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Fernando Pereira: Letargia e Metamorfose de uma indústria
CEO/ Master Stylist/ SuMisura Mestres de Medida- Lisboa
CONFORT IS THE NEW BLACK
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Enquanto, em estado de pandemia, a indústria do vestuário encontra-se num estado de letargia. O sangue da criatividade não tem por onde correr. Os palcos da vida estão fechados. Não há casamentos nem batizados, não há conferências nem convénios, não há receções nem vernissages, não há nódoas de vinho tinto nem rasgões nos bolsos. A indústria está suspensa em toda a linha. Na incerteza do futuro, a indústria mais resiliente da história, desde que a humanidade se cobre, não desarma perante o desconhecido e prepara-se para um futuro que sempre aparece.
Como mestre de medida na suMisura, faço parte desses resilientes sonhadores de futuros, acredito na vida e nas pessoas e tenho esta convicção.
Quando a vertente biológica e sustentável nos preenchia os desejos, eis que a pandemia fez brotar a flor adormecida do conforto. Esse conforto de lar que eu quero comigo sempre e onde quer que me encontre, será o protagonista da moda pós pandémica. Another New Black.
Porque a César o que é de César - a reunião de negócios não será uma ida ao quiosque, um jantar especial não será uma partida de paddel, nem uma cerimónia social uma arruada.
O fato continuará a ser a expressão do “suit means business”, ou para quando a coisa é séria, feito em lãs cada vez mais finas e confortáveis, e os blazers reinarão no reino dos conceitos avantgarde do sustentável, orgânico, wash&go, realizado em construções ligeiras e cortes sóbrios para as várias situações do dia-a-dia.
O casaco desconstruído, a calça de cós suave, os tecidos resilientes com propriedades físico-químicas aplicadas serão todo um novo mundo para a elegância confortável. A fantasia no mundo da estampagem e sublimação e a criatividade nos padrões e texturas não terá limites. As ocasiões festivas não serão “o costume”, como eram antes, e recuperarão as suas raízes de verdadeira celebração, de vestir a rigor, redefinindo o termo “cerimónia”, pois é a festa da vida que aí vem, e esta não se vive em pijama. De pijama, dormimos.
Os corpos humanos continuarão a ser o que são, mantendo as suas marcas de linhagem, de caráter e de percurso de vida manifestados numa postura mais proeminente ou mais fechada, num braço mais comprido, nas pernas que curvam ligeiramente, num peito mais saliente, um ombro mais descaído, um pescoço fino ou uma barriguita mais feliz. Cada um continuará a poder expressar personalidade no seu vestir e a contribuir para a realização da sua peça de roupa. São estas as marcas da nossa autenticidade e da nossa diversidade, que o pronto a vestir não consegue compreender, que afirmam quem somos e confirmam a resiliência de um dos mais antigos ofícios do mundo ao serviço da maior obra da Criação. O novo normal é este que estamos a viver, uma anormalidade nas nossas relações que iremos ultrapassar num regresso ao futuro e à vida que sabemos que é boa e para a qual contribuem artífices e pastores, engenheiros e técnicos, designers e mestres da arte que mesmo confinados estão a trabalhar – quieto fuori e si move d’intro- para que a letargia tenha um fim e se glorifique na metamorfose de larva para a borboleta feita para abraçar o vento com as asas da liberdade.
Lethargy and Metamorphosis of an Industry
While in a state of the pandemic, the clothing industry is in a state of lethargy. The blood of creativity has nowhere to run. The stages of life are closed. There are no weddings or baptisms, there are no conferences or covenants, there are no receptions or vernissages, there are no red wine stains or tears in the pockets. The industry is suspended all along the line. In the uncertainty of the future, the most resilient industry in history, since mankind covers itself, does not disarm before the unknown and prepares for a future that always appears.
As a master of measurement in suMisura, I am part of those resilient dreamers of futures, I believe in life and in people and I have this conviction.
When the biological and sustainable aspect fulfilled our desires, the pandemic made the sleeping flower of comfort sprout. This comfort of home that I want with me always and wherever I am, will be the protagonist of post-pandemic fashion. Another New Black.
Because Caesar’s what is Caesar’s - the business meeting will not be a trip to the kiosk, a special dinner will not be a paddle match, nor a social ceremony a ruin.
The fact will continue to be the expression of “suit means business”, or for when the thing is serious, made in wool increasingly thin and comfortable, and the blazers will reign in the realm of the avant-garde concepts of sustainable, organic, wash&go, carried out in light constructions and sober cuts for the various situations of daily life.
The deconstructed jacket, the soft waistband pants, the resilient fabrics with applied physicochemical properties will be a whole new world for comfortable elegance. The fantasy in the world of printing and sublimation and creativity in patterns and textures will have no limits. The festive occasions will not be “the custom”, as they were before, and will recover their roots of true celebration, of dressing rigorously, redefining the term “ceremony”, because it is the feast of life to come, and this is not lived in pajamas. In pajamas, we sleep.
The human bodies will continue to be what they are, keeping their marks of lineage, character, and life path manifested in a more prominent or more closed posture, in a long arm, in legs that curve slightly, in a more prominent chest, a lower shoulder, a thin neck or a happier belly. Each one will continue to be able to express personality in their dress and contribute to the realization of their piece of clothing. These are the marks of our authenticity and diversity, which the ready to wear person cannot understand, which affirm who we are and confirm the resilience of one of the oldest craftsmen in the world at the service of the greatest work of Creation. The new normal is the one we are living, an abnormality in our relationships that we will overcome in a return to the future and to the life that we know is good and to which contribute craftsmen and shepherds, engineers and technicians, designers and masters of the art that even confined are working - quiet fuori and si move d’intro- so that the lethargy has an end and glorifies itself in the metamorphosis of larvae to the butterfly made to embrace the wind with the wings of freedom.