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marianne moore, por mariana basílio
from Intempestiva n.02
MARIANNE MOORE
(1887–1972) foi uma escritora, revisora e tradutora americana, sendo uma das mais célebres poetas do modernismo americano. Nascida em Kirkwood, Missouri, em 15 de novembro de 1887. A complexidade de seus poemas costumou afastá-la do público em geral, porém sua obra é admirada por gerações de autores como Wallace Stevens, Ezra Pound e T.S. Eliot. De 1925 a 1929 trabalhou como editora do jornal literário e cultural The Dial, divulgando novos e importantes poetas, como Allen Ginsberg e Elizabeth Bishop. Seu livro Collected Poems, de 1951, a consagrou na literatura americana com um Prêmio Pulitzer de Poesia, o National Book Award e o Prêmio Bollingen.
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[apresentação e tradução]
MARIANA BASÍLIO
é prosadora, poeta, ensaísta e tradutora. Nascida em Bauru, interior de São Paulo, em 1989. Mestra em Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Autora dos livros de poesia Nepente (2015) e Sombras & Luzes (2016). Colabora em portais e revistas nacionais e internacionais, tendo traduzido nomes como May Swenson, Alejandra Pizarnik, Edna St. Vincent Millay, Sylvia Plath e William Carlos Williams. Com patrocínio do prêmio ProAC (2017) do Governo de São Paulo, publicou em 2018 seu terceiro livro, o poema longo Tríptico Vital (Patuá). O projeto também foi finalista do programa de Residência Literária do SESC (2018). Mantém o site www. marianabasilio.com.br.
[apresentação e tradução — Mariana Basílio]
collected poems
Atualmente traduzo algumas das principais poetas americanas do século XX. Escolhi Marianne Moore para essa colaboração por dois fatores principais: primeiro, uma intensa ligação que sinto com a poeta em meu presente, após uma leitura cronológica da obra completa de João Cabral de Melo Neto, e pelas traduções que fiz de Williams Carlos Williams e Elizabeth Bishop, uma de suas pupilas — me levando a traduzi-la, enfim.
A escolha dos poemas ocorreu a partir de minha leitura de alguns materiais específicos, principalmente o livro Collected Poems (1951). São obras que trazem conceitos marcantes da poética de contenção de Moore, com imagens intensas e associações entre ser, local e natureza da vida social — que transitava do século passado para o atual — além de questões específicas da construção do modernismo na poesia americana.
Em relação à tradução, busquei uma equivalência em nossa língua para a dicção e o vocabulário dela, procurando valer-me de seus recursos e reproduzir a sonoridade do verso metrificado e do verso livre em inglês, na busca de não comprometer o sentido final dos textos, com o intento de apresentar os fluxos da capacidade de Moore e o impacto de suas palavras.
to a prize bird
You suit me well, for you can make me laugh, nor are you blinded by the chaff that every wind sends spinning from the rick.
You know to think, and what you think you speak with much of Samson’s pride and bleak finality, and none dare bid you stop.
Pride sits you well, so strut, colossal bird. No barnyard makes you look absurd; your brazen claws are staunch against defeat.
silence
My father used to say, “Superior people never make long visits, have to be shown Longfellow’s grave nor the glass flowers at Harvard. Self-reliant like the cat — that takes its prey to privacy, the mouse’s limp tail hanging like a shoelace from its mouth — they sometimes enjoy solitude, and can be robbed of speech by speech which has delighted them. The deepest feeling always shows itself in silence; not in silence, but restraint.” Nor was he insincere in saying, “Make my house your inn.” Inns are not residences.
a uma ave presa
Você me serve bem, pois dou risada, e nem a palha te cega, que cada vento envia, girando pela pilha.
Você pensa, e o que pensa, você diz, com o orgulho e o intuito infeliz de Sansão, e ninguém ousa te pausar.
O orgulho te serve, ave colossal. Não é absurda em nenhum curral; suas garras fortes resistem à queda.
silêncio
Meu pai costumava dizer, “Pessoas superiores nunca fazem longas visitas, nem têm que ser apresentadas ao túmulo de Longfellow ou às flores de vidro de Harvard. Autoconfiantes como o gato — que leva a presa à privacidade, o rabo mole do rato pendurado como um cadarço em sua boca — elas às vezes gostam da solidão, e podem ser privadas de fala por uma fala que as encantou. O sentimento mais profundo sempre se manifesta no silêncio; não em silêncio, mas em contenção.” Tampouco era insincero em dizer: “Faça da minha casa sua pousada.” Pousadas não são residências.
a grave
Man looking into the sea, taking the view from those who have as much right to it as you have to it yourself, it is human nature to stand in the middle of a thing, but you cannot stand in the middle of this; the sea has nothing to give but a well excavated grave. The firs stand in a procession, each with an emerald turkey-foot at the top, reserved as their contours, saying nothing; repression, however, is not the most obvious characteristic of the sea; the sea is a collector, quick to return a rapacious look. There are others besides you who have worn that look — whose expression is no longer a protest; the fish no longer investigate them for their bones have not lasted: men lower nets, unconscious of the fact that they are desecrating a grave, and row quickly away — the blades of the oars moving together like the feet of water-spiders as if there were no such thing as death. The wrinkles progress among themselves in a phalanx — beautiful under networks of foam, and fade breathlessly while the sea rustles in and out of the seaweed; the birds swim through the air at top speed, emitting cat-calls as heretofore — the tortoise-shell scourges about the feet of the cliffs, in motion beneath them; and the ocean, under the pulsation of lighthouses and noise of bell-buoys, advances as usual, looking as if it were not that ocean in which dropped things [are bound to sink — in which if they turn and twist, it is neither with volition nor consciousness.
uma cova
O homem olhando o mar, tomando a visão daqueles que têm tanto direito a ela quanto você mesmo, é da natureza humana permanecer no meio de uma coisa, mas você não pode permanecer no meio disso; o mar não tem nada para oferecer a além de uma cova bem cavada. Os abetos estão em procissão, cada um com um pé-de-peru esmeralda no topo, reservados quais seus contornos, dizendo nada; a repressão, no entanto, não é a característica mais óbvia do mar; o mar é um coletor, pronto para retornar um olhar voraz. Há outros além de você que usaram este olhar — cuja expressão não é mais um protesto; os peixes não os investigam mais porque seus ossos não perduraram: os homens baixam as redes, inconscientes de que estão profanando uma cova, e remam rapidamente para longe — as pás dos remos se movem juntas, como patas de aranhas-de-água, como se não houvesse a morte. As rugas progridem entre si numa falange — belíssimas sob as redes da espuma, e desvanecem sem fôlego enquanto o mar murmura em vai e vem por entre as algas; os pássaros nadam pelo ar em alta velocidade, emitindo vaias como antes — o casco de tartaruga açoita os pés dos penhascos, movendo-se debaixo deles; e o oceano, sob a pulsação dos faróis e o ruído das boias sonoras, avança como de costume, como se não fosse o oceano no qual as coisas deixadas [estão fadadas a afundar — e se elas se virarem ou se torcerem, não é com vontade nem consciência.