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Em pouco mais de 15 dias em novembro de 2018, quase 200 Maxakali de Pradinho e Água Boa, no Vale do Mucuri, tiveram diarreia, e pelo menos duas crianças morreram com suspeita de virose, segundo dados da Superintendência Regional de Saúde de Teófilo Otoni. O problema é historicamente ligado às condições precárias de saneamento, que propiciam o espalhamento desse tipo de doença. Em 2010, um relatório do Ministério Público Federal apontava “situação precária” na região após outro surto de diarreia ter matado quatro crianças indígenas nas duas comunidades. Os procuradores constataram que não havia banheiro, água encanada ou rede de esgoto em nenhuma das habitações das duas reservas.

dar as guerras de extermínio contra os indígenas em Minas Gerais, principalmente entre os anos de 1765 e 1767. “Houve uma série de guerras contra os povos da região do rio Doce, principalmente próximo ao rio Piracicaba.

Ali era uma região de grandes conflitos”, comenta ele, lembrando que eram guerras contra indígenas chamados genericamente de “botocudos”, considerados bravios e antropófagos (que comem carne humana) pelos conquistadores, para colocar uns povos contra outros, como os Koropó e Koroado, que lutavam contra os Puri.

“Era uma tática bélica e guerreira dos colonizadores que impunha essa realidade. Eles, inclusive, clas- sificavam indígenas como amigos ou inimigos (os botocudos, que não cediam suas terras e representavam resistência). Para se ter ideia, há registro de um conflito que envolveu 4.000 indígenas armados com arcos e flechas em prol da defesa de suas aldeias. Porque movimentos exploratórios dos conquistadores e também de mestiços brasileiros e negros africanos eram para retirar os indígenas de suas terras, como ocorre hoje”, comenta.

ESCOLHA POLÍTICA. Na visão de Toledo, foi uma escolha política do mundo colonial o extermínio dos povos originários. “Em 1755, foi criada a Lei de Liberdade dos Indígenas e, em 1758, o Diretório dos Indígenas, para ‘organizar’ essa liberdade. A organização passava pelo incentivo do casamento de indígenas com não indígenas. Logo depois vieram as práticas de catequese, que no início da colonização usaram as línguas indígenas, mas passaram a proibi-las, exigindo o uso do português, ou seja, um processo de apagamento das culturas indígenas”, analisa o historiador.

Em pleno 2023, a sociedade brasileira ainda carrega resquícios de três séculos atrás. Exemplo disso, cita o historiador, são narrativas investidas de binarismo, como “índios isolados” e “índios assimilados” (que vivem nas cidades), e a forma como as pessoas enxergam o ideal indígena de isolamento, na floresta, longe da sociedade.

Para Toledo, é importante pro- blematizar a temática na educação e na sociedade como um todo, para que a maioria passe a ver o indígena brasileiro como “nosso povo”.

SUJEITOS COM HISTÓRIA. “Isso deve ser feito reconhecendo como a comunidade indígena vem ocupando as universidades; produz conhecimento científico na academia; produz arte, cultura e música. Devemos passar a enxergá-los como nossos vizinhos nas áreas urbanas; e discutir como sua cultura é viva; como acionam tecnologias como nós; e estão em constante transformação. Só assim vamos quebrar a ideia de binarismo e deixar para trás esse mundo colonial tão presente até hoje no nosso imaginário e nas práticas racistas. Os indígenas são sujeitos da sua própria história”, acrescenta. (Cristiana Andrade)

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