2 minute read

THEREZA CHRISTINA ROCQUE DA MOTTA

Next Article
MARIA AZENHA

MARIA AZENHA

(1957-) Poeta, editora e tradutora, nascida em São Paulo. Publicou, entre outros, Joio & trigo (1982), Areal (1995), Marco Polo e a Princesa Azul (2008), O mais puro amor de Abelardo e Heloísa (2009), A vida dos livros (2010), Odysseus & O livro de Pandora (2012), As liras de Marília (2013), Capitu (2014), Folias e Horizontes (2014), Lições de sábado (2015), Intemperanças (2016), Minha mão contém palavras que não escrevo e Pandora (2017), A vida dos livros Vol. 2, Lições de sábado 2 e O amor é um tempo selvagem (2018). Também traduziu Marley & Eu (2006), 154 Sonetos, de William Shakespeare (2009) e A Dança dos Sonhos, de Michael Jackson (2011). É membro da Academia Brasileira de Poesia (Petrópolis) e do PEN Clube do Brasil (RJ). Fundou a Ibis Libris em 2000.

a passagem para Corinto

Advertisement

A passagem para Corinto se estreita quanto mais avançamos até o mar. Ficamos à beira d’água sem pensar no hoje. O que passou já não existe, só as colunas do templo de Apolo e o de Afrodite. Vamos adiante, sem ver o que ficou para trás. Elevamos nossos pensamentos aos antepassados, aos presentes e aos futuros que virão. Virão os que nos seguirem, sedentos das memórias que deixamos, a inaudível canção do firmamento, a possessão da pítia, os fumos e incensos espargidos por toda a ara. Os augúrios murmurados pelo deus imprimem-se em nossos ouvidos. Seguimos até o fim dos dias, plenos de céu e noite.

11/05/2018 – 19h17

alumBramento

Não foi este o silêncio que se fez após a batalha de Salamina. Os navios vieram de longe e remaram além de Chipre. Não foram estes os homens que cruzaram a terra árida, que buscaram o alimento onde havia pedras. O horizonte se moveu e afundaram os barcos. Nadaram até o istmo e debandaram. Os odres de azeite e vinho desceram até o fundo do mar e lá ficaram. Os mares que Poseidon entornou sobre a terra. Agora os monstros se erguem com um só olho na testa. Os deuses feriram seus adoradores. Os homens voltaram sós para casa. Não foi esta a ceia após o regresso dos guerreiros. As noites pontilhadas de estrelas cobrem a terra abandonada. Recebei na ágora os que retornam.

6/05/2018 – 21h26

“Diário: Reflexo da espada de São Jorge” Grafite sobre caderno A6. 2014.

esColheste o aliCerCe de tua Casa

Escolheste o alicerce de tua casa e trouxeste os homens para erguê-la. O que fizeste senão acertar a porta e o teto, e colocar as paredes em seu prumo? Constrói a casa para habitá-la, sem abandonar seu íntimo, e molda os objetos que queres contigo. Cada coisa tem seu destino. E o destino que tu mesmo desconheces viverás, sem o saber. Assim as casas se ergueram em Atenas, Esparta e Persépolis, e todas as circundantes na terra árida da Grécia e da Pérsia. Eram os homens e mulheres melhores? Não eram. E, no entanto, construíram suas casas, para desmoronarem nas mãos dos tiranos. Ergueram a Acrópole. Saquearam Babilônia. Destruíram Troia. Que fizeram esses homens a si mesmos? Que dizem as lendas de Esopo e os poemas de Píndaro? “Homem, torna-te no que és”. Escolhe a casa, a messe, faze a colheita, e senta-te para assistir o pôr do sol.

5/05/2018 – 9h46

This article is from: