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Materiais reciclados e

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Palmela aprofunda

Palmela aprofunda

Materiais reciclados e proximidade distinguem obras de Pedro Marques

De e para Setúbal, esculturas têm a região como principal inspiração e representam elementos, pessoas e histórias locais

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Inês Antunes Malta (texto)

Foto em cima à esquerda direitos reservados, fotos em cima à direita Inês Antunes Malta O escultor Pedro Marques junta o reaproveitamento de materiais à criatividade para executar as suas peças. Nasceu em Setúbal, na freguesia de São Sebastião, vive actualmente em Palmela e conhece bem e desde sempre tudo o que é a vida no campo. Profissionalmente dedicou-se à manutenção industrial, das refinarias e das plataformas de petróleo, mas teve, desde muito novo, uma grande paixão pelo design, pela arquitectura e claro... pela escultura.

Vinho da região inspira criação Embora já criasse peças de decoração por pedido, foi em Setembro de 2011 que deu início à sua actividade como escultor. “A construção estava parada. Já tinha feito esculturas mais pequenas, sem grandes objectivos, e nessa altura, com algum tempo livre e as máquinas disponíveis, acabei por fazer a “Deusa do Vinho”, recorda o escultor. A peça, que foi, entretanto, adquirida pela Junta de Freguesia de Azeitão e está hoje no Azeitão Bacalhôa Parque, é um retrato nítido da ligação de Pedro Marques ao vinho e à agricultura e o início de um caminho que viria a ser promissor. A vontade de explorar e de aprender acabou por levar o escultor para fora de Portugal para estabelecer contactos e conhecer novas realidades. Com o tempo, começaram a surgir oportunidades. O ano passado abriu um atelier em França e diz que “felizmente tem corrido bem também lá fora”. Realizou diversas viagens mas é a casa que volta sempre. “Conheço outros sítios, de que se fala muito, mas vivemos num paraíso e é daqui que a minha inspiração vem sempre. Este triângulo Setúbal-Palmela-Sesimbra é único”, considera.

Esculturas ganham nova vida a partir de formas já existentes Pedro Marques tem o ferro e os aços como materiais de eleição e o tratamento que lhes dá de modo a que estes ganhem um aspecto envelhecido é, a par da reciclagem, um aspecto diferenciador do seu trabalho enquanto escultor. “Trabalho o máximo possível, quase 100 por cento, com material reciclável. Todas as semanas vou aos sucateiros. Trago material de Espanha, de França, dos sítios por onde ando, mas a maioria é português”, refere, explicando que é capaz de “ver logo o potencial da peça” e que apesar de por vezes fazer alguns cortes “a maior parte das peças já tem aquela forma, aquele corte, aquele feitio”. Exemplo disto são os flamingos do Moinho de Maré da Mourisca. “80 por cento das peças já tinham aquela forma. São recortes da indústria, das máquinas de laser”, explica. Pedro Marques pretende, com as suas criações, despertar emoções e alegrar os sentidos de quem observa as suas obras e na cidade de Se-

Inauguração do Salineiro nas Praias do Sado em cima e autor Pedro Marques junto a "Labirinto dos Sentidos" à esquerda Fotos direitos reservados

Distinção

Trabalho reconhecido e premiado a nível internacional

O "Labirinto dos Sentidos" recebeu no final de 2019 o prémio do público na 6.ª Bienal de Montreux, numa cerimónia realizada na Montreux Art Gallery, no Centro de Congressos de Montreux, na Suíça. Pedro Marques explica que a obra representa “o mundo do vinho e das vinhas, que é um verdadeiro labirinto” e deixa o agradecimento: “no fundo, quem ganhou foram os setubalenses, foram os portugueses, foi a comunidade emigrante, porque eles é que votaram e o que ganhou foi o voto, como é lógico. O meu muito obrigado a todos eles”.

túbal existem várias oportunidades para o fazer. Os malmequeres e a Fonte do Conhecimento, na Reboreda, foram a primeira instalação de Pedro Marques na cidade do rio azul. Seguiu-se o Cardume, na Avenida 22 de Dezembro, em direcção ao rio, obra da qual Pedro destaca uma particularidade: “Pouca gente repara nisso, mas há um peixe virado ao contrário. Todos estão a ir em direcção ao rio e há um virado para o lado do Estádio do Vitória”. A escultura em homenagem aos motards, por sua vez, marca presença na Rotunda da Praça do Tratado de Lisboa. “Representa toda a união que só se vê no mundo motociclista. O que acaba por separar essa união é o acidente, por isso as rodas estão no meio. O capacete está no topo e a mensagem que pretendo transmitir, o significado da peça é esse: há que viajar sempre em segurança”, esclarece. A completar o conjunto de elementos escultóricos da autoria de Pedro Marques em Setúbal está o Salineiro, nas Praias do Sado. Em homenagem à profissão que marcou o contexto económico e social no Estuário do Sado, a obra define em aço e inox as figuras de três salineiros durante o processo de extracção do sal.

A presença da escultura na imagem e identidade de uma cidade Na opinião de Pedro Marques, “um povo sem cultura não tem identidade. A cultura faz parte do povo. A cultura é uma coisa imensa, e quanto mais investimento houver na cultura maior é a riqueza”, afirma. “Para mim, Setúbal é um orgulho e é um orgulho poder participar e ter obras na cidade. Por norma, tento que as obras se identifiquem com aquilo que é a cidade, que tenha um sentido, uma ligação”, remata.

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