4 minute read
Verdes pelo mundo
Global Young Greens durante a COP 26 Fonte: globalyounggreens.org/
O primeiro partido com ideário verde de que se tem registro é o australiano United Tasmanian Group (UTG), ligado ao movimento ambiental que emergia no início dos anos 1970. Em 1972, o UTG se reuniu pela primeira vez para contestar uma eleição na Assembleia da Tasmânia.
Inicialmente, o UTG era considerado um movimento social devido à motivação ambiental e ao rápido crescimento. Entre outras coisas, o grupo protestava contra as formas de produção e de consumo da sociedade da época, que estavam pondo o meio ambiente em sério risco.
Isso o levou a ser considerado um dos movimentos ambientais mais qualificados e avançados mundialmente. Mais tarde, o grupo se autodenominou Green Party (Partido Verde) e foi o primeiro partido político no mundo a disputar eleições com uma plataforma ambiental.
Ao longo dos anos, o Green Party australiano inspirou muitas pessoas em várias partes do planeta, culminando na criação de outros partidos verdes pelo mundo. Atualmente, existem partidos verdes em mais de 120 países, além de constituírem uma das maiores bancadas no Parlamento europeu.
De acordo com o secretário de Assuntos Internacionais da Fundação Verde, Marco Antônio Mröz (PV-SP), existem muitos partidos verdes programaticamente bons. Cada um em um estágio de assimilação diferente. “Os partidos verdes da Europa são os mais ideológicos, os mais organizados e os mais programáticos, mas não necessariamente os melhores.”
Ele explica que os partidos verdes também estão agrupados globalmente em federações, de acordo com os continentes. O PV do Brasil e mais dez partidos verdes do continente americano compõem a Federação dos Partidos Verdes das Américas, fundada em dezembro de 1997. A Federação de Partidos Verdes da África tem 19 partidos; a de Ásia e Pacífico tem 14 e a dos verdes da Europa, 36.
“Na América do Sul, somos os mais organizados, que elegeram mais deputados, que têm mais trabalho acumulado. Existem muitos partidos grandes que não fizeram absolutamente nada nem tiveram sucesso eleitoral”, analisa Mröz.
Uma diferença importante entre o PV daqui e os europeus, por exemplo, é que o PV brasileiro não se articula nacionalmente em defesa de pautas consideradas tabu como a legalização da maconha e do aborto, enquanto os europeus falam abertamente desses temas em suas campanhas eleitorais.
“Nem todos os partidos verdes brigam pela saúde da mulher e pelo direito de a mulher dispor sobre o próprio corpo, ou pela legalização das drogas, porque têm medo de perder voto.”
Carla Piranda (PV-RJ)
Outra diferença entre o PV brasileiro e outros PVs é a capacidade de se unir ao menor sinal de ameaça externa, ainda que internamente esteja complicado. Carla Piranda, que coordena a Rede de Mulheres da Global Greens, reconhece que, nesses momentos, “todo mundo bota suas vaidades e seus problemas de lado, se junta e consegue combater juntos”.
O fato é que, para Marco Antônio, montar um partido verde em qualquer sociedade é muito difícil, porque o movimento verde é uma corrente diferenciada de pensamento e, embora hoje esteja um pouco diferente, as pessoas ainda têm dificuldade de entender as questões da sustentabilidade. “A gente sofreu muito para chegar aonde a gente chegou.”
Inspirações do Brasil para o mundo e do mundo para o Brasil
Para o secretário de Relações Internacionais Adjunto, Fabiano Carnevale, os verdes têm a grande virtude de antecipar as crises, fazendo o que ele chama de “diálogos com os fins do mundo”. Assim, sempre anteciparam debates que colocaram – e colocam – a Humanidade em perigo. “Foi assim com a guerra fria e com a energia nuclear, agora é com a crise climática. O diálogo da Humanidade com o ‘fim do mundo’ é permanente e os verdes sempre conseguiram trazer esse debate para o espaço político.”
Mas há críticas a uma postura atual dos verdes europeus que, de acordo com ele, hoje falam muito do “Green New Deal”, que é um robusto plano para descarbonizar a economia. “Apesar de ser um esforço importantíssimo a curto e médio prazo, eu vejo o plano como mais uma tentativa dos países ricos de impor uma agenda ao resto do mundo, sem sequer nos escutar.”
Fabiano acredita não haver como um plano duradouro ser bem-sucedido sem encontrar formas de incorporar outras visões de mundo. “É preciso, por exemplo, escutar o que os povos indígenas têm a dizer. O que os amplos movimentos de agroecologia, de lutas pela terra e moradias têm a dizer. Se a crise climática afeta principalmente os mais vulneráveis, é preciso dar voz a eles.” Por esse motivo, considera que essa é uma tarefa à qual o PV brasileiro precisa se dedicar e falar nos espaços verdes internacionais.
“Em que os PVs de outros países podem nos inspirar é simples: na construção de um plano de metas, de um programa político unificado e no fim da falsa dicotomia entre dirigentes e parlamentares. Essas são questões que os verdes europeus já superaram e realizaram há anos.”
Fabiano Carnevale
Mas Fabiano ressalta que a inspiração também tem que ser sobre o que não copiar: “O debate identitário importado sem critério dos EUA/Europa, o ambientalismo elitista que responsabiliza mais as pessoas do que as corporações pela crise climática e as soluções simplistas que não confrontam os meios de produção e consumo atuais”.
Os verdes globais
Paralelamente à Conferência Rio 92, aconteceu uma reunião entre membros de partidos verdes de todo o mundo que deu origem, quase dez anos depois, em Camberra, na Austrália, à Global Greens, uma rede internacional de partidos e movimentos políticos verdes. Com sede em Bruxelas, na Bélgica, atualmente a Global Greens é constituída pelas federações.
Os princípios dessa organização estão definidos na Global Greens Charter (Carta dos Verdes Globais) de 2001, atualizada no encontro de 2012 em Dakar, no Senegal. Segundo a Global Greens, o documento estabelece os valores fundamentais de sabedoria ecológica, justiça social, igualdade, liberdade, democracia participativa, não violência, sustentabilidade e respeito pela diversidade.
“Promover um conceito geral de sustentabilidade, o qual protege e restaura a integridade dos ecossistemas da Terra, com interesse especial para a biodiversidade e os processos naturais que sustentam a vida; reconhece a inter-relação de todos os processos ecológicos, sociais e econômicos; equilibra interesses individuais com os interesses públicos; harmoniza liberdade com responsabilidade; integra diversidade com unidade; reconcilia objetivos de curto com os de longo prazo.”
Fontes:
Agência Câmara de Notícias
Carta Capital. Onde está o Partido Verde no Brasil? 30 maio 2019.
CRUZ, Facundo. Radiografía de los partidos y movimientos verdes. 11 ago. 2022.
Estatísticas das Eleições 2022 do Tribunal Superior Eleitoral
European Greens
Evolução histórica dos partidos políticos
Fundação Verde Herbert Daniel
Global Greens
Partido Verde
PV Mulher
SILVA, Marcio Luiz. Atualidade do conceito de democracia partidária. Brasília: Unale, s/d.
URQUIETA, Luis. El avance de los Partidos Verdes en América Latina. 3 out. 2010.
WALKER, P.F. The United Tasmania Group. Honoris thesis. University of Tasmania, Austrália, 1987.