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5.4 A Oração Cristã
sem exceção: a vocação à santidade. Obem, porém, é um dever que se impõeao homem, porque é na prática do bem e na busca do Criador que o homem exerce plenamente a sua liberdade. Os sentimentos ou afeições que existem no homem não são boas nem más, não possuem valor moral. Contudo, são boas quando são ferramentas usadas pelo homem para fazer o bem, e más quando o contrário. Sendo o pecado a renúncia a Deus e amor de si mesmo, quando praticado e movido pelas paixões, essas são más. Quando, porém, as paixões contribuem para que o homem renuncie a si mesmo em favor de Deus, do próximo (servir a Deus no outro), são boas. A prática do bem, o agir por Cristo, em Cristo e com Cristo, buscar entender e atender às inspirações do Espírito Santo faz do homem um ser virtuoso. O modo de ser, ou seja, o conjunto de hábitos que fazem parte do homem são bons ou ruins se contribuem ou não para sua santificação. Como um ser livre, o homem pode escolher por adquirir, alimentar ou extirpar do seu ser hábitos, fazer escolhas. Os hábitos, quando bons, são chamados virtudes. As virtudes são disposições práticas que amadurecem o homem na prática do bem, na busca pela santidade, vocação primeira do mesmo. Quando maus, os hábitos são chamados vícios. As virtudes são, na prática, uma docilidade ao Espírito Santo; enquanto os vícios são práticas de resistência a ação do mesmo Deus. Sendo o pecado uma negação de Deus, tem suas consequências. O homem procede de Deus e o pecado fere a natureza do homem, porque Deus é Bom (Lc 18, 19), caminho, verdade, vida (Jo 14, 6) e humilde servo (Fl 2, 6-7); e o homem não o é, mas deve buscar Aquele que é. Como o pecado é essencialmente uma renúncia a Deus, reflete numa renúncia à essência do homem, que é o Criador. Existem muitos modos de pecar e duas espécies de pecados: o pecado venial e o pecado mortal. O pecado mortal é todo e qualquer pecado em matéria grave contra um dos Dez Mandamentos. Enquanto o venial, são faltas leves, mas que não deixam de ser faltas.
O pecado é um ato pessoal e consciente. Para um ato ser pecado, o homem deve ter o conhecimento de tal, deve haver a matéria e estar presente a liberalidade, ou seja, querer fazêlo. O pecado é o ato de negar a salvação de Deus e sucumbir aos vícios, ou seja, resistir à ação do Espírito Santo, tornando-se livremente escravo da morte.
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5.4 A Oração Cristã
Tão eficaz é a oração para santificar-nos, que os Santos repetem à porfia este adágio: ‘Sabe bem viver quem sabe bem orar.’ A oração, de fato, produz três maravilhosos efeitos: desapega-nos das criaturas, une-nos totalmente a Deus e transforma-nos progressivamente em Deus. (CTAM 517)
A oração está no centro da vida cristã, na vida da Igreja. É através da oração que se tem um efetivo encontro com Deus, razão e sentido de todas as coisas. A oração é a elevação da alma, através da humildade, a Deus. A humildade de coração é a condição sem a qual a oração não acontece. Ela é o caminho certeiro de cumprir a vontade do Pai, manifestada no Filho, através da direção do Espírito Santo. O Filho humilhou-se, abaixou-se até a morte de cruz (Fl 2, 8) para cumprir a vontade do Pai. ‘A oração, quer saibamos ou não, é o encontro entre a sede de Deus e a nossa. Deus tem sede de que nós tenhamos sede dele’ (CCE 2560). O encontro com Deus que se dá através da oração acontece no lugar onde são tomadas as decisões, ou seja, no coração. Somente em Deus o homem encontra o que dá sentido à sua vida, isto é, a Verdade. Porque Deus é a Verdade. O Espírito Santo é quem conduz a oração da Igreja, seja através da Liturgia, na celebração dos sacramentos, seja na oração particular dos fiéis, porque o homem não sabe rezar como convém (Rm 8, 26-28), mas o Espírito é que o socorre nas suas incapacidades. O próprio Senhor advertiu acerca da necessidade de rezar e vigiar afim de manter o espírito pronto (Mt 26, 41). São Paulo adverte a rezar em todo momento (1Ts 5, 17), ou seja, em estar a todo momento na presença de Deus, ser dócil ao Espírito Santo; logo, ser virtuoso na prática do bom hábito de rezar, de estar aberto ao Senhor. Os frutos da oração são tanto visíveis como invisíveis, e dependem do querer do Senhor, que distribui seus dons conforme sua vontade (1Cor 12, 11). Na oração, o cristão é fortalecido e amadurecido no conhecimento de Deus e para o testemunho de Cristo. A Oração do Senhor, o Pai-nosso é a compilação de todo o Evangelho. A oração do Senhor é a que fazemos, com Cristo, em comunhão com toda a Igreja. Ao Pai, Cristo não se dirige como seu Pai, mas como Pai comum de todo o seu Corpo, a Igreja. A oração contém sete pedidos e eles remetem à essência da missão redentora de Deus Filho entre os homens e são apresentadas como um manual de santidade. Um singelo fragmento da obra de Adolphe Tanquerey apresenta um belíssimo resumo da Oração do Senhor:
Entre as preces que rezamos em particular ou em público, não há mais bela que o PaiNosso, que o próprio Senhor nos ensinou. Em seu início, encontramos uma introdução cativante, que nos lança na presença de Deus e estimula nossa confiança: Pai nosso que estais no céu. O primeiro passo a ser dado quando oramos, é aproximar-nos de Deus. Ora, a palavra Pai põe-nos imediatamente na presença daquele que é Pai por excelência, Pai do Verbo, por geração, e nosso Pai, por adoção. Portanto, deparamonos como o Deus da SS. Trindade, que nos envolve com o mesmo amor com que envolveu o próprio Filho. Como esse Pai está nos céus, ou seja, é onipotente, é o manancial de todas as graças, sentimo-nos movidos a invocá-lo com absoluta confiança filial, haja vista que somos da família de Deus, todos irmãos, filhos de Deus (Pai nosso). [...] Oração sublime, posto que nela tudo refere-se à glória de Deus e, no entanto, tão simples e ao alcance de todos, pois, enquanto glorificamos a Deus,
pedimos tudo o que para nós há de mais útil. Por isso os Santos, Padres e Doutores, compraziam-se em comentá-lo, e o Catecismo do Concílio de Trento dela nos dá uma explicação longa e muito sólida. (CTAM 515-516)