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José Luiz Penna entrevista

O presidente nacional do Partido Verde, José Luiz Penna, fala sobre o momento do partido no Brasil, o que é preciso para que se desenvolva, quais mudanças devem ocorrer, o que trava o crescimento e como ele vê a proposta Reinventando o PV.

Analisa, também, a atuação da sigla na eleição do governo Lula: “Foi um marco, porque ninguém acreditava, pelo histórico do PT, que o PT fosse fazer alguma coisa ampla de fato. Então acho que o sinal dado pela nossa luta para confeccionar a Federação [Brasil da Esperança], com a nossa presença, porque nós não somos do campo natural do PT historicamente, foi um sinal muito poderoso para abrir o leque necessário para ganharmos as eleições”.

Pensar Verde:

Como o senhor avalia o Partido Verde nesses 37 anos de história?

Penna:

Na verdade, foi uma luta de resistência, porque, diferentemente de hoje, o assunto do meio ambiente, os temas alternativos estavam todos fora da pauta da sociedade. Então, era uma vida de apontar caminhos, defender coisas que estavam fora do senso comum. Foi uma luta heroica.

Pensar Verde:

O que o senhor destaca, qual foi o ponto forte do partido nessas quase quatro décadas?

Penna:

Desde 1988, a gente influenciou a Constituição, houve uma abertura para isso. E depois teve a luta pelas energias alternativas, o enfrentamento daquela época em relação à energia nuclear, que parecia ser um consenso mundial. E a proteção de sempre do nosso parque florestal e hídrico, que continuam gravemente afetados. Eu acho que aí nós contribuímos bastante. Veja que coisa fantástica: hoje as crianças já nascem ecologistas, é impressionante. E a nossa agenda virou a agenda da sociedade de uma maneira geral. E nós estamos justamente nesse ponto crítico em que nós precisamos marcar qual será o nosso território, já que as premissas estão na sociedade.

Pensar Verde:

Como o senhor avalia o papel do PV na eleição do presidente Lula?

Penna:

Foi um marco, porque ninguém acreditava, pelo histórico do PT, que o PT fosse fazer alguma coisa ampla de fato. Então acho que o sinal dado pela nossa luta para confeccionar a Federação [Brasil da Esperança], com a nossa presença, porque nós não somos do campo natural do PT historicamente, foi um sinal muito poderoso para abrir o leque necessário para ganharmos as eleições, porque o adversário estava com um embasamento muito grande de votos.

Pensar Verde:

A direção do partido foi reconduzida recentemente, sem mudanças. Qual será o papel estratégico dessa nova fase da direção do PV?

Penna:

Não teve uma nova direção. Todo mundo foi reconduzido. E por quê? Porque nós precisamos repensar o partido e repensar o partido não é uma luta fraticida. É um buscar consensos, trazer novas informações. Por exemplo, eu estou muito interessado nesse capítulo todo de luta do salário do operário, da luta sindical, como serão as funções humanas daqui para a frente, como se darão. Porque o partido só não pode perder o seu aspecto da inovação, o seu gosto pelo futuro e isso não é conservador, ao contrário. Eu acho que, para isso, nós estamos muito ambiciosos em relação a essa reestruturação, tanto do pensamento quanto da organização como forma de atuação. Precisamos repensar. Para isso, temos que ter paz. Por isso, a recondução, pois é um processo longo de discussão.

Pensar Verde:

O que diferencia o Partido Verde de 1986 do PV de 2023?

Penna: É porque a gente já está estabelecido na sociedade. Antigamente, nós éramos uma proposta, um sinal. Agora não. Agora a gente faz parte da vida política do país. Nós estamos inseridos e aumentou a nossa responsabilidade.

Pensar Verde: Está em andamento um processo que foi chamado de Reinventando o PV. Como o senhor vê esse processo, como deve ser essa reinvenção, como deve ser conduzida? O senhor apoia essa mudança?

Penna:

Claro que apoio, porque se a gente não admitir uma eterna evolução, se for para ficar repetindo, aí a inanição é fatal. E acho que nós temos gana para repensar, renovar. A nossa distinção na política terá sempre que ser o anticonservadorismo, mesmo porque soluções conservadoras jamais funcionaram aqui no Brasil.

Pensar Verde: Como deveria ser essa renovação estruturalmente, em termos de Estatuto, de Programa?

Penna:

O partido deve ter gana para deixar entrar o pensamento, pois a sociedade está rediscutindo tudo, e é preciso ter pernas dentro do partido. Eu fico triste porque em muitos lugares você sente que o pensamento está sendo barrado porque um espírito de autopreservação, às vezes, fica mais evidente do que a vontade de receber pessoas e instruções novas. Por exemplo, há coisas que eu não entendo. O movimento estudantil universitário às vezes fica vinculado a ideários que se perderam há um século. Deve haver alguma razão para que isso aconteça, porque seria natural que os jovens que estão aprendendo, discutindo o futuro, estivessem mais próximos do Partido Verde.

Pensar Verde:

O Brasil hoje está no centro da questão ambiental, de diversos debates. O Partido Verde lá fora, em vários países, tem crescido, tem ganhado corpo. E aqui ele ainda não conseguiu esse protagonismo. O que é necessário fazer para obter esse crescimento?

Penna:

Na verdade, você tem uma pista. As forças políticas no Brasil são extremamente conservadoras. A gente é suspeito, em primeiro lugar. Por quê? Porque nós não vamos ficar com aquele procedimento tradicional. A gente tem uma crítica ao patrimonialismo. A essa coisa. Eu, por exemplo, não sei fazer isso. Aí, com o negócio do PT, [a luta por] espaço. Eu digo que fazer política a gente quer. Agora, eu não vim aqui buscar “carguinho”, prêmio de consolação. Não. Eu não presto para essas coisas. E isso sai da linguagem usual.

Existe um bloqueio. Eu compreendo isso. Porque eles se organizam. A República era um anseio da modernidade. No Brasil, ficou na mão dos conservadores escravagistas. O que havia de pior. Então, é assim.

Pensar Verde

Então, um dos fatores para o PV crescer no país seria conseguir romper com esse sistema político-partidário instituído no Brasil?

Penna:

Pois é, a gente luta. Por exemplo, nós somos parlamentaristas. Aí, você tem esse regime que sobrevive no Brasil, o Presidencialismo de cooptação. Que coisa mais louca! E não adianta. Uma vez o Gabeira, que é um ícone, um sujeito que pensa, um cara importante, para fazer um contraponto, disse assim: “Olha, enquanto a gente não for comprar anúncio de jornal, nós não vamos ser notícia”. Então, eu acho que faz parte do nosso show.

Pensar Verde

Como o senhor acha que o PV deve agir diante do novo governo? Já foi realizado um diálogo com a bancada do partido?

Penna:

Tem que se compreender que a democracia é um negócio muito difícil, é um exercício diário. Então, você tem, no movimento político, um parlamentar, o executivo e o partido, que são os dirigentes e tal, e essa palavra horrorosa chamada militante. São perfis diferentes e atuações diferentes. Então, como vai se comportar a bancada depende da bancada. Claro que nós estamos conversando para afinar, do ponto de vista do conteúdo, estamos tentando, porque, normalmente, cada um é um. Um vem da área da educação; o outro vem da área tal; e eles têm que achar uma linha, o que seria mais forte, consensual entre eles. Mas eu acho que é uma moçada boa. Teremos que observar a Federação. É um compromisso de quatro anos.

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