Ophiusa n.º 3 — Agosto 2017

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NĂşmero 3 Agosto 2017 Revista da Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas - OBOD em LĂ­ngua Portuguesa


Índice

Os Quatro Tesouros dos Tuatha Dé Danann pág. 4 Do Ritual Druídico e das suas abrangências pág. 9

Em busca do Druidismo na Península Ibérica — parte II pág. 12

As sementes do futuro pág. 18 A Roda do Ano — A época das colheitas pág. 20 A Roda do Tempo, a Roda da Vida pág. 22

Eisteddfod pág. 23 Eventos & Blogues pág. 29 Última pág. 30 2

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Ficha Técnica Propriedade: © 2017, Zéfiro – Edições e Actividades Culturais, Lda. ISSN: 2183-9255 Depósito Legal: 419 013/16 Esta obra não pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer processo à excepção de excertos para divulgação. Reservados todos os direitos, de acordo com a legislação em vigor. Director: Alexandre Gabriel Editor: Fábio Barbosa Concepção gráfica e paginação: Fábio Barbosa Imagem de capa: Eunice López Gomes, in A Terra de Endovélico – O Deus dos Lusitanos de José Galambas (Sintra, Zéfiro, 2006) Colaboram neste número: Alexandre Gabriel, Ana Simões, Carla Santos, Carlos Carneiro, Cecília Garcia, Joaquim Pinto, Joel Marteleira. Envie-nos as suas contribuições, sugestões ou perguntas para: ophiusa@obod.com.pt Faça a sua encomenda ou assinatura pelo endereço: obod@obod.com.pt Saiba mais em www.obod.com.pt/ophiusa.htm Consulte também os números anteriores em: issuu.com/ophiusa

Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas Responsável pelo curso de Druidismo em língua portuguesa: Alexandre Gabriel Morada: Zéfiro, OBOD, Apartado 21, 2711-953 Sintra, Portugal Telefone: (+351) 91 48 48 900 E-mail: obod@obod.com.pt Website: www.obod.com.pt


Editorial

Pelo Amor a todas as existências

E

m Agosto a nossa tradição aponta os ponteiros para as colheitas de Lughnasadh, no hemisfério Norte, e para as promessas de vida nova de Imbolc, no Sul. Ambas são faces de uma mesma realidade: colhemos o que plantamos, e nem tudo o que plantamos coincide com a vontade do ventre comum, da única mestra, a Natureza. Nos últimos tempos, dentro e fora do espaço lusófono, o espaço noticioso tem sido preenchido por vários episódios dolorosos que nos recordam o quanto a ignorância ou o desprezo pela Vida Profunda é capaz de causar desequilíbrios nas nossas sociedades, no nosso meio ambiente e degradar a nossa capacidade para a empatia e para a solidariedade. A nossa caminhada com vista ao "Amor a todas as existências" não se resume a uma prática individual, na nossa imaginação, fechada entre quatro portas ou nos nossos grupos. Negligenciar esse Amor mata, tanto em atentados vários como em fenómenos sistemáticos.

Essa realidade profunda, una e universal, a que na druidaria procuramos aceder pela chamada "Sabedoria Selvagem", aquela que partilhamos com as árvores, precisa de entrar em diálogo com o quotidiano. Precisa de ser difundida. Precisa de ser… Escutada. Quero crer que o projecto Ophiusa, como vários outros, nesta e noutras tradições, pode ajudar a essa mudança, semente a semente, desde a raiz. Precisamos da sua colaboração. Nestas páginas que agora tem em suas mãos, no movimento druídico em geral e em todos os recantos da Vida. Afinal de contas, não é o nosso desejo pela Paz do Bosque uma dinâmica que começa no mais íntimo do nosso ser e se espalha por toda a humanidade? Esta Paz não depende de ondas de proselitismo. Não é uma questão de fé, mas sim de conhecimento. Um conhecimento que faz novas todas as coisas, desde a raiz. Pelo bem de todos os seres. ■

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Os

Quatro Tesouros dos

Tuatha Dé Danann por Alexandre Gabriel

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s lendas antigas contam-nos que, há muitos milhares de anos, existiu um povo semi-divino versado nas artes mágicas na Irlanda, os Tuatha Dé Danann (Povo da Deusa Dana), que teria chegado à Ilha Verde em nuvens obscuras, durante a festa de Beltane, no dia 1 de Maio. Porém, algumas versões mais tardias da história procuraram explicar estas misteriosas nuvens, dizendo que os invasores tinham queimado os seus próprios barcos para impedir qualquer possível retirada da ilha, provocando assim um denso fumo negro. Conforme nos relata o mítico Lebor Gábala Erenn (Livro das Invasões da Irlanda), os Tuatha Dé Danann eram originários das ilhas do norte – na região da Hiperbórea – e descendiam do herói fundador Nemed, líder de um povo que tinha anteriormente ocupado as terras irlandesas. De quatro destas ilhas hiperbóreas – Falias, Gorias, Findias e Murias 4

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– os Tuatha Dé Danann tinham trazido consigo quatro tesouros: A Pedra do Destino, a Lança de Lug, a Espada de Nuadu e o Caldeirão d’O Dagda. Em cada uma destas cidades existia um druida versado nas artes da poesia e da magia, guardião do conhecimento oculto. Os seus nomes eram, respectivamente: Morfesa, Esras, Uscias e Semias. Os Tuatha Dé Danann permaneceram assim como reis e senhores da Irlanda até à chegada dos Milesianos, vindos da Ibéria, altura em que foram forçados a refugiar-se no Mundo das Fadas, nas Colinas Ocas, ficando para sempre conhecidos como o Povo do Sídhe. A PEDRA DO DESTINO “A Pedra de Fál”, do gaélico Lía Fáil, está tradicionalmente associada ao norte – o mais escuro e frio dos quadrantes – e ao elemento terra, símbolo de estabilidade e perenidade.


Os Cavaleiros do Sidhe John Duncan (1911)

Diz a tradição que a pedra que se encontra no cume do Monte de Tara – cidade real da Irlanda –, se trata da própria Pedra do Destino dos Tuatha Dé Danann, trazida da mítica cidade de Falias, onde habitava o sábio druida Morfesa. Segundo a lenda, era nesta pedra que todos os Reis Supremos da Irlanda eram coroados e, segundo alguns relatos, esta tradição ter-se-á preservado até ao séc. VI EC. Conta-se também que, à aproximação do verdadeiro Rei Supremo, a pedra emitia um som estridente de alegria. Teria também o poder de conceder ao rei juventude, bem como um longo reinado. Em tempos antigos, os Tuatha Dé Danann terão nomeado a Irlanda de Inis Fáil (designação gaélica para “ilha de Fál”). Desta forma, tardiamente, Lia Fáil veio igualmente a significar “Pedra da Irlanda”. Não podemos deixar de constatar uma semelhança fonético-etimológica entre a palavra Fáil, obviamente ligada à cidade hiperbórea de Falias – seu local de origem –, com outros lugares míticos da mais antiga tradição iniciática do Ocidente, nomeadamente Valhala – local onde os guerreiros vikings que tinham morrido com honra eram recebidos, situado em Asgard, o reino

dos deuses nórdicos – e Avalon – palavra que deriva do gaélico Ynis Afallach, que significa “Ilha das Maçãs”. Curiosamente, mais uma vez encontramos em Ynis Afallach a referência a uma ilha mítica, tal como Falias. Nestas quatro designações podemos encontrar uma grande familiaridade entre os termos Fáil, Falias, Valhala e Afallach, como se todos fossem ramificações de uma mesma árvore da Tradição, partindo da palavra-matriz val ou fal (que são equivalentes por equivalência fonética). Não deixa de ser curioso que o termo val se encontre associado, por um lado, à raiz das palavras “luz” e “vela” – portanto, ao elemento fogo –, e por outro à palavra “falo” – símbolo da força criadora e da fertilidade. Todos estes locais apontam para uma irradiação energética e luminosa, com uma força criadora numénica particular. Podemos mesmo considerá-los como centros de emissão de sabedoria, ou como sendo nomes diferentes para um mesmo “centro” de sabedoria divina. Se estendermos esta leitura à tradição do Oriente, encontramos semelhantes ecos nas míticas cidades de Agharta e Shambalah. E, para finalizar esta interpretação particular, pode igualmente referir-se que existe uma ligação entre todas estas denominações de ag osto 2017 OPHIUSA

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lugares sagrados, a presença de praticamente uma única vogal, o “A”… Lía Fáil é, portanto, uma pedra que marca um omphallus, um centro do mundo céltico irlandês. E o local onde se encontra, Tara, é o local escolhido pelos “semi-deuses” Tuatha Dé Danann para a sua ligação visível com o mundo invisível da cidade de Falias. É, assim, natural que fosse o local eleito para a coroação dos Reis Supremos da Irlanda, tratando-se, mais do que uma pedra real, de uma Pedra que indica o caminho para o Real. Este é o único dos “Quatro Tesouros” que terá sobrevivido “materialmente” até aos nossos dias, o que é interessante dada a sua ligação ao elemento terra, símbolo da solidez, da estabilidade e da perenidade. A LANÇA DE LUG Conhecida sob dois nomes na tradição gaélica, Areadbhar ou Gáe Assail (“Lança de Assal”), consoante as fontes, a “Lança de Lug” está tradicionalmente associada ao sul e ao elemento fogo, símbolos da força criadora e da vontade. O seu cabo seria feito a partir da madeira do teixo e, de acordo com a mitologia celta, tinha de ser guardada num caldeirão. Igualmente conhecida como “Lança da

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Inspiração”, esta arma relampejante trazia a morte certa às suas vítimas, caso aquele que a atirasse pronunciasse a palavra ibar (gaélico para “teixo”, árvore da morte e do renascimento). Necessitava, por isso, de pouca perícia humana, uma vez que era altamente certeira e violenta. Após ter cumprido a sua função mortífera regressava magicamente às mãos do seu dono. Diz a lenda que foi entregue aos Tuatha Dé Danann pelo sábio druida Esras, da ilha hiperbórea de Gorias. Contam as lendas que, ainda jovem, Lug viajou até à corte do Rei Nuada, dos Tuatha Dé Danann. Não seria aceite por eles até que provasse ter perícias que mais nenhum homem possuísse. Em vez de uma qualquer aptidão singular, Lug provou possuir todas as perícias desejadas. Foi desde logo aceite na corte e passou a empunhar a Lança, que tinha vida própria, mas que não lutaria contra a primeira pessoa que a empunhasse. Conhecido geralmente como um deus celta da luz, Lug tem outros atributos, como esta história nos relembra, com o seu domínio de inúmeras artes. A Lança de Lug encontra-se na origem do símbolo cristão da “Lança de Longinus” ou “Lança do Destino”, que terá ferido Jesus


Cristo na altura da crucificação. Segundo a lenda, José de Arimateia terá levado a lança e o “sangue de Cristo” para Inglaterra, colocando o seu cabo – que se tinha tornado no seu bordão –, no solo de Glastonbury, de onde terá nascido o célebre Espinheiro-Alvar. Nas lendas do Graal, relata-se que esta lança tinha de ser guardada de pé num recipiente, sendo que a sua ponta sangraria constantemente. Esta lança encontra-se associada, por um lado, ao ferro – pois foi forjada graças à arte de um mágico ferreiro –, por outro à madeira, particularmente do teixo – árvore que no alfabeto ogham corresponde à morte e ao renascimento. É, assim, notavelmente um instrumento de poder, capaz de infligir a morte aos inimigos em batalha, pois é invencível. O seu carácter é, portanto, marcadamente o do guerreiro, que vive lado a lado com a morte, quer esta seja efectiva ou simbólica. A ESPADA DE NUADU Conhecida em gaélico como Cliamh Solais, que significa “Espada de Luz” ou “Espada de Fogo”, está tradicionalmente ligada ao este – o quadrante em que nasce o sol – e ao elemento ar, símbolo da luz e da iluminação.

Diz a lenda que foi entregue aos Tuatha Dé Danann pelo sábio druida Uscias, da ilha hiperbórea de Findias. Nuadu era o Rei dos Tuatha Dé Danann na altura em que este povo semi-divino ocupou a Irlanda. Na batalha contra os Fir Bolg – povo barbárico que ocupava a Irlanda antes dos Tuatha Dé Dannan – Nuadu perdeu um braço. Mesmo após terem vencido a batalha, Nuadu foi destituído de Rei, uma vez que já não correspondia ao protótipo de Rei fisicamente perfeito, necessário para cumprir essa função. Foi substituído por Bres mas, após lhe restaurarem o braço, primeiro com um braço de prata e depois com um verdadeiro, através de um feitiço, o título foi-lhe restituído. Ninguém conseguiria escapar à fúria da espada pois, uma vez desembainhada, tornava-se invencível. Concedia ao portador protecção, sabedoria, criatividade e honra. É interessarmos notarmos a semelhança existente entre o nome do druida Uscias com a palavra gaélica uisgue, que significa “água”, elemento oposto ao fogo, associado por sua vez à “Espada de Luz”. Por outro lado, o nome da ilha, Findias, remete-nos para Fintan, o salmão da sabedoria que habitava no lago sagrado (mais uma curiosa referência

Na página anterior: pormenor do Caldeirão de Gundestrup

O caldeirão satisfaz todos os que procuram comer e beber, possui o dom da cura e de restituir a vida. Tudo indica que se trate de uma associação directa ao elemento feminino e à figura perpétua da Mãe Natureza. ag osto 2017 OPHIUSA

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ao elemento água) e que tinha obtido o seu grande conhecimento através das nozes de aveleira que caíam no lago, alimentando-o. Fintan foi mais tarde comido por Fionn, cumprindo-se assim uma antiga profecia, que concedeu ao sábio guerreiro toda a sabedoria do mundo. O prefixo comum a todas estas palavras, fin, significa tanto “belo” como “branco”. Nuadu é associado ao deus romano-britânico Nodens, associado às águas (nova referência aquática) e à cura, bem como ao Nudd gaélico e ao deus Tyr da tradição nórdica. É curioso assinalarmos que tanto Nuadu, como Nudd e Tyr têm em comum o facto de terem perdido uma mão ou braço em batalha. Por outro lado, é lógica a associação de todas estas divindades a Marte, deus da guerra e da projecção da vontade no exterior. Na Lusitânia podemos encontrar um possível eco ibérico deste deus, pelas aras romanas que foram encontradas dedicadas a Neton, acerca do qual pouco se sabe. Na tradição cristã do Graal, a mítica espada Excalibur passou a representar as qualidades da “Espada de Luz” céltica e não deixa de ser interessante que, em certas versões da lenda graálica, Excalibur tenha sido entregue pela Dama do Lago ao Rei Artur, mais uma vez mantendo a sua ligação ao elemento água. O CALDEIRÃO D’O DAGDA Conhecido em gaélico como Undry, está tradicionalmente ligado a oeste – o quadrante em que se põe o sol – e ao elemento água, símbolo da intuição e da emoção. Diz a lenda que foi entregue aos Tuatha Dé 8

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Danann pelo sábio druida Semias, da ilha hiperbórea de Murias. O Dagda, conhecido também como o Bom Deus, era um Rei Supremo dos Tuatha Dé Danann, após Nuadu, e seria assim o Protector do Caldeirão. Segundo o mito, este Caldeirão não tinha fundo, mas nunca estava vazio, pelo que não deixava ninguém com fome – excepto os cobardes e mentirosos, a quem se recusava a dar alimento. Quando não estava a ser utilizado, era também o local onde Lug guardava a sua lança, que vertia permanente sangue numa das pontas. Desenvolveu-se uma série de mitos irlandeses à volta da figura do Caldeirão mágico que tudo fornece e se restabelece por si mesmo, tal como no mito do Caldeirão Curador de Goibniu. Em todas estas lendas, as características mágicas deste objecto são as mesmas: o caldeirão satisfaz todos os que procuram comer e beber, possui o dom da cura e de restituir a vida. Tudo indica que se trate de uma associação directa ao elemento feminino e à figura perpétua da Mãe Natureza. Por toda a mitologia europeia, elementos como Caldeirão e cálice são associados ao elemento feminino. Esta eterna abundância é, assim, muito característica. É altamente provável que o Caldeirão d’O Dagda tenha dado origem ao mito arturiano do Graal. É igualmente interessante associarmos o nome da ilha de Murias ao continente perdido de Mu, que seria também, segundo a Tradição, um antigo centro de sabedoria primordial. ■ Artigo originalmente publicado em Mandrágora – O Almanaque Pagão – 2011: No Bosque Sagrado dos Druidas (© Zéfiro, 2010. Todos os direitos reservados).


DO RITUAL DRUÍDICO

E DAS SUAS ABRANGÊNCIAS por Joaquim Pinto

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e entendermos a Tradição Druídica como um “estacionário” trans-histórico de um sistema dinâmico de aconteceres humanos e seus resultados, materiais ou imateriais, sempre portadores de um profundo Sentido Espiritual, que se articulam entre si, num determinado tempo e lugar, moldando-se em centro gravítico de sentimento de pertença, de sentido e fomento identitário, em torno do qual orbitam múltiplos sentimentos e se expõem possibilidades tangíveis à evolução e realização humana de um conjunto de pessoas que se volvem em Egrégora Druídica, torna-se, se assim entendermos a Tradição Druídica, dizíamos, imprescindível consignar também à meditação o “corpo”, também ele material ou imaterial, por via do qual se celebra a sua Vida, o seu sentido mais profundo se inscreve, o seu passado se actualiza e o seu horizonte se projeta pelos tempos, ou seja, em suma, o Múnus ou

Ofício do seu Sentido Espiritual mais possível: o Ritual Druídico — esse “algo” que, não obstante podermos tecer sobre ele mais e inúmeras considerações estruturais, a ser realizado adequadamente, isto é, de forma autenticamente cuidadosa, se deverá desenvolver sempre num espaço de sentido, ou num ethos ou clareira aberta no seio da Natureza, pelo coração do homem, ao tempo do Sentido Divino no Tempo. Direcciona-se assim o sentido desta tessitura. A celebração litúrgica de um Ritual Druídico informa-nos de uma carga simbólica ‘viva’, culturalmente viva, que se encontra disposta ao humano para a Celebração da Vida Espiritual da qual é parte constituinte. Um ritual, assim entendido, é, então, uma mediação riquíssima entre o humano e o Transcendente, uma vez que é na celebração de um ritual que o Espírito Universal poderá agir de forma mais profunda em cada um de nós. ag osto 2017 OPHIUSA

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Se é por via da realização dos Rituais da Roda Litúrgica do Ano que se faz a actualização e se renovam os nossos vínculos com a Tradição Druídica, estes deverão ser entendidos pelos seus caminhantes como um momento amoroso de abertura e conexão ao Espírito Universal. A mediação «humano-divino» realizada num ritual faz, caso exista a supradita abertura, com que possamos ser transmutados numa forma mais actual e evoluída de Vida Espiritual. Todo o ritual traduz, então, uma relação íntima com o Transcendente, actualizando, assim, o sentido da realidade do Espírito Universal no seio de uma realidade em construção, quer seja do ponto de vista individual, quer comunitário, ou seja, do ente humano e da sua Egrégora, aspectos indissociáveis no movimento de espiritualização humana. O ritual eleva o acontecer humano ao seu sentido mais profundo, pois trata-se de um processo por via do qual as mais altas formas de eternidade semântica espiritual se presentificam em todos aqueles que nele participam. Poder-se-á dizer que o ritual nos possibilita uma relação íntima com a Sagrada Substância do Espírito Universal. Sem o ritual, a Tradição Druídica seria algo de frágil, quebradiço, descontínuo, perecível, distante e impossível de se (re)viver e (re) actualizar, pois não teria forma de inscrever no “estacionário” cultural as suas mais profundas sínteses 10

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de sentido, e tampouco, ou dificilmente, se constituiriam unidades gregárias, pois estas careceriam necessariamente de um sentido comum que lhes permitissem ser uma proposta efectiva de evolução, senda ou caminho real para os seus caminhantes. Destarte, não obstante existir ainda um certo desconhecimento acerca da Tradição Druídica em geral, a sua proposta como caminho de evolução espiritual é real e a sua ritualização é por demais evidente, podendo ser observada quotidianamente em muitas unidades gregárias que hoje compõem uma geografia espiritual/cultural pagã que já é digna de referência. Da Espiritualidade comummente vista como tal, até à práxis litúrgica, muitos rituais, mais ao menos esclarecidos, invadem o nosso quotidiano. No entanto, se é verdade que esta procura pela ritualização de ‘algo’ que habita no ‘dentro’ de cada um de nós é reveladora de uma tendência natural pela procura da desvelação do nosso sentido íntimo, ‘algo’ muitas vezes ainda inexplicável para quem o sente, em face da ausência de narrativas de suporte, também a sua ritualização pode-se tornar, por vezes, assistemática. Neste sentido, não obstante a dignidade afecta, esta procura pela ritualização pode-se tornar destemperada, excessiva, fazendo com que a ritualização tenha apenas o objectivo de suprir formalmente uma riqueza


narrativa semântica que simplesmente não existe. Em face das diferenças nos tempos a que, como outras, está sujeita a Tradição Druídica, o enquadramento energético do Ritual Druídico, que é assunto próprio ao qual a sua liturgia deve responder, corresponder e adequar-se ao fluxo atuante do seu sentido primevo, até, por vezes, a algo encontrado no mesmo movimento ritualístico do ritual propriamente dito (v.g: imagine-se um ritual cujos participantes se afirmam em diferentes gerações, diferentes géneros e orientações sexuais), permite-nos intuir que este, realizado através de uma construção litúrgica baseada em algo de profundamente digno, poderá também possibilitar a emergência de outras narrativas congéneres, mais adequadas, ou melhor, adaptadas às realidades e contingências dos tempos, uma vez que sempre existe constância no Amor. Não obstante esta (re)actualização narrativa, que pela sua adaptação promoverá seguramente um vínculo gregário mais amplo e efectivo, será precisamente este seu carácter congénere o garante de que a ampliação do seu sentido originário, a partir do qual a Tradição Druídica se alonga e, no seu trânsito ritualístico, ciclicamente se doa e projecta como horizonte viável, nunca será colocada em causa, desde que esta ‘construção’ narrativa observe, claro está, a necessária correspondência a algo que tenha

uma profundidade semântica própria da Tradição Druídica. À guisa de conclusão, para aqueles que procuram uma via cuja correspondência ritualística, e não só, seja suficientemente flexível para nutrir e dignificar o vosso movimento de espiritualização, encontrarão na Tradição Druídica uma proposta verdadeiramente adequada à expressão das vossas diversas singularidades. Falamos de uma proposta que promove a união entre seres de boa vontade que assumem a responsabilidade de serem agentes activos e participativos na Grande Egrégora de Amor ao Espírito Universal. Termino, referindo que este texto nada mais foi do que um rasto de uma memória vivencial de um gerúndio metalético que invariavelmente se dilata na tentativa de recontar um caminho antes calcorreado, como se da interpretação de uma partitura se tratasse, e que aqui se actualiza no respirar destas linhas inscritas. Entendam-nas como o retratar de um pequeno trilho pelo qual ainda sigo humildemente um rasto ou como uma ínfima variação de um regresso ad uterum ou, melhor dizendo, de um íntimo e absoluto acrescento, sem mais absoluto do que íntimo. Não foi, pois, de um simples dizer que aqui se tratou, mas de um pensar acerca da maresia de um silêncio cuja branca integridade dá seio à Tradição Druídica que observo. Bem Hajam! ■

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Em busca do Druidismo na Península Ibérica

PARTE II

por Carlos Carneiro, investigador da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

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ara além das inscrições votivas, a iconografia também nos fornece mais aspectos pan-célticos da religiosidade dos povos celtas peninsulares. Tanto no espólio dos celtiberos, como na cultura castreja característica dos galaicos, encontramos a presença de trisqueles talhados na pedra ou em terminais de torques e outros adornos, os quais, em geral, também fazem parte da iconografia de outros povos celtas. A simbologia do trisquel é motivo de alguma divergência, mas todas as interpretações apontam para uma significância de cariz espiritual, com alguns investigadores a apontarem para uma simbologia de cariz solar1, outros para uma crença relativa à reencarnação e aos ciclos da vida2. O trisquel poderá ainda representar uma relação com o número três, visto este número ser recorrente na representação

tríplice de alguns deuses e deusas célticos e usado frequentemente na tradição literária irlandesa e galesa. Uma significância religiosa pode também atribuir-se aos entrelaçados talhados na pedra de alguns exemplos castrejos, que embora estejam longe da intricada arte de La Tène do centro do continente ou dos elaborados entrelaçados do registo medieval das Ilhas Britânicas, parecem apontar para um simbolismo semelhante: a representação de forças telúricas e vitais ou a interligação de destinos num sistema fechado3. Outro elemento iconográfico importante é-nos dado pelas esculturas de cabeças decepadas encontradas no território da antiga Galécia4, semelhantes a exemplos encontrados em França5, e as representações em fíbulas de bronze de cavaleiros com cabeças decepadas pendentes dos seus cavalos

PEÑA, Alberto Alvarez, Simbología Mágico-Tradicional, Xixón: Picu Urriellu, 2007, p.52-54. SIMÓN, Francisco Marco, “Religion and Religious Practices of the Ancient Celts of the Iberian Peninsula” in E-Keltoi: Journal of Interdisciplinary Celtic Studies vol. VI: The Celts in the Iberian Peninsula, 2008, p. 331 3 PEÑA, Op. cit, 2007, p. 79-80. 4 GONZÁLEZ-RUIBAL, Alfredo “Artistic Expression and Material Culture in Celtic Gallaecia” in E-Keltoi: Journal of Interdisciplinary Celtic Studies, vol. VI, The Celts in the Iberian Peninsula, 2008, p. 135. 5 PÉRICHON, R., “L’ Imagerie celtique d’ Aulnat” in Mélanges offerts au Dr. J. B. Colbert de Beaulieu, Paris: Le Léopard D’ Or, 1987, p. 678; SALVIAT, F., “La Sculpture d’Entremont” in Archéologie d’Entremont au Musée Granet, Aix-en-Provence: Association des Amis de Musée Granet, 1993, p. 214; ARCHELIN, P., “Entremont et la Sculpture du Second Âge du Fer en Provence” in Document Archéologie Méridionale 27, p. 71-84. 1

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aitnera audn anurabert e encontradas em Numância6, que nos remetem para o culto das cabeças mencionado nas fontes clássicas7 em relação aos gauleses. Os autores clássicos descrevem os celtas como caçadores de cabeças, que usavam como troféus penduradas nos cavalos ou à porta de suas casas, uma imagem que é ecoada também nas sagas irlandesas, especialmente na figura de Cú Chulainn8. As descrições de Lívio do uso de uma cabeça decepada como caneca para fins rituais9, assim como a sobrevivência de cabeças separadas do corpo na saga irlandesa Fled Bricrenn10 ou no segundo ramo dos Mabinogi11 do registo medieval galês, parecem enquadrar o culto das cabeças

no sistema de crenças céltico, no qual a cabeça era considerada o veículo da alma e da força vital12. A iconografia peninsular revela-nos ainda outras possíveis conexões com o culto a divindades celtas, com a presença no espólio do Castro de Santa Trega de uma roda solar esculpida em pedra similar à roda que frequentemente acompanha representações de Taranis13, ou a representação em cerâmica descoberta em Numância de uma figura antropomórfica cornuda que possivelmente será Cernunnos14. Esta breve exposição de alguns elementos do registo toponímico e iconográfico peninsular já nos oferece a imagem de um

ALMAGRO-GORBEA & TORRES, Las Fibulas de Jinete y de Caballito: Aproximación a las Elites Ecuestres y su Expansión en la Hispania céltica, Zaragoza: C. S. I. C., 1999, p. 77-78; SOPEÑA, Gabriel, “Celtiberian Ideologies and Religion” in E-Keltoi: Journal of Interdisciplinary Celtic Studies, vol. VI, The Celts in the Iberian Peninsula, 2008, p. 378-379;. 7 SÍCULO, Diodoro, Bibliotheca Historica, V.29; ESTRABÃO, Geographia, IV.5; LÍVIO, Ad Urbe Condita Libri, X.26; POLÍBIO, Historíai, II.28. 8 Os feitos de Cú Chulainn como caçador de cabeças são particularmente bem ilustrados no Táin Bó Cúailnge, e correspondem de forma extraordinária a descrições clássicas relativas aos gauleses (O’ RAHILLY, Cecile (ed. tr.), Táin Bó Cualnge From the Book of Leinster, Dublin: Dublin Institute for Advanced Studies, 1967; O’ RAHILLY, Cecile (ed. tr.), Táin Bó Cúailnge Recension I, Dublin: Dublin Institute for Advanced Studies, 1976). Outras narrativas do ciclo de Ulster como Scéla Mucce Meic Dathó, apesar da ausência de Cú Chulainn, também demonstram a importância da cabeça como troféu, novamente a coincidir com os relatos clássicos (THURNEYSEN, Rudolf (ed.), Scéla Mucce Meic Dathó, Dublin: Dublin Institute for Advanced Studies, 1935). 9 LÍVIO, Ad Urbe Condita Libri, XXIII.24 10 HENDERSON, George (ed. tr.), Fled Bricrend, Dublin: Irish Texts Society, 1899. 11 DAVIS, Sioned (tr.), The Mabinogion, New York: Oxford University Press, 2007, p. 32-34. 12 JACOBSTHAL, Paul, Early Celtic Art, Oxford: Clarendon Press, 1969; CUNLIFFE, Barry, The Ancient Celts, London: Penguin, 1997, p. 210; ALDHOUSE-GREEN, Miranda, The Gods of the Celts, Gloucester: Barnes & Noble, 1986, p. 32; SOPEÑA, Op. cit, 2008, p. 378. 13 PEÑA, Op. cit, 2007, p.59. 14 SOPEÑA, Op. cit, p. 354-355. 6

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audnab anigeat aiuaN ocileuodne amplo culto religioso com base nos mesmos elementos de outras tradições europeias celtas. Como tal, põe-se a questão do porquê de uma aparente lacuna no que toca à prática do druidismo na península. Para esta religiosidade ser mantida e gerida num alinhamento tão próximo aos seus congéneres celtas noutras regiões da Europa, é mais do que razoável assumir a existência de uma classe sacerdotal que mantivesse a tradição religiosa viva e assegurasse o cumprimento dos ritos, como se depreende que o tenham feito os druidas irlandeses e bretões até o cristianismo os eliminar progressivamente15. A crermos no sistema teorizado por Georges Dumézil de sociedades indo-europeias tripartidas em classe guerreira/aristocrática, religiosa/sacerdotal e numa classe encarregada do trabalho agrário e diversos ofícios, seria extremamente insólito que as sociedades celtas ibéricas não tivessem a classe religiosa, principalmente quando há

descrições de tal classe nos lusitanos. Na realidade, alguns pormenores suportam a ideia de que tal classe poderá ter existido: no registo celtibero algumas gravuras e epígrafes já posteriores à conquista romana parecem referir-se a figuras sacerdotais16, e há descrições de Plutarco17 e de Plínio18 que referem indivíduos encarregados de questões religiosas e especializados no uso de ervas terapêuticas19, características atribuídas também aos druidas, no entanto, estes indivíduos nunca são reconhecidos como sendo druidas nas descrições referidas. Uma outra pista é-nos dada pela narrativa lendária irlandesa do Lebor Gabála Érenn20, que narra a invasão da Irlanda pelos Milesianos, oriundos da Galiza, nos quais se incluem o bardo e juiz Amergin, cuja descrição e papel na narrativa o parecem aproximar da figura de um druida. O problema relativo ao Lebor Gabála é que este chegou até nós num manuscrito do séc. XI produzido pela rede monástica irlandesa, e

No entanto, parte do corpus mitológico dos druidas sobreviveu nas Ilhas Britânicas, tendo ficado a cargo de outras classes mais integradas na sociedade medieval cristã como os filid irlandeses ou os bardds galeses, os quais mantiveram a tradição narrativa e poética viva e a terão ajudado a ser preservada por escrito nos mosteiros cristãos, apesar de ter sofrido alterações por via da influência cristã e da educação monástica. 16 SOPEÑA, Op. cit, p. 361. 17 Quaestiones Romanae, LXXXIII. 18 Naturalis Historia, XXV.84. 19 Tal especialização poderá ter sido um antecedente do extenso conhecimento das propriedades terapêuticas das ervas e plantas, popularmente chamadas de mezinhas, que se verifica no registo etnográfico das populações rurais mais isoladas como é o caso dos transmontanos (FONTES, António, Etnografia Transmontana Vol. I: Crenças e Tradições de Barroso, 1974, p. 67). 20 MACALISTER, R. A. S. (ed. tr.), Lebor Gabála Érenn, 5 volumes, Dublin: Irish Texts Society, 1938-1956. 15

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A crermos no sistema teorizado por Georges Dumézil de sociedades indo-europeias (…) seria extremamente insólito que as sociedades celtas ibéricas não tivessem [uma] classe religiosa.

é considerado mitologia nativa enquadrada num esquema cosmogónico cristão, sendo difícil discernir o que é mito e o que pode ter um fundo verídico. Estas pistas deixam-nos, no entanto, no impasse se podemos ou não considerar esta possível classe sacerdotal, por si só hipotética, como sendo druidas. O paradigma tradicional sobre a origem dos povos celtas, que afirma que estes se originaram no centro da Europa com a cultura material de Hallstatt e se difundiram na Idade do Ferro para zonas como a Península Ibérica através de sucessivas vagas de invasões21, tenta explicar esta ausência como sendo devida a um bloqueio linguístico e cultural nos Pirenéus criado pela expansão dos Iberos para essa região, o qual dificultou a comunicação com o centro do continente, e terá impedido que tanto as inovações da cultura material de La Tène como fenómenos como o druidismo tivessem chegado à Península22. Nos últimos anos, porém, tem vindo a emergir um possível novo paradigma a partir do trabalho de Barry Cunliffe e de John T. Koch, com base na hipótese de que as línguas celtas se teriam desenvolvido no arco atlântico da Europa como língua franca23 de

uma rede marítima de trocas comerciais24 durante a Idade do Bronze Atlântica, na qual se incluiria a Península Ibérica, a zona ocidental de França e as Ilhas Britânicas. A hipótese de Cunliffe e Koch não invalida que as culturas de Hallstatt e de La Téne tenham sido efectivamente a cultura dos povos celtas do centro do continente, nem que a expansão dos Iberos tenha bloqueado de facto a comunicação cultural com o centro do continente, mas poderá implicar que alguns aspectos culturais do que se convenciona como “celtas” se tenham desenvolvido no arco atlântico, para além da língua. A cultura comum a estas comunidades atlânticas incluía um aparente sistema de crenças caracterizado pelo depósito votivo em rios, lagos e ribeiros de um grande número de objectos de bronze como espadas, machados, pontas de lanças, escudos, caldeirões ou espetos25. Este culto ritualista associado a cursos de água está possivelmente na origem de divindades aquáticas referidas nas fontes clássicas, assim como em inscrições votivas às mesmas, como é o caso da deusa galaico-lusitana Nabia Corona. Tal culto aquático poderá ainda ser o que está na raiz

BOSCH-GIMPERA, “Two Celtic Waves in Spain” in Proceedings of the British Academy 26, 1943; CUNLIFFE, Barry, The Ancient Celts, London: Penguin, 1997, p. 139. 22 CUNLIFFE, Op. cit, p. 136. 23 KOCH, John T., Tartessian: Celtic in the Southwest at the Dawn of History, 2009, p. 8-9, 277. 24 CUNLIFFE, Op. cit, p. 148. 25 Ibidem, p. 151, 155. 21

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Tendo em conta o que tanto o registo toponímico e arqueológico e inclusive o registo etnográfico nos demonstram, haveria uma profunda religiosidade celta em alguns povos da Península Ibérica, que requeria alguma forma de sacerdotes, aos quais não parece de todo erróneo chamarmos “druidas”.

da aparição de figuras de lendas tradicionais como as Mouras Encantadas26 e as Xanas27 asturianas na proximidade de cursos de água, assim como na origem dos cultos das fontes e poços sagrados que se verifica tanto na Península Ibérica28 como na Irlanda29 e em Gales30. A relevância deste culto em volta do elemento água nas comunidades atlânticas prende-se com o facto de que o depósito votivo de grandes quantidades de itens também se verifica nos povos gauleses durante a Idade no Ferro, como o indicam tanto as fontes clássicas31 como a arqueologia32. Assim sendo, temos evidência de um culto religioso celta a ter início nas comunidades atlânticas, e tendo em conta a quanti-

dade de elementos religiosos celtas presentes na Península Ibérica que temos vindo a descrever, poder-se-á reflectir sobre até que ponto outros aspectos religiosos dos povos celtas não poderão ter tido origem na zona atlântica. As referidas Mouras Encantadas do folclore popular fornecem-nos mais pistas: estas são descritas em algumas lendas como sendo oriundas de um Outro Mundo subterrâneo, a Mourama, e partilham quase todas as suas características com as Xanas asturianas, as Korrigans da Bretanha e os Aes Sidhe33 irlandeses, popularmente chamados de fadas. Todas estas figuras do folclore têm em comum esta origem no Outro Mundo34, e como tal, representam a manutenção através

PARAFITA, Alexandre, A Mitologia dos Mouros, 2006. PEÑA, Alberto Alvarez, Mitologia Asturiana, Xixón: Picu Urriellu, 2010, p. 11-24. 28 FONTES, Op. cit, p. 63-64. 29 HARDY, Philip Dixon, Holy Wells of Ireland, Dublin: Hardy & Walker, 1836. 30 HOPE, Robert Charles, The Legendary Lore of the Holy Wells of England, London: Paternoster Row, E.C., 1893. 31 ESTRABÃO, Geographica, IV.1.13. 32 CHADWICK, Nora, The Celts, New York: Penguin, 1997, p. 151-153. 33 BRIGGS, Katharine, The Vanishing People: Fairy Lore and Legends, New York: Pantheon Books, 1978. No caso dos Aes Sidhe, sabemos inclusivamente que estes são a versão transformada através da tradição oral dos Tuatha Dé Danann da mitologia irlandesa, os quais se assume que representem o antigo panteão pré-cristão de deuses irlandeses. A presença das Mouras Encantadas no rol de lendas de Portugal e Galiza assim como as Xanas asturianas, poderá também indicar uma sobrevivência na cultura popular de antigas divindades. 34 As lendas relativas a estas figuras colocam-nas sempre na proximidade de rios, lagos, ribeiros, monumentos megalíticos ou montes, sendo estes os pontos de passagem para o Outro Mundo tanto no folclore da Península Ibérica e da Bretanha, como na tradição mitológica irlandesa. 26 27

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da cultura oral popular de uma antiga crença celta. Neste mesmo contexto, o conceito de Outro Mundo é também frequentemente associado ao simbolismo das festas de inverno do nordeste transmontano, popularizadas pela figura dos caretos35, e das quais há também exemplos em Leão, Galiza, Astúrias e Cantábria. Visto que se assume que os druidas seriam os mediadores entre o nosso mundo e o Outro Mundo na antiga religião celta, como poderiam estar ausentes nos povos peninsulares quando esta crença parece estar enraizada nas culturas tradicionais peninsulares até hoje? A teoria da origem celta na Idade do Bronze Atlântico não negligencia o facto de que as redes marítimas atlânticas teriam entrado em colapso nas vésperas da Idade do Ferro, e que, como tal, ter-se-ia cortado a ligação entre o norte da Península Ibérica e as Ilhas Britânicas. Partindo do princípio que Júlio César estava correcto ao situar a origem dos druidas na Grã-Bretanha, estes não teriam chegado à Península Ibérica devido ao colapso de tal rede marítima. No entanto, se diversos aspectos da religiosidade celta tiveram de facto origem

na região atlântica, o que podemos especular é que na Grã-Bretanha uma classe religiosa ter-se-á desenvolvido para um grau mais organizado, quase institucional, que deu origem aos druidas, e que através de contactos com o continente através do canal da Mancha, se teria também difundido para a antiga Gália. Sem forma de tal difusão pela Península Ibérica, nem através das antigas redes marítimas atlânticas, nem através dos Pirenéus devido ao referido bloqueio criado pela expansão Ibera, não haveria druidas na península com o mesmo nível de organização e influência dos seus congéneres da Gália e das Ilhas Britânicas36, e isto porventura poderá ter levado a que não fossem referidos ou considerados como “druidas” nas fontes clássicas. No entanto, tendo em conta o que tanto o registo toponímico e arqueológico e inclusive o registo etnográfico nos demonstram, haveria uma profunda religiosidade celta em alguns povos da Península Ibérica, que requeria alguma forma de sacerdotes, aos quais não parece de todo erróneo chamarmos “druidas” se considerarmos tal religiosidade celta como o que define o “druidismo”. ■

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FERREIRA, Hélder (ed), Máscara Ibérica, Vol. I, Porto: Edições Caixotim, 2006, p. 102-141.

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SOPEÑA, Op. cit, p. 361. ag osto 2017 OPHIUSA

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As sementes do futuro por Carla Santos

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endurada a cruz solar, em lugar de destaque, beijada pelo elemento que lhe dá o nome, observo o poder entrelaçado… Composta por galhos e folhas colhidas pelos corações mais puros do nosso clã, eu como Mãe Terra e o pai como Pai Sol, tecemos as teias de sonhos, sob o olhar curioso das nossas sementes. A aventura e a missão em compreender os ritos do nosso mundo, do Universo! Tudo é real, simples e maravilhoso, porque as crianças vivem o agora. Estão presentes! Contemplo aquela cruz solar e sinto o fogo que tocou a alma dos meus filhos. Sinto que em nós pesa a responsabilidade de não quebrar as suas almas, de lhes dar espaço para voar, criar e sonhar. Senti que somos os tradutores do mundo, que os sentidos deles passam pelas dúvidas, curiosidades, através do nosso filtro. Não quero ser um filtro! Quero ser um vórtex! Um vórtex de

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autenticidade, em que lhes posso permitir ser e crescer no agora! Honrámos a terra, o ar, o fogo e a água, em fila fazendo o nosso círculo. Nós, os pais, com 32 voltas completas em torno do Sol, e os nossos filhos, de 1 e 3 anos. Percebo, ao observar o mais velho, que ele sente que está certo, qual pequeno feiticeiro que transporta a água, num sentido de reverência muito genuíno. "Mamã, posso fazer o resto?" E segue, fazendo o trajecto com o fogo, o ar e por fim, a terra. Pede-me que explique o que cada um significa. Absorve. Reformula à sua maneira. Algo tão simples, foi absorvido de forma igualmente simples. E com base na verdade do que está à nossa volta, vivo convicta de que o essencial não se aprende, está dentro de nós, vive na nossa curiosidade. Não precisa de um nome, de uma história ou alegoria. Não precisa


de teatros de fantoches e histórias cheias de eufenismos. Com a observação de cada detalhe deste mundo, cada nascer-do-sol, cada pôr-do-sol, cada estrela, cada viagem da lua, cada semente que germina, cada gota de chuva que cai… Estejamos todos presentes para traduzir o mundo, porque estas almas sentem o mundo como ele é, observam os seus ritmos. Apenas precisam de tradução. Sejamos essa tradução fiel! Estejamos também presentes, no agora, e assim devolvemos a simplicidade ao mundo, a autenticidade, harmonia e a comunhão. Aproximamo-nos de Lammas, e mais um rito será completo, criando a Senhora e o Senhor de milho, fazendo o pão com os frutos da primeira colheita, agradecendo a abundância e mostrando que o caminho do sol está cada dia mais curto, dando, pouco a pouco, espaço para a sombra que em breve irá transformar o padrão na nossa Terra.

Mostremos que a Vida deve ser vivida e respeitada: a vida duma formiga, duma erva, duma árvore, duma pessoa ou dum ideal! Marquemos os ritmos, qual tambor ritmado por um toque selvagem, mas vivo e puro! Que na profundidade do centro tranquilo das nossas sementes, elas possam encontrar a paz. Silenciosamente, dentro da quietude do Bosque, que elas possam partilhar a paz. Suavemente, dentro do grande círculo da humanidade, que todas as sementes deste mundo possam irradiar a paz. Façamos as perguntas… As crianças procurarão as respostas! Porque dentro delas vivem as nossas sementes e as sementes dos nossos ancestrais, e no futuro, mais sementes surgirão, dançando assim o reel da eternidade. Awen /|\

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A Roda do Ano

A época das colheitas por Ana Simões

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roda do ano girou uma vez mais e estamos novamente na época das colheitas. É uma delícia ir à quinta dos meus sogros e tomar contacto directo com esta fase da roda do ano no seu sentido mais literal. Ver o esforço do seu trabalho e carinho à espera de serem colhidos sob a forma de alfaces, tomates, feijões, batatas, pepinos, courgettes, cerejas, maçãs, ameixas, uvas, etc. É uma delícia ver as minhas plantas e as dos meus pais crescerem e florirem com os cuidados que lhes damos. E algumas, como a nossa roseira, crescem de um dia para o outro, deliciando-nos. A sensação de delícia termina quando nos apercebemos de que chegou também a época dos fogos e que, devido à negligência humana e à falta de interesse, continuam a não ser envidados esforços por forma a limitar os estragos causados pelos incêndios, tenham estes origens em causas naturais ou mãos criminosas. É imperativo cuidar da nossa floresta!

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É imperativo deixar de ver a natureza como “petróleo verde”! Sim, os eucaliptos são importantes (fazem milagres com a asma, por exemplo), tal como outras árvores (como pinheiros ou quaisquer outras). Mas as árvores autóctones devem ser protegidas e plantadas para protecção do ecossistema. A riqueza das nossas florestas vai tão mais além dos ganhos financeiros que possam trazer! Limpar as matas deveria ser obrigatório, e toda a gente deveria contribuir para esse fim, independentemente de viverem no campo ou na cidade, de terem terras ou não, bem como da sua condição social. A nossa floresta faz parte do nosso património e deve ser protegida e cuidada! É importante que se crie legislação (bem ponderada, realista), que promova escolhas mais benéficas ao nível da plantação de árvores, bem como o seu planeamento e reforço legal. É necessária a criação de corta-fogos junto a estradas e povoações,


bem como o desenvolvimento de dispositivos de segurança e protecção anti-fogo. Por exemplo, um dos maiores erros foi a erradicação da figura do Guarda Florestal. Os guardiões dos nossos espaços florestais deveriam ser-lhes restituídos antes que seja tarde demais. Porém, desengane-se quem pensa que a roda do ano não se aplica também aos restantes campos das nossas vidas, à guisa de microclima. Relacionamentos, sejam eles afectivos (amigos e familiares) ou profissionais, também começam, crescem (ou não, dependendo se o “terreno” é fértil para tal, ou dos cuidados que se têm) e, eventualmente, morrem (nem que seja pelo falecimento dos que nos são queridos e que continuam a morar dentro de nós). Se podemos verificar os resultados do nosso esforço ao nível profissional (quando a cultura da empresa é propícia ao crescimento e colheita dos frutos do nosso trabalho), ao nível afectivo tal também se aplica, seja com animais da espécie homo sapiens ou outras. Os animais ganham afeição a quem os trata bem, a quem os trata com respeito, bondade e carinho.

É maravilhoso verificar que os bichinhos da quinta dos meus sogros me adoptaram como família e me reconhecem até pela voz, não apenas a cadelinha e os seis gatitos, como também os gansos, os perús e as galinhas. É igualmente maravilhoso chegar a casa depois de um dia de trabalho e ser recebida por uma cadelinha e dois gatinhos que me fazem uma enorme festa porque tiveram saudades minhas durante o dia, apesar de terem estado acompanhados o dia todo. Nas relações humanas passa-se algo de semelhante: se continuamente cultivarmos a comunidade, a comunicação, a intimidade, a confiança, o carinho e o respeito pelos outros e lhes mostrarmos que são importantes para nós, que os amamos, os nossos relacionamentos florescem e dão frutos (por vezes sob a forma de filhos). De contrário, à semelhança das colheitas não cuidadas e não regadas, os relacionamentos murcham, secam e morrem. O meu objectivo é continuar com a minha roda do ano e a contínua roda da vida até ao fim dos meus dias, ao lado do amor da minha vida, promovendo o amor pelos outros e pela natureza. Espero por todos vós nesta aventura. ■ ag osto 2017 OPHIUSA

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I

nventou-se a roda e o Homem trans- numa construção humana, propulsora portou e transportou-se ao longo do e dinâmica. tempo. Galgou serras, ocupou espaço, Com a água o homem aprendeu casonhou ir, descobrir e criar. Fixou-se. minhos que percorre há eras. Lado a lado, E a terra mãe, generosa, acolheu-o. sempre – Homem e Água. Junto da água, fonte da vida. O Homem de hoje sente a sede da E o homem comungou dessa vida, alma que busca lugares, procura a ligação buscou essa vida em cada fonte, em à terra, o cordão vital que sempre o tem cada fio que rebentou da terra, nutrido – a água. em cada sulco que abriu o Ao olhar estas rodas, chão. E, assim, recebeu a estes engenhos humaágua como sua mãe. nos, celebramos toE o tempo ciclicados os engenhos por mente rodou e viu si criados. a terra gerar vida, Ao sentir como desde a primeira as mãos do homem semente, desde o o de hoje a proteprimeiro homem gem carinhosavivificado. mente, cada um Água limpa, jorrande nós vê nela uma do em enchente ou corhistória que passou – por rendo em fio de mansidão. num parente, num viziCecília Garcia Mas purificadora, sempre. nho, numa lembrança que E o homem entendeu que a mão lhe aviva a memória. divina lhe estendia a dádiva: – “Produzam Rodas – madeira, água, movimento, águas abundantemente!” – disse o Mestre vida, abundância. O seu movimento levou no quinto dia da criação. água à semente, fez o fruto nascer, saciou E o Homem criou. E da sua mão o en- os campos e purificou e saciou o homem. genho nasceu – a roda. E com ela se transDeixemos, então, reviver as rodas em portou e ela lhe transportou a água. cada rio, saudáveis e perfeitas, cantantes. É desse engenho que vos falo hoje, Cuidemos delas, viajantes sem tempo. recordando como os gestos se perpetuam Rodas do tempo, rodas da vida! ■

A Roda do Tempo A Roda da Vida

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EIST EDD FOD Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria. — Manoel de Barros

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Eisteddfod

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AMÊNDOA-LUZ (L U X L U C E T IN T ENEB RIS) A primeira a florir, arauto da Primavera Que renasces da morte na aparência Alba donzela, tu iludes a morte vera Como Perséfone da Terra Obscura retornando Árvore de Luz*, as almas funestas alumiando Os invernais campos despidos tu abraças Tuas flores são nuvens em ramos Velado, teu doce-amargo fruto o Sabor dos Saberes aporta À Terra Oculta onde habita a Serpe conduz-nos Pelos teu secretos caminhos Até à Cidade Incógnita Onde o Si(lêncio) e o Rei são Um [*A palavra “luz” em hebreu significa “amendoeira”. “Luz” é também o nome antigo da mítica cidade de Betel.] Alexandre Gabriel

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Onde está o meu Centro?! cruzo e descruzo eixos perpendiculares, oblíquos, circulares e não encontro o meu Eixo. Onde? Onde está o meu Centro se centrado não me encontro?! Procuro encontrar-me no Centro bem centrado do meu Centro mas o Centro não encontro. Vislumbro-o em branco puro energia pura que me percorre e enche de Plenitude: Aí, no Centro mais central do Centro, do meu Centro, eu não me sinto. Não sou eu. É todo o Universo! E sou o Universo! Sou o Centro! Joel Marteleira

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Eisteddfod

Eu estou no Mundo e o Mundo está em mim e o Espírito que há em mim é o Espírito que anima o mundo. Por olhos, mãos e boca se cumpre a Vontade e a minha Vontade é a de Vos ouvir e honrar, ó Deuses e Espíritos do meu Caminho e deste lugar. Escutai-me, Vós que me chamastes pelo meu nome: eu vos respondo com a minha própria Vida. Pois eis que sigo a Voz do Silêncio para trilhar a via dos Magos: Que os meus olhos Vos procurem e encontrem em cada traço da Natureza; Que as minhas mãos sejam leais para comigo, para com os meus e para Convosco e com todos pratiquem a bondade; Que a minha boca não se canse de contar as Vossas histórias nem de cantar os Vossos louvores. Para Vossa honra, para o meu bem e para o bem de todos os seres. /|\ Fábio Barbosa

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TRÍ DE

Os três fundamentos da Espiritualidade: a lareira como altar, o trabalho como culto e o serviço como sacramento. 28

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Eventos Agosto Dia 11 a 15 | Sydney, Austrália Assembleia para os membros da OBOD — Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas no hemisfério Sul. Dias 19 e 20 | Leicester, Reino Unido One Tree Celebration 2017 Um encontro de intercâmbio entre as tradições druídicas e dármicas.

Setembro Dias 14 a 17 | Pensilvânia, EUA OBOD East Coast Gathering Assembleia para membros da Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas e familiares na costa leste dos Estados Unidos da América. Dias 29 Setembro a 1 Outubro | Isernia, Itália Curso Explorando os Mistérios dos Druidas com Philip Carr-Gomm.

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O Livro de Buadach www.olivrodebuadach.wordpress.com Uma jornada pessoal pelo druidismo, por Marcela Oliveira.

O Canto da Suindara www.ocantodasuindara.blogspot.com.br Página sobre druidismo e a prática druídica pessoal de Karla Alves Barbosa. ag osto 2017 OPHIUSA

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Última

Contamos com a sua ajuda para fazer a próxima Ophiusa! Como gostaria de contribuir para a comunidade druídica? Que histórias, ideias e opiniões tem para partilhar?

Voltamos em Outubro, altura em que se voltam a abrir os portais dos mundos: Samhain no hemisfério Norte, Beltane a Sul. Como sente a passagem destas estações? Conte-nos tudo.

Os textos para publicação têm um limite máximo de 1000 palavras. Pedimos que quaisquer fotografias ou ilustrações sejam fornecidas em máxima resolução. Todas as contribuições estão sujeitas a selecção e edição. Envie a sua proposta para o endereço de e-mail ophiusa@obod.com.pt

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