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doenças respiratórias e infecciosas afetam saúde

¬ CRISTIANA ANDRADE Mesmo não convivendo com a malária e o mercúrio, provenientes da exploração ilegal de ouro, como os Yanomami têm de lidar em seu território, no Norte do Brasil, os indígenas que moram em Minas Gerais enfrentam situações também alarmantes: fome, roças devastadas pelo avanço da agricultura, usurpação de terras, mineração, racismo e preconceito. Sofrem ainda com doenças do sistema respiratório e parasitárias, as que mais afetam indígenas em Minas e no Espírito Santo, segundo o Ministério da Saúde. Em 2022, foram 5.641 casos de doenças respiratórias e 2.074 ocorrências infecciosas e parasitárias, registradas pelo Distrito Sanitário Indígena (Dsei) MGES, que abrange os dois Estados.

Segundo Pablo Matos Camargos, pesquisador do Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (Cefedes), todo ano, os Maxakali, por exemplo, são vítimas de surtos de diarreia, um problema que dizima inúmeros indivíduos, principalmente crianças, e de solução governamental simples: saneamento básico. O Cefedes foi criado em 1984 em Belo Horizonte para promover a informação e formação cultural e pedagógica, documentar, pesquisar e publicar temas ligados a indígenas e povos tradicionais, como quilombolas.

“A luta é difícil. Até há pouco tempo, muita gente nem sabia que havia indígena em Minas. Na saúde, há muitas demandas. Os Maxakali, cujo território foi destruído por pastos, ficaram sem acesso ao seu modo alimentar. A caça é insuficiente, e eles passaram a comer alimentos comuns aos não indígenas. Com isso, o diabetes aumentou, e os problemas de pressão, também. As comunidades ainda convivem com a falta de respeito às suas crenças e curas ancestrais. Muitos profissionais de saúde não consideram os conheci- mentos dos pajés e o uso de ervas medicinais, gerando conflitos”, diz Matos, que é agente indigenista da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), em Governador Valadares.

“Em 2019, 12 crianças Maxakali morreram de diarreia em Minas. É inadmissível pensar que isso ainda ocorra em pleno século XXI. Elas morreram de desnutrição e diarreia”, alerta a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG).

ESTRUTURA. Segundo o indigenista, a Funai em Minas está estruturada com uma sede regional em Governador Valadares, para atender Minas e Espírito Santo; e alguns escritórios, como em São João das Missões (atende etnias Xakriabá e Krixá); Teófilo Otoni e Santa Helena de Minas (Maxakali); Resplendor (Krenak); Carmésia (Pataxó); Aracruz (ES), que atende as al-

Na aldeia Maxakali, mulheres recebem orientações sobre importãncia da amamentação deias Tupiniquim e Guarani. “Há inúmeras etnias descobertas do ponto de vista da assistência de saúde, como os indígenas que vivem na região metropolitana de Belo Horizonte, Sul de Minas e Centro-Oeste”, acrescenta Matos.

DESAMPARO. Além do atendimento à saúde em si, há outras questões que precisam melhorar. “Temos muitas emergências em saúde, fruto de ameaças e violência contra os indígenas. É preciso organizar melhor a produção de documentos, acesso a benefícios sociais, aposentadoria e auxílio-maternidade. Onde não há demarcação ou reconhecimento oficial da terra indígena, eles ficam desamparados institucionalmente falando”, diz o agente da Funai.

Em janeiro de 2017, Kamakã-Mongoió, Pataxó Hãhãhãe e membros de outras etnias, com apoio da Associação dos Povos Indígenas de Belo Horizonte e Região Metropolitana, ocuparam a Fazenda Santa Teresa, em Esmeraldas, dentro do processo chamado de “retomada” ou reapropriação de propriedades dos povos originários. Segundo relatório da ALMG, a fazenda, pertencente à Fundação Educacional Caio Martins (Fucam), estava com instalações abandonadas ou subutilizadas pela entidade e pelo Estado de Minas. Em novembro, outra fazenda, identificada como pertencente a um projeto minerário de Eike Batista, em São Joaquim de Bicas, foi objeto de retomada por membros dos Puri e, depois, por Pataxó, Karajá e Pataxó Hãhãhãe. Em 2021, grupos Kamakã fizeram uma terceira ação, em Brumadinho.

País registra desassistência

¬ O relatório “Violência contra os Povos Indígenas no Brasil 2022”, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), mostrou que em 2021 foram registrados 107 casos de desassistência em saúde em quase todo o Brasil, grande parte relacionada à Covid-19. Em Minas, foram dois registros de negação de vacina às comunidades Aranã, em Coronel Murta, e Kiriri, em Caldas. “A assistência à saúde indígena, que já se apresentava precária ou inexistente em alguns territórios, se agravou ainda mais com a crise sanitária. As demais doenças estavam praticamente esquecidas pelas autoridades e pelos serviços de saúde, bem como as ações de prevenção”, diz trecho do documento. (CA)

Retomada de programa alivia atendimento G

A falta de médicos é um grande problema para as comunidades indígenas em todo o país. Algumas aldeias Xakriabá, no Norte de Minas, chegaram a ficar até três anos sem um profissional. Agora, a dificuldade será amenizada. Dois médicos cubanos acabam de chegar no território, pelo programa do governo federal Mais Médicos.

“Veio um para São João das Missões, outro para Itacarambi, para atender os indígenas”, diz o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena de Minas Gerais e Espírito Santo, Adailton Cavalcante Bizerra, que é xakriabá.

O entrave para atrair os médicos para os territórios indígenas é a diferença salarial entre os profissionais contratados pelas prefeituras e pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Segundo Bizerra, enquanto a Prefeitura de São João das Missões paga cerca de R$ 18 mil líquido, o médico da Sesai recebe em média R$ 14,6 mil, sem descontos.

“Na Sesai, faz tempo que não tem aumento. Então, como o médico já é um profissional muito demandado no mercado, enfrentamos essa dificuldade. Estamos com uma discussão muito forte pelo reajuste”, destaca.

Em Itacarambi, as aldeias Vargem Grande e Caraíbas estão entre as que ficaram até três anos sem médico. “A escassez de profissional é em todo país. Quando se formam, preferem a capital. Ou quando vêm para zona rural, depois que pegam experiência, vão embora”, avalia a enfermeira Janaína Ferreira de Alckmin. (Queila Ariadne)

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