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Rio São Francisco: sonho de um povo que quer água também

mais terras a serem demarcadas além dessas, reiteramos que a demarcação de terras é uma das prioridades deste ministério, então há, sim, a intenção de demarcar outros territórios, porém, quando apropriado, divulgaremos quando e quais serão essas terras”, informou o MPI, por meio de nota.

LUTA CONSTANTE. O massacre de 1987, com os assassinatos de Rosalino Gomes e de outras duas lideranças, é um marco para a conquista territorial Xakriabá. No entanto, os conflitos começaram muito antes. No século XVIII, os bandeirantes avançaram sobre terras indígenas. Segundo pesquisa histórica do Instituto Socioambiental (ISA), eles foram aldeados, forçados a falar português e a seguir os costumes europeus. Nessa época, Januário Cardoso de Almeida, filho de Matias Cardoso, doou uma terra para garantir que os Xakriabá não se espalhassem. A doação foi registrada em dois cartórios: o de Januária e o de Ouro Preto. Em 1850, a legislação mudou, e as terras voltaram a ser devolutas.

Os indígenas, mais uma vez, foram expulsos. Mas nunca deixaram de lutar. Em 1979, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) demarcou o território. Mesmo com a posse reconhecida, não era possível obrigar os fazendeiros a deixar as terras, pois não tinham homologação. Ela só veio oito anos depois, mas só reco- nheceu 46.415 hectares nos arredores da aldeia onde aconteceu o massacre, hoje chamada Itapicuru. Isso é menos da metade da área de direito.

Em 1995, foram reconhecidos mais 6.798 hectares, regularizando a Aldeia Tenda Rancharia, cuja homologação veio em 2000. Faltam 43.357 hectares a serem homologados. São eles que levarão os Xakriabá de volta às margens do São Francisco.

“Nós sempre estivemos neste espaço. Com as invasões, nosso povo foi sendo dizimado, e foram tirando a gente dos lugares mais férteis. Em 1728, com a doação, as terras foram delimitadas, mas isso aconteceu só para não deixar que os indígenas saíssem para fazendas alheias. Depois os fazendeiros continuaram invadindo. Em 1969, já tinha uma grande luta pela demarcação. Cacique Rodrigão e meu pai saíram em busca de soluções. Em 1985 e 1986, as brigas foram acirradas. Até que veio o massacre em 1987”, lembra Domingos.

Quase 40 anos depois da chacina, a população Xakriabá cresceu. “Hoje somos mais de 12 mil indígenas lutando para sobreviver. Mas, sem um território capaz de dar um suporte para isso, fica inviável manter nossa cultura, nossas tradições. E sem água a gente não consegue sobreviver”, afirma o cacique.

ESPERANÇA. Milton Fernandes Ribeiro, 59, é uma liderança na aldeia São Bernardo. O local está dentro da área que aguarda regularização. Para ele, que articulou a retomada dessa terra, a cerca de 5 km do leito do São Francisco, a homologação trará muitas mudanças. “O indígena vai ter direito de acesso ao rio para poder pescar, trabalhar, plantar suas pequenas roças. É um direito do povo Xakriabá. E no futuro pode até ter projetos”, destaca. Para o cacique João, a expectativa é de oportunidades. “Eu acredito que seja possível fazermos projetos para distribuir a água. Hoje temos 15 comunidades que ainda precisam de caminhão-pipa. O que eu espero é a liberdade do rio”, ressalta.

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