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Ame-o ou Deixe-o (Copa de 70) - página

1.12 AME-O ou DEIXE-O (Copa de 70)

Para os brasileiros do fim da década de 60 e início da de 70, era muito complicado não amar a Seleção Brasileira. Segundo a opinião de diversos especialistas, a equipe que venceu o mundial de 1970 no México pode ser, tranquilamente, tratada como o melhor esquadrão da história do futebol. Com cinco craques, incluindo Pelé, municiando Jairzinho, o Brasil fez uma campanha impecável e despertou o sentimento de amor à pátria. E foi esta qualidade indiscutível daquele time que potencializou uma arma política importante da Ditadura Militar no Brasil. Logo um ano e meio após o mais cruel ato da Ditadura, o AI-5, o qual foi instituído em 13 de dezembro de 1968, o Brasil entrava em uma Copa do Mundo buscando o tricampeonato, enquanto era governado por um dos mais cruéis líderes do país. Emílio Garrastazu Médici foi presidente do Brasil entre 1969 e 1974 e foi responsável por um dos momentos mais aterrorizantes da história da nação. Mesmo assim, em junho de 1970, boa parte dos brasileiros estavam felizes com o governo, com o país e com a vida por causa do título mundial. Por estar em uma ditadura que escondia, silenciava e manipulava várias questões importantes, a população ficava sabendo apenas do que o presidente permitia que fosse divulgado. Por isso, a alienação era recorrente e, quando Médici tentava vender uma imagem positiva para a população, ele conseguia. Portanto, ao notar o grande futebol apresentado pelo esquadrão de 70, Médici se apropriou das cores, exalou sentimento pela seleção e pelo país, e destacou várias vezes que era um homem do povo, apaixonado por futebol.A fim de evidenciar ainda a importância de estar ao lado do seu país para estar junto à seleção de futebol, um dos mais importantes lemas da Ditadura Militar foram usados: ame-o ou deixe-o. Era claro a imposição da ideia que se você amasse o futebol brasileiro, o qual era, praticamente, unanimidade e despertava amor em todos, você deveria amar o seu país. Tratava-se de uma clara imposição de uma linha de pensamento extremista e nacionalista, ao passo que era um evidente abuso à imagem dos atletas campeões mundiais. Ele sabia da importância cultural do esporte no país e se apropriou da força daquela Seleção. Além de conectar a imagem da seleção ao governo, Médici controlava a própria equipe que representava o país. Um dos casos mais emblemáticos desta interferência do ditador brasileiro no futebol aconteceu em março de 1970, menos de três meses antes do mundial daquele ano. Médici tentou interferir na escalação do técnico João Saldanha e o treinador não aceitou que o presidente escalasse o seu time. O famoso ‘João Sem Medo ’ ainda destacou uma frase marcante: “ nem eu escalo ministério, nem o presidente escala time ” . Saldanha, militante de esquerda e completamente opositor ao governo, se impôs contra o ditador e pagou caro por não se curvar à postura de Médici:

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