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Curas tradicionais em sintonia com a medicina
¬ BRUNO MATEUS
QUEILA ARIADNE ENVIADOS AOS TERRITÓRIOS
KRENAK E XAKRIABÁ
¬ SÃO JOÃO DAS MISSÕES E RESPLENDOR Chás, rezas e plantas medicinais e unidades de saúde equipadas para atender os indígenas. Nas aldeias, as curas tradicionais andam lado a lado com a medicina convencional. “Tem a parte da nossa sabedoria, da espiritualidade, do nosso deus Tupã e dos nossos encantados. O que a gente entende, a gente faz a parte da gente. O que for para o médico, a gente passa para o médico. Cada sabedoria é ciência”, afirma o pajé Vicente, do território Xakriabá.
Ele ressalta a importância da parceria com os raizeiros e as parteiras. “A gente não trabalha sozinho. E a luta da gente é passar essa sabedoria para os jovens, ensinar o que aprendemos e não deixar a cultura acabar”, destaca o pajé, que aprendeu com os avós e os pais a arte da cura.
A enfermeira Janaína Ferreira de Alckmin trabalha na unidade de saúde das aldeias Xakriabá Vargem Grande e Caraíbas, em Itacarambi. Segundo ela, a adesão aos tratamentos convencionais não é um problema. “Muitos indígenas diagnosticados com hipertensão queriam beber seus chás e às vezes ficavam com medo de misturar com a medicação. Mas a gente explica que não tem problema, e eles aderem bem aos comprimidos”, conta. Essa unidade é muito bem equipada, inclusive para atendimento odontológico.
INFRAESTRUTURA. Do chão de terra na Aldeia Krenak, localizada entre as cidades de Resplendor e Conselheiro Pena, na região do Rio Doce, é possível avistar, no elevado de um trecho da estrada, a Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI), um posto médico recém-ampliado que atende os cerca de 600 moradores do território.
A UBSI Krenak é vinculada à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), responsável pela coordenação e pela execução da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas e de todo o processo de gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (Sasi) no Sistema Único de Saúde (SUS). A Sesai foi criada em 2010 e atende mais de 760 mil indígenas em todo o país.
O centro de saúde Krenak recebe pacientes de todas as idades, desde a gestação, inclusive os indígenas mais velhos da aldeia. O serviço é de atenção primária – há atendimento odontológico, enfermagem e distribuição gratuita de medicamentos do Programa Hiperdia, para pessoas com hipertensão e diabetes. “Eles entendem a importância (dos cuidados à saúde) e não têm dificuldade nenhuma em relação a isso, não há resistência à vacinação. Tenho mais facilidade com eles do que com os brancos. Com eles o tratamento é muito mais fácil. Essa é uma aldeia diferenciada”, afirma a enfermeira Jacqueline Brasil.
Marcelo Krenak é conselheiro Municipal de Saúde de Resplendor, presidente do Conselho Local de Saúde Indígena Krenak e representante da aldeia no Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi). Segundo o indígena, o maior desafio enfrentado pela aldeia atualmente é o acesso ao tratamento especializado de saúde.
A unidade de saúde no território Krenak e as Casas de Apoio à Saúde Indígena (Casais) não são preparadas para atendimentos mais complexos e acompanhamentos oncológicos, cardiológicos e neurológicos, para citar três exemplos. Assim, os indígenas têm de recorrer aos equipamentos de saúde em Governador Valadares, distante cerca de 130 km da terra Krenak.
¬ Desde que retomaram a área da Aldeia Morro Velho, em São João das Missões, no Norte do Estado, os Xakriabá são obrigados a conviver com um vizinho indesejado. O lixão do município fica dentro do seu território, delimitado pela Funai. “Já tentamos vários acordos com a prefeitura, mas nunca retiraram, e ele está aí, contaminando nosso território, o meio ambiente. Já
Indígenas já denunciaram depósito ilegal de lixo até ao Ministério Público Federal, mas nada foi feito
De acordo com o pajé Vicente, do povo Xakriabá, tem a parte espiritual e a parte dos médicos. “Cada sabedoria é ciência”, diz ele
Conselheiro de Saúde Indígena denunciamos para o Ministério Público Federal (MPF), mandaram tirar, mas até agora nada. Nossa maior preocupação é com a saúde, porque esse lixão está adoecendo as pessoas”, lamenta o cacique Santo Barbosa. Manter lixões a céu aberto é proibido em Minas Gerais pela Lei 18.031/2009. O TEMPO procurou a prefeitura, que não se manifestou. (QA)
“Temos uma situação muito complicada quando o assunto é atendimento especializado de saúde. Na pandemia, perdemos indígenas porque não tivemos acesso a UTI.”