O
Segundo ANJOS et al. (2011), no transporte de
sal também possui efeito profilático, é de fácil
juvenis de Tambaqui (Colossoma macropomum) em
obtenção e baixo custo, com eficácia provada em
sistemas fechados, o cloreto de sódio (sal comum) e
vários experimentos (BARTON e ZITZOW, 1995).
o gesso nas doses de 2,0 e 0,3 g/L respectivamente, mostram-se eficientes anti-estressores, com tempo
O uso do sal de cozinha como redutor de estresse é
de até 14 horas em uma densidade de transporte de
amplamente difundido na aquicultura para igualar o
40 indivíduos por litro.
gradiente osmótico entre a água e o plasma do peixe, fazendo com que haja uma redução na
CONSIDERAÇÕES FINAIS
difusão de íons para a água. O sal também estimula a secreção de muco sobre o epitélio branquial,
Os agentes causadores de estresse na piscicultura
dificultando a passagem de íons através das
são variáveis aos sistemas de criação. As práticas
membranas celulares (WURTS, 1995). Segundo
de
CARNEIRO
utilizando
causadoras do estresse e precisam ser realizadas
diferentes concentrações de cloreto de sódio,
com cuidado para minimizá-lo. O transporte dos
observaram que em matrinxã (Brycon cephalus) o
peixes
uso de 6g/L de NaCl diminuiu a resposta fisiológica
substância, como sal, anestésicos ou gesso, para
ao agente estressor.
reduzir a resposta fisiológica e o estresse. Após o
E
URBINATI
(2001),
manejo
deve
são
ser
consideradas
realizado
as
utilizando
principais
alguma
transporte os animais necessitam de um ambiente Já GOMES et al. (2003) relataram que para
com condições adequadas para retornarem ao seu
tambaqui
estado de homeostase.
o
uso
de
sal
no
transporte
na
concentração de 8g/L de água foi o suficiente para diminuir a maioria das respostas aos estímulos estressores. A adição de cloreto de sódio na água pode minimizar a perda de íons do sangue pela diminuição do gradiente osmótico entre o plasma e o ambiente,
reduzindo
o
custo
processos osmorregulatórios.
energético
dos
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Características forrageiras de algumas gramíneas do gênero Brachiaria - revisão de literatura Cultivares, brizantha, decumbens, ruzizienses.
Revista Eletrônica
Taiz Borges Ribeiro¹ Walquiria Maria de Lima¹, Fagner Machado Ribeiro²
Vol. 13, Nº 04, julho/agosto de 2016 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Revista Eletrônica Nutritime é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
RESUMO
Wilian Henrique Diniz Buso³ ¹Discente do curso Bacharelado em Zootecnia, Instituto Federal Goiano – Campus Ceres, IF Goiano. E-mail: Taiz2612@hotmail.com; Wallima18@hotmail.com ²Zootecnista, Mestrando em Zootecnia pelo Instituto Federal Goiano – Campus Rio Verde, IF Goiano. E-mail: Fagnermr@hotmail.com ³Eng. Agrônomo, Professor Dr. do Instituto Federal Goiano – Campus Ceres, IF Goiano. E-mail: Wilian.buso@ifgoiano.edu.br
aspecto fundamental a escolha de uma determinada
FORAGE CHARACTERISTICS OF SOME GRASS BRACHIARIA ABSTRACT
forrageira para a formação da pastagem, dentre as
The success of production systems is key aspect of
espécies mais cultivadas no Brasil estão as do
the choice of a particular forage for pasture
gênero
torna
establishment, among the most cultivated species in
necessário o conhecimento das características e
Brazil are the Brachiaria. Knowing this, it becomes
peculiaridades de cada uma delas.
necessary
O sucesso de sistemas de produção tem como
Brachiaria.
Sabendo
disso,
se
Além do que
to
know
the
characteristics
and
essas gramíneas proporcionam redução nos custos
peculiarities of each. In addition to these grasses
de produção, constituindo assim a alternativa mais
provide reduction in production costs, thus providing
econômica na alimentação de ruminantes no Brasil e
the most economical alternative in ruminant feeding
no mundo. Para alcançar uma alta produtividade
in Brazil and worldwide. To achieve high productivity
animal com o gênero em questão, há necessidade
animal with the genre in question, no need for
de adubações, manejo de lotação, forrageiras mais
fertilization, stocking handling, more resistant to
resistentes a pragas e à períodos de longa estiagem,
pests and forage periods of prolonged drought, and
e que suportam solos com baixa e média fertilidade.
supporting low and medium fertility soils.
Palavras-chave: Cultivares, brizantha, decumbens,
Keyword: cultivars, brizantha, decumbens
ruzizienses.
ruziziensis
4773
Artigo 387 – Características forrageiras de algumas gramíneas do gênero Brachiaria
INTRODUÇÃO
Contudo, objetivou-se com essa revisão abordar e
No Brasil, milhões de hectares de terras são
gerar informações sobre as características de
semeados com vistas à formação de pastagens,
algumas gramíneas forrageiras do gênero Brachiaria.
constituídas de gramíneas forrageiras cultivadas, das quais se salientam as introduzidas da África,
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
que, em sua maioria, pertencem aos gêneros
Ao longo dos anos o gênero Brachiaria vem
Brachiaria, Panicum e Andropogon (MACEDO &
ganhando cada vez mais espaço nas propriedades
ZIMMER, 2007; MACEDO, 2009).
rurais, principalmente nos solos de cerrado devido sua adaptabilidade e resistência e quando bem
As pastagens na pecuária brasileira assumem
manejado altas produtividades. Em menos de 20
aspecto de grande importância, pois são a principal
anos após sua implantação e, por ser uma planta
fonte de alimento para ruminantes, viabilizam a
pouco exigente às condições edafoclimáticas, a
competitividade brasileira na produção de carne e
Brachiaria se configura como suporte alimentar
leite (LUPATINI, 2010), e possibilitarem a produção
essencial na criação de ruminantes tanto de corte
de forma natural, com respeito ao ambiente e aos
quanto de leite. Além disso, a importância do gênero
animais, viabilizando o atendimento da grande
é
demanda mundial por alimento (EUCLIDES &
espécies apresentam a vários tipos de solos e,
MEDEIROS, 2005).
principalmente, pela resistência à cigarrinha-das-
aumentada
pela
adaptabilidade
que
essas
pastagens (VALLE et al., 2000). As cultivares pertencentes ao gênero Brachiaria tem uma posição de destaque na pecuária brasileira por
A gramínea do gênero é originária da África tropical
tornarem possível a produção de carne e leite em
e África do Sul, onde se observam solos com bons
solo de fertilidade baixa. Estas podem ser cultivadas
níveis de fertilidade (SANTOS, 2006). Em regiões de
em todas as regiões do país, destacando-se
Cerrados, as espécies do gênero Brachiaria somam
principalmente nas grandes extensões de áreas
51 milhões de hectares, totalizando 85% das
plantadas do Brasil Central. Essa disseminação
gramíneas forrageiras cultivadas nesse ecossistema
ocorreu principalmente devido à boa produção de
(MACEDO, 2005).
forragem
e à germinação de sementes, alta a
Uma das principais características das gramíneas
vegetação nativa e por apresentar boa capacidade
forrageiras que garante a sua persistência após o
de suporte com significativos ganhos em peso dos
corte ou pastejo, é a capacidade de regeneração de
animais (MENDONÇA, 2012), sendo uma das
tecido foliar, que ocorre a partir da emissão de folhas
principais fontes de nutrientes (fibras, energia,
dos meristemas remanescentes ou das gemas
proteínas, minerais e vitaminas).
axilares por meio do perfilhamento (ALEXANDRINO
agressividade
na
competição
natural
com
et al., 2000). Assim, fica evidente a importância do As braquiárias utilizadas até o momento, são plantas
processo de perfilhamento quando o meristema
pouco tolerantes a baixas temperaturas, não sendo
apical é eliminado.
indicadas para regiões onde ocorrem geadas fortes. A temperatura ótima para o desenvolvimento das
Cultivares mais utilizadas
plantas
e
A Brachiaria brizantha cv. Marandu é uma das
temperaturas inferiores a 25 º C reduzem a sua taxa
gramíneas mais utilizadas ao longo do país. Os
de crescimento. As plantas deste gênero adaptam-se
principais atributos são: resistência à cigarrinha-das-
a variadas condições de solo e clima, mas a sua
pastagens, alto potencial de resposta à aplicação de
expansão deveu-se principalmente a adaptação de
fertilizantes, capacidade de cobertura do solo,
diversas cultivares a condições de solos com baixa e
capacidade
média fertilidade, onde proporcionam produções
sombreamento, bom valor nutritivo e excelente
satisfatórias de forragem (ALVES et al. 2010).
produção de sementes (VALLE et al., 2000).
4774
é
de
aproximadamente
30
º
C
de
crescimento
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em
condições
de
Artigo 387 – Características forrageiras de algumas gramíneas do gênero Brachiaria
A B. brizantha cv. Xaraés ou MG5 é uma gramínea
Adubação
que ao longo dos anos vem expressando grande
Na
potencial produtivo. Possui crescimento cespitoso e
consideradas
pode chegar até 1,5m de altura, em crescimento
estabelecimento e a de manutenção. Na fase de
livre. Possui alta produtividade, rápida rebrota
estabelecimento, os nutrientes são essenciais para
comparado aos outros tipos de forrageiras. O
que a planta cresça e desenvolva seu sistema
florescimento tardio é uma das suas principais
radicular
características, o que possibilita maior tempo de
manutenção, pastagens bem formadas com sistema
pastejo pelos animais (GUEDES, 2012).
radicular bem desenvolvido exploram relativamente
adubação
e
das duas
demais
pastagens, fases
órgãos.
devem
distintas:
Já
na
a
fase
ser de
de
volume maior de solo e, portanto, as adubações O capim-piatã (Brachiaria brizantha cv. Piatã) é
podem ser menores que no de estabelecimento
indicado
(VILELA et al., 2002).
para
solos
de
média
fertilidade,
apresentando exigência semelhante ao brizantão e xaraés. Possui hábito de crescimento ereto, com a
A adubação nitrogenada se constitui em uma
formação de touceiras que variam de 0,85 m a 1,10
importante ferramenta a ser utilizada, pois o
m de altura (VALLE et al., 2007). Apresenta grau
nitrogênio influencia positivamente os componentes
moderado de tolerância ao alagamento do solo,
de rendimento e, consequentemente, o rendimento
comparativamente a cultivar Marandu, que é muito
de sementes (JORNADA et al., 2005). Depois do
sensível (CAETANO, 2008).
nitrogênio, o fósforo é o nutriente que mais limita a produção de forragem, quando ausente (OLIVEIRA
A
Brachiaria
decumbens
é
uma
gramínea
et al., 2007; FOLONI et al., 2008).
largamente utilizada no Brasil, sendo bastante resistente a secas e adaptada a regiões tropicais
O fósforo (P) tem funções importantes na fase inicial
úmidas como a Amazônia Legal. Cresce bem em
de desenvolvimento das plantas forrageiras. No
diversos tipos de solos como arenosos e argilosos,
estádio inicial, há intensa atividade meristemática,
podendo ser trabalhada em solos com baixa ou
em virtude do desenvolvimento do sistema radicular,
média fertilidade. Porém, responde bem quando em
do perfilhamento, da emissão de estolões, além de
solos adubados (SILVA & FERRARI, 2012).
ser essencial para a divisão celular, pelo seu papel na estrutura dos ácidos nucléicos (CANTARUTTI et
A Brachiaria ruziziensis é uma gramínea africana
al., 2002).
adaptada a diversos tipos de solos, desde arenosos a argilosos, porém, não tolera solos encharcados.
A adubação com potássio (K) torna-se indispensável,
Necessita de solos de média fertilidade. É bastante
para a etapa de estabelecimento das pastagens.
palatável para os animais e não apresenta nenhum
Recomendam que nos solos arenosos/médios a
fator tóxico. É de fácil manejo, tendo como uma das
fertilização com K deva ser realizada em cobertura,
principais características a floração tardia, o que
quando a planta forrageira cobrir 60 a 70% do solo,
favorece o tempo de pastejo (AUKAR, 2011). Este
possibilitando-lhe
cultivar adapta-se bem a climas tropicais úmidos e
consequentemente menores perdas por lixiviação
não tolera secas prolongadas. Bem manejado, pode
(CANTARUTTI et al. 1999).
maior
absorção
e
chegar a suporta 3 UA/ha. Esta gramínea é sensível a cigarrinha das pastagens (VILELA, 2009). A B. humidícola apresenta tolerância às secas prolongadas e ao estresse hídrico, boa recuperação
Plantio O plantio convencional deverá ser realizado em época de chuvas bem distribuídas, como meados de
úmidos, com drenagem deficiente ou com inundação
novembro até fevereiro nos cerrados. O preparo do
sazonal (VALLE et al., 2010).
solo é o mesmo utilizado para a formação de outras
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Artigo 387 – Características forrageiras de algumas gramíneas do gênero Brachiaria
pastagens de braquiária, utilizando-se taxa de semeadura de no mínimo 2,5 kg/ha de sementes
tejo deve ser feito de 90 a 120 dias após o plantio.
puras viáveis (valor cultural de 100%), em uma
Em pastejo rotativo deve ser manejado com entrada
profundidade entre 2 e 5 cm. O plantio a lanço em superfície pode ser adotado com o uso de maiores taxas de semeadura. Tal compensação deve ocorrer também quando houver condições sub ótimas de
dos animais no piquete a 30 cm e saída a 15 cm de altura (CARLOTO et al., 2011). A
produtividade
do
Piatã
varia
de
8
a
12
t.MS/ha/ano, mostrando menor produção que os
preparo de solo, controle de invasoras e de épocas
demais cultivares de B. brizantha, porém é mais
de plantio. A
operação de incorporação das
resistente a períodos secos e também apresenta boa
sementes com uma grade leve ou o uso de rolo
palatabilidade. Apresenta alta produtividade quando
compactador favorece a emergência de plântulas
manejado de 40 a 15 cm e 30 a 10 cm de altura de
(COSTA, 2004).
entrada e saída dos animais. Porém isto reduz a relação lâmina: colmo. O melhor aproveitamento desta forrageira ocorre com entrada a 30 cm e saída
Manejos indicados O correto manejo das pastagens é fundamental para garantir a produtividade sustentável do sistema de produção e do agronegócio. O manejo incorreto das pastagens é o principal responsável pela alta proporção de pastagens degradadas observada em todas as regiões do Brasil (PEREIRA et al., 1995).
a 15 cm (CARVALHO et al., 2009). A
Brachiaria
humidícola
possui
produtividade
estimada de 12 a 15 t.MS/ha/ano. A entrada dos animais deve ser feita com 25 cm de altura e saída com 10 cm com período de descanso de 30 dias (SOARES FILHO, 2003).
Os primeiros pastejos de Brachiaria brizantha cv. Marandu devem ser feitos aos 90 dias, porém não
A B. ruziziensis produz de 14 a 15 t.MS/ha/ano e
se deve elevar a carga animal para não ocorrer
responde satisfatoriamente a adubação, constituindo
pisoteio excessivo em um pasto ainda em formação.
assim uma produção que pode ultrapassar as
Este pastejo favorece o perfilhamento do capim
principais gramíneas do gênero Brachiaria (AUKAR,
pelas
gemas
laterais,
aumentando
assim,
a
ocupação do solo pela gramínea. Em pastejo rotativo recomenda-se a altura de entrada de 40 cm e saída de 15 a 10 cm, enquanto em lotação
2011). A altura usada de entrada e saída de animais são de 30 e 15 cm, respectivamente (GUEDES, 2012).
contínua estas alturas devem ser de 40 e 20 cm, Principais problemas com pragas
respectivamente (GIMENES et al., 2011).
O estabelecimento e manutenção das pastagens, A entrada dos animais na Brachiaria decumbens em
principalmente de gramíneas tropicais, estão sujeitos
pastejo controlado deve ser com a gramínea em
a vários fatores que uma vez menosprezados podem
torno de 30 a 40 cm de saída quando este porte for
comprometer a produção de carne e leite. Entre
reduzido a 10-15 cm, com período de descanso de
esses fatores deve-se dar ênfase ao aparecimento
30-35 dias. Para pastejo contínuo procurar manter a
de insetos-pragas, que pelo aumento de suas
vegetação com porte de cerca de 20 cm de altura
populações podem causar danos econômicos às
(SOARES FILHO, 2003).
pastagens com reflexo direto na produção animal. O aumento das populações de insetos nas pastagens
O capim-xaraés é conhecido por proporcionar sua
está diretamente correlacionado com o crescimento
alta capacidade de suporte de animais, em razão de
das áreas de plantio e com a maior disponibilidade
sua elevada produtividade por hectare que é de 20 a
de alimento (OLIVEIRA, 1997).
25
t.MS/ha/ano.
Também
apresenta
boa
palatabilidade, digestibilidade e folhas largas. O pas4776
As cigarrinhas-das-pastagens são consideradas as
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Artigo 387 – Características forrageiras de algumas gramíneas do gênero Brachiaria
pragas de maior importância no cultivo de Brachiaria spp. e as principais pragas de gramíneas forrageiras
Dentre as alternativas disponíveis para amenizar
na América Tropical (VALÉRIO et al., 1997). No
esse problema, recomenda a produção de feno
Brasil, relatos indicam a ocorrência de danos
ou silagem. Entre as gramíneas mais indicadas
causados por Mahanarva fimbriolata em pastagens
destacam-se as do gênero Brachiaria (EUCLIDES
de Brachiaria brizantha cv. Marandu, considerada
& QUEIROZ, 2000).
resistente às cigarrinhas dos gêneros Deois e Em experimento utilizando novilhos nelore, Reis
Notozulia (MORAES et al., 2006).
et al. (1995) avaliaram os efeitos da amonização Na fase de ninfa sugam continuamente a seiva das
do feno de Brachiaria brizantha cv. Marandu e da
raízes ou coleto, produzindo uma espuma branca
suplementação proteica e, ou, proteica/energética
típica
Bateli)
sobre o ganho de peso de bovinos. O ganho de
assemelhada à saliva, que protege as ninfas dos
peso dos animais que consumiam feno tratado foi
raios solares e de certos predadores. Nesta fase
superior quando comparado aos do feno não
causam desequilíbrio hídrico e esgotamento de
tratado. Os autores ressaltam que os animais que
carboidratos solúveis, usados no processo de
foram
crescimento das plantas. Conforme a severidade do
suplementado com milho e farelo de algodão,
ataque, os danos causados às pastagens são
ganharam 0,37 kg/dia a mais do que aqueles
variáveis, mas via de regra, ocorre decréscimo
alimentados com feno não tratado e concentrado.
significativo
A ingestão de matéria seca (MS) foi maior nos
(secreção
na
das
glândulas
produção,
próximo
de
a
15%,
e
alimentados
na capacidade de suporte, no ganho de peso e
submetidos à amonização (2,37; 2,82% PV,
produção de leite (VALÉRIO & KOLLER, 1995;
respectivamente para o volumoso não tratado e
VALÉRIO et al., 1996).
tratado).
Na fase adulta os insetos sugam a seiva das folhas e
A Brachiaria brizantha cv Marandu também pode
inoculam toxinas, causando intoxicação sistêmica
ser usada na confecção de ensilagem como
nas plantas (fitotoxemia), que interrompem o fluxo da
verificado no trabalho de Evangelista et al. (2004),
seiva e o processo vegetativo, cujos sintomas iniciais
com silagem de capim marandu com e sem
são estrias longitudinais amareladas que aumentam
emurchecimento, concluíram que o ensilado após
para o ápice da folha, posteriormente secam,
emurchecimento de 1,3 a 3,0 horas pode ser
podendo,
satisfatoriamente
de
ataque
intenso,
haver
armazenado
os
tratado,
animais
caso
com
feno
qualidade da forragem, redundando em diminuições
no
alimentados
com
na
volumosos
forma
de
amarelecimento geral da pastagem (queima das
silagem, conciliando vantagens operacionais e de
pastagens) (COSTA, 2004).
qualidade da forragem.
Outras formas de utilização (feno ou silagem)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O principal fator limitando a produção de bovinos em
As
pasto é a escassez de forragem durante o período
tradicionalmente cultivadas em diversas regiões
seco.
algumas
do Brasil, tanto em sistemas de produção de leite
estratégias de manejo que possibilitem aumento da
quanto de carne. Elas se adaptam bem as
disponibilidade de forragem durante o período crítico,
diferentes condições de clima e aos variados
a fim de permitir que durante a seca tenha-se a
tipos de solos e quando bem manejadas tem
mesma lotação animal do período chuvoso. Vale
condições de expressarem o potencial máximo.
Assim,
ressaltar,
que
é
importante
tais
adotar
estratégias
devem
gramíneas
do
gênero
Brachiaria
são
ser
implementadas durante as águas.
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Utilização de forrageira da caatinga x desempenho animal revisão de literatura Alimentação animal, ruminantes, semiárido, plantas nativas.
Revista Eletrônica
Paulo Henrique Amaral Araújo de Sousa*
1
1
Vol. 13, Nº 04, julho/agosto de 2016 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Revista Eletrônica Nutritime é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
Barbara Silveira Leandro de Lima , Diego Sousa Amorim
1
Genilson Sousa do Nascimento Cicero Pereira Barros Júnior
3
2
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia na Universidade Federal do Piauí, Bom Jesus, PI, Brasil *E-mail:paullo_ap1@hotmail.com ou/e zoopaullo@yahoo.com 2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal na Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI, Brasil 3 Zootecnista Formando pela Universidade Federal do Piauí, Bom Jesus, PI ,Brasil
RESUMO A
caatinga
consiste
no
tipo
de
vegetação
USE OF FORAGE SAVANNA X ANIMAL PERFORMANCE - REVIEW
predominante do semiárido brasileiro, diante as limitações de recursos forrageiros nesta região durante
a
estiagem
torna-se
eminente
a
preocupação a no que diz respeito à alimentação animal neste período. Diante o exposto esta revisão tem como objetivo apresentar informações sobre diferentes
aspectos
forrageiros
de
plantas
da
caatinga, com vistas à alimentação de ruminantes. A vegetação caatinga está inserida com grandes variedades de espécies nativas com alto valor nutritivo,
em
sua
maioria
caducifólia
de
uso
forrageiro. A maioria das espécies vegetais participa significativamente da alimentação dos ruminantes, sendo
que
as
gramíneas
e
dicotiledôneas
herbáceas. A caatinga é caracterizada por boa parte de arbustos e árvores de pequeno porte, geralmente dotados de espinhos, sendo xerófitas e decíduo, em sua maioria, perdendo suas folhas no início da estação seca, complementam ainda a composição botânica desse bioma, cactáceas e bromeliáceas com predominância anuais.
ABSTRACT The scrub is the predominant vegetation in the Brazilian semiarid, on the limitations of forage resources in this region during the dry season becomes imminent concern with regard to animal feed will be shown. On the exposed this review aims to provide information on different aspects of caatinga fodder plants, with a view to ruminant feed. The savanna vegetation, is embedded with wide varieties of native species with high nutritional value, mostly deciduous forage use. Most plant species participates significantly on feeding ruminants, and the grasses and forbs. The savanna is characterized by much of shrubs and small trees, usually endowed with thorns, and xerophytic and deciduous, mostly losing its leaves at the beginning of the dry season, yet complement the botanical composition of this biome, cacti and bromeliads with annual prevalence .
Keyword: animal feed, cattle, semiarid, native plant
Palavras-chave: alimentação animal, ruminantes, semiárido, plantas nativas. 4781
Artigo 388 – Utilização de forrageira da caatinga x desempenho animal
INTRODUÇÃO O
Nordeste
Neste sentido, diante a relevância das plantas da pela
caatinga para a produção animal, faz-se necessário
diversidade das pastagens, e a caatinga se destaca
do
Brasil
é
caracterizado
a busca por informações sobre essas forrageiras
como sendo um bioma exclusivamente brasileiro,
utilizadas,
encontrando-se totalmente inserido no semiárido,
necessário conhecer cientificamente o potencial das
com exceção da região leste de Minas Gerais
espécies para se ter uma exploração sustentável
(SANTOS et al., 2010). Portanto, se estendendo
(DEMASCENO, 2010). Desta forma esta revisão tem
pelo estado do Ceará (100%), do Rio Grande do
como
Norte (95%), da Paraíba (92%), de Pernambuco
diferentes
(83%), do Piauí (63%), da Bahia (54%), de Sergipe
caatinga, com vistas à alimentação de ruminantes.
visando
objetivo
avaliar
apresentar
aspectos
seus
potenciais.
informações
forrageiros
de
É
sobre
plantas
da
(49%), de Alagoas (48%) e além de pequena parte de Minas Gerais (2%) e do Maranhão (1%) (IBGE, 2012).
A
caatinga
aproximadamente
ocupa
734.478
uma
km²
área
do
de
Nordeste
Brasileiro, onde é caracterizado principalmente pelas notáveis adaptações às adversidades do meio em que está inserido (MEDEIROS, 2013) O
grande
desafio
da
pecuária
no
semiárido
caatinga seja ela em forma de feno ou silagem. Das diversas alternativas de exploração propostas até o quase
todas
têm
limitações,
em
decorrência da dificuldade de acúmulo de fitomassa, que
depende
estritamente
da
precipitação
pluviométrica da região (COUTINHO et al., 2013). Neste sentido, torna-se necessário destacar a importância do desenvolvimento de técnicas e métodos que possibilita a utilização de plantas forrageiras de espécies herbáceas da caatinga mais resistente ao período de estiagem, assim como as plantas
que
contenham
Caracterização da caatinga No semiárido brasileiro, o recurso forrageiro de maior expressão é a vegetação de caatinga, a qual cobre cerca de 86,1% da sua área, 53% da área do
nordestino é a utilização sustentável dos recursos da
momento,
REVISÃO DE LITERATURA
substâncias
antinutricionais/tóxicas para evitar desnutrição e uma melhor alimentação dos bovinos e dos ruminantes no geral (MAIA & GURGEL (2013)).
nordeste e 9,8% do Brasil (IBGE, 2012), sendo tradicionalmente utilizado como pastagem nativa. A região semiárida do Brasil prolonga-se por uma área de 928 km² abrangendo uma parte do norte dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, os sertões da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí e mais 45 municípios do sudeste do Maranhão (LIMA JÚNIOR et al., 2013). A caatinga é rica em espécies forrageiras que apresentam basicamente em três estratos arbóreo, arbustivo
e
herbáceo,
geralmente
apresentam
espinhoso e decídua, que perdem suas folhas no início da estação seca. As plantas anuais, cactos, bromélias, e um componente herbáceo (composta por
gramíneas
e
dicotiledôneas)
são
outros
A caatinga pode ser vista como um recurso de
complementos para a composição botânica desse
grande potencial na viabilização da alimentação para
bioma. (SANTOS et al., 2010).
os rebanhos manejados no semiárido nordestino. De acordo com, Pereira filho et al. (2013) as plantas
O semiárido brasileiro apresenta uma realidade
herbáceas e as folhas e ramos das espécies
complexa no que se refere aos aspectos geofísicos,
lenhosas produzem cerca de 4.000kg de matéria
ocupação humana e exploração dos seus recursos
seca/hectare/ano, mas apenas 10% (400kg) fica
naturais,
disponível ao pastejo dos animais. Mesmo assim, as
comparadas às de outras regiões do planeta, quanto
plantas forrageiras da caatinga são os principais
ao solo, precipitação pluvial e temperatura. Tem sido
componentes da dieta de ruminantes da região
apontado como de grande potencial para a atividade
sendo mais preponderante no desempenho animal.
pecuária, com ênfase na produção de pequenos
com
características
ruminantes (MACIEL et al., 2012). 4782
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4781-4786, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
atípicas,
se
Artigo 388 - Utilização de forrageira da caatinga x desempenho animal
A
vegetação
da
caatinga
rico
corte como forma de controle da jurema-preta,
ecossistema exclusivamente brasileiro, com grande
concluíram que esta pode ser controlada através do
diversidade de espécies e elevada incidência de
corte realizado no meio do período de estiagem
endemismo. Em recente levantamento florístico de
(setembro), na altura de 75 e 100cm, com as
todo o território brasileiro, o Bioma Caatinga
rebrotas cortadas no período das chuvas, quando
apresentou o total de 4.322 espécies de plantas com
atingirem diâmetro de sete milímetros, mas o
sementes, sendo 744 endêmicas deste bioma, o que
controle da jurema-preta com corte de uniformização,
corresponde a 17,2% do total de táxons registrados
em
(FORZZA et al., 2012).
independentemente da altura de corte utilizada.
Entre as espécies que já tem seu potencial forrageiro
A composição química da forragem de feno de
conhecido e são utilizadas para produção animal no
caatinga está diretamente associada ao estágio
semiárido,
(Bauhinia
fenológico da planta colhida, em estudo realizado por
cheilantha, (Bong) Stend), o juazeiro (Zyziphus
Nascimento et al. (2006) avaliaram a melhor idade de
juazeiro, Mart), o sabiá (Mimosa caesalpinifolia,
corte para fenação do mata-pasta com base na sua
Benth), a faveira (Parkia platicephala, Benth), a
produtividade e composição química. No período
camaratuba (Cratylia mollis, Mart), o moleque duro
entre 150 e 165 dias, época de maior acúmulo de
(Cordia leucocephala, Moric), a carqueja (Calliandra
forragem, o teor de proteína bruta (PB) estava entre
depauperata,
(Manihot
8 e 10%, portanto, inferior em estudo realizado por
psedoglasiovii, Pax e Hoff a orelha de onça
Mendonça et al. (2008) que encontraram 12,31% de
(Macroptilium martii, Benth), entre outras (PINTO et
PB na espécie catingueira (Caesalpinea pyramidalis
al., 2006).
Tul).
podemos
citar
Benth),
a
constitui
o
mororó
maniçoba
um
Conservação de forragem de plantas nativas da caatinga Técnicas de conservação de forragens pode ser uma
dezembro,
Apesar
de
a
apresentou
fenação
operacionais,
a
conservação
mais
baixa
eficiência,
apresentar
ensilagem indicado
é
o
para
facilidades método as
de
regiões
alternativa para o uso estratégico de plantas nativas,
semiáridas. A técnica de ensilagem pode fornecer
ao passo que a maioria das plantas é caducifólia. A
alimento para período de escassez causado pela
produção de silagem é uma das formas dominantes
seca e melhorar a intensificação da produção animal,
de conservação de forragem em muitas partes do
completando a dieta com uma valiosa fonte de
mundo,
energia e proteína (HEINRITZ et al., 2012).
principalmente
por
causa
de
sua
dependência pelos animais em época de período Todavia, a ensilagem é um processo complexo e
críticos (KASMAEI et al., 2013).
sujeito a diversos fatores, principalmente a espécie Em estudo realizado com jurema preta (Mimosa
forrageira. (LIMA JÚNIOR et al., 2013). Forrageiras
tenuiflora Wild. Poir.) na utilização do caule para
adequadas
alimentação de ruminantes tendo em vista um
apresentar características que facilitem o processo
caráter seletivo dos animais, tal prática leva ao
de fermentação e a conservação sob anaerobiose,
consumo das folhas e a completa rejeição do caule.
todavia as plantas nativas e adaptadas à região
Assim, uma das alternativas para potencializar o uso
semiárida apresentam algumas limitações.
da jurema preta na alimentação de ruminantes é a
A utilização de plantas nativas do semiárido pode
poda
e
ser uma alternativa para melhorar o padrão de
desidratação, o que aumenta a disponibilidade de
fermentação e a qualidade da silagem. Em pesquisa
feno e reduz a seleção de folhas em detrimento do
realizada por Linhares et al. (2009) a inclusão de
caule (FORMIGA et al., 2011).
níveis crescentes de Jitirana (Merremia aegyptia L.)
dos
caules
seguida
da
trituração
ao processo de
ensilagem
devem
Pereira Filho et al. (2010) ao estudarem a altura de Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4781-4786, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
4783
Artigo 388 - Utilização de forrageira da caatinga x desempenho animal
na silagem do sorgo melhorou o valor nutritivo desta
utilizados nas dietas dos ruminantes, além da
silagem, produzindo ganhos positivos em proteína
determinação
bruta,
bromatológica, têm sido avaliados ensaios de
extrato
etéreo,
energia
bruta,
porém
diminuição nos teores de matéria seca.
da
composição
químico-
degradabilidade (OLIVEIRA et al., 2014).
Alguns recursos forrageiros nativos e adaptados podem ser utilizados para ensilagem, como capins buffel (Cenchrus ciliaris L.) e milhã (Brachiaria plantaginea (Link) Hitchc) e leguminosas nativas como Sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia), orelha de onça (Macroptilium martii Benth) e adaptadas como Leucena (Leucaena leucocephala (Lam.) R. de Wit.) e Gliricídia (Gliricidia sepium) (SANTOS et al., 2009; SANTOS et al., 2010).
A
composição
digestibilidade
químico das
-
bromatológica
folhas
da
e
maniçoba
a
são
consideradas de boa qualidade, como demonstra os resultados citado por Andrade et al. (2010) PB = 20,88%; EE = 8,30%; FB = 1396%; ENN = 49,98%; Cinzas = 6,88% e DIVMS = 62,29%. As plantas de maniçoba
são
forragem
verde
normalmente pelos
utilizadas
animais
que
como
pastejam
livremente na caatinga. A avaliação do valor nutritivos dos alimentos através de técnica é opção
A fenação é apontada como a principal forma de utilização
da
maniçoba.
Entretanto
o
trabalho
realizado por Matos et al. (2005) demonstra que a
para aumentar a qualidade e disponibilidade de recursos
para
alimentação
animal
em
áreas
semiáridas (AMIRA et al., 2014).
maniçoba é uma planta com grande potencial de ensilagem, devido ao seu teor de matéria seca e de carboidratos solúveis, resultando em silagens bem
O desempenho animal
fermentadas. Neste mesmo trabalho os autores
A quantidade de forragem
encontraram valores da silagem PB = 14,58 %, MS =
altamente afetada pela distribuição da precipitação, é
25,78%, FDN = 47,15%, EE = 3,96% e N-total =
um fator importante para o desempenho de animais.
1,60% respectivamente.
A caatinga é uma alternativa para alterar a
disponível,
que é
quantidade e qualidade da forragem disponível para Segundo Silva et al. (2012), em determinadas áreas
os animais e, consequentemente, aumentar o
do semiárido nordestino onde as palmas forrageiras
desempenho animal. (SANTOS et al., 2010)
(Opuntia ficus indica Mill, e Nopalea cochenillifera Salm-Dyck) não se adaptam ou apresentam baixos
A caatinga apresenta comunidade vegetal com
rendimentos,
potencial forrageiro, todavia a influência climática
as
cactáceas
nativas
xiquexique
[Pilosocereus gounellei (A. Weber ex K. Schum.) Byl
determina
ex Rowl.] e mandacaru (Cereus jamacaru DC.) se
nutricional dos animais, refletindo na produtividade.
sobressaem
espécies
A pastagem da caatinga é pobre e se reflete no
introduzidas, e são utilizadas durante períodos de
desempenho animal, em uma caatinga em Petrolina-
seca prolongados como volumosos estratégicos na
PE, o ganho máximo que se obteve em seis áreas
alimentação dos ruminantes.
experimentais foi de 4,18 kg PV/ha/ano (SALVIANO,
em
relação
a
essas
uma
variação
marcante
no
aporte
2003). Em ambas as pesquisas, os animais não Valor nutritivo de planta nativas da caatinga
receberam suplementação alimentar na época seca.
A qualidade da forragem é determinada pelo seu a
Ydoyaga-Santana et al. (2010), estudando Guzerá e
composição química, a ingestão e digestibilidade.
Gir x novilhas Holandesas pastejando na caatinga na
Teor de proteína bruto (PB) tem sido considerado um
estação chuvosa obteve um peso diário de 412g. Os
parâmetro importante para a avaliação do valor
autores
nutritivo de forragem (SANTOS et al., 2010). Sendo
provavelmente, devido à taxa de lotação de 6 ha
valor
nutritivo,
o
qual
é
determinado
por
assim, os métodos de obtenção do valor nutritivo dos alimentos 4784
1
-1
AU ,
afirmaram que
permitia
que
este
aos
desempenho
animais
uma
-
maior
seletividade, e também pela a elevada prevalência
Nutritime Revista Eletrönica, on-line, viçosa, v.13, n.4, p.4781-4786, julho/agosto, 2016.ISSN: 1983-9006
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Artigo-388 - Utilização de forrageira da caatinga x desempenho animal
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aceitáveis de produção animal nesse período que é
Produção animal no semiárido: o desafio de
necessário para fornecer a alimentação em calha.
disponibilizar forragem, em quantidade e com
No entanto, a escolha de alimento dependerá do
qualidade, na estação seca. Tecnol. & Ciên.
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pecuária
como
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Zootec set.; 20(3),2013.
dos alimentos proporcionaram maiores consumos de
DEMASCENO, M.M. SOUTO, J.S. SOUTO, P.C.
nutrientes pelos animais nas dietas que continham o
Etnoconhecimentos de espécies forrageiras no
feno de sabiá, com pequenos déficits nos consumos
semiárido
de nutrientes digestíveis totais (NDT) nas dietas que continham as associações com o feno de flor-de-
da
Paraíba,
Brasil.
Engenharia
Ambiental v.3,p.219-228,2010. FORMIGA,
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seda (SILVA et al., 2011), apresentando uma boa
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produção de leite com média de 1.294,39 g/dia.
caule sobre a desidratação, composição química e produção do feno de Jurema preta (Mimosa tenuiflora Wild. Poir.). Revista Brasileira de
Considerações Finais
Saúde e Produção Animal v.12, p.22-31,2011. A vegetação que compõe o bioma caatinga possui
FORZZA,
R.C.
BAUMGRATZ,
J.F.A.
BICUDO,
uma riquíssima diversidade de espécie, dentre as
C.E.M. et al. (2012) New Brazilian Floristic List
quais o pecuarista pode usufruir daquelas que
Highlights
possuem alto valor forrageiro. A forma de utilização
BioScience. doi:10.1525/bio.2012.62.1.8
Conservation
Challenges.
destas plantas pode ser a mais diversa, tendo
HEINRITZ, S.N. MARTENS, S.D. AVILA, P. et al.
destaque o uso do feno e silagem com auxilio destes
The effect of inoculant and sucrose addition on
vegetais. Por meio desta forma de utilização o
the silage quality of tropical forage legumes with
pecuarista poderá amenizar um grave problema que
varying ensilability. Animal Feed Science and
o acompanha desde os primórdios da colonização da
Technology v.174, p.201–210, 2012.
região nordeste do Brasil, que é a má distribuição
IBGE. Mapa de Biomas e de Vegetação. Dis-ponível
das chuvas que promove a perda do valor nutritivo
em:
das pastagens naturais desta região.
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qualitativas e quantitativas de forrageiras nativas da
al.
caatinga, seja ela de forma in natura ou conservada,
digestibilidade in vivo de dietas com Diferentes
são
e
níveis de feno de catingueira (Caesalpinea
da
pyramidalis Tul), fornecidas parágrafo ovinos
importantes
suplementação,
para visando
o
manejo a
alimentar
sustentabilidade
produção animal nas áreas de caatinga.
Composição
bromatológica,
consumo
e
SRD. Revista de Biologia e Ciências da Terra v.1, p.190-197, 2008.
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4781-4786, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
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Artigo 388 - Utilização de forrageira da caatinga x desempenho animal
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Estimativas dos componentes de (co) variância de características de crescimento em bovinos da raça tabapuã – revisão de Literatura
Revista Eletrônica
Avaliação genética, melhoramento animal, raça tabapuã, seleção, Zebu 1*
Amauri Felipe Evangelista 1 Wéverton José Lima Fonseca , 2 José Elivalto Guimarães Campelo , 3 Karina Rodrigues dos Santos , 3 Severino Cavalcante de Sousa Júnior
Vol. 13, Nº 04, julho/agosto de 2016 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Revista Eletrônica Nutritime é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
Mestrando em Ciência Animal, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Centro de Ciências Agrárias, Teresina, Brasil. E-mail: amaurifelipe17@hotmail.com 2 Professor da Universidade Federal do Piauí - (UFPI), Teresina, Brasil. 3 Professor da Universidade Federal do Piauí - (UFPI), Parnaíba, Brasil.
RESUMO
ESTIMATES OF (CO) VARIANCE COMPONENTS
O estudo de estimativas de componentes de (co)
FOR GROWTH TRAITS IN TABAPUÃ CATTLE -
variância para características de crescimento em
REVIEW
bovinos de corte é de fundamental importância para
ABSTRACT
os programas de melhoramento genético animal,
The
pois ele permite a previsão do sucesso da seleção.
components for growth traits in beef cattle is of
Os componentes de (co) variância têm despertado interesse
de
pesquisadores
da
área
de
melhoramento genéticos animal em análises de dados que podem ser tomados repetidamente ao
study
fundamental
about
estimates
importance
for
of
(co)variance
animal
breeding
programs, because this type of research permits to predict the success of selection. The (co) variance
longo da vida do animal, como as características de
components
crescimento, que são os pesos dos animais em
breeding researchers in data analysis that can be
diferentes idades de sua vida. Partindo dessas
taken repeatedly along the life of an animal, as
premissas, o objetivo dessa revisão é de copilar
growth traits that are animals’ weights in different
informações sobre estimativas de componentes de
ages. From these premises, the aim of this review is
(co) variância de características de crescimento em
to gather information of (co)variance components for
tabapuã. Palavras-chave: Avaliação genética, Melhoramento animal, Raça Tabapuã, Seleção, Zebu
have
aroused
interest
of
animal
growth traits in tabapuã cattle. Keyword: Animal breeding, Genetic evaluation, Selection, tabapuã breed, Zebu. .
4787
Artigo 389 – Estimativas dos componentes de (co) variância de características de crescimento em bovinos da raça tabapuã
INTRODUÇÃO A raça Tabapuã é um animal de grande potencial
modelos de dimensão finita. Com estes modelos,
para produção de carne no Brasil, isso se deve ao
podem ser analisadas características de interesse
melhoramento genético, que visa aumentar a
para o melhoramento genético animal, como ganho
produção
de peso. Sendo estas, denominadas características
desses
animais,
utilizando
como
ferramenta a seleção e cruzamento. No Brasil o
repetidas
melhoramento genético tornou-se conhecido por
JÚNIOR et al., 2014).
no
tempo
ou
longitudinais
(SOUSA
volta do século XX, isso com o avanço na genética molecular, dos métodos estatísticos e programas
O conhecimento dos componentes de (co) variâncias
computacionais,
em
é importante para o desenvolvimento na pecuária de
crescido
corte, pois possibilita maiores avanços genéticos e
essas
melhoramento
técnicas
animal
utilizadas
têm
consideravelmente (LÔBO et al., 2010).
ganhos de produção. Portanto esta revisão tem como objetivo copilar informações sobre estimativas
Entre as características de interesse econômico por
de componentes de (co) variâncias de características
técnica de melhoramento animal, algumas podem
de crescimento em bovinos da raça Tabapuã.
ser mensuradas repetidamente ao longo da vida do indivíduo como as características de crescimento, exemplo
o
peso.
O
melhoramento
das
características de crescimento é de interesse
REVISÃO DE LITERATURA
objetiva-se melhorar o desempenho médio da
A importância da bovinocultura de corte para o Brasil A bovinocultura é uma das principais atividades
população
produtivas do agronegócio brasileiro, proporcionando
econômico por meio da seleção. Com a seleção
progresso
e
consequentemente,
genético
em
promover
características
de
a maior renda obtida entre as cinco maiores cadeias produtiva
crescimento (GONÇALVES et al., 2011).
agropecuária
estudada,
sendo
desenvolvida em todo o território nacional com 212,8 A grande importância na determinação do método
milhões de cabeças (IBGE, 2012). A pecuária bovina
de seleção e no avanço genético de um rebanho é a
de corte no Brasil é antiga, e passou por vários
estimação dos componentes de (co) variâncias.
processos
Porque ela fornece informações importantes sobre o
concorrência por outros tipos de carne. Para manter
quanto das diferenças observadas na característica
essa
de interesse econômico se deve a fatores genéticos
eficiência produtiva dos bovinos, trabalhando no tripé
e que sejam transmissíveis às próximas gerações
zootécnico
(SILVA et al., 2006).
fazendo com que os animais chegassem ao seu
de
modernização,
competitividade, (genética,
foi
isso
preciso
manejo
e
devido aumentar
à a
alimentação),
potencial genético. Os
componentes
de
covariância
permitem
determinar as herdabilidades e as correlações
Os bovinos de corte estão presentes no Brasil desde
genéticas para as características da população que
os primeiros anos que se seguiram após a chegada
serão avaliados, visto que, esses parâmetros podem
dos portugueses e a região nordeste foi pioneira na
sofrer variações consideráveis nas suas estimativas
criação de gado de corte. De acordo com Caíres et
devido ao método de estimação de componentes de
al. (2009), a pecuária da Região Nordeste é
(co) variância. A herdabilidade é utilizada para se
composta principalmente por animais zebuínos
avaliar a confiança do valor fenotípico, como
mestiços e puros, na qual prevalece a criação a
indicador do valor genético (FALCONER & MAYER,
pasto. E os programas de melhoramento genético
1995).
têm sido realizados para desenvolver a produção de bovinos de corte no Nordeste (SANTOS et al., 2012).
As análises para estimar os componentes de variância para característica de crescimento são, em 4788
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.3,4, p.4787-4794, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
Artigo 389 - Estimativas dos componentes de (co) variância de características de crescimento em bovinos da raça tabapuã
Dentre os métodos de melhoramento, podemos citar a seleção, que consiste nas escolhas dos melhores
A raça Tabapuã vem se destacando como opção
indivíduos para ser utilizado como reprodutores ou
para produção de carne nas condições tropicais do
matrizes em gerações seguintes, e o cruzamento,
Brasil, (SILVA et al., 2012). Juntamente com as
que é o acasalamento dos indivíduos. Eles são
outras raças zebuínas, é responsável pelo grande
fundamentais
sucesso na pecuária de corte brasileiro, nestes
melhorias
para
nos
selecionar
animais
desempenhos
visando
produtivas
e
últimos anos.
reprodutivas, pois esses animais determinam a eficiência total de produção, tanto do ponto de vista
Apesar de o Tabapuã ter surgido por volta do ano de
genético como econômico (BOLIGON, 2008).
1940 aqui no Brasil através de um cruzamento da raça nelore e guzerá, o primeiro animal desta raça a
É notório que o melhoramento genético é essencial
ser registrado foi o Touro Baile de Tabapuã T – 1210
para alcançar melhorias na genética dos rebanhos,
com o RGD n° 1, em 01 de fevereiro de 1971. Em
através desta ferramenta, o Brasil consegue produzir
1881, o Tabapuã foi oficialmente reconhecido como
carne em grande qualidade e quantidade, que supre
raça. Em 2009, cerca de 15.800 animais receberam
a necessidade dos consumidores.
registro genealógico de nascimento (RGN) e 7.500 receberam registro genealógico definitivo (ABCT,
Neste cenário, se destaca pela capacidade de
2013).
aumentar a sua produção de carne, sendo assim possível oferecer um produto com alto padrão de
Em 1969 foi criada Associação Brasileira dos
qualidade seguindo a tendência do mercado externo,
Criadores de Tabapuã (ABCT), que mobilizou todos
em especial o europeu, que exige que a carne
os criadores associado no Brasil, com o propósito de
bovina seja oriunda de manejos que respeitem
expandir o nome da raça e ser reconhecida
conceitos
dos
internacionalmente. Caíres et al. (2012), destaca que
animais, o abate humanitário e a sustentabilidade
na região Nordeste, desde do inicio do ano 2000, a
dos sistemas de produção, com foco na preservação
raça Tabapuã teve um aumento significativo em seu
ambiental (LOPES, 2015).
tamanho efetivo. Quando em 2005 o número de
específicos,
como
o
bem-estar
animais nascidos na região foi de 2.466 animais e O Brasil lidera o ranking de maior exportador de
em 2010 chegava à aproximadamente 140.454
carne bovina do mundo desde 2008 e as estatísticas
animais.
mostram conhecimento também para os próximos anos e a exportação de bovina crescerá 2,15 ao ano
Os indivíduos desta raça apresentam características
(MAPA, 2011). A carne bovina a cada ano, sua
desejáveis segundo as exigências de mercado, tais
participação brasileira no comércio internacional vem
como boa conformação e qualidade de carcaça,
crescendo gradativamente, é um setor pecuário que
estimula estudos voltados à avaliação e melhoria do
gera mais de 7,2 milhões de empregos diretos no
seu desempenho produtivo (SOUSA JÚNIOR et al.,
campo e na indústria. E tem suas importâncias por
2010). A relevância dessas características é vista na
ser uma atividade desenvolvida em todos os estados
cadeia produtiva da carne brasileira e destaca o
brasileiros, além de produzir alimentos para o
merecimento de estudos para alastrar em nosso
mercado nacional e internacional.
meio. Em decorrência de sua boa produtividade e por
Raça Tabapuã
encontrar condições propícias para se desenvolver e
O Tabapuã é uma raça zebuína (Bos indicus),
adaptar-se às condições ambientais, proporcionadas
brasileira oriunda do cruzamento entre um gado
pelo território brasileiro, a raça Tabapuã, atualmente,
mocho nacional e animal da origem da índia.
é uma das mais importantes, não somente pelo seu
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4787-4794, julho/agosto,2016. ISSN: 1983-9006
4789
Artigo 389 - Estimativas dos componentes de (co) variância de características de crescimento em bovinos da raça tabapuã
quantitativo, como também, pela evolução que vem
namento
dos
componentes
de
covariância
e
alcançando como raça promotora de produção de
possibilitado estimativas mais acuradas dos efeitos
carne (FERRAZ FILHO et al., 2002).
genéticos e ambientais e melhores respostas à seleção (SOUSA, 2009).
Componentes de (co) variância
O peso ao nascer, peso a desmama, ao ano e
A implantação de um programa de melhoramento
sobreano, são características de crescimento que
genético na bovinocultura de corte é crucial para se
requer o uso dessas tecnologias nos programas de
alcançar o avanço genético do rebanho, a grande
melhoramento, para que sejam realizadas essas
importância na determinação do método de seleção
avaliações genéticas utilizando essas características
é a estimação dos componentes de (co) variâncias.
sob seleção, são necessárias as estimativas dos
Para que sejam realizadas seleção, são necessárias
componentes de (co) variância. Dessa maneira, a
as estimativas desses componentes, predições dos
avaliação genética se torna um fator determinante da
valores genéticos e do progresso genético esperado
estimação de valores genéticos preditos, para
na população sob seleção (BALTMAN, 2005).
animais de uma população que esteja sendo
Dentre as principais utilidades do emprego de
implementado um programa de seleção (BALMANT,
estimativas
2005).
de componentes
melhoramento
animal
de
destaca-se
variância em a
estimação
acurada do valor genético e dos parâmetros
Sousa et al., 1999, cita os componentes de variância
genéticos populacionais (HENDERSON, 1986).
que pode ser estimado em características de crescimento, são: variância genética aditiva direta,
É de vital importância o desenvolvimento e aplicação de métodos que possibilitem maximizar a acurácia das estimativas dos componentes de variância apresentados no modelo genético. Assim, inúmeros métodos têm sido desenvolvidos para tal finalidade, dentre
os
quais:
(HENDERSON,
1953);
métodos método
Henderson de
estimação
quadrática não-viesada de norma mínima – MINQUE (RAO, 1971); método de estimação quadrática nãoviesada de variância mínima – MIVQUE (RAO, 1971); método de máxima verossimilhança – ML (HARTLEY
&
RAO,
1967)
e
de
máxima
verossimilhança restrita – REML (PATTERSON & THOMPSON, 1971). O
melhoramento
variância
genética
aditiva
materna,
covariância
genética entre os efeitos direto e materno. A partir desses componentes estimados, podem-se derivar os seguintes parâmetros: a herdabilidade direta, herdabilidade materna, correlação genética entre os efeitos diretos e maternos, herdabilidade total dos efeitos genéticos aditivos totais e as covariâncias genéticas entre efeitos diretos e maternos como proporção da variância fenotípica. A estimação de covariâncias produz estimativas de funções de covariâncias, que se referem a uma descrição contínua da estrutura de covariâncias do caráter para a amplitude de idades abrangida pelos dados, ou seja, uma função de covariância descreve
das
a covariância entre medições tomadas em certas
é
idades como função destas idades (RESENDE,
bastante dependente da estimação acurada dos
2001). E o autor supracitado relata que as funções
componentes de covariância, essa acurácia é
de covariância podem expressar, de maneira mais
determinada por fatores tais como a quantidade e
realística,
qualidade da informação, o modelo estatístico
longitudinais (por exemplo, curvas de crescimento
aplicado e o próprio método de estimação de
através do tempo ou medições repetidas).
características
componentes
de
de
genético crescimento
covariância.
através em
E
bovinos
com
os
fenômenos
associados
a
dados
a
disponibilidade de modernos programas estatísticos
Estudos com dados de bovino de corte são recente,
e recursos computacionais têm facilitado o particio-
Sakaguti
(2003),
trabalhando
com
dados
de
crescimento de bovinos da raça Tabapuã, constatou a utilidade das funções de covariâncias na avaliação 4790
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4787-4794, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
Artigo 389 - Estimativas dos componentes de (co) variância de características de crescimento em bovinos da raça tabapuã
do
crescimento
e
revelou
que
a
curva
de
crescimento dos dois primeiros anos de vida pode ser
rapidamente
alterada
pela
seleção.
tindo na maioria das vezes, o sucesso da atividade (SANTANA, 2013).
A
determinação da função de covariância é sempre
As características de crescimento em bovinos de
necessária como indicador do comportamento da
corte têm grande importância em qualquer programa
curva de crescimento, como por exemplo, em um
de melhoramento. Medidas de peso corporal, nas
determinado ponto, ou idade do animal.
fases iniciais do desenvolvimento do animal, são importantes
na
determinação
da
eficiência
No melhoramento animal a metodologia de funções
econômica de qualquer sistema de produção de
de variância é recente e têm merecido atenção
bovinos e podem ser recomendadas como critérios
relativamente grande. A grande importância na
de seleção (BALMANT, 2005). Portanto, a eficiência
determinação do método de seleção é a estimação
de produção em bovinos de corte depende de várias
dos componentes de (co) variâncias. Portanto elas
características
são fundamentais e importantes para um programa
características, de importância econômica, por meio
de melhoramento genético, visto que possibilita a
da seleção, depende do uso efetivo da variação
predição de valores genéticos e a estimação de
genética existente nas mesmas.
e
o
melhoramento
dessas
parâmetros genéticos. FARIA et al. (2009) estudando características de crescimento em bovinos de corte, ressaltaram a Características de crescimento O
crescimento
em
bovinos
importância da correta identificação dos animais são
processos
geneticamente
superiores, o
progresso
isso
é
genético
da
fundamentais durante sua vida, o crescimento está
determinante
relacionado com o seu aumento de massa e volume
população. É também de extrema importância o
resultando em um maior tamanho do organismo e
conhecimento de quanto das diferenças observadas
ele ocorre dentro de limites genéticos que são
nas características de interesse no melhoramento
inerentes às espécies. Gottschall (1999), afirma que
deve-se a fatores genéticos aditivos, ou seja,
o crescimento dos animais tem uma forte relação
aqueles transmissíveis às futuras progênies por meio
com a quantidade e qualidade de carne.
da seleção.
O
para
porque
crescimento rápido em bovinos de corte é desejável, sendo que animais que apresentam maiores ganhos
O processo de crescimento dos animais é um
de peso são abatidos mais cedo, tornando-se assim
fenômeno complexo e de grande importância para a
mais economicamente rentável.
área de Zootecnia. O conhecimento, o controle do crescimento e desenvolvimento dos bovinos, são
Assim torna-se de necessário o conhecimento do
tópicos de bastante interesse para os pesquisadores,
processo de ganho de massa corporal animal, pois
pois o seu domínio permite que o manejo nutricional
esse conhecimento possibilita que faça um controle
dos animais possa ser conduzido eficientemente,
na produção de carne, otimizando lucros dessa
além de permitir que programas de seleção animal
atividade.
sejam
Uma
forma
pratica
de
analisar
o
elaborados
para
as
características
de
crescimento do animal é por meio de estudo de suas
crescimento inerentes a cada raça (LOPES et al.,
curvas de crescimento, as quais descrevem uma
2011).
relação funcional entre peso e idade (SILVA et al., 2004). Estudos de crescimento de animais são
De acordo com Lacerda et al. (2014), o peso,
relevantes para a determinação técnicas adequadas
avaliado em diferentes idades, é uma característica
de manejo, bem como para o melhoramento
de crescimento largamente utilizada como critério de
genético, uma vez que possibilita a identificação de
seleção nesses programas de melhoramento, para
indivíduos que cresce com maior e eficiência,
isso é necessário a estimativa dos componentes de
garan-
Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4787-4794, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006
4791
Artigo 389 - Estimativas dos componentes de (co) variância de características de crescimento em bovinos da raça tabapuã
(co) variância para a obtenção dos parâmetros genéticos e valores genéticos. A escolha dos métodos utilizados na estimação dos componentes de
(co)
variância
e
parâmetros
genéticos
é
fundamental nas avaliações genéticas.
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o
território
nacional.
Dessa
forma,
as
estimativas de componentes de (co) variância é uma das formas dentro do melhoramento genético, que tem para se fazer uma avaliação genética dos animais, isso nos permite fazer uma boa seleção, que posteriormente vem melhorar significativamente o rebanho. Porém, ainda é um desafio à ciência, já que são poucos os de estudos na raça tabapuã, sobre os componentes de (co) variância. Sendo assim, devem-se estimular estudos que almejem estimar os componentes de (co) variância, visto que os mesmos são essenciais no setor da pecuária nacional.
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