Ophiusa n.º 2 — Maio 2017

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Número 2 Maio 2017 Revista da Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas - OBOD em Língua Portuguesa


Índice

Os Portais da Vida e da Morte pág. 4 O Druidismo Moderno — parte II pág. 6 Em busca do Druidismo na Península Ibérica — parte I pág. 12 O Tor de Glastonbury — A Colina dos Ancestrais pág. 17 Plantação de um Bosque Sagrado pág. 19

A Árvore da Vida pág. 22

Eisteddfod pág. 28 Eventos & Blogues pág. 35 Última pág. 36 2

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Ficha Técnica Propriedade: © 2017, Zéfiro – Edições e Actividades Culturais, Lda. ISSN: 2183-9255 Depósito Legal: 419 013/16 Esta obra não pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer processo à excepção de excertos para divulgação. Reservados todos os direitos, de acordo com a legislação em vigor. Director: Alexandre Gabriel Editor: Fábio Barbosa Concepção gráfica e paginação: Fábio Barbosa Imagem de capa: Fábio Barbosa Colaboram neste número: Adílio Jorge Marques, Alexandre Gabriel, Carlos Carneiro, Eunice López Gomes, João Fonseca, José Arantes, Llewellyn Mawr fab Blodeuwedd, Melissa G. Boëchat, Rodrigo Sobral Cunha, Sofia Vaz Ribeiro. Envie-nos as suas contribuições, sugestões ou perguntas para: ophiusa@obod.com.pt Faça a sua encomenda ou assinatura pelo endereço: obod@obod.com.pt Saiba mais em www.obod.com.pt/ophiusa.htm Consulte também os números anteriores em: issuu.com/ophiusa

Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas Responsável pelo curso de Druidismo em língua portuguesa: Alexandre Gabriel Morada: Zéfiro, OBOD, Apartado 21, 2711-953 Sintra, Portugal Telefone: (+351) 91 48 48 900 E-mail: obod@obod.com.pt Website: www.obod.com.pt


Editorial

Composto de mudança

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empre que o chamado “véu entre os mundos” se dissipa, somos levados a aperceber-nos de algo inteiramente novo. É um fenómeno que celebramos de modo especial a cada Beltane ou Samhain, mas o facto é que somos empurrados através do véu sobretudo nos momentos menos previsíveis. Estamos em constante transição, como o resto do Universo a que pertencemos. E é na entrega voluntária a essa permanente mudança, e na cooperação harmoniosa com as várias vontades que nos rodeiam, que damos os maiores saltos no nosso percurso. Importa estarmos atentos e disponíveis, sob pena de perdermos o sentido da jornada. Foi por desatenção nossa que, por altura do lançamento da Ophiusa, nos descrevemos como a primeira revista druídica a ser editada em língua portuguesa, ou pelo menos, em Portugal. Conforme fomos felizmente alertados há pouco tempo, não é esse o caso. Desde o primeiro semestre de 2016 que a ATDL — Assembleia da Tradição Druídica Lusitana, membro fundador da Celtic Druid Alliance,

tem publicado a Revista da Tradição Lusitana. Publicação essa que, aliás, se tem distinguido por um interessante trabalho de investigação, mais que bem-vindo e necessário na nossa comunidade. Poderá obter mais informações através do endereço www.atdlusitana.org. Saudamos aqui esta mostra da diversidade de vozes no meio druídico lusófono, e congratulamos a ATDL pelo projecto. E como é claro, não podemos deixar também de agradecer a todas as pessoas que ajudaram a criar mais uma edição da Ophiusa. Neste número 2, símbolo de dualidade mas também de compromisso e de união com a nossa Voz mais íntima, convidamo-lo uma vez mais a partir em busca das diversas formas de viver o Druidismo, dentro e fora de portas, no presente e no passado, nos diversos mundos que compõem a Grande Canção: a Árvore da Vida.

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Os Portais da Vida e da Morte por Alexandre Gabriel

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esta altura abrem-se para nós dois dos mais importantes portais da Roda do Ano: o Portal da Vida (Beltane, no Hemisfério Norte) e o Portal da Morte (Samhuinn, no Hemisfério Sul). O primeiro é regido por Bel, Senhor do Fogo que inflama a vida (Beltane significa em céltico antigo o “Fogo de Bel”), e está associado aos ritos de fertilidade e ao início do Verão (para os antigos celtas o Verão começava nesta data, sendo que o Solstício de Verão assinalava apenas o pico desta estação e não o seu início, o que faz todo o sentido do ponto de vista do Calendário Natural). O segundo é tutelado pela Velha Sábia, Cailleach, Senhora da Morte e do Submundo (de forma análoga, o Samhuinn marca o início do Inverno), que ceifando o corpo, nos reconduz o espírito para que ele possa renascer no mundo dos Antepassados, liberto do mundo da forma e reintegrado no Absoluto. Tradicionalmente a celebração do Samhuinn dura 3 dias, durante os quais o véu que separa o mundo visível do invisível se dissipa e o tempo deixa de existir. Este não-tempo fala-nos da ausência de tempo e espaço nos planos superiores da existência, que é assim não-condicionada e sem forma. No Portal da Vida, a alma (ou Consciência) adentra no mundo da forma, sujeitando-se igualmente ao tempo (o devorador da forma). No Portal da Morte ela sacode-se dos condicionamentos formais, regressa ao não-tempo e reintegra o Todo. 4

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Toda a nossa existência está compreendida no tempo que decorre entre a passagem pelo nosso próprio Portal da Vida – que nos é insuflada com a primeira inspiração – e a passagem pelo nosso próprio Portal da Morte – onde o espírito se liberta do corpo com a derradeira expiração. Toda a nossa vida está inscrita na respiração: começa com uma inspiração e termina com uma expiração. A prática da respiração consciente permite-nos, apesar de estarmos imersos no mundo aparente, tactear o que está para além da nossa consciência mundana. Coroando a prática da percepção e dos sentidos sobre o mental, este último é colocado ao serviço da pura Presença, deixando de ser o seu carrasco. A nossa vida toma então a forma de uma tela, onde é vertida a nossa mundivivência.


No período entre os Dois Portais, a que chamamos existência, encontra-se um terceiro Portal. De tão próximo estar de nós, a maior parte das vezes é-nos oculto. É o Portal do Corpo. Este veículo, apesar de transitório, é um verdadeiro laboratório alquímico. Através da prática da percepção consciente pode catapultar-nos para além do murmúrio dualista. Como? Geralmente consideramos as palavras vida e morte como sendo opostas. Contudo, o contrário de morte é nascimento, não vida. A palavra vida não tem um oposto porque é eterna, quer neste mundo, quer no outro. Ou, numa abordagem não-dualista, ela é pura presença, aqui e agora. Da mesma maneira, na “Linguagem dos Pássaros”, a palavra Amor pode ser lida na sua raiz latina como a-mors (“a-morte”), ou seja, remete-nos para o “lugar onde se não morre”, para a Ilha dos Imortais. O Corpo e o Amor (nas suas diversas formas) permitem assim a celebração da vida e da imortalidade. À palavra amor a nossa sociedade ocidental reduziu uma diversidade de conceitos dos antigos gregos: philia, agape, charis, eros, storge, etc. Assim, para uma vivência plena do Amor é preciso ter a paciência do Ovate ou do Jardineiro para criar as condições certas que permitirão o desabrochar de cada uma das suas múltiplas pétalas amorosas, cada uma delas libertando o perfume que lhe é próprio.

Possa o Senhor do Fogo acalentar a Chama do Ser, não o Fogo que Queima – aquele que prejudica e traz sofrimento, nem o Fogo que Cega – pela ilusão, pelo ego. Possa a Senhora do Submundo ceifar tudo aquilo que está velho e caduco para dar lugar ao novo. Para que se viva a Multiplicidade do Um e a Ciclicidade do Permanente. O Portal está Aberto. Aqui e agora.

Nota: E porque é bom relembrar, há precisamente 6 anos germinava a semente lusitana da OBOD. Foi no Beltane de 2011 que celebrámos a primeira cerimónia druídica na Casa do Fauno, em Sintra. “Tempus fugit” (“o tempo foge”)! ■

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O DRUIDISMO MODERNO — parte II

por Llewellyn Mawr fab Blodeuwedd, estudioso e escritor dedicado à cultura, história e religiosidades célticas

“O druidismo é uma jornada sagrada de descoberta sobre a beleza e a santidade de toda a vida, física e espiritual. No entanto, não é suficiente que o druida saiba que toda a criação é sagrada: o caminho leva além desse ponto, a um local onde se pode tocar aquela realidade divina. A jornada do druida é sentir o toque dos deuses, de qualquer forma que os perceba, entrando em contato — com corpo e espírito — com o espírito que revigora o mundo.” — Emma Restall Orr, 2002

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Druidismo Moderno é uma religião politeísta, o que quer dizer que seus praticantes acreditam em muitas divindades, cada qual dotada de sua especificidade, característica hábil e personalidade. A reverência do druida normalmente dedica-se a deidades madrinhas e/ou padrinhas, que são pertencentes

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aos diversos panteões mitológicos das populações célticas. Dentre as origens podemos encontrar deuses e formas de culto da cultura britônica, gaélica, celtibérica, gaulesa, manesa, dentre outras. Também existem as divindades pan-célticas, consideradas através de estudos amplamente cultuadas pelos diversos povos celtas, citando como exemplo Lugh, Brigid, Belenus, Dana e as Matronaes. Assim muitos elementos se alteram de acordo com a região e conceitos adotados pelo praticante. A maneira como os druidas modernos tratam a divindade de espírito para espírito diferencia-se de outras crenças, tendo seu próprio ritualismo estruturado no trato com respeito à espiritualidade circundante. Nesse sentido os druidas modernos entendem que o mundo da matéria e do espirito não estão assim tão distantes um do outro,


sendo essa fronteira pouco considerada já que a manifestação do sagrado está acontecendo aqui e agora. A forma como os pássaros voam no céu, a naturalidade com que o vento sopra e como as folhas das arvores envergam com sua passagem, o sentir de como a terra úmida está cheia de vida e como todos os seres estão conectados é onde está o alicerce da sacralidade druídica.

“A ligação entre o sagrado e o mundano é muito estreita na visão druídica, chegando a ser quase impossível separar o profano do espiritual ou o divino dos aspectos comuns da sociedade. O que torna todo este processo sagrado são os pensamentos, palavras e ações, emitidas por cada ser.” — Rowena Arnehoy Seneween, 2011 Concomitante a isso, os druidas modernos tem sua fé enraizada na reverência as divindades que emergem a vida, aos espíritos ancestrais e aos seres da natureza. Alguns chegam mesmo a entender o druidismo como uma religião animista, pois se acredita que tudo a nossa volta está repleto de vida pulsante, alma, essência vital, Nwyfre. Por isso muitos praticantes, como os xamãs,

dedicam-se a figuras animais totêmicas/aliadas, à força dos minerais e cristais, ao estudo de herbologia e plantas medicinais, produção de amuletos e objetos de poder imbuídos de energia natural. Os druidas modernos buscam o equilíbrio do cosmos através da conexão com as forças que brotam da terra. Algumas referências dessa prática podem ser encontradas em textos práticos reconhecidos de Xamanismo Celta, do qual podemos citar os autores John Matthews e Thomas Dale Cowan. Já que possuem o entendimento de que são parte de um grande todo, os praticantes do druidismo também se consideram como parte de uma grande família ou tribo. Nesse aspecto, os deuses, ancestrais e espíritos são nossos próximos e a relação entre nós e eles é muito semelhante a que nós temos com nossos parentes e amigos mais estimados. Ou seja, uma relação tribal, clânica ou familiar. Porque o que está em jogo no druidismo é a eternidade da alma e das experiências entre os mundos e reinos, o que quer dizer que nossas relações aqui e agora são importantes para o equilíbrio e agradáveis estadias nas diferentes jornadas. Por isso a cortesia e hospitalidade são dos valores mais caros, clarificados nos mitos celtas, já que se preocupavam com as outras vidas que estavam por vir. Não no sentido de arrebatamento ou salvação, mas no aspecto de como seriam recebidos no outro mundo: como pessoas honradas ou infames? m a io 2017 OPHIUSA

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Outra importante crença então é a da transmutação da alma e a sua infinitude e indestrutibilidade. Para os druidas modernos, assim como para os clássicos, a morte não é mais do que a passagem de um estágio para outro. A alma se transfere para outro mundo ou realidade, ou mesmo para ilhas ou planícies sagradas, continuando sua viagem de desenvolvimento e autoconhecimento na aprendizagem com as divindades, os ancestrais e todos os seres espirituais. Além disso, os druidas acreditam que a alma tem liberdade suficiente para escolher e decidir seus caminhos na própria aprendizagem nos mundos, buscando a espiritualidade para se aconselhar como faz um aluno com seu mestre, e não para se prostrar a seus mandos e interferências. Os druidas modernos também não possuem livros sagrados ou dogmas fechados. A maior parte dos saberes e fazeres druidas que sobreviveram foram passados de geração em geração (cultural oral) ou por meio da transcrição por monges cristãos medievais e escritores clássicos. Sendo assim, a base da crença druídica moderna está em costumes tradicionais ainda vivos, nas línguas célticas, nos textos clássicos e medievais, nos compêndios e estudos mitológicos, nas pesquisas históricas e arqueológicas e nas experiências de grupos e indivíduos.

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Rituais sazonais alinhados às estações do ano, à paisagem e aos ciclos da natureza são comumente realizados pelos druidas modernos. Nos solstícios e equinócios, assim como datas entrepostas são feitos festividades e comemorações que tem sua origem nos costumes, jogos e tradições das populações célticas. Prevalece hoje o sistema óctuplo ritual, onde são realizadas anualmente oito festas sacras, cujos nomes também dependem das referências culturais e históricas que os grupos e as pessoas tomam. Esses ritos e cerimônias normalmente são disposto em uma roda simbólica, conhecida como Roda do Ano. Outros rituais que também os druidas realizam estão sinalizados no transcorrer da vida como o nascimento, a puberdade, as iniciações, o casamento e a morte.

“Os festivais solares, juntamente com os festivais celtas, estabeleciam uma poderosa rede de pontos de referência que ajudavam a orientar os xamãs que trabalhavam com o simbolismo da roda.” — John Matthews, 2002


Os grupos druídicos normalmente denominam-se por várias nomenclaturas, como Ordem, Caer, Grove, Bosque, Gorsedd, Nemeton, Escola, Irmandade, Ramo, Assembleia e Castro. Isso depende de região para região, como também a referência que tomaram para nortear suas formas de ver e ser no mundo. Cada grupo possui os seus métodos, regras e valores que cultivam para o treinamento e iniciação dos integrantes e membros. Muitos grupos adotam a forma de cargo tripartido (Bardo, Ovate e Druida), outros concebem ainda profissões (como Guerreiro, Agricultor, Curandeiro,…), sendo a maneira como se dá a graduação e titulação particular de cada um. Acrescentamos também que ainda existe a categoria dos druidas solitários, praticantes autodidatas que buscam o seu desenvolvimento e aprendizado por sua conta. Com o advento da Internet e da comunicação rápida, hoje são comuns cursos on-line e muitos sites que oferecem leituras e práticas. E então chegamos ao porquê de prestarmos nosso tempo, dedicação e vida ao druidismo ainda hoje. Nosso mundo vive crises próprias de seu tempo, principalmente no meio ambiente e social. Há uma tríade muito popular entre os druidas modernos que diz o seguinte:

“Três deveres de um Druida: Curar a si mesmo; Curar a comunidade; Curar a Terra. Pois se assim não fizerdes, não podereis ser chamado de Druida.” Essas três afirmações nos lembram de que a função do druida não está morta. Mesmo que muitas tradições e conhecimentos tenham sido perdidos, os druidas tem um compromisso com a Terra. E por isso mesmo decidiram viver essa vida, nesse plano e no tempo onde estão. É grande o número de pessoas no druidismo que se dedicam a causas sociais e ecológicas. Muitos trabalham na preservação de reservas, no ativismo ambiental, na reutilização dos resíduos sólidos e na luta contra a extinção de espécies de animais e plantas. Outros se dedicam a causas sociais, envolvendo-se com a militância de povos tradicionais, populações periféricas e alvo de violência, no combate às guerras, ou seja, questões de crucial colaboração com a sociedade. Entendem que assim podem curar os níveis de manifestação da comunidade e da Terra. Fora isso, as pessoas têm no druidismo um sistema complexo de crescimento pessoal, olhando

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essa crença religiosa e filosófica como uma possibilidade de melhorar suas relações com o mundo exterior e interior, com a cura de si mesmas. Os dedicantes do caminho druídico trabalham através de atividades e meditações com diversas facetas, como sua saúde mental, psicossocial, física e espiritual. Logo existem interesses pessoais em manter a prática, no âmbito de construir uma vida melhor e equilibrar-se com a centelha divina do universo que está dentro de nós. E o que é ser um druida hoje? Qual é o significado em ser druida e o que eu devo fazer para me tornar um? Afinal, de acordo com Philip Carr-Gomm, o Druidismo Moderno tem se tornado uma das religiões “alternativas” mais procuradas pelas pessoas no mundo atual. São três os motivos que eu apontaria na colaboração de tal questão. Os resultados do processo histórico da celtomania, movimento do século XIX e XX, onde muitos autores europeus de cunho nacionalista investiram na literatura e cultura celta, que deu foro para o fortalecimento do revivalismo. Os filmes épicos, romances, gibis e seriados têm também imageticamente transmitido a ideia de como o conhecimento da magia pode empoderar os indivíduos, com personagens sábias fortes, como o mago Gandalf, o bruxo Alvo Dumbledore e o druida Panoramix. E, por outro lado, as pessoas não só se atraem pelo mistério que a figura 10

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dos druidas lhes causam, mas também pela vontade em utilizar a sabedoria que emana desse arquétipo para mudar o mundo. A grande parte das pessoas, principalmente as mais jovens, identifica o Druidismo Moderno como uma religião ou espiritualidade, mas ainda existem aqueles que o pensam como uma escola de mistérios, uma filosofia de vida ou uma prática cultural folclórica. No País de Gales, segundo Philip Carr-Gomm, a maior parte da população religiosa se considera pertencente à Igreja Metodista e vê o Druidismo como uma parte dos seus costumes culturais bárdicos de origem. Porém, na Inglaterra o Druidismo é oficialmente uma religião e em muitos países os grupos aspiram ao mesmo reconhecimento. Os druidas modernos são pessoas comuns, de diversas origens étnicas, constituição social, religiosa, local, composição etária, de gênero, orientação sexual, dentre outros aspectos. Encontram a sua função druídica no mundo em suas profissões, no dia-a-dia, no contato com seus amigos, no lidar com tudo que está a sua volta. O professor que leciona seu conteúdo. A instrumentista compondo sua música. Um jovem traçando seu futuro vindouro. Uma anciã cuidando de um jardim. O médico atendendo a um paciente. A artesã criando uma peça de primor. É ai que o druida está sendo despertado!


“O Druidismo tem uma visão inteiramente diferente, que celebra e revela a vida tal como ela é agora – não como poderá vir a ser no além ou como poderia ser se conseguíssemos quebrar o ciclo da morte e do renascimento. (…) oferece uma abordagem que se baseia no sentir-se totalmente envolvido no Mundo – na celebração das suas belezas e alegrias e em enfrentar as suas dificuldades em vez de ‘nos elevarmos’ para um plano superior a elas. Sugere assim que fomos feitos para estar aqui e não noutro sítio qualquer.” — Philip Carr-Gomm, 2008

Embora possa soar redundante, ser agora um druida é construir o caminho do druida moderno. Requer estudo, dedicação e persistência, já que muitas das respostas que gostaríamos de ter somos nós mesmos que vamos conjecturar. Ainda podemos nos considerar muito felizes, já que temos acesso na contemporaneidade à muitas informações e não vivemos em um tempo onde o conhecimento é fechado, além de já possuirmos um bom acervo de textos de autores e autoras druidas e não-druidas que podem nos ajudar. A nossa grande missão diante da canção da vida druídica é colaborar para que o movimento cresça, e principalmente para que toda a comunidade possa crescer junto. Os druidas clássicos estavam dotados de um código de conduta pautado na verdade, na honra e na coragem. Concluindo essa pequena leitura, que espero que tenha sido agradável e interessante para você, qualquer pessoa tem o potencial de ser um Druida, desde que compreenda e pratique os valores contidos nessas palavras. Alguns preferem desenvolver isso em grupo, outros solitariamente. Encontre a melhor forma que você puder. ■

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: CARR-GOMM, Philip. Os Mistérios dos Druidas: sabedoria antiga para o século XXI. Tradução de Paulo Rodrigues. Sintra, Portugal: Zéfiro, 2008. Elementos da Tradição Druida. Tradução de Maria Alda Xavier Leoncio. Rio de Janeiro: Ediouro, 1994. GREER, John Michael. The Druidry Handbook: spiritual practice rooted in the living earth. York Beach, ME, Canada: Red Wheel/ Weiser, 2006. MARKALE, Jean. Le Druidisme: traditions et dieux des celts. Paris, França: Payot, 1987. MATTHEWS, John. Xamanismo Celta. Tradução de Claudio Quintino Crow. São Paulo: Hi-Brasil Editora, 2002. NICHOLS, Philip Ross. The Book of Druidry. Editado por John Matthews e Philip Carr-Gomm. San Francisco, USA: HarperCollings Publishers, 1990. ORR, Emma Restall. Princípios do Druidismo. Tradução de Ana Luiza Barbieri. São Paulo: Hi-Brasil Editora, 2002. SENEWEEN, Rowena Arnehoy. Brumas do Tempo: poesias, pensamentos e ritos druídicos. São Paulo: AGBooks, 2011. m a io 2017 OPHIUSA

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Em busca do Druidismo na Península Ibérica PARTE I por Carlos Carneiro, investigador da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

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partir de descrições dos autores gregos e romanos da Antiguidade Clássica sobre os druidas, construiu-se a imagem da classe sacerdotal dos povos celtas, homens1 que eram não apenas sacerdotes mas também filósofos, que presidiam aos rituais religiosos, detinham poder

político e legal, possuíam um extenso conhecimento do mundo natural e funcionavam como mediadores entre o mundo dos mortais e o Outro Mundo2. Nas descrições relativas aos druidas, estes são retratados como usando vestes brancas, a procederem a rituais como o retirar de visco de carvalhos

E possivelmente mulheres se considerarmos como tal as descrições das Gallisenae, sacerdotisas virgens de uma sociedade descrita como sendo constituída estritamente por mulheres que habitavam em Île-de-Sein, uma ilha ao largo da costa ocidental da Bretanha (MELA, Pomponius, De Chorographia, III.6). 2 Os povos celtas concebiam o mundo como dividido entre o mundo dos mortais e uma outra dimensão paralela que estava em constante contacto com a dos mortais, mas na qual o tempo decorria num ritmo diferente. Este Outro Mundo é invisível e apenas se tem acesso ao mesmo mediante determinadas condições. Na mitologia irlandesa está dividido em vários “reinos” denominados em geral como sídhe, dos quais há exemplos específicos como Mag Mell e Tír na nÓg. A mitologia galesa apresenta um conceito semelhante de Outro Mundo sob a designação de Annwn. As entradas para o Outro Mundo são localizadas em montes que contém túmulos pré-históricos (barrows), assim como em grandes monumentos megalíticos, em determinados cursos de água, e também em ilhas. As suas descrições na tradição narrativa irlandesa retratam um mundo de grande beleza onde não existe morte nem envelhecimento e no qual há total abundância de alimento e bebida, que se regeneram imediatamente após o seu consumo. Os seus habitantes são seres sobrenaturais e imortais como os Tuatha Dé Danann da tradição irlandesa, ou as suas variantes no folclore, os aes sídhe, popularmente conhecidos como fadas. Nas tradições celtas a fina fronteira entre o mundo mortal e o Outro Mundo desvanece em datas do calendário celta como o Samhain e o Beltane. Existe ainda uma sobreposição com o mundo dos mortos no conceito de Outro Mundo, visto que os mortos também regressam nestas datas, e algumas narrativas descrevem finados ilustres como habitantes do Outro Mundo. 1

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com uma ceifa de ouro em determinadas fases da lua3, como crentes na imortalidade da alma e na metempsicose4, capazes de artes divinatórias e conhecedores das propriedades de ervas e plantas. Adicionalmente, uma característica dos druidas que gera alguma polémica é-nos dada pelas referências clássicas nas quais os druidas são descritos a assistirem ou presidirem a sacrifícios rituais, inclusive humanos, que incluem o esventrar da vítima para obter augúrios a partir da disposição dos órgãos ou do derramar do sangue5, ou sacrifícios colectivos como o queimar de uma grande efígie de forma humana feita de palha e ramos contendo no seu interior vítimas animais e humanas6. A acrescentar aos relatos da antiguidade, mais informação pode ser retirada da literatura medieval irlandesa e mesmo galesa, nas quais sobreviveram elementos

pré-cristãos. Nas sagas irlandesas, os druidas tomam o papel de profetas e de conselheiros de reis7, na hagiografia irlandesa, por outro lado, os druidas apresentam-se como os grandes opositores à introdução da fé cristã na Irlanda, e como sendo dotados de poderes sobrenaturais8. A hagiografia ecoa assim a possível posição como classe religiosa dos druidas na Irlanda pré-cristã, em paralelo com as descrições clássicas. No entanto, a informação que chegou até aos nossos dias sobre o druidismo não é assim tão completa, e deixa muitas dúvidas por responder, uma das quais relativa à extensão da sua presença nas sociedades ditas célticas. A maioria dos relatos clássicos é referente aos druidas gauleses, com alguns apontamentos relativos aos druidas britânicos, como a clássica descrição destes a incentivarem os bretões a guerrearem com os romanos na

PLÍNIO, Naturalis Historia, XVI.95. CÉSAR, Júlio, De Bello Gallico, VI.13; SÍCULO, Diodoro, Bibliotheca Historica, V.21-22. 5 SÍCULO, Diodoro, Bibliotheca Historica, V.31, 2-4. 6 CÉSAR, Júlio, De Bello Gallico, VI.13-18. Popularmente chamados de “wickerman”. 7 Como é o caso do druida Cathbad no ciclo de Ulster, no qual este serve como druida do rei Conchobar mac Nessa, ao qual oferece conselhos e profecias. Um exemplo pertinente é a narrativa Longes mac nUislenn, na qual Cathbad profetiza o nascimento de Deirdre e o caos, traição, divisão e morte entre os guerreiros de Ulster que a sua grande beleza provocará, o que efectivamente acontece (HULL, Vernam (ed. tr.), Longes mac n-Uislenn: The exile of the sons of Uisliu, New York: Modern Language Association of America, 1949). 8 NAGY, J. F., Conversing with Angels and Ancients. Ithaca and London: Cornell University Press, 1997, p. 40-199. As narrativas onde o confronto entre druidas e a conversão cristã são mais evidentes encontram-se nas biografias de São Patrício, nomeadamente nas duas rendições de Vita sancti Patricii (HOWLETT, David (ed. tr.), Muirchú Moccu Macthéni’s ‘Vita Sancti Patricii’: Life of Saint Patrick, Dublin: Four Courts Press, 2006). 3

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nurabert eaiuaN ocileuodne

batalha da Ilha de Anglesey (Ynis Môn)9, ou o comentário de Júlio César a situar as origens do druidismo na Grã-Bretanha10. O registo literário irlandês, como já referimos, dá conta da sua presença na Irlanda, no entanto, em relação aos povos celtas da Península Ibérica, não há qualquer referência nos textos clássicos ou vestígios concretos da sua existência, ainda que muitos povos peninsulares apresentem uma cultura marcadamente céltica. Estrabão11 menciona uma classe religiosa associada aos lusitanos, os hieroskópos, que são inclusivamente descritos como obtendo augúrios a partir das entranhas de vítimas sacrificiais, um paralelo inegável com descrições semelhantes dos druidas gauleses. Porém, até que ponto os lusitanos podem ser considerados um povo celta é uma questão polémica12. A sua religiosidade aparenta ser de moldes indo-europeus mas de natureza autóctone, e não particularmente celta. Na área do antigo território lusitano

o registo de inscrições votivas, já do período romano, remete para divindades autóctones como Endovélico, Trebaruna, Ataegina, Bandua, Nabia-Corona, Reve, Cosus ou o par Arentius/Arentia, mas não se encontra nenhum aparente parentesco com divindades pan-celtas. As expressões materiais do seu culto religioso também parecem ser de índole autóctone, como se depreende dos santuários rupestres com pias sacrificiais e escadas talhadas na pedra, como é o caso do Santuário de Rocha da Mina, possivelmente dedicado a Endovélico. Estes elementos autóctones eram partilhados com os seus vizinhos galaicos e vetões, visto que se encontram muitas das divindades lusitanas em inscrições votivas também no território dos vetões e na antiga Galécia13 e algumas como Nabia demonstram a sua presença inclusive nas Astúrias através de hidrónimos como o rio Navia. O mesmo se verifica relativamente aos santuários rupestres14, com o

TÁCITO, Annales, XIV.29-33 CÉSAR, Júlio, De Bello Gallico, VI.13. 11 Geographica, III.3, 6. 12 KOCH, John T., Tartessian: Celtic in the Southwest at the Dawn of History, 2009, p. 259-265. Os poucos vestígios que existem da língua lusitana apresentam uma língua indo-europeia sem dúvida nenhuma, mas que carece da característica que define uma língua celta: a perda do <p> Indo-Europeu, levando-os a serem classificados como pré-celtas. 13 SIMÓN, Francisco Marco, “Religion and Religious Practices of the Ancient Celts of the Iberian Peninsula” in E-Keltoi: Journal of Interdisciplinary Celtic Studies vol. VI: The Celts in the Iberian Peninsula, 2008, p. 304-306; PEDREÑO, J. C. Olivares, “Celtic Gods of The Iberian Peninsula” in E-Keltoi: Journal of Interdisciplinary Celtic Studies, vol. VI, The Celts in the Iberian Peninsula, 2008, p. 636 14 SIMÓN, Op. cit, p. 311-316 9

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imponente santuário de Ulaca localizado num castro vetão, e vários santuários rupestres localizados no antigo território galaico como o altar de Pena Escrita dedicado a Reve Larouco, o santuário de Panóias e o Castelo do Mau Vizinho, situados em Trás-os-Montes, ou o santuário de Pena Furada na Corunha, Galiza. A presença destas divindades autóctones e santuários sacrificiais também na Galécia demonstram um cenário religioso que nos poderia levar a especular se os hieroskópos também estariam presentes entre os galaicos, visto haver a partilha de elementos religiosos, e supondo que eram os hieroskópos os sacerdotes encarregados de manter a adoração a estas divindades e os rituais associados aos santuários rupestres. Porém, isto manteria a mesma dúvida em relação aos druidas, visto que apesar de descritos como

uma classe religio- Até que ponto os sa, os hieroskópos lusitanos podem ser não são apelidados considerados um de druidas, e, com povo celta é uma excepção da des- questão polémica. crição de Estra- A sua religiosidade bão referida, os aparenta ser de elementos religio- moldes indo-europeus sos lusitanos que mas de natureza podemos asso- autóctone, e não ciar aos mesmos particularmente celta. não encontram paralelo noutras tradições celtas. O caso muda de figura quando nos deparamos com uma grande extensão de elementos pan-célticos no reportório toponímico e epigráfico das regiões outrora dominadas pelos povos galaicos, astures, cantabros e celtiberos. A Península Ibérica é o território com o maior número de inscrições votivas dedicadas ao deus pan-céltico Lugus15,

Lugus é o análogo de Lugh Lámhfhada Samhildánach na tradição irlandesa e de Lleu Llaw Gyffes da tradição galesa. Júlio César fazia a interpretatio romana de Lugus como sendo Mércurio, visto Lugus ser um deus tutelar das viagens, do comércio e de todas as artes, estando assim em acordo com o seu epíteto irlandês Samhildánach “com igual perícia em todas as artes”. Outras interpretações descrevem Lugus também como um deus solar ou um deus possivelmente ligado a pactos. Na mitologia irlandesa Lugh ganha a regência dos Tuatha Dé Danann e derrota os Fomori liderados pelo seu avô Balor (no Lebor Gabála Érenn, assim como na saga Cath Maige Tuired), sendo ainda o pai sobrenatural de Cú Chulainn (como é narrado em Compert Con Culainn) e o protector dos destinos da regência e soberania da Irlanda como Lugh revela na narrativa de Baile in Scáil (MACALISTER, R. A. S. (ed. tr.), Lebor Gabála Érenn, 5 volumes, Dublin: Irish Texts Society, 1938-1956; GRAY, Elizabeth A. (ed. tr.), Cath Maige Tuired: The second battle of Mag Tuired, Kildare: Irish Texts Society, 1982; HAMEL, A. G. van (ed.), Compert Con Culainn and other stories, Dublin: Dublin Institute for Advanced Studies, 1933; MURRAY, Kevin (ed. tr.), Baile in Scáil: The Phantom’s Frenzy, London: Irish Texts Society, 2004). A importância de Lugus na antiga religião politeísta celta é comprovada pela presença de diversos topónimos espalhados por toda a Europa Ocidental. 15

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com três inscrições na Galiza, uma na Cantábria e duas na zona da Meseta espanhola16 correspondente à antiga Celtibéria, para além de uma representação antropomórfica numa das inscrições celtiberas e uma das primeiras menções ao festival de Lughnasadh17, apontando para o celebrar das festividades do calendário celta em território ibérico18. A epigrafia aponta ainda para a existência do culto à deusa equestre Epona19, com inscrições votivas encontradas na Cantábria e na região da antiga Celtibéria. Nas Astúrias encontram-se vários topónimos derivados de Lugus20, como Llugones, Lugones, Santa Maria

de Lugás e Lugo de Llanera, para além de um etnónimo relativo à antiga tribo asture dos Luggones21, e Lugus é ainda uma das hipóteses para a origem etimológica da cidade de Lugo, na Galiza. Outras divindades pan-celtas como Taranis22, Cernunnos23 e Belenus24 são também encontradas no registo toponímico do território peninsular, com as Astúrias a serem um território especialmente rico em exemplos como Taranes, Tárano, Santa María de Tarañes, Taraniellu, Tarañosdiós, Cermuñu e Beleño25. Para além dos nomes de divindades, a toponímia revela-nos ainda uma ligação com o conceito de santuário sagrado dos celtas. Os povos celtas

SIMÓN, Op. cit., p. 301-302. SOPEÑA, Gabriel, “Celtiberian Ideologies and Religion” in E-Keltoi: Journal of Interdisciplinary Celtic Studies, vol. VI, The Celts in the Iberian Peninsula, 2008, p. 352 18 No registo etnográfico português, encontramos aliás festas como a Festa da Cabra e do Canhoto, que marcam a antiga celebração do Samhain na noite de 31 de Outubro para 1 de Novembro, tendo o dia 1 sido cristianizado como o Dia de Todos os Santos. Na tradição celta o Samhain é um período de transição, durante o qual as portas entre este mundo e o Outro Mundo se abrem. Nesta noite acendem-se enormes madeiros ou fogueiras comunitárias, o que também sucede na Irlanda, ecoando antigos rituais sacrificiais (TIZA, António Pinelo, Inverno Mágico Vol. II, Lisboa: Âncora, 2015, p. 81). 19 Epona é uma deusa associada a cavalos, análoga da Rhiannon da tradição galesa, e é possivelmente uma divindade psicopompa. 20 PEDREÑO, Op. cit., p. 632-633. 21 SIMÓN, Op. cit., p. 301. 22 Taranis é um deus do trovão, frequentemente representado acompanhado de uma roda. O seu análogo irlandês é Tuireann. 23 O nome de Cernunnos é conhecido através do Pilier des Nautes encontrado em Paris, um pilar em pedra com diversas representações em relevo de divindades, e a sua figura cornuda tornou-se icónica devido à sua representação no caldeirão de Gundestrup, encontrado na Dinamarca. Cernunnos é um deus associado à Natureza, à fertilidade, aos animais e à riqueza. 24 Belenus é um deus solar, cujo nome poderá estar na origem etimológica de Beltane, uma das datas festivas que marca o calendário celta. 25 SIMÓN, Op cit, p. 304; PEÑA, Alberto Alvarez, Celtas en Asturies, Xixón: Picu Urriellu, 2008, p. 198-202. 16 17

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concebiam as divindades como fazendo parte intrínseca da Natureza, e assim sendo estes manifestavam-se em espaços naturais. Como tal, os espaços sagrados celtas eram localizados em zonas com muita vegetação ou em clareiras nos bosques, aos quais os celtas chamavam de Nemeton e cujas descrições são recorrentes em autores clássicos como Lucano26 e Plínio27. A existência do topónimo de Nemetóbriga na Galiza, e o etnónimo da tribo galaica dos Callaicians Nemetati28, assim como a possível identificação do recinto de Matabodes29 em Beja como um antigo Nemeton dos celtici do sudoeste da Península, parecem apontar para a ideia de que este conceito de espaço sagrado também se aplicaria aos povos celtas peninsulares30. ■ (continua no próximo número)

Pharsalia, III.412. Naturalis Historia, XVI.6. 28 PTOLOMEU, Geographia, II-6.41. 29 SILVA, António J. M. & LOPES, Maria, “La contribution de la prospection géomagnétique pour la compréhension de la paléoforme de Matabodes (Beja, Portugal)”, 2010, disponível em: https:// www.academia.edu/310734/ 30 Esta ideia é suportada ainda pelo erguer de capelas e ermidas em locais chave da Península onde abundam teixos ou carvalhos centenários, entre outras árvores, podendo indicar uma necessidade do cristianismo de tentar assimilar antigos locais de culto pagãos, mantendo elementos que eram considerados sagrados para os povos celtas, como é o caso de determinadas árvores. 26 27

O Tor de Glastonbury

— A Colina dos Ancestrais por Sofia Vaz Ribeiro

A

o atravessarmos o condado de Somerset, no Sudoeste de Inglaterra, poderemos avistar um dos mais impressionantes panoramas da região: a colina do Tor de Glastonbury. Esta colina ergue-se a cerca de 160 metros acima do nível do mar e acredita-se que terá albergado um antigo mosteiro – o Mosteiro de São Miguel – que terá estado em funcionamento presumivelmente entre os séculos VII e XIII. Os edifícios iam sendo mantidos e reconstruídos com a passagem do tempo e a torre que hoje vemos foi acrescentada no séc. XIV. O Tor de Glastonbury insere-se na pequena vila a que muitos estudiosos se referem como sendo a verdadeira Avalon das lendas arturianas. Glastonbury é, actualmente, um verdadeiro local de peregrinação e de reflexão. Sabe-se que o monte teve ocupações pré-cristãs e muito se tem especulado sobre o assunto. O topónimo São Miguel era atribuído a locais de carácter religioso pré-cristão, de modo a que a espiritualidade cristã prevalecesse, não abdicando dos lugares sagrados da m a io 2017 OPHIUSA

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região, mas atribuindo-lhes o nome do Arcanjo que ganhou a luta contra o “dragão”, o seu eterno opositor. Tudo o que resta nos dias de hoje é a sua torre – a Torre de São Miguel –, imponentemente erguida no seu cume, bem como os terraços circundantes e trabalhados pelo homem, formando um caminho em espiral, cuja função é ainda desconhecida. Uma função puramente agrícola é geralmente posta de parte, por se revelar insuficiente. Acredita-se que poderia ser um percurso iniciático ou um labirinto real, simbolizando a viagem ao mundo dos mortos e ao reino subterrâneo. A data da sua construção é completamente desconhecida. Trata-se de sete anéis concêntricos que rodeiam o cume do monte e que não poderão ter sido originados por uma simples erosão ou de forma natural. Sabe-se que na Idade Média os seus terraços eram plantados pelos monges e o monte continuava a ser adorado como local sagrado, podendo mesmo os seus terraços ter sofrido um acrescento, de forma a corresponder à ideia do Monte do Calvário e a um caminho processional. 1 Reza a lenda que o Tor de Glastonbury é o portal de entrada para o reino de Annwn. O Senhor deste Reino é simultaneamente o líder da Cavalgada Selvagem e o Rei das Fadas, Gwynn ap Nudd. Este é um dos descendentes 1

dos filhos de Llyr. Diz-se, que durante a época de Samhain até Yule, a Cavalgada Selvagem se levanta das profundezas da colina oca e cavalga em busca das almas dos heróis falecidos. O Tor tem toda esta conotação ctónica e simultaneamente celestial no seu legado mitológico, tornando-o num local incrivelmente mágico. Muitos autores, como Robert Graves, registaram a ideia de que esta colina albergava no seu cume um alinhamento ou círculo de pedras. Não existem, no entanto, registos arqueológicos que o comprovem. John Michell escreveu acerca de um interessante alinhamento de lugares sagrados desta região: uma linha exacta que passa por Avebury e que se alonga para sudoeste através do Tor, Burrowbridge Mump (uma outra colina natural), pelo círculo de pedras de Hurler, pelo farol de S. Miguel e finalmente pelo Monte de S. Miguel, localizado na costa da Cornualha. É interessante como esta teoria, elaborada em 1969, enumera uma série de locais de antigo culto pagão que estavam ligados entre si por aquilo que ele apelidou de “Linha do Dragão”. O Tor de Glastonbury continua a ser um ponto de reunião para muitos adeptos do druidismo – tal como para muitos neopagãos das mais diversas tradições – particularmente por parte da OBOD, que lá se dirige anualmente durante a época do Solstício de Verão. ■

Nicholas R. Mann, A Ilha de Avalon, Planeta Editora, Lisboa, 1997.

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Plan ação de um Bosque Sagrado por José Arantes

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ainda difícil acreditar que tal tenha mesmo acontecido! A simples leitura destas duas palavras, “Bosque Sagrado”, transporta-nos imediatamente para um lugar fantástico, calmo, convidativo, fresco, cheio de cores e de sons agradáveis. Um lugar onde gostamos de estar e de visitar sempre que precisamos de alguma paz ou de fugir de todo o stress do mundo em que vivemos. Já quando falamos de floresta, a sensação é bem diferente, mas bosque... e sagrado... Alguns de nós têm a sorte de viver e trabalhar diariamente ligados à Mãe Natureza; isto só por si já é um grande privilégio, mas quando nos é permitido comunicar diretamente com o espírito Dela, a sensação de harmoniosa união, gratidão e de amor incondicional é avassaladora. Acho que foi isto que todos os participantes sentiram nesta iniciativa que

teve lugar no dia 26 de Novembro de 2016 na Herdade de Porches em Alcácer do Sal. A ideia de realizar esta plantação surge com a necessidade de substituir algumas árvores que morreram depois de termos executado um projeto PRODER de adensamento na nossa herdade. Como já há mais de 12 anos que funcionamos em modo de produção biológica e tentamos seguir as directivas que apostam na sustentabilidade e na biodiversidade, decidimos fazer uma pesquisa de árvores e arbustos autóctones da nossa região e desta vez plantar a maior variedade possível. O nosso intuito foi o de ajudar a criar uma floresta mais resistente às doenças que actualmente as atingem e também acompanhar o novo conceito de "agro-floresta". Mas como nada acontece por acaso, quis o “acaso” que nos cruzássemos

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com pessoas e com conceitos que nos convidaram a ir ainda mais longe. Há alguns anos, depois de uma visita à Casa do Fauno, tivemos muita curiosidade em fazer o Curso de Bardo e pedimos toda a documentação, mas não prosseguimos nessa direcção. Hoje percebo que ainda não era a altura! No entanto, quis o acaso que nos deparássemos com os Gwersi que ainda estavam connosco e então fez-se Luz! A Plantação do Bosque Sagrado. Simultaneamente albergávamos o pessoal da Comunidade Biótopo de Tamera numa extraordinária iniciativa de união das pessoas ligadas pelo Rio Sado, na “Caminhada pela Água”. Esta visita permitiu a criação de um importante e profundo elo com Tamera, que nos presenteou com uma noção mais clara da importância de locais sagrados de concentração de energia: os cromeleques. Graças a eles, decidimos também procurar a primeira pedra para iniciar o nosso, que seria inaugurado no dia da plantação do Bosque Sagrado. E assim erigimos a primeira pedra, ao que parece, um verdadeiro menir, que baptizámos com o nome indígena quechua de Yachan (“Aquele que contém a sabedoria”). Também nesta mesma altura, surgiram na nossa vida pessoas interessantíssimas que se dedicam ao Yoga, meditação e cura através do contacto directo com árvores e plantas e percebemos que seria um privilégio e 20

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uma mais valia se elas estivessem dispostas a participar connosco neste evento. Passo agora a descrever esse maravilhoso dia que ecoa com memórias de momentos de verdadeira união e de total integração com o Pai Sol e a Mãe Terra em perfeita harmonia. Eram aproximadamente 9 horas, o Sol brilhava feliz, quando iniciámos o evento com uma sessão de Yoga e meditação dirigidos por Inez Aires e por Mash Yan, que teve como tema o contacto directo com o Espírito da Árvore. Por volta das 10h30, as nuvens começaram a aparecer, e no exacto momento em que nos juntámos para iniciar a cerimónia da OBOD sobre a Plantação do Bosque Sagrado, surgiu o primeiro trovão. Ouviu-se um profundo "Ohhhhh" e as 70 e tal pessoas que ali se encontravam perceberam que a conexão com o Universo tinha sido estabelecida e que algo profundo e importante se iniciava. Depois de uma breve demonstração técnica de como plantar árvores, começaram a cair as primeiras gotas de chuva e assim se manteve durante a primeira meia-hora. A alegria e o entusiasmo dos participantes era revelador de que o mundo invisível nos acalentava e protegia. A certa altura as gotas de chuva começaram a ficar mais pesadas, o som dos trovões ficou cada vez mais forte e os consequentes relâmpagos rasgaram os céus, de início com


alguma brandura, mas foram ficando cada vez mais fortes até que se formou numa verdadeira tempestade, em que os relâmpagos e trovões, quase em uníssono, rebentavam mesmo por cima de nós. Algumas pessoas menos acostumadas e aquelas com crianças pequenas refugiaram-se nos carros ou sob algumas árvores mais frondosas, mas foi impressionante ver que a maior parte das pessoas continuou a plantar com a mesma alegria e perseverança, mesmo quando a chuva se tornou torrencial. Confesso que comecei a ficar um pouco preocupado pois não víamos sinais de melhoras. Não sei a Natureza nos estava a pôr à prova ou se nos estava a proporcionar uma experiência muito forte, mas a verdade é que como se toda esta tempestade não chegasse, começou a cair granizo! Bolas de gelo desabavam sobre nós e o espectáculo ficou mesmo preocupante. Nessa altura decidi juntar as pessoas da produção e propus que cancelássemos o evento, mas a resposta que recebi foi: “Cancelar? Olha para eles! Continuam todos a plantar e dizem que não vão parar enquanto as 700 árvores não estiverem plantadas!” Perante tal realidade, só pude agradecer profundamente por toda esta maravilhosa experiência, e passado alguns minutos a tempestade amainou e não passou muito tempo para que o radioso Sol voltasse para aquecer os nossos

corações, clarear os nossos pensamentos e secar a nossa roupa. Acho que para além de termos tido a oportunidade de experienciar uma extrema emoção de conexão com o Universo, pudemos também compreender que a chuva veio para dar de beber às nossas pequenas árvores e os relâmpagos para ajudar a soltar os nutrientes na Mãe Terra para que elas se pudessem alimentar. Por volta das 16h, terminámos de plantar as mais de 30 variedades de árvores e arbustos autóctones. E foi junto ao menir que, entre lágrimas, profunda alegria e gratidão, inaugurámos o nosso cromeleque segundo os rituais druídicos, seguido-se uma bênção realizada por Sabine Lichtenfels, fundadora de Tamera e uma oração de apoio aos que lutavam pacificamente do outro lado do Oceano para manter os seus lugares sagrados em Standing Rock, que foi orientado por Inez Aires (soubemos que passado um dia ou dois o presidente Obama mandou parar a obra do oleoduto!). Da nossa parte, Horta do Zé, gostaríamos de agradecer a todos os que participaram deste evento e a todos os que gostariam de ter vindo mas não puderam, pois foi com a energia e boa vibração geral que este Bosque Sagrado pôde ter este maravilhoso Início. Deixo aqui um convite a quem quiser que nos venha visitar e trazer a sua oração. Awen. ■ m a io 2017 OPHIUSA

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a ár A vo re da vi da

por Rodrigo Sobral Cunha, autor, investigador e professor no IADE — Instituto de Arte, Design e Empresa (Lisboa)

árvore é um ser que habita este mundo em todas as suas dimensões. Pelas raízes mergulha no húmus em busca de água, chegando por vezes a lençóis freáticos e a rios subterrâneos, junto dos quais bebe em plena obscuridade, embora seja também possível observar raízes à beira dos rios e lagos na superfície da terra. Pela copa, revestida de folhagem, a árvore mora já nos céus luminosos, de braços abertos para o sol radioso, o que faz dela um ser de luz. O tronco da árvore, como o caule da planta, une o submundo humoso das raízes ao mundo celeste luzidio. A isto acrescenta-se o ritmo circadiano da respiração, pois este ser, como todos os viventes, respira. A árvore é, pois, um ser feito de fogo, de ar, de terra e de água. No ritmo anual apresenta ela o ciclo da vida, por vezes incluindo a morte aparente no frio do inverno e a seguir o esplendor da regeneração primaveril. O espectro das cores exibe-se nela, que assim conhece as

diversas temperaturas que lhes são correspondentes. Na vida emocional aparente, oscila a árvore entre o abandono da quase ausência da vida e a pujança da vívida alegria frondosa. A própria paz e a serenidade parecem morar no ente do grande silêncio e do bailado do vento. Escreveu o poeta Carlos Queiroz, num texto chamado «Paisagem de Portugal», a propósito dos pinheiros: Quem viu, alguma vez, esses velhos exemplares (contorcidos, torturados, mas firmes como rochedos) que sustêm à beira-mar, as areias das dunas e as primeiras investidas dos ventos mais agrestes, ficou a saber que o heroísmo não é apenas apanágio das criaturas humanas. 1 A árvore é o grande ser cósmico onde vêm habitar todos os viventes: os subterrâneos, os da terra e os do céu. Daí essa metáfora primordial com que os homens, os heróis e os deuses honraram este ser ao mais alto nível na designação de

Luís Reis Santos e Carlos Queiroz (fotografias de Mário Novaes), Paisagem e Monumentos de Portugal, Lisboa, Secretariado de Propaganda Nacional, 1940 (há versões francesa e inglesa das Paisagens de Portugal). Reedição em Carlos Queiroz, Paisagem Portuguesa, Sintra, Feitoria dos Livros, 2016.

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«Árvore da Vida». A árvore acha-se consagrada em todas as tradições e eras do mundo. A espiritualidade e a barbárie das épocas podem ser consideradas por esta medida: a relação com a árvore. Podemos compreender a árvore, posto que também nós, como humanos, respiramos, bebemos água e adoramos a luz, enquanto caminhamos sobre a terra: bebemos a água que nos chega dos rios subterrâneos à flor das fontes, recebemos a luz do grande astro e respiramos o ar que as árvores dão ao mundo. No microcosmos do nosso organismo está também a árvore arterial e brônquico-respiratória, especialmente na zona do corpo humano a que chamamos tronco, integrando o conjunto do cefalotórax. Cabeça, tronco e membros compõem assim o homem que, pelo modelo da árvore, toma consciência maior de si. O poder de compreender tudo isto torna-nos humanos. Inversamente, a incapacidade desta compreensão e de maravilhamento com o enigma da árvore, decorre de uma carência de humanidade. A proximidade da árvore – humaniza, aprofunda e eleva a consciência. O afastamento da árvore – desumaniza, desenraíza o ser humano e conduz à insciência e à barbárie. Para o néscio, a árvore não é mais do que um cilindro de madeira que se amplia ao longo do tempo. Embora a palavra madeira provenha de materia, por seu torno oriunda de mater – mãe. Materna

é assim a árvore para os povos que moram juntamente com as árvores. A complexidade da árvore traduz-se também na sua bela harmonia, que as folhas e os frutos reproduzem: repare-se como a pinha tem a forma do respectivo pinheiro ou a macieira a da maçã ou a pereira a da pera, assim como as folhas apresentam consideráveis similitudes e unidade de estilo com as árvores a que pertencem. A Ginkgo biloba, por exemplo, apresenta extraordinárias propriedades terapêuticas e outras que se adivinham na sua igualmente extraordinária polimorfia. A árvore é rainha desse misterioso reino primordial: o reino vegetal, de que o sol é rei. A raiz etimológica da palavra vegetal (é belo as palavras terem raízes!) – vegeo – liga-se à força da vida e ao movimento de crescimento, liga-se a «animar», a «vivificar» e ainda a uma etimologia mais antiga relacionada com o fogo, ou seja, com o que é da natureza do fogo, propriamente fogoso. (Repare-se bem nesta sonoridade fogosa: vegeo). O reino vegetal, urdido pelo fogo do sol, que aí vem morar, é esse reino da metamorfose da luz (conhecida desde o século XVIII por síntese da luz ou «fotossíntese»). Morfologicamente, a arborescência assemelha-se assim, naturalmente, com a chama fogosa. Para aquele a quem, venturosamente, é dado em viva intuição o reino ígneo fantástico, sabe bem esse que m a io 2017 OPHIUSA

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Só ao homo universalis, isto é, aquele que vive o universo vivo, pode ser dada a graça de compreender a árvore em essência.

caminha entre misteriosas formas vivas de luz.2 Muito poderiam espantar-se com estes habitantes do nosso planeta todos aqueles cujo imaginário busca outras formas de vida no obscuro espaço exterior à Terra. Indiferentes a isso, no reino vegetal movem-se as formas vivas do sol, como que na tentativa de regresso à origem. Ao aflorar do solo, ergue-se esse reino vegetal nos céus luzidios, na direcção do calor e da luz. Assim o radical reino fantástico. Se o homo technicus compreende esta «luz» sob a designação de «energia» ou prefere até utilizar a palavra «fotão» (que significa igualmente «luz» em grego), todavia, desejamos manter a designação primordial de «luz» porque nos dirigimos aqui, com sentido de universalidade, – ao homem universal. Pois só ao homo universalis, isto é, aquele que vive o universo vivo, pode ser dada a graça de compreender a árvore em essência. Símbolo da Árvore da Vida, no Médio Oriente, é a palmeira e os seus ramos, particularmente a palma – símbolo da alma vitoriosa sobre a morte, isto é, da áurea imortalidade. Entre nós, a festa do Domingo de Ramos celebra a chegada de Jesus Cristo com a alegria arbórea da imortalidade luminosa. Observemos que, em muitas línguas, a etimologia para a árvore

gloriosa e para a palma da mão é a mesma – o que significa a analogia maravilhosa que os antigos povos experimentaram entre as formas da mão e a dos ramos da palmeira. Repare-se no belo símbolo na mão aberta; não é uma palma? A mão e a árvore andam, pois, de mãos dadas desde a aurora dos tempos. Símbolo da paz e da consciência, a imagem da mão aberta é mesmo um dos mais arcaicos vestígios da presença humana e uma alusão à Árvore da Vida, cujos mistérios aqui podemos remotamente escutar. Só muito depois, de resto, encontramos a imagem da mão fechada. Entretanto, a vivência portuguesa das árvores, desde a origem da Nação, abarca sentimentos na relação com estes viventes onde se distingue a ternura, como ilustram as palavras de Raul Brandão em epígrafe à nossa arvorada reflexão. A propósito da catástrofe que está a suceder a muitas das nossas palmeiras, recorde-se que a Palmeira-Imperial ou Palmeira-Real foi assim designada por D. João VI ter transportado esta essência para o Brasil em 1809 e neste ano ter plantado essa Palma Mater de que descendem as demais palmeiras congéneres do Brasil. Talvez um sinal de esperança. Convidamos agora o pensamento expresso do admirável arquitecto paisagista Raul Lino, que nos

A expressão «reino ígneo fantástico» é aqui pensada e dita em conformidade, posto que a palavra grega «fantasia» tem por raiz etimológica phos, ou seja, luz. 2

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deixou incansáveis testemunhos de veneração pelas árvores. No admirável conjunto da Natureza que nos rodeia, devemos apreciar as árvores não só pelo que elas representam de materialmente útil para a nossa vida, como também por constituírem elas o mais belo adorno que a paisagem possa ter. As diferentes regiões da Terra distinguem-se, entre outras coisas, pela variada distribuição das essências, pela abundância, escassez ou raridade com que estão semeadas; e há quem julgue ter influência na psicologia das gentes o facto de existir ou não, de ser abundante ou de minguar este género vegetal nas regiões povoadas. De todos os tempos se tem atribuído personalidade às árvores mais vulgares, reconhecendo-se em cada espécie carácter particular adequado a certas noções religiosas, filosóficas ou simplesmente heráldicas. É sabido que o cipreste, com sua forma esguia, meditativa, sempre verde, apontando eternamente para o céu, simbolizava na antiga Pérsia a independência espiritual; o loureiro de fino recorte, incorruptível e – segundo a crença – resistente aos raios, significava, para os Antigos, Fama; enquanto que entre os filhos de Mafamede, a tamareira, que prodigaliza os seus frutos, passa por ser a imagem da generosidade; o carvalho robusto significa força, a palma altaneira e triunfante vale por Vitória, – e assim por diante. A cada espécie corresponde uma noção que é sempre baseada nas características próprias da árvore, e assim se explica

a longevidade destes símbolos vegetais determinados na sua origem, com certeza, por criaturas de sensibilidade superior e mantidos através dos tempos devido justamente ao acerto da sua escolha. Não só artistas pintores, poetas também e músicos dos melhores algumas vezes se têm inspirado na árvore como forte motivo de expressão, envolvendo num título sugestivo como: o castanheiro, a tília, a nogueira – um mundo de sensações... De todas as árvores que povoam o bom solo de Portugal, porém, uma das mais belas – e também das mais caluniadas – é, sem dúvida, a oliveira. Das mais belas digo eu porque é uma das que melhor se integram na paisagem, casando-se perfeitamente com todos os terrenos e, sobretudo, em tal harmonia com a nossa atmosfera, que a sua ramagem em vez de se recortar no horizonte – como sucede nas outras essências – parece, pelo contrário, querer confundir-se, diluindo-se na suavidade do nosso céu azul. O tronco cinzento, envelhecido, da oliveira, torturado nos contornos, irrompe da terra em arrancos de labareda e é como que a imagem de qualquer continuado anseio que se estivesse purificando nas suas próprias cinzas. Pela cor incerta de prata esmaecida que apresenta, o tronco, burilado e contorcido, lembra velhas alfaias de igreja, poidas pela oração e pelos fumos de incenso, na penumbra das naves. Esta árvore que tanta gente insensível soe chamar feia e triste, mas m a io 2017 OPHIUSA

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que já o nosso grande Fernão Lopes sagazmente dizia ser «a boa e mansa oliveira portuguesa», pelo seu feitio ao mesmo tempo humilde e venerando, pela constância da sua ramaria de magoado verde que se dilui no céu como palavras duma prece eterna, pela generosidade com que no verão esparge as suas modestas florinhas da cor da cera, e, finalmente, pela qualidade do seu fruto que tempera a merenda dos pobres e que serviu para alumiar suas vigílias durante séculos e séculos, – esta árvore, a oliveira, não é só das mais portuguesas, é certamente a mais cristã de todas as árvores. Foi ao abrigo de uma oliveira que Jesus Cristo soltou as derradeiras orações na véspera da sua imolação. Foi junto das árvores do Getsêmani que ele confirmou ao mundo a qualidade essencialmente humana de Sua natureza divina, sofrendo a agonia que todos os deuses do Olimpo jamais conheceram, – Getsêmani quer dizer lagar onde se espremem os frutos do olivedo.3 Escutemos ainda um texto intitulado «Palmeiras de Lisboa» (aparecido no Diário de Notícias, a 29 de Março de 1963), sobre esta essência: Por seu porte esbelto e regularíssimo, pela suma elegância da sua copa, em que as folhas encurvadas se cruzam na mais harmoniosa combinação, a palmeira foi apreciada desde a alta Antiguidade, onde não faltava nos lugares do culto e dos Jogos Olímpicos quando os triunfadores eram

aclamados. No culto católico mantém-se ainda a tradição nas solenidades de Domingo de Ramos, mas desde há muito que a antiga usança desapareceu de todo nos desafios desportivos, onde, pelo que tenho lido, se servem agora, por vezes, de garrafas de cerveja vazias para obsequiar vencedores e vencidos, indiscriminadamente. Além de tudo, para mim, a garbosa palmeira revela a evidência flagrante de leis naturais, o que representa sempre uma atracção. É que vejo na sua copa, inscrita numa circunferência, regular como um mostrador, o símbolo da vida humana, que aí se desenha claramente quase à maneira de diagrama. As últimas folhas, as mais novas, irrompem do centro do disco, que é o núcleo vital da planta, e lançam-se com ímpeto em direitura para o alto, como se quisessem conquistar o espaço azul. Mas em tanto estes sucessivos rebentos se desenvolvem a pouco e pouco, na mesma medida e ao peso das suas próprias ambições frustradas vão-se as folhas inclinando para os lados e encurvando, à semelhança e concordância com as outras folhas já mais velhas, até que, sem saírem do âmbito circular – imagem do globo em que mourejamos –, de tanto ceder e abdicar acabam a roda apontando cada vez mais para a terra, aonde por fim se vão precipitar em plena decadência. Assim se perfaz e completa o ciclo perfeito da vida humana, enquanto do alto da árvore não cessam

Auriverde Jornada, Lisboa, Edição Valentim de Carvalho, 1937, pp. 169-174 (reedição em Raul Lino, Sintra, Colares Editora, 2014).

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de brotar renovados rebentos, confirmando dia a dia a continuidade que encerra o mistério do nosso destino.4 Cheio de ensino e de mistérios é o convívio com as árvores. Não por acaso significa a palavra «ensinar» – «semear». Passemos a palavra a Raul Brandão, que narra uma singular experiência (n’Os Pobres) com uma árvore junto da lua. Noite de luar. A Arvore mergulha os braços n’um oceano de luar translucido, biliões de atomos luminosos errando. É um collosso de verdura e de bondade, uma construcção cheia de frescura e rumores. Cruzam-se as pernadas solidas, torcidas, esgalhadas, d’onde partem ramos, folhas que se agitam e vivem uma vida mysteriosa e grande. E o luar é tanto que faz afflicção. Sente-se a satisfação gigantea da Arvore, por mergulhar as raizes no seio da terra e por ser forte, simples e bondosa. Por pouco ouvil-a hieis falar... Escutae-a na noite callada, branca e cheia de tanto luar que faz afflicção. Por entre os raminhos tremuleiam fios de luar esquecidos, coados por entre as folhas sobrepostas. No chão a sombra faz mancha e os fios de luar dão-lhe vida. Dirieis que alli anda folego vivo. Fóra da Sombra é tanto o luar que só se vê uma brancura. Finalizemos estas breves folhas da Árvore da Vida, que desta maneira desejamos devolver-lhe, citando ainda este amante das 4 5

árvores (ou dendrófilo), quando o escritor tinha trinta e três anos e dizia escrevendo: Pode-se, porventura, crer que a árvore seja só produto da matéria? Não tem alma um pinheiro? Uma árvore estende-me os braços, dá-me sombra e frescura, abrigo: uma árvore moraliza-me. Conta-se que um homem que ia para matar, sentando-se à sombra de uma árvore esqueceu o próprio ódio. Quase todos os Santos conviviam com as árvores. Depois, um grande sobro, por exemplo, comunica connosco: quem sabe escutar as árvores tem sempre belas coisas a ouvir. É um ser de força e de humildade – e ainda depois de secas, de mirradas, vão aquecer e iluminar os pobres. Há-as heróicas, belas, formidáveis, humildes e nossas amigas. Desculpem-me, mas eu amo mais uma árvore do que muitos dos meus semelhantes.5 ■

"Quem sabe escutar as árvores tem sempre belas coisas a ouvir." — Raul Brandão

Texto proferido no Hotel Tivoli de Sintra a 30 de Janeiro de 2016, a convite da Associação de Defesa do Património de Sintra, por ocasião do Encontro sobre Biodiversidade e Paisagem e o caso do Escaravelho Vermelho. A Srª D. Adriana Jones, Presidente da ADPS, solicitou-nos uma chamada de atenção para a existência da vida das árvores. Foi igualmente publicado na revista Nova Águia nº 18, Sintra, Zéfiro 2016.

In Raul Lino, Sintra, Colares Editora, 2014. «Uma vida escondida como a das fontes», in Diário da Tarde, Porto, 18 de Junho de 1900. m a io 2017 OPHIUSA

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© Eunice López Gomes

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EIST EDD FOD Quem procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito de verdade que o anima, a procurar uma relação justa com o homem. — Sophia de Mello Breyner Andresen

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© João Fonseca

Eisteddfod

À TERR A Bendito sejas, ó Berço da Vida, Bendito sejas, ó Ventre criador, Manto de Silêncio, vem sobre nós.

O D RU I DA – C A R TA I X Eu proclamo o direito ao sacerdócio Como parte integrante da humanidade Livre das amarras de amores e paixões Independente de credos e religiões União entre o céu e a terra Uno e ao mesmo tempo múltiplo Adepto da via do meio Habitando na semente amêndoa No umbigo do mundo Reconhecendo em cada um a luz A vela acesa pela grande fonte criadora João Fonseca 30

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Pelo nosso nome nos chamaste à Grande Canção, Por teu Poder nos deste Beleza e Sabedoria, Prazer e Dor em igual medida. De Ti viemos, a Ti voltaremos, A Ti rendemos graças por Teus dons, Agora e até ao último dos nossos dias. Ó nascente original, Casa nossa e chão nosso, Aceita a nossa oferenda. Tu que precedes os deuses E todas as criaturas, Faz-nos dignos da nossa herança. Fábio Barbosa


DAMA DOS VENTOS Ocorre-me agora que nunca me apresentara. Mas nessa noite chovia leve e as águas trouxeram tua memória. Vi-me, então, refletida em tuas palavras. Até então, não sabia quem era... Como se de um encantamento me livrara, posso, agora, contar-te quem sou e, assim, contar também a mim mesma... Sou aquela das águas que correm e a da imagem que se forma no lago. Sou o brilho da Lua nas copas das árvores quando plena reina no alto a Grande Deusa. Poderás reconhecer meu perfume quando a terra úmida despertar e inundar os bosques com a força de minha alma quando amo.

das fogueiras que sempre reconhecerás o calor de meu corpo. Nunca estive longe; sou a que sempre soubeste existir embora procurasses sem êxito em outras paragens enquanto travavas todas tuas lutas contra quimeras reais e contra as que tu mesmo criaste. Sou a estrela que risca o céu de madrugada quando ninguém vê. Sou o silêncio das antigas almas preenchendo as espirais do universo de lembranças e cuidados. Sou o que nas plantas dá vida aos remédios das bruxas e a palavra que cura a aflição dos que estão perdidos.

Sou aquela que voa com os pássaros e a das firmes raízes do carvalho cravadas na terra.

Não tenho nome. Meu nome são muitos. Não tenho casa; meu teto é o mundo inteiro.

Corro na seiva Corro nos rios Corro em teu sangue quando me desejas.

Não tenho forma cor limites além daqueles que me dão teus pensamentos.

Poderás sentir meu beijo no suco da maçã que mordes no torpor do cravo e na doçura da canela em tua língua. Ouves minha voz no sussurro do vento e nas gotas da chuva. É no crepitar das altas chamas

Constrói-me. Busca-me e conhecerás a ti mesmo pelo espelho do olhar que te dedico – agora sabes – a eternidade. Melissa G. Boëchat

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À IMAGEM DE UMA PEDR A

Imagem pétrea, dimensões, sempre a instigar o ser humano Construções megalíticas, antigos povos, Célticas, druídicas, dolmens, menires, Stonehenge, cavaleiros As pirâmides do Egito e das Américas: inesquecíveis, Monumentais, maravilhas de todo o mundo – Ontem, hoje, sempre a espantar: beleza e estabilidade Homenagens dos homens ao passado, Reverenciadas pela firmeza inabalável Tributável da própria Divindade Mensageiras, símbolos da eternidade por todo o mundo Templos, pedras e deuses, combinação perfeita dedicados aos deuses, Construtores e guildas ávidas por escrever ao Eterno Habitações com elemento tirado diretamente da mãe Terra, Pedreiros que extraíram as qualidades necessárias para edificações de Qualidades uterinas, reflexionadas, de onde e para aonde os ossos Coexistiam. Grutas humanas, moradas da alma A mãe natureza elevada aos píncaros da profundeza; Lá, naquele lugar isolado, ao abrigo único da própria consciência Antes de passar pelo portal de entre coluna Antiguidade, modernidade, contemporaneidade. Arquitetura, arte da pedra, arte real, arte sagrada, Talhando aquilo que é justo, no encaixe, entre traves, Florão rosáceo de cada um de nós que contempla a obra Vitrálica e nunca acabada, por fazer Arcos, ogivas, estilos e fundamentos especulares aos estudiosos. Gigantes por natureza, catedrais do corpo e da alma Aos construtores do passado sucedem os de sempre: Trabalhamos e a cada dia enfrentamos o labor Nos canteiros de obras de nossos corações. Silêncio, ordem, repetições, e seguindo a tradição A pedra nele ocupa abundante representação, Moral e o todo material da inteligência Em prol da evolução interna e da humanidade Cada sociedade recebe e denomina: bruta, esculpida, talhada, Representada, abastada, abobadada, de cume... Mas sempre a ser entregue às mãos de cada um que busca a perfeição, A instrução, e essência, a experiência de um devir Poderoso, ao mesmo tempo hominal e natural, Conhecido e conhecedor,

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Servidor Luminoso Ideal Um cavaleiro a despertar em seu coração o sentimento: O de sua própria dignidade, na busca contínua da Verdade Aqueles que se encontram na senda devem sempre lutar, Mas não cruzadas contra irmãos! São os inimigos naturais, internos, Paixões, mundo, ignorância, obscurantismo Ainda a antiga batalha, Luz e trevas Desde sempre apenas dentro de nós mesmos, Ânsia do pescador por um Graal atávico, Portador da luz, esmeraldina, Renovado a cada dia pela mesma busca

Eisteddfod

Mikaj e Zaob, José e Maria, Homem e mulher de todos que batem à porta, Pois te darão a faculdade de apreciar com retidão, Julgamento sem ação, Cinzel equilibrado e firme, Direção dada, batida firme Um não pode passar sem o outro, Criando o equilíbrio entre céu e terra. A força cega a bater na pedra quebrá-la-ia em mil pedaços: Mas estamos a lapidá-la! Somos, todos, vontade, esta força admirável conduzida por Julgamento esclarecido, Engajamento ao novo, ao repensar da vida, das suas atitudes do passado, Do presente, esculpindo lentamente nova personalidade. Pedra áspera, análoga à matéria-prima dos alquimistas, Devendo ser talhada com cuidado para cubo se tornar. Transmutar pedras em Pedras: o homem comum no Revivido. Talvez por isso os mestres do passado tenham gravado nas pedras De tantas obras legadas à posteridade Incontáveis símbolos, psique marcada, Talhada, arquetipal, Pedra e roseiral. Pois o homem que renasce na Iniciação não morre jamais, Como jamais morrerão as obras que servem como verdadeiros Livros de pedra para a posteridade. Adílio Jorge Marques m a io 2017 OPHIUSA

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TRĂ? DE

A vida deve ser vivida em doses iguais de profundidade, profanidade e frivolidade. KRISTOFFER HUGHES in DRUIDCAST #120

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Eventos Maio Dia 21 | 15h-19h | Casa do Fauno, Sintra Curso O Culto da Deusa em Portugal Com Luiza Frazão. Dia 27 | 16h | Casa do Fauno, Sintra Teatro – Canto do Bardo com João Fonseca. Lotação limitada.

Junho Dias 2 a 4 | Glastonbury, Reino Unido Assembleia de Verão para os membros da OBOD — Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas. Dia 10 | 15-18h | Casa do Fauno, Sintra Curso Os Deuses Antigos no Paganismo Moderno com André Henriques. Dia 18 | 15-19h | Casa do Fauno, Sintra Curso Herbalismo Mágico e Medicinal – Solstício de Verão com Isa Baptista. Dia 24 | 14h30-18h30 | Casa do Fauno, Sintra Curso A Roda da Vida, 3.ª sessão mensal – Solstício de Verão com Iris Lican e Lila Nuit.

Blogues Recomendados Bosque Ancestral https://bosqueancestral.wordpress.com/ Espaço sobre paganismo e espiritualidades da Terra, por Dannyel de Castro.

Ildiachas – Politeísmo Gaélico http://tirtairnge.blogspot.com.br Textos, traduções e práticas de devoção ao panteão celta, por Leonni Moura. m a io 2017 OPHIUSA

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Última

Contamos com a sua ajuda para fazer a próxima Ophiusa! Como gostaria de contribuir para a comunidade druídica? Que histórias, ideias e opiniões tem para partilhar?

O número 3 sai em Agosto, por altura do Lughnasadh no hemisfério Norte e do Imbolc a sul do Equador. Como é que sente a passagem destas estações? Participe. Esta revista é sua.

Os textos para publicação têm um limite máximo de 1000 palavras. Pedimos que quaisquer fotografias ou ilustrações sejam fornecidas em máxima resolução. Todas as contribuições estão sujeitas a selecção e edição. Envie a sua proposta para o endereço de e-mail ophiusa@obod.com.pt

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