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ana iris

Já publicou na revista de criação literária Alagunas. No segundo semestre de 2018 publicou o livro Cavia Porcellus, selecionado pelo Edital de Obras Literárias da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, em Maceió, Alagoas onde vive e prepara seu segundo livro. Escreve no blog Concha Poema (conchapoema.blogspot.com.br).

loucura

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depois do choque reviram os relógios arrumam mal nosso cabelo olhamos no espelho — fiz mesmo algo terrível todos conseguem provar a loucura

fome

separar as agulhas das folhas cortantes dos estiletes e pontiagudos lápis das quinas das portas e paredes do chão que pode rachar e saltar na nossa direção até que só sobram os lençóis e cortinas esses caídos juntos com meus braços e pernas porque braços socam e pernas chutam violentos mutilam o tronco e a boca essas são nossas partes constantemente sob mutilação por nossos braços nossas pernas e bocas mastigando mastigando sem parar por isso que agora os dentes são mais pontiagudos aqueles tendões passando entre os dentes puxando e rasgando puxando e rasgando afiaram lixaram nossos dentes para ser possível sempre comer mais de nós mesmos

julia

julia, me perguntaram se seu corpo está comigo ou se você carrega o meu pra cima e pra baixo como uma paranoia maluca não há como carregar um corpo morto sem que percebam estaria bem viva pra valer a pena sua tormenta sua loucura andante pra cima e pra baixo com minha voz bem viva nos seus ouvidos lhe carregaria sã — você — com braços e pernas costurados como se não precisasse de chão nem razão pra sanidade toda caminhada foi com você e isso me lembra hugles assegurando que os botões do fogão estejam arrancados a morte nunca esteve tão perto e você tão viva prendendo minha respiração dei conta do abismo quando minha pedra foi removida

* a boca enchia de lágrimas aos berros num choro aberto a paranoia me consumiu

* lembrar e remoer as vitórias nos consomem mais que uma guerra

* agora tudo já passou e cada agora é uma ruminação das algas negras do nosso mar

toda mulher deve morrer

leite corte lã uma mulher nasce paralela ao mundo nos desertos da domesticação não mais na amizade e no sacrifício não no amor das flechas e dos campos rupestres toda mulher deve morrer no ódio à vida sabendo de si gritando de si leite corte lã a sequência do dízimo aos poucos aos poucos deteriorando leite corte lã a sequência do deserto morremos de sede fome e estamos com frio

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