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Linguagem é resistência para preservar a cultura

x Maria Diva Maxakali

Aldeia Água Boa

“Na minha criação, tudo era mato.

Tinha fruta, caça, pesca. A comida nossa era a natureza, não tinha esse problema de fazer compra. Meu sonho é ter nossas matas de volta, as nascentes e os rios para pescar.” no Vale do Mucuri, a equipe de O TEMPO foi recebida por um grupo de crianças, com olhares curiosos e desconfiados. A comunicação foi visual, as boas-vindas vieram pelo sorriso e correria. Elas não falam português. Para os Maxakali, a preservação da língua materna é sinônimo de resistência e sobrevivência cultural. O diálogo só se estabeleceu quando encontramos o cacique Isael Maxakali, nosso guia e tradutor no território indígena.

Na aldeia, vivem 36 famílias, cerca de 380 pessoas. O grupo se mudou para lá em 2021, após uma ruptura na Aldeia Verde. As terras eram da União e estavam cedidas ao Instituto Federal do Norte de Minas, porém sem efetiva utilização. “Não tinha mais espaço. Nossa população aumenta, mas nosso território não. Conseguimos essa terra. Todo o Vale do Mucuri era nosso território grande”, diz Isael.

BARREIRA ÉTNICA. Os Maxakali, Tikmu’un na língua dessa etnia, não falam português nas aldeias. Crianças até 12 anos e a maioria das mulheres só sabem se comunicar pela língua Maxakali, do tronco linguístico Macro-Jê. Mesmo vivendo próximo a centros urbanos, eles mantêm uma barreira étnica que reforça a identidade indígena. Eles vivem em cinco terras: Santa Helena de Minas, Bertópolis, Ladainha e Teófilo Otoni. Quatro delas estão demarcadas, e Pradinho e Água Boa no mesmo território. As outras – Aldeia Verde, Mundo Verde/Cachoeirinha e Escola Flo- resta – chegam a se separar por mais de 100 km.

Para estudiosos, a linguagem é peça-chave para a sobrevivência, manutenção e promoção da cultura. “Os povos Maxakali se diferem por manter viva a língua ancestral – falada e transmitida às crianças e aos jovens. Muitos são monolíngues ou bilíngues”, diz o professor Fábio Bonfim, linguista e coordenador do Laboratório de Línguas Indígenas da Universidade Federal de Minas Gerais. Segundo ele, a língua é ponto-chave para explicar a manutenção da cultura, mesmo depois de mais de 200 anos de contato com o homem branco. Nas escolas, até o quinto ano, as crianças aprendem na língua Maxakali. Português e matemática só a partir do sexto ano.

Perfil N Made

Os Maxakali ocupavam extenso território no Nordeste de Minas e Sul da Bahia, e os grupos se deslocavam. Hoje, as aldeias não chegam a 7.000 hectares. São antigas fazendas, sem vegetação nativa. Segundo a Procuradoria da República de Teófilo Otoni, cerca de 2.800 indígenas vivem nessas reservas. Redução territorial e maior população são desafios. Para os Maxacali, é difícil ficar presos, pois têm hábito nômade.

Área visitada não tem rio nem mata; água vem de poço e não é potável

¬ Nossa equipe de reportagem atravessou de carro o maior território contíguo dos Maxakali – de Água Boa, em Santa Helena de Minas, a Pradinho, em Bertópolis (53 km²).

A mata não existe mais. Os aldeamentos de três a 15 moradias preenchem, de forma espaçada, a imensidão verde do capim. Em cada aldeia, vive uma mesma família, e em todas há uma escola da rede estadual de ensino. Os professores são os próprios indígenas, e as construções são simples, de alvenaria, barro batido e pau a pique. No percurso de 40 minutos, não encontramos rio. A água vem de poços artesianos e não é potável. A falta de saneamento básico causa verminoses e diarreia. Sem floresta para caçar e rio para pescar como faziam os ancestrais, a maioria dos Maxakali sobrevive de pequenas plantações, criação de galinha e porcos, além do auxílio do governo a pessoas de baixa renda. (MI)

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