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Da cereja ao bolo
Fernando Gabeira
O mundo mudou. O Partido Verde precisa mudar com ele para não ser mais uma das espécies em extinção.
Quando surgiu, o PV e a política ambiental eram considerados coisas novas, um toque de modernidade. Políticos gostavam de incorporar o partido às suas coligações ou mesmo mencioná-lo de passagem em seus programas. O PV era a cereja do bolo.
Mas a cereja hoje virou o próprio bolo. O aquecimento global transformou o meio ambiente no centro das plataformas políticas de grandes países como os EUA, a Alemanha e a França.
Transição energética, empregos verdes, preparação dos grandes centros para que se tornem mais resilientes às mudanças climáticas, tudo isso passou a ser o ponto central da política de governo.
Uma grande mudança aconteceu na visão econômica. Os recursos naturais eram vistos como acessórios no processo de produção, insumos retirados gratuitamente. Hoje, a economia vê os recursos naturais como a própria fonte de valor e países como o Brasil podem fazer deles a base estratégica de seu futuro.
Não se fala mais de economia dissociada do meio ambiente. A própria política externa do Brasil, a maneira como se coloca no mundo são definidas a partir dos seus imensos recursos naturais.
É possível falar de saúde ignorando o meio ambiente? Tivemos uma pandemia que marcou o início do século. Possivelmente teremos outras e todas elas dependem da maneira como cuidamos do meio ambiente.
É possível uma política industrial que abstraia a sustentabilidade, uma política urbana que ignore a necessidade de sobrevivência da cidade nos novos tempos?
Qual a conclusão de toda essa novidade? Não se deve mais fazer programas de meio ambiente para ser anexados aos chamados grandes programas de governo. Os programas de governo é que devem se estruturar em torno do meio ambiente.
Portanto, o Partido Verde tem de abrir mão de sua aspiração de apenas contribuir com algumas ideias ambientais e encarar a possibilidade real de governar, pois depende de sua visão de mundo ampliada uma nova maneira de conduzir os negócios púbicos.
Não entendam como uma proposta ambiciosa. É apenas uma constatação da realidade e de suas demandas. Ou se aceita um novo tamanho para a inserção no mundo, ou se vive em um romântico passado, sonhando com pequenos cargos, que, pelo menos, reduzem os estragos da política oficial.