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Racismo e futebol - página

A maioria dos primeiros clubes não aceitava negros e aqueles que aceitavam, dispitavam campeonatos isolados. Dentro dessa realidade, a Liga de Amadores de Futebol (LAF), mesmo mantendo laços com o elitismo do futebol, criou o jogo “Preto x Branco ” , no qual duas equipes, uma composta por atletas negros e outra por brancos, competiam. Mais tarde, a LAF foi encerrada e o jogo “Preto x Branco ” passou a ser organizado pelo movimento negro da época. Havia, também, as disputas pela taça “Princesa Izabel” , realizadas dia 13 de maio, em comemoração à abolição da escravidão. Em um país onde o Rei do Futebol é um homem negro, é de se admirar que o esporte ainda admita tanto racismo. Casos como o do jogador Tinga, que era insultado com sons de macaco sempre que chutava a bola em partida; de Daniel Alves, quando torcedores jogaram uma banana no campo e o jogador a comeu em resposta; e de tantos outros que sofrem intimidação dentro de campo, e até mesmo em suas redes sociais, têm um gosto amargo de derrota. Mas não é de se admirar que no Brasil, país no qual 75,5% dos homicídios em 2018 eram referentes a pessoas pretas e pardas (Atlas da Violência, 2020), o racismo ainda seja tão presente na sociedade. As estatística de violência contra a parcela de pretos e pardos, que chega a quase 56% da população total de brasileiros (IBGE, 2018), só aumentam. E muitos fatores sociais acabam por corroborar com essa realidade, seja a abolição da escravidão tardia, a não inserção dessas pessoas na sociedade após a liberdade, a falta de políticas públicas efetivas que sirvam de repação histórica ou então a presença de governantes preconceituosos no poder. Por esse motivo, é amplamente divulgado que o país possui um racismo estrutural, ou seja, quando existe um preconceito racial na sociedade que está mascarado por ações, costumes e desigualdades. E dentro de campo essa realidade é refletida. Mesmo com uma maior representatividade no esporte, uma vez que o futebol se tornou um grande mecanismo para tirar jovens da pobreza, ainda assim é difícil encontrar nomes que tenham tanto impacto quanto o de Pelé. O racismo age de forma tão danosa que jogadores negros entram em um apagamento que não vem de hoje. Em 1921, por exemplo, o então presidente Epitácio Pessoa pedia que apenas jogadores brancos compusessem a seleção brasileiro na Copa América, em vias de causar boa impressão internacionalmente.

FUTEBOL COMO SÍMBOLO NACIONAL E SUAS IMPLICAÇÕES NA POLÍTICA

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Felizmente, as pessoas dentro dos estádios têm cada vez mais se manifestado contra atos racistas. Em dezembro de 2020, os jogadores do PSG e do Istanbul Basaksehir se recusaram a continuar a partida válida pela Champions League e deixaram o gramado após ofensa racista feita pelo quarto árbitro em direção ao camaronês Pierre Webó, membro da comissão técnica do Istanbul Basaksehir. O quarto árbitro disse ao juiz " aquele preto ali. Vá lá e verifique quem é. Aquele preto ali. Não dá para agir assim " . Demba Ba, atacante do Instanbul, disse ao quarto árbitro: " você nunca diz ‘ esse cara branco ’ , você diz ‘ esse cara ’ . Então por que você está mencionando ‘ cara preto ’? Você tem que dizer ‘ esse cara preto ’? Por quê?!" . O confronto foi remarcado e a equipe de arbitragem, substituída. A UEFA suspendeu o quarto árbitro da partida até o fim da temporada 2020/2021.

Se há um exemplo de racismo e os jogadores em campo não ficam indignados, então, para mim, eles são parte do

problema. - Megan Rapinoe

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