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Juventude potencializa a luta e promove a diversidade

¬ QUEILA ARIADNE

ENVIADA AO TERRITÓRIO XAKRIABÁ

“Mas você não é indígena, você é quilombola”. Quem falou isso foi uma professora universitária. Quem ouviu foi Wasady Xakriabá, 25, logo nos primeiros dias de aula. “Foi a primeira vez que eu ouvi alguém falando que eu não era indígena. As pessoas questionavam por que eu tinha o cabelo cacheado, e isso é normal. Não debati com ninguém, não culpei ninguém por não me reconhecerem, porque é uma questão de ignorância. Com o passar do tempo, eu fui tentando mostrar a diversidade dos povos indígenas”, conta Wasady, uma articuladora da juventude Xakriabá.

Ela transformou cada oportunidade para ocupar a academia e levar informação. “Sempre eu trazia questões indígenas para as aulas e consegui desconstruir algumas mentes na academia. Até mesmo na minha própria turma, percebi que meus colegas começaram a mudar e a se interessar mais em entender a nossa realidade”, afirma Wasady, segunda indígena a se formar em assistência social na Universidade Federal de

Goiás (UFG). Ela começou a fazer parte da articulação da juventude Xakriabá em 2015. “A gente costuma dizer que não temos liderança, pois já temos os caciques para seguir. Quando a gente começou, já tínhamos em mente que o movimento viria para dividir a bagagem.

E, embora seja um grupo da juventude, temos pessoas mais velhas também, porque sempre trazem conhecimento”, destaca.

Eles organizam encontrões da juventude, para discutir de pequenas a grandes questões do território. A vitória de Célia Xakriabá como deputada federal é um fruto dessa articulação. “A candidatura dela foi um lançamento coletivo do povo Xakriabá, veio de uma construção da qual a juventude faz parte”, destaca Wasady.

Cada uma das 37 aldeias conta com uma antena, que mobiliza os jovens do local. Edvan Srêwakmõwê Xakriabá é um deles, representante na aldeia Itapicuru. Ele ressalta que a juventude sempre esteve presente nos movimentos do seu povo, principalmente nas retomadas. “Não tinha essa denominação, mas a representação sempre existiu. Hoje, a gente se organiza por aldeias e discutimos pontos que precisamos melhorar, vemos as prioridades junto com os caciques e lideranças e trabalhamos juntamente com eles”, afirma Edvan. Segundo ele, uma das prioridades é o resgate da língua materna, por meio de oficinas. Mas existem várias outras, com destaque para a luta pela terra e expectativa pela homologação de novas áreas que devolverão ao povo Xakriabá o direito de viver às margens do rio São Francisco. Assim como Wasady, Edvan também enfrentou questionamentos. “Mas você não tem cara de índio”, lembrase do que ouvia. Para ele, são perguntas de quem acredita que, para ser indígena, uma pessoa tem que ter cabelo liso, olhos puxados, o mesmo tom de pele e andar pelado. A resposta veio com a territorialização da universidade. “Os indígenas vêm, aos poucos, adentrando no espaço de conhecimento, o que ajuda a fortalecer o nosso povo. A nossa presença, de certa forma, ajuda a demarcar esse espaço”, diz Edvan.

Conhecer a história e defender memória da terra dá sentido à vida

GRESPLENDOR. Ni Krenak, 45, é filha de dona Laurita Krenak, importante liderança feminina que esteve à frente do processo de retomada do território Krenak, em Resplendor, na região do Rio Doce, em meados dos anos 1990. Desde criança, ela aprendeu que a luta pelos direitos dos povos indígenas pode se dar em vários níveis –do debate político institucional ao bate-papo com parentes.

“Minha mãe nunca deixou o povo Krenak acabar e aprendi que essa é uma luta que devo seguir. Te- mos que ter uma raiz bem forte como se fosse uma árvore frondosa, com a raiz profunda. Mesmo que tentem cortar por cima, tem a força de produzir, florir, dar frutos.

Resistir, saber a história dos nossos antepassados e aprender com o sofrimento deles deixa a gente forte para lutar”, diz a ativista.

NOVAS GERAÇÕES. Defender a memória, a terra, a identidade e a cultura Krenak é, segundo ela, algo que lhe dá sentido de vida. Casada há 22 anos com o escritor, ativista e membro da Academia Mineira de Letras Ailton Krenak, Ni encontrou no parceiro a mesma vontade não só de preservar a história de seu povo, mas de repassá-la às novas gerações, para proteger o passado, o presente e o futuro dos Krenak.

“Se a gente deixar essa história morrer, como vamos saber de onde viemos? Meus filhos têm que saber para poder passar para meus netos. Todos os indígenas têm que saber suas histórias, tristes ou alegres”, reforça. (Bruno Mateus)

FLÁVIOTAVARES/OTEMPO

Wasady Krenak: “Sempre levei questões indígenas para as aulas e consegui desconstruir algumas mentes na academia”

MARIELAGUIMARÃES/OTEMPO

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